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"EDUCAÇÃO.

UM DIREITO E UM DEVER DOS PAIS E DA ESCOLA"

OBJECTIVOS

- Sensibilizar os pais para o exercício do direito à educação, de que não podem prescindir
ou alienar e o dever, essencial e insubstituível, que assumem perante os filhos, dos quais
são os primeiros e principais educadores.
- Ajudar a reflectir sobre o conteúdo da educação: educar é transmitir valores;
educar é formar para os valores essenciais da vida humana.
- Destacar a permanência e universalidade do processo educativo: todos e a qualquer
tempo devemos assumir o papel de educadores e de educandos.
- Chamar a atenção para as diferentes funções dos pais e da Escola no processo educativo
e para a urgente necessidade de uma frutuosa cooperação entre Escola e Família, em
ordem à harmoniosa e integral formação dos jovens.

1. INTRODUÇÃO

É este um tema que, pela importância de que se reveste e pelas implicações que
determina, deve merecer de todos particular atenção e cuidadosa reflexão.
Com efeito, a educação é, para o cristão, um dos campos da missão salvífica da Igreja, já
que tem como autor e destinatário o homem, criado por Deus e para Deus.
É também, reconhecidamente, um dos temas que, ao longo dos tempos, mais
preocupadamente tem merecido a atenção de topos quantos assumem responsabilidades
na condução da vida dos povos.
Não surpreende, pois, que sejam muitos os documentos internacionais e do magistério da
Igreja que exprimem a exigência, o conteúdo e a aplicação concreta do direito à educação.
A exigência do direito à educação encontra-se fundamentado na Declaração Universal dos
Direitos do Homem (ONU, 1948): "Toda a pessoa tem direito à educação" (Artº 26, nº 1),
direito reafirmado pelos Estados signatários do "Pacto Internacional sobre os direitos civis,
políticos, económicos, sociais e culturais" (Dezembro de 1966), ao reconhecer-se o direito
de toda a pessoa à educação (Artº 13, nº 1).
Também o Concílio Vaticano 11, sobre a matéria declara: "Todos os homens, de qualquer
raça, condição e idade, têm direito inalienável a uma educação correspondente ao próprio
fim, acomodado ao próprio carácter, sexo, cultura e às tradições pátrias..." (Gravissimum
Educationis).
Entre nós, o direito à educação encontra-se referido nos ArtQs 36, nQ 5; 43, nQ 2; 67; 68.
nQ 1; 73 e 74 da Constituição da República Portuguesa, de que retiramos as seguintes
conclusões fundamentais:

* "Todos têm direito à educação e à cultura",


* "Todos têm direito ao ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades de
acesso e êxito escolar"
* "Os pais têm o direito e o dever de educação e manutenção dos filhos"
* "A família, como elemento fundamental da sociedade, tem o direito à protecção da
sociedade e do Estado e à efectivação de todas as condições que permitam a realização
pessoal dos seus membros"
* "Incumbe designadamente ao Estado, para protecção da família:... c) Cooperar com os
pais na educação dos filhos"
* "Os pais e as mães têm direito à protecção da sociedade e do Estado na realização
da sua insubstituível acção em relação aos filhos, nomeadamente quanto à sua
educação"
* "O Estado não pode atribuir-se o direito de programar a educação e a cultura segundo
quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas".

Como acaba de referir-se. o direito à educação encontra-se inequivocamente expresso em


documentos fundamentais da comunidade nacional e internacional, devendo concluir-se:

- a universalidade do direito à educação e ao ensino;


- a obrigatoriedade (dever) e corresponsabilidade que os pais, o Estado e a sociedade
assumem na tarefa educativa;
- o direito dos pais à cooperação e protecção do Estado e da sociedade na educação dos
filhos;
- o reconhecimento do papel insubstituível que aos pais se reserva na tarefa educativa,

Como se vê. a educação é uma exigência, isto é, um direito cujo exercício constitui.
simultaneamente. um dever: o direito à educação implica o dever de educar.

2. EDUCAR, O QUE É?

Mas. o que significa "educar"?


O conteúdo do direito à educação é assim definido na Declaração dos Direitos da Criança
(nº 7):
"A educação tem em vista favorecer a sua (da criança) cultura geral e permitir
desenvolver as suas atitudes e o seu julgamento individual, o sentido da responsabilidade
moral e social, tornando-a membro útil da sociedade".
"A verdadeira educação visa a formação da pessoa humana, em ordem ao seu fim último
e ao bem da sociedade" (Gravissimum Educationis).

"A educação deve visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana e o


fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais,
favorecendo a compreensão, a tolerância e a amizade entre todos os homens".

Não obstante a sua formulação mais ou menos complexa, poderá dizer-se que:

- Educar é transmitir valores - os valores essenciais da vida humana.


- Educar é ajudar eficazmente a viver uma vida plenamente humana.

A educação visa, pois, a formação integral do homem.

