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Encontrando o mar em triedro com Gui Oliva e Sylvia Cohin

Encontro poético seguindo Leda Mello a partir de “Desabro”


Num encontro poético sobre o “QUERER”
Encontro poético entre mágica, magias e magos....
Série Conciso Sem Siso XXIV – distribuindo o coração
Vida-Vitrine em triedro com Gui Oliva e Cleide Canton
Traduzindo Sylvia Cohin em “O traçado do destino”
Traduzindo Caio Amaral em “Acredite” (natal 2006/2007)
Na trilha do trem... encontrando Gui Oliva e Humberto – Poeta
Traduzindo Caio Amaral em “Que belo é”
Traduzindo Caio Amaral em “Chuva de paixão”
“Cantando a vida” em ciranda
Catando versos – Homenagem ao Dia da Poesia 2010
Na cadência dos trilhos – Triedro: Manuel Jorge Monteiro de Lima,
Joaquim Marques e Gui Oliva
Vento Sudeste – Encontro entre Odir (de passagem), Carmo
Vasconcelos, Eugênio de Sá e Antônio Barros (Tiago)
PO–E-MAR
Sylvia Cohin
Porto, 04.11.2007

vi o desenho na espuma
do vulto de uma sereia
fazendo verso na areia
de um poema que se esfuma
na fúria da maré cheia.

vi o mar enfurecido
a fustigar o rochedo;
entre as fendas do penedo,
vi um búzio recolhido
na concha com seu segredo...

vi meu barco impetuoso


enfrentando com braveza
o açoite da correnteza,
oscilante, mas teimoso,
a vencer sua proeza...

vi prantos boiando n‘água


e o mar engolir sedento
os gemidos de um lamento
molhando a franja da anágua
que reveste o pensamento.

vi o sonho flutuante
no horizonte condensado.
um farol iluminado,
um apelo embriagante,
ao barqueiro extenuado.

vi também um pescador...
navegava alheio ao mar
entregue ao árduo labor
e a Netuno protetor,
ensimesmado, a remar

MEU-O-MAR
Gui Oliva
Santos,SP 13/11/07

meu o mar se apresenta

fugidio e arrogante

desatento e petulante

nem o sol mais o esquenta

insiste em maré vazante.

meu o mar só faz marola,

não explode mais na praia,

vai e vem só de tocaia

com onda a cantar parola,

paralisa minha catraia...

meu o mar secou luar

e a lua envergonhada

retirou-se acanhada

não podendo mergulhar

disse adeus encabulada

meu o mar espantou dunas


lágrimas que são chorosas

ventos de areias penosas

a espraiarem em brumas

suas águas dolorosas

meu o mar já desbotou

perdeu o verde, o azul anil

descoloriu tom pueril

toda sua cor naufragou

assim, de mim, partiu sutil.

TEU–O-MAR
Michèle Christine
BH, BR nov/2007

teu mar adormeceu

a cor dos delírios,

o cheiro dos lírios,

os brilhos...

teu mar amanheceu

farrapos de festa,

pegadas na areia,

conchas dispersas...

teu mar faz volteios,

permeios e candeios,

roda-onda-pião...
teu mar, um dia, sem alteios

quebra-se em ondas

no meu coração.

Início
(1) DESABRO
Lêda Mello

Largo
ao sabor do vento
o que não foi levado a sério...
Talvez,
numa volta da vida,
o encontrem
... e já passou.

Arapiraca (AL), BRASIL

(2) O AMOR QUE A DOR SORRI


Luiz Poeta ( sbacem-rj ) - Luiz Gilberto de Barros
Às 18 h e 35 min do dia 4 de maio de 2007 do Rio de Janeiro
Especialmente para os versos de Lêda Mello

Tu fechas tuas malas... guardas nelas


As tuas solidões... e foram tantas
Tão expressivas, tristes... não revelas
A dores que sofreste... meu Deus... quantas...

Tu jogas tuas flores... secas... queres


Que o vento as dissolva nas estradas;
O amor é muito estranho, não esperes
A paz... nas dores mais desesperadas.

O vôo é iminente, o céu... é lindo;


A fantasia surge e a dor...sorrindo
Parece te dizer que essa magia

De transformar tristeza em sedução


Repousa dentro do teu coração
E acorda quando encontra... a fantasia.

(3) RETENHO
Michèle Christine

Guardo
à luz das estrelas
o amor que virou enfado...
Num clarão qualquer,
da imortalidade,
o encontrem
... não passou, é saudade.

Belo Horizonte (MG)


29/04/2007

(4) DESABRO
Bernardino Matos

Gosto de sentir o vento,


para receber de frente,
alguém que se faz presente,
na verdade do lamento.

Por não sabermos ouvir,


esquecemos de viver,
e jamais vamos saber,
quem acaba de partir.

Fortaleza,30/04/07

(5) SOU POEMA


® Roseli Busmair

Sou poema saindo d’uma aventura


Se vou ouvindo sons em seu regaço
De tanto calor, todinha me enlaço
E lá vagueio, aprisionada à cintura

Sou poema se ternas mãos me afagam


Ainda, estremecida ao calor do abraço,
Alço um vôo além por sobre todo espaço,
Planando aos ventos que me tragam

Sou poema muito triste se perdida


Entre as nuances indeléveis desta lida,
Sinto algo arredio ao nosso amor...

