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Litisconsórcio, intervenção de terceiros e competência

Litisconsórcio: o fenômeno de pluralidade das partes

 Conceito
o Trata-se da pluralidade de sujeitos nos polos da ação.
 Quando há mais de um autor ou mais de um réu na relação jurídica
processual.
 Relação processual formada com a pluralidade de pessoas seja no polo
ativo, seja no polo passivo.
 Pode haver litisconsórcio em incidentes processuais - mais de um
sujeito requer a instauração de um conflito de competência; pode
haver litisconsórcio em um recurso.
o Litisconsórcio: autorização dada pela lei processual para que integre o
processo mais de um autor ou mais de réu, visando a economia processual.
o Para que essa formação da pluralidade possa ser possível há necessidade de
que alguns requisitos sejam cumpridos:
 Requisito básico para formação de litisconsórcio: vínculo entre os
sujeitos por um ponto comum, de fato ou de direito.
 Significa que a parte só vai conseguir formar uma relação
plural se comprovar que as pessoas possuem um liame entre
elas, seja ele fático ou por determinação legal.
 Vínculo de fato ou de direito:
 Comunhão de direito ou obrigação
 Conexão entre causa de pedir ou pedido
 Afinidade por qualquer ponto comum de fato ou de direito
o Cláusula geral
 Requisitos secundários:
 Para formar um litisconsórcio facultativo é necessário que o
juízo seja competente para todos os litisconsortes.
o O litisconsórcio facultativo não permite alterar a
competência absoluta.

 Classificação dos litisconsórcios


o Quanto à posição processual do litisconsorte:
 Ativo: dois ou mais autores.
 Passivo: dois ou mais réus.
 Misto, bilateral ou recíproco: mais de um autor e mais de um réu.
o Quanto o momento da formação processual:
 Inicial: aquele que se forma no começo do processo pelo autor, na
propositura da ação.
 Somente o autor pode formar o litisconsórcio inicial.
 Ulterior ou superveniente: aquele se que forma no curso do processo;
pode ser formado pelo autor ou pelo réu.
 O litisconsórcio ulterior pode ser formado pelo autor, por
meio da emenda ou aditamento da inicial; pelo réu, na
denunciação da lide e no chamamento ao processo; pelo juiz,
por meio da intervenção iussu iudicis; ou por iniciativa de um
terceiro ingressante, por meio da assistência litisconsorcial e
intervenção litisconsorcial voluntária.
o Quanto ao resultado ou teor da sentença
 Simples: quando a decisão judicial poderá ser diferente para as partes
envolvidas no litisconsórcio.
 Ex: acidente de trânsito – três pessoas propõem ação contra
determinada pessoa alegando que ele violou as normas de
trânsito; solidariedade.
 Os litisconsortes são considerados como litigantes distintos,
tem independência e autonomia, os atos praticados por um
não prejudica e nem beneficia os demais litisconsortes.
 O resultado pode ser qualquer um para os litisconsortes: o
mesmo ou diferente entre eles.
 Todo litisconsórcio baseado em afinidade, conexão ou
comunhão divisível é simples, porque cada litisconsorte
defende o seu direito ou a sua parte certa e determinada.
 Unitário: a sentença deve ser igual para as partes que compõem o
litisconsórcio. (art. 116, CPC).
 O teor da sentença deverá ser único e uniforme para todos os
litisconsortes.
 O que faz o litisconsórcio ser unitário é o direito material ou a
relação de direito material que é única e indivisível para todos
os litisconsortes.
o No litisconsórcio unitário cada litisconsorte defende
todo o direito comum, por este ser indivisível.
 Por exemplo, os possuidores que movem ação contra o
invasor de sua propriedade; os condôminos de um terreno
que movem ação contra o vizinho; a ação de anulação do
casamento proposta pelo Ministério Público contra os
cônjuges.
 Se um determinado litisconsorte pratica um ato que é
benéfico para todo os litisconsortes que estão naquele polo,
este ato aproveitará a todos.
 Os atos prejudiciais praticados por um dos litisconsortes não
vão atingir os demais.
o Quanto a obrigatoriedade
 Facultativo ou voluntário: pode ou não ser formado (art. 113, CPC).
 A sua formação não é obrigatória.

 Obrigatório ou necessário: o litisconsórcio deve obrigatoriamente ser


formado, sem o qual o processo estará eivado de vício, que poderá
gerar anulação do processo (art. 114, CPC).
 É obrigatória a formação do litisconsórcio para a validade do
processo. Trata-se de um pressuposto processual de validade.
Tanto que se o juiz verificar a ausência de um litisconsorte
necessário intimará o autor para que providencia a citação sob
pena de extinção do processo.
 A obrigatoriedade decorre tanto da natureza jurídica de
relação controvertida, quanto por disposição legal expressa.
o Para formar esse litisconsórcio deve-se observar o
objeto da discussão do processo (direito material,
nesse caso, será único e indivisível para todos os
titulares).
o Todo litisconsórcio necessário por causa do direito
material será também unitário.
o O litisconsórcio unitário, em regra, também será
necessário, salvo quando a lei prevê legitimidade
concorrente disjuntiva para os titulares de um direito.
 Por exemplo: o litisconsórcio entre os
condôminos é sempre unitário e no polo
passivo é necessário, mas no polo ativo só é
facultativo graças ao artigo 1.314 do Código
Civil, que permite aos condôminos em
conjunto ou isoladamente defender a coisa
comum.
 Como o litisconsórcio necessário é pressuposto de validade, há
vicio no processo quando faltar o litisconsorte necessário,
concluindo que para as partes que participaram do processo
haverá nulidade e após o transito em julgado cabe ação
rescisória, e para o litisconsorte que não foi citado,
tecnicamente o processo não existiu e após o trânsito em
julgado ele pode ingressar com a querela (art. 115, CPC).
 No caso do litisconsórcio passivo necessário, o juiz
determinará que o autor requeira a citação de todos que
devam ser parte no processo, sob pena de extinção.

 Implementação do litisconsórcio ativo necessário


o Caso concreto: a ação deve ser proposta por dois ou mais sujeitos, em razão
da obrigatoriedade imposta por lei, mas um deles se recusa a litigar.
 A doutrina majoritária afirma que o autor deve entrar com a ação e
requerer a citação do litisconsorte relutante antes da citação do réu,
para que ele possa escolher: integrar o polo ativo, inclusive aditando a
inicial; ou aderir ao polo passivo, resistindo à pretensão; ou
permanecer silente tornando-se revel.
 A rigor não importa a postura que o litisconsorte necessário irá adotar,
pois para a validade do processo basta “a citação dos litisconsortes
necessários”.
 Litisconsórcio multitudinário: gera uma multidão em um dos polos da ação, em razão
do número exagerado de litisconsortes.
o Relação processual marcada pela integração de várias pessoas, seja no polo
ativo ou passivo.
o Em havendo uma série de pessoas que ou demandam ou são demandadas
existe autorização de que elas integrem o polo ativo ou passivo ainda que isso
gera um número grande de litisconsortes.
 Ex: acidente de avião.
o Quando esse litisconsórcio é formado ele não pode gerar tumulto processual.
Caso exista tumulto surge a possibilidade do juiz de fracionar o processo e
dividir a relação processual, mas necessariamente os processos fracionados
serão julgados pelo mesmo juiz (art. 113, parágrafo primeiro, CPC).
o Essa limitação será feita por meio do desmembramento do processo em
quantos forem necessários, mas todos devem permanecer na mesma vara.
 Se o litisconsórcio for facultativo o juiz, de ofício ou a requerimento,
poderá reduzi-lo, quando comprometer a rápida solução do litígio ou
dificultar a defesa ou o cumprimento de sentença.
 Caso o requerimento seja feito pela parte será interrompido o prazo
de resposta ou de manifestação, que irá recomeçar com a intimação
da decisão sobre o pedido.
 Se o litisconsórcio multitudinário foi necessário ele será inevitável.

