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EXPERIÊNCIA EM CAMPINAS
Organizadores:
Kelly Vanessa Kirner
Este material faz parte das atividades realizadas pelo projeto “Turismo Sustentável e Infância em Campinas” realizado pelo convênio
do Ministério do Turismo junto à TABA – Espaço de Vivência e Convivência do Adolescentes / Número 702071/2008.
A reprodução do todo ou parte deste documento é permitida para fins não lucrativos desde que citada à fonte
Ministério do Turismo
nfrentar de forma eficiente a exploração se-
xual de crianças e adolescentes é um grande de-
safio, abraçado pelo governo federal em 2004.
Muitos trabalhos têm sido desenvolvidos com o
apoio do Ministério do Turismo, para ajudar a
elevar o país a um patamar mais alto e justo, na
escala do respeito aos direitos humanos, princi-
palmente dentro do setor produtivo do turismo.
Abertura
10
de passageiros por ano, e o plano diretor de de- e rodoviário, encontramos a especialização e
senvolvimento do Aeroporto de Viracopos, da a qualificação cada vez maior do turismo de
INFRAERO, prevê que este receberá até nove Campinas focado no segmento de negócios e
milhões de passageiros por ano até o ano 2014, eventos.
ano da copa do mundo no Brasil. Campinas tam-
No entanto a cidade convive com a perversa
bém será sede do Trem de Alta velocidade – TAV
contradição das grandes metrópoles, apresen-
Brasil. As obras devem começar em 2011 e se-
Capitulo 1
tando significativo crescimento do movimento
rem concluídas em 2016 – ano das Olimpíadas
O ProJETO
migratório de famílias de baixa renda que ocu-
com sede no Rio de Janeiro.
pam os bairros marcados pela pobreza, o que
Campinas realiza cerca de 6,5 mil eventos em- agrava os processos de exclusão social pela
presariais e associativos por ano, com a geração convivência com precariedade territorial e vul-
de receita da ordem de R$ 850 milhões (exceto nerabilidades sociais. Os dados do Mapa da
aéreo) e projeção de crescimento de 18% a 20% Exclusão/Inclusão Social de Campinas1 revelam
até o final de 2010. Trata-se de uma indústria altos índices de desigualdade/diferenças, mos-
efervescente que movimenta outros 52 segmen- trando uma distância social de 491 vezes, no in-
tos, incluindo restaurantes, lojas, táxis, presta- dicador de responsáveis com renda superior a
dores de serviços, etc. Campinas também figura 20 salários mínimos, entre o bairro com o pior
no ranking da ICCA (Associação Internacional e o melhor índice de qualidade de vida. A pro-
de Congressos e Convenções) entre as cidades liferação da exploração sexual infanto-juvenil
que mais receberam eventos internacionais em na região também acontece nas extensões das
2009: é a oitava da lista, com sete eventos, o rodovias, principalmente com a participação
que coloca a cidade entre os 55 municípios das de caminhoneiros de todo o país que acessam
Américas e na 231ª posição no ranking mundial. a região. Embora as ocorrências ainda sejam
subnotificadas, só no município de Campinas
Diante desse panorama de contínua amplia-
estatísticas2 indicam um total de 182 crianças
ção da rede de transporte aéreo, ferroviário 1 Mapa da Exclusão / Inclusão Social de Campinas. Campinas, 2003.
2 Dados do programa de enfrentamento a ESCCA/Rua - CREAS/SMCAIS. Campinas,
2010.
11
e adolescentes no ano de 2010 identificadas e adolescentes em uma cidade com turis-
em situação de Exploração Sexual Comercial de mo prioritariamente de negócios e eventos.
Crianças e Adolescentes. Essa pesquisa teve como objetivo identificar
causas e fatores de vulnerabilidade do segmen-
Esse cenário levou a TABA a propor ao Programa
to do turismo no enfrentamento ao fenômeno.
