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CIÊNCIA / MEIO AMBIENTE / DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Estado do Mundo 2012


2012
RUMO À
ESTADO DO MUNDO
Rumo à Prosperidade
PROSPERIDADE
Sustentável - RIO+20
SUSTENTÁVEL

ESTADO DO MUNDO 2012 - RIO+20


Em 1992, os governos presentes à Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro, fizeram um pacto histórico
pelo desenvolvimento sustentável – um sistema econômico que promova a saúde das pessoas e dos
ecossistemas. Hoje, passados vinte anos e realizadas diversas cúpulas, a civilização humana jamais
esteve tão perto de um colapso ecológico; um terço da humanidade vive na pobreza; e as projeções
RIO+20
apontam para o ingresso de mais dois bilhões de pessoas na raça humana nos próximos 40 anos.
Como rumaremos para uma prosperidade sustentável que seja acessível a todos em bases
igualitárias, mesmo levando em consideração o crescimento populacional, a dificuldade de abrigar
cada vez mais gente nas cidades e o declínio de nossos sistemas ecológicos?

Para estimular discussões a respeito desse tema tão crucial na Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e em outras instâncias, o Estado do Mundo 2012: Rumo à
Prosperidade Sustentável destaca projetos inovadores, políticas criativas e novos enfoques que estão
favorecendo o desenvolvimento sustentável no século 21. Reunindo artigos redigidos por especialistas
do mundo todo, este relatório apresenta uma visão abrangente das atuais tendências na economia
global e em sustentabilidade, uma caixa de ferramentas políticas com soluções nítidas para alguns de
nossos mais prementes desafios ambientais e humanos, além de apontar um caminho para reformas
de instituições políticas que fomentem saúde ecológica e prosperidade.

Rumo à Prosperidade Sustentável é a publicação mais recente da série Estado do Mundo, principal título do
Worldwatch Institute, que continua sendo a fonte de maior reconhecimento e autoridade quando se trata
de pesquisas e soluções políticas e programáticas em questões globais de importância decisiva.
O Estado do Mundo 2012 se apoia em três décadas de experiência para oferecer um olhar límpido e
pragmático sobre o atual estado dos sistemas ecológicos globais e das forças econômicas que os
remodelam – e sobre como podemos forjar economias mais sustentáveis e mais justas no futuro.

“O anuário mais prestigiado sobre desenvolvimento sustentável”.


—Levantamento de especialistas em sustentabilidade da GlobeScan

“As sínteses mais abrangentes, atualizadas e acessíveis sobre o


meio ambiente no mundo todo”.
—E. O. Wilson, ganhador do Prêmio Pulitzer

ISBN 978-85-88046-43-6

Projeto de capa: Lyle Rosbotham


Ilustração da capa: Wesley Bedrosian, wesleybedrosian.com T H E W O R L D W AT C H I N S T I T U T E
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Estado do Mundo 2012

RUMO À
PROSPERIDADE
SUSTENTÁVEL
RIO+20
Realização:

Parceiros Institucionais Instituto Ethos:

Parceiro Estratégico Instituto Ethos:

Patrocinador Ouro – Conferência Ethos Internacional 2012:

Apoio:
Outros livros do Worldwatch

Estado do Mundo – de 1984 a 2011


(Relatório anual sobre os avanços rumo a uma sociedade sustentável)

Vital Signs – de 1992 a 2003 e de 2005 a 2011


(Relatório sobre as tendências que determinarão nosso futuro)

Saving the Planet Who Will Feed China? Beyond Malthus


Lester R. Brown Lester R. Brown Lester R. Brown
Christopher Flavin Gary Gardner
Tough Choices
Sandra Postel Brian Halweil
Lester R. Brown
How Much Is Enough? Pillar of Sand
Fighting for Survival
Alan Thein Durning Sandra Postel
Michael Renner
Last Oasis Vanishing Borders
The Natural Wealth
Sandra Postel Hilary French
of Nations
Full House David Malin Roodman Eat Here
Lester R. Brown Brian Halweil
Life Out of Bounds
Hal Kane
Chris Bright Inspiring Progress
Power Surge Gary T. Gardner
Christopher Flavin
Nicholas Lenssen
Estado do Mundo 2012

RUMO À
PROSPERIDADE
SUSTENTÁVEL
RIO+20
Relatório do Worldwatch Institute sobre os
Avanços Rumo a uma Sociedade Sustentável

Erik Assadourian and Michael Renner, Diretores de Projeto

Jorge Abrahão Colin Hughes Mia MacDonald


Monica Baraldi Paulo Itacarambi Helio Mattar
Eric S. Belsky Maria Ivanova Monique Mikhail
Eugenie L. Birch Ida Kubiszewski Bo Normander
Robert Costanza Henrique Lian Michael Replogle
Robert Engelman Diana Lind Kaarin Taipale
Joseph Foti Amy Lynch Allen A. White

Linda Stark, Editora


Eduardo Athayde, Editor associado

UM A- Univ e r s ida de Liv r e da M a ta Atlâ ntic a


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Copyright © 2012 Worldwatch Institute


1776 Massachusetts Avenue, N.W.
Suite 800
Washington, DC 20036
www.worldwatch.org

Todos os direitos da edição em língua portuguesa são reservados à Universidade Livre da Mata Atlântica.
Avenida Estados Unidos, 258/nº1010, CEP 40010-020, Salvador, Bahia, Brasil.
www.worldwatch.org.br

As marcas THE STATE OF THE WORLD e WORLDWATCH INSTITUTE estão registradas no


U.S. Patent e Trademark Office.

As opiniões expressas são as dos autores e não representam, necessariamente, as do Worldwatch Institute,
dos membros de seu conselho, de seus diretores, de sua equipe administrativa ou de seus financiadores.

Todos os direitos são reservados nos termos das Convenções Internacionais e Pan-americanas sobre Direitos
Autorais. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida de forma alguma nem por nenhum meio sem a
permissão escrita da editora: Universidade Livre da Mata Atlântica.

ISBN 978-85-88046-43-6 (versão impressa)


ISBN 978-85-88046-44-3 (versão digitalizada)

A composição do texto deste livro é em Galliard, com fonte ScalaSans. O projeto do livro, capa e composição
são de Lyle Rosbotham.978-85-87616-12-8

Tradução: Claudia Strauch


Revisão: Fausto Alves Barreira Filho
Pré-impressão: CVG - Jun Normanha
Impressão: Log&Print Gráfica e Logística S.A.

Universidade Livre da Mata Atlântica


Estado do mundo 2012: rumo à prosperidade sustentável / Worldwatch Institute;
Introdução: Robert Engelman. Organização: Erik Assadourian e Michael Renner. Tradução: Claudia Strauch, com a
colaboração de Mirtes Frange de Oliveira Pinheiro, Nara Maria Salomão Ribeiro e Sonia Regina de Castro Bidutte.

Salvador, BA: Uma Ed., 2012.

288 p.: color

1ª edição
ISBN 978-85-88046-43-6 (versão impressa)
ISBN 978-85-88046-44-3 (versão digitalizada)

1. Desenvolvimento sustentável - Aspectos ambientais - 2. Política ambiental - 3. Consumo (Economia)


Aspectos ambientais - 4. Produtividade - Aspectos ambientais. I. Worldwatch Institute.

Esta publicação é resultado de uma parceria entre o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e a
Universidade Livre da Mata Atlântica.
Conselho de Administração do Worldwatch Institute

Ed Groark Geeta B. Aiyer Izaak van Melle


Presidente do Conselho ESTADOS UNIDOS HOLANDA
ESTADOS UNIDOS
Cathy Crain Richard Swanson
ESTADOS UNIDOS
Robert Charles Friese ESTADOS UNIDOS
Vice-Presidente do Conselho
ESTADOS UNIDOS Tom Crain
ESTADOS UNIDOS
Membros Eméritos:
L. Russell Bennett,
Advogado James Dehlsen
Øystein Dahle
Tesoureiro ESTADOS UNIDOS
NORUEGA
ESTADOS UNIDOS
Christopher Flavin
Abderrahman Khene
Nancy Hitz ESTADOS UNIDOS
ARGÉLIA
Secretária
Satu Hassi
ESTADOS UNIDOS FINLÂNDIA

Robert Engelman Jerre Hitz


Presidente ESTADOS UNIDOS
ESTADOS UNIDOS
Equipe

Chelsea Amaio Supriya Kumar Grand Potter


Assessora de Desenvolvimento Pesquisadora Adjunta do Assessor de Desenvolvimento/
Programa Nutrindo o Planeta Auxiliar Executivo
Adam Dolezal
Pesquisador Adjunto do Matt Lucky Mary Redfern
Programa de Clima e Energia Pesquisador de Energia Diretora de Relações
Sustentável Institucionais
Robert Engelman
Presidente Haibing Ma Michael Renner
Gerente de Programas Pesquisador Sênior
Barbara Fallin para a China
Diretora Financeira e Cameron Scherer
Administrativa Shakuntala Makhijani Assessora de Marketing e
Pesquisadora Adjunta do Comunicações
Christopher Flavin Programa de Clima e Energia
Presidente Emérito Patricia Shyne
Lisa Mastny Diretora de Publicações e
Xing Fu-Bertaux Editora Sênior Marketing
Pesquisadora Adjunta do
Programa de Clima e Energia Danielle Nierenberg Katherine Williams
Diretora do Programa Assessora de Desenvolvimento
Saya Kitasei Nutrindo o Planeta
Pesquisadora de Energia
Sustentável Alexander Ochs
Diretor do Programa
Mark Konold de Clima e Energia
Gerente do Programa de
Energia para o Caribe

Pesquisadores, Assessores e Consultores

Erik Assadourian Eric Martinot Bernard Pollack


Pesquisador Sênior Pesquisador Sênior Diretor Interino de
Comunicações
Hilary French Bo Normander
Pesquisadora Sênior Diretor do Worldwatch Sandra Postel
Institute Europa Pesquisadora Sênior
Gary Gardner
Pesquisador Sênior Eduardo Athayde Lyle Rosbotham
Diretor do Worldwatch Consultor de Arte e Design
Brian Halweil Institute Brasil
Pesquisador Sênior Janet Sawin
Corey Perkins Pesquisadora Sênior
Mia MacDonald Gerente de Tecnologia da
Pesquisadora Sênior Informação Linda Starke
Editora do Estado do Mundo
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Rumo à Prosperidade
Sustentável

Quando o mundo reuniu-se no Rio de Onde vamos parar? Em 1804 a população


Janeiro, em 1992, para a Conferência das humana atingiu o primeiro bilhão. 130 anos
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o depois, em 1930, chegou a 2 bilhões. Com os
Desenvolvimento – Eco 92, com o objetivo avanços da ciência e da tecnologia e a queda
de conciliar o desenvolvimento socioeconô- da mortalidade infantil, o ritmo acelerou. Em
1960, chegamos a 3 bilhões. Em 1974, 4 bi-
mico e a preservação dos ecossistemas, o con-
lhões; 1987, 5 bilhões; 1998, 6 bilhões; e con-
ceito de “Desenvolvimento Sustentável” foi tinuamos crescendo. Como planejar para
consagrado. Naquele ano, a população global atender aos atuais 7 bilhões de habitantes –
era de 5.4 bilhões de habitantes e o PIB mun- metade urbanos, amontoado em cidades – e
dial de 28 trilhões de dólares. 20 anos depois, mais os cerca de 80 milhões de novos habi-
com uma população global de 7 bilhões de tantes/consumidores acrescidos anualmente à
habitantes e um PIB de 78 trilhões de dólares população humana?
(US$ 50 tri a mais), a Conferência das Nações O prefixo “eco” adotado pela economia e
Unidas para o Desenvolvimento Sustentável – pela ecologia referem-se à mesma casa (eco, do
Rio+20 é realizada no Brasil. Juntos, gover- grego oikos, casa). Enquanto a economia exe-
nos, corporações e sociedade civil farão o ba- cuta as leis (nomos, do grego, costume, lei) es-
lanço do planeta, apurando lucros e prejuízos, tabelecidas; a ecologia (logos, palavra, ciência)
debatendo o desenvolvimento global. estuda e reavalia os sistemas naturais que garan-
tem a manutenção da casa impactada, usada –
Balanços estão em curso. As 500 milhões de
desigualmente – por mais 7 bilhões de pessoas.
pessoas mais ricas do mundo (aproximada- A dialética de aproximação da economia e da
mente 7% da população mundial) são respon- ecologia é infundada. Nomos e logos são parte
sáveis por 50% das emissões globais de carbono, integrante e indissociável da dinâmica de oikos.
enquanto os 3 bilhões mais pobres são respon- Leis precisam ser aprimoradas através de estu-
sáveis por apenas 6%. Os 16% mais ricos do dos para garantir a saúde dos sistemas naturais
mundo são responsáveis por 78% do total do e a sobrevivência da civilização humana.
consumo mundial, ficando para os 84% restan- Forjada há meio século a equação do PIB
tes apenas 22% do total global a ser consumido. não consegue mais enxergar eficiência das insti-
Hoje, são extraídas 60 bilhões de toneladas de tuições, o valor da inovação, do capital social e
recursos anualmente, 50% a mais do que há ape- do capital natural, a conectividade e a descar-
nas 30 anos. Entre 1950 e 2010 a produção de bonização. Novos indicadores macroeconômi-
cos como o IPG (Indicador de Progresso
metais cresceu seis vezes, a de petróleo, oito, e
Genuíno) e a Pegada Ecológica, ajudados pelas
o consumo de gás natural, 14 vezes. Junto com novas regras do IFRS (International Financial
o crescimento da desigualdade social também Reporting Standards – pronunciamentos con-
disparam a tensão e a violência nas cidades. tábeis adotados nos demonstrativos financeiros

vii
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Prosperidade Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

em todo o mundo) somados à inteligência arti- cial do planeta, destaca-se como player peso
ficial e à conectividade da internet, contribuem pesado no cenário internacional.
na montagem do novo balanço global. Durante a abertura das reuniões preparati-
Indiferente à crise climática, o capital finan- vas para Rio+20, o secretario-geral da ONU,
ceiro mundial ainda é negociado nas bolsas de Ban Ki-moon, desafiou a comunidade global:
valores sem filtros ou regulação de carbono, es- “Precisamos de uma revolução. Pensamento
timulando o “fluxo livre” de CO2 na economia revolucionário... Ação revolucionária... É fácil
global. Ações ou cotas de participação em uma
proferir as palavras Desenvolvimento Sustentável,
companhia podem ser mecanismos para impul-
mas para que isso aconteça temos que estar
sionar ou frear emissões de gases de efeito es-
tufa. A adoção de indicadores de carbono preparados para fazer grandes mudanças – no
(Carbon Index) e de descarbonização (DCarb estilo de vida, nos modelos econômicos, na
Index) para o mercado de ações – e para os organização social e na vida política”.
mercados financeiros como um todo – ampliará O Estado do Mundo 2012 – Rumo à Pros-
a transparência do sistema financeiro global, di- peridade Sustentável, relatório anual do WWI-
vulgando as pegadas de carbono de empresas e Worldwatch Institute focado na Rio+20, revela
investidores, criando nova plataforma para a embriões desses pensamentos e ações, mudan-
descarbonização nas finanças e o alinhamento ças que começam a brotar em várias partes do
do setor financeiro com a economia de baixo mundo. Na edição especial deste ano, focada
carbono. Enquanto o Carbon Index pontua na Rio+20, sentimo-nos honrados pela parce-
as emissões, o DCarb Index impacta positiva- ria com o Instituto Ethos. Imbuído de pensa-
mente medindo o nível de descarbonização, mento e ações revolucionárias, alinhado com o
valorizando as corporações focadas na susten- mesmo ideal que move Ban Ki-moon, o Ethos
tabilidade e atraindo investidores. Juntos, mobiliza empresas tornando-as parceiras na
esses simples mecanismos poderão fazer algu- construção de uma economia inclusiva, verde
mas das mudanças esperadas.
e responsável. Editados há 28 anos consecuti-
Agências de classificação de risco, atentas à
vos, em cerca de 20 idiomas, os relatórios WWI
dinâmica de nomos e logos, já começam a moni-
torar a sustentabilidade setorial. Assim como são publicados no Brasil desde 1999.
graduam a capacidade de uma empresa ou de Se tivéssemos que eleger uma palavra para
um país de cumprir compromissos financeiros, traduzir sustentabilidade talvez “equilíbrio”
dando notas e influenciando mercados; agên- fosse a melhor candidata. Sustentabilidade é a
cias como a Standard & Poors, sintonizadas busca do equilíbrio dinâmico entre os com-
com a realidade corrente e evoluindo na acre- plexos contextos da realidade – seja em uma
ditação, já disponibilizam indicadores como os casa, em uma empresa, em uma cidade, em
S&P Global Thematic Index Series e o um país ou no Planeta. A Rio+20 não é um
S&P/ASX (Sustainability Reporting Practices). evento do qual se possa esperar um simples
Decrescimento (degrowth em inglês) se- produto acabado, é um “momento intenso"
torial, foco deste relatório, é a tendência de encontro e de avanços entre governos, cor-
emergente observada pela ecologia e pela porações e pessoas conectadas, tecendo inteli-
economia. Com o rebaixamento do teto de gência nova para enfrentar o desafio da
carbono e os marcos regulatórios sustentáveis construção de uma “economia equilibrada” –
internacionais, inclusive os financeiros, as ins- chamada de Green Economy. Boa leitura.
tituições públicas e privadas desalinhadas com
os princípios da economia verde tendem ao
encolhimento e até ao desaparecimento. A Eduardo Athayde
nova tendência privilegia a inteligência do eduathayde@gmail.com
“bio”. O Brasil, que detém 16% do biopoten- Worldwatch Brasil

viii WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
Palavra do Prefeito
do Rio de Janeiro
Anfitrião da RIO+20

O ano de 1992 representou um marco na Cultura de Paz e Não Violência, promovido


história da humanidade, do Planeta Terra e da pela UNESCO.
Cidade do Rio de Janeiro. O Rio sediou a Eco Alinhado com o pensamento internacio-
92, Cúpula da Terra, que adotou oficialmente nal, o Rio foi uma das primeiras cidades no
a dimensão do “Desenvolvimento Sustentá- país a definir uma Política Municipal de Mu-
vel” na agenda internacional, destacando a im- danças Climáticas e Desenvolvimento Susten-
portância do crescimento com preservação tável, estabelecendo metas de redução de
dos recursos naturais e inclusão social. emissões de gases do efeito estufa a partir do
Vinte anos depois a Conferência das Nações Inventário de Emissões. O Fórum Carioca de
Unidas para o Desenvolvimento Sustentável - Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sus-
Rio+20, reúne o mundo no Rio de Janeiro. tentável, atua na adoção de políticas públicas
A consciência da preservação ambiental se mul- visando reduzir e combater os efeitos climáti-
tiplicou e desenvolvimento sustentável se cos na cidade. A expansão de mobilidade de
tornou prática obrigatória para governos, em- alta capacidade beneficiará milhões de cida-
presas e cidadãos. O Rio de Janeiro também dãos reduzindo o impacto ambiental.
mudou de lá para cá. Os cidadãos e os atores Os relatórios do WWI-Worldwatch Insti-
políticos e econômicos, favorecidos pela ex- tute, usados em todo o mundo por governos,
pectativa de um calendário de megaeventos universidades, empresas e sociedade civil
globais, estão juntos empenhados na melhoria como referência para o desenvolvimento sus-
continua da sua cidade. tentável, elaborados pela sua renomada equipe
Os problemas de uma megametrópole internacional de pesquisadores, subsidiam a
são imensos e o dia a dia não pode prescin- elaboração de políticas públicas e privadas. Em
dir de transparência na gestão pública e do especial, o “Estado do Mundo 2012 - Rumo
cidadão cada vez mais atuante e consciente. à Prosperidade Sustentável”, que tenho a
A segurança publica é ampliada baseada na honra de apresentar, propõe com fatos e
inteligência organizada e nos princípios da dados caminhos para o nosso futuro comum.

ix
Palavra do Prefeito do Rio de Janeiro Anfitrião da RIO+20 ESTADO DO MUNDO 2012

Alinhado com o “Espírito do Rio” ajuda-nos cidadãos de todas as cidades do mundo du-
a construir um futuro melhor para nós e para rante a Rio+20. Juntos intensificaremos o de-
as futuras gerações. bate em busca de uma economia verde e
Abençoado pelas riquezas naturais, o Rio, criativa, colocando o nosso Planeta rumo “À
este charmoso ponto do Planeta, hospedará Prosperidade Sustentável”.

Eduardo Paes
Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro

x WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
Agradecimentos

Ano a ano o Worldwatch Institute se apoia nos Defense Council, que teve papel decisivo na
talentos de centenas de pessoas e instituições convocação desses encontros.
do mundo todo para proceder a uma avalia- Somos também gratos a nossos colegas do
ção atualizada do estado do mundo. Não foi Worldwatch Christopher Flavin e Gary Gardner
diferente este ano. Gostaríamos de expressar por estabelecerem as bases deste relatório e
nosso profundo agradecimento a todos aque- seu tema subjacente. A visão inicial trazida por
les que ajudaram para que o Estado do Mundo eles manteve a uniformidade deste material à
2012 apresentasse uma visão singular e nova medida que o projeto se desenvolvia.
sobre prosperidade sustentável, em particular, Expressamos sinceros agradecimentos ao
agora que o mundo se prepara para discutir nosso parceiro na publicação Eduardo Athayde,
esse tema —e, na realidade, o da sobrevivên- do Worldwatch Brasil. Graças à energia e ao
cia da humanidade—na Cúpula do Rio em comprometimento de Eduardo estabelecemos
junho de 2012. vínculos com diversos autores primorosos e
Antes de mais nada, nossos agradecimen- criamos oportunidades de parceria de grande
tos muito especiais à Fundação Ford por seu préstimo.
apoio ao relatório deste ano. Gostaríamos de O Worldwatch Institute Europa, sob a vi-
agradecer sobretudo a Don Chen, que demons- gorosa liderança de Bo Normander, teve
trou ser um verdadeiro defensor do Estado do igualmente um papel importante no relatório
Mundo e nos colocou em contato com espe- deste ano, contribuindo com um capítulo e
cialistas de destaque, cujas ideias e comentá- diversos Quadros, além de sua própria pre-
rios recheiam muitas das páginas deste sença online e a divulgação dos resultados. O
relatório. Gostaríamos também de levar nosso trabalho do Worldwatch Europa contou com
agradecimento ao presidente da Fundação o apoio da Velux Foundation, da Dinamarca,
Ford, Luis Ubiñas, por sua contribuição com à qual todos nós somos gratos.
um Prefácio sagaz ao livro de 2012. Todos os anos nossos parceiros na publica-
Logo no início do processo do projeto de ção desempenham um papel relevante na pro-
2012, uma série de reuniões realizadas pelo pagação ampla do relatório, e registramos aqui
Grupo de Trabalho sobre Cidades Sustentá- nossos agradecimentos. Somos particularmente
veis da Cúpula da Terra Rio+20 foi de grande gratos a Gianfranco Bologna, agora comemo-
ajuda para levar informações e compor o rela- rando seu 25º ano como editor da versão ita-
tório. Um agradecimento especial vai para liana. Gianfranco tem um papel proeminente,
todos os envolvidos nessas reuniões, em par- assegurando uma publicação robusta, organi-
ticular, Jacob Scherr do Natural Resources zando apresentações na Itália e há vinte e cinco

xi
Agradecimentos ESTADO DO MUNDO 2012

anos acrescentando ao Estado do Mundo seu Marta Augustyn, Colleen Curtis, Lolita Guzman,
vasto conhecimento sobre sustentabilidade. Cheryl Marshall, Ronnie Hergett e Valerie
Agradecemos também aos seguinte edito- Proctor pela alta qualidade do serviço prestado
res: Universidade Livre da Mata Atlântica, no aos clientes e pelo pronto atendimento dos
Brasil; China Environment Science Press, na pedidos.
China; Gaudeamus Helsinki University Press, Manifestamos um agradecimento especial
na Finlândia; Good Planet and Editions de La ao nosso Conselho, por sua orientação em
Martiniere, na França; Germanwatch, Heinrich momentos desafiadores nessa última prima-
Böll Foundation e OEKOM Verlag GmbH, vera e pela ajuda em nos tornar uma organi-
na Alemanha; Organization Earth, na Grécia; zação mais forte. Somos imensamente gratos
Earth Day Foundation, na Hungria; Centre aos diversos financiadores, tanto pessoas físicas
for Environment Education, na Índia; World quanto fundações, incluindo Ray C. Anderson
Wildlife Fund e Edizioni Ambiente, na Itália; Family Foundation, Inc.; The Bill & Melinda
Worldwatch Japão; Africam Safari, Fundación Gates Foundation; Barilla Center for Food &
Televisa, SEMARNAT, SSAOT (Secretaria de Nutrition; Rede de Desenvolvimento e Conhe-
Sustentabilidad Ambiental del Estado de Pue- cimento Climáticos (CDKN, na sigla em in-
bla) e UDLAP, no México; Editura Tehnica, glês); Compton Foundation, Inc.; Del Mar
na Romênia; Center for Theoretical Analysis Global Trust, Ministério das Relações Exterio-
of Environmental Problems and International res do Governo da Finlândia; Iniciativa Climá-
Independent University of Environmental and tica Internacional e Ponte Climática Transatlântica
Political Sciences, na Rússia; Korea Green do Ministério Federal da Alemanha do Meio
Foundation Doyosae, na Coreia do Sul; Cen- Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança
tro UNESCO da Catalunha, pela versão em Nuclear (BMU); Rede de Políticas de Ener-
catalão, e CIP Ecosocial and Icaria Editorial, gias Renováveis para o século 21 (REN21);
pela versão em castelhano na Espanha; Taiwan The David B. Gold Foundation; Richard and
Watch Institute; Turkiye Erozyonla Mucadele, Rhoda Goldman Fund e o Prêmio Goldman de
Agaclandima ve Dogal Varliklari Koruma Vakfi Meio Ambiente; Secretariado Internacional
(TEMA) e Kultur Yayinlari Is-Turk Limited do Greenaccord; Parceria para Energia e Meio
Sirketi, na Turquia. Ambiente (EEP, na sigla em inglês) com a
Em 2012, o Worldwatch tem o prazer de América Central; Hitz Foundation; Institute
realizar uma parceria com a Island Press, a edi- of International Education, Inc.; Steven C.
tora da versão em língua inglesa do Estado do Leuthold Family Foundation; MAP Royalty,
Mundo. Desde 1984 a Island Press é fonte Inc.; Programa de Bolsa de Estudos em
confiável de informações e soluções em meio Energia Sustentável; The Shared Earth
ambiente. É para nós um prazer que o Estado Foundation; Shenandoah Foundation; Small
do Mundo se beneficie da rede de distribuição Planet Fund of RSF Social Finance; V. Kann
dos canais digitais e impressos da Island como Rasmussen Foundation; Fundo das Nações
forma de assegurar o amplo acesso às ideias e Unidas para População; Wallace Global Fund;
estratégias comprovadas presentes nesta edição. Weeden Foundation e Winslow Foundation.
Agradecemos à toda a equipe, em particular, a Gostaríamos ainda de manifestar nosso re-
David Miller, Brian Weese, Maureen Gately, conhecimento ao Instituto Ethos no Brasil,
Jaime Jennings e Sharis Simonian. por seu apoio generoso ao relatório deste ano
Nossos leitores contam com o serviço e às ações de divulgação no país, e também
competente prestado pela equipe da Direct pela contribuição na forma de um dos capítu-
Answer, Inc. Somos gratos a Katie Rogers, los. O Instituto Ethos trabalha junto a empre-

xii WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Agradecimentos

sas para lhes auxiliar a se tornarem mais res- muito obrigado ao estagiário do Estado do
ponsáveis e sustentáveis, e seu envolvimento Mundo Matt Richmond, que nos meses finais
neste projeto foi possível graças ao respaldo do projeto nos ajudou a finalizar o material.
recebido de diversas companhias, incluindo Gostaríamos também de manifestar nosso
Alcoa, CPFL Energia, Natura, Suzano, Vale e reconhecimento às dezenas de especialistas que
Walmart Brasil – todas elas trabalhando em contribuíram para reforçar os capítulos deste
parceria com o Instituto Ethos no desenvolvi- ano oferecendo observações, dados e exemplos
mento de uma plataforma para uma economia que auxiliaram a pintar um quadro mais aca-
inclusiva, ecológica e responsável. A plataforma, bado do estado do mundo. A lista de nomes
concebida para reger o comportamento cor- seria muito longa para enumerar aqui, mas
porativo no Brasil e em outras localidades, será somos imensamente gratos por seu respaldo.
um passo importante rumo à prosperidade sus- O agradecimento final vai para todos aque-
tentável se conseguir propiciar um setor de ne- les que estão trabalhando com afinco para ga-
gócios mais responsável. rantir que a conferência a realizar-se no Rio,
Registramos também nossa gratidão a toda assim como todas as oportunidades em 2012
a equipe do Worldwatch Institute pelas inú- e depois, procure assegurar prosperidade sus-
meras e incansáveis contribuições para que o tentável para todos. Muitos deles trabalham
Instituto aprofundasse sua missão em busca de há décadas—alguns, desde a primeira confe-
um mundo sustentável. Dedicamos um reco- rência global sobre meio ambiente, em Esto-
nhecimento especial a Patricia Skopal Shyne, colmo, em 1972—no sentido de conduzir a
que está agora se aposentando depois de ge- humanidade para um caminho sustentável. A
renciar as atividades de marketing e publica- todas essas pessoas, oferecemos nossos mais
ções por oito anos. Patricia, sempre dando a profundos agradecimentos. Nossa gratidão es-
impressão de que é muito fácil executar múlti- tende-se ainda aos corajosos que assumem o
plas tarefas, fará enorme falta. comando à medida que outros simpatizantes
E, ano a ano, a paciência inesgotável e o da causa, reformistas e revolucionários saem
sexto sentido editorial da estimada e sábia edi- de cena. À próxima geração de ativistas, apre-
tora independente Linda Starke facilita mui- sentamos desde já nossos agradecimentos,
tíssimo todo o processo. O designer Lyle visto que, se formos bem-sucedidos na cons-
Rosbotham desempenhou também um papel trução de um mundo sustentável, será devido
crucial fazendo deste relatório um material en- à sua energia e ao seu compromisso contínuos.
volvente e de leitura agradável. O artista Wesley
Bedrosian, cuja mestria ilustra a capa do rela- Erik Assadourian e Michael Renner
tório, destilou com perfeição a essência dos Diretores de Projeto
avanços rumo à prosperidade sustentável.
Não poderíamos deixar de expressar nossa Worldwatch Institute
gratidão aos autores que contribuíram com 1776 Massachusetts Ave, N.W.
seus conhecimentos especializados para os ca- Washington, DC 20036
pítulos e diversos dos Quadros que ampliam o www.worldwatch.org
alcance e profundidade do relatório. Nosso www.sustainableprosperity.org

xiii
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Índice

Rumo à Prosperidade Sustentável .......................................................................... vii


Eduardo Athayde, Worldwatch Brasil

Palavra do Prefeito do Rio de Janeiro Anfitrião da RIO+20 .................................... ix


Eduardo Paes, Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro

Agradecimentos........................................................................................................xi

Introdução ............................................................................................................ xix


Luis A. Ubiñas, Presidente da Fundação Ford

Prefácio ................................................................................................................ xxi


Robert Engelman, Presidente do Worldwatch Institute

Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto ........................................................ xxiii


Matt Richmond

1 Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos ........................................ 3


Michael Renner

2 O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo 24


Erik Assadourian

3 Planejamento para o Desenvolvimento Urbano Inclusivo e Sustentável.............. 43


Eric S. Belsky

4 Rumo ao Transporte Sustentável ...................................................................... 60


Michael Replogle e Colin Hughes

5 Como as Tecnologias de Informação e Comunicação Podem


Ajudar a Criar Cidades Habitáveis, Justas e Sustentáveis .................................. 75
Diana Lind

6 Mensuração de Desenvolvimento Urbano Sustentável nos Estados Unidos ........ 87


Eugenie L. Birch e Amy Lynch

xiv WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Índice

7 A Reinvenção das Corporações.......................................................................... 98


Allen L. White e Monica Baraldi

8 Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade .............. 117


Maria Ivanova

CAIXA DE FERRAMENTAS POLÍTICAS ............................................................132

9 Nove Estratégias Demográficas para Deter o Crescimento


Populacional em Patamar Abaixo de 9 Bilhões ................................................ 134
Robert Engelman

10 De Construções Quase Verdes para Construções Sustentáveis ........................ 143


Kaarin Taipale

11 Políticas Públicas para um Consumo Mais Sustentável .................................... 152


Helio Mattar

12 A Mobilização da Comunidade Empresarial no Brasil e


Mais Adiante ..................................................................................................161
Jorge Abrahão, Paulo Itacarambi e Henrique Lian

13 Como Cultivar um Futuro Sustentável............................................................ 170


Monique Mikhail

14 Segurança Alimentar e Justiça em um Mundo com


Limitações Climáticas .................................................................................... 179
Mia MacDonald

15 Biodiversidade: O combate à Sexta Extinção em Massa.................................... 189


Bo Normander

16 Serviços Ecossistêmicos para a Prosperidade Sustentável ................................ 197


Ida Kubiszewski e Robert Costanza

17 Como Agir para que os Governos Locais Acertem .......................................... 203


Joseph Foti

Notas .................................................................................................................. 211

Índice Remissivo .................................................................................................. 247

QUADROS

1–1 O Papel da Desvinculação em uma Economia Verde, por José Eli da Veiga ................ 9

xv
Índice ESTADO DO MUNDO 2012

1–2 Energia Renovável e Controvérsias Comerciais, por Miki Kobayshi .......................... 21

2–1 Definição de Decrescimento, por Erik Assadourian ................................................ 25

2–2 Sacrifício e Uma Nova Política de Sustentabilidade, por John M. Meyer .................. 29

3–1 O Rápido Crescimento das Megacidades, por Alexandra Hayles ............................ 46

3–2 Atribuições das Comissões Nacionais de Desenvolvimento e


Planejamento Urbano Sustentável, por Eric S. Belsky .............................................. 57

4–1 Exemplos de Melhores Práticas na Abordagem “Evite, Mude, Melhore”,


por Michael Replogle e Colin Hughes ...................................................................... 69

4–2 Princípios Referentes a Transportes na Vida Urbana,


por Michael Replogle e Colin Hughes ...................................................................... 70

5–1 Princípios do Novo Urbanismo, por Diana Lind .................................................... 80

6–1 Parceria para Princípios de Habitabilidade em Comunidades Sustentáveis,


por Eugenie L. Birch e Amy Lynch .......................................................................... 91

6–2 Estratégia Política para a Parceria para Comunidades Sustentáveis,


por Eugenie L. Birch e Amy Lynch .......................................................................... 92

7–1 As Raízes da Empresa Moderna, por Allen L. White e Monica Baraldi .................. 100

7–2 Prognósticos de Futuros Sustentáveis,


por Nicole-Anne Boyer e Vanessa Timmer .............................................................. 106

8–1 Resultados de Nairóbi-Helsinque, por Maria Ivanova .......................................... 120

8–2 Concepção Original de Maurice Strong para o Pnuma ........................................ 124

8–3 Ações Internas do Pnuma para Aumentar sua Autoridade,


seus Recursos Financeiros e sua Conectividade, por Maria Ivanova ...................... 129

8–4 Ações Governamentais para Aprimorar o Pnuma, por Maria Ivanova .................. 131

9–1 O Impacto Ambiental Causado por Animais de Estimação,


por Erik Assadourian............................................................................................ 137

10–1 Exemplos de Corrupção no Setor de Construção Civil, por Kaarin Taipale .......... 148

10–2 Em Busca dos Principais Indicadores de Sustentabilidade de um Edifício,


por Kaarin Taipale .............................................................................................. 149

xvi WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Índice

10–3 Diretivas da União Europeia para o Desempenho Energético dos Edifícios,


por Kaarin Taipale .............................................................................................. 151

11–1 Consumo, Comunidades e Bem-Estar, por Dagny Tucker .................................... 153

11–2 As Iniciativas Japonesas para Construir uma Sociedade Baseada na


Saúde do Ciclo de Vida dos Recursos Materiais, por Yuichi Moriguchi .................. 157

11–3 Definição de Metas Globais, por Erik Assadourian................................................ 160

12–1 As Raízes do Instituto Ethos, por Jorge Abrahão, Paulo Itacarambi


e Henrique Lian .................................................................................................. 166

14–1 Custos e Benefícios da Aquicultura, por Trine S. Jensen e Eirini Glyki.................... 182

14–2 A Natureza Mutante da Agricultura Brasileira, por Mia MacDonald...................... 184

15–1 A Agricultura Urbana Pode Reduzir a Perda da Biodiversidade,


por Bo Normander .............................................................................................. 193

15–2 Recifes de Corais Ameaçados de Extinção, por Eirini Glyki e Bo Normander ........ 196

17–1 Os Elementos do Princípio 10 em Âmbito Local, por Joseph Foti .......................... 205

17–2 The Access Initiative, por Joseph Foti .................................................................... 207

TABELAS

3–1 Participação da População Mundial Urbana, por Regiões e


Áreas Principais, 2000-2030 .................................................................................. 45

4–1 Características da Motorização Desregrada e do Transporte Sustentável ................ 61

4–2 Itens do Setor de Transportes com Uso de Recursos do Fundo de


Tecnologia Limpa (CTF), março de 2010 .............................................................. 71

6–1 Princípios de Habitabilidade e Tipos de Indicadores Associados ............................ 97

10–1 Lista para Leigos Contendo Itens a Serem Verificados em Edifícios e


Construções Sustentáveis .................................................................................... 144

10–2 Exemplos de Ferramentas Políticas em Construções ............................................ 146

17–1 Resumo de Estudos de Caso em Governança Urbana .......................................... 209

xvii
Índice ESTADO DO MUNDO 2012

FIGURAS

1–1 Propriedade dos Ativos Econômicos no Mundo Todo, 2000.................................... 7

1–2 Índice de Desenvolvimento Humano e Pegada Ecológica dos Países, 2006 ............ 10

1–3 Países Líderes no Uso de Energia Renovável, por Tipo, 2009/2010 ...................... 13

4–1 Uso Global de Energia em Transportes, 1971–2005 .............................................. 65

4–2 Notificação de Óbitos, por Tipo de Via Usada,


por Região e por Grupo de Renda ........................................................................ 67

4–3 Emissões de GEE “Well-To-Wheel” (do Produtor ao Consumidor)


para Cenários Básicos e Metas da IEA .................................................................... 68

5–1 Estimativa de Assinaturas de Telefone Celular por


Cada 100 Habitantes, 2011 .................................................................................. 76

5–2 Usuários de Internet em Países Industrializados e Países em


Desenvolvimento, 2006 e 2011 ............................................................................ 76

6–1 Cronologia de Sistemas de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável ................ 95

7–1 Proporção de Funções Corporativas Exercidas no Exterior .................................. 101

7–2 Países e Regiões com Maior Número de Sede de Empresas


Participantes do Global Compact ........................................................................ 103

7–3 Crescimento no Número de Relatórios Baseados nas Diretrizes da


Global Reporting Initiative, 2000-10 .................................................................. 103

8–1 Orçamentos Anuais de Algumas Instituições Internacionais para 2010 ................ 127

9–1 População Mundial, por Região, 1970–2010 ...................................................... 135

9–2 Taxas de Crescimento Populacional, por Região, 1970–2010 .............................. 136

15–1 Status das Espécies do Livro Vermelho, por Principais Grupos, 2011.................... 190

15–2 Índice Planeta Vivo, 1970–2007 .......................................................................... 190

xviii WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
Introdução
Luis A. Ubiñas
Presidente da Fundação Ford

Transcorreu quase uma geração desde a Cú- assistido a avanços extraordinários — inclusive
pula da Terra realizada no Rio em 1992, e o um maior reconhecimento formal do valor
mundo é hoje um lugar muito diferente. Um dos serviços dos ecossistemas, o aumento de
bilhão e meio de pessoas a mais chamam o formas de produção de energia renovável, a
nosso planeta de casa. A maioria de nós vive expansão de ferramentas de gestão ambiental
hoje em áreas urbanas. Uma economia que se pautadas pelo mercado e a adoção de práticas
globaliza a passos rápidos, ondas em massa de sustentáveis em setores determinantes, como
emigração e imigração e revoluções na tecno- manufaturas e transporte. Contudo, nenhuma
logia da informação significam que todos nós dessas ações conseguiu diminuir a degradação
estamos agora mais conectados do que nunca. de nosso meio ambiente. Nenhuma dessas ini-
No entanto, o que exatamente tudo isso ciativas reduziu o dano que estamos causando
significa para o desenvolvimento sustentável? ao nosso futuro e ao de nossos filhos e netos.
A Rio+20 é um momento para responder a Continuam sem resposta perguntas rele-
essa pergunta — explorando como essas rápi- vantes sobre a forma que uma transição para
das mudanças podem ser aproveitadas para uma economia sustentável tomará e se tal mu-
promover a sustentabilidade e melhorar a vida dança resultará em progresso para tratarmos
do maior número de pessoas possível. de um segundo flagelo: a vida de pobreza em
Esta edição do Estado do Mundo começa que está mergulhada tanta gente no mundo.
a fazer exatamente isso, e a Fundação Ford Por exemplo, será que as tecnologias verdes
tem orgulho de prestar seu apoio. Esta com- oferecerão oportunidades para empregos de
pilação de pensamentos inovadores, novas qualidade e melhoria nos padrões de vida nos
ferramentas e ideias provocativas nos mos- países pobres? Ou serão os benefícios econô-
tra, uma vez mais, que um planeta sustentá- micos dessas tecnologias capitalizados na
vel depende não apenas das decisões cruciais maior parte pelos ricos, ampliando ainda mais
tomadas em conferências internacionais, mas a distância entre ricos e pobres? Será que o re-
também da inovação, da energia e do com- conhecimento do valor econômico das flores-
promisso em nossas incontáveis comunida- tas facilitará o acesso da população rural e
des em constante transição. autóctone aos recursos naturais e à sua busca
As páginas a seguir também deixam claro por modos de vida sustentáveis? Ou isso levará
que os desafios diante de nós são enormes, se, a novas restrições sobre o uso da terra pelas
de fato, pretendemos incentivar uma econo- comunidades locais? Conseguiremos tirar pro-
mia verdadeiramente sustentável que favoreça veito da rica diversidade cultural dos povos
o desenvolvimento humano hoje sem sacrifi- tradicionais do mundo? Ou será que sua ines-
car o meio ambiente humano amanhã. Temos timável herança será varrida pela globalização?

xix
Introdução ESTADO DO MUNDO 2012

Para essas perguntas complexas não há res- são do dos direitos das comunidades para as
postas fáceis. Mas as ideias nesta publicação re- florestas — e para outros recursos naturais —
presentam um enorme passo, ajudando-nos a já é um modelo em curso e bem-sucedido que
traçar um caminho adiante. Elas também refle- muitos países podem e devem seguir.
tem lições fundamentais que nossos parceiros Por fim, está claro que o desenvolvimento
no mundo todo vêm, repetidas vezes, mos- urbano e o enorme crescimento das cidades do
trando ser verdadeiras — e que acreditamos mundo deverão ser tema central em qualquer
serem fundamentais para a plataforma de sus- discussão sobre um futuro sustentável. A situa-
tentabilidade na Rio+20 e em outras instâncias. ção de nossas cidades é uma questão primor-
Em primeiro lugar, está mais do que claro dial que afeta a vida de metade da população
que o envolvimento ativo da sociedade civil é mundial. E a quase totalidade do crescimento
essencial para o êxito das propostas de susten- populacional previsto para as próximas quatro
tabilidade. Para que se cumpra o objetivo da décadas — perto de 2,3 bilhões de pessoas —
Rio+20 de erradicação da pobreza por meio de ocorrerá em áreas urbanas. Apesar de haver al-
uma economia verde, é necessário que grupos guma impaciência com a rápida urbanização,
da sociedade civil estejam plenamente engaja- enxergamos aí possibilidades fantásticas. O
dos. Nesse sentido, a Fundação Ford vem res- crescimento das cidades pode oferecer uma
paldando uma ampla gama de organizações chance extraordinária para nossas ações coleti-
para que expressem suas aspirações e preocu- vas no sentido de expandir oportunidades eco-
pações nos preparativos para a conferência. nômicas, oferecer acesso a empregos e serviços
Concedemos também subsídios a redes inter- geradores de renda e de poupança, obter in-
nacionais de grupos de apoiadores, a institui- clusão social e proteger o meio ambiente. Mas,
ções da sociedade civil e a estudiosos de setores para que esses resultados sejam alcançados, pre-
vitais como moradia, transporte e manejo flo- cisamos de uma mudança de mentalidade subs-
restal. Esses participantes reconhecem que tancial: uma nova forma de pensar as cidades e
transições econômicas de vulto podem apre- o desenvolvimento urbano, que abarque den-
sentar oportunidades, mas também desafios, sidade, diversidade, planejamento inteligente e
para os trabalhadores pobres e outras pessoas regularização do uso da terra. Nossa forma de
marginalizadas. Precisamos ouvir suas vozes. abordagem coletiva da urbanização é o que de-
Sua participação ativa no processo decisório finirá a sorte de bilhões de pessoas e da susten-
conferirá credibilidade ao novo conjunto de tabilidade do planeta.
acordos que garantam que os benefícios sejam As gerações depois da nossa — as de nos-
comuns a todos e que as consequências nega- sos filhos e netos — esperam e precisam que
tivas sejam tratadas com cautela. apontemos o caminho com sabedoria e con-
Em segundo lugar, vimos inúmeras vezes vicção hoje. Elas esperam que contemplemos
que conferir poder de decisão às populações não apenas o nosso tempo, mas o delas. Se
rurais para que elas atuem como gestoras dos conseguirmos marcar o vigésimo aniversário
recursos naturais resulta em valor tremendo da Cúpula da Terra no Rio com uma nova
na luta contra a mudança climática. Além de visão de um futuro sustentável, teremos a
abrigo para centenas de milhares de pessoas, as oportunidade de cumprir nossa profunda res-
florestas do mundo são uma fonte vital para a ponsabilidade na condição de protetores dos
subsistência de inúmeras comunidades. Para ambientes — os naturais e os criados pelo ser
essas pessoas (muitas das quais são povos na- humano — que nos sustentam. Vamos tirar o
tivos, tribais), as florestas são fonte de ali- máximo proveito deste momento.
mento, energia, medicina, habitação e renda.
Dar a essas comunidades os meios para terem
a propriedade e manejarem as florestas onde
vivem talvez seja o maior incentivo para a pro-
teção e preservação desses recursos. A exten-

xx WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
Prefácio
Robert Engelman
Presidente do Worldwatch Institute

De vez em quando, parece que as únicas pes- evidências a esse respeito diante de nós, a ética
soas a pensar que as conferências ambientais do crescimento ainda é prevalente.
das Nações Unidas têm impacto são as que Sendo assim, nas semanas seguintes à fra-
duvidam da ONU e de quase tudo o que seja cassada conferência sobre mudança climática
governamental. Ao menos nos Estados Uni- realizada em Copenhague em 2009, quando o
dos, as notícias surgidas nos últimos tempos a presidente do Worldwatch, Christopher Flavin,
partir da Agenda 21 — o acordo firmado na sugeriu que fizéssemos da próxima Conferên-
Conferência da ONU sobre Meio Ambiente cia da ONU sobre Desenvolvimento Sustentá-
e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro vel (também conhecida como Rio+20) o tema
em 1992 — expressam a convicção de alguns central do Estado do Mundo 2012, eu tive dúvi-
ativistas de que o documento representa uma das. Por certo os temas da conferência — em-
perigosa conspiração para o confisco de pro- prego, energia e alimentos, dentre outros —
priedades e redistribuição de riqueza. Se fizer- eram importantes e apropriados à missão e ao
mos hoje uma busca pela frase no YouTube, trabalho do Instituto. No entanto, “o que con-
será mais provável encontrar esse pensamento seguem esses encontros?”, pensei eu, e “qual
incendiário do que algo esperançoso sobre o sua relevância até mesmo para leitores interes-
futuro da humanidade. Sendo eu um dos que sados em meio ambiente?”.
se juntou às milhares de pessoas do mundo Um posicionamento que ajudou a me con-
todo no Rio para pensar um século 21 justo e vencer a apoiar a ideia de Chris, depois de eu
ambientalmente sustentável, deveria achar isso ter assumido a direção do Worldwatch em mea-
engraçado, se não fosse triste. dos de 2011, foi não dar tanta ênfase à confe-
Retroceda um pouco mais no tempo — o rência propriamente dita, e sim às questões
dobro desse período, para 1972 e a primeira grandiosas que ela enfrentará. Já transcorreram
conferência ambiental da ONU, em Esto- doze anos do século 21 e temos pouco tempo
colmo — e a sensação de tempo perdido é para levar a população mundial — hoje de 7
ainda mais aguda. Há exatos 40 anos antes da bilhões, mas em ascensão — a uma prosperi-
publicação deste livro, a cientista ambiental dade comum sem deixar como legado para o
Donella Meadows argumentou na Newsweek futuro da humanidade um planeta com supe-
que a ética da prosperidade apoiada no cresci- raquecimento, escassez de recursos e esgota-
mento econômico e demográfico interminá- mento biológico. Contudo, mesmo com as
veis levaria ao reconhecimento trágico de um fortes evidências científicas de nosso apuro co-
planeta finito. Em 1972 não havia pistas da locadas bem à nossa frente, os governos têm
iminência da mudança climática empreendida fracassado em criar políticas que limitem de
pelo ser humano ou do fim dos combustíveis modo significativo o risco ambiental e estimu-
fósseis baratos. Após quatro décadas, com as lem o desenvolvimento humano equitativo.

xxi
Prefácio ESTADO DO MUNDO 2012

Esse desequilíbrio angustiante é motivo su- governos, sinta este ano o que Martin Luther
ficiente para participarmos — apesar do custo King, Jr. chamou, em um contexto diferente,
em termos de dinheiro, tempo e (sim) emissões mas afim, de “a urgência veemente do agora”
de carbono — uma vez mais das brechas aber- e possa contemplar mudanças de direção drás-
tas nas cúpulas ambientais. Enquanto eu es- ticas e rápidas.
crevo, há pouca atenção por parte da mídia para Os relatos e ideias nas páginas a seguir
o encontro no Rio e incertezas quanto ao com- foram concebidos não como um impresso a ser
parecimento de lideranças nacionais. Mesmo a veiculado nas discussões no Rio, mas como
atividade das organizações não governamentais proposições para essa mudança, proposições a
é uma pequena fração do prolongado afã de serem consideradas e trabalhadas antes e depois
criatividade que lembro ter havido por ocasião da conferência. Este livro é o ponto central de
da Rio-92. No entanto, como assinala Jacob um projeto mais amplo do Worldwatch que
Scherr, do Conselho de Defesa de Recursos Na- continuará, no mínimo durante 2012, a atrair
turais, a conferência irá, de fato, ocorrer, reu- mais atenção e ideias criativas para a necessi-
nindo enviados governamentais, especialistas dade de mensuração de iniciativas envolvendo
em desenvolvimento e autoridades da ONU, empregos em bases ecológicas, alimentos nu-
além de milhares de cidadãos ativistas e outros tritivos, energia sustentável, água segura, ocea-
representantes da sociedade civil para refletir nos saudáveis, cidades prósperas e desastres
sobre como um mundo finito consegue pro- com menor frequência e menos dilaceradores
porcionar o suficiente para todos de modo — em suma, para a necessidade de uma pros-
sustentável. E justamente aí reside uma opor- peridade comum no mundo todo que possa ser
tunidade — e boa dose da razão do tema deste sustentada nos próximos séculos. Fique de olho
livro. Tendo no leme Michael Renner e Erik As- em nosso site, www.worldwatch.org, para obter
sadourian — líderes veteranos do projeto O mais informações, artigos e notícias sobre as
Estado do Mundo — e a nova editora, Island próximas conversas e eventos relacionados ao
Press, apoiando a iniciativa, é nossa intenção tema, inclusive lançamentos do Estado do
que o livro deste ano vise nem tanto uma cidade Mundo 2012, em pelo menos 20 idiomas, pelos
e uma conferência, e sim o fulcro na história em nossos diversos parceiros de publicação no
que ambas figuram. mundo todo.
Em algum momento, as emissões dos E, o mais importante, contribua com sua
gases de efeito estufa atingirão o pico e come- energia e ideias para a Rio+20 e as atividades
çarão a cair. Em algum momento, a fertilidade previstas para depois da volta dos represen-
humana começará a diminuir abaixo do nível tantes para casa. Seja lá o que for que presi-
que estimula o crescimento populacional dentes, parlamentos e negociações consigam
contínuo. Em algum momento, o desenvol- ou não, em geral, são os movimentos sociais e
vimento humano atingirá limiares em que cidadãos ativistas que provocam as mudanças
todos possam esperar ter acesso condizente a de maior importância. Tem sido assim tanto
água segura, alimentos nutritivos, energia com em relação aos movimentos conservacionistas
baixa emissão de carbono, além de saúde, edu- e ambientais quanto em relação às revoluções
cação e moradia decentes. Após tentativas au- dos direitos civis e femininos. Seja lá quando
daciosas nas conferências da ONU no sentido ocorra o desenvolvimento ambiental e hu-
de pressionar os governos a ações firmes para mano do estado do mundo, há esperança e
o desenvolvimento e meio ambiente globais um longo futuro que precisará de nossos cui-
em 1972 e 1992 (e em diversas ocasiões desde dados. Esperamos que este livro encontre seu
então), temos esperanças de que as ideias para lugar em meio a um coro de vozes que indi-
a construção de sustentabilidade tenham se quem o caminho a seguir.
proliferado e amadurecido até o ponto em
que tempo e oportunidade finalmente se fun-
dam. Podemos ter esperanças de que, apesar
dos muitos transtornos e das manobras políti-
cas de sempre, muita gente, dentro e fora dos

xxii WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
Estado do Mundo:
Um Ano em Retrospecto
Compilado por Matt Richmond

A cronologia a seguir contempla alguns anúncios


e relatórios significativos de Outubro de 2010 a
Novembro de 2011. Trata-se de uma combina-
ção de avanços, retrocessos e tropeços no mundo
todo que estão afetando a qualidade ambiental e
o bem-estar social.
Os acontecimentos na cronologia foram esco-
lhidos para elevar o grau de consciência das conexões
entre as pessoas e os sistemas ambientais dos quais
elas dependem.

xxiii
Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto ESTADO DO MUNDO 2012

CONSUMO
Relatório do WWF constata que o
ser humano usa atualmente 1,5 CLIMA
Terra, isso sugerindo que o Cientistas descobrem
mundo precisaria de 50% a mais micróbios capazes de
de capacidade ecológica para que ingerir hidrocarbonetos
os atuais padrões de consumo e gás natural, com
fossem sustentáveis. potencial para “fixar”
gases de efeito estufa
no fundo da crosta
oceânica.
MINERAÇÃO
ESPÉCIES AMEAÇADAS Na Declaração de
DE EXTINÇÃO Lima, povos indígenas
Com a finalidade de latino-americanos
proteger seus 29.000 exigem o fim da
Biswarup Ganguly

elefantes, Índia declara mineração em larga


o elefante “Animal do escala em seus
Patrimônio Nacional”. territórios.

O U T U B R O N O V E M B R O

E S TA D O D O M U N D O : U M A N O E M R E T R O S P E C T O

RESÍDUOS PERIGOSOS
General Motors
Sander van der Molen

concorda em instituir
um fundo de até $773
milhões para recuperar DESASTRES
parte de sua massa NATURAIS
falida, dois terços da Colômbia declara
qual está contaminada Refinaria de petróleo na Califórnia estado de catástrofe
com resíduos perigosos. nacional em virtude
da intensidade das
CLIMA chuvas que afetam ao
Superando uma menos 1,4 milhão de
GOVERNANÇA campanha oposicionista pessoas nas
Após 18 anos de com farto financiamento, fronteiras do país,
debates, 193 países os californianos votam matando mais de 160.
Andrew Jameson

avençam um pela manutenção dos


tratado que define padrões mais rígidos no
um modo de controle de emissões de
cooperação na gases de efeito estufa nos
Fábrica abandonada da carroceria Fisher da GM Estados Unidos.
comercialização de
recursos genéticos.

xxiv WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

ENERGIA
CLIMA
Nova York passa a ser
o primeiro Estado a Cientistas constatam
impor uma moratória uma mudança
sobre o fraturamento “drástica” em correntes
hidráulico, uma forma do oceano norte, com
fortes efeitos sobre o

Canwest News Service


discutível de perfuração
para extração de gás clima e a água do
natural que pode trazer hemisfério norte.
riscos ao abastecimento
ShacharLA

de água potável.

Pulverização de retardadores de chama PRODUTOS TÓXICOS


DESASTRES NATURAIS ESPÉCIES AMEAÇADAS Estudo verifica que 99%
a 100% das gestantes
Bombeiros israelenses DE EXTINÇÃO têm diversos produtos
conseguem finalmente controlar A população de quatro espécies de químicos tóxicos no
o pior incêndio ocorrido em mamangabas nos EUA diminui organismo, incluindo
áreas florestais, que devastou 96%, engrossando as perdas mercúrio, PCBs [bifenis
mais de 4.000 ha, matando ao generalizadas na Europa e Ásia policlorados] e
menos 42 pessoas. desse importante polinizador. retardadores de chama.

D E Z E M B R O J A N E I R O

CLIMA SEGURANÇA NACIONAL


Japão anuncia que não Senado dos EUA aprova um novo
apoiará a prorrogação tratado estratégico sobre armas
do Protocolo de Kyoto nucleares com a Rússia, o que

Martin Howard
após 2012, por maior retomaria as inspeções dos
que seja a pressão que arsenais nucleares dos dois países.
venha a sofrer.

CLIMA
PRODUTOS TÓXICOS Austrália corta programas
ambientais com a finalidade de
O povo Archuar, do Peru, pagar estragos causados por
ganha um recurso para
Mathew Brooks

graves inundações, apesar das


processar a Occidental alegações dos ambientalistas de
Petroleum Corp. por 30 que mudanças climáticas são a
anos de despejo de águas causa das inundações.
servidas tóxicas em suas Titan II desativado
florestas tropicais.
CLIMA
Análise da NASA atesta que 2010
empata com 2005 em termos do
ano mais quente já registrado.

xxv
Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto ESTADO DO MUNDO 2012

DESASTRES NATURAIS
Um terremoto de
BIODIVERSIDADE magnitude 9,0 e um
tsunami de 10 metros
Bernard Pollack

O Silo Global de devastam o Japão, e o TRANSPORTE


Sementes Svalbard desastre nuclear sofrido Comissão Europeia
comemora seu pela usina de Fukushima aprova uma
terceiro aniversário, Daiichi é o pior desde estratégia de longo
Cabras em uma favela de Nairóbi contando com mais Chernobyl. prazo na área de
de 600.000 amostras transporte, prevendo
SAÚDE de sementes a retirada de carros
O Instituto Internacional de mantidas como movidos a gás das
Pesquisa de Rebanhos faz um reserva de recursos cidades até 2050.
detalhamento dos perigos da genéticos para o caso
transmissão de doenças de de desastres.
rebanhos ao ser humano nos
países em desenvolvimento,
onde surgem novas moléstias
a cada quatro meses.

GeoEye
F E V E R E I R O M A R Ç O

E S TA D O D O M U N D O : U M A N O E M R E T R O S P E C T O

ECONOMIA PRODUTOS
O Programa da ONU TÓXICOS
para Meio Ambiente Perto de 40.000
estima que apenas cientistas e clínicos

NASA
2% do PIB mundial fazem um apelo
Meena Kadri

seja necessário para para que os


uma transição da órgãos federais
economia global para norte-americanos FLORESTAS
a sustentabilidade. ultrapassem Dados de mapeamento da
POLUIÇÃO os atuais padrões NASA mostram que mais de
para avaliação da 520 mil hectares da região
Em decisão judicial segurança de
inédita, tribunais da Amazônica estão de cor
produtos químicos. amarronzada devido a uma
Índia autorizam pessoas
físicas a processar a seca sem precedentes.
Coca-Cola, com um
pedido de indenização CULTURA
por dano ambiental Reunindo times de oito das ligas
causado pelas fábricas profissionais norte-americanas mais
de engarrafamento. bem pagas, a Aliança para Esportes
Ecológicos promove coordenação
de iniciativas ambientais.

xxvi WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

ENERGIA RECURSOS NATURAIS


Cientistas dos GOVERNANÇA Telegramas do Wikileaks
laboratórios de Los expõem uma “paz fria” entre
Alamos descobrem Partido Verde ganha as nações do Ártico, todas
alternativa barata à seu primeiro assento elas competindo pelas
platina em células a na Câmara dos possíveis riquezas
combustível Comuns do Canadá localizadas abaixo do gelo
hidrogênio, um com a eleição de sua em derretimento no Ártico.
grande passo para líder, Elizabeth Maio,
redução de custos. pela província da
NASA

Colúmbia Britânica.

CAMADA DE OZÔNIO CLIMA


Perda de ozônio no Ártico A Agência
atinge níveis recordes, Internacional de
principalmente devido a Energia constata que
um inverno rigoroso na as emissões de CO2
estratosfera e à presença na relativas a energia em
Shaun Merritt

atmosfera de substâncias 2010 foram as mais


destruidoras de ozônio. altas da história.

A B R I L M A I O

RECURSOS NATURAIS ENERGIA


Por intermédio da Lei da Mãe Governo alemão anuncia
Terra, Bolívia concede a toda a substituição de 17
natureza direitos iguais aos usinas de energia nuclear
SAÚDE dos seres humanos. por fontes de energia
Constatação de que cerca de renovável até 2022.
metade da carne bovina e da
suína nos EUA está contaminada
com Staphylococus, sendo que
metade das bactérias é CLIMA
resistente a, pelo menos, três Príncipe de Gales
antibióticos conhecidos. alerta que ignorar a
mudança climática
enseja o potencial para
uma crise muito mais
severa do que o
recente colapso
financeiro.
Isofoton.es
USDA NRCS

Painéis solares usados como barreira contra


ruído nas estradas, Freising

xxvii
Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto ESTADO DO MUNDO 2012

PRODUTOS TÓXICOS
A província de Terra Nova se junta à de
Québec, Ontário e New Brunswick na
proibição a todos os pesticidas de uso em
superfície de gramado residencial devido a
preocupações com saúde e meio ambiente.
Cylonka

DESASTRES
NATURAIS
SAÚDE Somália e África
Lei da UE banindo a venda Oriental passam pela
de mamadeiras contendo BIODIVERSIDADE pior seca em 60 anos,
bisfenol A — um Governo de com dezenas de
desregulador endócrino — Moçambique concede milhares de mortes
entra em vigor. aprovação para que o decorrentes de
lago Niassa, um dos subnutrição e 10
lagos de maior tamanho milhões de pessoas

Michelle Tribe
e diversidade biológica, necessitadas de ajuda
seja uma reserva. para sobreviver.

J U N H O J U L H O

E S TA D O D O M U N D O : U M A N O E M R E T R O S P E C T O

PRODUTOS TÓXICOS ECONOMIA


Especialistas alertam Economistas da Rede de
que o aumento Economia pela Equidade
pronunciado em e pelo Meio Ambiente
autismo pode ser em verificam que cada
tonelada de CO2 emitida SAÚDE
Gray Watson

parte decorrente da
exposição de gestantes, causa até US$900 de Quatro meses depois
fetos e crianças a um danos ambientais. do derretimento
coquetel de produtos nuclear da usina de
químicos tóxicos. Fukushima, os níveis
ENERGIA de radiação estão até
Google anuncia um 30 vezes acima dos
fundo de US$280 limites seguros para
milhões para energia carne bovina,
solar, com o intuito de hortifrútis e frutos do
mar no Japão.
John L. Alexandrowicz/EPA

ajudar moradores a
comprar painéis solares
para uso residencial.

xxviii WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

ENERGIA
Philips, a gigante dos ENERGIA
aparelhos eletrônicos, recebe Exxon Mobil obtém acesso
prêmio do Departamento de para fazer perfurações nas ÁGUA
Energia dos EUA com o águas do Ártico na costa da Após meses de
L-Prize [Prêmio L], no valor Rússia, recém-aberta para protestos e violência,
de US$10 milhões, por uma exploração de petróleo. o governo de
lâmpada LED de 9,7 watts, o Mianmar cancela a
equivalente a uma lâmpada construção de uma
incandescente de 60 watts. ENERGIA represa no Irrawaddy,
O Centro Nacional de maior rio do país.
Teste de resistência com lâmpadas LED Pesquisa Atmosférica
POLUIÇÃO dos Estados Unidos
Royal Dutch Shell conclui que a mudança
consegue fechar uma de carvão para gás

Burma Democratic Concern


válvula por onde natural irá, na verdade,
vazava petróleo no mar aumentar a taxa do
do Norte, sendo que aquecimento global,
cerca de 1.300 barris já questionando assim
haviam vazado em esse “combustível
uma semana. de transição”.
DOE

A G O S T O S E T E M B R O

ENERGIA ENERGIA
China começa a Exército norte-americano
autorizar produtores lança uma campanha
DESASTRES NATURAIS nacionais de energia para gerar 2,1 milhões de
O sistema de solar a vender o megawatt-horas de
acompanhamento excedente, eletricidade por meio de
de secas nos EUA pretendendo assim fontes de energia
informa que 73,5% do criar um mercado renovável.
interno para
©Bugwood.org

Texas tem “seca


excepcional”, a categoria tecnologias solares.
mais grave possível.
Pulgão da tsuga

BIODIVERSIDADE
Pesquisas concluem que
US Army

três espécies invasoras —


a broca cinza-esmeralda,
Earl McGehee

a mariposa-cigana e o Teto de painel solar do estacionamento


pulgão da tsuga — da Guarda Nacional
causam danos de US$3,5
Rio Blanco, Texas bilhões anuais nos EUA.

xxix
Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto ESTADO DO MUNDO 2012

SISTEMAS GOVERNANÇA
ECOMARINHOS Dados da Agência de
O vírus da anemia Estatísticas do Trabalho dos
infecciosa do salmão, EUA mostram que apenas
mortal para a espécie, 0,3% das demissões em
cuja proliferação 2010 foram resultantes

Utenriksdepartementet
começou em viveiros de regulamentos
de peixes no Atlântico, governamentais, apesar de
é agora encontrado informações sobre sistemas
pela primeira vez no de regulamentações que
Steve Vaughn

oceano Pacífico. “matam empregos”.

CLIMA
Usina de etanol de milho, Iowa Negociações sobre o clima
POPULAÇÃO ocorridas em Durban abrem
ALIMENTOS Comemorações nas Filipinas com o presidente sul-africano,
O Instituto Internacional de Pesquisa pelo nascimento de Danica Jacob Zuma, fazendo um
em Políticas Alimentares afirma que Maio Camacho, a criança apelo para que os delegados
os subsídios ao etanol de milho nos escolhida pela ONU para enxerguem além dos
EUA são a principal causa da escassez representar o habitante de “interesses nacionais”, pelo
global de alimentos no ano. número 7 bilhões no mundo. bem da humanidade.

O U T U B R O N O V E M B R O

E S TA D O D O M U N D O : U M A N O E M R E T R O S P E C T O

BIODIVERSIDADE ESPÉCIES AMEAÇADAS


Artigo publicado na DE EXTINÇÃO
Nature Climate Cientistas alertam que a
Change observa que o árvore do teixo do
aquecimento global Pacífico, principal fonte

Eileen Beredo
está fazendo encolher CLIMA da droga quimioterápica
não apenas o número, Duzentos e oitenta e Taxol, poderá em breve
mas também o cinco dos maiores estar extinta devido ao
tamanho de muitas investidores mundiais cultivo predatório para Cultivo de ostras, Estado de Washington
espécies animais e fazem um apelo para fins médicos.
vegetais. que os governos criem
um pacto vinculativo SISTEMAS
juridicamente em ECOMARINHOS
relação a reduções de Relatório sobre a morte
emissão de CO2. gradual de larvas de ostra
no noroeste dos EUA
Walter Siegmund

mostra um vislumbre dos


futuros efeitos da
acidificação do oceano
sobre a vida marinha.

xxx WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
Estado do Mundo 2012

RUMO À
PROSPERIDADE
SUSTENTÁVEL
RIO+20
CAPÍTULO 1

Como Fazer a Economia Verde


Funcionar para Todos
Michael Renner

neiras, uma difícil experiência, com as aspira-

E
m junho de 2012, o Rio de Janeiro vai
sediar a Conferência das Nações Unidas ções de sustentabilidade muitas vezes cho-
sobre Desenvolvimento Sustentável, cando-se com realidades políticas incômodas,
também chamada de Rio 2012 ou Rio+20. O pensamento econômico ortodoxo e a resis-
encontro marca o vigésimo aniversário da tência dos estilos de vida caracterizados pelo
Conferência das Nações Unidas sobre Meio uso intensivo de materiais.
Ambiente e Desenvolvimento de 1992, tam- Entre os obstáculos à transição para uma or-
bém realizada no Rio. Essa reunião histórica dem mundial mais sustentável, escreveu Tom
adotou a Convenção-Quadro das Nações Uni- Bigg do Instituto Internacional para o Meio
das sobre Mudanças Climáticas e abriu a Con- Ambiente e o Desenvolvimento (IIED), estão
venção sobre Biodiversidade para assinatura “os interesses de grupos poderosos que de-
dos países. A conferência, que representou um fendem seu território e podem manipular o sis-
marco na evolução da diplomacia ambiental tema político para impedir que sejam feitas
internacional, ocorreu duas décadas após a mudanças; a hierarquia das políticas governa-
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio mentais e da política em geral em quase todos
Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, os países que colocam as questões ambientais
em 1972. no fim e o crescimento econômico e a segu-
Por um lado, a Rio 2012 marca a continui- rança militar no topo da lista de prioridades; e
dade dos esforços envidados para reunir os a dificuldade de alcançar sistemas de adminis-
governos e a sociedade civil em torno da meta tração fortes em todo o mundo para efetuar
cada vez mais urgente de conciliar o desen- mudanças numa época em que o multilatera-
volvimento humano com os limites dos ecos- lismo está acabando”.1
sistemas da Terra. Em 1992, o fim da Guerra De modo geral, a governança ambiental foi
Fria e a maior conscientização sobre as ques- relegada a um segundo plano na busca de glo-
tões ambientais pareciam abrir novos hori- balização econômica movida pelos interesses
zontes para a cooperação global. Os anos que das corporações – processo que tem sido mar-
se passaram desde então foram, de muitas ma- cado por desregulação e privatização e, con-

Michael Renner é pesquisador sênior do Worldwatch Institute e vice-diretor do State of the World 2012.

3
Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos ESTADO DO MUNDO 2012

sequentemente, pelo enfraquecimento rela- insegurança ou instabilidade no emprego e


tivo das instituições políticas nacionais. Ainda aumentando o abismo entre ricos e pobres
não se chegou a um acordo intergoverna- tanto dentro dos países como entre eles.
mental abrangente sobre estratégias de sus- Tudo isso levou a uma crise ascendente de
tentabilidade. Apesar de inúmeros planos, me- legitimidade dos sistemas econômico e polí-
tas e declarações solenes, nenhuma nação tico, uma vez que ajudas financeiras vultosas
sequer chegou perto de ter uma economia contrastam claramente com uma política de
sustentável. O modelo de crescimento sur- austeridade e redução de gastos em benefício
gido no começo da Revolução Industrial, ba- do interesse público. Na prática, a existência
seado em estruturas, condutas e atividades ni- de um sistema financeiro descontrolado im-
tidamente não sustentáveis, ainda é visto como pediu que se vislumbrasse uma maneira de
um “passaporte” para a “boa vida” – estimu- resgatar e tornar sustentável a economia real.
lado, em grande parte, por publicidade maciça. Mais e mais pessoas sentem que seus interes-
Os países ocidentais industrializados aderem a ses não são representados nos processos legis-
esse modelo mesmo diante de uma dívida de lativos e na definição de políticas públicas, cu-
consumo que cresce cada vez mais, enquanto jos resultados são cada vez mais influenciados
para pessoas de outros países ele representa pelo dinheiro. Ao longo dos anos, isso causou
uma aspiração.2 um menor comparecimento às urnas e a uma
A conferência Rio 2012 representa uma apatia política.3
grande oportunidade de medir o progresso Por outro lado, e mais recentemente, o de-
obtido em relação às metas de sustentabilidade sencantamento com o status quo gerou a pas-
e desenvolvimento, bem como de reavaliar o sos rápidos uma onda de protestos “de baixo
significado de prosperidade no século 21. O para cima”, chamada de “Movimento Ocupe”.
sucesso vai depender não apenas de uma reu- Antes do movimento Ocupe Wall Street, os
nião oficial de cúpula, mas também de inicia- “Indignados” haviam acampado na praça
tivas criativas para “liderar de baixo” e de um Puerta del Sol, em Madri, e manifestantes to-
salto de qualidade nas relações entre governos, maram praças públicas no Chile e em Israel.
sociedade civil, empresas e mídia. De certa forma, o novo movimento foi inspi-
rado na Primavera Árabe do Oriente Médio,
indicando a existência de um ponto em co-
Uma Crise Complexa mum quanto às preocupações com os sistemas
econômicos e políticos. O movimento espa-
A humanidade está diante de uma grave e lhou-se como um raio. Até meados de outu-
complexa crise. O aumento crescente do es- bro de 2011, ocorreram protestos do movi-
tresse causado ao ecossistema e das pressões mento Ocupe em mais de 900 cidades no
sobre os recursos naturais é acompanhado por mundo todo; até o final de dezembro, havia
problemas socioeconômicos cada vez maio- atividades em mais de 2.700 localidades.4
res. A economia mundial está tentando sair de Esses protestos enfocaram acima de tudo
uma grave recessão desencadeada pela implo- questões socioeconômicas. Mas durante a 17a
são de instrumentos financeiros altamente es- Conferência das Partes (COP-17) das Nações
peculativos, mas, que de maneira mais ampla, Unidas sobre mudanças climáticas realizada
a crise é consequência do estouro de bolhas em Durban, África do Sul, em dezembro de
econômicas e de volumes insustentáveis de 2011, os manifestantes fizeram uma conexão
crédito ao consumidor. A crise econômica está com as questões fundamentais de sustentabi-
exacerbando as injustiças sociais na forma de lidade ambiental. Os organizadores do movi-

4 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos

mento Ocupe a COP-17 afirmaram que “os ções ecológicas das quais economias, socie-
mesmos responsáveis pela crise financeira dades e certamente toda a vida na Terra são
mundial querem assumir o controle da nossa altamente dependentes. A humanidade tem
atmosfera, das nossas terras, florestas, monta- agido como se houvesse sempre novos re-
nhas e vias fluviais.” De Madri a Durban, pas- cursos naturais a serem descobertos, como se
sando por Manhattan, essas ações são motiva- ecossistemas fossem irrelevantes para a exis-
das por uma profunda frustração com o tência humana, como se houvesse uma “Terra
fracasso dos governos e das conferências in- 2.0” aguardando para ser habitada no caso de
ternacionais em solucionar os problemas fun- conseguirmos acabar com este planeta. Exis-
damentais que ameaçam o bem-estar e a so- tem exemplos isolados de civilizações que es-
brevivência dos seres humanos.5 gotaram seus recursos naturais, entraram em
Nas duas décadas que se passaram desde a colapso e desapareceram. Mas isso nunca
Cúpula da Terra, em 1992, as pressões sobre aconteceu em escala planetária; a humani-
os recursos naturais e ecossistemas do planeta dade está entrando num território totalmente
aumentaram consideravelmente, à medida que desconhecido.8
o transumo (“throughput”) material da eco- Os impactos serão sentidos em toda parte,
nomia continua em expansão. Como seria de especialmente nas regiões mais pobres, mas é
esperar, a maior parte do consumo humano a ação de uma minoria que nos levou à beira
concentra-se nas cidades. As áreas urbanas do precipício. De acordo com o Banco Mun-
concentram a metade da população mundial, dial, as pessoas que pertencem às classes média
mas são responsáveis por 75% do consumo de e alta mais do que dobraram seus níveis de
energia e das emissões de carbono.6 consumo entre 1960 e 2004, comparado com
O estresse ecológico é evidente de muitas um aumento de 60% por parte da população
maneiras – desde o desaparecimento de espé- de menor renda. A classe de consumidores
cies, escassez de água, acúmulo de carbono e em todo o mundo, cerca de um bilhão de
deslocamento de nitrogênio até mortalidade pessoas, vive predominantemente nos países
em massa de recifes de coral, esgotamento da ocidentais industrializados, mas as últimas duas
pesca, desmatamento e perda de áreas panta- décadas testemunharam o aumento crescente
nosas. A capacidade do planeta de absorver re- de consumidores em países como China, Ín-
síduos e poluentes está cada vez mais exaurida. dia, Brasil, África do Sul e Indonésia. Fora
Cerca de 52% dos estoques comerciais de peixe isso, mais 1 a 2 bilhões de pessoas em todo o
são totalmente explorados, cerca de 20% são mundo sonham com uma vida de consumismo
excessivamente explorados e 8% estão esgota- e podem ser capazes de adquirir algumas de
dos. A água está ficando escassa e calcula-se suas parafernálias. Mas o restante da humani-
que, daqui a vinte anos, o suprimento seja su- dade – inclusive a “base da pirâmide”, os mais
ficiente para satisfazer apenas 60% da demanda pobres – tem poucas esperanças de algum dia
mundial. Embora a produção agrícola tenha ter esse estilo de vida. A economia mundial
aumentado, esse aumento ocorreu às custas da não foi concebida para beneficiá-los.9
degradação e da redução da qualidade do solo Ao longo da última década, os países não
e do desmatamento.7 membros da Organização para Cooperação e
Um estudo realizado em 2009 sobre as Desenvolvimento Econômico (OCDE) au-
“fronteiras planetárias” mostrou que nove li- mentaram sua participação na economia mun-
miares ambientais importantíssimos tinham dial. Em termos de paridade do poder de com-
sido ultrapassados ou estavam prestes a ser ul- pra, a participação desses países no PIB global
trapassados, ameaçando desestabilizar fun- saltou de 40% em 2000 para 49% em 2010,

5
Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos ESTADO DO MUNDO 2012

podendo atingir 57% até 2030. Além disso, a crescimento do PIB mundial em 2010 não
expansão de países como China, Índia e Bra- foi acompanhada por uma recuperação com-
sil melhorou a situação econômica de uma in- parável no número de empregos. Além disso,
finidade de pessoas. De acordo com estatísti- a emissão de dióxido de carbono proveniente
cas da OCDE, o número de pobres em todo da queima de combustível fóssil em todo o
o mundo diminuiu em 120 milhões na década mundo subiu meio bilhão de toneladas em
de 1990 e em quase 300 milhões na primeira 2010, o maior aumento anual desde o início
metade da década de 2000. E, de acordo com da Revolução Industrial. É difícil não chegar à
uma análise do Banco Mundial, a proporção conclusão de que a economia não funciona
da população chinesa que ganhava menos de mais nem para as pessoas nem para o planeta.12
US$1,25 por dia (em preços de 2005) caiu de Mesmo aquelas que estão empregadas, pelo
84% em 1981 para 16% em 2005. No Brasil os menos 1,5 bilhão de pessoas em todo o
números caíram de 17% em 1981 para 8% em mundo – aproximadamente metade da força
2005, e na Índia, de 60% para 42%. 10 de trabalho – têm empregos bastante vulnerá-
Mas seria um erro encarar a expansão siste- veis. Os problemas que elas enfrentam – em
mática da economia industrial, fundamentada geral decorrentes da “informalidade” – são
no consumo exagerado, como uma rota infa- renda insuficiente ou altamente variável, baixa
lível para superar a pobreza e a marginalização produtividade, emprego temporário ou sem
social. A OCDE faz a seguinte observação: “A estabilidade e condições precárias do local de
contribuição do crescimento para a redução da trabalho, sobretudo no que se refere a saúde e
pobreza varia tremendamente de país para segurança ocupacional. Os trabalhadores do
país, em grande parte devido às diferenças na setor informal geralmente ganham cerca de
distribuição de renda de cada um. Em muitos metade daqueles do setor formal.13
casos, o crescimento foi acompanhado de au- Um número cada vez maior de pessoas nas
mento da desigualdade.” De 1993 a 2005, o economias industrializadas também enfrenta
Brasil reduziu mais a pobreza do que a Índia, condições precárias de trabalho. Nos Estados
embora seu crescimento tenha sido muito me- Unidos, a estagnação dos salários e a crescente
nor (1% e 5% ao ano, respectivamente). Essa desigualdade de renda têm sido fenômenos
redução foi possível porque a desigualdade di- proeminentes desde o final da década de 1970.
minuiu no Brasil graças a programas de assis- Embora a produtividade laboral nos Estados
tência social como Bolsa Família, mas na China Unidos tenha tido uma expansão de 80% entre
e na Índia a desigualdade aumentou.11 1979 e 2009, a remuneração média por hora
A globalização foi acompanhada por maior de trabalho subiu apenas 8%, e a maior parte
volatilidade e turbulência – e por maior vul- dos ganhos salariais foi conquistada pelos fun-
nerabilidade para aqueles que não conseguem cionários com salários mais altos. O número de
competir. A crise econômica deflagrada em americanos que vivem abaixo da linha oficial de
2008 fez com que o número de desemprega- pobreza, cerca de 46 milhões em 2010, é o
dos subisse de 177 milhões em 2007 para mais alto nos 52 anos desde que foram publi-
cerca de 205 milhões em 2010, com “pouca cadas estatísticas governamentais sobre esse tó-
esperança de que haja uma reversão desse nú- pico. Na Alemanha, um país tradicionalmente
mero para os níveis anteriores à crise no curto de salários altos, o setor de baixos salários cres-
prazo", observa a Organização Internacional ceu mais de 20% a partir de 2008. No Japão,
do Trabalho (OIT). Os temores de um “cres- um terço da força trabalhadora do país é com-
cimento sem emprego” são confirmados por posto por pessoas que trabalham meio período
uma análise da OIT de que a recuperação do ou em regime de contrato de trabalho, sem es-

6 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos

tabilidade no emprego. Mais de dez milhões de Figura 1-1. Propriedade dos Ativos
trabalhadores japoneses vivem abaixo da linha Econômicos no Mundo Todo, 2000
oficial de pobreza.14
Há um paradoxo. Os salários estão sob 100
pressão e, para muitos, o emprego é incerto; Fonte: UNU-WIDER
no entanto, o consumismo vai de vento em

Porcentagem de todos os ativos


popa. O estilo de vida materialista é finan- 80 1% mais rico
ciado não apenas por um segundo emprego,
mas também por um profundo endivida-
60
mento. A OIT explica que “em economias
avançadas, a estagnação salarial criou um ter- 5% mais rico
reno fértil para o crescimento do consumo fi- 40
nanciado pelo endividamento, o que é nitida-
mente insustentável”. Nos Estados Unidos, 10% mais rico
em particular, a alta do consumo foi possibili- 20
50% mais rico
tada pelo aumento excessivo dos valores dos
50% mais pobres
imóveis durante os anos da bolha imobiliária.15 0
A distribuição de riqueza foi extremamente
desigual no mundo todo, com consequências
para quem tem voz ativa em questões de eco- pessoas muito ricas nesses países é maior hoje do
nomia e política – e, portanto, na maneira que no passado, e a classe média está crescendo.
como os países tratam as questões fundamen- Mas, de uma perspectiva global, esses avanços
tais de sustentabilidade e justiça social com os não invalidam as observações de 2000, porque,
quais a humanidade se defronta. Um estudo como o estudo do UNU-WIDER documenta,
realizado em 2008 pelo Instituto Mundial de a desigualdade da riqueza interna é elevada na
Pesquisa sobre Economia do Desenvolvi- maioria dos países.17 Dados domésticos real-
mento, da Universidade das Nações Unidas mente indicam que, nos últimos anos, a desi-
(UNU-WIDER, na sigla em inglês), fornece gualdade vem aumentando em muitos países.
dados do ano 2000. (Lacunas e defasagens nos Em 2007, o 1% mais rico da Alemanha contro-
dados dificultam um cálculo mais atualizado.) lava 23% da riqueza do país, e os 10% mais ricos
Um por cento dos adultos mais ricos possuía detinham 61% (em 1998 essa porcentagem era
40% dos ativos mundiais. (Ver Figura 1-1) No de 44%). Os 70% mais pobres detinham apenas
caso dos 5% mais ricos, a porcentagem sobe 9%. Na Índia, o 1% mais rico da população de-
para 71%, e os 10% mais ricos controlavam tinha 16% da riqueza em 2006; os 10% mais ri-
85% da riqueza mundial. Em contrapartida, a cos detinham 53%. A metade menos favorecida
metade desfavorecida da humanidade detinha da população desse país possuía apenas 8% da ri-
apenas 1% de toda a riqueza. Um membro do queza da nação. Nos Estados Unidos, a pro-
grupo 1% mais rico, portanto, era quase 2.000 porção de riqueza dos 5% mais ricos aumentou
vezes mais rico que uma pessoa da metade de 59% em 1989 para 65% em 2009. Os 40%
mais pobre da humanidade.16 mais pobres viram sua riqueza líquida cair de mí-
É improvável que a última década tenha con- seros 0,2% para -0,8%. Na verdade, em 2009, o
tribuído para promover maior igualdade. Cer- patrimônio de quase um quarto das famílias
tamente a distribuição regional de riqueza pas- americanas era zero ou negativo, pois o crédito
sou por algumas mudanças com a ascensão de ao consumidor e os financiamentos imobiliários
países como China, Índia e Brasil. O número de igualavam ou superavam os ativos.18

7
Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos ESTADO DO MUNDO 2012

Crescimento Verde e Decrescimento nomia não precisa ser um empecilho ao cres-


cimento. Pelo contrário, pode ser um novo
mecanismo de crescimento, uma rede gera-
Em tempos de crise econômica, as necessi-
dora de trabalho digno e estratégia vital para
dades ambientais são logo relegadas ao status
a eliminação da pobreza persistente.”21
de luxo. O impulso quase sempre é “estimu-
No entanto, ainda não se sabe até que
lar a economia” para fazer com que a má-
ponto economia verde e crescimento econô-
quina volte a funcionar por quaisquer meios
mico são compatíveis. Sem dúvida, o desen-
necessários. No entanto, a ideia de que metas
volvimento de tecnologias de baixa emissão de
ambientais e de desenvolvimento não são ne-
carbono e de uso mais eficiente dos recursos
cessariamente conflitantes é cada vez mais
naturais é importante e pode ajudar a solucio-
aceita. Elas podem – e precisam – ser concilia-
nar alguns dos problemas ambientais que a hu-
das. No final de 2008, quando eclodiu a crise
manidade enfrenta. Porém, eficiência também
econômica mundial, os governos realmente torna o consumo mais barato e pode simples-
dedicaram uma pequena parcela de seus es- mente estimular maior demanda – uma con-
forços de estímulo à economia a diversos pro- sequência que os economistas chamam de
gramas “verdes”. Em todo o mundo, por volta “efeito de rebote”. Para fazer uma diferença na
de 15% dos fundos de estímulo foram usados busca de sustentabilidade é preciso que haja
para apoiar o desenvolvimento de tecnologias uma desvinculação absoluta entre desempenho
de energia renovável e de baixa emissão de car- econômico e uso de insumos materiais. (Ver
bono, eficiência energética em construções, Quadro 1–1.)22
veículos com baixa emissão de carbono e ges- A transição para uma economia verde de-
tão dos recursos hídricos e de resíduos.19 pende tanto de mudanças sociais, políticas e
Diante da crise, foram desenvolvidos novos culturais como do desenvolvimento de novas
conceitos, como o Novo Acordo Global Verde tecnologias. Mark Halle, do Instituto Inter-
(Global Green New Deal). No Reino Unido, a nacional para o Desenvolvimento Sustentável,
New Economics Foundation publicou um rela- afirma que uma economia verde “não é sim-
tório pioneiro sobre o tópico, e o Programa das plesmente uma redecoração da economia tra-
Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) dicional com ornamentos verdes, mas uma
tornou-se um de seus principais defensores. O forma de organização econômica e definição
Pnuma encomendou importantes relatórios so- de prioridades substancialmente diferentes da-
bre empregos verdes e economia verde.20 quelas que têm dominado o pensamento eco-
Embora o termo “economia verde” esteja nômico nos países mais ricos durante as últi-
na moda, seu significado ainda está sujeito à mas décadas”.23
interpretação de governos, corporações e gru- Como as circunstâncias e as necessidades va-
pos da sociedade civil. O Pnuma define eco- riam amplamente, os países industrializados,
nomia verde de uma maneira bastante ampla – emergentes e em desenvolvimento têm dife-
aquela que resulta em “melhoria do bem-estar rentes concepções do que exatamente acarreta
e igualdade social, ao mesmo tempo em que uma economia verde – e como chegar lá. De
reduz significativamente os riscos ambientais e fato, alguns observadores em economias emer-
a escassez ecológica. Em sua expressão mais gentes e em desenvolvimento preocupam-se
simples, uma economia verde caracteriza-se com o fato de que as prescrições para a eco-
por baixa emissão de carbono, uso eficiente nomia verde poderiam ser usadas para justifi-
dos recursos naturais e inclusão social”. Se- car medidas que bloqueiam suas aspirações de
gundo o Pnuma, “o ‘esverdeamento’ da eco- desenvolvimento. Uma declaração em nome

8 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos

dos países do G77 alerta para o fato de que a misso com maior justiça na distribuição de re-
economia verde “não deveria levar a condi- cursos naturais e riqueza”.24
cionalidades, parâmetros ou padrões capazes A Figura 1-2, que reúne informações sobre
de gerar restrições injustificadas ou unilaterais desenvolvimento humano e pegada ecológica,
nas áreas de comércio, financiamento [ajuda mostra que a maioria dos países situa-se em
oficial ao desenvolvimento] ou outras formas um dos extremos do espectro: grande desen-
de assistência internacional, resultando em um volvimento alcançado sobre uma base insus-
‘protecionismo verde’”. “Um importante de- tentável ou baixa pegada à custa de privação
safio na conferência Rio 2012 será como tra- humana. Poucos países aproximam-se do
tar dessas preocupações, detalhando as ma- “quadrante de desenvolvimento sustentável”.25
neiras pelas quais pessoas em diferentes partes Uma economia verde precisa ser uma pers-
do mundo podem obter benefícios com uma pectiva atraente. Aspira-se a uma “prosperi-
economia mais verde e assumir um compro- dade sustentável” para todos – o resultado de

Quadro 1–1. O Papel da Desvinculação em uma Economia Verde

A desvinculação do bem-estar humano do Tudo isso terá de mudar no futuro.


consumo de recursos naturais constitui o cerne Felizmente, existem sinais de que alguns
da economia verde. Em geral, isso é medido em países já podem ter começado a trilhar
termos do uso de energia ou de insumos essa rota rumo à desvinculação. Dados
materiais por dólar de produto interno produto. estatísticos recentes mostram que, ao
De 1981 a 2010, a intensidade energética global menos no Reino Unido, a desvinculação
diminuiu cerca de 20% — ou 0,8% por ano. absoluta pode ter-se iniciado há uma
Porém, isso não significa necessariamente que o década. Em 2009, as necessidades totais
aumento do transumo físico nem dos impactos de insumos materiais do país
ambientais chegou ao fim. Na realidade, durante correspondiam a 81% do valor de 2001.
o mesmo período o consumo de energia subiu Para que a ideia de uma economia
para perto de 82% no mundo todo, passando de verde seja realmente levada a sério, a
6,6 bilhões de toneladas equivalentes de conclusão é de que o mundo, a começar
petróleo para 12 bilhões de toneladas. Portanto, pelos países mais desenvolvidos, deve se
nem mesmo uma taxa expressiva de engajar em uma discussão sobre a transição
desvinculação relativa leva necessariamente a para “prosperidade sem crescimento”.
uma desvinculação absoluta. Para que isso seja possível é preciso que
Isso também se aplica aos transumos haja uma mudança nas estruturas
materiais. Dessa forma, a falta de socioeconômicas de forma a garantir que
desvinculação relativa até mesmo na extração uma economia sem crescimento não
de metais essenciais como minério de ferro, signifique uma economia instável. Uma
bauxita, cobre e níquel é surpreendente. fonte de instabilidade é clara: os 20% mais
O consumo desses recursos naturais está ricos da população mundial respondem por
crescendo mais rapidamente que o PIB 77% do consumo privado total. A aceitação
mundial. Se algum dia a desvinculação e a implementação de prosperidade sem
absoluta entre PIB e produção se tornasse crescimento, portanto, requer uma mudança
uma realidade em todo o mundo, isso radical — uma luta imediata contra as
reforçaria a lógica de se limitar o transumo, desigualdades internacionais e sociais.
evidenciando que o uso de recursos —José Eli da Veiga
ambientalmente onerosos não é mais Universidade de São Paulo
essencial para gerar riqueza. Fonte: Ver nota 22 no final.

