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Eroico, fl. 197-210; Juízo Crítico sobre a Visão do Indo e Ganges, Rios da Índia, a El-rei D. Manuel,
Representado nos Lusíadas de Camões em o Canto IV, fl. 215-232; Resposta a Manuel de Faria e
Sousa Ett. Defendendo a Luis de Camões de alguns Descuidos, que Lhe Imputamos no Sonho, que
Teve el Rey D. Manuel, Apparecendolhe o Indo, e o Ganges, fls. 233-240; Resposta ao Juízo Critico
do Ldo Mel. Piz’ d’Almeida, fl. 241-262; Resposta ao Intuito do Apologista, fl. 265-339; Replica
Apologetica á Resposta do Licenciado Joam Soares de Brito do Juizo da Visam do Indo, e Ganges,
Escrita com a Penna do Author do mesmo Juizo, fls. 340-383; Defensam do Apenso ao Juizo Critico,
fls. 384-389; Exame do Cap. 3. á Resposta da Censura 4…, fls. 391-537v; Episódio: Sua Natureza, e
Seu Significado, fl. 540-541.
Cod. 1096-C: Comentário d’Os Lusíadas de Luis de Camões (Cantos I-V), fls. 1-572; Canções. Os
Vestidos Elisa Revolvia. Sobolos rios que vão, fl. 573-581v.
Cod. 1096-D: Elegia de Luís de Camões à Morte de Dom Tello, fl. 1v-15v; Comentário às Rimas
Várias de Luís de Camões, fls. 16-118; Fragmento do Comentário ao Sonho de D. Manuel, fl. 120-
121.
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Carlos Cunha
C
CAMINHA, Pero de Andrade (c. 1520-1591). A obra e a imagem do
poeta Pero de Andrade Caminha têm sido frequentemente desvalorizadas
pela historiografia literária desde 1870, data em que o Visconde de
Juromenha publicou uma edição em três volumes das Obras de Luís de
Camões acompanhadas de um ensaio biográfico sobre o poeta. Além de
reunir o maior número de textos atribuídos até então ao autor d’Os
Lusíadas, esta publicação apresentava uma extensa biografia construída
com base na interpretação romanceada de pormenores colhidos nos poemas
que aí lhe eram atribuídos — muitos dos quais, como se sabe, não eram
seus. Nesse trabalho, as críticas a poetas indeterminados que figuram em
composições de autores contemporâneos foram encaradas por Juromenha
como manifestações de má vontade para com Luís Vaz, tal como as
traduções e imitações de Marcial que serviram de ponto de partida aos
epigramas de Pero de Andrade Caminha dedicados «A um Poeta». Com
base tanto nestes elementos quanto na escassez de referências a Camões
presentes em obras dos seus pares, o Visconde postulou a existência de uma
«cabala» de poetas despeitados, apostados em silenciar a glória do génio
camoniano. O facto de se conhecerem numerosas alusões elogiosas de
contemporâneos a Pero de Andrade Caminha levou aquele crítico a
pressupor que teria tido um papel de destaque entre os adversários do épico.
A partir desse momento, a fortuna crítica de Pero de Andrade passou a
estar associada a Camões e o seu papel na biografia camoniana foi sendo
definido por Teófilo Braga em vários trabalhos realizados entre 1873 e
1914. Especulando a partir de elementos lidos nas entrelinhas de poemas de
Caminha e de Camões, Braga concluiu que teria existido um curto período
de amizade entre ambos, terminado devido a diferenças de personalidade,
ao fanatismo religioso de Caminha e ao ciúme que este sentiria perante o
êxito obtido pelo épico junto das damas em geral e de D. Francisca de
Aragão — a quem ambos dedicaram poemas —, em particular. Nos estudos
que sobre Luís Vaz deu à estampa depois de 1871, Teófilo Braga acrescenta
a estas especulações um facto histórico que lhe serviu para a elaboração de
uma verdadeira «lenda negra» em torno da figura de Pero de Andrade. Com
efeito, em 1859, A. P. Lopes de Mendonça publicara nos Annaes da
Academia Real das Ciências um artigo sobre Damião de Góis, no qual
revelava que Pero de Andrade Caminha tinha engrossado o seu processo
com uma denúncia, quando o humanista se encontrava preso pelo Santo
Ofício. Este dado foi lido por Braga como uma prova do mau caráter do
poeta e usado como justificação, não apenas para lhe atribuir todo o tipo de
ações mal intencionadas, mas, também, para desvalorizar os seus versos e
para acrescentar mais alguns textos aos epigramas que Juromenha
considerara potencialmente dirigidos contra Camões.
A partir desta transformação de Pero de Andrade Caminha numa espécie
de personagem romanesca da ficção biográfica associada a Camões, as
referências que lhe foram feitas passaram a ser sobretudo de caráter
biográfico. Sublinhe-se, todavia, que houve estudiosos como Sousa Viterbo,
Carolina Michaëlis de Vasconcelos e Wilhelm Storck que chamaram a
atenção para a forma como a reputação construída para Pero de Andrade
Caminha pelo discurso historiográfico interferira com a leitura dos seus
textos e impusera uma visão redutora da sua obra e da sua atividade poética.
Mas recorde-se, também, que a sedução exercida pelo mito assim criado
extravasou do discurso historiográfico e crítico para o da ficção, perdurando
até épocas recentes, como ilustram, por exemplo, o filme Camões realizado
por Leitão de Barros em 1946, ou a peça de teatro de Natália Correia, Erros
Meus, Má Fortuna, Amor Ardente, de 1980.
Quem foi Pero de Andrade Caminha? A sua trajetória pode ser traçada
com alguma segurança, ainda que desconheçamos dados tão importantes da
sua biografia como a data e o local do seu nascimento. Era filho de João
Caminha, o camareiro do infante D. Duarte, filho de D. Manuel I, morador
da casa do infante depois do casamento deste com D. Isabel, filha de D.
Teodósio, duque de Bragança. Tal como seu pai, Pero de Andrade foi
camareiro, mas do filho primogénito do infante, o senhor D. Duarte, duque
de Guimarães, o qual, além de ter sempre gozado de um estatuto
privilegiado junto de D. João III, sucedeu ao infante D. Luís no cargo de
Condestável do reino, em 1557. Desconhece-se a data do casamento do
poeta, mas sabe-se que foi casado com Pascoala de Gusmão, camareira da
duquesa de Bragança D. Catarina, irmã do seu senhor, um dado que surge
como uma decisão natural na esfera social em que se movia. A proximidade
do poeta com a corte, com os círculos aristocráticos associados à Casa de
Bragança e, ainda, com os meios eborenses afectos à figura do cardeal D.
Henrique, padrinho do seu protetor, marcaram não só a sua vida, mas
também a sua poesia, produzida para esses ambientes e dedicada àqueles
que neles circulavam. Essa proximidade poderá explicar não só o zelo do
poeta em fazer aprovar por escrito as suas poesias para leitura em voz alta
pelo censor frei Bartolomeu Ferreira como as denúncias de Francisco Jorge
e de Damião de Góis à Inquisição em 1570 e em 1571, respetivamente.
Depois da morte do seu mecenas, em 1576, Caminha passou a receber uma
tença de 200 000, legada por ele num testamento em que se lhe refere como
um homem de retidão e honestidade a toda a prova, digno da maior
confiança. A partir de então Pero de Andrade continuará ao serviço da Casa
de Bragança, foi beneficiado pela coroa com uma comenda (S. Bartolomeu
do Rabal) em 1581, e com o Hábito da Ordem de Cristo em 1585, tendo
desempenhado as funções de provedor da Misericórdia de Vila Viçosa, de
1582 até à sua morte, em Setembro de 1589.
Conhecem-se mais de mil poemas da autoria de Pero de Andrade
Caminha, na sua maioria preservados num manuscrito de mais de 600
páginas que pertence à Biblioteca Nacional de Lisboa e é também o mais
extenso autógrafo de poesia quinhentista conhecido até hoje.
Contemporânea deste códice é uma antologia de poemas dedicada a D.
Francisca de Aragão que se encontra na Bristish Library, elaborada sob
supervisão do autor por volta de 1576, possivelmente por ocasião do
casamento desta dama com D. João de Borja. A maior parte dos textos de
Caminha estão em português, ainda que se conheçam cerca de uma centena
de poesias suas em castelhano. O exame destas composições permite
concluir que Pero de Andrade Caminha recorreu a esta língua no caso de
poemas destinados ao canto e à dança, como cantigas e vilancetes, endechas
e oitavas, poemas à Pavana e à Galharda, e que associava esta língua a
estruturas estróficas específicas, isto é, às formas em medida velha herdadas
da tradição da poesia dos cancioneiros ibéricos, comum a Portugal e a
Castela.
Do ponto de vista das suas escolhas temáticas e formais, Pero de Andrade
adota uma atitude de conciliação entre estruturas e pontos de vista herdados
da tradição poética peninsular e as sugestões colhidas em modelos antigos e
italianos então em voga. Exemplo dessa tentativa de integração é o emprego
do verso de redondilha em alguns poemas de subgéneros de inspiração
clássica como a elegia, a epístola e o epigrama. No entanto, Caminha
interessou-se também por subgéneros que muitos autores da sua geração
relegaram para segundo plano, ou nem sequer praticaram, como o epitáfio,
o epigrama e o epitalâmio. Apesar da diversidade de modelos selecionados
por Pero de Andrade Caminha para a composição dos numerosos
subgéneros líricos que integram a sua poesia, pode afirmar-se que o modelo
que mais imita é Francisco Petrarca, cujas obras em vulgar lhe servem de
inspiração para elaborar as suas canções, as suas sextinas — subgénero a
que dedica uma atenção muito superior à que lhe foi votada por qualquer
outro autor da sua geração —, e as suas ballate, forma de que parece ter
sido o único cultor em língua portuguesa. Ainda assim, a lição de Petrarca
convive, nos seus sonetos, com o exemplo de Garcilaso de la Vega e de
Boscán, a quem também imita.
Pero de Andrade adapta à sua visão cristã do mundo as fontes italianas,
peninsulares, clássicas e bíblicas a que recorre. Na sua poesia, assistimos ao
desenvolvimento de uma reflexão sobre a virtude que toca todos os grandes
temas morais em voga na sua época (como o contraste entre a vida solitária
e a vida em sociedade, a discussão acerca da utilidade da vida monástica, a
necessidade de viver preparado para a morte, a crítica da cobiça, a crítica da
corte, a insistência na conduta virtuosa dos príncipes, etc.), procurando
alargar o seu alcance por meio de uma postura filosófica pessoal. Do seu
ponto de vista, por exemplo, o conceito de conduta virtuosa abrangeria
realidades que se afastam das opções existenciais preconizadas por muitos
filósofos humanistas, como a vida monástica, a vida dedicada à governação
ou a carreira das armas. Uma parte considerável da obra poética deste autor
é dedicada ao amor, mas este sentimento é caracterizado como uma espécie
de ascese, de purificação espiritual através da dor, que se desenvolve por
meio do questionamento constante da identidade e da integridade do sujeito.
Na poesia de Pero de Andrade, o amor é um desejo de beleza e de virtude
que não necessita de suporte físico imediato para nascer, uma vez que a
beleza é vista, sobretudo, como um atributo espiritual: para amar basta
conhecer a fama das virtudes do objeto amado. A partir do enamoramento,
o que os textos descrevem é uma série de momentos traumáticos em que o
amador é confrontado com sentimentos que o excedem, o perturbam, o
dividem, quase o destroem, mas que simultaneamente permitem que ele se
apure espiritualmente pela abnegação, constância e capacidade de
aceitação. É neste sentido que é possível afirmar que, do ponto de vista
temático, a obra poética de Caminha estabelece uma relação de
continuidade com a poesia dos cancioneiros peninsulares do século anterior
e que os numerosos versos imitados e traduzidos de Petrarca lhe servem,
com frequência, para exprimir pontos de vista que se afastam dos deste
modelo. De facto, ao contrário do que sucede quer na poesia do cantor de
Laura, quer na de Luís de Camões, em Andrade Caminha não encontramos
a descrição da angústia provocada pelo conflito existente entre desejo físico
e desejo espiritual, amor humano e amor divino, que está na base da
conceção petrarquista do sentimento amoroso; o amador assim descrito não
aspira à relação amorosa recíproca, não encara a paixão como um erro a
expiar, não opera qualquer dissociação entre o amor e a via que permite
aceder à virtude. Esta caracterização torna-se mais clara quando comparada
com a visão do amor conjugal que Pero de Andrade Caminha exprime nos
poemas dedicados ao matrimónio. Este estado é apresentado como um
prémio concedido raramente por Deus para distinguir o merecimento de
alguns amadores particularmente abnegados, constantes e capazes, não só
de aceitar o sofrimento causado pela paixão mas, também, de conciliar o
desejo sensual com a Razão.
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Albano Figueiredo
CANCIONEIRO HISPANO-PORTUGUÊS DA HISPANIC SOCIETY
OF AMERICA. Este cancioneiro manuscrito foi anteriormente conhecido
pela designação de «Cancioneiro hispano-português da Academia das
Ciências de Lisboa», instituição a cuja biblioteca pertenceu até ter
desaparecido, provavelmente devido a furto, na penúltima década do século
XIX. Após ter estado na posse de um alfarrabista de Lisboa, foi adquirido
pelo grande bibliógrafo espanhol marquês de Jerez de los Caballeros, cuja
biblioteca foi comprada, em 1902, por Archer M. Huntington e depois
incorporada na Hispanic Library of the Hispanic Society de Nova Iorque.
Trata-se de uma miscelânea poética que deve ter sido organizada até à
segunda década do século XVII — contém já um soneto do poeta barroco D.
Tomás de Noronha — e que colige composições de autores portugueses e
espanhóis do século XVI e dos princípios do século XVII. O cancioneiro, ao
qual faltam diversos fólios no princípio e no fim, foi encadernado
juntamente com o romance de cavalaria La Historia de Rosián de Castilla,
da autoria de Joaquín Romero de Cepeda, impresso em Lisboa, em 1586. O
manuscrito foi editado em 1974, com um estudo introdutório e anotações de
grande valia, por Arthur Lee-Francis Askins.
Como é habitual nas miscelâneas poéticas dos séculos XVI e XVII, a maior
parte dos poemas transladados no manuscrito figura anónima, sendo
singularmente escassas as atribuições de autoria: o poema n.º 2, segundo a
numeração de Askins, está atribuído ao «Frade da Rainha» (Jorge
Fernandes, conhecido como frei Paulo da Cruz); o poema n.º 43 está
atribuído a Loio de Sá (Elói de Sá de Sotomaior); o poema n.º 44 é dado
como pertencente a um desconhecido Valentim da Silva; o poema n.º 52 é
uma glosa de Francisco de Figueroa ao célebre soneto de Hernando de
Acuña, En una selva al parecer del dia; o poema n.º 57 é uma écloga
atribuída a Pedro Laynez; finalmente, o poema n.º 65, o soneto Quando de
vossa vista me apartava, está atribuído a Martim de Castro.
Como se conclui, o cancioneiro não atribui nenhum poema a Camões,
mas veio a tornar-se, através de Teófilo Braga, um dos elos importantes da
expansão desregrada do corpus da lírica camoniana. Com efeito, Teófilo
Braga foi um dos editores mais empenhados e academicamente mais
autorizados no processo diastólico das Rimas de Camões, sobretudo na sua
edição do Parnaso de Luiz de Camões, na qual atribui ao poeta um avultado
número de composições extraídas do cancioneiro da Academia das Ciências
de Lisboa: vinte e quatro sonetos, sete motes e respetivas glosas, uma longa
«Fabula de Narcizo» (Belissima Isabel cuya hermosura), três composições
em oitavas, a célebre canção Glória tão merecida de Manuel Soares de
Albergaria, a glosa a um soneto atribuído a Francisco de Figueroa, uma
décima, uma carta em quintilhas e três redondilhas. Todo este conjunto de
composições poéticas é apócrifo, como em relação a grande número delas
esclareceu Carolina Michaëlis de Vasconcelos.
BIBL.: ASKINS, Arthur Lee-Francis (ed.), The Hispano-Portuguese «Cancioneiro» of the Hispanic
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Estudos Camonianos, Lisboa, Edição da revista Ocidente, 1972.
É fácil concluir que o f.º 139 estava já preenchido (com sonetos), e o f.º
67 estava em branco. É fácil também admitir que, depois de reunidos os
cadernos, espaços em branco foram preenchidos com novas peças. Essas
ocorrências reforçam a certeza de o Cancioneiro ser autêntico e não uma
cópia. Para a reunião em um só volume, os «cadernos» foram numerados na
primeira folha, no canto inferior direito. A sequenciação não é, portanto,
aleatória. São 12 cadernos, os últimos incompletos por perda de fólios. No
fac-símile só se vê, no f.° 139, o n.º 6, no canto inferior direito. Os outros
foram apagados, provavelmente no propósito bem-intencionado de as
bordas limpas proporcionarem melhor aspecto ao leitor. Dos outros
cadernos, apenas a primeira folha e a última parecem mais escuras no fac-
símile (talvez pela maior exposição à luz e ao ar), o que nos levou à
suspeita, depois confirmada, da maneira como foi sendo colecionado tal
acervo. É importante notar que surpreender o modus operandi do
colecionador mostra com certeza que os fólios não foram preenchidos
paulatinamente ao longo da feitura da obra. A transcrição consecutiva, pari
passu com a foliação, não cabe aqui. A melhor hipótese é a dos cadernos
soltos, reunidos depois. O agora volumoso códice continuou a receber
poemas nos espaços entre as peças já escritas. Portanto, fica difícil avaliar a
época em que teria alguma peça entrado no Cancioneiro. Mas certamente
entre 1557 e 1589. A notícia dos outros números nas páginas iniciais, que
listamos aqui para facilitar a quem consultar o fac-símile, confirmou essas
suspeitas. Devemos ao Professor Eduardo Borges Nunes a listagem e a
numeração abaixo (o número de fólios dos cadernos é irregular):
Caderno 1 — fólios 1 a 50
Caderno 2 — fólios 51 a 66
Caderno 3 — fólios 67 a 90
Caderno 4 — fólios 91 a 120
Caderno 5 — fólios 121 a 138
Caderno 6 — fólios 139 a 156
Caderno 7 — fólios 157 a 202
Caderno 8 — fólios 203 a 216
Caderno 9* — fólios 217 a 240
Caderno 10* — fólios 241 a 266
Caderno 11 — fólios 267 a 282
Caderno 12* — fólios 283(?) a 297 (?)
* não numerado
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Al margen de un libro de Hernâni Cidade», in Estudios Portugueses, Paris, Fundação Calouste
Gulbenkian/Centro Cultural Português, 1974, pp. 455-493; CATROGA, Fernando e VELOSO, Aurélio,
«António Sérgio: Cartas do Exílio a Joaquim de Carvalho (1927-1933)», Revista de História das
Ideias [António Sérgio], 5, t. II, 1983, pp. 951-1016; LOPES, Óscar, «Sobre o teatro camoniano», in
Ler e Depois. Crítica e Interpretação Literária/1, Porto, Editorial Inova, 1969, pp. 118-127;
NEMÉSIO, Vitorino, «Perfil de Hernâni Cidade», in Miscelânea de Estudos em Honra do Prof.
Hernâni Cidade, Lisboa, Publicações da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1957, pp.
IX-XIX; SILVA, Vítor Manuel Aguiar e, Camões: Labirintos e Fascínios, Lisboa, Cotovia, 1994; id., As
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Coimbra, Almedina, 2010.
Isabel Almeida
BIBL.: ANSELMO, Artur, Camões e a Censura Literária Inquisitorial, Braga, Barbosa e Xavier,
1983; VITERBO, Sousa, Frei Bartolomeu Ferreira, o Primeiro Censor d’Os «Lusíadas». Lisboa,
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Artur Anselmo
BIBL.: AA VV, José do Canto no Centenário da Sua Morte, Ponta Delgada, Instituto Cultural de
Ponta Delgada, 2000; CANTO, José do, Collecção Camoneana de José do Canto. Tentativa de Um
Catalogo Methodico e Remissivo, Lisboa, Imprensa Nacional, 1895 (em 1972, a Comissão Nacional
do IV Centenário da Publicação de Os Lusíadas promoveu a sua reedição fac-similada e prefaciada
por Hernâni Cidade, Lisboa, IN-CM) e Centenário de Camões. Catalogo Resumido d’uma Colecção
Camoneana Exposta na Biblioteca Pública de Ponta Delgada, São Miguel, Typ. do Archivo dos
Açores, 1880 (catálogo da exposição de 1880; as espécies nele descritas integram a coleção); «A
livraria José do Canto. Parecer da Comissão nomeada pela Ex.ma Junta Geral do Distrito autónomo
de Ponta Delgada» (datado de 1945, fundamentou a aquisição e a integração da livraria na Biblioteca
Pública), in Insulana, II, º1 (1946), pp. 45-87; AA VV, José do Canto no Centenário da Sua Morte,
Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada, 2000.
Note-se ainda que a livraria José do Canto foi já alvo de catalogação informatizada, estando os
dados disponíveis na página Web da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.
BIBL.: BRAGA, Teófilo, História de Camões, Porto, 1873; id., Bibliographia Camoniana, Lisboa,
1880; id., Os centenários como synthese affectiva nas sociedades modernas, Porto, 1884; id.,
Camões e o Sentimento Nacional, Porto, 1891; id., As Modernas Ideias na Literatura Portuguesa,
Porto, 1892, 2 vols.; id., Camões. A Obra Lyrica e Épica, Porto, 1911; id., Recapitulação da História
da Literatura Portuguesa — II Renascença, Porto, 1914; MARTINS, J. P. de Oliveira, Camões, Os
Lusiadas e a Renascença em Portugal, Porto, 1891; QUENTAL, Antero de, Considerações sobre a
Philosophia da Historia Litteraria Portugueza, Porto-Braga, 1872; id., Prosas II, Coimbra, 1926.
Carlos Cunha
CONCEÇÃO DO PODER POLÍTICO EM CAMÕES (A). Camões
não escreveu qualquer tratado sobre o poder, contrariamente ao que, por
exemplo, fez Dante. No decurso da obra do Lusíada Maior, todavia,
encontramos numerosos passos que permitem, conjugados, reconstituir a
arquitetura do seu pensamento político e em mais de um aspeto.
Poligonalmente. A leitura da épica e da lírica camoniana viabiliza, até, a
inserção do autor nas correntes ideológicas que vinham de trás e o seu
confronto com os grandes tratadistas do Renascimento, portanto da época
histórica que foi a sua. Ou seja: possibilita estabelecer, por um lado, as
linhas de continuidade e, por outro, a eventual modernidade de Camões. De
facto, os grandes temas do que se convencionou desde o século XIX
denominar como Elementos do Estado e Teoria Geral do Estado, bem como
os novos problemas da sociedade internacional, estão derramados quer n’Os
Lusíadas quer, mesmo, na lírica. E não deixa de ser também
descodificadora a comparação com os grandes nomes doutrinais da política
— Maquiavel, Erasmo, Bodin, ...
Será, todavia, legítimo falar de Estado num sentido moderno por
referência a Camões? A verdade é que o termo figura na sua obra não
apenas nas aceções antigas de condição, situação, domínio de alguém (uma
pessoa ou um princeps), mas também no sentido de uma comunidade
territorial dotada de governo próprio. Isto é, abrangendo as ideias de
território, população e poder que formam a base do moderno significado do
Estado.
Os termos território e população, é certo, não figuram em Camões. Mas a
ideia que exprimem no quadro da realidade moderna que é o Estado
plasma-a noutros vocábulos, aliás, de conteúdo polissémico. Assim, por
exemplo, na palavra terra, usada para lá de um significado concreto e
individual, para dar corpo a uma expressão coletiva [«Huns leva a defensam
da propria terra» (Os Lusíadas, IV.30)], ou no termo reino que se assume
como espaço físico (III.20, por exemplo), mas exprime, igualmente, a ideia
de comunidade de origem e de sangue, de geração, de etnia.
Algo de parecido, ao que sucede com o termo território se passa em
Camões com o termo população que é substituído perceptivamente pelo
substantivo gente (ver, por exemplo, I.10; I.30; I.33; I.90; II.15; III.3;
IV.14). Substantivo que não traduz tão-só um conceito numérico,
quantitativo e inorgânico, mas encerra algo de sentimental, por referência a
uma gens, a um fator étnico que forma, também, a base da nação. Não é por
acaso que esta palavra anda unida e sugere as ideias de sangue, terra, pátria
— a nação minha (Os Lusíadas, X.9), que se reclama não só do Luso
(Écloga I, Que grande variedade vão fazendo, Rhythmas, f.º. 72v.; Écloga
VI, A Rustica contenda desusada, id., f.º 115 v.; Os Lusíadas, X, 27), isto é,
dos Lusitanos, mas de uma linhagem romana, detetável na língua: «E na
lingoa, na qual, quando imagina, / Com pouca corrupção cree que he a
Latina» (Os Lusíadas, I.33).
Dos «elementos do Estado» no pensamento camoniano falta, por último,
determo-nos no governo.
Também este se acha diversamente referido: «governança», «governo»,
«império», «mando», «poder», «potência», «potestade», «regimento»,
«senhorio». De qualquer forma, contudo, implica a destrinça entre
governantes (rei, senhor) e governados (vassalos, gente), que ora se
contrapõem ora se articulam harmonicamente, como decorre do que,
aplicando a moderna terminologia, poderíamos chamar a Teoria camoniana
do Estado.
Para Camões, no trilho do ensinamento cristão, a origem de poder está em
Deus (Non est potestas nisi a Deo tal o ensinamento de S. Paulo na Epístola
aos Romanos), mas Deus atua por «[…] segundas / Causas […]» (Os
Lusíadas, X.85). E, no caso vertente do poder, a causa próxima é o povo,
que levanta o rei (consoante a tradição germânica) — ver Os Lusíadas,
III.46; III.86; IV.18. Por isso, o povo pode destituir ou inibir o monarca que
não cumpre o seu dever, como sucedeu com Sancho II, e entregar o mando
a outrem (III, 92 e 93). Populus maior principe. O rei tem o poder in actu,
mas o povo conserva-o in habitu e pode recuperá-lo. É esta uma ideia
antiga em Portugal e que logrará aqui a máxima expressão e intensidade
com a crise sucessória de 1580 e com a Restauração, como forma de
legitimar a nossa independência.
Se a postura camoniana em sede da origem do poder corresponde a uma
visão tradicional, não o é menos a maneira como encara o problema da
forma do poder. Ele menciona ao longo da sua obra — seja a Épica, a Lírica
ou o Teatro — apenas duas formas de governo. A Monarquia e a Tirania.
Da dupla classificação aristotélica apenas se reporta, consequentemente, a
uma das três formas sãs e à sua correspondente degenerada. O governo de
um só enquanto dirigido para o bem comum e o oposto, isto é, o governo de
um para seu próprio interesse. Obviamente, a sua adesão vai para a
primeira. O que o insere na conceção mais amplamente generalizada ao
tempo e a única que praticamente recebeu acolhimento no Portugal de
então.
A Monarquia obtém o sufrágio camoniano, mas isso não significa o
desconhecimento de que ela pode ser hereditária ou eletiva. A transmissão
por sucessão constitui a regra, mas a eleição pode-se verificar em casos
especiais, o que resulta inequívoco a propósito de D. João I. O poeta não
desconhecia, de resto, que noutros espaços políticos o poder se devolvia,
normalmente, por eleição e não por herança (ver, por exemplo, Os
Lusíadas, X.130, a propósito dos chineses).
Se a forma monárquica hereditária configura a norma, Camões entende,
porém, que o monarca tem necessidade de conselho. Só que este por
natureza não obriga. A decisão pertence ao príncipe. É ele que em
definitivo preceptua e não se deve deixar conduzir pelos privados sob pena
de ser um rex inutilis (caso de D. Sancho II, como se vê em Os Lusíadas,
III.91). O poder, uno e indivísivel, não pode ser fragmentado.
Camões ostenta, assim, um enfoque que, de certo modo, se aproxima da
ideia de soberania — «la puissance absolue et perpetuelle» — que pouco
depois Jean Bodin formulou (lembre-se que Les Six livres de la République
datam de 1576 e Os Lusíadas foram impressos em 1572). Se não fala em
soberania, concebe o poder régio como majestas, numa remissão para o
conceito antigo que está, por igual, na base da construção teórica de Bodin,
e acode à ideia de império, de poder máximo. De resto, aplica o adjetivo
soberano ao poder. O poeta não conheceu a obra de Bodin — disse-se e
repete-se. A contiguidade ideológica entre os dois, portanto, só pode se
explicada por uma idêntica filiação doutrinal. Concretamente, por ambos
haverem sofrido a influência de Duns Scoto e da distinção entre potentia
absoluta e potentia ordinata que o Doutor Subtil colheu de S. Tomás e
projetou da Teologia no Direito e no Estado. Camões não inventou, pois, a
soberania, mas y touche. Sendo um poeta de grande lastro medieval,
mostrou-se sensível à realidade do tempo.
Atenção, porém. Este poder supremo não pode conduzir à tirania, termo
que o Poeta utilizou, sem, todavia, pertencer ao seu ideário. Contra a tirania
perfilam-se a natureza e o fim do poder tal como os configura.
A natureza do poder liga-se à noção de ofício. O governante tem um
ofício, desempenha uma função, um ministério. Era isso um tópico batido e
recorrente da literatura política medieval e que em Portugal, quer antes quer
depois do Renascimento, ou seja, durante séculos, formou um verdadeiro
lugar-comum. O poeta acentua essa ideia com força particular. De D.
Manuel I afirma que revolvia de «contino no conceito / De seu officio, e
sangue a obrigação» (Os Lusíadas, IV.68) e Vasco da Gama diz ao Samorim
que este tem «de Rei o officio», porque é a cabeça que rege os membros da
comunidade política (II.84). Por esta via, chega à noção de bem comum ou
bem público em que se cifra o ministério do rei. A cabeça dirige o corpo no
interesse geral do organismo e não no interesse próprio de cada uma das
partes em que se desdobra. Assim, repudia todo o interesse particular
egoístico (VII.84) em favor de uma noção altruística, recorrendo, a
propósito, ao exemplo de D. Duarte, que não entregou Ceuta contra o seu
interesse pessoal — pois «Mais o pubrico bem que o seu respeita» — e a
exemplos da Antiguidade (Os Lusíadas, IV.52 e 53). Codro, Curcio, os
Décios, ... são congregados para tanto.