Turismo Sustentável e Infância, do Ministério
Os resultados desse estudo apontaram diversas
do Turismo, o desenvolvimento do projeto em
situações que foram fundamentais para a to-
Campinas.
mada de decisões e a implantação de ações em
O projeto Turismo Sustentável e Infância direção à prevenção e ao combate da explora-
em Campinas foi planejado com base nas di- ção sexual de crianças e adolescentes no pro-
retrizes do Plano Nacional de Enfrentamento jeto. Também houve uma busca pela equipe do
da Violência Sexual Infanto-Juvenil e do Plano 3
projeto para a sistematização de informações e
Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual dados, quantitativos e qualitativos, disponíveis
Infanto-Juvenil e trabalhou com cinco eixos:
4
em órgãos que atuam nessa área em Campinas.
Análise da Situação, Protagonismo Infanto-
O eixo Participação Juvenil se destaca pe-
Juvenil, Mobilização e Articulação, Defesa e
los excelentes resultados que nos apresenta. A
Responsabilização e Capacitação.
TABA executou uma campanha junto às escolas
Através do eixo Análise da Situação, planeja- municipais de Campinas, abordando 4.450 ado-
mos, como uma primeira etapa deste projeto, lescentes de
uma pesquisa em parceira com o CEMICAMP 12 a 18 anos,
- Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva com pales-
de Campinas : Papel da cadeia produtiva de
5
tras de sen-
turismo na exploração sexual de crianças sibilização e
3 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA - SECRETARIA DE ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS – DE-
PARTAMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Plano Nacional de Enfrentamento da Violência
informação a
Infanto-Juvenil. Brasília, 2001
4 CÂMARA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Plano Municipal de Enfrentamento da Vio- Evento: “Adolescências: da vulnerabilidade á participação”
respeito das
lência Sexual Infanto-Juvenil. Campinas, 2003
5
Brasil.
Cemicamp - Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva de Campinas. Campinas, violências sexuais contra crianças e adolescentes
12
e às formas de denúncia e enfrentamento. Esses 18 de maio contou especialmente com a partici-
adolescentes foram convidados a inscrever tra- pação juvenil por conta das ações desse projeto.
balhos de histórias em quadrinhos sobre o tema Os adolescentes foram convidados a organizar
“Toda criança e todo adolescente tem o direi- um evento de discussão da temática para outros
to de não sofrer violência, sobretudo a sexual” adolescentes. Toda a organização do evento foi
no II Concurso Reprove a Violência Sexual. realizada por esse grupo de adolescentes, com o
Foram inscritas 151 histórias em quadrinhos apoio da equipe do projeto. Dois eventos foram
Capitulo 1
produzidas por 450 alu- organizados com essa participação efetiva:
O ProJETO
nos organizados em gru-
1. No dia 15 de maio de 2010, o evento
pos de 4 a 5 por cada his-
“Adolescências: da vulnerabilidade à partici-
tória em quadrinhos. Em
pação” abriu a semana de ações de mobili-
seguida, os alunos que
zação e sensibilização e contou com a par-
participaram do concurso
ticipação de 180 adolescentes debatendo e
foram convidados a par-
apresentando ações temáticas;
Livro: Que tal dizer não? Uma conversa
de adolescente para adolescente
ticipar da produção do
livro “Que tal dizer não: uma conversa de ado- 2. No dia 18 de maio de 2010, Dia Nacional do
lescente para adolescente”, por meio de ofici- enfrentamento ao abuso e à exploração se-
nas de desenho e escrita. Como resultado dessa xual de crianças e adolescentes, através de
ação, temos um livro escrito totalmente de ado- uma ação de sensibilização na região central
lescente para adolescente que aborda o tema de Campinas, os adolescentes participaram,
de forma completa e mobilizadora. Além dessa junto a uma rede que se organizou para a
ação, também pudemos facilitar diversos espa- realização desse evento, de atividades cul-
ços e momentos em que os jovens participaram turais e da distribuição de panfletos, bem
efetivamente enquanto protagonistas das ações como do lançamento do livro “Que tal di-
de enfrentamento à exploração sexual de crian- zer não: uma conversa de adolescente para
ças e adolescentes. Em 2010, a Semana do dia adolescente”.