 Outras pertinentes classificações de litisconsortes


o Litisconsórcio eventual ou alternativo: autor que tem dúvida razoável quanto
ao verdadeiro legitimado passivo.
 Nesse caso, o autor irá formar o litisconsórcio entre todos os prováveis
legitimados.
 O autor deverá comprovar no processo que a dúvida é razoável.
o Litisconsórcio anômalo: litisconsortes que são adversários em uma outra ação.
 Ex: denunciação da lide – acidente de carro, aciono quem bateu no
meu carro e ele aciona a seguradora.
o Intervenção litisconsorcial voluntária: ocorre quando alguém pode para
ingressar em um processo pendente como litisconsorte.
 Trata-se de um litisconsórcio ulterior por iniciativa do litisconsorte ou
terceiro que ocorre quando alguém pede para ingressar em um
processo pendente como litisconsorte.
 Em regra, o pedido é de ingresso no polo ativo, quando o autor discute
direito igual ao que o terceiro também tem contra o réu.
 Alguns doutrinadores defendem que viola o princípio do juiz natural.
 A Lei n.12.016/09 (mandado de segurança) prevê expressamente que
não se admite o ingresso de litisconsorte após o despacho inicial
(antes do despacho pode; essa regra só se aplica a litisconsórcio
facultativo, já que o litisconsórcio necessário obriga a presença dos
demais).
 Ex: assistência.
o Intervenção iussu iudicis: é a intervenção por força do juiz, o qual inclui alguém
no processo.
 No litisconsórcio necessário a última palavra é do autor; o juiz
percebendo a ausência de um litisconsorte necessário intima o autor
para que ele cite o litisconsorte faltante ou o processo será extinto.
 Na intervenção iussu iudicis, o juiz acrescenta um sujeito no processo
sem indagar ao autor. Em regra, essa intervenção é inadmissível,
porque viola o princípio do dispositivo.
 Excepcionalmente ela é admitida em ações impressões.
 Relacionamento entre litisconsortes (art. 117, CPC)
o Regra real: cada litisconsorte é considerado uma parte distinta em suas
relações com o adversário.
o No entanto, o CPC diferencia:
 Litisconsórcio simples: regra de independência.
 Os atos de um não beneficiam, nem prejudicam os demais.
 Excepcionalmente defesas e recursos quando baseados em
teses ou direito comum beneficiam a todos.
 O juiz pode julgar diferente para todas as partes envolvidas.
 Litisconsórcio unitário: regra de dependência.
 O juiz não pode julgar de forma diferente para as partes
envolvidas.
 Os atos benéficos de um sempre favorecem a todos; os atos
prejudiciais não prejudicam nem quem os praticou, salvo se
retificados por todos.

o Art. 229, CPC: os litisconsortes com advogados diferentes de escritórios


diferentes terão prazo em dobro no processo físico.
 Não se aplica para os casos em que o processo for eletrônico.
o Sumula 641 – STF: se apenas um litisconsorte sucumbiu, o prazo para recurso
será simples.
o Tradicionalmente a doutrina dizia que a falta de um litisconsorte necessário
gera: nulidade do processo para os que dele participaram; e para o
litisconsorte nunca citado, o processo seria tecnicamente inexistente.

Intervenção de terceiros (arts. 119 ao 138, CPC)

 Conceito
o Trata-se do ingresso de quem não era, formalmente, parte em um processo já
existente.
 Terceiros alheios ao conflito posto entre as partes podem apresentar
interesse na sua resolução, porque a solução final dada pelo processo
poderá, eventualmente, influenciar o seu direito.
 Alguém que não integrava o polo ativo ou passivo de uma relação
processual, passa a fazer parte dela.
 Terceiro é aquele que formalmente não era parte no processo, ou
seja, não era autor e nem réu.
 Terceiro é quem não é nem autor e nem réu em um processo.
 No sentido de evitar que injustiças sejam perpetradas contra esses
terceiros que não foram inicialmente convidados para participar da
discussão posta entre as partes, o legislador criou institutos específicos
ao processo para autorizar que determinados sujeitos possam
ingressar na lide alheia, para proteger interesse próprio.
 Toda vez que uma sentença tiver o potencial de afetar o terceiro, ele
poderá ingressar no processo.
 Via de regra, a decisão do juiz em um processo irá afetar
apenas aqueles que são parte dele, porém há casos, em que
pela natureza da relação jurídica, essa decisão pode afetar um
terceiro.
o O requisito básico nas intervenções de terceiro é o interesse jurídico do
terceiro que pode ser atingido pelo resultado do processo.
 Trata-se do interesse que decorre de uma relação jurídica, a qual pode
ser atingida direta ou indiretamente pelo resultado do processo.
 O amicus curiae não tem interesse jurídico na demanda, mas o seu
interesse está no precedente, ou seja, na tese jurídica que será fixada.
 A legitimação para intervir decorre de lei e depende de previsão
expressa.
o A intervenção de terceiros, via de regra, não é a mesma coisa que um
litisconsórcio, porém pode ser que, através dela, se forme um litisconsórcio.
o Interessante é a ponderação feita por Cássio Scarpinella Bueno (2015, p. 146)
quando afirma que esse título do Código de Processo Civil reúne cinco
institutos, bastante diversos entre si, sob o mesmo rótulo, já que em duas
dessas situações o terceiro interveniente continuará a ser terceiro para todos
os fins processuais (assistência e amicus curiae), enquanto nas demais o
terceiro passará a integrar a lide como parte (denunciação da lide,
chamamento ao processo e desconsideração da personalidade jurídica).
 Espécies
o Assistência
o Denunciação da lide
o Chamamento ao processo
o Amicus curiae
o Desconsideração da personalidade jurídica
 O recurso de terceiro prejudicado nunca constou no título próprio das
intervenções, embora seja uma forma de intervenção.
 A oposição deixou de ser intervenção de terceiro e passou a ser uma
ação de procedimento especial.
 A nomeação à autoria não é mais mencionada e, simplificada, passou a
ser uma preliminar.
 Classificações
o Espontâneas
 Aquela em que o terceiro intervém por conta própria,
independentemente da provocação das partes do processo.
 Ex: assistência e amicus curiae.
o Provocadas
 Aquela em que o terceiro é citado para intervir no processo.
 Ex: denunciação da lide, chamamento ao processo, desconsideração
da personalidade jurídica e amicus curiae (convite do juiz).
o Típicas
 São aquelas previstas no CPC.
o Atípicas
 São aquelas previstas em outas leis, como a assistência provocada na
lei do inquilinato e na lei do CADE e a intervenção especial da fazenda
pública (art. 5º, lei nº 9.469/97 e art. 1698 do CC).
 Efeitos
o Ampliação jurídica
 Jurídica subjetiva da relação jurídica processual – existe em todas as
modalidades.
 Objetiva do processo (existe mais uma pretensão de direito; mais uma
ação) – não há em todas as modalidades; ocorre na denunciação da
lide, no chamamento e na desconsideração da personalidade jurídica.
o Em regra, a intervenção não gera alteração de competência do juízo.
 Amicus curiae nunca altera a competência, mesmo que seja um órgão
ou entidade federal.
 Exceção: caso a União (ente federal, fazenda municipal ou estadual)
atue no processo como terceiro, a competência será alterada para a
Justiça Federal ou para alguma das Justiças Fazendárias especializadas,
em razão do interesse público.

Assistência (arts. 119 a 124, CPC)

 Conceito
o Assistência é a intervenção de terceiros que permite ao terceiro ingressar no
processo para auxiliar, ajudar e dar assistência a uma das partes.
o Na assistência o terceiro ingressa no processo com fim de auxiliar uma das
partes (assistido) a obter vitória no processo.
o Trata-se de instituto de intervenção de terceiro em processo alheio,
pressupondo a pendência da lide entre duas ou mais pessoas.
 A lide se torna pendente com a citação válida.
o Requisito básico: é o interesse jurídico do terceiro, que decorre de uma
relação jurídica com uma das partes do processo e que pode ser afetada com
eventual provimento ou condenação da parte que ele pretende auxiliar.
 Somente pode intervir como assistente o terceiro que tiver o interesse
jurídico em que uma das partes vença na ação.
 Há interesse jurídico de terceiro quando a relação jurídica da qual seja
titular possa ser reflexamente atingida pela sentença que vier a ser
proferida entre assistido e parte contrária.
 Não há necessidade de que o terceiro tenha, efetivamente,
relação jurídica com o assistido.
 Ex: proprietário de um imóvel resolve demandar contra o locatário.
Acontece que o locatário já sublocou o imóvel para um terceiro. Esse
terceiro poderá ingressar no processo como assistente.
o Hipóteses em que se caracteriza o interesse jurídico
 O terceiro deve ter relação jurídica com alguma das partes + essa
relação deve ser diferente da discutida no processo + o resultado do
processo em andamento pode prejudicar a relação jurídica existente.
o Em regra, caberá assistência em qualquer processo e em qualquer fase ou grau
de jurisdição.
 A assistência não é admitida no Juizado Especial Cível.
 O assistente receberá o processo no estado em que ele se encontra.
o Caso nenhuma parte impugne o pedido do assistente, no prazo de 15 dias, ele
será deferido, salvo se for caso de rejeição liminar.
 Se qualquer parte alegar que falta ao terceiro interesse jurídico para
intervir, o juiz deverá decidir o incidente, sem suspender o processo.