Sou poema de um alegre esplendor


Quando ao entrelaçar-me c’uma flor
Meu coração se lança e volta a vida!

PR_BR_Abril_2007

(6) DOR DE AMOR...


Ciducha

Deitou-se no horizonte
num repouso ausente
quem um dia foi o meu querido;
seu sono de sombra
seu sono de luz
tão dolorido!

Seu sonho....talvez de amor!

No inverno,as forças tuas requeimam


Erguido e só no topo da vida
és a imagem do tempo que passou!

Os profundos e negros amargores


não tem luz,sol,sombras,
nem flores......
Apenas lágrimas e dores
Feliz de quem não sofre,nem as sente.
É tão triste a dor destes amores
E sinto que me inundam derepente
negros rancores.....
Carregando comigo,
a dor e a saudade desse amor antigo!

02/05/2007.

Início
Gui Oliva

eu quero pouco...muito pouco

além de um amor louco,

eu quero um sorriso

dado de coração aberto,

eu quero um sono

sonho sereno,
santificado...satisfeito,

então ele me desperta,

e faz-se verdadeiro,

eu quero a atenção

da palavra na hora certa,

eu quero a crítica

que me faça mais esperta

para erros não trilhar,

eu quero beijo de bom dia

para o meu dia clarear,

eu quero outro de boa noite

para espantar fantasma

que me açoite,

e para o sol dessa noite

fazer-me brilhar como estrela,

quero um bolero, uma valsa,

um tango dançar,

talvez eu queira

ser musa de um poema,

eu quero mãos deslizando

em carícias pelo meu corpo,

ai...acho que não quero

tão pouco...é muito o que desejo,

quero alguém que me ensine,


para que eu possa,

aprender a amar.
Santos/SP - 04/10/06

Michèle Christine
eu quero muito mais, quero o direito e o avesso dos desejos,

experimentar muitos erros, quero tempestades sem zelos,

atenções distraídas, amores desprotegidos

e o deleite do vinho sabor vermelho-vivo.

Quero esgotar forças nos tangos lascivos

e beijos, muitos beijos sufocativos.

Quero o pecado do afago mais ousado,

o inteiro da hora, e a fração milésima do tempo logrado.

Quero som, quero música, quero notas

quero girar um solo em tempo cambalhota,

quero dançar a dimensão do movimento

e encolher-me, medrosa, no mistério de uma sonata ao vento.

Quero o tremor que faz vibrar a sinfonia

e das serenatas quero apenas a nostalgia.

Quero despir-me de vestes, de véus e de preceitos

e poupar-me de todos os conceitos.

Quero banhar-me nas frias cachoeiras,

e aventurar-me nas trilhas forasteiras,

quero caminhos, quero rios, mares e rochedos

e quero porto para todos os meus enredos.


Quero paz, insensatez e agonia,

quero noite, quero dia

quero ser, estar, ficar ou ir embora

quero a folia do agora.

Quero atentar verbos, credos, desenredos e medos

quero a paixão e todos seus segredos,

quero enloucar-me nos ecos da solidão

e adormecer ofegante nos braços da emoção.


Belo Horizonte/MG - 14/01/08

Carmo Vasconcelos

Não quero um amor constante


quero instante e paixão!

Um instinto animal
na entrega ocasional
que anseia por união...
União não programada
por isso mais desejada
ansiada por não tida
proibida, censurada
vestida cor de emoção
de preconceito despida

Quero esse tremer de mão


esse sussurro ofegante
esse desejo vibrante
pendente de aquietação...
O pensamento ardente
ansiando teu corpo quente
se entregando quase a medo
perdido em meu enredo
qual Julieta e Romeu

Tudo volúpia e segredo


romance ainda não lido
verso ainda não rimado
calvário não percorrido
teu desejo extenuado
dentro em meu corpo vertido...
E nesse suor escorrido
pegajoso e molhado
correr meu corpo pelo teu

Quero chamar-te "querido"


em meu urgente chamado
por não ter-te sempre ao lado
como um móvel esquecido
e dizer-te "meu amor"
sussurrando ao teu ouvido...
Jamais ver-te arrefecido
por ser eu disco riscado
ou lareira sem calor

Quero este corpo que arde


pelo meu vício impune
enraivecer de ciúme
se não chegas ou vens tarde
para meus lábios beijar
com o teu beijo de lume...
Quero expiar meu castigo
na ânsia de estar contigo
ao ter de por ti esperar

Quero esse teu corpo-chão


alma-céu em poesia
macieza de colchão
doce cheiro a maresia...
Que importa a cama vazia
se nela ficas latente
na lembrança que não esquece
na memória viva e quente
no desejo que me aquece

Não quero rotas nem metas


quero esse amor vadio
chorado pelos fadistas
pintado pelos artistas
cantado pelos poetas
trazendo brilho de estrelas
entrando pelas janelas...
Vaticínio de profetas
acalento e arrepio

Não quero regras nem leis


amor firmado em papéis
em rabiscos abstractos
na frieza dos contratos...
Mas ler nesse amor um hino
que gritando o verbo amar
faça explodir, rebentar
numa ansiedade cantante
o meu louco coração

Não quero um amor constante


quero instante e paixão!
Lisboa/Portugal/2005

Humberto -Poeta

Nem o mais e nem o menos,

sem sins ou nãos de somenos,

deve usar quem pouco erra.