Porque o rei desempenha um ofício em nome da comunidade e para
serviço da comunidade ele não é dono do reino, pelo que descarta com isso
todas as teorias patrimoniais do poder, que documenta, por exemplo,
através do recurso aos casos de D. Teresa e de Leonor Teles (Os Lusíadas,
III.29; IV.6).
Em suma: «Regnum non est propter regem sed rex propter regnum.»
Quanto ao fim do poder, Camões não hesita. É a Justiça. Ainda aqui a sua
conceção apresenta um grande lastro tradicional. Independentemente de
alguma flutuação sobre o conteúdo da Justiça em concreto, tal foi a posição
que os repúblicos medievais abraçaram e que se projectou entre nós no
Renascimento. As Ordenações, as obras dos nossos tratadistas — de frei
António de Beja, de Diogo Lopes Rebelo, de D. Sancho de Noronha, de
Lourenço de Cáceres, de frei Heitor Pinto, de Jerónimo Osório, ... —
fornecem prova e comprova.
Camões, proclamando Deus como a «Summa Justiça» que está na origem
do poder (Os Lusíadas, II.79), censura os reis «[...] cuja vontade / Manda
mais que a justiça e que a verdade» (X.23), bem como todos os que
praticam a tirania aparentando a justiça (IX.28); lança o anátema contra a
cobiça e ambição contrárias a Deus e à Justiça (XI. 58); vê na Justiça real, e
defesa a segurança das gentes (II.59). Pela Justiça, aliás, se estabelece o
liame entre o poder e a ordem jurídica, o Direito — «a divina e humana
ley». A lei, porque é elemento de atuação da Justiça, há de ser igual,
constante, suave, e não em favor do rei mas do povo (X.58; X. 94; VII.84).
A semelhante quadro subjaz necessariamente uma conceção ética do
poder e da atuação do respetivo titular. Já mais de um autor notou, de resto,
a feição moralista de Camões. Afrânio Peixoto observou que da obra do
poeta se pode extrair «um compêndio de civismo, de moral política e de
virtude pública e privada», enquanto José Filgueira Valverde recorda que no
Épico existe um moralista, presente no «final da maioria dos cantos (V, VI,
VII, VIII, X) para doutrinar, para criticar, para persuadir».
A noção camoniana de poder apresenta-se, assim, incompatível com uma
doutrina utilitarista e amoral como a de Maquiavel. Ao invés, e haja sofrido
ou não influência direta ou difusa e indireta de Erasmo, ele tem pontos de
coincidência com as ideias políticas ou com a opinião política do
humanista de Roterdão na sua Institutio Principis Christiani. Ambos, e
além da diversidade de pontos de vista em termos de irenismo ou não
irenismo, isto é, a respeito da paz e da guerra, entendem que o titular do
poder deve ser um compêndio de virtudes. Neste sentido, partilham as
velhas conceções dos manuais ad usum delphini e dos specula regis. O rei
deve ser melhor que todos (Os Lusíadas, III.93), de «peito [...] firme e
sereno», valente, gentil, esforçado, generoso, prudente (III.79), forte e
animoso (IV.59); em síntese, virtuoso, porque a «virtude louvada, vive e
cresce / E o louvor altos casos persuade» (IV.81). O catálogo de predicados
podia continuar — liberalidade, sinceridade, magnificência, piedade,
benignidade, bondade, humanidade, ... (II.71; III.96; III.40; II.82; II.71).
Assentes os pilares da conceção camoniana daquilo que chamámos
Estado, há que não esquecer, todavia, num panorama ideológico de
Camões, o modo como problematizou a sociedade internacional.
Neste ponto, a sua construção perde algo do lastro medieval, para ganhar
em modernidade. Assim, e desde logo, afasta dois grandes poderes
organizativos temporais — o Papado e o Império. No prolongamento de
uma linha teorética e, de facto, que entre nós recua aos primórdios da
nacionalidade e se afirma, vez atrás de vez, ao longo da Idade Média e do
Renascimento, a jurisdictio imperii não recebe o sufrágio camoniano. E se
reconhece, é certo, o Sumo Pontífice como o sucessor de Pedro e porteiro
divino, ao contrário do que pretendeu Pedro Calmon na sua obra clássica
sobre O Estado e o Direito n’Os Lusíadas, isso exprime, tão-só, mera
supremacia espiritual e não, simultaneamente, um primado temporal.
Fica, assim, descartada a ideia de uma respublica christiana, na aceção de
um grémio de nações ordenadas e hierarquizadas por referência a um
dirigente temporal e para-universal. A respublica christiana, neste sentido,
é substituída pela cristandade — «a sancta Christandade» (Os Lusíadas,
VII.3) — mera comunidade de credo religioso. A cristandade constitui,
portanto, uma construção religiosa mais do que política.
A cristandade configura, deste modo, um grande espaço não formal — e
outros espaços não formais têm expressão no pensamento camoniano, tal
sendo o caso da Hispânia e da Europa, o primeiro baseado na contiguidade
e na empatia, mas sem deixar de pressupor alteridade e distinção, e o
segundo, de um cariz cultural, coincidente com a geografia. O espaço
cristandade, esse, por seu turno, é reflexo do eu divino e está na base da
comitas gentium. Do cristianismo e da ordem divina de que ele decorre
provêm, de facto, substancialmente as regras disciplinadoras das relações
entre as nações. Debalde se perscrutará em Camões a afirmação da
existência de uma lei natural, de um direito natural, regedor do convívio
entre os povos.
Ressalvado este e alguns outros pontos, é lícito, todavia, seguindo Pedro
Calmon, assentar como grandes princípios camonianos concernentes às
regras a observar entre povos e nações: intangibilidade da independência
nacional, garantida pela justiça como condição de toda a guerra (Os
Lusíadas, IV.44); humanidade nas relações entre os povos, abarcando o
direito de asilo e o «gassalhado seguro» (Os Lusíadas, II.43 e II.74);
aplicabilidade dos regimentos locais nas armadas, não se lhes sobrepondo a
lei local (Os Lusíadas, II.84-87); tratamento das nações em pé de igualdade
(Os Lusíadas, VII.13 e I.48 — aliás 68); direito de comerciar (Os Lusíadas,
VIII.92 e X.10); Justiça como lei divina entre os povos, independentemente
do credo religioso (Os Lusíadas, IV.44); o ideal de paz recíproca entre os
povos cristãos. E também a existência do que o saudoso professor brasileiro
designou por estilos de entendimento, isto é, a diplomacia como forma
normal e pacífica de relacionamento e de prevenção ou resolução de
conflitos (ver Os Lusíadas, II.77-78; II.58), bem como o sancionamento,
através de represálias, da rutura ilícita das negociações (IX.9 e 12-13).
Dois temas merecem, de entre os assinalados, referência muito particular.
Por um lado, a proibição genérica da guerra, que garantia a
inviolabilidade territorial e a liberdade dos povos. Apenas era admitida a
guerra justa, excecional segundo o entendimento cristão, já que se exigiam
circunstâncias específicas, e na qual se incluía a guerra defensiva. O direito
da guerra (se há um direito bélico) ficava pois circunscrito. Sem chegar ao
pacifismo erasmiano, Camões não era um belicista. Ao invés.
Por outro lado, importa relevar o princípio camoniano da igualdade das
nações, que tem no episódio do rei de Melinde clara afirmação. O Gama
recebe o monarca «coa cortesia, que a razão / (Por ser Rei) requeria» (Os
Lusíadas, II.101). Não por acaso, o estatuto político dos governantes
orientais, como o Samorim, vem definido n’Os Lusíadas, em palavras
colocadas na boca de Vasco da Gama, pelo recurso e aplicação dos
conceitos ou categorias romanas do principatus e da majestas que definem
o rex superiorem non recognoscente (Os Lusíadas, VII.60). O poeta
avizinha-se de novo de um pensamento bodiniano.
A sociedade internacional para Luís de Camões não se encontra —
sublinhe-se — estruturada organicamente do prisma político. Compreende
antes um conjunto de nações ou de poderes temporais (cristãos ou não) de
idêntica dignidade que, a despeito de se poderem agrupar em grandes
espaços não formais — a Cristandade, a Hispânia, a Europa — de índole
diversa e, por vezes, compósita (geográfica, religiosa, étnica, cultural), são
independentes e cujas relações são disciplinadas por um conjunto de
princípios decorrentes da lei divina e, por isso, descortináveis, a partir dela,
como evidência ou consequência. É esse conjunto de princípios que
assegura a igualdade das nações; que legitima o poder dos governantes,
pertençam ou não ao grémio de Cristo; que postula, como regra, as relações
pacíficas e, por isso, a integridade de cada nação; que preceitua a segurança
das pessoas e a liberdade de evangelização e comércio (quanto ao comércio
como não anotar, aliás, a proximidade com Francisco Vitória?). A violação
desses princípios gera sanções que podem ir da simples represália à própria
guerra ofensiva, em casos extremos.
A rejeição da iurisdictio imperii, a afirmação da igualdade dos poderes
temporais, a defesa dos meios pacíficos de negociação como modo normal
de regular os interesses em presença, a liberdade de comércio, tudo inculca
a modernidade do pensamento camoniano acerca da sociedade
internacional, embora grande parte disso se derive de uma conceção
religiosa e tenha íntima conexão com a cristandade como facto residual da
respublica christiana e com o caráter da guerra justa afirmado pelos
teólogos medievais. Aqui, como noutros aspetos, novidade e tradição,
simbiose do passado e do presente epocal, contribuem para a harmonia das
soluções.
BIBL.: Utilizaram-se para as obras de Camões a edição d’Os Lusíadas de 1572 e das Rimas as
edições de 1598 (Rhythmas), de Juromenha, de Costa Pimpão e de Leodegário A. de Azevedo Filho.
Relativamente às ideias políticas de Camões existe abundante e desigual literatura, quer abrangente
quer sobre pontos mais ou menos específicos, que se torna inviável aduzir aqui, mas de que
destacamos:
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Casa da Moeda, 1988; CALMON, Pedro, O Estado e o Direito n’Os Lusíadas, Lisboa-Rio de Janeiro,
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«Boletim da Academia Internacional de Cultura Portuguesa», 1972; OLIVEIRA, Águedo de, A Ciência
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PRIETO, Maria Helena de Teves Costa Ureña, «O ‘ofício de rei’ n’Os Lusíadas segundo a concepção
clássica», IV Reunião Internacional de Camonistas, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1984;
REBELO, Luís de Sousa, «Camões e o sentido de Comunidade», Camões e o Pensamento Filosófico
do Seu Tempo (obra composta por estudos de Egídio Namorado, Luís de Sousa Rebelo, Roger M.
Walker e João Mendes), Lisboa, Prelo, 1979; RIBEIRO, José Silvestre, Estudo Moral e Político sobre
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Condições do Poder Político nos Lusíadas, Lisboa, sep. da Brotéria, 1972; id., Os Lusíadas e o
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Martim de Albuquerque
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Rouse, Cambridge, MA, London, Harvard University Press, Loeb Classical Library, 1969; SIMS,
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Vol. 24, n.º 4, pp. 338-356; SOUSA, Manuel de Faria e, Lvsiadas Comentadas, Lisboa, IN-CM, 1639-
1972; SKULSKY, Susan, «Inuitus regina: Aeneas and the Love of Rome», The American Journal of
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Eduardi Lupi Lusitani Civis Olisiponensis, In Metropolitana eiusdem vrbis Ecclesia beneficiarii &
Musices praefecti Opuscula […]. Nunc primùm in lucem edita. Superius. Antuerpiae, ex Officina
Plantiniana, Apud Ioannem Moretum, 1602.
Historia Do Bemaventurado Sam Ioão de Sahagum, Patrão Salamantino, Primeyra Parte. E as
Historias Da Invenção & maravilhas do Sancto Crucifixo de Burgos, E da Paxão da Imagem de
Christo N. R. feyta pelo Sancto Varão Nicodemus. Em as quaes entrão outras muytas, tambem Pias,
& admiraveis. Auctor Pedro de Mariz, Sacerdote Coimbricense. Dedicadas a sua Excellencia Dom
Francisco de Sandoval & Rojas, Duque de Lerma & Sea, &c. Em Lisboa per Antonio Alvarez. Com
as Licenças & Approvações necessarias. Anno do Senhor 1609.
Tomus Primus Enarrationum in Priores Tres Libros Aphorismorum Hippochratis, cũ Paraphrasi in
Cõmentaria Galeni. Auctore Doctore Ambrosio Nunnio Militiae Iesu Christi Equite Aurato,
Catholicae Maiestatis Medico, & Chirurgorum praefecto, in inclytaq Salmanticensi Academia
Vespertinae Praelectionis Medicae facultatis professori iam emerito, Conimbrica, Ex Oficina Didaci
Gomez Loureyro Academiae Architypographi. Cum facultate Supremi Senatus, Inquisitionis &
Ordinarij. Anno Domini 1603.
Os Lusiadas do Grande Luis de Camoens. Principe da Poesia Heroica. Commentados pelo
Licenciado Manoel Correa, Examinador synodal do Arcebispado de Lisboa, & Cura da Igreja de S.
Sebastião da Mouraria, natural da cidade de Elvas. Dedicados ao Doctor D. Rodrigo d’Acunha,
Inquisidor Apostolico do Sancto Officio de Lisboa. Per Domingos Fernandez seu Livreyro, Com
licença do S. Officio, Ordinario, y Paço. Em Lisboa. Por Pedro Craesbeeck. Anno 1613 (nova edição
saiu nas Obras do Grande Luis de Camões, Principe dos Poetas Heroycos, & Lyricos de Hespanha,
Novamente Dadas a Luz com os seus Lusiadas Commentados pelo Lecenciado Manoel Correa
Examinador Sinodal do Arcebispado de Lisboa, & Cura da Igreja de S. Sebastiaõ da Mouraria, &
Natural da Cidade de Elvas, com os Argumentos do Lecenciado Joam Franco Barreto, e agora nesta
ultima Impressaõ correcta, & accrescentada com a sua Vida escrita por Manoel de Faria Severim,
offerecido ao senhor Antonio de Basto Pereyra, Lisboa Occidental, na Officina de Joseph Lopes
Ferreyra, Impressor da Serenissima Raynha Nossa Senhora, & à sua custa. MDCCXX. Com todas as
licenças necessarias).
Isabel Almeida
BIBL.: ALMEIDA, M. Lopes de, «Introdução», Obras de Jerónimo Corte-Real, Porto, Lello & Irmão,
1979, pp. VXXXVI; ALVES, Hélio J. S., «Corte-Real, a evolução da sua arte», Península 2 (2005), pp.
171-199; id., «Milton after Corte-Real: religion, verse and reversal of Iberian epic in ‘Paradise
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Manuel Ferro
E
ÉCLOGAS. As éclogas de Camões, como as de Garcilaso de la Vega
(1501-1536), enquadram-se nos moldes da écloga de índole artística e
sentimental que, tendo na raiz o modelo virgiliano, recebeu novo
desenvolvimento quando Sannazaro conseguiu impor com a Arcadia um
novo mundo pastoril diferente, guiado pelos valores do petrarquismo. São,
portanto, éclogas que, mesmo quando desrespeitam a tradição e as
convenções literárias, repousam nelas e oferecem ao leitor um universo de
referência que é artisticamente constituído, isto é, encontram o seu
significado na apreensão literária, cultural num sentido mais lato, do real.
Compreende-se que este género literário seja do agrado de Camões. Nas
Rimas como n’Os Lusíadas, o poeta apropria-se a tal ponto de modelos
culturais e filosóficos que a sua mediação se torna espontânea, tanto na
perceção e vivência do real exterior, como na interpretação da vida e de
sentimentos próprios. E pelo mesmo motivo se compreende também que,
frequentemente, Camões não possa ater-se à «brandura tam namorada» que
a precetiva quinhentista preconiza para a poesia bucólica e, protegido pela
autoridade de Vírgílio ou pelo exemplo de Garcilaso de la Vega, eleve o
tom e o assunto do poema pastoril. A sua conceção fortemente
intelectualizada do mundo e do homem não se coaduna com a simplicidade
de um olhar ingénuo que encontrasse na natureza a simpatia imediata do
mundo natural.
A presença de elementos tópicos e a mestria poética com que são tratados
levam o leitor a não reconhecer por vezes o uso irónico que Camões faz dos
códigos da écloga, mesmo se desde cedo a crítica apontou que tanto o
mundo bucólico das Rimas como as exigências de tom e estilo que o
acompanham não se conformam ao preceituado pela Poética. A edição das
Rhythmas (1595) reunia oito éclogas; no entanto, confundidos pela
suavidade do bucolismo de Diogo Bernardes, e talvez desejosos de
aumentar as Rimas com poemas que se pudessem considerar modelares
dentro dos ditames da poética quinhentista, os editores posteriores
chegaram a apresentar 16 éclogas, na maior parte atribuíveis a Bernardes e
publicadas entre as suas obras. É sobre esse corpus alargado que recai a
maior parte dos estudos realizados até finais do século XIX, com
ressonâncias que ainda hoje se fazem sentir, apesar de atualmente se
atribuírem a Camões apenas as oito éclogas que figuravam já nas edições
quinhentistas.
Na écloga, enquanto género habitualmente definido como «diálogo de
pastores» e pressupondo por isso a criação de um universo pastoril, Camões
encontrou sobretudo a possibilidade de pensar o mundo e de o recriar
poeticamente, sem no entanto conseguir aperfeiçoá-o ou elidir o contínuo e
injustificado sofrimento que marca o viver humano. Pelo contrário, dir-se-ia
que o requinte artístico e a idealização tornam mais pungente o sofrimento e
que o sentido do trágico, tão presente nas Rimas, se aviva e corrói a paz
bucólica da Arcádia camoniana.
Agrário, o pastor filósofo da Écloga II, Ao longo do sereno, procura viver
fora do mundo, sem se preocupar com ele («[…] achar // no mundo que
emendar, não é de agora; / basta que a vida fora dele tenho; / com meu gado
me avenho, e estou contente»). É, no entanto, uma atitude que não vai
prevalecer no diálogo travado entre os pastores desse poema, como tão
pouco prevalece nas Rimas. Pelo contrário, Camões, com desalento, faz ver
na epístola Quem pode ser no mundo tão quieto (Oitavas I) que o sossego
bucólico representa, mais ainda do que uma fuga social ou insensibilidade,
um estado comparável à alienação do louco, porque resulta da recusa de ser
consciente e refletir, ou seja, da recusa do que é propriamente humano.
Por isso, na Arcádia camoniana não se encontra o estabelecimento de
uma áurea mediania ou a moralização que justificam o mundo pastoril em
Sá de Miranda ou Rodrigues Lobo. Agrário não é o pastor senex da Écloga
II; o seu discurso é apenas o contraponto dos suspiros de Almeno, o pastor
enamorado que se entrega ao sofrimento e recusa a racionalização. E, como
fazia notar Faria e Sousa aceitando a sugestão de Herrera a propósito da
Écloga II de Garcilaso de la Vega, não há neste poema um pastor que se
possa assumir como voz autoral. Numa écloga, a situação de diálogo exige
a constituição e oposição de personagens coerentes, capazes de alimentarem
pontos de vista diferentes, representando, afinal, a oscilação dos
sentimentos, as contradições do próprio poeta. De certa maneira, quando o
poeta decide abdicar da sua voz lírica e cria personagens, obriga-se a uma
divisão artificial da sua própria personalidade.
O mundo bucólico das Rimas representa sobretudo um mundo depurado e
artisticamente organizado em torno de valores e problemas essenciais da
mundividência camoniana, que são também os temas mais marcantes da
écloga lírica artística: o amor, a fortuna e o desconcerto.
Por isso, os elementos retóricos e estilísticos mais típicos do género
encontram-se em cada écloga, mas, na maior parte dos poemas, investidos
de uma força simbólica imprevisível, que corrói o uso tradicional, rompe as
expectativas do leitor e agrava ainda a sua força expressiva na criação de
uma tensão que pode atingir a dimensão do trágico (veja-se, por exemplo, a
Écloga dos Faunos).
Propício à arte e à experimentação poética, o mundo pastoril favorece
também a reflexão sobre a poesia. Da mesma maneira que nas novelas
pastoris as personagens comentam as composições que vão pautando o seu
convívio e ócio, também as éclogas comportam não só a contenda, como o
comentário das composições cantadas, feito ora pelo narrador ora por um
pastor. Ao mesmo tempo, a composição do poema, em que amiúde se
encontram uma dedicatória e uma proposição a anteceder o
desenvolvimento da écloga propriamente dita, propicia ao poeta a ocasião
de tecer considerações sobre o seu trabalho. No caso de Camões,
concentram-se nesses momentos considerações explícitas que são pouco
frequentes na sua lírica sobre a Poética e a sua própria conceção de Poesia.
Nesse sentido se têm de entender as considerações iniciais do poeta e a
própria totalidade da Écloga VI, A rústica contenda desusada. Nela,
Camões põe em confronto um pastor e um pescador, enamorados e, por
conseguinte, sofredores e poetas. Mas antes, na proposição e na dedicatória
ao duque de Aveiro, o poeta mostra-se cioso de louvor: realça
explicitamente a originalidade deste estilo, mostra como o inventou através
da imitação, invocando a autoridade dos seus émulos para justificar a sua
composição, mas também para acentuar a sua vitória. Ao longo do poema
entretecem-se o mundo literário da tradição antiga (o próprio género e o
imaginário pastoril, o canto amebeu, as imagens da mitologia, vocabulário
em que abundam os cultismos e os latinismos semânticos), e o mundo
moderno, sentimentalmente dominado pelo petrarquismo. Na contenda, o
pescador consegue provar que os códigos da écloga piscatória oferecem
tantas possibilidades de abarcar o mundo como a tradição pastoril e assim,
ao cair do dia, cada um será declarado vencedor pelos seus companheiros. E
se aceitarmos que, com Agrário e a écloga pastoril, se encontram Virgílio e
a Antiguidade Clássica e, com Alicuto e a écloga piscatória, Sannazaro e o
mundo moderno, veremos Camões com o seu «novo estilo» a colocar-se,
inovando, na galeria dos poetas clássicos e a proclamar o valor do mundo
novo.
A arte surge como processo de afirmação de um poeta que se sabe
desintegrado da perfeição do mundo natural e entregue ao poder
transcendente do amor e da fortuna. Os pastores camonianos refugiam-se no
canto, que assume, como é corrente na poesia lírica de Camões, uma função
catártica muito acentuada, mas ao mesmo tempo, oferece a possibilidade de
criar uma ordem humanamente compreensível e manuseável. Isto acontece
porque nas éclogas camonianas o elemento essencial do bucolismo, o
sentimento de comunhão entre o homem e a natureza, nem sempre é real, e,
manifestando-se, nem sempre corresponde ao verdadeiro eixo de
significação gobal do poema.
Veja-se, por exemplo, a Écloga I, Que grande variedade vão fazendo, em
que Camões pranteia a morte de D. António de Noronha e do Príncipe
D. João. Enquanto, de acordo com a tradição, o canto fúnebre com que
Frondélio celebra Tiónio encontra eco numa natureza enlutada, a elegia
entoada por Aónia, de lirismo elevado, surge num quadro de «cousas não
costumadas na espessura». É certo que ela pranteia um infante, e que o
estilo se poderia elevar de acordo com a matéria; mas é também certo que
em toda a écloga ressoarão a incompreensão e o espanto manifestados por
Frondélio no diálogo inicial, e a certeza de que o mundo dos homens não se
rege pelas mesmas leis que ordenam a natureza.
Entre os elementos que tragicamente cindem os dois mundos, conta-se o
tempo. A sua importância fica bem evidente nas longas análises que lhe são
dedicadas por Agrário (Écloga II) e Umbrano (Écloga I), e que acentuam
como o seu curso se manifesta de forma diferente sobre a natureza, que se
vai renovando ciclicamente, e sobre o homem, que vai sendo
inevitavelmente arrastado para a degradação e a morte. Talvez por isso, e
como aliás acontece de uma maneira geral nas Rimas, o tempo dos pastores
se limita ao passado e à memória. Mesmo o presente é sentido como
ameaça. Há, no entanto, uma exceção: a dimensão do futuro e com ela, a
esperança, estão presentes na écloga piscatória Arde por Galateia branca e
loura. Alia-se-lhe a expectativa, também ela quase ausente na poesia de
Camões, de vir a ser bafejado por um destino favorável.
Nas éclogas de Camões, o homem encontra-se só. A natureza não
constitui um refúgio a que o pastor se acolha e em que encontre conforto
para as suas penas. Na Écloga V, A quem darei queixumes namorados, é
nítido que o poeta e o leitor, por um lado, e, por outro, o pastor, não têm do
cenário a mesma perspetiva. A calma radiosa do amanhecer é descrita pelo
pastor numa evocação mitológica que sublinha a alegria do momento. Essa
alegria, ele recusa-a, como se recusa também a deixar-se enganar pela
harmonia tranquila do ambiente, para se refugiar na sua solidão e no
ensimesmamento, mantendo-se até ao fim do poema cego para o exterior
(«em sua dor tão enlevado estava / que, como em grave sono sepultado, /
não viu o Sol que já no mar entrava»).
Há, decerto, momentos em que a comunhão se estabelece; no entanto,
nem sempre o resultado é benéfico ou positivo. Veja-se uma das mais belas
e melancólicas paisagens noturnas da poesia portuguesa, a descrição das
primeiras estâncias da Écloga II, Ao longo do sereno. É um quadro
decorativo em que perpassa uma melancolia suave, para o que contribui a
presença dos elementos tradicionais do locus amoenus. Assim que entrar
em cena o «triste Almeno», pesará sobre esses elementos a figura e o estado
de espírito atormentado do pastor. Como Tiónio (Écloga I), Almeno é presa
de uma exagerada melancolia, e o texto dá conta do caráter destrutivo da
sua paixão. A natureza e Almeno mostram-se conformes, e em vez da
adjetivação idealizante que habitualmente reforça a perfeição arquetípica da
natureza (as águas cristalinas ou brandas, o dia claro, o bosque sombrio, as
árvores verdes, por exemplo), passarão a encontrar-se qualificações
invulgares na poesia bucólica. A tristeza melancólica do ambiente que dá
guarida ao caráter excessivo do «tormento» do pastor é então sublinhada, e
mesmo elementos habituais terão de ser reinterpretados: «Como toda a
tristeza / no silêncio consiste, / parecia que estava tudo mudo; / e, com esta
graveza, estava tudo triste. / Porém o triste Almeno mais que tudo». Por
contraste, o seu interlocutor, Agrário, surgirá com os primeiros raios da
madrugada.
No centro de todo o universo bucólico camoniano está o amor que,
aliando-se de uma forma arbitrária com o destino, traz o sofrimento a cada
pastor. Agrário (Écloga II), que ao seu pendor racionalista e estoico junta a
experiência, definirá o Amor disforicamente, mostrando como faz parte da
sua natureza o «endoudecer» o homem, privá-lo da razão e de vontade
própria. E se Tiónio (Écloga I) pode ser exemplo do amor juvenil, ainda não
apurado e, portanto, inclassificável como verdadeiro, puro Amor, nas
restantes éclogas assim não acontece. Belisa (Écloga III, Passado já algum
tempo que os amores) compreende o Amor no quadro cultural do
neoplatonismo — nele não se pode originar a infelicidade («[...]o amor que
tanto mal me fez em tudo / não pode ser amor, mas inimigo); no entanto,
depois do diálogo com Almeno, vê-se que não há um elemento concreto a
quem possa ser atribuída a responsabilidade da infelicidade de ambos: faz
parte da sua própria natureza gerar o infortúnio.
Nesta Écloga III, que deve ter sido escrita ainda na juventude e em que a
influência gritante de Garcilaso encobre por vezes a presença de Sannazaro,
encontra-se plasticamente representada a destruição dos dois amantes (e não
só a do pastor). O seu confronto em cena, depois de ter proporcionado a
reconstituição da perceção que cada um tem da sua atuação e da pureza dos
seus sentimentos, culminará com a metamorfose de Belisa e levará Almeno
à morte. É um diálogo dramatizado em que se ouve a voz feminina, pouco
usual no universo bucólico lírico, como aliás na lírica petrarquista, em que,
embora desempenhando um papel-chave, a mulher prima pela ausência
(outro tanto se não poderá dizer do universo da novela pastoril). E mesmo
se, ocasionalmente, cada personagem faz recair sobre a outra a causa do seu
infortúnio, a culpa não lhe poderá ser atribuída: no fundo, o
desenvolvimento do diálogo leva o leitor a concluir que o Amor, que Belisa,
dentro dos moldes do neoplatonismo amoroso, imagina benfazejo, é a causa
do infortúnio dos mortais que subjuga. Pertence-lhe o ser contraditório, e
provocar a infelicidade dos enamorados.
A lucidez com que os pastores analisam o caso individual que vivem
leva-os a uma inexplicável e incessante luta entre a necessidade de
compreender e a voluntária aceitação do sofrimento que deve muito à
poesia de Boscán e está na raiz de um sentimento trágico que perpassa nas
éclogas, corroendo a tranquilidade bucólica e tornando as éclogas de
Camões poemas importantíssimos para a caracterização do seu universo
poético e cultural.
Sem forçarem um tipo de leitura alegórica que está no centro da
interpretação de grande número de éclogas da época, as de Camões
permitem a ampliação de significados, própria da representação simbólica e
a criação de situações humanamente significativas pela fantasia.