 Espécies
o Simples
 A assistência simples existe quando o assistente tem um interesse
jurídico indireto no processo.
 O assistente apenas possui relação jurídica com o assistido.
 O assistente simples tem um interesse jurídico próprio que
não está diretamente em disputa no processo, mas que pode
ser preservado na medida em que a sentença seja favorável ao
assistido.
 A relação jurídica que o assistente possui com uma das partes
é diferente da existente no processo principal, mas dela é
dependente.
 O assistente simples é parte secundária e subordinada ao assistido. Ele
poderá suprir as omissões do assistido, mas não pode contrariá-lo,
nem impedir que reconheça o pedido, renuncie ao direto, transija ou
desista da ação.
 O assistente simples atuará como auxiliar da parte principal,
exercendo os mesmos poderes e sujeitando-se aos mesmos
ônus que o assistido.
 O assistente simples permanece no processo na qualidade de
terceiro, ele não passa a ser parte no processo.
 A presença do assistente simples não var surgir uma nova ação
naquele processo.
 No caso de revelia ou omissão do assistido, o assistente simples será
considerado seu substituto processual, defendendo o direito alheio.
 O assistente simples não é atingido pela coisa julgada, mas ele não
pode discutir em outro processo o acerto da decisão dada no processo
em que interveio, salvo se provar que pelo estado em que recebeu o
processo ou pela conduta do assistido, não pode produzir provas para
influir na sentença ou quando desconhecia a existência de alegações
ou de provas das quais o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu (art.
123, CPC).

o Litisconsorcial
 Quando o assistente tem interesse jurídico direto no processo, porque
o assistente mantém uma relação com o adversário do assistido, qual
seja exatamente a relação discutida no processo, porque é ele o titular
do direito, no todo ou em parte ou é um colegitimado.
 Esse assistente tem autonomia do litisconsorte, sendo atingido pela
coisa julgada.
 O assistente passa a ser no processo não mais um terceiro,
mas como litisconsorte.
 O assistente será titular do direito ou obrigação discutidos ou um
colegitimado.
 O assistente litisconsorcial poderia ter sido parte no processo.
 A relação jurídica que o assistente possui com o adversário é
exatamente a mesma do assistido que está sendo discutida no
processo.
 O assistente litisconsorcial pode formular pedido ou defesa diferente
do assistido.
 O assistido, nesse caso, é um substituto processual.
 O assistente será considerado como litisconsorte sempre que a
sentença influir na relação jurídica que ele tem com o adversário do
assistindo.
 Por exemplo, o credor cobra a dívida toda do devedor solidário 1;
aparece o devedor solidário 2. Outro exemplo: um herdeiro reivindica
bem da herança que está na posse ou propriedade de terceiro, e aí um
segundo herdeiro aparece como assistente litisconsorcial.
 A assistência litisconsorcial é uma forma de criar litisconsórcio ulterior,
sem ampliar o objeto do processo.

 Procedimento da assistência
o O terceiro peticiona o ingresso no processo.
o As partes serão chamadas pelo juiz para serem ouvidas em 15 dias.
o Se o juiz entender necessário, ele poderá determinar a instrução, ou seja,
convocar as partes para que sejam ouvidas a respeito dessa assistência.
o O juiz irá deferir o pedido, caso entenda que foi comprovado o interesse
jurídico.
o A decisão que acolher ou rejeitar o pedido de assistência, é recorrível por meio
de Agravo de Instrumento.
 Assistência provocada
o A assistência poderá ser provocada, quando o juiz determinar que terceiro
manifeste sua vontade de ingressar no processo como assistente.
o Art. 59, §2º, da lei de locação: ciência ao sublocatário para atuar como
assistente, se quiser.
o Art. 188, da lei do CADE: nos processos judiciais que envolvam essa lei, o CADE
deve ser intimado para, querendo, atuar como assistente.
 Assistência anômala – lei nº 9.469/97
o A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autores ou rés,
autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas
públicas federais.
 Nesse caso, não há exigência de demonstração de interesse jurídico.

Denunciação da lide (arts. 125 a 129, CPC)

 Conceito
o A denunciação da lide é a intervenção de terceiro que permite às partes trazer
ao processo o garantidor da relação jurídica para exercer o direito de regresso
contra ele.
 A denunciação da lide poderá ser promovida pelo autor ou réu.
 Trata-se de modalidade de intervenção de terceiro provocada, porque
o sujeito que atua como garantidor é demandado a entrar no
processo.
 Através da denunciação da lide, uma das partes originárias do
processo formula demanda contra terceiro trazendo-o para dentro do
processo. Nessa demanda, a parte denunciante pretende um direito
de regresso ou reembolso contra o terceiro, denunciado, a fim de
ressarcir-se dos efeitos da sucumbência que eventualmente venha a
sofrer no processo.
o Trata-se do meio pelo qual a parte traz um terceiro ao processo com o
objetivo de obter uma sentença que o responsabilize.
o A denunciação da lide pode ser entendida como ato de chamar o terceiro
(denunciado), que mantém um vínculo de direito com a parte (denunciante),
para garantir o negócio jurídico, caso este venha a sair vencido no processo.
o Pode-se definir a denunciação da lide como uma ação regressiva em
simultâneos processos, promovida tanto pelo autor quanto pelo réu, sendo
citada como denunciado aquela pessoa contra quem o denunciante terá uma
pretensão de indenização de reembolso, caso ele (denunciante) vier a
sucumbir na ação principal.
o A denunciação da lide é a intervenção de terceiro que permite às partes trazer
ao processo o garante para exercer o direito de regresso contra ele.
o Quando há o deferimento da denunciação, ocorre cumulação de ações dentro
de um mesmo processo.
o Vale ressaltar que a denunciação da lide apresenta nova demanda, porém, não
novo processo, pois tal intervenção desenvolve-se na mesma base
procedimental.
o A natureza jurídica da denunciação da lide é de uma ação autônoma de
regresso.
o A finalidade é a economia processual, permitindo o exercício do direito de
regresso no mesmo processo.
o O recurso cabível contra a decisão de defere ou indefere a denunciação da lide
é o Agravo de Instrumento.
o Sempre que a denunciação se mostrar antieconômica, deve ser indeferida e o
regresso exercido pelas vias ordinárias.
o Quanto ao cabimento, a denunciação da lide é típica no processo de
conhecimento, mas vedada no juizado especial cível.
o Com a denunciação da lide há uma ampliação do objeto principal do processo.

 Hipóteses de cabimento (art. 125, CPC)


o Evicção – perda da propriedade por decisão judicial
 O adquirente que em um processo corre o risco de perder a coisa,
pode denunciar na lide o alienante imediato.
 Não há mais permissão de denunciação da lide per saltum,
sendo limitada a denunciação da lide ao alienante imediato.
 Ex: A vende imóvel para B. B vende o imóvel para C. C ingressa com
processo contra B alegando vícios ocultos no imóvel. B denuncia a lide
para A alegando que os vícios foram causados por ele.
o Lei ou contrato obriga a indenização
 Ex: contrato de seguro
 Posição do litisdenunciado
o O denunciado terá força de litisconsorte do litisdenunciante, ou seja, força de
parte no processo.
o Na ação principal o denunciado funciona como terceiro litisconsorte e na ação
de regresso ele será réu.
 O atual CPC é expresso em dizer que a denunciação da lide é admissível, mas não
obrigatória.
 Denunciação da lide de servidor que causa prejuízo ao erário
o A doutrina mais recente admite a denunciação da lide nesse caso, porque (i)
toda denunciação da lide traz elemento novo para o processo; (ii) a discussão
sobre culpa não envolve o autor da ação principal, mas apenas o Estado
denunciante e o servidor denunciado; (iii) nem sempre a discussão sobre culpa
traz maior complexidade ao processo; (iv) se a ação e a denunciação forem
precedente, para a vítima a denunciação será vantajosa, porque na fase
executiva ela poderá optar por executar a Fazenda ou o servidor culpado.
o Porém, o servidor não deve ser denunciado se o sujeito que está demandando
não tiver interesse, porque a denunciação da lide amplia o objeto do processo.
o Art. 37, parágrafo sexto, CF – Estado pode exercer ação de regresso contra o
servidor que causou dano.
 Procedimento legal
o A denunciação da lide feita pelo autor será requerida na petição inicial.
 Nesse caso, cita-se primeiro o denunciado, a fim que ele possa se
defender quanto à ação regressiva e aditar a petição inicial, assumindo
a posição de litisconsorte do denunciante ou permanecer inerte, caso
em que será considerado revel na demanda regressiva (art. 127, CPC).
 Somente após transcorrer o prazo para o denunciante contestar a
ação regressiva e aditar a inicial é que será citado o réu.
o Quando o denunciante for o réu, a denunciação será requerida no prazo de
contestação (art. 126, CPC).
 A citação do denunciado deve ser promovida no prazo de trinta dias,
sob pena de se tornar sem efeito a denunciação.
 Caso o denunciado reside em outra comarca, seção ou subseção
judiciárias ou em local incerto, o prazo para sua citação será de dois
meses.
 A denunciação não poderá ser feita em peça autônoma e sim na
própria contestação.
o Uma vez citado o denunciado, ele possui função dupla no processo: ele é réu
na ação de regresso e litisconsorte do denunciante na ação principal.
o O juiz pode indeferir o pedido se entender não ser caso de denunciação.
Contra essa decisão cabe Agravo de Instrumento.
o Aceitando a denunciação, a lide principal e a secundária tramitarão de forma
simultânea e serão decididas em uma única sentença.
o Feita a citação do denunciado, ele poderá adotar as seguintes posturas (art.
128, CPC):
 Contestar o pedido do autor e atuar ao lado do denunciante, como
litisconsorte;
 Permanecer inerte, caso em que o denunciante poderá deixar de
prosseguir em sua defesa, restringindo a sua atuação à ação
regressiva;
 Diferentemente do que determinava o antigo CPC, se o
denunciado permanecer inerte, o denunciante não está
obrigado a prosseguir na defesa da ação principal.
 Da mesma forma, mesmo se não revel o denunciado, o
denunciante pode deixar de apresentar resposta à pretensão
principal, arcando com as consequências de sua inércia.
 Confessar os fatos os alegados pelo autor, podendo o denunciante
prosseguir em sua defesa ou aderir ao reconhecimento e requerer
apenas a procedência da ação regressiva.
o Procedente o pedido da ação principal, o autor pode, se for o caso, requerer o
cumprimento da sentença também contra o denunciado, nos limites da
condenação deste na ação regressiva.
o Diante desse litisconsórcio por ficção legal:
 O denunciado irá atuar com autonomia de litisconsorte na ação
principal.
 Por terem advogados diferentes, denunciante e denunciado terão
prazo em dobro na ação principal, se o processo for físico.
 Se a denunciação da lide for procedente, denunciante e denunciado
são atingidos pela coisa julgada da ação principal.
 Se denunciante e denunciado forem vencidos na ação principal, o
vencedor poderá escolher quem executar, podendo executar
diretamente o denunciado.
 Novidades do CPC/2015
o Art. 125, inciso I – revogou a denunciação da lide per saltum na evicção,
porque a lei diz que a denunciação deverá ser feita o alienante imediato.
o A denunciação sucessiva ficou limitada a uma única vez: o denunciado da lide
poderá denunciar ao seu garante, mas este, se tiver direito de regresso, irá
exercê-lo por ação autônoma.