9
Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos ESTADO DO MUNDO 2012

um processo de desenvolvimento sustentável emissões de carbono. O Relatório do Desen-


que permita que todos os seres humanos con- volvimento Humano de 2011 observa que
sigam atender às suas necessidades básicas, vi- fornecer serviços básicos de energia moderna
ver com dignidade e ter inúmeras oportuni- para todos aumentaria as emissões de dióxido
dades de buscar uma vida satisfatória e feliz, de carbono em apenas 0,8% até 2030.26
tudo isso sem o risco de negar esse direito a to- Já em 1973, a noção de uma economia em
das as outras pessoas no presente e no futuro. estado estável (“steady-state”) foi analisada pelo
A classe consumidora mundial precisa re- economista Herman Daly. Desde então, mui-
duzir o consumo excessivo – mudando o foco tos outros estudos e propostas analisaram
do acúmulo de bens não duráveis e em sua como o ser humano pode alcançar bem-estar
maioria supérfluos que entram cada vez mais e felicidade sem um transumo material (“ma-
rápido no fluxo de resíduos. A redução do terial throughput”) cada vez maior, seja na
uso de recursos naturais abriria o espaço eco- forma de fabricação de produtos mais duráveis
lógico necessário para garantir que os pobres e reparáveis ou de reduções da jornada de tra-
não sofram as privações do subconsumo. E, le- balho e melhor divisão de trabalho compatíveis
vando-se em conta que o consumo excessivo com maior produtividade. Com o tempo, o es-
vem produzindo uma epidemia de obesidade, tado estável, sozinho, talvez não baste. Al-
isolamento social, poluição atmosférica, trân- guns analistas alegam que, para viver dentro
sito e muitas outras mazelas sociais, a redução dos limites da capacidade da Terra, os ricos
do consumo poderia ter um impacto positivo deste planeta precisam passar por um decres-
substancial também sobre o bem-estar da cimento. (Ver Capítulo 2).27
classe consumidora. A melhora da situação Embora os países industrializados tenham
econômica dos pobres do mundo não teria de uma grande responsabilidade, Saleemul Huq,
ocorrer às custas de um aumento maciço nas do Instituto Internacional para o Meio Am-

Figura 1-2 Índice de Desenvolvimento Humano e Pegada Ecológica dos Países, 2006

Fonte: Global Footprint Network


(Hectares globais por pessoa)

Limiar de um grande
Pegada ecológica

desenvolvimento humano

Média de biocapacidade global


disponível por pessoa, 1961*

Média de biocapacidade global


disponível por pessoa, 2006*
Quadrante de
desenvolvimento
sustentável

Índice de desenvolvimento humano


*Inclui a necessidade de espécies silvestres

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biente e o Desenvolvimento (IIED), afirma mento de água potável e serviços de sanea-


que, no final, as economias emergentes podem mento básico, melhorariam substancialmente
ter a chave para uma economia verde. Os paí- a saúde e a qualidade de vida das pessoas, além
ses emergentes, que estão passando por um de gerar empregos. O fornecimento descen-
grande crescimento econômico, começam a tralizado de energia limpa, inclusive por meio
aderir ao materialismo dos velhos países in- de minirredes e sistemas isolados ou autôno-
dustrializados. Mas eles ainda não estão to- mos (“off-grid”), pode gerar empregos e faci-
talmente presos a uma economia dependente litar o desenvolvimento de negócios locais.30
de combustível fóssil e podem avançar a pas- Expansão dos serviços básicos de energia,
sos largos rumo a tecnologias, estruturas e es- redes de transporte de baixa tecnologia, siste-
tilos de vida compatíveis com uma “vida sau- mas sanitários projetados ecologicamente e
dável", porém com pouco uso de materiais. melhores condições de moradia oferecem uma
Hug adverte que esses países só farão isso se vantagem dupla: além de melhorar o cotidiano
essa atitude for vista como uma oportunidade de bilhões de pessoas, reduz de modo signifi-
de desenvolvimento, e não como um fardo cativo seus impactos ecológicos. E essas mu-
que lhes foi imposto. Segundo o Centro de danças não precisam necessariamente estar as-
Cooperação Internacional da Universidade de sociadas a uma redução na oferta de empregos.
Nova York, as economias emergentes não são Pelo contrário, podem contribuir para uma
apenas “laboratórios do futuro”, mas também vida mais gratificante e mais significativa.
modelos que os países mais pobres em desen-
volvimento podem querer imitar.28
Os países em desenvolvimento têm grande
Empregos Verdes
interesse em trilhar o caminho de uma econo-
mia verde. Eles já enfrentam as repercussões da Um dos problemas da economia atual é
“economia marrom” na forma de grandes mu- que ela se baseia demasiadamente em recursos
danças climáticas. Em geral, os recursos natu- limitados e poluentes, como combustíveis fós-
rais e os serviços de ecossistemas representam seis, e muito pouco no seu recurso mais abun-
cerca de um quarto do PIB dos países mais po- dante – gente. Embora uma maior produtivi-
bres. Na Índia, o decil mais pobre da popula- dade laboral tenha sido, sem dúvida, um
ção participa com 57% do PIB do país por instrumento de progresso ao longo do tempo,
meio dos serviços ecossistêmicos (agricultura, a busca obstinada por essa produtividade está
pecuária, silvicultura e pesca). Com a manu- se transformando em uma maldição. De agora
tenção das práticas econômicas atuais, os ati- em diante, o progresso exigirá maior foco em
vos naturais que garantem a subsistência de produtividade de energia, materiais e água.
centenas de milhões de pobres correm um Para que a economia funcione para as pes-
risco cada vez maior devido às mudanças cli- soas, é fundamental garantir salários adequa-
máticas e a outras repercussões do colapso dos; portanto, a transição para uma economia
ecológico. Uma acesso mais sustentável e equi- verde requer atenção especial a bons empregos
tativo a moradia, transporte, energia e sanea- que contribuam para preservar ou restaurar a
mento básico poderia trazer grandes benefícios qualidade do meio ambiente.
em termos de redução da pobreza, mais saúde Hoje, os empregos verdes são encontrados,
e mais segurança.29 sobretudo, em um número relativamente pe-
Por exemplo, a implantação de gestão de queno de países líderes em P&D e investi-
resíduos e sistemas de reciclagem que elevam mentos verdes que adotaram políticas públicas
os padrões sanitários, bem como o forneci- ambientais inovadoras e conseguem apoiar-se

11
Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos ESTADO DO MUNDO 2012

em sólidas bases científicas e manufatureiras, e reduzam sua demanda de energia por inter-
bem como em uma força de trabalho prepa- médio de maior eficiência e esforços de con-
rada e capacitada. Países como Japão, Alema- servação, enquanto os pobres vão precisar de
nha, China e Brasil já têm o maior volume de energia mais limpa e em maior quantidade. As
empregos nos setores de energia renovável e duas dimensões dessa transição oferecem opor-
eficiência no uso de energia e materiais, bem tunidades de emprego. De modo geral, o se-
como em áreas afins. Mas um número cada vez tor energético é um empregador relativamente
maior de países está pleiteando uma participa- pequeno, apesar de seu efeito catalítico sobre
ção na economia verde. toda a economia. Mas as energias renováveis
Além disso, haverá maior oferta de empre- tendem a gerar mais empregos que o setor já
gos relacionados com instalação, operação e maduro e bastante automatizado de combus-
manutenção de equipamentos como placas de tível fóssil, e, do mesmo modo, a busca por efi-
energia solar, aerogeradores, materiais de iso- ciência energética também oferece mais opor-
lamento, veículos sobre trilhos ou equipa- tunidades de emprego que o aumento do
mento industrial eficiente, do que na área de suprimento de energia.32
“produção verde”. A energia renovável está se expandindo ra-
Economia sustentável exige solidariedade pidamente. De apenas US$7 bilhões em 1995,
e justiça social em cada país e entre os países, os investimentos mundiais subiram para
e não pode basear-se em uma política de US$243 bilhões em 2010, principalmente em
“verde para poucos” – com benefícios para energia eólica (US$96 bilhões) e energia solar
apenas alguns países, algumas empresas ou al- (US$89 bilhões). Quanto à energia renovável
guns trabalhadores. Pelo contrário, é necessá- total instalada (excluindo-se energia hidrelé-
ria uma estratégia de “verde para todos”, com trica), os países líderes são Estados Unidos,
novas abordagens na oferta de energia, trans- China, Alemanha, Espanha e Índia. (Se a ener-
portes, moradia e gerenciamento de resíduos gia hidrelétrica for incluída, Canadá e Brasil
que aliem mudanças técnicas e estruturais ao juntam-se ao grupo.) A Figura 1-3 apresenta
fortalecimento social. detalhes sobre a capacidade instalada em ener-
Energia. O uso de energia permeia prati- gia eólica, energia solar fotovoltaica e aqueci-
camente todas as atividades humanas na Terra, mento solar, bem como produção de bio-
e a enorme dependência de combustíveis fós- combustíveis.33
seis é a grande culpada pela poluição atmosfé- Em 2010, a energia eólica contribui, de
rica urbana e pelas mudanças climáticas. Em longe, com a maior parcela da capacidade de
2010, petróleo, gás e carvão representaram geração de energia renovável no mundo, se-
87% do uso de energia primária comercial. A guida por energia de biomassa e energia solar
energia proveniente de fontes renováveis (in- fotovoltaica. Esta última está ganhando im-
clusive energia hidrelétrica) contribuiu com pulso – a capacidade mundial aumentou a uma
8% e a energia nuclear, com 5%. Porém, muita taxa média anual de 49% entre 2005 e 2010,
gente nos países desenvolvidos luta com o comparado com 27% para energia eólica, 27%
problema de escassez de energia – acesso in- para energia solar concentrada e 16% para aque-
suficiente à energia de modo geral e depen- cimento solar de água. A produção de bioeta-
dência da biomassa tradicional, que é poluente nol cresceu 23% ao ano e a de biodiesel, 38%.34
(lenha, carvão, esterco e resíduos agrícolas).31 Atualmente, mais de cem países estão de-
Para que haja uma transição para a energia senvolvendo capacidade de produção de ener-
verde e equitativa é preciso que os indivíduos gia eólica. Os maiores fabricantes de aeroge-
mais ricos deixem de usar combustíveis fósseis radores estão sediados na China, na Dinamarca,

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Figura 1-3 Países Líderes no Uso de Energia Renovável, por Tipo, 2009/2010

Capacidade de geração de Capacidade de geração de energia


energia eólica, 2010 solar fotovoltaica, 2010

Restante China Restante


do mundo do mundo

Alemanha
EUA
Índia
EUA Itália
Espanha
japão
Alemanha
Espanha

Capacidade de aquecimento solar, 2009 Produção de biocombustíveis, 2010

Turquia
Brasil
Alemanha
China
Japão EUA
Grécia
Israel Alemanha
Brasil
Restante Áustria França
Restante
do mundo China
do mundo

Fonte. REN21

na Alemanha, nos Estados Unidos, na Espanha forço conjunto de treinamento de trabalha-


e na Índia. Em relação à capacidade instalada, dores voltado para esse setor.35
os lideres mundiais são China, Estados Uni- As empresas sediadas na China, em Taiwan,
dos, Alemanha, Espanha e Índia. Como de- nos Estados Unidos, na Alemanha e no Japão
monstrou a região de Navarra, na Espanha, a são líderes mundiais na fabricação de placas fo-
produção de energia eólica pode trazer bene- tovoltaicas. Mas até mesmo países que não
fícios locais substanciais. Navarra, que obtém produzem placas de energia solar oferecem
dois terços da sua eletricidade a partir de ener- importantes oportunidades de emprego nas
gias renováveis, conseguiu diminuir a taxa de áreas de venda, montagem, instalação e ma-
desemprego de 12,8 %, em 1993, para 4,8%, nutenção. Sistemas de energia solar fotovol-
em 2007 — isso foi resultado de uma política taica de pequeno porte já fornecem energia
industrial ativa elaborada para aumentar a ca- para milhões de famílias nos países em desen-
pacidade da energia eólica e também de um es- volvimento, e fogões e lanternas solares ofe-

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Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos ESTADO DO MUNDO 2012

recem uma série de vantagens. Em Bangla- cas contribui com outros milhões de empre-
desh, programas de microcrédito ajudaram a gos. Porém, levando-se em conta que a ener-
ampliar o uso de sistemas de energia solar de gia renovável ainda representa apenas uma pe-
320 mil casas, em 2009, para 1,1 milhão de ca- quena parcela do uso total de energia, o
sas até agosto de 2011.36 número de pessoas que já trabalham nessa
A produção de biocombustíveis está em ex- área é animador.39
pansão, apesar da polêmica sobre produção Transportes. O setor de transportes, sobre-
de biocombustíveis versus produção de ali- tudo os quase um bilhão de veículos automo-
mentos e também se esses combustíveis ofe- tivos que transitam pelo mundo, é responsável
receriam ou não uma vantagem real em rela- por mais de metade do consumo global de
ção à emissão de carbono comparado com os combustível fóssil líquido. Responsável por
combustíveis fósseis. Juntos, etanol e biodie- aproximadamente um quarto das emissões de
sel representaram 2,7% dos combustíveis usa- dióxido de carbono relacionadas à energia, com
dos em veículos automotivos em todo o os níveis de emissão subindo mais rápido que os
mundo no ano de 2010. O Brasil tem, dispa- de qualquer outro setor econômico, o setor de
radamente, o maior setor de bioetanol do transportes contribui significativamente para as
mundo. Cerca de meio milhão de pessoas tra- mudanças climáticas. Seus outros impactos são
balham no cultivo de cana-de-açúcar para pro- poluição atmosférica urbana, acidentes, con-
dução de biocombustíveis, e outras 190 mil, gestionamentos, poluição sonora e obesidade.
no processamento de cana-de-açúcar em eta- As dimensões sociais merecem a mesma aten-
nol. O biogás também está crescendo em im- ção: nos lugares com grande dependência de
portância; mais de 44 milhões de famílias em automóveis particulares e com pouca ou ne-
todo o mundo dependem de biodigestores nhuma opção de transporte público, pode ser
para a produção de biogás – em escala comu- caro, e talvez impossível, para as pessoas terem
nitária ou familiar – para suprir suas necessi- acesso a empregos e meios de subsistência sem
dades de iluminação e preparação de alimentos. carro. (Ver também Capítulo 4.)40
A China é líder mundial, mas os gaseificadores Os esforços no sentido de reduzir a pegada
para geração de calor também são cada vez ecológica do transporte concentraram-se prin-
mais usados na Índia e em outros países.37 cipalmente em medidas tecnológicas para au-
Embora não haja uma coleta sistemática de mentar a eficiência dos combustíveis automo-
dados sobre emprego e ainda existam lacunas, o tivos, adotar combustíveis alternativos e
número de trabalhos relacionados com energia desenvolver veículos híbridos e elétricos. Em-
renovável está aumentando rapidamente em bora a eficiência dos combustíveis automotivos
todo o mundo. Uma estimativa aproximada in- venha aumentando nos últimos anos, os mo-
dica pelo menos 4,3 milhões de empregos dire- delos realmente eficientes ainda não chegam
tos e indiretos (isto é, cadeia de suprimentos); perto nem de um décimo do total de vendas,
em 2008, esse número era de 2,3 milhões. Essa e os veículos híbridos e elétricos representam
estimativa está incompleta e não representa o to- atualmente menos de 3%.41
tal de empregos ou meios de sustento relacio- Diversos países estão depositando suas es-
nados a muitos projetos rurais de energia.38 peranças no desenvolvimento de biocombus-
O setor de energia renovável ainda oferece tíveis. Atualmente, o Brasil produz quase ex-
menos empregos que o de combustível fóssil. clusivamente veículos “flex” que funcionam
A extração de petróleo, gás e carvão emprega com qualquer mistura de gasolina e etanol, e
mais de dez milhões de pessoas, e o uso des- espera converter toda a sua frota nos próximos
ses recursos energéticos em usinas termelétri- vinte anos. Mais de 80 países, muitos deles po-

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos

bres, decidiram buscar outra alternativa: veí- sido realizados estudos abrangentes sobre as
culos movidos a gás natural (em geral gás na- implicações de uma mudança modal de longo
tural comprimido ou GNC), cuja combustão alcance na questão do emprego, alguns nú-
é mais limpa do que a da gasolina. Paquistão, meros brutos indicam a situação atual. O setor
Irã, Argentina, Brasil e Índia têm três quartos de fabricação de veículos emprega diretamente
da frota mundial de veículos movidos a GNC, mais de oito milhões de pessoas em todo o
que em 2010 girava em torno de 13 milhões.42 mundo, e esses números são muito maiores
Mas essas medidas isoladas são insuficientes quando se leva em conta a cadeia de supri-
diante do número crescente de veículos e das mentos. Em comparação, hoje em dia poucas
maiores distâncias percorridas. Os países ricos, pessoas trabalham diretamente no setor de fa-
em particular, precisam reduzir a sua grande de- bricação de veículos sobre trilhos – cerca de
pendência de carros. Além disso, outros países meio milhão. Um grande número de pessoas
já estão imitando ou pensando em desenvolver trabalha na operação de sistemas de transporte
um sistema centrado em automóveis, em geral público: mais de 7,6 milhões no transporte ur-
às custas de grande poluição e congestiona- bano de massa e 7,1 milhões no transporte fer-
mentos nas cidades. Sobretudo em sociedades roviário de passageiros e de cargas.43
pobres, os gastos públicos para pagar as despe- Há algumas mudanças animadoras em
sas dos sistemas de transportes centrados em curso, e todas estão gerando mais empregos na
carros acentuam as disparidades sociais. Os gas- operação dos sistemas de transporte público.
tos com rodovias inviabilizam a implantação A utilização de transporte público urbano e
de outras infraestruturas públicas necessárias e transporte ferroviário interurbano está au-
marginalizam aqueles que não têm condições mentando no mundo inteiro, assim como os
de comprar um carro. investimentos nesses meios de transporte. O
Tanto nos países ricos como nos países po- interesse por trens de alta velocidade também
bres, um sistema de transporte público confiá- têm aumentado. Japão, França, Espanha e
vel e econômico é fundamental para promover China estão na dianteira, mas espera-se que o
maior justiça social. Sistemas de transporte mal número de países que utilizam esses trens suba
planejados ou mal projetados e espraiamento de 14, em meados de 2011, para 24 nos pró-
urbano desnecessário podem dificultar e tornar ximos anos. A implantação em larga escala de
oneroso o acesso ao emprego, principalmente sistemas de ônibus expressos (BRT, na sigla em
para as famílias de baixa renda, tanto de países inglês) foi feita pela primeira vez em Curitiba,
ricos como de países pobres, que têm de alocar Brasil, em 1974. Desde a década de 1990,
uma parte desproporcional de sua escassa renda esse conceito está se disseminando para um
para cobrir os gastos com transporte. número cada vez maior de cidades. Calcula-se
Uma política mais voltada para o futuro que, em 2005, 70 sistemas de ônibus expres-
procura atingir maior equilíbrio de meios de sos estavam em operação em todo o mundo.44
transporte, estimulando o transporte público Edificações. As edificações respondem por
nas cidades e o transporte ferroviário em via- aproximadamente um terço do uso final da
gens interurbanas. Evitando o espraiamento energia, e quase 60% da eletricidade do mundo
urbano e limitando as distâncias que devem ser é consumida em edifícios residenciais e co-
percorridas por pessoas e cargas, opções como merciais. Admitindo-se a premissa de que não
transporte público, caminhada e uso de bici- haja novas maneiras de agir nesse campo, as
cletas tornam-se mais viáveis. projeções apontam para um aumento da de-
Tais mudanças afetam a força de trabalho manda de energia de um edifício na ordem de
do setor de transportes. Embora não tenham 60% até 2050. No entanto, esse setor também

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Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos ESTADO DO MUNDO 2012

oferece um enorme potencial para economias desproporcional da sua renda em energia; por-
significativas em energia e reduções de emissão tanto, fornecer mais moradias com maior efi-
de carbono por meio de materiais de constru- ciência energética pode constituir um instru-
ção mais apropriados e maior isolamento em mento contra a pobreza. Mas as famílias
janelas e coberturas, bem como na utilização pobres precisarão de ajuda oficial e subsídios
de sistemas de aquecimento e resfriamento, para ajudá-las a climatizar ou fazer outras me-
iluminação, eletrodomésticos e equipamentos lhorias em suas casas.47
mais eficientes.45 Em princípio, programas que usam mão de
O setor de construção civil também tem obra intensiva para melhorar os aspectos so-
grande importância como empregador. Na cioambientais das moradias e da infraestru-
maioria dos países, é responsável por 5% a 10% tura urbana poderiam gerar grandes números
de todos os empregos, embora muitas vezes de empregos verdes – por meio da construção
haja grandes variações sazonais. Em todo o de novos prédios e da modernização dos exis-
mundo, pelo menos 111 milhões de pessoas tentes, da produção de materiais de isolamento
trabalham nesse setor. Porém, como o setor é e componentes eficientes de construção, como
altamente fragmentado e muitos trabalhadores janelas, aparelhos de aquecimento e resfria-
estão na informalidade e não são computados mento e eletrodomésticos. Estudos realizados
nas estatísticas oficiais, o número real deve ser em vários países confirmam que há muitas ma-
muito mais alto.46 neiras de tornar as construções existentes mais
A reforma e a modernização de edifícios sustentáveis, ou verdes, e gerar mais empregos;
existentes tendem a ter maior importância nos esses estudos revelam também que mais vagas
países industrializados com grande número de de trabalho são criadas do que perdidas nos se-
construções e baixa taxa de crescimento de- tores de grande consumo energético que pro-
mográfico. Nos países em desenvolvimento, duzem insumos como cimento.48
em contrapartida, o “esverdeamento” de no- Nos últimos anos houve certo progresso
vas construções é muito importante, sobre- no “esverdeamento” de construções, embora
tudo na China e na Índia, onde as economias seja difícil chegar a qualquer estatística mun-
estão em franca expansão e os habitantes das dial. Embora padronizações como a certifica-
zonas rurais estão migrando para as cidades em ção LEED nos Estados Unidos fossem repro-
busca de trabalho. Nesses países, são comuns duzidas em diversos países, não existe um
moradias informais e muitas vezes precárias; as consenso mundial sobre a definição de edifí-
melhorias dos padrões de saúde e segurança cios “verdes”. Além disso, é preciso levar em
são tão urgentes quanto a necessidade de tor- conta uma ampla variedade de circunstâncias
nar mais sustentáveis as construções existentes. climáticas e de outra natureza que requerem
A proporção da população urbana que vivia uma série de padrões diferenciados. Nos Esta-
em favelas nos países em desenvolvimento di- dos Unidos, calcula-se que 10% a 12% das no-
minuiu de 39% em 2000 para 32% em 2010. vas construções comerciais e 6% a 10% das
Mas o número absoluto de moradores de fa- novas construções residenciais sejam sustentá-
velas cresceu paralelamente à expansão popu- veis – esses números indicam que ainda há
lacional. Na África subsaariana, mais de 60% da um enorme potencial a ser explorado.49
população urbana mora em favelas – o dobro Normas e políticas públicas podem ajudar a
do número nos países asiáticos em desenvol- tornar as construções mais sustentáveis, tais
vimento e uma porcentagem muito mais alta como códigos de edificações, programas para
do que a da América Latina, que é de 24%. As aquisição de materiais sustentáveis, padrões para
famílias pobres em geral gastam uma parte eletrodomésticos; requisitos de uso eficiente de

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos

água, fiscalizações obrigatórias, etc. (Ver


Capítulo 10 para saber mais sobre as
políticas.)
Na União Europeia, a Diretiva para
o Desempenho Energético de Edifí-
cios (EPBD) exige a apresentação de
um certificado de desempenho ener-
gético aos compradores ou locatários
de imóveis. A Comissão Europeia acre-
dita que, até o ano 2020, poderão ser
criados cerca de 280 mil a 450 mil no-

Calderoliver
vos empregos, principalmente de audi-
tores e certificadores de energia e fiscais
de sistemas de aquecimento e ar-con-
dicionado, tanto no setor de constru- Primeiro edifício de uso misto a receber a certificação LEED
ção civil quanto nos setores que pro- Platinum no sul da Califórnia
duzem materiais e produtos necessários
para melhorar o desempenho energético dos Unidos, onde a Iniciativa de Melhores Cons-
edifícios. As projeções da Eurima, Associação truções (Better Buildings Initiative) poderia
Europeia de Fabricantes de Isolamento, são criar 114 mil empregos.51
mais otimistas. Segundo essa associação, o nú- O “esverdeamento” do setor de construção
mero de empregos novos vai variar de 274 mil requer trabalhadores e profissionais devida-
a 856 mil. Além disso, segundo um estudo mente treinados, como arquitetos. Dinamarca,
feito pelo European Trade Union Congress e Bruxelas, na Bélgica, Cingapura e Tailândia es-
outros órgãos, até 2030 poderão ser criados tão entre os países que desenvolveram pro-
até 2,59 milhões de empregos.50 gramas de capacitação. Em muitos países em
Alguns fundos de estímulo aprovados por desenvolvimento ainda há escassez de pessoal
diversos países para enfrentar a crise econômica capacitado nessa área. Na Índia, por exemplo,
foram direcionados para edificações sustentá- mais de 80% da força de trabalho do setor de
veis. Estima-se que 13% do pacote de estí- construção é composta por mão de obra não
mulo de mais de US$100 bilhões da Alema- qualificada.52
nha crie por volta de 25 mil empregos no Reciclagem. A economia marrom baseia-se
setor de construção civil e fabricação de ma- na extração de recursos naturais em larga escala.
teriais para modernização de edifícios. Isso se Durante o século 20, a extração de minérios e
baseia em uma história anterior de sucesso na minerais aumentou 27 vezes, ultrapassando a
Alemanha, em que recursos públicos destina- taxa do crescimento econômico. Agora que os
dos à modernização de apartamentos e edifí- depósitos de fácil extração já se encontram pra-
cios geraram gastos privados substanciais equi- ticamente exauridos, os impactos ambientais da
valentes a US$26 bilhões. Até 2008, cerca de mineração tendem a ser maiores. É preciso re-
280 mil unidades tinham sido reformadas e mover aproximadamente três vezes mais rochas
cerca de 220 mil empregos foram criados ou e outros materiais do que há um século para ex-
deixaram de ser extintos — em uma época em trair a mesma quantidade de minério. Uma
que o setor de construção enfrentava recessão “economia do descarte” indica que os fluxos de
e uma perspectiva de dispensas em massa. A resíduos continuam se expandindo paralela-
mesma coisa poderia acontecer nos Estados mente à mineração. Em 2010, cerca de 11 bi-

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Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos ESTADO DO MUNDO 2012

lhões de toneladas de resíduos sólidos foram co- leta e reciclagem de resíduos fazem parte da
letadas em todo mundo (e uma quantidade economia informal.56
ainda maior foi gerada, embora não se saiba ao As pessoas que manipulam resíduos de li-
certo a quantidade real).53 xões enfrentam condições de trabalho perigosas:
A gestão do lixo geralmente se limita a des- ficam expostas a várias toxinas e podem contrair
carte em aterros sanitários, incineração e envio doenças intestinais, parasíticas e cutâneas. Os ga-
para outros países, legal ou ilicitamente. Tais nhos são baixos e flutuantes. Além disso, os go-
práticas exercem impactos negativos nas co- vernos municipais costumam considerar os ca-
munidades adjacentes, tanto em termos am- tadores como dispensáveis, frequentemente
bientais como de saúde. Por outro lado, reci- ignorando-os na formulação de políticas ou até
clagem, reutilização e remanufatura de mesmo hostilizando-os ou perseguindo-os.57
produtos permitem reduzir a extração de ma- Segundo uma estimativa mencionada com
deira e mineração; economizam quantidades frequência, o número de catadores informais é
substanciais de energia e água com a substi- de 1% da população urbana dos países em de-
tuição do processamento de matérias-primas e senvolvimento. Em termos absolutos, o nú-
maior uso de material de sucata; e evitam a mero citado na literatura é de aproximada-
contaminação do ar, da água e do solo asso- mente 15 milhões. Matematicamente, 1%
ciada ao descarte de resíduos. Mais de um bi- hoje representa até 26 milhões de pessoas. Es-
lhão de toneladas de metais, papel, borracha, ses números, porém, não passam de conjectu-
plásticos, vidro e outros materiais são recicla- ras baseadas em informações disponíveis.58
dos anualmente. Porém, isso representa apenas Com a formação de cooperativas locais e na-
1/10 da quantidade de resíduos coletados.54 cionais, os catadores de resíduos estão se tor-
A reciclagem é vantajosa também da pers- nando mais organizados na luta pela legaliza-
pectiva de trabalho. Em termos de toneladas, a ção, pela melhora de seu status social e por
separação e o processamento de materiais reci- melhores condições de negociação perante as
cláveis geram dez vezes mais empregos que os municipalidades e intermediários poderosos. O
aterros sanitários ou a incineração, e a fabrica- Brasil tem o grupo mais avançado. Na década
ção de novos produtos a partir de materiais ou de 1980, depois de anos de esforços de orga-
equipamentos reciclados emprega ainda mais nização, surgiu o Movimento Nacional dos Ca-
gente que a separação de materiais recicláveis. tadores de Materiais Recicláveis em Porto Ale-
Em países industrializados, a reciclagem é um gre e São Paulo. Durante a década passada, a
setor formal, em geral com alto grau de auto- legislação brasileira garantiu um apoio cada vez
matização. Nos Estados Unidos, o trabalho di- maior à coleta de resíduos, que foi reconhecida
reto e indireto em reciclagem representa apro- como uma ocupação legítima. Em 2010, uma
ximadamente 1,4 milhão de empregos, e na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)
União Europeia, cerca de 1,6 milhão.55 determinou que os catadores informais fossem
Nos países em desenvolvimento, os catado- incluídos nos programas municipais de recicla-
res de lixo informais coletam uma quantidade gem. O abrangente plano nacional de redução
muito maior de materiais recicláveis do que as da pobreza (Brasil Sem Miséria), lançado em ju-
empresas de gestão de resíduos. Nas áreas ur- nho de 2011, oferece treinamento e infraes-
banas desses países, a coleta de resíduos sólidos trutura aos catadores de resíduos, com o obje-
quase sempre é insuficiente ou inexistente. tivo de garantir sua inclusão socioeconômica em
Em geral, os resíduos acabam sendo jogados 260 municípios.59
nas ruas, nos campos e nos rios, assim como Em várias partes do mundo, as duas últimas
em lixões. Muitas das pessoas envolvidas na co- décadas testemunharam o reconhecimento le-

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gal cada vez maior dos catadores de resíduos, Ambiente da Alemanha faz há vários anos no
à medida que as atitudes mudam gradual- setor de energia renovável) podem ajudar a ge-
mente, fortalecendo sua organização, integra- rar dados anuais regularmente. Os dados sobre
ção aos sistemas municipais de gestão de resí- empregos verdes precisam ser incorporados às
duos e inclusão social. Isso resultou em estatísticas econômicas nacionais.
aumento dos ganhos e em alguns benefícios A escassez de pessoal especializado pode di-
sociais. Porém, Chris Bonner, no artigo Wo- ficultar o surgimento de uma economia verde.
men in Informal Employment: Globalizing and Para evitar isso, os governos deveriam patroci-
Organizing (WIEGO), alerta que “Os ganhos nar uma série de programas de treinamento.
obtidos pelos trabalhadores da economia in- Uma ideia seria empreender um exercício na-
formal costumam ser de caráter temporário. cional de mapeamento de competências fun-
Eles travam uma luta contínua não só para me- cionais com o objetivo de definir perfis de com-
lhorar sua situação, mas muitas vezes para sim- petências verdes para cada setor, identificar os
plesmente manter o que já conseguiram”.60 pontos fortes e as lacunas na base atual e ela-
A crise econômica global está afetando a de- borar um plano para superar as defasagens
manda e o preço de mercado dos materiais re- (como fez o governo de Navarra, na Espanha).
cicláveis, fazendo com que mais gente passe a Os governos também podem estabelecer ou
depender da coleta de resíduos devido à falta facilitar a criação de centros de treinamento
de empregos na economia formal. Entre os de- verdes, bem como estimular as empresas priva-
safios que isso representa estão: as tentativas de das e instituições de ensino a incorporar com-
privatizar a gestão de resíduos, deixando à petências verdes aos seus cursos, estágios e ou-
margem os catadores e suas organizações; e o tros tipos de treinamento no local de trabalho.
surgimento de novos fluxos de resíduos – par- Os governos devem garantir que ambos os se-
ticularmente lixo elétrico e eletrônico — que xos, assim como as comunidades desfavoreci-
expõem os catadores a novos riscos ocupacio- das, tenham acesso aos cursos.
nais e de saúde e exigem maior nível de trei- Empregos verdes não são, necessária ou au-
namento (como aprender a desmontar com se- tomaticamente, empregos “dignos”. Para es-
gurança produtos residuais elétricos e tabelecer padrões de trabalho digno e garan-
eletrônicos) e equipamento adequado.61 tir inclusão social, é preciso que haja um
diálogo efetivo entre empregadores e empre-
gados, inclusive negociação coletiva e parcerias
Geração de Empregos Verdes público-privadas mais amplas. Pode ser neces-
no Mundo Todo sária uma ação governamental no sentido de
estabelecer padrões salariais dignos, bem como
Para ampliar o conhecimento sobre as ten- normas de saúde e segurança no trabalho, e fis-
dências e os avanços alcançados em relação aos calizar sua aplicação. Os governos podem tam-
empregos verdes, os governos precisam ela- bém ter que aprovar legislação sobre inclusão
borar definições e critérios detalhados para social (como fez o Brasil em relação aos cata-
cada setor (como tem feito a Agência de Es- dores informais de materiais recicláveis).
tatísticas do Trabalho dos Estados Unidos). Até o momento, o surgimento de empregos
Em termos mundiais, seria bom estabelecer verdes não afetou os empregos em indústrias
padrões e certificações para os empregos ver- poluentes. Porém, com o passar do tempo e
des com a finalidade de comparar os dados dos com a transição para uma economia verde, essas
países. Pesquisas setoriais ou modelos insumo- indústrias inevitavelmente vão “encolher” e, tal-
produto (como os que o ministério do Meio vez, até desaparecer por completo. Os governos

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Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos ESTADO DO MUNDO 2012

devem tomar medidas pró-ativas para criar e pa- lugares. Já existe uma competição intensa en-
trocinar programas de “transição justa” para os tre fabricantes de tecnologias e produtos ver-
empregados e comunidades afetadas, oferecendo des, como, por exemplo, energia eólica e so-
requalificação profissional e, se necessário, auxi- lar, assim como políticas governamentais
liando na recolocação no mercado de trabalho, impregnadas de mercantilismo e protecio-
para que as pessoas encontrem novos meios de nismo verdes. (Veja o Quadro 1–2.)62
subsistência na emergente economia verde. O desenvolvimento de modelos cooperati-
A natureza dos empregos verdes variará de vos é fundamental para garantir avanços verdes
acordo com o setor econômico e, até certo que beneficiem a todos. Portanto, um slogan
ponto, de país para país. Assim sendo, os deta- simples poderia ser “evitar perdedores”. Em
lhes da experiência dos empregos verdes natu- vista das vulnerabilidades ambientais que afe-
ralmente também vão variar até certo ponto. tam a todos num pequeno planeta cada vez
Todavia, para facilitar a difusão das tecnologias mais povoado e cujos recursos naturais estão se
e métodos verdes, é importante compartilhar as exaurindo, é preciso reconhecer que os vence-
lições aprendidas — inovações nas políticas e dores perderão caso os perdedores não ganhem.
planos estratégicos que deram certo — da ma- Para os ricos da Terra, a necessidade de uma
neira mais abrangente possível. Nesse contexto, ação de “esverdeamento” é diferente daquela
o papel das Nações Unidas pode ser valioso na dos que aspiram a ser mais ricos ou que lutam
instituição de uma Unidade de Melhores Prá- contra a pobreza. Em termos relativos, em uma
ticas de Empregos Verdes (com subsídios do economia verde o pobre tem que sair ganhando
Pnuma e da OIT – Organização Internacional mais do que o rico para poder reduzir e, com o
do Trabalho). Além disso, um Grupo de Coor- tempo, superar as enormes diferenças no uso
denação do Programa de Empregos Verdes das dos recursos naturais remanescentes do pla-
Nações Unidas poderia garantir a padronização neta. A sustentabilidade ambiental é, em última
das políticas entre os diversos órgãos. Um con- análise, algo impossível de se alcançar sem jus-
selho consultivo formado por especialistas e re- tiça social. Ou seja, é preciso que os ricos re-
presentantes de empresas, dos trabalhadores e duzam seu nível de consumo de bens e insumos
da sociedade civil poderia ajudar a realizar esse materiais em termos absolutos.
trabalho e analisar os principais avanços, opor- As condições socioambientais atingiram um
tunidades e desafios. estado tal que exigem uma completa ruptura
com as soluções convencionais. Uma das prin-
cipais necessidades é reequilibrar as ações pú-
Uma Nova Solidariedade Global blico-privadas. Desde a primeira conferência
realizada no Rio, em 1992, muito tempo e es-
É preciso que haja uma nova solidariedade forço foram empregados para que as forças de
global voltada para a sustentabilidade, garan- mercado impulsionassem o “esverdeamento”
tindo que ninguém – nenhum país, nenhuma da economia. As forças de mercado só funcio-
comunidade, nenhum indivíduo – seja dei- nam quando devidamente regulamentadas.
xado de fora. Ao contrário dos padrões con- Do contrário, tendem para o excesso, criam
vencionais da competição econômica que pro- “externalidades” e ignoram a justiça social.
duz vencedores e perdedores – e na realidade, Nos últimos 20 anos houve certa omissão na
isso é o que se espera mesmo dela, a finalidade formulação de políticas públicas. Chegou a
de uma economia verde deve ser a de garantir hora de retomar essa responsabilidade. É pre-
resultados favoráveis para todos, gerando ati- ciso reconhecer que “mobilizar” o mercado
vidades econômicas sustentáveis em todos os requer mais políticas públicas, e não menos.

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos

Quadro 1–2. Energia Renovável e Controvérsias Comerciais

Controvérsia entre EUA e China sobre subsídios de atacado das placas caíram de US$ 3,30 por
para energia eólica. Em setembro de 2010, o watt de capacidade em 2008 para US$1,20 em
sindicato dos metalúrgicos americano apresentou outubro de 2011 – um fator fundamental na
uma queixa ao governo Obama, afirmando que a discutidíssima quebra do fabricante Solyndra
China havia fornecido milhões de dólares em dos Estados Unidos. Os fabricantes de placas
subsídios ilegais aos fabricantes locais de turbinas de energia solar chineses podem transferir
eólicas que concordassem em usar componentes algumas de suas operações para os Estados
básicos chineses em vez de peças importadas. Unidos, numa tentativa de escapar das
O sindicato alegou que essa era uma vantagem medidas protecionistas. A imposição de tarifas
injusta que minava a competitividade das poderia também desencadear a retaliação
empresas americanas no mercado chinês. chinesa: em vez de comprar matérias-primas
O governo dos Estados Unidos concordou em dos Estados Unidos para a produção das
analisar o caso e, posteriormente, protocolou placas, a China poderia importá-las de
uma queixa formal na Organização Mundial do fornecedores alemães. As autoridades chinesas
Comércio (OMC). Depois de consultas, em junho alegam que as exorbitantes tarifas
de 2011 a China comprometeu-se a suspender seu prejudicariam o desenvolvimento cooperativo
programa de subsídios à energia eólica. de energia solar, enfraquecendo o incentivo
Os críticos, porém, alegaram que os metalúrgicos global à energia limpa.
deveriam forçar seu próprio governo a buscar Controvérsia entre Japão e Ontário sobre o
estratégias mais ambiciosas, inclusive a adotar programa FIT de energia renovável.
uma meta nacional de energia renovável. Em setembro de 2010, o Japão apresentou uma
As controvérsias comerciais entre Estados Unidos queixa à OMC contra o programa feed-in tariffs
e China poderão retardar o desenvolvimento de (FIT, na sigla em inglês) imposto por Ontário
tecnologias de energia renovável no futuro. em 2009, que oferecia aos fabricantes de
A divergência poderia também ser usada para dar energia renovável uma taxa mais alta do que a
início a uma discussão sobre a necessidade de a que recebem os fornecedores de eletricidade
OMC legalizar e regulamentar os subsídios para convencional durante um período de 20 anos.
energia alternativa. O programa FIT, vinculado a uma exigência de
Controvérsia comercial entre EUA e China conteúdo local da ordem de 50% em 2010 e de
sobre energia solar. Em outubro de 2011, sete 60% em 2011, criou 13 mil empregos e, até
fabricantes de placas de energia solar dos Estados agora, atraiu US$20 bilhões de investimentos
Unidos protocolaram uma queixa contra o setor do setor privado. As empresas japonesas que
de energia solar da China, acusando-o de receber não observam a regra de conteúdo local alegam
subsídios governamentais ilegais e inundar o que ela é discriminatória e que o programa FIT
mercado americano com placas prontas estimula os subsídios de substituição de
fornecidas a um custo insignificante. A queixa importações que, pelas regras da OMC, são
apresentada ao Departamento de Comércio e à ilegais. O programa FIT foi objeto de exame
Comissão de Comércio Internacional exigia que o minucioso por parte do Acordo Norte-
governo dos Estados Unidos impusesse tarifas Americano de Livre-Comércio, e a União
altas — mais de 100% do preço de importação Europeia apoiou a queixa do Japão, alegando
de atacado — para as placas de energia solar que o programa FIT “viola nitidamente as
chinesas. Nos primeiros oito meses de 2011, a regras da OMC”. A ironia é que, em agosto de
China exportou US$1,6 bilhão em placas de 2011, o Japão aprovou a sua própria legislação
energia solar para os Estados Unidos. Só em 2010 FIT, uma política impulsionada em parte pela
o Banco de Desenvolvimento Chinês forneceu decisão do governo japonês de reduzir a
US$30 bilhões em empréstimos a juros baixos dependência da energia nuclear como
para os fabricantes de placas de energia solar, o resultado do desastre em Fukushima.
que ajudou a China a reivindicar para si o título de —Miki Kobayashi
principal exportador do setor. Com isso, os preços Fonte: Ver nota 62 no final.

21
Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos ESTADO DO MUNDO 2012

As políticas mencionadas abaixo são apenas vos ainda maiores se fosse associado a uma po-
algumas sugestões – elas indicam os tipos de lítica social que combatesse o nivelamento por
abordagens que poderiam ajudar a humani- baixo dos salários em todo o mundo.64
dade a alcançar sustentabilidade com justiça. Financiamento Verde. Os produtos inefi-
Rede de Centros Cooperativos de “Inovações cientes têm a vantagem de parecer baratos. Por
Verdes”. Para difundir as inovações verdes é outro lado, devido ao seu custo inicial elevado,
preciso criar modelos cooperativos de P&D os produtos “verdes” podem parecer proibitivos
(pesquisa e desenvolvimento) e tecnologias vol- (embora ao longo de sua vida útil representem
tadas para a sustentabilidade. A Pesquisa Eco- economia para os consumidores). A redução
nômica e Social Global de 2011, por exemplo, ou a eliminação dessa desvantagem é uma tarefa
cita a bem-sucedida experiência do Grupo Con- fundamental para facilitar a transição para uma
sultivo em Pesquisa Agrícola Internacional economia verde. Isso seria possível com o auxí-
(CGIAR) como exemplo de como promover a lio de um programa governamental de finan-
difusão rápida de novas tecnologias pelo mundo ciamento verde que oferecesse taxas de juros e
todo por meio de uma rede de instituições de condições de empréstimos diferenciadas para os
pesquisa patrocinadas pelo setor público. Este produtos verdes. Os financiamentos verdes se-
modelo poderia ser adaptado, e a Pesquisa su- riam ainda mais eficientes se fossem associados
gere que uma administração internacional leve a uma abordagem Top Runner — se os mode-
em consideração “o acesso especial e diferen- los mais eficientes também tivessem as melhores
ciado às novas tecnologias de acordo com o ní- condições de empréstimos.
vel de desenvolvimento” e que os direitos de Durabilidade, Reparabilidade e Capaci-
propriedade intelectual sejam alterados de dade de Atualização. As políticas fiscal e de
modo a abranger a rápida divulgação de ideias subsídios não diferenciam os produtos segundo
sobre inovações verdes.63 a maneira como eles são fabricados. Na reali-
Programa Top Runner Global. Uma ma- dade, a economia ortodoxa parte do princípio
neira de utilizar as forças de mercado em prol da de que é preferível um produto não durável,
sustentabilidade é por meio de uma abordagem uma vez que precisará ser substituído mais rapi-
adotada pelo Japão, o programa Top Runner damente, ajudando, assim, a aumentar a ativi-
criado em 1998, que ajudou a tornar a econo- dade econômica. Em uma economia verde, as
mia japonesa uma das mais eficientes do mundo. políticas fiscal e de subsídios deveriam garantir
O programa determina padrões de eficiência tratamento preferencial a produtos duráveis que
para uma série de produtos que, coletivamente, possam ser consertados e atualizados.
respondem por mais de 70% do uso de energia Produtividade Energética e de Materiais.
elétrica residencial. Os produtos de determi- Da mesma forma, as políticas fiscal e de subsí-
nada categoria são testados periodicamente por dios, assim como outras políticas públicas, po-
comitês consultivos compostos por intelectuais, deriam ser estruturadas de forma tal que fosse
representantes da indústria, consumidores, go- dada preferência a empresas que se esmeram em
vernos locais e meios de comunicação de massa aumentar a produtividade energética e de ma-
para determinar qual é o modelo mais eficiente. teriais de suas operações. De certa forma, isso
Esse modelo passa a ser a nova referência para poderia ser feito tendo como base a abordagem
todos os fabricantes, estimulando um processo Top Runner, estabelecendo-se padrões para
de inovação e aprimoramento contínuos. A ado- cada setor da indústria de transformação e ava-
ção desse tipo de abordagem em nível global po- liando-se o desempenho periodicamente.
deria promover um rápido avanço em direção à Definição de preços para um bem-estar sus-
sustentabilidade. Isso poderia ter efeitos positi- tentável. Na economia atual, os consumidores

22 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Fazer a Economia Verde Funcionar para Todos

que adquirem quantidades maiores de determi- que a população. Ainda assim, a grande maio-
nado produto costumam receber descontos, o ria das pessoas não tem controle sobre muitas
que estimula o consumo seja qual for a necessi- empresas que têm operações no mundo inteiro
dade. Uma economia verde deveria adotar um e atropelam o processo democrático, alegando
sistema inverso de definição de preços. Esse sis- terem se tornado “grandes demais para que-
tema permitiria que as pessoas consumissem brar”. As empresas mais sensíveis às necessi-
quantidades compatíveis com suas necessidades dades e aos interesses de seus funcionários e
básicas e com uma vida digna a preços acessíveis. das comunidades a que servem poderiam ter
Porém, o consumo além de determinado limite um papel mais construtivo na criação de uma
só seria possível com um aumento considerável economia sustentável – menos voltadas para a
dos preços por unidade, com o objetivo de de- busca obstinada de crescimento e obtenção de
sestimular o consumismo. A determinação exata lucros em detrimento das pessoas e da natu-
desses limites naturalmente variaria de país a reza. Ainda é incipiente a experiência de ad-
país. Dacar, no Senegal, e Durban, na África do ministrar empresas de formas alternativas e
Sul, adotaram um sistema de tarifas baixíssimas mais participativas, como faz a Mondragón
até determinado limite de consumo de água. Corporación Cooperativa (MCC), na região
Acima desse nível, o preço da água sobe acen- basca da Espanha. Embora os limites ao cres-
tuadamente. Esse sistema de escalonamento de cimento das corporações pareçam ser um ele-
preços deve ser adaptado para uma ampla gama mento necessário a uma economia mais sus-
de produtos e serviços.65 tentável, isso não significa que as empresas
Redução da Jornada de Trabalho. Atual- devam ser apenas locais. A MCC, de proprie-
mente, a maioria das pessoas trabalha muitas dade dos funcionários, é a sétima maior em-
horas para conseguir ganhar o suficiente e po- presa da Espanha – tem mais de 100 mil tra-
der acompanhar a interminável onda consu- balhadores, faturamento anual de US$ 20
mista. Salários dignos tornam esse processo bilhões e 65 fábricas em diversos países. Um
mais fácil do que se as pessoas tivessem que fator fundamental para se criar um tipo dife-
contrair dívidas. Economia e população menos rente de corporação é maior participação das
escravas do consumismo poderiam considerar partes interessadas e menos influência dos
um enfoque que procurasse transformar maior acionistas. (Ver também Capítulo 7).66
produtividade econômica em menos horas de É preciso adotar políticas transformadoras se
trabalho, em vez de aumentar o consumo. o objetivo for garantir prosperidade sustentável
Para reduzir seu consumo dos recursos natu- para todos – para a geração atual e as gerações
rais do planeta, os países ricos terão que se en- futuras. A alternativa é uma triagem planetária
carregar dessa transformação, tornando aces- que, para usar a terminologia popularizada pelo
sível aos pobres do mundo o necessário espaço movimento Ocupe, pode funcionar para 1%,
material e ecológico. mas não para os outros 99%. As políticas preci-
Democracia Econômica. Muitos países têm sam ir muito além dos aspectos técnicos, mu-
sistemas considerados, ao menos nominal- danças limitadas nas políticas fiscal e de subsí-
mente, democráticos. Porém, não existe de- dios ou outros esforços pouco eficazes. A
mocracia na esfera econômica que determine natureza e a fundamentação do sistema econô-
tanto sobre a vida das pessoas – o número de mico precisarão mudar substancialmente. Em
horas que elas passam acordadas, sua renda, vez de uma economia que cresce a qualquer
carreira e noção de autoestima. Nos Estados custo, o enfoque deve ser o de uma economia
Unidos, por exemplo, as empresas agora têm que permite a restauração ecológica e garante o
os mesmos direitos de liberdade de expressão bem-estar humano sem materialismo.

23
CAPÍTULO 2

O Caminho para o Decrescimento em


Países com Desenvolvimento Excessivo
Erik Assadourian

época da bolha para se engajar nesse ato bati-

E
m 2010, a Segunda Conferência sobre
Decrescimento Econômico para Susten- zado por ele de “desobediência financeira”.
tabilidade Ecológica e Equidade Social Sua intenção era a de contribuir para a divul-
realizada em Barcelona, Espanha, reuniu acima gação dos riscos de um sistema financeiro mal
de 500 participantes de mais de 40 países para regulado e, ao mesmo tempo, gerar recursos
discutir como promover o “decrescimento” que auxiliassem no financiamento de alterna-
intencional da economia mundial. (Ver Qua- tivas ao modelo econômico insustentável vi-
dro 2–1 para a definição de decrescimento). gente. Sem dúvida nada convencionais, os atos
Diversos textos acadêmicos foram debatidos, e posterior prisão de Duran certamente cha-
maram a atenção para o movimento.2
desde o mecanismo do decrescimento econô-
Para uma cultura em que o crescimento é
mico até estratégias sobre como aprofundar e
visto como essencial ao sucesso econômico e
comunicar esse conceito complexo.1
bem estar-social, falar em decrescimento passa
A conferência chegou até mesmo a colocar
a impressão de um atraso político, inclusive
em destaque algumas atitudes radicais (embora
para simpatizantes da causa. A maioria das
não validadas) para a criação do movimento. pessoas acredita convictamente que o cresci-
No auge da bolha financeira mundial, por mento é imprescindível para as economias mo-
exemplo, Enric Duran, afirmando ser um em- dernas e, nesse raciocínio, a ideia de decresci-
preendedor que estava constituindo uma nova mento soa como uma receita para o colapso
empresa de tecnologia na Espanha, sondou socioeconômico. No entanto, o rápido aque-
vários bancos em busca de empréstimos. Logo cimento da Terra e outros prejuízos aos servi-
em seguida, doou para o movimento do de- ços dos ecossistemas demonstram que o de-
crescimento a maior parte dos 500 mil euros crescimento econômico é vital e precisará ser
que havia conseguido (descontados os juros e contemplado o quanto antes para que se con-
impostos pagos). Chamado por alguns de Ro- siga a estabilização do clima terrestre, a pre-
bin Hood moderno, Duran utilizou as práti- venção de danos irreparáveis ao planeta e,
cas pouco rígidas aplicadas aos empréstimos na nesse processo, à civilização humana.3

Erik Assadourian é pesquisador sênior do Worldwatch Institute e diretor do Projeto Transformando


Culturas, desse mesmo instituto. Ele é também coautor do Estado do Mundo 2012.

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo

Quadro 2–1. Definição de Decrescimento

Decrescimento é o desvio intencional de uma promessa do crescimento como propulsor


economia cujo objetivo é o crescimento do desenvolvimento. O economista Tim
perpétuo. Para economias que se encontram Jackson explica essa ideia de um modo
além dos limites de seus ecossistemas, isso descomplicado, propondo “prosperidade
inclui uma retração planejada e controlada, sem crescimento”. No entanto, essa
tendo em mente o realinhamento com os prosperidade não deve ser confundida com
limites do planeta e a criação de um futuro a ideia vigente do que seja prosperidade —
sistema econômico em estado estável que um estilo de vida com consumo — porque
esteja em equilíbrio com os limites da Terra. este conceito equivocado depende de um
Decrescimento não deve ser confundido modelo econômico de crescimento e uso
com declínio econômico. Como explica Serge predatório do capital natural da Terra.
Latouche, um dos principais pensadores do Ao contrário, como explicado por Latouche,
decrescimento, “O movimento por uma uma sociedade próspera é aquela “em que
‘sociedade em decrescimento’ é radicalmente podemos ter uma vida melhor, com menor
diferente da recessão generalizada dos dias de carga de trabalho e menor consumo”.
hoje. Decrescimento não significa a Nesse sentido, o decrescimento será
decadência ou o sofrimento muitas vezes um passo adiante rumo a um futuro mais
imaginado por quem não tem ainda seguro, sustentável, saudável e justo, que
familiaridade com esse conceito. Ao contrário, ajude a reduzir o número e o porte de
o decrescimento pode ser comparado a uma indústrias maléficas ao meio ambiente e
dieta saudável, praticada de modo voluntário, a reorientar as economias de modo a
para melhorar o bem-estar individual, e o enriquecer o bem-estar, fortalecer a
crescimento econômico negativo pode ser resiliência das comunidades e recuperar os
equiparado à inanição”. ecossistemas — um caminho que, de
Em última análise, o decrescimento é um qualquer ponto de vista salutar, dificilmente
processo e não o ponto final. Como observa seria confundido com declínio econômico.
Latouche, o ponto final é o abandono da fé na Fonte: Ver nota 1 no final.

Contudo, a conversa já está sendo outra na sobre o clima ocorridas em Durban em 2011
mídia e entre os cientistas. A esperança de se nada fizeram para interromper a corrida mun-
impedir um aumento de 2 oC na temperatura dial rumo a esse futuro.4
global está diminuindo. Vários estudos cons- Tendo em vista governos como o do Ca-
tatam que a humanidade está hoje no caminho nadá, que abandonou o Protocolo de Kyoto,
para um aumento de 4 oC na temperatura mé- e a possível estagnação de um novo acordo cli-
dia global. Mais recentemente, o periódico mático até 2020, é quase certo que o mundo
Philosophical Transactions of the Royal Society passe por violentas alterações ecológicas que,
chegou a examinar projeções de um aumento desnecessário dizer, serão incompatíveis com
de 4 oC não até 2100, e sim até 2060, se man- uma economia mundial em expansão. Com
tido o atual curso de emissões da sociedade. efeito, em 2007 o relatório Stern Review on the
Esse ritmo representa uma catástrofe para a Economics of Climate Change previa que as
humanidade: deslocamentos populacionais em mudanças climáticas poderiam reduzir o bem-
massa causados por inundações em áreas cos- estar econômico em 5% a 20% (mensurado
teiras, regiões atingidas por condições climá- em termos de consumo per capita), depen-
ticas e secas extremas e doenças espalhadas dendo do nível de aquecimento gerado pelas
para novas áreas. Ainda assim, as negociações atividades humanas no mundo.5

25
O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo ESTADO DO MUNDO 2012

Essas alterações ecológicas se aproximam a A Maldição do


passos rápidos e são cada vez mais potenciali- Desenvolvimento Excessivo
zadas pela crença geral e persistente de que o
crescimento de todos em um planeta sobre-
carregado é uma meta válida. Nos últimos cin- Em última instância, os países com desen-
quenta anos o crescimento foi entendido volvimento excessivo (e a superpopulação nos
como a cura para todos os problemas da so- países em desenvolvimento) precisarão buscar
ciedade. Com efeito, embora possa ser útil um caminho de decrescimento, ou então, in-
em alguns momentos, o crescimento ininter- sistir no rumo fragmentado do crescimento até
rupto está na origem das mudanças ecológicas que as áreas costeiras inundem, as terras culti-
que causarão problemas muito piores. Como váveis sequem e outras mudanças ecológicas
observado pelo príncipe de Gales, em maio de violentas os expulsem do crescimento, lan-
2011: “Nossa determinação míope de ignorar çando-os em uma arremetida desvairada pela
os fatos e insistir em fazer as coisas do mesmo sobrevivência da sociedade. Se as superpopu-
jeito de sempre está criando, assim me parece, lações continuarem a ignorar as transforma-
o risco de um colapso que será muito mais ções que despontam, escondendo a cabeça na
drástico e de superação muito mais difícil do areia como um avestruz, a transição será bru-
que qualquer outra situação que tenhamos vi- tal e dolorosa. Porém, se desde já formos no
venciado nos últimos anos”.6 encalço de uma estratégia de decrescimento,
Apesar de isso parecer evidente para os que diversificação econômica e amparo à economia
estudam tendências ambientais, a sociedade informal, antes que a maior parte da energia e
está tão comprometida com o crescimento, capital das sociedades se concentre na reação
que até mesmo muitos ambientalistas e peritos a essas mudanças ecológicas, essas superpopu-
em desenvolvimento sustentável ainda defen- lações talvez descubram uma série de benefí-
dem o “crescimento verde”, ou simplesmente, cios para seu próprio conforto, segurança de
a desvinculação de crescimento e consumo longo prazo e bem-estar da Terra.
material. Como observa Harald Welzer, autor Não é de surpreender que países com de-
de Mental Infrastructures: How Growth Ente- senvolvimento excessivo sofram também de
red the World and Our Souls, “O debate em diversos males relacionados ao consumo exa-
curso sobre a desvinculação… serve, acima de gerado, visto que para grande parcela de seus
tudo, para manter a ilusão de que somos ca- habitantes, abundância e desenvolvimento es-
pazes de fazer um número suficiente de ajus- tão há muito tempo dissociados. O indicador
tes secundários para reduzir as consequências mais evidente é a epidemia de obesidade que
ambientais negativas do crescimento econô- hoje assola a maioria dos países industrializados
mico e, ao mesmo tempo, deixar nosso atual e as elites do mundo em desenvolvimento.
sistema intacto.” Contudo, ainda que a terça Nos Estados Unidos, dois entre cada três adul-
parte dos mais pobres precise aumentar o con- tos tem sobrepeso ou é obeso, o que não ape-
sumo total de modo considerável para que nas reduz a qualidade e tempo de vida, mas
atinja uma qualidade de vida digna, a huma- também impõe ao país um custo suplementar
nidade precisa transformar a economia mun- de US$270 bilhões anuais com gastos médicos
dial radicalmente, reduzindo seu tamanho em e perda de produtividade decorrente de mor-
pelo menos um terço — tomando por base um tes e incapacitações precoces. É possível, in-
indicador de pegada ecológica conservador, se- clusive, que essa epidemia acarrete menor lon-
gundo o qual a humanidade usa hoje 1,5 Terra gevidade da geração seguinte, principalmente
de capacidade ecológica.7 em consequência de problemas associados à

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obesidade, como doenças coronárias, diabetes Sem dúvida, é simples defender a causa do
e alguns tipos de câncer. Apesar das estatísticas decrescimento contrapondo-lhe a economia
trágicas, muitos progridem em função desse mundial ecologicamente destrutiva. Mas dado
tipo de crescimento: o agronegócio, fabrican- que o crescimento é um dos mitos sagrados
tes de alimentos industrializados, marqueteiros, fundamentais da cultura moderna e que eco-
hospitais, indústria farmacêutica e outros seg- nomistas, mídia e lideranças políticas costu-
mentos que obtêm lucro com a manutenção mam se contorcer de preocupação sempre que
do status quo. Em razão da obesidade nos Es- a economia se contrai, uma mudança de 180o
tados Unidos, o faturamento do setor de die- nos paradigmas será dificílima. Ao contrário, o
téticos, por exemplo, é de até US$100 bilhões decrescimento precisará ser empreendido de
ao ano, e esse quadro, mais do que uma exce- modo muito estratégico, com trabalho simul-
ção, apenas aponta uma tendência. Em 2010, tâneo em diversas frentes complementares.
1,9 bilhão de pessoas no mundo estavam acima
do peso ou obesas, um aumento de 38% em re- Como Reduzir o Consumo Geral
lação a 2002, em contrapartida a um aumento dos Consumidores Exagerados
populacional de 11% no mesmo período.8
A obesidade, infelizmente, não é o único
No âmago do decrescimento haverá reo-
efeito colateral do desenvolvimento excessivo.
rientações profundas nos padrões de consumo
Aumento de ônus com dívidas, jornadas de individual e coletivo. Boa parte do impacto
trabalho longas, dependência de fármacos, ecológico causado pelo ser humano decorre
tempo preso no trânsito e isolamento social dos alimentos, da moradia e dos transportes.
são decorrências ao menos parciais de estilos Esses setores precisarão passar por uma revisão
de vida com consumo alto. De fato, embora radical, para que as pessoas dos países com
muitos dos avanços modernos — transporte desenvolvimento excessivo escolham viver de
pessoal, moradias para uma única família, te- modo mais simples, em residências menores,
levisores, computadores e produtos eletrônicos em bairros propícios a pedestres; optem por
— tenham melhorado o conforto humano, andar menos de carro e avião e mais a pé, de
esses avanços talvez tenham imposto sacrifícios bicicleta e de transporte público; comam em
significativos às populações que os consomem, menor quantidade e recorram com menos fre-
sem seu conhecimento ou consentimento.9 quência às redes de alimentação. Acima de
De uma perspectiva mais ampla, a viabiliza- tudo, será necessário que os indivíduos pos-
ção do decrescimento não só reduziria os efei- suam menos “bugigangas” — de eletrônicos a
tos colaterais de natureza física e social decor- eletrodomésticos, de livros a brinquedos —
rentes da procura obsessiva do crescimento, que requerem quantidades enormes de recur-
como também atenuaria os impactos ecológi- sos naturais e produzem resíduos considerá-
cos da economia humana, na medida em que veis. A bem dizer, quando se somam todas as
algumas populações passariam a consumir me- formas diretas e indiretas de consumo, em
nos alimentos, recursos naturais e energia. 2000, o uso diário de recursos naturais foi de
Contudo, talvez o resultado mais importante, 88 quilos, no caso dos americanos, e de 43
porém menos tangível, dessa postura fosse a quilos, entre os europeus — números que pre-
redução da perda da resiliência da Terra, con- cisarão ter redução tremenda para serem sus-
dição essa da qual a humanidade e todas as es- tentáveis, em particular no contexto das cres-
pécies dependem por completo para conse- centes demandas de consumo pelos países em
guirem sobreviver e prosperar. desenvolvimento.10

27
O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo ESTADO DO MUNDO 2012

Isso representa um desafio formidável. O fazer aquilo que hoje encaram como um sacri-
setor publicitário, por exemplo, comemora o fício — mesmo se os aspectos negativos dos
crescimento e o consumismo: em 2011, gas- produtos forem esclarecidos. (Ver Quadro 2–
taram-se US$464 bilhões no mundo todo 2). Existe uma dinâmica em que as culturas ra-
com a comercialização do estilo de vida con- pidamente normalizam certos produtos; as mo-
sumista, também propagado por Hollywood, dificações em infraestrutura quase sempre
pela indústria cinematográfica global e pela impõem tal padronização e as redes sociais re-
mídia em geral. Contudo, começam a surgir forçam o uso desses produtos (“não ficar por
algumas fissuras nas antes sólidas tradições de baixo”); do ponto de vista psicológico, é fácil
uma cultura centrada no consumo. Alguns converter um item luxuoso em uma necessi-
adolescentes americanos, por exemplo, já não dade sentida. Hoje, mais da metade dos ame-
se apressam para obter a carteira de moto- ricanos consideram aparelho de ar-condicio-
rista, até pouco tempo atrás um rito de passa- nado e secadora de roupa uma necessidade, ao
gem essencial para a vida adulta. Em 1978, mesmo tempo em que produtos como smartp-
metade dos jovens de 16 anos nos EUA tirou hones e Internet de alta velocidade seguem a
a habilitação; em 2008, o número havia caído passos rápidos o mesmo caminho. Sendo assim,
para 31%, e mesmo aos 19 anos, enquanto reduzir o consumo geral simplesmente esti-
92% tinham a carteira em 1978, apenas 78% mulando as pessoas a mudar o comportamento
obtiveram o documento em 2008. Essa é uma estará longe de ser suficiente. Em vez disso, ca-
tendência que agora parece ter se mantido berá a governos e empresas um papel central na
mesmo após a adolescência: a proporção do edição das escolhas dos consumidores.12
total de milhas percorridas de automóvel por “Edição de escolhas”, colocado da forma
jovens na faixa dos 20 anos caiu de 21% em mais simples, é exatamente o que parece —
1995 para 14% em 2009. Considerando as editar as escolhas pessoais tendo em vista uma
despesas com carro e gasolina, trânsito, cons- determinada finalidade. Infelizmente, nos úl-
ciência ambiental crescente e mudanças tec- timos 50 anos essa finalidade foi a de estimu-
nológicas, os jovens, quase sempre conectados lar crescimento econômico e consumo. Po-
online com os amigos, encontram hoje menos rém, as mesmas estratégias podem ser aplicadas
necessidade de usar um carro e mais barreiras para incentivar o decrescimento e a sustenta-
para fazê-lo. É certo que essa mudança embute bilidade. Se os bilhões de dólares em subsídios
problemas próprios, como, por exemplo, o governamentais fossem direcionados para bens
fato de que o adolescente americano típico sustentáveis e saudáveis, os padrões de con-
passa oito horas por dia consumindo produtos sumo também poderiam se tornar muito mais
da mídia, mas, mesmo assim, esse comporta- sustentáveis. Dentre as possibilidades de rea-
mento revela que até tradições arraigadas po- locação estariam as subvenções para pequenos
dem se tornar muito menos relevantes ao agricultores orgânicos, e não para os gigantes
longo do tempo.11 da produção de commodities, ou ainda, em
Essas alterações em padrões de consumo vez do atual abatimento de imposto concedido
profundamente enraizados precisarão ser mul- na compra do primeiro imóvel residencial, esse
tiplicadas centenas de vezes em dezenas de se- crédito fiscal poderia ser usado para o aluguel
tores — alimentos, moradia, transportes, pro- de moradias pequenas e eficientes. Sem dú-
dutos eletrônicos, viagens, animais de vida, a edição de escolhas exige cuidados, por-
estimação, vestuário, eletrodomésticos, e assim que a proibição total de alguns bens poderia
por diante. Em vista de mudanças tão abran- suscitar uma prática de acumulação e reacio-
gentes, poucos indivíduos estarão dispostos a narismo político. Mas mesmo impostos bran-

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Quadro 2–2. Sacrifício e uma Nova Política de Sustentabilidade

Muitos comentaristas defensores da ideia de que outros já estão abrindo mão de algo valioso
uma sociedade sustentável impõe mudanças pode fazer muito para enfrentar hipocrisia e
profundas acreditam também que isso envolveria paternalismo.
sacrifício considerável das sociedades dos países O sacrifício gera ansiedade se as pessoas
ricos. E isso, alegam eles em tom pessimista, temerem que aquilo de que abrem mão seja
simplesmente não acontecerá: a maioria das desperdiçado. Para que se aceite o sacrifício,
pessoas têm excesso de autossatisfação, apatia essa ansiedade precisa ser amenizada com a
ou desinformação para se disporem a esse esperança de que o objeto da desistência
sacrifício. Mas, na verdade, o sacrifício é uma trará bem futuro. Mas essa esperança quase
parte conhecida da vida cotidiana e pode ser nunca consegue ser mantida apenas pela
condizente com um critério inclusivo de interesse ação individual, porque a probabilidade de
próprio, muito embora possa também ser sucesso é menor quando existem questões
impingido injustamente. de ação coletiva. Pode-se pensar, “Se eu ajo
É possível que se aceite um sacrifício, quando outros não agem, eu assumirei
abrindo-se mão de algo de valor em troca de algo custos sem benefício social; se eu não agir
mais valioso ainda, como por exemplo, consumir quando outros agem, terei parte nos
menos para poupar para a educação dos filhos. benefícios, sem custo”. Em contrapartida,
Pode-se também ser sacrificado de outras quando a ação é coordenada, novas
formas, como no caso de uma comunidade oportunidades passam a ser viáveis,
pobre sofrer os efeitos de um incinerador tóxico. como investimento de larga escala em
Essa distinção vital entre os tipos de sacrifício é, infraestrutura e energia renovável,
muitas vezes, menosprezada e, na verdade, planejamento urbano e de uso do solo
moldada pelas concepções que se tem a respeito visando a estimular uma prática com menor
de justiça e adequação. dependência de automóvel, e incentivos
Reconhecer os sacrifícios que já são feitos para empregos “verdes”.
pode favorecer uma apreciação mais equilibrada Essas ações não são indolores:
das escolhas políticas e programáticas. Em vez investimentos públicos exigem impostos;
de enxergar a questão como uma tarefa de políticas para uso do solo engendram
convencer as pessoas a se sacrificarem, é ganhadores e perdedores; empregos verdes
possível estabelecer um diálogo apontando talvez prejudiquem os “marrons”. Contudo,
como certos luxos ou conveniências podem ser
essas medidas são capazes de reduzir o
substituídos por ganhos em qualidade de vida
sacrifício forçado e injusto de hoje e atenuar
para todos. O “xis” da questão é nem exigir
o impacto forçado e injusto das mudanças
sacrifício, nem evitar falar disso, e sim ampliar
climáticas e outros danos ambientais no futuro.
o diálogo sobre escolhas e desafios.
Repensar o sacrifício não diz respeito a
Quando aqueles que exigem sacrifício deixam
oferecer um conjunto específico de políticas.
de dar o exemplo, os que são convocados ao
Trata-se de pensar e conversar sobre os
sacrifício talvez se percebam como vítimas, e
não agentes, e podem resistir aos apelos ao desafios de sustentabilidade que abrem um
sacrifício. Por exemplo, quando políticos diálogo político exatamente no ponto em
americanos pressionam por reduções nas que ele quase sempre esmorece. É preciso
emissões de gases poluentes na China e na amparar-se na esperança radical de que
Índia – onde as emissões per capita continuam podemos ter um futuro melhor e é em nome
muito mais baixas – como uma precondição disso que vale a pena agir, ainda que essa
para a iniciativa americana, difunde-se uma ação cobre alguns sacrifícios. Em um mundo
postura de distribuição injusta do ônus, ou sem garantias, é essa esperança que pode
seja, exigir o sacrifício de outros em vez de dar inspirar mudanças.
também sua própria cota de renúncia. Repartir —John M. Meyer
o ônus e reconhecer em alto e bom tom que Humboldt State University

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O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo ESTADO DO MUNDO 2012

dos alteram significativamente os comporta- que isso, a Patagonia estimulou os clientes a


mentos de consumo. Quando em janeiro de comprar produtos usados comercializados pela
2010 a cidade de Washington, DC passou a marca, afirmando que “o custo ambiental de
cobrar um imposto de 5 centavos de dólar so- tudo o que produzimos é impressionante.” A
bre sacolas plásticas, o uso desse tipo de em- empresa fez uma parceria com a e-Bay para au-
balagem despencou de 22,5 milhões para 3 xiliar os clientes a revender produtos usados fa-
milhões em um mês. Além disso, os US$2 bricados pela Patagonia — uma tática sur-
milhões em receita anual arrecadados com o preendente, já que a companhia não recebe
imposto estão sendo usados no saneamento de nenhuma parcela dessas vendas.15
toneladas de refugo poluente do rio Anacostia, Embora o motivo primordial da Patagonia
uma via navegável por toda a capital do país e seja prevenir “falência ambiental”, que, como
castigada há muito tempo.13 observado por eles mesmos, está sendo im-
Do mesmo modo, as empresas também po- pulsionada pela cultura de consumo, neste
dem assumir um papel na edição de escolhas, caso em particular existe também astúcia co-
esclarecendo para o consumidor quais opções mercial. O valor de marketing dessas iniciati-
são as mais saudáveis e mais sustentáveis – por vas pode ir muito além da compensação de
exemplo, indicando na etiquetagem dos pro- eventuais vendas não realizadas, porque au-
dutos critérios de saúde e sustentabilidade, ou mentam a fidelização da base de clientes de
definindo preços vantajosos para os produtos “consumo ecológico”. E, para os precursores,
mais saudáveis e sustentáveis. No início de existe ainda um benefício. Agora que os adi-
2001, o Walmart anunciou que iria diminuir o vinhos das empresas estão lendo dados eco-
preço de seus produtos, reduzindo em até nômicos e ecológicos nas folhas de chá, são
US$1 bilhão os custos para os clientes, e que forçados a reconhecer que, nas próximas dé-
se empenharia para diminuir o teor de sal, cadas, provavelmente haverá mais gente com-
açúcares adicionados e gorduras não saudáveis prando menos bugigangas e maior quantidade
nos alimentos embalados pela rede. Essas mu- de produtos mais duradouros. Sendo assim,
danças ocorridas nos bastidores conseguem uma tática que aprofunde essa vantagem da
fazer muito pela transformação do comporta- marca agora trará retornos de longo prazo
mento dos consumidores, convidando-os a in- para a Patagonia, mesmo em um ambiente de
gerir mais verduras e legumes e menos ali- contração econômica generalizada.16
mentos industrializados.14 Além da edição de escolhas, existem também
Embora muitas empresas estejam abertas muitos grupos contribuindo para a mudança de
para editar sua linha de produtos tornando-os padrões de consumo específicos. Considere os
mais sustentáveis — e várias já começam a funerais. Nos Estados Unidos, 3 milhões de li-
atuar nesse sentido — poucas terão a ousadia tros de fluido embalsamadores, 104.000 tone-
suficiente para incentivar os consumidores a ladas de aço e 1,5 milhão de toneladas de con-
deixarem de comprar os itens que elas comer- creto são usados ano a ano para os enterros. Os
cializam, visto que o resultado líquido de- funerais no país geram mais de 1,5 milhão de
pende do faturamento total. No entanto, em toneladas de emissão de dióxido de carbono
setembro de 2011, uma empresa atraiu aten- (CO2) e uma família padrão gasta perto de
ção considerável ao fazer exatamente isso. Pa- US$10.000 naquilo que, em essência, é um
tagonia, uma fabricante de roupas para uso em imposto sobre o luto. A boa notícia é que há
ambientes externos, conclamou seus clientes a iniciativas para reorientar essa tendência, por
não comprarem os produtos da marca, a me- exemplo, enterros sem uso de produtos quími-
nos que, de fato, precisassem muito. Mais do cos, realizados em cemitérios com bosques na-

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo

turais usados também como parques comuni- famílias americanas e 425.000 comerciantes de
tários. Esses locais, por sua vez, criam um novo alimentos se comprometeram a não comer
espaço para biodiversidade e fazem as vezes de carne às segundas-feiras. Embora a campanha
sumidouro de carbono — um modelo muito atual não tenha atingido esse patamar, ela se
melhor do que os atuais cemitérios gramados e disseminou para diversos países, incluindo o
pulverizados com pesticidas. Além disso, essas Reino Unido, a Bélgica, Israel e a Índia. A
mudanças no processo de enterro estão contri- francesa Sodexo, empresa de gerenciamento
buindo para transformar esse rito humano es- de cafés, também aderiu à ideia, propagando
sencial, lembrando as famílias enlutadas da parte a iniciativa para seus 2.000 cafés montados
humana no ciclo maior da vida e propondo-lhes em empresas e órgãos públicos e para as 900
substituir ações que postergam a decomposição lanchonetes de hospitais gerenciadas por ela.19
por uma celebração que mostra que dessa perda A transformação de normas culturais tão for-
surge uma nova vida.17 temente arraigadas exigirá intervenção contí-
De modo semelhante, o movimento Slow nua em diversos patamares e pelo maior número
Food trabalha no sentido de repensar normas de de participantes possível. Como observado por
dietas baseadas em carne e alimentos não sau- um documento sobre o efeito da ação governa-
dáveis, industrializados e danosos ao meio am- mental na dieta americana, para modificar a ali-
biente, propondo o resgate do prazer no pre- mentação dos americanos durante a época da
paro, no cozimento e na ingestão de “alimentos guerra “a batalha foi empreendida com esqua-
bons, limpos e justos”. Sendo a comida um tó- drões de celebridades, antropólogos e persona-
pico de apelo emocional, o Slow Food vem ex- gens de histórias em quadrinho, além de uma
plorando com grande interesse os hábitos ali- flotilha de filmes, programas de rádio, campa-
mentares das pessoas e conta hoje com mais de nhas de doação e cartazes”. Esse intenso grau de
100.000 membros em sucursais de 132 países.18 intervenção será mais uma vez necessário para a
Mesmo quando uma transformação mais mudança dos atuais padrões de consumo.20
abrangente dos hábitos alimentares está além
do alcance de alguns, dado que nem todos têm
tempo para desacelerar quando a regra é viver
Distribuição mais Justa dos
dentro do orçamento, existem abordagens Encargos Tributários
mais suaves, com normas de menor impacto,
para modificar padrões de alimentação e ou- A distância entre os mais ricos e os mais po-
tros hábitos de consumo. A campanha Se- bres cresceu profundamente. (Ver Capítulo
gunda-Feira Sem Carne, por exemplo, incen- 1). Trata-se não apenas de uma questão de jus-
tiva as pessoas a se absterem de carne uma vez tiça social, mas também ecológica, porque,
por semana, buscando reduzir os impactos quanto maior a riqueza, maior o consumo. Em
significativos na saúde e no meio ambiente última análise, num planeta com 7 bilhões de
decorrentes do consumo desse tipo de ali- pessoas, uma renda anual sustentável em ter-
mento. Apesar de a campanha ter sido lançada mos ecológicos estaria na ordem de US$5.000
pela Johns Hopkins Bloomberg School of Pu- por pessoa (em bases paritárias de poder de
blic Health em 2003, na realidade, a prática foi compra) — muito abaixo daquilo que o
instituída pelo governo americano durante a mundo ocidental entende por nível de po-
Primeira Guerra Mundial e retomada na Se- breza. Para além desse patamar, compram-se
gunda Guerra Mundial, com o intuito de ra- moradias maiores, mais eletrodomésticos, apa-
cionalizar carne para as tropas. Durante a Pri- relhos de ar-condicionado, produtos eletrôni-
meira Guerra Mundial, mais de 10 milhões de cos e passagens aéreas.21

31
O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo ESTADO DO MUNDO 2012

Porém, como é que a sociedade conseguiria mais de US$200.000 por ano, então insignifi-
intencionalmente direcionar a renda mundial cantes, dispararam para 94%. Hoje o desafio se-
para um nível menor, fazendo disso a regra? ria muito maior devido à forte pressão exercida
Além da realocação de encargos tributários, a pelos interesses monetários sobre o sistema po-
redistribuição da jornada de trabalho será tam- lítico; no entanto, não existem barreiras legais
bém decisiva, porque a diminuição da média se- que pudessem impedir os americanos de repe-
manal da carga horária liberaria trabalho para tir o processo. Considerando que a ameaça da
outros e ainda contribuiria para conter a renda crise ambiental de agora é muito mais grave
geral dos que estão sobrecarregados de serviço. para a segurança nacional americana do que a
No decorrer do processo haveria vantagens trazida pela Segunda Guerra Mundial, esse tipo
ecológicas e econômicas e benefícios sociais de redistribuição deveria estar na ordem do
consideráveis. Pesquisas atestam que as socie- dia. Se ativistas e pesquisadores analisassem as
dades mais equitativas apresentam menor inci- mensagens utilizadas para que os aumentos de
dência de crimes violentos, índices mais eleva- impostos chegassem ao Congresso, poderiam
dos de alfabetização, maior número de pessoas extrair lições e tentar aplicá-las às atuais tenta-
saudáveis, menor ocorrência de sobrepeso e ta- tivas de reforma tributária.24
xas mais baixas de gravidez de adolescentes e de Alíquotas de imposto de renda muito altas
encarceramentos.22 não são necessariamente o único (e melhor)
A melhor distribuição de renda tem um caminho para se trilhar, desde que outros im-
claro impacto sobre o desenvolvimento hu- postos sejam também ajustados. Nos últimos
mano, como enfatizado pelo Relatório do De- anos, a proposta de uma tributação baixa so-
senvolvimento Humano de 2011. Elaborado bre aplicações financeiras tem sido alvo de
pelo Programa das Nações Unidas para o De- atenção, e esse mecanismo poderia ajudar na
senvolvimento, esse relatório concluiu que diminuição da volatilidade dos mercados fi-
quando se levam em conta as desigualdades nanceiros e na geração de renda para desen-
em renda, saúde e educação, vários dos países volvimento sustentável. Se por um lado, essa
mais ricos despencam nos rankings de desen- tese contou com simpatizantes quando ini-
volvimento humano. Os Estados Unidos, por cialmente proposta pelo economista James To-
exemplo, caem da quarta para a vigésima co- bin, em 1972, a ideia tem hoje novos adeptos.
locação, enquanto países com maior equidade Os manifestantes do movimento Ocupe in-
mostram melhor posição: a Suécia vai da dé- cluíram esse ponto em suas reivindicações, e
cima para a quinta posição e a Dinamarca, da várias pessoas influentes, incluindo os bilioná-
décima-sexta para a décima-segunda.23 rios Bill Gates e George Soros, levaram a pú-
Um dos caminhos mais curtos para a realo- blico seu apoio à causa, insistindo para que o
cação de impostos é nada mais do que um imposto fosse usado para ações de ajuda ao de-
ajuste dos encargos de imposto de renda. Pode senvolvimento. A Comissão Europeia está
ser que isso pareça politicamente impossível em agora considerando cobrar uma taxa de
países como os Estados Unidos, onde existem US$10 sobre transações financeiras de até
movimentos contrários aos impostos, como o US$10.000, até 2015, o que geraria US$77
Tea Party. Contudo, iniciativas como Ocupe bilhões anuais de receita fiscal suplementar.
Wall Street podem introduzir novas possibili- No Reino Unido, apesar de vozes contrárias,
dades políticas, sobretudo se os americanos co- já existe uma tributação de US$50 sobre cada
meçarem a fazer um resgate de sua história. Du- US$10.000 em ações negociadas, o que mostra
rante a Segunda Guerra Mundial, as alíquotas que interferir nos impostos é claramente viável,
sobre imposto de renda dos que ganhavam financeira e politicamente.25

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Impostos de cunho ecológico tam-


bém poderiam ser intensificados e até
mesmo usados como compensação ao
ônus impingido a grande parte dos in-
divíduos afetados pelas atividades de
setores poluentes e pelas rupturas cau- Agora temos folga
sadas pelo decrescimento. No final de às segundas!!

© The Monday Campaign, Inc.


2011, a Austrália aprovou um imposto
de US$23,78 por tonelada de carvão,
com a finalidade de cortar as emissões
de CO2 em 160 milhões de toneladas
anuais, até 2020, e ao mesmo tempo,
gerar US$15,5 bilhões por ano, até
2015. Essa é uma boa notícia, dado
que no começo daquele ano o go- Cartaz de criaturas com interesse próprio em incentivar as
verno australiano anunciara o corte pessoas a não comerem carne às segundas-feiras.
do financiamento para programas am-
bientais devido aos altos custos com inunda- dade menos consumista e, além disso, o
ções – segundo ambientalistas, inundações marketing de produtos não saudáveis ou não
essas relacionadas às mudanças climáticas. Os salutares poderia ser interrompido.27
governos com toda certeza precisarão de fon- Qual seria o uso de todos esses novos im-
tes de receita para impedir mais desastres am- postos? Em primeiro lugar, nem todos os im-
bientais e para se adaptarem a um mundo postos precisariam ser direcionados para pro-
com mais aquecimento global e mais sujeito gramas governamentais. Alguns deles poderiam
a desastres.26 ser redistribuídos de forma a aumentar a justiça
Por fim, outro setor que já está maduro para social e compensar os grupos mais afetados pela
tributações é o da publicidade. Nos Estados mudança para uma economia de decrescimento,
Unidos, os orçamentos de publicidade das em- oferecendo às pessoas auxílio temporário, servi-
presas têm hoje dedução de impostos, e colo- ços sociais básicos e novas capacitações. No en-
car um fim a essa prática ou mesmo impor uma tanto, a mera reformulação de infraestruturas
taxação modesta sobre esse tipo de gasto po- públicas consumiria uma parcela muito alta dos
deria resultar em novas e significativas fontes de impostos arrecadados. Pensando em um plano
receita. Em 2011, os gastos com publicidade só mais elementar, essas medidas contemplariam
nos Estados Unidos foram de US$155 bilhões. sistemas de água e esgoto, aceleração da transi-
Supondo-se que a atual isenção de impostos ção para o uso eficiente de energia renovável e
fosse extinta e se introduzisse a módica alí- substituição da infraestrutura automobilística
quota de 20% sobre o imposto de renda das por serviços que privilegiassem uso de bicicletas
empresas, o resultado seria US$31 bilhões de e transporte público. Além disso, todas essas
receita extra. Se a essa iniciativa fosse acrescen- melhorias poderiam contar ainda com novos
tado um imposto sobre a publicidade de pro- centros comunitários, piscinas, trilhas para ca-
dutos não salutares ou não sustentáveis, como minhada e bibliotecas com programas de em-
alimentos de baixa qualidade, combustíveis fós- préstimo de livros, mídias eletrônicas, jogos,
seis e automóveis, haveria fontes suplementares brinquedos e ferramentas, em suma, um con-
de financiamento para a comercialização dos junto de práticas pensadas para converter itens
itens necessários à normalização de uma socie- cada vez mais privados e luxuosos em bens pú-

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O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo ESTADO DO MUNDO 2012
Billboard Liberation Front

Cartaz do McDonald’s antes e depois de “sofrer intervenção” de ativistas da Frente de Liberação de Cartazes.
[Dizeres do cartaz à esquerda] Você tem cerca de [Dizeres do cartaz à direita] Você tem cerca de
10.000 papilas gustativas. Use todas elas. 10.000 papilas gustativas. Mate todas elas.
blicos. No decorrer do processo, essas novas estão sendo fechados para dar lugar a novos di-
tendências poderiam amenizar a frustração das ques de proteção, e várias fazendas estão sendo
pessoas com o nível decrescente de riqueza e a convertidas em lagos, sendo que a participação
diminuição das reservas de bens privados e pública de longo prazo terá precedência em
apontar para novas oportunidades de jogos, relação à participação privada de curto prazo
aprendizado e socialização. (mas os proprietários serão ressarcidos quando
Os novos recursos poderiam ainda ser usa- forem removidos). O financiamento a esses in-
dos para nos preparar para um futuro instável. vestimentos de porte, estimados em US$2 a
Cabe aos governos um papel crucial, por US$6 bilhões ao ano, no caso da Holanda, as-
exemplo, na restauração de ecossistemas como sim como a planos de adequação a desastres cli-
floretas e áreas pantanosas, no auxílio a pe- máticos inesperados, precisará de ajuda. Em
quenos produtores rurais e na preparação efe- 2011, os Estados Unidos tiveram doze desas-
tiva para as agora inevitáveis mudanças a serem tres naturais, com custo acima de US$1 bilhão
trazidas pelo aquecimento global (inclusive, cada e danos avaliados em US$52 bilhões (mais
em alguns casos, o abandono completo de de- do que o total gasto com desastres naturais em
terminadas áreas). A Holanda já toma medidas 2009 no mundo todo), marcando um novo re-
concretas para enfrentar as mudanças climáti- corde em termos de número total de desastres
devastadores a atingir o país em um único ano.
cas, postura nada surpreendente, dado que
Em vista da crescente instabilidade gerada pe-
boa parte do país está pouco acima, ou mesmo
las mudanças climáticas, será necessário estabe-
abaixo, do nível do mar. Em Hot: Living
lecer novas fontes de receitas fiscais que garan-
Through the Next Fifty Years on Earth, Mark
tam caixa suficiente nos cofres para enfrentar as
Hertsgaard descreve a abrangência das ações
novas surpresas que a natureza nos reserva.29
concebidas pelo governo holandês para se pre-
parar para o aquecimento global, medidas es-
sas que muitos considerariam extremas.28 Melhor Distribuição da
O governo holandês elaborou um plano de Jornada de Trabalho
200 anos para adaptações às mudanças climáti-
cas, com gasto de implantação na ordem de Outra maneira de melhorar o acesso à renda,
US$1 bilhão anual. Os hotéis situados na orla e de um modo mais palatável a políticos con-

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo

servadores, é por meio da melhor distribuição dade, em outras palavras, estamos falando de
da jornada de trabalho. Desde a Segunda bem-estar.31
Guerra Mundial, a jornada de trabalho semanal Embora muita gente possa estar disposta a
de 40 horas é tida por muitos países ocidentais ganhar e gastar menos, poucos têm a oportu-
como “normal”. Poucos países reduziram suas nidade de fazer essa escolha, dado que as em-
jornadas de trabalho para patamares inferiores presas recebem incentivos para contratar em-
a esse, mesmo com o aprimoramento das tec- pregados em tempo integral. No entanto,
nologias e da produtividade e mesmo diante da alguns países já adotam medidas para lidar
possível redução no desemprego que jornadas com essa situação. A Holanda, por exemplo,
mais curtas poderiam proporcionar. O mais oferece assistência para que as jornadas de tra-
chocante, contudo, é que se houvesse um cál- balho sejam reduzidas a três quartos do tempo
culo honesto da média da jornada semanal le- e, em contrapartida, exige que os empregado-
vando em conta os desempregados, os que têm res mantenham o mesmo pagamento indivi-
subempregos, os que trabalham em meio pe- dual por hora e benefícios proporcionais ao va-
ríodo e os que têm carga de trabalho excessiva, lor da jornada reduzida. Durante o período de
o número seria muito mais baixo. The New recessão, o governo alemão ajudou as empre-
Economics Foundation constatou que o traba- sas a reterem empregados, por meio de um
lhador padrão da Grã-Bretanha trabalhou 21 programa chamado Kurzarbeit, responsável
horas por semana em 2010.30 por impedir demissões. O nome do programa
A melhor distribuição da jornada de traba- significa “trabalho curto”, e ele possibilitou às
lho entre a população em idade ativa reduzi- empresas pagarem a seus funcionários apenas
ria a pobreza, traria melhorias substanciais à as horas trabalhadas, e o próprio governo com-
qualidade de vida de muitos que têm hoje so- pletava a diferença (para até dois terços do
brecarga de trabalho e diminuiria os impactos tempo). O programa amparou 1,5 milhão de
ecológicos causados por este contingente. Os trabalhadores de 63.000 empresas, reduzindo
psicólogos Tim Kasser e Kirk Brown verifica- as demissões em 300.000 a 400.000 e contri-
ram que existe uma correlação negativa entre buindo para que a taxa de desemprego na Ale-
jornadas de trabalho mais longas e níveis de sa- manha se mantivesse baixa por 17 anos. Por
tisfação pessoal, e uma correlação positiva com intermédio de programas inovadores como
pegada ecológica. Além disso, se a redução nas esse, os governos têm meios de ajudar na eco-
jornadas de trabalho for respaldada por men- nomia de custos, impedir rupturas sociais cau-
sagens adequadas de marketing social, será sadas pelo desemprego e colaborar com a tran-
possível direcionar o tempo livre para modos sição para jornadas de trabalho mais curtas.32
de vida mais sustentáveis – substituir o auto- As empresas podem também criar mais es-
móvel por bicicleta, secar roupas no varal, pre- paço para períodos de licença, como férias
parar comida em casa em vez de fazer refeições mais prolongadas e licença-maternidade/pa-
prontas ou em restaurantes, sair de férias para ternidade mais longas, ou para oportunidades
locais próximos e deixar de fazer viagens exó- de trabalhos compartilhados. Alguns grupos
ticas, priorizar jogos de tabuleiro em relação a de apoio a essa causa estão se articulando para
diversões caras fora de casa, recorrer mais a bi- obter parte dessas medidas. O Right2Vaca-
bliotecas e menos a livrarias, cultivar hortas, fa- tion.org, por exemplo, reivindica uma semana
zer trabalho voluntário e cuidar de crianças e de férias, no mínimo, para todos os trabalha-
de pais idosos. Todas essas práticas poderiam dores americanos – nos EUA, não existe lei
contribuir com a saúde, a construção de vín- que obrigue as empresas a conceder férias, e
culos sociais e o envolvimento com a comuni- metade dos trabalhadores gozam de uma se-

35
O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo ESTADO DO MUNDO 2012

mana, ou menos, de férias anuais. Quanto substituição (quando benéfica) por outras op-
mais tempo de férias houver para um deter- ções seriam um passo fundamental para o de-
minado tempo de trabalho, menor será a mé- crescimento, mesmo que para alguns isso pa-
dia da jornada de trabalho semanal e maior reça a “reversão do progresso.”
será a disponibilidade geral de postos de tra-
balho. O mesmo raciocínio vale para a licença- Como Cultivar uma
maternidade. Os Estados Unidos são um dos
únicos quatro países que não têm licença-ma-
Economia de Plenitude
ternidade paga. Além de colaborar para a cria-
ção de vínculos entre a mãe e o bebê e au- A socióloga Juliet Schor estuda há décadas
mentar a chance de aleitamento materno, a jornadas de trabalho e os altos níveis de con-
licença-maternidade reduz o total de horas sumo associados ao trabalho excessivo. Ela
trabalhadas pela população como um todo, chamou a atenção para essas questões em li-
contribuindo assim para uma melhor distri- vros de muito sucesso como Overspent Ame-
buição de empregos. Na Suécia, os pais de rican and The Overworked American. Em
novos bebês recebem, em conjunto, 480 dias 2010, ela publicou Plenitude — termo que se
de licença, sendo que 390 desses dias são re- refere a grande abundância ou à condição de
munerados à razão de 80% do salário con- fartura. Nesse livro, Schor faz um apelo para a
junto dos pais. Sendo assim, não é de estranhar redução controlada da economia de consumo,
que muitos desses casais se sintam estimulados pregando que mais pessoas se sustentem com
a trabalhar menos.33 um conjunto diferenciado de atividades eco-
De modo geral, será necessário promover nômicas formais e informais. Schor sugere,
uma melhor distribuição das jornadas de tra- por exemplo, uma postura de autonomia no
balho e, no devido momento, uma contração abastecimento e compra de alimentos, incen-
da economia de consumo. A retração do con- tivo à aquisição de artigos de artesanato, me-
sumo, sobretudo, se bem conduzida, poderia nor descarte e maior reuso de produtos. Em
se concentrar em bens e serviços que são esti- última análise, a mudança de uma parcela da
mulados artificialmente com a única finalidade economia doméstica para essas atividades eco-
de gerar lucro e que acarretam saúde precária nômicas informais “expande as alternativas da
e degradação ecológica. É verdade que as in- família em termos de trabalho, uso do tempo
dústrias de tabaco, de alimentos de baixa qua- e consumo”, observa Schor. “Quanto maior o
lidade, automobilísticas, de armamentos, de grau de abastecimento próprio, menor a ne-
bebidas alcoólicas, de cosméticos, de embala- cessidade de renda para reproduzir determi-
gens descartáveis e de muitos outros setores da nados padrões de vida”.34
economia produzem empregos. Porém, será A combinação de mudanças voluntárias na
que essas indústrias, tantas vezes irresponsáveis jornada de trabalho com as inevitáveis contra-
socialmente, deveriam ser mantidas nos pata- ções de mercado poderia acelerar esse modelo
mares atuais apenas para sustentar níveis gerais de plenitude. A recessão nos Estados Unidos
de emprego? Ou deveria a sociedade mudar a teve um efeito no aumento no número de fa-
economia para que chegássemos a um modo mílias em que várias gerações vivem sob o
de vida saudável e sustentável e ao mesmo mesmo teto – hoje 51,4 milhões de america-
tempo tivéssemos trabalhos que não danificam nos, uma alta de 10% no período entre 2007 e
o planeta e o bem-estar da humanidade no 2009. Quando gerações diferentes moram na
longo prazo? A redução, ou mesmo a extinção mesma casa, os custos de vida podem ser re-
completa, de certos setores econômicos e sua duzidos substancialmente, por exemplo, gastos

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo

com moradia, serviços públicos e


transporte. Mesmo proporcionando
renda média inferior, esse arranjo
contribuiu para que as taxas de po-
breza dessas famílias fossem inferio-
res à de modelos convencionais.
Além disso, os mais velhos têm con-
dições de ajudar a cuidar das crianças
(e também podem receber cuidados,
se necessário), dessa forma dimi-

Biblioteca do Congresso
nuindo o gasto com os pequenos e
os idosos. Outra vantagem desse
modelo é que as famílias têm condi-
ções de assumir mais atividades eco-
nômicas de cunho doméstico, como
manter uma horta ou criar animais. Cartaz de propaganda social do governo dos EUA, 1917
Embora tais afazeres demandem [Dizeres do cartaz] Tio Sam diz – Faça sua horta para reduzir custos
tempo, podem ser realizados com
maior facilidade porque as horas dedicadas às de subsistência doméstica e cooperar para a
tarefas são distribuídas entre as pessoas.35 normalização dessa estratégia habitacional e de
A coabitação de diferentes gerações de uma aspectos mais amplos de um modo de vida
mesma família deveria ser incentivada pela cul- com plenitude.37
tura popular e respaldada por incentivos go- A colaboração desse setor não deve ser me-
vernamentais porque se trata de um modelo nosprezada. Durante a Segunda Guerra Mun-
que pode reduzir sensivelmente custos ecoló- dial, 40% das verduras e legumes consumidos
gicos e econômicos, recriar capital e redese- pelas famílias eram plantados em hortas co-
nhar a densidade demográfica nos bairros. munitárias. O cultivo de hortas pode reduzir
Mais do que isso, tal modalidade pode inclu- não apenas o custo das famílias com alimentos,
sive abrir novas oportunidades de empreendi- mas também os impactos ecológicos da agri-
mentos, com fez, por exemplo, a Lennar, uma cultura, desde que se ensinem formas de cul-
incorporadora americana que criou uma nova tivo de alimentos que privilegiem métodos or-
linha de moradias pensadas para aqueles dis- gânicos e de manejo integrado de pragas.
postos a aderir a essa mudança demográfica.36 Como as mudanças climáticas desestruturam a
O marketing social estratégico também po- agricultura de larga escala e como os países que
deria levar grande contribuição. Nos Estados sofrem de insegurança alimentar proíbem a
Unidos, os publicitários têm como alvo esses exportação de grãos, as hortas domésticas ou
novos arranjos familiares desde o início da re- comunitárias poderiam ter um papel determi-
cessão, antes de mais nada, para vender-lhes nante na segurança alimentar e adaptabilidade
mais bugigangas. No entanto, se o governo e comunitária. As hortas individuais já têm um
entidades voltadas ao interesse público tam- papel fundamental em Cuba, por exemplo,
bém atingissem essas famílias, distribuindo desde que o colapso da União Soviética redu-
panfletos e vídeos online e organizando works- ziu o acesso da ilha a petróleo barato. Só em
hops sobre preparo de conservas, reparos bá- Havana, mais de 26.000 hortas estão espalha-
sicos, corte e costura, e assim por diante, seria das em 2.400 hectares de terra, produzindo
possível incentivar a diversificação de modos 25.000 toneladas de alimentos por ano.38

37
O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo ESTADO DO MUNDO 2012

Juliet Schor é uma otimista. Ela acredita mais simples. Iniciativas como a do papa
que, com o tempo, as pessoas se sentirão de- Bento XVI, defendendo um Natal de menor
siludidas com o estilo de vida ditado pelo tra- apelo comercial e maior significado, ou a
balho em tempo integral, gastos e consumo e, ideia judaica que propões um padrão kosher
por isso, buscarão com empenho um jeito de ecológico com incentivo de opções de ali-
viver mais plenamente, dedicando menos ho- mentos mais sustentáveis, ou ainda, a pro-
ras a empregos remunerados e ajudando a re- posta de um Ramadã verde defendida por al-
construir as economias locais. Algumas orga- guns muçulmanos, em que o rito do jejum
nizações da sociedade civil já trabalham de anual passa a incluir alimentos cultivados lo-
diversas formas no sentido de acelerar essa calmente, assim reduzindo as pegadas de car-
transição. Durante muito tempo houve esfor- bono em 25%, evidenciam uma vasta gama de
ços para que as pessoas vivessem com mais ações religiosas que motivam estilos de vida
simplicidade — trabalhando menos, com- mais simples. Em 2009, a Igreja Católica
prando menos e aproveitando o tempo livre criou o voto de São Francisco, assim cha-
com amigos, familiares ou atividades de lazer. mado em homenagem ao monge que viveu
As iniciativas de “simplicidade voluntária” as- como asceta no século 13 e é o patrono do
sumiram formas variadas — de círculos de es- meio ambiente. Aqueles que fazem o voto são
tudo a programas na televisão com temas cen- convidados a refletir sobre seu próprio im-
trados em estilos de vida simples, de boicotes pacto ecológico, a refazer escolhas e com-
como o “Dia Sem Compras” a sites que aju- portamentos que reduzam suas pegadas de
dam a compartilhar e permutar produtos. Es- carbono e a defender com mais emprenho a
sas práticas vêm ajudando milhões de pessoas criação de Deus. As iniciativas desse gênero
a diminuir gastos.39 no âmbito das comunidades religiosas ainda
são relativamente poucas. Porém, dado
que no mundo todo 80% das pessoas
se identificam como religiosas, se o pa-
pel das lideranças religiosas for am-
pliado, a transição para uma sociedade
com plenitude poderia ocorrer com
rapidez extraordinária.40
Nos Estados Unidos, os Common
Security Clubs deram início, há poucos
anos, a um trabalho intenso de resgate
de capital social e vínculos na economia
informal. Os membros da comunidade
se reúnem em grupos de 10 a 20 pes-
karina y

soas para discutir como poderiam pres-


tar ajuda mútua, trocando suprimentos
Forno em ambiente externo na Comunidade de Sirius, uma e socializando recursos, de ferramentas
ecovila em Massachusetts e caminhões a um quarto extra na casa
de alguém. Os vizinhos voltam hoje à
Do mesmo modo, fortemente amparadas mesma prática do passado: ajudar-se. Assesso-
em antigos ensinamentos, muitas religiões rados pelo Institute of Policy Studies, esses clu-
vêm mostrando um papel ativo para estimu- bes estão agora se disseminando por todo o
lar seus adeptos a buscarem estilos de vida país, com crescimento maior nas comunidades

38 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo

religiosas ou em pequenas cidades que já pra- As Ecovilas são mais um empreendimento


ticam um nível elementar de coesão social. com função essencial na concretização da eco-
Além de favorecer a capacidade de adaptação nomia de plenitude. Hoje, existem centenas
das comunidades, esses grupos também ensi- delas no mundo todo, e muitas dessas comuni-
nam temas econômicos mais abrangentes e dades estão há décadas na vanguarda de um
mobilizam os participantes a serem ativos po- modo de vida sustentável e maleável que inclui
liticamente.41 práticas como a permacultura, uso de materiais
Em escala mais ampla, o foco do movimento de construção alternativos, sistemas de energia
Cidades em Transição, fundado em 2005, é a renovável e até mesmo a adoção de técnicas já
redução do uso energético e a “relocalização” caídas no esquecimento, como tração a cavalo
das economias e sistemas alimentícios, para para a agricultura. A maioria dessas ecovilas
que as comunidades se tornem mais adaptáveis tem como missão indispensável disseminar es-
a um futuro com restrições crescentes. Existem ses conhecimentos para a sociedade em geral e,
hoje perto de 400 comunidades em 34 países nesse sentido, organizam regularmente retiros
reconhecidas oficialmente como Iniciativas de e workshops para visitantes do mundo todo.44
Cidades em Transição. Essas cidades reuniram As Ecovilas redescobriram também uma sa-
diversos setores da sociedade para a criação de bedoria tradicional que terá importante papel
hortas comunitárias, uso comum de ferramen- em um futuro com limitações. Em The Farm,
Tennessee, por exemplo, as parteiras são de-
tas e permuta de resíduos entre as diferentes
positárias do conhecimento de práticas que já
empresas, por exemplo. Em Shaftesburyis, In-
estavam esquecidas, uma vez que o sistema
glaterra, existe até mesmo um “eco-circo” que
médico americano se apropriou de tecnologias
emprega palhaços, humor e apresentações para
modernas para partos. Atualmente, um terço
ensinar a crianças e familiares alguns conceitos
das mulheres grávidas nos Estados Unidos re-
das mudanças climáticas e de modos de vida
corre à cesariana, muitas vezes arriscando, sem
sustentáveis.42
necessidade, a própria vida e a do bebê. Mui-
Nos Estados Unidos um programa chamado
tos desses procedimentos ocorrem devido a
Projeto Oberlin está levando o modelo da Ci- informações errôneas, pressões culturais e in-
dade em Transição para um novo patamar, com clusive devido a intimidações às equipes dos
o intuito de promover a revitalização sustentá- hospitais por causa do maior tempo exigido
vel do entorno da Oberlin College, em Ohio. pelos partos naturais. O programa de parto na-
A ideia do projeto é fazer uso criativo dos re- tural da The Farm já capacitou muitas novas
cursos energéticos, profissionais e financeiros da parteiras e está chamando a atenção para a
comunidade universitária, aprofundando a visão medicalização exagerada que envolve os re-
ecológica dos participantes, para que se crie cém-nascidos, mostrando ainda que cesarianas
uma cidade sem emissão de carbono. Além quase nunca são necessárias. De um total de
disso, o projeto contempla a formação de um 3.000 nascimentos sob o programa da The
cinturão verde de “8.000 hectares de terras Farm desde 1971, menos de 2% foram por ce-
cultiváveis e florestas”, que será, na verdade, o sariana. Considerando-se os recursos ecológi-
pilar de sustentação de uma economia local só- cos e financeiros exigidos para esse tipo de ci-
lida. Segundo David Orr, professor da Oberlin rurgia (além dos riscos à mãe e ao bebê), a
e um dos visionários por trás do projeto, o pro- diminuição de intervenções médicas desne-
grama completo funcionará também como “um cessárias será fundamental. Sendo assim, a so-
laboratório educacional importante para quase ciedade precisará levar a sério experiências
todas as disciplinas”.43 como a do The Farm e extrair delas inspiração

39
O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo ESTADO DO MUNDO 2012

e ensinamentos sobre as melhores formas de li- A aldeia colombiana de Gaviotas demonstra


dar com as demandas médicas em bases sus- precisamente o que pode ser conquistado por
tentáveis e seguras.45 uma pequena comunidade comprometida com
Cabe também aos governos uma função o restauro ecológico. Esse povoado de 200
valiosa no estímulo a uma economia de pleni- moradores se formou em uma região degra-
tude. Com o domínio da economia consu- dada de savana 30 anos atrás, e desde então, já
mista, muitas dos conhecimentos práticos ne- replantou mais de 8.000 hectares de florestas
cessários a uma economia de plenitude se nas terras adjacentes — uma área maior que a
perderam e precisarão ser reaprendidos. Os de Manhattan. Essa floresta hoje abastece a al-
governos poderiam, por exemplo, custear ca- deia com alimentos e produtos florestais co-
pacitação, diretamente ou por intermédio de mercializáveis, ao mesmo temo em que ab-
organizações financiadoras comunitárias ou sorve 144.000 toneladas de carbono por ano.
sem fins lucrativos, como forma de contribuir O apoio a esse tipo de restauro ecológico pro-
com o resgate de aptidões domésticas básicas. movido pela comunidade – especialmente de
Isso já está em curso em diversos países euro- formas que incentivem estilos de vida com
peus. Mais de 1.200 “propriedades rurais de baixíssimo consumo – pode ser de grande
cunho social” foram constituídas na França, ajuda na busca de sustentabilidade.48
por exemplo, e mais de 700 na Holanda. Es- Por fim, existe ainda mais um ponto im-
ses empreendimentos utilizam a agricultura portante relativo à economia de plenitude.
como forma de criar empregos e desenvolver Trata-se da capacidade ecológica que será li-
novas competências, mas, além disso, oferecem berada para os realmente pobres e da manu-
oportunidades de reconexão com a natureza, tenção de serviços essenciais à sociedade num
constroem vínculos comunitários e, em alguns futuro permeado por restrições — hospitais,
casos, ajudam na reabilitação de deficientes vacinas, antibióticos, escolaridade básica, pro-
mentais, sem contar que fornecem hortifrútis dução energética, sistemas de água limpa e
proveniente de fontes sustentáveis e locais.46 outras demandas semelhantes.
Os governos poderiam também auxiliar in-
divíduos e comunidades a se engajarem no
gerenciamento e na recuperação de terrenos
Rumo ao Decrescimento
públicos localizados em áreas afastadas. É certo
que essa proposta não seria atraente para to- Em última análise, a ideia de desvincular
dos, no entanto, cada vez mais gente vai ao en- crescimento de prosperidade já deixou de ser
calço de oportunidades para um estilo de vida um sonho utópico e é agora uma necessidade
mais tradicional. Se houver respaldo, uma nova financeira e ecológica, como diz Tim Jackson.
e mais ousada versão do movimento “de volta Contudo, hoje existe um entendimento arrai-
ao campo”, de 1970, poderá decolar. Neste gado de que prosperidade é sinônimo de con-
momento, a derrocada financeira na Grécia já sumo cada vez maior e crescimento redo-
ocasionou o crescimento de 32.000 postos de brado. Sendo assim, a transição para o
trabalho no setor agrícola, mesmo com o au- decrescimento precisará redefinir cabalmente o
mento vertiginoso do desemprego em geral, sentido de prosperidade, recuperando o sen-
de 12% para 18%. Se houver capacitação ade- tido tradicional do significado dessa palavra:
quada e gestão ágil e sustentável dos ecossiste- saúde, vínculo social, liberdade para se dedicar
mas, esse estilo de vida rural terá baixo impacto a atividades de lazer e trabalho interessante.49
e poderá cumprir uma função ambientalmente O modo de comunicar essa alteração de
restauradora.47 significado será um desafio, sobretudo diante

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo

do fato que 1% do produto econômico mun- crescimento. Diversas publicações e sites de-
dial é gasto anualmente na comercialização dicam-se ao assunto, como a revista mensal
de bens e serviços e da ideia romanceada de francesa La Décroissance e o portal Degrowth-
que isso trará felicidade. Para serem bem-su- Pedia.hub. À medida que o tema do decres-
cedidas, as estratégias de comunicação preci- cimento ocupa maior espaço nas discussões e
sarão chegar a esferas diversificadas, da Inter- políticos progressistas articulam ideias mais
net e salas de aula às cabines de votação e salas positivas a esse respeito, o conceito poderá
de estar. Felizmente, algumas iniciativas pro- deixar de ser um tabu e converter-se em um
missoras já nos apontam o caminho.50 tema mais normal, abrindo caminhos para que
Em primeiro lugar, estratégias de “marketing a mídia e partidos políticos convencionais
social” são hoje utilizadas para fazer frente ao rompam com a convicção de que o cresci-
consumo exagerado e ao crescimento. O pro- mento é sempre bom.52
jeto The Story of Stuff (A História da Bugi- Atitudes mais vigorosas nas escolas e em
ganga) conseguiu não apenas se contrapor ao ambientes acadêmicos também ajudam. Em
uso de cosméticos, aparelhos eletrônicos e 2009, a Adbusters Media Foundation — a
água engarrafa, mas também ao gasto de fun- quem se atribui o começo dos movimentos
dos ilimitados em marketing político. A New Dia Sem Compras, Semana Sem Televisão e
Economics Foundation fez um curta-metragem Ocupe Wall Street — deu início a uma cam-
que capta perfeitamente o contrassenso repre- panha propondo que estudantes de economia
sentado pelo crescimento infinito, usando a desafiassem seus professores a adaptar o mo-
ideia com um hamster. Como explicitado pelo delo econômico neoclássico imperfeito a rea-
filme, se um hamster não parasse de crescer até lidades de vida ecológicas num planeta finito.
chegar à idade adulta, pesaria 9 bilhões de to- Por meio de atividades como colar cartazes,
neladas em seu primeiro aniversário e “conse- promover debates, enviar cartas abertas e até
guiria comer todo o milho produzido anual- mesmo sair da sala de aula — como fez um
mente em um único dia e, ainda assim, teria grupo de alunos de Harvard em novembro de
fome”. Como concluído pelo narrador, “Há 2011 — os estudantes esperam que o currículo
um motivo para que tudo na natureza cresça dos departamentos de Economia comecem a
em tamanho apenas até certo ponto, portanto, ensinar uma “nova economia, pautada por
por que os economistas e os políticos acredi- uma dimensão humana e holística.” Numa
tam que a economia poderá crescer para sem- atitude semelhante, mas de menor confronto,
pre?” Seguindo nessa mesma direção, mas com grupos como Net Impact, que conta com
público muito maior, filmes de sucesso de 20.000 membros em seis continentes, desen-
Hollywood como Avatar e WALL·E também volvem um trabalho conjunto com professores
contribuem, e muito, para pôr em foco os e administradores de faculdades de adminis-
possíveis resultados devastadores de uma ob- tração, com o objetivo de integrar cursos so-
sessão contínua com o crescimento e o con- bre sustentabilidade e responsabilidade social
sumismo — literalmente, a destruição do pla- aos currículos acadêmicos e ajudar os forman-
neta Terra.51 dos a encontrarem oportunidades de trabalho
Além da indústria cinematográfica, existe em empresas com responsabilidade social.53
hoje uma mobilização pelo decrescimento, Símbolos da cultura popular utilizados com
com atividades que vão de conferências anuais habilidade para questionar o crescimento tam-
sobre o tema ao despontar de um movimento bém podem ser úteis. Um exemplo vem do ce-
político; em diversos países, incluindo França nário inédito e ambientalmente pedagógico
e Itália, já existem partidos políticos pelo de- de Colonizadores de Catan, um jogo de ta-

41
O Caminho para o Decrescimento em Países com Desenvolvimento Excessivo ESTADO DO MUNDO 2012

— nesse caso, a ilha de Catan. O


jogo oferece caminhos para vencer
com base em responsabilidade am-
biental, e não no crescimento, e
mostra que o crescimento exagerado
pode levar à derrota de todos os jo-
gadores. Assim, a brincadeira conse-
gue contribuir para que os partici-
pantes combatam até os limites do
crescimento.54
No final das contas, quer as lide-
ranças da sociedade aceitem ou não,
os limites naturais da Terra, escanca-
Leo Murray

rados aos nossos olhos pelos números


crescentes de uma população de 7
Hamster em crescimento perpétuo depois de ter consumido a bilhões que se esforça para viver
maior parte da Terra. como consumidora, enterrarão o
mito do crescimento contínuo, prin-
buleiro premiado, com mais de 18 milhões de cipalmente em decorrência das mudanças pro-
unidades vendidas, traduzido para 30 idio- fundas nos sistemas de nosso planeta. Portanto,
mas. O lugar, Catan: Oil Springs, incorpora o decrescimento já faz parte do futuro da hu-
com clareza os efeitos adversos do cresci- manidade. Conseguiremos lutar pela conquista
mento, como poluição e mudanças climáti- dessa plataforma? Ou será que a Terra e suas li-
cas, e questiona se o crescimento contínuo mitações inerentes imporão a contração da eco-
pode ser a meta definitiva de um sistema finito nomia mundial?

