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CONSTRUMETAL 2010 – CONGRESSO LATINO-AMERICANO DA CONSTRUÇÃO METÁLICA

São Paulo – Brasil – 31 de agosto a 2 de setembro 2010

Viabilidade da utilização de pilares mistos parcialmente


revestidos em edifícios de múltiplos pavimentos: estudo de caso
Silvana De Nardin (1) & Giovana Nasser Toledo (2) & Alex Sander Clemente de Souza (1)

(1) Prof. Adjunto, Departamento de Engenharia Civil – Universidade Federal de São Carlos
(2) Engenheira Civil – Universidade Federal de São Carlos

Resumo
Sistemas estruturais compostos por elementos mistos de aço e concreto têm se mostrado
soluções bastante econômicas e racionais, sobretudo para utilização em edifícios de múltiplos
pavimentos. Dentre os elementos mistos de aço e concreto, destaca-se o pilar misto
parcialmente revestido, constituído por um perfil I ou H, cuja região entre as mesas é
preenchida com concreto armado. Sua aplicação a edifícios de múltiplos pavimentos é
estudada a partir da formulação apresentada na NBR 8800:2008, destacando os estados
limites últimos aplicáveis a este elemento estrutural. A partir dos critérios normativos na NBR
8800:2008 é desenvolvido um estudo de caso que consiste num edifício de quinze pavimentos
para o qual foram determinados os esforços solicitantes nos pilares. Com tais esforços foram
dimensionados pilares mistos parcialmente revestidos e pilares de aço que atendam aos
critérios de verificação à compressão simples e à flexo-compressão. Uma vez dimensionados
os pilares mistos e de aço, é feito um estudo comparativo no qual são contemplados aspectos
como dimensões da seção transversal, consumo de aço, área livre por pavimento e custo do
pilar. Os resultados comparativos apontam que a utilização de pilares parcialmente revestidos
leva a substancial redução do consumo de aço, conseqüente redução do custo do pilar e maior
área livre por pavimento. Com base nestes resultados de um estudo de caso, fica constatada a
viabilidade de empregar pilares mistos parcialmente revestidos na composição do sistema
estrutural de edifícios de múltiplos pavimentos.

1. Introdução

O crescente desenvolvimento tecnológico e econômico nos processos construtivos e a busca


por novas soluções que atendam às exigências do mercado têm impulsionado e intensificado o
surgimento de diversos sistemas estruturais e construtivos, entre os quais estão os sistemas
estruturais formados por elementos mistos de aço e concreto, que objetivam oferecer
estruturas mais racionais e econômicas, sobretudo para edifícios de múltiplos pavimentos.

Acredita-se que o emprego de elementos mistos de aço e concreto na composição dos


sistemas estruturais possa contribuir para industrializar e modernizar a Construção Civil.
Além da variedade de opções e combinações possíveis para as estruturas mistas,
especificamente em relação às estruturas em concreto armado verifica-se a possibilidade de
reduzir ou dispensar fôrmas e escoramentos, diminuindo custos com materiais e mão-de-obra,
reduzindo o peso próprio da estrutura devido à utilização de elementos mistos estruturalmente
mais eficientes e aumentando a precisão dimensional dos elementos.

Por outro lado, em relação às estruturas de aço, as estruturas mistas permitem reduzir o
consumo de aço estrutural. Aqui é importante frisar que o emprego de elementos mistos
constitui não só uma opção de sistema estrutural, mas também de processo construtivo e,
como tal, suas vantagens estendem-se também a estes aspectos, desde que sejam adotadas
técnicas construtivas adequadas ao sistema. Além disso, o surgimento dos elementos mistos e
sua associação com elementos em concreto armado e de aço impulsionaram o surgimento das
estruturas híbridas. É cada vez mais comum compor o sistema estrutural de uma edificação
com pilares de aço, vigas mistas, núcleos ou paredes de concreto armado que garantem a
estabilidade horizontal.

O grau de eficiência da associação aço-concreto na forma de elementos mistos tem relação


direta com o tipo de solicitação a que cada componente estará sujeito no sistema estrutural. A
condição ideal é posicionar o aço nas regiões sujeitas a forças de tração e o concreto, nas
regiões comprimidas. Desta forma, esta associação resulta na combinação ideal aço-concreto.

A utilização dos elementos mistos de aço e concreto ganhou novo fôlego no Brasil com a
publicação, em julho de 2008, da nova versão da NBR 8800:2008, que contempla, em seus
anexos, recomendações de projeto para lajes, vigas e pilares mistos. Os elementos mistos
abordados pela NBR 8800:2008 são apresentados na Figura 1.

a) Laje Mista b) Viga mista c) Pilares Mistos: preenchido, revestido e


parcialmente revestido

Figura 1 – Exemplos de elementos mistos de aço e concreto

Dentre os elementos mistos de aço e concreto mostrados na Figura 1, os pilares do tipo


parcialmente revestido serão o foco deste estudo. Tais pilares são compostos por um perfil Ι,
de aço, trabalhando em conjunto com o concreto armado que preenche a região entre as
mesas. Como pontos positivos do pilar parcialmente revestido destacam-se a facilidade de
executar as ligações com outros elementos pois há faces do perfil de aço expostas e a
possibilidade de ampliar significativamente a capacidade resistente da seção de aço sem
aumento das dimensões do perfil Ι. Em contrapartida, pesam desfavoravelmente à utilização
deste tipo de pilar aspectos como a necessidade de barras de armadura para combater a
fissuração do concreto e aumentar a resistência ao fogo, a possível necessidade de conectores
de cisalhamento para combater esforços de cisalhamento na interface aço-concreto e a
necessidade de fôrmas para o preenchimento das regiões entre as mesas do perfil Ι. Destes
aspectos desfavoráveis, a necessidade de fôrmas pode ser eliminada fazendo a pré-moldagem
do pilar misto, com o perfil na posição horizontal e a concretagem sendo executada em duas
etapas.

