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Componentes Simétricas  Clever Pereira

1- SOLUÇÃO DE CIRCUITOS TRIFÁSICOS SIMÉTRICOS E


EQUILIBRADOS COM CARGA DESEQUILIBRADA
(ASSIMETRIAS SÉRIE E SHUNT)
Neste item serão analisadas situações onde a rede encontra-se
inicialmente equilibrada com tensões e correntes simétricas e
acontece uma assimetria, podendo ser shunt (ligada entre fase
e neutro, entre fase e terra ou entre fases) ou série (ligada entre
dois pontos subseqüentes de uma mesma fase). Como a rede
encontra-se originariamente equilibrada, é interessante utilizar
o teorema de Thevenin estendido para redes trifásicas de forma
a obter um circuito trifásico equivalente de Thevenin. Este
circuito será também equilibrado e simétrico. Daí então
conecta-se a carga desequilibrada e faz-se a análise do
ocorrido.
1.1. Método de Análise
1. Eliminar da rede a carga desequilibrada ligada no ponto P.
2. Representar a rede equilibrada resultante por seu circuito
~
Z TF
equivalente de Thevenin em
IF componentes de fase:
~
+
VF = ETF − Z TF . I F (36)
ETF VF
- ~
onde ETF e Z TF são
o vetor das tensões e a matriz
das impedâncias equivalentes de Thevenin em componentes
de fase respectivamente.
3. Utilizar a transformação de componentes simétricas e passar
a equação (36) para componentes de seqüência.
~
VS = ETS − Z TS . I S (37)
~
onde ETS e Z TS são respectivamente o vetor das tensões e
a matriz das impedâncias equivalentes de Thevenin em
componentes de seqüência.
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NOTAS:
~
Z
9 Como a rede é equilibrada, a matriz TF é da forma
 ZP + ZN ZM + Z N ZM + ZN 
~
Z TF =  Z M + Z N ZP + ZN Z M + Z N 
(38)
 Z M + Z N ZM + Z N Z P + Z N 
onde
Z P = ∑ Z pi ; Z M = ∑ Z mi ; Z N = ∑ Z n e i = a, b, c (39)
A matriz das impedâncias equivalentes de Thevenin em
componentes de seqüência vai ser da forma

 Z P + 2 Z M + 3Z N 
~
Z TF =  ZP − ZM 
 (40)
 Z P − Z M 
Deste modo, cada uma das seqüências é independente da
outra, caracterizando três circuitos monofásicos
totalmente independentes um do outro, conforme figura a
seguir.
Z0
Ia0

+
Eao Va0
-
~
Z TS
IS Z1
Ia1

+ +
Ea1 Va1
ETS VS -
-

Z2
Ia2

+
Ea2 Va2
-

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A equação (37) na forma não expandida vai ser então

Va 0   Ea 0   Z 0  I a0 
V  =  E  −  Z1  ⋅ I 
 a1   a1     a1  (41)
Va 2   Ea 2   Z 2   I a 2 

ou ainda

 Va 0 = Ea 0 − Z 0 ⋅ I a 0

 Va1 = Ea1 − Z1 ⋅ I a1 (42)
 V = E −Z ⋅I
 a2 a2 2 a2

4. Determinar a relação V x I na carga em componentes


simétricas a partir desta relação em componentes de fase.

Va   Z A  Ia 
~ V  =   ⋅ I 
VF = Z F ⋅ I F  b  ZB   b (43)
Vc   Z C   I c 
~ ~ ~
Q ⋅ VS = Z F ⋅ Q ⋅ I S

~ ~ ~
VS = Q −1 ⋅ Z F ⋅ Q ⋅ I S

Va 0   Z 00 Z 01 Z 02   I a 0 
~
VS = Z S ⋅ I S
V  =  Z Z11 Z12  ⋅  I a1 
 a1   10 (44)
Va 2   Z 20 Z 21 Z 22   I a 2 