13
É importante ressaltar que essa ação incentivou sexual em Campinas. Deste livro consta um ca-
a participação dos adolescentes na comissão de pítulo, escrito em conjunto com alguns atores
EESCCA do Conselho Municipal de Direitos da dessa rede, que apresenta essa experiência
Criança e do Adolescente de Campinas. piloto de qualificação da rede de atenção aos
direitos da criança e do adolescente. Além des-
Trabalhamos o eixo Mobilização e Articulação
sas ações, a realização desse projeto promoveu
e o eixo Defesa e Responsabilização conjunta-
também a criação de uma nova rede: o Grupo
mente, por meio de ações de fortalecimento
de Trabalho para organização de ações do dia 18
do Sistema de Garantia de Direitos local (SGD).
de maio - Dia Nacional de Enfrentamento à ex-
Com o intuito de fortalecimento do SGD, reali-
ploração sexual de crianças e adolescentes - que
zamos uma capacitação com carga horária de
envolve, além das instituições descritas acima,
44 horas e a participação do CREAS – Centro
outras instituições que não faziam até então
de Referência Especializada da Assistência
ações com esse foco, fortalecendo, portanto, as
Social, Conselho Tutelar, Vara da Infância e da
ações de enfrentamento a esse fenômeno.
Juventude, Delegacia de Defesa da Mulher,
Disque Denúncia Municipal/ Movimento Vida Por conta das reuniões de articulação para a
Melhor, Secretaria Municipal de Educação, assinatura do acordo de cooperação, também
Secretaria Municipal de Cidadania, Inclusão movimentamos o debate municipal de revisão
e Assistência Social, Conselho Regional de do plano municipal de enfrentamento à explo-
Psicologia, Programa Indicando Caminhos, ração sexual de crianças e adolescentes, criado
Programa Iluminar, Comissão EESCCA/ CMDCA, em 2003 e ainda não avaliado. Será realizado
Câmara Municipal e ONGs integrantes da rede um seminário no segundo semestre de 2010
de atendimento especializado a crianças e ado- em parceria com a comissão EESCCA do CMDCA
lescentes em situação de ESCCA. Criou-se, como para avaliação e reescrita do plano municipal.
resultado dessa ação, uma comissão de avaliação
O eixo Capacitação é o principal objetivo deste
dos fluxos de denúncia e atendimento às crian-
projeto - através da promoção da capacitação
ças e adolescentes em situação de exploração
14
de diversos profissionais que atuam no segmen- Royal Palm, Fildi Hotéis, Dan Inn Hotéis, Shelton
to do turismo, a realização de um seminário com Inn Viracopos, Monreale Classic Campinas,
a temática “Turismo Sustentável e Infância”, a Sonotel, Hotel Opala Avenida, Hotel Vila Rica;
assinatura de um termo de compromisso e a Secretária de Cidadania, Assistência e Inclusão
distribuição de materiais de sensibilização. Social, Secretário Municipal de Comércio,
Indústria, Serviços e Turismo, Secretária
No entanto, algumas ações foram replanejadas
Municipal de Educação; Campinas e Região
Capitulo 1
no decorrer do projeto, baseadas nos levanta-
Conventions & Visitors Bureau; Sindicato de
O ProJETO
mentos realizados e em experiências vivencia-
Hotéis, Restaurantes, Bares e afins.
das, de forma a sempre manter o objetivo prin-
cipal: a sensibilização e a mobilização da rede de O Seminário “Turismo Sustentável e Infância”
turismo na garantia dos direitos da criança e do foi realizado no dia 30 de agosto de 2010, em
adolescente. parceria com o SENAC-Campinas e a Rede de
Integração Social, quando ocorreu o lançamen-
O processo de mobilização da cadeia produ-
to deste livro.
