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Processing and shelf-life evaluation of dehydrated and pulverized tucuman


(Astrocaryum aculeatum Meyer)

Article  in  Ciência e Tecnologia de Alimentos · June 2008

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5 authors, including:

Roberto Maeda Lílian Pantoja


Novozymes Latin America
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Jaime Paiva Lopes Aguiar Helyde Albuquerque Marinho


Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
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ISSN 0101-2061 Ciência e Tecnologia de Alimentos

Processamento e avaliação da vida-de-prateleira do tucumã


(Astrocaryum aculeatum Meyer) desidratado e pulverizado
Processing and shelf-life evaluation of dehydrated and pulverized tucuman (Astrocaryum aculeatum Meyer)

Lucia Kiyoko Ozaki YUYAMA1*, Roberto Nobuyuki MAEDA2, Lílian PANTOJA1,


Jaime Paiva Lopes AGUIAR1, Helyde Albuquerque MARINHO1

Resumo
O presente estudo teve como objetivo processar frutos de tucumã por desidratação e pulverização e avaliar sua vida-de-prateleira em diferentes
tipos de embalagens e temperaturas de armazenagem. A parte comestível do fruto foi desidratada, triturada e passada em tamisador para
padronização do diâmetro dos grânulos, embalada em três diferentes tipos de embalagens (plástico polietileno, laminado e lata de aço) e
armazenada em diferentes temperaturas (4 e 24 °C). Os frutos in natura e desidratados foram analisados quanto a umidade, pH, acidez,
açúcares totais e redutores, proteínas, lipídios, cinzas, carboidratos, energia, β-caroteno e equivalente de retinol. O tucumã desidratado e
pulverizado foi analisado a cada 30 dias durante 150 dias de armazenagem quanto aos índices de peróxido, de acidez e de iodo e também
quanto aos parâmetros microbiológicos. Os constituintes que se destacaram, tanto no fruto in natura quanto no desidratado e pulverizado,
foram: lipídios, carboidratos e, conseqüentemente, energia e β-caroteno. Em relação à vida-de-prateleira, todos os tratamentos apresentaram
boa estabilidade química e microbiológica durante os 150 dias de armazenamento. Conclui-se que o tucumã desidratado e pulverizado,
independente do tipo de embalagem e temperatura de armazenamento, pode ser estocado e consumido por até 150 dias, além de seu potencial
nutricional como fonte de energia e β-caroteno.
Palavras-chave: arecaceae; frutos da Amazônia; vida-de-prateleira; produtos desidratados.

Abstract
The present study had as objective to process tucuman by dehydration and pulverization and to evaluate its shelf-life in different types of
packaging and storage temperatures. The edible part of the fruit was dehydrated, triturated and passed through a sieve to standardize granule
diameter, then packed in three different types of packaging (polyethylene plastic film, laminated film, and steel can) and stored at different
temperatures (4 and 24 °C). The in natura and dehydrated fruits were analyzed for moisture content, pH, acidity, total and reducing sugars,
proteins, lipids, ash, carbohydrates, energy, β-carotene and retinol equivalent. The dehydrated and pulverized tucuman was analyzed every
30 days during the 150 days of storage for peroxide, acid and iodine values and microbiological parameters. The constituents that stood out
in the in natura fruits as well as in the dehydrated and pulverized fruits were lipids, carbohydrates and, consequently, energy and β-carotene.
Regarding shelf-life, all treatments presented good chemical and microbiological stability during the 150 days of storage. It can be concluded
that dehydrated and pulverized tucuman, independent of the type of packaging and storage temperature, can be stored and consumed for
up to 150 days, allied to the nutritional potential as an energy and β-carotene source.
Keywords: Arecaceae; Amazonian fruits; shelf-life; dehydrated products.

