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BIBLIOGRAFIA
2.3.1 - INTRODUÇÃO
Pouco se sabe sobre a vida pessoal de Isaías, cujo nome significa:
"Javé é salvação". Seu nascimento pode ser datado por volta de 760
a.C., no reino do Sul, Judá, durante o reinado de Ozias (781-740 a. C.).
Seu pai chamava-se Amós (1,1), mas com toda a certeza não se trata
do profeta de Técua. O profeta Amós nasceu em Técua, uma pequena
cidade do interior de Judá, e viveu no reino de Norte, Israel (Am 7,12-
15), no período de Jeroboão II (783 743 a.C.). Isaías, por sua vez, tinha
formação e cultura típicas de Jerusalém. Era profeta do Templo e
conselheiro do rei (2Rs 19,1-7). Esse lugar social, com suas tradições
religiosas, delineou a vida, as opções e a mensagem do profeta. Grande
parte de sua pregação era baseada na escolha divina de Jerusalém e na
eleição da dinastia davídica, princípios teológicos fundamentais, reflexo
da fé que o sustentava. Dessa convicção, Isaías deduziu as mais sérias
conseqüências para a situação histórica do seu povo.
Por volta de 740 a.C., com apenas 20 anos de idade, Isaías recebeu a
vocação profética: "No ano que morreu o rei Ozias, eu vi o Senhor
sentado num trono alto e eleva do. (...) Ouvi, então, a voz do Senhor que
dizia: 'Quem é que vou enviar? Quem irá de nossa parte?' Eu respondi:
Aqui estou. Envia-me!" " (6,1.8).
Após ter recebido a vocação profética, Isaías se casou: "Em seguida, eu
me uni à profetisa e ela concebeu e deu à luz um filho..." (8,3). O texto
não diz o nome de sua esposa.
Dessa união nasceram dois filhos, aos quais Isaías deu nomes
simbólicos. Como em Oséias (Os 1,3-9 e 2,25), também no livro de
Isaías os nomes das crianças estão relacionados com sua mensagem
profética: Sear Jasub, que significa "um resto voltará" (7,3), e Maer Salal
Has-Baz, que significa "pronto-saque-rápida-pilhagem" (8,3c).
A data de sua morte é incerta. Provavelmente ocorreu após a morte de
Ezequias, em 687 a.C. A tradição judaica, assumida por alguns padres
da Igreja, como Justino, Tertuliano e outros, diz que Isaías foi
martirizado por Manassés, que teria mandado parti-lo ao meio. Essa
tradição não tem sustentação bíblica.
Os textos de Isaías nos mostram que ele era um homem decidido, claro
em suas posições. Voluntariamente se ofereceu a Deus no momento em
que foi chamado (6,8). Com essa mesma prontidão, mais tarde,
enfrentou reis e políticos, sem jamais se deixar abater. Era um dos profe
tas oficiais, conselheiro do rei, não adepto de revoltas e lutas por
mudanças sociais mais radicais (3,1-9). O que não significa que
apoiasse as injustiças e a corrupção das classes altas. Pelo contrário, foi
extremamente duro com os grupos dominantes injustos: anciãos, juízes,
latifundiários políticos, mulheres da elite de Jerusalém (1,10-28; 3,16-24;
6,8-24). Ele defendeu com todo o vigor os oprimidos, os órfãos, as
viúvas (1,17; 10,1-4) e o povo explorado por seus lideres (3,13-15).
O estilo de seus escritos é clássico e original. Foi verdadeiramente um
poeta, cheio de sensibilidade, breve e preciso: linguagem direta, com
imagens simples que tocavam o âmago da questão e atingiam em
profundidade destinatário (Is 5,1-7).
O livro de Isaías
Uma leitura corrente do livro de Isaías, capítulos 1-66 vai nos mostrar
situações históricas de épocas e lugares diversos. Examinando um
pouco mais de perto as pessoas e os grupos que aparecem no texto, a
linguagem, as indicações de nomes de reis, lugares etc., encontramos,
pelo menos, três livros: Do capítulo 1 ao 39 temos o livro chamado de
Primeiro Isaías, escrito em sua maior parte em Judá, pela comunidade
do profeta Isaías. Esse texto abrange o período histórico de 740 a 701
a.C. Do capítulo 40 ao 55 temos o livro conhecido como Segundo Isaias
ou "Isaías Júnior". Seu autor é do tempo do exílio na Babilônia, mais ou
menos 550 a.C. Os capítulos 56 a 66 compõem o terceiro livro ou
Terceiro Isaías, provavelmente escrito no pós-exílio, por um grupo de
Judá, nos anos 500 a.C.
b) Época de Isaias
Cento e cinquenta anos mais tarde, durante o longo reinado de Ozias
(781-740 a.C.), o reino do Sul voltou o esplendor dos tempos de
Salomão. Nesse mesmo período reinava no Norte Jeroboão II (783-743
a.C.). Durante curto período Israel e Judá não tiveram conflitos entre si.
