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colecção periódicos locais / mensais

número 69
março / abril 2021

ad íl i a lo p es
c és ar a césar
&etc 2003
p. 14 R I CA R D O L I MA
número 69 março / abril 2021
2

... ao postigo te distin-


go, vejo, desejo, escolho e acolho, te
abraço e beijo
...distingo o trabalho que não te re-
vejo na pobreza, desejo que saibas
escolher quem melhor acolhe o teu
abraço e te reconheça num beijo...

olhe lá, afinal venho de tão longe à


espera de me darem um lanchinho,
uma maçã que seja, água em minús-
cula garrafa e um pacotinho de bola-
chas...e ofereci eu o meu braço sem
saber se vou encontrar coágulos na
minha sopa... de lanchinho nicles ba-
tatóides, resta-me o copo de vinho...
saúde é preciso para que a justiça
não se arvore em forte para com os
fracos e fraca para com os fortes...

e que à saúde se junte a educação,


erradique-se a corrupção (é difícil,
nós sabemos) e que o 25 de Abril
sempre se cumpra e festeje - resistir
e ntr egas
é mesmo preciso...resilir? como? não
ao
percebo, não chego lá...
dom í ci li o
agora deu-lhes para isto, redesco-
brem palavras com teias de aranha,
falando abexim na expectativa de as

FICHA TÉCNICA portas se abrirem à fortuna...tomem


Periódicos Mensais Locais nº 69
Março e Abril de 2021
DIRECTÓRIO COLECTIVO José de Matos-Cruz | lá umas moedas a ver se pega...
Joaquim Jordão | António Viana | Álvaro Biscaia
MORADA Rua da República, 114 1º sala 5 3080-036

V. C LA RO
Figueira da Foz
EDIÇÃO FLAGRANTETITULO - Associação Cultural
(flagrantetitulo@gmail.com)
COLABORAÇÕES V. Claro | Ricardo Lima | Pedro
Silva | Paula B. | Nuno Gonçalves | José de Matos-Cruz
| Joaquim Jordão | João Pedro Mésseder | Henrique
Manuel Bento Fialho | Helena Zália | Bruno Fontes | BAP
| Augusto Baptista | AFMFF | António Viana | António
Augusto Menano | André Ruivo | Ana Biscaia | Adília
Lopes
IMPRESSÃO FIG
RUA DA REPÚBLICA, 116-118 DEPÓSITO LEGAL 458649/19
FIGUEIRA DA FOZ
João de Azevedo sempre presente.
233 402 470
3

entrevista com Nuno Gonçalves O PALHINHAS Em tempo de


pandemia, e pensando num
que os públicos reajam a
estes estímulos, participem
Vereador da Cultura da CMFF
tempo futuro, como pode e consumam avidamente
a cultura ser factor para os produtos culturais que
recuperação e desenvolvi- transfiram essência e qua-
mento do concelho? lidade.

Em tempo de
Importa tentar aliar o co-
N u n o G o n ç a l v e s A cultura nhecimento, as artes, a
representa em si mesmo criatividade, a coesão social
um motor de crescimento e e a educação como partes

pandemia, desenvolvimento, seja con-


dicionada por vinculações
advindas da pandemia ou
de um todo, com vista à
constituição de um conce-
lho com todos(as) e para

e pensando num
expurgada dessas pertur- todos(as). Cultura é sinóni-
bações. Historicamente, a mo de desenvolvimento
cultura sempre esteve pre- económico, de emprego, de
sente e sempre foi alvo de inovação, de empreendedo-

tempo futuro, como “pandemias” várias que a


fita do tempo ajusta em
função da essência cultu-
rismo. Permite a criação de
valores democráticos e de
cidadania assentes numa

pode a cultura
ral mais pura: a criação e a premissa: a participação de
criatividade. Sou daqueles todos.
que acha que a cultura deve
estar ao serviço de todos os

ser factor para


setores da sociedade, até da P Que tipo de apoios foram
própria cultura e que esta dados aos agentes cultu-
tem a força intrínseca da rais da cidade, neste úl-
transformação do mundo. timo ano e no ano em que

recuperação Em concreto, a ambiência


pandémica deve consti-
tuir um desafio e motiva-
vivemos, neste contexto
específico?

e desenvolvimento
ção bastantes para que os N G Vale a pena começar por
artistas assumam o papel densificar o conceito de
estimulante do desenvolvi- agente cultural. Na minha
mento criativo. Os diversos visão, os agentes culturais

do concelho?
“agentes culturais” podem são todas as pessoas singu-
reinventar-se e inovar- lares ou coletivas que atuam
-se. Todos nós, em certo no setor público e privado
momento, percebemos o e que têm relação com o
quanto perdemos com a processo cultural, incluindo
pandemia. Isso exortará a os públicos usufrutuários.
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número 69 março / abril 2021