Naturalmente, uma écloga como a I pede, para cabal entendimento do seu
alcance histórico-cultural e valorização literária, o conhecimento da
situação que motiva o quadro desusado com que se depara; todavia, em seu
redor há um trabalho estético que se valida por si, e não necessita da
decifração contextual para se impor. Já Faria e Sousa, que visivelmente não
nutria qualquer simpatia pela princesa viúva, fazia notar que a verdade
factual fora falseada e que o poeta, porque poeta, «es obligado a mentir» ao
pintar a princesa num quadro de grande desgosto; e mesmo a figura de
Tiónio preenche a imagem, literariamente concebida, do cortesão
enamorado, jovem e imaturo.
A Écloga VII, habitualmente conhecida por Écloga dos Faunos, de
acordo com a epígrafe da edição de 1595, pede explicitamente no seu texto
uma interpretação que concilie o mundo da fantasia literária, o bucólico e o
real, ao explicar que «[...] se os amores / aos silvestres deuses maltrataram, /
já ficam desculpados os pastores». Nela, e segundo se depreende dos versos
que encerram a proposição e a dedicatória, os «silvestres deuses»,
integrados numa efabulação que, como a da Écloga III, segue o esquema
consagrado da perseguição e fuga das ninfas, deveriam ser atendidos pelo
amor que os incendeia.
A écloga abre com a descrição de um locus amoenus, que dá passagem a
um trecho narrativo de acentuado pendor sensual, e motiva literariamente o
passo seguinte, a fuga das ninfas ameaçadas. A perseguição pelos Sátiros é
infrutífera. A mesma natureza que os fez sujeitos ao amor e ao desejo não
os auxiliou sequer fisicamente, pelo que a perseguição prossegue apenas
através de súplicas que, como as de qualquer amante petrarquista, vão
sendo espalhadas «ao vento». De facto, a partir deste momento, os dois
sátiros deixarão de ser percebidos como seres agrestes e disformes, para se
tornarem exemplo de amantes maltratados pelo Amor. Pela sua voz, afinal,
o poeta chegará ao mesmo grito que emerge na Canção X: «nascer para
viver, e para a vida / faltar-me quanto o mundo tem para ela!» O primeiro
sátiro, recorrendo à estância de canção, acentua o caráter lírico das suas
considerações, enquanto louva o amor e a natureza; o segundo, recorrendo à
oitava rima e a um catálogo de mitos etiológicos, engrandece o amor que
encontra representado em cada elemento. Ora o certo é que nas palavras de
ambos os sátiros, representantes legítimos da natureza, não se encontram
motivos que justifiquem a fuga das ninfas e a implícita condenação do
impulso erótico. Mais ainda, não se encontrará qualquer motivo que leve a
julgar os sátiros culpados e a excluí-los da harmonia do universo que
cantam. Não existindo o sentimento de culpa, não existirá,
consequentemente, a necessidade de expiação. E, de facto, os sátiros, como
os pastores, não a sentem. Mesmo o leitor se apiedará das personagens e
não deixará de reconhecer que o seu destino é injusto, mas invencível —
isto é, reconhecerá o caráter trágico da situação humana.
Estes dizeres são emoldurados, como pode ver-se, por uma composição
de arte formada em desenho por duas colunas laterais, um balcão em rodapé
e um frontão, ao alto, com o pelicano ao meio. Isto é comum aos
exemplares […]» (1972: 3-4).
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F
FADO E FORTUNA N’OS LUSÍADAS. Os gregos acreditavam no fado
pessoal, na porção (aisa, móros, pótmos, mórsimos, eimarménon) destinada
a cada homem, e no Fado (eimarméne-) universal. O particular e o geral
sustentavam uma relação de interdependência. A aparente contingência do
singular cabia sempre na estrutura de uma série causal. Camões, n’Os
Lusíadas, serve-se sete vezes do plural (I.24.6; I.31.1; II.43.7; IV.40.8;
IV.61.5; V.49.2; VI.33.1), acudindo onze vezes ao geral (I.28.1; I.74.1 e 7;
I.75.5; V.46.5; V.58.7; IX.75.8; IX.86.4; X.38.7; X.45.5; X.56.6). Quando é
adjetivado, o fado poderá, quase sempre numa perspectiva pessimista, ser
«eterno» (I.28.1), «negro» (V.46.5), «immigo» (V.58.7), «imobil» (IX.86.4)
e «mau» (X.38.7). Os fados, por outro lado, só uma vez são adjetivados,
revelando-se então como «grandes» (I.24.6). Outras vezes, o «destino» vem
substituir o «fado» (I.60.7-8; III.130.3-4; IV.46.1-2; VI.68.7-8; VII.30.3-4;
X.146.1-4). De acordo com o fatalismo, o mundo obedece a uma ordem
prescrita. Segundo o estoico Crísipo, nada, absolutamente nada, pode fugir
à causalidade. E, constituindo a cadeia de causas a substância do Fado, nada
poderá escapar a uma necessária série de condições antecedentes. O que
quer dizer que a conceção estoica do Fado professada por Crísipo se
identifica com a tese determinista, tese que o despeitado Baco,
familiarizado com a profecia e não ignorando o futuro, como o Vulcano de
Virgílio — «haud vatum ignarus venturique inscius aevi» (VIII.627) —,
reconhece: «Está do Fado já determinado / Que tamanhas vitórias, tão
famosas, / Hajam os portugueses alcançado / Das Indianas gentes
belicosas» (Os Lusíadas, I.74.1-4). Perante a ditadura do Fado, a posição de
Baco, empenhado improficuamente em impor a sua vontade, é
insustentável. Os desígnios da necessidade (ananke-) são inelutáveis. Hoje,
no entanto, o fatalismo é entendido como a doutrina de que um determinado
evento deve ter lugar, sem que para isso acontecer tenham de ser invocadas
condições antecedentes que necessariamente o determinem. O que quer
dizer que a tese neofatalista, dando protagonismo à contingência, já não
exigirá conexões causais estritas, apresentando-se apenas como a sensata
teoria científica que trata de explicar um acontecimento ou um estado de
coisas em termos das causas contingentes que o antecedem, governadas
pelas leis da natureza (SOLOMON 2003). O acaso (o azar objetivo) rouba
terreno à necessidade. Na epistemologia nossa contemporânea, o
estocasticismo também assume o seu protagonismo. O que define o fatum
de Virgílio não é só o seu poder ou propósito, mas também a sua solene
inescrutabilidade (TRACY 1964). Como quer que seja, o que não é prescrito,
dentro de uma Weltanschauung fatalista, é o momento exato e a maneira
definida em que as coisas acontecem, as características eventuais de cada
realização particular de interdependência. É aí onde a Fortuna pode intervir.
É aí onde Baco e Vénus poderão entremeter-se. Para os estoicos, Fado e
Providência (pronóia), cujo nome popular respondia ao de Zeus, são
sinónimos. Os epicúreos, dando especial relevo à Fortuna (tykhe-),
aceitaram um desempenho disteleológico do Fado, ao qual a ação de Zeus
está totalmente subordinada. Mas os deuses, nada podendo contra o Fado,
têm, pelo menos, a prerrogativa de adiar, em certa medida, os seus
desígnios. Juno, que desempenha na Eneida uma função homóloga à de
Baco n’Os Lusíadas, afirma claramente que a única medida ao seu alcance
é a de procrastinar um inevitável desfecho: «at trahere atque moras tantis
licet addere rebus» (VII.315). Porque imaginar que os acontecimentos
determinados pelo Fado podem ser alterados é, segundo as palavras que
Júpiter lhe endereça, alimentar uma esperança vã («spes inanis») (X.627).
«Volentem ducunt fata, nolentem trahunt.» Na Eneida, Júpiter é chamado
omnipotens, mas tal atributo deve ser encarado com sérias reservas.
«Desenrolando os mistérios dos fados» («volvens fatorum arcana» (I.262)
), Júpiter limita-se a anunciar o que encontra. Nem profetiza nem prevê:
limita-se a constatar. É uma espécie de notário. Daí o «fata viam invenient»
proclamado por Júpiter (III.395; X.113). Júpiter revela e quantifica os
destinos, mas nem os cria nem os manipula (III.375-376). Numa ocasião,
porém, antecipando-se às tranquilizadoras palavras que o Júpiter camoniano
endereça a Vénus n’Os Lusíadas — «Que eu vos prometo, filha, que vejais
/ Esquecerem-se Gregos e Romanos, / Pelos ilustres feitos que esta gente /
Há-de fazer nas partes do Oriente» (II.44, 5-8) —, o omnipotens virgiliano,
como nos lembra Heinze (2004), em vez de se limitar a predizer o futuro
dos Romanos, identifica-o com a sua própria vontade, que agora coincide
no Fado: «his ego nec metas rerum nec tempora pono; / imperium sine fine
dedi» (I. 278-279). O que quer dizer que nem sempre a vontade de Júpiter e
os desígnios do Fado são divergentes. Às vezes até parecem confundir-se.
Há um Zeus que merece o epíteto de Moiragete-s. É o Deus a quem, no
concilium divum da Tebaida, os destinos obedecem: «incipit ex alto —
grave et immutabile sanctis / pondus adest verbis, et vocem fata sequuntur»
(I.212-213). Os fados de Roma, cuja magnificência imperial, segundo Tito
Lívio (I.4) se deve ao Destino, impuseram-se aos de Cartago. Na Ilíada,
Zeus pesa os fados dos Troianos e dos Aqueus (VIII.69-74). Imitando o
episódio da Ilíada no qual Zeus pondera os fados de Aquiles e de Heitor
(XXII.29 ss.), Virgílio faz que Júpiter pese os de Eneias e de Turno
(XII.725-727). Homero tem uma conceção negativa, pessimista, do Fado,
concebido como um poder implacável e destrutivo carente de elevação e
alheio a qualquer tipo de orientação escatológica. Em Homero, o fado,
coincidindo com a adjetivação a que Camões, por vezes, o há de submeter,
é o kakòn oiton («fado mau», X.38.7), é o ke-ran mélainan («negro fado»,
V.46.5). Instruído pelo entourage de Mecenas, Virgílio, que assume uma
versão teleológica da história, otimiza o Fado, injetando-lhe uma enorme
massa de aspirações morais, para o tornar ordeiro e benéfico, esquecendo a
sua anterior condição desordeira e maligna. Na esteira de Tito Lívio,
Camões assenta o seu discurso epidíctico nas virtudes dos Portugueses, de
acordo com um determinismo ético. Se os homens se comprometerem com
a pietas, com a fides, com a virtus, com a concordia, a que Camões agrega a
novidade cristã da Fé — a caridade, num contexto irrelevante, só uma vez
está presente (IX.28, 1-2) —, sem esquecer a «natural» fidelidade ao
Monarca, a fortuna há de ser-lhes propícia. N’Os Lusíadas, o Fado é
espiritualizado. Na Eneida, diferentemente do que virá a acontecer no
universo camoniano, o sistema dos deuses olímpicos entremete-se
naturalmente no misticismo estoico-epicurista. Camões faz algumas
tentativas para se guindar a este plano, mas esgota-se em gorados esforços
pontuais. O poema, então, torna-se confuso. Não poucas vezes, os deuses
opõem-se ao(s) Fado(s), embora acabem por lhe(s) obedecer. A implacável
eimarméne- — «id est ordinem seriemque causarum», dizia Cícero —,
aliada ao lógos, é a protagonista primordial da doutrina estoica. A epicúrea,
alheia a qualquer determinismo, dá-se melhor com a veleidosa Fortuna,
entidade que aparece vinte vezes n’Os Lusíadas, merecendo em três
ocasiões a adjetivação: «Fortuna inquieta» (III.17.6), «Fortuna injusta»
(VI.15.4), e, por último, equiparando-se com o «fado mau», «fortuna
escura» (X.38.7). Transformada em «grande estrela» (I.33.5), que segundo
Vénus os Portugueses já «mostraram na terra Tingitana» (I.33.5-6), a
fortuna positiva (eutykhía) bafeja quase estruturalmente os Lusitanos. A
«benigna estrela», depois de favorecer Paio Correia (VIII.25), terá
apadrinhado os portugueses que combateram ao lado do «Duque de
Alencastro» (VI.47). No poema camoniano, Júpiter e eimarméne- veem-se
obrigados a conviver com o Deus do Cristianismo, devidamente
maquilhado por uma Contrarreforma que, esquecendo o enquadramento
histórico do poema, abrange tanto o Lebenswelt do autor empírico quanto o
do narrador, para não falar dos atores — em certos aspetos, D. Manuel é um
D. João III —, embora no poema também se revele nitidamente uma
inclinação, até certo ponto reprimida, para o paganismo físico dos antigos e
de Ariosto. O Deus de Tasso, que há de prolongar o impulso
contrarreformista de Camões, muito solene, «‘Ha sotto i piedi il Fato e la
Natura, ministri umíli, e il Moto e Chi’l mesura» (IX.56, 7-8). É um Deus
capaz de «vincer la rabbia de le stelle, e’l Fato» (XIII.80, 8). É mais
poderoso que Júpiter, já que se funde com a Divina Providência. Não
devemos esquecer que, numa perspetiva estritamente textual, o fatalismo
substitui a sequência canónica, caracterizada pela abertura de futuros
alternativos, por um encadeamento linear que, a um nível narrativo,
Bremond (1973), atribuindo ao fado o papel de destinador transcendental,
formaliza assim: Fatalidade de um processo futuro → Passagem a ato do
processo → Exclusão de qualquer outra alternativa. O Fado, tanto na
tragédia quanto na épica, tem todas as características de um verdadeiro ator.
O seu implacável poder de autêntico destinador levanta o problema do livre
arbítrio, que Santo Agostinho, parafraseando Cícero, põe assim: «Si
elegerimus prescientiam futurorum, tolli voluntatis arbitrium; si elegerimus
voluntatem arbitrium, tolli praescientiam futurorum» (Civ. Dei, V.IX).
Segundo a teoria estoica, o homem está determinado pelo Deus-Natureza,
entidade penetrada pelo lógos e, por conseguinte, plenamente racional. Toda
a tragédia grega, alheia ainda a soluções racionalistas, repousa na tensão
entre os poderes obscuros e incontroláveis do Fado e a vontade humana que
a eles se quer opor, em luta infrutuosa, mas cheia de dignidade. A tragédia
supõe a dignificação da derrota. Santo Agostinho, sacralizando-o,
transforma o Fado em Divina Providência (Civ Dei, I.V), força superior
presente n’Os Lusíadas. É ela quem protege os portugueses em Mombaça:
«Bem nos mostra a Divina Providência / Destes portos a pouca segurança»
(Os Lusíadas, II.31, 1-2); é ela, com os seus desígnios ocultos, quem dispõe
a morte de Lourenço de Almeida: «Mas de Deus a escondida providência /
(Que ela só sabe o bem de que se serve) / O porá onde nem esforço nem
prudência / Poderá haver que a vida lhe reserve» (X.29, 1-4); é ela quem,
suplantando o poder de Júpiter, rege o devir das coisas terrenas: «[...] a
santa Providência, / Que em Júpiter aqui se representa, / Por espíritos mil
que têm prudência, / Governa o Mundo todo que sustenta» (X.83, 1-4). De
acordo com a cosmologia de Boécio, Deus será o divino demiurgo que
governa todas as coisas do universo de acordo com a Providência e o Fado,
controlando também os desígnios acidentais da Fortuna. São Tomás e a
filosofia tomista alargam a capacidade de Deus até uma absoluta
presciência, já que, dado o Seu conhecimento transcendental, todas as
causas são integradas em Ele e só em Ele (CIOFFARI 1947). Maquiavel, cujo
pensamento não se coaduna com o de Camões, volta à conceção pagã,
dessacralizando o Fado e a Fortuna e atribuindo-lhes desígnios caprichosos
e até malévolos. Maquiavel desorienta o Fado, um Fado que Camões
mantém disciplinado. O livre arbítrio de Maquiavel não é o da filosofia
tomista. O homem, dessacralizado, encontra-se sozinho face ao mundo. E,
não dependendo já de uma fiável escolha entre o bem e o mal, dificilmente
quantificáveis, o livre arbítrio cifra-se na adoção do que é conveniente
numa determinada occasione e, recuperando a tese do Trasímaco da
Politeia platónica, nas vantagens que uma determinada circunstância,
muitas vezes governada pela Fortuna, que pode ser orientada pela virtù — a
virtù renascentista que pouco tem a ver com a virtude cristã —, pode trazer
consigo: «iudico potere esser vero che la fortuna sia arbitra della metà
delle azione nostre». Tal posicionamento é completamente alheio ao
espírito camoniano, muito determinado. No poema encontram-se frequentes
incompatibilidades práticas. Tendo Vénus, mais as suas Ninfas, ao afastar a
armada do Gama de Mombaça, explicitamente estorvado «À gente
Portuguesa o fim nefando» (II.23, 8), o narrador, numa absurda
multiplicação da causalidade, identifica a deusa pagã com a Divina
Providência e com a Guarda Divina (II.31). A agonia de Francisco de
Almeida, morto às mãos dos cafres em dezembro de 1509, não foi ditada
pelo Fado, mas sim pela vontade e sabedoria de Deus: «Ocultos os juízos de
Deus são; / As gentes vãs, que não nos entenderam, / Chamam-lhe fado
mau, fortuna escura, / Sendo só providência de Deus pura» (X.38, 5-8). O
protagonismo excessivo que o narrador d’Os Lusíadas atribui aos
Portugueses no exórdio do poema parece ser mitigado pela intervenção
necessária, permanente e inelutável do Fado, instância que, chamando a si
um valor modal, o poder, compromete a iniciativa e evacua a capacidade
proairética e prática dos humanos. Se aceitarmos a ampla conceção do
fatum mahometanum, o efeito terá lugar mesmo que careça de causa, como
se houvesse uma necessidade absoluta. O que quer dizer que se Vasco da
Gama se tivesse deitado a dormir no tombadilho, ao partir de Belém, a sua
frota não teria deixado por isso de atingir as costas do Malabar. Como quer
que seja, Camões, na sua cristianização do Fado, terá que conciliar o
determinismo estoico, que admite causas eficientes mas não define causas
finais, com a Divina Providência e com o livre arbítrio. Como resolver a
oposição entre o exercício do livre arbítrio, a vontade de Deus e a ditadura
do destino? Seja como for, o que é certo é que a conivência do Fado
transforma a causa portuguesa numa absoluta juridicialis constitutio,
totalmente válida por estar de acordo com a natureza das coisas. E, como
queria Santo Agostinho, o Fado há de irmanar-se com a Providência Divina,
com a vontade de um Deus omnipotente (o verdadeiro e fulcral motor da
ação do poema) que, depois de ser invocado tantas vezes, acaba por ser,
estranhamente, uma entidade incógnita e ininteligível: «É Deus: mas o que
é Deus ninguém o entende, / Que a tanto o engenho humano não se
estende» (Os Lusíadas, X.80, 7-8).
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Frederico Lourenço
H
HEBREU, Leão (Lisboa, 1460-1465/?). A relação entre Camões e Leão
Hebreu reentra no quadro do neoplatonismo camoniano.
Leão Hebreu foi o nome adotado por Judá Abravanel, médico, filósofo e
homem de letras nascido em Lisboa no seio de uma família judaica ligada à
alta finança e dotada de grande erudição. Seu pai, Isaac Abravanel, era um
destacado estudioso do pensamento hebraico, em particular da doutrina
talmúdica e cabalística. A família foge de Portugal em 1483, passando para
Espanha. Em 1492, Judá Abravanel encontra-se em Nápoles.
Sucessivamente, a sua presença está documentada em Génova, Monopoli,
Barletta, Veneza, Ferrara e Pesaro, remontando o último testemunho
biográfico que lhe diz respeito a dezembro de 1520, em Nápoles. Além da
sua obra fundamental, os Dialoghi d’Amore (1.ª ed. 1535), um diálogo entre
duas personagens, Filone e Sofia, repartido em três livros, escreveu versos
hebraicos e, eventualmente, sob sugestão de Gianfrancesco Pico della
Mirandolla, um tratado De Coeli Harmonia, cujo texto anda perdido.
A etiqueta de epígono que, por vezes, lhe é aplicada, carece de precisão.
Os Dialoghi d’Amore são um livro complexo, enformado por uma
argumentação densa e subtil, à qual o teor e a amplitude das áreas culturais
envolvidas confere, logo à partida, grande especificidade. Apesar do véu de
mistério que envolve a sua elaboração, a obra encontra-se intimamente
ligada ao tecido cultural do segundo quartel do século XVI, em Itália.
Trata-se de um texto inacabado, que não terá sido escrito de forma
contínua, e cuja cronologia suscita dúvidas. A sua estrutura nem sempre
obedece a uma linha unitária e revela certas flutuações de posição, em
particular relativamente a Aristóteles. Foi sujeito a interpolações, como o
indiciam as referências a S. João Evangelista e a Petrarca. Talvez tivesse
sido originariamente escrito em português, em hebraico ou em latim, e
depois traduzido em cadeia. A edição de 1535, publicada em Roma,
apresenta uma tradução para toscano, com inflexões da zona de Siena e de
Arezzo, feita por essa altura. Acompanha, na sua veste linguística, o
incremento conferido pelo papa Clemente VII, da família de Medici, ao uso
do vulgar italiano.
Das duas grandes tipologias de tratados renascentistas sobre o amor, o
tratado de especulação conceptual e o tratado de comportamento, os
Dialoghi d’Amore inserem-se na primeira. Todavia, depois do grande
florescimento do neoplatonismo, em Itália, entre finais do século XV e
inícios do século XVI, verifica-se um certo esgotamento de horizontes, sem
que se encare, de outro modo, a possibilidade de proceder a uma reforma
doutrinária. O continuado exercício do pensamento filosófico, associado ao
crescente intercâmbio de ideias entre vários grupos de intelectuais e entre
diferentes gerações, levou a uma revivescência do neoplatonismo que
superasse o que, nesse contexto, passara a lugar-comum. Uma mais
profunda exploração dos meandros da alma e da forma pela qual se pode
chegar até Deus, não através do abandono místico, mas através de um amor
humano, alcançou grande recetividade no seio de um refinado círculo de
eruditos, cujas aspirações iam além do recurso aos códigos literários
comummente usados ou do decalque de comportamentos padronizados. Os
seus interesses intelectuais visavam um tipo de especulação surpreendente,
suscetível de abrir caminho ao desenvolvimento do neoplatonismo por
outras vias. Uma delas é, precisamente, a tradição hebraica.
Assim se pode compreender que, em Itália, tivesse sido publicada, até aos
finais do século XVI, cerca de uma dezena de edições do tratado de
Abravanel, duas das quais batidas pela tipografia Manuzio. Mas, ao tempo
de Camões, os Dialoghi d’Amore corriam também em castelhano, em latim
e em francês. Das traduções quinhentistas para castelhano, Camões teria
podido conhecer a primeira, publicada em 1568 (de Guedella Yahia, ou
seja, Gedaliah Ibn Jachjah). A delicadeza da matéria nele contida fica
patente na prescrição de expurgo, principalmente de fábulas judaicas e
platónicas, imposta pelo Catálogo dos Livros que se Proíbem, de 1581. É
possível que se visasse a tradução castelhana, mas desde o Index de 1561
que se arrolava um Leo Iudas.
Antes de Teófilo Braga, nem Faria e Sousa, nem outros comentadores
incluíram Leão Hebreu entre as fontes camonianas, e, no Dicionário
Bibliográfico Português, são-lhe dedicadas umas escassas linhas. A partir
da menção de Teófilo, que fica contida num ensaio já tardio, e cuja
fundamentação não é explicitada, começaram então a surgir referências
dispersas a essa possível relação, que ora a apoiaram, ora a
circunscreveram, ora a interrogaram.
As questões sistémicas que dizem respeito à relação entre Camões e Leão
Hebreu incidem, primordialmente, sobre a congruência entre quadros de
pensamento, o que é indissociável das respetivas fontes doutrinárias, e
sobre o correlato conceito de amor. A partir daí, poder-se-ão considerar
textos e passos específicos da obra camoniana, mas sem nunca perder de
vista que a diversidade de situações e posicionamentos inerente a esse
paralelo impede generalizações. Além disso, trata-se da tradução de uma
linguagem filosófica através de outra linguagem de índole diferenciada,
com códigos literários próprios, nas suas implicações periodológicas,
genológicas, linguístico-retóricas e idiolectais. Camões nunca mencionou
Leão Hebreu, e não foram identificadas, nos seus versos, citações dos
Dialoghi d’Amore.
O tratado tem por fontes os filósofos helénicos, com relevo para Platão e
Aristóteles, os peripatéticos, os pré-socráticos, os epicuristas e os estoicos,
mas também Plotino, Ptolomeu e a poesia grega, em particular a homérica.
Quanto aos pensadores do Renascimento italiano, destacam-se Ficino, Pico
e Pontano. Além disso, retoma a escolástica islâmico-judaica e latina, a
cabala, os escritos herméticos e os textos sagrados, ao mesmo tempo que
acompanha o coevo desenvolvimento da tradição hebraica, em Itália, com
Elia del Medigo e Iohanan Alemano. Por conseguinte, o neoplatonismo é,
para Abravanel, a grande plataforma que lhe permite intersetar filões cuja
conciliação, até então, não fora empreendida. Tal como Ficino e o círculo
florentino tentaram integrar neoplatonismo e cristianismo, assim o autor dos
Dialoghi d’Amore se propõe conciliar neoplatonismo e hebraísmo.
No plano sistémico, a componente judaica não se inclui numa possível
conjunção entre Camões e Abravanel, o que limita, à partida, o alcance de
um relacionamento estruturante. A partir daí, ficam em aberto, porém,
várias possibilidades de confronto, inerentes à referida plataforma
neoplatónica e à conceptualização amorosa. Todavia, dada a sua amplitude,
haverá que ter em linha de conta eventuais fontes comuns.
No cerne da sua conceção de mundo, Leão Hebreu coloca o amor,
enquanto força cósmica aglutinadora dos elementos. Sendo irradiação da
inteligência divina, que atinge sempre um novo grau de perfeição na escala
dos seres, perpassa o mundo intelectual e o mundo corpóreo. Por amor, o
inferior une-se com o superior, o espiritual com o corpóreo, o eterno com o
corruptível e o universo com o Criador, segundo um princípio de harmonia
universal, de racionalidade e de unidade, por entre a diversidade das
formas. A criação do mundo, cujos termos são expostos e discutidos no III
Diálogo, a partir de Platão, de Aristóteles e do texto bíblico, é suprema
manifestação desse amor. Na elegia Se quando contemplamos as secretas,
Camões contesta que o mundo tenha sido gerado a partir do caos, «mas só
do pensamento casto e puro». Ora, não será necessário evocar Leão Hebreu
a propósito desta noção de criação, sendo ela conforme ao Genesis e à
exegese bíblica. Os termos em que é desenvolvida pela tradição cabalística,
também apresentados no III Diálogo do tratado, levam, porém, à teoria dos
ciclos da geração, que não parece ter ecos na obra de Camões.
A união de corpo e intelecto através de amor integra-se nessa noção de
harmonia cósmica que aproxima Deus e o homem. Aliás, a noção de que a
matéria pode não ter uma carga negativa encontra-se também em Proclo,
Plotino ou no Pseudo-Dionísio, o Areopagita. Na obra camoniana, são
pontuais os momentos em que o amor é representado como força cósmica
que concilia corpo e espírito. Um dos pontos em que esse equilíbrio atinge
o seu ápice são as trovas à Bárbora escrava. Sob a égide de amor, o ser
amado, que Abravanel e toda uma longa tradição literária colocam a um
nível superior na escala dos seres, o amante e a esfera natural harmonizam-
se entre si, através de aproximações e transformações mútuas. Pelo seu
distanciamento da normatividade petrarquista e dos códigos comummente
usados, sendo vazado numa forma poética tradicional, a redondilha, e pela
sua atmosfera exótica, o poema entra em sintonia com o ambiente no seio
do qual se processara, em Itália, no segundo quartel do século XVI, o
desenvolvimento de novas correntes no seio do neoplatonismo. Trata-se,
contudo, de um plano muito geral.
Outro dos momentos em que essa harmonia sobressai, numa conjugação
entre elevação através da sabedoria e elevação através do amor, declinada
num grande quadro mitológico, é o episódio da Ilha de Vénus, em Os
Lusíadas. Nos Dialoghi d’Amore, sustém-se que o caráter insaciável do
amor honesto e do desejo é louvável, pois exprime uma vontade de
aperfeiçoamento que também conduz a um mais alto grau de conhecimento.
Nesse episódio, depois da união entre as ninfas e os nautas, Vasco da Gama
ascende até uma colina onde lhe é dada como prémio a máquina do Mundo,
que simboliza uma forma sapiencial superior, de origem divina, conjugando
o plano terreno com a plenitude intelectiva. A mitologia adquire, nesse
quadro, um simbolismo ético, cognoscitivo e estético-teológico, que vai ao
encontro das conceções a esse propósito expostas no III Diálogo. Mas se é
viável uma remissão para o Boccaccio da Genealogia Deorum, a eventual
ironia que plasma o episódio decorre de outros parâmetros, como é o caso
de Ariosto.
Enquanto processo aberto à efusão do cosmos, o amor é reiteradamente
apresentado como desejo de algo deleitável, mas que falta. Camões maneja
estes conceitos com grande subtileza no soneto Pede o desejo, Dama, que
vos veja. A não satisfação do desejo é, para o poeta, um modo de perpetuar
um afeto natural, mantendo-o. Desta forma, a relação entre amor e desejo
leva a marca da célebre dialética camoniana, que não se consubstancia
numa síntese final, mas perpetua os seus próprios termos, enquanto tal.