Ambos os reinos se fortaleceram e se expandiram Jeroboão II
reconquistou para Israel o controle da região desde Emat, perto de
Damasco, até o mar Morto (2Rs 14,25). Enquanto isso, no Sul, Ozias e
seu filho Joatão (740-736 a.C.) estenderam seu país até Elat, na
fronteira com o Egito. Judá viveu um tempo de independência,
prosperidade e paz. Paralelamente a essa realidade, acon- teciam
injustiças, arbitrariedades, corrupção, cobiça dos grandes, opressão.
Isaías reagiu de forma agressiva: "Que direito têm vocês de oprimir o
meu povo e de esmagar a face dos pobres?" (3,15).
No final do governo de Joatão e início do reino de Acaz (736-716 a.C.), o
tempo de independência, de festa e de glória do reino de Judá, pouco a
pouco, foi desaparecendo, Iniciava-se a expansão do império Assírio,
sob o co- mando de Teglat-Falasar III (745-727 a.C.). Este grande
imperador e hábil militar, desejoso de ampliar seus terri- tórios e
conquistar rotas comerciais, aperfeiçoou, equipou e modernizou seu
exército. No livro de Isaías encontramos referências a esses
equipamentos militares: "toda bota que pisa com barulho e toda capa
empapada de sangue serão queimadas, devoradas pelas chamas" (9.4),
Teglat-Falasar III e seus sucessores assumiram a tática militar chamada
de "guerra de conquista". Segundo essa tática, o império impunha
progressivamente seu domínio sobre as nações dependentes através de
três etapas de vassalagem.
E o que fará o homem? Os vv. 18-22 concluem que, naquele dia, só lhe
restará tentar esconder-se de Iahweh nos abismos, nas tocas, onde for
possível, como bicho apavorado.
Em Is 5,1-7 encontramos o belíssimo cântico da vinha. É um poema
lírico de grande beleza, uma espécie de "canção de amor", segundo
alguns; uma "parábola", segundo outros; ou, ainda, uma "canção de
colheita", cantada durante a colheita da uva.
Canta-se o amor não-correspondido de um noivo, tendo o profeta
assumido, no caso, o papel de "amigo do noivo", uma pessoa de
confiança que resolvia qualquer problema porventura surgido entre o
casal.
O cântico desdobra no seu simbolismo o amor de Iahweh (o agricultor)
pelo povo de Israel (a vinha), preparado com todo o cuidado e carinho,
mas revelado infiel a Iahweh.
No v. 7b, através de belíssimo jogo de palavras, descreve-se a situação
judaíta:
Is 7,10-17 relata novo encontro de Isaías com Acaz, desta vez, talvez,
no palácio, no qual o profeta oferece ao rei um sinal de que tudo se
arranjará diante da ameaça siro-efraimita.
Com a recusa do rei em pedir um sinal a Iahweh, Isaías muda de tom e
relata a Acaz que Iahweh, por própria iniciativa, dar-lhe-á um sinal.
Que consiste no seguinte: a jovem mulher ('almâh) dará à luz um filho,
seu nome será Emanuel (Deus-conosco) e ele comerá coalhada e mel
até que chegue ao uso da razão. Até lá Samaria e Damasco serão
destruídas.
"Pois sabei que o Senhor mesmo vos dará um sinal ('ôth):
Eis que a jovem concebeu (hinnêh hâ'almâh hârâh)
e dará à luz um filho e por-lhe-á o nome de Emanuel ('immânû
'êl). Ele se alimentará de coalhada e de mel até que saiba
rejeitar o mal e escolher o bem. Com efeito, antes que o
menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra, por cujos
dois reis tu te apavoras, ficará reduzida a um ermo" (Is 7,14-
16).
v. 5b: liderança
v. 5c: competência: Conselheiro-maravilhoso: sabedoria na
administração
Deus-forte: capacidade bélica
Pai-eterno: zelo pela prosperidade do povo
Príncipe-da-paz: preocupação com a felicidade do
povo
v. 6: permanência: domínio multiplicado
paz perpétua
casa de Davi: direito e justiça.