42 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
CAPÍTULO 3

Planejamento para o Desenvolvimento


Urbano Inclusivo e Sustentável
Eric S. Belsky

dar atenção e elaborar um plano para essas

M
ilhões de pessoas pobres vivem hoje
em lugares sinalizados nos mapas de áreas de favelas, os doadores internacionais, as
planejamento como “vagos” ou “de- organizações não governamentais (ONGs) e
socupados”. Esses locais, surgidos de modo muitos governos se esforçam de diversas for-
imprevisto como assentamentos não autoriza- mas para aprimorar as condições nas comuni-
dos em países em desenvolvimento, são, mui- dades carentes. As instituições doadoras e as
tas vezes, tratados pelas autoridades como se ONGs se empenham em fazer o que podem
fossem temporários, apesar de abrigarem em para melhorar a moradia e outras condições de
todo o mundo quase um bilhão de pessoas que vida, fornecendo serviços e financiamento para
investiram trabalho e o escasso capital de que a melhoria da habitação e infraestrutura para a
dispunham na construção de suas casas. comunidade. Essas instituições e organizações
Tais lugares não são, de forma alguma, tem- também empreendem esforços setoriais para
porários, e muitas famílias neles residem há criar postos de trabalho e desenvolver as po-
duas ou mais gerações; na verdade, eles são, tencialidades da população mais desassistida.
com toda certeza, bem visíveis. Chamados de Recentemente, com a maior conscientização
favelas ou assentamentos informais, muitos es- sobre as ameaças que as alterações climáticas
tão dentro das áreas urbanas ou nos seus arre- representam, sobretudo para as favelas onde há
dores. Para pessoas que não vivem lá ou não se sérios riscos ambientais, confirmou-se a im-
utilizam do trabalho ali realizado ou dos bens portância da criação de áreas urbanas susten-
e serviços fornecidos por seus moradores, es- táveis do ponto de vista ambiental.1
sas favelas são vistas como locais feios e desa- No entanto, os governos quase sempre re-
gradáveis, zonas de assentamentos ilegais, fon- lutam em colocar seus limitados recursos nes-
tes de preocupação humanitária, locais de sas comunidades porque os direitos de pro-
problemas aparentemente insolúveis e, no mí- priedade da terra em muitas delas ainda têm
nimo, como lugares inseguros para se visitar. que ser estabelecidos em bases mais firmes e
Apesar da ambivalência por parte de muitos boa parte das habitações e das atividades eco-
governos quanto à possibilidade e o modo de nômicas nas favelas não estão, a rigor, em con-

Eric S. Belsky é diretor do Centro Conjunto de Estudos de Habitação da Universidade de Harvard.

43
Planejamento para o Desenvolvimento Urbano Inclusivo e Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

formidade com as leis e regulamentos. Isso ropa já vivem nas cidades (Ver Tabela 3-1). Na
aprofunda a ambivalência sobre como, se, e em África e na Ásia, cerca de 4 em cada 10 pessoas
quais comunidades carentes investir. Assim, vivem em áreas urbanas, sendo que a África
apesar das dificuldades, deve-se encontrar uma Oriental e o centro-sul da Ásia são as sub-regiões
saída para atender à população urbana de baixa com menos áreas urbanas nesses continentes,
renda. Embora existam alguns resultados po- mas tanto a África quanto a Ásia vivenciam o
sitivos, eles se contrapõem a um cenário de crescimento maior no número de habitantes
problemas crônicos profundos cujo enfrenta- das cidades. O aumento dessas populações foi de
mento eficaz tem se mostrado difícil, bem 3,4% e 2,3% ao ano, respectivamente, de 2005
como ao ritmo acelerado de urbanização que a 2010. Ambas as regiões deverão ter maiorias
está refreando os esforços para reduzir os ní- urbanas nos próximos 20 anos.2
veis mundiais de pobreza urbana e as condi- As cidades são a força motriz do cresci-
ções miseráveis das favelas. mento econômico e, como tal, estão se tor-
As atitudes dos governos devem ser proati- nando cada vez mais essenciais para a produ-
vas ao invés de reativas ao lidar com as favelas ção econômica e a geração de empregos. Na
e o crescimento da pobreza urbana. Os menos verdade, as 25 maiores cidades respondiam
favorecidos que vivem nas áreas urbanas são por cerca de 15% do produto interno bruto
elementos importantes da sociedade e da eco- mundial (PIB) em 2005 (Ver Quadro 3-1). Os
nomia das cidades. Direcionar o potencial de níveis de desenvolvimento, quando medidos
contribuição desse grupo para o crescimento por renda per capita e pelo PIB, aparecem
econômico e para a saída da pobreza é funda- correlacionados com o grau de urbanização.
mental para o sucesso do desenvolvimento so- Em 2005, por exemplo, o PIB per capita dos
cioeconômico, tanto em âmbito nacional países industrializados ocidentais predomi-
como mundial. É imprescindível minimizar os nantemente urbanos foi 57% maior do que o
riscos ambientais e de saúde a que os mora- verificado nos países de bases rurais. Embora
dores das favelas estão expostos, evitando as- a rápida urbanização esteja associada ao forte
sim crises humanitárias. Acomodar o aumento crescimento da renda na Ásia nos últimos 45
da população urbana de baixa renda através de anos, nem de longe isso ocorreu na África. As-
ordenamento espacial discutido com prudên- sim, embora a urbanização possa estar asso-
cia, ao invés de apresentar soluções imediatistas ciada a maior renda per capita, outros fatores
para os migrantes carentes, pode evitar novos as- têm importância equivalente para ampliar o
sentamentos que não possuem infraestrutura e crescimento da renda nacional.3
títulos de posse legal e desimpedida. Para atin- A pobreza urbana é generalizada e pro-
gir o objetivo global de desenvolvimento ur- gressiva. De acordo com o Programa das Na-
bano sustentável, é importante voltar a atenção ções Unidas para os Assentamentos Humanos
para os impactos ambientais das favelas. (UN-HABITAT), 828 milhões de pessoas vi-
vem em favelas, um aumento de 61 milhões
A Vida na Cidade desde 2000. Com a contínua urbanização glo-
bal em ritmo tão acelerado, é fundamental en-
A população mundial e a produção econô- contrar maneiras de prover moradias acessíveis
mica estão se deslocando cada vez mais para e dignas perto dos postos de trabalho para que
áreas urbanas. Mais de 70% das pessoas na se reduzam a destruição do hábitat e as emissões
América do Norte, na América Latina e na Eu- de carbono. Os moradores de favelas vivem em

44 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Planejamento para o Desenvolvimento Urbano Inclusivo e Sustentável

condições extremas de carestia


Tabela 3-1. Participação da População Mundial Urbana, por
e insalubridade: saneamento
Regiões e Áreas Principais, 2000-2030
inadequado, moradias degra-
dadas, falta de acesso a água Percentual de população
potável, agrupamento exces- em áreas urbanas
sivo de pessoas ou espaço in- Regiões e Áreas Principais 2000 2010 2020 2030
suficiente, ameaça de despejo, Mundo 46 50 54 59
assistência médica inadequada Regiões mais desenvolvidas 73 75 78 81
e alta exposição ao crime. Nes- Regiões menos desenvolvidas 40 45 50 55
sas áreas, os indicadores de África 36 40 45 50
saúde são baixos e as taxas de África Oriental 21 24 28 33
mortalidade estão bem acima África Central 37 43 50 56
da média. 4 África Setentrional 48 51 55 61
África Meridional 54 59 63 68
No entanto, por mais difí-
África Ocidental 39 45 51 57
ceis que sejam as condições,
Ásia 37 42 47 53
essas comunidades ao menos Ásia Oriental 40 50 57 64
oferecem um teto rudimentar Centro-Sul Asiático 29 32 36 42
a grande parte da população Sudeste Asiático 38 42 47 53
urbana. Em 2010, as favelas Ásia Ocidental 64 67 69 73
abrigavam cerca de um terço Europa 71 73 75 78
de toda a população urbana América Latina e Caribe 75 80 83 85
nos países em desenvolvi- Caribe 61 67 71 75
mento. Num grau mais ex- América Central 69 72 75 78
América do Sul 80 84 87 89
tremo, estima-se que 62% da
América do Norte 79 82 85 87
população urbana na África Oceania 70 70 70 71
subsaariana viva em favelas.
Mesmo nas regiões com per- Fonte: Ver nota 2 no final

centuais relativamente baixos,


como a América Latina, em
países como o Haiti grande parte da popula- balho nas cidades. Segundo a Organização In-
ção pobre que vive nas cidades ainda mora em ternacional do Trabalho, por exemplo, 84%
favelas. E como nem todos os habitantes de- dos postos de trabalho fora do setor agrícola
sassistidos das cidades vivem em áreas classifi- na Índia, 54% no México e 42% no Brasil es-
cadas pelas Nações Unidas como favelas, a tão no setor informal. Os consumidores e as
parcela carente da população urbana é ainda
empresas urbanas também se beneficiam dos
mais elevada.5
bens e serviços de baixo custo produzidos ou
As favelas abrigam também empresas do
prestados pelos pobres, e eles também execu-
setor informal, como micro e pequenas em-
presas e negócios caseiros, que contribuem de tam trabalhos que não são do interesse das
forma significativa para a criação de empregos, pessoas no setor formal, mas que são necessá-
o desenvolvimento econômico local, a eco- rios para o funcionamento da cidade. E, de
nomia urbana e o crescimento do país e res- modo geral, desempenham um papel funda-
pondem por grande parte dos postos de tra- mental na reciclagem.6

45
Planejamento para o Desenvolvimento Urbano Inclusivo e Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 3-1. O Rápido Crescimento das Megacidades

O número de megacidades, aquelas com mais Outro projeto criativo pode ser encontrado
de 10 milhões de habitantes, mais do que em Dhaka, onde uma parceria entre os setores
duplicou nos últimos 20 anos, de 10 em 1990 público, privado e civil para tratar os resíduos
para 21 em 2010. Elas abrigam hoje 7% da orgânicos tem rendido muitos benefícios
população mundial. No topo da lista nos econômicos, sociais e ambientais. Uma usina
últimos anos está Tóquio, com 36,7 milhões de de compostagem com capacidade de
pessoas. Délhi, com 22,2 milhões de pessoas, processamento de 700 toneladas de lixo
passou da 11a posição em 1990 para ser a orgânico por dia foi criada com um modelo
segunda maior cidade em 2010. Os 16,6 inovador de financiamento que a viabilizou
milhões de moradores de Xangai fizeram com através do envolvimento da comunidade e
que a cidade passasse da 18a posição em 1990 de cooperação público-privada.
para a 7a em 2010. As previsões apontam que Com bom planejamento, cidades com
até 2025 haverá 27 megacidades. Essas cidades alta densidade demográfica podem oferecer
de alta densidade apresentam um conjunto oportunidades sistêmicas para atenuação e
único de desafios. Mas se estrategicamente adaptação às mudanças climáticas. A Cidade
planejadas, elas poderiam também oferecer do México, por exemplo, descobriu que um
oportunidades significativas. plano de sustentabilidade integrado é eficaz no
As áreas urbanas usam 75% de energia do combate à poluição do ar. As áreas abordadas
mundo, ainda assim, as metrópoles com incluem o uso e planejamento da terra,
densidade populacional alta oferecem transporte, gestão de resíduos e planejamento
oportunidades para economia de energia e em relação à ação climática, bem como áreas
projetos mais inteligentes. Sistemas aparentemente não relacionadas, como o uso
combinados de aquecimento e energia, redes e abastecimento de água. Além disso, de
inteligentes, transporte coletivo abrangente e a acordo com o Plan Verde, o Distrito Federal
produção de alimentos para a população deve ter um enfoque regional no que se refere
urbana podem ter efeitos de longo alcance. à preservação do ecossistema e da terra, com
O fornecimento de serviços essenciais, como serviços de monitoramento e fornecimento de
saneamento e água doce, é algo muito difícil ar puro, alimentos, florestas e água ao redor
em muitas megacidades dos países em da área urbana.
desenvolvimento. Cerca de 250-500 milhões de Nos últimos anos tem havido esforços
metros cúbicos de água potável são para apresentar novos estudos de casos de
desperdiçados em muitas dessas cidades a melhores práticas em planejamento urbano
cada ano. Economizar essa quantidade poderia sustentável, como, por exemplo, um guia
abastecer com água potável 10 a 20 milhões de das Nações Unidas para o desenvolvimento
pessoas a mais em cada cidade. A cidade de urbano sustentável. Se a ideia é que as
Délhi encontrou uma solução: o abastecimento megacidades façam parte da solução para
de água a partir do aproveitamento da coleta de um futuro sustentável, será essencial
água pluvial, o que resultou em um aumento oferecer maior apoio a líderes da
real no nível do lençol freático. No entanto, as comunidade urbana para que as estratégias
preocupações com o abastecimento de água de desenvolvimento sejam implementadas.
ainda existem lá, uma vez que as mudanças
climáticas podem levar à ocorrência de menos —Alexandra Hayles
Worldwatch Institute Europe
chuvas. Além disso, a potabilidade da água em
Délhi é uma questão intimamente ligada à Fonte: Ver nota 3 no final.
implementação de saneamento.

46 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Planejamento para o Desenvolvimento Urbano Inclusivo e Sustentável

Mudança de Atitudes e Prioridades pressão para um modelo de reurbanização das


favelas que pode comprometer suas funções es-
senciais de abrigo e seu papel econômico. De
A importância do desenvolvimento urbano
acordo com um relatório da ONU de 2007,
inclusivo e sustentável fica cada vez mais clara.
entre 1995 e 2005 mais de 10 milhões de pes-
A relevância do tema pode ser encontrada em
soas foram despejadas à força em apenas seis
livros acadêmicos que chamam a atenção para
países. Contudo, economias em expansão ofe-
a importância da “base da pirâmide” e as opor-
recem oportunidades para que os investimen-
tunidades que ela oferece para o desenvolvi-
tos financiem a urbanização de favelas. Isso
mento global; nos apelos específicos e funda-
pode ser feito direcionando a demanda por
mentados em favor do desenvolvimento urbano
empreendimentos imobiliários de alto nível
inclusivo e sustentável vindos do setor privado;
para a construção de moradias de preços aces-
no nítido crescimento da atenção e de progra-
síveis com subsídios cruzados e convertendo o
mas institucionais de apoio ao desenvolvimento
crescimento econômico e a valorização da terra
sustentável – evidências de que as atitudes vol-
em receitas públicas voltadas para bens e servi-
tadas à pobreza urbana começam a mudar para
ços públicos. O total de IDE em países em de-
melhor. Por exemplo, um relatório do McKin-
senvolvimento aumentou 12% entre 2009 e
sey Global Institute sobre desenvolvimento in-
2010, chegando a US$574 bilhões. O IED no
clusivo e sustentável na Índia argumenta que
setor imobiliário e em terras também está au-
maior atenção às cidades em expansão e aos
mentando. Em muitos lugares o empreendi-
centros urbanos é vital para o futuro cresci-
mento imobiliário oferece taxas de retorno al-
mento econômico e a prosperidade do país.
tas porque a demanda por moradias e espaços
Os autores apresentam estimativas detalhadas
comerciais é superior à oferta. Isso confere um
da necessidade de investimentos de capital e
senso de urgência à abordagem das condições
despesas operacionais do setor público em áreas
das favelas e dos impactos ambientais do cres-
urbanas em toda a Índia e recomendam formas
cimento urbano.8
de angariar fundos para cobri-los, com ênfase
especial na forma de conduzir a venda de terras
públicas e nos mecanismos regulatórios de fi- A Prática Vigente em
nanciamento para moradias seguras, adequadas Planejamento Urbano
e de valor acessível.7
A importância do desenvolvimento am- Infelizmente, o planejamento no âmbito
bientalmente suscetível ou sustentável tam- regional, municipal e local quase nunca dá a
bém ganha reconhecimento cada vez maior. devida consideração aos pobres e às suas co-
Um indício nesse sentido é o Programa Cida- munidades. A prática mais comum de plane-
des Sustentáveis criado no início da década de jamento em escala regional é a concepção de
1990 pela ONU em colaboração com o UN- grandes projetos de infraestrutura, incluindo
HABITAT. O objetivo do programa é formu- distribuição de água e descarte de efluentes,
lar projetos e planejamento para que as cida- transporte (em especial, ferroviário e metrô) e
des promovam o crescimento e a igualdade produção e distribuição de energia. Ao plane-
priorizando a sustentabilidade ambiental. jar esses sistemas, as autoridades regionais
Enquanto isso, o ritmo acelerado de desen- quase nunca consultam as organizações co-
volvimento e investimento estrangeiro direto munitárias das favelas. Na verdade, como os
(IED) cria novas oportunidades de remodela- mapas de planejamento muitas vezes não re-
ção das cidades, mas, ao mesmo tempo, exerce conhecem os assentamentos informais, uma

47
Planejamento para o Desenvolvimento Urbano Inclusivo e Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

interrupção que venha a ser causada pelas de- até que as pressões de reurbanização exercidas
cisões de planejamento de infraestrutura só é pelo setor privado cresçam e façam com que as
percebida tarde demais. Essa é uma questão autoridades municipais tracem planos não di-
das mais problemáticas porque os moradores vulgados publicamente.11
muitas vezes ocupam os direitos de passagens Boa parte da planificação municipal é feita
onde novas obras de infraestrutura deveriam de forma não coordenada e é pautada por pro-
ser instaladas.9 gramas setoriais restritos, como esgoto, água,
A planificação conjunta entre autoridades energia, habitação ou escolas. No entanto,
regionais e autoridades e planejadores muni- conciliar transportes, desenvolvimento econô-
cipais também não é um procedimento co- mico e uso da terra com metas de moradia po-
mum e, muitas vezes, isso corre apenas depois pular permite a contenção do espraiamento ur-
de as decisões sobre o local e os tipos de in- bano, promove o crescimento econômico com
fraestrutura para a construção já terem sido to- igualdade, reduz o tráfego e consumo de ener-
madas. Além disso, as autoridades regionais gia e ajuda a desenvolver potencialidades. Por
são instituídas pelos governos federais, esta- outro lado, a falta de coordenação aumenta as
duais e municipais com o objetivo claro de pla- chances de desastres ambientais como desliza-
nejar e operar infraestruturas de grande porte. mentos de terra, uma vez que as encostas são
Assim, essas autoridades costumam não levar muitas vezes ocupadas por gente pobre. Se es-
em consideração investimentos em infraestru- sas pessoas forem empurradas para as perife-
tura de menor escala, que podem ser decisivos rias, distantes do local de trabalho, isso causará
ou servir de sustentação para o desenvolvi- um aumento das emissões de dióxido de car-
mento urbano inclusivo e sustentável.10 bono e a contaminação de bacias hidrográficas,
No âmbito municipal, o planejamento está afetando o abastecimento de água da cidade.
direcionado, acima de tudo, à infraestrutura de Além disso, em muitos lugares não existem
menor escala (como o descarte de resíduos só- planos para acomodar novos migrantes po-
lidos ou a construção de pequenas estradas), bres nas áreas urbanas. Mas planejar novos as-
aos planos de desenvolvimento ou restauração sentamentos com moradias dignas perto dos
de bairros e à regulamentação do uso do solo locais de trabalho e que a população mais des-
e das edificações. Porém, os planos de revita- favorecida consiga pagar é vital para cidades
lização de bairros quase nunca recebem finan- ambientalmente sustentáveis e justas.12
ciamento, a regulamentação do uso da terra e Para que ocorram avanços nas condições
das edificações não costuma contar com gerais e nos resultados econômicos das comu-
grande apoio e os planos de reurbanização de nidades de favelas, é preciso haver planeja-
favelas são criados com pouca ou nenhuma mento e investimento expressivos. Embora al-
participação da comunidade ou transparência guns governos municipais, estaduais ou
pública. O relatório do McKinsey observa, federais empreendam alguns esforços, são os
por exemplo, que “em tese, a Índia tem pla- doadores internacionais e as ONGs que assu-
nejamento urbano, mas eles são mais esotéri- mem o comando na maioria das vezes. Os
cos do que práticos, quase nunca são seguidos programas para melhoria das condições de
e estão repletos de isenções”. vida têm focalizado sobretudo a habitação
Assim como no âmbito regional, na esfera (por meio de medidas de regularização fun-
municipal, as consultas feitas à população de diária, subsídios, crédito imobiliário e planos
baixa renda em relação ao planejamento dos de poupança para que os proprietários consi-
bairros quase nunca são cuidadosas, e muitas gam financiar benfeitorias em suas proprieda-
favelas acabam sendo ignoradas no processo des) e infraestrutura comunitária, tais como

48 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Planejamento para o Desenvolvimento Urbano Inclusivo e Sustentável

melhores vias públicas, descarte de resíduos só- Banco pediu que os governos elaborassem po-
lidos e sistemas de saneamento, sistemas de líticas e estruturas de “habilitação” que libe-
distribuição de água potável, postos de saúde, rassem e direcionassem o investimento pri-
escolas e espaços para mercados, encontros vado. Uma das medidas frequentes adotadas
comunitários e recreação. Um número cres- como parte do esforço para contornar a baixa
cente de favelas exige hoje que os governos capacidade de planejamento municipal foi a
municipais forneçam serviços como energia constituição de empresas de desenvolvimento
elétrica, água e esgoto, e descarte de resíduos. urbano imbuídas de grande poder, incluindo
A coordenação setorial ainda não é comum. a autoridade para realizar desocupações. Ainda
No entanto, é mais provável que os pontos de assim, uma característica importante desse
vista e necessidades dos moradores de comu- novo enfoque foi a descentralização do plane-
nidades carentes sejam levados em conta pelos jamento e da autoridade governamental.15
doadores e ONGs no processo de planeja- No entanto, tal como ocorrera com a abor-
mento e não pelas autoridades municipais. dagem formal anteriormente aplicada – que
Isso é especialmente verdadeiro no caso das tratava a planificação “de cima para baixo” –
iniciativas das associações comunitárias. Essas houve também aqui uma desilusão com o en-
associações, em sua maioria, são fortes e estão colhimento do papel do estado. Mesmo o
cada vez mais engajadas no planejamento de Banco Mundial, um dos principais defensores
suas comunidades e na construção de redes da liberalização econômica, reconheceu, em
para sua própria organização. A mais notável um relatório de 1997, a importância do pla-
delas é a Moradores de Assentamentos Precá- nejamento do setor público, citando estudos
rios Internacionais. Com efeito, uma quantia indicativos de que essa forma de planejamento
significativa do financiamento dos doadores é em vários países asiáticos aumentara o cresci-
destinada à criação e ao fortalecimento de or- mento econômico e resultara em uma distri-
ganizações comunitárias e a estatísticas sobre buição mais justa dos seus benefícios.16
a população carente.13 Hoje, começa a surgir um novo paradigma
para o papel do governo na gestão, direção e
facilitação do investimento privado. Nesse
Intensificação do Planejamento novo modelo, a importância do planejamento
do setor público é uma vez mais ressaltada,
Nas décadas de 1950 e 1960 houve grande mas agora o enfoque é tanto “de cima para
otimismo com a ideia de que o planejamento baixo” como “de baixo para cima” (ou de
do setor público poderia conduzir e forjar o forma participativa), sendo que cabe ao go-
desenvolvimento socioeconômico urbano e verno facilitar o investimento privado e, ao
nacional. Mas o desencanto com esse modelo mesmo tempo, direcioná-lo de modo a aten-
deu-se na década de 1970, sendo um dos mo- der às finalidades públicas de desenvolvimento
tivos o fato de as decisões de planejamento se- inclusivo e sustentável.17
rem quase sempre implementadas com pouca Em suma, uma importante linha de racio-
participação popular.14 cínio a ser apresentada é que um setor público
Isso deu início a um período de liberaliza- revigorado deve envolver todos os níveis go-
ção do mercado e de privatizações nas décadas vernamentais do país – nacional, estadual/pro-
de 1980 e 1990. Esta mudança ideológica na vincial, regional, municipal e distrital. Além
perspectiva foi estimulada, entre outros, pela disso, é necessário um verdadeiro esforço coor-
Agência Norte-Americana para o Desenvolvi- denado para promover cidades que ofereçam
mento Internacional e pelo Banco Mundial. O mais qualidade de vida, que sejam ambiental-

49
Planejamento para o Desenvolvimento Urbano Inclusivo e Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

mente sensíveis e economicamente competiti- senvolvimento urbano inclusivo e sustentável,


vas e que se configurem como inclusivas. Mais cuja planificação e execução ficariam a cargo
uma vez, a ausência de uma visão abrangente dos governos e autoridades municipais. Esse
e coordenada em relação ao planejamento e o mecanismo se justifica porque os governos fe-
não envolvimento da população carente na derais exercem poderosa influência sobre o
elaboração e implementação de planos conti- planejamento e desenvolvimento das áreas ur-
nuam a impor barreiras ao atendimento das banas: eles controlam grande parte da receita
necessidades da população pobre e à sua inte- usada para financiar o desenvolvimento local;
gração ao desenvolvimento econômico. outorgam poderes específicos para instâncias
Os governos precisam estimular o investi- inferiores de governo; e, muitas vezes, estabe-
mento privado de grande e pequena escala, lecem o arcabouço jurídico para a regulação do
aliando planejamento estatal forte a uma es- uso e da posse da terra e dos direitos de pro-
trutura que também possibilite a participação priedade. Portanto, é de responsabilidade do
do mercado, e aproveitar esse investimento governo federal a reformulação das leis e das
para gerar receitas públicas suplementares e di- estruturas de governança que hoje desencora-
recionar investimentos públicos e privados na jam ao invés de promover o desenvolvimento
consecução de metas de inclusão, sustentabi- inclusivo e sustentável.
lidade e redução da pobreza. Embora os go- Embora ainda se trate de um trabalho em
vernos devam tentar potencializar e apoiar o andamento, um exemplo de iniciativa para a
investimento privado, eles não devem abdicar criação de uma estratégia nacional de desen-
de seu papel de planejadores e provedores de volvimento urbano é a Missão Jawaharal
bens públicos essenciais para todas as comu- Nehru de Revitalização Urbana, na Índia. Ou-
nidades e todas as faixas de renda. De mega- tro bem-sucedido programa de base ampla foi
projetos a microcrédito e investimentos que a a Autoridade de Desenvolvimento Urbano de
própria população carente faz em habitação e Cingapura, que enfrentou a superpopulação e
microempresas, os investimentos privados dão a urbanização com planos estratégicos e plu-
forma à cidade. E é papel do governo estimu- rianuais voltados à infraestrutura e aos con-
lar e aproveitar esses investimentos de forma a juntos habitacionais. Em 1965, cerca de 70%
atender a importantes fins públicos. da população da cidade vivia em favelas muito
Para que os planejadores do governo se adensadas; hoje, as favelas se foram. Alguns
adaptem por completo ao novo contexto será planos nacionais mais restritos que se concen-
necessário um grande desenvolvimento de ca- traram em habitação produziram resultados
pacidade institucional. Essa meta exigirá ainda impressionantes, como o Sistema Financeiro
liderança e vontade política, sobretudo das Nacional de Habitação da Costa Rica, a Lei da
autoridades federais, estaduais, ou locais, para Habitação da África do Sul de 1997 e o pro-
que se delegue aos planejadores urbanos a ta- grama nacional de habitação Desbravando No-
refa de coordenação de investimentos seto- vos Caminhos, criado em 2010 também nesse
riais e direcionamento do investimento pri- último país.18
vado, tarefa essa que deverá se amparar em Em segundo lugar, em um sistema de pla-
regulamentações e em parcerias público-pri- nejamento “muscular” as autoridades de pla-
vadas. Como seria esse sistema de planeja- nejamento urbano regional seriam instituídas
mento “muscular”? pelo governo federal, estadual ou provincial,
Em primeiro lugar, esse novo modelo co- com a função de coordenar o planejamento
meçaria com a formulação, feita pelo governo em diversos municípios. Mesmo onde haja
federal, de uma estratégia de incentivo ao de- apenas um único município em uma área ur-

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Planejamento para o Desenvolvimento Urbano Inclusivo e Sustentável

bana, a autoridade desenvolveria um trabalho ao desenvolvimento e ao meio ambiente.20


coordenado com outras esferas administrati- Em quarto lugar, esse método produziria
vas, quer no âmbito estadual, provincial, mu- planos detalhados para ocupação dos espaços
nicipal ou distrital. Na região urbana da Ci- metropolitanos, propondo ordenamento da
dade do México, a Comissão Executiva de implantação de nova infraestrutura e melhoria
Coordenação Metropolitana, criada em da infraestrutura existente, disponibilizando
1999, trata de questões de planejamento re- habitação acessível e criando novas zonas em-
gional na área de expansão metropolitana presariais e comerciais. Além disso, também es-
através de um órgão governamental cuja tariam contempladas as necessidades físicas de
competência é distribuída entre a cidade, o intervenções setoriais, tais como centros de
estado do México e o governo federal e que saúde e escolas voltados ao desenvolvimento
coordena programas estaduais e municipais. social, melhoria das vias e transportes públicos,
Na China, o governo federal estruturou e in-
comércio varejista, mercados e espaços mistos
tegrou o transporte regional e o desenvolvi-
de moradia e trabalho que tivessem como pa-
mento econômico no delta do rio Pérola.
râmetro o desenvolvimento econômico nas
Políticas espaciais direcionadas conectam fun-
favelas. Esses planejamentos espaciais estariam
cionários e fábricas a autoestradas e ferrovias
vinculados a estratégias específicas de finan-
em um plano regional multicêntrico abran-
gente que maximiza a urbanização no sentido ciamento e prosseguimento dos investimentos
de impulsionar o desenvolvimento econô- públicos necessários. O plano Metrô 2030 de
mico em municípios da região.19 Nairóbi incorpora algumas dessas ideias. Em
Em terceiro lugar, esse sistema seria proa- um esforço para estimular o desenvolvimento
tivo no planejamento do crescimento e das econômico, melhorar a infraestrutura de sa-
mudanças em todas as regiões urbanas. O neamento e transporte e dar início à melhoria
planejamento de moradias e infraestrutura geral das favelas, os planos de longo prazo da
adequadas, bem como a localização de no- cidade requerem métodos de planejamento
vos assentamentos necessários para abrigar a integrado que conciliem a natureza multise-
população carente, mereceria atenção espe- torial desses desafios. 21
cial. Isso é necessário para evitar a es-
colha de locais que isolem a popula-
ção pobre dos meios de subsistência
sustentáveis e que não ofereçam mo-
radia e infraestrutura acessíveis a esse
contingente. Uma tentativa particu-
larmente interessante de fugir de
planos diretores estáticos com o en-
foque “de cima para baixo” e adotar
uma abordagem participativa estra-
tégica e progressiva foi a Estrutura
Akuppa John Wigham

de Planejamento Estratégico de De-


senvolvimento Urbano de Kahama,
feita na Tanzânia, em 2000. Esse
modelo é digno de atenção por sua
natureza multisetorial e por lidar
com conflitos em interações voltadas Blocos de apartamentos modernos, Cingapura

51
Planejamento para o Desenvolvimento Urbano Inclusivo e Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

As políticas de planejamento urbano em planejamento físico e espacial. Em muitos ca-


Curitiba, Brasil, são também claramente espa- sos, soluções criativas para residência e espaços
ciais e levaram a um significativo desenvolvi- mistos de moradia e trabalho permitiram que
mento urbano sustentável. A cidade integrou construções verticais e maior adensamento po-
novas linhas de ônibus expressos a planos de pulacional liberassem espaço para melhorias
uso de terrenos que determinavam a utilização de infraestrutura e revitalização e, ao mesmo
e a densidade com a finalidade de estruturar o tempo, acolhessem desabrigados e oferecessem
desenvolvimento comercial, empresarial e re- áreas que atendessem suas necessidades. Den-
sidencial com base no sistema de transporte tre os exemplos, pode-se citar o projeto piloto
público. Entre outros aspectos de sucesso Ju'er Hutong em Pequim com seu plano de
dessa linha de atuação na experiência de Curi- “novo protótipo de pátio”; o Projeto Walk-up
tiba, cabe ressaltar a diminuição do conges- Kampung, em Bandung, na Indonésia, onde
tionamento do trânsito, o direcionamento do famílias trabalharam junto com planejadores e
desenvolvimento urbano, a melhoria da qua- arquitetos do governo para transformar um
lidade do ar, a maior mobilidade dos cidadãos bairro informal de moradias de andar único
e a conexão da população urbana a moradia, em um ambiente com apartamentos de vários
emprego e serviços sociais em toda a cidade.22 andares, sem prejuízo ao modo de vida dos
Essa necessidade de planejamento físico moradores, o que foi possível com replaneja-
passa pela infraestrutura em grande escala em mento e realocação de espaços abertos e resi-
todas as regiões urbanas, por transportes que denciais; e o programa Favela Bairro de me-
atendam a cidade inteira e por planificação lhoria de assentamentos em favelas no Rio de
Janeiro, em 1993.23
Em quinto lugar, um processo de
planejamento municipal “muscular”
envolveria totalmente a população
pobre e as associações comunitárias
na elaboração e implementação dos
planos, ajudando a capacitar os me-
nos favorecidos a participar do pla-
nejamento. Há um consenso cada
vez maior de que isso é fundamen-
tal. Ajudar a população carente a
criar sua própria visão de melhoria e
revitalização de suas comunidades
possibilitaria que os doadores finan-
ciassem esses grupos para que eles
Morio

mesmos desenvolvessem seus pró-


Construção de ponto de ônibus com cobertura em Curitiba, Brasil prios planos. Um excelente exemplo
recente disso sentido é um plano fí-
das zonas residenciais, comerciais, industriais e sico abrangente de urbanização de Dharavi,
de uso misto. Há experiências muito interes- em Mumbai, Índia.24
santes em que o planejamento para revitaliza- Em sexto lugar, esse modelo seria baseado
ção e benfeitorias parciais de favelas teve re- em fatos e amparado em informações detalha-
sultados muito mais positivos quando contou das sobre as famílias, o entorno urbano, a
com o envolvimento da população pobre no prestação de serviços municipais, a infraestru-

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tura, as atividades econômicas, as condições ônibus ao invés de extensas redes ferroviárias,


ambientais, as organizações sociais e comuni- ou painéis solares em vez de geração e distri-
tárias e os fluxos de pessoas e das atividades buição de eletricidade a partir de usinas) pode
econômicas em determinadas áreas da região atender a determinadas necessidades dos mais
urbana. Todas essas informações devem ainda carentes melhor do que obras de infraestrutura
ser coletadas na maioria das favelas, no en- de porte. Isto ocorreu, por exemplo, na criação
tanto, a mobilização da população pobre para de sistemas de corredores de ônibus expressos
reunir os dados necessários é cada vez maior e em Bogotá. Além disso, é possível que muitos
mais produtiva. Exemplos recentes nesse sen- países cheguem à conclusão que uma maneira
tido incluem o trabalho de preparação para o importante de tornar as cidades mais sustentá-
plano de Dharavi, bem como um projeto cha- veis será compactando-as. A bem da verdade,
mado Mapeie Kibera, no Quênia (Ver Capí- o planejamento de moradias, incluindo con-
tulo 5) e um plano de mapeamento digital de juntos habitacionais populares que comportem
riscos ambientais no Rio de Janeiro.25 grandes adensamentos ao longo de novos cor-
Em sétimo lugar, o processo de planeja- redores de transporte e em áreas de novas cons-
mento seria transparente e com a devida res- trução, é essencial para a redução de carbono.27
ponsabilização. Os planos de urbanização de Em nono lugar, seriam desenvolvidos pla-
áreas de favelas são, com frequência, criticados nos explícitos para as favelas, levando em conta
não só por não envolverem a população pobre, as suas situações específicas e tratando os po-
como também por falta de transparência e in- bres de forma justa. Várias iniciativas em escala
suficiente prestação de contas dos resultados e nacional têm sido empreendidas com o in-
da utilização dos fundos investidos. De fato, a tuito de formular planos de melhoria de fave-
transparência do governo pode permitir a par- las, inclusive no Brasil, na Colômbia, no Egito,
ticipação democrática de diferentes faixas de na Indonésia, em Marrocos, no México, na
rendas. Em Porto Alegre, Brasil, uma iniciativa África do Sul, na Tailândia e na Tunísia. Ao
empreendida nos anos 1990 criou um orça- criar esses planos, é importante avaliar os ris-
mento participativo municipal que envolveu cos, pressões e condições em cada favela. Uma
diversos representantes dos moradores da ci- política padronizada é impossível. As necessi-
dade e permitiu aos cidadãos fiscalizar o orça- dades das comunidades próximas aos locais
mento municipal e alocar os recursos de acordo de trabalho são diferentes das demandas sen-
com consensos e necessidades. Esse grau de tidas pelos moradores que vivem mais distante
participação e transparência aumentou a efi- do emprego, por exemplo. É importante tam-
ciência governamental, melhorou a coleta de bém avaliar se uma favela apresenta risco de
resíduos e o abastecimento de água para a po- desastres naturais, como inundações e desliza-
pulação urbana pobre e facilitou a formação de mentos de terra. Os planejadores precisam
parcerias público-privadas para a prestação de considerar quanto de receita pública poderia
alguns serviços municipais e de infraestrutura.26 ser gerada para a urbanização de favelas com a
Em oitavo lugar, na medida do possível, o reconstrução parcial de uma área. Embora o
planejamento seria coordenado entre diversos reassentamento de pessoas talvez seja uma es-
setores, mas especialmente na área de habitação colha difícil, tais decisões podem ser tomadas.
acessível, transporte e desenvolvimento eco- Mas, em cada caso, devem ser feitas provisões
nômico. No planejamento de infraestrutura, para alojamentos substitutos adequados, con-
deve-se ponderar se infraestrutura distribuída e siderando não apenas padrões mínimos ou de
de pequena escala (como melhores vias públi- melhor qualidade de moradia, como também
cas e sistemas de transporte por corredores de acesso a meios de subsistência.28

53
Planejamento para o Desenvolvimento Urbano Inclusivo e Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

Em décimo lugar, dado que os desastres na- zação comunitários, aperfeiçoar o transporte
turais representam um problema cada vez mais público garantindo acesso às favelas, conferir a
frequente em virtude das mudanças climáticas, segurança da posse e propriedade da terra e
e considerando o rápido crescimento das áreas desenvolver as potencialidades e o rendimento
urbanas, o planejamento seria também uma dos pobres. O significado mais importante
medida preventiva. Existem alguns bons exem- disso tudo é que não é necessário esperar que
plos de planejamento preventivo inclusivo para todas as pré-condições estejam estabelecidas,
evitar os danos que poderiam ser causados por tais como boas instituições, leis e regulamen-
desastres naturais, como o projeto Revitaliza- tos de apoio e mercados com bom funciona-
ção de Favelas na aldeia de Ketelan, em Sura- mento, mas sim identificar, fortalecer e explo-
karta, na Indonésia, ou a Estratégia de Adap- rar os esforços que já trazem avanços, para que
tação às Mudanças Climáticas, em Durban, possam ser reproduzidos em outros lugares.
na África do Sul.29
Em tese, diversos esforços em todo o Barreiras ao Desenvolvimento
mundo parecem incorporar um ou mais desses
dez pontos de um sistema mais vigoroso de
Urbano Inclusivo e Sustentável
planejamento e implementação. Mas, na prá-
tica, a concretização desses objetivos tem sido Para que o desenvolvimento urbano inclu-
problemática e os resultados têm sido contra- sivo e sustentável seja promovido cinco bar-
ditórios entre os países em desenvolvimento. O reiras devem ser superadas. A primeira é a am-
México, por exemplo, criou em 2006 o Fundo bivalência política em relação à melhoria das
Metropolitano. Previsto para disponibilizar fi- favelas. Embora, por um lado, as condições de
nanciamento federal para os problemas me- vida na maioria das favelas sejam deploráveis e
tropolitanos e para a coordenação do planeja- muitos de seus moradores não tenham direitos
mento, uma avaliação feita em 2009 apontou claros de propriedade, por outro lado, a reali-
que os recursos desse fundo haviam sido siste- dade é que essas favelas fornecem, ao menos,
maticamente alocados em estradas e rodovias – amparo rudimentar para um grande número
favorecendo transporte automotivo particular de pessoas pobres e abrigam empresas que
– e apontou ainda que quase nunca foram uti- lhes suprem um meio de subsistência.31
lizados em projetos de infraestrutura social, O segundo maior obstáculo é a carência de
transporte público, análise econômica regional recursos públicos e capital privado para me-
ou planejamento para espaços públicos.30 lhorar as condições de vida nas favelas e ajudar
A estruturação desse sistema de planeja- a população de baixa renda a aumentar seus
mento “muscular” levará tempo, mas isso não rendimentos e a explorar suas potencialida-
deve ser usado como desculpa para a falta de des. Na maioria dos países em desenvolvi-
ação voltada à pobreza urbana e às favelas. É mento a fonte da receita é um empecilho para
vital buscar todas as oportunidades para me- que os recursos públicos sejam alocados de
lhorar as condições de vida da população ur- modo a trazer diferenças significativas. O
bana pobre, reduzir as emissões de carbono e ritmo acelerado do crescimento urbano tam-
limitar a destruição do hábitat produzida pe- bém apresenta aos governos a difícil escolha de
las áreas urbanas e seu crescimento. Isso sig- direcionar os escassos recursos públicos, quer
nifica prosseguir com os esforços setoriais, para as favelas existentes quer para a criação de
como, por exemplo, posicionar as novas mo- novos assentamentos autorizados que sejam
radias de preço acessível perto dos locais de bem planejados. Isso serve de incentivo para se
trabalho, fortalecer o planejamento e organi- encontrar formas de mobilizar o investimento

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Planejamento para o Desenvolvimento Urbano Inclusivo e Sustentável

privado na melhoria das favelas, seja direta- Como o sucesso do planejamento e a melho-
mente por seus próprios moradores ou pelos ria das favelas muitas vezes depende da decisão
credores externos, empregadores ou presta- desses agentes, os líderes políticos não raro
dores de serviços municipais.32 afirmam que esses são problemas de difícil so-
Sendo assim, os governos precisam fornecer lução. A superação desses obstáculos requer
bens públicos de alto custo: informações sobre vontade política, capacidade de resolução de
as atividades econômicas, famílias e mercados; conflitos e recursos públicos.
segurança da posse e da propriedade da terra; O quarto grande obstáculo é a falta de ex-
transporte; energia; infraestrutura de sanea- periência do município para elaborar e imple-
mento; água e esgoto; educação pública e es- mentar planos abrangentes para a redução da
colas; centros de saúde pública; proteção e se- pobreza. Mesmo quando há vontade política
gurança; habitação acessível e digna disponível para combater a pobreza urbana, envolver esse
àqueles que não têm condições financeiras de grupo no planejamento e aumentar o gasto
obtê-la no mercado privado; e seguro – neces- público com essa questão, faltam estruturas de
sário para atrair empréstimos e investimentos governança e capacidade de planejamento, ne-
privados quando os riscos forem muito altos. cessárias a uma atuação eficaz. Os órgãos mu-
Mesmo em países de renda alta, as restrições nicipais são simplesmente despreparados para
nas receitas públicas significam que esses bens traçar planos de desenvolvimento urbano in-
públicos raramente são disponibilizados na me- clusivo e sustentável. A maioria dos governos
dida do necessário. Mas nos países em desen- municipais luta com dificuldade para fazer
volvimento – que que são ao mesmo tempo frente à folha de pagamento, sofre com falta de
pressionados por mais recursos e têm necessi- pessoal para gerir as operações e os serviços
dades maiores – esses bens públicos quase governamentais de forma satisfatória e não tem
nunca são direcionados às favelas, sendo, por- planejadores – nem mesmo os pertencentes à
tanto, um obstáculo à redução da pobreza. velha escola ou os versados nos planos “de cima
A terceira barreira são os conflitos origina- para baixo”, e menos ainda profissionais dis-
dos nas tomadas de decisão sobre se ou como postos e capazes de trabalhar com múltiplos
melhorar, reconstruir, ou demolir as favelas. agentes em busca do planejamento inclusivo.
Muitas pessoas se beneficiam, direta ou indire- Quando as agências doadoras tentam melhorar
tamente, de sua condição presente, lucrando a capacidade de planejamento municipal, há
com os mercados já bem estabelecidos (embora um forte risco de que isso não seja mantido
informais) nas favelas que lhes garantem, por quando se esgotarem os recursos dos doadores.
exemplo, trabalho, recursos para o pagamento Muitas vezes há pouca ou nenhuma informação
de aluguel, compra de alimentos e outros bens, sobre questões tão básicas como o número de
distribuição de energia elétrica e obtenção de pessoas nas favelas, suas características demo-
crédito. Esses interesses podem se chocar com gráficas, ou a localização das estruturas, ativi-
os das pessoas que desejam revitalizar as fave- dades econômicas, organização social, infraes-
las, planejar e levar os serviços públicos muni- trutura social e as vias de circulação pública. Isso
cipais aos seus moradores. Os conflitos também dificulta qualquer tentativa séria de planeja-
podem surgir de rivalidades étnicas ou religio- mento do espaço nas favelas.33
sas dentro de favelas, de tensões de classe, da Um quinto obstáculo relevante é que os
atividade criminosa, da corrupção política e próprios profissionais do planejamento não
das pressões políticas e econômicas para a re- estão bem preparados para traçar planos efica-
construção de algumas favelas. Enfrentar cada zes para as favelas existentes. De modo geral,
um desses conflitos é um enorme desafio. o planejamento contempla assentamentos e

55
Planejamento para o Desenvolvimento Urbano Inclusivo e Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

desenvolvimento antes que eles estejam em em moldes multisetoriais, e essa tendência é re-
curso, ou seja, parte da construção de infraes- forçada por estruturas institucionais que cana-
trutura. As favelas invertem essa sequência, lizam fundos para os setores separadamente.
fazendo com que os métodos de planejamento Assim, é importante que haja uma competên-
não possam ser seguidos em bases adequadas, cia institucional, técnica e de governança para
isto é, a infraestrutura tem que ser introduzida fazer a coordenação entre os diversos setores
depois que o local já tem tal grau de ocupação envolvidos, e isso abarca os níveis de planeja-
e de densidade, que abrir espaço para infraes- mento regional, municipal e comunitário.
trutura significa desestabilizar os atuais mora-
dores e as atividades econômicas. Esse é um Superação de Barreiras
dos maiores desafios e requer técnicas e sensi-
bilidade para as quais os planejadores munici-
pais não estão capacitados e que os grupos O que pode ser feito para desobstruir essas
profissionais em todo o mundo ainda se es- enormes barreiras para que o desenvolvimento
forçam para melhorar. urbano inclusivo e sustentável se torne reali-
O fato de tantas favelas começarem infor- dade o mais rápido possível? A resposta é to-
malmente como agrupamentos não autoriza- mar várias medidas ousadas que tratem das
dos também inverte ou desorganiza o plane- barreiras identificadas, tendo em mente a visão
jamento tradicional. O planejamento de um papel mais forte e mais eficaz das orga-
tradicional estabelece a subdivisão, zonea- nizações governamentais e da comunidade ao
mento e controles prediais que devem ser res- se formular o planejamento.
peitados, a menos que sejam concedidas alte- Comissões Nacionais de Desenvolvimento e
rações por razões particulares, deliberadas e Planejamento Urbano Sustentável. Essa ação
planejadas. Nas favelas, nenhum desses con- teria por finalidade mobilizar a vontade polí-
troles existia no início, e impô-las após uma si- tica, criar um senso de responsabilidade inter-
tuação já estabelecida é muito mais compli- nacional e assegurar o apoio de governos na-
cado. Além disso, o planejamento tradicional cionais. A criação dessas comissões ajudaria a
pressupõe o estado de Direito: direitos claros levantar a questão do desenvolvimento ur-
de propriedade e posse da terra são estabele- bano inclusivo e sustentável, tanto nacional
cidos, e os cidadãos podem recorrer aos tri- como internacionalmente, enfatizar a necessi-
bunais para proteger sua propriedade de desa- dade de planejamento, incorporar a transpa-
propriação injustificável ou arbitrária. No caso rência e promover uma troca de aprendizado
da maioria das favelas, esses direitos ainda es- entre as nações. Seria importante que as agên-
tão sendo negociados. cias regionais, universidades federais e institu-
Nem engenheiros nem planejadores estão tos de políticas nacionais apoiassem e colocas-
focados na infraestrutura que melhor pode sem em campo especialistas do setor para
atender às necessidades dos moradores pobres formar e equipar as comissões.
em áreas urbanas. O planejamento de infraes- Cada comissão teria por objetivo central a
trutura para toda a região urbana precisa con- definição de metas e políticas nacionais de de-
siderar alternativas para grandes projetos que senvolvimento urbano e a modificação das leis,
consigam minimizar os impactos ambientais tendo como parâmetro uma melhor divisão de
adversos e melhor responder às demandas da responsabilidades e autoridades entre as várias
população urbana de baixa renda. Além do esferas governamentais para o planejamento,
mais, de modo geral, os planejadores não são financiamento e implantação desse desenvol-
treinados nem estão acostumados a trabalhar vimento. Cada comissão nacional se encarre-

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garia de formular planos que levassem em de reurbanização e capacitação para planeja-


conta as limitações de seus recursos próprios, mento integrado. Um respaldo nesses moldes
o sistema político, a cultura, as condições poderia fomentar o planejamento e construir
atuais e os potenciais de mercado. Mas todas mais casos de estudo, contribuindo ao longo
as comissões teriam uma atribuição conjunta, do tempo para iniciativas de melhoria contínua
que poderia ser desenvolvida em um encontro do planejamento local. O financiamento po-
internacional como a Rio+20 ou ser implan- deria estar vinculado à demonstração dos re-
tada por regiões ou países específicos. (Ver sultados, como uma forma de estímulo para
Quadro 3-2.) uma postura de responsabilização e transpa-
Fundos Nacionais de Incentivo. Uma vez rência. Já existe um modelo para isso chamado
que as regiões metropolitanas e a maioria das Aliança de Cidades, financiado pelas cidades
cidades deixaram de criar uma visão e um plano membros, pelos governos nacionais e institui-
de desenvolvimento urbano inclusivo e sus- ções multilaterais, incluindo as Nações Unidas
tentável de longo prazo, elas talvez precisem de e o Banco Mundial. No entanto, o atual mo-
um incentivo para fazê-lo. Tal estímulo pode- delo é financiado em um patamar muito baixo.
ria partir de um fundo nacional que contem- A captação do valor mínimo de US$100 mi-
plasse os custos de implantação de estruturas lhões por país – montante necessário para os
adequadas de governança regional e local, leis Fundos de Incentivo – poderia ser obtida a par-

Quadro 3-2. Atribuições das Comissões Nacionais de Desenvolvimento e


Planejamento Urbano Sustentável

• Compreender como as leis e as políticas pobres e envolvê-las em planejamento


existentes encorajam ou desencorajam o urbano mais amplo.
desenvolvimento urbano inclusivo e • Definir responsabilidades e competências
sustentável. claras em cada nível de governo e planos em
• Reunir e mapear informações básicas sobre os relação à estruturação de governança e das
moradores das favelas, as atividades condições de planejamento governamental.
econômicas, a infraestrutura, os padrões de • Analisar que bens e serviços públicos os
circulação dentro das favelas, o acesso a governos poderiam fornecer para incentivar
transporte público e a suscetibilidade a riscos o investimento privado em moradias,
infraestrutura, serviços e negócios nas
ambientais.
favelas.
• Avaliar o potencial de uso da venda de terras
• Cobrar das autoridades urbanas regionais a
públicas e da regulamentação dos direitos de
análise das necessidades de infraestrutura
empreendimentos privados para financiar em todas as regiões metropolitanas,
melhorias para as comunidades de favelas e incluindo favelas, e as alternativas
remunerar os moradores desalojados. adequadas para projetos de infraestrutura
• Propor uma política e um cronograma para a de grande escala.
regularização da terra nas favelas como forma • Enviar relatórios aos organismos regionais e
de incentivar o investimento privado feito internacionais com o objetivo de
pelos atuais proprietários e moradores e compartilhar conhecimentos e melhores
garantir-lhes que não serão despejados. práticas, ressaltar positivamente esses
• Avaliar as leis e os regulamentos sobre esforços nacionais e manter a pressão de
ocupação de terra e indenização justa. seus pares sobre os governos para que eles
• Criar um plano de fortalecimento das promovam avanços expressivos nos
organizações comunitárias em coletividades objetivos de suas comissões.

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Planejamento para o Desenvolvimento Urbano Inclusivo e Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

tir de uma combinação de fundos subvencio- microempresas com necessidades de crédito de


nados dos orçamentos centrais dos governos curto prazo, o crédito imobiliário impõe em-
nacionais com subsídios municipais equivalen- préstimos de maior monta e de longo prazo. A
tes, contribuição dos doadores e dos investi- obtenção de crédito imobiliário é bastante di-
mentos feitos por fundos de pensões nacionais ferente. O financiamento da infraestrutura para
e pelas companhias de seguro.34 comunidades pequenas também é bastante
Fundos de Financiamento para Inovação. complexo porque depende do pagamento de
Mesmo os melhores planejamentos deixarão taxas por parte de vários usuários à ONG in-
de produzir resultados se não houver fundos e ternacional ou à organização comunitária local
modelos de financiamento para patrociná-los. que está fazendo o projeto de infraestrutura, de
Os governos nacionais devem identificar, in- modo que essas entidades consigam pagar o
vestir e exportar modelos de financiamento empréstimo. Isso significa que novas estratégias
bem-sucedidos. Além disso, devem considerar de financiamento – que poderíamos chamar de
a criação de fundos que forneçam o capital ini- financiamentos “intermediários” –, diferentes
cial para inovações e sejam usados para incre- dos modelos existentes de microfinanciamen-
mentar as mais promissoras no financiamento tos, devem ser testadas. O financiamento de
de habitação e infraestrutura para a população moradia e infraestrutura comunitárias tem tam-
de baixa renda, e devem ainda disponibilizar fer- bém grande necessidade de inovação na con-
ramentas integradas de financiamento. Os pro- cepção de produtos, em testes de hipóteses de
jetos de melhoria contínua das favelas e os de risco, na busca de possíveis fontes de capital, em
desenvolvimento urbano de maior dimensão modelos de risco compartilhado e nas parcerias
precisam estar amparados por veículos de fi- público-privadas.
nanciamento inovadores. As poucas propostas Há, no entanto, sinais promissores de que
criativas existentes merecem séria consideração, essas necessidades podem ser atendidas. Um
como o Projeto de Melhoria nas Favelas do dos programas promissores de infraestrutura
Quênia, em que o governo cria e licencia enti- comunitária é a administração municipal de
dades com propósitos específicos, conferindo- água em Manila. O governo municipal aplica
lhes autoridade para emissão de títulos, usando penalidades e lucros previstos para incentivar as
como garantia, dentre outros instrumentos, duas concessionárias de serviços de abasteci-
terras da Coroa. Também são de interesse as mento de água da cidade a cumprirem a meta
abordagens inovadoras para financiamento de de abastecimento segundo um padrão quase
moradia subsidiada, de preço acessível e com in- universal. Assim, as concessionárias foram le-
fraestrutura básica, como parte de empreendi- vadas a adotar técnicas inovadoras de prestação
mentos imobiliários de grande escala, de uso de serviços essenciais para atingir a população
misto e a preço de mercado. urbana pobre. As concessionárias já não exi-
Há também uma necessidade especial de gem título de posse da terra para efetuarem a
ajudar os moradores das favelas a financiar as ligação de água e instalar hidrômetros, e os
benfeitorias de suas casas. Como estão impos- usuários podem pagar a ligação em presta-
sibilitados de utilizar empréstimo imobiliário ções. Além disso, os usuários podem escolher
devido à exigência de título legal e desimpedido entre vários tipos de ligação, dependendo de
como forma de garantia – o que a maioria não sua renda. Em 2001, as concessionárias de
tem – os moradores de favelas precisam de uma serviços de abastecimento de água, criadas em
forma de financiamento que não exija garantias. meados dos anos 1990, tinham instalado
Ao contrário dos microfinanciamentos, que 238.000 novas ligações, 54% das quais em
têm sido usados com algum sucesso para ajudar bairros carentes. Um caso promissor em ter-

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mos de habitação é um programa de pou- Pequenas Medidas e


pança e construção no México chamado Pa- Ações Ousadas
trimonio Hoy. Criado pela Cemex, uma for-
necedora global de produtos de concreto, o
programa melhorou a habitação para os parti- Além dessas iniciativas, pequenas medidas
cipantes, proporcionando à empresa uma re- podem ser tomadas. Algumas das medidas des-
muneração adequada do investimento.35 critas acima poderiam ser adotadas mesmo
Grupo de Colaboração Acadêmica Inter- que uma ação de mais envergadura não seja
nacional em Governança e Planejamento. realizada. Ainda que comissões nacionais de
Considerando que a capacidade e as estruturas planejamento não sejam criadas, seria possível,
de governança para a condução de um desen- por exemplo, empreender ações para financiar
volvimento urbano inclusivo e sustentável são atividades das associações comunitárias, tais
atualmente frágeis na maioria dos países e áreas como quantificação dos moradores das favelas
urbanas, a tentativa de fortalecer a governança e fortalecimento de suas competências locais
e o planejamento seria muitíssimo beneficiada para formular e implementar planos de desen-
pelo esforço internacional em estudar as me- volvimento comunitário coordenado. De
lhores práticas, elaborar e testar possíveis avan- forma semelhante, mesmo que um grupo de
ços nas práticas de planejamento e estruturas colaboração acadêmica global não seja criado,
de governança, convocar conferências para a ainda assim seria possível tomar medidas para
troca de conhecimento e desenvolver progra- o financiamento da produção de novos mate-
mas de capacitação e ferramentas de planeja- riais de treinamento ou contar com algumas
mento que promovam a capacidade de plani- das principais universidades de todo o mundo
ficação de favelas e o rápido crescimento para a elaboração de um programa de certifi-
urbano nos países em desenvolvimento. Seria cação em desenvolvimento urbano inclusivo e
também interessante que um grupo de cola- sustentável que outros pudessem replicar.
boração acadêmica realizasse intervenções reais A comunidade mundial não pode se dar ao
para testar estratégias de melhoria conduzidas luxo de ignorar os desafios impostos pelo de-
em âmbito local com a participação de auto- senvolvimento urbano e seu impacto sobre o
ridades governamentais e associações comuni- meio ambiente, nem pela magnitude e cres-
tárias. O grupo de colaboração poderia tam- cimento da pobreza urbana. É evidente que
bém organizar comitês itinerantes de peritos muito deve ser feito, mas com vontade e di-
mundiais e recomendar aos líderes que apoiem recionamento, é possível construir um futuro
governos e secretarias de planejamento, pres- urbano mais brilhante para toda a população
tando assessoria externa e objetiva na avaliação e para o meio ambiente. Um número pro-
de barreiras legais e institucionais para o pla- gressivo de exemplos aponta o caminho para
nejamento inclusivo e fornecendo outros diag- um planejamento melhor e mais prático para
nósticos, bem como promovendo sessões so- o desenvolvimento urbano inclusivo e sus-
bre formulação de estratégias e prestando tentável. E há um crescente interesse no
outros serviços de assistência técnica para os tema. Tudo o que é necessário agora é uma
planejadores municipais. ação ousada.

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CAPÍTULO 4

Rumo ao Transporte Sustentável


Michael Replogle e Colin Hughes

mília acesso a trabalho, mercados e escolas.

D
anica May Camacho, uma dentre as
várias crianças escolhidas pelas ONU Mais do que isso, esse sistema propicia à cidade
para simbolizar o habitante mundial de Danica um modo de melhorar a qualidade
de número 7 bilhões, veio ao mundo em Ma- de vida urbana e de tirar gente da pobreza por
nila, em 31 de outubro de 2011. Nascida em meio de uma infraestrutura e serviços de trans-
uma das megacidades do mundo de mais rá- porte mais sustentáveis do ponto de vista
pido crescimento, Danica atravessará seus anos econômico, social e ambiental. A maneira de
de juventude em um cenário dominado por gerir os sistemas de transporte em Manila e em
carros, jeepneys (micro-ônibus típico das Fili- milhares de outras cidades de países em de-
pinas), caminhões pesados e motos que lhe tra- senvolvimento será determinante para a sus-
rão dificuldade para respirar e para atravessar as tentabilidade da vida nas próximas décadas,
ruas. Manila apresenta um dos piores resulta- para Danica e para os filhos que ela venha a ter.
dos mundiais em termos de congestionamento A cúpula mundial sobre sustentabilidade
de trânsito, tempo gasto para ir e voltar do tra- que ocorrerá em junho de 2012 no Rio de
balho e quantidade de partículas finas nocivas Janeiro será o palco onde lideranças mundiais
em suspensão geradas por meios de trans- levarão sua contribuição para desenhar esse
porte. Além disso, em 2006, Manila registrou futuro. Na Eco-92, 187 governos adotaram a
371 mortes no trânsito, sendo metade delas de Agenda 21, plano de ação internacional sobre
pedestres. Isso significa que Danica e seus pais desenvolvimento sustentável cujo teor corro-
correrão mais risco de contrair doenças respi- borava o modo de transporte sustentável. Nas
ratórias e passarão menos tempo juntos do duas décadas que transcorreram desde então,
que no trânsito. Eles também despenderão houve avanço considerável no sentido de de-
boa parte de sua limitada renda na compra de monstrar a viabilidade e o potencial para es-
veículo motorizado para cobrir percursos in- tratégias de transporte sustentável que aten-
viáveis de serem feitos a pé devido à falta de dam às necessidades de mobilidade de
condições de segurança.1 economias em expansão e, ao mesmo tempo,
No entanto, esse mesmo sistema de trans- diminuam custos e danos ao meio ambiente.
portes também oferecerá oportunidades im- No entanto, a maior parte dos investimentos
portantes e proporcionará a Danica e à sua fa- em transporte no mundo todo continua a

Michael Replogle é o diretor de políticas mundiais e fundador do Instituto de Políticas para Transporte e
Desenvolvimento (ITDP, na sigla em inglês). Colin Hughes é analista político do Instituto.

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beneficiar modalidades não sustentáveis. As vimento, impondo custos significativos a essas


condições institucionais e as estruturas de go- sociedades. As estimativas de acidentes em ro-
vernança necessárias ao planejamento e ao fun- dovias apontam para um aumento de 80% até
cionamento eficazes de sistemas de transporte 2020 nos países com predominância de classes
mais sustentáveis ainda não se disseminaram de renda baixa e média. As atividades de trans-
por completo, e os métodos de monitora- porte são responsáveis por 80% dos poluentes
mento e informações sobre a evolução rumo às atmosféricos nocivos que causam 1,3 milhão
metas de transporte sustentável ainda são frágeis. de mortes prematuras anualmente, em parti-
Sem mudanças programáticas que corrijam cular, nos países em desenvolvimento e nos de
a tendência à motorização desregrada (Ver Ta- renda média. Além disso, as emissões de dió-
bela 4–1), as perspectivas para o setor de trans- xido de carbono causadas pelo setor de trans-
portes são sombrias, sobretudo nos países em portes, um importante fator para as mudanças
desenvolvimento. Segundo projeções da climáticas, devem aumentar 300% até 2050 e,
Agência Internacional de Energia (IEA, na si- uma vez mais, a ocorrência maior será nos
gla em inglês), o número atual de carros au- países em desenvolvimento. Esse número é
mentará entre 250% a 375% até 2050, to- cinco vezes maior do que a redução mínima de
mando por base diversos cenários de gases de efeito estufa (GEE) que, segundo a
crescimento demográfico e econômico, e o IEA, é necessária para que o setor de trans-
transporte de cargas também se expandirá en- portes atinja a meta do Painel Intergoverna-
tre 75% e 100% no mesmo período. A maior mental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na
incidência desse aumento em atividades de sigla em inglês), meta essa estabelecida para se
transportes ocorrerá nos países em desenvol- evitar mudanças catastróficas no clima.2

Tabela 4–1. Características da Motorização Desregrada e do Transporte Sustentável

Motorização desregrada Transporte sustentável


Subsídios para combustível para motores, Subsídios para transporte público, bicicleta
estacionamentos e carros de empresa ou e moradia de baixo custo perto do acesso
de governo ao transporte público
Foco na capacidade de expansão de estradas; Modernização das vias públicas, com gestão e
descaso com ruas periféricas e manutenção operações de trânsito em tempo real
de calçadas
Estacionamentos e trânsito de veículos Espaço nas ruas com proteção para pedestres,
automotores expulsam ciclistas, pedestres, ciclistas e área pública
transporte público e parques
Transporte público desorganizado acarreta Ônibus expressos ou veículos sobre trilhos em
congestionamento de ônibus corredores com alta demanda, contratados
com base em desempenho
Espraiamento urbano desregrado Desenvolvimento referenciado em uso de
transporte público
Estruturas de governança frágeis para Estruturas de governança mais fortes para
políticas, planejamento e gestão voltados ao políticas, planejamento e gestão voltados ao
transporte e ao uso do solo transporte e ao uso do solo
Pouca atenção à igualdade de acesso entre os Acesso mais equitativo para a população pobre
diferentes grupos socioeconômicos ou com dificuldades especiais (jovens e adultos)

61
Rumo ao Transporte Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

Nos próximos 20 anos o mundo assistirá a perá-los, é necessário que se articule uma base
uma expansão tremenda na demanda por de compromissos no plano internacional com
transporte, impulsionada pelo rápido processo o intuito de estimular o engajamento e inicia-
de desenvolvimento econômico e urbaniza- tivas mundiais e monitorar o avanço de todos
ção. Porém, a conduta praticada atualmente os envolvidos. Em 1992, a Agenda 21 definiu
para responder à crescente demanda por trans- que programas na área de transportes eram
porte, que privilegia o aumento da frota de primordiais para a gestão de recursos naturais
automóveis e da infraestrutura viária, não é e a “melhoria da qualidade socioeconômica e
sustentável econômica, social e ambiental- ambiental dos assentamentos humanos.” As
mente. Como assinalado pelo prefeito de Bo- resoluções propuseram especificamente abor-
gotá, Enrique Peñalosa, a questão dos trans- dagens que contemplavam eficiência e custo-
portes é peculiar em relação aos demais benefício, como integração entre uso do solo
problemas dos países em desenvolvimento e planejamento dos transportes, transporte
porque ela piora com a prosperidade do país. público com taxas de ocupação altas, ciclovias
De modo geral, construir mais vias expressas e e passeios públicos seguros, intercâmbio de in-
aumentar a capacidade dos estacionamentos formações entre os países e reavaliação dos
para carros particulares não resolve o descon- atuais padrões de consumo e produção. No
gestionamento das redes de transporte e, além entanto, apesar do destaque e da profundidade
disso, polui a atmosfera, acelera as mudanças das discussões a respeito de transportes, metas,
climáticas, aumenta a dependência de com- objetivos, compromissos ou outras formas de
bustível importado, contribui para a obesi- responsabilização não se concretizaram.
dade e doenças respiratórias e colabora para o O Protocolo de Kyoto, adotado por 191
aumento do número de fatalidades no trânsito. países desde 1997, estipulou compromissos
As consequências negativas vão além, isolando legalmente vinculantes para que até 2012,
a população mais pobre e impondo-lhe uma houvesse uma redução média de 5% nas emis-
escolha entre aceitar emprego com baixa re- sões mundiais dos gases de efeito estufa
muneração no setor informal, porém perto de (GEE), em comparação com os níveis de
moradias mais acessíveis, ou optar por traba- 1990. O acordo priorizou buscar no mercado
lhos mais bem pagos que a obrigam a gastar as estratégias que fossem mais econômicas para
boa parte da renda e de horas diárias em trans- a redução de GEE e, com esse procedimento,
porte para o trabalho. Mas nenhum desses ca- esquivou-se de estratégias setoriais e deixou de
minhos é inevitável. Investimentos em sistemas contemplar os transportes como um ponto
de transporte mais sustentáveis podem pro- específico. Os mecanismos de financiamento
mover mais empregos, respaldar um desen- para os programas ambientais sancionados
volvimento econômico mais justo e de longo pelo protocolo – o Fundo Mundial para o
prazo e proteger o meio ambiente.3 Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês) e o
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
(MDL) – foram concebidos, sobretudo, tendo
Acordos Internacionais e por referência o setor energético, onde a con-
Transporte Sustentável tabilização mais ou menos exata de GEE re-
quer menos dados e é mais fácil de estimar do
Os desafios que cidades e comunidades pre- que no setor de transportes. Esse procedi-
cisarão enfrentar em busca da sustentabilidade mento resultou em insuficiência de fundos
– de desenvolvimento econômico a mudanças para projetos de transportes sustentáveis, que
climáticas – são de âmbito mundial. Para su- acabaram recebendo menos de 10% do total

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dos recursos destinados à mitigação das mu- clua metas de curto prazo para os maiores
danças climáticas, apesar de o setor de trans- emissores mundiais de GEE – incluindo, os
portes representar hoje 27% da emissão dos Estados Unidos, a China e a Índia – é um ob-
GEE associados a energia.4 jetivo vital para tratar com responsabilidade a
Embora os transportes sejam direta e indire- ameaça das mudanças climáticas. Outro resul-
tamente cruciais para diversos dos Objetivos de tado relevante da cúpula de Durban foi o es-
Desenvolvimento do Milênio (ODM) – adota- boço de um projeto e estrutura de um Fundo
dos por 193 países em 2000 e tendo como Verde para o Clima que definiria um novo sis-
ponto de convergência a extinção da pobreza tema por intermédio do qual os países indus-
mundial – esse setor mal apareceu entre os ob- trializados ajudariam na implementação de
jetivos e indicadores. As recomendações iniciais Ações de Mitigação Adequadas Nacional-
para as metas de transporte contidas no Projeto mente (NAMA, na sigla em inglês) nos países
do Milênio criado pelas Nações Unidas, projeto em desenvolvimento. As NAMAs são acordos
esse redigido por técnicos que desconhecem o voluntários para a redução de GEE, e um dos
setor de transportes, foram distorcidas e priori- principais pontos das negociações é como for-
zaram gastos governamentais na construção de mular um quadro de referências para o moni-
novas estradadas. Peritos do Banco Mundial e de toramento e a avaliação que possibilite novos
ONGs articularam-se para pressionar por mu- financiamentos para atividades das NAMAs
danças nas recomendações, no entanto, o re- nos países em desenvolvimento.6
sultado final foi que o Projeto do Milênio sim- No momento, essa nova e surpreendente
plesmente se absteve de mencionar os abordagem – por meio da qual os países esta-
transportes. Para Walter Hook, diretor executivo belecem seus próprios objetivos para trans-
do ITDP, o fato de as recomendações não terem porte sustentável, recebem fundos dos países
sido desvirtuadas por completo foi uma dádiva, industrializados e cooperam regionalmente
porém, ele observa que “a ausência de metas para desenvolver capacitação e atingir objetivos
concretas para os transportes nos ODM embute – representa o caminho mais promissor para a
dois riscos: 1) as intervenções imprescindíveis no sustentabilidade.
setor de transportes talvez fiquem completa- No que se refere a transportes, diversos paí-
mente de fora das prioridades do desenvolvi- ses já expressaram interesse em elaborar NA-
mento, e 2) a omissão de metas específicas pode MAs específicas para o setor em 2012. Dentre
abrir mais espaço para as agências doadoras e os as 44 NAMAs apresentadas em 20 de maio de
governos intervirem no setor sem nenhuma 2011, 28 tratam especificamente de atividades
orientação clara dos ODM, provocando inge- de mitigação no setor de transportes. Ao
rências sem nenhuma orientação clara dos mesmo tempo, diversas ONGs influentes no
ODM e criando interferências inespecíficas que setor de transportes, agindo na coligação do
pouco fazem para reduzir a pobreza ou, pior grupo Bridging the Gap e do Partnership for
ainda, podem agravá-la.”5 Sustainable Low-Carbon Transportation, vêm
O primeiro prazo para o compromisso es- trabalhando com alguns países para auxiliá-
tabelecido no Protocolo de Kyoto termina em los a adotar esse mesmo enfoque.7
2012. Em dezembro de 2011, foi criada a Essas iniciativas já foram apresentadas nos re-
Plataforma de Durban para Ação Aumentada, centes Fóruns de Transporte Sustentável para a
com a finalidade de apresentar um novo plano Ásia e a América Latina, cujo resultado foi a De-
de ação que elaborasse um acordo substitutivo claração de Bangkok 2020, apoiada por 22 paí-
ao Protocolo de Kyoto até 2015. A existência ses asiáticos, e a Declaração de Bogotá, endos-
de um acordo legalmente vinculante que in- sada por nove países latino-americanos. Esses

63
Rumo ao Transporte Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

documentos, somados ao relatório do secretá- de veículos contribuem para a expansão contí-


rio-geral da Conferência das Nações Unidas nua da energia consumida pelo setor de trans-
sobre Desenvolvimento Sustentável intitulado portes e dos respetivos custos sociais. Em 1990
“Opções de Programas e Ações para Acelerar a havia 500 milhões de carro no mundo; hoje,
Implantação: Transportes”, são evidências do existem perto de 800 milhões e, segundo cál-
interesse cada vez maior em ações conjuntas culos da IEA, até 2050 haverá entre 2 bilhões e
nesse terreno. As declarações regionais repre- 3 bilhões. Isso quer dizer que, para cada carro
sentam um caminho para promover acordos preso no congestionamento hoje, haverá três ou
sobre sustentabilidade de uma forma que evite quarto em 2050. O uso de energia extra pelo se-
impasses entre os países industrializados e os em tor de transportes nesse cenário de aumento
desenvolvimento em relação às metas de redu- tão rápido na frota e nas atividades com veícu-
ção. Contudo, resta ainda saber se essas ações e los ultrapassaria com folga eventual redução ob-
acordos voluntários serão capazes de envolver tida com avanços em eficiência dos combustíveis
os países com a mesma dimensão alcançada automotores, gerando inclusive maior utilização
pelo Protocolo de Kyoto e conseguir os cortes de energia em transportes.9
profundos nas emissões de carbono necessários Se a atual tendência à motorização persistir,
à estabilização climática.8 o setor de transportes estará empurrando a
Terra para mudanças climáticas catastróficas e
impondo inúmeros outros custos econômicos
O Atual Estado do Mundo:
e socioambientais que também afetarão as eco-
Motorização Desregrada nomias locais. De despesas com saúde decor-
rentes da poluição atmosférica a mortes no
Apesar da aceitação cada vez maior da ne- trânsito e tempo desperdiçado em engarrafa-
cessidade de transporte sustentável, a motori- mentos, tais custos poderão consumir 10% do
zação no setor mundial de transportes registra PIB de alguns países.10
crescimento irrefreável desde, pelo menos, a Poluição Atmosférica e Saúde Pública. Em
década de 1970. Tendências e previsões re- diversas cidades dos países em desenvolvi-
centes apontam expansão contínua no seg- mento, os transportes são fonte de até 80% de
mento automotivo para os próximos anos, alguns poluentes atmosféricos nocivos, como
mostrando-nos a premência de ultrapassar a material particulado fino, monóxido de car-
postura vigente que vincula transporte a de- bono, compostos orgânicos voláteis, além de
senvolvimento sustentável apenas de forma chumbo e óxido nitroso e de enxofre. Esses
superficial. É preciso que desenvolvimento agentes poluentes podem causar doenças car-
institucional, acordos de financiamento e mo- diovasculares, pulmonares e respiratórias, além
delos de responsabilização tenham caráter mais de vários tipos de câncer e outras moléstias. Os
específico para que os transportes sejam leva- riscos decorrentes da poluição do ar causada
dos a um patamar sustentável. por transportes são particularmente altos nos
O uso de energia pelo setor de transportes re- países em desenvolvimento – em função de
gistra aumento estável no mundo todo, 2,0% a combustíveis com menos refino e de veículos
2,5% ao ano desde a década de 1970 (Ver Figura menos eficientes que, portanto, emitem níveis
4–1), e as projeções indicam crescimento muito mais elevados de poluentes – resultando em
mais rápido no futuro. Embora a média de veí- um milhão de óbitos anuais causados por po-
culos com uso de combustível econômico tenha luição atmosférica.11
subido, as médias do aumento do peso, da qui- Esses impactos na saúde têm como contra-
lometragem percorrida e do tamanho da frota partida um custo econômico. Um recente es-

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Rumo ao Transporte Sustentável

tudo do Banco Mundial sobre Figura 4–1. Uso Global de Energia em Transportes, 1971–2005
prioridades ambientais e redu-
ção de pobreza na Colômbia
avaliou que a poluição atmos- Transporte em oleodutos Fonte: IEA
Navegação doméstica

Uso de energia (milhares de tep)


férica urbana custa ao país
Bunkers marinhos internacionais
US$698 milhões por ano em Ferrovias
gastos com mortalidade (65% Aviação doméstica
do custo total) e morbidade. Aviação internacional
Um levantamento feito em
1999 pela Secretaria Federal
de Rodovias dos EUA atesta
que o total dos custos sociais Carga rodoviária
de poluição do ar associada ao
uso de veículos automotores
Passageiros em rodovias
nos EUA foi na ordem de
US$300 bilhões a US$349 bi-
lhões anuais, principalmente
com morte prematura causada
por material particulado. Se é
verdade que a melhora da qualidade do ar para redução de congestionamento priorizam
exige investimento inicial significativo, por ou- a expansão da capacidade de veículos, indu-
tro lado, os benefícios ultrapassam de longe os zindo a uso cada vez maior de automóveis e
custos. Um estudo da Agência de Proteção piora dos congestionamentos no longo prazo.
Ambiental dos EUA sobre a Lei do Ar Limpo O engarrafamento do trânsito embute vários
(Clean Air Act) constatou que entre 1970 e gastos: aumento dos custos de transporte de
1990 a implementação das medidas previstas mercadorias, diminuição da produtividade do
custou US$523 bilhões, mas os benefícios ob- trabalho, queda substancial da eficiência do
tidos com melhorias ambientais e saúde pú- combustível dos veículos, intensificação de es-
blica representaram US$22,2 trilhões. Essa tresse e redução do tempo dedicado à família.
combinação de aprimoramento nos sistemas Segundo cálculos do Instituto de Transportes
de transportes com regulação da qualidade do do Texas, em 2010 os passageiros das 439 áreas
ar podem trazer ganhos semelhantes para ou- metropolitanas dos EUA tiveram 4,8 bilhões de
tros países também.12 horas de atraso em função do uso de veículos,
A poluição sonora gerada pelos transportes resultando em desperdício de 1,9 bilhão de ga-
também pode ser danosa à saúde e ao bem-es- lões de combustível e em prejuízos totais com
tar, sobretudo se afetar o sono, condição essa produtividade e combustível avaliados em
que favoreceria aumento de pressão sanguínea e US$101 bilhões. No Reino Unido, a estimativa
de enfartes. Dentre os estudos sobre o tema, um do custo do tempo desperdiçado nos desloca-
deles conclui que o custo econômico de polui- mentos é de 1,2% do PIB, enquanto em Lima,
ção sonora pode chegar a consumir perto de Peru, estudos mostram que quatro horas são
0,5% do PIB da União Europeia.13 desperdiçadas nos percursos diários, isto repre-
Congestionamento. Em muitas cidades o sentando um prejuízo aproximado de US$6,2
crescimento da população urbana, da renda, da bilhões, ou cerca de 10% do PIB, anualmente.14
frota e de deslocamentos feitos em veículos es- Inclusão Social. Os transportes afetam di-
trangulou a malha viária. Contudo, as medidas retamente as escolhas sobre aonde ir e o acesso

65
Rumo ao Transporte Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

a tudo o que esteja disponível às pessoas e, duração média dos deslocamentos subiu 42%
sendo assim, têm função determinante no ní- desde a década de 1970, perto de metade da
vel de equidade e inclusão social das cidades. população das classes sociais mais baixas afirma
A população urbana pobre é mais vulnerável que a falta de transportes é uma barreia ao em-
aos custos dos transportes motorizados e ob- prego. Os 20% mais pobres da população de
tém menos de seus benefícios porque, de São Paulo gastam, em média, quatro horas
modo geral, não tem condições financeiras de diárias no percurso casa/trabalho/casa.16
possuir um automóvel. Sem um sistema de As mulheres constituem um grupo tam-
transporte urbano de qualidade, os menos fa- bém afetado pela exclusão social resultante
vorecidos são cada vez mais marginalizados dos sistemas de transporte. Os deslocamentos
por causa da dificuldade do deslocamento ur- que elas precisam fazer muitas vezes ocorrem
bano. Essa exclusão social prejudica diversos fora das vias principais, o que eleva os custos
aspectos da vida do morador urbano, inclusive de transporte, tanto em termos de tempo
o acesso a emprego, serviços de saúde, educa- quanto de dinheiro. Além disso, em alguns ca-
ção, mercados e eventos culturais. sos, fatores culturais e de segurança limitam o
Investimentos tradicionais com ênfase nos uso de certos meios de transporte, como bici-
automóveis, como a expansão de estradas, por cleta ou uso de transporte público à noite.
exemplo, tendem a menosprezar os mais po- Acidentes Rodoviários. O modelo de mo-
bres porque, mesmo quando existe oferta de torização é também perigoso, em especial para
transporte público, ele é quase sempre inse- as populações mais vulneráveis. Atualmente,
guro, caro e lento devido a congestionamen- mais de 1,2 milhão de pessoas no mundo mor-
tos causados por automóveis particulares em rem e 50 milhões são feridas ano a ano em es-
faixas de circulação mista. Além disso, nas vias tradas, sendo que mais de 90% desses óbitos
públicas existe muito mais espaço reservado ocorrem nos países em desenvolvimento, em-
aos carros, embora essa modalidade seja a me- bora eles concentrem menos da metade das es-
nos eficiente. Um ônibus normal com capaci- tradas do mundo todo. Hoje, os acidentes ro-
dade máxima de 50 a 70 passageiros ocupa doviários são a nona causa de morte no mundo,
mais ou menos o mesmo espaço que apenas mas as projeções indicam que deverão ser a
três carros com capacidade média de seis pas- quinta até 2030 – acima de mortes por AIDS,
sageiros no total, mas, mesmo assim, muitas ci- câncer de pulmão, diabetes ou violência.17
dades continuam a não priorizar faixas para os Dentre estes óbitos previstos, metade de-
ônibus. Existem hoje no mundo 7 bilhões de verá ser de atropelamento de pedestres e de ci-
pessoas e 800 milhões de carros, porém ape- clistas. A figura 4–2 ilustra como os custos de
nas uma minoria tem acesso a veículos moto- motorização recaem mais pesadamente sobre
rizados particulares. O investimento governa- os segmentos mais pobres da sociedade, ainda
mental em transporte sustentável de qualidade que esses grupos quase sempre tenham pouco
e a priorização de percursos feitos a pé, de bi- ou nenhum acesso aos benefícios de mobili-
cicleta e de transporte público podem elevar a dade proporcionados pela motorização. Os
equidade socioeconômica e melhorar a vida da usuários mais vulneráveis das vias públicas,
população pobre.15 como ciclistas e pedestres, representam 70%
Os investimentos que aumentam a depen- das mortes no trânsito nos países de baixa
dência do carro tendem ainda a encompridar renda, 90% nos de renda média e pelo menos
a duração média dos deslocamentos e dificul- 35% mesmo nos países de renda alta. Estima-
tar o acesso dos mais pobres a empregos e ou- se que o custo mundial de acidentes de trân-
tras oportunidades. No Reino Unido, onde a sito chegue a US$518 bilhões, o equivalente

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Rumo ao Transporte Sustentável

a 1%–1,5% do PIB em países de renda baixa ou mento médio da temperatura mundial não ul-
média, e 2% do PIB nos de renda alta.18 trapasse 2 ºC a 2,5 ºC, será necessário cortar
Em Surabaya, Indonésia, 60% das vias pú- as emissões de GEE em 50% a 85% até 2050
blicas são desprovidas de calçadas adequadas, (tomando como base os níveis de emissão em
o que contribui para aumentar o uso de trans- 2000). Vários peritos em climatologia aler-
porte motorizado. Em percursos abaixo de 3 tam que poderá ser necessário fazer cortes
quilômetros, 60% são feitos por transporte imediatos e mais altos para que se evitem de-
motorizado, o que contribui para a piora do sastres climáticos catastróficos. As atuais ten-
trânsito e a elevação dos custos individuais e dências, no entanto, indicam que os níveis ge-
das empresas. Investimentos em sistemas de rais de emissão de GEE gerados pelos
transporte sustentável e mudanças nas políti- transportes devem aumentar 250% até 2050.
cas públicas poderiam trazer um impacto po- Apesar de acordos internacionais importan-
sitivo imediato sobre segurança no trânsito. tíssimos para o fomento de transporte susten-
Um exemplo nesse sentido foi a implantação tável e para uma redução de 5% na emissão de
do sistema de ônibus expresso Transmilenio e gases de efeito estufa, e apesar de avanços tec-
das ciclovias em Bogotá, Colômbia, que re- nológicos em transporte sustentável, planeja-
duziu as mortes no trânsito em 50% entre mento e acompanhamento do setor de trans-
1996 e 2005.19 portes, os GEE emitidos por esse segmento
Mudanças Climáticas. De acordo com o aumentaram 35% desde a Eco-92.20
último relatório do Painel Intergovernamental Os transportes são hoje a fonte de emissões
sobre Mudanças Climáticas, para que o au- de aumento mais rápido, e os GEE gerados em

Figura 4–2. Notificação de Óbitos por Tipo de Via Usada, por Região e por Grupo de Renda

Usuários vulneráveis de vias Ocupantes do veículo Outros


PRA no oeste do Pacífico
PRM no oeste do Pacífico
PRB no oeste do Pacífico
PRA europeu
PRM europeu
Região e nível de renda

PRB europeu
PRA no leste do Mediterrâneo
PRM no leste do Mediterrâneo
PRB no leste do Mediterrâneo
PRM do Sudeste Asiático
PRB do Sudeste Asiático
PRA das Américas
PRM das Américas
PRB africano
PRM africano

Porcentagem de óbitos por tipo de usuário


Fonte: OMS (PRA = país de renda alta; PRM = país de renda média; PRB = país de renda baixa)

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Rumo ao Transporte Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

todas as atividades que envolvem esse setor re- reza da tecnologia empregada nos veículos e
presentam 27% das emissões mundiais relativas combustíveis. Avanços tecnológicos por si só
a energia, como observado anteriormente, não resolverão o problema.22
sendo que essas emissões hoje já se aproximam
de 10.000 giga toneladas e continuam em escala Em Busca de Uma Mudança de
ascendente. (Ver Figura 4–3.)21
Paradigma em Transportes
Uma recente avaliação do setor de trans-
portes feita pela IEA ilustra o modo como se-
ria possível cortar as emissões mundiais de A boa notícia é que as políticas públicas, pla-
GEE em 40% abaixo dos níveis registrados nos e tecnologias que compõem este novo pa-
em 2000, até 2050, para isso implantando radigma em transportes já foram identificados
mudanças nas tecnologias e modalidades dos e comprovados em diversos países. Esse con-
veículos e dos combustíveis. Diversos estudos junto de práticas é conhecido como “Evite,
consistentes sugerem que planificação do uso Mude, Melhore” e tem como princípio o se-
sustentável do solo, planejamento urbano, ges- guinte: evitar percursos feitos desnecessaria-
tão da demanda em transportes e outras formas mente em veículos motorizados (viável através
de incentivo a transporte de baixo carbono po- de planejamento, definição de preços e teleco-
deriam trazer ganhos adicionais e propiciar municações mais inteligentes); mudar a forma
economias de custo para os passageiros. Para como os percursos são feitos e adotar modos
que o setor de transportes dê sua contribuição mais sustentáveis (possibilitado por incentivos
às metas do Painel Intergovernamental sobre firmes, informações e investimentos); e melho-
Mudanças Climáticas, ele precisará realizar rar a eficiência dos veículos (com uso de com-
mudanças substanciais que redefinam o grau e bustíveis mais limpos, redes com melhor fun-
o padrão de uso de motorização, o nível das cionamento e tecnologia para veículos mais
atividades de veículos automotores e a natu- bem adaptada para aplicação individual). Den-
tre exemplos desse gênero, po-
dem-se mencionar os sistemas
Figura 4–3. Emissões de GEE “Well-to-Wheel” (do Produtor de ônibus expressos, redes de
ao Consumidor) para Cenários Básicos e Metas da IEA ciclovias e uso compartilhado
de bicicletas, planejamento in-
tegrado de transporte público e
Fonte: IEA uso do solo, políticas de limita-
ção e precificação dos estacio-
namentos, estacionamentos in-
Emissões “Well-to-Wheel”

teligentes e uso de caronas,


Cenário básico
limites para obtenção de regis-
tro de veículos, pedágio urbano
e padrões para emissões causa-
das pelos veículos. Todas essas
Meta de redução de 40% práticas incluiriam planeja-
mento de logística para trans-
porte de cargas e para pedágio,
modernização de ferrovias e sis-
temas de transporte de cargas
com uso de baixa energia,

68 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Rumo ao Transporte Sustentável

como água e transporte sobre trilhos. O Qua-


Quadro 4–1. Exemplos de Melhores Práticas
dro 4–1 reúne alguns exemplos da abordagem
na Abordagem “Evite, Mude, Melhore”
“Evite, Mude, Melhore” já implantados com
êxito e que provaram ser capazes de reduzir Evite percursos feitos desnecessariamente
custos para os passageiros, diminuir emissões e em veículos motorizados
melhorar o serviço de transportes. • Cotas para registro de propriedade de
Esse enfoque também contribui com a eco- veículos, alocadas por meio de lances feitos
nomia porque, quase sempre, cria empregos, di- pelos interessados (Cingapura)
minui o tempo e dinheiro desperdiçados em • Pedágio urbano (Londres, Estocolmo, Milão,
congestionamentos e propicia independência Oslo, Bergen, Cingapura)
de combustíveis importados de custo alto. Além • Cobrança de encargos sobre emissão gerada
disso, esse método, em geral, leva à diminuição por tráfego de veículos pesados em rodovias
dos poluentes locais que causam doenças respi- (sistema rodoviário nacional da Alemanha)
ratórias, reduz a obesidade ao estimular mais ati- • Desenvolvimento pautado pelo uso de
transporte público e misto (Curitiba, Hong
vidade física, diminui o número de mortes no
Kong, Estocolmo)
trânsito e decresce o nível de emissões de GEE
responsáveis pelas mudanças climáticas. Quando Mude para modos mais sustentáveis
bem administrado e trabalhado em escala, o • Corredores de ônibus expressos (Bogotá,
Guangzhou, Ahmedabad, Eugene, em
transporte sustentável consegue facilmente ab-
Oregon)
sorver o aumento previsto na demanda de mo-
• Ciclovias (Paris, Hangzhou, Xangai,
bilidade em função do crescimento populacio- Barcelona)
nal, do emprego e do comércio, não raro sem • Transporte público com prioridade em
aumento de custos em comparação com as prá- veículos sobre trilhos (Nova York, Hong
ticas vigentes que favorecem a motorização e Kong, Berlim, Tóquio)
seus custos mais elevados. • Interconexão de pistas para pedestres,
Os transportes não dizem respeito apenas a trilhas naturais e ciclovias (Copenhague,
eficiência energética e economia, e devem ser Guangzhou)
enxergados como parte integrante do cotidiano • Gestão e definição de preços para
da vida humana e fator determinante da quali- estacionamentos (Zurique, Paris, Tóquio,
dade de vida nas cidades e, ao mesmo tempo, São Francisco)
deve-se entender que são bastante dependentes • Gestão de sistemas intermodais visando à
do planejamento urbano. Desenvolvimento ur- otimização de ferrovias e hidrovias para
bano e transportes devem inicialmente ser pla- transporte de carga (Alemanha)
nejados e adaptados com base na dimensão fí- Melhore a eficiência dos veículos
sica, nas necessidades e nos estilos de vida • Regulação para eficiência de combustíveis
desejados pelos cidadãos, e não vice-versa. Vi- (Japão, Califórnia, União Europeia)
sando a contribuir com esse tipo de iniciativa, • Bicicletas elétricas (produção anual chinesa
o Instituto de Políticas para Transporte e De- supera 20 milhões)
senvolvimento elaborou oito princípios para os • Carros e caminhões com alta eficiência:
híbridos, veículos elétricos movidos a
transportes nas cidades. (Ver Quadro 4–2.)23
bateria, ônibus a biogás (Estocolmo)
Apesar dos altos retornos sobre investimen-
• Pedágio de acordo com o horário de
tos, o transporte sustentável enfrenta muitas circulação (mantém o tráfego em
barreiras para uma implantação mais generali- velocidades ideais 85% do tempo –
zada. Em diversos países, as estruturas finan- Cingapura)
ceiras e institucionais beneficiam a motorização

69
Rumo ao Transporte Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

lação. Como argumentado pelo Global Subsidy


Quadro 4–2. Princípios Referentes a
Institute, “embora políticas de subsídios aos
Transportes na Vida Urbana
combustíveis fósseis sejam muitas vezes formu-
• Caminhada: Valoriza bairros que priorizam o ladas levando em conta os interesses de popu-
hábito de andar a pé lações mais pobres, o fato é que quase sempre
• Bicicletas: Ciclovias e estacionamentos acabam favorecendo famílias de renda média a
seguros para bicicletas passam a ser alta ou resultam em desvios. Uma revisão da
prioridade política de subsídios deveria ser complementada
• Conexão: Cria redes densas de ruas e com medidas que protegessem os grupos sociais
caminhos mais carentes e vulneráveis.” Além disso, es-
• Transporte público: Favorece transporte tima-se que os subsídios para os produtores
público de qualidade mundiais de combustível fóssil somem ao me-
• Misto: Planejamento para usos mistos nos US$100 bilhões ao ano. O decréscimo dos
• Densidade: Equilibra densidade populacional subsídios para combustível fóssil reduziria a de-
e capacidade do transporte público
manda mundial por energia em 4,1% e dimi-
• Compactação: Cria regiões com densidade e
nuiria as emissões de dióxido de carbono em
encurta o deslocamento casa/trabalho/casa
• Mudança: Melhora a mobilidade por meio de
4,7% até 2020.25
regulação do uso de estacionamentos e vias. Os fluxos de AOD são também muitas ve-
zes direcionados a um tipo de desenvolvi-
Fonte: Ver nota 23 no final mento baseado na motorização, o que reflete
não apenas a demanda dos países recebedores,
como também os interesses das organizações
de rápida velocidade devido aos interesses eco-
doadoras. O financiamento é canalizado so-
nômicos específicos, a posicionamentos retró-
bretudo para obras e serviços de engenharia
grados em relação ao desenvolvimento no setor
custosos, que supervalorizam as economias de
de transportes e à dispersão de custos negativos
custo operacional obtidas com os veículos e
para a sociedade em geral, em vez de priorizar
subvalorizam benefícios de custos, desenvol-
os passageiros. Isso inclui o financiamento pú-
vimento socioeconômico e impactos ambien-
blico no âmbito de cada país, subsídios a com- tais. Embora algumas agências de desenvolvi-
bustíveis, ajuda oficial ao desenvolvimento mento estejam aperfeiçoando planejamento e
(AOD) para os países em desenvolvimento, flu- transparência nas intervenções em transporte
xos financeiros privados e instrumentos finan- sustentável, o transporte realizado com bene-
ceiros para mitigação de carbono.24 fício de custo e baixo carvão não figura entre
Em diversos países, uma parcela significativa as principais metas de assistência.
dos recursos públicos para os transportes foca- Os fluxos financeiros provenientes do setor
liza não apenas construção de estradas que privado também são dirigidos ao desenvolvi-
comportem os níveis crescentes de motoriza- mento de bens, serviços e infraestrutura com-
ção, como também os subsídios para os com- patíveis com o modelo de desenvolvimento
bustíveis fósseis. Esses subsídios são regressivos dos transportes referenciado na motorização,
do ponto de vista social: segundo cálculos da como fabricação de veículos, por exemplo.
IEA, apenas 8% dos US$409 bilhões despendi- Uma das explicações para esse mecanismo é a
dos mundialmente em 2010 em subsídios para exclusão, na maioria dos países, dos custos so-
o consumo de combustíveis fósseis (metade do cioambientais da definição dos preços dos
qual foi empregado no setor de transportes) fo- transportes e dos veículos, o que gera distor-
ram destinados aos 20% mais pobres da popu- ções nos dados enviados ao mercado. Medidas

70 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Rumo ao Transporte Sustentável

regulatórias, como padrões de emissão para os mitigação do setor, e seu porte é limitado de-
veículos novos, pedágios urbanos, impostos mais para a catalisação de projetos. Além disso,
sobre emissão de carbono e limites para regis- as metodologias de contabilização por eles
tro de propriedade de veículos, são hoje insu- empregadas, formuladas tendo em mente o se-
ficientes, tanto em termos de escala quanto de tor energético, são de difícil aplicação no setor
abrangência, para enviar um sinal forte em de transportes. As emissões causadas pelos
sentido contrário. transportes representam mais de um quarto do
Os instrumentos financeiros para atenuação total das emissões de GEE e são a fonte po-
das mudanças climáticas como o GEF e o luente que aumenta com mais velocidade. No
MDL atualmente investem muito abaixo do entanto, muito menos do que 10% do total
necessário para mitigação de carbono no setor dos fundos para mitigação das mudanças cli-
de transportes. Os níveis de financiamento es- máticas disponibilizados pelo GEF, pelo MDL
tão longe de ser proporcionais ao potencial de e por fundos de investimento em energia limpa

Tabela 4–2. Itens do Setor de Transportes com Uso de Recursos do


Fundo de Tecnologia Limpa (CTF), Março de 2010

Custo do Reduções de
investimento Alocação Alocação do emissões
no item dos total do CTF em resultantes do item
País transportes CTF transportes Itens dos transporte dos transportes
milhão de dólares (MtCO2eq ao ano)
Egito 865 300 100 Ônibus expresso; interligação
de veículo leve sobre trilhos
com malha ferroviária; ônibus
com uso de tecnologia limpa 1,5
Marrocos 800 150 30 Ônibus expresso; bonde; veículo
leve sobre trilhos 0,54
México 2.400 500 200 Mudança para sistemas modais
com alternativas de baixo carbono
(ônibus expresso); incentivo para
ônibus com tecnologia de baixo
carbono; capacitação 2,0
Tailândia 1.267 300 70 Corredores para ônibus expresso 1,16
Filipinas 350 250 50 Ônibus expresso Manila–Cebu;
desenvolvimento institucional 0,6-0,8
Vietnã 1.150 250 50 Incremento de trens urbanos 1,3
Colômbia 2.425 150 100 Integração de sistemas de
transporte público; ônibus velhos
encaminhados para sucata; ônibus
com tecnologia de baixo carbono
em sistemas de transporte público 2,8
Total 9.257 1.900 600 9,9-10,1
Fonte: Ver nota 27 no final

71
Rumo ao Transporte Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

são atualmente canalizados para o setor de quase que apenas para a construção de estra-
transportes, apesar de tais investimentos re- das, visando ao transporte de cargas e de pas-
sultarem em grandes benefícios para as popu- sageiros. Nos últimos dez anos, vimos surgir
lações locais em termos de ar mais puro, per- uma nova postura em que planos de ação, ini-
cursos mais rápidos e mobilidade mais justa.26 ciativas estratégicas e políticas voltadas ao
Embora o financiamento para programas transporte sustentável foram implementados
de carbono quase sempre imponha prova de em diferentes BMDs. Dos US$64 bilhões in-
“elementos adicionais”, isto é, um investi- vestidos pelos BMDs no setor de transportes
mento não será feito sem a disponibilidade de entre 2006 e 2010, aprovou-se um investi-
recursos para o programa em questão, os in- mento combinado totalizando US$6 a US$7
vestimentos em transporte são quase sempre bilhões especificamente para modos de trans-
concretizados porque trazem melhoria de porte sustentável (incluídos nessa soma todos
acesso, desenvolvimento econômico, segu- os investimentos em transporte ferroviário,
rança e benefícios ambientais. Em última ins- transporte público e transporte não motori-
tância, a redução de carbono é um segundo zado, além de investimentos na gestão de de-
benefício desses investimentos primários. Além manda). A previsão é de que nos próximos
disso, muitos dos maiores impactos do inves- anos a parcela de recursos dos BMDs para
timento em transporte são indiretos, secun- construção de estradas diminuirá, ao mesmo
dários, cumulativos e difíceis de medir com tempo em que o financiamento para trans-
precisão. No entanto, o Fundo de Tecnologia porte urbano, ferrovias, gestão do trânsito e
Limpa vem investindo no setor de transporte segurança aumentará.29
público (Ver Tabela 4–2), e o GEF vem au- Por exemplo, o Plano Operacional para Ini-
mentado o investimento nesse setor e ado- ciativas em Transporte Sustentável definido pelo
tando um posicionamento mais abrangente ADB em 2010 estabeleceu como meta que, até
em relação a transporte sustentável.27 2020, de seu portfolio para investimentos no se-
Os bancos multilaterais de desenvolvimento tor de transportes, 30% serão aplicados em trans-
(BMDs) contribuem com grandes fluxos de portes urbanos e 20% em ferrovia e, ao mesmo
investimento de capital para o setor de trans- tempo, definiu que investimentos em estradas fi-
portes nos países em desenvolvimento. Os in- carão limitados a 42% do portfolio. Em relação
vestimentos em transporte feitos pelos cinco às operações no segmento rodoviário, o ADB,
principais BMDs – o Banco de Desenvolvi- tal como qualquer outro BMD, prioriza o in-
mento da África, o Banco de Desenvolvimento cremento de operações e da manutenção de es-
da Ásia (ADB), o Banco Europeu para a Re- tradas rurais em vez de construção de novas au-
construção e o Desenvolvimento, o Banco In- topistas. Recentemente, os BMDs fizeram mais
teramericano de Desenvolvimento e o Banco contratações de especialistas em transporte ur-
Mundial – cresceram de modo significativo bano, peritos em ferrovias e outros profissionais
nos últimos dois anos, chegando perto de semelhantes e menos dos tradicionais enge-
US$20 bilhões em 2010, com previsão de nheiros especializados em estradas. Um grupo
crescimento contínuo desde então. Os dis- de trabalho conjunto de BMDs trabalha hoje
pêndios dos BMDs são em boa parte motiva- no sentido de desenvolver uma metodologia em
dos pelos tipos de projeto solicitado pelos paí- comum para avaliação dos impactos de GEE
ses em desenvolvimento amparados.28 gerados pelos projetos financiados pelas insti-
Historicamente, entre a década de 1970 e o tuições. No momento, os BMDs também dis-
ano 2000, os investimentos no setor de trans- cutem segurança das estradas, com o objetivo
portes feitos pelos BMDs foram destinados de levar uma contribuição consensual à Decla-

72 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Rumo ao Transporte Sustentável

ração de Moscou para a Década de Ação para senvolvimento sustentável incluísse uma meta
a Segurança no Trânsito.30 específica para o setor de transportes ou outro
Essas mudanças são bem-vindas, mas para tipo de objetivo global referenciado em três
que os BMDs assumam com êxito uma reo- pontos e em indicadores adequados para o
rientação significativa de suas operações em acompanhamento das etapas necessárias à re-
transportes no sentido de tornar o setor susten- dução de poluição, ao desenvolvimento eco-
tável e com baixa emissão de carbono, precisa- nômico e ao transporte justo:
rão empenhar mais recursos. Os BMDs também • assegurar que as emissões de GEE geradas
deverão adotar critérios claros na categorização mundialmente pelos transportes e pelo con-
de transporte sustentável e estabelecer metas sumo de combustível fóssil atinjam o nível
para a próxima década em conjunto com os máximo em 2020 e, a partir de então, sejam
principais envolvidos. Por exemplo, nem todo o reduzidas até 2050 em, no mínimo, 40%
transporte urbano será necessariamente susten- abaixo dos níveis de 2005, e garantir que o
tável. Alguns tipos de investimento em rodovias transporte contribua para a consecução
são compatíveis com sustentabilidade, como a oportuna de ar saudável;
manutenção das estradas existentes, melhorias • apoiar a Década de Ação para a Segurança
na segurança de ciclistas e pedestres e aprimo- no Trânsito (2011–20) e reduzir as mortes
ramento de operações de gestão do tráfego e do no trânsito à metade até 2025; e
transporte público. Os BMDs precisam moni- • garantir acesso universal a transporte sus-
torar e divulgar publicamente seus investimen- tentável por meio da oferta de transporte
tos e respectivos impactos e devem ainda inten- público seguro e de baixo custo e de infra-
sificar esforços para cultivar capacidade estrutura que proporcione proteção e con-
institucional e parcerias com ONGs, agências da forto para pedestres e ciclistas.31
ONU e demais partes interessadas em trans- As Nações Unidas devem intensificar seu
porte sustentável. papel de coordenação das metas mais cruciais
em relação a transporte sustentável, respal-
dando as prioridades mundiais, a capacitação,
Compromisso com a Obtenção o levantamento de dados e a cooperação re-
de Transporte Sustentável gional e setorial. A ONU deve ainda conside-
rar a criação de uma agência própria para a
Apesar de um consenso e compreensão de coordenação dos programas de transporte
longa data quanto à necessidade de transporte com a finalidade de aprimorar sua competên-
sustentável, a ausência de um compromisso claro cia na organização de iniciativas para o setor de
e específico pelas partes mais interessadas tem se transportes.
traduzido, em grande medida, em falta de ação. Fundos para financiamento de programas
Novos pactos firmados por governos nacionais, de carbono, inclusive qualquer futuro fundo
BMDs e outras partes interessadas no sentido de verde para o clima, devem contemplar uma
adotar metas específicas para a obtenção de brecha para financiamento específico para o se-
transporte sustentável, com mensuração do pro- tor de transportes, de modo a facilitar investi-
cesso por meio de indicadores adequados, po- mentos nessa área. Esse modelo contemplaria:
deriam contribuir para redirecionar o setor mun- 1) metas de financiamento para o setor de
dial de transportes para um caminho sustentável transportes proporcionais às emissões; 2) me-
econômica, social e ambientalmente. todologias adaptadas para a mensuração de
Os países deveriam se mobilizar para que impacto sem uso de dados excessivamente res-
qualquer acordo internacional referente a de- tritivos nem de requisitos de modelagem; 3)

73
Rumo ao Transporte Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

dinâmica e vitoriosa rumo ao trans-


porte sustentável.

