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Barragem de terra (estruturas hidráulicas)

ESTRUTURAS HIDRÁULICAS

Como parte constituinte de uma barragem, são várias as estruturas


hidráulicas: tubulação de fundo (para garantir o escoamento à jusante e permitir o
controle do nível ou mesmo o esvaziamento da represa); tomada d´água (conduto
destinado à captação e aproveitamento da água acumulada); controle de montante
ou torre de controle (estrutura contendo dispositivos de controle da abertura e
fechamento de comportas e/ou válvulas, podendo, inclusive, ser uma estrutura tipo
monge); caixa de dissipação por impacto (estrutura de concreto construída na
extremidade final da tubulação de fundo com o objetivo de dissipar o excesso de
energia cinética da água escoada); sangradouro, extravasor ou ladrão (estrutura de
segurança destinada ao escoamento de vazões excessivas especialmente durante o
período de chuvas de maiores intensidades); dissipador de energia do sistema
extravasor (tem a finalidade de dissipar a energia excedente da água que passa pelo
extravasor de forma a evitar erosão do curso d´água à jusante da barragem).

1 – TOMADA D´ÁGUA
Sempre que possível deve-se prever que o aproveitamento da água
armazenada seja feito por gravidade. Deve-se faze a tomada de água acima do
fundo do reservatório para evitar a captação de água com muito material em
suspensão e mesmo detritos, assim, é comum instalar o conduto 2 a 3 m acima do
fundo do reservatório. Normalmente a tomada d´água é constituída por um conduto
ligando o reservatório até o ponto de consumo ou de bombeamento. Embora possa
ser utilizado um canal para tomada d água, o uso de tubulação é mais comum.
Podem ser utilizados diferentes materiais, e o dimensionamento é baseado no valor
da vazão a ser captada e na extensão do conduto. No caso de se utilizar uma
tubulação para captação, esta deve conter, em sua extremidade inicial, uma peça
com crivos para evitar a entrada de materiais estranhos, de um dispositivo de
controle (válvula de gaveta, por exemplo) que é acionado diretamente da torre de
controle de montante, e da própria tubulação, a qual deverá estar ancorada em toda
a sua extensão.

Prof. Jacinto de Assunção Carvalho


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2 – TUBULAÇÃO DE FUNDO
Esta estrutura consiste de um conduto (normalmente constituído de tubos de
concreto, embora outros materiais também podem ser utilizados desde que sejam
resistentes à carga externa exercida pelo aterro) que passa sob o maciço, ligando o
reservatório ao lado jusante da barragem.
As finalidades desta estrutura são: permitir o controle do nível d´água da
represa com o esvaziamento parcial ou até mesmo total para remoção de materiais
decantados no fundo, e também, garantir o escoamento à jusante.
É a primeira estrutura a ser instalada, pois, durante a elevação e
compactação do maciço, o curso de água será desviado para o seu interior, por
onde escoará, facilitando os trabalhos de elevação da barragem.
O dimensionamento desta estrutura pode ser feito considerando como um
conduto destinado ao escoamento da vazão mínima para jusante, ou àquela
correspondente ao esvaziamento da represa em um determinado tempo, ou ainda,
ao escoamento da vazão media do curso d´água durante o período de construção
do maciço.
Embora possa haver algum outro motivo específico, o dimensionamento
normalmente se faz levando em consideração o maior valor de vazão dentre aquelas
já mencionadas. De forma geral, a vazão média do curso d´água durante o período
de construção do maciço constitui-se no maior valor. Neste caso, deve-se
dimensionar o conduto considerando que o mesmo irá trabalhar como um conduto
livre, ou seja, sem afogamento, permitindo, assim, que todo escoamento escoe pelo
conduto e não interfira na elevação e compactação do aterro.
Normalmente adota-se uma relação entre profundidade e diâmetro próximo a
70%, ou seja, Y/D = 0,7, e, de posse dos valores da vazão média, do tipo de conduto
e seu comprimento, obtém-se o valor do diâmetro a ser utilizado.

EXEMPLO: As vazões médias (m3/s) do curso d´água, durante o período (meses


mais secos) de construído do maciço de uma barragem são:

Maio Junho Julho Agosto Setembro


0,240 0,223 0,175 0,184 0,232

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O conduto será constituído de tubos de concreto (n = 0,014) e com


declividade de 0,002 m/m. Considerando, inicialmente, uma relação Y/D = 0,7,
obtém-se:
 Y
 = 2 . arc cos 1 − 2 . 
 D
 = 2 . arc cos (1− 2 . 0,7) = 3,96 radianos

D2 D2
A= . ( − sen ) → A = . (3,96 − sen 3,96) → A = 0,586 . D2
8 8
.D 3,967 . D
P= → P= → P = 1,98 . D
2 2

Substituindo os valores na equação de Manning (considerando a vazão média


do período), obtém-se D = 0,6 m, ou seja, D = 600 mm.