O verbo "cobiçar", usado por Miquéias, é hâmad: este verbo não indica
apenas um desejo que não se concretiza, mas a maquinação para
realizar um plano. Além do que cobiçar é a ação daqueles que possuem
recursos para tomar posse de bens alheios pública e impunemente. É o
mesmo verbo usado em Ex 20,12, um dos dez mandamentos: "Não
cobiçarás a casa do teu próximo...".
É bom a gente observar que as pessoas acusadas por Miquéias não são
os "marginais" da sociedade israelita. São pessoas honradas e
respeitadas. Estão, no momento, muito bem.
Contudo, a ameaça do castigo (vv. 3-5) tem a sua razão de ser. "Antes
de tudo, deve-se dizer que um país no qual a injustiça social chegou a
tal ponto, que se encontram, de um lado, alguns poucos grandes
proprietários e, do outro, uma incontável multidão de pobres mais ou
menos escravos, pode ter certeza de perder a guerra, se ela vier",
observam A. Maillot e A. Lelièvre .
Além da miséria e enfraquecimento inevitáveis nestes casos, ocorre um
agravante: faltaria ao soldado israelita, recrutado entre os camponeses
empobrecidos, qualquer motivação para a luta. Afinal, os camponeses
nada têm para defender de um inimigo externo, pois já perderam tudo
para os exploradores internos...
Em 2,6-11 temos uma discussão entre Miquéias e seus adversários, os
profetas do poder. No início do oráculo vem citado o discurso deles (vv.
6-7), vindo, em seguida, a resposta de Miquéias que os acusa de
despojar os mais fracos (vv. 8-11).
Segundo os profetas contrários a Miquéias, não há o que temer, já que
os filhos de Jacó (= os israelitas) são abençoados (Gn 49), além do que,
Iahweh, que não esmorece no cumprimento de suas promessas,
continua a agir com benevolência.
Mas o argumento de Miquéias é o seguinte: "Estes profetas com suas
mentiras se dedicam a despojar mulheres, crianças e viandantes,
enquanto participam de festas despreocupadas: eles fazem boa
companhia aos poderosos, utilizando a mentira em lugar do poder".
E no v. 11, finalmente, Miquéias traça o perfil do falso profeta. Jogando
com o termo rûah, que significa tanto "vento" como "espírito", diz nosso
profeta que seus adversários, que tanto reivindicam o espírito, acabam
mesmo é correndo atrás do vento.
Mq 2,12-13 traz a típica mensagem da teologia oficial de Jerusalém no
tempo de Miquéias. São palavras dos adversários de nosso profeta o
que devemos ler aqui. São os falsos profetas em ação. Seus temas: a
reunificação, o Senhor como pastor do povo, o rei.
Em Mq 3,1- 4 o profeta repreende o comportamento dos chefes de
Israel: são as autoridades civis como o rei, os funcionários dos escalões
superiores e os juízes, os "cabeças" (ro'shîm), em hebraico. A metáfora
usada pelo profeta é de uma crueza espantosa:
"E eu digo: Ouvi, pois, chefes da casa de Jacó e
magistrados da casa de Israel! Por acaso não cabe a vós
conhecer o direito (mishpât), a vós que odiais o bem e
amais o mal, (que lhe arrancais a pele, e a carne de seus
ossos)? Aqueles que comeram a carne de meu povo,
arrancaram-lhe a pele, quebraram-lhe os ossos, cortaram-
no como carne na panela e como vianda dentro do
caldeirão, então eles clamarão a Iahweh, e ele não lhes
responderá. Ele lhes esconderá a sua face naquele tempo,
porque os seus atos foram maus!" (Mq 3,1-4).
Mq 7,8-20 conta como Jerusalém sofreu nas mãos dos inimigos, mas
reconheceu a sua culpa, está envergonhada e será recuperada por
Iahweh que a perdoa. É um texto pós-exílico este, segundo a opinião da
maioria dos autores, quando se deu a reconstrução da cidade. Oráculos
acrescentados pelos copistas às duras críticas de Miquéias, arranjando
um final feliz...