Oportunidades de Mudança
para Sustentabilidade

A conferência sobre desenvolvi-


mento sustentável Rio+20 apresenta
uma importante ocasião para que o
mundo firme os compromissos es-
Wu Wenbin, ITDP

pecíficos necessários para levar o se-


tor de transportes para um caminho
sustentável. A definição de metas
próprias para esse setor e que sejam
Avenida com 10 faixas com congestionamento frequente é parte integrante de qualquer acordo
transformada em corredor multimodal, Guangzhou, China. internacional criará as bases para
uma ação global e auxiliará a fo-
respaldo para compilação de dados, monito- mentar transporte sustentável em diferentes es-
ramento e desenvolvimento institucional. feras, inclusive no âmbito de bairros ou de ci-
Os governos nacionais, BMDs e fundos dades. Estas metas podem e devem continuar
para o clima devem seguir intensificando seu a servir de guia para iniciativas importantes
compromisso com o setor privado através de como as Ações de Mitigação Adequadas Na-
parcerias público-privadas e podem enviar os cionalmente propostas pelos países em desen-
sinais adequados referentes à regulamenta- volvimento em relação às mudanças climáticas.
ção, trabalhando para eliminar os subsídios Em que tipo de cidade nascerão os filhos de
para veículos movidos a combustível fóssil e Danica Camacho? Conseguirão eles atravessar a
para os próprios combustíveis fósseis e ado- rua com segurança e respirar ar saudável?
tando medidas que imponham taxação aos Quando forem adultos, terão empregos com sa-
agentes poluentes. O estímulo a parcerias en- lários condizentes sem que passem horas presos
tre as diversas partes interessadas, a troca de no trânsito? Tudo isso vai depender dos objeti-
informações com ONGs, com a sociedade vos estabelecidos hoje e das escolhas feitas pelos
civil e com as universidades é um modo im- governos em relação aos investimentos em
prescindível de implementar uma mudança transportes e à gestão desse setor no futuro.

74 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
CAPÍTULO 5

Como as Tecnologias de Informação e


Comunicação Podem Ajudar a Criar
Cidades Habitáveis, Justas e Sustentáveis
Diana Lind

de texto pode melhorar a vida urbana, como

A
cidade de Cingapura está enfrentando
grandes problemas de trânsito, que cus- mostrou uma organização sem fins lucrativos
tam diariamente aos seus moradores ho- na Índia: a organização envia textos para avi-
ras de produtividade perdida e desperdício de sar aos moradores quando a água vai ser ligada.
combustível; em Lagos, casas construídas em Numa época em que o número de aparelhos
áreas de risco causam ferimentos em centenas celulares é maior que o número de habitantes,
de pessoas todos os anos; em Lingraj Nagar, dos Estados Unidos ao Brasil, as TICs não es-
Índia, os moradores só têm água encanada tão simplesmente colocando as pessoas em
durante algumas horas por dia e, mesmo as- contato. Estão servindo também como uma
sim, não sabem quando a água vai ser ligada. ferramenta útil para tornar as cidades mais ha-
Esses problemas urbanos são diferentes só na bitáveis, justas e sustentáveis. (A Figura 5–1
aparência; porque, na verdade, algo comum os apresenta o número de assinaturas de telefone
identifica: sua solução pode estar no uso ino- celular no mundo todo).1
vador das tecnologias de informação e comu- De acordo com o Banco Mundial, 90% da ur-
nicação (TICs). banização está ocorrendo nos países em desen-
Para reduzir os congestionamentos, Cin- volvimento; no entanto, na maioria desses paí-
gapura está usando informações obtidas via ses o nível de acesso à Internet é inferior a 50%.
celular para mapear o trânsito e criar rotas al- (A Figura 5–2 apresenta o aumento do número
ternativas. Em Lagos, uma incorporadora de usuários de Internet nos países em desenvol-
criou um aplicativo para que qualquer pessoa vimento desde 2006). Como consequência
com um smart phone na mão possa registrar e disso, a tendência é de um abismo digital em ní-
informar às autoridades locais as coordenadas vel global: muitos países industrializados, como
GPS de uma construção que pareça estar em Estados Unidos e Reino Unido, têm cidades
risco. Até mesmo a tecnologia de mensagem com vários tipos de tecnologias de informação

Diana Lind é Diretora de Redação da Next American City, organização sem fins lucrativos que
promove o crescimento econômico sustentável nas cidades dos EUA.

75
Tecnologias de Informação e Comunicação para as Cidades ESTADO DO MUNDO 2012

Embora as cidades já te-


Figura 5-1. Estimativa de Assinaturas de Telefone
nham sido consideradas luga-
Celular por cada 100 Habitantes, 2011
res indesejáveis, insalubres e
perigosos para se viver, elas es-
Fonte: ITU/ICT tão sendo cada vez mais reco-
nhecidas como ativos funda-
mentais para a economia e
estratégias ambientais das na-
Assinaturas

ções. Na verdade, a densidade


e a infraestrutura das cidades
permitem tirar o máximo pro-
veito dos limitados recursos
naturais da Terra, e suas popu-
lações em franco desenvolvi-
mento são responsáveis por
grande parte do PIB mundial.
Mesmo na Índia, um país es-
Europa Américas Países Mundo Ásia e África
sencialmente rural, o primeiro-
árabes Pacífico ministro Manmohan Singh de-
clarou: “Se Mumbai fracassar,
a Índia também fracassará”.3
Figura 5–2. Usuários de Internet em
Países Industrializados e Países em As cidades Começam a se
Desenvolvimento, 2006 e 2011
Tornar mais Inteligentes
2006 2011/estimativa
À medida que as cidades tentam se tornar
mais sustentáveis, alguns governos municipais
ento

ind
ento
desen ses em

estão descobrindo a utilidade das TICs. As ci-


ados

ust
Paí lizado
desen ses em
volvim

volvim

ria
ses

dades são mais eficientes quando usam uma sé-


indus íses
trializ
Paí

rie de tecnologias inteligentes de infraestrutura


Paí
Pa

digital, tais como lâmpadas com sensor de pre-


s

sença na iluminação pública, que economizam


Fonte: ITU/ICT energia elétrica, e chips RFID (sigla em inglês
que significa Identificação por Rádio Frequên-
cia), que permitem que as pessoas usem o me-
e comunicação bem estabelecidas, e a maioria trô ou ônibus com um simples passar de cartão.
das pessoas tem acesso à banda larga, ao passo Muitas dessas tecnologias, como sensores
que um país em desenvolvimento como a Índia que possibilitam a cobrança de pedágio urbano
tem apenas 13 milhões de usuários de banda e aplicativos de telefonia que informam as me-
larga. Ao mesmo tempo, bolsões de atividade de lhores rotas e condições do trânsito, funcio-
TICs em países como o Quênia e o ativismo di- nam com base em dados fornecidos em tempo
gital em países árabes mostram que a natureza real. Assim como muitos governos municipais
disseminada e não hierárquica das tecnologias de que coletam grandes quantidades de dados
Internet e telefonia móvel removeu algumas sobre os residentes para ajudar a administrar as
barreiras à inclusão digital.2 secretarias de saúde, educação e transportes, os

76 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Tecnologias de Informação e Comunicação para as Cidades

web designers procuram acessar essas infor- de policiamento ou a analisar possível aumento
mações para criar novas soluções online para as de impostos sobre bens imóveis. Essas diversas
cidades. Além disso, em todo o mundo, as parcerias público-privadas trouxeram à tona
pessoas estão usando ferramentas online para uma série de perguntas: Será possível captar o
participar de comunidades virtuais que, mui- caos e a cultura de uma cidade por meio de al-
tas vezes, conseguem mudar o modo como goritmos inteligentes? As cidades devem ter-
enxergamos as comunidades reais. Esses sites ceirizar para empresas algumas de suas res-
da Internet e os aplicativos de telefonia costu- ponsabilidades?5
mam estimular o engajamento cívico e o diá- Muitos web designers e integrantes de mo-
logo com o governo local para melhorar a ha- vimentos de defesa das cidades fazem outra
bitabilidade das cidades. pergunta: Será que essas parcerias e as chama-
Três tipos de atores – governos locais, em- das cidades inteligentes realmente aumentam
presas privadas com e sem fins lucrativos e a a sustentabilidade, a habitabilidade e as opor-
população — em geral têm-se organizado de tunidades da vida urbana? Em um artigo para
acordo com seus pontos fortes e motivos para o New York Times, Greg Lindsay, jornalista
usar as TICs para melhorar as cidades. Por que registrou esses avanços em diversas publi-
meio das chamadas parcerias público-priva- cações, observa que “o viés que está por trás
das, o setor privado tem trabalhado com os de cada cidade inteligente de grandes dimen-
governos locais para criar diversos serviços de sões é a crença de que a maneira de tratar
infraestrutura. O sistema de bicicletas comu- questões complexas verificadas em pequena
nitárias de Paris, por exemplo, tornou-se pos- escala pode ser padronizada e servir de modelo
sível por meio de uma parceria com a gigante para objetivos centralizados — isto é, a ideia de
da publicidade JCDecaux, que fornece e man- que um órgão central, com um software ade-
tém o sistema em troca de uma parcela signi- quado, poderia um dia administrar e até defi-
ficativa do espaço publicitário da cidade. Ou- nir quais são as necessidades complexas de
tros exemplos são as empresas que patrocinam uma cidade real. No entanto, é justamente o
a infraestrutura de transportes em troca do contrário, as cidades mais inteligentes são
direito de cobrar pedágios nas linhas ou nas ro- aquelas que incluem abertura, aleatoriedade e
dovias por elas financiadas e incorporadoras acasos felizes – tudo aquilo que torna uma ci-
que destinam uma parte da sua propriedade dade ótima para se viver”. Para Carlo Ratti, do
privada para criar um parque público.4 Instituto de Tecnologia de Massachusetts
Dessas práticas, surgiu uma forma ampliada (MIT), e Anthony Townsend, do Instituto
de parceria público-privada na qual empresas para o Futuro (IFTF), “o verdadeiro ‘aplica-
particulares como a Smart + Connected Com- tivo’ para as cidades é a sociabilidade, e não a
munities da Cisco, Cities da GE e Sustainable eficiência”. São as pessoas, e não a tecnologia,
Cities da Siemens fornecem tecnologia e pro- são os acasos felizes e não a ordem, que podem
dutos, como os sensores e equipamentos ne- ser a tábua de salvação da vida urbana.6
cessários a uma rede inteligente de distribuição Organizações sem fins lucrativos e programas
de energia elétrica operada por controle re- acadêmicos estão empenhados em mostrar que
moto ou um sistema de operação de trens sem as cidades podem tornar-se mais inteligentes
condutor. Além disso, alguns governos locais não por meio da contratação de consultores
contrataram empresas para analisar dados mu- com ferramentas patenteadas, mas sim disponi-
nicipais, como estatísticas sobre criminalidade bilizando seus acervos de dados para análise e
ou informações sobre transações imobiliárias, uso da população. Praticamente toda cidade co-
para ajudá-los a identificar áreas que precisam leta informações sobre transporte, saneamento

77
Tecnologias de Informação e Comunicação para as Cidades ESTADO DO MUNDO 2012

básico, educação, riqueza e outros indicadores. fins de comparação, a Europa tem 35 cidades
Quando abertos ao público, esses dados são desse tamanho hoje). Em vez de repetir os er-
usados para criar sites interativos, visualizações e ros do passado com construções que emitem
aplicativos de telefonia que as pessoas podem grandes quantidades de dióxido de carbono e
usar para diversos fins, como encontrar o ponto bairros com excesso de veículos, muitas cidades
de aluguel de bicicleta mais próximo ou assinar estão servindo como laboratório para a im-
uma petição online. A vantagem desses projetos plantação de tecnologia digital de ponta e sus-
é que eles melhoram a vida dos habitantes das ci- tentável. Essas cidades “inteligentes” são apre-
dades e facilitam a governança e o comprome- sentadas ao público como sendo mais avançadas
timento das autoridades locais. que outras. Porém, será que novas tecnologias,
Porém, é difícil basear-se em dados governa- sozinhas, tornam as cidades mais inteligentes?8
mentais nos lugares em que a coleta de dados é Songdo, na Coreia do Sul, é uma cidade de
imprecisa ou em que o governo não tem inte- seis quilômetros quadrados e 300 mil habi-
resse em mostrar transparência. Numa tentativa tantes construída sobre um aterro sanitário.
de resolver esse problema, uma mídia cívica sur- Essa é uma cidade inteligente que combina
giu para atuar como rede social de defesa ur- medidas de sustentabilidade de tecnologia
bana. Atualmente, os moradores de Los Ange- avançada – como um sistema centralizado de
les usam um site para alertar os vizinhos de coleta pneumática de lixo, que substitui a co-
reclamações sobre serviços, e os moradores de leta convencional com caminhões e reduz de
Fukushima, no Japão, colocam em mapas online 20% a 40% dos resíduos, e drenagem de águas
os resultados das leituras dos níveis de radiação pluviais – com princípios de planejamento de
que eles mesmos fazem em contadores Geiger, baixa tecnologia, como um parque público de
já que não confiam nos relatórios oficiais. Tão 400 metros quadrados e um sistema de trans-
interativos quanto uma reunião na Prefeitura, porte coletivo que dispensa o uso de carro.
porém com maior alcance, esses sites podem Embora a sustentabilidade seja um tema cada
servir como grupos de vigilância comunitária.7 vez mais prioritário nas cidades asiáticas,
O desempenho desses atores é melhor Songdo é uma experiência digna de nota de-
quando nenhum deles é responsável pelo vido à tecnologia onipresente. Aproximada-
rumo que as TICs tomam nas cidades. Mas, mente 65 mil apartamentos recém-construídos
quando colaboram, suas abordagens mistas – são equipados com sistemas de automação re-
“de cima para baixo”, “de baixo para cima” e sidencial da Cisco, que permitem “controlar
horizontais – podem promover avanços em de maneira prática a iluminação, o ar- condi-
sustentabilidade, envolvimento público e ha- cionado/sistemas de aquecimento, o gás, as
bitabilidade das cidades. persianas e todos os demais dispositivos do-
mésticos com um simples toque em um inter-
Mais do que Cidades Inteligentes ruptor de parede, uso de controles remotos e
até smartphones, computadores e tablets”, de
A escala e o ritmo de urbanização sem pre- acordo com o site da empresa. Os monitores
cedentes que está ocorrendo na Ásia, no século TelePresence da Cisco, que lembram aparelhos
21, oferecem a muitos países a oportunidade de de televisão com recursos de videoconferência,
criar novas comunidades mais sustentáveis. Es- permitem que as pessoas não só participem de
pera-se que só a Índia precise de 400 novas ci- uma aula de ioga ou culinária a distância como
dades; até 2025, a China terá 221 cidades com também entrem no site do governo local sem
mais de um milhão de habitantes cada (só para ter que sair de casa.9

78 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Tecnologias de Informação e Comunicação para as Cidades

Songdo não é a única cidade que está sendo poluidores per capita do mundo, e apenas 1%
construída do zero e adotando tecnologias di- da sua energia provém de fontes renováveis.
gitais sustentáveis. Outros exemplos podem ser Será que Masdar é de fato um modelo para o
encontrados na Índia, na Rússia, na China e país ou apenas uma anomalia que mereça ser
nos Emirados Árabes. Em Portugal, o projeto divulgada pela mídia?11
PlanIT administrado por um ex-diretor da Mi- Em uma tentativa de repensar o padrão
crosoft e que deverá estar pronto até 2015, atual, uma pequena cidade chamada Lavasa foi
terá capacidade para 215 mil pessoas. “O Pla- construída na Índia de acordo com os novos
nIT Valley, uma associação de edifícios inteli- princípios urbanísticos. (Ver no Quadro 5–1 a
gentes e sistema interligado de transporte, descrição de Novo Urbanismo). Porém, em
proporcionará também um nível inédito de um país onde 830 milhões de pessoas vivem
informações aos moradores. A eficiência do com menos de US$2 por dia, Lavasa foi du-
complexo abrangerá o controle ideal do con- ramente criticada pela imprensa por sua falta
sumo de energia elétrica quando a demanda de autenticidade (o nome Lavasa foi cunhado
estiver no pico, gestão dos congestionamentos por uma empresa americana) e pela pomposi-
de trânsito para assegurar melhor mobilidade, dade das instalações de água potável, energia
sistema para encontrar vagas de estaciona- elétrica e conexões de fibra óptica em cada
mento e serviços de emergência capazes de de- casa. Além disso, existem muitas dúvidas
finir prioridades no fluxo do tráfego quando quanto às práticas ambientais utilizadas na
necessário”, segundo o site da empresa.10 criação dessa cidade “sustentável”. (O governo
Embora o objetivo dessas cidades seja me- da Índia acionou a empresa administradora
lhorar significativamente a gestão dos recursos de Lavasa por violações ao meio ambiente).12
naturais e a eficiência do governo, os primei- Não há como negar os esforços dessas cida-
ros visitantes relatam certa inquietação diante des em prol da sustentabilidade usando tecno-
dessas inovações em larga escala. A cidade de logia digital, mas, devido à sua escala, isola-
Masdar, um laboratório de tecnologias verdes mento e financiamento privado, elas ignoram as
no meio do deserto próximo a Abu Dhabi, realidades básicas de como a maioria das cidades
está testando os mais modernos sistemas geo- funciona. Poucas vezes se envolvem com atores
térmicos de aquecimento e resfriamento, car- importantes como organizações de desenvolvi-
ros elétricos, energia solar e sistemas avançados mento comunitário, grupos de defesa e grupos
de abastecimento de água. Se tudo der certo, de educação e emprego que tradicionalmente
Masdar será a primeira cidade do mundo sem participam do processo público. Apresentadas
emissão de dióxido de carbono. Porém, tudo como laboratórios, essas cidades usam tecnolo-
em Masdar, inclusive sua futura população de gias em um ambiente que não pode ser compa-
50 mil pessoas, é importado. Nicolai Ourous- rado ao “controle” de cidades mais antigas.
soff, o analista de arquitetura do New York Ti- As parcerias público-privadas não são em
mes, observou com desdém que a cidade pa- princípio ruins para uma cidade. Muitos pro-
rece uma comunidade murada: “A pureza jetos que fornecem infraestrutura, parques e
utópica de Masdar e seu isolamento da vida outras áreas públicas de lazer aumentaram
das cidades reais vizinhas estão fundamentados muito a sustentabilidade da vida urbana e não
na crença – ao que parece aceita pela maioria seriam viáveis sem fortes parceiros corporati-
das pessoas hoje – de que a única maneira de vos. Porém, embora possam ser muito efi-
se criar uma comunidade de fato harmoniosa, cientes para introduzir mudanças em uma ci-
verde ou não, é isolando-a do mundo em ge- dade, essas parcerias deveriam ser parte dela, e
ral”. Os Emirados Árabes são um dos maiores não sua força motriz.

79
Tecnologias de Informação e Comunicação para as Cidades ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 5–1. Princípios do Novo Urbanismo Para citar um exemplo de como essas par-
cerias podem se desenvolver, Roterdã – cujas
O Congresso para o Novo Urbanismo (CNU) emissões de carbono são iguais às de Nova
foi fundado em 1993 pelos arquitetos Andres York, uma cidade dez vezes maior – criou uma
Duany, Peter Calthorpe, Elizabeth Moule, parceria estratégica com a GE para melhorar o
Elizabeth Plater-Zyberk, Stefanos Polyzoides e controle dos recursos hídricos, da eficiência
Dan Solomon para promover o energética e da redução de emissões na sua
desenvolvimento de bairros de uso misto que área portuária. Usando visualização de dados,
favoreçam o hábito de andar a pé, medidores inteligentes e outras tecnologias
comunidades sustentáveis e condições de que constituem um sistema “inteligente” de
vida mais saudáveis.
dados, a GE consegue recomendar à cidade
O CNU é orientado por sua carta de como otimizar sua geração de energia, como
constituição, que adota os princípios de:
melhorar o desempenho dos sistemas atuais e
• ruas habitáveis dispostas em quarteirões como encorajar os cidadãos a monitorar o seu
pequenos e que estimulem o hábito de
próprio uso de energia. A GE também prestará
caminhar;
consultoria sobre como tornar a zona portuá-
• diversos tipos de moradia adequadas para ria mais agradável para os residentes, redu-
pessoas de faixas etárias e níveis de renda
zindo o deslocamento das 90 mil pessoas que
diversos;
lá trabalham. O projeto ajudará a cidade a
• as escolas, estabelecimentos comerciais e
cumprir suas metas ambientais de reduzir em
outros serviços devem estar localizados a
50% suas emissões de dióxido de carbono em
uma distância possível de se percorrer a pé,
de bicicleta ou de transporte público e relação aos níveis de 1990.13
Entretanto, essas parcerias empregam uma
• construções projetadas adequadamente que
definam e deem vida às ruas e a outros abordagem “de cima para baixo”, um modelo
espaços, valorizando a dimensão humana cada vez mais ultrapassado no mundo inter-
na ocupação do espaço público. conectado e menos hierárquico de hoje. Seria
O ideal é que essas comunidades mesclem possível aperfeiçoar esses projetos fazendo com
atividades de interesse público, institucionais que a população participasse do processo de
e comerciais nos bairros e distritos, tomada de decisões ou apresentasse ideias?
estimulem o desenvolvimento orientado para Como observa o Instituto para o Futuro em
o transporte público e evitem concentrações sua previsão de dez anos, A Planet of Civic La-
da pobreza, proporcionando moradia boratories: The Future of Cities, Information
acessível. and Inclusion: “Os líderes setoriais terão ideias
Alguns críticos queixam-se de que essas claras para o crescimento das cidades – e pro-
comunidades do Novo Urbanismo podem moverão esses programas em conjunto com as
parecer artificiais ou muito antiquadas, autoridades municipais. Mas a verdadeira
considerando-se os estilos contemporâneos oportunidade de inovação… é uma visão que
de construções do século 21. Porém, deixando contemple um futuro com inclusão”. A pala-
a estética de lado, bairros onde as pessoas vra-chave aqui é “inclusão”. O site Cities da
possam fazer tudo a pé, com áreas de lazer e GE destaca os estudos de caso sobre o modo
menos emissão de dióxido de carbono são de a empresa trabalhar com as cidades: “Esta
fundamentais para construir cidades mais
é a nossa visão do futuro e estamos traba-
sustentáveis.
lhando para fazer com que se torne realidade
Fonte: Ver nota 12 no final. hoje”. A visão do futuro de uma cidade não
deve ser apresentada por uma empresa da

80 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Tecnologias de Informação e Comunicação para as Cidades

mesma forma que ela apresenta seus produtos. Cidades Administradas


As empresas são boas parceiras, mas não en- com Base em Dados
tendem de planejamento urbano.14
A verdadeira inovação de que os planeja-
dores locais precisam vai além de novas tec- Talvez as novas tecnologias que estimulam
nologias e inclui novas maneiras de engajar o os cidadãos a entender melhor as cidades em
público no rumo e no desenvolvimento das ci- que vivem e a ter ideias próprias para suas co-
dades. Cidades-modelo construídas a partir munidades sejam mais inovadoras que as re-
do zero com base apenas em planejamento, comendações de consultores e corporações.
engenharia e tecnologia provavelmente não Ao substituir a dinâmica do poder centralizado
terão o caráter que a população imprime a “de cima para baixo” de um governo ou de
qualquer cidade, e seu projeto pode ter con- uma estrutura corporativa, esses modelos la-
sequências imprevisíveis. terais tiram o máximo proveito da natureza co-
Por ora, aquilo que falta às parcerias pú- laborativa da Internet e de outras TICs.
blico-privadas em termos de contribuições e Os dados gerados, seja pelo governo seja
ideias da população em geral, elas deveriam de- pela população, são um componente funda-
volver à comunidade na forma de conheci- mental para informar e dar mais poder às pes-
mentos. Sempre que possível, os bons resulta- soas. Sendo assim, o direito de acesso e uso
dos obtidos com essas experiências devem ser dos dados tornou-se parte cada vez mais im-
divulgados para a população local e outras ci- portante da política urbana. Em resposta ao
dades. Além disso, ainda não se fez uma aná- aumento da demanda pela obtenção de infor-
lise sólida e independente para saber se essas mações, algumas cidades passaram a conceder
parcerias público-privadas estão de fato atin- acesso aos seus acervos de dados.
gindo suas metas de sustentabilidade. A reali- Em Londres, por exemplo, a cidade dispo-
zação de auditorias independentes nesses pro- nibilizou 5.400 data sets no portal London
jetos contribuiria muito para divulgar o Datastore. Na abertura do London Datastore,
conhecimento sobre o trabalho que está sendo o prefeito Boris Johnson declarou: “Acredito
feito. Neste momento, esses modelos de par- firmemente que o acesso às informações não
cerias poderiam ser a forma mais – ou menos deve ser privilégio de instituições e de uma pe-
– sustentável de construir cidades, mas não quena elite... Os dados pertencem ao povo…
existem dados imparciais para confirmar qual- e a consulta deve ser simples, sem etapas com-
quer uma das alternativas. plicadas”. Um dos maiores data warehouses a
Por fim, as relações financeiras entre as ci- reunir dados urbanos, o Datastore franqueou
dades e as empresas não são transparentes. ao público o acesso a informações que variam
Em 2012, a IBM “doará” US$50 milhões em do número de banheiros públicos de Londres
serviços para cidades do mundo todo que es- aos idiomas falados nas escolas e à locação de
tiverem interessadas em usar tecnologia para espaços comerciais vagos. Os dados podem
fins administrativos. Mas o que acontecerá ser sobrepostos e compor mapas no Google ou
com as cidades após o período de ajuda finan- ser apresentados na forma de infográficos, ge-
ceira? É ótimo tornar as cidades mais inteli- rando um instrumento que começa a revelar as
gentes, mas a que custo? Uma vez que muitos condições de infraestrutura, educação e eco-
municípios estão reduzindo as verbas destina- nomia da cidade.16
das à educação e ao emprego, as cidades pre- A abertura de dados pode ajudar os gesto-
cisam avaliar se os consultores de tecnologia e res de políticas urbanas a dar forma às cidades.
as parcerias público-privadas valem a pena.15 Para citar um exemplo importante, o Labora-

81
Tecnologias de Informação e Comunicação para as Cidades ESTADO DO MUNDO 2012

tório de Sistemas de Informações Espaciais da premiar os melhores aplicativos elaborados a


Columbia University, nos Estados Unidos, partir dos dados. Os aplicativos vencedores
utilizou dados raramente acessíveis obtidos do no concurso NYC Big Apps 2.0 não se con-
sistema penal, com a finalidade de mapear os centraram em sustentabilidade ambiental, mas
endereços residenciais da população carcerária sim em tópicos como trânsito, cultura e go-
do país. Os pesquisadores descobriram que vernança.19
um número enorme de criminosos provinha Se, de fato, as mudanças climáticas são uma
de algumas áreas das maiores cidades dos Es- prioridade nessas cidades, por que os dados
tados Unidos, indicando que o governo estava para municiar as políticas de sustentabilidade
gastando mais que US$ 1 milhão por ano para não são usados? Parte do problema pode ser
manter na prisão muitos residentes de algumas que os dados ambientais (isto é, uso de água e
áreas específicas. Com a divulgação dessa in- energia) quase sempre são controlados por em-
formação, o projeto chamou a atenção para as presas privadas; porém, muitas vezes os proje-
precárias condições de moradia, educação e as- tos de abertura de dados nos países ocidentais
sistência médica nesses locais. Se esses serviços procuram nada mais do que melhorar a vida ur-
fossem melhorados, será que a cidade conse- bana em vez de mudá-la. Em vista das crises
guiria diminuir a criminalidade? Será que o go- ambientais, econômicas e sociais de muitas ci-
verno conseguiria economizar milhões de dó- dades, é hora de pensar em aplicativos que fa-
lares investindo nas populações desses bairros çam mais do que romper com o status quo.
em vez de mandá-las para a prisão?17 O movimento de abertura de dados tem
Informações públicas revelam aspectos da um impacto maior sobre cidades cujo governo
vida urbana que talvez não sejam detectáveis está imerso em burocracia. A plataforma Us-
com rapidez ou fornecem fatos que estimulam hahidi, um coletivo na área de tecnologia de
a adoção de iniciativas políticas. Cingapura código aberto, surgiu com o objetivo de ma-
tem planos de duplicar sua rede de transporte pear os violentos incidentes relacionados às
até 2020. Para descobrir como fazer isso, a ci- eleições no Quênia em 2008. Desde a sua
dade criou um data warehouse capaz de anali- criação, o grupo gerou centenas de sites que
sar milhões de operações do transporte público permitem visualizar informações e fornecem
e, portanto, recomendar rotas que facilitem o mapas interativos de dados abertos. O pro-
deslocamento da população. Foi feita também grama conhecido como Budget Tracking Tool,
uma parceria com o SENSEable City Lab do por exemplo, rastreia e divulga dados sobre
MIT para possibilitar o acesso a informações como o governo queniano gasta seu dinheiro;
sobre a cidade em tempo real; ao mesmo de acordo com a Rede de Desenvolvimento
tempo que essas informações podem ser usa- Social (SODNET, na sigla em inglês), as au-
das para saber, por exemplo, onde encontrar toridades do Ministério da Água estão sendo
um táxi durante um temporal, elas podem in- investigadas depois de terem sido acusadas de
formar também sobre mudanças no uso de corrupção por um cidadão com base nos
energia e como elas criam um efeito de ilha de dados obtidos com esse programa. Mais re-
calor.18 centemente, no Quênia, – que ocupa o 154o
Sem dúvida, existem inúmeras oportunida- lugar entre 182 países na pesquisa anual sobre
des para usar os dados abertos para tratar de transparência da ONG Transparência Inter-
questões ambientais, porém, surpreendente- nacional — uma nova iniciativa de abertura de
mente, poucas são aproveitadas. Cidades como dados disponibilizou para o público um pe-
Nova York e Washington, D.C. abriram cen- queno número de data sets. Apesar da pouca
tenas de data sets e realizaram concursos para quantidade de dados, essa ação teve um resul-

82 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Tecnologias de Informação e Comunicação para as Cidades

tado simbólico que levou o país a adotar maior ajuda global e, assim, sua responsabilização
transparência governamental e mudou a forma aumenta ao prestarem contas sobre verbas,
como as pessoas usam a Internet para melho- cronogramas, atividades e resultados. O for-
rar suas comunidades.20 mato aberto permite comparar e quantificar os
Na Índia, o movimento Direito à Informa- milhões de dólares doados, possibilitando al-
ção está surtindo um efeito radical à medida terações dos locais e da forma como a ajuda é
que o país caminha para e-governança. O pro- distribuída nas favelas. Será que essas mesmas
grama Unique Identity, lançado em 2010, ferramentas não poderiam ser usadas no fi-
identificará cada indiano por um número nanciamento de projetos de transporte ou pro-
único e por dados biométricos. Se, por um gramas de uso de energia alternativa para com-
lado, essa abordagem “de cima para baixo” das preender melhor o seu impacto sobre a
TICs permitirá que muitas pessoas que antes sustentabilidade? 22
não tinham identificação passem a ter acesso A abundância de projetos criados por dados
aos serviços municipais pela primeira vez e re- abertos prova que os aplicativos não são a
duzirá a corrupção, por outro lado, ela forçará única forma de usar as informações municipais.
o governo a abrir seus próprios dados. O Cen- Organizações sem fins lucrativos, meios de
tre for Internet and Society, na Índia, está con- comunicação e outros agentes, bem como os
victo de que os dados disponibilizados devem web designers, devem ser firmes em solicitar in-
fornecer informações reais e melhorar o de- formações e encontrar maneiras de colocar os
sempenho do governo, e não apenas criar apli- dados em um contexto maior por meio de
cativos divertidos: “Acreditamos que a aber- narrativas, artigos sobre políticas e programas
tura de dados governamentais na Índia não para aprimoramento das políticas urbanas.
deve servir como fonte de dados para a criação Além disso, os governos não devem se limitar
de aplicativos e produtos informativos inova- a abrir os dados. Eles devem se comprometer
dores que supram o setor privado. Em vez a resolver os problemas revelados pelos dados.
disso, esses dados públicos devem ser utiliza- Em vez de exibir os aplicativos criados com
dos para lidar com as deficiências da Lei do Di- base nas informações disponibilizadas, as ci-
reito à Informação [Right to Information Act] dades devem mostrar como essas informações
e talvez adotar uma política de prestação de afetaram suas políticas.
contas”. No caso de cidades que não têm par-
ceiros privados, ou onde os parceiros não são
adequados, existe maior pressão para que o A Nova Mídia Cívica
governo mostre transparência antes de tomar
medidas para melhorar a vida urbana.21 Em muitos países, é difícil ter acesso a boas
Porém, os efeitos da abertura de dados e da fontes de dados abertos. Os governos não po-
transparência digital não se restringem à go- dem ou não querem divulgar informações. Ao
vernança local; na realidade, seus resultados mesmo tempo, a tecnologia vem permitindo
são amplos e abrangem a forma como o setor que o público aumente seus próprios pontos
civil e até mesmo as obras filantrópicas fun- de dados e informações. Com o advento de
cionam nas cidades. A campanha International software grátis para a criação descomplicada de
Aid Transparency Initiative, por exemplo, blogs, há uma década, “jornalistas cidadãos”
torna mais acessíveis as informações sobre começaram a criar fóruns e blogs comunitários.
ajuda solicitando aos doadores que forneçam Atualmente, a nova mídia cívica usa tecnolo-
os dados em formato comum. Os doadores gia para possibilitar uma melhor conexão en-
que adotam esses padrões representam 60% da tre os cidadãos e o governo. A mídia pode ser

83
Tecnologias de Informação e Comunicação para as Cidades ESTADO DO MUNDO 2012

na forma de mapas, sites, aplicativos de telefo- Com a geocodificação, projetos como esses
nia e programas sem fins lucrativos e ela mos- elevam a criação de blogs comunitários a um
tra como o público pode usar essa tecnologia novo patamar. Nos Estados Unidos, a popu-
para tornar suas cidades mais sustentáveis. lação tomou a iniciativa de criar um mapea-
No Quênia, a favela Kibera esteve fora dos mento comunitário. Chamado The Public La-
mapas oficiais de Nairóbi até 2009. Em par- boratory, um grupo de ativistas, educadores,
ceria com uma equipe independente de pes- tecnólogos e lideranças comunitárias desen-
quisadores, a população jovem de Kibera usou volvem projetos usando materiais com pouca
aparelhos GPS para criar um mapa interativo tecnologia (balões de gás hélio e câmeras di-
de sua área, registrando não apenas as ruas e as gitais simples) para tirar fotos aéreas e criar no-
casas, como também bombas de água, ba- vos mapas de áreas de risco. Esse tipo de tra-
nheiros públicos e estabelecimentos comer- balho foi útil, por exemplo, para identificar
ciais, assim como áreas perigosas ou mal ilu- áreas contaminadas após um grande derrama-
minadas. O resultado não foi apenas um mapa mento de petróleo no Golfo do México, pró-
a ser usado pela população local, mas também ximo a New Orleans, ou para localizar um de-
uma forma de divulgar a existência de Kibera pósito de lixo ilegal no Brooklyn. Da mesma
pelo mundo afora, fazendo com que o Quênia forma que os smart phones usados na cidade
reconhecesse essa comunidade de centenas de de Lagos permitem que as pessoas identifi-
milhares de pessoas. O mapa, por sua vez, lan- quem construções em áreas de risco, esses
projetos propiciam que a população oriente o
çou um novo projeto de mídia, a Voz de Kibera.
foco do governo para áreas que requerem
Usando SMS (serviço de mensagens curtas), os
atenção.24
cidadãos podem comunicar ocorrências de
Diversos sites nos Estados Unidos e no
roubo ou incêndio, assim como conversar so-
Reino Unido estão simplificando a interface
bre política.23
entre os cidadãos e o governo. O FixMyStreet,
no Reino Unido, e o SeeClickFix, nos
Estados Unidos, desburocratizaram e
terceirizaram os tradicionais call centers
que recebiam as queixas da sociedade ci-
vil, aperfeiçoando esses serviços. O See-
ClickFix agora está diretamente ligado a
311 call centers em diversas cidades
americanas. Esses projetos são extraor-
dinários, pois expõem, e em alguns ca-
sos resolvem, as ineficiências dos méto-
dos atuais que o governo usa para tratar
das reivindicações da população. En-
quanto no passado associações de defesa
de determinadas causas, líderes comu-
nitários e outros grupos sociais costu-
OpenStreetMap.org

mavam organizar as pessoas, agora é a


mídia social que reúne pessoas online
para discutir o futuro de seus bairros e
interagir com as secretarias municipais.
Mapa de Kibera na tela A teoria é que, se alguém fica sabendo

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Tecnologias de Informação e Comunicação para as Cidades

que os vizinhos também estão reclamando de ção livre do termo poderia ser “faça você
um cruzamento perigoso ou de uma casa mesmo”. Mas, em vez de elas mesmas fazerem,
abandonada usada como ponto de venda de diversas organizações que dominam a tecnolo-
drogas, esses grupos unem forças, atraindo gia estão encontrando maneiras de “fazer
mais gente para a sua causa. De fato, no See- junto”, usando para isso ferramentas de mídia
ClickFix as pessoas podem votar sobre que social de baixo custo para suplementar as solu-
problemas devem ser resolvidos em primeiro ções existentes que não funcionam mais. No
lugar; quanto mais organizada uma comuni- Quênia, a SODNET lançou um novo projeto
dade se torna, maior a probabilidade de o go- chamado Huduma (“serviço”, em suaíli) na pla-
verno responder.25 taforma Ushahidi que capacita a população a rei-
Essa mídia que conecta a população ao go- vindicar melhorias nos serviços municipais via
verno pode ser útil, em especial, nas situações SMS. Em seguida, esses relatos são colocados
de crise, como terremotos, ou em zonas de online, geocodificados e exibidos em um mapa.
guerra. O FrontlineSMS, software de código O foco do site Huduma em tópicos como edu-
aberto “que transforma o laptop e o celular em cação, governança, saúde, infraestrutura, jus-
uma central de comunicações”, envia mensa- tiça e água indica que essa tecnologia pode aju-
gens de texto instantâneas a um grupo de pes- dar as cidades a resolverem graves problemas
soas. Esse software tem sido bastante utilizado urbanos. Embora o conteúdo da página do Hu-
por ONGs que prestam ajuda durante as cri- duma ainda seja muito novo, ele poderia apre-
ses. Nessa mesma linha, surgiram programas sentar uma forma mais abrangente de engaja-
semelhantes que usam essas tecnologias para mento público que vá além do modelo dos 311
tratar de problemas que estão ocorrendo no call centers para algo que lembre uma sofisticada
presente, e não apenas de desastres naturais. prefeitura online – um mecanismo de denúncia
Na Índia, como já mencionado, em muitas e fiscalização. Como uma forma mais incisiva de
áreas o fornecimento de água só está disponí- discutir as necessidades urbanas, projetos como
vel durante algumas horas por dia e, portanto, esses podem de fato mudar as políticas, criando
a população perde tempo esperando ou sim- metas ambiciosas e processos abertos.27
plesmente não consegue obter água. Como é A mídia cívica tem o potencial de refletir exa-
improvável que ocorra uma melhora radical na tamente as necessidades dos cidadãos e aperfei-
infraestrutura do fornecimento de água num çoar os dados oficiais. Sobretudo durante as cri-
futuro próximo, uma ONG chamada Next- ses, é fundamental dispor de tecnologia que
Drop criou uma rede de telefonia móvel para garanta que essas vozes sejam ouvidas. Como os
avisar a população, por mensagens de texto, orçamentos municipais são apertados, é funda-
sobre os horários em que a água seria ligada. mental ter cidadãos com autonomia para me-
No começo, o pessoal da NextDrop pensou lhorar suas próprias cidades. Embora essas tec-
em uma remuneração simbólica às pessoas nologias auxiliem a população a ajudar o
para que elas informassem, por intermédio de governo, até agora não conseguiram resolver os
suas redes, quando a água estivesse chegando. problemas mais profundos e fundamentais das
No entanto, a ONG descobriu que seria me- cidades. Em vez de melhorar as condições de
lhor fazer uma parceria com a equipe da em- uma rua, que tal melhorar o sistema educacio-
presa responsável pelo abastecimento de água; nal? Os criadores de mídia cívica precisam bata-
com isso, a NextDrop passou a prestar um lhar por essas metas de reformas reais nas polí-
valioso serviço para a concessionária de água.26 ticas, do contrário, as tecnologias correm o risco
Em hindi, a palavra “Jugaad” significa algo de se tornar algo “bom de se ter”, em vez de
como “improvisação inteligente”. Uma tradu- “necessárias”.

85
Tecnologias de Informação e Comunicação para as Cidades ESTADO DO MUNDO 2012

Como Transformar a Informação exigirá enormes investimentos em infraestru-


em Conhecimento tura. Com a ajuda de sensores, as cidades po-
dem implantar sistemas de pedágio urbano;
aplicativos podem ajudar a melhorar o trânsito;
Os tipos de tecnologia de informação e dados podem revelar padrões capazes de aper-
comunicação aqui descritos têm seus prós e feiçoar a engenharia de tráfego; e a mídia cívica
contras. Por isso, funcionam melhor quando pode ter um importante papel na definição das
usados em conjunto. Imagine um governo políticas de transporte. Porém, para passar de
municipal que trabalhe com o setor empre- cidades espraiadas e dependentes de automó-
sarial para fornecer tecnologia, que envolva o vel para cidades densamente ocupadas e que
público por meio de aplicativos online e tam- oferecem vários tipos de transporte (multi-
bém use dados abertos para avaliar sistemati- modais), é preciso algo mais que mudanças
camente seu progresso na obtenção de metas tecnológicas. É preciso uma liderança firme. A
de sustentabilidade. Existe uma grande pos- liderança pode ser exercida, em parte, pela
sibilidade de que esse tipo de abordagem Prefeitura, mas também por grupos e organi-
consiga não apenas tornar a cidade mais efi- zações locais de defesa. A tecnologia pode ser
ciente, mas também melhorar seus aspectos útil às ideias desses líderes e até mesmo moldá-
sociais e econômicos. las, porém não pode substituir a visão e o po-
Porém, à medida que as cidades passarem der necessários para promover as grandes mu-
a usar mais as TICs para alcançar eficiência, danças exigidas pela crise climática.
transparência e sustentabilidade, será preciso TICs como as descritas neste capítulo po-
fazer investimentos também no treinamento dem ajudar a mudar a dinâmica do poder nas
dos administradores municipais no uso dessa cidades. Nos municípios em que o prefeito e
tecnologia. Com muita frequência, a retó- outros gestores de políticas locais não deram a
rica sobre cidades inteligentes do futuro apre- devida atenção às necessidades dos cidadãos,
senta a tecnologia como uma forma de cor- essas tecnologias estão ajudando as pessoas a
rigir as deficiências humanas. Como esses assumir papéis de liderança e exercer sua par-
exemplos de TICs mostram, os melhores ti- cela de poder. Elas estão garantindo que a voz
pos de tecnologia maximizam o potencial hu- do povo seja ouvida e permitindo que os ór-
mano em vez de tentar eliminar seus erros. gãos de defesa reúnam pessoas com ideias se-
Os governos municipais terão que encontrar melhantes. Essa razão, por si só, demonstra a
maneiras de administrar seus recursos, mas importância de os governos eliminarem ao
precisam fazer isso de uma forma que reco- máximo possível as diversas barreiras que im-
nheça a tecnologia como ferramenta pode- pedem o acesso à Internet. Tecnologia acessí-
rosa, e não uma solução por si só, para en- vel ajuda a informar as pessoas e a fazer com
frentar os desafios das mudanças climáticas, que elas exerçam a sua cidadania. Usar TICs
crescimento econômico e justiça social. para criar a próxima geração de líderes orga-
Analise a política de transporte, por exem- nizados, informados e capacitados que em-
plo. Muitas cidades estão tentando adotar sis- pregarão suas ideias para moldar as cidades –
temas mais sustentáveis de transporte, o que isso sim é que é inteligente.

86 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
CAPÍTULO 6

Mensuração de Desenvolvimento
Urbano Sustentável nos Estados Unidos
Eugenie L. Birch e Amy Lynch

túrbios de pulmão e coração e cerca de 6.000

N
o Dia da Terra comemorado em 2011,
o prefeito Michael Bloomberg subiu atendimentos de emergência de casos de asma
ao pódio do Harlem Stage e mostrou em crianças e em adultos.1
no rosto um sorriso de triunfo ao anunciar que Mas como é que ele e outros nova-iorqui-
a cidade de Nova York estava a caminho de ter nos poderiam ter certeza de que a cidade es-
o ar mais puro entre todas as metrópoles dos tava na direção certa para atingir sua ambiciosa
Estados Unidos. Ele relembrou ao público, ali meta de ter ar limpo? Todos poderiam saber a
presente para ouvir o relato sobre os avanços resposta se analisassem dois dos 29 itens con-
do PlaNYC 2030 ocorridos nos quatro anos tidos no sistema de indicadores do PlaNYC
anteriores, que ar puro era um dos objetivos que monitorava essa e outras nove metas do
fundamentais do seu tão propalado programa plano de 2007. Em primeiro lugar, eles pode-
de sustentabilidade. Naquela data, disse ele, a riam conferir a classificação de Nova York em
cidade havia abolido o óleo combustível de comparação com as demais cidades americanas
graus 4 e 6, uma conquista que, à parte seu (naquele dia ela ocupava o 7º posto – resta
próprio esforço para proibir o cigarro em di- ainda um longo caminho à frente) e, então,
versos locais, era “isoladamente, o maior passo dariam uma olhada na mudança dos níveis
que já demos para salvar nossas vidas.” Como médios de fuligem (um decréscimo de 4% em
o óleo combustível de baixa qualidade usado relação ao ano anterior).
para aquecimento de prédios produz mais fu- Esta amostra reflete o trabalho de apenas
ligem do que todos os carros e caminhões uma das mais de 200 cidades americanas que
juntos na cidade de Nova York, a purificação adotaram algum tipo de plano de sustentabi-
do ar melhoraria os prontuários de saúde dos lidade. Em relação a muitas outras cidades,
moradores da Big Apple. Anualmente, infor- que simplesmente se balizam por um parâme-
mou ele, a fuligem causava 3.000 mortes, tro ou nem sequer fazem a mensuração do tra-
2.000 internações hospitalares devidas a dis- balho realizado, Nova York é também uma das

Eugenie L. Birch é professora titular da Cátedra Lawrence C. Nussdorf de Estudos em Urbanismo do


Departamento de Planejamento Municipal e Regional e diretora-adjunta do Instituto de Estudos em
Urbanismo da Universidade da Pensilvânia (Penn IUR). Amy Lynch é doutoranda em planejamento
municipal e regional na Universidade da Pensilvânia.

87
Mensuração de Desenvolvimento Urbano Sustentável nos Estados Unidos ESTADO DO MUNDO 2012

poucas que definiram indicadores (ou métricas Como Indicar se o


específicas) para fazer o acompanhamento dos Desenvolvimento é Sustentável
avanços. Um indicador nada mais é do que
uma simples medida que sinaliza se uma polí-
Lideranças municipais como Michael
tica ou um programa está no caminho correto
Bloomberg estão respondendo às ameaças de
para atingir uma meta predeterminada. Os
aquecimento global, esgotamento de recursos
analistas fazem uma distinção entre indicador
naturais, desaceleração econômica, níveis altos
e benchmark – neste último caso, um padrão
de pobreza, padrões de assentamento e urba-
preestabelecido para medir o sucesso em rela-
nização desbaratados, falta de moradias e de
ção a um objetivo. Por exemplo, o plano
serviços adequados e de baixo custo. Esses lí-
Greenworks 2009 da Filadélfia adota uma abor-
deres compreendem que o desenvolvimento
dagem de benchmark que enumera metas a se-
sustentável é um processo contínuo, e não
rem atingidas (tal como diminuir em 30% o
uma “condição imutável de harmonia”. Ao
consumo de energia nas dependências gover-
fazer opções políticas e programáticas, eles se
namentais), em vez de ir no encalço de metas guiam pela definição formulada em 1987 pela
mais ambiciosas (por exemplo, ter o ar mais Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
puro entre todas as grandes cidades).2 Desenvolvimento, segundo a qual desenvolvi-
Embora todas essas iniciativas sejam políti- mento sustentável é aquele que atende às ne-
cas públicas válidas, o fato é que, assim como cessidades da geração de hoje sem compro-
as demais cidades dos Estados Unidos, Nova meter a capacidade de as futuras gerações
York carece de um importante elemento de atenderem às suas próprias necessidades.4
aferição: ela não tem como medir o avanço Essa concepção foi burilada na conferência
tendo por referência um padrão nacional. Os Eco-92. O principal documento da cúpula,
Estados Unidos possuem uma plataforma de Agenda 21, apresentou um plano de ação ba-
desenvolvimento sustentável explicitada nos seado em dois princípios fundamentais: a eli-
Princípios de Habitabilidade formulados pela minação de desigualdades (principalmente po-
Parceria para Comunidades Sustentáveis – uma breza) e da degradação do meio ambiente e a
aliança de órgãos federais americanos fundada integração de enfoques ambientais, sociais e
em 2009 quando o Departamento de Mora- econômicos para que se garanta um futuro me-
dia e Desenvolvimento Urbano (HUD), o lhor. O texto fez um apelo explícito para que os
Ministério dos Transportes (DOT) e a (EPA) avanços fossem acompanhados por meio de in-
se comprometeram a trabalhar em conjunto. dicadores de desenvolvimento: “Os métodos de
Porém, o país não dispõe de um sistema de in- avaliação das interações entre os diferentes pa-
dicadores que acompanhe essa plataforma. râmetros setoriais no plano ambiental, demo-
Este capítulo analisa o uso geral de sistemas gráfico, social e de desenvolvimento não são ex-
de indicadores na avaliação de desenvolvi- plorados nem aplicados em escala suficiente. É
mento sustentável. O foco escolhido para exa- preciso criar indicadores de desenvolvimento
minar desenvolvimento sustentável foi o setor sustentável que proporcionem bases sólidas para
urbano por dois motivos: primeiro, porque todos os níveis dos processos decisórios e que
79% da população dos Estados Unidos vive nas contribuam com uma sustentabilidade autor-
cidades e, segundo, porque mensurações sig- regulada de sistemas integrados de meio am-
nificativas que contribuam com a sustentabili- biente e desenvolvimento”.5
dade devem necessariamente ocorrer em escala Nos 20 anos decorridos desde essa declara-
urbana ou metropolitana.3 ção, muito trabalho foi realizado no sentido de

88 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Mensuração de Desenvolvimento Urbano Sustentável nos Estados Unidos

fortalecer pesquisas, políticas e práticas e a Desenvolvimento do Milênio formulados pelas


subsequente avaliação de desenvolvimento sus- Nações Unidas: seus oito objetivos, 18 metas e
tentável – esforços esses que serão analisados seu sistema de indicadores composto por 18
na próxima Conferência das Nações Unidas itens são ilustrativos do enfoque que trabalha
sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), com múltiplos indicadores.8
em junho de 2012. No entanto, para alguns, Nos Estados Unidos, os responsáveis por
os avanços foram lentos, e a explicação para a tomada de decisões, tanto no âmbito público
adoção morosa do paradigma residiria na re- quanto no privado, desde longa data usam in-
sistência política, na limitação de recursos fi- dicadores ou sistemas de indicadores nacionais
nanceiros e em questões técnicas como au- para medir objetivos ou avanços em políticas re-
sência de sistemas de indicadores válidos e levantes, sobretudo em questões como expec-
verossímeis cientificamente.6 tativa de vida, produto interno bruto ou po-
Apoiada na necessidade de recorrer a indi- breza. Recentemente, o Departamento de
cadores de avaliação de desenvolvimento sus- Administração e Orçamento publicou 62 indi-
tentável, a Comissão das Nações Unidas para cadores socioeconômicos, defendendo sua uti-
Desenvolvimento Sustentável, criada para im- lização como “medidas quantitativas do avanço
plementar a Agenda 21, trabalha há 15 anos ou da falta de avanço em relação a determina-
para formular orientações aos países interessa- dos objetivos básicos que a política governa-
dos. Por meio de um amplo processo consul- mental pretenda estimular” como um meio de
tivo, a comissão incorporou pesquisas já com- fomentar um governo de alto desempenho, cu-
provadas nas áreas de ciências físicas e sociais jas políticas e processos decisórios estejam ba-
para testar suas próprias recomendações. seados em evidências das “necessidades e desa-
Agora em sua terceira versão, essas recomen- fios mais prementes diante da nação e de quais
dações são compostas por uma lista com 50 estratégias estão funcionando”.9
sugestões de indicadores “básicos” extraídos Uma vez estabelecidos, os indicadores são
de um total de 96. Outros órgãos, incluindo quase sempre revistos e aprimorados. Um exem-
a Organização para Cooperação e Desenvol- plo típico é o produto interno bruto. Desde sua
vimento Econômico (OCDE), a Common- adoção, os órgãos internacionais vêm traba-
wealth Organization of Planners e diversas lhando para aperfeiçoá-lo. As convenções para o
agências públicas chinesas, começam a desen- levantamento de dados foram especificadas no
volver seus próprios sistemas de indicadores.7 Sistema de Contas Nacionais publicado pelas
Os sistemas de indicadores podem assumir Nações Unidas, pelo Fundo Monetário Inter-
várias formas. Entre os exemplos de tentativas nacional, pelo Banco Mundial, pela OCDE e
direcionadas ao desenvolvimento sustentável es- pela Eurostat, e estão hoje na quinta edição
tão o Índice de Sustentabilidade Ambiental desde a primeira publicação há 50 anos.10
2005 do Yale Center for Environmental Law Dois exemplos ilustram o alcance e a com-
and Policy; os Indicadores Europeus de Reten- plexidade das ações que se utilizam de indica-
ção de Aprendizado do Bertelsmann Stiftung; o dores. No primeiro caso, o Índice STAR de
Índice de Cidades Sustentáveis do Fórum para Comunidades é uma ferramenta online de go-
o Futuro, no Reino Unido; os Indicadores para vernos municipais para análise de desempe-
Melhoria de Saúde Infantil definidos pela Or- nho/gestão em relação a questões de susten-
ganização Mundial da Saúde; e os Critérios Re- tabilidade. Esse índice é baseado em 81
ferenciais de Cidades Sustentáveis recentemente objetivos resultantes de ampla consulta junto
propostos pela União Europeia. Outro exemplo a governos locais e foi concebido pela seção
seriam os amplamente adotados Objetivos para americana do ICLEI (Governos Locais pela

89
Mensuração de Desenvolvimento Urbano Sustentável nos Estados Unidos ESTADO DO MUNDO 2012

Sustentabilidade) com a colaboração do Green de desenvolvimento sustentável, conferindo-


Building Council dos EUA, da National Lea- lhes maior refinamento e resultando em um
gue of Cities e do Center for American Progress. campo sólido de conhecimento sobre o tema.
O índice abarca os tópicos de meio ambiente, As averiguações têm-se concentrado na con-
economia e sociedade, porém não se vincula ceituação e definição e na escolha do indicador,
diretamente a nenhuma política nacional.11 levando em conta critérios para mensuração. O
O segundo exemplo, o Índice de Cidades sistema SMART, desenvolvido por pesquisa-
Verdes, criado pela Siemens em cooperação dores do Instituto de Estatísticas para a Ásia e
com a Economist Intelligence Unit, focaliza o Região do Pacífico, em Tóquio, testa se um de-
meio ambiente e adota medidas quantitativas terminado indicador é específico, mensurável,
e qualitativas para classificar algumas cidades atingível, relevante e oportuno. Os pesquisa-
do mundo todo. De uma lista de 27 cidades dores do instituto também consideram, sepa-
analisadas na América do Norte, São Fran- radamente, indicadores de pressão, condição e
cisco, Vancouver, Nova York, Seattle e Denver reatividade. Os indicadores de pressão aferem
foram escolhidas como as mais sustentáveis; na ações que podem ameaçar a sustentabilidade, os
Ásia, entre 22 cidades que compunham o rol, de condição medem as condições atuais e con-
Cingapura, Hong Kong, Osaka, Seul e Taipei cretas, e os de reatividade avaliam planos e pro-
foram as que tiveram melhor desempenho.12 gramas adotados para fazer frente a condições
A implantação de sistemas de indicadores é ou pressões indesejáveis.13
mais eficaz quando limitada a finalidades espe-
cíficas. O Índice STAR de Comunidades afere O Programa de Ação para
vários objetivos com a intenção de auxiliar uma
determinada cidade a medir desempenho em
Desenvolvimento Sustentável
relação a alguma outra, mas não se propõe a de- nos Estados Unidos
monstrar avanços por referência a um padrão
nacional. O Índice de Cidades Verdes contem- Até 2009, não havia um programa de ação
pla apenas aspectos ambientais, destacando uni- nacional para o desenvolvimento sustentável
camente as cidades exemplares nesse quesito. nos Estados Unidos. Como consequência, mui-
Embora seja animador constatar uma incli- tos municípios, alguns estados, diversos grupos
nação a ganho de conscientização sobre de- de defesa e várias empresas do setor privado
instituíram seus próprios programas e avalia-
senvolvimento sustentável, a proliferação de
ções de desenvolvimento sustentável. No en-
sistemas de indicadores também apresenta inú-
tanto, a contrapartida à ausência de uma orien-
meros desafios. Diante de tantos sistemas pro-
tação nacional foi que o arcabouço conceitual e
postos ou em uso – e cada um deles com dife-
as definições utilizadas pelos indicadores eram
rentes objetivos, metas e definições de bastante distintos entre si e, portanto, incapazes
desenvolvimento sustentável – fica difícil, ou até de gerar mensurações uniformes para avaliar
mesmo impossível, entender a tendência mais avanços em desenvolvimento sustentável no
ampla em termos nacionais. Um sistema que es- país. O xis da questão é como alinhar as inicia-
tivesse estreitamente vinculado a prioridades tivas locais com uma visão nacional sobre de-
nacionais claras traria melhores resultados. senvolvimento sustentável e como criar um sis-
Apesar dessas limitações, extensas pesquisas tema eficiente e de fácil aplicação para medir
e discussões envolvendo a comunidade acadê- avanços que se coadunem a tal concepção.14
mica, lideranças de movimentos sociais e pro- Em 2009, o governo federal decidiu tratar
fissionais de outras áreas propiciaram a evolução dessa questão, instituindo a Parceria para Co-
do trabalho analítico a respeito dos indicadores munidades Sustentáveis, e dentro de pouco

90 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Mensuração de Desenvolvimento Urbano Sustentável nos Estados Unidos

tempo o órgão apresentaria uma concepção e Quadro 6–1. Parceria para Princípios de
um programa de ação para desenvolvimento
Habitabilidade em Comunidades Sustentáveis
sustentável, expressos em seis afirmativas cha-
madas de Princípios de Habitabilidade (Ver Oferecer mais opções em transportes.
Quadro 6–1). Esses princípios vislumbram co- Criar opções em transportes que sejam
munidades em diversas escalas – de bairros a re- seguras, confiáveis e econômicas, visando
giões – com padrões de assentamento bastante baixar os custos familiares com transportes;
distintos dos existentes na maior parte do país.15 reduzir a dependência do país em relação à
Além de articular os Princípios de Habitabi- importação de petróleo; melhorar a qualidade
do ar; reduzir emissões de gases de efeito
lidade, o acordo entre as agências envolvidas de- estufa; e promover a saúde pública.
talhou uma Estratégia Política que balizasse os
Incentivar moradia justa e de baixo custo.
futuros programas da Parceria. A proposta apre- Expandir o leque de opções de moradias
sentada propunha que se construísse uma con- eficientes em termos de localização e energia
cepção de crescimento sustentável embasada para pessoas de todas as idades, faixas de
em definições claras, de modo a assegurar a in- renda, raças e etnias, com o objetivo de
tegração dos investimentos e das atividades de melhorar a mobilidade e diminuir custos
pesquisa das agências e forjar as ferramentas de de moradia e transportes.
mensuração de avanços (Ver Quadro 6–2). Em- Estimular a concorrência econômica.
bora outras agências e departamentos america- Fomentar a concorrência econômica
garantindo acesso confiável e propício a
nos estejam engajados em projetos de desen- agências de emprego, oferecendo
volvimento, a Parceria se destaca por sua oportunidades educacionais, serviços e outras
formulação inequívoca sobre um programa de formas de atendimento das necessidades
ação específico, abrangente e operacional para básicas de trabalhadores e ampliando o
desenvolvimento sustentável.16 acesso das empresas aos mercados.
As três agências integrantes da Parceria pu- Respaldar as atuais comunidades. Direcionar
blicaram os Princípios de Habitabilidade em financiamento nacional para as atuais
formato digital e impresso, criaram divisões es- comunidades – com estratégias de estímulo
ao transporte público, ao uso misto do
peciais – a Divisão de Moradias e Comunida- espaço público e a novas utilizações do solo –
des Sustentáveis (OSHC) do Departamento com o intuito de revitalizar as comunidades,
Americano de Moradia e Desenvolvimento melhorar a eficiência de investimentos em
Urbano (HUD) e a Divisão de Comunidades obras públicas e proteger áreas rurais.
Sustentáveis da Agência de Proteção Ambien- Coordenar e maximizar políticas e
tal (EPA) – para a implantação dos programas, investimentos nacionais. Alinhar políticas
deram início à concessão de fundos, formaram e financiamento federais, visando remover
grupos de apoio com outros interessados e barreiras à colaboração e à captação
de recursos; aumentar o senso de
impulsionaram as competências de auxílio téc- responsabilização e eficácia de todos os
nico de escritórios regionais.17 níveis governamentais, com o intuito de
Com o intuito de promover sua Estratégia planejar crescimento futuro, incluindo a
Política (especialmente as metas para intensi- possibilidade de fazer escolhas inteligentes,
ficar planejamento e investimento integrados como geração local de energia renovável.
e alinhar os programas do HUD, do DOT e Valorizar comunidades e bairros. Incentivar
da EPA), as agências componentes da Parceria as características distintas de todas as
providenciaram fundos para diversos progra- comunidades, investindo em bairros
salutares, seguros e propícios ao hábito de
mas. No âmbito do HUD, por exemplo, a
andar a pé – estejam eles em zona rural,
OSHC criou uma Iniciativa de Comunidades urbana ou suburbana.
Sustentáveis que, em 2010, concedeu a 45
Fonte: Ver nota 15 no final.
localidades subvenções de US$100 milhões

91
Mensuração de Desenvolvimento Urbano Sustentável nos Estados Unidos ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 6–2. Estratégia Política para a Parceria para Comunidades Sustentáveis

Reforçar planejamento e investimento mensurações nacionais de moradia de baixo


integrados. A parceria buscará a integração custo que incluam dispêndios com habitação
de planejamento e investimentos em e transportes e demais despesas afetadas
moradia, transporte, infraestrutura hídrica e pelas escolhas de localização habitacional.
uso do solo. O HUD, a EPA e o DOT se Atualmente, embora para muitas famílias os
propõem a conceder subvenções para custos com transporte se aproximem ou até
planejamento em áreas metropolitanas e a mesmo superem os de moradia, as
criar mecanismos que garantam a chegada definições nacionais a respeito de moradia
desses planos até as localidades previstas. de baixo custo não reconhecem a pressão
dos elevados custos de transportes para os
Apresentar uma concepção de crescimento
proprietários ou locatários de residências em
sustentável. Esta tentativa ajudará as
áreas afastadas de oportunidades de trabalho
comunidades a definirem uma concepção de e transportes alternativos. A Parceria
crescimento sustentável e a aplicarem redefinirá o significado de baixo custo de
investimentos federais em transporte, modo a refletir tais valores, dará maior
infraestrutura hídrica, moradia e em outras atenção ao custo dos serviços públicos e
áreas, com uma abordagem integrada que levará aos consumidores informações mais
diminua a dependência do país em relação à refinadas para ajudá-los em suas escolhas
importação de petróleo, reduza emissões de relativas a moradia.
gases de efeito estufa, proteja o ar e a água nos
Recuperar áreas subutilizadas. A Parceria
Estados Unidos e promova a qualidade de
trabalhará para atingir metas indispensáveis
vida. A coordenação das ações de
em termos de justiça ambiental, bem como
planejamento nas áreas de moradia, outras metas relativas ao meio ambiente,
transporte, qualidade do ar e da água, inclusive tendo como alvo o desenvolvimento em locais
a planificação de ciclos, processos e cobertura que já possuam infraestrutura e ofereçam
geográfica, levará a maior eficiência no uso dos opções de transportes. A justiça ambiental é
recursos federais para moradia e transporte. uma preocupação específica em locais onde
Redefinir moradia de baixo custo e mostrar o há falta de investimentos e usados
conceito com transparência. A Parceria criará anteriormente para fins industriais, cujo

para planejamento regional e contribuiu com cuperação Econômica (TIGER) para 20 proje-
US$40 milhões para o programa Community tos de habitabilidade. No outono de 2011,
Challenge para a revisão de leis locais, com a fi- quando o DOT anunciou uma segunda ro-
nalidade de coordenar ações referentes a uso dada de US$527 milhões dessas subvenções
do solo e transportes. Em 2011, o órgão dis- para investimentos em infraestrutura, foram in-
ponibilizou mais US$97 milhões para 27 pro- cluídos dois importantes critérios de seleção:
gramas Community Challenge e 29 subvenções habitabilidade (essencialmente, os Princípios
para planejamento regional. Para o orçamento de Habitabilidade) e parceria (potencializando
de 2012, a OSHC não obteve financiamento outros programas governamentais). A EPA uti-
a seus programas e, portanto, precisará traba- lizou parte de seus Fundos Rotativos Estaduais
lhar com as outras divisões do HUD para que para Infraestrutura Hídrica (US$3,3 bilhões)
consiga fomentar a implantação dos Princí- para amparar Maryland, Nova York e Califórnia
pios de Habitabilidade.18 em questões de habitabilidade e subsidiou o
No início da Parceria, o DOT destinou plano Smart Growth Implementation Assistance
US$1,5 bilhão em subsídios ao programa In- em oito comunidades que atendiam aos pa-
vestimento em Transporte para Geração de Re- drões dos Princípios de Habitabilidade.19

92 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Mensuração de Desenvolvimento Urbano Sustentável nos Estados Unidos

Quadro 6-2 – continuação

resultado foi poluição e áreas contaminadas para assegurar que seus programas
ou abandonadas. A Parceria ajudará na maximizem os benefícios de seus
retomada do uso produtivo dessas áreas. investimentos conjuntos nas comunidades
Desenvolver medidas e ferramentas de onde atuam, buscando habitabilidade,
habitabilidade. A Parceria pesquisará, viabilidade econômica, excelência em meio
avaliará e recomendará medidas que ambiente e o fomento de empregos “verdes”
mostrem a habitabilidade de comunidades, do futuro. O HUD e o DOT trabalharão em
bairros e áreas metropolitanas. Essas conjunto para identificar oportunidades de
medidas poderiam ser adotadas em futuras melhor coordenação de seus programas e
estimular eficiência local nas escolhas de
atividades integradas de planejamento para
moradia e transporte. O HUD, o DOT e a
criar termos de comparação com as
EPA também divulgarão informações e
condições vigentes, mensurar se as
analisarão processos que facilitem tomadas
comunidades avançam no sentido de
de decisão mais bem fundamentadas e
formular suas próprias concepções e
investimentos coordenados.
aumentar a responsabilização. O HUD, o
DOT e a EPA ajudarão as comunidades a Realizar atividades conjuntas em pesquisa,
atingirem metas de habitabilidade, criando e levantamento de dados e divulgação.
proporcionando ferramentas analíticas para O HUD, o DOT e a EPA agregarão outros
avaliação de avanços, bem como programas interessados e empreenderão atividades
de respaldo técnico em âmbito estadual e conjuntas em pesquisa, levantamento de
local, com a finalidade de remover barreiras à dados e divulgação, visando criar
coordenação de investimentos em moradia, plataformas e ferramentas analíticas de
transporte e proteção ambiental. A Parceria desenvolvimento que detectem opções e
criará incentivos para que as comunidades dispêndios em moradia e transporte, definir
implementem, usem e divulguem as medidas de desempenho padronizadas e
medidas (itálico acrescentado por nós). eficientes e identificar melhores práticas.
(itálico acrescentado por nós)
Alinhar os programas do HUD, do DOT e da
EPA. O HUD, o DOT e a EPA trabalharão Fonte: Ver nota 16 no final.

Um dos desafios enfrentados pela Parceria Ray LaHood, à Parceria: “Habitabilidade sig-
no sentido de apresentar uma concepção de nifica conseguir levar os filhos para a escola, ir
crescimento sustentável é a grande diversidade para o trabalho, comparecer a uma consulta
dos tipos de assentamento nos Estados Unidos médica, passar pelo mercado ou pelo correio,
– urbanos, suburbanos e rurais. Embora o ir ao cinema e jantar fora e brincar com os fi-
censo americano aponte que 79% da popula- lhos no parque, e tudo isso sem ter que usar o
ção do país é urbana, 61% dos americanos vi- carro. Habitabilidade diz respeito a construir
vem em áreas fora do perímetro urbano. Desse comunidades que ajudam os americanos a
total, mais de um quarto mora em localidades viver a vida que escolherem, quer essas comu-
com menos de 25.000 habitantes, onde mui- nidades estejam em centros urbanos, em cida-
tos dos elementos dos Princípios de Habitabi- des do interior ou em áreas rurais” (itálico
lidade desejados em termos de moradia, uso da acrescentado por nós).20
terra e transporte podem ser de difícil conse- Além disso, ao fazer um chamado a alterna-
cução. Como exemplo de sensatez em torno tivas em transporte, comunidades com locais
desse tipo de situação, pode-se mencionar a que estimulem o hábito de andar a pé, concor-
aprovação dada pelo secretário de Transportes, rência econômica e apoio às atuais coletividades,

93
Mensuração de Desenvolvimento Urbano Sustentável nos Estados Unidos ESTADO DO MUNDO 2012

a concepção de desenvolvimento sustentável Sistemas de Indicadores


defendida pela Parceria favorece áreas urbanas Nacionais de Desenvolvimento
caracterizadas por padrões de assentamentos
com alta densidade e uso misto sustentados
Urbano Sustentável
por aglomeração econômica. Décadas de pes-
quisas realizadas por planejadores urbanos e Discussões em diversos fóruns internacio-
economistas revelam que esses elementos são nais têm servido de estímulo para que a Par-
úteis para mensurações e avaliações.21 ceria elabore uma forma de criar um sistema
Até o momento, a Parceria deixa a desejar em nacional para avaliação de desenvolvimento
dois importantes quesitos da Estratégia Polí- urbano sustentável. Após a reunião do Fórum
tica: desenvolver medidas e ferramentas de afe- Urbano Mundial UN-HABITAT em março
rição de habitabilidade e realizar atividades con- de 2010, a Secretaria de Assuntos Urbanos dos
juntas em pesquisa, levantamento de dados e Estados Unidos e o HUD, com patrocínio da
divulgação, sendo que ambos os pontos reque- Fundação Ford, convocaram uma reunião de
rem instrumentos para avaliação de avanços e participantes do setor público, privado e de
definição de medidas de desempenho padroni- ONGs dos Estados Unidos e do Canadá. A fi-
zadas e eficientes. No outono de 2011, o HUD nalidade era sondar o interesse em refinar as
concedeu US$2,5 milhões em subvenções para abordagens utilizadas na América do Norte
pesquisas do Sustainable Communities Research para avaliação de desenvolvimento sustentável.
Grant Program, porém nenhuma delas tratava O encontro resultou na criação de um
diretamente das diretivas da Estratégia Política Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento
em relação a ferramentas de avaliação. Conse- Urbano Sustentável, que desejava de comum
quentemente, até agora a Parceria não dispõe de acordo dispor de um sistema de indicadores,
um conjunto de indicadores fáceis de usar asso- mas em vez de “reinventar a roda” optou por
ciados aos Princípios de Habitabilidade. No empregar e adaptar indicadores que já tivessem
caso de cidades e regiões interessadas em aderir
demonstrado ser eficazes. Representantes da
a programas federais de desenvolvimento sus-
Associação Americana de Planejamento cria-
tentável, a ausência de uma padronização mais
ram uma lista com 22 sistemas de indicadores,
generalizada é uma grande desvantagem e assi-
e o Instituto de Estudos em Urbanismo da
nala falta de clareza sobre as prioridades e ope-
Universidade da Pensilvânia (Penn IUR) exa-
rações nacionais nesse campo.22
Atualmente a Parceria se apoia nos sistemas minou a literatura e analisou os sistemas exis-
de monitoramento de cidades ou regiões indi- tentes, com o intuito de criar um Banco de
viduais. No entanto, é possível que essas cida- Dados de Indicadores de Desenvolvimento
des e regiões não sejam comparáveis e não in- Urbano Sustentável que poderia alimentar boa
cluam medidas sólidas de mensuração do parte do sistema nacional.
desenvolvimento urbano sustentável contem- Dos 22 sistemas de indicadores analisados, 8
pladas nos Princípios de Habitabilidade. A al- foram criados por ONGs, 9 por governos na-
ternativa é recorrer a padrões nacionais menos cionais ou municipais, 4 por grupos do setor
abrangentes, como os do DOT e o Scorecard privado ou de profissionais liberais e 1 foi ela-
em Sustentabilidade/Energia do Departamento borado pelo setor acadêmico. O Instituto In-
de Administração e Orçamento, um sistema de ternacional para o Desenvolvimento Sustentá-
indicadores publicado em março de 2011 e vel faz o registro desses sistemas desde 1988, e
que aborda apenas parte do programa de ação tais registros têm ocorrência e aprimoramento
para desenvolvimento urbano sustentável.23 cada vez maiores. (Ver Figura 6–1.)24

94 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Mensuração de Desenvolvimento Urbano Sustentável nos Estados Unidos

Embora alguns dos sistemas de indicadores cos). O desafio foi compreender a eficácia dos
sejam aplicáveis a mais de uma escala, 12 dos demais indicadores para que se pudesse equi-
22 focalizam a cidade propriamente dita, pará-los aos Princípios de Habitabilidade e,
sendo que 6 deles conseguem abarcar análise por fim, selecionar um número significativo e
em âmbito de bairro ou distrito. Além disso, adaptável para constar da proposta de um Sis-
4 desses sistemas contemplam isoladamente tema de Indicadores de Desenvolvimento Ur-
edificações ou locais. Para efeito de compara- bano Sustentável de cunho nacional. Os indi-
ção, apenas 2 sistemas enfatizam o âmbito na- cadores foram examinados em termos de
cional. Em termos de conteúdo, 13 sistemas cobertura (meio ambiente, economia, ques-
focalizam qualidade do meio ambiente, opor- tões sociais), “inteligência”, tipo (pressão, con-
tunidade econômica e bem-estar social. Po- dição, reatividade) e escopo (unidimensional
rém, tópicos como incentivo à conscientização ou multidimensional).
cívica, resposta a pressões migratórias e infor- O agrupamento dos indicadores remanes-
mações sobre investimentos municipais apare- centes de acordo com suas metas – qualidade
cem, cada um deles, em 6 dos 7 sistemas.25 ambiental, oportunidade econômica e bem-es-
Um total de 304 indicadores foi conside- tar social – mostra que todos os sistemas iden-
rado para eventual inclusão em um Banco de tificados dispõem de diversos indicadores am-
Dados Americano de Indicadores de Desen- bientais, mas poucos sociais e menos ainda
volvimento Urbano Sustentável. (Este banco econômicos. Poluição atmosférica, gestão am-
de dados exclui sistemas que tratam de metas biental e qualidade ou quantidade de água
e objetivos muito amplos ou que não dão destacam-se entre os indicadores de qualidade
muita prioridade a benchmarks muito específi- ambiental. Em contraposição, nenhum indi-

Figura 6-1. Cronologia de Sistemas de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável

Tipo de
Sistema Sistema de Indicadores
ONG Instituto Internacional de Desenvolvimento Sustentável (IISD)
Público Seattle Sustentável
Público Planejamento e Sustentabilidade de Seattle
Público Plano de Sustentabilidade de Santa Monica
Privado ACSE – Plano de Ação em Sustentabilidade
ONG Manual de Indicadores de Sustentabilidade em Bairros
ONG Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade
Público Projeto de Indicadores de Sustentabilidade para a
Região Central do Texas
ONG Rede Internacional de Indicadores de Sustentabilidade (ISIN)
ONG Green Star (Austrália)
Público Indicadores de Sustentabilidade de Minneapolis
Público Programa de Monitoramento de Whistler
ONG Indicadores Globais para Cidades
Público Indicadores de Sustentabilidade Urbana – Euro Foundation
Privado Iniciativa para Locais Sustentáveis Início do programa
(ASLA+LBJ Wildflower Center)
Público Indicadores de Sustentabilidade de Houston Principais mudanças no
ONG LEED ND programa ou publicação
Público Estidama – Abu Dhabi de relatórios relevantes
ONG Índice STAR de Comunidades
Privado Siemens – Índice Europeu de Cidades Verdes
Privado PWC – Cidades de Oportunidades
Institucional Índice de Desempenho Ambiental – 2010

Fonte: Andreason et. al.

95
Mensuração de Desenvolvimento Urbano Sustentável nos Estados Unidos ESTADO DO MUNDO 2012

cador social – como espaço público, níveis de dições existentes, bem como indicadores esco-
criminalidade, ou saúde – consta de mais do lhidos criteriosamente para aferir pressões que
que nove sistemas, sendo que a maior parte foi possam ameaçar a sustentabilidade e ações ado-
observada em menos de cinco. Apenas sete tadas para enfrentar a questão.
objetivos de oportunidades econômicas – Os pesquisadores também buscaram indi-
como edificações “verdes”, concorrência eco- cadores multidimensionais. Embora menos
nômica e infraestrutura de transporte público comuns do que os unidimensionais, eles são
– estão incluídos nos sistemas de indicadores, desejáveis para monitorar dimensões integra-
e tal como no caso de indicadores sociais, ne- tivas relevantes do desenvolvimento urbano
nhum indicador econômico figura em mais sustentável. O caráter multidimensional está
do que nove sistemas.26 presente em 50% dos indicadores, sendo que
A aplicação dos critérios do SMART fez os que aferem qualidade ambiental são preva-
uma enorme diferença, dado que, até então, lentes (80%), seguidos pelos de bem-estar so-
muitos dos indicadores eram mensuráveis, mas cial (37%) e oportunidade econômica (31%).
não eram alcançáveis, isto é, era possível cole- Quando a saúde é considerada como uma fa-
tar as informações, porém fazer o levanta- ceta de bem-estar social, muitos dos atuais in-
mento era excessivamente caro ou difícil. Essa dicadores passam a correlacionar qualidade
realidade reduziu em mais de 50% o número ambiental a bem-estar social, mas um número
de indicadores, que ficaram reduzidos a 145. bem menor correlaciona qualidade ambiental
Desse total, 41% são indicadores sociais, 34% ou bem-estar social a oportunidade econô-
são ambientais e 25% são econômicos.27 mica. Essa escassez de indicadores bidimen-
O tipo de indicador foi também levado em sionais e a frequente ausência de indicadores
consideração, usando-se o parâmetro de pres- socioeconômicos sugere que a criação de um
são, condição ou reatividade. É muito impor- conjunto de indicadores básicos de desenvol-
tante prestar atenção a quais tipos de indica- vimento urbano sustentável exigirá que se vá
dores estão incluídos em um determinado além dos sistemas atuais.
sistema, porque alguns são mais sensíveis a de- Para correlacionar os indicadores aos seis
terminadas ações do que outros. Por exemplo, Princípios de Habitabilidade, foi necessário
um sistema referenciado em condição é sensí- dissecar os respectivos conteúdos para que se
vel a qualquer ação que cause alguma alteração determinassem os temas ou tipos de indica-
nas áreas de interesse (tal como qualidade do ar dores contemplados em cada princípio (Ver
ou índice de desemprego), enquanto um sis- Tabela 6–1). Quando os pesquisadores vincu-
tema baseado em reatividade responderá ape- laram os indicadores no Banco de Dados de
nas a ações especificamente identificadas no Indicadores de Desenvolvimento Urbano Sus-
indicador (número de edificações “verdes” tentável aos princípios, encontraram fartas evi-
construídas, capacitações executadas), dei- dências de que um sistema de indicadores útil
xando de incluir qualquer elemento que não poderia ser criado a partir das fontes do banco
tenha sido especificado antes e desprezando os de dados, com exceção do princípio de “coor-
benefícios de algo inovador ou inesperado. É denar e maximizar políticas e investimentos”.28
possível ainda que sistemas centrados em rea- Ainda resta muito a ser feito para traduzir as
tividade tenham duração mais limitada e pre- informações contidas neste banco de dados
cisem ser atualizados com maior frequência com 145 indicadores em um Sistema de Indi-
para que se mantenham relevantes. Um sistema cadores de Desenvolvimento Urbano Susten-
de indicadores adequados deve incluir, antes de tável de cunho nacional. Os resultados prelimi-
mais nada, indicadores que descrevam as con- nares previstos para o próximo biênio serão

96 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Mensuração de Desenvolvimento Urbano Sustentável nos Estados Unidos

Tabela 6–1. Princípios de Habitabilidade e Tipos de Indicadores Associados

Princípios de Habitabilidade Tipos de indicadores


Oferecer mais opções em Modo de deslocamento casa/trabalho/casa/carona
transportes Tempo gasto no deslocamento casa/trabalho/casa/
quilômetros percorridos pelo veículo
Emissões de carbono
Incentivar moradia justa e de baixo Custo da moradia
custo Moradia justa
Eficiência energética da moradia
Estimular a concorrência econômica Grau de instrução
Aglomeração
Acesso a crédito e capital
Respaldar as atuais comunidades Apoio/revitalização das atuais áreas urbanas
Incentivo a desenvolvimento compacto
Conservação e uso prudente de recursos naturais
Medidas que assegurem um meio ambiente limpo,
salutar e funcional
Coordenar e maximizar políticas e Energia renovável/gerada localmente
investimentos nacionais Respaldo nacional e estadual a iniciativas locais de
planejamento
Valorizar comunidades e bairros Saúde
Segurança
Percepção de integração ao local
Fonte: Ver nota 28 no final.

discutidos na Rio+20, em junho de 2012. Os História Natural no Dia da Terra comemorado


pesquisadores da Penn IUR pretendem enxu- em 2007, o prefeito Bloomberg mostrou firme
gar o rol de indicadores básicos para 18 a 20, determinação e certa impaciência, observando
com base em consultas aos possíveis usuários, que “A ciência está aí. É hora de sair dos deba-
testes-piloto e revisões finais. Várias perguntas tes e começar a usá-la”. Ele colocou a Big
imprescindíveis servirão de guia para este pro- Apple no caminho certo. Dois anos depois, com
cesso de escolha de indicadores: Existe uma re- o lançamento da Parceria para Comunidades
lação válida entre o indicador e os Princípios de Sustentáveis, o secretário do HUD, Shaun Do-
Habitabilidade? O indicador é uma medida novan, fez uma observação com um tom de im-
precisa dos itens que estão sendo controlados? paciência talvez semelhante, dizendo: “Quando
O indicador é sensível o suficiente para medir se trata de políticas de moradia, meio ambiente
avanços periodicamente? Qual é o intervalo e transportes o governo federal precisa falar em
correto para medir avanços? O indicador (e, uníssono”. Já existem programas de ação para as
aliás, todo o sistema) traz benefício de custo? cidades americanas e para o país. O que falta –
Para citar mais um evento na cidade de Nova mas, assim esperamos, pode ser encontrado logo
York, na inauguração do PlaNYC 2030 para – é um padrão nacional que mostre os avanços
um público que lotou o auditório do Museu de em desenvolvimento urbano sustentável.29

97
CAPÍTULO 7

A Reinvenção das Corporações


Allen L. White e Monica Baraldi

dança transformadora que irá além de sua con-

N
o início de 2011, o Secretário-Geral das
Nações Unidas Ban Ki-moon desafiou tribuição para causas específicas, como biodi-
a comunidade global com estas palavras: versidade, práticas de trabalho justo e direitos
“Precisamos de uma revolução. Pensamento re- humanos? É plausível que um movimento glo-
volucionário. Ação revolucionária... É fácil pro- bal, difuso e espontâneo de cidadãos, ainda
ferir as palavras ‘desenvolvimento sustentável’, que unidos por valores comuns, constitua um
mas para que isso aconteça temos que estar pre- movimento social que mobilize milhões em
parados para fazer grandes mudanças – no estilo prol de uma “Grande Transição”?2
de vida, nos modelos econômicos, na organiza- E qual o papel das corporações, especial-
ção social e na vida política”.1 mente as transnacionais (CTN) donas de uma
O Secretário-Geral não é o primeiro a pedir posição de influência mundial que rivaliza com
uma mudança sistêmica dessa magnitude. Mas outras instituições no cenário global ou ultra-
ele, como praticamente todos os outros que passa o alcance dessas instituições? Embora as
clamam por mudanças profundas na trajetória corporações não sejam, de forma nenhuma, a
de desenvolvimento do planeta, deixou sem única causa das múltiplas crises sociais e eco-
resposta a questão crítica relacionada ao agente lógicas, indiscutivelmente, elas desempenham
de mudança. Quem tem visão, liderança e ca- um papel proeminente na origem e na persis-
pacidade de incentivar a “revolução” em dire- tência dessas crises. Pense nos papéis das ins-
ção a um mundo justo e sustentável durante as tituições financeiras na crise financeira, das
décadas de turbulência que se avizinham? companhias de combustíveis fósseis na mu-
A liderança virá de novos órgãos de gover- dança climática e do setor de publicidade no
nança global ou dos órgãos já existentes, mu- consumismo insustentável. Para corrigir tais
nidos de legitimidade e autoridade para ge- distorções, será necessário repensar os funda-
renciar questões transnacionais complexas e mentos relacionados às necessidades sociais e
urgentes, como mudanças climáticas, regula- as expectativas relacionadas à forma e às práti-
ção financeira internacional responsável e co- cas corporativas.
mércio justo? E quanto à sociedade civil? Será Qualquer visão do futuro mundial nas pró-
que ela superará sua fragmentação e evoluirá ximas décadas deve incluir o reconhecimento
para uma força de coesão gerando uma mu- pleno do papel que as companhias transnacio-

Allen L. White é vice-presidente e pesquisador sênior do Instituto Tellus.


Monica Baraldi, da Universidade de Bolonha, Itália, é membro do Instituto.

98 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL A Reinvenção das Corporações

nais desempenham na formação do destino poração moderna. A riqueza, antes dominada


humano e ecológico do planeta. É essa reali- pela posse de terras, passou a ser acumulada
dade que anima os intensos debates contem- por meio do comércio que os investidores pri-
porâneos sobre o papel das empresas na so- vados possibilitavam. A era da globalização
ciedade e a capacidade – e disposição – das econômica começava sua ascensão lenta, po-
corporações em gerar, simultaneamente, be- rém firme, até atingir sua plenitude no pe-
nefício público e riqueza privada em escala e ríodo que sucedeu a Segunda Guerra Mundial.
velocidade compatíveis com as necessidades A marcha das empresas transnacionais, no
de um mundo em dificuldades e ameaçado que diz respeito a tamanho e alcance geográ-
por perigos. É difícil, ou mesmo impossível, fico cada vez maior, continua inabalável. Essa
imaginar um futuro com 9 bilhões de pessoas tendência é evidente sejam quais forem as me-
vivendo de forma sustentável, sem que ocorra didas utilizadas. O número de empregados de
uma mudança sistêmica no objetivo e no mo- filiais estrangeiras de empresas transnacionais,
delo das corporações. por exemplo, cresceu de 21,5 milhões em 1982
para 81,6 milhões em 2007. As vendas por fi-
liais estrangeiras passaram de 2,7 trilhões de
Ascendência do Transnacionalismo
dólares para 31,2 trilhões dólares no mesmo
período, um aumento superior a 11 vezes. Os
No século 16, na forma de companhias de ativos aumentaram ainda mais, de 2,2 trilhões
comércio patrocinadas pelo governo, surgiram de dólares para quase 69 trilhões de dólares.4
as precursoras da moderna empresa transna- A Figura 7–1 oferece uma perspectiva com-
cional, que foram constituídas pela realeza bri- plementar dessa tendência expansionista. As
tânica e holandesa. Enquanto séculos se passa- funções corporativas no exterior, como escri-
riam antes que tais entidades globais pudessem tórios de vendas, logística, call centers e P&D,
atingir a posição de domínio agora exercida por mostram os aumentos entre 2008 e 2011. Até
cerca de 75.000 empresas, a ideia de comércio mesmo sedes de empresas e outros “centros de
transnacional foi estabelecida por companhias tomada de decisão” corroboram essa trajetó-
de comércio que funcionavam como agentes ria. Talvez a maior ameaça, do ponto de vista
de dominação política e econômica das potên- das nações ocidentais, seja o movimento das
cias coloniais. (Ver Quadro 7–1.)3 funções de P&D fora dos países de origem, si-
Nessas primeiras formas, a riqueza estava li- nalizando a capacidade crescente de economias
gada não à produção de bens, mas à função de emergentes em participar ativamente de todos
intermediários entre vendedores e comprado- os aspectos da cadeia de valor, e não apenas das
res de especiarias, sedas, minerais e, depois, se- tradicionais funções de extração de recursos,
res humanos. As companhias de comércio ser- processamento e montagem, há muito tempo
viam ao enriquecimento da realeza e, anos associadas com essa parte do mundo.5
mais tarde, a investidores cujo capital permitia A primeira década do século 21, portanto,
a expansão das atividades comerciais em troca está testemunhando mudanças radicais na pai-
de uma parte dos lucros. A ideia de que os sagem global das corporações transnacionais,
proprietários de capital poderiam colher os na medida em que muitas empresas estão bus-
frutos da atividade corporativa começava a to- cando talentos e locais mais próximos dos
mar corpo, marcando o início de uma lenta clientes em mercados emergentes. A principal
evolução da primazia dos acionistas que, sé- delas é o surgimento de empresas transnacio-
culos mais tarde, viria a legitimar o “valor para nais sediadas nesses países posicionando-se
o acionista” como o objetivo principal da cor- como competidores na economia global ba-

99
A Reinvenção das Corporações ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 7–1 As Raízes da Empresa Moderna

No alvorecer do século 18, a produção limitada” e ambos redefiniram a natureza da


industrial emergiu como a mais nova e empresa. A responsabilidade limitada
poderosa fonte de criação de riqueza. blindava o risco a um nível equivalente ao do
Esse evento foi notável não só para o valor das ações do investidor na organização,
surgimento da empresa apoiada na indústria, criando a perspectiva de ganhos ilimitados
mas também para a mudança no tipo de com riscos limitados. Perante os governos,
riqueza – até então dominada pela herança e os representantes do setor industrial
pelo status social, nesse momento passa a defendiam que esse arranjo era indispensável
ser impulsionada pelo empreendedorismo e para manter o fluxo de capital necessário às
pela produção de bens manufaturados. empresas em expansão que, no final do
A inovação gradualmente substituiu o direito século 19, surgiam como a forma dominante
adquirido como o principal determinante no mundo corporativo.
dessa riqueza. Uma classe empreendedora, As duas forças, sociedades anônimas
alimentada por maior acesso ao capital limitadas por ações e sociedades de
privado, começou a redefinir o cenário responsabilidade limitada, tornaram-se os
corporativo. Esse processo marcou o início da pilares de um crescimento sem precedentes
democratização limitada da riqueza dentro dos do porte, da rentabilidade e da complexidade
estreitos limites da classe de investidores que, das grandes corporações. A empresa como
um século mais tarde, ultrapassariam a realeza um ativo negociável remoto, de propriedade
e a nobreza em termos de controle total da de investidores anônimos dissociados da sua
riqueza do mundo. administração, da sua operação e da sua
No início do século 19 surgiram duas comunidade, vingou. Ao mesmo tempo, o
grandes inovações na forma corporativa, conceito de trabalho como um fator de
impondo uma nova arquitetura que produção semelhante às matérias-primas,
redefiniria o modelo hegemônico. Até então, cujo custo deve ser minimizado, tornou-se
as parcerias de alguns investidores privados profundamente enraizado nas economias
com um empreendedor controlavam a industriais emergentes no mundo.
empresa. No início dos anos 1800, as Esses atributos colocam em prática a
oportunidades de comércio proporcionadas característica que define a empresa moderna,
pelas parcerias privadas superavam o capital ou seja, a primazia dos interesses do capital
disponível, e as companhias se voltaram para (isto é, do acionista). O efeito dominó dessa
as joint-stocks (sociedades anônimas por primazia fluiu em cada artéria da economia
ações). Nesse sistema, pequenos e grandes industrial. Concebida como mecanismo para
investidores poderiam usufruir das atrair o dinheiro em uma era de escassez de
oportunidades geradas pela industrialização capital, a prioridade ao acionista criou as
através da compra de ações da empresa. condições que estimulariam muitos
Com as bolsas de valores, investidores movimentos sociais contra os direitos do
próximos e distantes podiam comprar capital acima dos direitos dos trabalhadores.
ações sem envolvimento – ou até mesmo Com exceção da solidariedade durante a
conhecimento – real no de funcionamento Segunda Guerra Mundial e da prosperidade
da empresa. Os retornos, na forma de partilhada no período entre 1950 e 1980, o
dividendos e valorização das ações, foram atrito entre os direitos do proprietário do
suficientes para atrair ondas de capital capital e os direitos do trabalhador, embora
daqueles que procuravam lucrar com a com intensidade variável, perdura até hoje
industrialização que tomava conta da como uma característica básica das
Europa e da América do Norte. economias avançadas.
Ao conceito de titularidade de ações
conjuntas, juntou-se o de “responsabilidade Fonte: Ver nota 3 no final do texto

100 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL A Reinvenção das Corporações

Figura 7–1 Proporção de Funções Corporativas Exercidas no Exterior

Fonte: UNCTAD
Nível de internacionalização (*)

Escritório Produção Logística e Suporte Call centers e Pesquisa e Finanças Sede e


de vendas de bens e distribuição administrativo gestão de desenvolvimento centros de
serviços e centrais de relacionamento tomada
atendimento com clientes de decisão
compartilhadas

*1 = não internacionalizadas; 5 = muito internacionalizadas

seada em escala e conhecimento tecnológico e, ção de empresas transnacionais. Na verdade, a


em geral, com um papel proeminente do go- visão de mundo dos governos e executivos
verno no controle, na supervisão e nos subsí- que configuram essas empresas já está tra-
dios à empresa.6 zendo um forte elemento de interesses sobe-
O “capitalismo de estado” dessa natureza é, ranos na definição do que constitui o fair play
por si só, uma força importante na expansão e a conduta responsável no século 21.
das empresas transnacionais do Brasil, da Rús- Enquanto isso, muitas outras forças tornam
sia e da China, levando empresas como SI- os prognósticos decididamente incertos: a dis-
NOPEC, China National Petroleum, State ponibilidade e a volatilidade de preços de com-
Grid (China), Gazprom (Rússia) e Petrobras modities minerais e alimentares, bem como os
(Brasil) a uma classificação entre as 50 maio- grandes avanços em tecnologias de informação
res do mundo, com receitas anuais superiores e redes sociais, estão permitindo campanhas
a 100 bilhões de dólares.7 populares contra setores empresariais inteiros
Como o rápido crescimento das economias e empresas individuais. O resultado está au-
emergentes continuará na próxima década, a mentando a pressão sobre as empresas para
competitividade dessas empresas será uma que ofereçam bens, como educação e saúde,
força importante na definição do futuro glo- que eram tradicionalmente oferecidos pelo Es-
bal. Ao longo do caminho, os padrões oci- tado e, no caso das empresas em sintonia com
dentais de governança corporativa, responsa- as novas oportunidades de mercado, para que
bilidade social e ética não se tornarão ofereçam aos mais pobres o acesso a bens de
automaticamente as normas desta nova gera- consumo e serviços. Tomados em conjunto,

101
A Reinvenção das Corporações ESTADO DO MUNDO 2012

todos os sinais apontam para uma época que crises ambientais, sociais e econômicas que
desafiará as vacas sagradas e as crenças domi- ameaçam o bem-estar do planeta?9
nantes que sustentam o contrato social entre O Global Compact, lançado em 1999 pelo
os cidadãos, seus governos e as corporações – então Secretário-Geral da ONU Kofi Annan, é
o novo participante da barganha.8 um bom exemplo da promessa e das limitações
de iniciativas voluntárias. O Compact funciona
O Surgimento e as como uma plataforma de valores e rede de
aprendizado para apresentar 10 princípios de
Limitações da soft law conduta empresarial que abrangem meio am-
biente, normas trabalhistas, direitos humanos e
Nesse contexto dinâmico, inúmeras inicia- combate à corrupção. Foi um momento histó-
tivas no campo da sustentabilidade corporativa rico quando o principal organismo internacio-
fornecem um vislumbre da evolução das ex- nal de governos do mundo reconheceu expli-
pectativas que refletem e moldam novas nor- citamente que não era possível um futuro justo
mas de comportamento corporativo. A maio- e sustentável sem compromisso sério e ação
ria delas se enquadra na categoria de esforços concreta por parte da comunidade empresarial
voluntários externos para conduzir o com- mundial. Autodescrito como “a maior iniciativa
portamento corporativo ao alinhamento com corporativa do mundo em termos de cidadania
os princípios da sustentabilidade: responsabi- e sustentabilidade”, cerca de 8.000 participan-
lidade intergeracional, gestão ambiental e jus- tes, inclusive com o endosso de cerca de 6.000
tiça social. Essa categoria de iniciativas deu corporações de 135 países, subscreveram os 10
origem a um corpo de “soft law” através do princípios e se comprometeram a fornecer re-
qual novas normas de conduta emergem, não latórios regulares sobre o andamento de sua im-
por meio de mandato governamental, mas por plementação. Entre os endossantes corporati-
meio de ações voluntárias desencadeadas por vos, cerca de metade é formada por empresas de
atores não governamentais e multilaterais que, grande porte e a outra metade, por empresas de
ao longo do tempo, constroem legitimidade e pequeno ou médio porte (menos de 250 em-
aceitação fora de qualquer processo formal le- pregados). Considerando como critério a sede
gislativo ou regulatório. das empresas, os países mais envolvidos no
Dezenas de exemplos de iniciativas volun- Compact são França, Espanha e México. (Ver
tárias surgiram nas duas últimas décadas. À Figura 7–2.)10
medida que esses esforços se multiplicam, sur- Apesar de sua impressionante expansão, o
gem muitas perguntas sobre sua credibilidade Compact não está imune a críticas por proble-
e seu impacto. Esses programas estão real- mas na prestação de contas ao sistema das Na-
mente levando a conduta das empresas em di- ções Unidas, por triagem e monitoramento
reção a níveis mais elevados de objetivo social? inadequados dos participantes e por ausência de
O espírito voluntário é suficiente para alcançar acompanhamento de desempenho regular e in-
a mudança transformacional que leva a novas dependente. Por exemplo, só em 2004 é que foi
normas e a resultados mensuráveis alinhados colocado em prática um processo de retirada
com a sustentabilidade? Esses esforços estão se dos participantes que deixarem de apresentar a
afastando de formas corporativas ancoradas Comunicação do Progresso (COP). O cons-
na maximização do lucro e no enriquecimento tante aprimoramento elevou o cumprimento da
dos acionistas? Em suma, essas iniciativas são COP para 76% em 2008, um nível respeitável,
graduais demais e inerentemente incapazes de mas que ainda mostra falha na adesão às regras
enfrentar a urgência e a interdependência das de governança do Compact.11

102 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL A Reinvenção das Corporações

Um segundo esforço seme- Figura 7–2 Países e Regiões com Maior Número de
lhante é a Global Reporting Sede de Empresas Participantes do Global Compact
Initiative (GRI). Concebida
em 1997 por duas organiza-
ções não governamentais Itália Fonte: Global Compact
(ONGs) norte-americanas – China
CERES em parceria com o
Brasil
Instituto Tellus – a GRI foi
lançada em 2002, nas Nações Países Nórdicos
Unidas, como uma organiza- Estados Unidos
ção independente e sem fins
Argentina
lucrativos, filiada ao Programa
das Nações Unidas para o Cingapura
Meio Ambiente. Sua missão é México
desenvolver e disseminar dire- Espanha
trizes para a elaboração de re-
França
latórios de sustentabilidade
por empresas do mundo todo.
Cerca de 2.000 empresas estão
registradas como usuárias das
Diretrizes da GRI e inúmeras
outras o fazem informalmente. Figura 7–3 Crescimento no Número de Relatórios Baseados
(Ver Figura 7-3.)12 nas Diretrizes da Global Reporting Initiative, 2000-10
À medida que a GRI é ado-
Número de relatórios baseados nas diretrizes da GRI

tada de forma mais ampla, sua


influência pode ser vista em de- Fonte: GRI
zenas de políticas, normas e
programas do mundo inteiro.
Os exemplos incluem o man-
dato sueco, segundo o qual to-
das as empresas controladas
pelo Estado devem publicar re-
latórios de sustentabilidade
com base na GRI; o alinha-
mento dos indicadores de de-
sempenho de sustentabilidade
no Código Alemão de Susten-
tabilidade de 2011 elaborado
pelo Conselho Alemão de De-
senvolvimento Sustentável,
com indicadores das Diretrizes
da GRI; e a exigência da Bolsa de Valores de Jo- dessa natureza são indicativos de uma evolução
hanesburgo de que as empresas listadas cum- gradual da soft law para o status de semiobriga-
pram o Código King de Governança Corpora- tório até atingir o status pleno de hard law. É
tiva, que adota a plataforma da GRI. Exemplos uma evolução que se repetiu muitas vezes na

103
A Reinvenção das Corporações ESTADO DO MUNDO 2012

história das mudanças sociais, como se viu nos Nesse aspecto, a soft law também abrange
movimentos em defesa do voto, do meio am- várias iniciativas em setores específicos. A SA
biente, dos direitos das mulheres e do combate 8000, que estabelece normas de trabalho
ao apartheid. Em todos os casos, o governo digno supervisionadas pela Social Accounta-
passou de observador a participante e codifica- bility International (SAI), o Marine Ste-
dor das normas emergentes, ainda que o im- wardship Council [Conselho de Gestão Mari-
pulso original tenha vindo de fora do governo.13 nha], e o Forest Stewardship Council [Conselho
Assim como o Global Compact, a GRI é um de Gestão Florestal] são esforços globais de vá-
reflexo e um impulsionador de novas normas de rias partes interessadas que procuram redefinir
comportamento corporativo. Até sua criação, a regras de conduta, práticas e produtos aceitá-
divulgação dos impactos ambientais, sociais e veis das empresas. Como o Compact e a GRI,
econômicos não financeiros das empresas não essas iniciativas passaram por constante ex-
era uma prática comum. Muitas empresas o fi- pansão na última década, como se pode ver
zeram sem regras, padronização ou, de modo pela certificação de fábricas, empresas de pesca
geral, sem credibilidade. As iniciativas de di- e áreas florestais.
vulgação foram proliferando ao longo da dé- Da mesma forma que o progresso das ini-
cada de 1990 e passaram a ser defendidas por ciativas de cunho voluntário é inegável, as li-
associações de negócios, empresas, governos e mitações também o são. As 6.000 empresas
ONGs, porém sem uma estrutura abrangente que assinaram o Compact, as 2.000 empresas
de aceitação geral assentada em um conjunto que apresentam relatórios segundo a GRI e os
básico de princípios, processos e indicadores.14 2.300 estabelecimentos que seguem as normas
Em pouco mais de uma década, a GRI se da SAI são apenas uma pequena fração das de-
constituiu em uma força fundamental para fa- zenas de milhares de empresas transnacionais,
zer avançar a prática de relatórios de sustenta- das milhões de pequenas e médias empresas e
bilidade, passando do âmbito do extraordinário das incontáveis fábricas que formam a econo-
para o âmbito do excepcional e chegando ao mia global.16
âmbito do esperado. Em 2013, a GRI lançará Com exceção de iniciativas individuais, o
a quarta geração de suas Diretrizes. Talvez da- conjunto de evidências fornece poucos moti-
qui a cinco anos, portanto, os relatórios de sus- vos para acreditar que o espírito voluntário
tentabilidade possam se misturar com perfeição sozinho seja capaz de mudar as práticas em-
aos relatórios financeiros, criando uma estrutura presariais com o ritmo e a profundidade com-
única de “relatórios integrados”. Enquanto patíveis com os desafios que temos pela frente.
isso, a experiência coletiva da apresentação de As bolhas e as explosões nos mercados de tec-
milhares de relatórios na última década está nologia e habitação em muitas nações indus-
fornecendo os dados necessários para responder triais, a crise financeira de 2008 e a conse-
a uma pergunta crítica, porém ainda sem res- quente recessão, o estresse intenso e os sinais
posta: Além do bem intrínseco relacionado a ameaçadores de um dano irreparável para a
maior transparência e responsabilidade, o rela- biosfera, tudo isso aponta para uma necessi-
tório de sustentabilidade está impulsionando dade urgente de ir além das iniciativas volun-
mudanças positivas em termos de salários justos, tárias e das melhorias fragmentadas que abor-
redução da emissão de carbono, propaganda dam problemas específicos com foco nas
ética e outras dimensões da agenda de susten- empresas. Os avanços na redução das emissões
tabilidade corporativa? As pesquisas durante os de carbono, na cadeia de abastecimento e na
próximos anos lançarão luz sobre essa pergunta saúde e segurança do trabalhador são notáveis.
fundamental.15 Mas eles não substituem a mudança sistêmica,

104 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL A Reinvenção das Corporações

que só pode ocorrer através de uma reflexão pendem. O mantra do valor para o acionista
mais profunda centrada na natureza da em- contraria os valores básicos do desenvolvi-
presa e na raiz das condições que se inter- mento sustentável, que é a única via de longo
põem no caminho da empresa impedindo-a de prazo para construir empresas e sociedades
realizar seu pleno potencial como agente de prósperas das quais depende o nosso bem-es-
desenvolvimento sustentável. tar coletivo”.
Criar uma visão plausível e inspiradora da “Comprometemo-nos a criar novos meca-
nova empresa requer um conjunto de princí- nismos de governança global, nacional e local,
pios estruturais e de exemplos vivos da forma com a autoridade e os recursos para incentivar
que essas mudanças transformadoras real- e impor uma nova geração de responsabilidade
mente assumiriam. Tal visão é parte integrante corporativa e a adesão a um novo conjunto de
de muitos esforços atuais para vislumbrar um princípios de modelo corporativo. Esses prin-
futuro planetário de esperança com base nos cípios serão o fio condutor de uma visão emer-
valores de gestão, justiça e solidariedade por gente da corporação construída com base em
parte dos indivíduos e das instituições que os uma parceria entre as pessoas e a biosfera.”
servem. (Ver Quadro 7–2.)17 Uma década atrás, esse cenário era impro-
vável. Mas na segunda década do século 21,
análises mostram que o comportamento das
Visão empresas, tanto na área de finanças como nas
outras áreas, atingiu um nível sem precedentes.
Imagine o seguinte cenário: em 2015, após A volatilidade e os riscos sistêmicos durante a
anos de silenciosa deliberação e formação de última década lançaram uma luz implacável
coalizões, uma aliança de líderes empresariais sobre a conduta no setor financeiro. A inca-
globais forja uma coalizão improvável com a pacidade de regular as exigências de capital dos
sociedade civil e organizações trabalhistas. Sob bancos de forma adequada, a proliferação de
a pressão implacável do aprofundamento das derivativos exóticos e arriscados e as conse-
desigualdades no âmbito dos salários e da ri- quências sociais da combinação de atividades
queza e da incontrolável elevação do índice de bancárias comerciais e de investimento cons-
desemprego, além de enfrentar um movi- piraram para desestabilizar os mercados finan-
mento mundial de cidadãos insurgentes ali- ceiros mundiais. O sentimento generalizado
mentados por um sentimento de impotência e dos cidadãos de que a concentração de lucros
pelo acesso à tecnologia de redes sociais, a e de riqueza no setor financeiro é uma força
aliança se apresenta para dizer: injusta e que causa distorções nos mercados
“Estamos aqui para declarar que a forma globais corroeu a confiança nas instituições fi-
usual de fazer negócios não constitui uma res- nanceiras e nas entidades governamentais res-
posta adequada às expectativas, aos riscos e às ponsáveis pela sua regulação. Esse sentimento
oportunidades das empresas do século 21. alimenta demandas por reformas no setor fi-
Nós, portanto, estamos defendendo uma mu- nanceiro com o objetivo de desencorajar ou
dança nas regras que regem as empresas, um proibir as corporações financeiras de se torna-
novo contrato social que reconheça que as rem “grandes demais para falir” devido ao
empresas existem para a satisfação dos cidadãos risco sistêmico que elas criam nas economias
expressa por meio de processos de governos nacionais e globais. Essa nova situação reflete
democráticos que garantam o estado de di- o fato de que o risco final de fracasso não per-
reito, a estabilidade e a infraestrutura física e tence aos investidores, mas aos contribuintes
tecnológica das quais todas as empresas de- dos países em que eles operam e, no caso da

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A Reinvenção das Corporações ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 7–2 Prognósticos de Futuros Sustentáveis

Como serão as comunidades e as economias Cidades como Detroit, países como a África
no futuro? Para onde as atuais políticas de do Sul e empresas como a Cisco estão
desenvolvimento sustentável levarão o usando esses processos de visão cooperativa
mundo, se forem implementadas? O mais para transcender divisões profundas, abrir
importante, como será o sucesso se a novos caminhos, gerar flexibilidade
humanidade fizer as coisas certas? Muitas estratégica e descobrir como projetar, em
vezes, a questão da visão positiva não faz conjunto, um futuro melhor para todos.
parte das discussões sobre sustentabilidade, O processo de criação de uma visão
e essa é uma das principais razões pelas baseia-se na criatividade dos envolvidos.
quais ações estratégicas em comum A promoção da sustentabilidade exige não
representam um desafio tão grande. No só a visão de possíveis futuros, mas visões
entanto, segundo Donella Meadows, “A visão positivas e convincentes desses futuros.
é o passo mais importante do processo Há um número crescente de iniciativas
político. Se não sabemos para onde com o objetivo de preencher essa lacuna
queremos ir, faz pouca diferença termos um da visão, desde o relatório Visão 2050 do
grande avanço. Mas a visão não está ausente
Conselho Empresarial Mundial para o
apenas nas discussões políticas, e sim em
Desenvolvimento Sustentável até a Iniciativa
toda a nossa cultura”.
Grande Transição. Mas apoiar um diálogo
Quando bem elaborada, a visão pode ser global, desde as camadas básicas até as
muito eficaz, pois ela não só catalisa a camadas dominantes, sobre o futuro é ainda
criatividade como permite que as pessoas um desafio. O processo de engajamento
sejam muito mais estratégicas. O poder precisa ser mais profundo, amplo e rico, a
estratégico da visão reside na forma como fim de reinventar o modo como a
ela vai além de uma abordagem humanidade pode trabalhar, viver e atuar de
fragmentada, gradativa, estreita e voltada forma igualitária na Terra.
para o curto prazo. Algumas técnicas, como
planejamento de cenários, permitem uma A boa notícia é que o futuro não está
análise das consequências da atual trajetória determinado. O dom da clarividência significa
e dos caminhos alternativos. Quando as que as pessoas podem prever, adaptar e criar
partes interessadas pensam juntas o futuro – novas alternativas. Os cenários negativos
um espaço aberto ainda indeterminado e, podem ser evitados se as pessoas agirem com
portanto, menos sobrecarregado por sabedoria e coragem agora. Na verdade, o
diferenças, queixas e pressuposições do futuro de longo prazo da humanidade como
passado – é mais fácil reformular debates espécie pode depender disso.
que não avançam, construir um Nicole-Anne Boyer, Adaptive Edge
entendimento comum das realidades Vanessa Timmer, One Earth
emergentes e identificar interesses comuns. Fonte: Ver nota 17 no final.