Os pilares mistos revestidos surgiram inicialmente da idéia de proteção dos perfis de aço
contra a ação maléfica do fogo, sendo que o concreto era o principal responsável por esta
proteção. Entretanto, com a evolução das técnicas de produção de materiais para este fim, são
encontrados no mercado, produtos com custos menores que o concreto. Sendo assim, o
concreto do pilar misto revestido passa a ser empregado, na atualidade, como material
estrutural, porém, mantendo suas características iniciais de proteção contra ação do fogo e da
corrosão. Posteriormente, com a idéia de usar o concreto como material estrutural de
preenchimento dos perfis tubulares, surgem os pilares mistos preenchidos. Sendo assim,
conforme a disposição do concreto na seção mista, os pilares mistos são classificados como
preenchidos, revestidos ou parcialmente revestidos (Figura 1).

Mesmo com o emprego de um pilar misto que requer a confecção e montagem de fôrmas, o
processo construtivo pode ser facilitado. VICENT & TREMBLAY (2001) sugerem que a
estrutura em aço seja montada para até três pavimentos e o preenchimento da região entre as
mesas dos perfis de aço, para obtenção do pilar parcialmente revestido, seja feita juntamente
com a concretagem da laje. Uma vez endurecido o concreto e constituído o pilar misto
parcialmente revestido, novos pavimentos podem ser adicionados.

Os pilares parcialmente revestidos apresentam grande potencialidade de utilização uma vez


que permitem ganhos consideráveis de capacidade resistente sem aumento da seção
transversal, podendo ser pré-fabricados e posteriormente, posicionados no local definitivo; no
entanto, sua utilização é bastante restrita ainda.

Sendo este, um tema contemporâneo e de grande importância para o desenvolvimento do


setor da construção civil e a fim de colaborar com as carências técnicas e teóricas ainda
existentes nesta área, o dimensionamento dos pilares parcialmente revestidos, sua aplicação e
seu desempenho em edifícios de múltiplos andares serão objetos de estudo deste trabalho.

2. Dimensionamento de pilares parcialmente revestidos – $BR 8800:2008

Um pilar misto de aço e concreto é um elemento estrutural sujeito, predominantemente, à


compressão, quer seja simples ou composta, no qual a seção transversal resistente é formada
por um ou mais perfis de aço revestidos ou preenchidos de concreto. Segundo a NBR
8800:2008, a seção transversal do pilar misto deve ser duplamente simétrica e constante ao
longo do comprimento do pilar. O perfil de aço de seção tubular ou seção I pode ser laminado,
soldado ou formado a frio. Os pilares mistos parcialmente revestidos são constituídos de
perfis de aço com seção transversal tipo “I” ou “H”, cujo espaço entre as mesas é preenchido
de concreto.

A norma brasileira NBR 8800:2008 inclui, a partir de sua versão de 2008, o dimensionamento
de elementos mistos como lajes, pilares, ligações mistas e continuidade em vigas mistas. A
filosofia de projeto da NBR 8800:2008 apresenta semelhanças tanto com a norma européia
Eurocode 4 (2004) quanto com a americana AISC-LRFD (2005), adotando grande parte dos
procedimentos de cálculo em conformidade com o Eurocode 4, mas considerando as curvas
de resistência adotadas pela AISC-LRFD (2005).

O dimensionamento dos pilares mistos de aço e concreto é abordado no Anexo P da NBR


8800:2008.

2.1 omenclatura
Antes do inicio da descrição da metodologia para dimensionamento/verificação de pilares
mistos parcialmente revestidos sob compressão simples e flexo-compressão, vamos definir a
nomenclatura que será empregada ao longo deste texto.
Aa: área da seção transversal do perfil de aço
Ac: área da seção transversal de concreto
As: área da seção transversal da armadura longitudinal (barras de aço)
Asn: soma das áreas das barras da armadura na região de altura 2hn
Asni: área de cada barra da armadura na região de altura 2hn
Ea: módulo de elasticidade do aço do perfil, igual a 200000 MPa
Ec: módulo de elasticidade do concreto
Ec,red: módulo de elasticidade reduzido do concreto
Es: módulo de elasticidade do aço da armadura longitudinal, igual a 200000MPa
(EI )e : rigidez efetiva do pilar misto á flexão
Ia: momento de inércia da seção transversal do perfil de aço
Ic: momento de inércia da seção transversal do concreto não fissurado
Is: momento de inércia da seção transversal da armadura longitudinal imersa no concreto
Lx: comprimento destravado do pilar entre contenções laterais, direção x
Ly: comprimento destravado do pilar entre contenções laterais, direção y
Mx,Rd e My,Rd: momentos fletores resistentes, de cálculo, em relação aos eixos x e y, respectivamente
Mx,Sd e My,Sd: momentos fletores solicitantes, de cálculo, em relação aos eixos x e y, respectivamente
Ne: força axial de flambagem elástica
NG,Sd: parcela da força axial solicitante de cálculo devida à ação permanente e à ação decorrente do
uso, de atuação quase permanente
NSd: força axial solicitante de cálculo
Npl,c.Rd: força axial de compressão resistente do concreto da seção transversal
Npl,Rd: força axial de compressão resistente, de cálculo, à plastificacao total
Npl,R: força axial de compressão resistente, valor nominal, à plastificacao total
NRd: força axial de compressão resistente de cálculo
Za, Zc e Zs: módulos de resistência plásticos da seção do perfil de aço, da seção de concreto e da seção
da armadura, em relação ao eixo que passa pelo centróide
Zan, Zcn e Zsn: módulos de resistência plásticos da seção do perfil de aço, da seção de concreto e da
seção da armadura, em relação ao eixo distante hn do centróide
bf: largura da mesa do perfil de aço
ei : a distância do eixo da barra da armadura de área Asi ao eixo de simetria relevante da seção.
exi: distância do eixo da barra da armadura ao eixo y
eyi: distância do eixo da barra da armadura ao eixo yx
fcd1: dado pelo produto α ⋅ f cd

fyd: resistência ao escoamento do perfil de aço, valor de cálculo, igual a f yk / 1,10


n: número de barras de armadura
tf: espessura da mesa do perfil de aço
α: coeficiente tomado igual a 0,85 para seções mistas parcialmente revestidas
δ: fator de contribuição do aço
χ: fator de redução da força resistente a plastificação da seção
λ0,m: índice de esbeltez reduzido
ϕ: coeficiente de fluência do concreto