Nessa medida, o a estratégia valorizar as várias manifes- do, classificação, proteção, belíssimo património, per- de Artes e Espetáculos, o
Municipal foi, tanto quanto tações, quer de pendor mais requalificação valorização mitindo assim, uma maior Auditório Municipal, o Au-
material e legalmente possí- popular ou de índole mais e dinamização de todo este fruição dos cidadãos, dando ditório da Misericórdia da
vel, manter a agenda cultural erudita. As agremiações a e acervo patrimonial. a conhecer a coleção Cae- Figueira da Foz, o Cine Tea-
de índole eclética e de acesso as coletividades foram bene- No âmbito da promoção e tano e a coleção de pintura tro do Grupo Caras Direi-
democrático ativa. Esta deci- ficiárias em 2020 de mais de participação em projetos de de João Reis. Usufruindo de tas, o Teatro da Trindade do
são, até ao limite do possível, 150 mil euros, em tranches reconhecimento e valoriza- excecional beleza e valor his- União Foot-Ball de Buarcos
permite manter ativas certas antecipadas fruto das difi- ção patrimonial, o Muni- tórico, a Quinta das Olaias, e a Sociedade de Instrução
sinergias para os públicos, culdades pandémicas, cor- cípio encontra-se a desen- proporcionará um riquíssi- Tavaredense. Podemos en-
promotores, criadores, artis- respondente a atividade re- volver, juntamente com a mo acervo de bens culturais contrar cerca de meia cente-
tas, equipas técnicas e tende gular, extraordinária e apoios Direção Geral das Ativida- e coleções de artes plásticas, na de espaços com caracte-
a evitar cortes radicais nas de transporte. des Económicas, o projeto potenciando-a num valioso rísticas e condições distintas
práticas e hábitos culturais Comércio com História que recurso cultural e turístico. nas agremiações e coletivida-
dos cidadãos. visa salvaguardar os esta- O património natural do des do concelho.
Foram criadas alternativas de P Como homem político res- belecimentos, entidades ou Cabo Mondego enquan- É inegável que a Figueira da
acesso a produtos culturais ponsável pela pasta da Cul- associações com valor histó- to Estrato Jurássico e Geo Foz tem uma ligação antiga,
com o fito de incentivar e até tura esclareça-nos sobre rico, cultural ou social local. Monumento, assinalado pela intensa e duradoura com o
intensificar a procura, como quais seriam, a seu ver, No âmbito do património correspondência à base do Teatro. Desde meados do
são disso exemplo os catálo- os projectos fundamentais imaterial o projeto de reco- andar Bajociano, representa século XIX constituíram-se
gos on-line das exposições para o desenvolvimento da lha das lendas, confere uma uma riqueza ímpar. Cons- inúmeros Grupos Cénicos
e divulgação de artistas, o cidade e do concelho em grande oportunidade. ciente de que os tramites Amadores e edificaram-se
programa de empréstimo de termos culturais. O Museu e seus Núcleos, a deste projeto incorrerão em algumas das mais emblemá-
livros com entrega no domi- biblioteca e os arquivos his- muito mais tempo do que o ticas salas de espetáculos do
cílio dos requerentes, o pro- N G Decorrem, neste mo- tórico e fotográfico, a Casa desejado, estão a ser imple- concelho, já com luz elétrica
jeto de poesia on-line com a mento, vários projetos que do Paço e o Centro de Artes mentadas todas as démar- e diversas comodidades para
participação de vários atores juntamente aos já existentes e Espetáculos são poderosas ches necessárias à sua reali- o público, como o Teatro-
amadores e profissionais e a configuram uma clara estra- marcas identitárias das pes- zação. -Circo Saraiva de Carvalho
transmissão online de filmes tégia integrada e sustentada soas e excelentes lugares para A confluência de todos estes (1884) e o Teatro da Trin-
no âmbito da projeção de ci- para a cultura. A Figueira a educação, cidadania e par- projetos, compulsada com dade de Buarcos (1910) e
nema às sextas. da Foz tem um conjunto de tilha de conhecimento. uma programação inspira- outras entretanto já desa-
O próprio Município tem macro-narrativas e figuras Por esse motivo continua a da na metáfora do conce- parecidas, como o Teatro
grande responsabilidade na de memória histórica assi- ser objetivo a dinamização lho enquanto espaço físico, Príncipe D. Carlos (1874),
manutenção de profissio- naláveis. São exemplo disto e valorização destes diversos enquanto espaço de encon- o Grémio Lusitano (1882),
nais da cultura, com a cons- Manuel Fernandes Tomás, espaços culturais, destacando tro, troca de experiências e o Grémio Recreativo (1888),
tituição de várias equipas Cristina Torres, João de Bar- o recém-criado Núcleo de saberes, cria oportunidades o Teatro Operário, o Teatro
interdisciplinares nos seus ros, Joaquim de Carvalho e Arte Contemporânea La- ímpares de fruição e desen- Nicolau, o Teatro Parque
serviços e de potenciar rela- Santos Rocha. O desembar- ranjeira Santos, integrado no volvimento cultural. Cine e o Teatro Chalett.
ções culturais com agentes que da esquadra britânica a Castelo Eng. Silva em parti- Hoje, é com gáudio, que
externos à esfera jurídica do Lavos com cerca de 16 mil lha com o Posto de Turismo constatamos que o Teatro
próprio Município. O aces- homens comandados pelo e com uma Sala de Exposi- P A Figueira da Foz, cidade, vive, se reinventa e fortalece
so democrático e regulado general Arthur Wellesley é ções Temporárias dedicada à não tem no seu coração um dia-a-dia, não só nos palcos
aos equipamentos munici- outro importante momento cidade da Figueira. teatro. Porquê? das mais antigas agremia-
pais para os agentes cultu- histórico que constitui uma Realço, também, o projeto ções culturais do concelho,
rais, representa também um importante narrativa histó- já aprovado da Quinta de N G Ancorado no princípio mas também das novas, onde
estímulo muito relevante no rica. A Cultura desenvolvida Ciência Viva do Sal para inalienável da honestidade os atores amadores – fazedo-
desenvolvimento das ativi- pelo Município da Figueira cooperação, interpretação, intelectual não vou fingir que res de cultura e guardiões de
dades culturais. da Foz tem vindo a assentar estudo e inovação do proces- não entendo a pergunta, em- memórias e tradições – nos
Foram, ainda, adotadas me- numa lógica de construção so tradicional do Sal, trans- bora tenha de assumir que continuam a espantar, a fa-
didas que privilegiaram de um património comum, formando assim o Núcleo não partilho da premissa da zer sorrir e chorar. A este
sempre o reagendamento de de criatividade e de conhe- Museológico do Sal num es- mesma. Entendo que o co- propósito é da maior justiça
espetáculos em detrimento cimento – uma cultura úni- paço ainda com maior atra- ração da Figueira da Foz, ou referenciar as “Jornadas de
do mero cancelamento. As- ca, enraizada na história, em tividade. A revitalização do até da cidade, é definido por Teatro Amador”, organiza-
sim, no uso de prerrogativa que os cruzamentos disci- antigo quartel dos bombei- um vasto conjunto de parti- das desde 1976 pelo Lions
legal e de vontade estraté- plinares são essenciais: edu- ros municipais, num espaço cularidades e essências, cada Clube da Figueira da Foz,
gica, foram adiantados 50% cação, ação social, turismo, de acolhimento ao arquivo um com as suas idiossincra- com o objetivo de dar a co-
dos custos dos espetáculos e desenvolvimento, desporto, fotográfico, dedicado à ima- sias. Sem negar a importân- nhecer aos figueirenses os
reagendados para datas vin- juventude. gem e imagem em movi- cia do conceito de espaços grupos de teatro que existem
douras. Os agentes culturais O património arqueológico, mento, com espaço dedicado âncora, considero que esta no concelho. E é da maior
que são concessionários de o património edificado, o de coworking para o setor, multiculturalidade e “multi- justiça referir a importâncias
espaços municipais pude- património azulejar, as co- constituirá mais uma impor- -espacialidade” com as suas das várias coletividades que,
ram usufruir das medidas de leções museológicas e todas tante valência da dinâmica consequentes micronarrati- com grande dedicação, se
apoio concedidas, por exem- as restantes manifestações cultural do concelho. vas são um belo exemplo da continuam a entregar à no-
plo, isenções da renda e dife- identitárias, são hoje enca- Enfatizo, ainda, o investi- riqueza plural em detrimen- bre causa do Teatro.
rimentos de obrigações para radas como focos de especial mento municipal realizado to de qualquer macrocefalia
os períodos aprovados pela valor e atenção e o município na valorização e requalifica- castradora da diversidade.
Câmara Municipal. tem canalizado as suas equi- ção dos espaços da Quinta Talvez seja por isso que po- P A Figueira faz parte da
Numa visão holística da so- pas técnicas especializadas das Olaias, assim como o demos encontrar, só na dita CIM - Centro. Que tipo de
ciedade e da cultura, importa no registo, inventário, estu- programa de abertura deste área mais urbana o Centro projectos culturais, que