1 Introdução
A Amazônia apresenta inúmeras arecaceaes nativas com como recheio de sanduíches, tapioquinha, cremes e sorvetes.
potencial econômico, tecnológico, nutricional e de sabores e aro- O subaproveitamento do fruto e sua importância econômica,
mas inigualáveis, dentre eles o tucumã (Astrocaryum ­aculeatum estão atrelados à exploração tecnológica da polpa, possibilitando
Meyer). O tucumãzeiro é encontrado em ecossistema de terra assim, aumento da vida-de-prateleira e sua disponibilidade no
firme da Amazônia central e ocidental, em ambientes degra- período da entressafra.
dados e de vegetação secundária (FAO, 1987). O fruto é uma Uma das alternativas viáveis de aproveitamento é a desidra-
drupa globosa ou ovóide, cujo mesocarpo é fibroso e de colora- tação da polpa do fruto, seguida da pulverização. Constitui-se
ção amarelo-alaranjada, contendo alto teor de pró-vitamina A em uma tecnologia relativamente simples, na qual o fruto pode
(AGUIAR et al., 1980; MARINHO; CASTRO, 2002), lipídios ser processado com a utilização de equipamentos acessíveis aos
e energia (AGUIAR, 1996; YUYAMA et al., 2005). A polpa é pequenos produtores rurais. Outras vantagens são: o aumento
apreciada e consumida pela população na forma in natura ou da vida-de-prateleira e o custo reduzido, considerando que um

Recebido para publicação em 8/2/2007


Aceito para publicação em 27/6/2007 (002287)
1
Coordenação de Pesquisa em Ciências da Saúde – CPCS, Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA, Av. André Araújo, 2936, Aleixo, CEP 69060-001,
Manaus - AM, Brasil, E-mail: yuyama@inpa.gov.br
2
Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq
*A quem a correspondência deve ser enviada

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Yuyama et al.