União Europeia, a uma região inteira. Nessas dustrializados, uma recessão profunda e pro-
circunstâncias, “grande demais para falir” é longada minou a confiança na capacidade e na
melhor caracterizado como simplesmente vontade das corporações de olhar além dos lu-
“grande demais”. cros e do preço da ação no trimestre seguinte
Ao mesmo tempo, as corporações não fi- para investir no futuro da empresa, dos seus
nanceiras, as chamadas economias reais de bens funcionários e das comunidades em que ope-
e serviços não financeiros, não estão imunes à ram. O gradual “esvaziamento” de empregos
redução da confiança do público. Nos países in- no setor de manufatura e as ameaças às tradi-

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cionais redes de segurança dos Estados Unidos nacionais, comprometidas com a pressão dos
e de grande parte da Europa e do Japão levan- acionistas e a arraigada visão de curto prazo,
tam dúvidas profundas sobre a capacidade das estão deixando de contribuir para o bem-es-
corporações em compartilhar, de forma justa, a tar de longo prazo de trabalhadores, comuni-
riqueza que elas criam entre os responsáveis dades e meio ambiente em níveis compatíveis
por sua criação. O resgate das grandes corpo- com a sua capacidade de fazê-lo.19
rações da indústria automobilística promovido A transitoriedade é o segundo motivo da
pelo governo dos EUA levantou dúvidas sobre desilusão pública. Na era das operações infor-
se tais indústrias deveriam submeter-se aos mes- matizadas e de grande frequência, a participa-
mos regulamentos de alavancagem (isto é, en- ção acionária, que anos atrás era medida em
dividamento) e às mesmas restrições aplicadas meses e anos, agora é reduzida a minutos e se-
ao setor bancário. E, como grandes economias gundos. A transitoriedade também se mani-
emergentes, como China, Brasil e Índia, infor- festa no comportamento das indústrias que se
mam regularmente o progresso do alívio à po- movem com maior rapidez, sempre em busca
breza, o contraste com nações industriais com locais de menor custos de produção. A res-
fraco desempenho e com falta de emprego ponsabilidade em relação a trabalhadores e
torna-se ainda mais gritante.18 comunidades tem um pequeno papel a de-
É provável que, pelo menos, três condições sempenhar nessa economia global transitória
continuem a minar a confiança do público e a hipercompetitiva. Ao mesmo tempo em que o
intensificar a pressão para mudança entre as sistema pode gerar retornos rápidos para in-
empresas transnacionais: escala, transitorie- vestidores selecionados, os custos sociais são
dade e disparidades. Em primeiro lugar, es- graves em termos de redução da coesão da co-
cala. O crescimento desenfreado continua a munidade e deslocamento do trabalhador.
expandir o mercado e a influência política das Para os acionistas, a transitoriedade é simples-
corporações transnacionais. Os setores finan- mente a expressão contemporânea da “des-
ceiro, automobilístico, farmacêutico, alimen- truição criativa” que beneficia corretores de
tício e a mídia estão entre os que se consoli- ações e investidores sofisticados em nome da
daram em pequenos números de grandes eficiência e da competitividade. Em relação a
produtores mundiais e prestadores de servi- outras partes interessadas, o sistema diluiu o
ços. O crescimento imperativo, medido pelo conceito de “controle societário” até o ponto
preço e ganho por ação e por lucros a curto em que a corporação se tornou uma merca-
prazo, induz a decisões corporativas de valor doria negociável (como petróleo, minerais e
social questionável: aquisições mal concebidas grãos), em grande parte descolada das conse-
para aumentar a rentabilidade de curto prazo; quências de suas ações sobre a vida e o sus-
contabilidade criativa para inflar os lucros, tento das comunidades e dos indivíduos sobre
por exemplo, através do adiamento de gastos os quais atua.
com P&D e manutenção; remuneração de A desigualdade de riqueza, um terceiro mo-
executivos em níveis historicamente elevados tivo para a inquietação do público com o com-
de desigualdade em relação aos salários dos portamento das empresas, nunca foi vista como
trabalhadores médios; e uma dependência ex- sendo de responsabilidade, muito menos como
cessiva da opção de compra de ações que in- resultado, de corporações que operam em um
duz à atenção obsessiva com o preço da ação ambiente de livre mercado. Esse papel tradi-
no curto prazo, e não com a criação de ri- cionalmente compete ao governo. Apesar de
queza no longo prazo. O resultado é a crença muita retórica, problemas de sustentabilidade,
generalizada de que muitas empresas trans- como instabilidade climática, direitos huma-

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A Reinvenção das Corporações ESTADO DO MUNDO 2012

nos, combate à pobreza, lutam para atrair a • Princípio 1. O objetivo da corporação é


atenção de executivos e investidores. Na úl- aproveitar os interesses privados para atender ao
tima década houve alguns avanços no sentido interesse público. Por que a sociedade cria leis
de as empresas se dedicarem a essas questões que permitem a existência das corporações?
através de estratégia de investimento e gestão de Para atender ao interesse público, a finalidade
carteira, mas no geral esses temas ainda conti- primordial de todos os sistemas democráticos.
nuam à margem do cálculo de gestores e in- A licença para operar não é um direito; é um
vestidores. Os resultados falam por si em termos privilégio. A licença deveria ser concedida com
de disparidades persistentes no nível macro de termos e condições compatíveis com a visão de
renda dentro das nações e entre elas, de dispa- uma sociedade justa e sustentável e ser objeto
ridades no nível micro demonstradas na relação de revisão e renovação periódicas condiciona-
entre os salários dos executivos e os salários das à adesão a tal visão. Esse princípio reco-
nhece e reforça a capacidade exclusiva da em-
médios e de lucros corporativos recordes justa-
presa de gerar riqueza. Ao mesmo tempo,
postos à estagnação ou ao declínio dos salários
insiste que, no processo de criação de riqueza,
reais dos trabalhadores.
a empresa deve agir de forma coerente com o
A criação das precondições de mudança
interesse público. Onde houver conflito entre
transformacional exige a aceitação geral de
interesses privados e públicos, o interesse pú-
novos princípios que enfrentem e ajudem a re- blico deverá prevalecer. O Princípio 1 rejeita a
verter os efeitos prejudiciais da escala, da tran- caracterização da corporação como uma enti-
sitoriedade e da disparidade. Felizmente, várias dade insular livremente comercializável sem
iniciativas estão em andamento, com foco restrições e separada da sociedade mais ampla
tanto na “nova corporação” como na “nova em que opera. Em vez disso, ele posiciona a
economia”, que apontam para um futuro em corporação como inseparável dos interesses
que o bem-estar humano e ecológico são as mais amplos da sociedade e, no final, respon-
peças centrais de um movimento rumo a um sável por eles.
futuro justo e sustentável.20 • Princípio 2. As corporações devem acu-
mular lucros justos para os investidores, mas
Princípios não à custa dos legítimos interesses de outras
partes interessadas. Lucros e investimentos
são essenciais para uma empresa bem gerida.
Há mais de cinco anos a Corporation 20/20,
Mas eles são meios, não fins. As corporações
uma rede internacional com mais de 300 par-
não podem buscar o lucro para os acionistas
ticipantes da área corporativa, da sociedade e minar os legítimos interesses de outros par-
civil, do direito, do trabalho e da academia, ex- ticipantes. A palavra “legítimos” é funda-
plora os desafios de reorientação e reformula- mental, porque as reivindicações variam de
ção das corporações. Comprometida com a acordo com a contribuição de várias partes in-
crença de que novos modelos empresariais são teressadas para o processo de criação de valor
ingredientes indispensáveis para um futuro corporativo, especificamente, como fornece-
global saudável, a rede elaborou seis Princípios dores de capital humano, natural, social e fi-
de um Novo Modelo Corporativo como pila- nanceiro para a empresa. No decorrer da ati-
res de sua pesquisa, defesa de causas públicas vidade empresarial, descarregar efeitos
e comunicações públicas. Esses princípios con- externos sobre a sociedade contraria funda-
ferem uma arquitetura para a próxima geração mentalmente o interesse público. Esses efeitos
de empresas.21 devem ser considerados inaceitáveis e devem

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ser evitados através de políticas adequadas e rente, ética e responsável. A governança parti-
mecanismos de regulação. cipativa capacita as partes interessadas em to-
• Princípio 3. As corporações devem operar dos os níveis de tomada de decisão da empresa.
de forma sustentável para atender às necessi- Através de estruturas de governança transpa-
dades da atual geração sem comprometer a ca- rentes e responsáveis, as partes afetadas são in-
pacidade das gerações futuras de atender às formadas e ouvidas e têm o direito de in-
suas próprias necessidades. A administração da fluenciar – condições que alimentam a
biosfera por meio da preservação dos recursos lealdade, a produtividade e a coesão na orga-
naturais e da proteção dos bens comuns, como nização. A “governança das partes interessa-
água e ar limpos e o clima, é vital para o inte- das” dessa natureza está estreitamente ligada a
resse público, para o bem-estar do ser hu- todos os outros princípios. Quando conce-
mano e para a ecologia. Esse princípio estabe- bida de forma eficaz, é um mecanismo para in-
lece inequivocamente que as corporações têm corporar os princípios democráticos e partici-
responsabilidades intergeracionais. A gestão pativos à governança corporativa e, ao mesmo
com vistas a ganhos privados de curto prazo é tempo, garantir que a administração preserve
uma violação dessas responsabilidades. Operar seu poder de operar a organização de forma
de forma sustentável implica uma mudança competitiva e eficiente.
drástica na natureza e na produção de bens e • Princípio 6. As corporações não devem in-
serviços e na incorporação do custo real de fringir o direito que as pessoas têm de governar
produção em toda a cadeia de valor. a si próprias, nem infringir outros direitos hu-
• Princípio 4. As corporações devem distri- manos universais. Este princípio aborda a re-
buir sua riqueza de forma equitativa entre lação da corporação com os direitos políticos
aqueles que contribuem para a sua criação. mais amplos dos cidadãos. Ele delineia um li-
Esse princípio coloca a distribuição equitativa mite que as empresas não devem ultrapassar,
da riqueza como um compromisso explícito da ou seja, os direitos que as pessoas têm de se
empresa, embora não exclusivo. Ele rejeita as governar por meio da concessão de determi-
normas vigentes de governança corporativa e nados direitos ao governo em benefício do
dever de lealdade que priorizam a riqueza do interesse público. As corporações não devem
acionista em detrimento da riqueza de todos exceder o seu papel nos processos político-
os outros participantes. Os ganhos para os ou- democráticos e devem respeitar as normas que
tros interessados, como salários dos emprega- limitam sua influência no processo legislativo,
dos, pagamentos a fornecedores e impostos quando tal influência diluir ou suprimir a voz
para os governos locais e nacionais são, atual- dos cidadãos.
mente, definidos como custos a serem mini- De maneira coletiva, esses seis princípios
mizados, em deferência à prioridade dos inte- constituem as bases de uma nova empresa,
resses dos acionistas. Em contraposição, um cuja finalidade e modelo estão alinhados com
projeto de empresa alinhado com o Princípio a visão de 2015 descrita anteriormente. A ideia
4 reconhece sua obrigação de compartilhar a de que as corporações são constituídas pelos
riqueza que cria, de forma equitativa, entre to- governos para servir ao interesse público re-
das as partes que contribuem para isso, inclu- monta a uma época anterior, quando todas as
sive pagamentos ao governo, pois é ele que ga- corporações – constituídas pelo rei no século
rante a estabilidade, a segurança e o estado de 16 para realizar o comércio global ou consti-
Direito indispensáveis ao sucesso das empresas. tuídas pelo Estado no século 19 para construir
• Princípio 5. As corporações devem ser go- uma estrada ou um canal – funcionavam como
vernadas de maneira participativa, transpa- entidades que tinham fins públicos, além de es-

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copo e prazo limitados. Não é necessário nem gulamentos. Em nenhum caso, porém, o pro-
plausível voltar no tempo para reconstituir a cesso de contrato social é implantado de forma
forma histórica das empresas. Mas é plausível agressiva como um instrumento para fazer
e necessário repensar tais formas para que se avançar a agenda de sustentabilidade de um
alinhem aos perigos e imperativos de habitar país. Países com tradições do sistema jurídico
um planeta sustentável no século 21. Esse de- de common law, como Reino Unido, Estados
safio, por sua vez, exige a aplicação desses seis Unidos, Canadá e Austrália, não exigem judi-
princípios para alavancar mudanças essenciais cialmente uma declaração de objetivos. Em
à formação do “DNA” das empresas nas pró- contraposição, aqueles com tradições do Di-
ximas décadas. reito civil costumam fazer tal exigência, in-
cluindo Alemanha, França, Itália, Espanha,
Alavancas de Mudança Brasil e Chile. Mas mesmo nesses países, a de-
claração de objetivos geralmente contempla
objetivos dentro do contexto do setor empre-
As corporações não são ilhas. Elas fazem sarial em que a empresa atua – por exemplo,
parte de um complexo sistema econômico “o objetivo da empresa X é a produção de pro-
com uma infinidade de variáveis simultâneas dutos farmacêuticos para os mercados institu-
que modelam e remodelam continuamente o cionais e de consumidores em geral”.
seu desempenho. As quatro dimensões da mu- Fatos recentes nos EUA apontam para a pos-
dança descritas a seguir apontam para as múl- sibilidade de uma nova geração de opções de
tiplas vias pelas quais a mudança transforma- contrato social que promovem uma declaração
cional é possível. de objetivos mais ampla e centrada nas partes in-
Objetivo. Através de meios judiciais (con- teressadas. Um exemplo é a B Corp (B de be-
trato social e regulamentos, por exemplo) e ex- nefício), uma alternativa voluntária ao contrato
trajudiciais (declaração de missão ou herança social tradicional, sem a exigência de valores, que
de família), a declaração de objetivos de uma permite às empresas o uso de uma linguagem
empresa reflete e reforça a sua fibra moral. O que reconheça explicitamente os interesses da
objetivo funciona como pedra de toque comunidade, dos trabalhadores, do meio am-
quando se trata de governança, estratégia e de- biente e de outras partes interessadas, que não
cisões políticas essenciais. Ele também fun- os acionistas, na operação da organização. As B
ciona como uma janela para a mentalidade e Corps são obrigadas a ter um objetivo corpora-
para o nível de compromisso da organização tivo de criar um impacto material positivo sobre
com a criação de benefício social, além da ri- a sociedade e o meio ambiente, de redefinir o
queza privada, incorporado à sua cultura or- dever de lealdade e exigir a consideração dos in-
ganizacional. Quando o New York Times e o teresses dos trabalhadores, da comunidade e do
Novo Nordisk definem seus objetivos, respec- meio ambiente na tomada de decisões e de pu-
tivamente, como “informar o eleitorado” e blicar um relatório anual sobre seu desempenho
“combater a diabetes”, é um sinal de que a social e ambiental, que deverá ser preparado se-
missão social desempenha um papel significa- gundo um protocolo de terceiros que seja
tivo na formação da cultura da companhia e, abrangente, confiável, independente e transpa-
em última análise, na estratégia e nas práticas rente. Havaí, Maryland, Vermont, Nova Jersey,
de gestão.22 Virgínia e Califórnia aprovaram uma legislação
As exigências dos países variam quanto às sobre B Corps como alternativa voluntária aos
organizações declararem explicitamente seus contratos sociais centrados nos acionistas, e ou-
objetivos nos processos de contrato social e re- tros estados também estão considerando essa al-

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ternativa. Mais de 400 empresas, principalmente O espírito da B Corp e da FPC pode ser
startups e pequenas organizações, que repre- transferido para o cenário global em que as
sentam mais de US$ 2 bilhões em receita, rece- empresas transnacionais operam? Sim, pode e
beram a certificação de B Corps.23 deve. As transnacionais são empresas globais e,
Uma segunda inovação no contrato social como tal, devem estar sujeitas a mecanismos
das empresas é a Flexible Purpose Corportion judiciais de governança global da mesma ma-
(Empresa com Objetivos Flexíveis) (FPC, na neira que o comércio internacional, os direitos
sigla em inglês), da Califórnia, promulgada internacionais de propriedade intelectual e a
em outubro de 2011. Essa lei visa proporcio- proteção da biosfera (através do Protocolo de
nar às empresas uma estrutura jurídica que Montreal). A recente proposta de criação de
proteja e incentive uma missão social, mas uma entidade global de constituição de em-
com uma proteção mais intensa a membros do presas transnacionais, a World Corporate
conselho de administração contra ações judi- Charter Organization (Organização Mundial
ciais de acionistas do que a contida na legisla- de Constituição de Empresas), oferece uma
ção da B Corp. A FPC permite que os mem- abordagem visando à harmonia entre o alcance
bros do conselho de administração considerem e a governança das empresas transnacionais.
os interesses de longo e curto prazo de acio- O objetivo da proposta de contrato social glo-
nistas, empregados, fornecedores, clientes, cre- bal com validade de 10 anos seria comple-
dores, comunidade, sociedade e meio am- mentar, e não substituir, contratos sociais na-
biente. Os defensores da FPC esperam que a cionais. A renovação estaria sujeita a revisão e
nova lei atraia empresas maiores do que aque- confirmação do cumprimento das obrigações
las atraídas pela lei da B Corp, fomentando declaradas no contrato social das transnacio-
possibilidades para que as grandes corpora- nais. Um contrato social global típico seria
ções combinem criação de riqueza privada composto por cinco partes: uma missão social,
com riqueza social.24 normas internacionais, um componente de
Como instrumento de aceleração da trans- controle societário, uma seção de governança
formação das empresas, a lei de constituição e uma seção de prestação de contas. O con-
empresarial é uma ferramenta subutilizada. A trato social de empresas no nível nacional e es-
Corp B e a FPC merecem a atenção de políti- tadual representa um desalinhamento funda-
cos e reguladores das economias emergentes mental entre tutela e regulação que pode ser
num momento em que a constituição de no- corrigido apenas por um órgão de governança
vas empresas está crescendo rapidamente e as global desse tipo.25
leis consolidadas sobre a lealdade ao acionista Propriedade. A propriedade, bem como o
são muito mais fracas do que nos países in- objetivo, desempenha um papel fundamental
dustrializados. Nas economias emergentes, a na elaboração e no reforço da visão de mundo
lei de constituição empresarial pode ser refor- das corporações. Ao modelo de constituição
çada por uma série de mudanças alinhadas empresarial dominante no Ocidente como,
com o conteúdo da B Corp: exigência de de- por exemplo, sociedades por ações ou socie-
claração de um objetivo público, exigência de dades limitadas, existem muitas alternativas,
revisão periódica do cumprimento desse obje- como a propriedade fiduciária, empresas com
tivo como condição para que a empresa con- participação societária dos empregados, coo-
tinue atuando e exigência de relatórios de sus- perativas e associações comunitárias de caráter
tentabilidade para divulgar o progresso híbrido, que em geral são mais alinhadas com
específico do cumprimento de sua missão so- os princípios de modelo corporativo descritos
cial autodeclarada. anteriormente.

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A Reinvenção das Corporações ESTADO DO MUNDO 2012

Tais formatos corporativos combinam isso, as empresas controladas por fundos e


muito bem com conceitos como governança fundações respondem a um propósito mais
das partes interessadas, distribuição justa da ri- elevado definido pelas entidades sem fins lu-
queza criada pela empresa e horizontes de crativos que detêm o controle acionário. A
longo prazo. Além disso, esses formatos não Novo Nordisk (Dinamarca), o GrupoNueva
são curiosidades. Eles de fato existem aos mi- (Chile) e a Tata Industries (Índia) se enqua-
lhares em vários países, apesar de sua impor- dram nessa categoria. No caso da Tata, 90
tância raramente figurar em debates mais am- empresas são controladas por fundos familia-
plos a respeito das relações entre empresa e res e vinculadas pelo legado de 140 anos de
sociedade. Nos Estados Unidos, há cerca de seu fundador para o avanço do capital social.27
11.000 empresas de propriedade total ou par- O modelo chinês de capitalismo de Estado
cial de empregados e 130 milhões de membros é mais um dos modelos de controle societário:
de cooperativas urbanas, agrícolas e de crédito. a principal parte interessada normalmente tam-
Na Europa, mais de 300.000 empresas coo- bém é o principal acionista – a própria China.
perativas empregam 5 milhões de pessoas. Na A ascensão da empresa chinesa em todo o
Espanha, a cooperativa Mondragon, na região mundo em setores como mineração, automo-
basca, é uma entidade coletiva próspera, com tivos e informática, está levando o país para
100.000 empregados de uma ampla gama de muito além dos bens manufaturados de baixa
empresas de produtos e serviços. Na Itália, a qualidade para se tornar uma presença global
região da Lombardia conta com mais de em alta e baixa tecnologia. Aqui, as empresas
11.500 cooperativas e 170.000 funcionários. são não apenas instrumentos sociais e políticos,
E no Reino Unido, a John Lewis Partnership mas também elementos de impulso econô-
– uma empresa de US$10 bilhões, na qual mico que fortalecem o esforço da China em
70.000 empregados têm participação acioná- garantir fluxos seguros de minerais e produtos
ria – é a maior rede de lojas de departamento alimentares provenientes da África e da Amé-
do país. A maior parte dos lucros anuais é dis- rica do Sul. Internamente, esse tipo de cons-
tribuída entre os funcionários, que são, com tituição empresarial é usado como um instru-
efeito, os acionistas da organização.26 mento para promover harmonia social, reduzir
As estruturas contemporâneas de controle as desigualdades entre as comunidades do li-
da empresa estão indevidamente apegadas ao toral e do interior e acelerar a ascensão da
capitalismo industrial do século 19, uma era de classe média – elementos essenciais da agenda
escassez de capital e abundância de mão de social do país. Obviamente, a conexão íntima
obra e recursos naturais. No século 21, em que entre governo e empresa estatal tem sérios ris-
o capital financeiro é abundante e o capital hu- cos assimétricos, pois as empresas estão sujei-
mano qualificado e o capital natural são rela- tas ao controle político, que visa preservar o
tivamente escassos, as estruturas alternativas de sistema de partido único. A escala da degra-
controle societário estão florescendo e vivem dação ecológica na China atesta o lado som-
em constante estado de reinvenção. O con- brio do capitalismo de Estado, quando os in-
sórcio Banco Grameen/Grupo Danone (Ban- teresses políticos e econômicos prevalecem
gladesh/França) é exemplo de uma nova ge- sobre a proteção ambiental, em detrimento da
ração de modelos de negócios combinados saúde pública e da ecologia da China.
que têm em seu âmago uma finalidade social Todos estes exemplos ilustram o amplo es-
– neste caso, nutrição acessível para as crianças pectro de opções de constituição empresarial
de Bangladesh por meio da fabricação de io- que estão em jogo no cenário mundial. Em
gurte fortificado de baixo custo. Enquanto graus variados, seja em relação ao projeto ou

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à consequência, cada uma delas oferece uma rios. Uma parte refere-se à atividade do mer-
alternativa ao modelo ocidental dominante cado de capitais, reforçando a visão de que a
em termos de alinhamento com a visão e os sustentabilidade está se movendo, embora len-
princípios da nova corporação retratados aqui. tamente, partindo das margens para o centro
Em um mundo interconectado, que enfrenta dos mercados financeiros e da política gover-
várias crises ecológicas, econômicas e sociais, o namental.29
controle societário permanece como um dos Fora dos mercados de capitais, que tradi-
poderosos pontos de pressão para repensar cionalmente negociam títulos públicos, há
modelos corporativos de forma a enraizar a uma nova classe de ativos, muitas vezes cha-
missão social na conduta e na cultura das em- mada de “investimento de impacto”. Estimu-
presas contemporâneas. lados por uma coalizão de 15 fundações que
Capital. Seja qual for a finalidade ou a es- buscam harmonizar suas carteiras de investi-
trutura do controle societário em vigor, as mento com os seus objetivos programáticos,
empresas precisam de capital financeiro para juntamente com várias empresas tradicionais
lançar e sustentar suas operações. O acesso, as cujos clientes têm no quesito missão um dos
fontes, a quantidade e as condições em que o focos, os investidores de impacto buscam
investimento ocorre desempenham um papel oportunidades em startups, fundos, empreen-
central para permitir ou impedir a transfor- dimentos sociais e projetos para os quais o va-
mação vislumbrada aqui. lor social é o objetivo central. Voltada princi-
Historicamente, os mercados de capital têm palmente para os mercados emergentes e os
sido, quando muito, indiferentes às conse- países pobres, a coalizão representa US$1,5 bi-
quências sociais de longo prazo das práticas de lhão em ativos alinhados com um sistema de
investimento. No mundo todo, entre as deze- avaliação de desempenho de investimentos de
nas de trilhões de dólares em ativos gerencia- impacto desenvolvido por uma iniciativa asso-
dos, apenas uma pequena fração pode usufruir ciada, o Sistema Global de Avaliação de In-
de algum tipo de proteção que se alinha com vestimentos de Impacto. No contexto dos no-
os princípios da nova corporação. Nos Estados vos modelos corporativos, os ativos dessa
Unidos, por exemplo, estimativas recentes fa- natureza podem tornar-se significativos se seu
lam em 3,1 trilhões de dólares, menos de 15% nível modesto de hoje se expandir para, diga-
do total de ativos sob gestão.28 mos, um trilhão de dólares ou mais nos pró-
Globalmente, várias das 100 bolsas de va- ximos 5 a 10 anos. Na mesma linha, a Inicia-
lores do mundo estão tomando medidas para tiva Global para Classificação da Sustentabilidade
colocar a sustentabilidade entre seus requisitos busca ir além da comunidade de investimento
de listagem ou adotando outros mecanismos orientado por missão, que é relativamente pe-
para informar os investidores sobre a impor- quena, e conduzir os impactos ambientais, so-
tância da sustentabilidade na sua tomada de ciais e de governança aos mercados de capitais
decisão. Entre essas bolsas estão as de Xangai, tradicionais.30
São Paulo, Johanesburgo, Alemanha, Cinga- Um futuro em que a sustentabilidade se
pura e Tailândia. Ao mesmo tempo, estimula- entrelaça perfeitamente no tecido dos merca-
das em grande parte pela GRI, as iniciativas de dos de capitais é um futuro com uma grande
divulgação de sustentabilidade, tendo os mer- promessa de criação e expansão de formatos
cados de capitais como principal alvo, conti- corporativos voltados para a sustentabilidade.
nuam a proliferar no mundo todo. Estima-se Concretizar esse potencial com a magnitude e
que cerca de 140 normas ou leis estão em vi- a velocidade impostas pelas múltiplas crises
gor, sendo que dois terços delas são obrigató- globais exigirá ações governamentais em rela-

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A Reinvenção das Corporações ESTADO DO MUNDO 2012

ção a alguns pontos: regulação de títulos e re- com o objetivo e o modelo corporativos dese-
gras das bolsas de valores; mecanismos de fi- jados. Na transição para um paradigma de go-
nanciamento público na forma de bancos na- vernança das partes interessadas, os valores, o
cionais e estaduais; subsídios direcionados a conhecimento e a supervisão do conselho de
novas corporações orientadas por missão, re- administração são essenciais.31
gimes fiduciários favoráveis a investidores vol- Por que, mais de duas décadas após o início
tados à missão e impostos sobre ganhos de ca- do movimento contemporâneo de sustentabi-
pital que privilegiem esses investidores. lidade, a sustentabilidade ainda permanece à
Exemplos desses tipos de ações já estão em vi- margem da grande maioria das empresas trans-
gor. Uma vasta escalabilidade vertical e hori- nacionais? Deficiências na governança corpo-
zontal deve fazer parte da agenda de Econo- rativa certamente figuram entre os obstáculos
mia Verde da Rio+20, mas deve ir além dessa mais poderosos. Devido a uma combinação de
conferência. legislação, cultura e escolha, a grande maioria
dos conselhos de administra-
ção continua a adotar o valor
para o acionista como a me-
dida final do sucesso da em-
presa. Na verdade, o apego a
esse pilar de governança pres-
supõe algo semelhante à lei da
gravidade – inegável, incontes-
tável e inquestionável.32 A pri-
mazia dos interesses do capital
permeia praticamente todas as
iniciativas nacionais e interna-
cionais de governança corpo-
Christoph F. Siekermann

rativa.
O desafio do Secretário-Ge-
ral da ONU Ban Ki-moon à
economia global aplica-se
igualmente à governança cor-
A Deutsche Börse, em Frankfurt, Alemanha porativa: “A economia mun-
dial precisa de mais do que
Governança. Para acelerar a transformação uma solução rápida. Precisa de uma correção
das corporações, a governança corporativa, ou fundamental. Se aprendemos alguma coisa
seja, a estrutura de tomada de decisão e res- com a crise financeira, foi que devemos acabar
ponsabilidade de uma organização, deve mu- com esse comportamento antiético e irres-
dar o seu foco passando da prestação de con- ponsável e com a demanda tirânica por lucro
tas ao acionista para a prestação de contas a em curto prazo”.33
todas as partes interessadas. As estruturas e os Transformar empresas para que elas se ali-
processos de governança que operam com nhem com os princípios de modelo corporativo
uma visão mais ampla e integrada da natu- requer a transformação dos conselhos de ad-
reza, das fontes e da distribuição imparcial da ministração que são responsáveis pela prosperi-
riqueza criada pelas empresas são as mesmas dade de longo prazo das organizações. A ne-
estruturas e processos que melhor se alinham cessária mudança de valores exigirá tempo e

114 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL A Reinvenção das Corporações

vontade organizacional, reforma jurídica e re- vou, o estágio mais avançado de evolução da
gulatória, reorientação das normas e padrões de diretoria é quando as iniciativas de sustentabi-
governança globais e, talvez, pressão mais de- lidade não são apresentadas a um conselho de
terminada das demais partes envolvidas, cujos administração, elas emanam dele.34
interesses são sempre atendidos abaixo das ex-
pectativas pelas atuais estruturas de governança. O Caminho à Frente
As ações ilustrativas que contribuem para
esta transformação são:
• exigência de que todos os membros do con- Uma década atrás, Charles Handy, um dos
selho de administração, atuais e futuros, observadores contemporâneos mais incisivos
construam sua competência profissional da corporação moderna, fez a mais funda-
através da formação em gestão para susten- mental das perguntas: Qual a finalidade de
tabilidade; uma empresa? Sua resposta permanece rele-
• reconstituição dos conselhos de adminis- vante até hoje: “Transformar as necessidades
tração de modo a incluir executivos cuja dos acionistas em um objetivo é ser culpado de
formação e experiência reflitam todo o es- uma confusão lógica, é confundir uma condi-
pectro das principais partes interessadas da ção necessária com uma condição adequada.
organização; Precisamos comer para viver; comer é uma
• criação e financiamento independente de condição necessária à vida. Mas se vivêssemos
um Conselho de Futuros, órgão esse que basicamente para comer, fazendo da comida o
avalie, com independência, o desempenho propósito único ou suficiente para a vida, nós
da empresa e do conselho de administração nos tornaríamos brutos. O objetivo de uma
em termos de sustentabilidade com refe- empresa... não é gerar lucros. Ponto final. É
rência ao interesse de todos os legítimos in- gerar lucros de modo que as empresas possam
teressados, inclusive os das gerações futuras; fazer algo além disso ou melhor do que isso.
• exigência de que os diretores se compro- Esse ‘algo’ se torna a justificativa real para
metam com uma administração que con- uma empresa. Os empresários sabem disso.
temple a integração da sustentabilidade a Os investidores não precisam se preocupar”.35
todas as funções empresariais e o acompa- A questão do objeto social é central para a
nhamento e a avaliação regulares de tal in- multiplicidade de questões que definem os
tegração, e debates atuais sobre as relações entre socie-
• integração da remuneração dos executivos dade e empresas. Segundo Handy, o “algo”
ao desempenho de sustentabilidade da em- identificado aqui é o “interesse público”, que
presa. hoje se traduz em construir um mundo justo
Nenhuma ação única constitui uma pana- e sustentável. Desse objetivo flui o conjunto
ceia para a transformação da governança cor- de princípios para um modelo e, dos princí-
porativa. De fato, pode-se argumentar que a pios de um modelo, fluem as alavancas de
durabilidade e a eficácia de qualquer medida mudança que são essenciais para a criação de
devem ser precedidas de uma profunda refle- uma geração de empresas que incorporem a
xão por parte dos diretores quanto ao objetivo missão social em todos os aspectos de suas
da corporação, ao papel do conselho de ad- atividades.
ministração na realização de tal fim e ao signi- As sementes de tal transformação são dis-
ficado do dever de lealdade e dever de dili- cerníveis. O foco da Rio+20 é a Economia
gência no século 21. Como o Instituto Verde no contexto de desenvolvimento sus-
Brasileiro de Governança Corporativa obser- tentável e erradicação da pobreza, um dos

115
A Reinvenção das Corporações ESTADO DO MUNDO 2012

dois principais temas da conferência, mas é a uma abordagem diferente nos negócios – um
mais recente evidência dessa evolução. novo modelo liderado por uma geração de lí-
Um pequeno mas crescente número de em- deres com a mentalidade e a coragem para
presas transnacionais compreende a necessi- enfrentar os desafios [de sustentabilidade] do
dade imperativa e a oportunidade de renovar futuro”. Esse “modelo” deve ser enraizado
seus modelos de negócios para melhorar a na visão, nos princípios e nas alavancas de mu-
criação de valor de longo prazo e a competiti- dança, que são essenciais para a reorientação e
vidade. Seus líderes demonstram a disposição a reformulação das corporações.36
de abrir um novo capítulo nas relações entre À luz de todas essas tendências, o cenário de
empresa e sociedade, de reescrever o contrato 2015 descrito anteriormente não parece tão
improvável quanto poderia parecer à primeira
social, trazendo o setor empresarial para o
leitura. Os blocos para construir esse novo
contrato de maneira transparente, responsável
modelo, embora dispersos e imperfeitos,
e democrática para reforçar a barganha histó-
aguardam agentes de mudança corajosos e
rica entre cidadãos e seus governos. Paul Pol-
convincentes de dentro e de fora da comuni-
man, CEO da Unilever, transnacional de bens dade empresarial. Será que a história olhará a
de consumo, ao defender o Plano de Vida Rio+20 como um momento em que tais agen-
Sustentável da companhia, argumenta: “Mu- tes corajosamente deram um passo à frente
danças na política terão pouco significado se com vontade, paixão e determinação para se
não forem acompanhadas por mudanças de tornar a vanguarda da transformação do obje-
comportamento. É por isso que precisamos de tivo e do modelo das corporações?

116 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
CAPÍTULO 8

Uma Nova Arquitetura Global para


Governança da Sustentabilidade
Maria Ivanova

ções Unidas sobre Desenvolvimento Susten-

E
m junho de 1992, o Rio de Janeiro foi
palco da maior reunião intergoverna- tável, o modelo da arquitetura institucional
mental sobre meio ambiente já realizada para sustentabilidade é um dos principais itens
até aquela data. Ao todo, 172 governos – 108 da pauta. Discussões acadêmicas e políticas
dos quais foram representados pelo chefe de Es- convergiram para a necessidade de fortalecer o
tado ou de governo – reuniram-se na Cúpula da sistema de governança ambiental global.
Terra do Rio para discutir o futuro do nosso Governos que haviam se manifestado contra
planeta. Desde então, o mundo ficou mais glo- qualquer tipo de reforma, alegando ser muito
balizado, urbanizado e interconectado. Houve onerosa e desnecessária, agora pedem a refor-
uma mudança no equilíbrio geopolítico do po- mulação do sistema atual e o fortalecimento da
der, pois vários países passaram a fazer parte do arquitetura institucional. Outros renovaram
grupo de nações de renda média. Fluxos de seus apelos por uma melhora expressiva das
bens e serviços, capital e tecnologia, informação instituições ambientais.1
e trabalho estimularam a crescente população Surpreendentemente, as propostas para o
mundial. Os desafios sociais e ambientais tam- novo modelo institucional assemelham-se bas-
bém aumentaram na medida em que a degra- tante às ideias defendidas pelos arquitetos da
dação dos serviços ecossistêmicos – o “divi- governança ambiental global em 1972,
dendo” que a humanidade recebe do capital quando os governos criaram o primeiro órgão
natural – reduziu as oportunidades de desen- das Nações Unidas para tratar de assuntos am-
volvimento. As recentes crises financeira e de bientais – o Programa das Nações Unidas para
alimentação, aliadas às pressões das mudanças o Meio Ambiente (Pnuma). Essa nova insti-
climáticas, demonstram a natureza inerente- tuição foi encarregada de monitorar o meio
mente global dos problemas contemporâneos e ambiente global, oferecer opções de políticas,
a necessidade de soluções globais mais eficazes. catalisar conscientização e ações positivas am-
À medida que os governos se preparam bientais, coordenar atividades ambientais den-
para se reunir novamente no Rio de Janeiro, tro do sistema das Nações Unidas e desenvol-
em junho de 2012, para a Conferência das Na- ver as competências nacionais. O Pnuma foi

Maria Ivanova é professora-adjunta de Governança Global na Faculdade McCormack de Ciência


Política e Estudos Globais da Universidade de Massachusetts, Boston.

117
Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade ESTADO DO MUNDO 2012

concebido como um órgão ágil, rápido, adap- No entanto, o rápido surgimento de pro-
tável e eficaz que poderia aproveitar ao má- blemas, de prioridades e de novos atores torna
ximo os pontos fortes do restante do sistema as cúpulas mais importantes do que nunca.
das Nações Unidas para obter melhores resul- Elas representam grandes oportunidades para
tados nas questões ambientais. os Estados, a sociedade civil e o setor privado
Embora muita coisa tenha mudado nos últi- se reunirem e moldarem ideias e instituições
mos 40 anos, a essência do debate continua a por décadas. As principais reuniões da ONU
mesma: Qual é o modelo ideal para a arquite- sobre meio ambiente – a Conferência de Es-
tura internacional de sustentabilidade? Ne- tocolmo, em 1972; a Cúpula da Terra, ocor-
nhuma estrutura institucional, entretanto, pode rida do Rio de Janeiro, em 1992; e a Cúpula
garantir a solução eficaz dos problemas am- Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável,
bientais, sobretudo em nível mundial. É ne- realizada em Johanesburgo, em 2002 – for-
cessário empregar uma abordagem sistêmica neceram o maior estímulo e as melhores opor-
tunidades para o delineamento de um novo
para compreender e dar novo enfoque ao con-
modelo institucional.
junto de estruturas – uma abordagem que se
Em junho de 1972, na Conferência das Na-
concentre nas verdadeiras causas que estão por
ções Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,
trás dos problemas das instituições existentes e
os governos criaram o Pnuma. Vinte anos mais
também focalize instrumentos de transforma-
tarde, na Cúpula da Terra, os governos insti-
ção. Um exame criterioso da história recente tuíram a Comissão das Nações Unidas para
mostra que as melhores e mais audaciosas ideias Desenvolvimento Sustentável e adotaram con-
podem não ser novas, mas sim ideias que aca- venções sobre mudanças climáticas, biodiver-
baram surgindo no momento certo. sidade e desertificação. A cúpula também fo-
mentou o uso do novo Fundo Mundial para o
Cúpulas Ambientais: Plataformas Meio Ambiente como principal mecanismo
para Novos Modelos Arquitetônicos de financiamento de projetos ambientais.
Diversos princípios, inclusive participação pú-
blica e acesso à justiça, bem como responsabi-
Cúpulas ambientais são uma característica
lidades comuns, porém diferenciadas, também
indelével de políticas internacionais e oferecem
fizeram parte das diretrizes que nortearam o
oportunidades únicas de liderança e mudanças
comportamento do Estado em questões in-
sociais. As reuniões de cúpula têm desempe-
ternacionais relacionadas ao meio ambiente.
nhado um papel fundamental na governança A Cúpula de Johanesburgo, em 2002, incen-
ambiental global ao chamar a atenção do tivou uma discussão política sobre reforma,
mundo todo para o meio ambiente, moldando despertou apelos entusiasmados de líderes
as ideias e criando uma arquitetura institucional. mundiais, como o presidente francês Jacques
Os críticos das cúpulas, no entanto, alegam Chirac, pela criação de uma Organização
que essas grandes reuniões são irrelevantes, dis- Mundial do Meio Ambiente, mas no final não
pendiosas e até mesmo contraproducentes, pois foram obtidos resultados concretos para a ar-
reúnem e dão poder a Estados-nação – uma quitetura ambiental internacional.3
unidade de governança ultrapassada. Nos dias Na Conferência das Nações Unidas sobre
de hoje, a influência de atores não governa- Desenvolvimento Sustentável de 2012, que
mentais frequentemente é maior do que a de acontecerá no Rio de Janeiro, conhecida como
muitos Estados, e as decisões estatais muitas ve- Rio+20, a expectativa é de que sejam tomadas
zes são simbólicas.2 decisões relacionadas com governança sob a ru-

118 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade

brica de “quadro institucional para o desenvol- tas informais sobre governança ambiental in-
vimento sustentável”. Até mesmo a decisão de ternacional realizadas na Assembleia Geral das
não fazer nenhuma reforma terá consequências Nações Unidas de 2006 a 2008.5
duradouras e moldará as ações da comunidade Uma série de perguntas importantes moldou
global ao longo dos próximos dez a vinte anos. esse debate: Como é possível tornar mais eficaz
o trabalho sobre meio ambiente das instituições
Novo Modelo de Governança existentes? Como é possível melhorar a coor-
denação e aumentar a cooperação dentro do sis-
Ambiental Global tema das Nações Unidas para superar os pon-
tos fracos atuais e fazer com que a ONU possa
Atualmente, existem três principais opções responder de maneira mais eficiente aos desafios
de reformulação do modelo arquitetônico nas ambientais? Qual é o tipo mais simples, econô-
áreas de meio ambiente e desenvolvimento sus- mico, confiável e eficaz de estrutura organiza-
tentável. Na área ambiental, os governos estão cional? Em 2008, as missões das Nações Uni-
discutindo duas opções: fortalecer o Pnuma, ao das em Nova York não haviam chegado a um
mesmo tempo em que se preservaria seu atual consenso sobre as respostas a essas perguntas, e
status institucional de órgão subsidiário da As- o Conselho de Administração do Pnuma foi so-
sembleia Geral das Nações Unidas ou transfor- licitado a assumir o processo com o auxílio de
mar o Pnuma em um órgão especializado das ministérios do meio ambiente.6
Nações Unidas. Na área de desenvolvimento As perguntas que apresentavam tanta difi-
sustentável, os governos estão discutindo a pos- culdade para os governos no século 21 não
sibilidade de alçar a Comissão de Desenvolvi- eram novas. Na verdade, eles já tinham en-
mento Sustentável ao nível de Conselho de contrado as respostas quase 40 anos antes.
Desenvolvimento Sustentável. Este capítulo Em 1970, diante de uma série de problemas
trata das negociações para a arquitetura am- ambientais relativamente novos em escala glo-
biental, uma vez que esses debates vêm sendo bal, os Estados-membro das Nações Unidas
travados há mais de uma década e os governos iniciaram consultas sobre o modelo da arqui-
estão mais próximos de chegar a um consenso tetura ambiental internacional.
sobre essa questão. No entanto, as discussões As discussões estenderam-se por dois anos e
sobre desenvolvimento sustentável estão apenas foram norteadas pelo princípio “a forma segue
começando, e ainda não é possível avaliar as a função”. A resposta foi a criação do Pnuma,
principais opções e suas consequências.4 em dezembro de 1972, como um órgão subsi-
As últimas negociações intergovernamentais diário da Assembleia Geral das Nações Unidas.7
sobre reforma na governança ambiental, co- O Pnuma foi criado com um secretário,
nhecidas como Processo de Belgrado, inicia- um diretor-executivo e um Conselho de
ram-se na vigésima quinta sessão do Conselho Administração composto por 58 membros
de Administração do Pnuma, realizada em fe- para promover a cooperação internacional,
vereiro de 2009, e terminaram com a elabora- oferecer orientação sobre políticas ambien-
ção do Documento Final de Nairóbi-Helsin- tais dentro do sistema da ONU e recomendar
que, em 2010. (Ver Quadro 8-1) O Processo ações para governos e órgãos internacionais.
de Belgrado reuniu um grupo de ministros e re- Os governos também criaram um Fundo para
presentantes de alto nível para criar alternativas o Meio Ambiente com o intuito de financiar
de reformas incrementais e mais amplas, com o o monitoramento, a pesquisa e a assistência
intuito de fornecer subsídios para a conferência técnica, além de um Conselho de Coordena-
Rio+20. O processo tirou proveito das consul- ção Ambiental para coordenar a troca de in-

119
Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 8-1. Resultados de Nairóbi-Helsinque

Respostas funcionais sugeridas no documento • Desenvolver uma estrutura de capacitação


final de Nairóbi-Helsinque produzido pelo em meio ambiente no âmbito de todo o
Grupo Consultivo de Ministros ou sistema para garantir uma abordagem
Representantes de Alto Nível: sensível e coesa que atenda às necessidades
• Fortalecer a interface entre ciência e política dos países, levando em consideração o Plano
com participação plena e significativa dos Estratégico de Bali para Apoio Tecnológico e
países em desenvolvimento; atender às Capacitação.
necessidades de capacitação em ciência e • Continuar a fortalecer a participação
política de países em desenvolvimento e países estratégica em nível regional, fazendo com
com economia em transição; e basear-se em que os escritórios regionais do Pnuma sejam
avaliações, grupos científicos e redes de
mais sensíveis às necessidades ambientais
informações existentes sobre meio ambiente.
do país.
• Elaborar uma estratégia para o meio
ambiente no âmbito de todo o sistema das Opções da forma institucional sugerida no
Nações Unidas com o intuito de aumentar a documento final de Nairóbi-Helsinque:
eficácia, a eficiência e a coerência desse • Fortalecer o Pnuma.
sistema e, dessa forma, contribuir para o • Criar uma nova organização abrangente para
fortalecimento do pilar ambiental do o desenvolvimento sustentável.
desenvolvimento sustentável.
• Criar um órgão especializado para atuar como
• Estimular sinergias entre acordos ambientais uma organização mundial do meio ambiente.
multilaterais compatíveis e identificar os
elementos norteadores dessas sinergias, • Reformar o Conselho Econômico e Social e a
respeitando, ao mesmo tempo, a autonomia Comissão de Desenvolvimento
das conferências das partes. Sustentável das Nações Unidas.
• Criar vínculos mais fortes entre formulação • Aperfeiçoar as reformas institucionais e
de políticas ambientais globais e aumentar a eficiência das estruturas
financiamento voltado para a ampliação e o
existentes.
aprofundamento da base de recursos
financeiros para o meio ambiente. Fonte: Veja nota 5 no final.

formações no sistema da ONU, reunir dados foi preciso um grande empenho por parte da li-
de diferentes redes setoriais e regionais e ofe- derança e do Secretariado da Conferência de
recer uma perspectiva coerente sobre proble- Estocolmo para engajar os países em desenvol-
mas ambientais importantes.8 vimento de maneira construtiva.
A criação do Pnuma foi precedida de um Embora nenhuma organização internacional
produtivo debate intelectual e político. O de- tivesse um mandato ambiental explícito, a pai-
bate ocorreu em um ambiente altamente poli- sagem institucional não estava vazia. Durante
tizado, uma vez que a Guerra Fria estava no décadas, as Nações Unidas e seus membros des-
auge, e muitos países em desenvolvimento, que tinaram recursos à proteção ambiental e à pes-
fazia bem pouco tempo haviam conquistado quisa, mas de uma forma truncada que não
sua independência, queriam ocupar o lugar a coordenava as atividades entre elas nem com os
que tinham direito na mesa de negociações in- parceiros nacionais. Ficou claro, portanto, que
ternacionais. No contexto do pós-colonialismo, comunicação, coordenação e colaboração eram
havia um embate entre meio ambiente e de- de suma importância. Os governos admitiam
senvolvimento. No início da década de 1970, que as atividades ambientais isoladas no sistema

120 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade

deveriam ser reunidas em uma estrutura co- os órgãos especializados autônomos haviam
mum do programa ambiental das Nações Uni- impedido uma ação coletiva eficaz.10
das, mas executadas por todos os órgãos perti- Surgiram propostas para se criar uma orga-
nentes. Um novo órgão teria uma visão geral de nização ambiental fora das Nações Unidas, res-
todos os problemas e de todas as atividades das tringir a filiação aos países industrializados res-
Nações Unidas e poderia tornar essa organiza- ponsáveis pelos problemas de poluição e dotá-la
ção, como um todo, mais ambientalmente res- de poder real de fiscalização. Os analistas acha-
ponsável e construtiva.9 vam que os governos não estavam prontos para
Superando diferenças ideológicas e políticas, ceder o poder de formular políticas ambientais
os 113 governos que participaram da Confe- a um órgão supranacional onipotente, mas re-
rência de Estocolmo concordaram em criar o conheciam a necessidade de cooperação. A
Pnuma. Grande parte do fundamento lógico e Organização das Nações Unidas era o único fó-
do modelo desse novo órgão tem um valor rum viável para cooperação internacional e a fi-
significativo, tanto como fatores explicativos liação a ela era praticamente universal, o que
quanto como plano estratégico de longo al- conferia legitimidade a qualquer ação ambien-
cance, que vá além da Rio+20. Naquela época, tal, tanto nos países industrializados como nos
assim como agora, os governos discutiram as países em desenvolvimento.11
funções, a forma e o financiamento da insti- Os órgãos especializados da ONU já esta-
tuição. Suas soluções foram bem ponderadas, vam engajados no trabalho ambiental em di-
justificadas e visionárias. versos aspectos específicos e poderiam adotar
uma perspectiva comum sobre a situação am-
biental global. Além disso, os proponentes de
Opções Institucionais do
um órgão ambiental das Nações Unidas, como
Sistema das Nações Unidas Richard Gardner, afirmavam que “numa época
em que as Nações Unidas estão passando por
As discussões sobre o futuro órgão am- uma grave crise de confiança, o sucesso na
biental concentraram-se, antes de mais nada, área ambiental poderia angariar mais apoio
na questão se ele deveria pertencer ou não ao público para a organização”.12
sistema das Nações Unidas. Importantes pen- Em seguida, os governos tiveram de decidir
sadores, como George Kennan, alegaram que sobre a forma institucional desse órgão. Há
a necessidade premente de adotar medidas poucas opções para a criação de uma nova or-
para solucionar os problemas ambientais tor- ganização internacional no âmbito do sistema
nava imperativo que quaisquer arranjos orga- das Nações Unidas. As principais são: um ór-
nizacionais ficassem de fora das Nações Uni- gão especializado autônomo, um órgão subsi-
das. Com mais de 130 Estados-membro diário dentro da Assembleia Geral (e do Con-
“bastante divididos por antagonismos nacio- selho Econômico e Social) das Nações Unidas
nais, raciais e ideológicos e diferindo sobre- e uma unidade dentro do Secretariado das
maneira em sua percepção dos problemas am- Nações Unidas.13
bientais e na capacidade de contribuir para a Órgãos subsidiários são entidades criadas
sua solução”, segundo Richard Gardner, con- nos termos do Artigo 22 da Carta das Nações
sultor do Secretariado da Conferência de Es- Unidas para solucionar problemas e questões
tocolmo, a Organização das Nações Unidas es- emergentes nas áreas socioeconômica e hu-
tava praticamente incapacitada. Além disso, manitária internacionais. Esses órgãos podem
sua situação financeira era precária, a qualidade ter várias designações formais – programas,
do seu quadro de funcionários era irregular e fundos, conselhos, comitês ou comissões – e

121
Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade ESTADO DO MUNDO 2012

estruturas de governança diferentes. A filiação anos depois, estão discutindo mais uma vez
a esses órgãos quase sempre tem representação duas delas: transformar o Pnuma em órgão es-
geográfica, e as contribuições financeiras são pecializado ou mantê-lo como órgão subsi-
voluntárias. Parte de seus recursos, no en- diário, porém defendendo outros tipos de mu-
tanto, é proveniente do orçamento regular danças, como ampliar a base de financiamento,
das Nações Unidas, e eles se beneficiam dos adotar filiação internacional e criar um Con-
serviços administrativos da própria ONU. Os selho Executivo. Antes de analisar a mudança
órgãos subsidiários trabalham diretamente da forma institucional do Pnuma, é importante
com as Nações Unidas, o que também lhes examinar por que ele não foi criado como ór-
confere autoridade para exercer um papel de li- gão especializado.
derança e coordenação dentro do sistema.14 Por que o Pnuma não é um Órgão Espe-
Os órgãos especializados das Nações Unidas, cializado. Quando governos e especialistas
em contrapartida, são organizações autônomas projetaram a arquitetura institucional original
estabelecidas de forma independente e vincula- há quarenta anos, eles analisaram cuidadosa-
das às Nações Unidas por meio de acordos es- mente a opção de criar um órgão especializado
peciais. Os governos criam órgãos especializa- para o meio ambiente. Por diversas razões,
dos por meio de tratados. A filiação a esses consideraram inadequado o status de órgão es-
órgãos é universal – ou seja, qualquer país pode pecializado para as funções idealizadas.
tornar-se membro desde que ratifique o tratado Em primeiro lugar, um órgão especializado
constitutivo. O orçamento desses órgãos inclui precisaria assumir uma grande gama de fun-
contribuições financeiras obrigatórias dos Esta- ções que já estavam a cargo de outros órgãos.
dos-membro, que são fixadas de acordo com Seria difícil definir e executar essa transferên-
uma escala de avaliação, e eles não recebem cia de funções. Na questão das substâncias
nenhuma verba do orçamento regular das Na- químicas, por exemplo, a Organização Mun-
ções Unidas. A maioria dos órgãos especializa- dial da Saúde (OMS) trata da maneira como
dos foi criada nos primeiros anos após a Se- estas afetam a saúde do ser humano, a Orga-
gunda Guerra Mundial para tratar de questões nização Internacional do Trabalho (OIT)
distintas, como alimentação e agricultura, cuida da proteção dos direitos dos trabalha-
saúde, aviação civil e telecomunicações.15 dores que interagem com substâncias quími-
A terceira opção é criar unidades no âmbito cas, a Organização Marítima Internacional
do Secretariado das Nações Unidas que te- (OMI) trabalha no sentido de evitar que resí-
nham responsabilidades distintas em uma área duos químicos contaminem os oceanos e o
ou funções abrangentes de coordenação. Por Instituto das Nações Unidas para Treina-
exemplo, o Escritório das Nações Unidas para mento e Pesquisa (Unitar) oferece treina-
Coordenação de Assuntos Humanitários mento para países em desenvolvimento na re-
(OCHA) é a unidade do Secretariado das Na- dução do uso de poluentes orgânicos
ções Unidas responsável por reunir atores hu- persistentes. Nenhuma dessas funções pode-
manitários com o intuito de assegurar uma ria ou deveria ser retirada das organizações
resposta coerente a situações de emergência. existentes. Seria difícil, portanto, definir o
O OCHA também cria uma estrutura abran- raio de ação de um novo órgão especializado
gente de resposta que possibilita contribui- sem um mandato abrangente.
ções coordenadas de cada ator. Em segundo lugar, um novo órgão especia-
Em 1972, os governos analisaram todas as lizado para cuidar das questões do meio am-
três opções como possíveis modelos para a biente seria apenas mais uma de muitas organi-
nova entidade do meio ambiente e, quarenta zações existentes com atividades na mesma

122 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade

esfera. Colocado no mesmo patamar


de organizações com tradições mais
antigas e relações bem estabelecidas
com burocracias nacionais e interna-
cionais, o novo órgão teria dificul-
dade para exercer suas funções cata-
lisadoras e coordenadoras. Como
ressaltou David Wightman, consultor
do Secretariado da Conferência de

Satishkumar Belliethathan
Estocolmo, “em pouco tempo o ór-
gão se envolveria em conflitos de ju-
risdição que só poderiam ser resolvi-
dos em um nível mais elevado [e]
simplesmente se somariam a todas as
atuais dificuldades jurisdicionais de Em 2009, cinco diretores-executivos do Pnuma: Achim Steiner,
fazer com que o sistema das Nações Maurice Strong, Mostafa Tolba, Elizabeth Dowdeswell e Klaus Töpfer
Unidas funcione como um sistema
na verdadeira acepção da palavra”.16
Em terceiro lugar, os órgãos das Nações unidade seria dirigida por um executivo espe-
Unidas não eram vistos como órgãos interna- cializado em questões ambientais. Esse proe-
cionais de grande eficiência. Os governos os minente executivo supervisionaria os desem-
consideravam desnecessariamente hierárqui- bolsos de um fundo especial criado para apoiar
cos, burocráticos e pesados. O fato de que ór- as atividades realizadas por outras organizações
gãos especializados só poderiam ser constituí- e estimular a colaboração com o sistema das
dos por um processo de tratado plurianual Nações Unidas. Maurice Strong, Secretário-
também era desanimador. Por fim, como ob- Geral da Conferência de Estocolmo de 1972,
servou o representante de um governo que fez expressou claramente sua opinião sobre a nova
parte do terceiro Comitê Preparatório para a entidade do meio ambiente em uma palestra
Conferência de Estocolmo, parecia “necessá- proferida em 1971. (Ver Quadro 8–2.) Em de-
rio evitar a imposição de estruturas institucio- zembro de 1972, ele se tornou o primeiro di-
nais rígidas que ficariam obsoletas depois de al- retor-executivo do Pnuma.18
guns anos devido aos rápidos avanços No final, os governos decidiram criar uma
científicos e tecnológicos”. Os planejadores, nova entidade ambiental como órgão subsi-
em outras palavras, temiam relegar todo o diário da Assembleia Geral das Nações Unidas,
conceito integrativo do “meio ambiente” a com base na seguinte justificativa. Em pri-
um órgão que poderia ficar isolado, margina- meiro lugar, havia precedentes recentes da
lizado e incapaz de exercer um papel catalisa- criação de órgãos subsidiários da Assembleia
dor e coordenador.17 Geral com status autônomo, inclusive a Con-
Como a função de coordenação era impor- ferência das Nações Unidas sobre Comércio e
tantíssima, as propostas para o novo órgão do Desenvolvimento, em 1964; o Programa das
meio ambiente abrangiam um modelo de uni- Nações Unidas para o Desenvolvimento
dade “que ocupasse o nível mais elevado pos- (Pnud), em 1965; e a Organização das Nações
sível na estrutura administrativa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial
Unidas, ou seja, no Escritório do Secretário- (Onudi), em 1966. De maneira semelhante a
Geral”, como sugeriram os Estados Unidos. A esses órgãos da ONU, a nova entidade am-

123
Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 8-2. Concepção Original de Maurice Strong para o Pnuma

O que é preciso para melhorar o meio científicos e profissionais do mundo para


ambiente global não é a criação de um órgão avaliar dados fornecidos por meio de redes de
especializado, mas de um mecanismo de monitoramento operadas por outros órgãos,
avaliação e revisão de políticas, que pode nacionais e internacionais.
tornar-se o centro ou cérebro institucional da Para ser um instrumento eficaz na
rede ambiental. Esse mecanismo pode ser coordenação e racionalização das atividades
encarregado de (a) fazer uma revisão global ambientais em todo o sistema internacional,
das tendências, políticas e ações ambientais; esse órgão não desempenharia funções
(b) determinar questões importantes que operacionais nas quais competiria com as
deveriam ser levadas à atenção dos governos organizações às quais deve influenciar. No
e delinear opções de políticas; e (c) identificar entanto, deveria ter influência suficiente
e preencher lacunas no conhecimento e sobre as atividades ambientais dos órgãos.
desempenho de organizações que estão Essa função seria fortalecida se fosse aliada a
colocando em prática as medidas um fundo ambiental mundial que permitisse
internacionais acordadas em relação a o financiamento central de pelo menos
controle ambiental. alguns aspectos das atividades ambientais
Esse órgão teria de ser suficientemente internacionais, como pesquisas e apoio
competente, tanto em temos técnicos quanto técnico.
políticos, para desfrutar de um alto grau de
—Maurice Strong, 1971
credibilidade e influência nos governos e em
outras organizações no sistema internacional. Fonte: Ver nota 18 no final.
Ele teria de ter acesso aos melhores recursos

biental responderia diretamente à Assembleia significativa e decisiva”. Do ponto de vista ope-


Geral, mas teria seu próprio Conselho de racional, afirmou ele, evitaria “o processo re-
Administração, tomaria iniciativas e promove- petitivo de prestar contas a alguns órgãos de ní-
ria ações independentes e – ao contrário de um vel mais elevado da estrutura descentralizada do
órgão especializado – obteria parte de seus re- sistema das Nações Unidas”.19
cursos do orçamento regular da Organização No entanto, a associação com a Assembleia
das Nações Unidas. Geral da ONU tinha suas desvantagens. A
Em segundo lugar, o status de órgão subsi- pauta já estava lotada, e outro órgão subsidiá-
diário era considerado vantajoso, pois permiti- rio provavelmente não receberia a devida aten-
ria que essa nova entidade trabalhasse dentro do ção. Além disso, corria o risco de ficar ex-
sistema da ONU e tivesse acesso direto ao mais posto a preocupações políticas.
importante e quase universal organismo polí- Os fundadores do Pnuma reconheciam que
tico. Como o objetivo específico era reunir os os problemas ambientais não estavam dentro
diferentes elementos do trabalho ambiental no das fronteiras tradicionais do Estado-nação
sistema da ONU e fornecer um centro de gra- nem da especialidade de nenhuma organização
vidade para questões ambientais, a associação existente e ressaltaram que as principais fun-
direta com a Assembleia Geral era considerada ções da nova entidade seriam catalisar coope-
uma vantagem substancial tanto em termos po- ração, estimular sinergia entre os órgãos exis-
líticos como operacionais. Politicamente, es- tentes e reunir o sistema em um todo maior
creveu David Wightman, “garantiria que as que a soma de suas partes. Eles esperavam
questões ambientais recebessem atenção política que o novo órgão adquirisse autoridade para

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exercer um papel de liderança no sistema das de Programa das Nações Unidas para Tudo e
Nações Unidas. No final, os arquitetos da dé- consideravam qualquer sugestão desse órgão
cada de 1970 projetaram o Pnuma para ser um como provável ataque às suas realizações e à
catalisador, ou, nas palavras de Gordon Har- sua competência”, como observou Harrison.
rison da Fundação Ford: “uma pitada de prata Aos poucos, entretanto, as relações com os ór-
para energizar reações poderosas.”20 gãos especializados adquiriram caráter mais
colaborativo, mas que foi prejudicado por falta
Reações Ambientais em Cadeia de contato e comunicação regulares com a
sede do Pnuma em Nairóbi.
no Sistema da ONU: Autoridade, Com o tempo, as atividades ambientais den-
Recursos e Conectividade tro e fora do sistema das Nações Unidas flo-
resceram. À medida que vários países começa-
As poderosas reações que os arquitetos ori- ram a criar ministérios do meio ambiente, os
ginais imaginaram no sistema das Nações Uni- órgãos existentes – intergovernamentais e não
das não ocorreram. Autoridade, recursos e co- governamentais – passaram a acrescentar ati-
nectividade insuficientes impediram a força e a vidades ambientais a seus programas de traba-
velocidade das reações em cadeia que o Pnuma lho. E, quando novas questões ambientais ga-
deveria gerar. nhavam impulso político, o Pnuma muitas
Autoridade. Autoridade emana do poder vezes facilitava a criação de novos mecanismos
conferido pelo Estado ou de especialidade em institucionais – acordos multilaterais sobre
uma área. Uma instituição eficiente, por conse- ozônio, biodiversidade, substâncias químicas,
guinte, tanto “estaria investida de” autoridade – desertificação, mudanças climáticas etc. Mas
teria mandato legal em determinada área – como sem um centro de gravidade visível e respei-
“seria uma” autoridade, com profundo domínio tado no sistema internacional, essa proliferação
dessa área. Embora o Pnuma tivesse um man- de tratados e acordos confundiu e sobrecarre-
dato coordenador formal, os órgãos especiali- gou as administrações nacionais.
zados – muito mais amplos em termos de nú- Mesmo quando as atividades ambientais são
mero de funcionários, recursos e infraestrutura lastreadas por recursos financeiros, uma profu-
– questionavam sua especialidade e sua capaci- são de atores compromete a eficácia. Por exem-
dade de servir como órgão coordenador e cen- plo, segundo estimativas da Organização para
tro de uma rede ambiental global.21 Cooperação e Desenvolvimento Econômico
As relações formais entre o Pnuma e os ór- (OCDE), nos 153 países que recebem assis-
gãos especializados desenvolveram-se a pas- tência oficial ao desenvolvimento, existem
sos lentos, pois na década de 1970 os órgãos 1.571 parceiros doadores/recebedores envol-
protegiam muito bem seu território e viam o vidos no financiamento ambiental. Todos eles
novo programa com desconfiança. A Unesco, precisam ser mantidos por meio de diálogo,
por exemplo, achava que “já usava calças com- planejamento, coordenação, responsabilização
pridas nas questões ecológicas quando o e comunicação de políticas. Os vários atores,
Pnuma nasceu e não precisava de ajuda ideo- fundos e iniciativas concorrentes muitas vezes
lógica”, como disse Gordon Harrison. A minam a eficácia do financiamento ambiental e
Agência Internacional de Energia Atômica restringem a obtenção de resultados.23
(AIEA) resistia vigorosamente a qualquer ten- Recursos. O caráter voluntário dos recursos
tativa do Pnuma de fazer análises ambientais financeiros do Pnuma tem sido alvo de muitas
de energia nuclear sob auspícios neutros. Na críticas. Intelectuais e gestores de políticas ar-
OMS, “os funcionários apelidaram o Pnuma gumentam que as contribuições financeiras

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Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade ESTADO DO MUNDO 2012

voluntárias são responsáveis pelo pequeno or- nanceiros mostram, entretanto, é que a autori-
çamento do Pnuma. Órgãos especializados, dade e a influência da instituição não dependem
cujo orçamento inclui contribuições obriga- apenas dos seus recursos. A OMC, um exemplo
tórias, afirma Frank Biermann da Universi- muitas vezes citado de órgão que tem influên-
dade Livre de Amsterdã, “podem ter mais re- cia significativa em todo o mundo, opera com
cursos e, portanto, mais influência”.24 um orçamento no extremo inferior do espectro.
Comparado com a maior parte dos outros Capacidade de gerar interesse e comprometi-
órgãos, o orçamento anual do Pnuma – mento para uma área de trabalho e, portanto,
US$217 milhões – realmente é pequeno, so- assegurar os recursos financeiros necessários é
bretudo tendo em vista sua ambiciosa missão um atributo fundamental de qualquer entidade
de “exercer liderança e estimular parcerias no das Nações Unidas.
cuidado com o meio ambiente”. No entanto, Conectividade. Toda instituição tem de ser
só a natureza voluntária das contribuições não capaz de se conectar em momentos oportunos
explica o baixo volume de recursos. Os quatro a diferentes entidades e atores por vários
maiores orçamentos anuais no sistema da meios. O mandato explícito do Pnuma de ca-
ONU para 2010, acima de US$3 bilhões, são talisar ação ambiental no sistema das Nações
os dos órgãos subsidiários que contam apenas Unidas, bem como de analisar e coordenar as
com contribuição voluntária – o Pnud, o Pro- atividades ambientais dos órgãos da ONU,
grama Mundial de Alimentos (PMA), a Unicef exige interações contínuas e colaborativas com
e o Alto Comissariado das Nações Unidas para essas entidades. Nas décadas de 1970 e 1980,
os Refugiados (Acnur). (Ver Figura 8-1.) Até simplesmente não existiam as modernas tec-
mesmo órgãos especializados, cujo orçamento nologias de informação e comunicação que
básico é proveniente de contribuições obriga- possibilitassem interações como as de hoje.
tórias, dependem bastante de contribuições Além disso, sendo a sede do Pnuma em Nai-
voluntárias. Mais de 50% do orçamento da Or- róbi, a localização geográfica o afastava de ou-
ganização Mundial de Saúde (OMS), da Or- tros centros da ONU. A falta de opções de
ganização das Nações Unidas para Agricultura transporte rápido e acessível e de um sistema
e Alimentação (FAO) e da Unesco é prove- eficaz de telecomunicações comprometeu a
niente de contribuições voluntárias.25 capacidade de comunicação e coordenação do
Uma mudança na forma institucional para Pnuma e isolou o órgão de suas bases. Sem um
órgão especializado, portanto, talvez não fosse contato constante e próximo com o Pnuma e
o fator isolado mais importante para aumentar sob pressão cada vez maior para incorporar
os recursos financeiros do Pnuma. Outras ca- questões ambientais ao seu trabalho, os órgãos
racterísticas, como mandato, tamanho e locali- da ONU começaram a desenvolver seus pró-
zação do órgão são fatores determinantes na es- prios programas ambientais independentes.26
cala de financiamento. Instituições com A localização em Nairóbi teve um profundo
mandatos operacionais claros (Pnud, Programa impacto no Pnuma como organização. Ge-
Mundial de Alimentos, Unicef e Acnur) têm or- nuinamente empenhados em solucionar os
çamentos significativamente mais altos que os problemas ambientais, os funcionários do
das instituições com mandatos normativos (Es- Pnuma testemunharam as pressões e os im-
critório para a Coordenação de Assuntos Hu- pactos da degradação ambiental nos países em
manitários, Organização Mundial do Comércio desenvolvimento. Não admira, portanto, que
[OMC] e Pnuma). Quadro de funcionários houvesse certa pressão por maior engajamento
maior e escritórios em diversos locais também local, com iniciativas e projetos concretos do
requerem mais recursos. O que os dados fi- corpo de funcionários – embora isso fosse con-

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade

tra o mandato normativo cen- Figura 8-1. Orçamentos Anuais de Algumas Instituições
tral da organização. Além do Internacionais para 2010
mais, a localização em Nairóbi
aumenta a visibilidade do
Pnuma no mundo em desen- Pnud
volvimento, e é natural que PMA
esses países exijam maior en- Unicef
gajamento local e apoio à im- Acnur
plementação de programas OMS
ambientais. Essa pressão por FAO
participação em um maior nú- Unesco
mero de atividades operacio- UNFPA
Contribuições obrigatórias
nais – tanto por parte dos fun- OIT
Contribuições voluntárias
cionários como de alguns OCHA
Outras fontes menores
Estados-membro – representa OMC
um desafio à identidade do Pnuma
Pnuma como órgão apenas Onudi
Fonte: Ivanova
normativo da ONU. OMM
O Pnuma certamente reco-
nhece que sua missão é servir
como voz do meio ambiente
dentro do sistema das Nações
Unidas, ser um defensor, educador, catalisador propagadas em tempo real, 140 caracteres por
e facilitador. Uma conectividade confiável, vez, o que conta é a agilidade e o dinamismo
portanto, é fundamental para a capacidade do na mídia”. Maior presença na mídia também
Pnuma de envolver pessoas em todo o mundo. confere maior autoridade e poderia facilitar o
A presença do Pnuma nos meios de comuni- papel catalisador e coordenador de um sis-
cação – impressos, eletrônicos e sociais – é pe- tema com múltiplos atores.27
quena. O órgão costuma sair no noticiário
quando emite relatórios. Embora isso ilustre
Ideias Alternativas:
um dos pontos fortes da organização, ou seja,
a capacidade de definir a agenda ambiental
Governança Compartilhada,
por meio de pesquisas e relatórios, demonstra Responsabilidade Centralizada
também que o Pnuma tem poucas ligações di-
retas com a mídia. Os especialistas do Pnuma Problemas ambientais estão sempre sur-
não marcam forte presença nas discussões pú- gindo e exigindo diferentes aptidões. Além
blicas na mídia e, portanto, não estão mol- disso, quase sempre são subproduto ou con-
dando a opinião pública por meio de citações sequência de atividades humanas, o que torna
em jornais, entrevistas e artigos de opinião. praticamente impossível tratar a agenda am-
Talvez a pressuposição seja de que o trabalho biental de forma separada. Sendo assim, é pro-
do Pnuma fale por si só e de que será ouvido vável que nenhum modelo institucional for-
quando e onde for necessário. Porém, como neça a arquitetura ambiental definitiva. Uma
diz Khatchig Mouradian da Universidade de abordagem de governança compartilhada em
Massachusetts, Boston, em um mundo “em que a autoridade é delegada para a entidade
que as notícias e até mesmo as revoluções são mais apropriada poderia garantir que proble-

127
Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade ESTADO DO MUNDO 2012

mas complexos recebessem a devida atenção e princípio simples: tudo o que os seres huma-
tratamento multifacetado. Além disso, uma nos precisam para a sua sobrevivência e bem-
divisão de trabalho precisa ser complemen- estar depende, direta ou indiretamente, do
tada por uma nítida linha de responsabilidade ambiente natural. A paisagem institucional da
e por um executivo forte de alto nível que se- sustentabilidade é ainda mais diversa do que a
ria o responsável pelos resultados, ou falta de- do meio ambiente, e uma reforma da estrutura
les, e teria o poder de mudar o curso da ação. institucional poderia ser complexa e compli-
Os fundadores do Pnuma documentaram cada. A ideia e o modelo originais do Pnuma,
com clareza o modo como compreendiam os entretanto, poderiam servir de projeto para o
problemas ambientais globais e como achavam processo atual de reforma institucional do
que o sistema das Nações Unidas poderia so- meio ambiente e da sustentabilidade.
lucioná-los. Na concepção deles, o novo órgão Na área ambiental, a opção mais ambiciosa,
da ONU deveria ser pequeno, ter alta visibili- porém viável, de reforma seria dar poder ao
dade e estar profundamente integrado com o Pnuma para cumprir seu mandato visionário e
restante do sistema das Nações Unidas. Espe- cuidadosamente planejado. Uma maneira de
rava-se que servisse como um “centro” ou fazer isso seria aumentando sua autoridade e
“cérebro” institucional no sistema ambiental sua conectividade e ampliando sua base finan-
internacional e que atuasse como um meca- ceira. Algumas das ações poderiam ser inicia-
nismo de avaliação e revisão de políticas. O das dentro do Pnuma, enquanto outras re-
Pnuma deveria reunir, avaliar e emitir dados querem decisões governamentais. (Ver
precisos e atualizados sobre tendências am- Quadros 8-3 e 8-4)30
bientais, bem como sobre o desempenho de Na área de sustentabilidade, o sistema das
Estados e organizações internacionais na defi- Nações Unidas se beneficiaria de um Alto Co-
nição e no cumprimento de metas para as missariado para Sustentabilidade dentro do Es-
questões ambientais.28 critório do seu Secretário-Geral, com base na
Além do mais, o Pnuma representava uma ideia original de um executivo forte para ques-
tentativa de institucionalizar o conceito inte- tões ambientais com amplas atribuições no
grativo de “meio ambiente” em todos os ór- centro do sistema das Nações Unidas. O Alto
gãos das Nações Unidas. Seus idealizadores Comissariado desempenharia três funções. Em
conheciam as atividades dos órgãos existentes primeiro lugar, ajudaria a projetar, implemen-
e se empenharam em fazer uma coordenação tar e manter uma estrutura colaborativa, per-
entre eles, em vez de desencadear competições mitindo que as organizações trabalhassem de
acerca de jurisdição, autoridade e financia- forma pró-ativa para solucionar os problemas
mento. Em essência, observou Peter Stone, ambientais e socioeconômicos atuais e os emer-
consultor de comunicações de Maurice gentes. Em segundo lugar, daria ímpeto ao
Strong, o Pnuma foi projetado como um “ins- sistema das Nações Unidas para que este ofe-
trumento viril e flexível que não apenas tenta- recesse as condições necessárias ao atingimento
ria salvar o mundo como também revitalizar a de metas internacionais para o meio ambiente
Organização das Nações Unidas”.29 e o desenvolvimento sustentável. Em terceiro
Hoje em dia, o conceito integrativo que os lugar, garantiria que as pessoas se alinhassem
governos buscam institucionalizar dentro do com o discurso de sustentabilidade e tivessem
sistema da ONU é o de desenvolvimento sus- participação ativa na identificação e na resolu-
tentável ou sustentabilidade. Sustentabilidade ção de problemas mais prioritários.
abrange problemas ambientais e socioeconô- A criação de um Alto Comissariado para
micos, mas baseia-se acima de tudo em um Sustentabilidade daria mais autoridade ao

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade

Pnuma, pois enfatizaria claramente a impor- de assistência social. Esse escritório poderia
tância dos problemas ambientais como base do ser criado mediante uma resolução da Assem-
desenvolvimento sustentável. Além disso, for- bleia Geral, e não de um tratado intergover-
neceria recomendações e escritórios ao sis- namental. Ele geraria sinergia entre os três pi-
tema das Nações Unidas para a resolução de lares do desenvolvimento sustentável, em vez
controvérsias, estabeleceria um sistema de mo- de compartimentalizar os problemas globais, e
nitoramento intersetorial global, divulgaria in- teria um nível de autoridade sem paralelo no
formações sobre sustentabilidade e meio am- sistema das Nações Unidas.
biente e promoveria a conscientização pública.
O Escritório do Alto Comissariado estabele-
ceria e facilitaria a criação de canais diretos de Conclusão
comunicação entre as partes interessadas, re-
duzindo a fragmentação entre organizações, É inegável a necessidade de uma autoridade
instituições e nações. Ele teria autoridade para forte, legítima e digna de crédito para o meio
dar mais coerência ao sistema das Nações Uni- ambiente, mas o elo entre a criação de um ór-
das por meio de programas e orçamentos con- gão especializado e tal autoridade ainda não está
juntos, definição coordenada de prioridades, claro. Apesar das mudanças significativas na
pesquisa compartilhada e trabalhos conjuntos complexidade da situação ambiental e política

Quadro 8-3. Ações Internas do Pnuma para Aumentar sua Autoridade,


seus Recursos Financeiros e sua Conectividade

Foco nos funcionários e na cultura. A maneira Academia Nacional de Ciências de muitos


mais direta de o Pnuma adquirir maior países. A vantagem desse modelo é que os
autoridade na área ambiental seria reter e conhecimentos, a capacidade e a autoridade
recrutar especialistas de primeira linha em da comunidade científica mundial seriam
todas as suas divisões e dar-lhes poder para aproveitados, e os acadêmicos e jovens
falar, escrever e agir em nome da organização. seriam estimulados a se engajar nas Nações
Um movimento claro e persistente voltado Unidas. O Corpo Consultivo deveria ser
para uma cultura de disciplina e totalmente interdisciplinar e ter um pequeno
responsabilidade provavelmente produziria número de funcionários nos setores de
trabalhos de alta qualidade e estimularia pesquisa e administração. As possíveis
confiança na competência do Pnuma. funções desse Corpo Consultivo seriam: fazer
Criação e uso de um órgão de consultoria avaliações ambientais sistemáticas, identificar
científica. A autoridade do Pnuma emana áreas prioritárias para pesquisa e ação, criar e
também da sua associação com pesquisas da manter uma rede entre as comunidades
melhor qualidade fora da sua esfera de ação científicas dos países e aumentar a
direta. Para identificar problemas ambientais capacidade científica nacional em todo o
e desenvolver as opções necessárias de mundo.
políticas, é fundamental uma relação de Fortalecimento e uso de um grupo de gestão
trabalho próxima com a comunidade científica ambiental. O braço coordenador do Pnuma, o
internacional. Para manter e desenvolver tal Grupo de Gestão Ambiental, é o sucessor do
relação, o Pnuma poderia instituir um grupo Conselho de Coordenação Ambiental criado
permanente de consultores científicos. Esse em 1972. Com 44 organizações filiadas ao
grupo, entretanto, deveria ser dirigido e sistema da ONU, o Grupo de Gestão
operado de forma independente pela Ambiental fornece a plataforma para uma
comunidade científica, talvez nos moldes da continua

129
Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 8-3. Continuação

coordenação significativa. Fortalecer esse ajudariam o Pnuma a adquirir autoridade


grupo com funcionários altamente entre os outros órgãos e suas bases.
qualificados, mandato claro, estrutura Contabilidade e relatórios financeiros
organizacional flexível e liderança visionária, consolidados. Relatórios financeiros claros e
criteriosa e com recursos seria um passo abrangentes são fundamentais para
importante para a criação de um sistema de conquistar e manter a confiança dos
governança ambiental internacional atuante e doadores. Os relatórios de gastos do Pnuma
voltado para resultados. devem especificar as despesas relacionadas
Maior presença do Pnuma em Nova York. com as funções do mandato – capacitação,
Grande parte das discussões políticas sobre informações e coordenação –, bem como
questões ambientais globais é travada na com questões ambientais, para que Estados-
sede da Organização das Nações Unidas em membro e doadores possam entender de que
Nova York. O atual escritório de ligação do maneira o órgão como um todo está
Pnuma, em Nova York, poderia ser mais empregando seu dinheiro e seus esforços.
respeitado – ter um diretor no nível de Priorização da conectividade. Embora a
Secretário-Geral adjunto e um maior número infraestrutura e a tecnologia das comunicações
de funcionários que pudessem participar da tenham melhorado de modo expressivo, a
maior parte das discussões sobre questões presença do Pnuma fora da sua sede em
ambientais nas Nações Unidas e em outros Nairóbi é limitada. O Pnuma precisa se
órgãos da ONU, tanto em Nova York como envolver intencional, construtiva e
em outras cidades. A presença física em sistematicamente com instituições em todos os
negociações e informações regulares de alta níveis de governança, fazer alianças com
qualidade nas discussões universidades e estar sempre presente nos
intergovernamentais e não governamentais meios de comunicação convencionais e sociais.

dos últimos 40 anos, como observado ante- biental coerente. À medida que os governos
riormente, a pergunta fundamental sobre a ar- analisam como aperfeiçoar o Pnuma e discu-
quitetura ainda é a mesma: Qual é o modelo tem a possibilidade de transformá-lo de órgão
ideal para a arquitetura internacional da sus- subsidiário em órgão especializado, é impor-
tentabilidade? Além do mais, apesar das mu- tante entender os poderes que o Pnuma já
danças significativas observadas no contexto detém, os sucessos que obteve e os desafios
geopolítico, na escala e no escopo da agenda que enfrentou ao longo dos anos, assim como
as causas de todos os obstáculos e restrições.
ambiental, bem como na urgência de decisões
Dar um novo nome ao Pnuma, apenas – seja
coletivas globais, a ideia, a forma e as funções
de Organização Ambiental Mundial ou Orga-
fundamentais concebidas pelos arquitetos ori- nização das Nações Unidas para o Meio Am-
ginais do sistema ainda hoje são válidas. biente – seria absolutamente insuficiente para
Os idealizadores do Pnuma demonstraram capacitá-lo a cumprir seu mandato. A mu-
uma percepção excepcional na forma de diri- dança de alguns pontos importantes de pres-
gir as inúmeras instituições dentro do sistema sões internas e externas poderia produzir re-
das Nações Unidas com vistas a uma ação am- sultados mais eficazes e mais duradouros.

130 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade

Quadro 8-4. Ações Governamentais para Aprimorar o Pnuma

Aumento da participação no Conselho de disciplina e enfoque no programa de trabalho,


Administração. A filiação universal ao no orçamento, na supervisão do
Conselho de Administração do Pnuma gerenciamento e na avaliação do programa.
poderia dar mais legitimidade à organização Um Conselho Executivo composto por no
perante os Estados e o sistema das Nações máximo vinte membros, com representantes
Unidas, uma vez que todos os governos tanto dos Estados-membro como da
seriam membros. Essa medida poderia sociedade civil, poderia desempenhar esse
também conferir mais autoridade ao Pnuma papel. Esse Conselho Executivo será
em relação aos acordos ambientais fundamental, assim como a filiação universal.
multilaterais, muitos dos quais foram Análise da necessidade de implementação do
firmados por quase todos os países. No
mandato. Os analistas e gestores de políticas
entanto, a filiação universal deveria ser
identificaram uma lacuna na implementação
considerada de uma maneira mais ampla do
da governança ambiental internacional.
que apenas expandir a representação para
Embora muitas instituições internacionais
todos os Estados-nação. Para resolver os
ditem políticas e até mesmo forneçam
problemas mundiais de maneira eficaz, será
incentivos para implementação, não há uma
imprescindível criar mecanismos novos e
linha clara de responsabilidade e prestação de
inovadores capazes de envolver a sociedade
civil, o setor privado e as instituições contas para a implementação de acordos
acadêmicas. ambientais multilaterais ou outras metas
acordadas internacionalmente. Uma revisão
Criação de um Conselho Executivo. externa independente das funções e
Atualmente, o Conselho de Administração/ responsabilidades existentes e necessárias à
Fórum Ministerial Global do Meio Ambiente implementação de inúmeros acordos
(GC/GMEF) do Pnuma desempenha as duas ambientais ajudaria a esclarecer os mandatos
funções de governança da organização:
dos órgãos e dos programas da ONU, a
promover liderança em governança ambiental
revelar sua vantagem comparativa e a oferecer
e supervisionar o programa e o orçamento do
uma visão de menor competição e divisão
Pnuma. O desempenho desses dois papéis
produtiva de trabalho.
leva a uma liderança circunscrita e a uma
tomada de decisão circular, em que as Adoção de contribuições financeiras
prioridades e estratégias são norteadas pelos obrigatórias. Pode ser que as contribuições
programas e pelo orçamento, e não pelas obrigatórias não aumentem o orçamento de
necessidades globais. O papel de liderança modo geral, mas provavelmente propiciarão
global requer uma estrutura ampla e maior estabilidade e previsibilidade aos
abrangente como a do GC/GMEF para recursos financeiros. A transição de um
analisar as questões globais, avaliar modelo de contribuições voluntárias para um
necessidades, identificar lacunas, definir modelo de contribuições mistas pode
prioridades e desenvolver estratégias para propiciar a certeza de um orçamento central e
abordá-las. O papel de supervisão interna é a oportunidade de ser empreendedor e
mais adequado a um órgão menor com maior levantar recursos para os programas.

131
UMA CAIXA DE FERRAMENTAS
POLÍTICAS PARA A CONSTRUÇÃO
DE PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL

Ao caminhar rumo à prosperidade sustentável, diferente de animais domesticados – a


a sociedade humana precisará recorrer a crescente população dos bichos de estimação –
diversas estratégias que, para ter êxito, imporão traz seus próprios ônus ambientais, assim
a participação ativa de gestores políticos, de como ocorre com a criação de peixes em viveiro,
lideranças empresariais e da sociedade civil. problema esse discutido em um dos Quadros
A segunda parte de Estado do Mundo 2012 é por Trine S. Jensen e Eirini Glyki do Worldwatch
composta por nove capítulos curtos que Institute Europa.
apresentam recomendações concretas sobre Monique Mikhail da Oxfam examina a
algumas das políticas necessárias à construção de necessidade de uma mudança mais abrangente
uma economia mundial próspera e sustentável. nos sistemas agrícolas, que possibilite a
Antes de mais nada, na busca de produção de alimentos suficientes para suprir
prosperidade será crucial estabilizar a as necessidades de todos de modo sustentável,
população humana, como explicado por Robert justo e adaptável. Ela nos oferece diversas
Engelman do Worldwatch Institute. Engelman soluções baseadas em realidades sociopolíticas
expõe nove estratégias para acelerar a e agroecológicas. Aumentar a igualdade entre os
estabilização demográfica, o que passa por sexos, investir em pequenos produtores de
aumentar o acesso a planejamento familiar e alimentos e tratar as terras agrícolas como
educação e convencer os gestores políticos a ecossistemas diversificados em vez de desertos
fazerem da questão populacional uma de monocultura: tudo isso será determinante
prioridade. Essa postura engendrará um mundo para se forjar um futuro sustentável.
menos populoso e com menores pressões Bo Normander do Worldwatch Institute
ecológicas, e novos horizontes para Europa explora a diversidade biológica e o
oportunidades de desenvolvimento. compromisso fundamental necessário para que
Será também essencial estabilizar as se evite a sexta extinção em massa no planeta
populações de espécies animais – em particular, Terra. Os governos precisarão assumir um papel
os 60 bilhões de animais de criação que hoje ativo no combate às mudanças climáticas e à
abastecem o mundo com carne, ovos e destruição do hábitat, inclusive adotando
laticínios. A pecuária intensiva, como descrito medidas específicas para proteção dos oceanos.
por Mia MacDonald do Brighter Green, embute Um tema especialmente intrigante são as
inúmeros problemas ecológicos e sociais que oportunidades ainda inexploradas para a
precisarão ser sanados em nome do bem-estar valorização da biodiversidade no contexto de
das pessoas, dos animais e do planeta. Como áreas urbanas – uma ação que pode ser
destacado por Erik Assadourian do Worldwatch impulsionada por pequenos agricultores
Institute em um dos Quadros, uma categoria urbanos do mundo todo.

132 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Uma Nova Arquitetura Global para Governança da Sustentabilidade

Ida Kubiszewski e Robert Costanza, ambos mais sustentável. Em quadros complementares


do Instituto para Soluções Sustentáveis da ao tema, Dagny Tucker da Universitat Jaume I
Portland State University, contribuem para esse Castellon de la Plana aprofunda a discussão
debate explorando a importância dos serviços trazendo um olhar que enxerga nas comunidades
ecossistêmicos para a prosperidade sustentável a fonte de bem-estar substituta do consumo.
e a forma de melhor avaliá-los. Como detalhado Yuichi Moriguchi da Universidade de Tóquio
no capítulo elaborado por esses autores, as investiga as iniciativas no Japão para criar um
atuais análises econômicas não raro ignoram as processo econômico circular, cujos fundamentos
contribuições trazidas por serviços ambientais estão na retroalimentação de recursos, ou seja, o
indispensáveis. No entanto, existem tentativas material reciclado é levado de volta para a
para sanar o problema, por exemplo, a criação fabricação de matéria prima de novos produtos,
de fundos com recursos econômicos em dessa forma contribuindo para que a produção e
comum que custeiem os serviços o consumo sejam mais sustentáveis.
ecossistêmicos, além de outras medidas com Também essencial para mudanças nas atuais
finalidades semelhantes. Caberá aos governos tendências de consumo e nas perspectivas
acelerar esforços para garantir que o verdadeiro econômicas em sentido mais amplo, será a
valor dos ecossistemas seja reconhecido, antes transformação do papel corporativo. Jorge
de eles e os serviços imprescindíveis por eles Abrahão, Paulo Itacarambi e Henrique Lian,
prestados serem totalmente destruídos. todos do Instituto Ethos, defendem a
Diante do número cada vez maior de mobilização empresarial para que se construa
pessoas vivendo em ambientes urbanos, é uma economia verde, inclusiva e responsável.
também fundamental que o homem dê atenção Apoiados em suas experiências no Brasil, os
a seus próprios sistemas institucionais e de autores desse capítulo propõem maneiras
distintas de engajar a comunidade corporativa,
infraestrutura. Kaarin Taipale do Centro de
do nível local ao global, em uma atuação mais
Conhecimento e Pesquisa em Inovação da
dinâmica que tenha a prosperidade sustentável
Faculdade de Economia da Aalto University
como referência.
discute as medidas necessárias para que as
construções sejam aprimoradas e passem de No capítulo final desta seção, Joseph Foti do
“quase verdes” para verdadeiramente World Resources Institute examina a importante
sustentáveis. Os governos nacionais e locais e, muitas vezes negligenciada, responsabilidade
terão que utilizar diversas “varas”, “docinhos” e dos governos locais em assegurar padrões
aquilo que Taipale chama de “pandeiros” para elevados de qualidade de vida e ambiente
que as construtoras façam com que todos os saudável às pessoas. O autor discute as
aspectos do processo de edificação – da possibilidades para reduzir poluição ambiental e
produção de materiais de construção à reforma desenvolvimento não sustentável e
e possível demolição de prédios antigos – sejam disponibilizar o acesso a elementos
constitutivos de uma prosperidade sustentável,
o mais sustentável possível.
como transporte público e saneamento básico,
Helio Mattar do Instituto Akatu pelo nas conjunturas em que governos locais fortes
Consumo Responsável retrata a forma como a assumem o comando com o apoio de cidadãos
cultura consumista se generalizou mundo afora. conscientizados e mobilizados.
A omissão em enfrentar os níveis crescentes de
Juntos, esses nove artigos curtos e os
consumo, tanto da classe que já é consumidora
Quadros que os acompanham revelam
como daquela que se esforça para entrar nesse
inúmeras estratégias concretas para refrear a
grupo, transformará o sonho de prosperidade queda da humanidade em um futuro sombrio e
sustentável em algo impossível. Mattar não sustentável e apontar um caminho rumo a
apresenta variadas maneiras de os governos uma prosperidade real e duradoura para todos.
ajudarem as pessoas a reduzir o consumo e
transformar o seu atual padrão em uma prática —Erik Assadourian

133
Nove Estratégias Demográficas para Deter o Crescimento Populacional ESTADO DO MUNDO 2012

CAPÍTULO 9

Nove Estratégias Demográficas para


Deter o Crescimento Populacional
em Patamar Abaixo de 9 Bilhões
Robert Engelman

patamar pouco abaixo dos “esperados” 9 bi-

O
s demógrafos que calculam o futuro
tamanho da população mundial não lhões. A interrupção do crescimento demo-
estão tão errados como equivocada- gráfico aceleraria o envelhecimento da popula-
mente se pensa. Na realidade, é possível que ção, o que significaria uma idade populacional
em meados deste século a população mundial média mais alta, seja no âmbito de um país ou
tenha subido do atual número de 7 bilhões, do mundo todo. Esse cenário poderia repre-
atinja 9 bilhões e, então, pare de aumentar sentar um desafio socioeconômico, pois a re-
em algum momento do século 22 quando ti- dução da população economicamente ativa im-
ver chegado perto de 10 bilhões de pessoas. plica menor geração de contribuições para
Porém, esse resultado está longe de ser inevi- benefícios de aposentadoria e previdência des-
tável, dado que não é uma estimativa e tam- tinados a um número crescente de idosos e ina-
pouco uma previsão, e sim uma mera proje- tivos. Porém, não existe nenhuma certeza de
ção, um prognóstico condicional do que que tal cenário pudesse oferecer alguma van-
ocorrerá se as atuais premissas sobre o declí- tagem em troca de maior longevidade em um
mundo menos populoso e com menor des-
nio da fecundidade e da mortalidade humanas
gaste ambiental.
se mostrarem corretas.1
Contudo, ninguém pode ter certeza do ní-
vel das taxas de natalidade e de mortalidade nos Interrupção do Crescimento
próximos anos; quanto aos índices migratórios, Populacional
as incertezas são ainda maiores, mas sua in-
fluência no cálculo da população mundial A interrupção do crescimento populacional
ocorre apenas se as taxas de natalidade e mor- traria contribuições diretas para a prosperidade
talidade mudarem em função de deslocamen- sustentável do meio ambiente. O futuro da ge-
tos populacionais. Embora políticos e mídia ração e da distribuição de riqueza estará inti-
quase nunca mencionem a possibilidade, a so- mamente ligado ao futuro do clima mundial, da
ciedade pode fazer muito para que o auge do saúde da natureza e da existência de recursos
crescimento da população mundial atinja um naturais. Considerando que todos os descen-

Robert Engelman é presidente do Worldwatch Institute.