Oscilante entre Platão e Aristóteles, Leão Hebreu universaliza o amor
como procura do bom e do belo nos corpos sensíveis, levada a cabo pela
imaginação, pela fantasia e pela razão intelectiva. Nos seres espirituais e
incorpóreos, o desejo de união perfeita entre amante e amada conduz à
transformação, conforme se explicita no I Diálogo. Camões, em Dizei,
Senhora, da beleza ideia, apresenta a formosura da figura feminina em
harmonia com o mundo natural, daí decorrendo o próprio conceito de
beleza. Ora, nestes termos, a noção de ideia tem um lastro platónico
vastíssimo e dotado de amplas repercussões literárias, de entre as quais se
conta uma fonte primordial de Dizei, Senhora, da Beleza ideia: o CLIX
soneto de Petrarca, In qual parte del ciel, in quale ydea. Aliás, em
«Transforma-se o amador na cousa amada, / por virtude do muito
imaginar», a transformação dos amantes processa-se, precisamente, por via
intelectiva, apesar de não ignorar o desejo dos corpos sensíveis. Contudo,
nos tercetos, a ideia confronta-se com as aspirações do plano sensível e a
busca da forma que, segundo Aristóteles, é própria de toda a matéria. A este
propósito, tem-se evocado Petrarca, «[…] so in qual guisa / l’amante ne
l’amato si trasforme» (Trumphus Cupidinis 3.161-162), mas já o misticismo
medieval via na transformação através de amor uma experiência alienante.
Para Leão Hebreu, Deus é a causa eficiente, formal e final do universo,
que lhe comunica a sua beleza e o guia até à felicidade unitiva com Ele.
Todas as coisas derivam, pois, do espírito divino, e a ele aspiram voltar, em
busca da perfeição última, num ciclo de processão e retorno que tem por via
o amor. Este ciclo, apresentado nos Dialoghi d’Amore, revê-se na ode Pode
um desejo imenso. No entanto, o semicírculo descendente, que vai de Deus
até ao homem, não merece relevo, e a ideia de que o desejo queima as
nódoas do plano corpóreo, na ascensão perfetiva, encontra a sua matriz
neoplatónica em Marsilio Ficino. Além disso, não deixe de se ter em linha
de conta que a ode tem um final disfórico. Também em Sôbolos rios que
vão se perspetiva um processo perfetivo de ascensão até Deus, mediado por
várias noções de origem platónica. Todavia, o poema fica fora da esfera de
um neoplatonismo de matriz harmonizante, como o é o de Leão Hebreu,
concluindo-se pela renegação do plano terreno.
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Aires A. Nascimento
I
ILHA DOS AMORES (Episódio da). O episódio d’Os Lusíadas
habitualmente denominado episódio da Ilha dos Amores — é utilizada
também, algumas vezes, a designação de Ilha do Amor — tem início na
estância 18 do Canto IX e prolonga-se até à estância 143 do Canto X,
ocupando, por conseguinte, cerca de vinte por cento da totalidade do
poema. Esta extensão e a sua localização na estrutura textual, representando
a apoteose e a conclusão da aventura marítima da epopeia, comprovam só
por si a sua relevância singular. A expressão «Ilha dos Amores» não ocorre
porém no poema: a ilha é denominada «ínsula divina» (IX.21), «Ilha
namorada» (IX.51) «Ilha […] fresca e bela» (IX.52), «fermosa Ilha, alegre e
deleitosa» (IX.54), «Ilha angélica pintada» (IX.89), «Ilha de Vénus»
(IX.95), «Ilha alegre e namorada» (X.143).
Desde cedo que os leitores e comentaristas d’Os Lusíadas procuraram
identificar a Ilha dos Amores com uma ilha real e concreta,
geograficamente localizada. O licenciado Manuel Correia, falecido em
1609, que terá convivido com Camões nos últimos anos da vida do poeta,
no comentário que elaborou sobre Os Lusíadas e que acompanha a edição
do poema publicada por Domingos Fernandes em 1613 — comentário que
foi parcialmente alterado por Pedro de Mariz —, afirma que «[m]uytos tem
para sy que esta ilha de que o Poeta aqui falla, seja a de Sancta Helena»,
opinião de que Correia discorda, porque a ilha «foy hũ fingimento que o
Poeta aqui fez, como claramente consta da letra». A identificação da Ilha
dos Amores com a Ilha de Santa Helena, já apontada pelo comentarista da
chamada «edição dos piscos» d’Os Lusíadas (1584), deriva certamente do
facto de Fernão Álvares do Oriente, na Lusitânia Transformada (1607), ter
descrito esta ilha seguindo de perto a descrição camoniana da Ilha dos
Amores, como Teófilo Braga acertadamente propôs e como António
Cirurgião minuciosamente demonstrou. Posteriormente, outras propostas de
identificação real da ilha foram formuladas: Faria e Sousa identificou-a com
a ilha de Angediva, Gomes Monteiro propôs a ilha de Zanzibar, Francisco
Freire de Carvalho a ilha de Ceilão, Teófilo Braga, açoriano, advogou a
identificação com a Ilha Terceira, Cunha Gonçalves defendeu a tese da ilha
de Bombaim, a chamada «Ilha da Boa Vida», onde Garcia de Orta, amigo
de Camões, residia e possuía um palácio com um magnífico jardim
botânico, outros terçaram armas por uma das ilhas de Cabo Verde, pela
Madeira, pelas Canárias, etc. Sem prejuízo de Camões ter utilizado
memórias de uma ilha concreta, a ilha dos Amores é uma ilha imaginada e
imaginária, uma ilha simbólica que, como tal, não pode ser identificada
com um referente empírico.
Tem algum sentido, porém, saber se esta ilha simbólica é figurada no
oceano Índico ou no oceano Atlântico, matéria que, relacionada com a
questão anteriormente discutida, tem também suscitado controvérsias. A
narrativa da estância 16 e sobretudo da estância 51 do Canto IX —
«Cortando vão as naus a larga via / do mar ingente pera a pátria amada, /
desejando prover-se de água fria / pera a grande viagem prolongada» — não
deixa dúvidas de que os nautas portugueses avistaram a ilha namorada
pouco depois de iniciada a viagem de regresso, quando era necessário fazer
aguada para a longa navegação que tinham de enfrentar, e, portanto, em
águas do oceano Índico. A localização em águas índicas, todavia, não
impede que a flora da Ilha dos Amores, como demonstrou o Conde de
Ficalho em Flora d’Os Lusíadas (1880), seja de origem e natureza
mediterrânicas, figurando nela quase todas as espécies mencionadas na
poesia greco-latina. A ilha de Vénus é uma ilha que a deusa deslocou do
Mediterrâneo oriental para as águas índicas e é uma ilha cuja paisagem é
pintada com as recordações da flora portuguesa e com as memórias
intertextuais da poesia greco-latina e da poesia italiana renascentista.
Objeto igualmente de múltiplas propostas e sugestões tem sido a matéria
relativa às fontes, aos modelos e às matrizes intertextuais do episódio. A
ilha como espaço de felicidade, de harmonia, de beleza da paisagem, de
amenidade do clima e de fertilidade do solo é um arquétipo fascinante do
imaginário humano, a que deram expressão as «ilhas dos bem-aventurados»
da tradição helénica — veja-se, e.g., Hesíodo, Trabalhos e Dias, vv. 170 ss.
—, as «Ilhas afortunadas» (Fortunatarum insulae) de Santo Isidoro de
Sevilha (Etymologiae, l.XIV, 6, 8), identificadas com as ilhas Canárias, e as
ilhas lendárias, de origem céltica e judaico-cristã, da Navigatio Sancti
Brandani.
Se a ilha é assim um espaço privilegiado, o jardim, com a sua flora
simbólica, as suas flores odoríferas, os seus frutos coloridos, as suas águas
puras, as suas aves harmoniosas, etc., é o locus amoenus por excelência
desse espaço, identificando-se com o paraíso terreal de alguns mitos
orientais e de crenças judaico-cristãs. Pode haver na pintura da «ilha
namorada» d’Os Lusíadas ecos ou sugestões da famosa descrição dos
jardins de Alcínoo, na ilha dos Feaces, que figura no Canto VII (vv. 112-
132) da Odisseia. Como outros prováveis modelos da descrição da ilha
enquanto deslumbrante locus amoenus deverão ser mencionados em
particular textos de poetas italianos humanistas e renascentistas. A
descrição do reino de Vénus, numa ilha do mar Egeu, que se encontra nos
Trionfi de Petrarca (Triumphus Cupidinis, IV, vv. 100 ss.) é uma dessas
prováveis fontes, sendo possível que Camões tenha conhecido a tradução
portuguesa, anónima e manuscrita, do poema petrarquiano, e o respetivo
comentário, publicados em 1974 por Giacinto Manuppella, como
persuasivamente argumenta Vasco Graça Moura. É sobretudo muito
provável, como Faria e Sousa afirmou, que outra fonte da composição da
«Ilha namorada» tenha sido a descrição do palácio e do jardim de Vénus
que figura no poema de Angelo Poliziano intitulado Stanze per la giostra di
Giuliano de’ Medici, de que uma das fontes foi o epitalâmio De nuptiis
Honorii et Mariae de Claudiano, poeta da tarda latinidade (c. 370-c. 404),
cuja obra exerceu considerável influência na poesia do Renascimento
italiano.
Os dois primeiros versos da estância 32 do Canto IX d’Os Lusíadas, nos
quais se relata a labuta incessante dos «mininos voadores» que são os
auxiliares de Cupido, contêm um sintagma, plebe ruda — «Alguns
exercitando a mão andavam / nos duros corações da plebe ruda» —, que
indicia o conhecimento que Camões teria das Stanze de Poliziano, em cuja
estrofe LXXIII (libro primo) se lê: «Lungo le rive e frati di Cupido, / che solo
uson ferir la plebe ignota.» Não se pode excluir, todavia, que a fonte tenha
sido o próprio epitalâmio de Claudiano, no qual se lê que os pequenos
Cupidos plebem feriunt, embora o facto de o sintagma das Stanze ser
constituído, como em Camões, por um substantivo e por um adjetivo,
aponte para que o modelo tenha sido Poliziano. À descrição do jardim de
Vénus do poema de Poliziano haverá que acrescentar as diversas descrições
de jardins que figuram no Orlando Furioso de Ariosto (VI.21 ss.; X. 61-63;
XXXIV.48 ss.).
O escoliasta Manuel Correia anota no seu já citado comentário a Os
Lusíadas que, neste episódio, Camões foi influenciado pelo Somnium
Scipionis, breve texto com que terminava o tratado ciceroniano De
Republica — do qual restam escassos fragmentos — e que foi conservado
graças ao famoso Commentarium que lhe dedicou Macróbio, autor mal
conhecido que terá vivido no século V a. D. A influência do Somnium
Scipionis ter-se-ia manifestado na descrição da sphera mundi, para a qual
Camões teria também colhido elementos no Tratado da Esfera de Pedro
Nunes e no Tratado da Esfera por Perguntas e Respostas de D. João de
Castro. Como já foi assinalado por Manuel Severim de Faria e por Faria e
Sousa e foi corroborado por Costa Ramalho, a parte final do Canto VI da
Eneida, que narra a descida de Eneias ao Inferno, é outra fonte relevante
das visões proféticas que constam do episódio camoniano.
O conhecimento das fontes e das relações intertextuais é importante para
aferir a «enciclopédia» de um autor, na sua dimensão poética,
historiográfica, filosófica, científica, etc., para avaliar o modo como a sua
obra se insere na tradição literária e como manifesta, ou não, a sua
originalidade, e para lançar luz sobre alguns aspetos hermenêuticos, mas
não deve ser erigido, na senda da herança metodológica positivista, em
critério fundamental de acesso e desvelamento da estrutura e do significado
dos textos literários.
A estância 18 do Canto IX narra a última intervenção de Vénus na fábula
do poema. Pela primeira vez, a deidade é aí denominada «Deusa Cípria»,
epíteto derivado de Chipre, ilha na qual lhe era rendido culto (na estância
43 do mesmo canto, o epíteto ocorre nominalizado: «a Cípria»). Vénus, que
recebera de Júpiter («Padre Eterno») a incumbência de favorecer os
navegantes lusitanos, a fim de premiar a glória por eles alcançada com
tantos trabalhos e sofrimentos, desde há muito que pensara em proporcionar
aos seus protegidos, «no reino de cristal, líquido e manso», deleite e
repouso que lhes permitissem «refocilar», isto é, reconfortar e restabelecer,
«a lassa humanidade». Baco, o «Deus nascido / nas Anfiónias Tebas», é
evocado pela penúltima vez no poema a propósito deste prémio que Vénus
quer oferecer aos navegantes, quando a deusa, ao solicitar o auxílio do
filho, Cupido, se refere «às insídias do odioso Baco» que tanto molestaram
os portugueses.
O encontro de Vénus com Cupido, nos montes Idálios da ilha de Chipre,
é um motivo fundamental para o desenvolvimento da ação do episódio e
para a sua interpretação. O deus do Amor andava ocupado nos trabalhos de
uma expedição contra os desmandos, os erros e os vícios do «mundo
revelde» que não obedecia à lei do Amor universal e que por isso amava
idolatricamente coisas que tinham sido concedidas aos homens apenas para
serem usadas. Esta conceção do Amor como princípio regulador e
regenerativo do ordenamento e da harmonia do mundo é de origem
neoplatónica, tendo sido exposta e defendida, por exemplo, por Marsilio
Ficino no seu comentário ao Banquete de Platão — «amor nodus perpetuus
et copula mundi», sublinhou Ficino —, por Pietro Bembo, no livro segundo
de Gli Asolani e por Leão Hebreu em diversos passos dos seus Dialoghi di
Amore. É verdadeiramente singular que, antes de referir e verberar, nas
estâncias 27 a 29 do Canto IX, os desregramentos, as desonestidades e as
torpezas dos responsáveis pela governação do reino e pela ação das
instituições religiosas, Camões consagre a estância 26, a primeira em que se
mencionam os «erros grandes» do «mundo revelde», ao mito de Actéon. Só
a interpretação alegórica proposta por Faria e Sousa, segundo a qual Actéon
se identifica com D. Sebastião, o rei adolescente que tão apaixonadamente
se entregava às lides venatórias que «[fugia] da gente e bela forma
humana», pode explicar e justificar que assim aconteça: D. Sebastião-
Actéon, com a sua misoginia, punha em risco a continuidade da monarquia
portuguesa e, noutro plano, defluente do anterior, denegava o princípio da
universalidade do amor. O poeta, utilizando um discurso retoricamente
hábil e prudente, dirige ao jovem monarca uma admonição, isto é, uma
censura, um aconselhamento e uma prevenção. Estes versos deverão ter
sido escritos em Lisboa pouco tempo antes da publicação d’Os Lusíadas
(1572), quando Camões tomou consciência das preocupações, dos lamentos
e temores que o comportamento do rei originava em largos setores da
população.
As estâncias 26 a 29 constituem uma acusação de grande coragem
política, cívica e ética, formulada contra os poderes políticos e religiosos
que, movidos pelo egoísmo, pela cobiça e pela hipocrisia, esbulhavam,
enganavam e oprimiam o povo e não permitiam, com a sua rede de
adulações, que se mondasse «o novo trigo florescente», isto é, impediam
que o monarca adolescente desenvolvesse a sua governação livre de ervas
daninhas, metáfora que representa os áulicos e os validos hipocritamente
lisonjeadores. É provável que Camões tivesse particularmente em vista a
forte influência na corte dos jesuítas, em especial do padre Luís Gonçalves
da Câmara, confessor do rei, e do seu irmão padre Martim Gonçalves da
Câmara, escrivão da puridade (aos quais já haveria alusões na estância 85
do Canto VII e na estância 55 do Canto VIII). A ênfase colocada, porém, na
defesa do povo é consonante com as ideias e os sentimentos do próprio D.
Sebastião, que em cartas circulares dirigidas às câmaras e aos povos nos
meses de janeiro e de fevereiro de 1569 condenara os abusos cometidos
pelos oficiais da justiça contra «o povo miúdo e gente pobre».
É tão profundamente contraditória, porém, a conceção do amor em
Camões que, logo após a exaltação do amor como princípio ordenador da
harmonia e da regeneração do universo, são evocados os seus malefícios,
desconcertos e efeitos execrandos, verificáveis tanto entre o povo humilde
como entre «heróis de altos estados» (IX.34). A abominação incestuosa,
obsidiante em Camões, está representada por Bíblis, que se apaixonou pelo
seu irmão Cauno, por Mirra (Cinireia) que culposamente amou o seu pai
Cíniras, rei de Chipre, por um mancebo da Assíria, que seria Nínias, que
manteve relações incestuosas com a sua mãe, a rainha Semíramis, cuja
luxúria o poeta condena acerbamente na estância 53 do Canto VIII («amor
nefando, bruta incontinência»), e por um mancebo da Judeia, que foi
Amnon, filho do rei David, violador da sua irmã Tâmar. O amor
desconcertado faz com que poderosos senhores se apaixonem por pastoras,
que grandes senhoras se deixem aprisionar «nas Vulcâneas redes» por
homens «baixos e rudos», que enamorados enlouquecidos esperem as horas
cúmplices da noite ou que subam a telhados e trepem paredes. Algo
paradoxalmente, num episódio em que Vénus propõe ao filho regenerar o
mundo graças ao «fogo imortal» do amor, estes desconcertos, abominações
e desvarios são atribuídos pelo Poeta exatamente àquela deusa: «Mas eu
creio que deste amor indino / é mais culpa a da mãe que a do minino».
O voto formulado por Vénus no discurso dirigido ao seu «amado filho»
tem um significado central na interpretação do episódio da «Ilha dos
Amores»: «quero que haja no reino Neptunino, / onde eu nasci, progénie
forte e bela; / e tome exemplo o mundo vil, malino, / que contra tua
potência se rebela, / por que entendam que muro Adamantino / nem triste
hipocrisia val contra ela; / mal haverá na terra quem se guarde / se teu fogo
imortal nas águas arde». Para além de proporcionar o merecido repouso aos
navegantes cansados e para além de lhes conceder o prémio e a glória
devidos aos seus trabalhos e feitos, Vénus quer que no reino do oceano, em
cujas águas nasceu — águas que simbolizam o poder genesíaco primordial
—, seja gerada uma «progénie forte e bela», dotada do poder de regenerar o
mundo corrompido e mau, graças ao império lustral do amor. Com a
harmonia da sua paisagem, com os primores da sua flora, desde as árvores
às flores e aos frutos — quantas sugestões e alusões sensuais e sexuais nas
suas formas, nas suas cores, nos seus perfumes… — , com o encanto
venatório da sua fauna, a «Ilha Namorada» configura-se como o locus
amoenus que há de ser também o locus eroticus, o leito nupcial da união
amorosa entre as ninfas e os navegantes da qual nascerá a geração redentora
do futuro. O princípio neoplatónico do amor como «nodus perpetuus et
copula mundi» alia-se no episódio à jubilosa sensualidade, sem sentimento
de pecado, e à exaltação dos deleites venéreos, em consonância com a
doutrina formulada nos Diálogos de Amor de Leão Hebreu, nos quais o
neoplatonismo de Marsilio Ficino se conjuga, sob a influência da Cabala,
com a fruição sensual. As ninfas oceânicas, aconselhadas na arte da sedução
erótica pela «mestra experta» que é Vénus, sabem combinar a «flama
feminina» e a «pudicícia honesta», vagueando «como incautas» pela
floresta, tangendo doces instrumentos musicais, fingindo perseguir animais
de caça, banhando os belos corpos nus na «água pura». Os navegantes
lusos, alguns dos quais tinham desembarcado com o pensamento posto em
lides venatórias, em sentido literal, ao avistarem as ninfas astuciosa e
sedutoramente fugitivas, empreenderam uma voluptuosa caçada de amor.
Ao longo da manhã e da sesta, soaram na floresta os «famintos beijos», o
«mimoso choro», os «afagos tão suaves», a «ira honesta» que se desfazia
em «risinhos alegres», numa genesíaca comunhão de prazeres inflamados
por Vénus. Após o doce conúbio, as ninfas executaram um simbólico ritmo
nupcial: exornaram os mareantes com grinaldas de louro, ouro e flores,
entregaram-lhes as alvas mãos como esposas e «com palavras formais e
estipulantes», isto é, com palavras que firmavam um compromisso,
prometeram-lhes «eterna companhia / em vida e morte».
Este simbólico rito nupcial foi culminado pela aparição de Tétis, filha de
Celo (Urano) e de Vesta, segundo Camões equivocadamente afirma — era
filha, sim, de Urano e de Geia —, esposa de Oceano, que recebe Vasco da
Gama com grandeza e decoro — «com pompa honesta e régia» —
condizentes com a sua condição de «senhora grande e egrégia». Esta deusa
Tétis (Tηθύς), que não deve ser confundida com a nereide Tétis (θέτις),
esposa de Peleu e mãe de Aquiles, a quem o gigante Adamastor consagrou
o seu infeliz amor, fora no consílio dos deuses marinhos apoiante de Baco
contra a empresa marítima dos Portugueses e, por isso, a modificação do
seu comportamento, graças às intervenções de Vénus, de Cupido e da
Fama, significa que o poder do mar se tinha submetido ao império de
Portugal. Na estância (IX.86) em que o poeta narra o encontro de Tétis com
Vasco da Gama, ocorre quatro vezes o adjetivo «alto» com um significado
valorativo, axiológico: «alto exórdio», «alta graça», «alta influição», «alta
profecia». Esta reiteração adjetival assinala um tempo teofânico, um tempo
em que deuses superiores manifestam o seu poder e a sua magnificência e
proporcionam aos heróis, como prémio e recompensa dos seus feitos,
ascender a uma existência sobre-humana. Simbolicamente, Tétis tomou a
mão de Vasco da Gama, subiu um «monte alto e divino» no qual se erguiam
esplendorosos paços de cristal e ouro e aí, no resguardo da sumptuosa
residência, passaram grande parte do dia «em doces jogos e em prazer
contino», enquanto as ninfas e os mareantes continuavam a lograr os seus
amores «pelas sombras, entre as flores». Como Helmut Hatzfeld observou,
a união amorosa de Tétis e de Vasco da Gama pode comparar-se à união
simbólica do doge de Veneza com o mar, a cujas águas o senhor de São
Marcos lançava um anel esponsalício (HATZFELD 1975, p. 233).
A narrativa erótica do episódio da «Ilha dos Amores» atinge o clímax na
estância 87 do Canto IX, porque a estância 88 inicia já a transição para a
alegorese desenvolvida na estância 89 e seguintes, segundo a qual as ninfas,
Tétis, a «Ilha angélica pintada» e os seus deleites significam as honras, os
prémios, os triunfos e a glória concedidos aos heróis que, pelas suas obras
valorosas e pelos seus sacrifícios, mereceram subir ao Olimpo, «sobre as
asas ínclitas da Fama». Esta alegorese, que se conjuga com a conceção
evemerista dos deuses pagãos exposta nas estâncias 91 e 92, torna
dificilmente contestável que a narrativa erótico-simbólica da Ilha dos
Amores represente uma utopia, não no sentido estritamente moresiano do
termo e do conceito, mas no sentido lato que a palavra alcançou nos séculos
XIX e XX, desde Charles Fourier até Ernst Bloch: perante a degradação e a
miséria do mundo presente, floresce o sonho de o regenerar e ergue-se a
esperança do advento de um futuro mais justo, mais harmonioso e mais
feliz. As estâncias finais do Canto IX (92 a 95), que constituem uma
veemente apóstrofe exortativa endereçada a destinatários nomeados
pronominal e verbalmente com a segunda pessoa do plural, os quais
representam os detentores do poder político, os conselheiros do rei, os
responsáveis pela administração pública e os cavaleiros e homens de armas,
explicitam os valores éticos e políticos configuradores da utopia: a
reprovação da ociosidade, a condenação da cobiça e da tirania, a
administração de leis justas e estáveis que protejam os súbditos mais frágeis
e pobres, o destemor bélico contra os inimigos da Igreja de Cristo, o serviço
leal prestado ao rei, quer com o aconselhamento bem ponderado quer com
as armas rutilantes. Deste modo, o reino ficará mais poderoso e mais rico, o
monarca ganhará glória, os seus servidores na governação, na justiça e nas
armas hão de fruir riquezas merecidas e honras ilustres e, acima de tudo,
com o título de «heróis esclarecidos» serão recebidos na «Ilha de Vénus».
O episódio mítico-erótico da Ilha dos Amores, o episódio que, pela sua
sensualidade, tem sido severamente julgado pelos leitores, pedagogos e
críticos moralistas e que Voltaire comparou a «un musico d’Amsterdam»,
termina no Canto IX, mas o macroepisódio, digamos assim, tem
desenvolvimentos relevantes até à estância 143 do Canto X. Este canto, que
se inicia com uma bela perífrase cronográfica do declinar do dia, descreve
nas estâncias iniciais o sumptuoso banquete nupcial que, nos paços da Ilha,
se realizou em honra dos marinheiros portugueses e das formosas ninfas,
sob a presidência de Tétis e de Vasco da Gama. As esplêndidas iguarias, os
vinhos odoríferos, a fulgente baixela de ouro, os ditos engenhosos e a
música encantatória deste banquete nupcial sobrelevaram os famosos
banquetes oferecidos por Cleópatra a Júlio César e a Marco António. Foi
durante o banquete que uma bela Ninfa, acompanhada por suaves
instrumentos musicais, ergueu o doce canto para exaltar muitos heróis
celebrados na estância liminar d’Os Lusíadas e que são posteriores à
chegada à Índia da armada de Vasco da Gama — aqueles heróis que «entre
gente remota edificaram / novo Reino que tanto sublimaram» — e para
narrar profeticamente os acontecimentos que, no plano da história, haviam
de ocorrer após o regresso ao reino daquela armada. Esta narrativa
profética, ou proléptica, dá a conhecer as glórias futuras do «peito ilustre
lusitano», articulando-se com a narrativa das «memórias gloriosas»
evocadas e celebradas por Vasco da Gama no discurso dirigido ao rei de
Melinde e por Paulo da Gama na descrição feita ao Catual das figuras
representadas nas bandeiras de seda expostas na nau capitânia, e com a
narrativa dos feitos heroicos do tempo presente, da descoberta do caminho
marítimo para a Índia, que é efetuada parcialmente pelo próprio Vasco da
Gama no mencionado discurso e pelo narrador extradiegético que se
identifica com o autor textual. A narrativa proléptica da Ninfa,
fundamentada em termos de verosimilhança da fábula mitológica na visão
concedida por Júpiter a Proteu, divindade marinha oracular, que no fundo
do oceano vaticinou os eventos que a Ninfa recolheu na memória e depois
relatou em «clara história», não tem uma função apendicular na lógica e na
economia da epopeia, pois constitui uma indispensável parte completiva da
arquitetura global do poema tal como ela é configurada na proposição.
Esta narrativa inscreve-se numa temporalidade muito próxima e mesmo
contemporânea de Camões e dos destinatários e leitores do poema, o que
suscitava questões melindrosas relativamente à verdade histórica das
personagens e dos factos, à laudatio poética, aos próprios silêncios e
omissões. O poeta teve consciência da magnitude e das dificuldades desta
parte da sua narrativa épica — «matéria é de coturno, e não de soco», ou
seja, é matéria que requer um estilo elevado e não um estilo baixo ou
vulgar, como sublinha utilizando uma expressão intertextualmente
procedente de Petrarca (Trionfo d’Amore, IV, 88) — e por isso formula uma
segunda invocatio a Calíope, à «minha Calíope», musa tutelar dos poetas
épicos. Esta invocatio está impregnada de melancolia dramática, porque
Camões sente que está a chegar ao outono da vida e que a fortuna e os
desgostos lhe arrefecem o engenho, lhe fazem perder o gosto da escrita e o
conduzem ao rio do esquecimento e do «eterno sono».
A narrativa da Ninfa, evocando heróis como Duarte Pacheco Pereira, D.
Francisco de Almeida, D. Lourenço de Almeida, Afonso de Albuquerque,
Lopo Soares de Albergaria e outros vice-reis, capitães e cavaleiros, é uma
crónica exaltada de heroísmo bélico que representa, como nenhum outro
episódio ou qualquer outra parte d’Os Lusíadas, a dureza, a violência e a
ferocidade da guerra, uma guerra santa, como Camões acentua com
palavras inequívocas. A dimensão ética não deixa de estar presente, porém,
nesta crónica de heroísmo bélico, embora se trate de uma consciência ética
que traduz a condição social e o estatuto militar dos cavaleiros. A estância
24 expõe com clareza a ética heroico-cavaleiresca que Camões advoga: os
reis, acomodados na brandura do estado de coisas e lisonjeados e enganados
por aduladores, não concedem, como deviam, os prémios e as honras a
Ájax, símbolo do valor e da coragem militares, mas sim a Ulisses, símbolo
da eloquência astuciosa («dão os prémios, de Aiace merecidos, / à língua vã
de Ulisses, fraudulenta»).
Aquela estância formula o princípio doutrinário que justifica a severa e
corajosa reprovação da atitude iníqua de D. Manuel para com Duarte
Pacheco Pereira, o «Aquiles Lusitano», que passou os últimos anos da vida
em penosa situação social e económica. Semelhante preocupação ética se
manifesta nas estâncias 45 e seguintes, nas quais censura o rigorismo
justiceiro e cruel de Afonso de Albuquerque, que mandou enforcar um
soldado, de seu nome Rui Dias, por manter relações sexuais com uma
jovem moura. Camões defende o condenado invocando a fraqueza da carne
e a força do amor, mas a sua censura ao «terribil» Albuquerque envolve um
preconceito de género e de raça: o soldado tinha como atenuante o facto de
ter mantido relações sexuais com uma «escrava vil, lasciva e escura».
Concluída a narrativa profética da Ninfa e terminado o banquete, Tétis
culmina a glorificação dos nautas lusitanos ao anunciar a Vasco da Gama e
aos seus companheiros que a «Sapiência Suprema», isto é, Deus, lhes
concedia o singular favor de poderem ver com «olhos corporais» os
segredos da «grande máquina do Mundo», de modo a contemplarem o que
«a vã ciência / dos errados e míseros mortais» não podia ver.