dos fatores que mais onera a produção em uma pequena agroin- As análises microbiológicas foram realizadas conforme
dústria é o armazenamento à baixa temperatura. No entanto, ICMSF (1983). Foram realizadas as contagens de bolores e
um dos agravantes do tucumã, em função da concentração de leveduras/UFC/g e as contagens totais de mesófilos/UFC/g,
lipídios, é a provável oxidação em temperatura ambiente. Neste Salmonella sp./ausência/25 g e o NMP.g–1 de coliformes totais
contexto, o presente estudo teve como objetivos processar a a 35 °C e fecais a 45,5 °C.
polpa do tucumã desidratada e pulverizada e avaliar a sua vida-
A vida-de-prateleira do tucumã desidratado e pulverizado
de-prateleira em diferentes tipos de embalagens e temperaturas
foi avaliada por um período de 150 dias, no qual foram estuda-
de armazenagem.
das duas temperaturas: 24 °C (ambiente) e 4 °C (refrigeração)
e três tipos de embalagens (plástico de polietileno, laminado
2 Material e métodos e lata de aço), a cada 30 dias, com determinações de análises
físico-químicas e microbiológicas em triplicata. O experimento
2.1 Material foi realizado em duas repetições.
Os frutos de tucumã, procedentes do Município de Rio O delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente
Preto da Eva-Amazonas, foram transportados em sacos de casualizado, esquematizado em parcelas subdivididas, e a com-
polietileno até o Laboratório de Alimentos e Nutrição da Co- paração das médias foi realizada por meio de Teste de Tukey a
ordenação de Pesquisa em Ciências da Saúde do INPA, onde 5% de significância.
foram então processados.
Para o processamento dos frutos de tucumã realizaram-se 3 Resultados e discussão
as seguintes operações unitárias: seleção dos frutos, eliminando Os resultados da composição físico-química do mesocarpo
os que apresentavam grau de maturação avançado; lavagem em (polpa) e mesocarpo desidratado e pulverizado do tucumã (base
água corrente e imersão em solução de hipoclorito de sódio a úmida) estão apresentados na Tabela 1. O tucumã caracteriza-
400 ppm por 30 minutos; enxágüe em água corrente potável; se como um fruto não suculento, com baixo teor de açúcares e
branqueamento dos frutos por imersão em água à temperatura pouco ácido. Um dos atributos consideráveis do tucumã é a alta
de 90 °C por três minutos; resfriamento em banho de água concentração de lipídios, refletindo no alto valor energético com
com gelo (choque térmico); drenagem do excesso de água; 362,5 kcal em 100 g da parte comestível in natura e 691,73 kcal
descascamento manual, com auxílio de faca de aço inoxidável; em 100 g de polpa desidratada pulverizada (farinha). Em termos
remoção do mesocarpo; distribuição da polpa em bandejas práticos, considerando que cada fruto de tucumã apresenta em
para desidratação em estufa com circulação de ar forçada à média 20 g de parte comestível, o consumo de cinco unidades
temperatura de 60 °C durante 72 horas; resfriamento em tem- de tucumã ou 52 g de polpa desidratada pulverizada (farinha),
peratura ambiente e moagem em processador doméstico até a já seria o suficiente para fornecer 360 kcal, o que representa
obtenção de um pó que foi tamisado em malha com 1,5 mm de 14,4% da recomendação dietética/diária, baseada em uma dieta
diâmetro (padronização do diâmetro dos grânulos), embalados de 2.500 kcal.
em plástico transparente de polietileno, laminado e lata de aço,
conforme fluxograma apresentado na Figura 1. Além do alto valor energético, o tucumã é reconhecida-
mente fonte de pró-vitamina A. Verificou-se que o teor de
β-caroteno no fruto in natura é em média 10286,38 µg.100 g–1 e
2.2 Métodos na polpa desidratada pulverizada (farinha), 12063,29 µg.100 g–1.
Considerando-se a razão de conversão de 12 µg de β-caroteno
Análises físico-químicas e microbiológicas em 1 µg de retinol (NAP, 2001), 100 g de parte comestível do
Os frutos e a farinha foram caracterizados quanto ao teor tucumã fresco fornece 857,2 µg de retinol, e a polpa desidratada
pulverizada (farinha), 1005,27 µg. Em se tratando de reco-
de umidade, proteínas, lipídios, cinzas e carboidratos, de acor-
mendações, isto significa que 100 g de polpa fresca de tucumã
do com os métodos da AOAC (1998). O valor energético, com
suprem 95,2% das necessidades diárias de um homem adulto,
base nos valores de lipídios, proteínas e carboidratos fornecem
ou que 46,67 g de polpa (aproximadamente três frutos) suprem
9, 4 e 4 kcal.g–1, respectivamente (BRASIL, 2003). Foram de-
100% da necessidade diária de uma criança de 4 a 6 anos.
terminados ainda: o pH em potenciômetro digital Micronal
modelo B474; açúcares redutores e totais, pelo método de Os valores obtidos no presente estudo estão próximos
Somogy-Nelson, descrito por Southgate (1991); β-caroteno em aos citados por Marinho e Castro (2002), que encontraram
espectrofotometria a 450 nm conforme a metodologia preconi- entre 7320,0 e 10190,0 µg.100 g–1 em frutos de tucumã (base
zada por ­Rodriguez et al. (1976). Para o equivalente de retinol úmida). Dentre os diversos frutos, o tucumã constitui-se em
considerou-se a razão de conversão de 12 g de β-caroteno, cor- uma das maiores fontes de β-caroteno, sendo equiparada
respondendo a 1 RAE (Retinol Activity Equivalent) estabelecido ao umari (­Poraqueiba sericea), que apresenta de 7930,0 a
pelo “Institute of Medicine Interconversion of Vitamin A and 15300,0  µg.100  g–1 (MARINHO; CASTRO, 2002) e ao bu-
Carotenoid Units” (NAP/IOM/FNB) (NAP, 2001). O índice de riti (Mauritia flexuosa) que apresenta de 11046 µg.100 g–1
acidez, indicativo da rancidez hidrolítica, o índice de peróxido, (­YUYAMA et al., 1998) a 35800,0 µg.100 g–1. Em relação aos
que indica o grau de oxidação do produto ou a rancidez oxida- frutos de pupunha, também considerados fontes de pró-vita-
tiva e o índice de iodo (Wijs) foram determinados de acordo mina A, avaliados por Pimentel et al. (2003) e por Lima et al.
com a metodologia preconizada pelo IAL (1985). (2005), o tucumã foi 481,7% superior.

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Processamento e avaliação da vida-de-prateleira do tucumã

Frutos Seleção Lavagem Sanitização

Análises Lavagem
físico-química

Branqueamento

Despolpa Casca/Semente

Secagem (65 °C)

Moagem

Embalagem

Armazenamento

Refrigeração (4 °C) Ambiente (24 °C)

Análises físico-químicas e microbiológicas

Figura 1. Fluxograma do processamento da polpa de tucumã desidratado e pulverizado.