Va 0   Z p Z m1 Z m2  I a0 
V  =  Z Zp

Z m1  ⋅  I a1  (45)
 a1   m 2
Va 2   Z m1 Z m2 Z p   I a 2 

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onde

 1
Z
 p = Z 00 = Z 11 = Z 22 = (Z A + Z B + Z C )
3


Z
 m1 = Z 01 = Z 12 = Z 20 =
1
3
(
Z A + a 2 Z B + a ZC ) (46)


 Z m 2 = Z 10 = Z 21 = Z 02 =
1
3
Z A + a (Z B + a 2
ZC )

5. Igualar as três tensões de seqüência na carga, ou seja, igualar


as equações (37) e (44) e obter as correntes de seqüência.
~ ~
VS = ETS − Z TS . I S = Z S . I S

~
( ~
ETS = Z TS + Z S . I S ) (47)

(~ ~
I S = Z TS + Z S )−1
. ETS
ou

 Ea 0   Z p + Z 0 Z m1 Z m2  I a0 
E  =  Z Z p + Z1

Z m1  ⋅  I a1 
 a1   m 2 (48)
 Ea 2   Z m1 Z m2 Z p + Z 2   I a 2 

e desta forma
−1
 I a0  Z p + Z 0 Z m1 Z m 2   Ea 0 
I  =  Z Z p + Z1

Z m1  ⋅  Ea1 
 a1   m 2 (49)
 I a 2   Z m1 Z m2 Z p + Z 2   Ea 2 

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6. Obter as tensões de seqüência na carga.

~ ~
VS = ETS − Z TS . I S = Z S . I S (50)
7. Obter as tensões de seqüência na carga.

~
 VF = Q. VS
 ~ (51)
 I F = Q. I S

1.2. Carga Desequilibrada em Estrela não Aterrada (sem


mútuas)
P
Ia ZA
a
REDE
Ib ZB
b N
EQUILIBRADA
Ic ZC
COM FONTES c
SIMÉTRICAS VN
n

Para a rede da figura acima vale

Va  VaN  VN 


V  = V  + V 
 b   bN   N  (52)
Vc  VcN  VN 

ou seja

Va   Z A   I a  VN 
V  =  ZB  ⋅  I  + V 
 b    b  N (53)
Vc   Z C   I c  VN 

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Na forma condensada tem-se então que

~
VF = Z F ⋅ I F + V N

~ ~ ~
Q ⋅ VS = Z F ⋅ Q ⋅ I S + V N (54)

~ ~ ~ ~
V S = Q − 1 ⋅ Z F ⋅ Q ⋅ I S + Q −1 ⋅ V N
É adequado neste momento analisar o último termo da
equação (54) anterior.
1 1 1  1 VN 
~ 1
Q −1 ⋅ VN = 1 a 2 a  ⋅ 1 ⋅ VN =  0  = VNS
3 (55)
1 a a 2  1  0 
Logo
~
VS = Z S ⋅ I S + VNS (56)
ou seja, na carga

Va 0   Z p Z m1 Z m 2   I a 0  VN 
V  =  Z Zp

Z m1  ⋅  I a1  +  0 
 a1   m 2 (57)
Va 2   Z m1 Z m2 Z p   I a 2   0 
Do ponto P para dentro do sistema tem-se que
~
VS = ETS − Z TS ⋅ I S (58)
ou seja
Va 0   Ea 0   Z 0   Ia0 
V  =  E  −  Z1  ⋅ I 
 a1   a1     a1  (59)
Va 2   Ea 2   Z 2   I a 2 

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Igualando-se as equações (56) e (58) vem que


~ ~
ETS − Z TS ⋅ I S = Z S ⋅ I S + VNS (60)
ou seja
~
(~
ETS − VNS = Z S + Z TS ⋅ I S ) (61)
De forma expandida tem-se