3 – TORRE DE CONTROLE – CONTROLE DE MONTANTE


O sistema de controle (comportas, registros, etc) da vazão de saída deve ser
colocado à montante da barragem para evitar água sob pressão dentro do corpo do
aterro e, também, evitar depósito de materiais dentro da tubulação com consequente
entupimento.
Após a construção da barragem, quando a represa estiver cheia, o excedente
escoará através da tubulação de fundo. Para controle, esta tubulação deverá ter
origem em uma estrutura de alvenaria ou de concreto armado (aqui denominada de
controle de montante, torre de controle ou mesmo “monge”) dotada de mecanismos
de abertura e fechamento (podendo ser comportas, válvulas etc) e terminando em
uma caixa de dissipação. Esta estrutura servirá, também, para o controle do nível de
água na represa e da vazão de jusante, pela abertura ou fechamento das comportas
e/ou válvulas instaladas, e, também, da captação de água, por meio do acionamento
da válvula específica para tal.
A estrutura contendo os volantes de controle deverá ter dimensões de acordo
com o tamanho da tubulação, da represa e das vazões a serem escoadas. Para o
esvaziamento da represa e também para o controle da vazão de jusante (vazão a
ser escoada), a estrutura poderá ser dotada de comportas planas móveis acionadas
por volantes instalados na laje superior (figura 1) ou por meio de pranchas
removíveis de madeira, também conhecido como monge (figura 2).

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Volantes

Tomada d´água
Comporta
s

A B C

FIGURA 1 – Tipos de estrutura de controle com comportas e volantes (A, B e C) e


com tomada d´água (C).

Argila

Pranchas
removíveis Tubulação

Vista frontal Perfil lateral Perspectiva

FIGURA 2 – Estrutura de controle de montante (monge) com controle por meio de


pranchas de madeira.

O acesso ao controle, para manobras de fechamento e abertura, poderá ser


feito com auxílio de um “barco” ou, com a construção de uma passarela até o maciço
(figura 3). No interior desta estrutura, em cada posição frontal à abertura (comporta),
deverá ser construído um bloco de concreto (viga) com a finalidade de diminuir a
energia da água ao passar pela comporta.

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Torre de controle Passarela

Maciço

FIGURA 3 – Torre de controle com acesso por meio de passarela.

4 – CAIXA DE DISSIPAÇÃO POR IMPACTO


Consiste em uma estrutura de concreto armado instalada na extremidade final
da tubulação de fundo com a finalidade de dissipar o excesso de energia. A
dissipação de energia ocorre devido ao impacto do escoamento na viga transversal
no interior da estrutura (figura 4). Maiores detalhes sobre o dimensionamento desta
estrutura pode ser visto no texto referente a dissipadores de energia.

FIGURA 4 - Dissipador de impacto utilizado na saída da tubulação de fundo

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5 – EXTRAVASOR
O extravasor pode assumir diferentes configurações, podendo ser um canal
hidráulico, uma tubulação operando como bueiro ou um vertedor.
No caso de utilizar vertedores, estes podem ser de vários tipos, sendo os
mais usuais os de parede espessa e de parede arredondada. O valor da vazão que
passa pelo vertedor é obtido pela expressão:
3⁄
Q = k. b . ho 2
Em que,
Q =vazão, m3/s;
b = largura da soleira, m;
ho = carga sobre a soleira, m.
k = coeficiente do vertedor (1,55 para parede espessa e até 2,2 para arredondada)
Na figura 5 são mostrados esquemas de vertedores de parede espessa
horizontal e arredondada.

FIGURA 5 – Esquema de um escoamento sobre um vertedor de parede espessa

Na figura 6 são mostrados exemplos de vertedores.

FIGURA 6 – Vertedor de parede arredondada (esquerda) e espessa (direita).

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6 – DISSIPADOR DE ENERGIA
Após a passagem do escoamento pelo extravasor, é necessária sua
restituição ao curso d´água à jusante. Considerando que o extravasor está
localizado em uma cota muito mais alta que o curso d´água à jusante, é necessário
prever um dissipador de energia neste caso.
O dissipador de energia a ser utilizado vai depender da análise das condições
locais e custos. Dentre os dissipadores mais utilizados estão: escada dissipadora,
rampa com blocos, e bacias com ressalto ao pé da barragem (maiores detalhes
podem ser obtidos no texto sobre dissipadores de energia).
Na figura 7 são mostrados tipos de dissipadores de energia utilizados em
barragens de terra.

FIGURA 7 – Escada de dissipação (esquerda) e rampa com blocos (direita)

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