Para enganos evitar,

diz a frase lapidar

que não se dê tanto ao mar,

e nem se dê tanto à terra..

Também quero alguém assim,

sem pejo nenhum de mim

e que ao extremo me excite!

Que me ame sem preconceito

na intimidade do leito,

pois o amor pra ser bem feito

não tem norma nem limite.

Mas que me ame de verdade,

com toda a sinceridade


que um grande afeto requer.

sem laivos de vã parêmia,

sonho haurir dessa alma gêmea

nem tanto o ardor de uma fêmea,

mas o amor de uma mulher!

Eme Paiva
Não quero tanto seu beijo de boa noite

Quero essa sua mão atrevida

que me excita e convida

ao amor!

Quero o silêncio das teorias...

do conceito de certo e errado e destinto.

Quero ser laica... ser leiga...

Deixar levar-me o instinto...

Quero sua boca... sua língua...

o dialeto de seu gemido, saber!

Sim!

Não quero o som de seu salmo,

mas o rítmo de sua folia!...

Quero sua coreografia

em mim!
Quero sua manha... sua sanha

seu queixo...

sua barba que me arranha...

sua boca que em mim passeia

e me assanha

a mais não poder!

Quero seu tato em meus mapas

sem fronteiras,

meus montes, meus vales, minhas fontes,

descerrando as porteiras do meu recato,

seguindo destemido por minhas pontes,

meus rios, meus leitos...

deslizando do embalo de minhas corredeiras,

ao desatar de suas cascatas...

às radiâncias que, nos elevados mirantes,

se pode ver!!

Depois...

quero seu beijo de boa noite

e adormecer!
21.01.08

Rosenna
¿Que es lo que yo quiero?..
quiero noches interminables
bailando contigo un tango
y quiero en su compás
desatar mi loca pasión.
Quiero soñar sin dormir
disfrutar de este...

nuestro amor prohibido,


sentír alegría en mi corazón...
que mi sueño no sea fantasía
y saborear tus besos con satisfacción.
¿Que es lo que yo quiero?..
quiero en tus brazos desfallecer,
embrujada sin importarme nada ,
de esta vida sólo quiero ¡tu querer!..
Buenos Aires-Argentina - janeiro 2008

Que é o que eu quero?..


quero noites intermináveis
dançando contigo um tango
e quero no seu compasso
desatar minha louca paixão...
Quero sonhar sem dormir
desfrutar deste...

nosso amor proibido,


sentir alegria no meu coração...
que meu sonho não seja fantasia
e saborear teus beijos com satisfação.
Que é o que eu quero?..
quero nos teus braços desfalecer,
enfeitiçada sem me importar nada,
desta vida só quero teu querer!..
Buenos Aires-Argentina - janeiro 2008

Lilia Machado
Eu quero assumir a culpa do beijo

Quero a culpa do desejo


Quero, neste ensejo,

Seus làbios benfazejos.

Quero a culpa da noite de lasciva

E, além de suas mãos atrevidas,

Quero você, sem limite, em minha vida!

Quero a culpa do seu gozo

Quero assumir, sem engodo,

Seus gemidos de prazer...

Quero lençóis amassados

Travesseiros jogados

E você extasiado!

Quero assumir seu cansaço

Quero apertar nossos laços

Numa noite só de amor!

Anna Peralva
A sinceridade assumida,

sem armaduras mascarando

os sentimentos.

Perder-me na loucura da paixão...

Saborear adocicados beijos,

saciar os desejos reprimidos

e represados...

Encontrar-me na serenidade do prazer,


ser decifrada em prosa e verso,

revelar em meu reflexo

a pura emoção,

sem condições,

com rendições.

Ser livre e plena,

misteriosa e infinita.

Sem elos que me prendam

à opacidade da solidão.

Eu quero ser

uma semente intacta

a florescer no aconchego do abraço,

vivendo o amor sem barreiras

e sem limites.

Ser mulher de corpo e alma.

Tocar... Sentir...

Trocar de identidade

em momentos de rara intensidade.

Unir as metades,

sendo ao mesmo tempo:

ousada e tímida,

voraz e mansa

audaciosa e precavida
casta e pecadora.

Sussurrar palavras que

não sejam esquecidas,

pois que nelas estarei contida,

irracional e incontida,

lúcida e consciente,

segura e presente.

Eu quero a vida por inteiro,

deixar marcas da minha passagem...

Não ser só uma imagem passageira,

já que doarei meu rastro de luz

nas estradas do corpo

onde hei de aportar

e levarei desse mundo

o que nele eu deixar.

Início
MAGIA
Gui Oliva

Toda a magia da poesia se aconchega

na imensidão iluminada do Universo,

e sensíveis almas de poetas ali versejam

brilhando, estelares, os seus versos ...