Tabela 1. Composição físico-química da polpa (mesocarpo) e polpa Dessa forma, o tucumã firma-se como fonte natural de
desidratada e pulverizada de tucumã, em base úmida. pró-vitamina A, podendo ser uma alternativa, tanto na forma
Componentes Tucumã in natura quanto como ingrediente na forma desidratada em pó
In natura Polpa desidratada (farinha), para o combate ou prevenção de hipovitaminose A.
Umidade (%) 48,46 ± 0,48 1,67 ± 0,06* Além disso, pode contribuir como fonte energética, na preven-
pH 5,89 ± 0,10 5,71 ± 0,01 ção de carências nutricionais como a desnutrição energético-
Acidez (%) 0,32 ± 0,00 0,60 ± 0,01 protéica, que também constitui um problema de saúde pública
Açúcares totais (%) 1,99 ± 0,03 3,79 ± 0,02 no Brasil, especialmente no Norte e Nordeste.
Açúcares redutores (%) 1,27 ± 0,04 2,42 ± 0,01
Os índices de acidez, saponificação, peróxido e iodo do
Proteínas (%) 3,51 ± 0,00 6,70 ± 0,00
tucumã desidratado e pulverizado, estão apresentados na
Lipídios (%) 32,29 ± 0,33 61,60 ± 0,62
Tabela 2. Esses parâmetros são importantes ferramentas para
Cinzas (%) 1,26 ± 0,09 2,40 ± 0,17
determinação da qualidade de óleos, gorduras e produtos ricos
Carboidratos (%) 14,48 ± 0,40 27,63 ± 0,75
em lipídios, uma vez que os índices de acidez e peróxido são
Energia (kcal.100 g–1) 362,57 ± 1,41 691,73 ± 2,80
indicativos de rancidez hidrolítica e oxidativa, respectivamente.
β-caroteno (µg.100 g–1) 10286,38 ± 717,84 12063,29 ± 882,89
Neste estudo, nas condições experimentais avaliadas, não foi de-
Vitamina A (µg.100 g–1) 857,20 ± 59,82 1005,27 ± 73,57
tectada presença de peróxido na polpa desidratada pulverizada
de tucumã (farinha). Em relação ao índice de saponificação, cada
tipo de óleo e gordura apresenta um valor numérico definido
Quando comparado a hortaliças como cenoura (Dalcus que corresponde a sua faixa característica. Qualquer alteração no
carota) e abóbora (Cucurbita sp.), estudado por Godoy e valor deste parâmetro pode indicar misturas com outros óleos,
­Rodriguez-Amaya (1976), o tucumã mostrou-se 339,5% supe- caracterizando fraude. Portanto, o índice de saponificação é um
rior à cenoura cozida, 311,7% à cenoura fresca e 478,0% superior parâmetro do indicativo de qualidade de óleos e gordura. Os
à abóbora cozida. resultados obtidos neste estudo estão próximos dos encontrados

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Yuyama et al.