3. OS AGENTES E AS RESPECTIVAS FUNÇÕES EDUCATIVAS

E como se exerce, na prática, o direito à educação?


A quem compete o dever de educar?

São muitos os agentes educativos, situados a diversos níveis de funcionalidade.


Quer isto dizer que, sendo diversas as instâncias educativas, igualmente diferentes são os
modos de intervenção e as funções desempenhadas. Na concepção actual, constituem
agentes educativos todas as pessoas ou grupos institucionalizados que assumem o dever
de educar - os pais, os poderes públicos (Estado, autarquias, escolas e outras instituições
e organismos oficiais), grupos ideológicos (v. g. partidos políticos, associações públicas ou
privadas), professores, alunos, etc., etc.
De todos, destacam-se pela importância do papel que assumem no processo educativo, os
Pais e a Escola.

3.1. OS PAIS E A SUA MISSÃO EDUCATIVA

Gerando no amor e por amor um novo ser - o filho - o direito-dever educativo dos pais é,
por isso, essencial. Mas também originário e primário, dada a relação de amor existente
entre a fonte e o fruto, relação que é anterior a qualquer outra.
Finalmente, também insubstituível e Inalienável, o que significa que nenhum outro agente
pode arrogar-se o direito e a capacidade de substituir os pais na tarefa educativa dos
filhos, nem aqueles podem delegar noutrém o desempenho dessa função.
Pode dizer-se que, pelo menos formal e teoricamente, o direito à educação por parte dos
pais é reconhecido, com tais características, pelos poderes públicos. Com efeito, são
muitos os instrumentos legais em que se reconhece o dever do Estado cooperar com os
pais na educação dos filhos; em que se apontam a maternidade e a paternidade como
valores sociais eminentes; que definem como insubstituível a acção dos pais quanto à
educação dos filhos; que retiram ao Estado o direito de programar a educação e a cultura
segundo normas e directrizes que por si estabelecidas e impostas, salvaguardando o
direito que os pais têm de escolher o género de educação a dar aos filhos (Artº 26 da D.
U. D. h.).
Na prática, porém, as coisas não se passam assim e muito frequentemente acontece o
Estado assumir poderes que não lhe pertencem, ignorando ou desprezando os direitos da
família na definição e realização de projectos educativos, manifestamente agressivos da
realidade social e dos valores morais e religiosos das famílias.
São várias as vertentes em que a missão educativa dos pais se desdobra e que nem
sempre se apresenta facilitada - antes pelo contrário - face a uma sociedade francamente
instável, cada vez mais agitada e confrontada com permanentes angústias, conflitos e
tensões.
Enquanto comunidade fundada no amor e vivificada pelo amor, a família deverá educar
para o amor.
Educar para o amor é transmitir as normas e critérios que hão-de enformar a correcta
compreensão e vivência da sexualidade humana; é transmitir os valores da comunhão, da
participação, da responsabilidade, da solidariedade, da sociabilidade, da fecundidade,
preparando para uma integração social activa e responsável, porque respeitadora dos
direitos dos outros; é transmitir os valores da fé, numa tarefa de iniciação catequética a
ser continuada e aprofundada depois pelas estruturas eclesiais.
Os pais são os principais e primeiros educadores dos seus filhos (Nº 1653 do Catecismo da
Igreja Católica) e constituem a primeira escola da vida cristã e de enriquecimento humano
(Nº 1657 do C.I.C.).
O papel dos pais na educação é de tal importância que é impossível substituí-los.
O direito e o dever da educação são prioritários e inalienáveis para os pais (Nº 2221 e
segts. do C.I.C.). No plano da família, a tarefa educativa é o sacerdócio baptismal do pai,
da mãe, dos filhos, de todos os seus membros.

E a Escola? Qual é o papel que se lhe reserva, na educação?

3.2. O LUGAR DA ESCOLA NA EDUCAÇÃO

Face à natureza prioritária e insubstituível da missão educativa dos pais, compete à Escola
completar e desenvolver, subsidiariamente, na vertente educativa, os valores da
personalidade. promovendo uma educação para a inserção na vida social e profissional e
para o exercício responsável da cidadania, através do desenvolvimento das faculdades e
capacidades físicas, intelectuais e morais dos seus alunos, num processo educativo
integrado e personalizado.
A par desta vertente educativa, complementar do processo de transmissão de valores
iniciado pelos pais, compete à Escola, como tarefa própria e específica, a vertente
instrutiva, isto é, a transmissão de conhecimentos que integram o processo curricular de
cada uma das áreas disciplinares.
É esta a tarefa específica da Escola - transmitir a cultura, no respeito pela diferença e pela
liberdade.
Por isso deve ser absolutamente garantido o direito dos pais à escolha de uma educação
que não agrida a sua fé nem colida com os seus princípios morais ou as suas convicções
religiosas.
Diz a Familiaris Consortio (Nº 40): "Se nas escolas se ensinam ideologias contrárias à fé
cristã. cada família juntamente com outras, possivelmente mediante formas associativas,
deve com todas as forças e com sabedoria ajudar os jovens a não se afastarem da fé. E
todos os que na sociedade ocupam postos de direcção escolar nunca esqueçam que os
pais foram constituídos pelo próprio Deus, como primeiros e principais educadores dos
filhos e que o seu direito é absolutamente inalienável".
Mas, complementar ao direito. coloca-se o dever (grave) dos pais se empenharem numa
relação. cordial e construtiva, com a Escola.