o Se o denunciado da lide se tornar revel, o denunciante poderá deixar de


prosseguir com a defesa já oferecida e/ou recorrer dedicando-se apenas à
ação de regresso.
 Da mesma forma, mesmo se não revel o denunciado, o denunciante
pode deixar de apresentar resposta à pretensão principal, arcando
com as consequências de sua inércia.
o Se o denunciado confessar os fatos da ação principal, o denunciante pode
prosseguir com a defesa ou apenas com a ação de regresso.
o A denunciação da lide é facultativa, ou seja, se a parte deixar de denunciar à
lide ela não perde seu direito de regresso.
o É permitido que o autor forme litisconsórcio passivo entre o causador do dano
e a seguradora dele para não depende da vontade do réu de denunciar a lide
ou não, mas não permite que a vítima mova a ação diretamente só contra a
seguradora, porque a responsabilidade da seguradora é secundária e não pode
ser discutida sem a presença do responsável principal no processo.
 Há possibilidade de condenação direta da seguradora?
o Regra geral: na denunciação da lide há duas lides – parte originária x
denunciante/denunciante x denunciado – a serem decididas em uma única
sentença. Há uma relação de prejudicialidade entre a demanda da ação
principal e a lide secundaria, porque o pedido formulado na denunciação da
lide só será analisado no caso de sucumbência do denunciante na ação
principal.
o No entanto, em ações que versam sobre a responsabilidade civil da
seguradora, por questões de celeridade e efetividade processuais, tem-se
admitido a flexibilização do caráter de prejudicialidade, haja vista que, em se
tratando de seguro de responsabilidade civil, a seguradora deve garantir o
pagamento das despesas decorrentes dos danos cobertos. Assim, reconhecida
a obrigação da seguradora nada obsta que se proceda com a sua condenação
direta.
o Súmula 537 – STJ: Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada,
se aceitar a denunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser condenada,
direta e solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da indenização
devida à vítima, nos limites contratados na apólice.
o Essa possibilidade de condenação direta da seguradora não deve ser
confundida com a possibilidade de ajuizamento da demanda diretamente em
face desta.
 O ajuizamento da ação direta e exclusivamente contra a seguradora
fere os princípios do contraditório e da ampla defesa, já que a
seguradora não terá como se defender dos fatos descritos na inicial, já
que não participou do acidente.
 Para que a seguradora possa ressarcir os prejuízos sofridos por
terceiros, deve ser apurada, a priori, a responsabilidade civil do
segurado.
 Julgamento da denunciação da lide e verbas de sucumbência
o Com relação à distribuição dos ônus sucumbenciais na denunciação da lide, as
verbas são distintas das devidas na ação principal. Assim, tem-se as seguintes
hipóteses:
 Lide principal e a secundária são julgadas procedentes: o denunciante
arcará com os ônus sucumbenciais da demanda principal e o
denunciado arcará com os ônus da lide secundária.
 Porém, se o denunciado concorda com a responsabilidade que
lhe é imputada, posicionando-se como litisconsorte do réu
denunciante, o entendimento é de que não cabe condenação
ao pagamento de honorários advocatícios em favor do
denunciante.
 Lide principal é procedente e a lide secundária improcedente: o
denunciante responde pelos ônus sucumbenciais das duas demandas.
 Denunciação da lide não é conhecida em razão da improcedência da
ação principal: o denunciante arcará com os ônus sucumbenciais
decorrentes da denunciação não conhecida, devendo pagar verbas de
sucumbência em favor do denunciado (art. 129, CPC).
Chamamento ao processo – arts. 130 a 132, CPC

 Conceito
o O chamamento ao processo é a intervenção que permite ao réu trazer ao
processo os demais coobrigados ou o devedor principal para exercer contra
eles o direito de sub-rogação.
o Natureza jurídica: ação autônoma de sub-rogação com finalidade de economia
processual gerando título executivo também para o direito de sub-rogação.
o Chamamento ao processo é modalidade de ação condenatória exercida pelo
devedor solidário que, acionado sozinho para responder pela totalidade da
dívida, pretende ver os outros coobrigados também participando da ação.
o Hipóteses de cabimento
 Fiança
 Solidariedade

o Trata-se de modalidade de intervenção de terceiro cabível no processo de


conhecimento.
o Não cabe chamamento ao processo no Juizado Especial Cível.
 Não cabe essa intervenção de terceiros cabe no JEC – art. 10, da lei
9.099/95.
o Somente o réu poderá provocar o chamamento, já que o autor ter liberdade
para decidir contra quem ele irá demandar.
o Procedimento
 O réu deverá fazer o chamamento ao processo na própria
contestação.
 A pessoa chamada será citada dentro de 30 dias, ou dois meses, se
estiver localizada em comarca distinta da que corre o processo ou
lugar incerto.
 Uma vez citado, o chamado passa a ingressar o processo como
litisconsorte passivo, tendo os mesmos direitos do réu.
 Após a instrução, caso seja proferida sentença de procedência, ela
condenará todos os réus.
 O réu que pagar terá, na sentença, título executivo por sub-rogação e
poderá executar os demais no limite da responsabilidade de cada um.
 A sentença de procedência valerá como título executivo em favor do
réu que satisfizer a dívida, a fim de que possa exigi-la, por inteiro, do
devedor principal, ou, de cada um dos codevedores, a sua quota, na
proporção que lhes tocar.

o Críticas ao chamamento ao processo (Nelson Nery)


 O chamamento ao processo esvazia os poderes que a solidariedade
passiva dá ao credor de poder escolher contra quem ele irá demandar.
 O chamamento obriga o credor a demandar contra quem ele não quis.
 A rigor, ele tem razão, porém a lei optou por prestigiar a
economia e a efetividade em detrimento do princípio do
dispositivo.
o Chamamento x benefício de ordem
 O benefício de ordem permite ao fiador, na execução, exigir que os
bens do devedor principal sejam executados primeiro.
 Para se valer desse instituto, é indispensável que o devedor
principal conste no título executivo.
 Se a ação de conhecimento for proposta somente contra o fiador – o
réu deverá fazer o chamamento ao processo para que a sentença
configure título executivo contra o devedor principal, sob pena de não
poder usar o benefício de ordem na fase de cumprimento de
sentença.