 Ea 0 − VN   Z p + Z 0 Z m1 Zm2  I a0 
 E = Z Z p + Z1

Z m1  ⋅  I a1 
 a1   m2 (62)
 Ea 2   Z m1 Zm2 Z p + Z 2   I a 2 
Como não existe retorno, então
I a + Ib + Ic = 0 (63)
ou seja
I a + I b + I c = (I a 0 + I a1 + I a 2 ) +
(
+ I a 0 + a 2 I a1 + a I a 2 + ) (64)
+ (I a0 + a I a1 + a I a 2
2
)= 3I a0 =0
Logo
Ia0 = 0 (65)
Substituindo a equação (65) na equação (57), estas últimas
tomam a forma
 Ea 0 − VN = Z m1 ⋅ I a1 + Z m 2 ⋅ I a 2

 Ea1 = (Z p + Z1 ) ⋅ I a1 + Z m1 ⋅ I a 2
(66)
 Ea 2 = Z m 2 ⋅ I a1 + (Z p + Z 2 ) ⋅ I a 2

ou seja
 Ea1   Z p + Z1 Z m1   I a1 
E  =  Z  ⋅ 
Z p + Z2  Ia2  (67)
 a2   m2
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Resolvendo a equação (67) para Ia1 e Ia2, vem que

Ea1 Z m1
Ea 2 Z p + Z2 Ea1 (Z p + Z 2 ) − Ea 2 Z m1
I a1 = =
Z p + Z1 Z m1 (Z p + Z1 )(Z p + Z 2 ) − Z m1 Z m 2
Zm2 Z p + Z2 (68)

Z p + Z1 Ea1
Zm2 Ea 2 Ea 2 (Z p + Z1 ) − Ea1 Z m 2
I a1 = =
Z p + Z1 Z m1 (Z p + Z1 )(Z p + Z 2 ) − Z m1 Z m 2
Zm2 Z p + Z2

O valor da tensão do neutro da carga em relação ao neutro


do sistema Vn pode ser calculado pela primeira das equações
em (66), ou seja

VN = Ea 0 − Z m1 ⋅ I a1 − Z m 2 ⋅ I a 2 (69)

EXEMPLO: Sabendo-se que a carga trifásica do circuito abaixo é


alimentada por tensões simétricas de seqüência direta de 127 V,
pede-se calcular: a Ia 10 Ω

(a) as correntes de linha;


(b) a potência complexa total;
b Ib j 10 Ω
(c) o fator de potência vetorial. N

SOLUÇÃO: c Ic - j 10 Ω

(a) Considerando-se a tensão de fase da fase “a“ na referência, tem-se


 Va = 127 ∠0° V

 Vb = 127 ∠ − 120° V
 V = 127 ∠120° V
 c

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A matriz das impedâncias de fase da carga é


10 
~
Z F =  j 10 Ω

 − j 10

Desta forma, a matriz das impedâncias de seqüência da carga vai ser


 Zp Z m1 Zm2 
~  
Z S = Z m2 Zp Z m1 
 Z m1 Zm2 Z p 

onde
 1 1 10
 Z p = (Z A + Z B + Z C ) = (10 + j 10 − j 10 ) = = 3,33 Ω
3 3 3

 1
( ) 1
(
 Z m1 = Z A + a Z B + a Z C = 10 + a ⋅ j 10 − a ⋅ j 10 =
3
2

3
2
)27,32
3
= 9,11 Ω

− 7,32

 Z m 2 =
1
3
( Z A + a Z B + a 2
Z C =
1
3
) 10 +(a ⋅ j 10 − a 2
⋅ j 10 =) 3
= −2,44 Ω

Aplicando as equações (68) vem que
127 9,11
0 3,33 422,91
I a1 = = = 12,69 A
3,33 9,11 33,33
− 2,44 3,33

3,33 127
− 2,44 0 309,88
I a2 = = = 9,30 A
3,33 9,11 33,33
− 2,44 3,33

O vetor das correntes de linha em componentes de fase vai ser então

I a   1 1 1  I a0   1 1 1  0   22∠0° 
I  =  1 a 2
 b  a  ⋅  I a1  =  1 a 2 a  ⋅ 12,69  = 11,39 ∠ − 165 ° A
   
 I c   1 a a 2   I a 2   1 a a 2   9,30   11,39 ∠ 165 ° 

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A tensão do neutro da carga vai ser dada por


VN = Ea 0 − Z m1 ⋅ I a1 − Z m 2 ⋅ I a 2 =
= 0 − (9,11)(12,69 ) − (− 2,44 )(9,30 ) = −92,91 V
O leitor pode se reportar ao mesmo exemplo apresentado na Unidade
III de forma a comparar os resultados obtidos utilizando-se o método
das componentes simétricas com as duas técnicas antes apresentadas,
ou seja, o método analítico e o método matricial.

