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Introdução
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intenção de “normalizar” o corpo.
Com as duas grandes guerras a discussão dos direitos humanos ganha maiores
proporções incluindo assim grupos até então menores que começam uma jornada para serem
inseridos na dinâmica social como a inserção no mercado de trabalho que ganha força em 1975
quando a ONU aprova a “Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência” que
ressalta a necessidade do respeito à dignidade e emancipação desses indivíduos.
Segundo MACCARINI, 2019 O aprofundamento deste debate no âmbito
internacional ganha força com as autoras feministas (OROZCO, 2006; AGUIRRE, 2009;
CARRASCO, 2011; KITTAY, 20112 ) entre os anos de 1990 e 2000. Anteriormente o debate se
resumia a análise biomédica que focava no tema de forma individual tratando a questão de forma
isolada e médico centrada.Pela abordagem biomédica muitas vezes redutiva esse saber passa a
ser questionado e a deficiência começa a ser observada como meio de exclusão e opressão que
precisa ser incluída no âmbito das políticas sociais e necessita ser encarada como questão pública
para além dos saberes médicos. O modelo social da pessoa com deficiência então passa a ser
visto como:
“[...] conceito complexo que reconhece o corpo com lesão, mas que também
denuncia a estrutura social que oprime a pessoa deficiente” (DINIZ, 2007, p. 9 caput
MACCARINI, 2019, p326 apud MACCARINI 2019).
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segunda geração traz influências das obras das feministas e aborda ideias até então deixadas de
lado como dependência e interdependência que veem a tona graças a participação das cuidadoras
e dos próprios pacientes nessa discussão, ampliando o debate na concepção de deficiência tanto
para lesões decorrentes no processo de vida da pessoa quanto a condição imposta na velhice e em
doenças crônicas. Esse debate ainda contribuiu para a inserção de outros marcadores sociais da
diferença como raça, gênero, idade que atrelados a condição de saúde resultam em mais
opressão sobre esses corpos. O cuidado a partir daí vira elemento de estudo de caráter
multidimensional que incorpora vários aspectos, tais como a discussão da responsabilidade
pública e privada.
A partir dessa ideia ela discorre sobre os aspectos teóricos desse cuidado
como o de gênero, ressaltando a divisão sexual do trabalho presente no trato diário a pessoa com
deficiência que em sua maioria era realizado por mulheres tendo como argumento a
determinação biológica para justificar as desigualdades de gênero e de variados aspectos. A
naturalização do papel da mulher como provedora do cuidado doméstico embasado nesses
argumentos fez com que as mesmas questionassem esses conceitos reivindicando seu papel e
desnaturalizando a ideia de cuidado como feminino.
Contudo percebe-se ainda que o papel do cuidado ainda é delegado à mulher.
Na pesquisa apresentada pela autora é evidente a diferença entre o papel do cuidador de uma
pessoa com deficiência a de uma pessoa sem deficiência. Em sua maioria no primeiro caso
observa- se um perfil de pessoas com baixa escolaridade bem como maior índice de problemas
de saúde e todos do gênero feminino. Enquanto no segundo grupo percebe-se maior escolaridade
e participação do gênero masculino no cuidado, ainda que em número pequeno.
Tendo como perspectiva a integralidade que é uma dos princípios doutrinários
do SUS a autora pontua o trabalho de três autores Cerqueira, Alves e Aguiar (2016) que irão
ressaltar o papel do cuidador e a importância deste personagem, em sua grande maioria feminino
como já vimos, nas atividades diárias e o quanto a inserção desses atores no âmbito das políticas
públicas é importante.