2.2 Filosofia de projeto


A filosofia de projeto da NBR 8800:2008 se assemelha muito à adotada pelo Eurocode 4
(2004). Dentro deste contexto, há dois métodos para avaliar a capacidade resistente do pilar
misto: método geral e método simplificado. Ambos os procedimentos baseiam-se na interação
total aço-concreto até que seja atingida a ruína e na hipótese de conservação das seções planas
antes e após a solicitação. Segundo o método geral, na verificação da estabilidade estrutural
devem ser considerados os efeitos de segunda ordem, incluindo as tensões residuais,
imperfeições geométricas, instabilidades locais, ruptura do concreto por esmagamento,
fluência e retração do concreto, e escoamento dos componentes de aço da seção (perfis e
armadura). Também deve ser assegurado que não haverá instabilidade local nas seções
sujeitas às combinações mais desfavoráveis do estado limite último e que a resistência da
seção transversal, sujeita a flexão, forças longitudinais e cortantes, não será excedida.

A aplicação do método simplificado se limita a seções transversais duplamente simétricas e


uniformes ao longo da altura do pilar. Para a determinação da capacidade resistente do pilar
misto primeiramente é calculada a capacidade resistente à compressão da seção à
plastificação, admitindo plastificação total. Os efeitos da instabilidade global por flexão do
pilar são então considerados a partir de um coeficiente que reduz a capacidade resistente da
seção à plastificação total. Tal fator de redução é obtido de curvas de resistência que foram
determinadas para pilares de aço isolados e cujos parâmetros são modificados para levar em
conta a presença de aço e concreto. Portanto, o método simplificado se baseia nas hipóteses de
interação total entre o aço e o concreto e na não ocorrência de flambagem local dos
componentes de aço como estado limite último.

2.3 Limites de aplicabilidade


Dentre as características inerentes a cada uma das normas técnicas aplicáveis ao
dimensionamento/verificação de pilares mistos destaca-se a resistência dos materiais que
compõem a seção mista e, para cada uma das normas em estudo, são apresentados limites de
aplicabilidade para a resistência à compressão do concreto e tensão ao escoamento do aço.
Tais limites de resistência são apresentados sucintamente na Tabela 1.

Tabela 1 – Limites de aplicabilidade ($BR 8800, 2008)


ex
y
ey
d=hc

x
Seção parcialmente revestida
tf

bf=bo
Resistência do aço ao escoamento Resistência do concreto
f yk ≤ 420 MPa 20 MPa ≤ f ck ≤ 50 MPa
Obs.: concreto de densidade normal

N Rpl
Limite de índice de esbeltez global λ o ,m = ≤ 2,0
Ne

bf E
Limite de esbeltez local ≤ 1,49
tf f yd
Taxa de armadura longitudinal 0,3% A c ≤ A s ≤ 4% A c

Fator de contribuição do perfil de A a ⋅ f yd


0,2 ≤ δ ≤ 0,9 com δ =
aço N pl ,Rd
(EI )e = E a ⋅ I a + 0,6 ⋅ E c,red ⋅ I c + E s ⋅ I s
Ec
E c,red =
N 
Rigidez efetiva a flexão 1 + ϕ ⋅  G ,Sd 
 N Sd 
ϕ = 2,5 (pilares parcialmente revestidos)
E c = 4760 ⋅ f ck (fck em MPa)

Quando a área total de armadura longitudinal As, obrigatória no caso dos pilares mistos
parcialmente revestidos, for maior que a porcentagem apresentada na Tabela 1, deve ser
adotado, no dimensionamento, o valor máximo.

2.4 Comportamento conjunto (misto) entre aço e concreto


Como hipótese inicial, é admitido comportamento conjunto com interação completa entre o
perfil de aço e o concreto. Isto é válido quando a aplicação das forças advindas do pavimento
se dá de forma simultânea nos dois componentes da seção mista: perfil e concreto.

No entanto, os detalhes de ligação viga-pilar normalmente são concebidos para que as forças
do pavimento sejam introduzidas no pilar misto via perfil de aço; isto ocorre devido à
facilidade na execução destes detalhes de ligação. Nestes casos, o pilar é dividido, ao longo de
sua altura, em duas regiões distintas: regiões de introdução de cargas e região entre pontos de
introdução de cargas. A primeira é definida, segundo NBR 8800:2008, como sendo aquela
onde ocorre variação localizada dos esforços solicitantes. Tal variação pode ser ocasionada
pela ligação viga-pilar ou pela interrupção da armadura longitudinal (emendas do pilar ou em
bases). Nestas regiões, deve ser verificada se as tensões solicitantes de cisalhamento na
interface aço-concreto excedem os valores resistentes. Nos casos em que isto ocorre, devem
ser empregados conectores de cisalhamento tipo pino com cabeça para resistir a estas tensões
de cisalhamento. Tais conectores devem ser distribuídos ao longo da altura do pilar (distância
interpavimentos) num comprimento denominado comprimento de introdução de cargas.