A Figueira da Foz tem um conjunto de macro-narrativas e figuras de memória histó-


r i c a a s s i n a l áve i s . S ã o exe m p l o d i s t o M a n u e l Fe r n a n d e s To m á s , C r i s t i n a To r r e s , J o ã o
de Barros, Joaquim de Carvalho e Santos Rocha.
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envolvam a comunidade lo- e sazonalidade próprias da programação de excelência, lização e responsabilidades sua relação com os cidadãos.
cal, podem ser desenvolvi- própria criação e que tam- de acesso democrático e com de conservação, mas, na ver- Relativamente à segunda
dos pela autarquia, neste bém dependem da procura e relevância nacional e inter- dade, para além da utiliza- parte da questão, impor-
âmbito, em conjunto com da criação de públicos. De- nacional. Constitui valioso ção pontual do monumento, ta referir que no âmbito de
outros municípios? pende do percurso de cultura interesse proporcionar a es- pouco foi feito ao nível da todo este processo, em 2018,
histórica e organizativa dos tabilização de instituições sua manutenção e conser- o município editou um livro
N G A “Coimbra Região de territórios enquanto espaço culturais e instituições de vação. A circunstância de o sobre o monumento (que
Cultura” consubstancia o de criação e “alfobre” siner- mediação cultural que pro- monumento se encontrar retrata a sua origem e a sua
Programa Intermunicipal gético entre as várias artes. movam a criação, a cocriação fechado também não contri- evolução até ao atual proje-
para a Valorização dos Re- Incide na existência de con- e o trabalho e programação buía para a sua conservação. to de requalificação). Forte
cursos Patrimoniais, Cul- dições físicas de equipamen- em rede. Encarado como mais do que de Santa Catarina- Imagem
turais e Turísticos. Assume tos e património para poten- Importa referir que a candi- um monumento histórico, de um território, é uma pu-
como objetivo central valori- ciar a realização de todas as datura de Coimbra a Capi- mas especialmente como blicação interdisciplinar que
zar os recursos patrimoniais, fases do processo de criação tal Europeia da Cultura em uma joia na cidade, o restau- aborda aspetos importan-
criar produtos turísticos de até ao contacto com os pú- 2027, envolvendo a Comu- ro, conservação, requalifica- tíssimos do contar histórico
qualidade que contribuam blicos. nidade Intermunicipal da ção e valorização do Forte de deste monumento e apre-
para o aumento do número Considerando que esta pro- Região de Coimbra, consti- Santa Catarina impunha-se senta o projeto de arquite-
de turistas, visitantes e afir- blemática transcende em lar- tui uma inegável oportuni- e tornou-se, afortunadamen- tura que esteve na base desta
mar a região como destino ga escala as fronteiras conce- dade para dar maior dimen- te, numa prioridade. requalificação.
turístico de excelência. Nes- lhias, cabe-nos, sem ilusões são, escala e circulação pelos Numa primeira fase, avan- Reconheço, porém, que há
te momento, temos várias e à nossa escala, desenvolver territórios do nosso projeto çou-se com um projeto mais trabalho a realizar, nomea-
candidaturas aprovadas que esforços para a minimizar e cultural. amplo, de requalificação da damente a integração física
envolvem a comunidade lo- potenciar condições de atra- envolvência do monumento, da versão interpretativa do
cal, artistas amadores e pro- tividade para o desenvolvi- que resultou na sua maior monumento. Tentou-se essa
fissionais. mento de carreiras. É por P Pensando na sua posição aproximação às pessoas e realização no início, com
A título de exemplo, desta- isto que existe uma aposta de Vereador da Cultura e da numa maior dignidade da a introdução de uma mesa
co a candidatura em que o forte na co-programação Educação, diga-nos o que sua relação com a cidade. virtual com conteúdos his-
Município da Figueira da com diversos agentes cul- pensa sobre a reconversão Em 2015, iniciava-se a con- tóricos, mas as condições
Foz é líder: O MAR QUE turais. Esta estimulação à do Forte de Santa Catarina servação e restauro da sua es- de humidade do espaço não
NOS UNE. Trata-se de rede criação e criatividade tam- no Forte, bar? Qual o ob- trutura no interior, com um permitiram o correto fun-
de programação de natureza bém é realizada no formato jectivo? E, falando no pla- projeto arquitetónico de lin- cionamento do equipamen-
intermunicipal (Figueira da de aceitação de projetos ou no hipotético, que tipo de guagem moderna, mas sub- to pelo que os serviços mu-
Foz, Cantanhede e Mira) de lançamento de desafios acções poderiam ser ali de- til, respeitadora das pré-exis- nicipais da cultura estão a
com uma programação atra- a diversos agentes para rea- senvolvidas para ensinar o tências, que pretendeu tornar analisar melhores soluções.
tiva e diferenciada, com 208 lizarem projetos decorrentes que é aquele forte e a sua o monumento visitável e do- É importante que a dinâ-
eventos, a realizar em espa- de objetivos previamente história? tar o mesmo com um espaço mica instalada continue a
ços patrimoniais, maiori- lançados, estabelecendo la- de bar, sanitários e espaço de valorizar a história do mo-
tariamente ao ar livre, que ços biunívocos de confiança, N G O forte de Santa Catarina lazer. Tornar o monumento numento e que continue a
valorizem o património do trabalho e participação. é um dos monumentos mais um espaço com gente, com colaborar nas iniciativas que
território. A programação Os equipamentos culturais simbólicos da cidade que es- vida, acessível a todos! o município pretende conti-
irá ocorrer durante os anos concelhios são, cada vez teve de portas fechadas ao A experiência ao longo dos nuar a levar a efeito no Forte
de 2021 e 2022, permitindo mais, espaços dinâmicos e público durante muitos anos. anos tinha provado que de Santa Catarina, em datas
a itinerância de espetáculos, têm vindo a adaptar-se aos Ao longo desse período, rei- transformar o Forte de San- especiais.
bem como a circulação de novos tempos com equipas teradamente, o Município ta Catarina num “mero” es-
públicos pluridisciplinares, parceiros, tentou abrir portas e enqua- paço expositivo/interpreta-
atuação transversal, pensa- drar algumas ações, eventos tivo não era o caminho. Era
mento crítico e participa- ou exposições naquele espa- necessário mais do que isso
P De que mecanismos dispõe tivo por parte do público e ço mas, na verdade, as con- para resgatar a relação do
a cidade para gerar emprego por parte das equipas. Esta dições ambientais das suas monumento com o público
a trabalhadores da cultura? abertura tem sido essencial salas, a utilização de uma das e fazê-la perdurar no tempo,
Existe algum programa/pla- para captar investimento, salas para a sinalização ma- criando uma relação identi-
no pensado nesse sentido? parcerias e atrair um número rítima, ou o mau estado de tária biunívoca e indelével
E Porquê? crescente de visitantes, man- conservação da capela, não com os cidadãos. Dotar o
tendo sempre, com coerência permitiam a permanência de monumento de uma função
N G Julgo que a problemática e solidez, as atividades que se grandes atividades. Pontual- diária era também uma for-
a que se refere quando men- desenvolvem nos bastidores mente, em contexto de festas ma de recuperar a sua vivên-
ciona gerar emprego a traba- de cada equipamento. da cidade ou eventos das Jor- cia na cidade e a melhor for-
lhadores da cultura, seja um nadas do Património, as por- ma de o manter vigiado ao
dos problemas centrais no tas da fortaleza eram abertas nível dos comportamentos
desenvolvimento cultural em
todo o mundo e não apenas
P Como pode e deve a Fi-
gueira afirmar-se cultural-
e o público podia aceder ao
seu interior e subir para os
físicos dos seus elementos
construtivos. PRAÇA
na Figueira da Foz, ou seja, mente na região e no país? baluartes, mas a questão da Após vicissitudes várias as- GENERAL
a constituição de carreiras e segurança era sempre uma sociadas do processo de re-
a possibilidade de profissio- N G Para além dos projetos já condicionante preocupante. cuperação, creio que se al- FREIRE
nalização no setor da cultu- elencados e da estratégia exa- Requalificar uma infraestru- cançou o propósito a que o DE
ra. Este enorme desafio tem rada nas anteriores respostas, tura militar, com subsequen- município se propôs e que vai
molduras várias no caminho explorando de forma inteli- te aproveitamento turístico é ao encontro das políticas de ANDRADE
da sua construção. Tem ne-
cessariamente uma dimen-
gente o património material
e imaterial, os equipamentos,
sempre um processo comple-
xo. O município tinha desde
requalificação patrimonial:
de uma forma respeitadora
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são jurídico-legal que deve as equipas técnicas multidis- 2003 com o Ministério da do seu passado, a entrega ao
prever com especificidade
vinculações de maior segu-
ciplinares, é vital criar, inovar
e estimular a participação.
Defesa Nacional - Marinha
Portuguesa (proprietário do
lugar de uma função de aces-
so a todos em plena fruição e
FIGUEIRA
rança a este tipo de carreira Ser diferenciador com base imóvel), um protocolo de que permite conhecer o mo- DA FOZ
que encerra em si particu- nos produtos endógenos e colaboração que entregava numento de uma forma mais
laridades de aleatoriedade continuar a apostar numa ao município a gestão, uti- agradável, valorizando-o na
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Sobre a areia
Quem vem do lado do casino pela Cândido dos Reis,
parar junto à passadeira da Rua Miguel Bomborda que
ruma à esplanada, e olhar para a esquerda, consegue
facilmente ver a praia do Cabedelinho se usar as lentes
certas. E se, parado nesse mesmo local, olhar em frente
na direção do Relógio, consegue igualmente alcançar com
os olhos, usando as lentes certas, a Praia da Claridade.
Com uma diferença. Esta última está mais distante que
o Cabedelinho, mesmo com um rio Mondego a separar-
nos. Este fenómeno, que não é um fenómeno porque é
pura realidade, mais facilmente é verificável em pleno
verão, quando conseguimos “medir” os chapéus de sol que
se dispersam pelos respectivos areais.
Não sabemos se e/ou quando voltamos a ter Cabedelinho.
Mas temos a certeza que a Praia da Claridade não
desaparecerá tão depressa. E ainda bem, ela é muito
precisa e preciosa! Sabemos também, com elevado
grau de certeza, que as pessoas que mandam nestas e
noutras areias estão satisfeitas com o rumo das areias:
acumuladas a norte, roubadas a sul. E isto significa
que farão todos os possíveis, como têm feito até aqui,
para remediar a situação esbanjando milhões atrás
de milhões com dragas de eficiência questionável, ao
mesmo tempo que desprezam a celeridade do resultado
do tão ansiado estudo do bypass, que teima em não ver
a luz do dia. Enquanto isso, os anos passam, as decisões
(não) vão sendo tomadas, e aquilo que foi em tempos a
rainha das praias de Portugal apresenta hoje um aspecto
HE LEN A ZÁ LI A