As autoras feministas citadas, (OROZCO, 2006; AGUIRRE, 2009;
CARRASCO, 2011; KITTAY, 20112 ) defendem a ideia de que a dependência é intrínseca à
vida humana e que todos em graus e momentos diferentes da vida irão precisar do cuidado de
outro ser humano portanto nossos modelos de sociedade deveriam conter mecanismos que
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contribuíssem ao cuidado tanto da pessoa deficiente quanto do próprio cuidador. ( Eva Kittay
2011)
Por “cuidado” no contexto deste artigo, quero dizer, o apoio e a assistência
que um indivíduo exige de outro, onde o que precisa de cuidados é inevitavelmente dependente
porque é muito jovem, muito doente ou prejudicado, ou muito frágil, para gerenciar a
automanutenção diária sozinho; (KITTA; JENNINGS; WASUNNA, 2005, p. 443 apud
MACCARINI, p 331)
Analisando o cuidado como trabalho não remunerado, em sua maioria, e
inserido na dinâmica da divisão sexual do trabalho eu trago a autora Silvia Federici em sua obra
“O calibã e a bruxa” (2017) onde a mesma demonstra que a nova ordem construída na idade
média submetia as mulheres como servas da força de trabalho dos homens, esse ordenamento foi
de grande importância para a expansão do capitalismo. Diante desta base foi possível construir/
impor uma nova divisão sexual do trabalho que submetia e diferenciava não só o mundo do
trabalho mas toda a vida social das mulheres. Sendo assim a divisão mudou estruturalmente as
relações internas no mundo do trabalho como contribuiu para a acumulação capitalista.
“...a diferença de poder entre mulheres e homens e o ocultamento do trabalho
não remunerado das mulheres por trás do disfarce da inferioridade natural permitiam ao
capitalismo ampliar imensamente “a parte não remunerada do dia de trabalho” e usar o salário
masculino para acumular trabalho feminino” ( FEDERICI, 2017; P 232).
Voltando ao artigo, OROZCO (2006) et col, apontam a necessidade da criação
de uma ética global do cuidado advinda da necessidade que nasce da inversão da pirâmide etária
e das mudanças sociais e econômicas recentes. Com a inserção cada vez maior das mulheres no
mercado de trabalho torna-se necessário delegar o cuidado a pessoas de fora do círculo familiar
onde se coloca o desafio apresentado a várias famílias de como encontrar esse cuidador e com
quais recursos pagá- lo.
Os autores Mioto e Dal Prá (2017) revisaram o cuidado na bibliografia e
elencam duas formas fundamentais presentes: cuidado de natureza privada embasado na
solidariedade ou necessidade entre indivíduos e cuidado de natureza pública onde destaca se três
dimensões:
a) Cuidado vinculado ao trabalho doméstico que inclui dimensões afetivas e
familiares, gerenciado pelo espaço doméstico
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b) Cuidado como direito social, implica no reconhecimento do direito de
receber atenção em todas as fases da vida.
c) Cuidado social, seria a mudança da responsabilidade da esfera individual
para a esfera pública. Entendendo o cuidado como necessidade básica da vida de todos os
seres, portanto sendo assim dever do Estado.
O direito ao cuidado é inserido no escopo dos direitos humanos de acordo
com o texto quando entendido como um dos campos da proteção social que desdobra sua
responsabilidade entre diversas esferas da sociedade e que ao se colocar nesse espaço sofre
contradições e disputas sendo uma dimensão a ser construída coletivamente como necessidade e
responsabilidade particular e pública. Sendo entendido dessa forma ele pode ser inserido nas
demais políticas públicas de assistência. (Pg11)
“...passa-se a pensar que o cuidado, especialmente de dependentes (crianças,
idosos, deficientes, doentes) deve ser assumido coletivamente, e não apenas
quando a família está ausente. Essa nova concepção implica necessariamente
uma nova forma de conceber as relações entre Estado, família e indivíduo
calcada na responsabilidade social do cuidado das pessoas. (MIOTO; DAL
PRÁ; WIESE, 2018, p. 11, no prelo apud MACCARINI 2012 p 335).
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2) Capitulo VII direito a assistência e o Art 8 determina:
“É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar a pessoas com
deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à
paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização [...]”
(BRASIL, 2015 apud MACCARINI p 337)
Apesar do que define, a lei citada não fica claro, segundo o texto, do ponto de
vista operacional a quem caberia essa função e como seria executada bem como não ressalta sua
importância como necessidade social por pressupor que a família irá desempenhar esse papel
como vem fazendo historicamente especialmente pelas mulheres.
No âmbito da política social a algum tempo levanta-se a discussão a respeito
da responsabilização da família no cuidado da pessoa com deficiência e que essa cobrança se
encontra presente em vários níveis da assistência da legislação ate a oferta das políticas públicas
como o atendimento em saúde onde o cuidado é muitas vezes delegado a família sem grandes
preocupações sobre as condições de vida dos núcleos familiares.
A autora segue afirmando que essa responsabilização reforça os estereótipos
de gênero e naturalizam o cuidado na sua dimensão privada.