tiva de turismo contou com ações envolven-
do os seguintes equipamentos e empresas:
Administração da Rodoviária Municipal -
SOCICAM (concessionária administradora do ter-
minal rodoviário municipal), EMDEC (Empresa
Municipal de Desenvolvimento de Campinas),
Grupo CCR (Administradora da Concessão
das Rodovias Anhanguera e Bandeirantes);
ECOFROTAS; SENAC Campinas; Consulting
27; Cooperativas de taxistas: Camptáxi,
Coopercamp e Coopertaxi; INFRAERO; Hotéis:
Confort Suites, Rede de Hotéis Vitória, Rede
15
Apresentação das principais atividades
desenvolvidas – 1996 a 2010
Capitulo 1.1
A TABA
A TABA é uma
Telefone: +55 19 3232.0817 | +55 19 3305.0817
Fax +55 19 3327.1706
Organização
Social sem fins
Histórico
Capitulo 1.1
lucrativos, cria-
da em 1996, Desde 1996, a TABA de-
A TABA
que dá origem senvolve projetos com
a projetos relacionados a: participação social adolescentes e jovens
juvenil, direitos humanos, direitos sexuais e re- a partir de temas como
produtivos, mobilização social e capacitação de gravidez na adoles-
profissionais. Os projetos contemplaram mais cência, masculinidades, prevenção de doenças
de 30 mil pessoas entre adolescentes, jovens, sexualmente transmissíveis - DSTs/AIDS, parti-
educadores/as e profissionais que compõem cipação juvenil, prevenção ao uso indevido de
a rede do Sistema de Garantia de Direitos em drogas e violência. Em parceria com o Ministério
Campinas. da Saúde e por meio de políticas públicas mu-
nicipais, os programas já atingiram mais de 30
Desenvolvemos projetos e programas por meio
mil pessoas, e a ONG se tornou referência, em
de ações educativas com temas das áreas da
Campinas, no trabalho com essa temática.
saúde, cultura, assistência social e participação
política. • Foi criado,
em 1998, o MAB
Nossa missão é promover espaços de vivência
- Movimento dos
e convivência entre adolescentes e jovens, pro-
Adolescentes Brasileiros
vocando novas e diferentes formas de partici-
www.redemab.org.br em
pação social, dando prioridade àqueles(as) em
parceria com o Programa Municipal de
situação de risco pessoal e social.
17
Orientação Sexual das Escolas Municipais. • Em dezembro de 2006, a TABA realizou
o I Seminário: Construindo Políticas
• Em 2004, profissionais da TABA fo-
Públicas para o Enfrentamento à
ram contratados pelo projeto Rotas
Exploração Sexual Comercial Infanto
Recriadas (Enfrentamento da ESCCA –
Juvenil, com o objetivo de proporcionar re-
Exploração Sexual Comercial de Crianças e
flexões sobre as políticas públicas existentes
Adolescentes).
no Município de Campinas relacionadas ao
• Em 2006, a convite da Comissão do CMDCA de enfrentamento da exploração sexual comer-
Enfrentamento cial de crianças e adolescentes e de sociali-
da ESCCA, as zar diferentes saberes e pensares sobre esse
ações foram am- fenômeno. Das mesas de debate participa-
pliadas e a ONG ram: Dr. Richard P. Pae Kim - Juiz da Vara da
passou a com- Infância e Juventude de Campinas, Vereador
por o Sistema Paulo Búfalo - Representante da Câmara
de Garantia de Direitos, executando o Municipal de Campinas, Dr. Hélio de Oliveira
Programa ESCCA a partir da implementa- Santos - Prefeito de Campinas e outros con-
ção do PROJETO COM_VIVER, co-financiado vidados.