Incidente de desconsideração da personalidade jurídica – art. 133 a 137, CPC

 Conceito
o O ordenamento jurídico confere às pessoas jurídicas personalidade distinta da
dos seus membros, ou seja, elas possuem autonomia patrimonial (diferencia-
se o patrimônio destinado às organizações, do patrimônio inerente ao sócio).
 A pessoa jurídica é criada para que seus fundadores, em um primeiro
momento, não responsam com seus bens pessoas pelas obrigações
sociais. Assim, os bens particulares dos sócios não respondem pelas
dívidas da sociedade, uma vez que esta possui personalidade jurídica
distinta da de seus membros.
o Pessoa jurídica é uma “entidade ou associação legalmente reconhecida e
autorizada a funcionar”, ou seja, um sujeito de direitos e obrigações a quem a
lei concedeu personalidade jurídica. Sendo personalidade jurídica, a aptidão é
para adquirir direitos e deveres na ordem civil.
o A desconsideração da personalidade jurídica é a intervenção de terceiro que
permite à parte ou ao MP, atuando como fiscal da lei, incluir, no polo passivo,
os sócios para serem responsabilizados pela dívida da sociedade.

o Em regra, a responsabilidade patrimonial recai sobre o próprio devedor, o qual


responderá com seus bens: é a chamada responsabilidade principal ou
primária.
 Excepcionalmente, a responsabilidade poderá recair sobre alguém que
não é o devedor, porém esse sujeito responderá pela dívida com seus
bens ainda que não tenha diretamente se obrigado com a dívida.
o Desta feita, a medida é excepcional; somente poderá ser desconsiderada a
pessoa jurídica, para alcançar o patrimônio dos sócios, desde que esteja
comprovado o desvio de finalidade e/ou confusão patrimonial.
o Natureza jurídica: ação autônoma incidental, a qual cria a responsabilidade
patrimonial dos sócios (pessoa física).
 Hipóteses de cabimento
o Essa é a única modalidade de intervenção de terceiro cabível em qualquer fase
do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução de
título extrajudicial.
o É a única intervenção de terceiro cabível no Juizado Especial Cível (art. 1062,
CPC).
o Caso o autor requeira a desconsideração da personalidade jurídica na inicial,
ela deixa de ser intervenção de terceiro para se tratar de cumulação de ações
ou de pedidos sucessivos.
 Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da
personalidade jurídica for requerida na inicial, caso em que será citado
o sócio ou a pessoa jurídica.
o O requerimento de desconsideração da personalidade jurídica deverá
demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos que
autorizam referida medida.

 Procedimento
o A parte faz o requerimento da desconsideração da personalidade jurídica por
meio de petição, descrevendo seus requisitos.
 O pedido exige um elemento subjetivo – culpa, abuso ou desvio de
poder dos sócios.
 Exige-se que seja demonstrada o desvio de finalidade ou a confusão
patrimonial, além do prejuízo ao credor.
o Os sócios serão citados para se manifestar em 15 dias a respeito desse pedido,
para exercer o contraditório e a ampla defesa.

o Se necessário, haverá instrução.


o Contra a decisão que defere ou indefere o pedido de desconsideração da
personalidade jurídica cabe Agravo de Instrumento – o incidente é resolvido
por decisão interlocutória.
 Se a decisão for proferida pelo relator, caberá Agravo interno.
o O incidente de desconsideração da personalidade jurídica suspende o
processo principal, salvo quando requerido na inicial.
 Será dispensável a instauração do incidente se a desconsideração da
personalidade jurídica for requerida logo na petição inicial, hipótese
em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica, não havendo
suspensão.
 Nesse caso incumbe ao sócio ou à pessoa jurídica, na
contestação, impugnar não somente a própria
desconsideração, mas também os demais pontos do processo.
o Decretada a desconsideração, qualquer alienação ou oneração de bens em
fraude à execução será ineficaz em relação ao requerente, a partir da citação
da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar – art. 137, CPC e art.
792, § 3º, CPC.
 Nada impede que antes da decisão do incidente seja requerida e
concedida a medida cautelar de constrição de bens dos sócios.

o Como efeito do acolhimento do pedido de desconsideração passarão a estar


sujeitos à execução os bens do responsável (sócio ou administrador), de
acordo com o art. 790, NCPC, não estando limitado à cota social.
 Desconsideração inversa
o É cabível quando a pessoa física se vale da pessoa jurídica para ocultar
patrimônio.
o A pessoa jurídica passa a responder por obrigações que não são originárias
suas, mas de seus sócios ou administrador; em outras palavras, o patrimônio
da pessoa jurídica servirá para cumprir a obrigação do sócio devedor.

Amicus curiae (art. 138, CPC)

 Conceito
o O amicus curiae tem por função atribuir a uma personalidade ou a um órgão
que não seja parte no processo a faculdade de nele intervir para manifestar-
se, dando informações e opiniões destinadas a esclarecer o juiz a respeito de
questões de fato e de direito discutidas no processo, em prol da boa
administração da justiça.
o O amicus curiae, expressão latina que significa amigo da corte ou amigo do
tribunal, é a pessoa ou entidade estranha à causa, que vem auxiliar o tribunal,
provocada ou voluntariamente, oferecendo esclarecimentos sobre questões
essenciais ao processo.
 O amicus curiae deve demonstrar interesse na causa, em virtude da
relevância da matéria e de sua representatividade, requerendo ao
tribunal permissão para ingressar no processo.
o Trata-se de figura típica da commom law, em que as bases do direito são os
pra precedentes.
o O objetivo dessa figura processual é proteger direitos sociais lato sensu,
sustentando teses fáticas ou jurídicas em defesa de interesses públicos ou
privados que serão reflexamente atingidos com o desfecho do processo.
o O amicus curiae (art. 138 do CPC/2015) é terceiro admitido no processo para
fornecer subsídios instrutórios (probatórios ou jurídicos) à solução de causa
revestida de especial relevância ou complexidade.
o O amicus curiae não assume a condição de parte do processo e sua
intervenção não se fundamenta no interesso jurídico e na vitória de uma das
partes, de forma que ele se diferencia da assistência.
o A importância do amigo da corte no Brasil cresce na exata medida em que
houve a valorização dos precedentes.
o Trata-se de modalidade interventiva admissível em todas as formas
processuais e tipos de procedimento.
 Cabe inclusive em procedimentos especiais regulados por leis
esparsas, em que se veda genericamente a intervenção de terceiros.
 Ele cabe o JEC.
o Em tese, admite-se a intervenção em qualquer fase processual ou grau de
jurisdição.
 Assim, apenas reflexamente a fase processual é relevante: será
descartada a intervenção se, naquele momento, a apresentação de
subsídios instrutórios fáticos ou jurídicos já não tiver mais nenhuma
relevância.
 A lei não fixa limite temporal para a participação do amicus curiae.
o Requisitos de admissão do amicus curiae
 Qualidade da ação
 Relevância da matéria
 Especificidade do tema objeto da demanda
 Repercussão social da controvérsia
o Não se tratam de pressupostos excludentes – eles
podem existir de forma cumulativa.
o São duas as balizas: por um lado, a especialidade da
matéria, o seu grau de complexidade; por outro, a
importância da causa, que deve ir além do interesse
das partes, i.e., sua transcendência, repercussão
transindividual ou institucional.
 Especialização
 Requisito subjetivo.
 O amicus curiae deverá entrar no processo que lhe diz
respeito em razão daquilo que ele pretende defender.
 Parte-se do pressuposto de que o órgão ou a pessoa física ou
jurídica que atua como amicus curiae seja técnico e imparcial,
atuando no processo para elucidar questões especificas ao
juízo.
 O elemento essencial para admitir-se o terceiro como amicus
é sua potencialidade de aportar elementos úteis para a
solução do processo ou incidente.
 Representatividade adequada
 Requisito subjetivo.
 O terceiro interveniente, como amicus curiae, deve mostrar
satisfatoriamente a razão de sua intervenção e de que
maneira o seu interesse institucional relaciona-se com o
processo.
o Não se trata de um interesse jurídico na demanda,
porque o amicus curiae tem interesse institucional, o
qual é mais amplo e de perspectiva metaindividual.
 A existência de interesse jurídico ou extrajurídico do terceiro
na solução da causa não é um elemento relevante para a
definição do cabimento de sua intervenção como amicus
curiae. O simples fato de o terceiro ter interesse na solução da
causa não é fundamento para permitir sua intervenção como
amicus curiae.
 A representação adequada refere-se à aptidão verificada em
concreto para a efetiva contribuição com a corte e inclui desde
a existência formal da pessoa jurídica, quando for o caso, até a
capacidade técnica e financeira para uma participação efetiva,
bem como a abrangência da entidade.
 A decisão que determina de ofício ou defere ou indefere o pedido de
intervenção do amicus curiae é irrecorrível.
 Os poderes do amicus curiae serão fixados de acordo com os critérios
do juiz ou relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção.
 Ainda que os seus poderes sejam definidos em cada caso
concreto pelo juiz (art. 138, §2º, do CPC/2015), na essência
serão limitados à prestação de subsídios para a decisão.
 Há uma gama mínima de poderes já estabelecida em lei:
possibilidade de manifestação escrita em quinze dias (art. 138,
caput, do CPC/2015); legitimidade para opor embargos
declaratórios (Art. 138, §1º, do CPC/2015); possibilidade de
sustentação oral e legitimidade recursal nos julgamentos de
recursos repetitivos (Art. 138, §3º, do CPC/2015).
 O amigo da corte é admitido em processos no tribunal e/ou em
primeiro grau.
 O ingresso do amicus curiae no processo pode derivar de pedido de
uma das partes ou do próprio terceiro, bem como pode ser
requisitado pelo juiz de ofício.
 Essa modalidade de intervenção de terceiros poderá ser
voluntária ou provocada.
 Se ele pedir para ingressar e o juiz indeferir, a decisão é
recorrível. É o único caso em que o amigo da corte pode
recorrer, salvo embargos de declaração.
 A intervenção do amicus curiae não altera a competência do juízo e
também não admite a interposição de recurso, salvo no caso de
Embargos de Declaração e da decisão que julgar incidente de
resolução de demandas repetitivas.
 O amicus curiae deve estar representado por advogado constituído
nos autos.
o Precisamente porque exerce faculdades limitadas no processo, não assumindo
a condição de parte, o amicus curiae não se submete à autoridade da coisa
julgada.