Simbolicamente, Tétis, Vasco da Gama e os nautas lusos subiram um monte
coberto de mato «árduo, difícil, duro a humano trato» — a ascensão neste
terreno inóspito é uma alegoria do esforço e do trabalho necessários para
alcançar o conhecimento — e no cume do monte, onde o mato espesso dava
lugar a um chão esplendente de esmeraldas e rubis, contemplaram um globo
translúcido que representava um «transunto», isto é, uma cópia ou imagem
da «grande máquina do Mundo», descrita segundo o sistema geocêntrico de
Ptolomeu. Na sua longa exposição, Tétis descreve e mostra — são
reiterativas no seu discurso formas verbais como «olha», «vês», «vê» —,
além dos espaços celestes, as diversas regiões do mundo, desde a África e a
Índia até ao Japão e ao Brasil, onde decorrerão «os futuros feitos» lusitanos,
engrandecendo o reino e difundindo a fé de Cristo.
As derradeiras palavras de Tétis retomam o tema originário e nuclear do
episódio da «Ilha dos Amores»: a união amorosa das ninfas e dos
navegadores. Graças ao seu heroísmo, aos seus trabalhos e sacrifícios, os
«segundos Argonautas» mereceram as ninfas como «eternas esposas» e
embarcaram para a pátria amada levando «a companhia desejada / das
Ninfas, que hão-de ter eternamente».
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Silva, Universidade do Minho, 1980; id., Rimas, acrescentadas nesta terceyra impressão [...]
Dirigidas a la inclyta Vniversidade de Coimbra, Lisboa, Pedro Crasbeeck, 1607. À custa de
Domingos Fernandez mercador de libros. Duas edições: Quinas e Esfera Armilar; id., Rimas,
acrescentadas nesta quinta impressão [...] por Vicente Alvarez. À custa de Domingos Fernandez
mercador de libros. Anno de 1614; id., Rimas, segunda parte […] Lisboa, Pedro Crasbeeck, 1616. À
custa de Domingos Fernandez mercador de libros; id., Rimas, primeira, segunda e terceira parte,
nesta nova impressam emmendadas, & acrescentadas pello lecenciado Joam Franco Barreto. Lisboa,
Antonio Crasbeeck de Mello, 1666 [-69]. As três partes têm folha de rosto independente. Também
independentes são a numeração e a editoração de cada uma delas: Primeira parte, ed. de J. F. Barreto,
1666; Segunda parte, ed. de J. F. Barreto, 1669; Terceira parte de Antonio Alvarez de Cunha, 1668;
id., Rimas varias, commentadas por Manoel de Faria y Souza. Nota introdutória do Prof. F. Rebelo
Gonçalves. Prefácio do Prof. Jorge de Sena, Lisboa, IN-CM, 1972, 5 t. em 2 vols. Reprodução fac-
símile da ed. de 1685. Edição comemorativa do IV Centenário da Publicação d’Os Lusíadas; id.,
Obras. Nova edição, a mais completa e emendada de quantas se tem feito até o presente. Tudo por
diligência e indústria de Luís Francisco Xavier Coelho, Lisboa, Luisiana, 1779-1780. 4 t. em 3 vols.
Ed. organizada pelo Padre Tomás de José de Aquino; id., Obras de Luís de Camões. Augmentadas
com algumas composições ineditas do Poeta pelo Visconde de Juromenha, Lisboa, Imprensa
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LUSO (Mito de). Este mitónimo, que está na base do termo Lusitânia
(seja a romana seja a portuguesa), reveste-se de particular interesse para o
estudo da apropriação que os autores quinhentistas, nomeadamente André
de Resende e Luís de Camões, dele fizeram. O nome, que se situa na esfera
do mito, aparece pela primeira vez em Plínio (Historia Naturalis,1.8,
citando Varrão), que escreve: «Lusum enim Liberi patris ac Lysam cum eo
bacchantem nomen dedisse Lusitaniae», isto é: «Luso, filho de Líber Pater,
e Lisa, que em sua companhia participava no cortejo báquico, deram o
nome à Lusitânia.» Não há, contudo, unanimidade quanto à interpretação do
texto de Plínio-Varrão, pois discute-se se Luso e Lisa foram ambos
companheiros de Baco, sendo então nomes próprios, ou se devem ser
entendidos como nomes comuns, a saber, como ludus (jogo) e lyssa (furor),
como alguns defendem. Quem, entre nós, se pronunciou com denodado
empenho sobre estas matérias foi André de Resende, consagrado humanista
português quinhentista, primeiramente na anotação 24 ao Livro II do seu
Vincentius Leuita et Martyr, vindo a lume em Lisboa em 1545, e, mais
tarde, logo a abrir o seu De Antiquitatibus Lusitaniae, postumamente vindo
a lume em 1593, embora elaborado ao longo da vida. Ali cita e comenta a
frase de Plínio, esclarecendo que, em seu entender, «Luso é filho do Pai
Líber e não seu companheiro, como alguns interpretam», considerando Lysa
como companheiro de Baco e observando que o nome de Lusitânia tanto se
pode escrever Lusitania (de Luso), como Lysitania (de Lysa). Ora estas
indecisões quanto à genealogia mítica de Luso e à designação de Lusitânia
ou Lisitânia estão refletidas n’Os Lusíadas de Camões, nomeadamente em
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Vanda Anastácio
OBRAS:
Dialogos de Varia Historia Em que sumariamente se referem muytas cousas antiguas de Hespanha.
E todas as mais notavees, q[ue] em Portugal acontecerão em suas gloriosas Conquistas, antes e
depois de ser levantado, a Dignidade Real. E outras muytas de outros reynos, dignas de memoria.
Com os Retratos de todos os Reys de Portugal. Autor. Pedro de Mariz. Em Coimbra. Na Officina de
Antonio de Mariz. Com Privilegio Real. MDLXXXXIIII.
Historia do Bemaventurado Sam Ioão de Sahagum, Patrão Salamantino, Primeyra Parte. E as
Historias Da Invenção & maravilhas do Sancto Crucifixo de Burgos, E da Paxão da Imagem de
Christo N.R. feyta pelo Sancto Varão Nicodemus. Em as quaes entrão outras muytas, tambem Pias,
& admiraveis. Auctor Pedro de Mariz, Sacerdote Coimbricense. Dedicadas a Sua Excellencia Dom
Francisco de Sandoval & Rojas, Duque de Lerma & Sea, &c. Em Lisboa per Antonio Alvarez. Com
as Licenças & Approvações necessarias. Anno do Senhor M.DC.IX.
Historia Admiravel do Sanctissimo Milagre de Sanctarem. Que aconteceo na Igreja do
Protomartyr Sancto Estevão, em o sanctissimo Sacramento do Altar. Cujas Reliquias milagrosas se
conservão nella ha 345. annos: com muytas circunstancias maravilhosas. Approvada & confirmada
pelo Conselho Geral da sancta Inquisição: pelo Illustrissimo Senhor Arcebispo Metropolitano: &
pelo Dezembargo do Paço de sua Magestade. Com o Retrato & Relação da Imagem maravilhosa do
sancto Crucifixo: que na mesma Villa està. E mais os famosos Milagres, que as Historias notão, que
moverão o Papa Urbano a instituir a festa de Corpus Christi: & outros muytos do mesmo
argumento. Offerecida ao Illustrissimo, & Reverendissimo Senhor, Dom Pedro de Castilho, Bispo,
Capellão Mor, & Esmoler Mor de S. Magestade: & de seu Conselho d’Estado: Inquisidor Geral, &
Vice Rey destes Reynos. Pelo Licenciado Pedro de Mariz, Sacerdote Coimbricense, & Provedor
perpetuo do Hospital da Castanheyra. Com as licenças necessarias. Em Lisboa. Por Pedro Crasbeeck.
Anno 1612. Com Privilegio Real.
Os Lusiadas do Grande Luis de Camoens. Principe da Poesia Heroica. Commentados pelo
Licenciado Manoel Correa, Examinador synodal do Arcebispado de Lisboa, & Cura da Igreja de S.
Sebastião da Mouraria, natural da cidade de Elvas. Dedicados ao Doctor D. Rodrigo d’Acunha,
Inquisidor Apostolico do Sancto Officio de Lisboa. Per Domingos Fernandez seu Livreyro. Com
licença do S. Officio, Ordinario, y Paço. Em Lisboa. Por Pedro Craesbeeck. Anno 1613.
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em terza rima italiana, com perfeito esquema de rima (aba; bab; etc.), vem
um fragmento de 18 versos decassílabos. A seguir, outro fragmento,
também em terza rima italiana, com 90 versos decassílabos. O diálogo entre
os dois pastores (Agrário e Almeno) prossegue sempre em terza rima
italiana, num total de 174 versos. Por fim, a composição termina com dois
versos isolados, que bem sintetizam a obsessão amorosa de Almeno. Há
casos especiais de medida e de ritmo, a saber: verso 42: «com que creciam
as ondas outro tanto». No caso, observe-se a ocorrência de crase
intervocabular nos encontros de creciam + as Verso 168: «trazes a saüdade
ao pensamento». Aqui há diérese em saüdade. O mesmo ocorre no verso
18: «Camanha saudade agora». O modelo seguido por Camões é o da
Écloga II, de Garcilaso de la Vega, além da influência de vários autores
latinos, como Virgílio. Mas nada disso compromete a originalidade do
poema, escrito numa época marcada pela estética da identidade. E, muitas
vezes, a nosso ver, os textos de Camões superam, poeticamente, os textos
tomados como modelo.
A segunda écloga acima referida é: A rústica contenda desusada, com
seus 302 versos decassílabos, dedicados ao duque de Aveiro. Ela combina o
estilo bucólico da tradicional écloga pastoril, com o novo estilo marítimo da
écloga piscatória. Agrário e Halieuto são personagens simbólicas, o
primeiro ligado ao campo, o segundo ligado ao mar. Agrário do monte,
enlouquecido de amor por Dinamene, aqui ninfa campestre, acaba
encontrando-se com Halieuto, o pescador, por sua vez perdido de amores
por Lemnoria, ninfa do mar. Como núcleo poemático bem expressivo, tem-
se a exaltação feita às duas ninfas: a campestre e a marítima. E a longa
contenda termina com o fim do dia.
No segundo tomo das éclogas, de nossa edição crítica, incluímos as
éclogas restantes que integram o corpus minimum, a saber: As doces
cantilenas que cantavam; Passado já algum tempo que os amores; e Que
grande variedade vão fazendo.
E passemos às redondilhas. Com a denominação geral de redondilhas
encontram-se atribuídas a Camões cantigas, vilancetes, cartas, motes,
voltas, esparsas e trovas, todas ligadas à tradição da chamada medida velha,
própria do cancioneiro Geral de Garcia de Resende.
À luz de nossa metodologia, apenas 37 redondilhas (menor e maior)
integram o Corpus minimum, a saber: Amores de ũa casada; A morte pois
que sou vosso; Aquela cativa; Campos bem-aventurados; Da doença em
que ardeis; Dama do estranho primor; De dentro tengo mi mal; Deu
Senhora por sentença; Este mundo es el camino; Falso cavaleiro ingrato;
Há um bem que chega e foge; Justa fué mi perdición; Mas porém a que
cuidados; Menina fermosa; Minina fermosa, e crua; Minh’alma lembrai-
vos dela; Olhai que dura sentença; Os bons vi sempre passar; Perdigão
perdeo a pena; Quando me quer enganar; Quem no mundo quiser ser;
Querendo escrever um dia; Saüdade minha; Se Helena apartar; Sem olhos
vi o mal claro; Sem vós e com meu cuidado/Amor cuja providência
(variante); Se n’alma e no pensamento; Se não quereis padecer; Senhora,
pois me chamais; Senhora, se eu alcançasse; Sôbolos os rios que vão; Triste
vida se me ordena; Venceo-me amor, não o nego; Verdes são as hortas;
Verdes são os campos; Vós, Senhora, tudo tendes; e Vós teneis mi corazón.
Em conclusão, diga-se que os versos de cinco sílabas (redondilha menor)
são espontâneos e populares na língua portuguesa, que é de ritmo geral
trocaico. Como se sabe, as línguas com este ritmo (com vocábulos
paroxítonos predominantes) tendem para os versos ímpares de redondilha
menor; e os versos de redondilha maior (sete sílabas), além dos versos de 11
sílabas, chamados de arte maior. E as línguas de ritmo geral iâmbico
(vocábulos oxítonos predominantes) tendem para os versos pares, como o
octossílabo, o decassílabo e o alexandrino, versos de ritmo importado para a
língua portuguesa, em geral da língua francesa, que é de ritmo iâmbico
dominante. Em suas aulas, Mestre João Ribeiro — eminente filólogo
brasileiro — costumava dizer que os versos de redondilha maior e menor
são tão espontâneos em nossa língua que, até os desaforos e provérbios, são
ditos, em sua maioria, em versos de redondilha menor (Vá plantar batatas!)
e de redondilha maior (Quem tudo quer tudo perde). Note-se ainda que os
versos de redondilha menor, embora apareçam como versos auxiliares de
estrofes compostas, são versos autônomos, em geral resultantes de duas
células métricas. Admite apreciável variedade rítmica, entre as quais a
trocaica e a dactílica. Quanto aos versos de redondilha maior, observe-se
que também eles são espontâneos e populares na nossa língua portuguesa,
apresentando variável esquema rítmico. Em geral, ressalvadas as exceções,
que sempre fazem qualquer regra, levam acento tônico interior na 3.ª ou 4.ª
sílabas, ou na 2.ª e 5.ª sílabas. Esquemas rítmicos: ó o ó o ó o ó o (ritmo
trocaico); ó o o / ó o o / ó o (ritmo dactílico com final trocaico); o ó o / ó o o
/ ó o (ritmo anfíbraco, dactílico e trocaico). Em versificação, no que se
refere ao ritmo dos versos, as denominações usadas pelos especialistas
procuram estabelecer uma natural correspondência entre sílabas longas e
breves, em latim, e sílabas tônicas e átonas, em português. Veja-se que a
língua portuguesa é de ritmo geral trocaico (predominância de vocábulos
paroxítonos) e que a língua francesa, por exemplo, é de ritmo geral iâmbico
(predominância de vocábulos oxítonos). Comprove-se isso, fazendo-se um
levantamento, em qualquer dicionário das duas línguas aqui citadas, da
predominância de vocábulos paroxítonos em português e da predominância
de vocábulos oxítonos em francês.
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Assunção Pinto, O Essencial sobre Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Lisboa, Imprensa Nacional,
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Abel N. Pena
N
NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA (Episódio do). Num episódio nuclear
e medial da organização estrutural d’Os Lusíadas, o monstruoso gigante
Adamastor queixa-se diante do herói épico da viagem para a Índia (Vasco
da Gama) da ousadia dos portugueses, ao viajarem «por mares nunca de
antes navegados», desvendando os seus «vedados termos» e impenetráveis
mistérios (Os Lusíadas, V. 41-48). Decorrente do local geográfico que a
figura representa, com esse discurso profético, indiretamente elogioso, mas
expressamente com a intenção de «castigo» e «suma vingança», ora
particulariza figuras heroicas que dobrarão o seu terrível Cabo das
Tormentas (Bartolomeu Dias e D. Francisco de Almeida) como precursores
do Império português; ora acentua também, em relato ameaçador e
proléptico, as terríveis consequências da futura história trágico-marítima,
que assolará essa destemida «gente ousada», sobretudo na longínqua
carreira da Índia; e a título de exemplo, o discurso do profeta fúnebre
singulariza o destino do infeliz Manuel de Sousa Sepúlveda e o trágico
naufrágio em que irá perecer com a sua família. Por fim, como evocado por
Oliveira Martins (1986 [1872], 181), «a imagem [de Adamastor] desfaz-se
“com um medonho choro”, choro tão aflito e vasto como os rios de
lágrimas derramadas pela nação inteira ao ouvir as histórias trágicas dos
naufrágios».
Desde logo, em comum com o caso do próprio Adamastor, o breve relato
camoniano do episódio de Sepúlveda apresenta uma trágica história
passional: «Era, afinal, mais uma vítima dos desconcertos do Amor, numa
clave trágica que não podia deixar de impressionar profundamente a
sensibilidade lírica de Camões» (CASTRO 2003, p. 26). A história dos feitos
militares deste heroico capitão da Índia, bem como alguns aspetos da sua
vida sentimental, podem averiguar-se em vários cronistas das descobertas
portuguesas da época (Diogo do Couto, Gaspar Correia ou Fernão Lopes de
Castanheda). Casado com D. Leonor de Albuquerque, filha do governador
da Índia, Garcia de Sá, e depois de várias funções e honrarias, Sepúlveda
regressa a Lisboa, em 1552, capitaneando o grande galeão S. João.
Partindo de Cochim tarde demais, com o galeão em deficientes condições
e excessivamente carregado, aguarda-os a fatalidade de uma tragédia
marítima. A desejada ventura é interrompida por um terrível naufrágio junto
à costa de Moçambique. Das circunstâncias pormonorizadas do lastimoso
desastre e do que se lhe seguiu nos dá conta o relato anónimo, logo
aparecido em Lisboa, em 1554, sob a forma de folheto de cordel, com o
título de Historia da muy notavel perda do Galeão grande sam João. Em
que se contam os innumeráveis trabalhos e grandes desauenturas que
aconteceram ao Capitão Manoel de Sousa de Sepulveda. E o lamentavel
fim que ele e sua molher e filhos e toda a mais gente ouueram. O qual se
perdeo no anno de MDLII a vinte e quatro de Junho na terra do Natal em
XXXI graos.
O anónimo relato testemunhal conheceu enorme impacto público no
Reino, ao descrever com tamanha fidelidade e dramatismo os pormenores
da crua tragédia que, além da perda do galeão e das riquezas transportadas,
levou à morte a generalidade dos náufragos, com destaque para Manuel de
Sousa Sepúlveda, a esposa D. Leonor e os seus filhos. A comprovar a
enorme popularidade com que foi lido, o referido folheto conheceu
reedições ou contrafações posteriores (1564, 1592, 1614, 1625, 1633, etc.),
ao mesmo tempo que inaugurou um modelo narrativo — relato ou relação
de naufrágio —, com unidade temática e estrutura narrativa tipificada
(LANCIANI 1979). Foi mais tarde integrado (juntamente com mais 11
narrativas congéneres da segunda metade do século XVI e primeiras décadas
do século XVII) como relato inaugural da não menos popular compilação de
Bernardo Gomes de Brito, História Trágico-Marítima (1735-1736, vol. I,
pp. 1-38). Esta «Coleção de Naufrágios», ordenados cronologicamente, foi
objeto de múltiplas edições modernas e contemporâneas, atestando também
o seu sucesso editorial. No entanto, subsistem diferenças significativas entre
a edição princeps do relato e a sua transcrição pelo compilador setecentista,
variantes que uma edição crítica pode e deve cotejar e analisar.
Como era de prever, os vários lances e o desenlace fatal deste episódio do
naufrágio de Sepúlveda terão comovido intensamente vários escritores
coevos do acontecimento, com destaque para Camões e a referida passagem
d’Os Lusíadas. Chegado a Goa por esse tempo, e tendo ele próprio passado
pela experiência de um naufrágio (metáfora recorrente da sua escrita
poética e do «canto molhado»), o poeta terá possivelmente ouvido o relato
oral do memorável infortúnio, podendo de igual modo ter tido acesso
depois ao folheto impresso. Em Camões, Os Lusíadas e a Renascença
Portuguesa, Oliveira Martins (1986, p. 69) evoca a coincidência: «Aportava
[o Poeta] no Verão de 1553 (Setembro) quando a Goa chegavam as notícias
pavorosas do naufrágio de Sepúlveda.»
Com efeito, a crítica camoniana tem acentuado quer a economia das
alusões históricas quer, sobretudo, a dimensão dramática com que o poeta
recria visualmente a narrativa funesta de Sepúlveda. Estudiosos como
Aníbal P. Castro (2003, pp. 25, 27) realçam mesmo a «proximidade textual»
entre a edição princeps do relato (1554) e as três breves e célebres oitavas
da referida passagem da epopeia camoniana (Os Lusíadas, V.46-48),
sublinhando como «os dados essenciais da tragédia foram cuidadosamente
aproveitados» pelo poeta para a recriação do dramático e futuro lance.
Nesse intuito, pela boca de Adamastor, Camões visualiza, cénica e
emotivamente, o perfil heroico e amante do cavaleiro; o retrato da esposa
apaixonada; a presença dos filhos inocentes; a tragédia do «cru naufrágio»;
as enormes provações e «trabalhos excessivos» sofridos em terra pelos
sobreviventes na longa caminhada pela sobrevivência através da hostil selva
africana; a violência da fome, do frio, dos animais selvagens; a violência
dos nativos e a cena da nudez de D. Leonor; e, após uma tremenda via
dolorosa, a morte final dos corpos abraçados (ficção poética) dos
protagonistas, acompanhada da platónica libertação das suas almas.
Perante a intensa encenação de tamanha desventura, e sob o iniludível
fundo trágico de um «negro fado», estas três estrofes constituem o
momento culminante do discurso do Adamastor; e reelaboram matéria
histórico-factual dentro da clave épica, acentuando sobretudo a sua
dimensão mais lírico-passional e a temática do amor. Mais do que ficar
preso aos imensos pormenores da verdade histórica daquele funesto evento,
a mestria de Camões seleciona criticamente e com assinalável economia
dramática os excecionais elementos que melhor configuram a concentração
do pathos do quadro trágico. A paixão amorosa e o heroísmo audacioso têm
um preço alto, sendo celebrados num estilo elegíaco e mitificador.
Pelo realismo dramático do relato do naufrágio editado em 1554, bem
como pela económica, tensa e impressiva releitura camoniana, compreende-
se perfeitamente o número de edições deste relato trágico ou da coletânea
de Bernardo Gomes de Brito; mas sobretudo a enorme fortuna literária que
o episódio do naufrágio de Sepúlveda conheceu ao longo dos quatro séculos
seguintes da literatura portuguesa. De Jerónimo Corte-Real e sua longa
composição em verso heroico, O Naufrágio e Lastimoso Sucesso da
Perdição de Manuel de Sousa de Sepúlveda [...] (1594), ao romance
contemporâneo de Vasco Graça Moura, Naufrágio de Sepúlveda [1988], a
matéria narrativa do naufrágio de Sepúlveda transformou-se em tema
literário, inspirando variadíssimos autores, textos e géneros (narrativa,
teatro, poesia, música, pintura, etc.), num intenso e prolongado processo de
reescrita intertextual e interdiscursiva (ver ARES MONTES 1979; BARCHIESI
1976; MARTINS 1997). De permeio, muitos outros autores se inspiraram
neste tema, com destaque para: Luís Pereira Brandão, Elegíada (1588); Frei
Jerónimo dos Santos, Etiópia Oriental (1609); Diogo do Couto, Décadas da
Ásia (VI, caps. 21 e 22, 1616). Ainda nos séculos XVII e XVIII, o naufrágio
de Sepúlveda inspirou também tragédias novilatinas e outros textos
dramáticos, dentro e fora de Portugal. Por exemplo, conheceu ecos
interessantes em autores como Nicolas Chrétien des Croix, Francisco de
Contreras, Lope de Vega, Tirso de Molina, Nicolau Luís, Nicolau Avancini,
entre outros, além de traduções para outras línguas.
No século XIX, a difusão do tema é particularmente visível em António
Oliveira Marreca, Manuel de Sousa Sepúlveda (1843); Camilo Castelo
Branco, sobretudo em Tragédias da Índia, texto redigido em continuação de
A Corja [1880]. Já contemporaneamente, o episódio de Sepúlveda
reaparece em Afonso Lopes Vieira, poema «Saudades Trágico-Marítimas»,
em Ilhas de Bruma (1917); José Agostinho e o romance histórico, Tragédia
Marítima (1927); Miguel Torga, especialmente, «História Trágico-
Marítima», em Poemas Ibéricos (1965); do brasileiro Carlos Alberto
Nunes, Adamastor ou o Naufrágio de Sepúlveda (São Paulo, 1972);
António Lobo Antunes, As Naus (1988); Orlando Neves, Loca Obscura: o
Pranto de Leonor de Sepúlveda (1994); e Miguel Real, A Voz da Terra
(2005), entre vários outros exemplos de continuada fortuna literária.
Em alguns destes e de outros autores, mesmo quando o episódio de
Sepúlveda de Camões não é explicitamente convocado, é possível
pressenti-lo sob a forma de atuante subtexto. É o caso, entre outros, do
conhecido soneto camoniano de Bocage, «Adamastor cruel! De teus
furores». Alguns anos antes, também Francisco José Freire (Cândido
Lusitano) asseverava na sua neoclássica Arte Poética (1768): «A imagem
com que este Poeta [...] representa o lastimoso fim da mulher de Manuel de
Sousa Sepúlveda arrebata a todo o que tem paladar delicado no gosto da
Poesia.» Uma coisa é certa — o naufrágio de Sepúlveda tornou-se a mais
célebre narrativa da variada crónica da História Trágico-Marítima de
naufrágios, enraizando-se mesmo num certo imaginário cultural português
como o naufrágio por antonomásia.
Nesta invulgar projeção nacional e internacional do naufrágio de
Sepúlveda, ao longo de um tão longo arco temporal, tiveram relevância a
dramaticidade do caso, as cenas memoráveis do relato quinhentista, o
registo emocionado e testemunhal e ainda o estatuto social dos
protagonistas. Porém, o tratamento camoniano de tema tão dramático em
Os Lusíadas teve um papel absolutamente decisivo, no sentido da sua
mítica imortalização. Ou seja, a popularidade do episódio de Sepúlveda
beneficiou imenso da pioneira canonização de Camões, que o eternizou na
sua epopeia.
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Se só no ver puramente,
me transformei no que vi,
de vista tão excelente
mal poderei ser ausente
emquanto o não for de mi.
Porque a alma namorada
a traz tão bem debuxada,
e a memória tanto voa
que se não a vejo em pessoa,
vejo-a n’alma pintada.
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Helena Langrouva
O
ODES. As odes camonianas assumem o seu pleno significado quando
histórico-literariamente integradas no movimento mais geral que fez
renascer a ode clássica como reação ao domínio manifesto do petrarquismo
na construção e expressão do mundo lírico. O equilíbrio que nobilita os
temas tratados nas odes, a graciosidade do discurso sóbrio e culturalmente
significativo, contrastam vivamente com a tensão e angústia tensa com que
outros géneros (nomeadamente a canção) se abrem nas Rimas à análise
introspetiva e ao grito do infortúnio e desconcerto do poeta.
Em termos gerais, Camões consegue estabelecer uma distinção muito
nítida entre a canção e a ode, os dois géneros poéticos que em si condensam
a nobreza do canto lírico. Para o poeta de Quinhentos, a canção é um
género moderno. Se bem que tenha origem na literatura trovadoresca e se
tenha imposto com Dante, concebia-se ligada a Petrarca, que lhe deu
importância nuclear no seu Canzoniere, e aos poetas petrarquistas. A ode,
pelo contrário, encontra as suas raízes e modelos mais nobres na
Antiguidade Clássica.
Nasce daqui uma das principais dificuldades de composição da ode,
sentida também por Camões. Com efeito, é necessário pensar que, em
meados do século XVI, o português, como as restantes línguas vernaculares,
dava novos moldes à sua feição literária, e a adoção de novas formas
poéticas, associadas a novos ritmos e imagens, decorria sob a égide do
petrarquismo e do seu entendimento do homem. Assim, à contensão
característica do lirismo clássico (ou da imagem que dele formavam os
quinhentistas), implicada pela revivescência da ode, opunha-se a análise
casuística da paixão e do desequilíbrio sentimental, numa introspeção
exaustiva e minuciosa de sentimentos apaixonados.
É natural que Camões não se subtraísse inteiramente à interpretação
petrarquista da vida social e ao modelo cultural por ela imposto, bem
evidentes na composição do ideal feminino adotado, por exemplo, ou na
compreensão da sua própria condição de amante desprezado, que, embora
tenha antecedentes na poesia latina, apresenta os contornos culturais da sua
época. Ao mesmo tempo, ainda que a emulação literária lhe sugerisse
também atitudes e temas a imitar, e a Antiguidade Clássica fornecesse um
imaginário e uma linguagem a explorar, a perspetiva de vida e moral que
dimana das odes é a de uma civilização e doutrina cristãs.
De qualquer forma, as odes constituem um grupo de poemas muito
singular, e, ao contrário do que sucede na obra de outros poetas coevos, a
contaminatio que por vezes se faz sentir entre a ode e a canção não
descaracteriza cada um destes géneros. Para isso contribui a perceção da
função desempenhada pela escolha e adoção de regras poéticas e formais na
criação do clima emocional que convém à ode. As odes camonianas são
poemas pouco extensos, sem commiato, compostos por estâncias curtas
(cinco, seis ou sete versos, não obstante o exemplo de Bernardo Tasso
autorizar o emprego de estâncias mais longas), que combinam versos
decassilábicos e hexassilábicos, e impõem ao poeta um ritmo calmo e
gracioso, propício à elevação do tom e dos temas adotados. Torna-se pois,
natural, a presença de vocabulário com sabor classicista e poético
acentuado, em que as palavras esdrúxulas são frequentes, e o tom empregue
se harmoniza com a elevação sentimental ou cultural manifestada.
As odes camonianas oferecem matizes de compreensão do mundo
diferentes das apresentadas em outros géneros. Desde logo, as queixas de
amor são refreadas por um sentimento muito forte da convenção e da
adequação do sentimento a um género em que, por tradição sublinhada
também pela ode novilatina, predominam o equilíbrio e a arte. Mais do que
a valorização das atribulações de uma história pessoal, ou a sua análise,
sobreleva o serviço de amor, que apaga as particularidades do sofrimento e
as alegrias do servidor. Há, pois, lugar para a declaração sentimental e o
louvor da Senhora, a suavidade graciosa do galanteio, numa aceitação das
leis do amor que seria impensável encontrar nas canções, mais
caracterizadas por um amor tempestuoso e por uma análise que põe em
relevo a desmesurada fragilidade do poeta perseguido pela crueldade do
amor e do destino.