4. A RELAÇÃO FAMÍLIA. ESCOLA: A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NO PROCESSO


EDUCATIVO.

No âmbito da reforma educativa iniciada no nosso país e cujas linhas fundamentais


constam da Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei nº 46/86, de 14/10/86) tem vindo a
chamar-se a atenção para a necessidade de se operar uma efectiva mobilização
comunitária, dado considerar-se a escola como um território ou espaço educativo
construído pela interacção dos professores. alunos, pais, pessoal auxiliar da acção
educativa e representantes da comunidade envolvente, a todos cabendo assumir a sua
quota de responsabilidade na vida da escola.
Procura-se "que a educação promova o desenvolvimento do espírito democrático e
pluralista. respeitado r dos outros e das suas ideias. aberto ao diálogo e à livre troca de
opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio
social em que se integram e de se empenharem na sua transformação".
Para isso, o sistema educativo deverá organizar-se por forma a contribuir para a
realização do educando. através do pleno desenvolvimento da personalidade. da formação
do carácter e da cidadania. preparando-o para uma reflexão consciente sobre os valores
espirituais, estéticos, morais e cívicos e assegurando a formação (cívica e moral) dos
jovens.
Para estes objectivos sejam atingidos, é ponto assente a indispensabilidade da intervenção
no processo de todos os agentes educativos e, de modo particular, dos pais e
encarregados de educação, aos quais assiste o direito de exigir essa participação e que
pode assumir duas formas distintas:

- a nível individual, enquanto encarregado de educação de um aluno de determinada


escola;
- enquanto membro de uma associação de pais ou de encarregados de educação.

No primeiro caso é desejável que, através do contacto com os diversos órgãos da Escola,
os pais e encarregados de educação acompanhem e participem activamente no
percurso escolar dos seus filhos ou educandos.
No segundo caso, essa intervenção é assegurada através da integração e participação
efectiva no Conselho da Escola ou Conselho Pedagógico, entre outros, onde se tomam
decisões que têm a ver com o processo educativo dos alunos.
"Transformar a escola com a participação da família" é, aliás, o tema do programa de
acção para o ano lectivo de 93/94 do Secretariado Diocesano do Ensino Religioso de
Lisboa, no sentido de incrementar a participação da família no processo educativo
desenvolvido pela escola.
Família e Escola não devem actuar em paralelo e, muito menos, em conflito. A
necessidade de convergência da acção de ambas no processo de desenvolvimento dos
jovens é uma questão fundamental da Reforma Educativa. .
Assim o entendam os pais deste país.

PISTAS DE REFLEXÃO

1. Os pais são os primeiros e principais educadores.


Que aspectos consideramos fundamentais na educação dos filhos?
2. Pais e Escola devem manter uma relação dialogante e de mútua colaboração.
Em que aspectos pode manifestar-se essa colaboração?
3. É frequente ouvir-se dizer que cada vez é mais difícil educar.
Quais são as causas dessas dificuldades? E como se podem ultrapassar?
4. Os poderes políticos constituídos devem fazer todos os esforços para, sem se
sobreporem às famílias, tudo dispor no sentido de uma efectiva colaboração com os pais
na educação dos filhos, salvaguardando o inalienável direito de aprender e de ensinar em
liberdade. (Das conclusões do 11 Encontro "Família e Educação).
Que medidas deveriam ser tomadas pelo Estado no sentido de uma mais efectiva
colaboração com os pais na educação dos filhos?

PROPOSTA DE ORAÇÃO

"Deus. nosso Pai.


Obrigado pelo sublime Educador que nos deste em Jesus Cristo.
Caminho, Verdade e Vida!
Obrigado pelo amor com que constituíste e. em cada momento. vivificas a família onde
quiseste que nascêssemos e crescêssemos para a Fé.
Ajudai-nos a cumprir a nobre e exigente missão de educadores dos filhos que nos
confiaste.
Ajudai-nos a exercer responsavelmente, o direito à educação e a assumir, com a
dignidade de teus filhos, o dever de educar.
Ajudai-nos a respeitar a liberdade e a personalidade dos que colocaste no nosso caminho,
por obra da fecundidade do Teu amor e a comprometermo-nos com todos os outros
homens na transformação deste mundo. em ordem a uma sociedade de rosto mais
humano e de coração mais fraterno.
AMEN.

(In Textos de Reflexão - Congresso Diocesano da Família - Dez. 94 -Porto)

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