(b) A potência complexa total vai ser dada por


( ∗ ∗
S 3Φ = 3 Va 0 ⋅ I a 0 + Va1 ⋅ I a1 + Va 2 ⋅ I a 2

)
Na equação anterior, as tensões de seqüência zero e seqüência
negativa na carga são nulas, uma vez que elas são simétricas e de
seqüência direta. Também a corrente de seqüência zero é nula pois
não existe caminho de retorno. Desta forma, a expressão para a
potência complexa total vai ser simplesmente
S 3Φ = 3 Va1 ⋅ I a1 = 3 ⋅ (127 ) ⋅ (12,7 ) = (4838,7 + j 0 ) VA

(c) O fator de potência vetorial vai ser o cosseno do ângulo da potência


complexa, ou seja
fpv = cos(0) = 1

1.3. Carga Desequilibrada em Delta (sem mútuas)


Como antes, faz-se a conversão para
estrela com neutro isolado e
resolve-se da mesma forma anterior.
Za  Z ab ⋅ Z ca
Zac Zab Z
 a =
 Z ab + Z bc + Z ca
 Z bc ⋅ Z ab
Zc Zb  Zb =
 Z ab + Z bc + Z ca (70)
 Z = Z ca ⋅ Z bc
Zbc  c Z +Z +Z
 ab bc ca

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1.4. Carga Desequilibrada em Estrela Aterrada por


Impedância de Neutro (sem mútuas)
O circuito abaixo mostra a situação a ser analisada. Para
este circuito tem-se que
Ia ZA ~
a
VF = Z F ⋅ I F (71)
Ib ZB
b N onde
Ic ZC
c
Z A + Z N ZN ZN 
~
Z F =  Z N Z N 
In ZN
n ZB + ZN (72)
 Z N ZN Z C + Z N 

Desta forma, a matriz das impedâncias de seqüência para


esta carga vai ser dada por
 Z p + 3Z N Z m1 Z m2 
~ ~  
Z S = Q −1 ⋅ Z F ⋅ Q =  Z m 2 Zp Z m1  (73)
 Z m1 Z m2 Z p 

Igualando-se as duas equações que expressam os valores
de tensão para esta rede em componentes simétricas
tem-se
~
 VS = Z S ⋅ I S ~ ~
 ~ Z S ⋅ I S = ETS − Z TS ⋅ I S (74)
 VS = ETS − Z TS ⋅ I S

ou seja
~ ~
Z S ⋅ I S = ETS − Z TS ⋅ I S

~
(~
ETS = Z TS + Z S ⋅ I S ) (75)

~
( ~
I S = Z TS + Z S )
−1
⋅ ETS

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A última das equações (75) na forma expandida fica como


−1
 I a 0    Z0   Z p + 3Z N Z m1 Z m2    Ea 0 
I  =   + Z   
 a1    Z1   m2 Zp Z m1   ⋅  E a1  (76)
 I a 2    Z 2   Z m1 Z m2 Zp    E a 2 
 

A equação (76) mostra que não há ganhos efetivos em se


trabalhar com componentes simétricas, uma vez que o
problema continua complexo, ou seja, em componentes de
fase a matriz das impedâncias de Thevenin é cheia e a
matriz das impedâncias da carga é diagonal. Por outro
lado, em componentes simétricas, a matriz das
impedâncias de Thevenin é diagonal e a matriz das
impedâncias da carga é cheia.

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