A utilização dos conectores tem a função de evitar que as tensões de cisalhamento rompam a
aderência natural aço-concreto, o que faria cada componente se deformar independentemente,
podendo provocar o deslizamento relativo entre os dois componentes e a perda da aderência,
que é hipótese fundamental de dimensionamento.

As regiões de introdução de carga merecem atenção especial e não serão abordadas ao longo
deste texto, pois iremos admitir que a aderência perfeita aço-concreto não será destruída com
a atuação do carregamento, ou seja, que as forças serão aplicadas simultaneamente nos dois
componentes e distribuídas entre eles de acordo com sua rigidez. Os trechos entre regiões de
introdução de carga estão localizados fora das regiões afetadas pela base do pilar, por
emendas ou por ligações viga-pilar.

2.5 Pilares submetidos a compressão simples


Para determinar a capacidade resistente a compressão (NRd) do pilar parcialmente revestido,
devemos conhecer a capacidade resistente da seção mista à plastificação dos materiais aço e
concreto.

2.5.1 Força axial de compressão resistente, de cálculo, à plastificação total

A força axial de compressão resistente, de cálculo, à plastificação total, Npl,Rd, é fruto do


somatório das resistências à plastificação total de cada componente comprimido que compõe
a seção transversal do pilar misto de aço e concreto, já que admite-se que todos os
componentes da seção mista atingem a plastificação total. Os componentes são: perfil de aço,
concreto e armadura longitudinal:

N pl , Rd = N pl ,a , Rd + N pl ,c , Rd + N pl ,s , Rd

Sendo:

1) Capacidade resistente do perfil de aço: N pl ,a ,Rd = f yd ⋅ A s

2) Capacidade resistente do concreto: N pl ,c,Rd = f cd1 ⋅ A c , f cd1 = 0,85 ⋅ f cd

3) Capacidade resistente da armadura longitudinal: N pl ,s ,Rd = f sd ⋅ A s


2.5.2 Efeito da flambagem por flexão

A instabilidade por flexão é considerada no dimensionamento dos pilares mistos fazendo uso
da mesma metodologia empregada para os pilares de aço, ou seja, empregando o coeficiente
de redução χ, que depende, essencialmente, do índice de esbeltez reduzido λ 0,m , o qual

delimita os trechos de flambagem elástica e inelástica. Assim sendo, a curva que representa a
relação entre χ e λ 0,m é dividida em dois trechos, como mostrado na Figura 2.

1,0
λ 0, m 2
χ = 0,658
0,8

λ 0 ,m 2
0,6 χ = 0,658 → λ 0,m ≤ 1,5
χ
0 ,8 7 7 0,877
0,4
χ =
λ 0 ,m
2 χ= → λ 0,m > 1,5
λ 0 ,m 2

0,2

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0


λ0,m

Figura 2 – Relação entre o parâmetro χ e o índice de esbeltez reduzido λ 0,m

2.5.3 Capacidade resistente a compressão – "Rd

A força axial resistente de cálculo, de pilares mistos parcialmente revestidos, axialmente


comprimidos sujeitos a instabilidade por flexão é expressa por:

N Rd = χ ⋅ N pl ,Rd

2.6 Pilares submetidos a flexo-compressão


A verificação dos pilares mistos submetidos à flexo-compressão é análoga à aplicável a
pilares de aço isolados. Portanto, são utilizadas expressões de interação momento-normal,
porém adaptadas para levar em conta a presença do concreto na seção mista parcialmente
revestida. Basicamente, a verificação consiste em analisar isoladamente os efeitos da
compressão e da flexão e, posteriormente, considerar a interação entre estes esforços via
diagrama ou equação de interação.
2.6.1 Diagramas de interação

A norma brasileira NBR 8800:2008 apresenta dois métodos de dimensionamento para pilares
mistos submetidos à flexão composta. O Modelo de Cálculo I equivale ao utilizado pela
norma americana AISC-LRFD (2005), que representa a curva de interação Momento-Força
Normal por dois trechos de reta (Figura 3a). O limite entre os dois segmentos de reta é dado
pela relação N Sd / N Rd = 0,2 . Cada um destes segmentos de reta é representado por uma
equação de interação, mostrada na Figura 3b.

NSd
NRd
N Sd N 8  M x ,Sd M y ,Sd 
1) ≥ 0,2 → Sd +  + ≤1
N Rd N Rd 9  M x ,Rd M y,Rd 

N Sd N Sd M M y ,Sd 
2) < 0,2 → +  x ,Sd +  ≤1
0,2 N Rd 2 ⋅ N Rd  M x ,Rd M y ,Rd 

0,9 1,0 MSd


MRd
a) Diagrama de Interação b) Equações de interação
Figura 3 – Curvas de interação Momento vs. Força $ormal: Modelo I

Em contrapartida, o Modelo de Cálculo II é inspirado nas curvas de interação Momento-Força


Normal adotadas pelo Eurocode 4 (2004), que representa a curva de interação por três trechos
de reta (Figura 4a). Na equação geral de interação (Figura 4b), o coeficiente µ assume, em
função do eixo de flexão, os valores mostrados a seguir. Para flexão em torno do eixo y, basta
alterar adequadamente as expressões a seguir, considerando as características geométricas
neste eixo.