perfeitamente desolador, sem ponta de intervenção


que se vislumbre, nada digno da beleza de uma cidade
como a Figueira da Foz. Areia? Estamos cheios dela.
Principalmente nos olhos.

PEDRO SILVA
7

J OÃO PE D R O M É S S E DE R

Arenosas:
1

Sendo nómada a areia,


seis líricas, 9

“Areia de mais
as dunas são sedentárias
como eu. uma ibérica para a tua camioneta”,
assim pensa serena
mas feroz
Vai, pois, areia minha,
vai outras dunas cobrir
e arenar outros sonhos.
e quatro quadros a orientadora,
olhos fixos
no caderno de notas
do doutorando.

2
10. O migrante
As nuvens de areia feitas
que as dunas são, Grão de areia no soalho da sala, Em sonhos o migrante
os suaves seios de areia de que paraíso ou inferno vieste chegou à costa
que as dunas são, trazido por meus pés e lembrando-se de Ali Babá
as grandes esculturas de areia para este chão? disse:
que as dunas são, “Abre-te, mar!”
as ondas esculpidas na areia E o mar abriu-se.
que as dunas são, 5. Carlos de Oliveira E lá estava no fundo a areia,
o vento escultor das dunas molhada ainda,
viciado em areia fina Arenosa Gândara, e sobre ela
e a caneta a copiar o vento arenosa existência búzios e caranguejos
ou o longo bico das gaivotas a de quem, e polvos ainda trémulos
e o poema a copiar as nuvens no tempo do cultivo, mas à beira de morrer.
e os seios de areia feitos tentou lavrar esse chão pobre. Recordou-se o migrante
que as dunas são… de Moisés, nesse momento,
E a de quem e do povo eleito
colheu palavras dele e de todo o ferro-velho
3 para tecer uma teia contra o tempo do Antigo Testamento.
(elevando esse chão E então encetou a travessia
Gosto de areia grossa e vítrea à condição de cristal). rumo à Europa,
gosto de a ver lavada pelo mar sentindo ainda nas narinas
amada pelo mar um intenso cheiro a maresia.
lambida pelo mar. 6
Gosto de saber que se há-de ir
aquele grão Abjurar abismos, 11
até dar à costa lutar por um istmo
noutra praia atlântica para atravessar. O primeiro desígnio
do lado de lá Pode ser de areia, dos meios de comunicação social
ou do lado de cá pode ser de pedra, é vender(em-se). Acontece
pelas ondas levado até pode (oh maravilha) que a verdade por si só não vende.
pelas ondas lambido ser de mar – Por isso, há que a distorcer
pelas ondas lavado. assim ele me deixe passar. ou mesmo que a substituir
por outra coisa qualquer.
Pode ser areia. Da fina
7 ou da grossa.

Arenosa, muita vez,


4 a voz de nuestros hermanos,
curtida amiúde pelo álcool,
pelo tabaco, pela conversa.
Menos arenosa, alguns pensam,
a voz de nuestras hermanas.