Competência interna e interacional: limites da jurisdição nacional e cooperação internacional

 Competência nacional
o A competência é uma matéria de ordem pública, ou seja, trata-se de matéria
de direito indisponível.
o As regras de competência existem no sentido de dar neutralidade a atividade
do magistrado.
o Limites da jurisdição nacional
 São as regras que fixam a competência do Brasil para processar e
julgar determinados casos.
 Fora dessas hipóteses, o Brasil não pode atuar; e eventual processo
será extinto por falta de pressuposto de existência.
 Trata-se de instituto intimamente ligado a soberania nacional.
o Modalidades
 Competência nacional concorrente (arts. 21 e 22, CPC)
 Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e
julgar as ações em que:
o I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade,
estiver domiciliado no Brasil;
o II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
o III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado
no Brasil.
 Parágrafo único. Para o fim do disposto no
inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a
pessoa jurídica estrangeira que nele tiver
agência, filial ou sucursal.

 Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira


processar e julgar as ações:
o I - de alimentos, quando:
 a) o credor tiver domicílio ou residência no
Brasil;
 b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como
posse ou propriedade de bens, recebimento
de renda ou obtenção de benefícios
econômicos;
o II - decorrentes de relações de consumo, quando o
consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil;
o III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se
submeterem à jurisdição nacional.
 Os casos acima correspondem a situações em que o Brasil é
considerado competente, ou seja, exerce jurisdição, porém
não se trata de uma competência exclusiva, de forma que se
admite que outro país também seja competente.
o Trata-se das hipóteses em que o Brasil será
considerado competente para o julgamento, ou seja,
exercerá devidamente a sua jurisdição, mas também
admitirá que outro país exerça essa mesma jurisdição,
ou seja, reconhecerá a competência de outro Estado
soberano.
 Eventual sentença estrangeira apenas terá valor no Brasil
depois de homologada pelo STJ.
o Em princípio, uma decisão proferida pelo Poder
Judiciário de um país não produz efeitos em outro
Estado soberano, haja vista que o Poder Judiciário do
próprio país é que o responsável por resolver os seus
próprios conflitos de interesses.
o Em regra, para que uma decisão proferida pelo Poder
Judiciário de outro país possa ser executada no Brasil
é necessário que passe por um processo de
“reconhecimento” ou “ratificação” feito pela Justiça
brasileira. A isso chamamos de homologação de
sentença estrangeira.
o Uma vez homologada, a sentença poderá produzir os
mesmos efeitos de uma sentença nacional.
o O Brasil poderá firmar tratado internacional que
dispensa a necessidade de homologação da decisão
estrangeira.
o Art. 961 - A decisão estrangeira somente terá eficácia
no Brasil após a homologação de sentença estrangeira
ou a concessão do exequatur às cartas rogatórias,
salvo disposição em sentido contrário de lei ou
tratado.
o Art. 960. A homologação de decisão estrangeira será
requerida por ação de homologação de decisão
estrangeira, salvo disposição especial em sentido
contrário prevista em tratado
o Para que a decisão estrangeira seja homologada no
Brasil, é preciso que ela seja definitiva (não pode estar
pendente de recurso).
o Uma decisão que no estrangeiro não é considerada
judicial, ou seja, uma decisão que no estrangeiro não
foi proferida pelo Poder Judiciário no exercício de sua
função típica, pode, mesmo assim, ser homologada no
Brasil se aqui, em nosso país, ela for considerada
decisão judicial.
o A decisão estrangeira poderá ser homologada
parcialmente.
 Competência nacional exclusiva (art. 23, CPC)
 Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com
exclusão de qualquer outra:
o I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no
Brasil;
o II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à
confirmação de testamento particular e ao inventário
e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o
autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou
tenha domicílio fora do território nacional;
 Isso não impede a aplicação do direito
material estrangeiro do país do falecido se
mais benéfica ao cônjuge ou filho brasileiros.
o III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de
união estável, proceder à partilha de bens situados no
Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade
estrangeira ou tenha domicílio fora do território
nacional.
 Trata-se de casos em que apenas a jurisdição brasileira pode
atuar, por uma questão de soberania.
 Qualquer sentença estrangeira, nesses casos, será
juridicamente inexistente no Brasil e nunca será homologada.
o Pelo CPC, não existe litispendência internacional (art. 24, CPC).
 A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz
litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária
brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas,
ressalvadas as disposições em contrário de tratados
internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil.
o A pendência de causa perante a jurisdição brasileira
não impede a homologação de sentença judicial
estrangeira quando exigida para produzir efeitos no
Brasil.

o Em regra, não compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar a


ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em
contrato internacional e esta for arguida pelo réu em contestação.
 Quando foi eleito pelas partes outro país (foro de eleição) como
competente para dirimir os conflitos e a ação for proposta no Brasil, se
o réu não alegar em preliminar a incompetência da justiça brasileira,
tacitamente fica escolhido o Brasil.
 Não se admite foro de eleição nacional nas causas de jurisdição
nacional exclusiva.
 Se o foro de eleição se manifestar abusivo, o juiz pode declarar sua
ineficácia de ofício remetendo os atos ao foro competente.
 Se o foro de eleição for abusivo o juiz pode de ofício declarar a
sua nulidade antes de mandar citar o réu, e o réu depois de
citado deve alegar a nulidade na contestação sob pena de
preclusão.

 Cooperação internacional
o Trata-se de toda forma de colaboração entre Estados internacionais para
consecução de um objetivo comum com reflexos jurídicos.
o Os fundamentos da cooperação internacional são os tratados, as convenções e
protocolos.
 Em caso de falta de tratados é que deverá ser usada a cláusula geral
de reciprocidade.
o A cooperação não é necessariamente entre juízes, ou seja, cooperação jurídica
é mais ampla que cooperação judicial ou jurisdicional.
o O Brasil não cooperará com atos incompatíveis às normas fundamentais do
Estado Brasileiro.
o Consiste em toda forma de colaboração entre Estados (internacionais) para
consecução de um objetivo comum com reflexos jurídicos. É o intercâmbio
entre países para o cumprimento de medidas jurídicas, seja pedindo ou seja
executando a medida, processuais ou não.
 As processuais são solicitadas ou cumpridas pelo Poder Judiciário, e as
não processuais são cumpridas por qualquer autoridade
administrativa, como, por exemplo, a polícia ou o Ministério Público.
o Classificação
 Ativa ou passiva
 Ativa: quando o Estado requerente postula o pedido de
assistência jurídica.
 Passiva: quando o Estado requerido recebe um pedido de
cooperação.
 Direta ou indireta
 Direta: é a que não exige o juízo de deliberação do STJ.
o Nesse caso, a cooperação é feita pela autoridade
administrativa com ou sem o auxílio do Poder
Judiciário.
 Indireta: é aquele que depende o juízo de deliberação do STJ
para ser efetivada.
o É aquela feita por Carta Rogatória ou homologação de
sentença estrangeira.
 Jurídica ou jurisdicional
 Jurídica: quando não envolve ato do Poder Judiciário, mas só
atividade administrativa.
 Jurisdicional: quando postula um ato jurisdicional do Estado
cooperante/cooperador.
o Objetivo da cooperação internacional
 Garantir o acesso à Justiça, garantir a eficácia da prestação
jurisdicional e fortalecer o estado democrático de direito.
o O ministério da Justiça exercerá as funções de autoridade central, na ausência
de designação específica.
 Significa que todas as vezes que não for possível travar um
relacionamento direto entre os interessados, o pedido deverá ser feito
pelo Ministério da Justiça.

o Disposições
comuns as
modalidades de
cooperação
jurídica:

 O pedido de cooperação jurídica internacional proveniente de


autoridade brasileira competente será encaminhado à autoridade
central para posterior envio ao Estado requerido.
 Esse pedido deverá ser acompanhado de tradução para a
língua oficial do Estado requerido.