 N Sd − N pl,c ,Rd
 1- se N Sd ≥ N pl,c ,Rd
 N pl,Rd − N pl,c,Rd

 M   2 ⋅ N Sd  M N
µ x = 1 − d , x  ⋅  − 1 + d , x se c < N Sd < N pl,c ,Rd
  M
 M c, x   N pl,c ,Rd  c, x 2

1 + 2 ⋅ N Sd ⋅  M d ,x − 1se 0 ≤ N ≤ N pl,c ,Rd
 N pl,c ,Rd  M d ,x  Sd
2
  
NRd
Npl,Rd
M x , tot ,Sd M y , tot ,Sd
+ ≤ 1,0
µ x ⋅ M c,x µ y ⋅ M c, y
Npl,c,Rd

0,5Npl,c,Rd
Mmax,pl,Rd Com N Sd ≤ N Rd

Mc
Mpl,Rd MRd
Md Mpl,Rd
a) Diagrama de Interação b) Equação de interação
Figura 4 – Curvas de interação Momento vs. Força $ormal: Modelo II

Os momentos fletores Mc e Md são expressos por:

M c, x = 0,9 × M pl , x ,Rd e M c, y = 0,9 × M pl , y ,Rd

M d , x = 0,8 × M max, pl , x ,Rd e M d , y = 0,8 × M max, pl , y ,Rd

Caso M d , x < M c ,x , M d , x deve ser tomado igual a M c ,x . O mesmo procedimento deve ser

adotado em relação ao eixo y.

E, os momentos fletores máximos resistentes de plastificacao, valores de cálculo,


M max,pl , x ,Rd e M max, pl , y ,Rd , representam o ponto mais extremo no diagrama de interação
Momento-Normal (Figura 4).

Em toda a formulação apresentada até o momento, o índice x corresponde à flexão em torno


do eixo x e o índice y corresponde à flexão em torno do eixo y.

M x , tot ,Sd M y , tot ,Sd


Na equação geral de interação + ≤ 1,0 , os momentos M x , tot ,Sd e
µ x ⋅ M c,x µ y ⋅ M c, y

M y , tot ,Sd representam os momentos fletores totais solicitantes de cálculo, em relação aos
eixos x e y, respectivamente. No cálculo destes esforços solicitantes são levados em conta os
efeitos das imperfeições iniciais nos pilares, como descrito a seguir.
2.6.2 Imperfeições geométricas iniciais

As imperfeições geométricas no pilar misto parcialmente revestido são levadas em conta, caso
não seja feita uma análise mais rigorosa, via consideração de um momento devido às
imperfeições ao longo do pilar, dado por:

Eixo x: M x , tot ,Sd = M x ,Sd + M x ,i ,Sd Eixo y: M y, tot ,Sd = M y,Sd + M y ,i ,Sd

Para estimar o momento devido às imperfeições iniciais, é empregada a formulação a seguir:

N Sd ⋅ L x N Sd ⋅ L y
M x ,i ,Sd = e M y ,i ,Sd =
 N   N 
200 ⋅ 1 − Sd 
 200 ⋅ 1 − Sd 
 N e 2, y 
 N e 2,x   

E os efeitos da instabilidade são considerados como segue:

(EI)e,x (EI)e, y
N e 2,x = π 2 ⋅ e N e 2, y = π ⋅
2

(L x )2 (L )
y
2

As imperfeições iniciais ao longo do pilar devem ser consideradas em apenas um dois eixos,
devendo-se levar em conta sua ocorrência no eixo que produzir o resultado mais desfavorável.

2.6.3 Momentos fletores de plastificação, valores de cálculo – Mpl,Rd e Mmax,pl,Rd

Para determinar o momento fletor resistente de plastificação, valor de cálculo, parte-se de um


par de eixos que coincidem com o centróide da seção mista duplamente simétrica (eixos x e
y). Tomado estes eixos como referência, considera-se que a linha neutra está distante hn em
relação aos eixos que passam pelo centróide. Sendo assim, os momentos fletores de
plastificação, valores de cálculo – Mpl,Rd, são dados por:
y
f cd1
M pl ,Rd = f yd ⋅ (Z a − Z an ) + ⋅ (Z c − Z cn ) + f sd ⋅ (Z s − Z sn )
hn 2
x
f
M max,pl ,Rd = f yd ⋅ Z a + cd1 ⋅ Z c + f sd ⋅ Z s
2

Já o momento fletor máximo resistente de plastificação, valor de cálculo, Mmax,pl,Rd,


corresponde ao ponto mais externo no diagrama de interação Momento-Força Normal (Figura
4a) é calculado tomando a linha neutra passando pelo centróide da seção transversal
duplamente simétrica.

2.6.4 Módulos de resistência plásticos

Os módulos plásticos são calculados em relação aos eixos de flexão x e y. Na Figura 5 são
apresentadas as expressões para o cálculo dos módulos de resistência plásticos em relação ao
eixo x. De forma análoga, na Figura 6 é apresentada a formulação para o cálculo dos módulos
de resistência plásticos em relação ao eixo y.

Na referida formulação, vale destacar que Asn refere-se à área das barras da armadura
localizadas na região de altura 2 ⋅ h n e Asni corresponde à área de cada barra da armadura na

região de altura 2 ⋅ h n .

x
y Módulos de resistência em relação ao eixo que passa pelo centróide da
seção mista – eixo x:
1) Perfil Ι: fornecido pelo fabricante (tabelado)
ey
hn
d=hc

hn x 2) Armadura, eixo x: Z s = ∑ A si ⋅ e y
i =1

tf b c ⋅ h c2
3) Concreto, eixo x: Zc = − Za − Zs
bf =bc 4
Linha neutra distante hn do eixo que passa pelo centróide da seção mista

A c ⋅ f cd1 − A sn ⋅ (2 ⋅ f sd − f cd1 )
Posição da linha neutra: hn =
2 ⋅ b c f cd1 + 2 ⋅ t w (2 ⋅ f yd − f cd1 )
1) Linha neutra na alma do
perfil I
Perfil: Z an = t w ⋅ h 2n

hn ≤ d / 2 − tf n
Armadura: Z sn = ∑ A sni ⋅ e yi
i =1

Concreto: Z cn = b c ⋅ h 2n − Z an − Zsn
Posição da linha neutra:

A c f cd1 − A sn (2f sd − f cd1 ) + (bf - t w )(d - 2t f )(2f yd - f cd1 )