MÁGICA
Michèle Christine

Nas noites mais prateadas

meu aconchego é ao céu aberto

onde tento encontrar

numa estrela iluminada,

os meus sonhos dispersos.


E os poetas, no seu alento amoroso

arrimam os sonhos da gente

que se encaixam em nossa alma ansiosa

em feitio de rimas, prosas e versos.

MAGOS
Sylvia Cohin

Faces ocultas, sérios, encapuzados pelo manto de mistérios,

dedilham rimas para os seus fonemas.

E dessa forma, com tal maestria,

criam poemas plenos de alquimia!

Porto, 16.12.2007

MAGIA
Anna Peralva

Na face encoberta,

um entrelace de emoções

em sutis disfarces...

Sonhos ocultos aprisionados

nos vultos das sensações...

O verbo se inquieta
e conjuga a magia

das palavras certas!

Alquimia?...

Ali nasce o poeta!

Em lavas de inspirações

numa alma sem embaraces,

um visionário desperta!

16/12/2007-RJ

MAGIA
Carmo Vasconcelos

Magia é extrair da tinta escura

duma pena esquecida e inerte

a mágica e alquímica mistura

das claras essências que a alma verte

É astros inventar na escuridão

Desenhar sóis em papiros sem cor

Vestir de letras-luz a inspiração

Com um poema nu fazer amor

17/12/2007

Lisboa, 1.55 horas, 6º de temperatura


MAGOS
Humberto - Poeta

Devotos dos Merlins e das Morganas,

edificando em sonho astrais nirvanas,

fazem da rima um rico florilégio.

Só aos poetas Deus doou a primazia

de extrair do vernáculo a magia

e da mente o poema que extasia,

qual se fosse bruxedo ou sortilégio!

MAGIA
Marise Ribeiro

Nas entrelinhas do devaneio

o poeta cria a vida e a morte,

pinta a coragem e o receio,

e nem se preocupa com a sorte...

É mágico, músico e amante,

fazendo de tudo um pouco...

E nesse sonho tão delirante

o poeta é sempre um louco...

Verseja, grita, esbraveja...


Vê estrelas até na escuridão,

e toda a magia que almeja

é a de enfeitiçar um coração ...

18/12/07

Início
SÉRIE CONCISO SEM SISO XXIV
-1- -2-
RIFO O MEU RIFE NÃO!
Gui Oliva
Fala Syl
Rifa-se um coração aguado pois,
Rife não! Mesmo alagado
cercado de água, o danado,
tens no peito um mar de amor
parece verter contidas lágrimas
que desse jeito aluado
no interior, que se acumulam,
palpita tanto calor!
e assim resistem à exposição.

Chora então,

esse desalentado solitário,

chora por dentro,

no circundante pericárdio

mas, o choroso nessa situação

é mesmo sozinho o coração!

Santos/SP 04/06/07
-3- -4-

RIFE SIM! DÊ!

Eliane Couto Triska Michèle Christine

E a poesia a arrematar-lhe inteiro, Dê o teu coração aos teus amigos

Num desfecho, para ele, inusitado. Alagado ou escravo é abrigo,

Ó coração, devoto e soldadeiro, pericárdio onde o amor está prescrito

Para sempre lhe será fiel escravo. e lugar onde cabe o infinito.

Canoas, junho, 2009/RS Belo Horizonte, junho/2009

-5- -6-

RIFE SIM DOE!

Vera Mussi Anna Peralva

Há na vida do "coração sozinho" Não rife a fascinação que lá existe,

Muitas vidas e intensa emoção... a luz do sentimento lhe traz


inspiração,
Resta pois,
o sonhar do amar sempre insiste
Rifar tamanha ilusão!
em outra alma afim encontrar!
A seguir, depois...
Alagado ou não, é um nobre coração
Resolver a situação
que palpita e sopra versos de amor.
Escolher o melhor caminho...
Doe! Tem sempre um alguém
Entre os dois : solitário

O da velha razão que suas lágrimas haverá de secar!

Em evidente exposição ! RJ - 12/06/2009

-7- -8-

CORAÇÃO RIFADO REPARTA

Maria Luiza Bonini Marly Caldas


Meu coração rifado Por que rifar?

Teve como num sonho Ele é tão valioso

Meu amor, premiado E tantos dele precisam

Indulgente ganho inclusive você

Meu coração agora te pertence Então por que rifar?

ainda que já a ti havia doado Dê um pedacinho prá quem precisa

No meu legado a vida Tanta gente sem amor

Lá deixei gravado E você com esse coração


transbordando
Quis a sorte ser amiga
Pense só quanta felicidade distribuirá
Simplesmente outorgada
Então amiga mude de intenção
Pelo que foi escrito
Reparta seu coração
É teu meu coração
E se verá envolvida de muita gratidão....
Agora, por ato sacramentado
R.J.-12/06/09

-9- -10-

SIM, RIFE! EU COMPRO!

