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A REVOLTA DA CHIBATA
Nomeado “a Revolta da Chibata”, o episódio histórico que tem início em 22
de novembro de 1910 compreende uma série de acontecimentos aglutinados sob
um único título, em referência ao clássico de Edmar Morel.
Na noite do dia citado, mais de mil marinheiros se rebelou na baía de
Guanabara. Em sua maioria, eram negros, pardos e oriundos das regiões Norte e
Nordeste do país — um detalhe importante para lembrarmos do contexto social da
época, onde a abolição da escravatura tinha pouco mais de 20 anos. Em protesto
por melhores condições de trabalho e o fim dos castigos físicos (em especial, da
chibata), os marujos tomam controle dos grandes encouraçados da época — Minas
Gerais, São Paulo e o scout Bahia.
Esta primeira parte do confronto durou cinco dias e o governo concedeu
anistia aos rebeldes. Contudo, não demorou para que o Estado autorizasse a
publicação do decreto 8400, de 28 de novembro de 1910, prevendo o desligamento
dos “elementos considerados nocivos à disciplina”. Com aproximadamente mil
marinheiros dispensados até o final do mesmo ano, a desconfiança entre os praças
subalternos e oficiais se instalou. Uma segunda rebelião estourou e foi rapidamente
massacrada pelas forças oficiais da República.
Muitas prisões foram feitas, quase 500 pessoas foram deportadas para o
Norte brasileiro por navio e muitas não sobreviveram a viagem, por causa das más
condições sanitárias ou fuzilamentos. As autoridades da Marinha também
encarceraram marinheiros e fuzileiros em prisões solitárias minúsculas, onde a
quantidade de presos era maior do que a cela poderia aguentar. Este episódio da
Revolta, acontecendo na véspera de Natal de 1910, matou 16 pessoas
encarceradas — nesta mesma sela, estava João Cândido e João Avelino Lira, os
únicos sobreviventes do episódio.
Dois anos depois, forma-se um Conselho de Guerra para verificar a
participação dos rebeldes de novembro na revolta de dezembro. Setenta homens
foram convocados, mas apenas dez compareceram. Os outros sessenta foram
dados como “desaparecidos, mortos ou fuzilados”. João Cândido e os outros nove
presentes são então absolvidos.
A Revolta da Chibata trata-se de um dos episódios mais sombrios e cruéis
da história brasileira, demarcando as violências sofridas pelos subalternos da
Marinha. O modo como tudo se deu também serve para demarcar as desigualdades
sociais da época — a agressão das chibatadas e da palmatória era reproduzida
justamente no grupo fragilizado e que recém conquistara sua liberdade legal. É
importante refletir, também, como a jovem república brasileira lidava com a
insubordinação daqueles que ousavam protestar, silenciando-os pela força e
opressão.

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