2) Linha neutra na mesa do hn =
perfil I 2b c f cd1 + 2 bf (2f yd − f cd1 )
d / 2 − tf < hn ≤ d / 2 (bf − t w )(d − 2t f ) 2
Perfil: Z an = bf h −2
n
4
Armadura e concreto: semelhante à posição 1
Figura 5 – Módulos de resistência plásticos em relação ao eixo x

ey x tf Módulos de resistência em relação ao eixo que passa pelo centróide da


seção mista – eixo y:
1) Perfil Ι: fornecido pelo fabricante (tabelado)
hn
bf=bc

ex hn
y 2) Armadura, eixo y: Z s = ∑ A si ⋅ e x
i =1

b c ⋅ h c2
d=hc 3) Concreto, eixo y: Zc = − Za − Zs
4
Linha neutra distante hn do eixo que passa pelo centróide da seção mista

A c f cd1 − A sn (2f sd − f cd1 )


Posição da linha neutra: hn =
2h c f cd1 + 2d ⋅ (2f yd − f cd1 )

1) Linha neutra na alma do perfil I Perfil: Z an = d ⋅ h 2n


hn ≤ d / 2 − tf n
Armadura: Z sn = ∑ A sni ⋅ e xi
i =1

Concreto: Z cn = h c ⋅ h 2n − Z an − Zsn
Posição da linha neutra:

A c f cd1 − A sn (2f sd − f cd1 ) + t w ⋅ (2t f - d) ⋅ (2f yd - f cd1 )


hn =
2) Linha neutra na mesa do perfil I 2h c ⋅ f cd1 + 4 t f (2f yd − f cd1 )
t w / 2 < h n ≤ bf / 2 2
(d − 2t f ) ⋅ t w
Perfil: Z an = 2 ⋅ t f ⋅ h 2n +
4
Armadura e concreto: semelhante à posição 1
Figura 6 – Módulos de resistência plásticos em relação ao eixo y

Com toda a formulação apresentada até aqui, é possível dimensionar/verificar um pilar misto
parcialmente revestido submetido a compressão axial, flexão reta e flexão oblíqua. A seguir,
esta formulação será aplicada na verificação dos pilares mistos parcialmente revestidos
utilizados no sistema estrutural de um edifício de múltiplos pavimentos.

3. Estudo de caso
3.1 Descrição do edifício-exemplo
A fim de avaliar a aplicabilidade dos pilares mistos parcialmente revestidos em edifícios de
múltiplos pavimentos, será empregado um edifício hipotético, composto de quinze
pavimentos, para o qual já foi feito o levantamento dos esforços nos pilares. A planta baixa do
pavimento tipo deste edifício é mostrada na Figura 7 para todos os estudos, foram
considerados pilares com 300 cm de comprimento entre pavimentos.

Da observação da Figura 7, constata-se que foram empregados 4 pórticos para resistir às ações
horizontais e verticais aplicadas ao edifício. São eles: pórtico 1, pórtico 2, pórtico 3 e pórtico
4.

Figura 7 – Planta baixo do pavimento tipo

3.2 Esforços solicitantes de cálculo


Os esforços solicitantes de cálculo, em cada pilar, são mostrados na Tabela 2 e correspondem
à combinação última de ações.

Tabela 2 – Esforços solicitantes de cálculo nos pilares do edifício-exemplo

Força axial solicitante – Momentos solicitantes – MSd (kN.m)


Pilar
NSd (kN) Topo Base
1 3068 253 1908
Pórtico 1 2 807 113 2057
3 6321 146 1924
Pórtico 2 4 2228 986 2678
5 816 690 2793
6 6633 881 2690
7 1817 1838 4158
Pórtico 3 8 208 652 2432
9 6113 838 2338
10 3808 65 1003
11 2702 237 1052
Pórtico 4 12 3735 109 984
13 671 162 1007
14 4927 40 944

3.3 Descrição das análises


A partir dos esforços solicitantes de cálculo, mostrados na Tabela 2, e do procedimento de
dimensionamento/verificação de pilares mistos parcialmente revestidos adotado pela NBR
8800:2008 e brevemente descrito aqui, os quatorze pilares que compõem os pórticos 1 a 4
foram dimensionados/verificados.

3.4 Seções parcialmente revestidas selecionadas


As seções mostradas na Tabela 3 foram selecionadas considerando, como principal critério, o
peso por metro linear de perfil I, tanto para os pilares de aço quanto para os pilares mistos.

Tabela 3 – Perfis I para pilares de aço e mistos selecionados em função do peso por metro linear

Pilar de aço Pilar parcialmente revestido


Pilar
Perfil Perfil Armadura
1 VS 1400x283 VS 800x160 12φ16
2 VS 1400x283 VS 850x155 12φ16
3 VS 1900x429 VS 950x194 12φ16
4 VS 1500x293 VS 950x194 12φ16
5 VS 1400x283 VS 950x194 12φ16
6 CVS 1000x464 VS 1000x217 12φ16
7 VS 1600x328 CVS 850x346 12φ16
8 CVS 800x288 VS 950x162 12φ12,5
9 CVS 950x433 VS 1000x180 12φ16
10 CVS 750x284 VS 600x152 12φ16
11 CVS 700x214 VS 600x140 8φ16
12 CVS 750x284 VS 600x152 12φ16
13 CVS 600x152 VS 600x111 8φ16
14 CVS 800x288 VS 700x154 12φ16
Peso Total (Kg) 12918 7533 736,4

Por outro lado, se o critério principal para seleção dos perfis for baseado nas dimensões da
seção transversal resultam as seções de aço mostradas na Tabela 4.

