Unidade 5; Capítulo 2 – Quais são os desafios políticos contemporâneos
O filme V de Vingança ressalta a anarquia e a crítica contra um governo totalitário.
Todavia, o repertório do “V” costuma se aproximar daquele Estado. Antonio Negri afirma que a antiga crença de que a soberania se centraliza no Estado nacional entrou em declínio. Hoje, organizações políticas e sociais, além de empresas, formam a soberania. Essa soberania se centra na Biopolítica, a qual concerne o plano econômico, político e cultural. O antigo Estado-nacional usava da soberania, já o atual é constituído pelo IMPÉRIO. Não se trata de império romano ou imperialismo, mas de um corpo que não tem fronteiras, atua em escala global. O conceito de império é supra-histórico, ou seja, está fora da história, pois não depende de fatores de conquista. Esse império está além da esfera política, já que usa da biopolítica e governa como um todo. O império também busca sempre a paz, embora faça guerras as vezes. O império concerne uma ordem mundial expressa pela forma jurídica, na qual engloba-se também o poder econômico e político, sendo que são todos capitalistas. Portanto, não se constrói um império, ele é um fruto inconsciente de um meio social. O império não é totalitário, até se abre à diversidade. Todavia, ele tenta, através do consentimento, gerar uma aceitação geral das pessoas. Embora busque essa aceitação, possíveis conflitos precisam do uso do PODER POLICIAL. Um exemplo de aceitação é a empresa McDonalds que se adaptou às regiões judaicas para aumentar suas vendas, porém ninguém questionou a comida pouco nutritiva e calórica. Eles simplesmente aceitaram a adaptação como sendo um favor. Um correlativo de poder policial é o DIREITO DE INTERVENÇÃO. Daí se inicia a contradição, já que países como os EUA invadem o Iraque para acabar com o terrorismo, por exemplo. Numa democracia, isso não deveria ocorrer. De acordo com Negri, é possível driblar a dominação por parte do império, mas somente através de AÇÕES DAS MASSAS, já que as mesmas teriam causado o nascimento do império. É confuso, massa reivindicação dos trabalhadores durante a Revolução industrial, posteriormente, em 1929, ocorre uma crise e, pautados de ideias socialistas, os operários reivindicam seus direitos. Surge o Keynesianismo, o qual opera em sua política a assistência social e o controle da economia por parte do Estado. Através dessa biopolítica, continuou-se a exploração do povo, e a luta deles foi em vão. Sociedades de controle geram uma aparente liberdade. Mas no império, o controle é VIRTUAL, uma vez que não está em um plano material, mas sim em todas as relações exteriores aos indivíduos. É como uma máquina. Isso gera maior liberdade e permite que a população se organize para escapar do controle imperial. As redes sociais, por exemplo. Existe a crítica e desconstrutiva e a construtiva e ético-política, respectivamente, voltada para um alterar e derrubar um império. Sim, estou certo dessa ordem. Quando a multidão tenta recuperar seu poder, a soberania volta para o povo. A democracia. Jacques Rancière afirma que essa visão de Negri é equivocada, pois busca-se a essência de algo não político. Não é correto buscar o não político, mas sim : “O que tem de específico para pensar sob o nome de política ?”. Para Jacques, o que há de específico é o DESENTENDIMENTO. Enquanto Hobbes acredita que o contrato é o fim para o desentendimento, Rancière busca justamente esse desentendimento, que seria a base política. Foucault entende polícia como as táticas e práticas para organizar uma sociedade, e entende política como as relações efetivas de poder, ou seja, o poder como o conhecemos. Mas Rancière considera a política de Foucault também uma polícia. Política, para o Rancière, é aquilo que perturba a polícia (organização e administração social), portanto, o desentendimento, a diferença. Portanto, polícia não é apenas um órgão repressor do Estado, mas um conjunto de coisas. Já política é algo muito mais raro. Embora essa política se centre assim, na antiguidade, aquele que não falava a mesma língua era excluído por não ser igual, não ser um cidadão, logo não participava da política. Embora isso permaneça até hoje, a convivência dessas diferenças gera a política. NÃO SE TRATA DE CONVIVER JUNTO, mas de compreender as divisões e a diversidade. Cada um se engloba em uma fatia da sociedade, uma panelinha. Mesmo assim, essa panelinha está contida em tudo. Obviamente, numa sociedade onde todos pensam por si, como no caso, haverá conflitos. Daí nasce a política. Quando se entendem, não é política, é CONSENSO. Para a construção de projetos comuns, é necessário o consenso. Mas esse consenso só parte quando entendemos o desentendimento. Confuso ? Não. A política atual cria uma igualdade abstrata, onde todos são iguais. Mas não é assim. É necessário uma igualdade social. Não se trata de por fim a propriedade privada, mas que as diferenças sejam a matriz de partir que : “Se todos somos diferentes, logo temos algo em comum”. Podemos não falar a mesma língua, mas falamos, por exemplo. O objetivo da política, então, é fazer com que cada indivíduo aja por si mesmo. Não se trata de uma anomia, mas o conceito Kantiano de imperativo categórico. Até as escolas foram criticadas por Rancière, pois se estabelece uma ideia de que o professor sabe mais que o aluno, fato o qual gera uma diferença eletromotriz. Não há igualdade. Ele chama isso de SOCIEDADE PEDAGOGIZADA. O indivíduo esclarecido seria o EMANCIPADO. Qual a ideia para combater a pedagogia ? Justamente compreender que todos indivíduos emancipados tem a mesma capacidade de aprender. Uma inteligência não domina a outra, mas sim a partilha de aprendizados que ocorre. É como se eu tivesse um amigo que se acha burro, e só eu o ajudo na escola, e outro amigo que se acha inteligente, e nos ajudamos. Não há essa desigualdade. O cara ainda afirma que vivemos o ÓDIO À DEMOCRACIA. Isso porque partidos religiosos muitas vezes querem impor valores em nome de Deus, por exemplo. Tudo isso vem por medo : calar as minorias para gerar uma maioria. Se as minorias derem sua opinião diferente, a maioria corre risco. Por isso não há abnegação ao controle. Mas quando há diferenças, a luta vai levar a um projeto único, mas que abranja tudo. É nisso que reside o ato político. E por que o consenso é a anulação da política ? Pelo simples fato de que cria-se uma falsa maioria, a qual não abrange tudo, apenas os interesses hegemônicos.