“Não me atires
areia pr’òs olhos”,
pensa o operário,
olhos postos nos lábios,
nas mãos, nos esgares,
no fato-gravata
do gestor discursando
em plenário da empresa
sobre as muitas dificuldades
e desafios que o futuro
“a todos reserva”.
8
número 69 março / abril 2021

T
enho sonhado amiúde com os tempos há não muito, uma moça brasileira transformada programa de televisão, o Afghan star, depois de de-
de estudante, porventura afectado pe- em notícia por usar mini-saia na escola. Logo se cidir deixar cair o véu e dançar em palco. No Afe-
los dramas do mundo. Surge-me dum viu vítima dos pedregulhos salivares cuspidos por ganistão estes exercícios de ódio ao diferente pare-
fundo que supunha perdido a imagem hordas em fúria. Ela defendeu-se assegurando o ób- cem mal, por cá são estupidamente legitimados
de uma miúda vaiada na secundária de vio, que não fazia mal a ninguém, que se limitava a pelo recurso a conceitos tais como os de tradição
Rio Maior, onde estudei, depois de alguém haver ser ela mesma, não percebendo quanto neste mun- ou bons costumes, os dos “portugueses de bem”,
reparado nas sobrancelhas excessivamente depil- do o mais ameaçador dos delitos é precisamente o para não falar da falácia reiteradamente pronuncia-
adas que lhe sublinhavam os sobrolhos. Naquele de ousarmos ser nós próprios. Jesus tentou resolver da do “pôs-se a jeito”.
tempo, as esteticistas eram o inverso do que hoje este problema ao salvar da lapidação uma mulher Está visto que não há grande diferença mental
se passa com as estatísticas. Rareavam e estavam adúltera: «Aquele de vocês que nunca pecou, at- entre o mundo dito civilizado das autoproclamadas
apenas ao alcance da burguesia abastada. Agora ire-lhe a primeira pedra» (João, 8,7). Já a ministra “civilizações superiores”, de raiz judaica e cris-
qualquer miúda arranja facilmente as sobrancel- Damares Alves prefere ameaçar com o inferno os tã, e o mundo dito incivilizado dos outros (sejam
has sem sair de casa, basta um tutorial no You- hereges que transam por prazer. «Transar é de es- muçulmanos, africanos, índios, ciganos…). No que
Tube e exemplos a seguir expostos no Instagram. querda», assevera. Que bem nos sentimos do lado concerne a sacar vacinas contra a covid-19 a bar-
E lembro-me do puto João a entrar na Aldeia dos certo da História. bárie toca mais a uns do que a outros, é certo, mas
Macacos (bloco onde os mais novos tinham aulas) A igreja promove o pecado, sempre discutível em termos de liberdades fundamentais é tudo oco,
com uma máquina zero que valeu todo um pavil- em matéria de adultério, generalizando as fraque- vazio, mesquinho, inquisidor, tristemente bronco e
hão em delírio a apontar-lhe a cabeça. A depilação zas da carne como justificação do perdão. Passa-se grosseiro e boçal. O que explica isto? Não sei, mas
tinha deixado ambos com um aspecto freak, isto algo semelhante com o conceito de tolerância, o lembro-me de uma professora de Filosofia Medie-
é, anormal. Como não gozar com a aparência ab- que talvez se entenda melhor recorrendo a uma val, versada em Santo Agostinho, Santo Anselmo,
errante que exibiam para desconforto das mentes citação de Agostinho da Silva: «Entre as palavras e São Boaventura, São Tomás e outros santos em
uniformizadas? A normalidade, como sabemos, é as ideias detesto esta: tolerância. É uma palavra das geral, que se maravilhou ao visitar a escola onde
a mais cruel das ditaduras. E o mundo está repleto sociedades morais em face da imoralidade que uti- então eu estagiava. Motivo de espanto? «Os pretin-
de homens-elefante. Da Alemanha nazi às cumpl- lizam. É uma ideia de desdém; parecendo celeste, hos também gostavam de jogar xadrez», palavras
icidades criminosas de Abu Ghraib não faltam ex- é diabólica; é um revestimento de desprezo, com a da reverendíssima Senhora Professora Doutora.
emplos. agravante de muita gente que o enverga ficar com Foi com ela que sonhei há dias, a olhar Dikita à dis-
Tudo o que, por esta ou aquela razão, descar- a convicção de que anda vestida de raios de sol». tância de 3,3 milhões de anos. Dikita, um esqueleto
rile na linha da normalidade, motivará temporais Quem tolera julga-se numa posição superior à do fossilizado encontrado na Etiópia, um esqueleto de
de preconceitos. Os preconceitos são a farda pa- objecto de tolerância, é o imperador que levanta ou uma criança que passava boa parte do tempo nas
dronizada dos soldadinhos que zelam pelas con- baixa o polegar no termo dos jogos. No fundo, o árvores e que ainda não usava a fala humana.
venções, toda uma violência exercida sobre o out- que os moralistas não entendem, seja no Brasil ou Também tive um professor de Filosofia Mod-
ro, o diferente, que parte dum princípio humano por cá, é a mensagem do amor. Excitam-se mais erna, o mesmo de Filosofia Social e Política, que
básico e desde há muito propagado: em nome da com crucificações. E isto é estranho. São casos que se achava muita piada ao imitar durante as aulas a
ordem social apaga-se, tanto quanto possível, a não diferem na essência do medievalismo com que pronúncia beirã de Carlos Carvalhas (ex-secretário-
desordem individual. Repare-se neste exemplo de foi tratada no Afeganistão uma concorrente de um geral do PCP), mas que se mostrou algo irritado
9

quando uma vez lhe fiz ver que estava com o pulôver
vestido do avesso. Sonhei com ele, era uma espécie de
homem do piano, o enigmático indivíduo encontrado
a vaguear numa praia inglesa, sem documentos, sem
identificação. Desenhou um piano na areia quando o
abordaram, e logo fizeram dele um virtuoso das teclas,
supostamente alemão, fraude muda, a tocar com as
pontas dos dedos dos pés o teclado de grãos do areal
onde veio ao mundo. Outro que me aparece em son-
hos é o professor de Ontologia, empenhado tradutor
de “A Metafísica”, de Aristóteles, que não passava das
notas de rodapé. Já ia em seis volumes só de notas
de rodapé. No meu sonho, cada uma dessas notas era
um dos 29 mil patinhos de borracha amarelos à deriva
nos oceanos durante 15 anos, depois do navio que os
transportava haver naufragado.
Parece que me afasto do tema central, mas na ver-
dade não. Isto leva-me a um sonho comigo próprio que
me assalta amiúde. Durante uma aula de lógica onde
se discutiam as aporias de Zenão, o professor dizia que
já existiam mais cópias de Frida Kahlo no mercado do
que originais, e que isso era uma garantia do suces-
so da autora, e eu dizia-lhe que havia falsificadores
cuja fama era tanta que as falsificações valiam mais
do que os originais, e ele dizia-me que cada um de nós
era uma falsificação de si mesmo, e eu respondia-lhe
que ele era uma aporia de Zenão, e ele retorquia que
não, era uma falsificação de uma aporia de Zenão, e
eu dizia-lhe que a humanidade estava perdida, e ele
tentava explicar que nada se perdia sem antes se ter
encontrado, o que não era o caso da humanidade, e eu
argumentava que, no fundo, pouco tínhamos evoluído
desde os 3,3 milhões de anos de Dikita, que talvez a
única diferença fosse já não passarmos praticamente
tempo nenhum nas árvores, mas ele dizia que passá-
vamos, que as árvores estavam a ser transformadas em
papel e que nós passávamos quase todo o nosso tempo
no papel, ou seja, em árvores transformadas como o fi-
ambre é carne de porco curada, e nisto acordei do son-
ho com a sensação de que acabara de ter um pesadelo.
Há muito a fazer, por muito que já tenha sido feito.
As nossas universidades estão cheias de gente que não
sonha, apenas transmite o que garante continuidade
no seio da Academia. De alto a baixo, o preconcei-
to que urge combater, seja rácico ou de género, devia
começar por um entendimento da realidade que, no
fundo, é bem simples: só uma coisa liga todos quantos
vivem, estão à morte. E daqui partir para uma reval-
orização da vida, do estar vivo em convívio, de ser
para o outro entre o outro, na presença de, um entre os
demais além de mim, actuando por solidariedade com BA P
desejo de compreensão do dissemelhante. O que nada
tem que ver com tolerância, mas sim com a grande
aventura que consiste em observar, estudar, perceber.
Daí o perigo de retrocesso que esta coisa que estamos
a viver traz, este medo do outro que leva ao distancia-
mento. Não se pode pretender mais igualdade entre os
homens querendo uniformizá-los, é um erro de princí-
pio. Haverá sempre quem não caiba no uniforme. Que
fazer com esse? Expulsá-lo da cidade? Os poetas não
foram expulsos da cidade ideal por propagarem mitos,
mas sim por colocarem em causa as estruturas frágeis
de um ideal que pretendia impor-se. Como? Duvidan-
do, confrontando. Num mundo de vítimas e carrascos
facilmente os papéis se trocam. Pode parecer areia de
mais para as nossas camionetas, mas aproveitar a vida
começa precisamente por aqui: aceitar o outro não LARGO DO CARVÃO, N.º 5
como um diferente que se tolera, mas como um semel- 3080-070 FIGUEIRA DA FOZ
hante que se descobre. +351 233 097 374
CATAVENTOS.FF@GMAIL.COM