Direta e indiretamente, as odes de Camões devem muito a Horácio, que é,
no mundo literário de Quinhentos, a matriz e modelo deste género adaptado
às línguas vernáculas por Bernardo Tasso. No entanto, o espírito que anima
a maior parte dos poemas de Camões afastam-no muito do venusino,
mesmo quando o texto deixa transparecer a sua presença ou quando a
reflexão se inspira na consideração de circunstâncias idênticas. Assim, por
exemplo, às odes camonianas Já a calma nos deixou e Fogem as neves frias
subjazem as chamadas «odes da primavera» horacianas (I, 4 e IV,7 e 12),
que se desenvolvem a partir da observação da mudança provocada pelo
tempo na natureza. Mas a semelhanças retóricas e estilísticas corresponde
uma alteração radical do sentido da reflexão. A fugacidade do tempo, que
em Horácio conduzia, num apelo pagão, ao convite ao carpe diem, ao gozo
despreocupado do dia que se escapa, torna-se na Ode IX de Camões, Fogem
as neves frias, motivo de religioso recolhimento e submissa aceitação da
fragilidade humana. O poeta sabe-se homo viator que neste mundo procura
conquistar a felicidade eterna, e, por conseguinte, o fim moralizante que
preside à composição toma uma feição cristianizada («que a bem-
aventurança, / durável de outra sorte, / se há-de alcançar na vida para a
morte»). A dignidade do mundo antigo é explorada, com efeitos decorativos
e poéticos, quando a cultura mitológica preside à descrição da natureza
primaveril, enquanto os exemplos colhidos na história da Antiguidade vêm
num segundo momento dar prova da vanidade da glória humana, com um
claro efeito de amplificação da evidência.
Por seu turno, na Ode XIII, Já a calma nos deixou, a mesma da mudança
cíclica da natureza, em que se vai vendo o avanço do ano nas modificações
dos campos e na notação mítica do calendário, vai impulsionar a afirmação
de galanteio do poeta que, enamorado, não receia as mudanças da Natureza,
nem do Amor nem da Fortuna, e lhes contrapõe a constância do seu
sentimento. O apurado sentido decorativo e a agudeza do poeta manifestam-
se quando consegue caracterizar a mudança que vê operar-se em si mesmo
através de vocabulário e imagens semelhantes às que utilizou para
descrever a natureza.
Um dos mais atrativos elementos da literatura clássica, que vem a ser
poeticamente recuperado a partir do Renascimento, reside no imaginário
mitológico que se lhe associava, e permitia que, de uma forma figurada, se
representassem os conflitos e os problemas essenciais do homem. Nas odes
camonianas, a presença da mitologia tinge com uma nota de licenciosidade
pagã e humanista a imaginação, sendo-lhe atribuída uma função sobretudo
decorativa e lúdica. Com efeito, mais do que carrear o peso do indizível
que, em geral, significa na restante lírica, nas odes, a alusão mitológica
acentua o pendor cultural e artístico do género, reforçando o efeito de
distanciamento estético e dando ao lirismo a elevação de uma expressão
intelectualizada e culturalmente partilhada. Por isso pode apresentar-se
como exemplo que permite ao poeta a comunicação do sofrimento
inexprimível (Ode II, Se de meu pensamento), ou ser simples ilustração dos
seus argumentos, levando pela evidência à conclusão (o caso da discutida
Ode IV, Fermosa fera humana).
Mas, acentuando o caráter de revivescência cultural, a efabulação
mitológica pode também desenvolver-se no texto e tomar o caráter de
evasão lúdica, à semelhança do que acontecia na ode novilatina. Assim, a
Ode XI, Naquele tempo brando, integra-se na tradição do epillyon e, como
é também muito frequente na literatura novilatina, a narrativa de um
episódio mitológico dá abrigo à expressão de uma sensualidade intensa.
O tom classicizante que caracteriza o género não impede que em algumas
odes camonianas o petrarquismo seja elemento de análise e validação das
atitudes expressas. Nesse aspeto, a Ode V, Nunca manhã suave, impõe-se
pela conjugação harmoniosa de imagens e atitudes típicas do petrarquismo
com as exigências formais do género (ainda que alguns preceptistas
pudessem censurar este poema pela sua extensão excessivamente curta).
Todavia, criam-se também situações de desequilíbrio, quando se torna
impossível a conciliação de duas maneiras tão distintas de apreender o
mundo e o homem, como são, na sua imagem simplificada, a petrarquista e
a clássica. É o que se verifica, por exemplo, na Ode III, Se de meu
pensamento, em que o lirismo pessoal e o emprego do imaginário clássico
não se conseguem conjugar, não por deficiência das alusões mitológicas,
mas antes porque a agitação do poeta, moldada pelos valores do
petrarquismo, não encontra expressão adequada no ritmo da lira, esquema
estrófico adotado da ode Ad florem Gnidi de Garcilaso de la Vega e tão
apropriado a apoiar o tom sereno e límpido exigido pelo género.
O choque entre duas configurações mentais encontra-se também na Ode à
Lua, Detém um pouco, Musa, o largo pranto, em que o poeta, apesar de
parte da imitação de uma outra ode em que impera o mundo do classicismo,
a III de Bernardo Tasso, não alcança subtrair-se à sensibilidade petrarquista
e até aos próprios moldes da canção (a estância final, com uma interpelação
à noite, oferece pontos de paralelismo com o commiato típico da canção).
No entanto, neste caso, o resultado é surpreendente, e Camões consegue,
num poema esteticamente muito feliz, responder às expectativas abertas
pela ode enquanto género literário e, ao mesmo tempo, manifestar uma
sensibilidade moderna. No centro da composição, encontra-se a fábula
mitológica da paixão da Lua pelo pastor Endimião. Alterando-a, talvez
porque preso a convenções socioculturais em que a atitude ativa de Délia
não seria aceitável, o poeta inverte os papéis da Lua e de Endimião: na sua
versão, será a Lua a ser requestada pelo pastor com quem o poeta se
identifica (a interpretação de Faria e Sousa), e, como não se apaga a
memória do mito, os versos alimentam a possibilidade de o amor do poeta
ser correspondido. Neste clima de intensa ambiguidade, alimentada ainda
pela interpelação final à noite, «secreta amiga», a fábula mitológica, a
realidade presente e modelos literários confundem-se, impedindo que a
interpretação seja nítida ou se prenda definitivamente a um dos planos em
jogo. Por exemplo, a partir do momento em que o leitor estabelecer a
identificação entre Délia e a mulher amada, todos os pormenores da
descrição da lua e do céu, em que se confundem sincreticamente os
atributos de Délia, da lua e da amada, passarão a aplicar-se também ao
retrato feminino impresso por Amor no peito do poeta e terão de se ler
também como louvor e encarecimento. Forma-se assim um quadro
luminoso, engrandecido pelas sucessivas evocações feitas, e também pela
construção frásica e vocabulário empregue. Quando a própria escuridão se
torna sinal de alegria, não se permite que o desespero tenha uma expressão
direta, gritada. Os traços do triste amante petrarquista, desenganado pelo
Céu — pela lua, mas também pelo destino —, atenuam-se perante a suave
invocação da noite, feita ao jeito da commiato de uma canção, e com o
distanciamento próprio da ode.
Na criação do ambiente idealizado em que prevalece o equilíbrio, por
tradição associado às raízes clássicas do género, a natureza desempenha um
papel essencial. Nas odes camonianas, a sua caracterização parece
manifestar a confiança depositada pelo poeta no poder da arte e do espírito
humano. O cenário é concebido segundo um ideal preexistente, que realça a
perfeição e a harmonia. Assim, os elementos singularizados encontram-se
na sugestão dos textos modelares, e o seu caráter paradigmático é
corroborado pela adjetivação, que sublinha os traços essenciais e caracteriza
sem particularizar o objeto descrito: veja-se, por exemplo, que as flores da
Ode II têm a graça costumada enquanto a rosa é fresca, as árvores sombrias
na Ode IX; a manhã é, na Ode V, suave, o dia apresenta-se luminoso, na
Ode XI, enquanto a aurora é suave, fresca e fermosa na Ode II. O esplendor
da natureza pode, pois, aliar-se à Poesia na celebração da beleza da amada,
idealizada, ela também, e manifestação de perfeição espiritual.
Dir-se-ia que a paz e a tranquilidade, que debalde se procuraram na
maioria das éclogas (onde de acordo com a convenção do género seria
natural a sua presença), não se encontram numa natureza espontânea em
que o homem participa liricamente, mas antes naquela que o homem
concebe como artifício de perfeição. É pela criação desse mundo
idealizado, permanente, que as odes camonianas conseguem eternizar o
momento fugaz, criando um equilíbrio que vem dar expressão à harmonia
mundi, à harmonia do mundo que o Renascimento concebera.
Conjugando literariamente a estilização do mundo com uma atitude de
distanciamento estético, a ode impõe ao mundo humano e natural a
harmonia, pelo que se torna um género apropriado para a expressão do
sentimento, nobilitado não só pela pureza individual, mas também pelo
encarecimento da sua dimensão filosófica. A ode torna-se, portanto, o
espaço adequado para a exaltação de um amor que seja fonte de harmonia
universal e cujo alcance não se atenha a um significado de natureza
psicológica. Camões compreende-o; e se em éclogas, sonetos e canções é
confrontado com as contradições do amor, na Ode VI, Pode um desejo
imenso, explana com limpidez que o amor se torna fonte de entendimento,
quando um «longo apartamento», permite a espiritualização e converte em
«graça pura» os traços do retrato ditado pela memória. Num jogo verbal em
que o verbo ver toma conotações diferentes, o poeta vai evocando os traços
perfeitos do ideal feminino que os «olhos ausentes» não veem, para lhes
contrapor o que veem; essa imagem acaba por se resumir num inexplicável
«não sei quê» que, à luz da valorização neoplatónica do Amor, compreende
ser «raio de divina fermosura». Na conceção de amor exposta na Ode VI, o
petrarquismo, de acordo com a lição de Bembo e Castiglione, foi já
reinterpretado à luz do neoplatonismo e é fonte de perfeição, trazendo
consigo o entendimento e elevando o homem acima da esfera terrena.
Na nobreza do género e na sua natural ligação com a imagem do mundo
clássico, Camões encontrou possibilidade de atender às circunstâncias do
empírico e, com dignidade, de conciliar o encomiasmo e o pedido de
proteção, ou o agradecimento da proteção recebida. Na Ode VIII, Aquele
único exemplo, dirige-se ao Conde do Redondo, D. Francisco Coutinho,
então vice-rei da Índia; na VII, A quem darão de Pindo as moradoras, a
D. Manuel de Portugal. No primeiro caso, recorre ao exemplo mitológico,
para traçar o panegírico de Garcia de Orta e demonstrar que é obrigação da
alta estirpe e posição do vice-rei favorecer a publicação dos Colóquios dos
Simples e Drogas e o seu autor. No segundo, é o peso da própria cultura
clássica que está presente e torna natural a ressonância grandíloqua de
versos que prometem a fama imortal a D. Manuel de Portugal, devida,
segundo a interpretação corrente da ode, à sua ação mecenática em favor da
publicação de Os Lusíadas.
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Luís de Sá Fardilha
Q
QUEVEDO (CASTELBRANCO), Vasco Mousinho. Poeta português,
que a crítica recente, depois de Aguiar e Silva (Maneirismo e Barroco na
Poesia Lírica Portuguesa, 1971), classifica como maneirista. Terá vivido
entre a segunda metade do século XVI e a primeira metade do século XVII.
Da sua biografia sabe-se apenas que estudou Direito em Coimbra. Na sua
obra, relativamente extensa e variada, versou diferentes géneros poéticos e
outros cultivados na época, com preferência para a poesia épica e o
emblema. O seu soneto Espanta crescer tanto o crocodilo foi publicado na
1.ª edição das Rimas de Camões, esclarecendo-se, contudo, no Prólogo, que
«depois de impresso se soube que não era seu». Expurgado da edição das
Rimas de 1598, voltou a ser incluído no cânone de Camões por Faria e
Sousa, com algumas variantes. Do mesmo modo, o soneto inédito que lhe é
atribuído no manuscrito 581 azul da Biblioteca da Academia das Ciências,
«Em calma estar, contra tormenta armar-me», foi incluído por Teófilo Braga
no Parnaso de Camões (1880). Tendo em conta um dos princípios que
orientou, durante séculos, a constituição do cânone de Camões — um bom
poema deverá pertencer a este autor —, sugerem, desde logo, estas
atribuições erróneas a qualidade da poesia de Vasco Mousinho Quevedo,
que, ainda no século XVII, mereceu menções elogiosas de Faria e Sousa e de
D. Francisco Manuel de Melo.
Vasco Mousinho Quevedo deixou algumas notas relativas à sua poética
nos breves textos que antecedem as suas obras. Destaque-se a associação do
útil e do deleitável, filiada em Horácio, a valorização da alegoria, processo
classificado como «alma» de qualquer trabalho poético, e, tendo já como
referência Aristóteles, a pintura dos «afeitos da humana natureza». Todos
estes aspetos se revelam importantes na sua poesia.
A primeira obra que publicou, Discurso sobre a Vida e Morte de Santa
Isabel Rainha de Portugal e Outras Várias Rimas (1596), é bastante
heterogénea: além do curto poema épico sobre Santa Isabel Rainha de
Portugal, nela se encontram 51 sonetos, um poema em tercetos sem mais
classificação, uma écloga, um conjunto de emblemas, vários romances e
cantigas de mote e glosa em redondilha maior. No poema épico, que arranca
com a evocação do «mar de lágrimas» em que Portugal mergulhou após a
morte de D. Sebastião, Vasco Mousinho Quevedo combina discurso
hagiográfico com passos épicos, de memória da História de Portugal, seus
reis e heróis, e com passos líricos, nos quais, além do poeta (que retoma
versos de Camões em Os Lusíadas), várias personagens e não apenas a
principal, a Rainha Santa Isabel, dão a conhecer o seu espaço íntimo,
habitado de desejos, dores e graves considerações.
O conjunto da poesia lírica revela distintas facetas de Vasco Mousinho
Quevedo: desde o culto do jogo verbal e conceptual (que tanto recorda a
poesia cancioneiril, como testemunha o gosto maneirista do artifício), à
preferência pela comparação, pelo símile e pela alegoria, processos que
subjazem igualmente aos emblemas; desde o poema circunstancial,
dominado pela hipérbole encarecedora, à desencantada constatação da
fragilidade das coisas terrenas ou à vívida pintura do sujeito que a si próprio
se estranha e se persegue, em poemas de apurada e cerebral introspeção;
desde a temática amorosa (que, nos romances, resvala para os excessos
barrocos de lágrimas e suspiros incontáveis) à religiosa e moralista.
Saliente-se a frequência da metáfora do naufrágio e do lexema mal, indícios
de uma mundividência pouco feliz. Não se deteta neste conjunto qualquer
traço de intertextualidade explícita com Camões.
Os emblemas, que Vasco Mousinho Quevedo apresenta como uma
novidade nas letras portuguesas, são sobretudo de caráter moral e religioso
e têm as suas fontes confessadas em Pierio Valeriano e Paradino. Contudo,
o autor bebeu também em Simeoni e Alciato, mas nunca se limitou a fazer
meras traduções ou paráfrases das obras destes autores.
Em 1611 saiu à luz o poema épico Afonso Africano, que tem como tema
central a tomada de Arzila por D. Afonso V. No entanto, o poeta apressa-se
a esclarecer, nas páginas iniciais, a alegoria que lhe subjaz: de facto, toda a
narrativa alude à luta que o varão forte trava contra os inimigos que
tomaram conta da sua alma, até os expulsar e fazer dela um templo de
Deus. Em termos de modelo, este poema vincula-se mais à épica de Tasso
do que a Os Lusíadas (maravilhoso cristão ou alegórico, um só herói,
entrelaçamento de vários episódios bélicos e amorosos ligados à ação
central do poema), embora, em vários passos, ecoem expressões de Camões
(Ó, diz, gente atrevida, ó povo ousado; De valor e de esforço mais que
humano) e sejam retomados elementos de alguns episódios da sua epopeia,
como as despedidas em Belém, o Velho do Restelo, o Adamastor, a
codificação do herói no Canto VI e a Ilha dos Amores, adaptados a novas
situações. Neste poema é também evidente o gosto de Vasco Mousinho
Quevedo pela exploração do espaço psicológico das personagens.
Em 1619 foi publicado o Triunfo del Monarca Filipo III en la Felicissima
Entrada de Lisboa, poema épico em seis cantos, em que, celebrando a visita
deste Rei, Vasco Mousinho Quevedo se ocupa essencialmente da descrição
de arcos triunfais, esculturas, pinturas, empresas, emblemas e hieróglifos
patentes nesta ocasião, ecoando, por vezes, passagens de Os Lusíadas.
Por último, deixou este autor inéditos os Diálogos de Vária Doutrina
Ilustrados com Emblemas, obra que, como o título indica, é constituída por
um conjunto de diálogos, de tom moralizante e religioso, cada um deles
ilustrado por um emblema, que é descrito, mas não desenhado. Estes têm
como argumento episódios da Eneida e das Metamorfoses de Ovídio,
explorados como alegorias de verdades e ditames morais de base cristã.
Em suma, na poesia de Vasco Mousinho Quevedo destaca-se a
preferência pelo visualismo e pela alegoria, processos que se associam a
funções moralizantes e edificantes, e o interesse pelas análises introspetivas,
de alcance psicológico, moral e ontológico, em poemas de apurado trabalho
verbal e conceptual. A influência d’Os Lusíadas faz-se sentir na sua poesia
épica, de forma mais epidérmica que profunda.
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LOS | LUSIADAS | DE LVYS DE CAMOES, | Traduzidos en octaua rima castellana por Benito
Caldera, residente en corte. | Dirigidos al Ilustriss. Señor Hernando de Vega de Fonseca, Presidente
del consejo de la hazienda de su M. y dela Santa y general Inquisición. | CON | PRIVILEGIO, |
Impreso en Alcala | de Henares, por Iuã Gracian. | Año de M. D. LXXX. [reed. em 1986, 1996 e
2007].
LA LVSIADA | DE EL FAMOSO POETA | Luys de Camões. | TRADVZIDA EN VERSO CA |
stellano de Portugues, por el Ma | estro Luys Gomez de Tapia, vezino de Seuilla. | DIRIGIDA AL
ILLUSTRISSI- | mo Señor Ascanio Colona, Abbad | de Sãcta Sophia. | Con priuilegio. | EN
SALAMANCA. | En casa de Ioan Perier Impressor | de Libros. Año de | M.D.LXXX. [Reed. em
1913].
LOS LVSIADAS | DE LVYS DE CAMOES, | Traduzidos de Portugues en Castellano | por
Henrique Garces. | DIRIGIDOS A PHILIPPO | Monarcha primero de las Españas, | y de las Indias. |
EN MADRID. | Impresso con licencia en casa de Guillermo Drouy | impressor de libros. Año 1591.
[Reed. parcial em 1945].
a.2. Edição d’Os Lusíadas comentados por Faria e Sousa:
LVSIADAS DE LVIS | DE | CAMOENS, | PRINCIPE DE LOS POETAS DE ESPA—A. | Al Rey
N. Señor | FELIPE IV | EL GRANDE. COMENTADAS POR MANUEL DE FARIA | i Sousa,
Cavallero de la Orden de Christo i de la Casa Real, | CONTIENEN LO MAS DE LO PRINCIPAL
DE LA HISTORIA, | i Geografía del mundo; i singularmente de España: Mucha política excelente, i
Católica: Varia moralidad, i doctrina; Aguda i entretenida sátira en común a los vicios: I de |
profession los lances de la Poesía verdadera i grave: I su más alto, i sólido pensar. | Todo sin salir de
la idea del Poeta. | Primero i segundo Tomo: | Año 1639. | Con Priuilegio, en Madrid, Por Juan
Sanchez. A costa de Pedro Coello, Mercader de libros. [Reed.: em 1972: Os Lusíadas, comentados
por Manuel de Faria e Sousa, pref. de Jorge de Sena, 2 vols., Lisboa, Imprensa Nacional, 1972].
a.3. Versão manuscrita da tradução de Luis Gómez de Tapia do século XVIII:
La Lusiada | De el Famoso Poeta | Luis de Camoens, | Traducida en verso Castellano | De
Portugués | Por el Maestro Luis Gomez | De Tapia [sl, sd]. Ms. 13811 do Museu Nacional de
Arqueologia e Etnologia.
a.4. Edições da obra poética de Camões traduzida em castelhano ou editada em português no
Estado Espanhol — séculos XIX a XXI:
CAMOENS, Luis de (1818a), Los Lusiadas de Luis de Camoens, traducidos en octava-rima por
Lamberto Gil, 2 vols., Madrid, Imprenta D. Miguel de Burgos [reedições em 1887 (Madrid, Luis
Navarro), 1907 (Madrid, Libreria de Perlado Páez), 1911 (Madrid : Sucesores de Hernando), 1921
(Madrid: Librería de Perlado, Páez y Cª.)].
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Imprenta de D. Miguel de Burgos, 1818.
CAMOENS, Luis de (1818c): Obras poéticas de Luis de Camoens que tradujo al castellano Don
Lamberto Gil, Madrid, L. P. Villaverde. Vol. 3: Rimas. Trad.: Lamberto Gil [reed. com o título
Poesías Selectas de Luiz de Camoens, Madrid, Suc. de Hernando, 1914].
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Pedro Serra
RECEÇÃO DE CAMÕES NA LITERATURA FRANCESA. Século
XVII: ignorância. Causa surpresa descobrir que a obra do maior poeta
português do século XVI, admirada muito cedo em Espanha e em Itália,
ficou em França totalmente ignorada do público culto do tempo, apesar das
literaturas de língua espanhola e italiana serem bem conhecidas. Várias
causas explicam tal ignorância. A primeira é que Portugal era mais famoso
pela sua experiência marítima do que pela sua cultura literária ou artística.
Admiravam-se as façanhas dos navegantes portugueses, invejava-se o rei de
Portugal pela sua riqueza devida ao comércio e às conquistas ultramarinas.
Os primeiros livros portugueses traduzidos então são relatos de viagens ou
obras históricas. Além disso, os franceses na sua maioria mal distinguiam a
especificidade da língua portuguesa na área da Hispania. A união das duas
coroas a partir de 1580 contribuiu para manter essa confusão, que mal podia
incentivar o interesse pelas letras portuguesas. Parece verosímil, porém, que
a epopeia de Camões tenha chamado a atenção de alguns curiosos já no
seiscentos. Disso dá indício a tragédia Les Portugais infortunés, de Nicolas
Chrétien, senhor des Croix, publicada em Rouen em 1608. Apesar de
Chrétien des Croix não citar Camões entre as suas fontes, a leitura da peça
faz pensar que ele conhecia Os Lusíadas, ao menos de modo indireto, talvez
por uma tradução espanhola. Com efeito, além de outros pormenores, no
Prólogo, o génio diabólico que anuncia as futuras desgraças dos
Portugueses tem traços evidentes de Adamastor, e as suas imprecações
contra a ambição imitam as que o Velho do Restelo dirige à «vã cobiça».
Sabe-se também que graças aos embaixadores portugueses, o texto da
epopeia circulou na corte de Luís XIV. Mas salvo erro, o nome de Camões
só surge por primeira vez em francês em 1671, na tradução anónima de uma
Relação Histórica da Descoberta da Madeira, ou seja, quase um século
depois da publicação d’Os Lusíadas. A partir desta data, outras referências
ao poeta aparecem em livros eruditos: Reflexões sobre a Poética do P.e
Rapin (1674), Juízos dos Sábios sobre as Obras Principais dos Autores de
Adrien Baillet (1685). Mas os clássicos franceses pouco gostam da poesia
de Camões. «Os versos dele são tão obscuros que poderiam passar por
mistérios […]. É altivo e faustoso na composição, mas tem pouco
discernimento e pouca rectidão.» escreve o P.e Rapin.
Século XVIII: descoberta e debates. Só no século XVIII se começa
realmente a falar de Camões em França. Já nos primeiros anos do século,
publicam-se em Paris livros em que a História de Portugal é apresentada de
modo autónomo, separada da História da Espanha. Aí provavelmente é
onde Houdar de la Motte acha o assunto da sua tragédia Inês de Castro,
representada em 1723 com grande sucesso, e sucesso durável. Se o autor
leu Camões, nada diz sobre isso. Em câmbio, Voltaire, que mais tarde há de
confessar não ter lido integralmente, fala dele com o seu desembaraço
habitual no seu Ensaio sobre a Poesia Épica (1728). Desgraçadamente,
começa por dar uma biografia cheia de erros (julga que Camões viajou com
Vasco da Gama!), que, na verdade, há de emendar na segunda edição.
Reconhece que a epopeia portuguesa renova o género épico, admira «a
beleza da elocução» e vê em Camões um precursor da «epopeia filosófica»:
o poeta é para Portugal o que Milton é para a Inglaterra. A invenção da
personagem do Adamastor é um acerto, e não há dúvida de que «o fim
essencial dos Portugueses, depois do estabelecimento do seu comércio, é a
propagação da fé». No entanto, «Vénus é quem assume o sucesso da
empresa. Falando a sério, um maravilhoso tão absurdo desfigura a obra toda
no juízo dos leitores sensatos». Voltaire nem menciona o episódio de Inês
de Castro. Mas critica asperamente a presença no poema das divindades do
paganismo ao lado do Deus dos cristãos. Essa mistura parece-lhe chocante e
totalmente irracional. Aponta várias inverosimilhanças, tais como o
episódio em que Vasco da Gama compara as viagens dos Portugueses às de
Ulisses ou Eneias perante o rei de Melinde: como poderia um rei selvagem
conhecer Homero e Virgílio? A descrição da «Ilha da Felicidade» parece-
lhe de um mau gosto extremo: «Uma ilha encantada, cuja deusa é Vénus, e
na qual ninfas afagam os marinheiros depois de uma longa viagem mais se
assemelha a um “músico” de Amsterdão do que a qualquer coisa honesta.»
Julga aberrante a interpretação alegórica proposta pelo autor. A sua
conclusão carece de indulgência: «Na verdade, Camões tem muito engenho;
mas também ao mesmo tempo tem o que se chama falso engenho; este tem-
no até um grau não pequeno: isto o precipita nos mais imensos
despropósitos.» Voltaire escreveu o seu ensaio em Inglaterra. Deve ter lido
Os Lusíadas na tradução inglesa de Richard Fanshaw, ainda inédita na
altura, talvez incompleta, e a sua leitura foi sem dúvida muito superficial.
Mas o crédito do filósofo há de conferir à sua opinião grande autoridade, e a
fama de Camões em França sofrerá duravelmente do seu juízo. Porém, foi
talvez o título do poema camoniano o que lhe deu a ideia do título
definitivo da sua própria epopeia, La Henriade, saída à luz naquele ano de
1728. Os argumentos negativos de Voltaire são repetidos no Grande
Dicionário Histórico de Moreri em 1732, nas Observações sobre os
Escritos Modernos (1735) do Abade Desfontaines, nas Reflexões sobre a
Poesia de Louis Racine (1747), e outros livros que se limitam a copiar sem
mais análise.
Ora, em 1735, por fim, sai à luz, em três volumes, La Lusiade du
Camoëns, traduzida em prosa e comentada por Duperron de Castera. Não se
sabe em que circunstâncias este primeiro tradutor, que conhecia o espanhol,
aprendeu a língua portuguesa. O certo é que ele admira sinceramente a obra
de Camões, não só a épica, mas também a lírica. O seu livro contém uma
biografia do poeta e notas abundantes essencialmente baseadas (ou
copiadas) nos comentários de Faria e Sousa. Como este, Castera ilustra as
diferentes fases da vida de Camões com versos escritos na altura. Alguns
pormenores da biografia procedem de outras fontes, tais como Manuel
Correa ou Manuel Severim de Faria. Castera procura oferecer um retrato
objetivo, físico e moral, do poeta. Já no seu prefácio, anuncia que
responderá às críticas de Voltaire nas notas. A sua tradução afasta-se
frequentemente do texto original, mas tem achados felizes. Apesar de
alguns erros, só raramente atraiçoa o pensamento de Camões. As respostas
a Voltaire, em particular a justificação da presença de divindades pagãs
numa epopeia cristã, utilizam os argumentos de Faria e Sousa: Camões
falou a língua da epopeia, os deuses da mitologia devem ser compreendidos
como alegorias que o comentador desenvolve muitas vezes de maneira
original. Até afirma que as três Nereides que acompanham os navios de
Vasco da Gama «representam as três virtudes que chamamos teologais, a
Fé, a Esperança e a Caridade». A epopeia de Camões traduzida e
moralizada deste modo é assinalada aos leitores de vários jornais literários,
mas as críticas são na maioria negativas, visivelmente influenciadas pelo
juízo de Voltaire. Só o abade Prévost em Pró e Contra (Le Pour et le
Contre, 1735) faz uma análise bem mais positiva e louva as qualidades da
tradução, não sem julgar um abuso querer justificar tudo pela alegoria.
Entretanto, Duperron de Castera responde com firmeza aos censores. O
debate tem a vantagem de chamar a atenção sobre Camões, e de o dar a
conhecer melhor em França. A partir desta data, vários dicionários ou
histórias da literatura falam dele, por exemplo, a História Geral de Portugal
de La Clède (Paris, 1735). O padre Nicéron (Memórias para Servir à
História dos Homens Ilustres, 1737) não apenas utiliza o livro de Castera,
como também emenda a biografia do poeta, fundando-se em Pedro de
Mariz. Montesquieu em O Espírito das Leis (1748) louva sem reserva a
epopeia, observando: «A descoberta de Moçambique, de Melinde e de
Calicut foi cantada por Camões, cujo poema faz sentir algo do encanto da
Odisseia e da magnificência da Eneida.» Pelo contrário, o Abade Delille
escreve na sua tradução das Bucólicas de Virgílio (1769) que «a ilha
encantada da Lusíada se parece muito mais com um lugar de devassidão do
que com a morada dos deuses». Todavia a tradução de Duperron de Castera
vai atraindo leitores: uma reedição sai em 1768, outra em 1785.