 O pedido passivo de cooperação jurídica será recusado se configurar


ofensa à ordem pública.

 A cooperação jurídica para execução de decisão estrangeira se dará


por meio de carta rogatória ou ação de homologação de sentença
estrangeira.

 Desde que exista a reciprocidade, presume-se autêntico o pedido de


cooperação encaminhado pela autoridade central estrangeira ou pelas
vias diplomáticas para o Brasil.
o Auxílio direto
 É a colaboração internacional direta, porque não passa pelo STJ para
juízo de deliberação.
 Auxílio direto é a mesma coisa que colaboração internacional direta.
Também é chamado de assistência direta, porque não passa pelo STJ
para juízo de delibação.
 Não se trata de medida decorrente de decisão jurisdicional
estrangeira, por isso não exige delibação do STJ.
 O pedido vem de uma autoridade administrativa.
 Sua vantagem é permitir a celeridade, já que a troca de informações
será feita pela autoridade central brasileira. Não envolve o Judiciário
de pronto.

 A solicitação do auxílio direto será encaminhada pelo órgão


estrangeiro interessado à autoridade central, cabendo ao Estado
requerente assegurar a autenticidade e clareza do pedido.

 No caso de auxílio direto para prática de atos que, conforme a lei


brasileira não necessitem de prestação jurisdicional, a autoridade
central adotará as providencias necessárias para seu cumprimento.
 Quando o pedido demandar prestação de atividade jurisdicional,
recebido pedido de auxílio direto passivo, a autoridade central irá
encaminhá-lo à Advocacia Geral da União, que requererá em juízo a
medida solicitada.
 O MP requererá em juízo a medida solicitada quando for
autoridade central.
 Cabe ao juízo federal do lugar que deve ser executada a medida
apreciar o pedido de auxílio direto que demande prestação de
atividade jurisdicional.
o Carta rogatória
 Carta rogatória é a solicitação da cooperação jurisdicional
internacional enviado por um juiz de um país a um órgão judiciário de
outro país.
 Trata-se de auxílio indireto.
 A carta rogatória exige o “exequator” o STJ – ele precisa ter acesso ao
pedido e determinar seu cumprimento ou não.
 A carta rogatória é uma forma de auxílio para instrução do processo,
na qual um Estado requer a outro a adoção de determinadas medidas.
Elas se destinam ao cumprimento de diversos atos, dentre eles a
citação e notificação (ordinatórios), coleta de provas (instrutórios) e
ainda alguns com caráter restritivo (executórios).
 Ela se subdivide em carta rogatória ativa (enviada pelo Estado
brasileiro) e carta rogatória passiva (enviada por outros Estados ao
Brasil).
 Nas cartas rogatórias ativas “há o envio do Tribunal rogante para o
Ministério da Justiça, no Departamento de Recuperação de Ativos e
Cooperação Internacional, que procederá ao seu envio ao exterior,
cuidando, inclusive, dos trâmites especiais com os países com os quais
mantemos convênios especializados, de caráter multilateral ou
bilateral” (ARAUJO, 2008, p. 284).
 Nas cartas rogatórias passivas há, inicialmente, necessidade de análise
do STJ, que, caso as admita, as enviará para serem cumpridas na
Justiça Federal.
 Eventual defesa sobre o pedido de exequatur da carta rogatória
somente poderá versar sobre autenticidade dos documentos, uma vez
que o juízo de delibação das cartas rogatórias também é limitado, não
podendo analisar o mérito da causa.
A distribuição do exercício da jurisdição estatal brasileira

 Competência interna
o Competência é o poder que tem o órgão do Poder Judiciário de fazer atuar a
função jurisdicional em um caso concreto.
o Competência é a quantidade de jurisdição atribuída a cada órgão jurisdicional,
ou seja, a competência é a medida da jurisdição.
 Competência é o limite da jurisdição fixado com base em critérios
técnicos de especialização, divisão territorial e distribuição de serviço.
o Em situações urgentíssimas, para decidir sobre tutela de urgência, não é
necessário ter competência, basta ter jurisdição para não perecer o direito; o
juiz decide sobre a tutela de urgência e após o cumprimento da sua decisão
manda o processo para o juízo competente, que pode confirmar ou revogar a
decisão.
o Princípio da competência residual/competência atômica: mesmo quando o juiz
é absolutamente incompetente, resta-lhe uma pequena competência para
validamente decidir e declarar a sua incompetência.
 Apesar de não atingir o fim pretendido de resolução do conflito, o juiz
exerceu o seu dever jurisdicional.
 É o instituto pelo qual todo juiz tem competência para analisar sua
própria competência, de forma que nenhum juiz é totalmente
incompetente, pois ao verificar sua incompetência absoluta, tem
competência para reconhecê-la.
o Estrutura do Poder Judiciário
 STF
 STJ
o Tribunais de Justiça dos Estados
 Juízes de direito
o Tribunais Regionais Federais
 Juízes federais
 TST
o TRT
 Juízes do trabalho
 TSE
o TER
 Juízes eleitorais
 STM
o Juízes militares
o Alguns Estados apresentam tribunais de justiça
militares.
o Critérios de fixação de competência
 A justiça brasileira é competente para julgar a causa (arts. 21 a 23,
CPC)?
 Se sim, investigar se o caso é de competência originária de Tribunal ou
de órgão jurisdicional atípico (ex: Senado para crimes de
responsabilidade).
 Não sendo o caso, verificar se é afeto à justiça especial (eleitoral,
trabalhista ou militar) ou à justiça comum.
 Sendo competência da justiça comum, verificar se é da justiça federal
(arts. 108 e 109, CF), pois, se não o for, será residualmente da
Estadual.
 Sendo da justiça estadual, deve-se buscar o foro competente segundo
critérios do CPC (competência absoluta e relativa, material, funcional,
valor da causa e territorial).
 Determinado o foro competente, verifica-se o juízo competente, de
acordo com o sistema do CPC (prevenção, por exemplo) e das normas
de organização judiciária dos Estados.
 Competência absoluta
o Critérios de fixação de competência absoluta – não podem ser alterados pela
vontade das partes:
 Matéria;
 Qualidade da parte;
 Hierarquia;
 Leva em consideração os graus de jurisdição.
 Funcional;
 Distribuição.
o A competência absoluta é um pressuposto de validade do processo.
o A incompetência absoluta pode ser reconhecida de ofício e gera nulidade dos
atos decisórios.
 Os atos decisórios são nulos, mas serão conservados até que o Juízo
competente se manifeste expressamente sobre eles.
 Após o trânsito em julgado da decisão, é possível interpor ação
rescisória para alegar nulidade da sentença por incompetência
absoluta do juízo.
o A competência absoluta pode ser questionada a qualquer tempo, e, portanto,
não haverá preclusão quanto à ausência de sua alegação, porque ela não é
capaz de ser prorrogada em nenhuma hipótese, ou seja, não poderá ser
modificada.
o Exceção: a competência para o cumprimento de sentença é funcional e
absoluta, mas o art. 516, parágrafo único, CPC, permite ao credor requerer o
cumprimento de sentença no foro do atual domicílio do executado, ou do local
dos bens, ou do lugar do cumprimento da obrigação (em busca da
efetividade).
o Exceção: o Art. 53, II, CPC também se aplica à execução de alimentos que
poderá ser requerida no foro da atual residência ou domicílio do alimentando,
se ele mudou de comarca (regra especial de facilitação do acesso à justiça).

 Competência relativa
o Os critérios territorial e valor da causa, em regra, fixam competência relativa,
que pode ser alterada pela vontade das partes, em razão da cláusula
contratual de eleição de foro ou pela inércia do réu em arguir eventual
incompetência em tempo hábil em preliminar de contestação.
o A inobservância ao respeito da competência relativa não autoriza a rescisão da
decisão após o seu trânsito em julgado.
 Porém, existem casos em que o critério territorial e o valor da causa
fixam regras de competência absoluta.
 Exceções:
 Ações fundadas em direito real sobre imóveis – é competente
o foro de situação da coisa.
 Art. 2º, Lei de Ação Civil Pública: as ações deverão ser
propostas no foro do local onde ocorrer o dano.
 JEF: competência pelo valor da causa é absoluta para ações de
até 60 salários mínimos.
 Em SP: causas até 500 salários mínimos – foros regionais;
causas acima de 500 salários mínimos – fórum central.
o Regra geral: quando falta competência é
incompetência absoluta (por exemplo: quando o foro
regional julga causa acima de 500 salários), mas
quando sobra competência a incompetência é relativa,
isto é não há nulidade (por exemplo: quando o foro
central julga causa abaixo de 500 salários mínimos).
o Isso não se aplica ao TJSP.
o A incompetência relativa não pode ser conhecida de ofício.
 Exceção: o juiz pode antes da citação, de ofício, declarar a ineficácia do
foro de eleição abusivo e remeter os autos para o domicilio do réu.
 Somente faz sentido remeter o processo para o local de
domicilio do réu, se o réu for a parte hipossuficiente que a
norma pretende proteger.
 Após a citação ocorre a preclusão pro judicato, ou seja, o juiz não
poderá mais analisar de ofício a matéria de incompetência relativa e o
réu deverá alega-la na contestação sob pena de preclusão e
prorrogação da competência.
 O réu deve alegar a incompetência relativa em preliminar na
contestação, sob pena de preclusão.

o Atualmente não subsiste no CPC a chamada exceção de incompetência, que,


no Código anterior era o procedimento adequado para a arguição da
incompetência relativa.