134 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Nove Estratégias Demográficas para Deter o Crescimento Populacional

dentes das atuais populações de baixa renda e Garantir acesso universal a diversas opções
baixo consumo anteveem e contam com um de contracepção que sejam seguras e eficazes
desenvolvimento econômico que fomente o para ambos os sexos. Desde o início da década
consumo, um nível populacional menor no fu- de 1960 o uso de métodos contraceptivos re-
turo significaria menos pressão sobre o clima, o gistra crescimento significativo em âmbito
meio ambiente e os recursos naturais para as mundial e, hoje, a maior parte das mulheres
próximas gerações. Este é um cenário sem as- em idade reprodutiva no mundo todo recorre
pectos negativos para o bem-estar mundial. a algum deles. Um dos resultados do uso ge-
Ninguém com algum senso ético desejaria neralizado de contracepção foi o encolhimento
que a interrupção antecipada do crescimento das famílias ao longo desse período. No en-
populacional fosse consequência de taxas de tanto, mais de 40% de todas as gestações não
mortalidade mais altas, embora tal resultado
são planejadas, e estimativas conservadoras
não possa ser descartado tendo em vista as
apontam que, nos países em desenvolvimento,
atuais tendências nas mudanças climáticas na
215 milhões de mulheres gostariam de evitar
produção de alimentos e no fornecimento de
a gravidez, mas não utilizam nenhum método
energia. Tampouco existe hoje, ou em futuro
previsível, apoio público relevante para políti- contraceptivo eficaz. Embora o acesso físico a
cas que impusessem limites reprodutivos a ca- métodos contraceptivos não garanta que todas
sais ou indivíduos. No entanto, inúmeras ex- as pessoas em idade reprodutiva recorrerão a
periências no mundo todo demonstram com algum deles, tê-los ao alcance é essencial para
clareza como fazer reduções substanciais nas o controle de fecundidade pessoal (sobretudo
taxas de natalidade por meio de políticas que nos locais onde o acesso a aborto com segu-
não apenas respeitam as aspirações reproduti- rança não seja fácil de obter ou inexista). Há
vas de pais e futuros pais, como também res- contínuas evidências demográficas demons-
paldam pessoas economicamente ativas e seu trando que, se todas as mulheres conseguissem
direito a saúde e educação, em particular mu- planejar suas gestações de acordo com o pró-
lheres e jovens do sexo femi-
nino. Este capítulo descreve
nove estratégias que, em con- Figura 9–1. População Mundial, por Região, 1970–2010
junto, trariam enorme chance
de deter o crescimento de-
Fonte: Divisão de População das Nações Unidas
mográfico em patamar abaixo
Ásia ocidental
de 9 bilhões de pessoas antes
América do Norte
de meados deste século.
América Latina e Caribe
(Para perfis do aumento de-
Bilhões de pessoas

mográfico desde 1970, ver


Figuras 9–1 e 9–2). A im- Europa
plantação e a execução da
maior parte dessas políticas
são de custo relativamente
Ásia e regiões do Pacífico
baixo, embora algumas delas
tenham susceptibilidades cul-
turais e, portanto políticas,
África
em muitos ou em quase to-
dos os países. 2

135
Nove Estratégias Demográficas para Deter o Crescimento Populacional ESTADO DO MUNDO 2012

Figura 9–2. Taxas de Crescimento Populacional, por Região, 1970–2010 Talvez o maior obstáculo à
universalização do acesso a pla-
nejamento familiar seja a am-
Fonte: Divisão de População das Nações Unidas biguidade generalizada sobre
sexualidade humana e a per-
sistência de barreiras religiosas
Ásia ocidental e culturais ao princípio de que
as mulheres, casadas ou não,
Porcentagem

África devem poder optar por ex-


pressar-se sexualmente sem
medo de uma gravidez indese-
Ásia e regiões América Latina e Caribe jada. Estudos indicam que a
Mundo do Pacífico grande maioria dos america-
nos acredita, pelo menos, que
América do Norte
as mulheres devem ter a esco-
Europa lha de programar quando e
com que frequência terão al-
guma gestação e poder contar
com métodos contraceptivos.
Para assegurar que todos os ca-
prio desejo, a fecundidade mundial diminuiria sais possam fazer essa escolha será necessário
abaixo de níveis adequados de reposição (um respaldo público muito maior, tendo em vista
número de filhos por mulher correspondente a oposição permanente ao planejamento fami-
a dois mais uma fração), e a população atingi- liar e a desqualificação dos vínculos entre as es-
ria um pico no crescimento para então come- colhas reprodutivas das mulheres, as dinâmicas
çar uma redução gradual antes de 2050.3 populacionais e o bem-estar social.5
Estima-se que a soma de US$24,6 bilhões Garantir educação até o ensino médio para
anuais seria suficiente para custear os serviços todos, sobretudo para jovens do sexo feminino.
necessários em planejamento familiar e aten- Os especialistas divergem sobre o que reduz a
dimento a mãe e filho, de modo a garantir fecundidade de forma mais direta, se o acesso a
que, nos países em desenvolvimento, todas as métodos contraceptivos ou a escolarização. No
mulheres ativas sexualmente que buscassem entanto, em todas as culturas estudadas, mu-
evitar a gravidez conseguissem ter acesso a lheres que chegaram a concluir algum ano en-
métodos contraceptivos. Para efeitos de com- tre o 2º ciclo do ensino fundamental e o ensino
paração, as despesas mundiais com animais de médio têm, em média, menos filhos e gestações
estimação são da ordem de US$42 bilhões mais tardias do que aquelas com menor grau de
(Ver Quadro 9–1). Nos países industrializados, escolaridade. Ao analisarem dados a esse res-
presume-se que o custo para atender às ne- peito, Dina Abu-Ghaida e Stephan Klasen do
cessidades ainda não contempladas em termos Banco Mundial fizeram uma estimativa em
de contracepção seria menor (embora não 2004 cujos resultados apontavam que, para
existam estimativas disponíveis a esse respeito), cada ano concluído entre o 2º ciclo do ensino
dado que a maioria desses países conta com sis- fundamental e o ensino médio, as taxas médias
temas de saúde bastante desenvolvidos que mundiais de fecundidade feminina eram de 0,3
oferecem ao menos alguns serviços voltados à a 0,5 filho a menos do6que as de mulheres sem
reprodução.4 a mesma escolaridade.

136 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Nove Estratégias Demográficas para Deter o Crescimento Populacional

Quadro 9–1. O impacto Ambiental Causado por Animais de Estimação

Além da humana, outra população vem Em primeiro lugar, todos os animais de


crescendo a passos rápidos no mundo todo: estimação que não se prestassem a criação
a dos animais de estimação. Hoje em dia, a deveriam ser esterilizados e castrados
grande população de cães, gatos e outros precocemente, prática comum em alguns países.
animais domésticos traz sérios impactos ao Esse procedimento impediria a procriação
meio ambiente. indesejada e a existência de animais ferozes, que
Nos Estados Unidos, por exemplo, existem podem afetar populações de pássaros e ameaçar
atualmente 61 milhões de cães e 76,5 milhões de pessoas. Além disso, adotar (e esterilizar)
gatos. Apenas em termos de ração, um cachorro animais mantidos em abrigos em vez da
de grande porte usa 0,36 hectare de recursos comprá-los de criadores também pode ajudar.
animais por ano, um de pequeno porte, 0,18 Em segundo lugar, os gestores de políticas
hectare e um gato, 0,13 hectare. Para efeito de devem admitir que a posse de um animal de
comparação, uma pessoa em Bangladesh usa, estimação representa um luxo e, portanto,
em média, 0,6 hectare de recursos naturais por deveriam impor custos mais elevados para os
ano – menos do que dois cães da raça pastor que desejam ter esses animais, por exemplo,
alemão. Sendo assim, em uma estimativa cobrando uma taxa mais alta para licença de
conservadora, alimentar os cães americanos traz propriedade ou um imposto mais alto sobre
o mesmo impacto ambiental que alimentar as ração para cães e para gatos. Se os custos das
populações de Cuba e Haiti juntas. externalidades ecológicas fossem acrescentados
Além disso, muitos dos animais de a todos os produtos, aí incluídos os itens para
estimação de hoje consomem mais recursos animais de estimação, os gastos com animais
na forma de roupa, brinquedos e cuidados domésticos aumentariam ainda mais.
veterinários sofisticados. Uma porcentagem Em terceiro lugar, o segmento de animais de
menor desses animais recebe tratamentos estimação deveria estar sujeito a fiscalização
caros, como passeios, tosa em clínicas mais rigorosa, pois a estratégia desse setor
especializadas e serviços particulares em está calcada na “humanização” dos animais
viagens aéreas. Um estudo constata que o domésticos, induzindo as pessoas a buscarem
americano que tenha um cão normalmente neles a figura de um companheiro. A melhor
gasta com ele entre US$4.000 e US$100.000 regulamentação de campanhas de marketing
durante a vida do animal. poderia contribuir para conter a população
Esse não é um fenômeno apenas nos de animais de estimação e, ao longo do
Estados Unidos; ter animais de estimação é tempo, fazer com que o hábito de tê-los fosse
um comportamento mundial, e só em termos algo menos normal.
de gastos globais com ração, o valor é US$42 Por fim, os donos de animais de estimação
bilhões por ano. O setor de animais de (e as crianças, futuros donos) devem aprender
estimação vem se empenhando para sobre os significativos custos ecológicos do
popularizar mundialmente uma cultura que impacto causado por animais domésticos. Essa
valoriza tê-los. O Brasil, por exemplo, tem a consciência poderia refrear algumas compras e
segunda maior população de cães do mundo, reduzir o nível excessivo de gastos com esses
30 milhões, além de abrigar 12 milhões de animais – como rações suplementares (muitos
gatos. A China tem a terceira maior população animais de estimação estão acima do peso
de cães, 23 milhões, e o hábito de ter cachorro devido a superalimentação), roupas, brinquedos
cresce com tanta rapidez, que Xangai passou a extravagantes, tratamentos em spa para animais
adotar a “política de animal de estimação e cuidados veterinários com animais terminais –
único” em 2011, em resposta a problemas cuidados que são mais sofisticados do que os
como mordidas de cachorro e raiva canina. oferecidos a muitas pessoas em países em
Em última instância, a diminuição da desenvolvimento. Com o tempo, seria possível
população de animais de estimação trará os que as pessoas viessem a ter animais
mesmos benefícios que a estabilização da domésticos de menor porte, ou mais produtivos,
população humana: maior liberação de como galinha ou cabra, ou que os animais de
espaço ecológico para o desenvolvimento e estimação fossem de propriedade comunitária.
restauração dos ecossistemas terrestres. —Erik Assadourian
Se implementadas, diversas estratégias Fonte: Ver nota 4 no final.
poderiam ajudar nesse processo.

137
Nove Estratégias Demográficas para Deter o Crescimento Populacional ESTADO DO MUNDO 2012

No mundo todo, de acordo com cálculos de humano, o desenvolvimento econômico e as


demógrafos do Instituto Internacional de Aná- pretensões e possibilidades das mulheres de te-
lises Aplicadas a Sistemas, mulheres sem esco- rem filhos em menor quantidade e quando fo-
larização têm, em média, 4,5 filhos, enquanto rem mais velhas.8
as que cursaram alguns anos do ensino funda- Erradicar o preconceito sexual da lei, de
mental têm apenas 3. Mulheres que concluem oportunidades econômicas, da saúde e da cul-
um ou dois anos do ensino médio têm, em tura. Embora o acesso universal a bons servi-
média, 1,9 filho – número esse que, com o de- ços de orientação em contracepção e ao ensino
correr do tempo, gera uma população em nú- médio possa reverter o crescimento demográ-
mero decrescente. Quando a escolaridade chega fico, medidas mais incisivas para promover a
a um ou dois anos do ensino superior, a taxa igualdade entre os sexos nos planos jurídico,
média de gestações decresce mais ainda, para político e econômico facilitariam muito o pro-
1,7. A escolarização das jovens leva informações cesso e reverteriam o crescimento populacional
sobre comportamentos saudáveis e opções de com mais rapidez. Mulheres que têm permissão
vida e, portanto, é um fator de motivação para para deter, herdar e administrar bens, que pos-
que elas procurem adiar e minimizar a fre- sam se divorciar, obter crédito e participar dos
quência de gestações e possam vivenciar aspec- assuntos cívicos e políticos em condições de
tos de sua vida que não a maternidade.7 igualdade com os homens são mais propensas a
Assim como o uso de métodos contracep- adiar a gravidez e reduzir o número de filhos
tivos cresceu em âmbito mundial, o aumento em comparação com as que não têm esses di-
da escolarização feminina é também impres- reitos e condições. De fato, uma análise feita em
sionante. Em 2010, mais de três em cada cinco 2011 comparando taxas de fecundidade e le-
indivíduos de 15 anos ou mais – pouco mais vando em conta as diferenças entre os sexos no
de 3 bilhões de pessoas – haviam concluído al- âmbito político, econômico e da saúde, evi-
gum ano entre o 2º ciclo do ensino funda- denciou uma forte correlação entre igualdade
mental e o ensino médio. Essa proporção re- de gêneros e menores taxas de gestação.9
presenta um aumento de 36% em relação a Pesquisas indicam que alguns elementos de
1970 e de 50% em relação a 1990, cenário que incentivo específicos à emancipação feminina
trouxe benefícios para os jovens de ambos os resultam em gestações menos frequentes e mais
sexos. No entanto, quando se trata de escola- tardias. Um estudo realizado no norte da Tan-
rização, ainda hoje persiste um “abismo entre zânia, por exemplo, constatou que mulheres
os gêneros”, sendo que o número de jovens com o mesmo poder de decisão que o de seus
do sexo feminino que frequenta a escola é, maridos em relação a assuntos familiares prefe-
como regra geral, 9% abaixo do contingente riam ter um número bem menor de filhos em
de jovens do sexo masculino. Ao que tudo in- comparação com as que precisavam concordar
dica, ainda está longe o dia em que a maioria com as decisões do cônjuge. Esse ponto é par-
de mulheres jovens terá acesso efetivo e inte- ticularmente importante porque os homens, li-
gral ao ensino médio adequado, sobretudo vres dos riscos físicos e desconfortos da gravidez
nos países menos desenvolvido – é aí que e quase sempre mais apartados da criação dos fi-
quase sempre persistem os índices mais altos lhos, tendem, na maioria dos países, a desejar
de fecundidade. O investimento em educa- mais filhos do que suas parceiras desejam.10
ção, não apenas para que as crianças estejam Estudos de demografia e saúde realizados
dentro de uma sala de aula, mas também para nas últimas décadas pela Agência Norte-Ame-
aperfeiçoar a qualidade de sua escolarização, traz ricana para o Desenvolvimento Internacional
os raros “ganhos triplos”: estimula o bem-estar mostram que as mulheres de quase todos os

138 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Nove Estratégias Demográficas para Deter o Crescimento Populacional

países em desenvolvimento expressam desejo rentes aos Estados Unidos sugerem que a fre-
de ter menos filhos do que o número real que quência a cursos de educação sexual tende a re-
acabam tendo ou do que seria o desejo de tardar a iniciação sexual e aumentar o uso de
seus parceiros, e essa propensão é tanto mais métodos contraceptivos entre os jovens. Den-
alta quanto maior for o tamanho da prole. tre outros benefícios trazidos por essas duas
Ainda não está claro o modo como eventuais tendências comportamentais, estão a diminui-
indicadores específicos interagem com a in- ção das taxas de gravidez em adolescentes e o
tenção e resultados de fecundidade, porém, as decréscimo de fertilizações concretizadas.12
amplas correlações entre o status e a autono- Extinguir todas as políticas que concedem
mia das mulheres e gestações mais tardias e fa- recompensas financeiras aos pais, com base no
mílias menores justificam a necessidade de número de filhos do casal. Não há nenhuma ra-
mudanças em leis e costumes no sentido de zão para crer que as políticas governamentais
institucionalizar a igualdade entre os sexos.11 pró-natalidade que concedem recompensas fi-
Oferecer educação sexual a todos os alunos e nanceiras aos pais por cada novo filho tenham
de forma adequada à faixa etária. Um dos gerado aumento expressivo nas taxas totais de
grandes obstáculos à prevenção de gravidez in- fecundidade em nenhum país. No entanto, se-
desejada é a falta de conhecimento dos jovens ria lógico pensar que tais políticas reforçam,
sobre o funcionamento do corpo, formas de mesmo que de forma tangencial, as taxas de na-
evitar sexo não intencional, métodos que impe- talidade. Em alguns casos, como na Rússia e em
çam a gravidez em pessoas sexualmente ativas e Cingapura, essas políticas são explícitas e pagam
a importância de se respeitar o corpo e a dispo- diretamente aos casais por cada novo filho; em
sição sexual de outros. A educação a respeito de outros, como nos Estados Unidos, elas estão es-
todos esses temas reduziria ainda mais as taxas de condidas atrás de deduções fiscais com educa-
gravidez não planejada e, portanto, retardaria o ção infantil e reduzem os impostos devidos pe-
crescimento populacional. Essas orientações po- los pais por cada filho abaixo de 18 anos. Essas
dem começar já nos primeiros anos de escola e políticas subsidiam a fecundidade da “super-re-
devem ter abordagens adequadas às diferentes posição” (taxas bem acima de dois filhos por
faixas etárias. As perguntas sobre sexo em geral mulher), contribuindo de modo artificial com
começam bem cedo na vida das crianças e exi- o aumento do tamanho da população.13
gem respostas sensatas por parte dos
adultos. Há casos de crianças vítimas de
abuso ou violência sexual, e elas devem
aprender desde cedo a reconhecer, rela-
tar e proteger-se de comportamento se-
xual impróprio.
A educação sexual é bastante dife-
rente de um país para outro e está au-
sente dos currículos escolares na maioria
deles. Nos Estados Unidos, o conteúdo
da educação sexual tende a enfatizar os
benefícios trazidos pela abstinência à
saúde e à gravidez indesejada, ou a im-
Taro Taylor

portância da contracepção e de práticas


sexuais seguras para os que não optem
por abstinência sexual. Os dados refe- Pai e filho trabalhando juntos, Papua Nova-Guiné

139
Nove Estratégias Demográficas para Deter o Crescimento Populacional ESTADO DO MUNDO 2012

Nos casos em que está claro que mulheres ou mento a professores interessados em conscien-
casais estão renunciando a ter filhos devido ao tizar alunos de todas as idades sobre a dinâmica
desestímulo social (por exemplo, no ambiente e a importância do crescimento populacional;
de trabalho) ou à ausência de opções viáveis no entanto, não está claro até que ponto o
para cuidados com a criança, os governos po- conceito está disseminado nos Estados Unidos
dem tratar dessas questões de forma direta. Al- ou em outros países. A ampliação do ensino so-
guns países do norte da Europa, por exemplo, bre as interações entre ser humano e meio am-
tiveram uma elevação sensível nas suas baixas ta- biente, incluindo a importância do crescimento
xas de fecundidade depois que o governo ins- populacional, poderia servir de importante es-
tituiu licença-maternidade/paternidade com tímulo para uma transformação cultural que
remuneração obrigatória. Os governos podem buscasse refrear o aumento demográfico.15
preservar e até mesmo aumentar benefícios fis- Taxar ações de impacto ambiental. Por
cais e outros benefícios financeiros com o pro- motivos diversos, os governos precisam adotar
pósito de ajudar os novos pais, porém sem con- formas de impor um custo sobre ações de im-
dicionar o amparo ao número de filhos, e sim pacto ambiental, seja na forma de tributos,
com base na condição de se tornar pai/mãe. taxas, descontos ou outros mecanismos, assim
Um benefício fixo para todos os pais poderia que politicamente viável. Uma das vantagens
ajudá-los a decidir por si mesmos se a opção por de impostos sobre emissão de carbono e de
ter mais um filho é sensata do ponto de vista outros tributos “verdes” é lembrar aos pais que
econômico, dado que esse benefício não iria au- cada ser humano, inclusive cada novo bebê,
mentar – assim como o meio ambiente e os re- traz impactos ambientais. Em um mundo sa-
cursos naturais também não aumentam – com turado de pessoas e com limitação de recursos
mais uma pessoa na família.14 naturais, esses impactos deveriam ser contabi-
Integrar o ensino sobre a relação entre po- lizados e precificados de modo que as grandes
pulação, meio ambiente e desenvolvimento pegadas ecológicas enfrentassem obstáculos
aos diferentes níveis dos currículos escolares. econômicos. Esses obstáculos poderiam ser
Embora o ensino de ciências ambientais esteja estabelecidos pelos governos, tal como ocorre
hoje em dia bem estabelecido, sobretudo nas com os impostos de carbono ou com a co-
faculdades, poucas redes de ensino no mundo brança pelo uso de serviços de remoção de re-
incluem em seus currículos matérias que dis- síduos de acordo com o peso. No entanto,
cutem a interação entre demografia, meio am- ainda é raro esse tipo de restrição governa-
biente e desenvolvimento humano. No en- mental que impõe alguma taxação ambiental
tanto, os jovens de hoje possivelmente sobre o consumo, e talvez sua viabilidade po-
passarão a maior parte de suas vidas em socie- lítica ainda demore algum tempo. A definição
dades com alta densidade demográfica e que de preços pelo livre mercado poderá, com o
experimentarão sérias limitações no meio am- tempo, exercer um papel semelhante à medida
biente e nos recursos naturais. Sem que ado- que os custos de alimentos, energia e vários
tem postura sectária ou doutrinária, as escolas outros recursos naturais subirem em virtude
deveriam ajudar os jovens a fazer escolhas bem das dificuldades geradas por escassez e distri-
fundamentadas em relação aos impactos de buição, como previsto por alguns analistas.
seu comportamento no mundo em que vi- Os custos cada vez mais altos para ter uma
vem, o que inclui ter filhos. família grande sem dúvida afetam a fecundi-
Nos Estado Unidos, a organização Popula- dade alta nos países onde a contracepção é
tion Connection conta com um programa edu- socialmente aceitável e fácil de obter. Se, em al-
cacional que oferece material didático e treina- gum momento, os governos optarem por au-

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Nove Estratégias Demográficas para Deter o Crescimento Populacional

mentar os custos sobre o consumo que gera Convencer os líderes a se comprometerem a


impactos negativos no meio ambiente, os ca- estancar o crescimento populacional através
sais e os indivíduos ainda estarão livres para es- do exercício de direitos humanos e do desen-
colher quando e quantos filhos desejam ter. volvimento do ser humano. Há muitas déca-
No entanto, se o impacto causado pelas pes- das, não era nada incomum que presidentes e
soas ao meio ambiente for traduzido em cus- primeiros-ministros de países industrializados
tos mais altos, haverá uma tendência à redução e de países em desenvolvimento declarassem
da fecundidade e das taxas de natalidade, pois seu compromisso com a diminuição do cres-
os casais perceberão que é muito dispendioso cimento populacional. Hoje, quando o nú-
ter mais filhos. Esse não é o motivo principal mero de pessoas em busca de uma vida com
para se adotar taxas ambientais, mas por certo boas condições é o dobro do que anos atrás,
será um de seus benefícios. é mais premente do que nunca a necessidade
Ajustar-se ao envelhecimento da população de os líderes encontrarem coragem para reco-
e não a tentativas de postergá-lo por meio de nhecer a importância de deter o crescimento
programas ou incentivos governamentais vol- demográfico. No entanto, por diversos moti-
tados ao estímulo à gestação. Índices mais ele- vos, o tema populacional tornou-se um tabu
vados de idosos em qualquer população são em política e relações exteriores, embora, tal-
uma consequência natural de maior longevi- vez, em menor proporção na mídia e no dis-
dade e da intenção das mulheres de ter menos curso público.
filhos, sendo que é desejável preservar ambas as Seria mais fácil falar abertamente sobre a
condições. O modo adequado de tratar do en- importância de refrear o crescimento da po-
velhecimento da população é fazendo os ajus- pulação humana no mundo se as lideranças se
tes sociais necessários, aumentando a participa- inteirassem sobre os desdobramentos da ques-
ção da mão de obra e mobilizando os idosos tão populacional nas últimas décadas. Elas en-
para que eles também participem desses ajustes, tenderiam, então, que a melhor forma de lidar
e não fazendo apelos ou oferecendo incentivos com o crescimento demográfico – na verdade,
para que as mulheres tenham mais filhos do que a única forma eficaz e ética – é conferindo às
normalmente pensariam em ter. mulheres soberania para decidirem engravi-
O envelhecimento da população é um fe- dar apenas quando o desejarem. Uma ironia
nômeno de curta duração, que deixará de exis- dessa conduta, no entanto, é que a diminuição
tir antes do final deste século e cujos impactos do crescimento populacional precisa ser enca-
são bem menos significativos e mais duradou- rada menos como o objetivo de algum tipo de
ros do que o crescimento populacional em programa para momentos críticos ou emer-
curso, e esse é um ponto que os gestores de genciais – uma visão de futuro que políticos e
políticas precisam compreender melhor. as pessoas em geral considerariam temerária –
Mesmo que os atuais formuladores de políti- e sim como um benefício colateral de uma sé-
cas pudessem fomentar o aumento demográ- rie de políticas que melhoram a vida de mu-
fico por meio de taxas mais elevadas de nata- lheres, homens e crianças. Se, por meio das es-
lidade ou de imigração, os futuros gestores tratégias educacionais aqui descritas e de
dessas políticas teriam de se defrontar com as transformações culturais mais amplas em rela-
dificuldades decorrentes do envelhecimento ção a esse tema, mais pessoas reconhecerem a
– quando a densidade demográfica e os pro- importância da contenção do crescimento po-
blemas a ela inerentes fizessem com que o es- pulacional, cada uma dessas políticas teria
tímulo ao aumento demográfico fosse uma maior viabilidade e eficácia para ocasionar mu-
opção menos atraente e menos viável.16 danças demográficas e ambientais benéficas.

141
Nove Estratégias Demográficas para Deter o Crescimento Populacional ESTADO DO MUNDO 2012

O Impacto das Nove Estratégias Se, ao contrário, cada uma dessas políticas
pudesse ser colocada em prática logo e contar
com o respaldo dos cidadãos e dos políticos, o
Em alguma medida, a maior parte dessas po-
ritmo do crescimento da população diminui-
líticas já avança, embora a passos lentos, em al-
ria por si só de maneira significativa, mais do
guns países. No entanto, forças poderosas – em
alguns casos religiosas e culturais, em outros, que jamais se viu na história, em consequência
políticas – fazem oposição. Infelizmente, é pos- de gestações em menor número e mais tardias.
sível que transcorram anos, ou mesmo décadas, Poucos demógrafos tentaram quantificar o im-
até que a crescente deterioração do meio am- pacto populacional de intervenções que fossem
biente e a escassez de recursos naturais em um além do acesso a planejamento familiar e edu-
mundo cada vez mais populoso despertem as cação sexual para mulheres jovens. Porém,
pessoas o suficiente para que exijam ação go- com base em dados conhecidos e em possíveis
vernamental em relação às causas básicas dos conjecturas lógicas, é plausível pensar que se
problemas. Um vigoroso elemento de ímpeto todas essas políticas fossem trabalhadas em
contribui para o rumo do atual crescimento de- conjunto, o resultado seria uma desestabiliza-
mográfico. Enquanto o número de pessoas ção do ritmo e possível reversão do aumento
que está ou se aproxima da idade fértil for da população, além de benefícios socioam-
muito maior do que o número de pessoas che- bientais significativos proporcionados por essa
gando ao fim da vida, como é o caso hoje, a po- dinâmica, antes do que a maioria dos demó-
pulação humana continuará a aumentar por grafos acredita ser provável ou possível. É pos-
algum tempo, mesmo que as famílias sejam sível deter o crescimento populacional antes de
relativamente pequenas. Ainda levará algum chegarmos aos 9 bilhões de pessoas que mui-
tempo até que as gerações com menos filhos se tos acreditam ser inevitável. Uma queda nas ta-
tornem pais e produzam gerações ainda me- xas de fecundidade que pudesse apontar para
nores e, paralelamente, as gerações mais velhas um pico de crescimento no patamar de 8 bi-
e maiores se extingam. Quanto mais os gover- lhões antes de meados deste século, sem au-
nos tardarem a implementar políticas como as mento nas taxas de mortalidade, não é algo
descritas aqui, maior será a probabilidade de o inimaginável. Se esse cenário ocorresse, tería-
mundo deparar com populações em maior mos dado um enorme passo para estar mais
número e densidade e com aumento nas taxas perto do que nunca de uma sociedade global
de mortalidade – ou ambos. verdadeiramente próspera e sustentável.

142 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL De Construções Quase Verdes para Construções Sustentáveis

CAPÍTULO 10

De Construções Quase Verdes para


Construções Sustentáveis
Kaarin Taipale

2030 cerca de 1,4 bilhão de pessoas a mais

V
ivemos em ambientes construídos, seja
nas cidades ou no campo. O setor da viverá em cidades, sendo 1,3 bilhão nos países
construção civil é responsável por pelo em desenvolvimento. Todas essas pessoas
menos um terço de todo o consumo mundial precisarão de moradia, serviços e locais de
de recursos naturais, inclusive por 12% do con- trabalho – em outras palavras, de novas cons-
sumo total de água doce. A construção e o truções. Nos próximos anos, haverá mais obras
funcionamento de edifícios consomem entre do que nunca no mundo, causando impactos
25% e 40% da energia produzida, o que re- que serão sentidos no longo prazo.2
presenta cerca de 30% a 40% do total das emis- O termo “construção verde” virou moda,
sões de dióxido de carbono (CO2) e, além embora ainda atinja apenas uma pequena par-
disso, a construção civil responde por 30% a cela do mercado. Esse movimento recente de
40% da geração de resíduos sólidos. Em ter- vender tudo como “verde” dificulta para os
mos econômicos, o setor produz cerca de 10% consumidores saberem o que pode ter um im-
do produto interno bruto mundial, e as edifi- pacto verdadeiro e o que é simplesmente uma
cações representam uma parcela considerável “maquiagem verde” feita pelas construtoras e
dos ativos públicos e privados. As recentes cri- pelos financiadores. O desafio das políticas
ses econômicas em diferentes partes do mundo que tratam das edificações é escapar dos tru-
mostraram que a estabilidade dos mercados fi- ques baratos e se ater aos princípios básicos.
nanceiros está relacionada ao valor de longo As construções “sustentáveis” não são ape-
prazo de bens imóveis oferecidos em garantia. nas “verdes”. Uma casa nova com painéis so-
No que se refere à geração de empregos, o se- lares no telhado pode parecer uma “eco-casa”,
tor é responsável por 5% a 10% dos postos de mas, de quantos carros a família precisa para ir
trabalho no país, inclusive nas atividades de à escola, ao trabalho e às compras? Existe
gestão e manutenção.1 transporte público? Que tipo de madeira foi
O mundo já está mais urbano do que rural, usada para erguer as paredes e como ela foi tra-
e o alto índice de urbanização significa que em tada? Quanto de energia a casa precisa para ca-

Kaarin Taipale é pesquisadora visitante do Centro de Conhecimento e Pesquisa em Inovação da


Faculdade de Economia da Aalto University na Finlândia. Ela é ex-presidente da Força-Tarefa de
Marrakech para Edifícios e Construções Sustentáveis

143
De Construções Quase Verdes para Construções Sustentáveis ESTADO DO MUNDO 2012

lefação, refrigeração, aquecimento de água e cômputo da sustentabilidade econômica, devem


uso dos aparelhos domésticos? A energia pro- ser considerados o investimento inicial no ter-
duzida pela concessionária resulta da queima reno, o projeto e a obra, assim como o custo de
de carvão? O painel solar fornece energia su- manutenção e funcionamento do edifício. A
ficiente apenas para a casa sustentável? Será que sustentabilidade social e pública abrange ques-
o dono da casa teve que jantar com políticos tões como disponibilidade de moradia ade-
locais para obter uma licença de construção em quada para todos, comércio justo de materiais
uma área fora do zoneamento correto? Será de construção, transparência nos processos lici-
que as contribuições dos operários da cons- tatórios e proteção do patrimônio cultural.
trução foram pagas? Será que esses operários Construção sustentável significa também con-
estavam cobertos por seguro? A lista de per- dições dignas de trabalho na manutenção, re-
guntas inconvenientes continua. forma e infraestrutura dos edifícios.3
Todos os aspectos da sustentabilidade de
uma edificação devem ser avaliados, desde o
processo de construção, passando por sua vida
Políticas em Ação: Vara,
útil e chegando ao momento em que for de- Docinho e Pandeiro
molida ou restaurada. (Para ver a gama de itens
a serem considerados, consultar a Tabela 10-1). As políticas podem controlar (regulamen-
Diante da urgência em mitigar as mudanças tação restritiva), motivar (incentivos), ou cha-
climáticas, as discussões recentes vêm dando mar a atenção (conscientização). Pacotes bem-
maior destaque ao consumo de energia e às sucedidos de políticas combinam as três
emissões de CO2 do que a outros temas am- características: “vara”, “docinho” e “pan-
bientais. Mas o cenário é bem mais amplo. No deiro”. (Ver Tabela 10-2).

Tabela 10–1. Lista para Leigos Contendo Itens a Serem

Ciclo de Vida Itens de sustentabilidade


Fase do ciclo Consumo de Consumo de Recursos
Recursos Naturais Financeiros
Produção de materiais de construção Terra Investimento inicial
Escolha do local da construção Água doce Custos de material/
Projeto (arquitetônico, de engenharia, Fontes de energia mão de obra
técnico) não renovável Custos de suborno
Aquisição de materiais e contratação Fontes de energia Custos operacionais,
da obra de construção renovável incluindo água e energia
Construção Madeira Custos de manutenção
Manutenção do edifício Metais Custos de restauração
Restauração Minerais Valor a longo prazo da
Reutilização de edifícios Pedra, cascalho propriedade
Reciclagem dos materiais de Custos de transporte de
construção materiais de construção
Custos de gestão de resíduos
Fonte: Ver nota 3 no final.

144 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL De Construções Quase Verdes para Construções Sustentáveis

Os códigos e as leis que tratam do direito de gências detalhadas sobre o porte de novas
uso da terra e regulamentam as construções construções ou até mesmo sobre os materiais
são as típicas “varas”. Esses códigos e leis im- utilizados. Eles podem proibir a construção
põem os requisitos obrigatórios para a obten- em áreas ainda não exploradas até que haja
ção de alvarás de construção e os padrões mí- acesso a transporte público, ou mesmo proibir
nimos dos materiais de construção, como o totalmente a construção em um determinado
cimento, e de componentes, como as janelas. local, e têm também poder para impor o tom-
No entanto, no lugar da regulamentação nor- bamento de edifícios históricos.
mativa que descreve uma solução ideal, a re- O “docinho” serve de incentivo para que se
gulamentação atual delineia o resultado espe- vá além do cumprimento dos requisitos míni-
rado, por exemplo, o tempo que uma mos. São exemplos disso os subsídios, hipote-
estrutura resistirá ao fogo antes de desmoro- cas verdes, investimentos públicos diretos e
nar. A utilização de certos materiais pode ser políticas fiscais – neste último caso, um meca-
proibida por razões de saúde, como o amianto, nismo possível seria a diminuição do imposto
ou para contenção do desmatamento, como a predial dos edifícios que apresentarem bom
madeira não certificada. Os requisitos legais desempenho energético, ou o aumento de tri-
aplicam-se também à segurança no local de butos sobre o uso de combustíveis poluentes
trabalho, assegurando proteção contra lesões. em vez de energia limpa.
No entanto, qualquer que seja o regulamento, Os “pandeiros” ruidosos são ferramentas de
só fará sentido tê-lo se seu cumprimento for conscientização para chamar a atenção das pes-
exigido e se não houver corrupção. soas quanto à necessidade de construções sus-
Os planejamentos urbanos e regionais fun- tentáveis e informar sobre as melhores soluções
cionam como “varas” rígidas, contendo exi- dentre as tradicionais e as atuais. No longo pro-

Verificados em Edifícios e Construções Sustentáveis

Impactos possíveis
Impactos positivos e
Condições humanas Impactos negativos benefícios em comum
Acesso a água doce e Degradação de ecossistemas Redução do consumo de
saneamento devido a mudanças no fontes de energia não
Acesso a energia limpa uso da terra renovável
Disponibilidade de Poluição do ar, do solo Economia de energia
transporte público e da água Água limpa
Acesso a serviços e Impacto em mudança Melhoria da saúde humana
benfeitorias climática
Criação de empregos
Qualidade do ar interior Resíduos
Segurança no trabalho
Moradia digna Congestionamento do tráfego
Governança transparente
Segurança estrutural Ruído
Economia de recursos
Segurança na comunidade Assentamentos informais financeiros
Valor cultural dos edifícios Corrupção Edifícios oferecidos em
existentes Baixo retorno sobre garantia
Trabalho digno investimento

145
De Construções Quase Verdes para Construções Sustentáveis ESTADO DO MUNDO 2012

Tabela 10-2. Exemplos de Ferramentas Políticas em Construções

Requisitos Ferramentas de
obrigatórios Incentivos conscientização
Processo: • “Diário de • Subsídios para • Audiências públicas sobre
Visão de longo manutenção” restauração planejamento do uso da
prazo; enfoque obrigatório, • Contratos de terra e alvarás de construção
no ciclo de vida mostrando como a construção e • Sistemas de avaliação
construção é mantida manutenção para • Lista de caráter voluntário
• Medidas aluguel de longo contendo itens para
anticorrupção prazo verificação de pendências
Desempenho: • Padrões mínimos • Redução de imposto • Prêmios de excelência
“Grau de qualidade” de desempenho predial quando concedidos a edificações
em vez da energético houver eficiências ou a incorporadoras
prescrição sobre • Exigências de acesso extras de energia • Manuais locais; sites na
“como fazer” para deficientes • Introdução de Internet; sessões de
critérios sustentáveis perguntas e respostas
em licitações públicas para construtores
Infraestrutura • Planejamento de uso • Tarifa feed-in para • Dias sem carro, quando
sustentável: da terra que permita energia renovável o transporte público
Acesso a serviços novas construções • Subsídios cruzados for gratuito para todos
básicos apenas quando houver para preços de • Inclusão do acesso à água
disponibilidade de transporte público na declaração de direitos
transporte público confiável humanos
• Lei nacional de
recursos hídricos
Uso de recursos • Proibição do uso de • Definição de preços • Dia da Economia de
naturais: madeira tropical e de água e energia Energia!; Hora do Planeta
Renováveis ou não? de amianto (quanto maior o uso, • “Ônibus de consultoria
Poluentes? • Valores altos para a maior o valor pago) em energia”
Perigosos? gestão de resíduos • Financiamento de • Medição de água e energia
da construção pesquisas em todos os domicílios

cesso que começa com a fabricação de tijolos e Em Busca da “Melhor Política”


termina, por exemplo, na revitalização de um
bairro, todos os envolvidos precisam de orien-
As políticas são, de longe, os meios mais ba-
tação. Boletins informativos, sites na Internet e ratos e eficazes de promover a sustentabilidade
campanhas publicitárias são típicos “pandei- na construção e elas devem contemplar, pelo
ros”. Eventos mundiais como a Hora do Pla- menos, quatro aspectos: processo, desempe-
neta do WWF alertam os cidadãos para a ne- nho, infraestrutura sustentável e uso de recur-
cessidade de economizar energia, e iniciativas sos naturais. Mas é difícil conceber uma política
como os “dias sem carro” servem para promo- que, isoladamente, possa garantir o sucesso ou
ver o uso do transporte público nas cidades. o fracasso de uma construção sustentável. Na

146 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL De Construções Quase Verdes para Construções Sustentáveis

verdade, as políticas precisam ser combinadas guem-se das políticas de restauração de edifí-
para que se fortaleçam mutuamente. cios históricos nas nações industrializadas.
Para tanto, elas devem incluir parâmetros e Nesse mesmo sentido, em muitos dos países
metas mensuráveis. No longo prazo, zero é industrializados, 80% do parque imobiliário
um bom número: energia líquida zero, car- atual continuará a existir nas próximas duas dé-
bono zero, lixo zero e tolerância zero à cor- cadas, ao passo que os países em desenvolvi-
rupção. Edifícios com consumo líquido de mento vivenciarão um crescimento acelerado
energia equivalente a zero são aqueles em que de novas construções. A eficácia das medidas
o consumo e produção de energia – esta, mui- políticas varia de um país para outro, mas, no
tas vezes a partir de fontes renováveis – são cenário atual, a legislação que regulamenta a
iguais no período de um ano. Carbono zero construção é em geral bem-sucedida nos paí-
resulta do uso de formas de produção de ener- ses industrializados, e nem tanto nos países em
gia que não os combustíveis fósseis, e elas po- desenvolvimento por falta de imposição de
derão estar combinadas a medidas de captação seu cumprimento.6
e armazenamento de carbono por meio de re- Processo. Processo diz respeito à necessi-
florestamento ou outros métodos. Quanto ao dade de uma visão de longo prazo que se tra-
desperdício zero, verificou-se que essa é a meta duza em um enfoque de ciclo de vida. As
mais difícil de ser cumprida.4 construções são produtos de uma cadeia com-
As ferramentas de avaliação são necessárias plexa de demanda e oferta que pode durar sé-
para embasar as decisões políticas. Quando se culos e que tem início na definição da neces-
trata de aquisição de produtos, obras e edifí- sidade e na escolha do local. As diferentes
cios, os critérios para licitações públicas sus- fases de concepção do projeto, a gestão do tra-
tentáveis são instrumentos poderosos tanto balho no canteiro de obras, as decisões de
para a função de “vara” quanto de “docinho”. compra envolvendo sistemas estruturais e me-
Os critérios poderão incluir desde os requisi- cânicos, materiais de construção e produtos di-
tos de negociação justa e trabalho digno até a versos e a construção propriamente dita são
minimização da energia incorporada. A inicia- processos que ocorrem paralelamente. Os ser-
tiva japonesa Top Runner é um clássico exem- viços são contratados para a fase mais longa
plo de política nesse campo: o dinheiro pú- dos edifícios (funcionamento e uso) e, poste-
blico pode ser gasto apenas no produto de riormente, para reforma, reutilização, demoli-
maior eficiência energética, o qual, a partir de ção e reciclagem.
então, torna-se o parâmetro de eficiência para Uma coisa é certa: quanto mais cedo se
todos os fabricantes desse produto. No mundo toma uma decisão no processo, maior o seu
ideal, os critérios de sustentabilidade deveriam impacto. Os pesquisadores apontam para a
ser empregados a todas as concessões de cré- necessidade de se destacar um profissional para
dito para a construção civil e, de fato, algumas a coordenação de todo o processo, encarre-
instituições nacionais de financiamento imo- gado de garantir que cada escolha contribua
biliário já fazem isso, como é o caso do para a implementação das metas acordadas. A
Norwegian State Housing Bank.5 existência de um coordenador de sustentabili-
As políticas devem se adequar ao contexto dade poderá se tornar um requisito do pro-
local, levando em consideração especificidades cesso de obtenção de alvará de construção.7
de clima, cultura e ambiente construído ou na- O setor da construção civil é conhecido por
tural. As políticas que promovem a construção seus negócios escusos. (Ver Quadro 10-1).
de novas moradias de baixo custo nos países No que diz respeito a processo, a corrupção
em desenvolvimento, por exemplo, distin- tem como objetivo evitar que as metas esta-

147
De Construções Quase Verdes para Construções Sustentáveis ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 10-1. Exemplos de Corrupção a governos, financiadores, proprietários de


no Setor de Construção Civil projetos e empresas.8
Desempenho. O desempenho evidencia pos-
Faturamento falso realizado por meio do turas holísticas. Um edifício não se torna sus-
fornecimento de materiais de qualidade tentável apenas com materiais e elementos
inferior. Um fornecedor de concreto é “verdes”, o que importa, de fato, é o desem-
obrigado a fornecer esse material de acordo penho durante sua vida útil. Sendo assim, as
com uma determinada especificação. políticas estão deixando de prescrever solu-
O fornecedor entrega, de forma deliberada, ções “infalíveis”, como a espessura do isola-
um produto mais barato com especificação mento térmico, e passando a exigir desempe-
inferior, mas cobra do empreiteiro pelo
nho mínimo de energia do edifício.
produto com a especificação exigida.
Há uma grande expectativa de que a alta
Ocultação de defeitos. Um subempreiteiro tecnologia supere o desafio, mas isso não irá
instala uma película impermeável no telhado,
ocorrer. Inovações com uso de baixa tecnolo-
que é perfurada por acidente durante a
instalação, isto significando possível gia geram maiores impactos e estão presentes
vazamento. Como a obra deve ser aprovada em maior escala. Tem-se como exemplo a ten-
pelo supervisor do contratante antes do dência mundial de paredes exteriores mais fi-
fechamento da membrana, a instalação nas, o que resulta na diminuição da massa tér-
deveria ser rejeitada e substituída, mas o mica das fachadas dos edifícios, aumentando
subempreiteiro oferece pagamento ao muito a necessidade de ar-condicionado. A so-
supervisor para que este ateste que a película lução não está no uso de aparelhos de ar-con-
com defeito é à prova d'água. O supervisor dicionado mais sustentáveis, mas sim na exis-
aceita o pagamento e o subempreiteiro tência de edifícios que apresentem melhor
apresenta o certificado para o empreiteiro,
desempenho, talvez com paredes mais espessas.
obtendo pagamento integral pela membrana
defeituosa. Nem o subempreiteiro, nem o Atualmente, existem no mundo mais de
supervisor contam ao empreiteiro que a 600 sistemas de classificação para avaliar o
membrana apresenta defeito. desempenho de edifícios, com recursos que
vão de simples cálculos do consumo de ener-
Fonte: Ver nota 8 no final.
gia até análises do ciclo de vida com avaliações
do enfoque ecológico e da qualidade total.
belecidas sejam atingidas. Muitas vezes, isso Além desses sistemas, há também programas
que buscam definir um conjunto mais redu-
tem início quando poderosos grupos de inte-
zido de critérios fundamentais (Ver Quadro
resse se organizam para pressionar contra a in-
10-2). Os sistemas executam diferentes tare-
trodução de políticas de sustentabilidade. O
fas, dependendo das questões a serem res-
método mais eficiente para reposicionar a pondidas – alguns avaliam o desempenho
construção civil em um caminho sustentável previsto na fase de projeto, outros o desem-
nesse aspecto seria a integração mundial do penho efetivo de um edifício já existente. As
Sistema de Projetos Anticorrupção (PACS) à informações solicitadas por investidores in-
gestão de projeto. O PACS adota várias me- ternacionais são diferentes das exigidas pelas
didas que afetam todas as fases do projeto, to- autoridades que medem a emissão de gases
dos os principais participantes e os vários níveis de efeito estufa (GEE). Além disso, os em-
contratuais. Encontram-se disponíveis infor- preendedores imobiliários usam esses siste-
mações sobre corrupção, ferramentas anticor- mas de certificação para construir e posicio-
rupção e programas anticorrupção destinados nar sua marca no mercado.9

148 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL De Construções Quase Verdes para Construções Sustentáveis

A crescente importação e exportação dos Quadro 10-2. Em Busca dos Principais


principais métodos de avaliação em todo o Indicadores de Sustentabilidade de um Edifício
mundo significa também importar e exportar
alicerces culturais diversificados, com possí- Os defensores da sustentabilidade reuniram
veis consequências adversas no longo prazo à esforços para estabelecer de 5 a 10
medida que se implantam práticas regionais es- indicadores principais definidos em âmbito
pecíficas. A escolha dos níveis de desempenho internacional, que podem ser
e critérios de ponderação corretos requer bom complementados por prioridades locais.
Referências e critérios universais são
conhecimento da situação local. Na ausência instrumentos necessários para apoiar a
desse conhecimento e com critérios de escolha tomada de decisão em novas construções,
muito frouxos, o impacto pode vir a ser insig- aquisições e investimentos.
nificante ou mesmo negativo. Um sistema Em 2009, seis indicadores principais
com diferentes indicadores de níveis pode ser foram apresentados à Sustainable Building
tentador para os usuários que estão mais inte- Alliance (Aliança para Construções
ressados em créditos fáceis do que em desen- Sustentáveis) por um grupo de interessados:
volvimento arrojado.10 • Emissões de GEE (potencial de
Infraestrutura Sustentável. É necessário aquecimento global)
que a infraestrutura sustentável dos edifícios – CO2eq (quilogramas)
seja compatível com o ambiente em que são • Energia
construídos. Uma “eco-casa” maravilhosa não – Energia primária (quilowatts-hora)
é sustentável se for abastecida por uma rede
• Água
elétrica que distribui energia gerada a partir de
combustível fóssil. Os planejamentos regio- – Metros cúbicos
nais e urbanos operam como ferramenta polí- • Resíduos
tica capaz de promover a integração entre o – Perigosos (toneladas)
uso da terra, mobilidade e infraestrutura bá- – Não Perigosos (toneladas)
sica, garantindo assim um contexto sustentá- – Inertes (toneladas)
vel para os edifícios. – Nucleares (quilogramas)
O objetivo a ser alcançado é o uso susten-
• Conforto térmico
tável dos recursos naturais, a contenção da ex-
pansão urbana e a minimização de desloca- – Período de ocupação (em porcentagem)
de um ambiente em que a temperatura
mentos. As infraestruturas são usadas de forma
ultrapassa determinado grau
eficiente quando os sistemas de água, esgoto,
• Qualidade do ar interno
energia, comunicação, estradas e redes de
transporte atendem a mais pessoas em distân- – CO2 (em partes por milhão)
cias mais curtas. Diante do fato de que grande – Formaldeído (em microgramas
parcela das emissões de CO2 resulta da energia por metro cúbico)
consumida em construções, aquecimento, re- Esses seis pontos compreendem as
frigeração, iluminação e no uso de eletrodo- emissões e a utilização dos dois recursos
mésticos, as políticas recentes passaram a esti- naturais mais elementares, bem como
indicadores para a qualidade do ambiente
mular a introdução de fontes renováveis de interno. Eles representam um bom começo,
energia: solar, eólica, hidrelétrica, geotérmica mas mesmo sendo os principais indicadores
e de biomassa. Sem dúvida, a mudança para de edifícios sustentáveis estão longe de ser
maior uso de fontes de energia renovável terá uma lista completa. O trabalho continua.
um impacto bem maior na redução de GEE Fonte: Ver nota 9 no final.

149
De Construções Quase Verdes para Construções Sustentáveis ESTADO DO MUNDO 2012

do que a adoção de padrões mais elevados de edifícios oferecem a melhor oportunidade de


energia para os novos edifícios e reforma dos benefício de custos para mitigação de GEE. O
já existentes (sendo ambas as posturas igual- relatório destacou que a diretiva da União
mente importantes).11 Europeia representa uma das iniciativas mais
Uso de Recursos Naturais. Nem todos os abrangentes de regulamentação voltada à me-
recursos naturais se equivalem. Alguns são re- lhoria da eficiência energética em edifícios (Ver
nováveis, outros caminham para a extinção Quadro 10-3).12
em algum momento; uns são nocivos para a
saúde humana, outros poluem o ar, o solo ou
Conclusões
a água – ecossistemas necessários para a vida.
O processo de produção de alguns materiais
de construção pressupõe um consumo intenso Nenhuma política fará com que construções
de energia; alguns métodos de construção de- quase “verdes” se tornem construções verda-
mandam muita mão de obra, outros são mais deiramente sustentáveis. As várias políticas terão
industrializados. que combinar “vara”, “docinho” e “pandeiro”.
O uso mais sustentável dos recursos natu- Será necessário que haja coordenação, execução
rais não é apenas uma questão de natureza e monitoramento – apenas publicações e sites na
tecnológica e, sendo assim, as políticas têm Internet não serão suficientes. Uma boa política
um papel no sentido de criar incentivos vol- inclui também a existência de um escritório
tados também à economia de recursos ou à municipal que preste informações a respeito de
mudança para novos recursos. Economizar construções sustentáveis ou a implantação de
muitas vezes depende de questões compor- “ônibus de consultoria em energia” que per-
tamentais, como aprender a fechar bem a tor- correriam a região com a finalidade de oferecer
neira, e quando se trata de provocar mudanças assessoria a pessoas interessadas.
de comportamento, os “pandeiros” devem se Metas mensuráveis parecem fáceis de se de-
fazer ouvir. finir: zero de energia líquida, carbono zero e
A substituição dos combustíveis não reno- desperdício zero. Outras metas também preci-
váveis pelos renováveis, inclusive o uso de re- sam de indicadores: uso de recursos naturais,
síduos reciclados, não apenas reduz a poluição saúde humana, acesso aos serviços básicos, tra-
atmosférica, como também aumenta o uso de balho digno e comércio justo. É necessário que
mão de obra e recursos naturais locais. haja consenso sobre os critérios fundamentais
A eficiência no uso de recursos pode ter res- no âmbito da construção sustentável, e eles te-
paldo tecnológico, como na produção con- rão de ser aplicados a todas as decisões, in-
junta de calor e eletricidade, sem desperdício cluindo as licitações e as concessões de crédito.
de energia primária. Os incentivos podem ser O redirecionamento para a sustentabilidade
na forma de recursos destinados a reformas começa com a definição de metas e a elabora-
que prevejam a instalação de aparelhos mais ção de projetos preliminares e prossegue com
eficientes ou como subsídios cruzados que co- o acompanhamento de todo o processo de
laboram, por exemplo, para baixar o preço de manutenção e de desempenho. Caso a cor-
uma viagem de ônibus. rupção obstrua quaisquer das inúmeras liga-
No que diz respeito à energia, o Quarto Re- ções existentes no processo, as metas não se-
latório de Avaliação do Painel Intergoverna- rão alcançadas. A verdadeira diferença advém
mental sobre Mudanças Climáticas soou como da implementação de políticas e da paciência
um alarme para o setor da construção civil, ao de ter em mente as metas durante todo o ci-
apontar que, entre os setores analisados, os clo de existência de um edifício.

150 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL De Construções Quase Verdes para Construções Sustentáveis

Quadro 10-3. Diretivas da União Europeia para o Desempenho Energético dos Edifícios

Em dezembro de 2002, o Parlamento Edifícios comerciais novos ou já existentes


Europeu aprovou uma diretiva para o devem sempre disponibilizar informações
desempenho energético dos edifícios. Essa do processo de certificação, e edifícios
diretiva apresenta quatro componentes residenciais devem fazê-lo quando forem
principais: construídos, vendidos ou locados.
• Introdução de uma “metodologia comum • Os Estados-membros devem instituir
para o cálculo do desempenho energético “inspeções e avaliações regulares de
integrado dos edifícios”, que pode ser caldeiras e sistemas centrais de
diferenciada em âmbito regional. ar-condicionado”.
• Os Estados-membros devem aplicar os De acordo com a diretiva mais recente
novos métodos de padrões mínimos de relativa ao desempenho energético dos
desempenho energético em novos edifícios. edifícios, a partir de 2021 todos os edifícios
A diretiva também exige que na reforma de novos deverão apresentar consumo de
edifícios não residenciais o nível de energia perto de zero, e a energia consumida
eficiência energética deverá ser adequado ao terá que ser originada em grande parte a
padrão de edifícios novos. Esse aspecto é partir de fontes renováveis vindas do próprio
importante devido à baixa rotatividade e à edifício ou de sua vizinhança. Todos os
lentidão do ciclo de restauração de edifícios edifícios que passem por uma grande reforma
e também ao fato de que edifícios antigos (25% de sua superfície) terão de melhorar o
ineficientes não raro passam por grandes desempenho energético. A legislação exige
obras de restauração antes de se optar pela que os Estados-membros relacionem os
demolição. Esta é uma das poucas políticas incentivos, desde assistência técnica e
em todo o mundo voltadas a edifícios que já subsídios até empréstimos a juros baixos,
estão de pé. para que os edifícios se enquadrem ao
• A diretiva criou programas de certificação status de consumo zero de energia.
para edifícios novos ou não (residenciais e A União Europeia está desenvolvendo
não residenciais) e, no caso de edifícios também um rótulo ecológico e critérios
públicos, exige a divulgação ampla dos “verdes” para contratação de obras públicas.
certificados de desempenho energético. Fonte: Ver nota 12 no final.

151
Políticas Públicas para um Consumo Mais Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

CAPÍTULO 11

Políticas Públicas para um


Consumo Mais Sustentável
Helio Mattar

serviço de Internet de banda larga passaram a

U
ma nova classe média surgiu no Brasil
graças ao recente crescimento da eco- ser as prioridades dessa nova classe média.2
nomia e à distribuição de renda direta Fica evidente que esse padrão segue de
do governo para os brasileiros mais pobres. A perto o modelo de consumo não sustentável
disseminação da cultura de consumo é hoje das classes socioeconômicas mais ricas e é mol-
uma realidade nessa economia em franca as- dado sobretudo pelos meios de comunicação,
censão. Mais de 31 milhões de consumidores, como a televisão, que atinge praticamente
com renda mensal familiar média entre 100% da população brasileira. O resultado
R$530,00 e R$2.120,00, passaram a inte- desta investida da propaganda tradicional não
grar a classe média e hoje escolhem os pro- é diferente do modelo de consumo excessivo
dutos e os serviços que vão comprar, ao con- que se espalhou pelo mundo, alimentado em
trário do que ocorria alguns anos atrás, grande parte pela publicidade. Em 2011, os
quando eram forçados a adquirir apenas itens gastos com publicidade atingiram US$464 bi-
de primeira necessidade e ao menor preço lhões em todo o mundo, 3,5% a mais do que
possível. Esse grupo social já responde por em 2010. Não é de se surpreender que um
51% do total do consumo no Brasil.1 terço desses gastos ocorra nos Estados Unidos,
a principal economia de consumo. Se não hou-
Uma pesquisa recente realizada com mu-
ver mudanças significativas nos padrões de
lheres dá uma boa ideia do padrão de consumo
consumo no Brasil e no mundo inteiro, o pla-
dessa nova classe, que segue de perto o dos
neta enfrentará pressões progressivas, que se-
brasileiros mais ricos. Depois de uma etapa ini-
rão também sentidas pela sociedade.3
cial em que adquiriam os produtos e os servi-
ços de que mais precisavam, como eletrodo-
mésticos, computadores e telefones celulares, Consumo Não Sustentável
as mulheres passaram a comprar cosméticos e
produtos de beleza, a investir na melhoria es- A demanda por bens de consumo atingiu
tética de seus dentes e a comprar um carro níveis insustentáveis em todo o mundo. De
usado. E depois dessas duas etapas iniciais de acordo com o Relatório Planeta Vivo da
preferências de consumo, viajar de avião, mu- WWF, o mundo exige 50% a mais de recursos
dar os armários da cozinha, colocar os filhos renováveis do que a Terra pode oferecer de
em escolas particulares, jantar fora e adquirir forma sustentável, e isso se deve, em grande

Helio Mattar é presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, em São Paulo, Brasil.

152 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Políticas Públicas para um Consumo Mais Sustentável

parte, à enorme demanda de materiais e de meros que tendem a crescer à medida que mais
energia imposta pelas sociedades de consumo pessoas ingressam na classe de consumidores.6
aos recursos naturais.4 Em 2006, os 65 países de mais alto poder
Um relatório apresentado pelas organiza- aquisitivo respondiam por 78% dos gastos em
ções Sustainable Europe Research Institute, consumo, representando, porém, apenas 16%
GLOBAL 2000, e Friends of the Earth Europe da população mundial. À medida que os 84%
informa que hoje são extraídas 60 bilhões de restantes da humanidade tentam se integrar à
toneladas de recursos a cada ano, cerca de economia de consumo, que tipo de ação pode
50% a mais do que 30 anos atrás. Em 2000,
garantir que o padrão de consumo da nova
uma pessoa vivendo na América do Norte uti-
classe média não se espelhe por completo no pa-
lizava 88 kg de recursos, na Europa, 43 kg, e
drão dos 16% de hoje? O impulso em direção a
na América Latina, 34 kg a cada dia.5
Esses recursos não são utilizados apenas para um sistema de consumo mais sustentável com-
itens básicos, como comida, abrigo, roupas e porta três elementos: mudança de tecnologia
transporte, mas para uma série de produtos por parte de empresas, mudança de comporta-
que se tornaram parte essencial de tantas cul- mento por parte dos consumidores e políticas
turas. Só em 2008, as pessoas ao redor do públicas que ofereçam incentivos para ambas as
mundo compraram 68 milhões de veículos, 85 mudanças. A boa notícia é que as pesquisas
milhões de geladeiras, 297 milhões de compu- constatam que bem-estar quase nunca é asso-
tadores e 1,2 bilhão de telefones celulares – nú- ciado a consumo. (Ver Quadro 11-1.)7

Quadro 11-1. Consumo, Comunidades e Bem-estar

Embora já se saiba de longa data que deve ser quebrar o mito de que coisas materiais
“o dinheiro não compra a felicidade”, muita trazem felicidade e buscar, de forma produtiva,
gente ainda se apega a essa ideia, apesar de políticas que extraiam o máximo de bem-estar
as pesquisas científicas mostrarem que, no para o ser humano de cada unidade de recurso
longo prazo, a compra de mais “coisas” natural. O Happy Planet Index, ou Índice do
não torna os indivíduos mais felizes ou mais Planeta Feliz, examina a forma como isso
saudáveis. poderia ser feito, comparando os níveis de
Claro que existem algumas correlações bem-estar de diferentes países aos respectivos
reais entre a capacidade de satisfazer as impactos ecológicos. Os Estados Unidos, a
necessidades básicas e o bem-estar que isso China e a Índia experimentaram uma queda nos
proporciona, mas a qualidade de vida de uma indicadores de felicidade ao longo dos últimos
pessoa resulta em grande parte de sua saúde, 15 anos. A Costa Rica, por outro lado, tem as
de suas relações sociais e de seu trabalho. pessoas mais felizes por hectare de recurso
Além disso, os níveis elevados de consumo natural utilizado. O economista costa-riquenho
estão minando cada vez mais a saúde dos Mariano Roja atribui esse fato a redes
indivíduos e seus vínculos com a comunitárias fortes apoiadas por uma cultura
comunidade, em consequência de jornadas de equilíbrio entre vida profissional e vida
de trabalho mais longas e de mais tempo pessoal.
despendido dentro de carros e diante da A reconstrução de relações sólidas com
televisão e das telas de computador. familiares, amigos, vizinhos e comunidades
Levando-se em conta a profunda degradação locais fará parte de uma estratégia básica para
que os padrões humanos de consumo têm aumentar o equilíbrio do meio ambiente e o
causado ao meio ambiente da Terra, o objetivo continua

153
Políticas Públicas para um Consumo Mais Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 11-1. Continuação

bem-estar da sociedade, melhorando a em média, centenas de dólares.


qualidade de vida e ajudando a substituir o Na Nova Zelândia, 217 brinquedotecas
capital financeiro por capital social e natural. oferecem grande variedade de brinquedos
Um estudo mostra que moradores de ecovilas educativos para mais de 23.000 crianças.
e de comunidades organizadas em sistema de Governos do mundo inteiro estão
coabitação que têm fortes laços comunitários começando a incluir medidas de bem-estar na
apresentam níveis de satisfação com a vida política também. O governo do Reino Unido
equivalentes aos dos residentes em acrescentou medidas subjetivas de bem-estar
Burlington, Vermont, que tem características em seu conjunto de indicadores de
demográficas semelhantes, mas renda anual desenvolvimento sustentável, o governo do
duas vezes maior. País de Gales incluiu a pegada ecológica em
Substituir “coisas” por relações e por seus cinco principais indicadores de
recursos de uso comum da comunidade sustentabilidade, e a União Europeia está
oferece oportunidades de redução do considerando fazer o mesmo. Os governos
consumo. “Bibliotecas” de ferramentas, do mundo todo precisam seguir esse
brinquedotecas e espaços comunitários para caminho, incorporando políticas que
uso de todos estimulam as redes sociais e maximizem o bem-estar e ao mesmo tempo
permitem que as pessoas reduzam o minimizem os impactos ecológicos.
tamanho de suas casas e a quantidade de Competências colocadas a serviço de
coisas que possuem, sem abrir mão do todos, a construção de relacionamentos e a
conforto. Em Columbus, Ohio, a “biblioteca” participação da comunidade são as sementes
de ferramentas da cidade conta com mais de da confiança, do espírito comunitário e de um
4.000 membros; em nove meses, concedeu bem-estar verdadeiramente sustentável.
empréstimo de 3.043 ferramentas para 933
—Dagny Tucker. Universitat Jaume I de
pessoas e de 1.946 ferramentas para 98
Castellón de la Plana, Espanha
grupos sem fins lucrativos, possibilitando aos
moradores e organizações locais economizar, Fonte: Ver nota 7 no final.

Pressão Sobre as Empresas A sociedade civil está desempenhando um


papel fundamental ao tentar conscientizar as
Em agosto de 2011, uma pesquisa online empresas da necessidade de mudança. As orga-
realizada pela Nielsen constatou que 83% dos nizações não governamentais e os grupos de
entrevistados em todo o mundo consideravam pressão imbuídos de objetivos específicos têm se
importante a implementação de programas de manifestado contra as normas sociais de praxe,
melhoria do meio ambiente pelas empresas, mas seja através de iniciativas locais, como coopera-
a má notícia é que apenas 22% dos participantes tivas de compras, ou espaços para compartilha-
da pesquisa afirmaram estar dispostos a pagar mento de recursos, como as “bibliotecas” de
mais por produtos ambiental e socialmente sus- ferramentas, ou ainda por meio de campanhas
tentáveis. Ainda assim, um estudo recente rea- para exercer pressão direta sobre as empresas. A
lizado pelo Fórum Econômico Mundial sobre organização Rainforest Action Network, por
consumo sustentável indica que as empresas já exemplo, mobilizou milhares de ativistas para
estão bem conscientes da necessidade de mudar pressionar a Home Depot a usar produtos flo-
o modelo de consumo vigente.8 restais mais sustentáveis. O Greenpeace fez com

154 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Políticas Públicas para um Consumo Mais Sustentável

que pessoas de todo o mundo manifestassem mais ONGs e, com frequência, discutem ne-
sua ira contra a Nestlé pela utilização de óleo de gócios e política”. A pesquisa confirmou que
palma produzido por empresas que, segundo o “uma nova geração de consumidores está re-
Greenpeace, estavam destruindo as florestas correndo a fontes não oficiais e menos tradi-
tropicais da Indonésia, ameaçando o sustento cionais em busca de informações sobre RSE
das populações locais, e levando os orangotan- [responsabilidade social das empresas], como as
gos à extinção. Pressionada, a Nestlé anunciou redes sociais Facebook ou Twitter, ao passo
um compromisso para identificar e excluir “de que os sites de empresas estão sendo ignorados
sua cadeia de suprimentos as empresas que pos- pelos consumidores que procuram essas infor-
suem ou controlam ‘plantações de alto risco ou mações”. O vice-presidente sênior da Globe
fazendas ligadas ao desmatamento’”.9 Scan, Chris Coulter, finalizou dizendo que as
As redes digitais em todo o mundo estão empresas “já não podem se dar ao luxo de
também conscientizando os consumidores so- ignorar a mídia social como um canal de co-
bre os impactos social e ambiental causados municação de suas mensagens de responsabili-
pelo consumo. Uma pesquisa da GlobeScan, dade corporativa. Os usuários estão mais ligados
realizada em julho de 2011, abrangendo 28 à ética nos negócios, têm mais autonomia para
nações, revelou que “os usuários regulares de tomada de decisões e mais influência e, à me-
Facebook, Twitter e outras mídias sociais es- dida que as pessoas direcionam suas buscas para
peram níveis mais elevados de responsabili- outras fontes que não os canais tradicionais de
dade corporativa das empresas, e estão pro- informação sobre responsabilidade corporativa,
pensos a agir de acordo com os valores suas atitudes vão moldando as dos outros.”11
adotados na condição de consumidores éti- A transparência trazida pelas redes digitais
cos”. A pesquisa indicou que 31% dos usuários mudou a visibilidade de todas as ações e omis-
regulares de redes sociais, comparados a 24% sões corporativas. Um caso recente é o da
dos que não usam com frequência esses meios Arezzo, uma empresa brasileira, que lançou al-
de comunicação, disseram ter recompensado, guns produtos que usavam pele de raposa e de
de alguma forma, empresas socialmente res- coelho. Os consumidores reagiram mostrando
ponsáveis. A pesquisa mostrou ainda que 23% sua indignação no “twitterverse”. A empresa
dos usuários de mídias sociais, comparados a alegou que as raposas e os coelhos eram cria-
17% dos não usuários, disseram ter adotado al- dos de acordo com os padrões internacionais
gum tipo de punição contra empresas social- de certificação. Os usuários das redes digitais
mente irresponsáveis, seja criticando a em- afirmaram que essa explicação não convencia,
presa ou boicotando seus produtos. Segundo expressando sua repulsa diante da ideia de ma-
a GlobeScan, “os integrantes desse grupo tam- tar animais só para usar suas peles, e não res-
bém tendem a afirmar que estão dispostos a tou outra alternativa à Arezzo senão a de tirar
pagar mais por produtos e serviços ecologica- do mercado essa linha de produtos.12
mente corretos ou éticos, só compram de em-
presas responsáveis e pensam que os produtos Proporcionar Incentivos,
corretos do ponto de vista social e ecológico
Pressionar por Mudança
são de melhor qualidade”.10
A pesquisa constatou também que os usuá-
A busca de sustentabilidade e do consumo
rios de mídias sociais “tendem a apresentar ca-
sustentável exigirá um esforço intensivo por
racterísticas de formadores de opinião, isto é, parte de todos, desde os governos e os pro-
ocupam posições de liderança em seu local de dutores até a sociedade civil e os próprios con-
trabalho ou na comunidade, apoiam uma ou sumidores. Diante dos vultosos orçamentos

155
Políticas Públicas para um Consumo Mais Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

de publicidade, da influência dos meios de co- meio ambiente é uma maneira muito eficaz de
municação de massa, da cultura de consumo se estabelecer padrões mais sustentáveis de
tão enraizada e progressiva e da demanda am- consumo já nos primeiros anos de vida. E as
biental irrestrita, uma boa política será não crianças, por sua vez, podem influenciar o
apenas bem-vinda, mas também decisiva para comportamento dos pais. O Instituto Akatu
a preservação do meio ambiente e do próprio desenvolveu uma série de 10 vídeos de anima-
futuro da sociedade. ção sobre os temas sustentabilidade e “con-
A mudança do comportamento de consumo sumo consciente”, com material complementar
pressupõe a mudança de uma parte muito im- de orientação para professores; essas animações
portante da cultura de qualquer sociedade. Para são utilizadas em mais de 1.500 escolas, per-
que isso aconteça, é necessário modificar os mitindo aos professores transmitir aos seus alu-
padrões de comportamento socialmente valo- nos tudo o que aprenderam sobre o tema.14
rizados para que o consumo sustentável ganhe A educação midiática, que inclui o desen-
reconhecimento e validação social até que ele se volvimento de uma visão crítica das mensagens
estabeleça como o novo padrão. Dado o seu comerciais a que os consumidores estão fre-
alcance e poder, as políticas públicas devem ser quentemente expostos, está relacionada a esse
usadas para influenciar os comportamentos dos tópico da educação. Deve-se destacar que a
consumidores de modo que a sociedade consiga transição para práticas culturais sustentáveis
rapidamente mudar sua percepção e abraçar só pode acontecer se as pessoas aprenderem a
com urgência o consumo mais sustentável. se relacionar de forma crítica com a mídia.15
Talvez a modificação mais importante a ser Dada a enorme visibilidade e o poder de
implementada pela política pública seja redu- compra dos governos, é fundamental que
zir os impostos sobre os bens e serviços mais parta deles o exemplo. Um caso emblemático
sustentáveis ou aumentar os impostos sobre os nesse sentido é a cidade de São Paulo, onde foi
menos sustentáveis. O preço faz a diferença proibida a colocação de anúncio publicitário
para os consumidores. Uma pesquisa em 10 nas fachadas dos imóveis, melhorando de
países industrializados e em 7 países emergen- forma considerável a qualidade do ambiente
tes constatou que quando os consumidores fo- urbano e ao mesmo tempo reduzindo a expo-
ram questionados sobre quais aspectos de um sição das pessoas às mensagens comerciais.
produto são importantes nas decisões de com- Com isso, 15.000 painéis e letreiros foram re-
pra, 80% indicaram a qualidade, 72% mencio- movidos. Embora alguns críticos alertassem
naram preço, e 45% citaram aspectos éticos e para a possibilidade de danos irreparáveis à
sociais das empresas. Exemplos desta política economia da cidade, não houve consequências
pública já podem ser encontrados. Na Suécia, adversas, e hoje 70% dos residentes da cidade
por exemplo, o carro “verde” é isento de im- encaram a proibição de forma positiva e acham
posto sobre veículos por cinco anos, e para que a cidade melhorou muito.16
todos os carros esse imposto é ajustado em Considerando o grau de consumo dos pró-
função da quantidade de dióxido de carbono prios governos, outra ferramenta importante é
emitida pelo veículo em questão. Uma política a introdução de critérios de sustentabilidade
pública relevante e equivalente ao exemplo nos processos de licitações públicas. Na maior
sueco seria a internalização dos custos exter- parte das vezes isso começa nos próprios mu-
nos, a exemplo da Austrália, que instituiu im- nicípios. Em São Francisco, uma portaria mu-
postos sobre emissões de carbono.13 nicipal, Precautionary Purchase Ordinance,
A educação voltada para a sustentabilidade e exige que ao efetuar as compras a cidade leve
para o consumo sustentável praticada nas esco- em conta os aspectos ambientais e de saúde.
las públicas é também importante. Ensinar as Essa política, quando adotada, estimula os fa-
crianças desde cedo sobre os impactos positivos bricantes a cumprir os requisitos estipulados
e negativos do consumo sobre a sociedade e o nos editais das licitações. Além disso, os preços

156 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Políticas Públicas para um Consumo Mais Sustentável

dos bens e serviços mais sustentáveis podem estar sendo discutido fez com que o setor de
ser reduzidos em razão das economias de es- alimentos decidisse, por conta própria, veicu-
cala associadas às grandes compras governa- lar anúncios publicitários apenas de alimentos
mentais. Garantir que os fluxos de materiais se- e bebidas considerados nutritivos, de acordo
jam circulares e que os resíduos pós-consumo com critérios determinados por comprovação
se transformem em recursos para a próxima científica. Em junho de 2011, o Conar, Con-
geração de produtos é também um impor- selho Nacional de Autorregulamentação Pu-
tante papel a ser desempenhado pelos gover- blicitária, impôs regras bastante rígidas às em-
nos. (Ver Quadro 11-2.) 17 presas que afirmam ser sustentáveis ou ter
As empresas poderiam receber incentivos produtos sustentáveis. Além de proibir a pu-
para usar a propaganda e a embalagem do blicidade contendo incentivos à poluição e ao
produto para educar os consumidores, orien- desperdício, as novas regras definem que
tando-os para um consumo mais sustentável. quaisquer alegações das empresas relacionadas
No Brasil, a propaganda dirigida às crianças a meio ambiente devem respeitar quatro prin-
vem sendo discutida há mais de uma década, cípios: veracidade e exatidão das alegações, a
mas ainda não existe nenhuma lei a esse res- pertinência das alegações em relação a proces-
peito. Mesmo assim, só o fato de esse assunto sos de produção e comercialização de produ-

Quadro 11-2. As iniciativas Japonesas para Construir uma Sociedade Baseada


na Saúde do Ciclo de Vida dos Recursos Materiais

Em 1994, o Plano Ambiental Básico do estão sendo aplicadas. Elas abrangem


Japão reconheceu que as atividades recipientes e embalagens, eletrodomésticos,
socioeconômicas caracterizadas por sucata de veículos, lixo orgânico e resíduos de
“produção em massa, consumo em massa e construção. Foram estabelecidas metas
eliminação em massa” eram a força motriz numéricas, como índices de reciclagem, para
comum de vários problemas ambientais. A essas categorias de produtos, e seu avanço
transição para uma “sociedade baseada na tem sido avaliado com regularidade. Hoje,
saúde do ciclo de vida dos recursos 78% das garrafas PET e 77% de papéis usados
materiais” (SMCS) tornou-se prioridade são recolhidos para reciclagem no Japão,
máxima da política ambiental. enquanto em 1995 eram 2% e 53%,
Os primeiros esforços se concentraram na respectivamente.
reciclagem, já que esta era uma forma Com o tempo, as políticas SMCS se
imediata de iniciar a mudança para uma concentraram menos na reciclagem e no
sociedade de economia circular e reduzir o tratamento de resíduos “a jusante”, isto é, as
total de fluxos de resíduos sólidos, questão atividades no final da cadeia produtiva, e mais
esta urgente devido à falta de espaço nos na vinculação de resíduos a questões de
aterros. Quando os consumidores se recursos “a montante”, ou seja, as atividades
encarregam da separação de resíduos para no início da cadeia produtiva. Muitas vezes,
reciclagem, a ação é visível e de fácil os temas concernentes a resíduos e recursos
compreensão e, de fato, essa campanha são discutidos em separado, tratados por
ajudou a reduzir a quantidade real de diferentes autoridades, manipulados por
resíduos, bem como a divulgar a necessidade diferentes indústrias e estudados por
de melhorar os tradicionais padrões de diferentes escolas. Mas os problemas tanto
consumo/desperdício. no início quanto no final da cadeia produtiva
Várias leis de reciclagem para categorias podem ser resolvidos com ganhos mútuos,
específicas de produtos foram decretadas e
continua

157
Políticas Públicas para um Consumo Mais Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 11-1. Continuação

desde que se adotem medidas integradas máximo possível. Como a economia japonesa
para o gerenciamento dos materiais durante é bastante dependente da importação de
todo o seu ciclo de vida. recursos, os impactos ambientais negativos
À medida que os recursos materiais, como causados pela extração e exploração dos
os minérios metálicos, por exemplo, vão recursos naturais em países estrangeiros
ficando mais escassos, há uma motivação foram, em grande parte, ocultados. Pelo
crescente nas indústrias posicionadas no menos em tese, o enfoque SMCS incorpora
início da cadeia produtiva, como as fundições, esses impactos indiretos das atividades
por exemplo, para buscar uma fonte japonesas – foi o caso, por exemplo, do
secundária de recursos a partir das atividades segundo plano fundamental SMCS, que
de reciclagem. Um exemplo disso é a DOWA, adotou um indicador para monitorar as
uma empresa que emprega tecnologias alterações dos fluxos ocultos associados à
avançadas, desenvolvidas originalmente em importação de recursos minerais metálicos.
operações de mineração e refinamento para Embora tenha havido progresso na
extração de metais preciosos como ouro e implementação de políticas SMCS, o tsunami
prata, para reciclar até 17 diferentes elementos de 2011 e a catástrofe nuclear que se seguiu
metálicos a partir de produtos sucateados. interromperam a sequência circular de muitos
Antes da promulgação, em 2000, da Basic canais de resíduos, fazendo com que
Act Establishing a Sound Material Cycle Society, escombros, lixo urbano e lodo de esgoto
ou lei básica estabelecendo uma sociedade fossem poluídos por precipitação radioativa.
baseada na saúde do ciclo de vida dos Isso, e a limpeza da área afetada pela
recursos materiais, a política ambiental precipitação, trarão novos desafios ao Japão
japonesa nunca havia abordado de forma nos seus esforços para constituir uma
explícita a necessidade de economizar sociedade baseada na saúde do ciclo de vida
recursos naturais. A lei ressalta que SMCS dos recursos materiais.
significa uma sociedade em que o consumo —Yuichi Moriguchi
de recursos naturais será preservado e o fardo Universidade de Tóquio
imposto ao meio ambiente será reduzido o Fonte: Ver nota 17 no final.

tos específicos e a relevância do benefício am- foi superada: depois de 10 meses, cerca de 5
biental, considerando o ciclo de vida com- bilhões de sacolas foram poupadas, isto é, não
pleto do produto.18 foram distribuídas. Outra forma interessante
Os governos podem se empenhar na edu- de compromisso do governo seria tributar a
cação para o consumo sustentável através dos propaganda e utilizar parte da receita para pa-
meios de comunicação, o que traria efeito rá- trocinar a contrapropaganda, promovendo um
pido e prolongado no comportamento dos estilo de vida sustentável. Além disso, os go-
consumidores. Foi esse o caso da campanha vernos podem ajudar a diminuir as pressões
educativa do Ministério do Meio Ambiente no globais de consumo, reduzindo a propaganda
Brasil para reduzir o uso de sacolas plásticas. de modo geral, seja na televisão, como a Sué-
Tudo começou em junho de 2009 em uma cia fez na programação infantil, ou de outras
parceria inicial com o Walmart e depois com o formas, como em São Paulo com a proibição
Carrefour, em que 19 spots de rádio e três fil- de anúncios publicitários nas áreas externas.19
mes para televisão e salas de cinema mostraram Os governos também podem pressionar as
de forma criativa os impactos ambientais das empresas para que melhorem seus produtos de
sacolas plásticas. A meta inicial da campanha forma contínua, fazendo com que cada nova ge-

158 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Políticas Públicas para um Consumo Mais Sustentável

ração de produtos seja mais sustentável. No Ja- iniciativas deverão estar integradas à estratégia,
pão, o programa estatal Top Runner incentiva a à cultura e à prática organizacionais, à avalia-
inovação contínua, testando várias vezes os pro- ção de desempenho, à responsabilização da
dutos para verificar sua eficiência. Os mais efi- alta administração e às avaliações de sucesso”.21
cientes se tornam o padrão de referência para a Os indicadores nacionais de bem-estar mos-
próxima geração do produto, pressionando as trariam aos consumidores o valor de um estilo
empresas a fabricarem artigos mais eficientes. No de vida sustentável, promovendo uma mudança
entanto, essa norma hoje só se aplica aos itens de comportamento de consumo em direção a
destinados ao mercado interno japonês e, por- uma relação mais equilibrada entre a vida den-
tanto, não significa que o resto do mundo esteja tro e fora do trabalho e à suficiência no con-
recebendo produtos japoneses mais eficientes.20 sumo (Ver também o Capítulo 6). Um exce-
Os governos podem conferir reconheci- lente exemplo é o índice de Felicidade Interna
mento público às empresas cujo modo de fun- Bruta e as metas desenvolvidas pelo governo do
cionamento e desenvolvimento de produtos Butão. Esses indicadores serviram de inspiração
contribua de maneira relevante para a sustenta- para a Comissão para a Mensuração de De-
bilidade. Uma forma de contribuição por parte sempenho Econômico e Progresso Social,
das empresas seria consentir que funcionários criada em 2008 pelo presidente da França, Ni-
trabalhassem em casa e tivessem uma jornada de colas Sarkozy. A Comissão propôs novos indi-
trabalho menor e mais flexível, reduzindo, dessa cadores para medir os aspectos subjetivos do
forma, o consumo geral ao eliminar algumas progresso social, como liberdade, segurança e
deslocações de ida e volta do trabalho. Essa satisfação, e também os aspectos objetivos,
jornada flexível permitiria às pessoas desfruta- como recursos econômicos e ecológicos.22
rem mais de seus bens imateriais, como as rela- A Comissão foi criada devido à clara per-
ções com amigos e familiares. cepção de que as estatísticas oficiais sobre o
Um exemplo excelente é a premiação crescimento econômico não refletem a ma-
“equilíbrio trabalho-vida” concedida todo ano neira como as pessoas percebem as condições
de suas vidas. Os indicadores atuais desvir-
pelo Equal Employment Opportunities Trust da
tuam o debate político e fazem com que as
Nova Zelândia, reconhecendo algumas das ações daí resultantes se distanciem das neces-
melhores práticas para equalizar a vida dentro sidades reais da sociedade. O Secretário-Geral
e fora do trabalho. O primeiro-ministro en- da Organização para Cooperação Econômica
trega os prêmios às empresas em um jantar de e Desenvolvimento, Angel Gurría, acolheu as
gala, e as práticas e as políticas de todos os par- recomendações da Comissão: “Os recursos
ticipantes são publicadas em Melhores Em- econômicos não são tudo o que importa na
presas para Trabalhar da Nova Zelândia. Uma vida das pessoas. Precisamos de melhores in-
das categorias da premiação, “Walk the Talk”, dicadores das expectativas e dos níveis de sa-
equivalente em português a “praticar o que se tisfação das pessoas, de como elas gastam o seu
prega”, expressa reconhecimento aos admi- tempo, de suas relações com outras pessoas na
nistradores seniores “que agem como apoia- comunidade. Precisamos nos concentrar nos
estoques tanto quanto nos fluxos, e precisamos
dores da causa e dão aos funcionários a opor-
ampliar a gama de ativos que consideramos
tunidade de melhorar o equilíbrio entre a vida importantes para sustentar o nosso bem-es-
profissional e a pessoal”. Para se habilitar ao tar”. Outra tentativa de focalizar os estoques
prêmio, as organizações devem “comprovar de recursos e a forma como são consumidos –
que as políticas de equilíbrio entre a vida pro- desta vez no âmbito global – é o movimento
fissional e a vida pessoal estão beneficiando os para estabelecer as Metas de Consumo do Mi-
empregados” e, nas grandes organizações, “as lênio. (Ver Quadro 11-3.) 23

159
Políticas Públicas para um Consumo Mais Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 11-3. Definição de Metas Globais sumidores pudessem fazer melhores escolhas
de produtos, e essa medida serviria também
como ferramenta educacional para conscien-
Há um esforço global para a promoção de tizá-los dos impactos de suas escolhas. Muitos
um diálogo sobre o consumo excessivo e a governos já participam de processos de certi-
necessidade de reduzi-lo no mundo todo. ficação para ajudar os consumidores a identi-
Um pequeno grupo de organizações da ficar produtos genuinamente orgânicos. O se-
sociedade civil está trabalhando para
tor privado começou a desenvolver outras
estabelecer os Objetivos de Consumo do
ferramentas em vários formatos, e ainda há
Milênio, cuja finalidade é contribuir para
criar metas de redução do consumo total no bastante espaço para maior apoio do governo.
mundo inteiro, sobretudo para as populações O “Good Guide”, uma ferramenta online
que apresentam índices elevados de que pode ser usada em smartphones, classifica
consumo. Essas metas devem servir de produtos com base em três categorias: saúde,
complemento para os Objetivos de meio ambiente e responsabilidade social. Os
Desenvolvimento do Milênio – um conjunto usuários podem localizar rapidamente dados
de oito objetivos calcados na diminuição do de milhares de produtos para fazer melhores es-
consumo e na liberação de espaço ecológico colhas, ainda que não sejam escolhas perfeitas.
visando à diminuição da pobreza mundial. Outras ferramentas que ajudassem os consu-
Embora essa iniciativa esteja ainda no midores a navegar dentre o grande número de
começo, os líderes desse grupo apresentaram produtos disponíveis auxiliariam os 83% dos
a ideia e estão trabalhando para incluí-la no entrevistados na pesquisa da Nielsen que con-
programa da conferência Rio+20. O grupo sideram importante a adoção de medidas para
continua também a desenvolver metas melhorar o meio ambiente. Com mais infor-
concretas específicas, voltadas à redução das mações, esses indivíduos poderiam descobrir
taxas de obesidade, do transporte quais empresas melhor atingem essa meta.24
motorizado, dos gastos militares, do uso total
Apenas uma sociedade consciente e mobi-
de energia, da duração da jornada de trabalho
e da desigualdade de renda.
lizada para a necessidade de adoção de práti-
cas sustentáveis terá força e persistência para
—Erik Assadourian exercer pressão suficiente sobre os governos
Fonte: Ver nota 23 no final. para que eles sancionem e adotem políticas pú-
blicas que priorizem de fato a sustentabili-
dade. Portanto, a educação para o consumo
Fornecer informações sobre a sustentabili- consciente é imprescindível para quebrar o cír-
dade dos produtos ao longo de toda a cadeia culo vicioso de governos que cedem às ações
de suprimentos é uma iniciativa muito cara. Os míopes e de curto prazo de lobistas que agem
governos poderiam disponibilizar essas infor- para reforçar os atuais padrões insustentáveis
mações de forma mais ampla para que os con- de consumo e produção.

160 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL A Mobilização da Comunidade Empresarial no Brasil e Mais Adiante

CAPÍTULO 12

A Mobilização da Comunidade
Empresarial no Brasil e Mais Adiante
Jorge Abrahão, Paulo Itacarambi e Henrique Lian

sobre Financiamento para o Desenvolvimento

V
inte anos após a primeira Conferência do
Rio, o mundo mudou drasticamente. A e o Plano Estratégico de Bali para Apoio Tec-
população mundial cresceu 28%, a eco- nológico e Capacitação. A Agenda 21 provou
nomia global teve expansão de 75% e os siste- ser um grande impulsionador nos níveis re-
mas da Terra sofrem mais pressão do que gionais e locais, contribuindo para a elabora-
nunca. A crise econômica mundial que come- ção de estratégias e políticas para comunidades
çou em 2008 revelou o quanto os imperativos mais sustentáveis.2
econômicos de curto prazo se sobrepõem às Porém, apesar de tudo o que a primeira
decisões políticas e até mesmo como o modelo Cúpula do Rio conquistou, ela não ajudou a
tradicional de desenvolvimento confronta a humanidade a se desviar do caminho insusten-
necessidade de uma mudança radical de curso tável em que se encontra. Na verdade, com a
com base nos princípios de desenvolvimento mudança da realidade econômica, abordar o de-
sustentável.1 senvolvimento sustentável sem levar em conta
Em 1992, a Conferência do Rio trouxe su- as prioridades econômicas será uma receita para
cessos significativos e produziu um conjunto o fracasso. Assim, não é nenhuma surpresa que
robusto de acordos entre as nações, expresso um dos temas da Rio+20 seja “uma economia
nos 27 princípios da Declaração do Rio, na verde no contexto de desenvolvimento susten-
Agenda 21, na Declaração de Princípios sobre tável e erradicação da pobreza”. Mas o que,
Florestas e nas convenções sobre biodiversi- exatamente, quer dizer isso?3
dade, mudanças climáticas e desertificação. O novo modelo de produção e consumo
Ela também abriu caminho para acordos pos- deve ter alcance planetário e levar em conta a
teriores, como a Declaração do Milênio e os necessidade de redução das desigualdades de
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, o renda e oportunidades, a preservação dos di-
Plano de Implementação de Johannesburgo, a reitos das gerações futuras, os princípios éticos
Iniciativa do Caribe e da América Latina para e um novo paradigma de desenvolvimento
o Desenvolvimento Sustentável, o Consenso que não se baseie apenas no crescimento eco-
de Monterrey da Conferência Internacional nômico. Apesar de “o capitalismo moderno ter

Jorge Abrahão é presidente, Paulo Itacarambi é vice-presidente e Henrique Lian é diretor de


assuntos institucionais do Instituto Ethos no Brasil.

161
A Mobilização da Comunidade Empresarial no Brasil e Mais Adiante ESTADO DO MUNDO 2012

evoluído muito desde o início da revolução in- permanente orientado para a sustentabilidade
dustrial há dois séculos, tirando bilhões de deixa evidente que novos padrões de metabo-
pessoas comuns da pobreza abjeta”, segundo lismo social e industrial – e, obviamente, uma
seus defensores, o atual modelo econômico se abordagem ética – são da maior urgência.
revela socialmente não inclusivo e ambiental- Ricardo Abramovay, da Universidade de São
mente predatório, além de colocar os interes- Paulo, argumenta que “este desafio não deve
ses privados acima dos interesses públicos. Em ser vencido nem por meio do monopólio do
suma, esse modelo é incapaz de atender às Estado em relação às decisões das empresas
necessidades de um mundo com 7 bilhões de nem por meio da abolição dos mercados. Pelo
pessoas, com mudanças climáticas e com níveis contrário, ele deve ser tratado no contexto de
alarmantes de pobreza.4 uma economia descentralizada em que os mer-
cados desempenham um papel decisivo, mas
não exclusivo”.5
Verde, Inclusiva e Responsável
Embora a definição dos elementos essen-
ciais de uma economia verde, inclusiva e res-
Os desafios diante de nós exigem a criação ponsável possa ser um exercício simples, a cria-
de uma estratégia para uma economia verde, ção de uma economia que atenda a esses ideais
inclusiva e responsável: é um desafio muito maior. Uma série de pas-
• A economia verde busca conciliar os pro- sos imprescindíveis para internalizar compro-
cessos de produção com os processos natu- missos multilaterais existentes nas economias
rais da sociedade para promover preserva- locais pode ajudar a colocar o mundo mais
ção, restauração e uso sustentável dos perto desse ideal.
ecossistemas e tratar os serviços que eles Adoção de um novo padrão de contabili-
oferecem como bens de interesse público. dade nacional. A ONU precisa desenvolver
• A economia inclusiva se preocupa com as um novo padrão de contabilidade que possa
necessidades e os direitos de todos os seres ser adotado por todas as nações. Deve redefi-
humanos e tem como objetivo a promoção nir o conceito de prosperidade, considerando
de maior equilíbrio entre o capital finan- não só o produto interno bruto (PIB), mas
ceiro, o humano, o social e o natural, além também os custos de ativos e serviços naturais
da distribuição mais equitativa de riqueza e implicados na produção de bens e serviços, os
oportunidades geradoras de renda, acesso impactos sociais do modelo de crescimento
justo a bens e serviços públicos e condições dominante e o acesso a saneamento, saúde,
de vida digna para todos. educação, consumo, mobilidade, cultura e
• A economia responsável visa fortalecer um bem-estar adequados. A nova norma nacional
conjunto de princípios e valores humanistas deve medir o capital natural, social, humano e
e universais que sustente o funcionamento financeiro tendo por referência as linhas de-
democrático das sociedades e dos mercados senvolvidas pela Comissão para a Mensuração
por meio do desenvolvimento de valores de de Desempenho Econômico e Progresso Social,
ética e integridade, promovendo uma cul- presidida por Joseph Stiglitz. A Comissão re-
tura de transparência e mecanismos de com- comendou melhorias com base nos indicadores
bate à corrupção. numéricos de saúde, educação, atividades pes-
A compreensão de que uma nova economia soais e condições ambientais e pediu a criação
deve estabelecer uma nova relação entre so- de ferramentas e indicadores confiáveis.6
ciedade e natureza, respeitar limites para o Movimento em direção ao preço do carbono.
crescimento e adotar um processo de inovação Definir um preço pela emissão de carbono é

162 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL A Mobilização da Comunidade Empresarial no Brasil e Mais Adiante

essencial para o controle de emissões.


Todos os países devem adotar políti-
cas para facilitar a criação de merca-
dos nacionais de carbono. Para ga-
rantir que as metas nacionais de
redução de emissão sejam alcança-
das, é indispensável que as caracte-
rísticas e as forças econômicas dos
mercados locais sejam estudadas cui-
dadosamente ao se definir políticas
de preços de carbono. Recentes ini-
ciativas políticas de incentivo incluem

Geoff Gallice
o imposto sobre carbono aprovado
pelo Congresso australiano em no-
vembro de 2011, o sistema de co- Anolis transversalis fotografado no Parque Nacional
mércio de emissões da União Euro- Yasuni, no Equador
peia e o movimento da China em
direção a um mercado de carbono interno ex- tróleo sob o solo do Parque Nacional Yasuni
perimental.7 – floresta tropical que pode ser um dos locais
Pagamento por Serviços Ecossistêmicos. Pre- com maior biodiversidade que ainda resta no
ços adequados de recursos naturais e serviços planeta – em troca de US$3,6 bilhões para aju-
ambientais são de fundamental importância dar a promover o desenvolvimento da comu-
para mudar a percepção dos indivíduos e a nidade e de projetos de energias renováveis.9
forma como os mercados funcionam. A meta Definição de normas operacionais míni-
é fechar o ciclo de produção e reconhecer ple- mas. Quer atuem em nível nacional ou inter-
namente os benefícios partilhados que derivam nacional, as empresas deveriam ser obrigadas a
da biodiversidade e das formas tradicionais de aderir a um conjunto de normas relacionadas
conhecimento. Alguns estudos esclarecedores a trabalho digno, inclusão das minorias e prá-
têm tentado estimar o valor dos serviços ecos- ticas socioambientais compatíveis com o de-
sistêmicos. A primeira pesquisa importante foi senvolvimento sustentável e com a produção
publicada em 1997 na revista Nature, e os au- em ciclo fechado. Em vez de promover uma
tores chegaram a uma avaliação dos serviços corrida global, as corporações multinacionais
dos ecossistemas mundiais na ordem de devem aplicar suas melhores normas nacio-
US$33 trilhões por ano, mais do que toda a nais também em suas operações no cenário in-
economia global da época (Ver Capítulo 16).8 ternacional, provocando o aprimoramento das
Além de preços para emissões de carbono, normas locais. É essencial que os relatórios
vários esforços têm sido feitos no sentido de globais também sigam normas, como a exi-
atribuir preço a serviços ecossistêmicos. Esses gência da publicação anual das atividades de
esforços englobam a criação de fundos de ati- sustentabilidade (Ver também Capítulo 7).10
vos comuns, pagamento do plantio de árvores Estímulo à produção e ao consumo susten-
pelos agricultores e pagamentos diretamente táveis. Políticas governamentais de licitações
aos indivíduos que preservarem intactos os públicas sustentáveis, programas de pesquisa e
ecossistemas e seus serviços. Em 2011, o desenvolvimento e regimes fiscais podem in-
Equador, por exemplo, comprometeu-se em centivar formas de produção que reduzem a
não explorar os 900 milhões de barris de pe- pressão sobre os recursos naturais, diminuem

163
A Mobilização da Comunidade Empresarial no Brasil e Mais Adiante ESTADO DO MUNDO 2012

os índices de emissão e proporcionam condi- marketing”, uma nova forma manipuladora


ções mais dignas de trabalho. Um estudo rea- de pesquisa de marketing que usa a tecnologia
lizado pelo ICLEI – Governos Locais pela de exploração do cérebro para melhor evocar
Sustentabilidade revelou que os governos po- determinadas respostas emocionais. Centenas
dem reduzir significativamente os impactos de empresas já assinaram o compromisso.
ambientais apenas mudando suas escolhas de Investimento em um novo modelo de edu-
aquisições públicas. Por exemplo, a Europa cação. É preciso um novo modelo de educação
poderia cumprir 18% dos seus compromissos para promover a conscientização sobre o pa-
com o Protocolo de Quioto se o setor público trimônio sociocultural, desenvolver uma cul-
apenas adquirisse energia renovável. No Brasil, tura que valorize o meio ambiente e promover
como os contratos públicos representam cerca o sentimento de responsabilidade enquanto
de 10% do PIB do país, uma mudança nessas cidadãos, eleitores, pais, consumidores, inves-
políticas poderia ser um fator importantíssimo tidores e empresários. Embora ainda haja
para empurrar o mercado interno em direção muito que fazer nessa área, existem alguns
a produtos mais sustentáveis.11 modelos que prometem tornar a educação
A adaptação brasileira do estudo original do mais relevante para a vida em uma economia
ICLEI foi desenvolvida por meio de uma par- verde, inclusiva e responsável. Em países como
ceria entre a Rede de Governos Locais pela Sus- Argentina, Austrália, Coreia do Sul e Suécia,
tentabilidade, o Escritório do ICLEI para a estudantes e jovens estão recebendo educação
América Latina e o Caribe e o Centro de Estu- para a mídia. Austrália, Canadá e Nova Zelân-
dos em Sustentabilidade da Escola de Adminis- dia, em particular, têm feito grandes progres-
tração de Empresas de São Paulo da Fundação sos, incorporando educação para a mídia em
Getúlio Vargas. Sua segunda edição também seus currículos básicos, além de construir um
teve o apoio do governo dos estados de São relacionamento de colaboração entre a indús-
Paulo e de Minas Gerais e da Prefeitura de São tria da mídia, educadores e reguladores. A
Paulo, o que parece ser um início promissor.12 UNESCO tem desempenhado um papel ativo
Normas de produção sustentável devem ser na educação para a mídia, formando educa-
acompanhadas por mudanças de comporta- dores de países em desenvolvimento para ga-
mento dos consumidores. Por exemplo, o Prê- rantir um compromisso inteligente com o
mio EthicMark de Publicidade, criado em mundo da mídia. Para promover a conscienti-
2009, tem por objetivo elevar o espírito hu- zação ambiental, a UNESCO patrocina cáte-
mano, educar a sociedade e “ajudar os anun- dras de desenvolvimento sustentável em uni-
ciantes e as empresas a assumir suas enormes versidades. A educação para sustentabilidade
responsabilidades em nossa democracia, na foi integrada aos currículos de 45 universida-
educação do público em relação às suas esco- des em 27 países.14
lhas e no direcionamento positivo do con- Fomento a cidades sustentáveis. Políticas e
teúdo da programação”.13 instrumentos de regulação podem ajudar a
A Fundação Nike, uma das vencedoras de atrair investimentos adequados em infraestru-
2011, foi reconhecida por seus esforços na ca- tura, melhorias nas condições de saneamento,
pacitação de meninas adolescentes para serem recuperação de recursos hídricos, criação de
jovens “campeãs” na quebra do ciclo da po- sistemas de transporte sustentáveis e sistemas
breza da infância, no mundo todo. A World diversificados de geração de energias renová-
Business Academy, uma das organizações que veis. Um exemplo disso é o programa Cidades
apoia o prêmio EthicMark, incentiva as em- Sustentáveis, lançado em 2011 por três orga-
presas a se abster da prática de “neuro- nizações brasileiras – Rede Nossa São Paulo,

164 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL A Mobilização da Comunidade Empresarial no Brasil e Mais Adiante

Rede Cidades Sustentáveis e Instituto Ethos – Implementação da Visão


cujo objetivo é sensibilizar o público e incen-
tivar as cidades brasileiras a se desenvolver de Ao mesmo tempo em que os elementos de
forma econômica, social e ambientalmente política que acabamos de descrever represen-
sustentável. A iniciativa abrange a dimensão tam um redirecionamento significativo da eco-
social, ambiental, econômica, política e cultu- nomia global, eles também são passos essen-
ral e fornece um conjunto de indicadores de ciais, considerando-se o péssimo estado do
governança, equidade e sustentabilidade. O mundo hoje. O movimento de responsabili-
programa também busca o fortalecimento da dade social empresarial (RSE) pode ajudar a
transparência e do controle social.15 vencer a resistência do mercado e da sociedade
Criação de um fundo internacional. Serão em geral. No Brasil, o Instituto Ethos tem tra-
necessários fundos internacionais para apoiar balhado com as empresas para influenciar o
os planos nacionais de sustentabilidade de ambiente corporativo. Após 10 anos de in-
muitos países. Os recursos poderiam ser gera- tensos esforços, os limites do movimento no
dos por vários meios, como avaliação baseada mercado, na sociedade e nos níveis de valores,
na capacidade de contribuição proporcional tornaram-se mais claros.
dos Estados-membros da ONU, alocação de Primeiro, e o mais importante, o mercado
0,7% a 1% do PIB dos países industrializados, não desenvolveu mecanismos eficazes de pre-
leilão dos direitos de uso de espaço marítimo miar ou punir empresas com base em critérios
e aéreo ou um imposto de 0,05% sobre tran- essenciais de responsabilidade social. O espaço
sações financeiras internacionais de caráter es- para diferenciar empresas aos olhos do mercado
peculativo (conhecido como taxa Tobin). Este ainda é muito marginal, conforme demonstra a
último foi proposto pela primeira vez pelo reação limitada de investidores a novas ferra-
economista ganhador do prêmio Nobel, James mentas, como o Índice de Sustentabilidade
Tobin, em 1972. Tal imposto tem recebido Empresarial da Bovespa. Embora o setor pri-
vado prefira a autorregulação, ainda não se sabe
um número crescente de adesões, inclusive
se tal abordagem sozinha é suficiente.17
dos filantropos Bill Gates e George Soros, do
Em segundo lugar, a cultura de sustentabi-
ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, do Papa
lidade ainda não está madura a ponto de obrigar
Bento 16 e da chanceler alemã, Angela Mer-
o mundo corporativo a mudanças profundas
kel. Nas palavras da chanceler Merkel, “um tri-
de comportamento. A falta de informação,
buto sobre operações financeiras seria o sinal
conhecimento e interesse, ou a sua superficia-
certo para mostrar que compreendemos que lidade, coloca os meios de comunicação, as em-
os mercados financeiros precisam contribuir presas, as escolas de administração de empresas
com sua parte para a recuperação das econo- e todos os cidadãos em uma confortável posi-
mias”. Os recursos financeiros seriam, então, ção de passividade.
atribuídos de acordo com os compromissos Por último, mas igualmente importante, os
voluntários de sustentabilidade de cada país e valores humanos e éticos fundamentais são
estariam sujeitos a controle independente. Aos periféricos ao processo corporativo de tomada
países com metas mais ambiciosas de redução de decisão. Eficiência, baixos custos, lucros
de emissões de carbono, preservação da bio- elevados e produção em grande escala ainda
diversidade, eliminação de pobreza e desi- importam muito mais do que os valores de
gualdade, por exemplo, seria concedido maior sustentabilidade essenciais ao bem-estar das
financiamento.16 gerações presentes e futuras.