Eme Paiva Marise Ribeiro

Preciso é, que venha a poesia, Se o seu coração vem com amor,

arrematar os seus dons alados... acessório essencial à vida

Que o sol lírico do amor Se o seu coração é amigo

Faça arco-íris, sobre esse peito, e não usa de enganosas artimanhas

assim magoado... Se o seu coração tem fé

Verá, então, que não está sozinho, e não teme o dia de amanhã

pois vem o carinho, Se o seu coração se compadece

morar ao seu lado! com um irmão que adoece...

E a Poesia, quando o arrebatar, Eu compro!

o declarará sempre ocupado! Há sempre um coração farsante


Precisando de um transplante!

13/06/09

Início
VIDA VITRINE
Gui Oliva

Por que será? quase um atavismo,

quando a melancolia inaugura espaço,

a fuga desenfreada do realismo da vida,

procura por um outro rol de fantasia.

Por que será? necessário cumprir ritual,

extenuar-se pelas escadarias da galeria

transpor alamedas de granito e alvenaria,

mais um dia a rolar um silêncio abissal.

Por que será? só com o olhar já se compraz,

mirar manequins de gesso vestidos, moda verão

virá ver o que entrou em liquidação no magazine.


Por que será? e como será que está sendo capaz

de esquecer, abandonar a abulia de tamanha ilusão,

como se a vida passasse, incólume, pela sua vitrine.

Santos/SP 24/10/07

PAINEL

Cleide Canton

Exposta a olhos puros, condensada,

evocando o passado no presente

descortina a lembrança mais ousada

que se mostra sempre viva, latente.

Sem reparos, desnuda inconseqüências,

erros muitos, acertos, tentativas,

buscas tantas perdidas em pendências

ocultas em respostas evasivas.

No painel cada passo é registrado,

cada cena, cada ato inacabado,

cada tempo a seu tempo respeitado.

Intensa, sem rodeios conta a vida

cada feito, cada fase esquecida

no momento final, de despedida.

SP, 26/10/2007

14:00 horas
VITRINE-PEREGRINE
Michèle Christine

Confesso a minha vida-vitrine

Imersa entre fugas e suedines,

para que a rotina não se amofine

e os avessos não me contaminem.

Descortino assim na fantasia

os meus mais cansados desalentos

nos melhores pensamentos

de magia, alegoria e calmaria.

Um ritual que cansa e faz trança

entre alívio e tapeação.

Pode ser abulia ou dissimulação,

mas constante aliviação.

Vida não pode ser vitrine toda vida,

mas vitrine pode até virar guarida

quando se está ferida.

Vida-vitrine.

Vitrine-peregrine.

Pelerine da minha solidão.

01/11/2007

(reedição 2008)

Início
La Trace du Destin

Sylvia Cohin
le 19, février, 2007

Traduction: Michèle Christine


Pour Rogério, in memoriam
Pour João Hélio, in memoriam
Soudain,
Rien qu’en un instant,
la ville pleure en un sanglot
qui s'éparpille dans l'éther,
et contamine la nation...
Entre l'horreur et le désespoir
le peuple triste et terrassé
pleure et demande le clémence,
étourdi, inconsolable...
Soudain,
Rien qu’en un instant,
se forme un long cordon

hommes, femmes, passants,

dans un geste immense,

se rapprochent doucement

et leurs larmes vont arroser...


le sol où gît la semence...
Soudain,
Rien qu’en un instant,
Entièrement contenues dans la main

la ville,
la foule,

et la nation...
Le Temps a cessé d'avoir

la dimension attendue

par des causes qui ne se voient pas


et la vie s’est arrêtée,

et le Temps fou à courir...


Soudain,
Rien qu’en un instant,
il se dit ici et là,

qu'une lumière a brillé dans le ciel

à la Terre a descendu et est repartie,

aussi rapidement qu'elle est arrivé...


Mais c'est sur qu’elle a suivi

la Trace du Destin

en laissant pour ceux qui restent,

les empreintes de pas d'un garçon...

Ce poème, originalement offert au Garçon Rogério, qui est si


tôt parti, a été dédié aussi au Citoyen Brésilien João Hélio,
qui quelques jours ensuite nous a été arraché. Ce fait a déterminé
l'édition de ce poème et le changement de posture de la Poésie qui au
delà du cri d'amour et de douleur, est aussi une véhémente protestation
que nous laissons 'dans l'éther 'de la mémoire de la Vie.

Je transcris au-dessous les mots généreux de la "Tante Eme" :

« ...Je trouve que, si tu voulais, tu pourrait le consacrer, in


memoriam, aussi à João, puisque le poème, est totalement cohérent
et actuel, envers ce qui s’est passé... »

Avec les remerciements à l'amie Soninha Valle qui, affectueusement,


a offert le formatage du dessin.