No fim do século, vários tradutores propõem novas versões de trechos de
Os Lusíadas. Gaubier de Barrault publica em verso A Morte de Inês de
Castro e Adamastor (1772; a Mlle. M. M. uma Tentativa de Imitação Livre
do Episódio de Inês de Castro (1772). Em 1776, Vaquette d’Hermilly e
Jean-François de la Harpe mandam imprimir uma segunda tradução
completa, La Lusiade de Louis Camoëns, com biografia do autor e notas. La
Harpe, autor provável dessas notas, desacredita asperamente o trabalho de
D. de Castera, apesar de se servir dele sem escrúpulos. Além disso, afirma
terminante: «Camões deixou poesias diversas que não são dignas da sua
fama e não merecem ser traduzidas.» Ora, se Vaquette d’Hermilly conhecia
bem o espanhol (tinha traduzido obras de Quevedo entre outras) e devia ter
noções de português, há sérias dúvidas quanto à competência de La Harpe
em ambas as línguas. Esta tradução, portanto, não é um verdadeiro
progresso com relação à primeira, embora seja geralmente mais elegante e
concisa, até ao ponto de cortar algumas oitavas do texto original. Todavia, a
sua publicação é claro testemunho da notoriedade crescente de Camões.
Será reeditada em 1813 e 1820. Jean Fréron (ou o Abade Grosier?) em O
Ano Literário (1776) aponta os empréstimos procedentes da primeira
tradução e também observa que em França é já bem conhecida a vida de
Camões. Aliás, as referências ao poeta português tornam-se relativamente
comuns. As notícias de obras enciclopédicas ou históricas insistem nas
dificuldades da sua vida, nas injustiças de que foi vítima. Escritores
menores inspiram-se em Os Lusíadas. P. V. J. Berthre de Bourniseaux
escreve uma carta de Dom Pedro a Dona Inês de Castro (1788). Numa
coleção de Viagens Imaginárias (1788) vem «A Ilha Encantada», anónima
mas visivelmente copiada na tradução de Castera. O poeta Florian insere
uma tradução de «O Episódio de Inês de Castro» na sua Miscelânea de
Poesia e Literatura (1793). Théodore Desorgues, no segundo poema das
suas Festas do Génio (1799) põe em cena o regresso a Portugal de Camões
(«O cantor do Gama, de Inês e dos Amores!»). Além disso, foi encontrada
há pouco no Rio de Janeiro uma tradução manuscrita completa de Os
Lusíadas realizada entre 1794 e 1797, em pleno período revolucionário.
Esta tradução anónima, mais fiel do que a de La Harpe, foi adquirida pela
Biblioteca Nacional de Paris. Prova que, apesar dos pareceres pouco
favoráveis, a epopeia de Camões, única obra dele traduzida, acaba por se
impor e seduzir.
Século XIX: a caminho do sucesso. No início do século, Charles Denina
em A Chave das Línguas (1804) é dos primeiros a louvar a obra lírica de
Camões. Porém, a escritora que vai suscitar o interesse dos românticos pelo
autor de Os Lusíadas é Mme de Staël que, em 1811, escreve para a
Biografia Universal de Michaud o artigo «Camões». Ela lera Os Lusíadas
com entusiasmo, a conselho do seu amante, D. Pedro de Sousa Holstein,
futuro duque de Palmela, e fizera o projeto de traduzir com ele o poema
todo. O projeto ficou interrompido depois do corte de relações dos amantes,
mas o artigo renova completamente a representação que os franceses se
podiam fazer de Camões até então. Mme de Staël, na sua biografia, tão
exata e documentada quanto podia ser na época, insiste na imagem do poeta
perseguido pelos homens e a sorte, desgraçado nos seus amores, mal-amado
dos seus contemporâneos. Ela observa que a sua epopeia é nacional pelo
seu conteúdo histórico, e europeia pela atmosfera cavalheiresca que se
desprende dela. Recusa o juízo de Voltaire e justifica o uso da mitologia
pagã ao lado da devoção cristã: «Não nos parece que [esta aliança] produza
na sua Lusíada uma impressão discordante; sente-se muito bem que o
cristianismo é a realidade da vida, e o paganismo o enfeite das festas.»
Lamenta todavia que «este uso da mitologia, assim como algumas outras
imitações das obras clássicas, prejudiquem […] a originalidade dos quadros
que se espera encontrar num poema em que a Índia e a África são descritas
por quem as percorreu em pessoa. Mme de Staël sente estima pela obra
lírica e cita as quintilhas «Sôbolos rios…». Pouco depois, em A Literatura
do Sul da Europa (1813), Simonde de Sismondi ainda repete umas das
censuras dirigidas a Camões por Voltaire: inverosimilhança do relato ao rei
de Melinde, excesso de alegorização. No entanto, admite a mistura dos
mitos pagãos e da fé cristã. Se, como Mme de Staël, lastima a falta de
exotismo e de cor local, explica isso por um sentimento que chega a definir,
sem o saber nomear, a saudade do desterrado que foi Camões. Por outra
parte, Sismondi analisa com subtileza e sensibilidade as Rimas Várias, em
que admira a diversidade rítmica e das quais traduz três sonetos, mas fala
pouco do teatro. O seu estudo é muito parecido com o de Alexandre Sané,
mais breve mas talvez mais profundo, que sai no mesmo ano no Mercúrio
Estrangeiro (Mercure étranger). Nestes primeiros anos do século XIX,
traduzem-se vários trechos de Os Lusíadas, que inspiram também novelas e
poemas. A escolha recai geralmente nos episódios de Inês de Castro,
Adamastor e a Ilha dos Amores. Sismondi propõe uma versão fiel do início
da epopeia (1813). A tradução dos três primeiros cantos sai em folhetim em
O Investigador Portuguez em Inglaterra (que tem também leitores
franceses) em 1814. E Baour-Lormian publica em 1815 Os Doze Valentes
(Les Douze Preux), novela de cavalaria, adaptação em verso do episódio Os
Doze de Inglaterra (c. VI, 43-69).
Em 1817 ocorre um acontecimento decisivo. O editor Firmin Didot, em
Paris, publica uma nova edição de Os Lusíadas, em português, mas com
estampas de grandes artistas franceses, sob a direção do pintor Gérard. O
texto foi preparado com o maior cuidado a partir das edições princeps por
D. José Maria de Sousa Botelho, Morgado de Mateus, que toma a seu cargo
os gastos e distribui gratuitamente o livro às grandes bibliotecas da Europa
e do Novo Mundo, aos soberanos e às pessoas capazes de o estimar. Luís
XVIII recebe um exemplar. Fala-se disso na corte e nos meios cultos. O
público dá-se conta do monumento da literatura portuguesa que são Os
Lusíadas e do lugar eminente de Camões na sua pátria. O acontecimento
suscita um certo entusiasmo pelo vate português. As recensões da edição
são quase todas laudatórias e incluem muitas vezes trechos traduzidos da
epopeia. Raynouard, secretário perpétuo da Academia Francesa, elogia o
génio perseguido em O Jornal dos Sábios (Le Journal des Savants, julho
1818). Outros louvam a beleza das estampas. Na Biblioteca Universal das
Ciências, Belas Letras e Artes (Genève 1818), Simonde de Sismondi expõe
a sua admiração pelo trabalho realizado pelo Morgado de Mateus. Produz-
se uma transfiguração do homem Camões, graças à importante notícia
escrita pelo morgdo. Os amores do poeta, a sua paixão infeliz por D.
Catarina de Ataíde, o seu desterro, a indiferença do rei para com o seu
talento, o escravo javanês que cuida dele, o frade que o assiste nos últimos
momentos: todos esses pormenores comovem o público, embora alguns
românticos continuem reticentes perante a sua cultura «à antiga». Mas entre
poetas mundanos, difunde-se a moda de compor «odes a Camões», muitas
vezes de valor poético medíocre. Vários autores estudam a obra e publicam
ensaios, na maioria superficiais. Notemos que em 1821, Gilibert de
Merlhiac no prefácio da sua tradução da Araucana do espanhol Ercilla,
critica severamente o juízo de Voltaire e ataca sem piedade a Henriade, que
julga muito inferior a Os Lusíadas. E em 1823, Ferdinand Denis em Obras-
Primas do Teatro português apresenta brevemente as peças de Camões, de
menor qualidade que as outras obras, segundo o seu parecer. Na verdade,
são episódios de Os Lusíadas que inspiram composições diversas. No
teatro, a Inês de Castro de Victor Hugo (1818), A Rainha de Portugal de
Firmin Didot (1823) e o Pedro de Portugal de Lucien Arnault (1823)
fundam-se mais na peça de Houdar de la Motte ou nas comédias espanholas
de Bermúdez ou Vélez de Guevara do que na epopeia de Camões. A
primeira, censurada em 1822, nunca foi representada, nem reescrita pelo
seu autor; as outras duas tiveram realmente sucesso. O que também
aconteceu com a Inês de Castro de Mme de Genlis, novela publicada em
1817, em que a autora confessa explicitamente o que deve a Camões; mas
insiste no seu relato na psicologia das personagens, sobretudo na de D.
Pedro. Nos anos seguintes, alguns tradutores oferecem versões mais ou
menos fiéis de fragmentos da epopeia, quase sempre os mesmos. Em 1824,
Ferdinand Denis, cuja estada no Brasil de 1816 a 1819 despertou nele o
gosto por tudo o que toca às culturas ligadas a Portugal, baseia-se
diretamente na biografia de Camões pelo Morgado de Mateus para escrever
o seu Camões e José Índio, biografia romanceada original, escrita em parte
na primeira pessoa. Introduz no texto várias traduções de poesias das
Rimas. Eis uma tentativa, às vezes inábil, mas comovedora de atrair para
Camões um público mais amplo do que o círculo dos cultos.
O Morgado de Mateus tinha autorizado a venda por Firmin Didot, em
1819, de uma nova edição menos luxuosa que a primeira. E depois, ao
longo do século XIX, o texto português de Os Lusíadas vai ser editado pelo
mesmo editor e outros: são pelo menos 12 edições que, entre 1818 e 1899,
reproduzem o texto de 1817. Houve portanto em França um público capaz
de apreciar a epopeia portuguesa na língua original. No entanto, a qualidade
do texto de 1817 deu a Jean-Baptiste Millié a ideia de traduzir de novo o
poema, por causa das inexatidões e erros das traduções existentes, que eram
«belas infiéis». Esse funcionário francês, encarregado de reorganizar a
contabilidade pública em Portugal depois da conquista do País por Junot em
1808, tinha aprendido a língua portuguesa. Apaixonara-se pela literatura
lusa, e, em particular, pela obra de Camões, tendo sofrido um exílio como o
poeta. De regresso a França, quando descobriu a magnífica edição do
Morgado de Mateus, empenhou-se em a traduzir. Travou amizade com D.
José de Sousa Botelho, que releu o texto francês e o ajudou a preparar as
notas e outros documentos. A obra final, que lhe é dedicada, saiu à luz em
abril de 1825. É a primeira tradução que apresenta um título francês exato:
Les Lusiades, ou les Portugais. O prefácio explica o método de trabalho do
tradutor. Vem a seguir uma vida de Camões muito resumida. A tradução,
em prosa, faz corresponder um parágrafo a cada oitava. Cada canto é
seguido de notas de extraordinária erudição, procedentes de fontes
múltiplas: mitológicas, históricas, geográficas, literárias. Vem depois uma
coleção dos juízos sobre Os Lusíadas escritos ao longo dos anos, e, por fim,
a tradução integral da notícia composta por D. José de Sousa Botelho sobre
a vida e a obra de Camões. O livro vai permitir ao público francês ter
acesso a um estudo completo, inteligente e documentado, no qual, sendo a
epopeia posta em relevo, o conjunto da obra é analisado e relacionado com
os contemporâneos do poeta, em particular os italianos. A tradução de
Millié é integral e exata, embora sofra às vezes da adição de figuras de
estilo intempestivas, provavelmente sugeridas pelo professor de retórica
Hippolyte Lefèbvre, encarregado da releitura. As recensões mais
importantes, já em 1825, são muito elogiosas, sobretudo a de Charles
Magnin em O Globo e a de Raynouard em O Jornal dos Sábios, assim
como a de Miel em O Monitor. Esta nova tradução será revista, emendada e
anotada na segunda edição de 1841 por Louis Dubeux, que lhe acrescenta
12 sonetos e duas canções das Rimas Várias e também uma «Notícia sobre
a vida e as obras de Luiz de Camões» de Charles Magnin. O seu sucesso é
durável, já que as reedições se vão sucedendo: 1844, 1862, 1867, 1869,
1871, 1878, 1882 e até 1931.
A partir de então, por conseguinte, torna-se mais fácil para o público
francês a leitura de Camões, pelo menos da sua epopeia. Nos decénios
seguintes, alguns escritores cuja fama não passou à posteridade apoderam-
se do assunto. É antes de tudo o lado melodramático da vida do poeta,
heroico e mal-amado dos seus, o que os seduz. Prova disso, os títulos de
poemas diversos, tais como: Camões Sai Desterrado para Goa (Alfred de
Guyon, 1828), O Adeus de Camões (Pierquin de Gembloux, 1828), O
Naufrágio de Camões (Louis Adolphe de Puybusque, 1828), Camões e o
Seu Negro (Jean Reboul, 1837), etc. Uma nota de Millié sobre D. Pedro
leva Pierre-Ange Vieillard a compor Dom Pedro de Portugal Coroando
Inês de Castro depois da Sua Morte, poema em oitavas e em decassílabos
(O Almanaque das Musas, 1827). Louis Domeny de Rienzi, grande viajante
e admirador do vate português, visitou em Macau a gruta de Camões e
mandou colocar ali o busto do poeta, com alguns versos em homenagem.
Durante a sua estada na China, Rienzi teria traduzido Os Lusíadas em verso
franceses e em oitavas, e teria perdido o manuscrito na viagem de regresso
à Índia, por ser vítima de um naufrágio. O paralelo demasiado perfeito com
Camões torna suspeita a veracidade dessa aventura, mas ela prova a
popularidade crescente do ilustre português. Outro indício: Martin-
Deslandes compôs em 1829 um Camoens, drama histórico em cinco atos,
nunca representado, bem como o drama extravagante Dona Inês de Castro
de Alexandre Hope (1836).
Entretanto surge uma geração de lusófilos autênticos, cujos estudos vão
contribuir para aprofundar e difundir o conhecimento do grande poeta. O
primeiro é sem dúvida Mablin (Beato Mablini), helenista e professor na
Escola Normal Superior, autor de uma Carta à Academia Real das Ciências
de Lisboa sobre o Texto de Os Lusíadas (1826). Depois de confrontar
cuidadosamente os textos das duas edições de 1572, Mablin discute cada
variante introduzida na segunda tiragem, sendo levado a defender a tese de
uma intervenção do próprio Camões sobre a primeira e, portanto, a preferir
a segunda, ao contrário do Morgado de Mateus. Este estudo,
favoravelmente acolhido pela Academia das Ciências, chama também a
atenção em França. Há recensões em O Globo (anónima mas
provavelmente de Charles Magnin) e em O Jornal dos Sábios num artigo de
Raynouard. Pouco depois, em 1826, o jovem Ferdinand Denis publica um
Resumo da História Literária de Portugal, completado por um Resumo da
História Literária do Brasil: mais de 600 páginas ao todo. Neste livro, que
ambiciona estudar a literatura de «um povo de navegantes», Camões tem o
lugar que compete ao seu mérito, a de um farol da literatura europeia.
Ferdinand Denis foi beber às fontes mais certas. Pretende dar uma visão
completa do poeta e da obra. Resume a sua vida, sem trazer elementos
novos, mas estabelecendo um confronto interessante com a de poetas
cortesãos tais como Garcia de Resende ou até Sá de Miranda. Faz uma
análise minuciosa de Os Lusíadas, sem ocultar alguns defeitos. Acentua a
riqueza e a beleza da obra lírica, de que oferece alguns exemplos
traduzidos, e apresenta brevemente o teatro. O livro de Denis tem ecos
favoráveis primeiro em O Globo, onde uma nota breve o assinala e três
artigos sucessivos de Charles Magnin o estudam. Em O Jornal dos Sábios,
Raynouard não só põe em relevo a importância de Camões, mas também
afirma a necessidade em França de um estudo da literatura portuguesa que
não seja apenas um resumo. Mais tarde, Charles Magnin, que estudou
português com o seu amigo Louis Dubeux, escreve para a Revista dos Dois
Mundos (Abril-Junho de 1832) uma nova biografia de Camões fundada nas
pesquisas mais recentes, assim como em todas as fontes acessíveis em
França e em Portugal, e até em Inglaterra. Trata de situar a vida do poeta no
contexto do Portugal do século XVI, época em que um escritor dificilmente
podia prescindir de ser também homem de ação. Assim se explicam as
dificuldades enfrentadas pelo poeta, sem por isso justificar as injustiças
sofridas. Magnin aniquila, entre outras, a lenda da paixão única de Camões
por uma dama que poderia ter sido D. Catarina de Ataíde, chama a atenção
para a preta Bárbara e modifica profundamente a imagem do poeta maldito
tão do gosto dos românticos. Insere no seu texto versos escolhidos que
ilustram as fases da vida, e também vários sonetos e trechos de cartas
escritas por Camões em Goa, o que é uma grande novidade. Este estudo
bem documentado, escrito num estilo vivo e agradável, chamou a atenção
de muitos curiosos. Outras biografias menos rigorosas saem à luz ao lado
destes ensaios sérios. Os Amores de Camões e Catarina de Ataíde de Mme
Gautier (1827) são um longo romance em que a imaginação da autora
preenche as lacunas das notícias anteriores. Obtém tanto sucesso que
merece ser traduzido e publicado em Portugal em 1844. Mais um caso:
Henry Berthoud escreve em 1834 para O Museu das Famílias, peródico
popular, «As duas coroas de espinhos», relato patético da morte de Camões,
digno de um folhetim. Porém o ensaio «Camões» que Edouard Charton,
amigo de Ferdinand Denis e leitor de Charles Magnin, publica em 1837 em
O Armazém Pitoresco é um bom exemplo de divulgação inteligente.
A consequência mais importante desta popularidade talvez seja o
florescimento de traduções que vão suceder à de Millié. Embora Ferdinand
Denis e Charles Magnin tenham oferecido ao público algumas excelentes
traduções de poesias líricas, a epopeia é que continua a suscitar mais
vocações. Boucharlat, que traduz como no século anterior, tomando grande
liberdade com relação ao original, tem pelo menos o mérito de escolher
textos menos trilhados. Adapta em alexandrinos o fim do Canto VII de Os
Lusíadas em «O adeus de Camões à sua pátria» (O Almanaque das Musas,
1826), e extratos dos Cantos VII e II em «A descrição do palácio de
Neptuno» e «O retrato de Vénus» (O Almanaque das Musas, 1827). O
marquês de Valory traduz o Canto I em decassílabos com algum talento,
mas sem grande preocupação pela fidelidade (Obras Poéticas, 1830).
Víctor de Perrodil nos seus Estudos Épicos e Dramáticos (1835) dá a sua
própria versão de três oitavas do Canto I e a integralidade do Canto V em
alexandrinos, sem ser mais exato que os outros. Essas tentativas parecem
responder ao desejo dos leitores franceses de ler a obra camoniana em
verso.
Ora, é mais uma tradução em prosa, Les Lusiades de Luis de Camoens,
que sai à luz primeiro, em 1841, a de Ortaire Fournier e Desaules. É
organizada da mesma maneira que a de Millié e Dubeux, com um «Aviso
do Editor» seguido de uma «Notícia biográfica e crítica» intitulada
«Camões e os seus contemporâneos» cujo autor é Ferdinand Denis. Oferece
um texto integral geralmente traduzido com mais exatidão e rigor do que
nas versões anteriores, acompanhado de notas breves e claras, muitas vezes
procedentes da edição de 1825, e de uma notícia sobre Vasco da Gama
escrita por Ferdinand Denis. Este último aliás é quem traduz o que constitui
a maior novidade do volume, uma seleção importante de «poesias diversas»
escolhidas nas Rimas Várias: 29 sonetos, 7 canções, 6 elegias, 3 odes, 1
sextina, 21 quintilhas de Babel e Sião, 1 carta, 2 éclogas e fragmentos de
mais 3 éclogas. O suficiente para dar uma boa ideia da variedade formal e
temática da obra lírica de Camões. Tal conjunto é, portanto, um excelente
trabalho. Segundo Anne Gallut, «o livro é um dos monumentos mais belos
erigidos a Camões em França».
No ano seguinte, 1842, em Paris, François-Félix Ragon oferecia ao
público francês Les Lusiades, primeira tradução do poema de Camões em
verso. No seu «Aviso», Ragon justifica a sua empresa explicando o
interesse evidente da harmonia métrica para traduzir uma obra poética.
Curiosamente, embora considere Camões um génio da modernidade, Ragon
confessa que só moderadamente gosta da sua epopeia. Apesar dessa
reticência, não hesita em traduzi-la. Não sente escrúpulo em cortar alguns
trechos que julga cheios de defeitos, mas indica os cortes e coloca o texto
traduzido em nota. O leitor atual fica incomodado por essas elipses que
rompem o fio da narração. Apesar das suas afirmações, o mais provável é
que Ragon soubesse pouco português. A sua versão, embora harmoniosa, é
pouco fiel. O seu mérito principal consiste em abrir o caminho. Na segunda
edição de 1850, Ragon revê o seu texto, sem grande benefício. Entretanto,
surgem mais traduções. Na sua Traduction des Lusiades de Camoens (Paris,
1844), Charles Aubert escolhe o verso alexandrino, como Ragon. Na
«Advertência Preliminar», constata que o acolhimento em França de um
génio tão notável como Camões continua demasiado frio, apesar de
existirem boas traduções. Por isso, trata de fazer uma nova tentativa. A
seguir, com um entusiasmo verdadeiramente romântico, Aubert esforça-se
por defender o poeta, a qualidade da sua obra e a glória do seu povo, e
escreve uma breve História de Portugal. Quanto à sua tradução, é completa
(menos um corte no Canto X), mas, como as que a precedem, afasta-se
muitas vezes do texto original. Além disso, Aubert nem faz alusão à obra
lírica. Outro lusófilo, François Barillot, começa a publicação de mais uma
tradução de Os Lusíadas na Revista Espanhola e Portuguesa: cinco extratos
de 1857 a 1858. Detém-se no fim do Canto III: interrupção feliz, visto a
ênfase exuberante dos seus versos. Uma nova tradução em alexandrinos,
integral desta vez, feita por Émile Albert, sai à luz em Paris em 1859, com o
título Les Lusiades de Camões. Oferece unicamente o texto da epopeia, com
um breve resumo antes de cada canto e notas reduzidas mas precisas. Pode
deduzir-se que, sendo já Camões bastante conhecido, torna-se inútil
acrescentar sistematicamente uma apresentação à tradução. É fácil ver que
Albert, na sua versão da epopeia, inspira-se nos trabalhos anteriores; mas
aproveita-os com elegância, e a sua tradução é provavelmente a mais bem-
sucedida, e em todo o caso a mais fiel das traduções em verso daquela
época.
Várias traduções de Os Lusíadas, fragmentárias ou completas, hão de ser
publicadas ainda no século XIX. Deve-se a Fernando de Azevedo, diplomata
português e francófilo, a primeira edição bilingue da epopeia camoniana,
saída primeiro em Paris em 1870, depois em Lisboa em 1878. Há de ser
reeditada em Paris em 1877 e posteriormente em 1910. Uma tradução em
verso por A. de Cool, convencido de ser o primeiro que tenta a aventura,
aparece no Rio de Janeiro em 1876. Em 1889, uma nova tradução em verso
por Hyacinthe Garin é impressa em Lisboa. A última tradução completa do
século é a de Edmond Hipeau (Paris, 1890). Não se deve esquecer que o
texto português de Os Lusíadas também é várias vezes reimpresso. Em
1878, Clovis Lamarre escreve um novo Estudo Biográfico, Histórico e
Literário, para a reedição da tradução de Os Lusíadas por Millié. Quanto às
traduções fragmentárias, D. Pedro de Sousa Holstein publica no Porto, em
1880, os três primeiros cantos em edição bilingue; Henri Courtois manda
imprimir o Canto I em Lisboa (1887) e Léopold Penzer o Canto V em
Namur (1887). No mesmo período, a poesia lírica suscita um número
reduzido de traduções. Depois das de Ferdinand Denis, devem-se citar as
que Adolphe de Circourt julga necessário introduzir no artigo «Catarina de
Ataíde» que escreve para a Biblioteca Universal de Genebra (julho de
1853). Em Paris, Léonce Cazaubon publica uma seleção de Sonetos em
1879, e o conde de Gramont duas sextinas e alguns sonetos em Olim;
Sextinas e Sonetos (1882). José Benoliel em 1898 manda imprimir em
Lisboa umas Lyricas de Luís de Camões, com traduções em francês e em
espanhol.
Todas essas publicações são prova do crescente interesse por Camões que
se confirma ao correr do século. Livros históricos e cursos de literatura
concedem-lhe já o lugar que lhe compete, como se pode constatar na
História de Espanha e Portugal (1842) e na História Elementar e Crítica
da Literatura (1843) de Émile Lefranc, ou também nas Manhãs Literárias
(Estudos sobre as Literaturas Modernas) de Édouard Mennechet (1846). A
Nova Biografia Geral de Didot (1855) propõe sobre Camões um artigo
novo, atualizado por Ferdinand Denis. Aparecem cada dia mais alusões a
Camões em escritos diversos. Edgar Quinet, que tinha qualificado Os
Lusíadas como a primeira epopeia dos tempos modernos, comemorando o
encontro do Ocidente com o Oriente (Do Génio das Religiões, 1842), conta
em Minhas Férias em Espanha (1846) como, durante a sua visita a Lisboa,
procurou com emoção situar as suas recordações de Os Lusíadas. Além dos
poemas que lhe são dedicados, a vida de Camões inspira uma ópera, uma
ópera cómica, várias peças de teatro. Todas essas composições não são
obras-primas, e têm uma carreira bastante efémera. O livreiro Alexis de
Saintes publica em 1852 Camões ou o Talento precoce, breve narrativa
destinada à juventude, na qual pinta do poeta um retrato lisonjeiro bastante
inesperado, em grande parte produto da sua fantasia. O concerto de elogios,
porém, não é unânime. No seu estudo sobre Os Poemas do Mar (1852),
Joseph Autran censura Camões, fraco imitador de Virgílio, por não ter
falado suficientemente do mar que os navios do Gama percorreram…
Alguns dos maiores escritores do século manifestam interesse pelo ilustre
poeta. Chateaubriand, já em 1802 em O Génio do Cristianismo, exprime
uma admiração real mas matizada pelo autor de La Lusiade: este título
indica que tinha lido o poema numa tradução do século XVIII. Anos depois,
insere uma tradução abreviada do episódio de Adamastor e louva «os cantos
de Camões [que] respondiam aos de Ercilla» nas recordações da sua Viagem
por América (1838). Nas Memórias de Além-Túmulo (1848-1850) é que
menciona mais frequentemente Camões (12 vezes pelo menos). Não se
refere apenas à epopeia, mas, a propósito do seu encontro na Florida com
duas jovens mestiças, cita as «Endechas a Barbara cativa», e a seguir a
tradução de Ferdinand Denis: prova de que se mantém informado das
publicações contemporâneas que dizem respeito ao poeta português. Vemos
também que Stendhal cita La Lusiade de Camoens em Do Amor (1822) e
escolhe como epígrafe do seu romance Armance (1827) quatro versos de Os
Lusíadas, em português (III.120.1-4: «Estavas, linda Inês, posta em
sossego… Que a Fortuna não deixa durar muito»). Lamartine, no
comentário da décima quinta das suas Meditações Poéticas, evoca o
dramático destino de Camões. Anos depois, no seu Curso Familiar de
Literatura (1856), apresenta-o como «o cantor da grande navegação» e «o
poeta da curiosidade e da audácia do homem ao acabar a conquista do globo
terrestre». Victor Hugo rara vez cita Camões. Refere-se a ele de modo
pouco lisonjeiro no prefácio das Odes e Baladas (1824), mas lembra a
glória dele no poema Os Magos das Contemplações (1856). Talvez se
lembre de Paulo da Gama apresentando ao Catual as bandeiras da capitaina
(VII, 73-76) em Hernani (1830), quando Ruy Gomez da Silva expõe ao rei
D. Carlos a série de retratos dos seus avós. A 2 de junho de 1880 escreve à
Comissão das festas do Centenário em Paris estas linhas enfáticas:
«Camões é o poeta de Portugal. Camões é a mais alta expressão daquele
povo extraordinário que, contado por pouco no globo, soube contar por
muito na história, soube apoderar-se da terra como a Espanha e do mar
como a Inglaterra, que não retrocedeu perante nenhuma aventura nem
enfraqueceu frente a nenhum obstáculo, e que partindo de pouco, soube
conquistar tudo.» Alfred de Vigny, que desejava defender os poetas não
compreendidos pelos grandes do mundo, tinha escrito várias cenas de um
drama, A Mão da Infanta, em que Camões desempenhava um papel
importante; até fala no seu Jornal inédito de um projeto de peça intitulada
Camões. Não há dúvida: no fim do século, Camões é bem conhecido do
público francês culto. A sua vida, que corresponde à imagem romântica do
poeta incompreendido, apaixonado, desgraçado, comove as almas sensíveis,
que também se apaixonam pela sua obra, sobretudo a epopeia. Finalmente,
não ficam ignorados os seus poemas líricos. Pode-se pensar que chegou a
despertar o interesse dos positivistas já que Miguel Lemos faz imprimir um
Camões pela Sede Central do Positivismo (Paris, 1880) no ano em que se
comemora o 3.° centenário da morte do poeta. Em 1886, Ortaire Fournier
traduz e publica o livro de António de Serpa, Luíz de Camões, Sua Vida,
Suas Obras e Sua Literatura. Mas os movimentos literários do fim do
século, em particular o Realismo e o Naturalismo, deixam-no na sombra.