165
A Mobilização da Comunidade Empresarial no Brasil e Mais Adiante ESTADO DO MUNDO 2012

A transposição dessas barreiras exige que as Partes de 2009 para tratar do clima. O obje-
organizações da sociedade civil continuem a tivo era mostrar ao governo brasileiro que al-
envolver a comunidade empresarial, mas que gumas grandes empresas estavam dispostas a
também continuem a trabalhar no sentido do reduzir voluntariamente as emissões de gases
aprimoramento da regulamentação. Uma ativi- de efeito estufa (GEE) e incentivar o país a as-
dade influenciará e, espera-se, reforçará a outra. sumir um papel preponderante na reunião em
Reconhecendo isso, desde 1998, o Instituto Copenhague. O grupo percebeu que a redu-
Ethos vem desempenhando um papel de con- ção das emissões é uma proposta ética e uma
vocação, reunindo sociedade civil e nomes da ajuda para a competitividade do Brasil. Essa
área de negócios para lutar contra os grandes postura ajudou a influenciar a aprovação da
problemas ambientais e sociais – mudanças cli- Política Nacional sobre Mudança Climática,
máticas, resíduos sólidos, corrupção e direitos transformando o compromisso voluntário in-
humanos (Ver Quadro 12-1). Os grupos de tra- ternacional do país em política nacional e,
balho criados pelo Instituto já contam com a posteriormente, ajudou a garantir a aprovação
participação de mais de 130 empresas.18 de uma lei que visa estabelecer planos setoriais
O Fórum Clima, por exemplo, surgiu du- de redução de emissões de GEE.19
rante a preparação para a Conferência das O objetivo do Fórum de Negócios de Re-

Quadro 12-1. As Raízes do Instituto Ethos

Há catorze anos, um grupo de empresários Reporting Initiative e a Global Compact.


brasileiros – incentivado por alguns altos Vários grupos de trabalho estão
executivos visionários – começaram a pressionando por melhores políticas
articular um movimento cujo objetivo era públicas. Além disso, o Instituto tem
compartilhar a visão de que a empresa é uma mobilizado outros participantes – governos,
grande força de mudança social positiva. consumidores, organizações da sociedade
Esse movimento fez surgir o Instituto Ethos civil, sindicatos, comunidade científica e
de Empresas e Responsabilidade Social, com mídia – tanto na esfera local como federal,
a finalidade de “mobilizar, estimular e ajudar para pressionar as empresas e recompensá-
as empresas a gerir seus negócios de forma las por práticas responsáveis, como, por
socialmente responsável, tornando-as exemplo, por meio do Fórum Clima.
parceiras na construção de uma sociedade O reconhecimento dos limites do
sustentável e justa”. movimento, refletido na dificuldade em
Desde a sua criação, o Instituto tem mudar os valores de mercados, empresas e
encorajado e apoiado as empresas a mudar sociedade, levou a uma profunda reflexão que
seus padrões de gestão, incorporando resultou em outra estratégia. Essa nova etapa
preocupações sociais, ambientais e éticas tem como objetivo formular, através da
em seus processos de tomada de decisão. colaboração de organizações da sociedade
Os Indicadores Ethos, atualmente em sua civil, um projeto nacional de desenvolvimento
terceira edição, têm servido de guia para a sustentável a ser executado pelos governos e
implantação e a avaliação dos princípios de um movimento global em defesa da
responsabilidade social e sustentabilidade sustentabilidade. Esse movimento está se
na gestão empresarial. O Instituto também beneficiando de uma maior interação entre
contribui para a adoção de ferramentas e pessoas do mundo todo com base na Rio+20.
normas internacionais, como a Global Fonte: Ver nota 18 no final.

166 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL A Mobilização da Comunidade Empresarial no Brasil e Mais Adiante

síduos Sólidos é contribuir para a implantação (BNDES), universidades e grupos da sociedade


da Lei Nacional de Resíduos Sólidos em São civil, como o Greenpeace e o WWF, para um
Paulo. O grupo trabalha para ampliar o co- Comitê de Transição cujo objetivo é debater
nhecimento geral sobre a política nacional, cada um dos pilares e das estratégias para a im-
tendo em conta os impactos sociais e econô- plementação de uma economia inclusiva, verde
micos, a fim de orientar ações empresariais. Ele e responsável. As discussões do Comitê de
estabeleceu compromissos que ajudam a im- Transição na Conferência Ethos em agosto de
plantar a legislação nacional e também traba- 2011 recebeu ampla cobertura da mídia.22
lha para garantir o tratamento adequado de As questões debatidas na conferência, que
materiais recicláveis e a melhor integração da reuniu centenas de empresas e muitos repre-
coleta à cadeia de valor das empresas. sentantes do governo federal brasileiro (inclu-
Os objetivos específicos do Pacto Empresarial sive ministros e secretários de estado), foram de
pela Integridade e Contra a Corrupção são a dis- amplo espectro e incluíram governança para
seminação de informações sobre a legislação uma nova economia, novos padrões de produ-
aplicável e o incentivo a contribuições transpa- ção e consumo para a sustentabilidade, inova-
rentes e legais para campanhas políticas. Recen- ção para a sustentabilidade, impactos do novo
temente, esse grupo de trabalho empenhou-se Código Florestal, direitos humanos, financia-
para criar um conjunto de leis voltado para a mento para a nova economia, energia, biodi-
promoção de uma cultura de integridade, por versidade, resíduos sólidos, mudanças climáti-
meio de projetos de lei sobre regulamentação do cas e seus impactos sobre a nova economia,
lobby, responsabilidade civil das empresas que infraestrutura para uma nova economia, erra-
praticam atos contra a administração pública e dicação da pobreza extrema, trabalho digno e
acesso à informação pública – uma nova estru- empregos verdes, educação para a sustentabi-
tura regulatória de contratos públicos e a im- lidade, gestão da água, cidades sustentáveis,
plementação de uma lista positiva de empresas integridade e transparência e a Rio+20. A con-
(empresas com cadastro positivo) desenvolvida ferência ressaltou a necessidade de novas polí-
em parceria com o Departamento Federal de In- ticas públicas capazes de fomentar o desenvol-
vestigações dos EUA.20 vimento sustentável em áreas como energia,
O grupo Negócios e Direitos Humanos está água, transporte, biodiversidade e cidades.23
apoiando as plataformas que favorecem a igual- Se o ambiente político inibir regulamentos
dade de gênero e raça no local de trabalho, que poderiam mover sociedades mais rapida-
erradicação do trabalho escravo nas cadeias de mente em direção a uma economia verde e ao
valor das empresas, inclusão de pessoas com de- aumento da responsabilidade social, é impres-
ficiência física no mercado de trabalho, garan- cindível que a sociedade civil continue a cola-
tia dos direitos da criança e do jovem, forta- borar. Ainda há necessidade de mais e melho-
lecimento do diálogo social e criação de res regulamentos que levem a investimentos
condições de trabalho decentes. O grupo tam- privados, orientem um diálogo social mais ma-
bém se volta para a promoção de um sólido diá- duro e que permitam que o setor privado e or-
logo social com foco na garantia dos direitos ganizações da sociedade civil participem do
humanos e na criação de trabalho decente.21 processo de regulamentação, a fim de conferir-
Na sua mais recente iniciativa, o Instituto Et- lhe legitimidade, realismo e força jurídica. Os
hos reuniu representantes de 35 organizações, compromissos voluntários são os primeiros pas-
incluindo associações empresariais, sindicatos, sos. Mas, com o tempo, eles precisam tornar-se
órgãos governamentais, como o Banco Nacio- juridicamente vinculativos. O comportamento
nal do Desenvolvimento Econômico e Social exemplar de algumas empresas contribui para

167
A Mobilização da Comunidade Empresarial no Brasil e Mais Adiante ESTADO DO MUNDO 2012

elevar os padrões dos diferentes setores econô- implementados porque contrariavam a lógica
micos e incentiva os governos a regulamentar. da crescente globalização. A Conferência de
Sob a bandeira da União Global pela Sus- Johannesburgo foi convocada quando o mo-
tentabilidade, o Instituto Ethos está traba- vimento dos fluxos de capital na economia
lhando para mobilizar vários segmentos da so- global atingia índices incríveis, quando o ca-
ciedade para um movimento global pela pital do mundo estava, acima de tudo, a ser-
sustentabilidade, promovendo o diálogo e a viço de sua própria reprodução. Em cada um
ação. Líderes dos setores empresarial, traba- desses momentos históricos, havia uma dispa-
lhista, acadêmico, bem como mulheres, jo- ridade entre as propostas e as deliberações das
vens, comunidades indígenas e tradicionais, cúpulas e as decisões diárias efetivamente to-
agricultores, autoridades locais e organizações madas por governos e empresas. A lógica eco-
não governamentais estão sendo convocados a nômica convencional prevalecia sobre os acor-
assumir compromissos voluntários e a pres- dos políticos.
sionar por regulamentos rigorosos de gover- A Rio+20 enfrenta o desafio e a oportuni-
nança mundial na esfera de seus países.24 dade apresentados por um modelo de desen-
Discutida pela primeira vez durante uma reu- volvimento convencional que se esgotou. Im-
nião de trabalho no Rio de Janeiro, em outubro perativos econômicos de curto prazo
de 2010, e com a participação de 100 lideran- continuam sendo priorizados em detrimento
ças brasileiras e de outros países, a iniciativa da do bem-estar de longo prazo da humanidade.
União Global foi recentemente apresentada em Esta conferência poderá ser bem-sucedida
importantes fóruns internacionais. Um Comitê se realizar quatro tarefas indispensáveis. Pri-
Diretor Internacional seria criado em janeiro meiro, deve reafirmar o compromisso das na-
de 2012 e um primeiro conjunto de compro- ções com o desenvolvimento sustentável e os
missos será lançado na Rio+20. acordos multilaterais anteriores. Segundo, os
participantes devem definir um novo modelo
de governança para o desenvolvimento sus-
A Rio+20 Deve Garantir a tentável que conte com a participação deci-
Evolução da Economia Verde siva dos principais grupos da sociedade e que
resulte em um novo Conselho para o Desen-
As principais conferências mundiais sobre volvimento Sustentável. O Conselho deverá
sustentabilidade – a de Estocolmo em 1972, a ser formado pelas instituições existentes den-
do Rio em 1992 e a de Johannesburgo em tro do sistema da ONU responsáveis por suas
2002 – foram realizadas em diferentes cir- várias dimensões, inclusive a financeira e a ju-
cunstâncias econômicas. A Conferência de Es- diciária, e deverá ter o peso do Conselho de
tocolmo ocorreu quando os acordos de Bret- Segurança.
ton Woods perdiam eficácia e, logo depois, Terceiro, a conferência deverá incentivar os
vieram duas crises do petróleo (1973 e 1979) países a formular planos nacionais de desen-
que abalaram a economia global. A Rio 92 volvimento sustentável adaptados às diferentes
aconteceu num contexto de liberalização eco- realidades locais. Uma agenda mínima para
nômica, de adelgaçamento das fronteiras na- esses países deve incluir metas de redução da
cionais e de redução das redes de proteção so- pegada ecológica, erradicação da pobreza e
cial, em que tudo se opunha ao esforço de redução das desigualdades sociais, bem como
desenvolvimento sustentável.25 implementar um sistema de integridade e
Os acordos firmados na Rio 92 eram de transparência, que transforme os compromis-
fundamental importância, porém não foram sos econômicos e políticos em realidade.

168 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL A Mobilização da Comunidade Empresarial no Brasil e Mais Adiante

Quarto, a Rio+20 deve delinear novos meca- mesma linha e ficar paralisada. Muitos repre-
nismos de apoio financeiro para a execução sentantes da sociedade e do setor privado es-
dos planos nacionais. tão procurando maneiras de participar dessa
O sucesso também depende de uma maior conferência. A Rio+20 precisa capitalizar esses
participação da sociedade civil. Se os governos esforços. Ao capacitar os agentes não gover-
não avançarem, a sociedade não deve seguir a namentais, a conferência terá mais força.

169
Como Cultivar um Futuro Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

CAPÍTULO 13

Como Cultivar um
Futuro Sustentável
Monique Mikhail

distintos, para produzir alimentos suficientes

E
m todo o mundo, há um consenso cada
vez maior de que o sistema agroalimen- para nutrir todos de maneira sustentável, justa
tar está falido. A boa nova é que as solu- e resiliente?1
ções existem e estão começando a fincar raízes.
No entanto, serão necessários esforços con- A Situação Atual da Agricultura
juntos por parte de diversos participantes lo-
cais, nacionais e até mesmo globais para pro- Ao longo das últimas décadas, o foco mun-
duzir uma mudança radical na maneira como dial na maior captação de água para irrigação,
nos alimentamos, tendo em vista as restrições favorecendo apenas algumas variedades de cul-
cada vez maiores dos recursos planetários. turas de alta produtividade, utilizando fertili-
Existem inúmeros “mundos diferentes” na zantes petroquímicos e pesticidas e buscando
agricultura, e o que importa não é apenas outros “arranjos” tecnológicos para aumentar a
“grande” ou “pequeno”. Até mesmo na agri- produtividade, tornou-se a maneira preponde-
cultura familiar, uma grande variedade de con- rante de pensar em agricultura – tanto que é
dições físicas e socioeconômicas requer solu- chamada de “agricultura convencional”. Em-
ções voltadas para diferentes metas. Além bora sem dúvida alguma tenha havido aumen-
disso, existem mundos distintos em termos tos na produção, essa abordagem também teve
de geografia e papel da agricultura familiar inúmeros efeitos ambientais involuntários – de-
dentro do contexto mais amplo da economia gradação do solo e dos recursos hídricos, perda
política. Soluções generalizadas para a agri- de biodiversidade, poluição e emissão de gases
cultura sustentável não funcionam, porque os responsáveis pelo efeito estufa, para citar apenas
pontos de partida são muitos e variados. Por- alguns –, bem como efeitos socioeconômicos –
tanto, está na hora de ir além dos limites das maior desigualdade, marginalização dos pobres
discussões batidas, como “grande escala versus e das mulheres e falta de resiliência das comu-
pequena escala” e “a agricultura orgânica pode nidades e famílias aos choques climáticos e eco-
alimentar o mundo?”, para responder a uma nômicos. Embora o mundo produza alimentos
pergunta muito mais crítica: Como podemos suficientes para alimentar a população atual, a
trabalhar juntos, dentro dos nossos mundos pobreza e a fome persistem.2

Monique Mikhail é consultora de políticas de agricultura sustentável da Oxfam.

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Cultivar um Futuro Sustentável

No início de 2011, uma em sete pessoas em já foi afetada pela degradação do solo induzida
todo o mundo sofria de desnutrição crônica. pelo ser humano, sobretudo por meio de ero-
Renda baixa, poucas oportunidades de produ- são. Além do mais, a ocorrência de eventos cli-
ção para os pobres e falta de redes de segurança máticos extremos, como ondas de calor, secas e
social eficazes significam que perto de 925 mi- inundações, associados às alterações climáticas
lhões de pessoas rotineiramente não têm o su- globais, já começou a aumentar, com graves
ficiente para comer. Muitos desses pobres são impactos sobre a produção agrícola, as colhei-
pequenos agricultores ou trabalhadores rurais tas e a distribuição de alimentos, contribuindo
que não têm recursos suficientes para atender às para a alta de preços dos gêneros alimentícios
suas necessidades alimentares. Esse contingente em níveis locais e internacionais.5
de pobres da população rural está enfrentando A captura de grandes áreas de terra por em-
novos fatores que contribuem para a fome, presas, investidores e governos associada à in-
como volatilidade nos preços dos alimentos e segurança alimentar está exacerbando todos
clima imprevisível, cuja origem está nas altera- esses problemas. Os governos e as elites dos
ções climáticas em todo o mundo.3 países em desenvolvimento estão vendendo
Além disso, o sistema mundial de alimentos grandes áreas de terra a preços baixos, a maior
está contribuindo para intensificar a degrada- parte já habitada. Desde a crise do preço dos
ção dos recursos naturais e, ao mesmo tempo, alimentos de 2008, houve um enorme au-
sendo pressionado pelas diversas demandas mento dessas transações de terra: em apenas
desses recursos. A água é um dos recursos que um ano, os investimentos em terra na África
estão sentindo essa pressão. A agricultura tanto equipararam-se aos dos 22 anos anteriores.6
afeta os recursos hídricos como é afetada por Apesar desses problemas crescentes com o
eles, e é responsável por 70% do uso de água sistema alimentar e do impacto desproporcio-
doce em todo o mundo. A poluição, causada nal sobre os pequenos produtores sem recur-
pela lixiviação de fertilizantes e pesticidas, de- sos, o financiamento agrícola nos países em de-
grada a qualidade das águas superficiais e das senvolvimento caiu de modo expressivo ao
águas subterrâneas. A intrusão salina por bom- longo das últimas décadas. Na verdade, entre
beamento excessivo de águas subterrâneas tem 1983 e 2006 a ajuda oficial ao desenvolvi-
danificado irreversivelmente alguns recursos mento agrícola em todo o mundo caiu de 77%
hídricos. O maior uso de água subterrânea para apenas 3,7%, enquanto o apoio ao setor
para irrigação provocou uma queda no nível agrícola nos países industrializados subiu para
dos lençóis freáticos, reduzindo a capacidade mais de US$250 bilhões por ano.7
dos aquíferos de reter água. A produção de ali- Por trás dessas tendências estão interesses
mentos diminuiu nas áreas irrigadas que so- pessoais que influenciaram fortemente o equilí-
frem de alagamento e salinização.4 brio de poder, resultando em promessas de
As práticas agrícolas dominantes transfor- ajuda não cumpridas, bloqueio da reforma agrá-
maram hábitats naturais e estimularam a adoção ria, manipulação das regras comerciais, subsídios
de sistemas de monoculturas de alguns produ- para agricultores abastados e poder corporativo.
tos agrícolas destinados à exportação, o que, Por exemplo, a Aliança para Abundância de Ali-
por sua vez, levou à perda de 75% dos recursos mentos e Energia, fundada por um grupo for-
genéticos vegetais ao longo do último século. mado por ADM, Monsanto, DuPont, John
Hoje, apenas cerca de 150 espécies de plantas Deere e Renewable Fuels Association, fez parte
são cultivadas para fins comerciais em todo o do lobby dos biocombustíveis que influenciou
mundo. E aproximadamente 24% da área de mandatos em questões como o conteúdo de
terra coberta por vegetação em todo o mundo biocombustível na gasolina e no diesel, subsídios

171
Como Cultivar um Futuro Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

e incentivos fiscais. Isso aumentou a volatili- desenvolvido para ajudar pequenos agricultores
dade nos preços dos alimentos.8 a aumentar a produtividade e reduzir a depen-
dência de insumos, indicaram aumento de 47%
O Importante Papel dos na produção do cereal e redução de 40% no uso
de água, em média, em oito países.9
Pequenos Produtores em um
Todo o sistema alimentar requer mudanças,
Sistema Alimentar Sustentável inclusive, mudanças importantíssimas na pro-
dução em grande escala. Mas a segurança ali-
É preciso enxergar o sistema alimentar sob mentar da maior parte dos pobres do mundo
uma nova óptica, conservando os elementos depende dos mercados locais. Portanto, os pe-
sustentáveis, equitativos e resilientes e ajustando quenos produtores de alimentos dos países em
os demais pontos. Em vez de se concentrar em desenvolvimento são imprescindíveis para ga-
“arranjos tecnológicos”, como emprego de rantir a segurança alimentar dos pobres por meio
agroquímicos, é preciso adotar uma aborda- de abordagens agrícolas sustentáveis, equitativas
gem ecológica em relação aos sistemas agríco- e resilientes. Para atingir o nível necessário de
las nos campos da ciência e da tecnologia, das mudança é absolutamente urgente ampliar os in-
políticas, das instituições, do desenvolvimento vestimentos na produção de alimentos em pe-
de capacitação e do investimento. Existe um quena escala, tanto em termos de quantidade
enorme potencial para técnicas agrícolas agroe- como de qualidade: segundo estimativas, são
cológicas que utilizam poucos insumos para necessários mais US$50 bilhões em investimen-
aumentar a produção, melhorar a fertilidade tos públicos para eliminar a fome até 2025.10
do solo, conservar os recursos naturais e redu- Quase dois bilhões de pessoas são alimen-
zir a dependência de insumos caros. Vários tadas pela produção dos 500 milhões de pe-
órgãos especializados e estudos analisaram as quenas propriedades agrícolas nos países em
evidências do sucesso dessas abordagens e desenvolvimento. No entanto, são esses mes-
passaram a defendê-las. Por exemplo, estudos mos pequenos produtores que mais sofrem
sobre o Sistema de Intensificação de Arroz, de insegurança alimentar. Na verdade, cerca de
80% das pessoas famintas vivem em
áreas rurais. Os pequenos produtores
de alimentos têm espaço considerável
para aumentar a produção, o que po-
deria reforçar a segurança alimentar de
suas comunidades. A menor produtivi-
dade das pequenas propriedades agrí-
colas nos países pobres deve-se, em
grande parte, à disparidade no acesso a
mercados, terras, recursos financeiros,
infraestrutura e tecnologias, e não à
ineficiência. O investimento em abor-
dagens que tentem acabar com a desi-
Jim Holmes

gualdade de acesso entre pequenos e


grandes agricultores fará crescer a pro-
Instrutor de Sistema de Intensificação de Arroz (SIA) no dução do agricultor familiar, elevando,
Camboja ensina agricultor a puxar as plântulas do arroz sem assim, a sua renda e gerando um cres-
danificar suas raízes. cimento agrícola mais inclusivo.11

172 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Cultivar um Futuro Sustentável

Além de aumento de produtividade,


o apoio aos pequenos produtores de
alimentos pode gerar sustentabilidade e
resiliência aos choques climáticos.
Quando conseguem produzir mais ali-
mentos recorrendo a técnicas que pre-
servam melhor o meio ambiente, os
pequenos agricultores ficam menos vul-
neráveis a futuros choques climáticos e
econômicos. No nordeste da Tailândia,
por exemplo, os produtores de arroz

Abir Abdullah
jasmine estão se adaptando para en-
frentar o aumento previsto da seca em
decorrência das mudanças climáticas,
desenvolvendo maneiras inovadoras de O leite desta escola do Sri Lanka é fornecido pela
usar os recursos hídricos para aumentar cooperativa de laticínios, apoiada pela Oxfam, localizada
suas produções. O investimento para nas proximidades da escola.
ajudar esses produtores a divulgar suas
inovações também aumentou a resiliência de mais possibilidades. Muitos dos pequenos pro-
muitos de seus vizinhos.12 dutores de alimentos e trabalhadores rurais
No nível macroeconômico, a história mos- são mulheres. Em algumas regiões da África, as
tra que o investimento em agricultura pode ter mulheres são responsáveis por 60% da colheita
um grande impacto na redução da pobreza, e das atividades de comercialização, 80% do ar-
não apenas devido à importância da agricultura mazenamento e transporte, 90% do trabalho
para a segurança alimentar, mas também por- de enxada e capina e 100% do processamento
que a economia dos países em desenvolvi- de alimentos básicos. No entanto, desigualda-
mento tem uma forte dependência do setor des de gênero e vieses persistentes em crenças,
agrícola. Portanto, a agricultura pode forne- políticas e práticas geram grandes injustiças. As
cer a maior “centelha de crescimento" para os agricultoras são quase sempre excluídas das
países em desenvolvimento. De fato, o cresci- tomadas de decisão e, geralmente, não têm
mento proveniente do setor agrícola, sobre- acesso à terra, aos recursos hídricos, ao crédito,
tudo da produção em pequena escala, tem o às informações e aos serviços de extensão ru-
dobro do efeito sobre os mais pobres do que ral. Na verdade, as mulheres recebem apenas
o crescimento de outros setores. As rotas de 7% da ajuda total à agricultura, à silvicultura e
desenvolvimento trilhadas por muitos países ri- à pesca. De acordo com a Organização das
cos de hoje revelam vários exemplos e mode- Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
los de investimento na agricultura.13 (FAO), se as mulheres tivessem o mesmo
acesso que os homens, sua produção agrícola
aumentaria de 20% a 30% e a fome mundial se-
A Importância de Eliminar as ria reduzida em 12% a 17%. Além disso, estu-
Desigualdades de Gênero dos revelaram que, quando as mulheres têm o
controle da renda familiar, é mais provável
Quando se usa uma “lente de gênero”, ou que o dinheiro seja gasto para melhorar a ali-
seja, incorpora-se uma perspectiva de gênero mentação da família e a nutrição, a educação
ao investimento na agricultura familiar, surgem e o bem-estar geral dos filhos.14

173
Como Cultivar um Futuro Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

No Sri Lanka, a Oxfam trabalhou com o Grande parte dessa terra já “pertence” a pe-
governo no sentido de criar cooperativas de la- quenos agricultores. Porém, a propriedade da
ticínios com mais de 1.500 agricultoras que terra muitas vezes envolve discrepâncias entre
coletam, processam, comercializam e distri- direitos e costumes – e os pequenos agricul-
buem produtos derivados do leite. A produção tores geralmente não são proprietários da
de leite por vaca quadruplicou, elevando sig- terra.
nificativamente a renda das mulheres. Além São necessários padrões internacionais para
disso, as mulheres não apenas conseguiram boa governança da propriedade da terra e da
mais acesso ao crédito rural como também in- gestão dos recursos naturais. Esses padrões
fluenciaram o governo a fornecer serviços ve- devem incluir respeito e proteção aos direitos
terinários e planos de seguro e pensão, bem existentes de uso da terra e verificação se os de-
como a comprar o leite das cooperativas para tentores dos direitos deram seu consentimento
distribuir nas escolas locais.15 livre e esclarecido antes que as transações de
A igualdade de gênero em casa e no âmbito terra fossem endossadas. Os governos devem
da comunidade também pode ser promovida analisar a possibilidade de suspender a trans-
por meio do trabalho agrícola das mulheres. ferência dos direitos de propriedade até que es-
Pesquisas realizadas no Mali, na Tanzânia e na ses padrões sejam estabelecidos e fiscalizados.
Etiópia revelaram que a participação de agri- Os investidores também devem ser responsá-
cultoras familiares em ações coletivas de dife- veis pelos direitos existentes, e respeitá-los,
rentes subsetores agrícolas lhes dá acesso a in- evitando transferências de direitos (inclusive
sumos e mercados, ajudando-as a vencer aqueles sobre propriedade costumeira da terra)
barreiras sociais mais amplas e a melhorar o seu dos pequenos agricultores – estes podem, al-
status social, em parte devido à sua maior con- ternativamente, ser contratados nos termos
tribuição para a renda familiar. Os resultados de contratos justos. Além disso, outros ele-
abrangem melhor posição na família, maior mentos da cadeia de valor – como financiado-
poder de tomada de decisão e maior respeito res de empreendimentos agrícolas, comer-
dos maridos por suas opiniões.16 ciantes e processadores – devem assumir a
responsabilidade pelas ações em seus setores.
Embora os direitos à terra e à água muitas
Necessidade de Mais Acesso vezes estejam vinculados, o acesso aos recursos
hídricos é essencial. Para aumentar a produ-
A necessidade de maiores investimentos ção das propriedades agrícolas existentes, duas
para a agricultura familiar se resume a maior soluções são imprescindíveis: irrigação ou
acesso – acesso aos recursos naturais, aos co- maior umidade do solo obtida com o em-
nhecimentos e às informações, aos serviços de prego de medidas de conservação do solo e da
financiamento, ao crédito, aos processos de água. As pressões sobre o solo e a água podem
formulação de políticas e aos serviços rurais ser reduzidas por meio de práticas que esti-
básicos. O mais importante para os pequenos mulem a produção, façam uso mais racional do
agricultores é o acesso à terra e aos recursos hí- solo e da água e reduzam a dependência de in-
dricos, porém isso está ficando cada vez mais sumos – como sistema de plantio direto ou se-
difícil. Em muitos casos, como já mencionado, midireto, sistema de agrofloresta, cultivo con-
os governos dos países em desenvolvimento sorciado e utilização de adubos orgânicos.
estão praticamente dando terra de graça em Sistemas de irrigação adequados e de baixo
resposta à maior demanda das economias in- custo também são utilíssimos para aumento da
dustrializadas e em rápido crescimento. produtividade com pequenas quantidades de

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Cultivar um Futuro Sustentável

água e para a obtenção de colheitas na entres- dos agricultores é maior em interação prática
safra, quando o preço é mais elevado. com outros agricultores e peritos em extensão
Uma gestão integrada dos recursos hídricos rural capacitados para transmitir novas técnicas.
(GIRH) pode ajudar as comunidades a man- O treinamento entre os próprios agricultores
ter o uso da água dentro dos limites ecológi- promovido pela Oxfam em Honduras aumen-
cos. Por exemplo, a Oxfam, e seu parceiro lo- tou o uso de práticas de compostagem e cons-
cal na Nigéria, a Karkara, vem trabalhando trução de barreiras vivas ao longo das parcelas
com comunidades rurais desde 2009 para fa- cultivadas, o que estimula os agricultores a
zer irrigação durante a estiagem por meio de abandonar a queima de resíduos agrícolas em
GIRH, em um esforço para salvaguardar a se- seus campos, eleva os teores de nutrientes do
gurança alimentar e melhorar a saúde da po- solo e gera renda adicional.18
pulação. O monitoramento comunitário deu Infelizmente, junto com o declínio geral
às comunidades uma perspectiva de longo do apoio ao desenvolvimento da agricultura ao
prazo e permitiu que grupos de usuários de longo das últimas décadas, os serviços de ex-
água tomassem decisões sobre captação e uso tensão rural foram reduzidos de modo signi-
diário de água. Monitoramento hidrológico e ficativo. No entanto, muitos países europeus,
treinamento também estimularam a partici- os Estados Unidos e o Japão devem muito dos
pação de governos locais e de autoridades que seus ganhos de produtividade agrícola aos pe-
controlam a água, fornecendo uma vantajosa ríodos de ênfase em sólidos serviços de exten-
plataforma de suporte externo de longo prazo são rural. Por exemplo, durante seu período de
para as comunidades.17 maior crescimento, o Japão tinha um exten-
Embora o acesso aos recursos seja impor- sionista para cada aldeia (cerca de 100 famí-
tantíssimo, conhecimentos e informações – lias). É essencial que essas redes sejam resta-
por exemplo, sobre práticas apropriadas, con- belecidas e que sejam capazes de treinar os
dições climáticas e definição de preços – po- pequenos agricultores em novas técnicas
dem elevar a produtividade e a sustentabili- agroecológicas. Esses modernos serviços de
dade da produção. Os conhecimentos e as extensão rural também precisam restabelecer a
experiências locais dos pequenos produtores ligação entre pesquisas e extensão rural, que
de alimentos são inestimáveis no manejo da va- diminuiu com a redução do financiamento.19
riação climática e das condições específicas da A área de pesquisa e desenvolvimento
sua região. Porém, eles não têm acesso a ou- (P&D) em todo o mundo tem sido domi-
tras formas de conhecimento que poderiam nada por grandes empresas que se concen-
ajudá-los a aumentar a produtividade, a sus- tram em tecnologias voltadas para pacotes de
tentabilidade e a resiliência de suas proprieda- produtos, como o herbicida Roundup e a soja
des rurais. geneticamente modificada, a Round up Ready,
Práticas agroecológicas requerem bastante da Monsanto para grandes fazendas industria-
conhecimento, o que leva à inevitável pergunta: lizadas, e desconsideram práticas não tão ven-
como e para quem as informações são transmi- dáveis, mas que podem aumentar a produção
tidas? Já existem iniciativas inovadoras para o dos pequenos agricultores a custos menores.
uso de tecnologias da informação – como di- A área de P&D também está organizada para
vulgação de preços de safras pelo rádio e de in- a transferência de tecnologia, em grande parte
formações climáticas por meio de mensagens de de cientistas de países ricos para grandes agri-
texto para celulares – a fim de preencher algu- cultores (a maioria homens) de países em de-
mas das lacunas referentes à transferência de in- senvolvimento. Embora o principal objetivo
formações. Mas isso não basta. O aprendizado seja a mitigação da pobreza, essa abordagem

175
Como Cultivar um Futuro Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

pode ter impactos negativos. Enquanto isso, agricultores estão interagindo com cadeias
inovações extraordinárias de pequenos agri- competitivas do mercado global. Organiza-
cultores dos países em desenvolvimento de ções de produtores podem ajudar os pequenos
modo geral têm sido ignoradas pela comuni- agricultores de várias maneiras:
dade mais ampla envolvida com desenvolvi- • economias de escala para reduzir os cus-
mento. Ainda que a pesquisa participativa te- tos de transação para os compradores
nha começado a crescer, a área de P&D global e tornar mais atraente o trabalho junto a
deve ser reformada de modo a se concentrar pequenos agricultores,
em tecnologias de práticas, abordagens basea- • maior poder de negociação,
das no gênero, em enfoques agroecológicos e • maior acesso aos serviços agrícolas e
em diversos recursos genéticos, inclusive im- • voz política mais forte.
portantes alimentos básicos que não são co- Uma organização de produtores em Mali,
mercializados em todo o mundo. Inovação e por exemplo, ajudou pequenos produtores de
adaptação são processos interativos que devem algodão a superar o problema dos preços em
ser feitos em conjunto com pequenos produ- queda e da maior privatização, inclusive da
tores e usando suas redes sociais para a trans- empresa estatal de algodão, que deixou de
ferência de informações.20 oferecer os insumos e os serviços de treina-
Os pequenos agricultores, principalmente as mento. A organização de produtores passou a
mulheres, também têm dificuldade de ter oferecer aos seus membros os serviços que o
acesso aos mercados devido à infraestrutura governo tinha deixado de fornecer, ajudou-os
deficiente e à relutância do setor privado em a fazer parcerias com instituições de financia-
atender às suas necessidades distintas. No en- mento e aumentou a participação de mulheres
tanto, diversas abordagens em curso podem em cooperativas algodoeiras.22
ajudar os pequenos agricultores a ter acessos Infelizmente, às vezes, as organizações de
aos mercados. No mínimo, os agricultores produtores lutam para ser reconhecidas pelos
precisam de informações sobre preços, me- governos. Por exemplo, não existe uma lei na
lhor infraestrutura de transportes para que Armênia para definir e regulamentar uma coo-
possam chegar aos mercados e infraestrutura perativa, o que impossibilita sua constituição.
de armazenagem que lhes permita estocar suas Uma mudança na legislação para reconhecer as
safras e vender quando os preços estiverem al- organizações de produtores permitirá que os
tos. Em Amhara, região da Etiópia, uma coa- pequenos produtores tenham acesso aos mer-
lizão de parceiros facilitadores desenvolveu a cados e voz política. Na Indonésia, as autori-
cadeia de valor do mel fornecendo aos produ- dades locais da Papua Ocidental alocaram re-
tores (sobretudo mulheres e agricultores sem- cursos para o setor de baunilha depois de serem
terra) insumos tecnológicos e serviços de ex- convencidas por agricultores organizados do
tensão rural, ajudando-os a organizar sua potencial desse mercado para o desenvolvi-
produção e criando um ambiente político mento econômico e a redução da pobreza.
apropriado. Agricultores que antes produziam Além disso, muitos programas da Oxfam pro-
pequenas quantidades de mel de baixa quali- moveram o acesso de pequenos produtores aos
dade quadruplicaram sua produção e hoje ex- mercados, fazendo a ponte entre organizações
portam mel orgânico certificado para os mer- de produtores e o setor privado. No Sri Lanka,
cados internacionais.21 o trabalho da Oxfam com a empresa Plenty
A união de pequenos agricultores pode ser Food para integrar 1.500 agricultores à sua ca-
decisiva para a sua sobrevivência, principal- deia de fornecimento proporcionou maior
mente se levarmos em conta que os grandes acesso dos pequenos produtores à terra, ao cré-

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Cultivar um Futuro Sustentável

dito, ao suporte técnico e aos mercados, ele- e as mulheres, ter acesso a serviços financeiros,
vando, assim, a renda desses agricultores. Nessa até mesmo microcrédito. Por exemplo, as agri-
situação em que todos saem ganhando, a em- cultoras recebem apenas 10% dos empréstimos
presa registrou um crescimento de 30% em um oferecidos aos pequenos agricultores e menos
período de quatro anos.23 de 1% do total do crédito agrícola. Para vencer
Além de acesso aos mercados, os pequenos esses obstáculos, a Oxfam está apoiando Asso-
agricultores precisam ter acesso aos serviços fi- ciações de Poupança e Crédito Rotativos para
nanceiros para gerir riscos e investir em suas mulheres no oeste da África, leste da Ásia e
propriedades. Ao contrário dos grandes pro- América Central. Essas associações estão ob-
dutores, os pequenos agricultores não têm a tendo muito sucesso em replicabilidade de
rede de segurança necessária para correr riscos baixo custo, estabelecimento de confiança e
com novas tecnologias ou práticas, pois isso criação de novas oportunidades.25
pode fazer a diferença entre alimentar suas fa-
mílias e passar fome. Mais informações e da-
Seguindo Adiante
dos sobre condições climáticas, infraestrutura
de armazenamento e acesso a seguros são ma-
neiras de ajudar os pequenos agricultores a Sem intervenção governamental para guiar
gerir os riscos e investir em suas propriedades. um processo de transição mais rápido, os mer-
Instrumentos financeiros como seguro agrí- cados e os interesses pessoais que os regem não
cola contra intempéries podem proteger esses nos conduzirão a um futuro com agricultura
agricultores em caso de perdas de receita e de sustentável. São necessários comprometimen-
safra. Esses tipos de apólices de seguro tam- tos e estruturas globais claros, associados com
bém podem estar combinados a crédito e in- políticas regionais e nacionais eficazes.
sumos, como sementes de melhor qualidade e Porém, não existe um modelo perfeito de
transferência de dinheiro para os trabalhado- agricultura sustentável para o mundo todo.
res. Em Tigray, Etiópia, a Oxfam conduziu a Cada zona agroecológica e cada situação geo-
Iniciativa para Resiliência Rural, que tinha política requerem políticas um tanto diferen-
quatro objetivos: redução de riscos decorren- tes para criar um ambiente em que os peque-
tes de mudanças climáticas, por meio de me- nos produtores de alimentos possam aumentar
lhor gerenciamento de recursos; acesso ao cré- a sua renda e, ao mesmo tempo, preservar os
dito; constituição de uma poupança que serviços ambientais. É preciso encontrar solu-
garantisse proteção nos períodos difíceis; e se- ções apropriadas por meio de análises de sub-
guro contra prejuízos causados por intempé- sistência, meio ambiente e políticas específicas
ries – este oferecido por empresas locais para a cada contexto. No entanto, existem alguns
garantir até mesmo aos agricultores mais mar- princípios básicos e papéis das partes interes-
ginalizados alguma renda em caso de perda da sadas que devem integrar qualquer plano para
safra por condições climáticas adversas. Os a agricultura e a segurança alimentar a fim de
agricultores mais pobres pagam o prêmio do garantir que os direitos dos pequenos produ-
seguro com trabalho para projetos comunitá- tores sejam mantidos e a sustentabilidade am-
rios, como plantio de árvores, compostagem e biental seja levada em conta. Há várias abor-
sistemas de irrigação. Nos primeiros três anos dagens práticas, embora estejam ainda
do programa, o número de famílias seguradas dispersas e operem em uma escala relativa-
subiu de 200 para 13.000.24 mente pequena. Essas abordagens precisam
Ainda é dificílimo para os pequenos agricul- ser aperfeiçoadas por meio de esforços locais,
tores, sobretudo os grupos mais marginalizados nacionais e globais.

177
Como Cultivar um Futuro Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

Talvez os maiores investimentos na produ- Os participantes do setor privado devem de-


ção de alimentos sejam feitos pelos próprios senvolver e seguir princípios equitativos de par-
produtores, mas para que eles possam preen- ceria e engajamento que integrem pequenos
cher as grandes lacunas atuais, devem ser res- produtores em cadeias de valor com termos
paldados e complementados por investimentos justos, que compartilhem e administrem os ris-
provenientes de governos nacionais, de insti- cos associados à agricultura, que implementem
tuições internacionais de pesquisa, do setor práticas inclusivas para acesso ao crédito e ao su-
privado e de governos doadores. porte técnico com o intuito de eliminar os prin-
Os governos dos países em desenvolvimento cipais obstáculos dos pequenos produtores, e
devem priorizar os investimentos em serviços que garantam que os investimentos contribuam
públicos importantes, como capacitação, infra- para a segurança alimentar das famílias, das co-
estrutura e sistemas de pesquisa. Merecem es- munidades e dos países. Além disso, devem ga-
pecial relevância os investimentos de vulto em rantir que suas ações e seus investimentos pro-
serviços de extensão rural participativos, volta- tejam e restaurem os recursos naturais.
dos aos pequenos produtores, com o intuito de Os doadores devem reafirmar o seu grande
melhorar a transferência de conhecimentos (in- empenho em cumprir o compromisso assu-
clusive conhecimentos tradicionais), sobretudo mido em 2009 de investir US$20 bilhões ao
sobre gestão dos recursos naturais. Além disso, longo de três anos para eliminar a insegurança
o aumento da segurança alimentar exigirá gas- alimentar nos países em desenvolvimento.
tos públicos em educação básica e serviços so- Esse compromisso deve ser avaliado, divul-
ciais destinados a suprir as necessidades das mu- gado e comparado com os dados sobre po-
lheres. É preciso dar atenção especial à prestação breza, segurança alimentar e nutrição. Além
de serviço em áreas marginais onde os peque- disso, os doadores devem coordenar e apoiar
nos produtores de alimentos são mais vulnerá- os planos dos próprios países, bem como
veis a choques e desastres relacionados com in- alinhar-se a eles. Os investimentos devem ser
tempéries e onde enfrentam degradação do previsíveis, transparentes, desvinculados, ca-
solo e escassez de água. nalizados e, quando apropriado, devem fazer
As instituições internacionais de pesquisa de- parte da previsão orçamentária. Além do
vem incorporar as inovações dos pequenos pro- termo de compromisso de três anos, é neces-
dutores como insumos essenciais a um pro- sário forjar uma nova estrutura multilateral de
cesso de pesquisa interativo e inclusivo. Além segurança alimentar cujo enfoque principal
disso, devem identificar, apoiar e utilizar redes sejam planos regionais e nacionais desenvolvi-
de agricultores para aumentar a captação de dos de maneira transparente e inclusiva e apoio
tecnologias e práticas apropriadas. As atividades às ações específicas mencionadas há pouco.26
de pesquisa e desenvolvimento devem focalizar Com esse posicionamento que privilegia
o desenvolvimento de tecnologias de práticas mais e melhores investimentos na produção de
em vez de produtos e os enfoques agroecoló- pequena escala, na aplicação de uma “lente de
gicos que enfatizem a sustentabilidade am- gênero” aos investimentos e na solução dos
biental e a diversidade de recursos genéticos, problemas de acesso, juntamente com a ado-
bem como as abordagens adaptadas às necessi- ção de uma postura mais agroecológica em re-
dades e aos obstáculos específicos das produ- lação à agricultura, por certo poderemos de-
toras rurais. O campo de P&D deve também senvolver um sistema de alimentos que garanta
ajudar os pequenos produtores de alimentos a segurança alimentar e mantenha a diversidade
se adaptarem às mudanças climáticas. ecossistêmica.

178 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Segurança Alimentar e Justiça em um Mundo com Limitações Climáticas

CAPÍTULO 14

Segurança Alimentar e Justiça em um


Mundo com Limitações Climáticas
Mia MacDonald

Como ilustrado por esses exemplos acima,

E
m agosto de 2011, o primeiro posto
avançado da rede americana de fast-food nas últimas décadas uma “revolução pecuária”
KFC, famosa pelo frango frito, foi inau- propagou-se pela Ásia, pela América Latina e,
gurado em Nairóbi, e centenas de quenianos em menor escala, pela África. Até bem pouco
aguardaram em fila para poder entrar. A KFC tempo, a história humana registrava que o con-
só conseguiu entrar nesse mercado, dizem sumo de carne era limitado à elite mais rica. A
seus executivos, depois de solucionar proble- maioria das pessoas comia carne apenas em
mas na rede de suprimentos. O frango da KFC ocasiões especiais, dado que os animais – vaca,
é proveniente de Kenchic, um grande produ- carneiro, cabra, porco, frango e outros – ti-
tor nacional que conta com galpões avícolas nham mais valor vivos do que abatidos. Porém,
industrializados, em Mlolongo, não muito dis- nos últimos 60 anos, mudanças de vulto na
tante do centro da cidade de Nairóbi.1 produção agrícola dos países industrializados,
Em Xangai, durante um debate sobre pe- inclusive o uso de grandes instalações seme-
cuária e mudanças climáticas, um professor lhantes a fábricas e usadas para confinamento
observou que “Trata-se de um sistema eco- de animais, propiciaram maior oferta e preços
nômico capitalista e global. Precisamos [ado- mais baixos de carne, laticínios e ovos.
tar o modelo de produção intensiva de carne]. Atualmente, nos países em desenvolvimento,
Se não o fizermos, todos sairão perdendo”.2 sobretudo em suas cidades, os produtos de ori-
Na Índia, país que ainda tem o maior nú- gem animal passaram a ser parte integrante das
mero de vegetarianos do mundo (embora refeições diárias de um número cada vez maior
atualmente, os omnívoros constituam a maio- de pessoas. O consumo de carne hoje em dia
ria), o recém-criado Conselho Nacional de muitas vezes adquire o sentido de prosperi-
Processamento de Carne e Aves declarou em dade, independência ou modernidade em um
seu site: “Com as mudanças na indústria pe- mundo onde o ocidente dita o padrão de con-
cuária, a Índia tenta tornar-se uma presença de sumo internacional. Os residentes de regiões in-
peso no mercado global de carne”.3 dustrializadas ainda comem muito mais carne

Mia MacDonald é diretora executiva do Brighter Green, organização sem fins lucrativos com sede na
cidade de Nova York e que atua na área de políticas públicas em meio ambiente, defesa dos animais e
sustentabilidade, e pesquisadora sênior no Worldwatch Institute.

179
Segurança Alimentar e Justiça em um Mundo com Limitações Climáticas ESTADO DO MUNDO 2012

do que as pessoas dos países em desenvolvi- ainda pasta por alguns meses, mas na maior
mento: em média, 80 quilos e 32 quilos anuais, parte de sua vida estará confinado em am-
respectivamente. No entanto, essa distância está bientes sujos, aguardando o “acabamento”.
diminuendo e, agora, mais da metade da pro- Os animais domésticos estão sendo criados
dução e do consumo de carne no mundo em sistemas industriais e intensivos para ga-
ocorre nas regiões em desenvolvimento.4 rantir grandes quantidades de carne, leite ou
Desde a década de 1970 a produção mundial ovos e para acelerar seu crescimento – feito à
de carne praticamente triplicou e, desde 2000, base de ração, quase sempre milho ou soja,
houve aumento de 20%. Ano a ano, mais de 60 embora antibióticos e hormônios do cresci-
bilhões de animais terrestres são usados na pro- mento também possam estar presentes. Um
dução de carne, ovos e laticínios no mundo suíno criado em sistema industrial está pronto
todo e, se esta atual tendência persistir, em para o abate em seis meses e o frango comum,
2050 a população global de gado pode ultra- em seis semanas. As instalações para criação in-
passar 100 bilhões, mais do décuplo da popu- tensiva de suínos e aves são as que se expan-
lação humana prevista para o mesmo ano.5 dem com maior velocidade no mundo todo.

Dentro da Escuridão

Houve um tempo em que a produ-


ção de frango na Índia era doméstica e
as aves eram criadas em pequeno nú-
mero por avicultores individuais, mui-
tos dos quais mulheres. Hoje, 90% dos
mais de 2 bilhões de frangos na Índia
que chegam ao mercado a cada ano são
provenientes de criadouros industriais.
Na realidade, apesar de a Índia ser
Wan Park

onde o vegetarianismo ético tem uma


longa história, o país é hoje o quinto
Instalações para a criação intensiva de frango de corte em maior produtor mundial de carne de
Nova Déli, Índia frango e, em 2010, registrou o cresci-
mento mais rápido nesse mercado, ul-
A produção de rebanhos e aves em escala trapassando Brasil, China, Estados Unidos,
industrial permite a criação de um grande nú- União Europeia e Tailândia.6
mero de animais. Porém, as instalações utili- Os defensores da criação intensiva de animais
zadas estão mais para fábrica do que para fa- argumentam que essa forma de produção é ne-
zenda. Os animais, às centenas, milhares, ou cessária para alimentar a população mundial.
mesmo dezenas de milhares no caso de gali- Porém, um número crescente de críticos, dentro
náceos, são confinados em pequenos cercados, da sociedade civil e de órgãos formuladores de
gaiolas, baias ou galpões em alpendres fecha- políticas na Europa, nos Estados Unidos, nas Na-
dos, e ficam, portanto, alijados quase que por ções Unidas e em países que agora atravessam
completo do contato com a terra: deixam de uma revolução pecuária, sustenta o contrário, isto
ter acesso a pasto, restos de colheita, ar puro é, que esse modelo traz o risco de criar piores
e luz do sol. O gado bovino criado para corte condições ecológicas e climáticas, maior inse-

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gurança alimentar e condições de saúde precárias, dura. Se não tiver carne, não me sinto satisfeito,
sem que se possa reparar esses males. mas se não tiver verdura, tudo bem”, diz Guo
Um estudo plurianual conduzido pela Co- Meng, estudante em Pequim. Meng não está
missão Pew sobre Produção Intensiva de Ani- sozinho. Muita gente da classe média chinesa
mais concluiu que as instalações para criação consome carne diariamente e, às vezes, em to-
em confinamento nos Estados Unidos “pro- das as refeições. O percentual de energia obtida
duziram uma série de efeitos ambientais noci- a partir de gordura (tanto de fontes animais
vos à água, ao ar, ao solo e aos recursos natu- quanto de vegetais, inclusive óleos) na dieta
rais locais e regionais. Esses efeitos impõem chinesa típica aumentou 10% entre 1996 e
custos sobre a sociedade como um todo e eles 2006. Em 2006, cerca de 60 milhões de chi-
não são “internalizados” no preço de varejo neses estavam obesos, de acordo com o Comitê
dos produtos derivados de carne, frango, leite Consultivo Estatal sobre Alimentos e Nutri-
ou ovos. Os volumes de adubo são tão altos ção. Doenças crônicas associadas à alimentação
que os métodos tradicionais para eliminação são hoje a principal causa de óbitos na China.9
de resíduos da terra muitas vezes não são fac- A maior ingestão de produtos de origem ani-
tíveis e trazem também riscos ambientais, pois mal, além de mais açúcares, sal e alimentos in-
o excesso de nutrientes em adubo contamina dustrializados e/ou fritos, é apenas uma das
os recursos existentes nas camadas superficiais consequências da rápida globalização dos hábi-
do solo e as águas subterrâneas.”7 tos alimentares ocidentais. Essas mudanças, mais
Realidades semelhantes começam também a frequentes nas populações urbanas dos países em
ser vistas nas economias que estão hoje em desenvolvimento, significam também que as
franca expansão. Na China, por exemplo, “o pessoas estão consumindo menos verduras, le-
dejeto de aves e animais domésticos tornou-se gumes, frutas e grãos integrais. Tais alterações
uma grande fonte de poluição ambiental”, de nas dietas, descritas pelo Dr. Frank Hu da Fa-
acordo com Wu Weixiang, professor-adjunto da culdade de Saúde Pública de Harvard como “a
Faculdade de Agricultura da Universidade de mais rápida e drástica no curso da história da hu-
Zhejiang. Estudos realizados por Xu Cheng, ti- manidade”, somadas a estilos de vida cada vez
tular da Universidade de Agricultura da China, mais sedentários, trazem preocupação crescente
concluíram que a atividade pecuária nesse país sobre a incidência progressiva de doenças não
produz 2,7 bilhões de adubo por ano, quase transmissíveis em todo o mundo.10
três vezes e meia a quantidade de resíduos só- Na Índia, as taxas de obesidade, diabetes e
lidos industriais. Das 20.000 operações pecuá- doenças coronárias crescem a passos rápidos, o
rias de grande e médio porte que Xu avaliou te- que pode agravar as desigualdades sociais, pois
rem existido na China em 2007, apenas 3% o sistema de saúde enfrenta dificuldades para
dispunham de instalações que tratavam dos de- tratar de outros problemas, como desnutrição,
jetos animais. Além disso, a rápida expansão de mortalidade infantil e materna, tuberculose e
pesca predatória também está criando proble- HIV/AIDS. De acordo com a International
mas ambientais. (Ver quadro 14–1.)8 Diabetes Foundation, perto de 50 milhões de
hindus têm diabetes, e a previsão é de 87 mi-
lhões de casos em 2050. Segundo cálculos da
Alimentar Pessoas ou Economist Intelligence Unit, unidade de ne-
Alimentar Animais? gócios do grupo The Economist, a Índia pagou
o preço mais alto entre todos os países no que
“De manhã, como linguiça, no almoço e no se refere a diabetes: 2,1% do PIB anual, so-
jantar, um prato à base de carne e outro de ver- mados atendimento médico formal e perda

181
Segurança Alimentar e Justiça em um Mundo com Limitações Climáticas ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 14–1. Custos e Benefícios da Aquicultura

Durante a década de 1970, o total da graves impactos ambientais: degradação


produção de aquicultura no mundo todo não física de hábitats em águas continentais e
passava de 5 milhões de toneladas, apenas marinhas, em consequência do
4% do cultivo de peixes. No entanto, em empobrecimento do solo; conversão de
2009 atingira 55,1 milhões de toneladas, manguezais em áreas para outras finalidades;
equivalente a 38% do total de todos os destruição de áreas pantanosas; salinização
cultivos. A rápida expansão da aquicultura de provisões agrícolas e de água potável; e
veio atender à insuficiência no mercado global subsidência (afundamento abrupto ou
de pesca artesanal, cujo ápice registrara cerca gradativo da superfície terrestre) resultante
de 90 milhões de toneladas, em meados dos de captação de águas subterrâneas.
anos1990. Embora apresente alguns A intensificação da pesca contribui para a
benefícios, em particular nos países em eutrofização – processo de degradação dos
desenvolvimento, pois garante trabalho o ano corpos de água resultante da descarga de
todo, fornece fontes importantes de proteína animais não usados, excreções de peixes e
e contribui com a economia nacional, a produtos químicos nos sistemas aquáticos.
aquicultura também traz alguns sérios Para cada tonelada de pescado, as operações
problemas ecológicos colaterais. de aquicultura produzem entre 42 e 66 quilos
De acordo com a Organização das Nações de resíduos contendo nitrogênio e entre 7,2 e
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 10,5 quilos de resíduos contendo fósforo.
o mundo precisará produzir entre 40 e 60 O Lago Taihu, terceiro maior lago de água
milhões de toneladas a mais de pescado por doce na China, tem superfície total de 2.338
ano até 2020 apenas para manter o consumo metros quadrados e é usado para aquicultura.
de peixe por pessoa nos níveis atuais, de 17 No entanto, poucos anos depois de iniciado o
quilos por ano. Isso representa 19% a mais do cultivo, o fitoplâncton e o teor de nutrientes
que a produção de 2009, e grande parte deste aumentaram em decorrência de diversos
aumento, 85%, deverá vir da aquicultura. fatores, e a eutrofização resultante causou
Aproximadamente 60% dos pescadores do um déficit de oxigênio nos sedimentos
mundo todo são pequenos comerciantes ou superficiais.
pessoas praticando atividades de Segundo a FAO, uma abordagem ecológica
subsistência, sobretudos nos países em é fundamental para o manejo ambiental
desenvolvimento, o que pode contribuir de eficiente e uso sustentável dos recursos nos
modo expressivo com a segurança alimentar e viveiros de peixe. Na Tailândia, principal
diminuição da pobreza nessas nações. exportador de produtos pesqueiros desde
Contudo, diante das novas tendências, o 1993, os órgãos de regulamentação já
trabalho de pesca artesanal está estagnando prestam maior atenção ao manejo sustentável
ou declinando no mundo todo, enquanto o das áreas de pesca. O cultivo de camarão em
emprego no setor de aquicultura, perto de 11 manguezais está atualmente restrito a áreas
milhões de pessoas em 2008, registra demarcadas e exige licença do Departamento
crescimento impressionante. A atividade de Silvicultura – agência que controla os
pesqueira na China foi a que mais se manguezais – e os regulamentos vêm sendo
expandiu: 189% entre 1990 e 2008. aplicados ao tratamento de viveiros e água.
A pressão por maior competitividade e —Trine S. Jensen e Eirini Glyki
agilidade na reação às forças de mercado Worldwatch Institute Europe
intensificou a aquicultura, resultando em Fonte: Ver nota 8 no final.

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de produtividade. Contudo, mesmo havendo 90% da farinha é usada para produção de ração
um número maior de hindus consumindo cada para animais. A China compra hoje mais da
vez mais produtos da cadeia alimentar, às ve- metade da soja comercializada no mercado
zes com resultados indesejáveis na saúde, a internacional, e sua demanda crescente pelo
desnutrição continua a existir reiterada e per- grão está sendo atendida, em grande parte,
sistentemente – 40% das crianças na Índia pelo aumento de áreas cultivo no Brasil (Ver
abaixo de cinco anos são desnutridas.11 Quadro 14–2), que, aliás, vende mais de 40%
A equidade em termos de uso de recursos de sua soja para a China.15
naturais também deve ser levada em considera- A escassez de terras para expansão agrícola
ção. Embora a pecuária intensiva possa dar a im- também fez com que agricultores da Índia fir-
pressão de necessitar de menos terra, dado que massem contratos de arrendamento de longo
os animais são mantidos em confinamento e, prazo ou comprassem terras em outros países.
portanto, sem que haja desmatamento e erosão O setor de agronegócios indiano formalizou
do solo nesses terrenos, a enorme quantidade contratos no Quênia, em Madagascar, em Mo-
de ração necessária para a engorda só poderá ser çambique, no Senegal e na Etiópia para aí
obtida com o uso de outras terras. O atual sis- plantar arroz, cana-de-açúcar, palma, lentilha,
tema de produção de alimentos “poderia ali- milho (este, para ração), verduras e legumes e
mentar 8 bilhões [de pessoas], talvez até mesmo exportá-los de volta para a Índia.16
9 bilhões”, diz Michael Herrmann, assessor do Nos últimos anos, a ética no uso de milho,
Fundo de População das Nações Unidas, acres- palma e cana-de-açúcar para a produção de
centando que “porém, uma grande parte do ali- biocombustíveis tem sido acompanhada mais
mento produzido não acaba na forma de co- de perto, justificadamente, devido aos possíveis
mida em nossos pratos”. Milho e soja servem de impactos prejudiciais no preço mundial dos ali-
ração para alimentar animais, e eles, por sua vez, mentos, no abastecimento de gêneros alimen-
servem para nos alimentar.12 tícios e no meio ambiente. Mesmo assim, en-
Existe uma ineficiência inerente e incô- tre 2007 e 2008, apenas 4% da produção
moda. Segundo a pesquisadora da Universi- mundial de cereais, ou 100 milhões de tone-
dade de Stanford, Rosamond Naylor, são ne- ladas, foi usada para biocombustíveis, dos
cessários entre duas e cinco vezes mais grãos quais 95 milhões de toneladas eram de milho,
para produzir a mesma quantidade de calorias em comparação a 35%, ou 756 milhões de to-
através da criação de gado do que por meio da neladas, de cereais empregados em ração ani-
ingestão direta de grãos (e até dez vezes mais mal. Em 2007, apenas 12% do milho produ-
no caso de carne bovina industrializada).13 zido no mundo todo foi usado para etanol,
A China destina mais da metade de seu su- enquanto 60% foi destinado à produção de ra-
primento de milho, tanto cultivado no país ção animal. Entre 2010 e 2012, a produção
quanto importado, à ração para gado – um au- mundial de cereais para uso em ração animal
mento de 25% em relação a 1980 – e, para ga- cresceu 1,5%, porcentagem esta mais alta do
rantir a segurança alimentar doméstica, está se que a de outros usos, como por exemplo, ali-
abastecendo nos mercados globais, comprando mento humano ou combustível.17
mais commodities, como milho e principalmente
soja. Além disso, está arrendando terras em ou-
tros países para o cultivo de alimentos para a sua A Demanda por Água
população e para produzir ração animal.14
No mundo todo, 85% da soja é processada Dentre os países africanos, é na Etiópia que
para obtenção de farinha e de óleo, sendo que se concentra a maior população de rebanhos,

183
Segurança Alimentar e Justiça em um Mundo com Limitações Climáticas ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 14–2. A Natureza Mutante da Agricultura Brasileira

O Brasil, país com a maior diversidade crescendo e representa cerca de 40% do total
biológica do mundo, é líder em exportação de produzido no país.
carne bovina e de vitela, o principal Grupos da sociedade civil brasileira têm
exportador mundial de carne de aves, o expressado preocupações com os impactos
quarto maior exportador de carne de porco, e ambientais, econômicos e na saúde pública
o segundo maior exportador de soja. da soja geneticamente modificada. O
Para acompanhar a demanda internacional pequeno agricultor é “forçado a comprar
e o crescente consumo doméstico, os sementes e um pacote de insumos que
pecuaristas brasileiros aumentaram a encarecem os custos da produção… O lucro
capacidade de produção com mais animais, dele está indo para essas grandes empresas”,
instalações, processamento e transporte. diz Tatiana de Carvalho, engenheira agrônoma
Muitas das operações em larga escala e consultora do Greenpeace no Brasil.
ocorrem no sul do país, em áreas próximas a No setor da pecuária industrial, o controle
grandes provisões de insumos para ração da produção está, de modo geral,
(soja e milho). concentrado entre um pequeno número de
Embora a maior parte das 200 milhões de poderosas empresas de agronegócios ou nas
cabeças de gado no Brasil ainda paste solta, mãos de grandes proprietários de terras. No
uma área considerável das pastagens era no Brasil, os pequenos agricultores, antes com
passado terreno de biodiversidade altíssima, algum grau de independência, estão sendo
sobretudo na Amazônia e no cerrado brasileiro. marginalizados da economia agrícola. Alguns
Nessas duas regiões existem também campos deles são integrados, isto é, convertem-se em
bem demarcados, com grandes faixas empreiteiros a serviço das grandes
delimitadas nitidamente, semelhantes aos corporações; outros, por não disporem de
cinturões agrícolas nos Estados Unidos, com capital para ter seu próprio lote para cultivo,
fileiras e mais fileiras de soja. não estarem dispostos a perder sua
A soja geneticamente modificada (GM) autonomia, ou enfrentarem pressão por parte
está cada vez mais consolidada. Entre 2009 e dos latifundiários, acabam indo para a cidade.
2010, dois terços das culturas de soja no Essa dinâmica poderá trazer desemprego ou
Brasil eram de Roundup Ready, espécie com trabalho em tempo parcial, engendrando
também a possibilidade de haver fome, pois
modificações genéticas, desenvolvida para
essas pessoas deixam de ter a posse da terra
conferir tolerância ao herbicida Roundup,
para cultivo de alimentos.
sendo ambos vendidos pelo gigante
americano do setor agrícola Monsanto. O Fonte: Ver nota 15 no final.
cultivo de milho GM no Brasil também está

mas o país vive há anos segurança alimentar pulação em rápida expansão ou para o plantio
crônica e talvez tenha de fazer uma escolha de grãos destinados a gado em confinamento
cruel nas próximas décadas: usar os recursos e frango de corte criados em galpões.18
hídricos e a terra disponíveis – que já sofrem A intensificação do sistema de criação de
pressão considerável dos efeitos da erosão do animais significa que “o setor da pecuária in-
solo, secas recorrentes e desmatamento – para gressa em uma competição maior e mais direta
o cultivo de alimentos suficientes para uma po- por terra, água e outros recursos naturais, to-

184 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Segurança Alimentar e Justiça em um Mundo com Limitações Climáticas

dos escassos”, de acordo com a FAO. Esse ce- com as mudanças climáticas. Segundo a FAO,
nário impõe consequências de grandes pro- 18% das emissões de gases de efeito estufa
porções à equidade, à sustentabilidade e a uma (GEE) no mundo todo podem ser atribuídas
prosperidade ampla para toda a humanidade.19 às atividades pecuárias – 9% das emissões de
A China e a Índia têm, em conjunto, menos dióxido de carbono, 37% das de metano e
de 10% da água existente no mundo e, no en- 65% das de óxido nitroso. De acordo com
tanto, abrigam um terço da população mun- análises de especialistas em meio ambiente do
dial. Segundo um relatório sobre água e de- Banco Mundial, vinculados à instituição ou já
senvolvimento elaborado pela ONU em 2009, fora dela, o número pode chegar a 51% do to-
os déficits resultantes de mudanças climáticas, tal das emissões de GEE em todo o mundo.24
urbanização, crescimento populacional e das No Brasil, as emissões de GEE geradas pela
necessidades da agricultura e da produção de agricultura aumentaram 41% entre 1990 e
alimentos apresentam desafios significativos
2005. Calcula-se que 75% das emissões de GEE
para o crescimento econômico contínuo da
no Brasil sejam resultantes de desmatamentos e
Ásia nas próximas décadas.20
mudanças no uso da terra que liberam espaço
O relatório registra preocupações em relação
para a pecuária e para culturas agrícolas. Uma es-
às economias emergentes no que se refere ao
timativa realizada em 2009, considerada con-
consumo cada vez maior de carne, ovos e laticí-
nios, cuja produção necessita de muito mais água servadora, concluiu que metade das emissões de
do que “as dietas mais simples que esses itens es- GEE no Brasil entre 2003 e 2008 foram causa-
tão substituindo”. Cada tonelada de carne bo- das unicamente pela criação de gado.25
vina requer 16 mil metros cúbicos de água.21 Em 2009, cientistas do Space Applications
Um estudo da UNESCO calculou que 29% Centre, na Índia, realizaram o primeiro estudo
da “pegada de água” do setor agrícola mundial de âmbito nacional sobre as emissões de metano
são resultantes de produtos de origem animal. É geradas pelo quase meio bilhão de vacas, búfa-
importante observar que, ao importar soja bra- los, carneiros e cabras do país. A pesquisa cons-
sileira, a China está também importando “água tatou que as emissões haviam aumentado quase
virtual” – até 14% de suas necessidades, de 20% entre 1994 e 2003, chegando a 11,75 mi-
acordo com uma das análises feitas.22 lhões de toneladas anuais. Sem dúvida alguma,
As dietas vegetarianas, ainda muito difun- esse número é hoje mais elevado: entre 2003 e
didas entre milhões de hindus, requerem perto 2007 a população de bovinos e búfalos na Ín-
de 2,6 metros cúbicos de água por dia, por dia cresceu 21 milhões.26
pessoa, segundo Shama Perveen do Instituto A quantidade de metano liberado está dire-
Hindu de Gestão, em Kolkata. Em contra- tamente relacionada ao modo e à quantidade de
partida, a dieta de um americano típico con- alimentação dos ruminantes. O gado autóctone
tém quantidades muito mais altas de aves, de emite menos metano do que as chamadas raças
carne bovina e de derivados do leite e precisa de alta produtividade de gado importado, que,
de mais do que o dobro de água diariamente: entretanto, ganham a preferência crescente dos
5,4 metros cúbicos.23 grandes produtores de gado leiteiro na Índia.
Um projeto de “megalaticínios” em estudo na
Impactos das Mudanças Climáticas Índia contempla contar no futuro com 40.000
vacas leiteiras, muitas das quais de raça de alta
A expansão da produção mundial de carne, produtividade, importadas e mantidas com ra-
ovos e laticínios guarda uma relação direta ção baseada apenas em grãos.27

185
Segurança Alimentar e Justiça em um Mundo com Limitações Climáticas ESTADO DO MUNDO 2012

Alimentos à Base de Verduras e Esse novo modo de pensar exigirá ações


um Mundo Bem Alimentado conjuntas e criativas por parte dos governos e
da sociedade civil.
Os governos, por exemplo, devem garantir
De acordo com um recente relatório da que a poluição das águas, a degradação do
FAO, considerando o contínuo aumento de- solo, o desmatamento, os danos ou destruição
mográfico e de renda, a produção de alimen- de ecossistemas e da biodiversidade e as emis-
tos precisará aumentar 70% para ser capaz de sões de gases de efeito estufa deixem de ser ele-
atender à população mundial em 2050. Mas, mentos “externos” ao balanço patrimonial da
ao mesmo tempo, observa o relatório, 25% das indústria da pecuária, e passem a ter um preço
terras no mundo todo estão degradadas, e justo e receber o pagamento correspondente.
tanto a água superficial quanto a subterrânea Essa postura permitiria que se definissem pre-
estão cada vez mais escassas e poluídas. Além ços pelos serviços ecológicos e emissões de
disso, alerta a FAO, o aquecimento global al- GEE às taxas de mercado ou que se exigisse a
tera padrões climáticos e, por conseguinte, adoção de tecnologias para mitigação desses
haverá uma competição “generalizada” por problemas nos locais já em funcionamento ou
água e terra, inclusive no setor agrícola – en- em fase de projeto.
tre gado, culturas de subsistência, culturas não
alimentícias e biocombustíveis. Nesse cenário,
a atividade pecuária de grande escala e o con-
sumo redobrado de produtos de origem ani-
mal, no mundo todo, representam um enorme
problema e não uma solução.28
Uma avaliação feita pelo Programa das Na-
ções Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma)
dos impactos do modo como os recursos ma-

Peter Morgan/Sustainable sanitation


teriais são produzidos e usados concluiu que
“mais do que os combustíveis fósseis, as ativi-
dades agrícolas influenciam diretamente os
ecossistemas, pois ocupam grandes extensões
de terra e usam enormes quantidades de
água”. No entanto, se no caso dos combustí-
veis fósseis é possível adotar outras alternativas,
quando se trata de alimentos, não há produtos
substitutos. Sendo assim, acrescenta o Pnuma, Espinafre saudável em uma horta escolar no
“uma redução drástica dos impactos apenas se- Zimbábue
ria possível com uma modificação significa-
tiva nos padrões de alimentação mundial, que Os governos devem buscar a colaboração da
prescindisse de produtos de origem animal”. sociedade civil e traçar alternativas ao sistema
Esse tipo de mudança exigiria também que o agrícola industrial que sejam melhores para o
problema não fosse apenas contornado e, sim, clima, o meio ambiente, a agricultura familiar
que se repensasse com seriedade a pecuária in- e a igualdade de distribuição de alimentos e
tensiva e o papel da carne, dos laticínios e dos renda. Seria essencial que os investimentos e
ovos diante da meta de atingir segurança ali- políticas se deslocassem das monoculturas e
mentar no mundo todo.29 dos cultivos voltados à pecuária e se dirigissem

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à agricultura de pequena escala e não industrial nia de 2010 tem uma disposição sobre bem-es-
e a diversas outras formas de produção com tar animal, e a constituição do Equador de
uso de práticas agrícolas mais sustentáveis, 2008 consagra os direitos da natureza.30
como, por exemplo, a agroecologia. Os siste- Os governos e a sociedade civil – ambien-
mas de propriedade da terra devem promover talistas, grupos engajados no combate à po-
a proteção de florestas, pradarias e outros ecos- breza, na defesa das mulheres, na garantia de
sistemas, em outras palavras, a conservação vi- segurança alimentar e na proteção do bem-es-
sando ao sequestro de carbono. tar animal – devem participar de diálogos sé-
Além disso, os governos devem oferecer in- rios e de abrangência nacional e regional em
centivos para o fomento do cultivo de ali- relação à produção de alimentos e acesso a
mentos com nutrientes essenciais, como ver- eles, no sentido da sustentabilidade e da igual-
duras e legumes, que necessitam de menos dade, contribuindo para colocar as políticas
água do que soja ou grãos para ração e conse- públicas em prática. Esse tipo de fórum pode-
guem ser mais adaptáveis aos efeitos esperados ria também colaborar para o aumento do ní-
das mudanças climáticas, e devem também ga- vel de conscientização geral sobre esses pro-
rantir o acesso a esses alimentos. Essas medi- blemas tão complexos e cruciais.
das não precisam limitar os agricultores a ati- Apoiados na participação de grupos da so-
vidades de subsistência em lotes pequenos; ciedade civil, os governos devem lançar pro-
elas podem incluir empreendimentos de médio gramas educativos nacionais com o objetivo de
porte e mecanismos para compartilhamento de estimular adultos e crianças a ter hábitos ali-
riscos e retornos sobre as operações agrícolas, mentares mais saudáveis. Para tanto, o ponto de
como cooperativas, por exemplo. partida poderia ser a culinária tradicional com
Agências doadoras, governos e sociedade ci- uso das verduras e legumes mais comuns de um
vil devem colaborar em projetos de grande determinado país ou região. Nessa perspectiva,
escala para a recuperação de ecossistemas, com seriam dois os objetivos: promover a segurança
a finalidade de revitalizar áreas submetidas a alimentar e a sustentabilidade e reverter positi-
pastagem e a cultivo predatórios e criar novas vamente as atuais tendências de doenças crôni-
oportunidades para o aumento da produção cas associadas a hábitos alimentares, como dia-
de alimentos nutritivos e para a recuperação de betes, hipertensão e alguns tipos de câncer. Os
florestas e da vegetação que contribuam para governos poderiam também apoiar campanhas
assegurar padrões estáveis de pluviosidade. Es- como a Segunda-Feira Sem Carne, cuja meta é
sas medidas restauradoras podem também convencer pessoas e instituições a se abster de
criar novas frentes de trabalho e garantir meios carne uma vez por semana, em nome de sua
de subsistência. própria saúde e do meio ambiente. Iniciativas
Os governos devem aprovar uma legislação como essa já acontecem em um número cres-
sobre o bem-estar animal, com o intuito de cente de cidades dos Estados Unidos e da Eu-
terminar com os maus-tratos e crueldade in- ropa, e também na Cidade do Cabo, África do
trínsecos às instalações para criação intensiva. Sul, e em diversos municípios brasileiros. Nos
Em muitas sociedades, esse tipo de lei expres- países industrializados a pecuária intensiva e o
saria não apenas a herança e os valores culturais alto consumo de produtos de origem animal
que sempre protegeram os animais e os hábitats são arraigados e, por isso mesmo, deveriam as-
como também respeitaria a própria constituição sumir a liderança, neste caso, servindo de exem-
do país. A constituição da Índia, por exemplo, plo para o resto do mundo.31
inclui a obrigação de todo cidadão ter compai- Por fim, organizações não governamentais
xão pelas criaturas vivas. A constituição do Quê- e associações comunitárias do mundo todo

187
Segurança Alimentar e Justiça em um Mundo com Limitações Climáticas ESTADO DO MUNDO 2012

engajadas nas questões de mudanças climáti- transferência de tecnologias verdes, fortale-


cas, segurança ou soberania alimentar, uso de cimento de economias verdes e financia-
recursos naturais, meios de subsistência no mento para os países mais pobres fazerem
campo e bem-estar animal devem trocar ex- frente ao aquecimento global. Se a agricultura
periências, reflexões e informações. e a pecuária continuarem a ser desconsidera-
É cada vez mais inequívoco que a produ- das nesses aspectos, estaremos desperdiçando
ção de alimentos e a agricultura propriamente uma oportunidade vital para criar um sis-
dita devem estar no centro das políticas cli- tema alimentar sustentável, justo, eficiente,
máticas e de desenvolvimento sustentável, o humano e compatível com as necessidades
que inclui acordos sobre desmatamento, climáticas.

188 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Biodiversidade: O Combate à Sexta Extinção em Massa

CAPÍTULO 15

Biodiversidade: O Combate à
Sexta Extinção em Massa
Bo Normander

vertebrados avaliadas até agora são classificadas

A
o final da Cúpula da Terra realizada no
Rio em 1992, líderes de todo o mundo como “ameaçadas de extinção” (13% de aves e
assinaram a Convenção sobre Biodiversi- 41% de anfíbios) (Ver Figura 15–1). De 1980 a
dade (CBD), comprometendo-se coletivamente 2008, 52 espécies por ano, em média, passaram
a preservar os recursos biológicos da Terra. a integrar uma categoria mais próxima da ex-
Desde então, no entanto, a maioria dos políti- tinção. De todos os grupos avaliados, a cicadá-
cos negligenciou a proteção da natureza, e o cea e o esturjão são as espécies mais ameaçadas,
mundo vem testemunhando – com exceção de 64% e 85%, respectivamente. As cicadáceas,
apontadas como as plantas mais antigas do
alguns poucos exemplos positivos – a perda
mundo, têm folhas semelhantes às da palmeira
acentuada e contínua da biodiversidade. Não só
e são encontradas em muitas áreas tropicais e
mamíferos excepcionais como o rinoceronte
subtropicais. As principais ameaças a essas espé-
negro da África ocidental, o tigre-do-cáspio
cies são a perturbação e a destruição do seu há-
(ou tigre persa) e a cabra-dos-pirineus foram ex- bitat causadas pela urbanização e a remoção ile-
tintos, como também um número alarmante de gal por parte de colecionadores. O esturjão
animais, insetos e plantas encontra-se à beira da também é uma das espécies de peixe mais anti-
extinção. Pode não estar longe o dia em que as gas do mundo. As ovas do esturjão beluga do
clássicas espécies retratadas em fotos e cartazes, mar Cáspio são vendidas como caviar negro, que
como o urso panda, o tigre e o golfinho do Rio pode custar até US$10 mil o quilo. A demanda
Baiji, desaparecerão do seu hábitat natural – res- por caviar levou à exploração excessiva de po-
tando apenas alguns exemplares mantidos em pulações de esturjão em toda a Europa e a Ásia.2
zoológicos por meio de dispendiosos progra- O Índice Planeta Vivo, baseado no moni-
mas de reprodução.1 toramento de populações de mais de 2.500 es-
O Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas ela- pécies de vertebrados, é outra forma de se
borado pela União Internacional para Conser- medir a perda da biodiversidade. Esse índice
vação da Natureza mostra claramente as pers- reflete uma tendência negativa semelhante,
pectivas alarmantes para a biodiversidade, pois a biodiversidade diminuiu 12% em escala
avaliando sete categorias em risco de extinção. global e 30% nas regiões tropicais desde 1992
Perto de um quinto das quase 35 mil espécies de (Ver Figura 15–2). Em outras palavras, calcula-

Bo Normander é diretor do Worldwatch Institute Europa.

189
Biodiversidade: O Combate à Sexta Extinção em Massa ESTADO DO MUNDO 2012

se que a velocidade com que as espécies estão história da Terra, é a única causada por uma
desaparecendo seja até mil vezes maior do que criatura viva: o ser humano. As outras cinco
na época pré-industrial. Denominada pelos extinções em massa ocorreram há muito
cientistas de “sexta extinção em massa” na tempo; a última e mais famosa foi há 65 mi-
lhões de anos, no final do pe-
Figura 15–1. Status das Espécies do Livro Vermelho, ríodo cretáceo, quando os di-
por Principais Grupos, 2011 nossauros foram extintos.3
Qual é a causa dessa tragé-
dia biológica? A resposta é
Fonte: IUCN simples: intervenção humana.
O secretariado da Convenção
Porcentagem de espécies avaliadas

sobre Biodiversidade indica


cinco pressões principais que
Extintas estão causando a perda da bio-
Seriamente ameaçadas diversidade: alterações no há-
Ameaçadas
bitat, exploração excessiva dos
Vulneráveis
À beira da extinção
recursos naturais, poluição, in-
Espécies menos ameaçadas vasão de espécies exóticas e
Dados insuficientes mudanças climáticas. Durante
as últimas décadas, o ser hu-
mano alterou os ecossistemas
em um nível sem precedentes.
Para manter o crescimento
o
e la
u as io s o s es s e ar econômico e atender à de-
ã
rj á t e íb r v i
a - m
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or - d o manda cada vez maior por ali-
s
E ixe c A am C s
Ci M a
Pe on mentos, recursos naturais e es-
êm
An paço grandes parcelas das áreas
naturais do planeta foram
transformadas em sistemas de
Figura 15–2. Índice Planeta Vivo, 1970–2007 cultivo, fazendas e áreas cons-
truídas. Em 2005, a Avaliação
Ecossistêmica do Milênio con-
Fonte: WWF
cluiu que 15 dos 24 “serviços
ecossistêmicos” estão em de-
clínio, entre eles água doce,
Índice Planeta Vivo de zonas temperadas populações de peixes marinhos
e acesso a ar puro e água limpa
Valor do Índice

(Ver Capítulo 16).4


Índice Planeta Vivo global
A Importância da
Biodiversidade
Índice Planeta Vivo de zonas tropicais As evidências estão se acu-
mulando e a mensagem é clara:
há perda de biodiversidade em
todas as escalas. Mas o que te-

190 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Biodiversidade: O Combate à Sexta Extinção em Massa

mos a ver com isso? Enquanto o mundo conse- uma única espécie ou função ecossistêmica. É
guir produzir quantidades suficientes de ali- possível retirar algumas cartas sem causar gran-
mentos e retirar madeira, combustível e outros des danos à casa. Porém, se a carta errada for re-
recursos naturais das florestas, terras cultiváveis tirada, a casa inteira desabará. Da mesma forma,
e oceanos, por que deveríamos nos preocupar biodiversidade é um complexo sistema de, lite-
com alguns milhares de espécies raras sobre as ralmente, milhões de espécies distintas – de mi-
quais ninguém ouviu falar? Para muita gente esse núsculos micro-organismos passando por toda a
não é um assunto importante. Essas pessoas hierarquia até os predadores – interconectadas
não compreendem nem reconhecem a impor- por cadeias alimentares, polinização, predação,
tância da biodiversidade – sequer conhecem o simbioses, antibioses e muitas outras interações
significado dessa palavra. Em uma pesquisa eu- químicas e biológicas, muitas das quais não são
ropeia de 2010, dois terços dos entrevistados sequer conhecidas. O dano causado a uma parte
disseram que já tinham ouvido falar sobre bio- do sistema – eliminação de algumas espécies
diversidade, mas apenas 38% conseguiram ex- importantes, por exemplo – pode provocar o co-
plicar o que o termo significava. Entretanto, lapso de todo o sistema.
quando tomaram conhecimento do significado, O intenso desmatamento na Ilha de Páscoa
85% responderam que a perda da biodiversidade iniciado nos séculos 15 e 16, por exemplo,
é um problema muito ou relativamente sério.5 causou a extinção de árvores, plantas, insetos
Biodiversidade (ou diversidade biológica) e todas as espécies de aves nativas, assim como
pode ser definida simplesmente como a varie- a devastação irreversível do ecossistema como
dade de formas de vida em todos os níveis de um todo, culminando nos atuais problemas de
organização biológica. A definição mais aceita seca e erosão do solo. Da mesma forma, a in-
é, ao que tudo indica, a adotada pela Conven- trodução de espécies não nativas pode ser fa-
ção sobre Biodiversidade em 1992: biodiversi- tal para os ecossistemas, como exemplificado
dade é “a variabilidade entre os organismos vi- pelo famoso caso dos coelhos na Austrália.
vos de todas as fontes, entre outras, terrestres, Desde 1859, quando foram levados pelos co-
marinhas e outros ecossistemas aquáticos e os lonizadores europeus, o efeito da presença dos
complexos ecológicos dos quais eles fazem coelhos na ecologia da Austrália tem sido de-
parte; o conceito inclui diversidade dentro de vastador. Esses animais são responsáveis pela
espécies, entre espécies e dos ecossistemas.”6 enorme redução e extinção de muitos mamí-
A definição da Convenção sobre Biodiver- feros e plantas nativos. São também responsá-
sidade é ampla na medida em que aborda não veis pelos graves problemas de erosão, pelo
apenas a diversidade de todos os organismos fato de se alimentarem de plantas nativas e,
vivos, como também a diversidade dos com- com isso, deixar a camada superior do solo ex-
plexos ecológicos dos quais fazem parte. Por- posta e vulnerável.7
tanto, biodiversidade não se refere apenas ao Além das graves consequências da perda de
combate à pesca da baleia, como mostram os biodiversidade, de um ponto de vista ético não
famosos filmes da série Free Willy, ou à salva- cabe ao ser humano decidir ou julgar que es-
ção dos pandas, simbolizada pelas campanhas pécies devem ou não sobreviver. Todas as es-
do Fundo Mundial para a Natureza (WWF). pécies são iguais, e o ser humano não tem o di-
Refere-se também à preservação de todas as reito de eliminar organismos vivos aos milhares.
formas de vida. A preservação da biodiversidade é vital também
Para compreender a importância da biodi- de um ângulo mais antropocêntrico: não se
versidade em determinado hábitat ou ecossis- trata apenas do desejo que o ser humano tem de
tema, pense nela como uma enorme casa feita de desfrutar de uma natureza espetacular e di-
cartas de baralho em que cada carta representa versa, mas também de ecossistemas intactos

191
Biodiversidade: O Combate à Sexta Extinção em Massa ESTADO DO MUNDO 2012

que atendam às suas necessidades básicas de ali- nificativo, até 2010, a taxa atual de perda da
mentos, água limpa, medicamentos, combustí- biodiversidade.” Oito anos depois, os mes-
vel, materiais biológicos e assim por diante. mos participantes se reuniram em Nagoya, Ja-
O valor da biodiversidade é inestimável e não pão, e concluíram que a meta não havia sido
pode ser genuinamente medido em termos mo- atingida – nem em termos globais, nem em re-
netários. Ainda assim, um estudo recente reali- gionais nem em nacionais. Consequente-
zado pelo Programa das Nações Unidas para o mente, o compromisso foi renovado com a
Meio Ambiente (Pnuma) tentou fazer uma ava- adoção do Plano Estratégico para a Biodiver-
liação econômica de uma característica pré-de- sidade 2011–2020 com 20 novas metas im-
finida de biodiversidade. O estudo aponta que portantes – chamadas Metas Globais de Bio-
bastaria investir 0,5% do produto mundial bruto diversidade (Metas de Aichi) – para que
para tornar mais sustentáveis os setores de capi- “medidas efetivas e urgentes fossem tomadas
tal natural (silvicultura, agricultura, água doce e com o intuito de interromper a perda da bio-
pesca), ajudar a criar novos empregos e riqueza diversidade, garantindo que até 2020 os ecos-
econômica e, ao mesmo tempo, minimizar os sistemas estejam recuperados e continuem a
riscos de mudanças climáticas, o aumento da es- fornecer serviços essenciais.”9
cassez de água e a perda de serviços ecossistê- Algumas das metas de Aichi são ambiciosas,
micos. Em outras palavras, preservar a diversi- outras são menos rigorosas e algumas questões
dade biológica da Terra é um passo fundamental ficaram de fora. Por exemplo, a biodiversi-
rumo à prosperidade econômica.8 dade urbana foi negligenciada por completo
(Ver Quadro 15–1). Mas, de forma geral, o
Plano Estratégico reflete uma aceitação inter-
Metas Políticas não Cumpridas nacional cada vez maior da importância da
biodiversidade. Não obstante, esse acordo glo-
Apesar do argumento de que preservar a bal precisa ser acompanhado de planos de ação
biodiversidade é essencial para a riqueza hu- nacionais concretos e ambiciosos, assim como
mana, ainda não foram adotadas medidas po- de uma incorporação efetiva dos valores da
líticas efetivas nesse sentido. Em 2002, os par- biodiversidade a todas as áreas de políticas,
ticipantes da Convenção sobre Biodiversidade setores da sociedade e contas nacionais. Esse
comprometeram-se a “reduzir de modo sig- será o principal desafio para os governos nos
próximos anos. Infelizmente, no pas-
sado, houve uma grande falha nesse
campo. O fato de quase nenhum país
ter cumprido as metas de 2010, sem
que isso fosse questionado nem tivesse
quaisquer consequências, reflete a falta
fundamental de vontade política de
agir com urgência para salvar a biodi-
versidade.10

Perda de Biodiversidade
Versus Mudanças Climáticas?
Stig Nygaard

Só há menos de uma década é que


aumentou o grau de conscientização
Animais silvestres em um parque nos arredores de Copenhague pública sobre os perigos das mudanças

192 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Biodiversidade: O Combate à Sexta Extinção em Massa

Quadro 15–1. A Agricultura Urbana pode Reduzir a Perda da Biodiversidade

A proteção da biodiversidade em áreas Para superar essa omissão, surgiram várias


urbanas é reconhecida como uma questão iniciativas comunitárias e municipais, tais
cada vez mais importante. Em parte, é como associações de apiários urbanos,
consequência da rápida urbanização. projetos de hortas de telhado e hortas
Em 2009, pela primeira vez na história, verticais em Amsterdã, Cingapura, Nova York
mais da metade da população mundial estava e em um número cada vez maior de cidades.
morando em cidades. O crescimento urbano Essas iniciativas podem reverter a perda de
deve continuar nas próximas décadas, biodiversidade e estimular o “esverdeamento”
embora a uma taxa menor, merecendo e a agricultura urbanos, assim como melhorar
atenção especial para que a vida nas cidades a qualidade de vida, a nutrição e a integração
se torne mais ambientalmente sustentável. da natureza à vida na cidade. Outro exemplo
A urbanização tem um impacto negativo são as hortas em janelas. Em um caso,
sobre a biodiversidade, sobretudo sobre a durante um ano mais de 13 mil pessoas em
flora e a fauna nativas em áreas de todo o mundo obtiveram instruções sobre
espraiamento urbano. Porém, nem todas as como construir hortas em janelas e cultivar
espécies nativas sofrem com a urbanização, e suas próprias frutas e hortaliças, como
a abundância e a diversidade de espécies em morangos, tomates e pimentões.
algumas áreas, sobretudo nos arredores das Agricultura e hortas urbanas são maneiras
cidades, pode ser muito maior do que a de ajudar a deter a destruição do meio
diversidade das áreas rurais circundantes – ambiente e a perda da biodiversidade.
embora quase sempre muito diferente. Segundo Jac Smit, fundador e ex-presidente
Um estudo realizado na Dinamarca mostrou da Rede de Agricultura Urbana, a agricultura
que a área urbana de Copenhague, com seus urbana “cria espaços verdes, recicla os
parques, florestas, praias, refúgios de animais resíduos, reduz o trânsito, cria empregos,
silvestres e outras áreas verdes, abriga uma substitui bens importados de alto custo, evita
grande variedade de espécies e, na verdade, é a erosão e é benéfica para o microclima”.
uma das mais ricas em biodiversidade do Existem muitas áreas urbanas ociosas que
país. Enquanto mais de 60% da área da podem ser transformadas em espaços verdes.
Dinamarca é ocupada por agricultura Para começar, é preciso que as autoridades
intensiva, o que deixa pouco espaço para a locais forneçam informações sobre o uso do
biodiversidade, as áreas semiurbanas solo em áreas urbanas e adotem um
continuam a ter ricos bolsões de natureza. planejamento urbano favorável para que as
Durante décadas a natureza foi sendo pessoas possam criar novos espaços verdes e
expulsa das cidades. Nem mesmo o Plano diversificados.
Estratégico para a Biodiversidade de 2020 Fonte: Ver nota 10 no final.
aborda aspectos da biodiversidade urbana.

climáticas, culminando em 2007 com o Prêmio danças climáticas, apesar de ambas terem terrí-
Nobel da Paz concedido ao Painel Intergover- veis consequências. Em um estudo de 2009,
namental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e publicado na revista Nature, cientistas referi-
ao ex-vice presidente dos Estados Unidos Al ram-se à biodiversidade como a “fronteira pla-
Gore em reconhecimento aos seus esforços netária” que o ser humano ultrapassou mais do
nessa questão. A perda de biodiversidade ainda que qualquer outra, enfatizando a urgência da
não recebeu a mesma atenção dedicada às mu- luta para combater a sua perda. Mesmo assim,

193
Biodiversidade: O Combate à Sexta Extinção em Massa ESTADO DO MUNDO 2012

praticamente não existem conhecimento e con- poderia definir um subconjunto de indicadores


senso científicos sobre essa questão, ao contrá- que refletissem, de forma eficiente e mensurá-
rio do que ocorre no campo das fontes de ener- vel, avaliações nacionais equilibradas das ten-
gia e das mudanças climáticas.11 dências em biodiversidade para que os países
No início de 2011, os governos decidiram não mais fujam de suas responsabilidades.13
criar a Plataforma Intergovernamental sobre
Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IP- Como Interromper a Perda
BES). Assim como acontece com o IPCC,
criado em 1988, a IPBES deve servir de in-
de Hábitats Naturais
terface entre a comunidade científica e os for-
muladores de políticas. Porém, será preciso A preservação das florestas e dos hábitats
investir muito mais recursos na IPBES – uma naturais do mundo requer ações locais, nacio-
tarefa óbvia para os participantes da Confe- nais e globais. Infelizmente, essas áreas estão
rência Rio+20 a ser realizada em junho de em rápido declínio. De 1990 a 2010, a área
2012 – se esse órgão quiser ter a mesma im- florestal global encolheu 3,4% (1,4 milhão de
portância do IPCC. A IPBES deve convocar quilômetros quadrados) – mais ou menos o ta-
todos os principais especialistas e cientistas manho do México. A taxa de desmatamento,
para analisar os mais recentes dados científicos, em particular a transformação de florestas em
técnicos e socioeconômicos, o que ajudará a áreas cultiváveis, continua alta em muitos paí-
viabilizar e concretizar as metas de biodiversi- ses. Além disso, a extensão das áreas construí-
dade para 2020 e, ao mesmo tempo, chamar das e as redes de transporte estimulam mu-
a atenção do mundo para a questão das mu- danças no uso da terra em todo o mundo. Em
danças na biodiversidade.12 termos regionais, a África e a América do Sul
Um empecilho significativo para as metas sofreram as maiores perdas líquidas de flores-
de Aichi refere-se ao fato de suas obrigações le- tas desde 2000, equivalentes a 0,5% por ano
gais, se é que elas existem, serem relativamente nos dois continentes.14
fracas. Em contrapartida, o Protocolo de Kyoto A meta número 5 do Plano Estratégico para
sobre mudanças climáticas implica obrigações Biodiversidade determina que “até 2020, a
legais e é um arranjo contratual para o país sig-
taxa de perda de todos os hábitats naturais, in-
natário. Além disso, o Protocolo define metas
clusive florestas, deverá ser reduzida pela me-
nacionais concretas e mensuráveis, tais como re-
tade e, onde for viável, para uma taxa próxima
dução de emissão de gases de efeito estufa, ao
de zero”. Essa meta, um tanto vaga e pouco
passo que as metas de biodiversidade são pouco
ambiciosa, deveria ser substituída por uma
precisas, vagas e difíceis de monitorar.
No entanto, a despeito de ser bem-inten- meta de suspensão total do desmatamento e da
cionado, o Protocolo de Kyoto, parece estar fa- perda de hábitats naturais. Para isso, todos os
dado a não conseguir atingir suas metas de re- países precisam começar a enfrentar as forças
dução. A IPBES deve agir rápido no sentido de que estão por trás do uso cada vez maior de
adotar uma abordagem simples e acessível de terra para produção de madeira, alimentos,
coleta de dados com a finalidade de determinar forragens para animais e, mais recentemente,
metas nacionais de proteção da biodiversidade. biocombustíveis. Além disso, as políticas e os
Devido à inerente complexidade dos hábitats, subsídios que intensificam o desmatamento
não existe, é claro, um indicador que possa re- precisam ser adaptados para uma economia
fletir com precisão as mudanças na biodiversi- de desmatamento zero.
dade em diferentes ecossistemas, em várias es- Por exemplo, os trabalhadores do setor (ile-
calas espaciais e temporais. Porém, a IPBES gal) de extração de madeira deveriam ser re-

194 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Biodiversidade: O Combate à Sexta Extinção em Massa

manejados para empregos que ajudem a pro- De acordo com uma análise feita por satélite,
teger os ecossistemas florestais ao invés de cerca de 1,3 milhão de hectares de florestas in-
destruí-los. Esse tipo de abordagem tem sido tocadas na Indonésia são, ao mesmo tempo,
usado em outras áreas – o Projeto TAMAR de protegidos e localizados dentro de áreas de
preservação de tartarugas marinhas, criado no concessão para extração de madeira, numa
Brasil, contrata ex-caçadores de tartarugas, clara indicação da incapacidade de o governo
por exemplo, pagando-lhes um salário para manter as políticas de preservação.17
proteger, em vez de explorar, essa população A situação dos oceanos também é muito
de animais. O projeto TAMAR agora atende alarmante. A maioria dos recifes de corais de
a dezenas de comunidades costeiras no Nor- todo o mundo está seriamente ameaçada pelos
deste brasileiro, dando emprego e outros be- impactos das mudanças climáticas, bem como
nefícios públicos aos moradores locais. Uma pela pesca predatória (Ver Quadro 15–2).
análise recente do Pnuma indica que um in- Acredita-se que a frota pesqueira do mundo
vestimento de apenas US$40 bilhões por ano, consiga capturar uma quantidade até 2,5 vezes
de 2010 a 2050, em reflorestamento e paga- acima dos níveis sustentáveis. A pesca indus-
mentos a proprietários de terras para preservar trial com redes de arrasto usadas por embar-
as florestas, poderia elevar em 20% o valor cações de grande porte é prejudicial, sobre-
agregado do setor florestal.15 tudo, à saúde dos oceanos e à diversidade das
Em 2011, havia pelo menos 160 mil áreas espécies. Para que o volume da pesca volte a
protegidas em todo o mundo, abrangendo níveis sustentáveis é preciso adotar medidas fir-
13% de solo (uma área do tamanho da Rússia). mes. Na União Europeia e em outros lugares,
As áreas marinhas protegidas, no entanto, os subsídios à pesca industrial devem ser in-
abrangem apenas 7% das águas costeiras e 1,4% terrompidos ou redirecionados a práticas sus-
dos oceanos. O Plano Estratégico para Biodi- tentáveis que ajudem o meio ambiente, tra-
versidade inclui a meta de proteger 17% das zendo benefícios para as comunidades locais.18
águas de superfície e das águas internas e 10% De acordo com a Convenção das Nações
das áreas costeiras e marinhas. No entanto, Unidas sobre o Direito do Mar, é necessário fir-
além dessas metas estarem longe de ser auda- mar novos acordos para a preservação não só da
ciosas, o plano também carece de uma estru- biodiversidade marinha nas áreas marítimas sob
tura para garantir que determinada área seja de jurisdição nacional, mas também além delas,
fato protegida.16 uma vez que hoje essas áreas continuam des-
Em tese, a vantagem dessas áreas protegidas, protegidas e sem regulamentação. Da mesma
como reservas e parques nacionais, é que a ex- forma, é preciso implementar uma rede global
tração dos recursos naturais é proibida ou bas- de reservas marinhas para aumentar a modesta
tante limitada, assim como o desenvolvimento. porcentagem de áreas oceânicas protegidas
Na prática, porém, em geral as áreas protegidas atualmente. Um acordo sobre a preservação
revelam uma história diferente. Na Indonésia, de no mínimo 20% dos oceanos como um todo
por exemplo, onde cerca de 12 milhões de hec- – inclusive todos os principais pontos de con-
tares de floresta tropical estão supostamente flito sobre biodiversidade marinha, como reci-
protegidos, a realidade é muito diferente, pois fes de corais e montanhas submarinas – deve ser
as florestas continuam a ser queimadas e a ma- firmado durante a Conferência Rio+20 ou logo
deira continua a ser extraída. As fronteiras das depois. Segundo o estudo do Pnuma sobre
áreas protegidas revelam a precariedade da luta economia verde, tornar a pesca mais sustentá-
contra a extração ilegal de madeira, usurpação vel em todo o mundo e proteger melhor os re-
do solo para fins de exploração agrícola e caça. cursos marinhos poderia aumentar os rendi-

195
Biodiversidade: O Combate à Sexta Extinção em Massa ESTADO DO MUNDO 2012

Quadro 15–2. Recifes de Corais mentos dos recursos globais, de um valor ne-
Ameaçados de Extinção gativo de US$26 bilhões para US$45 bilhões
positivos por ano, o que contribuiria para au-
Os recifes de corais são muitas vezes mentar a prosperidade econômica.19
denominados de “florestas tropicais do
oceano” devido à sua imensa biodiversidade. Mudanças Reais Necessárias
Diversas espécies de corais formam
estruturas de tamanhos e formatos variados
e complexidade excepcional, que servem de Para proteger a biodiversidade terrestre e
hábitat e abrigo para uma grande diversidade marinha, é absolutamente fundamental que as
de organismos marinhos. áreas já designadas, assim como as recém-de-
No entanto, os recifes de corais estão signadas, sejam mais bem preservadas e que as
exibindo sinais cada vez maiores de estresse,
em particular aqueles próximos a edificações autoridades locais e nacionais recebam os re-
costeiras. Cerca de um quinto dos recifes de cursos e meios necessários para proteger o solo
corais do mundo já foram extintos ou e o mar. Trata-se de uma questão política para
seriamente danificados, enquanto outros 35% muitos países e algo que precisa ser batalhado
podem desaparecer dentro dos próximos 10 a tanto em nível global quanto nacional. Porém,
40 anos. Muitas das ameaças contínuas a que reduzir a taxa de consumo insustentável por
estão sujeitos os recifes de corais foram pessoa, em particular nos países industrializados,
originadas por atividades humanas, inclusive
é tão importante quanto proteger os hábitats na-
sobrepesca e práticas pesqueiras destrutivas.
Os impactos das mudanças climáticas são turais e implementar metas de biodiversidade
uma das maiores ameaças aos recifes de ambiciosas. Hoje, a sociedade mede o sucesso
corais. À medida que a temperatura sobe, a pelo crescimento econômico, e o crescimento,
descoloração em massa dos corais e os surtos pelo aumento do consumo (Ver Capítulo 11).
de doenças infecciosas tendem a se tornar O modelo atual da sociedade de consumo está
mais frequentes. Além disso, os maiores níveis destruindo o planeta e seus recursos naturais, e
de dióxido de carbono presentes na atmosfera
isso precisa mudar para manter o planeta sus-
alteram o equilíbrio químico da água do mar,
causando sua acidificação. Quando a água do tentável para as futuras gerações.
mar se torna mais ácida, os organismos com O combate à sexta extinção em massa exi-
exoesqueleto de carbonato de cálcio (calcário), girá uma série de medidas concretas, conforme
como os pólipos – que formam os corais – resumido neste capítulo, para proteger a ri-
têm mais dificuldade de se desenvolver. Em queza biológica de todo o mundo. Exigirá
situações extremas, sua casca ou exoesqueleto também algumas mudanças fundamentais na
pode até começar a se dissolver. forma como as pessoas consomem os recursos
O conhecimento científico sobre as
consequências biológicas da acidificação dos naturais. E, por fim, imporá que os políticos se
oceanos ainda é incipiente. Até o momento, posicionem e comecem a tomar decisões reais
a única maneira eficaz de evitar a acidificação capazes de proteger a natureza e a biodiversi-
é prevenir o acúmulo de dióxido de carbono dade e, ao mesmo tempo, ser um ponto de ig-
na atmosfera por meio da redução das nição para criar prosperidade sustentável. A
emissões de combustíveis fósseis. Por esse Conferência Rio+20, a se realizar em junho de
motivo, salvar os recifes de corais requer não 2012, será uma grande oportunidade para que
apenas uma melhor regulamentação para
protegê-los da pesca predatória, mas os líderes políticos se reúnam e tomem as me-
também de atenção para o problema das didas necessárias para que as bem-intenciona-
mudanças climáticas. das conversas sobre economia verde e desen-
—Eirini Glyki e Bo Normander volvimento sustentável se convertam em
Fonte: Ver nota 18 no final. medidas concretas que possam ajudar a man-
ter a prosperidade e salvar o planeta.

196 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Serviços Ecossistêmicos para a Prosperidade Sustentável

CAPÍTULO 16

Serviços Ecossistêmicos para a


Prosperidade Sustentável
Ida Kubiszewski e Robert Costanza

lham um caminho que reproduz esse sistema,

V
ivemos em uma era de globalização. Esta
é uma época em que as informações se criando uma versão mais extremada dessa de-
transmitem instantaneamente pelo sigualdade dentro de suas próprias fronteiras.2
mundo todo, é um tempo em que a busca de Essa concepção do significado de “prosperi-
crescimento infinito e prosperidade levou os dade” surgiu quando o mundo ainda não era tão
seres humanos e as infraestruturas por eles povoado e nem continha tantas benfeitorias
construídas a todos os cantos do planeta. No construídas pelo ser humano, os recursos natu-
entanto, esse objetivo só seria alcançado em rais eram abundantes, os assentamentos sociais
um sistema que não fosse contido por ne- eram mais esparsos e a dificuldade de acesso a in-
nhum limite biofísico. Na Terra, precisamos vi- fraestruturas era o principal limite ao melhora-
ver dentro das fronteiras planetárias definidas mento do bem-estar. No entanto, o último sé-
culo foi palco de muitas mudanças. A pegada
pelo funcionamento do sistema que ampara a
ecológica do ser humano cresceu de tal forma
vida ecológica.1
que, em muitos casos, o verdadeiro progresso
Em sua meta de crescimento material in-
está mais cerceado pelos limites à disponibilidade
findável, a sociedade ocidental sempre privile-
de recursos naturais e serviços ecossistêmicos do
giou instituições que estimulam o setor pri- que por restrições à infraestrutura material.3
vado em detrimento das organizações do setor Em um mundo pleno, não podemos mais
público, priorizou o acúmulo de capital por priorizar certos aspectos da sociedade e igno-
parte de poucos em vez da construção de um rar outros. Precisamos redefinir o significado
patrimônio de uso comum e fomentou as fi- de prosperidade para nos assegurarmos de es-
nanças, secundarizando a produção efetiva de tar na direção certa. Devemos, antes de tudo,
bens e serviços. No entanto, o declínio cons- lembrar que o objetivo final da economia é
tante na renda média e a menor receita tribu- melhorar a qualidade de vida e o bem-estar hu-
tária reduziram os fundos disponíveis para gas- manos de modo sustentável. O consumo ma-
tos em bens públicos e também contribuíram terial e o produto interno bruto (PIB) nada
para o aumento da disparidade econômica e da mais são do que meios para esse objetivo e não
degradação dos ecossistemas. Ao mesmo o objetivo em si. É preciso reconhecer, como
tempo, muitos países em desenvolvimento tri- nos mostram a sabedoria antiga e novas pes-

Ida Kubiszewski é professora-adjunta e pesquisadora e Robert Costanza é professor emérito de


sustentabilidade no Instituto para Soluções Sustentáveis, na Portland State University.