Tabela 4 – Perfis I para pilares de aço e mistos selecionados em função das dimensões do perfil

Pilar de aço Pilar parcialmente revestido


Pilar
Perfil Perfil Armadura
1 CVS 800x310 CVS 600x239 12φ16
2 CVS 800x310 CVS 600x278 12φ16
3 CVS 950x433 CVS 650x310 12φ16
4 CVS 950x342 CVS 650x310 12φ16
5 CVS 800x310 CVS 650x310 12φ16
6 CVS 1000x464 CVS 650x410 12φ16
7 CVS 1000x416 CVS 850x346 12φ16
8 CVS 800x288 CVS 600x328 12φ16
9 CVS 950x433 CVS 650x351 12φ16
10 CVS 750x284 CVS 500x194 12φ16
11 CVS 700x214 CVS 500x180 8φ16
12 CVS 750x284 CVS 500x194 12φ16
13 VS 600x152 CVS 500x162 8φ12,5
14 CVS 800x288 CVS 550x184 12φ16
Peso total (Kg) 13584 11388 743,4

4. Análise comparativa

Neste item são apresentadas análises visando comparar os pilares de aço e mistos
parcialmente revestidos aplicados a um edifício de múltiplos pavimentos. Para esta análise
foram consideradas as seções selecionadas no item anterior. Na análise comparativa foram
avaliados dois itens considerados fundamentais: o consumo de aço e a área ocupada pelos
pilares, em planta, no pavimento térreo.
Vale destacar que nenhuma análise de custo monetário foi realizada neste estudo devido ao
grau de dificuldade desta, pois envolve aspectos relativos não somente ao custo de materiais,
mas também de execução de cada um dos tipos de pilares considerados.

Por fim, vale mencionar que os pilares parcialmente revestidos requerem a confecção e
montagem de fôrmas e armaduras, itens que não são necessários quando da utilização de
pilares de aço. No entanto, os pilares mistos podem ser pré-fabricados e posteriormente
posicionados em seu lugar definitivo na estrutura, minimizando as dificuldades inerentes à
concretagem e cura do concreto.

4.1 Avaliação do consumo de aço por pilar


Uma análise bastante superficial do consumo de aço no pavimento térreo, para o qual são
apresentados os esforços solicitantes (Tabela 2), mostra os seguintes valores totais:

1) Critério – peso: 12918 kg para pilares de aço e 7533 kg para pilares parcialmente
revestidos. Adicionalmente, nos pilares mistos são necessários estribos e armaduras
longitudinais sendo que estas últimas somam 736,4 Kg de aço em barras de armadura.

2) Critério – geometria: 13584 kg para pilares de aço e 11388 kg para pilares


parcialmente revestidos. Novamente, nos pilares mistos são necessários (e
obrigatórios) estribos e armaduras longitudinais; estas últimas totalizam, nesta
segunda hipótese, 743,4 Kg de aço em barras de armadura.

A partir desta primeira análise percebe-se que, independente de qual seja o critério
predominante para a escolha do perfil de aço, o emprego de pilares parcialmente revestidos
resulta em reduções significativas no consumo de aço total no pavimento. Se o critério for
somente o consumo de aço, esta redução é de 5384 kg/pavimento térreo, que representa
41,7% de redução.

Em contrapartida, se o critério para seleção dos perfis é a geometria, ou área ocupada pelo
perfil de aço, a redução é de 2196 kg/pavimento, ou seja, aproximadamente 16% do total.
Portanto, a escolha baseada apenas no consumo de aço resulta em maior economia, no
entanto, pode trazer uma série de inconvenientes arquitetônicos.

Mesmo considerando o consumo adicional de aço para armaduras longitudinais o uso dos
pilares mistos ainda representa um consumo total de aço inferior ao pilares de aço isolados.
Uma idéia geral do consumo de aço para o pavimento térreo, em função dos critérios de peso
e geometria, pode ser vista na Figura 8, para cada um dos quatorze pilares analisados.
Destaca-se que, para todos os pilares em questão, houve redução expressiva no consumo de
aço em conseqüência da substituição do pilar de aço pelo pilar misto parcialmente revestido.

Peso (kg/m) Peso (kg/m)


500 500
Aço Aço
Misto Misto
400 400

300 300

200 200

100 100

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Pilar Pilar

a) Perfis selecionados pelo peso b) Perfis selecionados pela geometria


Figura 8 – Consumo de aço por pilar, pavimento térreo, em kg/m linear

O panorama de consumo de aço por pilar, para as opções “peso” e “geometria” é mostrado na
Figura 9, tomando, a título de comparação, os perfis de aço empregados isoladamente.

Peso (%)
60
50
40
30
20
10
0
-10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
-20
Pilar
Peso
-30 Geometria

-40
-50

Figura 9 – Consumo percentual de aço por pilar: pavimento térreo

Em contraponto à redução do consumo de aço, deve-se lembrar que no pilar parcialmente


revestido além do perfil de aço, são necessários outros componentes, como as armaduras
longitudinal e transversal (estribos) e o concreto que preenche o espaço entre as mesas.
Pensando no volume de concreto, no pavimento térreo são necessários, aproximadamente, 24
m3 se os perfis são selecionados pelo peso e 19 m3 se o critério de seleção for baseado na
geometria.

4.2 Área livre no pavimento


Neste item são comparadas as áreas ocupadas por cada pilar de aço e por cada pilar misto
parcialmente revestido. As comparações são feitas para os dois critérios de escolha dos perfis
já discutidos no item anterior: peso e geometria. Os resultados das duas análises são
apresentados nas Tabela 5 e 6.