Caldas da Rainha, 18/Março/2021


10
número 69 março / abril 2021

Scherzo de dois movimentos


em tom pandémico imoderado
(em compasso ¾)

BRUNO FONT E S

(primeiro movimento): you. You can’t fail, because failure is the goal fantasias mais voadoras de alguns “iluminados”
- it’s how you learn”. Longe de querer discutir e a que se convencionou chamar de “burguesia
O meio não é a mensagem os méritos ou os deméritos desta metodologia, do teletrabalho”.
pretendo somente incidir no ponto que me fez
À semelhança de qualquer outra pessoa que relacionar o suprarreferido spot publicitário (intervalo)
tenha o mínimo de respeito pela sua saúde com esta leitura, ou seja, nada menos do que a
mental, cada vez mais faço o possível por evitar relação docente-discente que esta escola esta-
contactos prolongados com essa “janela para o belece, e que passo a traduzir livremente para (segundo movimento):
mundo” que se chama televisão, mas reconheço aqueles que possam ter mais dificuldades com
o inglês: ninguém te ensina, porque os profes- Queimar antes de ler
que, tal como reduzir o tabaco ou ir para a cama
mais cedo, nem sempre é viável cumprir essa sores estão a executar as mesmas tarefas que
aspiração. Acontece que há uns dias, num des- tu. Sem querer também comparar ou valorar Por estes dias surgiu também a notícia de que
ses momentos de incúria, tive a possibilidade esta metodologia em relação a qualquer ou- uma doutoranda em Estudos e Teoria Afro-
de assistir a um spot publicitário de um forne- tra, não será um pouco isto que está a acon- -Luso-Brasileiros da Universidade de Dart-
cedor de serviços de Televisão e Internet onde tecer neste preciso momento no contexto que mouth (Massachussets, E.U.A., não confundir
se apresentava um convenientemente grisalho o Ministério de Educação, para lhe dar um ar com a cidade homónima em Nova Scotia, Ca-
professor que, não obstante deparar-se com al- mais savvy, cunhou de E@D? Por esta altura nadá), Vanusa Vera-Cruz Lima, efetuou uma
guns percalços, conseguia fazer o melhor que já todos sabemos muito bem que temos uma comunicação académica na qual identifica vá-
podia para se dividir entre os vários ecrãs em classe docente envelhecida e no limiar da in- rias passagens de teor racista em Os Maias, de
que se instanciavam os seus alunos, de níveis de foexclusão que está a fazer o (im)possível para Eça de Queirós, que, embora não retirem o va-
ensino variados, e atender a todas as suas soli- administrar, com as condições que se sabe, lor literário da obra, justificam a inclusão de um
citações com aquela que qualquer um percebe conteúdos letivos que já por si são na sua larga “comentário pedagógico” para que essa questão
logo ser a sua habitual bonomia e inteligência. maioria desinteressantes para os alunos, seja não seja ignorada. Curiosamente (ou talvez
No ápice do spot, os alunos surgem no ecrã em que contexto for; falta reconhecer a outra não), Vera-Cruz Lima defende que a persona-
do seu computador a compor, dividida pelas parte deste processo, que é justamente o facto gem João da Ega, que tem vindo a ser consen-
janelas, a mensagem “obrigado professor”. Não de estes professores estarem sucessivamente a sualmente identificada pela crítica como um
sei até que ponto isto sucede com o leitor des- reformular-se a si mesmos e aos conteúdos que alter-ego de Eça, é mencionada como a mais
tas palavras, mas comigo é frequente acontecer ensinam da noite para o dia desde há um ano racista do romance, por expressar opiniões tais
que uma coisa conduza de imediato a outra, e constrangidos a fazer algo que muito poucos como a seguinte, incluída no capítulo XII:
que por vezes nada tem a ver com a primeira, conseguem de facto fazer nas suas profissões: «Ega declarou muito decididamente […] que
só que tem, e este spot fez ricochete na minha aprender todos os dias. Porque no fundo este era pela escravatura. Os desconfortos da vida,
memória para acertar numa leitura recente, contexto “escolar” comprova que a máxima de segundo ele, tinham começado com a liberta-
que pode ser consultada aqui https://vans- Marshall McLuhan, “o meio é a mensagem”, ção dos negros. Só podia ser seriamente obe-
chneider.com/blog/the-creative-school-with- não é de aplicação universal, mas a sociedade, decido, quem era seriamente temido... Por isso
-no-teachers-homework-text-or-tests/, e que em vez de repensar o meio ou a mensagem, re- ninguém agora lograva ter os seus sapatos bem
apresenta uma escola sueca chamada Hyper cai na sabedoria popular da acusação do men- envernizados, o seu arroz bem cozido, a sua es-
Island onde foi adotado um sistema de edu- sageiro. E eu não estou inconsciente do intuito cada bem lavada, desde que não tinha criados
cação inovador que (afirma o artigo) já con- comercial do spot publicitário daquele forne- pretos em quem fosse lícito dar vergastadas...
firmou no mercado de trabalho o sucesso da cedor de serviços de Televisão e Internet, mas só houvera duas civilizações em que o homem
sua metodologia, sendo que esta se baseia fun- louvo-o por ousar fazer uma coisa que todos conseguira viver com razoável comodidade: a
damentalmente nas seguintes premissas: “You devíamos estar a fazer: ter pelo menos a de- civilização romana e a civilização especial dos
don’t get tests, you get briefs. You’re not taught, cência de não enquadrar os nossos professores plantadores da Nova Orleães. Porquê? Porque
because teachers are working right alongside naquela caixinha que a meu ver só existe nas numa e noutra existira a escravatura absoluta,
11