L'auteur, Sylvia Cohin


dans le 19, février, 2007 (date de publication)

O Traçado do Destino

Sylvia Cohin
19.02.2007
Para Rogério, in memoriam
Para João Hélio, in memoriam
De repente,
não mais que num instante,
chora a cidade um pranto
que se espalha pelo éter,
e contamina a nação...
Entre o horror e o desespero
o povo triste e aterrado
chora e pede por clemência,
aturdido, inconformado...
De repente,
não mais que num instante,
forma-se um longo cordão
homens, mulheres, passantes,
num gesto de imensidão,
se aproximam docemente
e seu pranto vai regando
o chão daquela semente...
De repente,
não mais que num instante,
coube todinha na mão,
a cidade,
a multidão,
e a nação...
O Tempo deixou de ter
a dimensão esperada
por causas que não se vê
e a vida ficou parada,
e o Tempo louco a correr...
De repente,
não mais que num instante,
conta-se por aí,
que uma luz brilhou no céu
desceu à Terra e partiu,
tão veloz quanto chegou...
Mas é certo que seguiu
o Traçado do Destino
deixando pra quem ficou,
as pegadas de um menino...

Este poema, originalmente ofertado ao Menino Rogério, que tão cedo


partiu,

foi estendido também ao Cidadão Brasileiro João Hélio, que dias depois

foi arrancado de nós. Este fato determinou a edição deste poema e a

mudança de postura da Poesia que além de grito de amor e dor, é


também

de veemente protesto que deixamos 'no éter' da memória da Vida.


Transcrevo abaixo as palavras generosas da "Tia Eme":

"...Acho até que, se você quisesse, poderia dedicá-lo, in memoriam,


também ao João, que ele, o poema, está totalmente
coerente e atual, para com o ocorrido..."

Com os agradecimentos à amiga SoninhaValle que carinhosamente.


se prontificou a oferecer o formato.
A autora, Sylvia Cohin

em 19.02.2007 (data de publicação)

Início
Acredite na...
Paz da Terra
Natureza e no seu equilíbrio
Energia do Universo
Força da mente
Fé e na perseverança
Paixão e o seu poder
Maravilha do amor
Infinita bondade de DEUS
Que viverá mais e muito melhor!

Croyez...
Caio Amaral

(traduction: Michèle Christine)

À la paix sur la Terre


À la nature et son équilibre
À l'énergie de l'Univers
À la force de l'esprit
À la foi et à la persévérance
À la passion et son pouvoir
À la beauté de l'amour
À l'infinie bonté de DIEU
Ainsi vous allez vivre plus et beaucoup
mieux!
Crea!
Caio Amaral
(traducción by Betty)

Paz de la Tierra
En la naturaleza y su equilibrio
Energia del universo
Fuerza de la mente
Fe y la perseverancia
Pasion y su poder
Maravilla del amor
Infinita bondad de Dios
Que viverá mas y mucho mejor!

Início
Trilha Trem

Gui Oliva
Em cada compasso eu sentia um nó

que desatinava a me fazer sonhar,

cada minuto era um e não o queria só

sem você daí, no galanteio, a cortejar.

Nesta toada lágrima não deveria vir mas vem,

se, ao contrário, o riso é solto, a alma trilha

por aqueles trilhos de um certo trem,

trenzinho do caipira, dedilha mestre Villa.

E rodeio assim nesse volteio,

rodopio, cantarolando um estribilho

do vem não vai imaginei o desafio,

será que você chegaria de afogadilho?


mas... locomotiva Maria Fumaça apitou partida

e o anunciado, foi de voz doída,

partiu comboio da estação da vida,

devagarzinho,

meu olhar perdeu-se e lágrima escapou,

e foi o trem se afastando de mansinho,

nem reparou... entristeci...

porque você se atrasou!

Santos/SP 13/02/08

O Trem de Ferro

Humberto - Poeta
O trem na estação dá o berro

e os nossos bilhetes marco;

num ruidoso trem de ferro

com meu amor eu embarco.

Bem juntinhos eu e ela

começamos a viagem;

vira um cinema a janela

que vai filmando a paisagem!

E mais tarde, ao restaurante,

eu a levo pela mão

comer algo estimulante

para o corpo e o coração.

Até num trem bem simplório

há momentos de esplendor,
pois no vagão-dormitório

recrudesce o nosso amor!

Para o casal que se afina,

que se ama e se quer bem,

pro amor não virar rotina,

bom mesmo é viajar de trem!

Recado Poético

Michèle Christine
No trem de uma nova trilha

o amor não te fará armadilha.

Encontrarás o teu laço no espaço

aberto de uma janela.

Não esperes, não tenhas cautela.

Atrelas o laço ao teu abraço,

deixa-o entrar.

Por certo, confesso,

a felicidade na tua vida

fará guarida.

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Que belo é!
Caio Amaral

A aurora de um novo dia

O som do vento nas planícies

O renascer de uma esperança

Planar nas asas da paz interior

O encanto e a beleza do céu azul


A força da paixão e o poder do amor
A leveza de uma canção de Beethoven

O brilho da lua e a luz que irradia o sol

O silêncio de uma serena noite de verão


A calma da criança que dorme ao colo da mãe
O canto dos pássaros nas tardes de primavera
O suave embalo de uma onda na calma do mar
O tenro ato de flutuar em nuvens de carinho e amor
Ouvir a palavra: TE AMO!

Comment c'est beau !