197
Serviços Ecossistêmicos para a Prosperidade Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

quisas em psicologia, que o consumo material diversidade de impactos que podem ser cau-
além das necessidades reais pode, na realidade, sados por uma determinada opção política.
reduzir o bem-estar geral. Precisamos ser ca- Essa visão pode conferir mais transparência à
pazes de fazer a distinção entre pobreza de análise de sistemas ecológicos e relativizar os
fato, que está relacionada a uma baixa quali- méritos das diferentes opções diante dos res-
dade de vida, e baixa renda monetária.4 ponsáveis por tomadas de decisão.
Porém, o mais importante é a premência de No entanto, reconhecer a existência dos ser-
identificarmos o que, de fato, contribui para o viços ecossistêmicos não é suficiente se o valor
bem-estar do ser humano: os sistemas ecoló- desses serviços não for levado em conta nas de-
gicos que nos abastecem de água doce, o solo, cisões a serem tomadas pelos formuladores de
o ar puro, o clima estável, o tratamento de re- políticas ou pelos consumidores. Se nenhum
síduos, a polinização e dezenas de outros ser- número for atribuído às contribuições desses
viços ecossistêmicos imprescindíveis. Serviços serviços em termos comparáveis a serviços e
ecossistêmicos podem ser definidos como as produtos econômicos, o valor dos serviços am-
características, funções ou processos ecológicos bientais será muitas vezes interpretado como
que, direta ou indiretamente, contribuem para inexistente. Na verdade, os serviços ecossistê-
o bem-estar humano, ou seja, os benefícios micos, muitas vezes, pesam bem pouco nas de-
que as pessoas obtêm com o funcionamento cisões políticas e quase sempre são menos prio-
desses serviços.5 ritários do que bens e serviços econômicos.

Importância do Capital Natural e Avaliação dos Serviços


dos Serviços Ecossistêmicos Ecossistêmicos
Os ecossistemas que fornecem esses vários Por que é tão importante avaliar esses ser-
serviços são por vezes denominados “capital viços em termos comparativos? Quando se
natural”, com base na definição corriqueira trata de tomar decisões no plano ecológico,
de capital, como se fossem ações que rendem existem duas fontes de conflito: escassez e res-
um fluxo de serviços ao longo do tempo. Para trições no volume de serviços ecossistêmicos
que esses benefícios se concretizem e sejam que podem ser fornecidos e distribuição dos
mantidos, o capital natural precisa combinar- respectivos custos e benefícios. A ciência dos
se a outras formas de capital que requerem in- serviços ecossistêmicos explicita os trade-offs e,
tervenções humana, o que inclui a conversão portanto, facilita o discurso de planejamento e
do capital em algo construído ou fabricado, gestão e ajuda as partes envolvidas a atribuir
além de capital humano, social ou cultural.6 valor em bases realistas. Ela gera conhecimen-
Sendo assim, como podemos identificar e tos social e ecológico relevantes para os parti-
determinar a importância das contribuições cipantes dos processos e para os responsáveis
do capital natural para o bem-estar humano de pelas decisões e apresenta um conjunto de op-
uma forma que auxilie a sociedade a utilizar ções de planejamento que podem ajudar na so-
esse conhecimento ao tomar decisões? Uma lução de conflitos sociopolíticos.7
das maneiras é detectando os serviços presta- Avaliar serviços ecossistêmicos com exatidão
dos pelos ecossistemas ao ser humano. Mesmo é um desafio, assim como difundir o entendi-
sem nenhuma avaliação posterior, o mero co- mento de que muitos deles são bens públicos,
nhecimento da existência e dos benefícios pro- ou seja, não são excludentes e podem propor-
porcionados ao ser humano pelos serviços de cionar benefícios a diversos usuários que deles se
um ecossistema pode contribuir para que se utilizem simultaneamente. Essa característica
confira o devido reconhecimento à enorme embute um problema, pois a sociedade não dis-

198 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Serviços Ecossistêmicos para a Prosperidade Sustentável

põe de instituições e políticas para tratar desse Em 2008, um segundo estudo internacio-
tipo de recurso, o que cria circunstâncias em que nal foi publicado em A Economia dos Ecossis-
as escolhas individuais não são a melhor abor- temas e da Biodiversidade (TEEB), patroci-
dagem para a avaliação. Ao contrário disso, é nado pelo Programa das Nações Unidas para
preciso haver processos de escolha capazes de o Meio Ambiente. As principais finalidades
envolver comunidades ou grupos. desse estudo foram chamar a atenção para os
Nos últimos anos, cientistas e economistas benefícios econômicos globais trazidos pela
tentaram desenvolver técnicas de estimativas biodiversidade, destacar os custos crescentes
dos benefícios dos serviços ecossistêmicos. A resultantes da perda de biodiversidade e da de-
avaliação pode ser expressa de múltiplas ma-
gradação do meio ambiente e reunir especia-
neiras, inclusive em unidades monetárias ou fí-
listas dos campos da ciência, da economia e da
sicas ou por índices. Os economistas criaram
política com o intuito de que apresentassem
diversos métodos de avaliação que normal-
mente utilizam uma métrica expressa em uni- medidas práticas para avançar nesse terreno. O
dades monetárias, e os ecologistas e outros relatório do TEEB teve ampla divulgação na
grupos elaboraram mensurações ou índices mídia, aproximando o tema dos serviços ecos-
traduzidos em diversas unidades não monetá- sistêmicos de um público mais abrangente.11
rias, como trade-offs biofísicos. 8

Um dos primeiros estudos a fazer


uma estimativa global do valor de ser-
viços ecossistêmicos foi publicado na
revista Nature, em 1997, intitulado
“The Value of the World’s Ecosystem Ser-
vices and Natural Capital” (“O Valor
dos Serviços Ecossistêmicos e do Ca-
pital Natural no Mundo”). Os autores
calcularam que o valor de 17 serviços
ambientais de 16 biomas está na or-
dem de US$16 trilhões a US$54 tri-
lhões ao ano, ou uma média de US$33

Kevin Muckenthaler
trilhões anuais, número esse maior do
que o PIB mundial na época.9
Mais recentemente, o conceito de
serviços ecossistêmicos ganhou maior
atenção de acadêmicos e do público
em geral com a publicação, em 2005, Armazenamento de carbono: árvores de bordo na Floresta Tropical
da Avaliação Ecossistêmica do Milê- de Hoh, no Olympic National Park, estado de Washington
nio (AEM), estudo encomendado pela
ONU e que envolveu 1.360 cientistas durante Embora hoje o tema dos serviços ambien-
quatro anos. O relatório analisou a situação tais esteja presente em muitas pesquisas e re-
dos ecossistemas do mundo todo e formulou latórios, existe ainda certo grau de incerteza
recomendações para os gestores de políticas. quanto à mensuração, ao monitoramento, à
A pesquisa concluiu que a atividade humana definição de modelos, à avaliação e à gestão.
exauriu o capital natural do mundo a tal ponto Para minimizar as dúvidas a esse respeito, é
que a capacidade de a maior parte dos “ecos- preciso uma avaliação constante que deter-
sistemas da Terra sustentar as futuras gerações mine os impactos dos atuais sistemas e crie no-
já não está assegurada”.10 vos sistemas com a participação das partes in-

199
Serviços Ecossistêmicos para a Prosperidade Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

teressadas, em uma perspectiva de forjar expe- Contudo, o reconhecimento da importância


riências a partir das quais possamos quantificar dos serviços ecossistêmicos não elimina as limi-
efetivamente o desempenho e aprender ma- tações criadas pela avaliação humana baseada
neiras de gerir sistemas tão complexos. em percepção. Como demonstrado pela analo-
Uma das principais dificuldades na avaliação gia da árvore, o valor percebido pode acabar
é a falta de precisão das informações. É possí- sendo um critério bastante limitante da avalia-
vel que as pessoas não atribuam valor algum a ção, porque o capital natural pode trazer con-
um determinado serviço ecossistêmico se não tribuições positivas ao bem-estar humano que
conhecerem a função por ele desempenhada não serão jamais percebidas, ou venham a ser
em seu bem-estar. Podemos aqui considerar a percebidas somente de modo vago, ou talvez se
seguinte analogia. Se uma árvore cair no meio manifestem apenas no futuro. Uma noção mais
da floresta e não houver ninguém por perto ampla de valor deve contemplar elementos me-
para escutar, ela terá produzido um som? A nos imediatistas na relação entre valor e bene-
resposta a essa antiga pergunta depende, é ób- fícios, por exemplo, em uma avaliação que con-
vio, da definição de “som”. Se entendermos temple metas ou objetivos indiretos para o
som como a percepção que as pessoas têm de bem-estar humano, como justiça e sustentabi-
ondas sonoras, a resposta é não, mas se som for lidade. A percepção ou falta de percepção des-
definido como um padrão de energia física no ses valores e a qualidade e grau de exatidão da
ar, a resposta é sim. No caso de serviços ecos- respectiva mensuração são questões importan-
tes, mas separadas.13
sistêmicos, as ações e preferências individuais
A incorporação do valor dos serviços ecos-
não refletem o verdadeiro benefício trazido
sistêmicos à definição de prosperidade susten-
por eles, porque os indivíduos não percebem
tável é crucial para que se possa calcular e ir ao
a existência dos benefícios oferecidos. Outro
encalço de uma prosperidade “real” e susten-
obstáculo importante nesse processo é a men-
tável. Porém, a questão vai além: os serviços
suração exata do funcionamento de um sis- ecossistêmicos são essenciais à existência da so-
tema que quantifique corretamente o volume ciedade humana porque se constituem no sis-
de um serviço em particular fornecido por tal tema de suporte à vida do planeta. Muitas ve-
sistema.12 zes, é difícil estabelecer a conexão entre serviços
ambientais e saúde humana e, por con-
seguinte, com prosperidade, porque
isso pode ocorrer de forma indireta e
deslocada espacial e temporalmente e
pode depender de muitas forças.14

Instituições para Atender aos


Serviços Ecossistêmicos
A contrapartida ao reconhecimento
de que estamos vivendo uma crise bio-
física resultante de consumo exage-
rado e de falta de proteção aos serviços
ecossistêmicos é a obrigação de inves-
Leaflet

tirmos em instituições e em tecnolo-


Serviço de ecossistema: captação de água do aquífero Ogallala, gias que reduzam o impacto da eco-
Buffalo Lake National Wildlife Refuge, Texas nomia de mercado e preservem e

200 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Serviços Ecossistêmicos para a Prosperidade Sustentável

protejam o bem público. Para atingir esse ob- luentes, fluidos refrigerantes que não destruam
jetivo, são necessários novos tipos de institui- a camada de ozônio, agricultura orgânica, la-
ções, que utilizem um conjunto sofisticado de vouras resistentes a erosão e secas (como os
sistemas de direitos de propriedade privada, grãos de cultura perene), alternativas à pesca de
pública e comum, combinando-os de modo a arrasto, uso de equipamentos que reduzam a
estabelecer direitos de propriedade claros so- pesca incidental, e assim por diante.16
bre os ecossistemas, sem privatizá-los. Outra modalidade de funcionamento nessa li-
Uma das instituições desse tipo é aquela nha seria o “pagamento por serviços ecossistê-
em que existe propriedade comum de bem micos”. Nesse modelo, os proprietários de terra
público, e sua responsabilidade seria a de ge- ou os agricultores são pagos para manter os
rir bens públicos e criar outros novos. Em al- ecossistemas que fornecem serviços para o res-
gumas circunstâncias, esses ativos devem ser de tante da população localizada na região por eles
propriedade comum porque isso é mais justo beneficiada e, nesse caso, os usuários dos servi-
– é o caso de recursos criados pela natureza ços contribuem financeiramente com esse pa-
(como por exemplo, um meio ambiente com gamento. O sistema mais bem conhecido nessa
água doce), ou desenvolvidos pela sociedade modalidade foi, talvez, um projeto implantado
(como por exemplo, o conhecimento). Outros na Costa Rica há mais de dez anos, em que os
ativos também devem ser de propriedade co- proprietários rurais são pagos para plantar ou
mum porque isso é mais eficiente; nessa cate- preservar áreas florestais em suas terras. Como
goria estão os recursos não rivais (por exem- mostrado em um workshop realizado nesse país,
plo, quando o racionamento de um a experiência foi muito bem-sucedida.17
determinado recurso é feito através da regula- As discussões sobre os serviços ecossistêmicos
ção de preço, criando uma falta artificial desse e a respectiva avaliação começaram a aparecer
recurso) e também os recursos rivais (bens não apenas nos meios de comunicação públicos,
consumidos sem limitação, mas que geram na forma de relatórios de alta visibilidade, mas
benefícios não rivais, como, por exemplo, ár- também na comunidade empresarial. A Dow
vores que filtram água tornando-a potável). Chemical recentemente decidiu contribuir com
Outros ativos devem ainda ser de propriedade US$10 milhões para que The Nature Conser-
comum porque essa modalidade é mais sus- vancy realizasse cálculos de custos e benefícios
tentável, como é o caso de recursos coletivos dos ecossistemas implicados em todas as decisões
essenciais e bens públicos, como o ar puro.15 empresariais da Dow. Essa colaboração trará um
Um exemplo desse tipo de instituição para ganho significativo ao conhecimento e às técni-
gestão de bens públicos de propriedade co- cas de avaliação de serviços ambientais. Con-
mum seria o “fundo de bens públicos de pro- tudo, ainda é preciso avançar em pesquisas e em
priedade comum”, que pode operar em várias novos projetos institucionais de vulto.18
escalas. Os fundos podem converter os bens pú- Centenas de projetos e grupos trabalham
blicos em propriedade sem que isso implique hoje no sentido de aprofundar a compreensão,
privatização, como já ocorre com vários fundos os modelos, a avaliação e a gestão de serviços
para proteção de áreas de preservação. Os fun- ambientais e do capital natural. Seria impossível
dos de bens públicos de propriedade comum relacionar todos eles, mas não podemos deixar
poderiam proteger e restaurar o capital natural de mencionar alguns, como a nova Parceria
que seja crítico, isto é, os recursos fornecidos para Serviços Ecossistêmicos, rede mundial fo-
pela natureza e essenciais ao bem-estar hu- cada na coordenação de atividades e construção
mano. Eles podem também disponibilizar in- de consenso; uma iniciativa do Banco Mundial
formações e tecnologias que protejam ou for- chamada Contabilização de Riqueza e Avaliação
taleçam os bens públicos. Como exemplo, de Serviços Ecossistêmicos, cuja finalidade é
podemos citar recursos energéticos pouco po- levar informações às instâncias decisórias dos

201
Serviços Ecossistêmicos para a Prosperidade Sustentável ESTADO DO MUNDO 2012

ministérios da Fazenda e do Planejamento ou bidas de modo a garantir o fluxo de informa-


dos bancos centrais, tendo em mente fomentar ções entre as diferentes escalas, levar em conta
um desenvolvimento mais sustentável; e o novo os sistemas de propriedade, as culturas e os in-
programa das Nações Unidas denominado Pla- tegrantes do processo e internalizar de modo
taforma Intergovernamental sobre Biodiversi- cabal os custos e os benefícios.
dade e Serviços Ecossistêmicos, que servirá de Os mecanismos distributivos devem con-
interface entre a comunidade científica e for- templar as camadas mais pobres da população,
muladores de políticas, com o objetivo de criar devido a seu maior grau de dependência dos
conhecimento e intensificar o uso da ciência na bens públicos de propriedade comum, como é
elaboração de políticas.19 o caso dos serviços ecossistêmicos. É preciso
impedir a ação de oportunistas, e os benefi-
ciários dos serviços ambientais devem pagar
Prioridades nos Serviços pela biodiversidade que os ecossistemas pro-
Ecossistêmicos dutivos lhes proporcionam.
Um dos principais fatores limitantes à ma-
Diante do grau significativo de incertezas na nutenção do capital natural é a ausência de um
mensuração, monitoramento, definição de conhecimento comum sobre o funcionamento
modelos, avaliação e gestão de serviços ecos- dos ecossistemas e o modo como eles contri-
sistêmicos, é preciso compilar e integrar in- buem para o bem-estar humano. Mas essa difi-
formações corretas de modo contínuo, tendo culdade pode ser superada por meio de cam-
por objetivo o aprendizado e melhorias adap- panhas educacionais e de divulgação clara dos
tativas. Para que isso seja possível, é necessário sucessos e dos fracassos, direcionadas ao público
avaliar sem trégua os impactos das atuais ins- em geral e às autoridades pertinentes, e por meio
tituições e conceber outras que garantam a de uma colaboração sincera entre entidades da
participação das partes interessadas, forjando sociedade civil, do setor público e do privado.
assim experiências que sirvam de parâmetro As partes envolvidas no processo, seja em
para quantificações mais eficazes do desempe- âmbito local, regional, nacional ou global, de-
nho e do aprendizado. vem combinar esforços para formular e imple-
Precisamos de instituições que possam efeti- mentar decisões de gestão. A conscientização e
vamente conferir uma natureza de bem público a participação plena de todos os interessados
à maior parte dos serviços ambientais, ampara- contribuem para a elaboração de regras confiá-
das em sistemas de direitos de propriedade mais veis e bem aceitas que identifiquem e atribuam
elaborados. Precisamos de instituições que com- as responsabilidades pertinentes a cada um e
binem os atuais sistemas de propriedade pri- que, portanto, podem ser colocadas em prática.
vada a novos sistemas que definam o status de Os conceitos referentes a ecossistema po-
propriedade dos ecossistemas, sem que isso re- dem vir a ser um elo concreto entre a ciência
sulte em privatização. Nesta perspectiva, moda- e a política, deixando mais claros os trade-offs
lidades de pagamento pelos serviços ambientais inerentes ao processo. Nesse sentido, um qua-
e fundos de bens públicos de propriedade co- dro de referências ecossistêmicas pode repre-
mum podem ser elementos eficientes. sentar um ganho expressivo para a formulação
A escala de tempo e espaço das instituições de políticas e ajudar na integração entre ciên-
de gestão de serviços ecossistêmicos deve ser cia e política.
compatível com a dos próprios serviços e, Esses são apenas os primeiros passos. Mas
nesse sentido, será preciso haver instituições para que se atinja uma prosperidade sustentável
que se reforcem mutuamente em âmbito local, o valor dos serviços ecossistêmicos precisa ser
regional e global no curto, no médio e no compreendido e ser parte integrante de todas as
longo prazo. As instituições devem ser conce- decisões políticas e empresarias no futuro.

202 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Agir para que os Governos Locais Acertem

CAPÍTULO 17

Como Agir para que os


Governos Locais Acertem
Joseph Foti

cesso litigioso começou, todas as Câmaras Mu-

O
juiz Nchunu Sama é um advogado
que atua em tribunais superiores e nicipais argumentaram que o lixão estava em
exerce a profissão em Bamenda, Ca- uma jurisdição que não a da Câmara deman-
marões. No início de 2005, ele observava o li- dada. Na verdade, esse ponto não era claro
xão crescer em Atuanki, Mile 6 Mankon, às porque os cidadãos não dispunham de mapas
margens do rio Mezam. A lixiviação do resí- corretos indicando as diferentes jurisdições
duo não tratado que era despejado no local das Câmaras Municipais. Foi então necessário
atingia os assentamentos próximos, vazava acionar todas as Câmaras no tribunal.
para o rio e se espalhava pela rodovia vicinal. Embora a FEDEV não fosse a primeira or-
Sama e seus colegas escreveram para a Câ- ganização da República de Camarões a ins-
mara Municipal de Bamenda e para a das re- taurar um processo litigioso em nome do in-
giões vizinhas, utilizando o sistema formal de teresse público, nenhuma organização ou
petição, e solicitaram o cumprimento de leis cidadão do país tivera sucesso ao recorrer aos
referentes a resíduos sólidos. Não receberam tribunais para exigir o cumprimento da legis-
nenhuma resposta.1 lação ambiental nos casos em que não tinham
O silêncio serviu de impulso para que a or- como comprovar dano pessoal. Quando o
ganização a que Sama pertencia, a Fundação processo “FEDEV e Outros contra a Câmara
para o Desenvolvimento e Meio Ambiente Municipal de Bamenda e Outros” chegou ao
(FEDEV), recorresse aos tribunais locais. Con- Tribunal Superior de Justiça, esse precedente
tando com o apoio de um grupo de defenso- foi testado. Depois de vários meses de litígio,
res públicos, Sama exigiu que o governo local anunciou-se a sentença final do tribunal:
cessasse o despejo no lixão perto do assenta- “O despejo de resíduos na camada superfi-
mento ou do rio, começasse a limpeza e re- cial do solo em Atuanki, Mile 6 Mankon, e
movesse os resíduos para um depósito que a poluição do rio Mezam são violações de
funcionasse de acordo com as exigências legais, direitos fundamentais dos cidadãos. Sem
e divulgasse publicamente as informações so- decidir sobre o mérito ou falta de mérito do
bre o descarte desses resíduos. Quando o pro- caso, concordo com o Douto Advogado

Joseph Foti é pesquisador sênior do World Resources Institute em Washington, DC, que atua como
secretariado mundial de The Access Initiative.

203
Como Agir para que os Governos Locais Acertem ESTADO DO MUNDO 2012
Nchunu Justice Sama

À esquerda: Lixão ilegal em Atuanki, Bamenda, Camarões. À direita: O mesmo local depois da
limpeza determinada pelo Tribunal Superior de Justiça no processo movido pela FEDEV contra a
Câmara Municipal de Bamenda.

dos Autores que a proteção de direitos hu- minho é outro e passa por tomar muitas pe-
manos fundamentais é prerrogativa exclu- quenas decisões. Os governos não têm como
siva de tribunais ordinários. Concordo tam- fazer isso sozinhos. Cabe aos cidadãos assegu-
bém com os Autores que qualquer ato de rar que as leis sejam cumpridas e que o meio
degradação do meio ambiente, praticado ambiente e a justiça sejam considerados nas de-
por quem quer que seja, é uma violação dos cisões referentes a desenvolvimento.
direitos de os cidadãos terem um meio am- Quando 172 governos se reuniram na Con-
biente saudável... Diante do acima exposto, ferência das Nações Unidas sobre Meio Am-
julgo que este tribunal tem competência biente e Desenvolvimento realizada no Rio
para conhecer e decidir as questões apre- de Janeiro, em 1992, avençou-se que:
sentadas nas citações iniciais dos autores e “A melhor maneira de tratar das questões
concedo o provimento solicitado.”2 ambientais é assegurando a participação, nos
A decisão judicial foi um marco em dois as- diferentes níveis, de todos os cidadãos impli-
pectos. Essa foi a primeira vez que um Tribu- cados. No plano nacional, cada indivíduo de-
nal Superior de Justiça camaronês arbitrou verá ter acesso adequado às informações sobre
que o direito ao meio ambiente era um direito meio ambiente que estejam de posse de au-
humano fundamental e, talvez mais impor- toridades públicas, inclusive dados a respeito
tante ainda, permitiu que qualquer cidadão de atividades e materiais perigosos em suas
usasse os tribunais para exigir o cumprimento comunidades, e a oportunidade de participar
da legislação ambiental. Nos meses que se se- dos processos decisórios. Os governos esta-
guiram, fez-se a limpeza do lixão ilegal e foi duais devem facilitar e estimular a conscien-
construído um novo depósito mais seguro. tização pública e a participação, colocando as
A ação da FEDEV movida contra a Câ- informações à disposição de todos. Deve-se
mara Municipal de Bamenda é emblemática prever o acesso efetivo a processos judiciais e
do tipo de pequenas vitórias que precisam ser administrativos, inclusive reparação de da-
conquistadas a duras penas e milhares de vezes, nos”. [Itálico acrescentado por nós].3
no mundo todo, enquanto cada país trabalha Essa seção da Declaração do Rio, o Princípio
para colocar em prática medidas que focalizam 10, algumas vezes é chamada de Princípio da
o desenvolvimento sustentável. Não existe ne- Democracia Ambiental. Ela contém alguns ele-
nhuma receita mágica para limpar o meio am- mentos básicos inerentes a uma gestão mo-
biente ou melhorar a vida dos cidadãos. O ca- derna do meio ambiente (Ver Quadro 17–1).

204 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Agir para que os Governos Locais Acertem

Desde a primeira Conferência do Rio, os go- Quadro 17–1. Os Elementos do Princípio 10


vernos nacionais vêm caminhando a passos lar- em Âmbito Local
gos para implementar o Princípio 10 – da ten-
tativa de universalizar a participação pública Acesso à informação. Refere-se ao acesso
em planejamento de projetos até a aprovação da a informações ambientais e sobre os
Convenção sobre Acesso à Informação, Parti- mecanismos utilizados pelas autoridades
cipação Pública em Processos de Tomada de públicas para fornecer essas informações.
Decisão e Acesso à Justiça em Questões Am- No plano local, informações regulares sobre
bientais (conhecida como Convenção de Aar- a qualidade do ar e da água, processos
decisórios, uso do solo e dados autorizados
hus), o único tratado legalmente vinculante em
são exemplos de acesso à informação.
relação à democracia ambiental.4
Participação pública. Trata-se das
Porém, nem todas as decisões referentes a
oportunidades para indivíduos, grupos e
desenvolvimento sustentável ocorrem na esfera organizações levarem suas contribuições
nacional. A adaptação da Agenda 21 – o plano para os processos decisórios de impacto ou
de ação para efetivar o desenvolvimento sus- possível impacto ambiental. Localmente, a
tentável em diferentes regiões – reconhece a participação pública pode ser integrada à
importância vital das autoridades locais. São formulação de políticas, ao planejamento
elas que “constroem, operam e mantêm a in- do uso do solo e a decisões sobre projetos.
fraestrutura econômica, social e ambiental, su- Acesso à justiça. Refere-se a processos
pervisionam os processos de planejamento, jurídicos e administrativos e provimentos
estabelecem as políticas e as regulamentações judiciais disponíveis a indivíduos, grupos e
ambientais locais e contribuem para a implan- organizações em casos de atos que afetam
tação de políticas ambientais nacionais e sub- o meio ambiente e ferem leis ou direitos.
A legitimidade de um processo jurídico e a
nacionais. Por ser o nível de governo mais
possibilidade de litígio são partes integrantes
próximo da população, desempenha um papel do acesso à justiça. No âmbito local, acesso
essencial na educação, mobilização e resposta à justiça significa que as autoridades locais
ao público, com foco no desenvolvimento sus- devem contar com instituições imparciais,
tentável”. As decisões em âmbito local podem eficientes e de baixo custo que conheçam
implantar programas que tratam da redução da queixas de negativa de prestar informações,
pobreza, do crescimento do emprego e da danos ambientais e descumprimento da lei.
igualdade entre os gêneros – componentes Esses órgãos poderão ser juízos ou tribunais
cruciais do desenvolvimento sustentável.5 administrativos ou poderão trabalhar com
base em petições.
Fonte: Ver nota 4 no final.
O Desafio da Democracia Local

A democracia local, sobretudo nas cidades, des terá ultrapassado a do crescimento demo-
é da maior importância para o desenvolvi- gráfico total, o que significa que o futuro
mento sustentável. As cidades serão uma diante de nós será de natureza bem mais ur-
grande força motriz do desenvolvimento sus- bana. Grande parte da expansão ocorrerá nas
tentável, elemento esse crucial para um mo- cidades dos países em desenvolvimento, e essa
delo de crescimento que faça menor uso de re- urbanização está fortemente associada à re-
cursos naturais e reduza a pobreza (Ver dução da pobreza.6
também Capítulos 3 e 5). Entre 2000 e 2050, Porém, paralelamente ao crescimento das
a taxa de crescimento da população nas cida- cidades e à diminuição da pobreza, as cidades

205
Como Agir para que os Governos Locais Acertem ESTADO DO MUNDO 2012

talvez sofram maior impacto ambiental (de- mento sustentável, pois as decisões funda-
vido ao aumento do consumo) e enfrentem mentais sobre uso do solo (que envolvem, por
mais desigualdades e insegurança. Para que o exemplo, políticas de zoneamento e localiza-
processo de crescimento ocorra em bases jus- ção de indústrias poluentes), abastecimento
tas e se garanta que as questões ambientais e a de água potável, gestão de resíduos e extração
redução da pobreza continuem no centro de recursos minerais (por exemplo, autoriza-
desse crescimento, é preciso que as decisões se- ções e contratos de mineração) são quase sem-
jam abertas para dar voz àqueles que defen- pre delegados ao plano local.8
dem essas causas. Nas cidades de hoje e do fu- Em muitos lugares, as instituições locais são
turo – multiétnicas, competidoras em um fracas ou não têm a prática de prestar contas.
cenário global e muitas vezes segregadas – a Muitas vezes, a descentralização – a transferên-
forma como as decisões são tomadas pode ser cia dos processos decisórios da capital do país
tão importante quanto as decisões finais. para instâncias governamentais mais próximas
As pressões para que as cidades se desen- da população – é um processo fragmentado e os
volvam de modo sustentável podem ser en- governos locais não têm o poder de aprovar no-
frentadas com mais êxito quando as institui- vas leis ou não dispõem dos recursos para rea-
ções locais, em especial as autoridades locais, lizar suas incumbências. Nos casos em que
são transparentes e responsabilizáveis e asse- ocorre descentralização, autoridades locais que
guram a participação popular. Esse tipo de em outras circunstâncias seriam responsáveis e
instituição costuma ser mais eficiente e conse- democráticas podem acabar sendo destituídas
gue frear influências indevidas e corrupção. A de sua função mandatária por sistemas antide-
participação também estimula o desenvolvi- mocráticos: sistemas com processos decisórios
mento sustentável porque as diversas partes in- tradicionais, sistemas informais, outros gover-
teressadas podem apresentar soluções não con- nos, organizações não governamentais, ou o se-
templadas anteriormente e as autoridades têm tor privado – nenhum dos quais está sujeito aos
condições de alocar recursos de uma forma mesmos controles de responsabilização pública.
que expresse melhor as demandas públicas. Em outros casos, as instituições locais não são
Nessa dinâmica, as decisões são mais legítimas democráticas, quer em virtude de lei ou de suas
e, portanto, mais sólidas. Existem fortes evi- próprias práticas (talvez como consequência de
dências apontando que, quando as pessoas eleições manipuladas).
percebem que existe um processo justo em an-
damento, sentem-se mais inclinadas a aceitar
decisões com as quais não concordam. A de- A Oportunidade da Rio+20
mocracia local também fortalece outras esca-
las da sustentabilidade, pois quase sempre é Decorridos vinte anos desde o acordo sobre
um elemento de teste de democracia e de ino- o Princípio 10, governos do mundo todo se reu-
vações políticas em larga escala.7 nirão mais uma vez no Rio de Janeiro, agora
Apesar do consenso internacional a respeito para a Rio+20. Esta conferência traz a promessa
da importância da transparência, da participa- de renovação do compromisso e da colaboração
ção e da responsabilização no plano local, os com os princípios de um desenvolvimento sus-
avanços nesse sentido têm sido desiguais – al- tentável. Um dos principais temas do evento será
guns governos locais foram inovadores e efe- o Quadro Institucional para o Desenvolvimento
tivaram o Princípio 10, porém outros ainda es- Sustentável, que instrumentalizará os governos
tão oscilando. Em muitos casos, isso cria um para suas decisões referentes a formato e práti-
obstáculo bastante significativo ao desenvolvi- cas de governança para um desenvolvimento

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17_capitulo:2012 6/4/12 5:01 PM Page 207

PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Agir para que os Governos Locais Acertem

mais justo e sustentável. Embora exista uma Quadro 17–2. The Access Initiative
forte ênfase nos âmbitos internacional e nacio-
nal, há interesse crescente em aprimorar a go- The Access Initiative é a maior rede mundial
vernança e os processos decisórios localmente de organizações da sociedade civil atuando
também. A Rio+20 pode servir de plataforma para garantir que as comunidades locais
para compromissos inovadores que melhorem a tenham condições de acesso a informações
governança por parte das autoridades locais. e participem de decisões que afetam suas
Grupos da sociedade civil do mundo todo vidas e o meio ambiente. Os membros dos
preocupados com melhor governança local diversos países trabalham amparados em
para o desenvolvimento sustentável trabalha- evidências e agem para promover a
ram em conjunto buscando formular uma pro- colaboração e a inovação em processos
decisórios conduzidos com transparência,
posta para a Rio+20. Muitas organizações en-
responsabilização e inclusão em todos os
gajadas nessa proposta são membros e afiliadas níveis. As questões contempladas por essa
de The Access Initiative (Iniciativa para Acesso) iniciativa abrangem leis de liberdade de
(Ver Quadro 17–2) e seu propósito é agilizar informação, participação em avaliações de
a implementação do Princípio 10 em todos os impacto ambiental, formas de garantir que
níveis, inclusive o local.9 comunidades isoladas consigam interferir
Com o intuito de apresentar um diagnóstico em decisões políticas, exigência de que
dos obstáculos específicos para que as autorida- tribunais atendam ao interesse público em
des locais ajam com mais transparência e res- casos de dano ambiental e, desse modo, as
ponsabilidade e, ao mesmo tempo, estimulem organizações integrantes de The Access
Initiative atuam para vincular as demandas
a participação popular, o grupo reuniu estudos
locais a reformas em todos os níveis,
de caso, destacando embates em âmbito ur- contribuindo assim para a construção da
bano na Argentina, na Bolívia, em Camarões, no democracia ambiental.
Chile, na Costa Rica, no Equador, na Hungria, Fonte: Ver nota 9 no final.
no México, na Tailândia e nos Estados Unidos,
procurando identificar as barreiras comuns à
participação nos processos decisórios na área de conduzirem a sociedade por um caminho mais
desenvolvimento sustentável. As organizações sustentável.10
também identificaram abordagens criativas para Nos Estados Unidos, experiências recentes
trazer comunidades locais e defensores da sus- com transparência nos governos ilustram
tentabilidade para o centro do processo decisó- como a abertura de novos dados (nesse caso,
rio, por exemplo, com mecanismos de orça- em relação a despesas federais) é capaz de con-
mento participativo, auditorias sociais e ações tribuir para gastos com transporte mais sus-
judiciais movidas por cidadãos contra o Estado. tentável e limpeza do meio ambiente. O go-
Embora os casos examinados não sejam to- verno federal reagiu à crise econômica com a
talmente representativos, conseguem dar uma Lei Americana de Recuperação e Reinvesti-
ideia das principais barreiras à sustentabilidade mento (American Recovery and Reinvestment
urbana e às inovações. A Tabela 17–1 mostra Act), ou “lei de incentivo econômico”, com a
diversos exemplos muito bem-sucedidos de finalidade de estimular dispêndios para au-
proteção do meio ambiente, de preservação do mento da oferta de emprego. Cidadãos do
patrimônio e de defesa dos interesses das co- país todo ficaram preocupados não apenas
munidades mais pobres ou menos favoreci- com o ritmo e eficiência desses gastos, mas
das. Em todos os casos havia instituições e também com a distribuição dos fundos para
normas que permitiram aos adeptos das causas vários programas. Parte considerável do orça-

207
Como Agir para que os Governos Locais Acertem ESTADO DO MUNDO 2012

mento federal dos Estados Unidos é dirigida a nação de transparência na gestão pública com
instâncias públicas locais para que elas im- uma sociedade civil ativa é uma força poderosa
plantem projetos, porém, historicamente, sem- para o desenvolvimento sustentável, criação de
pre houve dificuldade em acompanhar os cro- empregos e redução da pobreza.12
nogramas e os gastos para projetos específicos.
Tendo por meta incentivar o apoio a políti- E Agora, para Onde Vamos?
cas públicas voltadas à equidade em transportes,
a organização OMB Watch dessenvolveu o Pro-
jeto de Equidade e Responsabilização Gover- Os estudos de caso evidenciaram diversas
namental (EGAP), um aplicativo online que barreiras à transparência, à responsabilização e
combina dados do censo a informações dis- à inclusão em âmbito local. Em Camarões,
ponibilizadas por sites do governo federal, por exemplo, as pessoas não eram capazes de
como o FedSpending.org, incluindo dados identificar a instância responsável pelo pro-
sobre investimentos em transporte autorizados blema em questão. No Chile e nos Estados
pela Lei de Recuperação. As informações po- Unidos, os serviços prometidos não se con-
dem ser obtidas em um mapa interativo que cretizaram e a população não dispunha de
especifica a situação de um determinado es- meios para acompanhar a alocação dos recur-
tado, condado ou distrito. Essa iniciativa per- sos gastos. Na Tailândia, ou as decisões foram
mitiu às pessoas enxergar onde o dinheiro pú- secretas, ou as pessoas foram levadas ao pro-
blico estava sendo empregado e comparar as cesso decisório bem depois de as resoluções te-
alocações com as necessidades de suas comu- rem sido tomadas. Nos casos envolvendo uso
nidades. Além disso, será possível acompanhar do solo e transportes no México, as decisões
a eficácia desses programas no atendimento ocorreram em nível nacional e as autoridades
das demandas de comunidades específicas.11 e residentes do local afetado não tiveram voz
Em Missouri, por exemplo, ativistas comu- no projeto e na implantação. Na Argentina, a
nitários monitoraram a implantação de um pro- população não dispunha dos dados necessários
jeto de US$500 milhões para a rodovia I-64. para que pudesse tomar parte de decisões
De posse das informações, puderam divulgar o complexas como a gestão da bacia fluvial.13
destino dos recursos e participar de eventos Com base nessa análise, os governos podem
públicos. Como resultado, o projeto poupou adotar uma série de medidas concretas para su-
US$11 milhões do orçamento, garantiu que perar as barreiras e promover a transparência, a
26% dos postos de trabalho fossem ocupados inclusão e a responsabilização em âmbito local:
por minorias e mulheres e incluiu os maiores • Acesso à informação: Garantir que as in-
benefícios jamais oferecidos na história ameri- formações sobre todos os órgãos, orçamento,
cana a uma comunidade. O sucesso inspirou a receita e compras sob uma jurisdição estejam
adoção de projetos semelhantes em outras ci- à disposição e possam ser usadas por todos;
dades e outros grupos de apoiadores da causa adotar legislação local referente a acesso à in-
do transporte público. Em relação à limpeza formação, prevendo um mecanismo para soli-
ambiental, o EGAP auxiliou organizações co- citação de informações de posse do governo;
munitárias carentes a acompanhar mais de aprovar leis para livre acesso a reuniões de di-
US$600 milhões em financiamento e gastos rigentes locais; disponibilizar informações so-
para a limpeza de resíduos perigosos nas áreas bre o uso do solo, planejamento de desenvol-
de maior declínio econômico, onde os impac- vimento, transporte, descarte de resíduos,
tos ambientais à saúde são quase sempre mais serviços de utilidade pública e dados de mo-
severos. Esse projeto demonstra que a combi- nitoramento regulares da qualidade ambiental.

208 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Como Agir para que os Governos Locais Acertem

• Participação pública: Acatar e incentivar número de decisões que incorporam a partici-


mecanismos de responsabilização pública na pação e a fiscalização públicas; capacitar os
prestação de serviços, como auditorias sociais envolvidos no processo de modo que os di-
públicas e relatórios de avaliação de desempe- reitos e os meios de obtenção de informações
nho dos órgãos públicos; adotar reformas que sejam integrados aos currículos educacionais.
assegurem a participação das diversas partes in- • Acesso à justiça: Aprimorar a autoridade
teressadas desde o início das etapas de formu- e a competência de ouvidores e demais auto-
lação e planejamento de políticas; ampliar o ridades responsáveis pelo cumprimento da lei,

Tabela 17–1. Resumo de Estudos de Caso em Governança Urbana

Caso Área do problema Inovações


Acesso a informação
Saneamento em Población Gabriel Gestão de resíduos Acesso público a informações
Gonzalez Videla (Santiago, Chile) sobre saneamento e esgoto
Preservação do Castelo de Buda Preservação histórica Divulgação de alvarás para
(Budapeste, Hungria) construção
Construção em área de preservação Uso do solo Divulgação de planos de
(Cidade do México, México) construção e preservação
Projeto de Equidade e Responsabilização Gastos e transporte Acesso a gastos
Governamental (Estados Unidos) público governamentais e dados
demográficos
Participação Pública
Manejo da Bacia do rio Riachuelo- Qualidade da água Participação pública em gestão
Matanza (Buenos Aires, Argentina) integrada de recursos hídricos
Assentamentos ilegais e deslizamentos Moradia e uso Participação pública em
de terra (La Paz, Bolívia) do solo planejamento do uso do solo
e reassentamento
Planejamento e turismo nas áreas Planejamento de Participação pública em
costeiras (Tarcoles, Costa Rica) área costeira planejamento de área costeira
Área já destinada a um supermercado é Uso do solo Participação pública em
convertida em parque, em decorrência avaliação de impacto
de avaliação de impacto ambiental ambiental
(Cuernavaca, México)
Suspensão da obra de um ramal Transportes e uso do Participação pública em
rodoviário (Cuernavaca, México) solo avaliação de impacto ambiental
Transporte urbano (Guadalajara, Transporte público Participação pública em
México) planejamento estratégico de
transporte público
Painel com representantes de diversos Poluição do ar e Participação pública em
setores criado para controle de poluição da água planejamento para redução
(cidade de Map Tha Phut, Tailândia) de poluição

continua

209
Como Agir para que os Governos Locais Acertem ESTADO DO MUNDO 2012

Tabela 17–1. Continuação

Acesso à Justiça
Gestão de resíduos: Câmara Municipal Gestão de resíduos Ampliação de interesse público
(Bamenda, Camarões) e apoio a organizações da
sociedade civil
Recurso de amparo para a Comunidade Gestão de resíduos Direito ao meio ambiente
Ayora – luta contra um aterro sanitário obtido por meio de recurso
(Equador) em tribunal
Interrupção do projeto de um shopping Uso do solo Apoio amplo a litígio de
center (Budapeste, Hungria) interesse público
Polêmicas envolvendo a hidrovia no rio Transportes Apoio amplo a litígio de
Danúbio (Budapeste, Hungria) interesse público
Caso de Lerma Três Marias: decisão Transportes e Uso de liminar para
judicial referente à construção de uso do solo suspensão do projeto
autoestrada (Texcalyacac, México)
Procuradoria do Meio Ambiente Transportes e Ombudsman ou autoridade
suspende obras de um projeto público uso do solo pública exige cumprimento
(Cidade do México, México) da legislação
Processo jurídico referente a construção Transportes e uso do Juiz admite uma
de autoestrada (Fierro del Toro, México) solo “coadvuyancia” (semelhante
à petição do amicus curiae)
Fonte: Ver nota 10 no final.

para que monitorem e exijam a aplicação de oportunidade de expansão dos mecanismos ju-
leis ambientais e de proteção aos direitos civis; rídicos internacionais, como a Convenção de
criar interesse público permanente e mecanis- Aarhus, para lapidar a responsabilização em to-
mos que permitam ao cidadão exigir o cum- dos os níveis governamentais.
primento de legislação ambiental. Sejam quais forem os resultados da Rio+20,
A Rio+20 oferece uma plataforma para que existe necessidade generalizada de aprimorar os
as autoridades oficiais em todos os níveis se processos decisórios localmente. A mitigação e
comprometam com a implementação do Prin- a resposta às ameaças de mudanças climáticas, a
cípio 10. Prefeitos e dirigentes locais presentes escassez de água e a diminuição dos recursos na-
à conferência podem assumir um compromisso turais impõem que os governos e a sociedade ci-
público com as reformas aqui descritas. Os go- vil gerenciem trade-offs inevitáveis em todos
vernos nacionais podem se comprometer com os níveis, sobretudo local. No caminho rumo à
reformas que promovam a descentralização e sustentabilidade ambiental, a humanidade pre-
fomentem instituições locais democráticas; po- cisa contar com instituições fortes e a capacidade
dem também agilizar a implementação do Prin- de trabalho colaborativo em todos os setores.
cípio 10 localmente, forjando um ambiente ju- Para que a sustentabilidade ambiental seja de
rídico e administrativo estimulante, apoiando fato sustentável do ponto de vista político e
inovações e investindo na capacitação de diri- econômica e socialmente justa, as decisões pre-
gentes. Por fim, a Rio+20 pode oferecer uma cisam ocorrer com transparência e democracia.

210 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
Notas

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PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Notas

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870.000; biocombustíveis, 1,5 milhão; e biomassa, Matsumoto, Analysis of Policy Processes to Introduce
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27 de outubro de 2010; Segunda Reunião do 14. Entre os exemplos de órgãos subsidiários estão
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de Alto Nível para Discutir Governança Ambiental mento, a UNICEF, o Instituto das Nações Unidas
Internacional, Helsinque, 21 a 23 de novembro de para Treinamento e Pesquisa, o Conselho de Direi-
2010; Resultados de Nairóbi-Helsinque, “Consul- tos Humanos e o recém-criado ONU Mulheres.
tative Group of Ministers of High-Level Represen- 15. Entre os exemplos dessas agências estão a
tatives on International Environmental Gover- Organização das Nações Unidas para Agricultura e
nance”, Pnuma, 23 de novembro de 2010. Alimentação, a Organização Internacional do Traba-
5. Quadro 8–1 – de Resultados de Nairóbi-Hel- lho, a Organização Mundial da Saúde e a UNESCO.
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241
Notas ESTADO DO MUNDO 2012

17. Pagamento por serviços ecossistêmicos – de J. City Development Strategies to Reduce Poverty
Farley e R. Costanza. “Payments for Ecosystem (Manila: 2004); Panupong Panudulkitti, How
Services: From Local to Global”, Ecological Eco- Does the Level of Urbanization Matter for Poverty
nomics, vol. 69 (2010), pp. 2.060–68. Reduction? (Atlanta, GA: Georgia State University,
2007).
18. Presença de serviços ecossistêmicos nos meios
de comunicação públicos – de J. D. Schwartz, 7. Thomas Tyler e David L. Markell, “Using
“Should We Put a Dollar Value on Nature?” Time, Empirical Research to Design Government Citizen
6 de março de 2010; C. Asquith, “Dow Chemical Participation Processes: A Case Study of Citizens’
and The Nature Conservancy Team Up to Ask, Roles in Environmental Compliance and Enforce-
What Is Nature Worth? Entrevista com Mark Weick ment”, University of Kansas Law Review, vol. 57,
and Michelle Lapinski”, Solutions, vol. 2, nº 6 nº 1 (2007), pp. 1–38; Thomas Webler, Seth Tu-
(2011). ler e Rob Krueger, “What is a Good Public Parti-
cipation Process? Five Perspectives from the Pu-
19. Parceria para Serviços Ecossistêmicos, em blic”, Environmental Management, vol. 27, nº 3
www.fsd.nl/esp; Contabilização de Riqueza e Ava- (2002), pp. 435–50.
liação de Serviços Ecossistêmicos, em go.world-
bank.org/PL08P9FTN0; Plataforma Intergover- 8. Governos Locais pela Sustentabilidade, Se-
namental sobre Biodiversidade e Serviços cond Local Agenda 21 Survey, apresentado para a
Ecossistêmicos, em ipbes.net. Comissão de Desenvolvimento Sustentável (Nova
York: Nações Unidas, 2002); Isabel M. Garcia-
Capítulo 17. Como Agir para que os Sanchez e Jose-Manuel Prado-Lorenzo, “Deter-
Governos Locais Acertem minant Factors in the Degree of Implementation of
Local Agenda 21 in the European Union”, Sustai-
nable Development, vol. 16, nº 1 (2008), pp. 117–
1. A descrição do processo em Camarões baseou-
34; Paul Selman, “Local Agenda 21: Substance or
se em Juiz Nchunu Sama, “Promoting the Founda-
Spin?” Journal of Environmental Planning and Ma-
tions of Environmental Governance and Demo-
nagement, vol. 41, nº 5 (1998), pp. 533–53.
cracy”, apresentação no World Resources Institute,
Washington, DC, 15 de setembro de 2009. 9. Quadro 17–2 baseado no site de The Access
Initiative, em www.accessinitiative.org/about.
2. Foundation for Environment and Develop-
ment (FEDEV) & 1 Other v. Bamenda City Coun- 10. Tabela 17–1 – dos parceiros colaboradores de
cil & 2 Others, HCB/19/08 (Tribunal Superior de The Access Initiative, o que inclui a Asociación
Justiça de Mezam). Prodefensa de la Naturaleza (PRODENA), na Bo-
lívia; o Centro de Direitos Humanos e Meio Am-
3. Conferência das Nações Unidas sobre Meio biente (CEDHA); CoopeSolidar (Costa Rica); o
Ambiente e Desenvolvimento, “Principle 10”, Rio Centro Equatoriano de Derecho Ambiental
Declaration on Environment and Development (CEDA), no Equador; Centro de Gestão e Legis-
(Nairóbi: Programa das Nações Unidas para o Meio lação Ambiental (Hungria), a Fundação para o De-
Ambiente, 1992). senvolvimento e Meio Ambiente (Camarões), Cen-
4. Quadro 17–1 – de Alexandre Kiss e Dinah tro Mexicano de Derecho Ambiental (CEMDA),
Shelton, Guide to International Environmental no México; Participa (Chile), e o Instituto do Meio
Law (Amsterdã: Martinus Nijhoff Publishers, Ambiente da Tailândia. A OMB Watch (Estados
2007). Unidos), embora não seja membro de The Access
Initiative, também contribuiu para a pesquisa.
5. “Chapter 28: Local Authorities’ Initiatives in
Support of Agenda 21”, em Nações Unidas, Earth 11. Projeto de Equidade e Responsabilização Go-
Summit Agenda 21: The United Nations Pro- vernamental, em www.ombwatch.org/EGAP.
gramme of Action from Rio (Nova York: 1993). 12. Pesquisa fornecida por Sofia Plagakis, OMB
6. Divisão de População, World Urbanization Watch.
Prospects: The 2009 Revision (Nova York: Nações 13. Estudos de caso encaminhados para The Ac-
Unidas, 2010); Banco de Desenvolvimento da Ásia, cess Initiative.

242 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
Índice Remissivo

A Alemanha
Aarhus, Convenção de, 205 sustentáveis, edificações, 17
Abramovay, Ricardo, 162 corporações, Código de Sustentabilidade
Abu-Ghaida, Dina, 136 para, 113
Access Initiative, estudos de caso, 207 dados sobre empregos verdes na, 19
Adbusters Media Foundation, 41 desigualdade de renda na, 6
Agenda 21, 60, 62, 88, 161, 205 problemas no mercado de trabalho na, 6
Aliança para Abundância de Alimentos e redução da jornada de trabalho na, 35-36
Energia, 170 aquecimento global. Ver mudanças climáticas
Associação Americana de Planejamento, 94 assistência médica
animais e produtos de origem animal, 136 poluição atmosférica causada pelos
aquicultura, 182 transportes e problemas de saúde
mudanças climáticas e, 179 decorrentes, 44-45
consumo mundial crescente, 179-180 produtos de origem animal, consumo
problemas de saúde relacionados a, 181, crescente de, 181, 183
183 decrescimento de intervenções médicas,
produção industrializada e pecuária 35-36
intensiva, 179 assentamentos informais. Ver favelas ou
animais de estimação, impacto ambiental assentamentos informais
causado por, 136, 137 arquitetura institucional para sustentabilidade.
populações, necessidade de estabilizar, 137 Ver governança para sustentabilidade
recursos naturais, desigualdade e acordos internacionais sobre transporte, 62-64
ineficiência no uso de, 181 Agência Internacional de Energia Atômica,
sustentabilidade, melhora de, 184, 185 125
produção de dejetos e poluição causada por Agência Internacional de Energia, 61
181 aquisições de terras no exterior para fins
uso de água e, 183, 184, 185 agrícolas, 183
bem-estar animal, 187 Avaliação Ecossistêmica do Milênio, 190, 242
Annan, Kofi, 102 Ações de Mitigação Adequadas
aquicultura, 182 Nacionalmente, 63, 74
Arezzo, 155 Acordo Norte-Americano de Livre Comércio,
Argentina, 207 21
Armênia, 176 ajuda oficial ao desenvolvimento para
Austrália, 33, 156, 164, 191 infraestrutura de transporte, 70
automóveis. Ver transporte animais de estimação, impacto ambiental
Agência de Estatísticas do Trabalho, EUA, 19 causado por, 136, 137
Aliança de Cidades, 57 A Planet of Civic Laboratories: The Future of
abismo digital, 75-76 Cities, Information and Inclusion, 80
Agência de Proteção Ambiental, EUA, 65, 91 África do Sul

243
Índice Remissivo ESTADO DO MUNDO 2012

Bolsa de Valores de Johannesburgo, Bloomberg, Michael, 87, 88


exigência pela, de cumprimento do Bogotá, Colômbia, 53
Código King de Governança Bonner, Chris, 19
Corporativa, 103 BOVESPA, 113, 165
desenvolvimento urbano na, 53, 54 Brasil Sem Miséria, 18
visão de futuro sustentável na, 106 Brasil
tarifas sobre consumo de água, 23 animais e produtos de origem animal no,
A História da Bugiganga, projeto, 41 183
A Economia dos Ecossistemas e da biocombustíveis no, 12
Biodiversidade, 190-192 sustentável, consumo, meios de atingir,
Alto Comissariado das Nações Unidas para 163-164, 166
Sustentabilidade (proposição), 126 expansão econômica e cultura de consumo
Alto Comissariado das Nações Unidas para os no, 6
Refugiados, 126 economia informal no, 45
Autoridade de Desenvolvimento Urbano, Política Nacional de Resíduos Sólidos, 18
Cingapura, 50 Política Nacional sobre Mudança Climática,
Agência Norte-Americana para o 166
Desenvolvimento Internacional, 49, sistemas de transporte público no, 15
138-139 produção de soja para ração no, 183
Agência de Estatísticas do Trabalho dos Projeto TAMAR – Programa Brasileiro de
Estados Unidos, 19 Conservação das Tartarugas
Agência de Proteção Ambiental dos Estados Marinhas, 195
Unidos, 65, 91 desenvolvimento urbano no, 45
A Voz de Kibera, 84 catadores de lixo no, 18
Brown, Kirk, 35
Banco de Desenvolvimento da África, 72
B Banco de Desenvolvimento da Ásia, 63, 64
B Corps, 110-111, 114 Banco de Desenvolvimento Chinês, 21
Ban Ki-moon, 98, 114 Banco Europeu para a Reconstrução e o
Bandung, Indonésia, 52 Desenvolvimento, 72
Bangladesh, 14, 46, 112, 137 Banco Grameen / Grupo Danone
benchmarks versus indicadores, 226 (Bangladesh/França) consórcio, 112
Bento 16 (Papa), 38, 165 Banco Interamericano de Desenvolvimento,
Bertelsmann Stiftung, 89 72
Butão, 159 Bolsa de Valores de Johannesburgo, 103, 113
bicicletas bancos multilaterais de desenvolvimento,
sistemas de bicicletas comunitárias, 68, 69 investimentos no setor de transportes
pistas e ciclovias, 62, 67, 68 por, 72-73
acidentes de trânsito e, 61, 66 Banco Nacional do Desenvolvimento, Brasil,
Biermann, Frank, 126 167
Bigg, Tom, 3 Bolsa de Valores de Xangai, 113
biodiversidade, 118, 189–196 Bolsa de Valores de Cingapura, 113
mudanças climáticas e, 190-192 bolsas de valores, 103, 113
recifes de corais, ameaças a, 195 Banco Mundial
atual perda de, 189-190 em relação a animais e produtos de origem
definição de, 190-192 animal, 201-202
destruição do habitat, impedir, 189, 194- em relação à crise, criando necessidade de
196 economia verde, 5, 6
importância de, 190–192 em relação a serviços ecossistêmicos, 201-
espécies não nativas, introdução de, 191 202
metas políticas, não cumprimento de, 192 sistemas de indicadores, 75-76
em ambientes urbanos, 193 tecnologias de informação e comunicação,
biocombustíveis, 12–13, 171-172, 183 75-76

244 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Índice Remissivo

controle populacional e, 136 Cisco, 77, 106


projetos na área de transporte, 63, 72 Colômbia, 53, 65, 67, 71
desenvolvimento urbano e, 49, 72 Comissão para a Mensuração de Desempenho
bem-estar e níveis de consumo, ausência e Econômico e Progresso Social, 162
ligação entre, 162-163, 165 Common Security Clubs, 38
Commonwealth Organization of Planners, 89
Comunicação do Progresso, requisitos do
C Global Compact referentes a, 102
Camacho, Danica May, 60, 74 Conar (Conselho Nacional de
Camarões, 203-204, 207, 208 Autorregulamentação Publicitária), 157-
Canadá, 12,164 158
capital Congresso para o Novo Urbanismo, 80
fontes de obtenção pela empresas, 113 contracepção e planejamento familiar, acesso a,
natural, 198. Ver também serviços 135-136
ecossistêmicos Convenção sobre Acesso à Informação,
carros. Ver transporte Participação Pública em Processos de
Colonizadores de Catan: Oil Springs, jogo de Tomada de Decisão e Acesso à Justiça
tabuleiro, 42 em Questões Ambientais, 205
Cemex, 59 Convenção sobre Biodiversidade, 3, 189, 190,
Center for American Progress, 90 igual 191, 192
Centro de Estudos em Sustentabilidade, São Corporation 20/20, 108
Paulo, 164 corporações, 98-116. Ver também comunidade
Centro de Cooperação Internacional da empresarial e sustentabilidade
Universidade de Nova York, 11 publicidade, tributação de, 33
Centre for Internet and Society in India, 83 capital, fontes de, 112-114
CERES, 103 contrato social das, 105, 110-111
cesarianas, 39 sustentável, consumo, papel das, 163-165
Charles, príncipe de Gales, 26 desenvolvimento e crescimento de
contrato social das empresas, 105, 110-111 transnacionalismo nas, 99-102
Chile, 207 democracia econômica, necessidade de, 22
China funções exercidas no exterior, 98, 99-102
animais e produtos de origem animal na, crise econômica mundial e, 98, 104-105
180, 181, 182, 183, 185 questões de governança, 105-108
aquicultura na, 182 direitos humanos e políticos dos indivíduos
biocombustíveis na, 12 e, 108-110
mercado de carbono, experimental, 162, sociedades joint stock e sociedades limitadas,
163 evolução do conceito de, 100
cães na, 137 propriedade das, 111-113
expansão econômica na, 6 princípios para um novo modelo sustentável
sistemas de indicadores na, 78, 79 das, 108, 110
tecnologias de informação e comunicação e interesses privados e públicos, equilíbrio
desenvolvimento urbano na, 78, 79 de,108
subsídios aos fabricantes de placas de parcerias público-privadas no
energia solar e dumping, controvérsia desenvolvimento urbano, 77, 80-81
entre Estados Unidos e China sobre, finalidade das, 105-108
21 escala, problema de, 98-99, 107
capitalismo de Estado na, 112 lucro para os acionistas versus interesses de
desenvolvimento urbano na, 51 outros participantes, 108
subsídios aos fabricantes de turbinas eólicas, soft law e iniciativas voluntárias, 102-105
controvérsia entre Estados Unidos e capitalismo de Estado, 112
China sobre, 21 transitoriedade, problema de, 107-108
China National Petroleum, 101 visão de empresa sustentável, 105-108
Chirac, Jacques, 118 Costa Rica, 50, 207

245
Índice Remissivo ESTADO DO MUNDO 2012

Coulter, Chris, 155 Código King de Governança Corporativa, 103


Cuba, 37, 137 Conselho de Gestão Marinha, 104
Curitiba, Brasil, 15, 52 Cidade de Masdar, Emirados Árabes Unidos,
controle de natalidade e planejamento familiar, 79
acesso a, 135-136 Cidade do México, México, 46, 51
Conselho Nacional de Autorregulamentação Consenso de Monterrey, Conferência
Publicitária (Conar), 157-158 Internacional sobre Financiamento para
coligação Bridging the Gap, 63 o Desenvolvimento, 161
comunidade empresarial e sustentabilidade, coabitação de diferentes gerações de uma
161. Ver também empresas mesma família, 67
padrões de contabilidade, necessidade de Campanha Segunda-Feira Sem Carne, 31, 187
redefinir, 162 capital natural, 241. Ver também serviços
serviços ecossistêmicos, pagamento por, ecossistêmicos
163 Cidade de Nova York, 80, 82
implementação de elementos de política, consumo e desenvolvimento excessivos. Ver
165-166 também consumo, sustentável
normas operacionais mínimas, definição de, desvinculação entre desempenho
163 econômico e uso de insumos materiais
políticas de estímulo a uma economia para combater, 19, 24
verde, inclusiva e responsável, 163- problema mundial de, 5-6, 9-10, 24-25,
164 143
crescimento econômico e desenvolvimento políticas de definição de preços para
decrescimento versus, 24-25. Ver também desestimular, 20–21
decrescimento redução da jornada de trabalho e, 23
economia verde, compatibilidade com, 8- técnicas para redução de, 27-29
11. Ver também economia verde controle societário, 107
economia em estado estável, conceito de, Comissão Pew sobre Produção Intensiva de
10 Animais, 181
Comissão Europeia, 17, 32 Critérios Referenciais de Cidades Sustentáveis,
crise do preço dos alimentos de 2008, 171 União Europeia, 89
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Cúpula da Terra, Rio, 1992 (Conferência das
Mudanças Climáticas, 3, 4 Nações Unidas sobre Meio
comunidade de Gaviotas, Colômbia, 140 Ambiente e Desenvolvimento)
Conselho Alemão de Desenvolvimento biodiversidade e, 189
Sustentável, 103 comunidade empresarial e, 161, 168
crise econômica mundial governança para sustentabilidade e, 118
corporações e comunidade empresarial, economia verde e, 3, 4, 19
101-102, 161 sistemas de indicadores para
economia verde e, 5, 6, 7, 17, 18 desenvolvimento urbano e, 88
governos locais e, 203 transporte e, 60, 61
construções verdes versus construções Coreia do Sul, 78
sustentáveis, 143. Ver também Colonizadores de Catan: Oil Springs, jogo de
sustentáveis, edificações tabuleiro, 41-42
Conferência Internacional sobre Cingapura, 50, 69, 75, 82
Financiamento para o Desenvolvimento, Comunidade de Sirius, Massachusetts, 38
161 critérios SMART, Grupo de Trabalho para o
Comissão de Comércio Internacional, 21 Desenvolvimento Urbano Sustentável,
cúpulas internacionais sobre governança do EUA, 90, 92, 96
meio ambiente e da sustentabilidade, capitalismo de Estado, 112
118-119 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Ambiente Humano, Estocolmo (1972),
Sustentável – Johannesburgo (2002), 3, 118, 168
118, 161 corporações transnacionais. Ver corporações

246 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Índice Remissivo

Comissão das Nações Unidas para Deutsche Börse, 114


Desenvolvimento Sustentável, 64, 89, 118 Dhaka, Bangladesh, 46
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Donovan, Shaun, 97
Ambiente e Desenvolvimento. Ver Dow Chemical, 201
Cúpula da Terra de 1992, DOWA, 157-158
Conferência das Nações Unidas sobre DuPont, 171
Desenvolvimento Sustentável. Ver Rio Duran, Enric, 24
2012/Rio+20 Durban, África do Sul, 23, 54
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito Declaração de Bangkok de 2020, sobre
do Mar, 195-196 transporte sustentável, 63-64
catadores de lixo, 17, 18, 19, 46 Declaração de Bogotá, sobre transporte
Contabilização de Riqueza e Avaliação de sustentável, 63-64
Serviços Ecossistêmicos, Banco Desbravando Novos Caminhos, programa
Mundial, 201-202 nacional de habitação, África do Sul, 50
Conselho Empresarial Mundial para o Dia Sem Compras, 38, 41
Desenvolvimento Sustentável, 106 democracia econômica, 23
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Diretiva para o Desempenho Energético de
Desenvolvimento, 88 Edifícios, UE, 17
Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Departamento Americano de Moradia e
Sustentável, Johannesburgo (2002), Desenvolvimento Urbano, 87, 91
118, 161 Disputas comerciais internacionais relativas a
subsídios ao setor energético, 21
Declaração do Milênio, 161
D Documento Final de Nairóbi-Helsinque
Dakar, Senegal, 23 (2010), 119
Daly, Herman, 10 Departamento de Administração e
Declaração de Princípios sobre Florestas, 161 Orçamento, EUA, 89, 94
desvinculação de desempenho econômico do Divisão de Comunidades Sustentáveis,
uso de insumos materiais, 9, 24-25 Agência de Proteção Ambiental dos
decrescimento, 24-42 Estados Unidos, 91
vida comunitária e, 35-38 Divisão de Moradias e Comunidades
conferência sobre (2010), 24 Sustentáveis, Departamento Americano
consumo em geral, redução do, 26-28 de Moradia e Desenvolvimento Urbano,
definição de, 24 87
mudanças ecológicas impondo necessidade Declaração do Rio, 161, 204-207
de, 24-25 deslocamentos de ida e volta para o trabalho,
estímulo a, 36–38 149
hortas, família e comunidade, 35 desenvolvimento urbano, 43-59. Ver também
de intervenções médicas, 37 tecnologias de informação e
coabitação de diferentes gerações de uma comunicação para o
mesma família, 37 desenvolvimento urbano; Estados
necessidade de, 8, 24-25 Unidos, desenvolvimento urbano
desenvolvimento excessivo e consumo sustentável nos
exagerado, problema de, 26-27 Access Initiative, estudos de caso na, 207
economia de plenitude, conceito de, 36-40 barreiras a formas inclusivas e sustentáveis
redução da jornada de trabalho, 32, 34-35 de, 49-50
sacrifício e sustentabilidade, 29 biodiversidade e, 193
iniciativas de vida simples, 36-37 sustentáveis, edificações, planejamento
tributação como meio de, 31-33 urbano e regional para, 149-150
DegrowthPedia, 41 mudanças climáticas e, 24-25
Déli, Índia, 46 atuais práticas em planejamento, 43-44
Dinamarca, 32, 193 fundos de financiamento para inovação
Detroit, Michigan, 106 voltada ao, 58

247
Índice Remissivo ESTADO DO MUNDO 2012

importância de formas inclusivas e disputas comerciais internacionais relativas a


sustentáveis de, 43-44 políticas de energia renovável, 21
grupo de colaboração internacional, criação Cidade de Masdar, objetivo de zerar
de, 59 emissões de dióxido de carbono, 79
megacidade, 46 energia solar, 12, 21
comissões nacionais, criação de, 56-57 energia eólica, 12-13, 21
fundos nacionais de incentivo para, 57-58 Environmental Management Group e
escolhas políticas que geram formas Programa das Nações Unidas para o
inclusivas e sustentáveis de, 56-59 Meio Ambiente, 117
favelas. Ver favelas ou assentamentos Etiópia, 174, 177
informais Eurima, 17
planejamento especial, importância de, 49 Europa/União Europeia
práticas em planejamento, fortalecimento sustentáveis, edificações, 150
de, 47-54 sustentável, consumo, meios de atingir, 150
cidades sustentáveis, fomento a, 164-165 sistema de comércio de emissões, 150
transportes, papel dos, 47-54, 60 Diretiva para o Desempenho Energético de
população mundial, mudança da para área Edifícios , 17
urbanas, 43 Feed-In Tariff, controvérsia entre Japão e
Departamento Americano de Moradia e Ontário sobre, 21
Desenvolvimento Urbano, 87, 91 poluição sonora causada pelos transportes,
Departamento de Administração e Orçamento 65
dos Estados Unidos, 89, 94 empregos no setor de reciclagem, 17-18
Critérios Referenciais de Cidades
Sustentáveis, 89
E uso diário de recursos naturais, em
eBay, 30 quilogramas, 27
Economist Intelligence Unit, 90, 181-182 European Trade Union Congress, 17
ecovilas, 39 Eurostat, 89
Equador, 163, 187 envelhecimento da população global, 134, 141
educação enterros, Estados Unidos, recursos naturais
sustentável, consumo, obtenção de, 162, consumidos por, 30-31
167 emissões de carbono. Ver também gases de
para hábitos alimentares saudáveis, 181 efeito estufa
integração de matérias sobre demografia, sustentáveis, edificações, 15-16, 143-149
meio ambiente e desenvolvimento aos impostos ambientais para reduzir, 32-33,
currículos escolares, 140 141, 161, 165
educação sexual, 139 taxa mundial para 2010, 6
universalização do ensino médio, 136+138 Cidade de Masdar, objetivo de zerar
empresas de propriedade de funcionários, 23, emissões de dióxido de carbono, 79
111-112 mercados nacionais de carbono,
emprego necessidade de criação de, 162-163
biodiversidade e, 192 desenvolvimento urbano e, 44
carga horária flexível e deslocamentos de edição de escolhas, 28
ida e volta para o trabalho, 149 econômica, democracia, 23
crise mundial em, 7 economia verde, 3–23
empregos verdes, 11-12, 19-20, 149 epidemia de obesidade, 10, 26, 181-183
redução da jornada de trabalho, 23, 34-36 Escritório para a Coordenação de Assuntos
capacitação em empregos verdes, 19-20 Humanitários, 122, 126
opções de férias e licenças, 34-35 biodiversidade e, 189-190
energia edificações na, 15-17
biocombustíveis, 12–13, 171, 183 comunidade empresarial e passos rumo à,
sustentáveis, edificações, 15-16, 161-162 150
em economia verde, 12-13 crise econômica, ambiental, política e social

248 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Índice Remissivo

complexa acarretando necessidade de, empresas de propriedade de empregados


3–8 nos, 112
desvinculação entre desempenho desigualdade de renda nos, 6, 7, 32
econômico e uso de insumos problemas no mercado de trabalho nos, 6
materiais em, 8 epidemia de obesidade nos, 26
definição de, 8 animais de estimação, impacto ambiental
crescimento econômico e desenvolvimento, causado por, 137
compatibilidade com, 8-11 pró-natalidade, deduções fiscais nos, 139
empregos em, 11-112, 14-19 empregos no setor de reciclagem nos, 17-
uso de energia em, 12-14 19
crise econômica global e, 5-8, 17 uso diário de recursos naturais, em
solidariedade global referente a, necessidade quilogramas, 27
de, 18-21 subsídios aos fabricantes de placas de
disputas comerciais internacionais, 21 energia solar e dumping, controvérsia
recomendações de políticas para estimular, entre Estados Unidos e China sobre,
22-23 21
reciclagem, 17, 19 férias e períodos de licença nos, 35-36
Rio 2012 sobre, 3-4, 9, 118-119 subsídios aos fabricantes de turbinas eólicas,
transporte, 14, 15 controvérsia entre Estados Unidos e
Estratégia de Adaptação às Mudanças China sobre, 21
Climáticas, Climate, Durban, África do Estados Unidos, desenvolvimento urbano
Sul, 54 sustentável nos, 87-109
economia informal, 6, 18-19, 45 sistemas de indicadores, 87. Ver também
Estrutura de Planejamento Estratégico de sistemas de indicadores
Desenvolvimento Urbano de Kahama, Princípios de Habitabilidade, Parceria para
Tanzânia, 51 Comunidades Sustentáveis, 88, 90-94
educação para a mídia, 164, 166 plataforma nacional de desenvolvimento
espécies não nativas, introdução de, 191 sustentável, 88, 90-94
Equal Employment Opportunities Trust, nova mídia cívica, 83-85
Nova Zelândia, 159 eólica, energia, 13, 14, 21
economia de plenitude, conceito de, 36-40 equilíbrio entre vida professional e vida pessoal
Estratégia Política, Parceria para Comunidades prêmios na Nova Zelândia para, 159
Sustentáveis, 88, 90-91, 97 redução da jornada de trabalho, 23, 34-36
efeito de rebote, 8 bem-estar e níveis de consumo, ausência de
energia renovável. Ver energia ligação entre, 155-157
energia solar, 12-13, 21
Espanha, 13, 15, 19, 102
economia em estado estável, conceito de, 10 F
Emirados Árabes Unidos, 79 Facebook, 155
Estados Unidos. Ver também verbetes em Favela Bairro, programa de melhoria em
Estados Unidos, para departamentos favelas, Rio de Janeiro, 52
e agências específicas Feed-In Tariff, controvérsia entre Japão e
animais e produtos de origem animal nos, Ontário, 21
181, 187 financiamento
indústria automobilística, resgate da, 107 para pequenos agricultores, 174
sustentáveis, edificações, 17, 18 para economia verde, 21
enterros, recursos naturais consumidos por, fundo internacional para apoio à
30-31 sustentabilidade, 165
contrato social de empresas, 105-106 financiamentos intermediários, 57-58
direitos de liberdade de expressão das microcrédito, 14, 50, 174
empresas nos, 23 transporte, 63-64
carteiras de habilitação, queda na obtenção para desenvolvimento urbano, 57-58
por adolescentes, 28 FixMyStreet, Reino Unido, 84-85

249
Índice Remissivo ESTADO DO MUNDO 2012

Flexible Purpose Corporations, 111 gases de efeito estufa. Ver também emissões de
Fundação Ford, 94, 125 carbono
Forest Stewardship Council, 104 setor agropecuário, fonte de, 185
Fórum para o Futuro, Reino Unido, 89 transportes e, 61, 62, 67
Fundação para o Desenvolvimento e Meio Greenpeace, 154-155, 167
Ambiente, Camarões, 203 Grupo Danone, 112
França, 40, 102, 112 GrupoNueva, 112
Friends of the Earth Europe, 153 Guo Meng, 181
FrontlineSMS, 85 Gurría, Angel, 159
Frente de Liberação de Cartazes, 34 governança para sustentabilidade, 117-131.
Fundo de Tecnologia Limpa, 72 Ver também Programa das Nações
Fórum Clima, 166 Unidas para o Meio Ambiente
Fundação Getulio Vargas, São Paulo, 164 questões de autoridade, recursos e
Fundo Mundial para o Meio Ambiente, 62, conectividade, 125-127
118 nas empresas 98-99, 101-102, 103-105,
Fundo Monetário Internacional, 89 109-110
favela de Kibera, Nairóbi, nova mídia cívica governos versus agentes não
no, 84 governamentais, 118
financiamentos intermediários, 57-58 cúpulas internacionais sobre meio
Fundação Nike, 164 ambiente, papel de, 118
Filadélfia, Pensilvânia, 88 dentro versus fora dos sistema das Nações
Filipinas, 60, 71 Unidas, 125
favelas ou assentamentos informais, 43 novo modelo para, 119-121
barreiras ao desenvolvimento inclusivo e abordagem de governança compartilhada,
sustentável de, 51, 54 127-129
atuais práticas em planejamento urbano e, Alto Comissariado das Nações Unidas para
47-49 Sustentabilidade (proposição), 128
financiamento para melhorias em, 57-58 governos. Ver também governos locais
incidência mundial de, 16, 50 indústria agropecuária, melhorar a
fortalecimento de práticas de planejamento sustentabilidade de, 186
urbano para melhorar ou eliminar, sustentabilidade agrícola, papel na, 187
51-54 mudanças climáticas, preparação para as, 34
Fórum de Negócios de Resíduos Sólidos, estabilização populacional, papel na, 137
Brasil, 166-167 Programa das Nações Unidas para o Meio
Fundo de População das Nações Unidas, 183 Ambiente, ações para aprimoramento
Fórum Econômico Mundial, 154 do, 117
gestão integrada dos recursos hídricos, 175
grupo de colaboração internacional para o
G desenvolvimento urbano, necessidade de
G77, 8-9 criação de, 59
Gardner, Richard, 121 governos locais, 158, 203-210
Gates, Bill, 32, 165 Access Initiative, estudos de caso na, 207
Gazprom, 101 acesso a informações e, 203, 204, 207,
General Electric, 77, 80 208, 209
GLOBAL 2000, 153 acesso a justiça e, 203, 204, 207, 209-210
Global Compact, 102 importância de, 204, 205
Global Reporting Initiative, 103 problemas e questões com, 205, 206
Globescan, 155 participação pública e, 204, 205, 209
Good Guide, 160 Declaração do Rio, Princípio 10, e, 204-
Gore, Al, 165 208
Grécia, 40 Rio+20 e, 206-208, 210
Green Building Council, Estados Unidos, desenvolvimento urbano envolvendo. Ver
89-90 desenvolvimento urbano

250 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Índice Remissivo

gestão de resíduos e sistemas de reciclagem International Diabetes Foundation, 181


em economia verde, 17-19 Instituto Internacional para o Meio Ambiente
catadores de lixo informais, 17-19, 45 e o Desenvolvimento, 3
iniciativas de sociedade baseada na saúde do Instituto Internacional para o
ciclo de vida dos recursos materiais Desenvolvimento Sustentável, 94
no Japão, 158-159 Itália, 41, 110
gestão de resíduos. Ver reciclagem e gestão de Iniciativa de Melhores Construções, EUA, 17
resíduos Ilha de Páscoa, desmatamento da, 189
Grupo Consultivo em Pesquisa Agrícola, 22 Instituto Ethos, Brasil, 166
Indicadores de Retenção de Aprendizado na
H Europa, Bertelsmann Stiftung, 89
Haiti, 45, 137 investimento estrangeiro direto (IED), 47
Halle, Mark, 8 Iniciativa Global para Classificação da
Handy, Charles, 115 Sustentabilidade, 113
Harrison, Gordon, 125 Iniciativa Grande Transição, 106
Herrmann, Michael, 183 Índice de Cidades Verdes, 90
Hertsgaard, Mark, 34 Índice de Felicidade Interna Bruta, Butão,
Honduras, 175 159
Hook, Walter, 63 Iniciativa para Resiliência Rural, Etiópia, 177
Hope Depot, 154-155 iniciativas de sociedade baseada na saúde do
Huduma, Quênia, 85 ciclo de vida dos recursos materiais
Huq, Saleemul, 10 no Japão, 158-159
Hora do Planeta, 145-146 Índice STAR de Comunidades, 89-90
hortas, família e comunidade, 35 Instituto de Estatísticas para a Ásia e Região
Holanda, 34, 35 do Pacífico, Tóquio, 90
iniciativas de vida simples, 38
I Instituto Tellus, 98
IBM, 81 Instituto de Transportes do Texas, 65
ICLEI – Governos Locais pela Índice de Cidades Sustentáveis, Fórum para o
Sustentabilidade, 89-90, 164 Futuro, Reino Unido, 89
Índia Instituto das Nações Unidas para Treinamento
aquisições de terras no exterior para fins e Pesquisa, 122
agrícolas pela, 183 Instituto Akatu, 156
animais e produtos de origem animal na,
179, 180, 181, 182, 183, 185, 187
setor de construção civil na, 16
J
Jackson, Tim, 40
expansão econômica na, 5
serviços ecossistêmicos como uma Japão
porcentagem do PIB na, 11 capacitação em extensão rural no, 175
desigualdade de renda na, 6-7 Feed-In Tariff, controvérsia entre Japão e
economia informal na, 45 Ontário sobre, 21
tecnologias de informação e comunicação e problemas no mercado de trabalho no, 6-7
desenvolvimento urbano na, 75-76, megacidade, Tóquio como, 46
78, 79, 83 SMCS (sociedade baseada na saúde do ciclo
movimento Direito a Informação na, 83 de vida dos recursos materiais)
desenvolvimento urbano na, 45, 46, 52 iniciativas no, 158-159
Indicadores para a Melhoria de Saúde Infantil, Programa Top Runner, 22, 158
Organização Mundial da Saúde, 89 JCDecaux, 77
Indonésia, 52, 53, 67, 155, 176 John Deere, 171
Instituto para o Futuro, 78, 80 John Lewis Partnership, 112
Institute of Policy Studies, 38 Johns Hopkins Bloomberg School of Public
International Aid Transparency Initiative, 83 Health, 31

251
Índice Remissivo ESTADO DO MUNDO 2012

Johnson, Boris, 81 Mumbai, Índia, desenvolvimento urbano em,


jornada de trabalho flexível, 156 52
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo,
62-63
K mudanças climáticas
Karkara, 175
animais e produtos de origem animal,
Kasser, Tim, 35
185
Kennan, George, 121
biodiversidade e, 190
Ketelan, Surakarta, Indonésia, projeto
decrescimento, necessidade de, 24-25
Revitalização de Favelas, 54
Durban, negociações em 2011 em, 22
KFC, 179
inundações na Austrália devido a, 33
Klasen, Stephan, 136
Convenção-Quadro sobre, 3
hortas, família e comunidade, 35
L preparação dos governos para, 34
Lagos, Nigéria, 75, 84 Protocolo de Kyoto,
LaHood, Ray, 93 25, 62-64, 194
Latouche, Serge, 25 Política Nacional sobre, Brasil, 166
Lavasa, Índia, 79 17ª Conferência das Partes no Tratado da
Lennar (incorporadora imobiliária americana), ONU sobre, 4
37 transporte e, 62-64
Lima, Peru, 65 desenvolvimento urbano e, 24-25
Lindsay, Greg, 77 meio ambiente
Lingrajnagar, Índia, 75 crise econômica, tratada como artigo de
London Datastore, 81 luxo em, 8
La Décroissance, 41 abordagem sustentável ao. Ver
licença-maternidade, 35 sustentabilidade
licença maternidade/paternidade, 35 ambientais, impostos, 32, 140-141,
Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas, 189 155, 163
Laboratório de Sistemas de Informações Missão Jawaharal Nehru de Revitalização
Espaciais, Universidade de Urbana, Índia, 50
Columbia, 182 medicina. Ver assistência médica
Movimento Ocupe, 4, 23, 32, 41
movimento de abertura de dados, 82-83
M movimento Direito a Informação, Índia, 83
Mali, 174, 176 Movimento Slow Food, 31
Manila, Filipinas, 58 Moradores de Assentamentos Precários
McKinsey Global Institute, 47 Internacionais, 43
Meadows, Donella, 106 mídia social e conscientização do consumidor,
medicina. Ver assistência médica 155
megacidades, 46 Movimento Cidades em Transição, 43
Merkel, Angela, 165 Ministério dos Transportes, EUA, 88
México Ministério dos Transportes dos Estados
economia informal no, 45 Unidos, 88
governos locais no, 207 mulheres adultas e jovens. Ver problemas de
desenvolvimento urbano no, 45, 46, 51, 53 gênero
microcrédito, 14, 50, 77 Metas Globais de Biodiversidade (Metas de
MIT SENSEable City Lab, 82 Aichi), 192
Mondragón Corporación Cooperativa, região
basca, Espanha, 23
Monsanto, 171, 175, 184 N
Mouradian, Khatchig, 127 Nairóbi, Quênia, 51, 84, 179
Movimento Nacional dos Catadores de National League of Cities, EUA, 89-90
Materiais Recicláveis, Brasil, 17 Nature Conservancy, 201

252 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Índice Remissivo

Naylor, Rosamond, 183 Patagonia (fabricante de roupas para uso em


Nestlé, 155 ambientes externos), 30
Net Impact, 41 Programa Patrimonio Hoy, México, 59
nova mídia cívica, 83-85 Peñalosa, Enrique, 62
New Economics Foundation, 35, 41 Peru, 65
Novo Urbanismo, 79 Perveen, Shama, 185
Nova Zelândia, 164 Petrobras, 101
NextDrop, 85 Philosophical Transactions of the Royal Society,
Nigéria, 75, 84 25
Norwegian State Housing Bank, 147 Plan IT, Portugal, 79
Novo Nordisk, 110 PlaNYC 2030, 82, 87
Novo Acordo Global Verde, Reino Unido Plenty Foods, 176
normas operacionais mínimas para as Polman, Paul, 116
empresas, 163 Population Connection, 140
populacional, estabilização, 134-142
envelhecimento populacional, como tratar
O do, 134, 141
OMB Watch, 208
contracepção e planejamento familiar,
Organização para Cooperação e
acesso a, 135-136
Desenvolvimento Econômico, 5, 89,
projeções atuais da população mundial,
125, 238
134-135
Orr, David, 39
tributação sobre o meio ambiente, 140-141
Ouroussoff, Nicolai, 79
preconceito de gênero, erradicação do,
Oxfam, 170, 173, 174, 175, 176, 177
138-139
Organização Internacional do Trabalho, 6, 20,
apoio e liderança governamental, 141
45, 122
impacto da, 142
Organização Marítima Internacional, 122
integração de matérias sobre demografia,
Objetivos de Consumo do Milênio, 161
meio ambiente e desenvolvimento aos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio,
currículos escolares, 140
63, 89, 161
políticas pró-natalidade, eliminação das,
Opções de Programas e Ações para Acelerar a
139-140
Implantação: Transportes, 64
educação sexual, 139
organizações de produtores para agricultura
universalização do ensino médio, 136-137
sustentável, 182
Porto Alegre, Brasil, 18, 53
Organização das Nações Unidas para
Portugal, 79
Agricultura e Alimentação, 126, 173,
Princípios de um Novo Modelo Corporativo,
182
108-110
Organização das Nações Unidas para o
parcerias público-privadas no desenvolvimento
Desenvolvimento Industrial, 123-124
urbano, 77-78, 80-81
Organização Mundial de Constituição de
padrões de contabilidade, necessidade de
Empresas, 111
redefinir, 162
Organização Mundial do Meio Ambiente
publicidade
(proposição), 118
educação para a mídia em, 164, 168
Organização Mundial da Saúde, 88, 126
tributação de, 33
Organização Mundial do Comércio, 21, 126
poluição atmosférica causada pelos transportes
e problemas de saúde decorrentes, 64-
P 65
Paris, França, 77 Plano Estratégico de Bali para Apoio
Parceria para Comunidades Sustentáveis, Tecnológico e Capacitação, 120, 161
EUA, 88, 90-94 Pequim, China, 52
Parceria para Transporte Sustentável de Baixo Processo de Belgrado, 119
Carbono, 73 Programa Bolsa Família, Brasil, 6

253
Índice Remissivo ESTADO DO MUNDO 2012

Pacto Empresarial pela Integridade e Contra a Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011–
Corrupção, 167 2020, 192, 193, 194, 195
partos, medicalização exagerada de, 39 Projeto TAMAR – Programa Brasileiro de
Programa Cities, General Electric, 77 Conservação das Tartarugas Marinhas, 195
projeto de urbanização de Dharavi, Mumbai, Programa Top Runner, Japão, 22, 158
Índia, 52 Plano Operacional para Iniciativas em
padrão para kosher ecológico, 38 Transporte Sustentável, Banco de
Parceria para Serviços Ecossistêmicos, 201- Desenvolvimento da Ásia, 72
202 programa Cidades Sustentáveis, 47, 78, 165
Projeto de Equidade e Responsabilização Programa das Nações Unidas para o
Governamental, 208 Desenvolvimento, 32, 123
Prêmio EthicMark, 164 Programa das Nações Unidas para o Meio
planejamento familiar e contracepção, acesso a, Ambiente
135-136 sobre agricultura e produtos de origem
pesca e biodiversidade, 195 animal, 186
problemas de gênero questões de autoridade, recursos e
sustentabilidade agrícola e igualdade de
conectividade, 125-127
gêneros, 174
sobre biodiversidade, 192
iniciativas educacionais e estabilização
populacional, 136-138 corporações e, 103
erradicação de preconceito de gênero, criação do, 117-118, 122-123
controle populacional por meio de, serviços ecossistêmicos e, 192
138-139 Grupo de Gestão Ambiental e, 129-130
plantas geneticamente modificadas, 175 ações governamentais para aprimorar o,
Plano Greenworks de 2009, Filadélfia, 88 129-130
Painel Intergovernamental sobre Mudanças economia verde e, 8
Climáticas, 61, 67, 68, 150, 193 Nairóbi, sede em, 120
Plataforma Intergovernamental sobre razões para o Pnuma ser um órgão
Biodiversidade e Serviços subsidiário, 119
Ecossistêmicos, 194 opções de novos modelos para, 118-119
Plano de Implementação de Johannesburgo, órgão de consultoria científica, necessidade
161 de, 129
projeto piloto Ju’er Hutong, Pequim, China, governança compartilhada, abordagem de,
52 reforma sob, 127-129
Programa Kurzarbeit, Alemanha, 35 Programa das Nações Unidas para os
Protocolo de Kyoto, 25, 62-64, 194 Assentamentos Humanos
Programa LEED, EUA, 16 (UN-HABITAT), 44-45, 94
Princípios de Habitabilidade, Parceria para Projeto do Milênio, Nações Unidas, 63
Comunidades Sustentáveis, 88, 90-94 Pesquisa Econômica e Social Global de 2011, 22
pecuária. Ver animais e produtos de origem Projeto Walk up Kampung, Bandung,
animal Indonésia, 52
projeto Mapeie Kibera, Quênia, 53 Programa Mundial de Alimentos das Nações
plano Metrô 2030, Nairóbi, Quênia, 51 Unidas, 126
Política Nacional de Resíduos Sólidos, Brasil, Primeira Guerra Mundial, 31
18 Parque Nacional Yasuni, Equador, 163
pesquisas da Nielsen, 154, 160
poluição sonora causada pelos transportes, 65
Projeto Oberlin, 43 Q
pesquisa e desenvolvimento Quênia
programa Smart + Connected Communities, disposições para o bem-estar animal, 179
Cisco, 77 tecnologias de informação e comunicação e
“propriedades rurais de cunho social”, 40 desenvolvimento urbano no, 75-76
planejamento urbano espacial, 47-49 KFC no, 179

254 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Índice Remissivo

iniciativas de dados abertos no, 82 Índice de Cidades Sustentáveis, Fórum para


desenvolvimento urbano no, 51, 53 o Futuro, 89
problemas de transporte no, 65
Nações Unidas. Ver também organizações
R específicas
Rainforest Action Network, 154
padrões de contabilidade, necessidade de
Ratti, Carlo, 77
rever, 162
redução da jornada de trabalho, 23, 34-36
órgãos especializados autônomos, 121
religiões, iniciativas para vida simples
Unidade de Melhores Práticas de Empregos
estimuladas pelas, 38
Verdes e Grupo de Coordenação
Renewable Fuels Association, 171
(proposição), 20
Right2Vacation.org, 35
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio,
Rio 2012/Rio+20 (Conferência das Nações
63, 89
Unidas sobre Desenvolvimento
órgãos subsidiários, 121-122
Sustentável)
governança em sustentabilidade dentro
biodiversidade e, 189, 194, 195-196
versus fora, 117-118
comunidade empresarial e corporações,
Sistema de Contas Nacionais, 89
116, 161, 166
Agência de Coordenação em Transportes
governança para sustentabilidade e,
(proposição), 73
114-115
relatório sobre água e desenvolvimento
economia verde e, 3-5, 8-10
(2009), 185
transportes e, 60, 74
Rede de Agricultura Urbana, 193
desenvolvimento nos Estados Unidos e, 94
Relatório Visão 2050 para a Iniciativa Grande
Rio de Janeiro, Brasil, 52
Transição, 106
Roterdã, Holanda, 80
riqueza. Ver renda e riqueza
Roundup, 175
Rússia, 139
Região basca, Espanha, 112 S
recifes de corais, ameaças a, 196 SA 8000, 104
responsabilidade social das empresas, 155, 165 sacrifício e sustentabilidade, 29
Ramadã Verde, 38 Sama, Nchunu Justice, 203
Relatório do Desenvolvimento Humano 2011, São Francisco, Califórnia, 156-157
10, 32 São Paulo, Brasil, 19, 66, 162, 164, 167
renda e riqueza Sarkozy, Nicholas, 159
decrescimento em, 31-44 Schor, Juliet, 36
desigualdades em, 7-8, 31-34, 105-106 Scorecard em Sustentabilidade/Energia do
renda anual sustentável, 31 Departamento de Administração e
responsabilidade limitada, desenvolvimento do Orçamento dos Estados Unidos, 94
conceito de, 100 SeeClickFix, EUA, 84
Relatório Planeta Vivo, WWF, 152-153 Senegal, 23
Rede de Governos Locais pela SENSEable City Lab, MIT, 82
Sustentabilidade, 164 Siemens, 77, 90
região de Navarra, Espanha, 13 Singh, Manmohan, 76
Rede Nossa São Paulo, 164 SINOPEC, 101
Rede de Desenvolvimento Social, 82-83 sistema SMART, Instituto de Estatísticas para
Rede Cidades Sustentáveis, 165 a Ásia e Região do Pacífico, Tóquio, 90
Reino Unido Smit, Jac, 193
empresas de propriedade de empregados Social Accountability International, 104
no, 112 Sodexo, 31
transações financeiras, tributação sobre, 32 SODNet, 82, 85
Novo Acordo Global Verde, 8 soft law e corporações, 102-105
London Datastore, 81 Solyndra, 21
nova mídia cívica no, 84 Songdo, Coreia do Sul, 78

255
Índice Remissivo ESTADO DO MUNDO 2012

Soros, George, 32 Suécia, 32, 36


Sri Lanka, 173, 174, 176 Sistema de Contas Nacionais, 89
State Grid (empresa estatal chinesa), 101 Sistema de Intensificação de Arroz, 172
Stern Review on the Economics of Climate sustentável, agricultura, 170-178. Ver também
Change, 25 animais e produtos de origem animal
Stone, Peter, 128 problemas de acesso, 172
Strong, Maurice, 123, 128 biocombustíveis e, 13, 171, 181
subsídios insustentabilidade da situação atual da
economia verde e, 21 agricultura, 170-172
disputas comerciais internacionais relativas a decrescimento e, 40
energia, 21 igualdade de gêneros e, 173-174
transporte, 74 aquisições de terras no exterior para fins
sustentabilidade agrícolas, 183
da agricultura, 122, 170-178. Ver também meios de atingir, 176
sustentável, agricultura; animais e organizações de produtores, 176
produtos de origem animal pequenos produtores, papel dos, 171
biodiversidade, estímulo à, 122, 186. Ver em áreas urbanas, 193
também biodiversidade uso de água e, 171, 172
de edifícios, 122, 143, 151. Ver também sustentáveis, edificações, 133, 143-151
sustentáveis, edificações emissões de carbono, 16, 143-151
comunidade empresarial e, 122, 161-169. corrupção no setor de construção civil e,
Ver também comunidade empresarial 147-148
e sustentabilidade uso de energia e, 12-15, 143-144
de taxas de consumo, 152-160. Ver também Diretiva da União Europeia para o
sustentável, consumo; consumo Desempenho Energético, 150-151
exagerado e desenvolvimento construções verdes versus, 143
excessivo em economia verde, 17, 144
corporações e, 98-116. Ver também infraestrutura e, 149-150
corporações coabitação de diferentes gerações de uma
definição de desenvolvimento sustentável, mesma família, 37
88 múltiplas dimensões de, 143-144
decrescimento, 24-42. Ver também questões de desempenho, 148-149
decrescimento pacotes de políticas como como meio de
serviços ecossistêmicos e, 117, 197-202. promover, 144-150
Ver também serviços ecossistêmicos processo, questões de, 147-148
em governança, 117-131. Ver também eficiência no uso de recursos na produção e
governança para sustentabilidade funcionamento de, 150
economia verde, 3-23. Ver também planejamento urbano e regional e, 145
economia verde padrões “zero” para, 143-144
governos locais e, 205, 206. Ver também sistemas de Ônibus Expressos, 15, 52, 67
governos locais sequestro de carbono, 187
de níveis populacionais, 119, 121–28. Ver setor da construção civil. Ver sustentáveis,
também estabilização populacional edificações
sacrifício e, 29 sustentável, consumo, 132, 152-155. Ver
em transporte, 60-74. Ver também também consumo exagerado e
transporte desenvolvimento excessivo
em desenvolvimento urbano, 43-59. Ver comunidade empresarial e, 161
também tecnologias de informação e empresas, papel das, 153-155
comunicação para o desenvolvimento decrescimento e, 26-29
urbano; Estados Unidos, papel do governo no, 153-155
desenvolvimento urbano sustentável métodos para atingir, 152-154
nos; desenvolvimento urbano mídia social e conscientização do
Sustainable Europe Research Institute, 153 consumidor, 153-154

256 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
PROSPERIDADE SUSTENTÁVEL Índice Remissivo

bem-estar e níveis de consumo, ausência de T


ligação entre, 153-155 Tanzânia, 51, 138, 174
serviços ecossistêmicos, 133, 189-190, 197- Tata Industries, 112
202 tributação
bem público de propriedade comum e, de publicidade, 33, 157
200-202 edição de escolhas e, 31, 32
importância de capital natural e, 192 sustentável, consumo, incentivos para, 157
instituições para manejo de, 197, 198, decrescimento e, 31-34
200-202 ambiental, 31-32, 156, 158, 163
mecanismos para pagamento e atribuição transações financeiras, tributação de, 32,
de preço para, 163, 201 165
avaliação de, 189-190 economia verde, estímulo a, 18, 17, 21
Secretaria Federal de Rodovias, EUA, 65 Tea Party, Estados Unidos, 32
Sistema Global de Avaliação de Investimentos Tailândia, 180, 207
de Impacto, 113 Tailândia, Bolsa de Valores da, 113
sistemas de indicadores, 87-88 Tobin, James, e Taxa Tobin, 32, 165
benchmarks versus indicadores, 88 Tóquio, desenvolvimento urbano japonês em,
padrão nacional, ausência de, 88 46
Townsend, Anthony, 77
indicadores de pressão, condição e
Transparência Internacional, 82-83
reatividade, 90 transporte, 60-65. Ver também bicicletas
critérios SMART, 90 acidentes, 61, 66-67
Grupo de Trabalho para o poluição atmosférica e problemas de saúde
Desenvolvimento Urbano decorrentes, 64-65
Sustentável, compilação de um banco Evite-Mude-Melhore, paradigma de
de dados de indicadores pelo, 94-97 transporte sustentável, 68-69
sustentável, infraestrutura, 149-150 barreiras à implantação de sistemas
sociedade joint stock, evolução do conceito de, sustentáveis, 69-73
100 biocombustíveis, 12-13
Sistema Financeiro Nacional de Habitação, sistemas de Ônibus Expressos, 15, 52,
Costa Rica, 50 68-69
Secretaria de Assuntos Urbanos, EUA, 94 desafios e oportunidades em transporte
sacolas plásticas público, 62-64
iniciativas do governo brasileiro para características da motorização desregrada
redução do uso de, 158 versus transporte sustentável, 61
Washington, DC, tributação sobre, 30 mudanças climáticas e, 69-72
sustentável, agricultura, 177, 186-187 congestionamento, 65
instituições de desenvolvimento de atual motorização desregrada, 61-62
tecnologias verdes, necessidade de carteiras de habilitação, queda na obtenção
rede de, 18, 20 por adolescentes americanos, 28
subvenções para o programa Investimento em financiamento, 72-73, 77
em economia verde, 14-15
Transporte para Geração de
gases de efeito estufa provenientes de, 61,
Recuperação Econômica, 62, 67
Ministério dos Transportes dos acordos internacionais e, 62-64
Estados Unidos, 88 poluição sonora, 65
Semana Sem Televisão, 41 escolhas políticas para transporte
Sindicato dos Metalúrgicos, 21 sustentável, 68-69, 74
Secretaria Federal de Rodovias dos Estados inclusão/exclusão social e, 65-66
Unidos, 65 subsídios, 74
Secretaria de Assuntos Urbanos dos Estados desenvolvimento urbano e, 51, 68-69
Unidos, 94 Twitter, 155
Segunda Guerra Mundial, 31, 32 99

257
Índice Remissivo ESTADO DO MUNDO 2012

The Farm, Tennessee, 39 Universidade de Harvard, movimento


transações financeiras, tributação de, 32, 165 estudantil pelo decrescimento na, 41
tecnologias de informação e comunicação para União Internacional para Conservação da
o desenvolvimento urbano, 75-85 Natureza, 189
dados, acesso a dados, e movimento de uso da água
abertura de dados, 75, 81-82 na agricultura, 171, 172
abismo digital, 75-76 animais e produtos de origem animal, 181
usos inovadores de, 76-77 aquicultura, 182
como transformar a informação em
conhecimento, 81
usos múltiplos para, 76-77 V
nova mídia cívica e, 83-85 veículos automotores. Ver transporte
parcerias público-privadas em, 77-78, Voto de São Francisco, 38
80-81
ética “de cima para baixo” versus “de baixo W
para cima”, 78, 80-81, 83 Washington, DC, imposto sobre sacolas
transporte público de massa. Ver transporte plásticas em, 30
The Public Laboratory, 84 Welzer, Harold, 26
transporte público. Ver transporte Wightman, David, 123, 124
Women in Informal Employment: Globalizing
U and Organizing, 19
Universidade das Nações Unidas, Instituto World Business Academy, 164
Mundial de Pesquisa sobre Economia do Wu Weixiang, 181
Desenvolvimento, 7-8 WWF, 145-146, 167, 191
UNESCO, 125, 126, 127, 169, 185
UNICEF, 126, 127 X
Unilever, 116 Xu Cheng, 181
Universidade da Pensilvânia, Instituto de
Estudos Urbanos, 87, 94
U.S. Green Building Council, 89-90 Y
Ushahidi, 82-83 Yale Center for Environmental Law and
União Global pela Sustentabilidade, 168 Policy, 89

258 WWW.WORLDWATCH.ORG.BR
CIÊNCIA / MEIO AMBIENTE / DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Estado do Mundo 2012
2012
RUMO À
ESTADO DO MUNDO
Rumo à Prosperidade
PROSPERIDADE
Sustentável - RIO+20
SUSTENTÁVEL

ESTADO DO MUNDO 2012 - RIO+20


Em 1992, os governos presentes à Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro, fizeram um pacto histórico
pelo desenvolvimento sustentável – um sistema econômico que promova a saúde das pessoas e dos
ecossistemas. Hoje, passados vinte anos e realizadas diversas cúpulas, a civilização humana jamais
esteve tão perto de um colapso ecológico; um terço da humanidade vive na pobreza; e as projeções
RIO+20
apontam para o ingresso de mais dois bilhões de pessoas na raça humana nos próximos 40 anos.
Como rumaremos para uma prosperidade sustentável que seja acessível a todos em bases
igualitárias, mesmo levando em consideração o crescimento populacional, a dificuldade de abrigar
cada vez mais gente nas cidades e o declínio de nossos sistemas ecológicos?

Para estimular discussões a respeito desse tema tão crucial na Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e em outras instâncias, o Estado do Mundo 2012: Rumo à
Prosperidade Sustentável destaca projetos inovadores, políticas criativas e novos enfoques que estão
favorecendo o desenvolvimento sustentável no século 21. Reunindo artigos redigidos por especialistas
do mundo todo, este relatório apresenta uma visão abrangente das atuais tendências na economia
global e em sustentabilidade, uma caixa de ferramentas políticas com soluções nítidas para alguns de
nossos mais prementes desafios ambientais e humanos, além de apontar um caminho para reformas
de instituições políticas que fomentem saúde ecológica e prosperidade.

Rumo à Prosperidade Sustentável é a publicação mais recente da série Estado do Mundo, principal título do
Worldwatch Institute, que continua sendo a fonte de maior reconhecimento e autoridade quando se trata
de pesquisas e soluções políticas e programáticas em questões globais de importância decisiva.
O Estado do Mundo 2012 se apoia em três décadas de experiência para oferecer um olhar límpido e
pragmático sobre o atual estado dos sistemas ecológicos globais e das forças econômicas que os
remodelam – e sobre como podemos forjar economias mais sustentáveis e mais justas no futuro.

“O anuário mais prestigiado sobre desenvolvimento sustentável”.


—Levantamento de especialistas em sustentabilidade da GlobeScan

“As sínteses mais abrangentes, atualizadas e acessíveis sobre o


meio ambiente no mundo todo”.
—E. O. Wilson, ganhador do Prêmio Pulitzer

ISBN 978-85-88046-43-6

Projeto de capa: Lyle Rosbotham


Ilustração da capa: Wesley Bedrosian, wesleybedrosian.com T H E W O R L D W AT C H I N S T I T U T E

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