a sério, com o direito de morte!...». A comuni-


cação foi de imediato extensamente criticada do arquivo fotográfico
pela Associação de Professores de Português
(APP) e por um coro alargado de contornos
mais indefinidos que defende, por exemplo,
que a investigadora realizou uma leitura vi-
ciada e unilateral do romance sem ter em li-
nha de conta (ou sem ter percebido, aferem
os mais maldosos) que tais comentários são
irónicos. Julgo que são endereçadas algumas
outras críticas ao trabalho de Vera-Cruz Lima,
mas sinceramente não as entendo muito bem;
aquilo que presumo entender é o seguinte: a
razão pela qual esta comunicação académi-
ca deu tanto brado foi pelo facto de ter sido
mundialmente transmitida via Zoom, pois se
tivesse sido proferida num anfiteatro ou numa
sala de uma Universidade, mesmo que fosse
portuguesa, Vera-Cruz Lima ser-nos-ia tão
anónima como era há um mês - portanto, e
por paradoxal que isso aparente ser, a investi-
gadora tem muito que agradecer à pandemia,
já que não há nada melhor para um académico,
e isto por questões puramente profissionais, do
que ser falado. Também não consigo entender
o pasmo por terem sido encontrados conteú-
dos racistas n’Os Maias – se foi preciso surgir
esta comunicação para que se tivesse conheci-
mento disso, afinal os índices de leitura neste
país ainda estão piores do que se supunha. Eça
de Queirós foi um homem branco que nasceu,
viveu, foi educado e faleceu num contexto em
que Portugal se dizia um Império Colonial e
em que ainda não tinha sido redigida a carta da
Declaração Universal dos Direitos Humanos,
por isso é muito natural que ele não pensasse
sobre alguns assuntos exatamente como Ve-
ra-Cruz Lima gostaria que ele pensasse, mas
isso não a invalida, nem a ninguém, de realizar
uma leitura crítica, de acordo com a sua óti-
ca necessariamente contemporânea, desta ou
de qualquer outra obra literária, e é uma pena
que a APP, pelo menos, não consiga entender
que nenhuma obra - nem sequer a Bíblia! - é
sagrada; só que daí a pretender-se incluir-lhe
um “comentário pedagógico” há uma distância,
porque todos temos de ter o direito de ler Os
Maias ou qualquer outro livro por nossa conta
e risco, tendo em conta que o mesmo já está
escrito (e não penso que precise de nenhuma
adenda) e que o seu autor, para o melhor e para
o pior, foi um homem do século XIX que se
chamava Eça de Queirós e que, repito-o, tal-
vez não pensasse exatamente como nós. Mas
há algo ainda mais importante que deve ser
assinalado: alguém acredita mesmo que Vanu-
sa Vera-Cruz Lima, uma investigadora da
Universidade de Dartmouth a frequentar um
curso de estudos avançados, se limitou a fazer
uma leitura tão óbvia e simplista de Os Maias?
Eu de facto tenho dificuldade em acreditar
que o seu argumento se limite a isto, mas pelo
menos reconheço publicamente que não ouvi
a comunicação, tal como estou certo que não o
fizeram muitos dos que a comentaram ou cri-
ticaram. Da minha parte, quero sublinhar que
não o quis fazer antes de escrever este texto,
mas publicamente me comprometo também
agora a fazê-lo o quanto antes, porque senão
serei apenas mais um a fintar o meio para che-
gar ao mensageiro e a queimar a mensagem
antes de efetivamente a ler.

(pano)
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número 69 março / abril 2021

A FUNESTA ATRACÇÃO DO AREAL

BA P

FERENC CA KO
C a r m i n a B u r an a
A n i m a ç ã o c om ar eia

a mão era mágica e sabia desenhar até aposto de olhos fechados. O copo e a mão ao
mesmo tempo, linha que era duas coisas em simultâneo. a cabeça a jorrar para dentro do
papel, o olho fixando partes da vida como se fosse uma lanterna mágica. a menina olhava
para a cidade, abria portas, fechava-as e imaginava uma cabeça de cão, morna. era pos-
sível inventar desenhos com pó e com areia. era possível.
13

volta sempre,
inesperada,
assim que tu quiseres
Maio de 1978

− Porque fizeste isto, meu amor? − conseguiu a custo dizer Abel era capaz de esperar calmamente, até ser posto mais
Dulce, com a navalha espetada no peito. − Eu tinha ficado cedo na rua, por bom comportamento. Mas, para ele, não ha-
contigo para sempre! via rumo nem afã de liberdade. Evadiu-se portanto, quebrou
Abel, confuso, às voltas, estremecia dos pés à cabeça. En- todas as regras, passou a andar a monte, desafiando a autori-
quanto ia repetindo: dade.
− Sou um desgraçado... Sou um desgraçado! Nunca mais foi visto por quem já o conhecia.
Aproximou-se da noiva, a sangrar muito. Ela aconselhou, Alterou o aspecto físico − deixando-se engordar, e com a
convulsa, sorrindo com um gemido: barba crescida. Deu vários nomes onde ia surgindo, mas sem-
− Agora, não me tires a lâmina... Olha que a minha vida sai pre de passagem. Superou, afinal, aquela fase em que alguém
toda por este buraco! se atenua e reaparece uma outra pessoa.
Abel beijou-lhe a mão suja e suplicante. Uma lágrima dele Criatura ou personagem. O cúmulo da representação.
sumiu-se, furtiva, entre os dedos da rapariga. E, porque tudo se tornara inconcebível, as benesses de um
Tentou ampará-la, protegê-la mas, a mochila que trazia a Governo consagrado à Comunidade Europeia permitiram-
tiracolo, embateu contra o corpo dela. Um choque banal. Po- -lhe mascarar-se como jovem empresário de sucesso.
rém, naquelas circunstâncias, foi o suficiente para que uma Em suma, era dono dum stand de automóveis usados, atrás
golfada húmida e vermelha lhe jorrasse pela boca. do qual havia uma oficina de sucata.
Dulce Ventura estremeceu, para logo se imobilizar. Os seus Às vezes, o Abel chamado Abílio metia-se numa dessas
olhos celestes pareciam cristalizados. Abel Dante sentia a im- máquinas infernais, e ia espairecer até à beira-mar.
pressão de tudo se acabar ali − ele tinha passado a um tor- Aí, ria e chorava. Ora, havia que levar a vida à morte. O
mento supremo, que havia de durar por toda a eternidade. mais era prosa pueril. Mal ou bem, Abel languescia na farsa
Então, Abel alcançou a noite, cerrando as pestanas num de Abílio, pois com Dulce fendera o calendário da sua reali-
jeito de renúncia à vida. Estava de joelhos, aparvalhado, sus- dade.
penso como criatura infame − pelo ciúme e pela cólera que Que viessem os deuses a temê-lo. Que o banisse a pura
assim consumara, fatalmente. natureza. Que a própria humanidade quebrantasse. Era como
Abel, que tivera ganas de actor, até se enojar com o cenário nunca mais terminar, o que fora brutalmente interrompido.
da guerra, assumiria − pois − uma expiação tácita, entre a tra- E a ansiedade de Abílio na saudade de Abel continuava,
gédia e a serenidade. toda, doce e ferida em Dulce...
Nada o podia afectar, durante o tempo que passou atrás de
grades: o desprezo a que o votou a família, a perversidade dos Os EntreTantos
carcereiros, a rotina e o tédio, a sevícia pelos facínoras, a von-
tade de fugir a si mesmo.
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número 69 março / abril 2021