para óleos de babaçu (245 a 256) e coco (248 a 265) e acima do Os ácidos graxos são oxidados pela ação direta do oxigênio
valor para óleo de palma (190 a 209) (BRASIL, 1999). singlet, formando peróxidos e hidroperóxidos (HARTMAN;
LAGO, 1973). Foote e Denny (1968) e Passoto et al. (1998)
Os índices de iodo e saponificação do tucumã desidratado
atribuem ao β-caroteno a capacidade de reprimir a formação
e pulverizado estão próximos aos encontrados para babaçu
de oxigênio singlet. Lee e Min (1988) e Warner e Frankel (1987)
(10 a 18) e coco (6 a 11) e diferentes do óleo de palma, cujo
reportaram que o β-caroteno apresenta ação supressora dos
valor varia entre 50 e 60 (BRASIL, 1999).
radicais ativos pelo bloqueio do oxigênio singlet, reduzindo o
Na Figura 2 estão apresentados os resultados da variação nível da oxidação. Este fato é importante em termos de con-
do índice de acidez durante o armazenamento. Por meio de servação de produtos naturalmente ricos nestes antioxidantes,
análise de variância (ANOVA) constatou-se que não houve di- uma vez que na maioria dos casos, os produtos agrícolas são
ferença significativa (p < 0,05) entre os tratamentos principais, produzidos e armazenados por produtores agrícolas ou pessoas
ou seja, o tipo de embalagem e o ambiente de armazenamento sem condições financeiras e/ou sem informações técnicas para
não tiveram efeito sobre o índice de acidez. Observou-se ainda, garantir um adequado armazenamento de seus produtos, em
boa estabilidade durante o armazenamento com aumento do especial os oleaginosos. Logo, o tucumã desidratado e pulve-
índice de acidez somente ao final de 150 dias de armazenamento, rizado pode surgir como uma alternativa de conservação para
demonstrando assim, boa estabilidade dos ácidos glicerídeos melhor aproveitamento e utilização deste fruto.
presentes no tucumã desidratado e pulverizado, mesmo em
Em relação ao índice de iodo, a exemplo do índice de acidez,
temperatura ambiente.
não foi verificada diferença entre os tratamentos, e a interação
Em relação aos peróxidos, independente da embalagem e não foi significativa (p < 0,05), ou seja, todos apresentaram o
da temperatura de armazenamento, estes compostos não fo- mesmo comportamento durante o período de armazenamento.
ram detectados durante o período estudado. Tais constatações Apesar dos tratamentos não apresentarem diferença significativa
demonstram resistência às oxidações, mesmo em temperatura entre eles, observou-se que o índice de iodo da polpa desidratada
de 24 °C (temperatura ambiente), o que pode ser comprovado pulverizada (farinha) embalada em plástico e armazenada em
pela ausência de rancidez no produto desidratado e pulverizado temperatura ambiente de 24 °C, apresentou pequena redução
durante todo o período de armazenamento (150 dias). no início do período de armazenamento, demonstrando uma
possível quebra de ligações insaturadas (Figura 3). Entretanto,
esta quebra não foi contínua, o que é importante para a conser-
Tabela 2. Características químicas do óleo da polpa (mesocarpo) de
vação dos lipídios presentes no produto.
tucumã desidratada e pulverizada.
Parâmetros Média As análises microbiológicas demonstraram ausência de
Índice de acidez (%) 20,63 ± 0,38 Salmonella sp. e de <0,3 NMP.g–1 de coliformes totais e fecais em
Índice de peróxido Não detectado todas as amostras, durante o período de 150 dias. Quanto aos
Índice de saponificação (mgKOH/g) 298,39 ± 0,29
Índice de iodo (Wijs) g.100 g–1 10,88 ± 1,40
16

14
30,0
12
25,0
Índice de iodo

10
Índice de acidez (%)

20,0
8
15,0 6

10,0 4

2
5,0
0
0,0 0 30 60 90 120 150
0 30 60 90 120 150 Tempo de armazenamento (dias)
Tempo de armazenamento (dias)
Plástico/Ambiente Plástico/Geladeira
Plástico/Ambiente Plástico/Geladeira Laminado/Ambiente Laminado/Geladeira
Laminado/Ambiente Laminado/Geladeira Lata/Ambiente Lata/Geladeira
Lata/Ambiente Lata/Geladeira

Figura 3. Variação do índice de iodo da polpa de tucumã desidrata-


Figura 2. Variação do índice de acidez da polpa do tucumã desidratada da e pulverizada (farinha) armazenada em diferentes embalagens e
e pulverizada armazenada em diferentes embalagens e temperaturas. temperaturas.

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Processamento e avaliação da vida-de-prateleira do tucumã

bolores e leveduras e bactérias mesófilas totais, os valores máxi- FOOTE, C. S.; DENNY, R W. Chemistry of singlet oxygen quenching by
mos encontrados foram de 2,0 x 102 UFC.g–1 e 1,5 x 102 UFC.g–1, -carotene. Journal of the American Chenical Society, Washington,
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para Alimentos, confirmando as boas práticas de fabricação e
HARTMAN, L.; LAGO, R. C. A. Rapid preparation of fatty acid
as adequadas condições higiênico-sanitárias em todas as etapas methyl esters from lipids. Laboratory Practice., v. 22, n. 6, p. 475-6,
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Os autores agradecem ao INPA/CNPq pela bolsa PCI PASSOTO, J. A.; PENTEADO, M. V. C.; MANCINI-FILHO, J.
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