Competência interna (arts. 42 ao 66, CPC)

 Perpetuação da competência (art. 43, CPC)/Princípio da perpetuatio jurisdicionis


o Art. 43 - Determina-se a competência no momento do registro ou da
distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de
fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão
judiciário ou alterarem a competência absoluta.
 I. a competência é determinada no momento do registro ou
distribuição da inicial: o que se considera são os fatos e a lei vigente no
dia da propositura da ação. Destaque-se que são irrelevantes as
alterações de fato e de direito posteriores.
 II. proposta a ação no Juízo competente, a competência dura até o fim
do processo, salvo se extinto o órgão julgador ou alterada a
competência absoluta.

 Modificação da competência relativa (art. 54, CPC)


o A competência relativa pode ser mudada pela conexão ou pela continência.
 Serão conexas duas ou mais ações quanto lhes for comum o pedido ou
a causa de pedir.
 Os processos de ações conexas devem ser reunidos para
decisão conjunta, salvo se um deles já tiver sentença.
 Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que
possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou
contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem
conexão entre eles.
 Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver
identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma,
por ser mais amplo, abrange o das demais.
 Quando houver continência e a ação continente tiver sido
proposta anteriormente, no processo relativo à ação contida
será proferida sentença sem resolução de mérito; caso
contrário, as ações serão necessariamente reunidas.
 A competência relativa pode ser alterada por fenômenos como a
conexão e a continência ou pela vontade das partes: de forma
expressa (através de foro de eleição) ou de forma tácita (quando o réu
não alega incompetência relativa em preliminar).
 Conexão é vinculo ou ligação que tem a mesma causa de pedir ou o
mesmo pedido.
 Continência é uma espécie de conexão mais forte, porque importa no
vinculo e entre ações que tem as mesmas partes, mesma causa de
pedir, mas o pedido de uma é mais amplo e contém o da outra.
 A conexão e a continência são causas de modificação da competência,
pois em regra determinam a reunião no Juízo prevento. No novo CPC a
regra da reunião é obrigatória.

 O critério de prevenção é um só; prevento é o Juízo para o qual ou no


qual primeiro houve a distribuição da inicial.
 No caso da continência só haverá a reunião das ações se a
ação contida (objeto menor) for anterior.
 Se a ação continente (maior) for anterior, a ação contida será
extinta (litispendência parcial).
 Pelo CPC a conexão e a continência só permitem modificar a
competência relativa. Porém, a Súmula n. 489 do STJ diz que se houver
conexão ou continência entre ação civil pública da estadual e a ação
civil pública da federal, elas serão reunidas na Justiça Federal. Esse
mesmo critério tem sido usado em ações individuais e se trata de
competência absolutamente diferente.
 Se um imóvel estiver localizado em mais de um Estado, comarca,
seção ou subseção judiciária, a competência do juízo prevento se
estenderá sobre a totalidade do imóvel.
 A ação acessória deverá ser proposta no juízo competente para a ação
principal.

 Foro de eleição (art. 63, CPC)


o A competência em razão da matéria, pessoa ou função não pode ser mudada
por convenção das partes, ou seja, não admite foro de eleição.
o Foro de eleição somente é admitido quando se tratar de competência em
razão do valor da causa ou territorial.
o É a cláusula de contrato escrito que permite às partes escolher a comarca ou a
sessão judiciária para eventuais processos.
o Vincula os contratantes, seus sucessores e seus herdeiros.
o Admite-se foro de eleição internacional.
o O foro de eleição ocorre quando as partes escolhem o foro onde serão
propostas as ações oriundas de direitos e obrigações.
o O acordo há de constar de negócio escrito, aludindo expressamente a
determinado negócio jurídico. Foro de eleição oral, por sua vez, é para o
direito ato jurídico inexistente.
o Ressalta-se, que não há óbice à eleição de mais de um foro pelas partes
contratantes, e nada impede que em um mesmo negócio jurídico haja a
eleição do foro e a convenção de arbitragem (nesse caso, o foro de eleição
servirá para identificação do juízo competente para futura execução da
sentença arbitral ou para a demanda para efetivação de medidas urgentes,
hipóteses que fogem da competência do juízo arbitral).
o Antes da citação, caso o juiz verifique que a cláusula de foro de eleição é
abusiva, ele poderá reputá-la ineficaz de ofício e determinará a remessa dos
autos ao juízo do foro de domicílio do réu.
o Após a citação, cabe ao réu alegar a abusividade da cláusula de foro de eleição
em sede de preliminar de contestação, sob pena de preclusão.

 Regra geral de competência


o Em regra, as ações pessoais e reais sobre bens móveis são propostas no foro
de domicílio do réu.
 Se houver mais de um réu ou se o réu tiver mais de um domicílio, a
ação pode ser proposta no foro de qualquer um deles.
 Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, será considerado
competente o foro onde for encontrado ou o do domicílio do autor.
o Se o réu não tem domicilio ou residência no Brasil, será competente o foro do
domicílio do autor; se o autor também não tem residência no Brasil, pode ser
proposta a ação em qualquer foro brasileiro.
o Se o réu for ausente, será competente o foro de seu último domicílio, que
também é competente para arrecadação, inventário, partilha e cumprimento
de disposições de ultima vontade.
o Se o réu for incapaz, será competente o foro de domicílio de seu
representante ou assistente.
o Se o processo tramitar perante outro juízo, os autos deverão ser remetidos ao
juízo federal competente se nele intervir a União, suas empresas públicas,
entidades autárquicas e fundações ou conselho de fiscalização de atividade
profissional, na qualidade de parte ou de terceiro intervenientes, salvo nos
casos de ações de recuperação judicial, falência, insolvência civil e acidente de
trabalho e sujeitos à justiça eleitoral ou do trabalho.
 Os autos não serão remetidos se houver pedido cuja apreciação seja
de competência do juízo perante o qual foi proposta a ação.
 Quando for parte no processo sociedade de economia mista a
competência é da Justiça Estadual.
 Regras especiais de competência
o Art. 47, CPC: para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é
competente o foro de situação da coisa.
 O autor pode optar por promover a ação no foro de domicílio do réu
ou pelo foro de eleição, caso o litígio não recair sobre direito de
propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de
nunciação de obra nova.
 Ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da
coisa, cujo juízo possui competência absoluta.

o Para ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento


ou dissolução de união estável, é competente o foro:
 De domicílio do guardião de filho incapaz;
 Do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
 De domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio
do casal.

o Para propor ação de alimentos é competente o foro:


 De domicílio do alimentando;

o Para inventário, partilha, arrecadação, cumprimento de disposição de última


vontade, impugnação e anulação de partilha extrajudicial, é competente o foro
do domicílio do autor da herança, ainda que o óbito tenha ocorrido no
estrangeiro:
 Se o autor da herança não tiver domicilio certo:
 Será competente o foro de situação dos imóveis (qualquer
deles);
 Não havendo bens imóveis, será competente o foro do local
de qualquer dos bens do espólio.

 Conflito de competência e deslocamento


o Haverá conflito de competência quando dois ou mais juízes divergem sobre a
competência para uma determinada ação (concretamente).
o O conflito pode ser suscitado pelo juiz (se for competência absoluta), pelas
partes e pelo MP, como fiscal da lei.
o Espécies
 Positivo
 Dois ou mais juízes de consideram competentes.
 Negativo
 Dois ou mais juízes se consideram incompetentes.
 Por conexão
 Quando dois ou mais juízes divergem sobre a reunião ou a
separação de processos.

 Competência de foro na Justiça Federal – art. 51, CPC


o Se o ente federal for autor da ação, será competente o foro de seção judiciária
de domicilio do réu.
o Se o ente federal for réu na ação, esta poderá ser proposta no domicílio do
autor, no local do fato ou ato ou no foro de situação da coisa, ou no Distrito
Federal.
o Se se tratar de ação real imobiliária, aplica-se o art. 47, do CPC, ou seja, a ação
deve ser proposta no foro do imóvel.

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