datados dos anos 2012/2014. efabular a vida mas de realida-


No ano passado fez “poemas de , “O que são os meus retratos /
da minha vida”, “fiz o livro literários?/São críticas, observa-
á mão, / ao pé não podia ser . / ções,/dores, solidões, saudades/e
Afinal, quem o fez? Foi o cora- ausências que existem/ Nos vos-
ção,/pelo amor à poesia, sempre sos pobres corações !”. “As minhas
a nascer!” O valor deste livro quadras,/são o que são./Sejam
com 94 páginas é constituir alegres ou pardas, / são alegrias
um documento poético, escri- do meu coração”. Quase a encer-
to com muita sabedoria vivi- rar, transcrevo “Fecho a janela
da, de uma vida, a do autor, e do jardim,/rego o meu canteiro
evocações de amigos, de figu- de flores./Se alguém está contra
ras populares, de peixeiras, de mim / então, dou-lhe as minhas
carregadores, de famintos, de dores“ .Ele sabe:”:::O jardim
pobreza, de solidão; de pinto- não é nenhuma selva ,/ para os
res ( Michael Barret, Cunha doidos amantes!”. Juliano nunca
Rocha, Norberto Guimarães, terá lido Malcolm Lowry, mas
Filinto Viana, João Ricardo, e “aproxima-se” de “Le gusta este
de muitos outros).“Na galeria jardin que es suyo? Evite que sus
magenta,/há pintores a metro. hijos lo destruyan”( in Debaixo
Pintura comercial rabugenta,/ do Vulcão)
exposta em lugar certo?” . Neste José Ledesma Criado, um
livro há uma tristeza flutuan- amigo comum inesquecível
do, incisiva: “Tive azar de ter escreveu, em 6 de Maio de
nascido,/num berço muito pobre 1993, sobre Juliano: A nascen-
e familiar./Valia mais ao nascer te dos seus sonhos continua a
ter sido encolhido,/ do que viver crescer, que o faz sonhar nas
e muito penar” .Ou “Eu sempre noites junto ao mar da Figuei-
sozinho de tenra idade,/andava ra da Foz, que é a sua terra-
meio-nú pelo chão de cimento,/ -natal”.
Em casa não havia electricida- Em 1982, era vereador da cul-
de,/só tristeza e fome pala noite tura, organizei na sala de expo-
adentro”. Fala-nos do “bom co- sições temporárias, da época, a
ANT ÓNIO AUGUS TO ME NA NO ração da senhora Maria Neta”, primeira mostra de pintura de
do Zé-Gordo, da senhora Ma- Juliano. Seguiram-se muitas
ria Isabel, de Ivan Pereira, seu outras, dez das quais na Ale-
sobrinho, de Fausto Caniceiro manha.
Numa época em que estamos nunca. Neste momento recor- Costa, do café Moagem, de “A Que possamos voltar a ver a
todos preocupados com a edu- do outras escolas, não menos Ana Maria Trindade, a bela ingenuidade fecunda deste
cação, a vida, o confinamento, importantes, as do trabalho, da Gioconda da Rua de Santa – figueirense traduzida em telas
em que “… quanto mais pro- amizade, da luta pela vida. Cruz, afirma “…a Ana Ma- coloridas, um destes anos, na
funda era essa infelicidade, tan- E há as tenha frequentado. ria, ainda é ume cinderela. /Tem nossa terra.
to mais ignorada e silenciosa”, Juliano Alves, que assina na o cheiro a maresia/quando está â
como Maurice Blanchot es- poesia Juliano Amargo, emi- janela”. Espraia-se em ondas
creveu em “Morte Suspensa”, grado na Alemanha, foi pes- de memórias variadas, “Estou
editado em Paris em 1948. cador, guarda de sanitários na embriagado pelas palavras,/vou
Infelicidades várias, penas de praia de Buarcos, fez quase ser internado no hospital das
quem não teve livros, nem tudo para sobreviver e vem letras./As ciências são magras,/
aulas, nem foram ensinados a mantendo, em Emmsdetten tive que sair de muletas”, “O me-
amá-los. um trabalho quase ignorado, nino Gonçalo,/é inteligente./É
Aqui poderia referir o que mas permanente. Por lá escre- capaz de pescar um robalo/ e não
aprendi com os meus profes- ve poesia, cria as suas gaivotas diz nada à gente”, “A minha tia
sores, Cardoso, Rui Martins, e peixes, que continuam a cir- chamava-se Clara “Sem-Cú”/
na primária, Ilídio Sardoeira, cular no seu sangue e nas telas morava na rua do castelo./Era
no Liceu, Marcos Viana e Ra- nas quais ele, surrealista “pe- bondosa, tinha batatas num
fael Sampaio no Colégio Aca- riférico”, “naíf ” é tão ingénuo baú,/Foi mãe do meu primo
demia Figueirense, Cristina como sincero. Manuel Belo”, “Eu e o meu pri-
Torres em sua casa. Ou o ou- E os livros vão aparecendo, mo Carlitos,/jogávamos à bola./
tro lado menos feliz de lições edições artesanais, por ele Tão alegres e cachopitos,/Os
que já esqueci. Mas memórias feitas: “Frei Gedanken”, pen- meus sapatos tinham pouca sola.
ficarão para depois, ou para samentos escritos em alemão, Há uma transparência, não em
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número 69 março / abril 2021
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Na paisagem toda ela mar e


Caminha ao longo da rebentação.
De repente tropeça nos destroços de
um velho galeão, postos a nu pelas
marés vivas.
Avalia o achado: provavelmen-
te restos do cavername do “Buenos
Mares” naufragado por ali no século
XV, que alguns dizem ter ocorrido
mais tarde, outros mais cedo.
Nos fragmentos semeados na pal-
ma da mão está o abrir de portas a
uma era de certezas. Com inevitáveis
escavações, a praia revolvida, a proi-
bição de passeios pelo areal.
Olha para um lado, para o outro,
com a ponta do dedo grande cobre as
evidências, alisa com desvelo a zona
à volta. E prossegue a serena cami-
nhada. Na paisagem toda ela mar e
sagrada areia branca.

ANDRÉ RUIVO A UGUST O BA PT I STA

R UA D E MO N TAR R O I O 4 5 B
3000 C O IMBR A

tipd amascen o @gm a i l . c om

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