O nascimento de uma pessoa com deficiência remodela toda estrutura familiar
mas em particular mexe com o papel da mulher dentro do escopo familiar e de maneira subjetiva,
trazendo a esse indivíduo sentimentos diversos, afinal é esta quem por definições históricas é
conferido o cuidado do lar e da família uma vez que o papel do cuidado.
Segundo o artigo: Ser mulher cuidadora de pessoas com deficiência à luz da
categoria gênero: reflexões a partir de um projeto de ensino/pesquisa/extensão no campo da
educação física escritor por Silva, Bernardes, Chicon,Oliveira e Sá, em 2019, da universidade de
La Plata, tendo como referência Bourdieu o que se dá é um habitus de gênero que tentarei
explicitar em poucas linhas.
“A ideia de que é uma função da mulher o compromisso com o cuidado está
assentada em resquícios de uma cultura patriarcal que, apesar dos progressos no campo das
relações de gênero, teima em permanecer pelo que entendemos ser um habitus de gênero
(Bourdieu, 2005; Mcnay, 1999; apud Silva, 2017 at col P,03)
Essa ideia parte do conceito de habitus presente em Bourdieu (2005), que
segundo os autores, parte da junção, unificação e geração de todas as práticas incluindo as
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descritas como “escolhas” ou vocação.
Habitus é formado por atores chamados agentes que têm um papel no jogo
estratégico, atuam num espaço, se relacionam e mudam a estrutura, a medida que essa relação se
dá entre os agentes, as estruturas, ou margens de manobra.
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transferência de renda voltado para pessoas idosas (com mais 65) ou pessoas com algum tipo de
deficiência de impedimento a longo prazo.
2) As ações e serviços do Programa são usados para limitar o lugar do cuidado
dentro da perspectiva dele como direito universal de necessidade geral.
Em seguida é listado alguns programas de atenção à pessoa com deficiência
tais como:
1) Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas
e suas Famílias, que é voltado para idosos ou pessoas com alto grau de dependência em
média e alta complexidade oferecendo suporte institucional.
2) Serviço de Proteção Social Básica no domicílio, que visa pessoas também
idosas e com deficiência promovendo o acesso a rede de assistência buscando evitar
situações de violação de direitos.
Maccarini 2019 observa que nos documentos do Ministério do
Desenvolvimento Social o cuidado é abordado como direito que possui grande importância na
existência humana e nas relações familiares e afirma as potencialidades dos núcleos familiares na
atenção a esse cuidado levando em consideração as particularidades presentes nos escopos
familiares.
Ao afirmar que a família exerce o papel central do cuidado é preciso a partir
daí assumir os riscos que advém das transformações desses núcleos familiares que podem perder
capacidade em ofertar assistência a essas pessoas sendo fundamental cobrar ao Estado formas e
serviços que possam apoiar essas famílias como usuários da política.
Do ponto de vista do discurso não se assume essa responsabilização a familia
mas na prática vemos, segundo a autora, rearranjos no cuidado que tem como objetivo organizar
e dividir as tarefas entres homens e mulheres não propondo ações de ordem Estatal efetivas para
enfrentamento direto da questão. No serviço de proteção social especial para pessoa com
deficiência são observadas situações de violações de direitos que em sua maioria estão
relacionadas a falhas ou faltas de cumprimento do que seria obrigação da família. Os centro- dia
oferecem o serviço de atenção integral às pessoas com deficiência e suas famílias durante o dia
dando apoio institucional nas suas demandas complementares diárias contudo não substituem a
família e acabam por reforçar a ideia de família protetiva que tem prioridade no cuidado.
“A política de assistência social incorpora o modelo social de compreensão da
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deficiência ao reconhecer a dependência e a demanda por cuidado dessas pessoas e propor
alternativas, tanto para os que demandam de cuidado quanto para aqueles que cuidam.”
(MACARRINI, 2019, p 341).
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Considerações finais
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Referencias Bibliográficas
SILVA, E, M da; Bernardes, R; Chicon, J, F; Oliveira, I, de, S; “Ser mulher cuidadora de pessoas
com deficiência à luz da categoria gênero: reflexões a partir de um projeto de
ensino/pesquisa/extensão no campo da educação física” Revista de educação física e ciência vol.
21, núm. 1, 2019 ; Universidad Nacional de La Plata, Argentina
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=439959077008
Acessado em 28 de fevereiro de 2021
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