Caio Amaral
(traduction par Michèle Christine)

L’aube d'un nouveau jour

Le bruit du vent dans les plaines

La renaissance d'un espoir


Glisser dans les ailes de la paix intérieure

La merveille d’un ciel bleu


La force d’une passion et le pouvoir de l'amour
La légère musique de Beethoven

La luminosité de la lune et la lumière qui rayonne le soleil


Le silence d'une rafraîchissante nuit d'été
La calme de l'enfant qui dort sur les bras de sa mère

Le chant des oiseaux aux après-midi du printemps


Le doux bercement d'une vague dans la mer

Le tendre acte de flotter dans les nuages de tendresse et de l´amour


Écouter le mot : JE T'AIME!

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CHUVA DE PAIXÃO
Caio Amaral

Saudade que morre no encanto de uma paixão

Desce como granizo em forma de carinho

É chuva de prata com raios de amor

Irrompe sob a beleza do arco-íris

Se eleva na beleza do sol em pleno verão

Resplandece em mares de uma doce ilusão

PLUIE DE PASSION
Caio Amaral

(Traduction par Michèle Christine)

Nostalgie qui meurt dans l'enchantement d'une passion


Tombe comme grêle dans une forme d'affection

C'est une pluie d'argent avec rayons d'amour

Éclate sous la beauté de l'arc-en-ciel

S'élève dans la beauté du soleil en plein été

Et brille dans les mers d’une douce illusion

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CANTANDO A VIDA em ciranda
*******
"A vida é uma sucessão de momentos,

Um contínuo ir e vir,

Uma estação de chegadas e partidas,

Um misto de tristezas e contentamentos."


Alceu Costa
*******
“A vida tem momentos de brisa calma e serena,

em outros apresenta-se como um dilúvio,

mas sei que só a vivo assim mais plena,

quando faço da Poesia meu refúgio.”


Gui Oliva
*******
“A vida é um tango choroso e delirante,

preciso, corajoso, serpenteante,

é conjunto, é ardência e suavidade,

também paixão, beleza, vinho e saudade.”


Michèle Christine
*******
“A vida é perfeita composição divina,
uma canção em suave melodia,

paz no gorjeio da ave que livre trina

e na leveza do ser em luz, pura estesia!”


Anna Peralva
*******
“A vida é a verdade e o grande ensinamento,
Que indica o caminho certo para união.

A direção exata para chegar ao Criador,

ponte de aprendizagem para nossa valorização.”


José Ernesto Ferraresso
*******
“A vida é um presente do criador,

é a ponte que liga nossos pensamentos,

mostrando o caminho da verdade e do amor.

Viver com sabedoria é um bálsamo tranquilizador.”


faffi/Silvia Giovatto
*******

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PROJETO DE PREFÁCIO
Sábias agudezas... refinamentos...
- não!
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraíres
como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe
Um poema não é também quando paras no fim,
porque um verdadeiro poema continua sempre...
Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte
não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras.
(Mário Quintana)
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Na cadência dos trilhos

Aniversariante
Manuel Jorge Monteiro de Lima

Há sessenta e nove anos, colocado

Num trem que correu vertiginoso,

E eu cada vez mais vagaroso

A olhar pelas janelas, o passado.


Lá fora, tudo passa sem parar,

quão velozes são minhas lembranças

a par das minhas tantas esperanças

que imagino, divagando a sonhar.

Sentado no vagão, as arvores passam

Elas que correm de volta ao passado,

Eu sigo em frente, um pouco confiado

Nas sortes do destino, que me cassam.

Do meu trem, vejo o caos se esvaindo

As intempéries abraçando a confusão

Eu, num fingimento de doce alienação

Sigo no trem, sentado, cantando e rindo.

TREM DA VIDA
© Joaquim Marques

Somos levados em alta velocidade...


P'lo trem da vida em que todos viajamos

Partimos da estação da mocidade...

E a esta, alguma vez, jamais voltamos.

O trem vai correndo a toda a brida

Os olhos se deliciam na paisagem

Não pára em estações; não há saída

Pois é direto o curso da viagem...

Enquanto viajamos podemos contar

As estações por onde o trem passa...

Em velocidade louca sem nunca parar.

Um túnel escuro, muda a paisagem!

Uma luz ao fundo, lentamente, grassa...

Estação de chegada... E fim de viagem!...

PORTUGAL

23-3-2010

Trem que vem e não volta


Gui Oliva
Embarquei nesse trem da vida

de início eram trajetos de trilhos calmos,

tudo era alegria, folia na trilha seguida

corria célere a fazer-me crescer a palmos.

Atravessou túneis que pareciam sem saída

e parou nas estações e seus percalços,

apitava cruel quando a partida era doída,

reagia minh´alma leve e de pés descalços.

Esse trem trilhou caminhos, enfrentou desvios

anda agora em batente de trilho mais cadenciado,

não deixa passageira sofrer quenturas ou calafrios,

trem que chega e não volta ao trilhado no passado.

Santos/Brasil

31/03/2010

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VENTO SUDESTE (Em décimas sujeitas a mote)

Odir, de passagem; Carmo Vasconcelos; Eugénio de Sá, António Barroso (Tiago)

O mote:

"Do vento do sudeste algum recado


perdido na distância inatingível."