Tabela 5 – Área livre no pavimento térreo: perfil selecionado em função do peso

Pilar Pilar de aço Área (cm2) PMP Área (cm2) Redução %


1 VS 1400x283 7000 VS 800x160 2560 63,4
2 VS 1400x283 7000 VS 850x155 2975 57,5
3 VS 1900x429 9500 VS 950x194 3325 65,0
4 VS 1500x293 7500 VS 950x194 3325 55,7
5 VS 1400x283 7000 VS 950x194 3325 52,5
6 CVS 1000x464 7000 VS 1000x217 4000 42,9
7 VS 1600x328 8000 CVS 850x346 4250 46,9
8 CVS 800x288 4000 VS 950x162 3325 16,9
9 CVS 950x433 6175 VS 1000x180 4000 35,2
10 CVS 750x284 3750 VS 600x152 1800 52,0
11 CVS 700x214 3150 VS 600x140 1800 42,8
12 CVS 750x284 3750 VS 600x152 1800 52,0
13 CVS 600x152 2400 VS 600x111 1800 25,0
14 CVS 800x288 4000 VS 700x154 2240 44,0
Total 80225 40525
PMP: Pilar Parcialmente Revestido

Tabela 6 – Área livre no pavimento térreo: perfil selecionado em função das dimensões

Área
Pilar Pilar de aço PMP Área (cm2) Redução %
(cm2)
1 CVS 800x310 4000 CVS 600x239 2400 40,0
2 CVS 800x310 4000 CVS 600x278 2400 40,0
3 CVS 950x433 6175 CVS 650x310 2925 56,2
4 CVS 950x342 5700 CVS 650x310 2925 48,7
5 CVS 800x310 4000 CVS 650x310 2925 26,9
6 CVS 1000x464 7000 CVS 650x410 2925 58,2
7 CVS 1000x416 6000 CVS 850x346 4250 29,2
8 CVS 800x288 4000 CVS 600x328 2400 40,0
9 CVS 950x433 6175 CVS 650x351 2925 52,6
10 CVS 750x284 3750 CVS 500x194 1750 53,3
11 CVS 700x214 3150 CVS 500x180 1750 44,4
12 CVS 750x284 3750 CVS 500x194 1750 53,3
13 VS 600x152 2400 CVS 500x162 1750 27,1
14 CVS 800x288 4000 CVS 550x184 2000 50,0
Total 64100 35075
PMP: Pilar Parcialmente Revestido

Os dados das Tabela 5 e 6 podem ser melhor visualizados na Figura 10. Que apresenta
comparativamente as áreas ocupadas pelos pilares de aço e mistos parcialmente revestidos. E
a redução na área ocupada pelas seções dos pilares mistos em relação à seção de aço isolada
nas duas situações, ou seja, escolha da seção pelo peso ou pelas dimensões.
Peso (kg/m)
10000 Redução de área (%)
70
8000 Aço 60
Misto 50
40
6000
30
20
4000 10
0
2000 -10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
-20 Pilar
Peso
-30
0 Geometria
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 -40
Pilar -50

Figura 10 – Área ocupado pelo pilar de aço vs de pilar misto

A comparação de áreas ocupadas pelos pilares parcialmente revestidos cujos perfis foram
selecionados em função do peso (40525 cm2) e aqueles selecionados em função das
dimensões (35075 cm2) mostra que a seleção pela geometria resulta em um aumento de 13%
de área livre no pavimento térreo, que corresponde a 0,54 m2. No entanto, comparando a área
ocupada pelos perfis dimensionados como pilar de aço com aqueles dimensionados como
pilares mistos parcialmente revestidos esse aumento de área livre aproxima-se de 50%
correspondendo a cerca de 4 m2. Isto pode significar (dependendo do arranjo e da
distribuição dessas áreas) uma vaga extra de garagem, que é extremamente desejável em
edifícios residenciais/comerciais valorizando o imóvel.

5. Comentários finais

Neste estudo foi apresentada e discutida a utilização de pilares mistos parcialmente revestidos
na composição do sistema estrutural de edifícios de múltiplos pavimentos e para ilustrar tal
aplicação foi considerado o pavimento térreo de um edifício com 15 pavimentos. No estudo,
duas alternativas foram consideradas: pilares de aço e pilares mistos parcialmente revestidos,
ambos dimensionados de acordo com as recomendações da NBR 8800:2008. Para os dois
tipos de pilares a seleção dos perfis de aço foi baseada em dois critérios: o peso do perfil por
metro linear e a geometria do perfil.

Para os dois critérios de seleção de perfis analisado, os resultados, ainda que superficiais e
aplicados ao estudo de caso, mostram que a utilização de pilares mistos parcialmente
revestidos implica em redução significativa do consumo de aço por pavimento. Além disso,
há uma redução significativa da área ocupada pelos pilares no pavimento, o que é altamente
desejável, podendo significar vagas extras de garagem e conseqüente valorização do imóvel.

Por fim, destaca-se que o custo monetário de cada um dos tipos de pilar estudado não foi
objeto de estudo uma vez que o custo não diz respeito somente ao consumo de material, mas
engloba todo o processo de execução da estrutura.

Agradecimentos
Os autores agradecem ao CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico pelo apoio dado ao desenvolvimento deste projeto que faz parte de um projeto
mais amplo denominado “Estudo de pilares mistos parcialmente revestidos: comportamento
estrutural e aplicações” e financiado via Universal / Edital MCT/CNPq 14/2009 – Universal.

6. Referências Bibliográficas

AMERICAN INSTITUTE OF STEEL CONSTRUCTION. AISC-LRFD: Metric Load and


Resistance Factor Design Specification for Structural Steel Buildings. Chicago, 2005.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR-8800: Projeto de estruturas
de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro, 2008. 237p.

VINCENT, R.; TREMBLAY, R. (2001). An Innovative Partially Composite Column System


for High-Rise Buildings. Proceedings, North American Steel Construction Conf., Fort
Lauderlade, FL., p. 30-3 a 30-17, 2001.

EUROPEAN COMMITTEE OF STANDARDIZATION ENV 1994-1-1: Eurocode 4 -


Design of composite steel and concrete structures, Part 1.1: General rules and rules for
buildings. Brussels, 2004.

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