Século XX: Camões, um clássico. A princípios do século XX, pode dizer-
se que Camões alcançou o estatuto de clássico. Em 1904, abre-se em Paris
uma avenida nova que desemboca no boulevard Delessert por uma dupla
escadaria. Recebe o nome de «avenida Camões» e um busto do poeta orna a
escadaria. Não se pode já deixar de falar dele nos cursos sobre o
Renascimento, como o provam publicações como Luís de Camões, Trechos
Escolhidos, por H. Barthe, nas edições Louis Michaud (s/d), e o estudo de
Sizenando Chagas Franco e Paul Méléar, Virgílio, Dante, Camões e a
Expansão do Génio Latino (Paris 1924). Algumas traduções continuam a
aparecer. Fernando de Azevedo, depois de rever a última edição da sua
tradução de Os Lusíadas, resolve oferecer aos franceses uma versão
completa dos sonetos sem tentar averiguar se são todos autênticos
(Camoens, Les Sonnets, Lisboa, 1913). Já que se impõe a regra de os
traduzir em alexandrinos rimados segundo as leis do soneto clássico, aliás
com bastante elegância, vê-se obrigado a tomar numerosas liberdades que
às vezes tornam pesado o seu texto em relação ao original. Depois da
guerra, em 1919, é criado em Paris, na Sorbonne, um curso de língua e
literatura portuguesa de que é encarregado Georges Le Gentil. O qual, em
1924, publica na editora «Renaissance du Livre» (coleção «Cem obras
primas estrangeiras») Camões. Introdução, Tradução e Notas. Entre os
textos traduzidos (em prosa), além de fragmentos de Os Lusíadas,
encontram-se sonetos, odes, oitavas, canções, elegias, trechos de éclogas e
cantigas: é uma antologia comparável à de Ferdinand Denis no século
anterior. Ao rigor, Le Gentil junta talento e sensibilidade e respeita
escrupulosamente o texto original. O seu livrinho constitui uma excelente
introdução ao conjunto da obra poética. Anos depois, no seu ensaio A
Literatura Portuguesa (1935), dedica um capítulo a Camões. Por fim, no
ensaio Camões, a Obra Épica e Lírica (1954), realiza uma perfeita síntese
dos estudos contemporâneos sobre vida e obra do poeta. Ilustra o seu texto
com traduções de trechos da obra, sem omitir o teatro nem a
correspondência. Os ensaios de Le Gentil ainda hoje conservam valor e
autoridade: os dois últimos foram reeditados em 1995 pelas edições
Chandeigne. Entretanto, Virgínia de Castro e Almeida, literata que fez
grandes esforços para dar a conhecer Portugal em França, também publicou
uma Vida de Camões, o Poeta de Os Lusíadas e o Portugal do Seu Tempo
(Paris, 1934). É nessa altura que André Gide regista no seu Jornal, a 29 de
Jullho de 1930: «Li ontem o admirável Canto V de Os Lusíadas.» Eis uma
frase reveladora: o valor da obra já não é mais posto em questão, num
século em que alguns se dão pressa em proclamar a morte da epopeia.
Porém, apesar de Henry de Montherlant basear A Rainha Morta (1942) na
história de Inês de Castro, que tanto comoveu os leitores de Os Lusíadas no
século XIX, a peça deve muito mais à comédia espanhola de Vélez de
Guevara do que ao poema de Camões, que provavelmente lera.
Na verdade, desde 1890, ninguém se tinha arriscado a traduzir de novo
Os Lusíadas. É preciso esperar até 1954 para ver publicada em Lisboa na
editora Bertrand uma tradução nova, em prosa, distribuída em França pela
sociedade de edição Les Belles Lettres. Roger Bismut foi quem se atreveu a
esta tarefa. Traduziu com um cuidado meticuloso, sem eludir dificuldade
alguma, numa prosa ritmada que faz corresponder a cada oitava um
parágrafo. A sua edição vem enriquecida de notas eruditas, claras e precisas
para as quais não apenas confrontou os comentários das edições anteriores,
mas também procedeu a um trabalho considerável de pesquisa pessoal. As
notas discutem as dificuldades de compreensão, esclarecem os problemas
de léxico e de sintaxe, tanto como as alusões mitológicas, históricas e
geográficas. Um índice dos nomes próprios completa o volume, que se
torna obra de referência. Depois de esgotada a primeira edição, uma
segunda edição revista sucede-lhe em 1961, com o apoio da Fundação
Calouste Gulbenkian, introduzida por uma «advertência preliminar» do
lusófilo e tradutor Pierre Hourcade. Um dos melhores conhecedores de
Camões, Hernâni Cidade, assina o prefácio. Uma terceira edição
inteiramente revista e aumentada de uma notícia bibliográfica sai à luz em
1980: desta vez, a epopeia acaba de ser incluída entre as obras
representativas da UNESCO. Esgotadas todas essas edições, em 1992, o
Centro Cultural Calouste Gulbenkian de Paris e a Comissão para a
Comemoração dos Descobrimentos Portugeses subsidiam uma edição
bilingue monumental, apresentada por José V. de Pina Martins, com uma
introdução de Roger Bismut, que mais uma vez reviu e melhorou o seu
texto nesta ocasião, segundo explica na sua advertência preliminar. Esta
edição limitada vai ser reproduzida num formato mais cómodo em 1996
pelo editor Robert Laffont na sua coleção de clássicos «Bouquins». Além
do conteúdo da anterior, nela se encontram um segundo prefácio assinado
por Eduardo Lourenço, intitulado «Uma epopeia singular», e dados
cronológicos que permitem situar o autor e a obra no contexto europeu do
século XVI. Esta edição excelente, acolhida favoravelmente pela crítica
especializada, parece ter desanimado até hoje novos tradutores de Os
Lusíadas. O certo é que a notoriedade de Camões em França continua
ligada antes de tudo à sua epopeia.
No entanto, na segunda metade do século XX, multiplicam-se traduções de
outros poemas de Camões. Mas destaca-se um precursor, um «imitador»
excecional. Trata-se do poeta Louis Aragon, que publica Os Olhos de Elsa
em 1942. No poema Lancelot insere dois alexandrinos, tradução literal dos
versos 5 e 6 do soneto Que poderei do mundo já querer…:
Imité de Camoens
Que cherchez-vous de moi perpétuels orages
De quels combats encore allez-vous me berner
Lorsque le temps s’enfuit pour ne plus retourner
et s’il s’en retournait n’en reviendrait plus l’âge
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Anne-Marie Quint
Valeria Tocco
RECEÇÃO DE CAMÕES NA LITERATURA NORTE-
AMERICANA. Dentro do conhecimento atual pode dizer-se que o ponto
alto da receção de Camões nos EUA foi a segunda metade do século XIX,
quando a sua obra é citada por, e influencia, alguns dos grandes nomes da
Literatura Norte-Americana como Emily Dickinson, Edgar Allan Poe e
Herman Melville. A primeira tradução d’Os Lusíadas em inglês foi
realizada por Sir Richard Fanshaw (1655) e, embora outras posteriores, tal
como a de William J. Mickle (1776), estivessem disponíveis, continuou
sendo preferida. A primeira tradução de versos de Camões publicada nos
Estados Unidos será talvez a de quatro sonetos publicados sob pseudónimo
por Richard Henry Wilde (1821), mas não assume relevo para o
conhecimento de Camões por parte de outros escritores. Sem dúvida, a
receção de Camões nos Estados Unidos até ao século XX é condicionada,
em grande parte, pelas relações dos escritores norte-americanos com
congéneres ingleses, o que hoje em dia, em parte, talvez se mantenha ainda.
O alcance da receção de Camões nos Estados Unidos não tem sido
propriamente cuidado e além de ensaios dispersos da autoria de Norwood
Andrews Júnior, o único estudo mais aprofundado foi feito por George
Monteiro no seu livro The Presence of Camões: Influences on the Literature
of England, America, and Southern África (1996). Mesmo assim pode-se
dividir a receção de Camões em três áreas distintas: erudita, popular, e
crítica. Destas praticamente nada se sabe no que diz respeito à receção
popular mas, assim como se pode apontar para alguns poetas de menor
renome com uma ligação a Camões, dever-se-ia pensar na influência de
Camões junto a poetas imigrantes. No que diz respeito à receção erudita,
isto é, por parte de escritores famosos, destaca-se a influência que Camões
teve em Herman Melville, já que as referências a Camões no caso de outros
escritores são bem mais esparsas e provavelmente indiretas, como é o caso
de Emily Dickinson, cujo interesse em Camões proviria do seu
conhecimento da poesia de Elizabeth Barrett Browning. No que diz respeito
a Edgar Allan Poe, George Monteiro chega a considerar não ser exagerado
ver-se a influência de Camões nas várias «Leonoras» de Poe, quer seja a
ausente «Lenore» de relevo em The Raven quer seja a heroína do conto
Eleanora, mas, numa recensão recente à tradução de sonetos de Camões
feita por William Baer (2005), o mesmo apela para mais sobriedade já que
só se encontra uma referência direta a Camões nos escritos de Poe.
Paradoxalmente, ou talvez não, Os Lusíadas parecem ter despertado
muito menos atenção do que a lírica. Se, por um lado, se poderia pensar que
a exaltação nacionalista da épica, e até a sua ênfase na coletividade como
portadora de heroísmo, atrairia a atenção de uma nação cuja constituição
começa precisamente por afirmar-se como povo («We the people»), por
outro a celebração do papel de Portugal no início do imperialismo moderno
não seria o motivo mais apropriado para uma nação cuja «Declaração de
Independência» reforça exatamente a justiça inerente na reivindicação de
autonomia relativamente ao poder metropolitano. Assim, e também devido
ao facto de a épica como género literário ter caído mais ou menos em
desuso, não admira que se possa apenas apontar para uma épica com
alguma relação a Os Lusíadas, a Columbiad (1807), obra do poeta Joel
Barlow, que teria tomado conhecimento de Camões através de William
Hayley. No entanto, o espírito grandioso da épica e a sua ênfase no mar,
seriam transferidos para a prosa de Melville, e vários estudos traçam as
relações entre Camões e Melville. Além de uma possível identificação da
grande baleia branca com o Adamastor, é de salientar que Melville também
é autor de um poema em duas partes relacionado com Camões, Camoëns e
Camoëns in the Hospital, publicado pela primeira vez em 1924. Melville
possuía várias traduções de Camões e tinha conhecimento direto tanto da
épica como da lírica. Além disso, é possível inferir também das suas
anotações que Melville veria afinidades entre a sua condição e a de
Camões. De todos os escritores norte-americanos, foi possivelmente
Melville quem mais sentiu a influência de Camões e quem teve mais
conhecimento direto da sua obra. Como curiosidade, note-se ainda o facto
de Ezra Pound em The Spirit of Romance (1910) também se referir a
Camões mas de maneira completamente negativa, julgando que este seria
simplesmente uma expressão do seu tempo, sem qualquer poder ou efeito
mágico de poesia e sem qualquer reflexão filosófica, sendo inferior a
Milton.
No caso da receção críitica deve-se distinguir entre o século XIX e o
século XX já que apresentam situações diferentes. No século XIX, a figura
mais importante para a disseminação de Camões nos Estados Unidos é, sem
dúvida, Henry Wadsworth Longfellow, que inclui Camões na sua antologia
crítica, Poets and Poetry of Europe (1844) e também em Poems of Places
(1874). O trabalho de Longfellow teve grande repercussão e é de assinalar o
facto de ter decidido incluir a Literatura portuguesa, e de ter destacado
Camões, incluindo passagens d’Os Lusíadas, e vários exemplos da lírica.
George Monteiro refere a preferência de Longfellow pela épica, o que
talvez se possa ver a par com a importância dada a Camões e a Os Lusíadas
por outro grande estudioso da época romântica, Friedrich Schlegel. No
início do século XX, curiosamente, é um brasileiro, o embaixador Joaquim
Nabuco quem chama a atenção para Camões. A sua palestra sobre Camões,
salientando a importância do poeta em termos do espírito Americano e
pronunciada na Universidade de Yale, chegou a ser relatada num artigo de
Elizabeth L. Cary, «Camoens, Poet of the New World» publicado no New
York Times (8-08-1908). De resto, no século XX, o que se nota é o estudo
especialista de Camões, dirigido principalmente a outros camonistas, sendo
de destacar a figura de Thomas R. Hart pelas suas variadas publicações.
Poder-se-ia igualmente mencionar Jorge de Sena, já que o poeta e
especialista de Camões viveu e escreveu parte saliente da sua obra nos
Estados Unidos, podendo afirmar-se que como tal deve ser incluído na
receção crítica de Camões nos EUA.
Não há dúvida de que a presença de Camões nos Estados Unidos se tem
vindo a afirmar cada vez mais. Basta verificar a base de dados da Modern
Language Association (MLA), onde se encontram quase mil referências a
Camões. Obviamente que tal estatística deve ser vista com cuidado devido
quer à insuficiência da base de dados sobre literaturas não anglófonas quer
ao facto de incluir muitas publicações oriundas de outros países. Mas
embora Camões esteja muito longe de Shakespeare (quase quarenta mil
referências), já se aproxima de Tasso, por exemplo (com quase mil e
quinhentas). Assim, Camões, embora relativamente menos conhecido,
certamente ocupa um lugar canónico. Mais importante do que essas
referências, é o facto de Camões estar de novo a ocupar a atenção nos
Estados Unidos, quer pela parte da crítica — veja-se o número recente (9)
da revista Portuguese Literary and Cultural Studies, ou ensaios sobre
Camões e considerações pós-coloniais da autoria de Jonathan Crewe (1999)
Lawrence Lipking (1996) e Nicholas Meihuizen (2007) — quer através de
novas traduções. Se até ao século XX o púbico norte-americano dependia
das traduções feitas em Inglaterra, no século XX essa situação inverteu-se e
as traduções americanas assumem maior preponderância, seja a tradução
d’Os Lusíadas da autoria de Landeg White e publicada com grande
visibilidade na série de «Clássicos Mundiais» da Oxford University Press
(1997) seja as mais recentes edições da Lírica da autoria de Landeg White
(2002), William Baer (2005) e Richard Zenith (2009). Através destas novas
traduções pode-se esperar uma renovada e mais ampla influência de
Camões nos Estados Unidos.
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Júlia Garraio
T
TÁGIDES. Patronímico poético primeiramente cunhado em latim por
André de Resende, com o sentido de «Ninfas do Tejo», e depois adotado
por Camões, à semelhança do que sucedeu com o vocábulo Lusíadas. Está
registado pela primeira vez na anotação 25 ao Livro II do poema Vincentius,
Leuita et Martyr, no passo em que Resende, em nota ao vocábulo Tagus
(Tejo), reclama para si a invenção: «Tagus Lusitaniae fluuius est
nominatissimus, a quo nos ausi sumus haec nomina deriuare: Taganus [...] .
Item patronymicum femininum, Tagis,idis [...] . Nymphae etiam Tagides,
nymphae Oceanitides omnes. Et Cistaganus, Transtaganusque [...]. O
poema dedicado a S. Vicente de Lisboa veio a lume no ano de 1545.
Camões conheceu-o e nele se inspirou quando transpôs para o português os
termos Tágides e (terras) transtaganas (este último relativo ao Alentejo).
Segundo Maria Helena da Rocha Pereira, a palavra terá feito a sua entrada
na Literatura Portuguesa na Écloga I (v. 187), de Camões, datável de 1554,
ocorrendo igualmente na Écloga III (v. 39), não datável. Em Os Lusíadas, o
vocábulo regista apenas duas ocorrências (I.4.1: «Tágides minhas», e
V.100.4: «Tágides gentis»), tendo como sintagmas concorrentes as
perífrases «ninfas do Tejo», «filhas do Tejo», «ninfas minhas», ou apenas
«ninfas» associadas ao Tejo («o vosso Tejo»), ou mesmo «Camenas»,
antiga designação latina de ninfas inspiradoras. Dado que em Camões
(como em Resende) o rio identifica o país, as Tágides camonianas são
invocadas como entidades míticas especialmente vocacionadas para
inspirarem o poeta na celebração dos heróis portugueses; o epíteto de
«gentis» sublinha a sua predisposição favorável a essa celebração. Sendo
divindades nacionais, mas integrando-se numa longa tradição clássica de
ninfas inspiradoras, as Tágides dignificam o Tejo como representação da
pátria e elevam-no ao domínio do simbólico.
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Amadeu Torres
U
USO DO CASTELHANO NA OBRA DE CAMÕES (O). Na segunda
metade do século XVI o Bilinguismo luso-castelhano é um fenómeno já
fortemente enraizado na cultura letrada do país, sendo muito poucos os
autores desse período que se abstêm de compor em castelhano. Não é o
caso de Camões, cuja obra reflete a incorporação de uma tradição literária
que se exprime alternativamente nas duas línguas, portuguesa e castelhana.
Assim, esta língua surge numa pequena parte do corpus lírico camoniano e
em vários fragmentos das três peças teatrais que lhe são atribuídas. O
corpus lírico camoniano em castelhano coloca o mesmo problema de
delimitação que o conjunto da obra lírica do poeta. Se as sucessivas
recopilações da lírica camoniana realizadas entre os séculos XVII e XIX
incorporaram muitas peças apócrifas, as tentativas mais autorizadas de
delimitação do corpus lírico do poeta no século XX procederam no sentido
de o ir limitando progressivamente, também no caso das poesias escritas em
castelhano. Assim, o corpus lírico camoniano nessa língua varia,
dependendo se a atribuição dos textos é segura ou controversa: se o corpus
mínimo de autoria indiscutível é constituído apenas por quatro redondilhas
e o denominado Monólogo de Aónia, incluído na écloga Ao Longo do
Sereno, um corpus mais amplo de credibilidade aceitável inclui também
meia dúzia de sonetos e um número de redondilhas que perfaz
aproximadamente quinze textos. Se no caso do metro antigo, o uso da
língua castelhana respondia à integração das peças numa tradição poética
hispânica já secularmente bilingue, no caso do metro novo, o recurso a essa
língua explica-se também como resultado da influência em Portugal dos
grandes sonetistas espanhóis da primeira metade do século XVI, Garcilaso
de la Vega e Juan Boscán. Também como consequência da incorporação da
tradição dramatúrgica bilingue, instaurada por Gil Vicente e ainda em vigor
na segunda metade do século XVI, surge a língua castelhana nas três peças
teatrais camonianas. Ora, neste caso, Camões subverte alguns princípios da
tradição, pois a alternância linguística não tem a mesma funcionalidade no
teatro camoniano que ostenta no vicentino. Efetivamente, por um lado, no
teatro camoniano o castelhano aparece salpicando constantemente os
diálogos em português com versos extraídos do romanceiro e da poesia
tradicional espanhóis, os quais, por formar parte de um património poético
comum hispânico, seriam facilmente reconhecidos pelo auditório. Os versos
em castelhano surgem especialmente na boca de personagens de baixa
condição, como moços e criadas, embora não só, mostrando como a lírica
em castelhano se teria difundido também entre esta camada social,
preferentemente por via oral. Por outro lado, os fragmentos de diálogo
escritos em castelhano nos autos camonianos obedecem ao propósito de
assinalar os momentos destinados a mover o riso do público. Neste sentido,
a funcionalidade do uso do castelhano no teatro camoniano diverge da
tradição bilingue vicentina, na qual, para além de outras motivações, o uso
desta língua respondia em grande medida a um propósito de
verosimilhança, de maneira que são as personagens de nível social elevado
as que se exprimem em castelhano. Nas peças camonianas, pelo contrário,
dialogam em castelhano os pastores do Auto de Filodemo, entre os quais o
pastor bobo; Sósia, criado de Anfitrião, e Mercúrio transfigurado em Sósia,
na Comedia dos Anfatriões; e o Físico e o seu moço no Auto d’El-rei
Seleuco. Nas três peças, o uso do castelhano parece servir o propósito de
reforçar a comicidade das situações em que surge, talvez como
consequência da caracterização diglóssica que determinava que a língua
castelhana resultava especialmente idónea para o discurso cómico. Ora, se
bem que o contexto de representação das obras teatrais camonianas seja
mais amplo que o vicentino, movendo-se entre o espaço áulico, o
universitário e o palco colonial da Índia portuguesa, o público das comédias
camonianas possuía sempre uma competência linguística suficiente em
castelhano, o que permite ao Camões dramaturgo servir-se dessa língua para
amenizar as peças teatrais. Esta funcionalidade atribuída ao intercâmbio
linguístico na obra dramática camoniana resulta evidente também quando
Camões aproveita propositadamente alguns traços do denominado
«castelhano de Portugal», isto é, do castelhano lusitanizado, como recurso
metalinguístico para a caricatura do próprio uso bilingue.
Analisaremos a seguir os traços linguísticos mais significativos do
castelhano que conforma o corpus camoniano escrito nessa língua tal como
chegou até nós através das cópias em que foi transmitido. O século XVI é
um momento de profundas mudanças para a língua castelhana a nível
fonológico e gramatical, o que provoca a convivência de formas antigas
com outras mais recentes, que são as que em geral se consolidaram. Assim,
há que assinalar que o castelhano camoniano revela usos característicos do
período quinhentista que posteriormente foram eliminados da língua
moderna. Não poucas vezes esses usos tinham um paralelo na língua
portuguesa quinhentista, razão pela qual poderiam ser interpretados
erroneamente como lusismos, devendo tal afirmação ser feita com muita
precaução. Assim, documentamos no castelhano camoniano a vacilação
frequente do timbre das vogais átonas, como em distemplado por
destemplado, cilada por celada, notefico por notifico, dizís por decís,
quistiones por cuestiones, serena por sirena, afegura por afigura, divieras
por devieras ou perfias por porfias. Ainda que essa vacilação de timbre
fosse também frequente no português da mesma época, e até mais frequente
do que em castelhano, não podemos interpretar a ocorrência no castelhano
camoniano como simples lusismo quando o fenómeno se encontra
suficientemente documentado no castelhano do século XVI e, no caso do
fechamento de e em i e de o em u, ainda se verificam exemplos no século
XVII. Constituem também traços linguísticos epocais do castelhano
camoniano o uso frequente do futuro do conjuntivo, por vezes em posição
de rima, e a colocação dos pronomes pessoais átonos, que com frequência
surgem em posição mesoclítica ao futuro (dar me han, ¿enojarte has?, dir-
te-lo-he, darte he, conocerle he) ou intercalados entre duas formas verbais
(quieres m’escuchar?, han se de arder), colocações estranhas ao castelhano
moderno, mas ainda possíveis no período quinhentista. Documentamos
igualmente no castelhano de Camões a posição do clítico denominada
interpolação, muito frequente no português antigo e ainda no quinhentista,
mas de novo também documentada no castelhano da mesma época: «Y
aquellas que me no quieren», «Pues me no valen las manos». Também de
modo geral Camões omite a preposição a no complemento direto pessoal,
como em «Quien desprecia el enemigo», «Mató el rey de los glipazos»,
«¿No conoces Anfatrião?», «Por engañar mi señora». Ainda que no
castelhano do século XVI se verifique o aumento da preposição neste
contexto, autores destacados do século XVII continuam a não utilizá-la.
Também é muito frequente no castelhano de Camões o uso de formas
contractas de preposição e demonstrativo ou pronome pessoal. Portanto, em
todos os casos mencionados — uso do futuro de conjuntivo, colocação do
clítico, uso de a pessoal ou as contrações referidas —, as ocorrências
averbadas pelo corpus castelhano de Camões eram ainda possíveis no
período quinhentista. Contudo, dado que a frequência de tais ocorrências no
castelhano camoniano parece exceder nalguma medida a de outros textos
coevos em castelhano, poderíamos formular a hipótese de nos encontrarmos
perante possíveis lusismos por abundância, isto é, por frequência excessiva
de uso. Outras formas que poderiam ser consideradas lusismos
erroneamente, dado que também se documentam no castelhano do século
XVI, são a forma de presente do conjuntivo de ir, vais por vayáis, as formas
do pretérito imperfeito vía e vías por veía e veías, a forma do presente do
conjuntivo vala por valga, o pronome comigo por conmigo, o advérbio
agora, que alterna em Camões com o moderno ahora, enquanto o uso,
muito esporádico, da forma demonstrativa aqueste e da conjunção e por y
soaria já arcaizante no castelhano da segunda metade do século XVI. Outras
formas linguísticas epocais documentáveis no castelhano camoniano são as
formas de imperativo que não sobreviveram na língua castelhana, ora
metatizadas (echalde, dalde) ora palatalizadas (entendello); as formas de
segunda pessoa do plural do pretérito perfeito simples com a terminação
etimológica -stes (entrastes, tornastes, distes) e as formas metatizadas de
futuro (terná, verná), todas elas em vigor nos séculos XVI e ainda XVII. No
entanto, a vacilação entre os auxiliares ser e haber para a formação dos
tempos compostos dos verbos intransitivos resolvera-se já no castelhano de
meados do século XVI em favor do auxiliar haber, de modo que as
ocorrências da estrutura com ser que se documentam no castelhano
camoniano («Porque es aquí llegado», «contarlo como es venido», «era ya
llegado») têm de novo um sabor ligeiramente arcaizante, que poderia talvez
ser resultado de um contacto livresco com a tradição literária do castelhano.
Apontemos por fim que Camões se serve explicitamente da variação
linguística do castelhano quinhentista para facilitar algumas rimas, o que
também tinha feito Gil Vicente. Assim, em posição rimática surgem as
formas verbais de primeira pessoa do presente do indicativo so e vo, mais
facilmente rimáveis que soy e voy, que surgem também em posições que
não exigem rima.
Apesar da maior coincidência das estruturas linguísticas do português e
do castelhano do século XVI, não faltam lusismos conspícuos nos textos
camonianos escritos em castelhano, sendo impossível, na maior parte dos
casos, saber se eles são imputáveis ao autor ou aos copistas e editores que
no-los transmitiram. Assim, um dos lusismos mais significativos que se
regista no castelhano camoniano, por ser um traço característico de todo o
castelhano de Portugal, é o lusismo por ausência de ditongação, que
documentamos em formas como queres por quieres (com repetidas
ocorrências), partisse por partiese ou aparencia por apariencia. Mais raros
são os casos de hiperditongação, como em viene por ven imperativo, tiengo
andado por tengo andado ou suelo por solo. No que se refere ao âmbito
morfológico, encontramos no teatro camoniano alguns exemplos de lusismo
de género, assim como formas verbais incorretas, como diz por dí
imperativo, disse por dijo, é por es ou son por soy. É frequente também a
falta de elevação vocálica da vogal radical nos verbos da terceira
conjugação, fenómeno igualmente documentado no teatro vicentino:
dormiendo por durmiendo, vestiendo por vistiendo, moriere por muriere ou
sentió por sintió. As formas sem elevação da vogal radical coincidem na
raiz com as correspondentes portuguesas, razão pela qual as podemos
explicar como lusismos, pois, ainda que frequentes no castelhano medieval,
são mais raras a partir de finais do século XV. Também podemos considerar
lusismo o uso sistemático do auxiliar tener por haber na formação do
pretérito perfeito composto, como em Todo lo tiene contado por ha
contado, tengo averiguado por he averiguado, le tengo hallado por le he
hallado, entre muitos outros exemplos. Outros lusismos surgem de forma
isolada, afetando os planos fonético e morfológico, como dantes por antes,
crer por creer, chamado por llamado, chamo por llamo, se por si
condicional, dizer por decir, escravo por esclavo, tudo por todo, onde por
adonde, madrasta por madrastra ou a forma sincopada esp’rimentar. Em
síntese, os lusismos no castelhano camoniano são abundantes e prestam-se a
ser classificados segundo uma tipologia que coincide, nos seus traços
principais, com o denominado castelhano de Portugal.
O teatro de Camões, destinado ao consumo interno português, não exigia
um alto nível de proficiência linguística no uso do castelhano. Antes pelo
contrário, podia beneficiar-se de uma especial permeabilidade ao lusismo
ou até da mistura de códigos linguísticos com intenção expressiva e lúdica.
Já Dámaso Alonso chamou a atenção para o facto de, por vezes, o lusismo
no castelhano de Portugal aparecer inesperadamente em vocabulário de uso
frequente e seguramente não desconhecido pelo autor. Também Paul
Teyssier demonstrou que a posição de rima é especialmente favorável à
aparição de lusismos na obra vicentina. Para além disso, como
antecipávamos, no teatro camoniano documentamos alguns evidentes erros
em castelhano por hiperditongação, isto é, por ampliar inadequadamente a
algumas palavras a ditongação característica de outras. Assim, exclama o
pastor bobo do Filodemo: «Ora, pues me havéis empuxado, / Boto a Dios
de desandar / Todo quanto tiengo andado.» (vv. 1578-1580) Ou noutro
lugar: «Oh, que padraso que tengo, / Que ansí me manda por hí, / Suelo, un
camino tão luengo!» (vv. 1590). O uso de tiengo por tengo ou suelo por
solo não pode responder ao desconhecimento do termo castelhano por parte
de Camões, podendo apenas ser explicado como uso propositado destinado
a mover o riso do público, consciente da caricatura linguística levada a
cabo. Para além disso, surgem no teatro camoniano sequências que parecem
responder à intenção de produzir um discurso linguístico híbrido. Daremos
aqui apenas um exemplo: uma personagem cita alguns versos do Don
Duardos vicentino, originalmente em castelhano, alterando parte deles em
português: «Amor, amor, mais te pido, / Que quando se for deitar / Que le
digas al oído» (Filodemo, vv. 1726-1728). Surge assim uma sequência
híbrida que poderia interpretar-se como alusão ao próprio hábito bilingue no
Portugal quinhentista. Podemos concluir, portanto, que Camões contribui
para criar um castelhano de Portugal como uma interlíngua que tem valor
patrimonial e literário per se, e que resulta do hábito bilingue, assumido por
autores e público, praticado já com intensidade no Portugal de Quinhentos.
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com Privilegio. Com todas as licenças e aprovações necessárias. Lisboa, por António Alvarez. Anno
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apurada, & correcta de algus erros da primeira. Com todas as licenças necessárias. Em Lisboa: Na
officina de Pedro Craesbeeck. Anno M.DCXVIII, 278 f.º; COMEDIA AULEGRAFIA feita por Jorge
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Helena Langrouva
Índice
CAPA
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B
C
D
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F
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