VENTO SUDESTE
Odir, de passagem

Escuto o vento enquanto a noite tenta


fazer-se fria e me afastar do mundo
feito todo de mar, de um mar profundo
que rasteia no raso, em vaga lenta.
E o vento inventa sons, e me atenta
com uma voz de mulher, quase inaudível,
provinda de além-mar, que faço crível
mesmo que saiba ser desordenado
do vento do sudeste algum recado
perdido na distância inatingível..

Escuto o vento, enquanto a noite alerta


o lucilante das estrelas guias,
enquanto o mar me embala fantasias,
enquanto a musa dentro em mim desperta.
Noite sem lua, lúbrica, deserta
nos excertos do tempo irredutível,
a me falar de amor quase impossível,
muito embora eu já tenha descartado
do vento do sudeste algum recado
perdido na distância inatingível.

Escuto a voz do vento, que apregoa


d’outros mares cantigas amorosas
lembrando versos meus, antigas prosas
que à minha musa dediquei à toa.
E escuto-lhe a voz, que ainda ecoa
numa estória de adeus inconcebível
um adeus definito, irrecorrível,
ainda que ouvir me seja dado
do vento do sudeste algum recado
perdido na distância inatingível.
***
J.Pessoa – 18/Fev/2011

VENTO SUDESTE
Carmo Vasconcelos

Enquanto em seus murmúrios canta a noite,


e, impudica, a lua despe prós amantes
seus ternos raios de luz, acariciantes,
fustiga-me a tua ausência como açoite.
Não há lua nem estrela que me acoite
esta dor da saudade inextinguível,
este insano querer-te, irreprimível;
e espero, em desespero tresloucado,
do vento do sudeste algum recado
perdido na distância inatingível.

Mas o vento que sopra vem do Norte,


dessas paragens, surdas à tua voz,
e assim, o vento oposto deixa a sós
quem triste desespera nesta sorte.
E nessa angústia negra, cor da morte,
sabendo desse amor inacessível,
mas entregue à paixão irrestringível,
ainda peço, num pranto derramado,
do vento do sudeste algum recado,
perdido na distância inatingível.

Sons débeis que me alcançam, chegam vagos,


ambíguos - que me iludem, promissores;
são versos encantando mil amores,
mas que minh'alma toma por afagos.
Do cacho que desejo, escassos bagos,
vinho breve pra sede inexaurível!
Mas... pese, embora, o longe intransponível,
recorro a Deus pra não me ser negado
do vento do sudeste algum recado
perdido na distância inatingível.

***
Lisboa/Portugal - 20/Fevº/2011

VENTOS E BRISAS
Eugénio de Sá

Foi um lamento da brisa que passou


O que se ouviu gemer pla ramaria
Contando de um amor que se extinguia
Chorando nessa dor quem mais amou.
Que sempre o vento ouve quem chamou
E os sentimentos de quem lhe é sensível
Que ouviu as preces de um povo imbatível
Que rezava pra ver o pano enfunado
Do vento do sudeste algum recado
Perdido na distância inatingível.

Se a tempestade a alma nos assola


E o turbilhão d’Eolo é bravo e pavoroso
Mais sentimos no peito o êxtase amoroso
E mais ao seu abrigo a gente se consola
Com um bom vinho e o som de uma vitrola
Partilhados com um amor irreprimível
D'alguém que ora nos é imprescindível
E espera connosco o sopro abençoado
Do vento do sudeste algum recado
Perdido na distância inatingível.

É de bonança o dia, amaina o vento,


Mas o amor que partilhámos não perdura
E um espanto nos enche d'amargura
Num espírito apostado em cismar lento.
Pois quem nos soube amar, nos deu alento,
Levou consigo esse sonho impossível
E ficamos suspensos de dor indizível
Voltando a ouvir na voz do nosso fado,
Do vento do sudeste algum recado
Perdido na distância inatingível.

***
Bogotá – 24/Fevº/2011

VENTO SUDESTE
António Barroso (Tiago)

O vento que me esfria o rosto quente


e que faz ondular campos de flores,
transporta, no seu dorso, mais odores
que aqueles que eu aspiro, livremente.
Minha alma, inebriada, logo sente
quando chega, todo ufano e aprazível,
com um ar tão risonho e tão visível,
que eu espero tenso, ansioso e apressado,
do vento do sudeste algum recado
perdido na distância inatingível.

Se o vento se transforma em tempestade,


eu penso como é belo ser só brisa
que faz uma carícia, se é precisa,
e afaga meu corpo, com suavidade.
Mas, em toda a tormenta, a novidade
na voz do seu rugir indiscutível,
é saber que, de longe, inda é possível
receber, por correio improvisado,
do vento do sudeste algum recado
perdido na distância inatingível.
Se o vento sossegar os seus furores,
eu ficarei esperando ouvir cantar
as musas, em sonatas de encantar,
que o vento, quando amaina, traz amores
que se colam nos beijos, com sabores
ao mel colhido em colmeia invisível
que, para amantes se torna acessível.
E eu continuo esperando, enamorado,
do vento do sudeste algum recado
perdido na distância inatingível.

***
Parede – Portugal (24-02-2011)

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