pela Prefeitura de Campinas. O principal ob-
• Em 2007, a iniciativa da TABA com ações
jetivo do Projeto é garantir atendimento a
educativas em saúde e mobilização social
adolescentes e jovens em situações de vul-
foi reconhecida internacionalmente, quan-
nerabilidade ou envolvidos (as) diretamente
do recebeu, da Fundação Merck Sharp &
em ESCCA, possibilitando-lhes um novo pa-
Dohme, o Prêmio Neighbors of Choice
pel social por meio da participação juvenil,
(NOC Grants) pelo desenvolvimento do
tendo, como base, o conhecimento e o exer-
Projeto Saúde na Comunidade junto à co-
cício de seus direitos humanos e sexuais a
munidade rural de Joaquim Egidio e Sousas.
partir de uma cultura de paz.
18
• De 2007 a 2010, executamos o Programa o apoio da Secretaria Municipal de Saúde e
JOVEM.COM - Parceria com Programa a Coordenação Nacional e Estadual de DST/
Municipal de Cidadania e Inclusão Digital, AIDS e demais parceiros que compõem a
pelo qual oferecemos oficinas sócio-cultu- rede de atendimento a crianças e adoles-
rais e de reflexão para 320 jovens de 14 a 24 centes do município e o apoio financeiro da
anos encaminhados pela Rede Intersetorial Secretaria do Estado da Saúde / Centro de
Capitulo 1.1
de Assistência Social. Referência e Treinamento DST/Aids. Foi re-
alizado, na cidade de Campinas, no período
A TABA
• Em 2008, fomos
de dezembro de 2008 a fevereiro de 2009,
Instituição sede
simultaneamente aos municípios de São
da Conferência
Bernardo do Campo, Guarulhos e Baixada
Lúdica Municipal
Santista. O projeto é engajado a temas re-
dos Direitos
lacionados à garantia dos direitos sexuais e
da Criança e
humanos de crianças e adolescentes e tem
Adolescente, sendo responsável pela ges-
como principal objetivo diminuir as vulnera-
tão dos recursos financeiros aprovados pelo
bilidades às DSTs/Aids e promover a divulga-
CMDCA e pela articulação em parceria com
ção do Estatuto da Criança e do Adolescente.
o Fórum DCA e outras instituições pela exe-
O desfile do bloco ocorreu no dia 13 de fe-
cução das atividades.
vereiro de 2009, com 45 instituições e 3.000
• Em 2008 e participantes.
2009, Instituição
• Em 2010 realizamos, em parceria com o
sede do Bloco
Centro Camará de Pesquisa e Apoio à Infância
C a r n ava l esco
e Adolescência, o evento “Adolescências: da
“EURECA” – Eu
vulnerabilidade à participação”, com o apoio
Reconheço o
da Secretaria do Estado da Saúde / Centro
Estatuto da Criança e Adolescente, com
de Referencia e Treinamento DST/Aids.
19
Adolescentes de Campinas e São Vicente
participaram de encontros formativos e or- Nossos Projetos
ganizaram o evento, desde a infraestrutura
PROJETO
até as temáticas discutidas. Em diversos mo-
REVIR@VOLTA
mentos, os adolescentes realizaram inter-
câmbios entre as duas cidades para integra- Voluntários da TABA
rem suas ações. O primeiro evento realizado buscam, desde 2006,
deu-se no dia 15 de maio de 2010, na Escola contribuir para o aten-
Clotilde Barraquet, em Campinas, marcando dimento de adoles-
a abertura da Semana centes autores de violência sexual. Com uma
de enfrentamento à metodologia educativa, inclusiva e lúdica bus-
exploração sexual de cam favorecer o senso critico dessas pessoas e
crianças e adolescen- a construção de políticas públicas adequadas ao
tes. O evento contou fenômeno, desenvolvendo oficinas de sexuali-
com a participação de 180 adolescentes dade (direitos sexuais e reprodutivos, violência,
que, em salas temáticas e mesas de debate gênero, vulnerabilidades, prevenção DST/AIDS)
discutiram: participação juvenil, exploração e cidadania (participação, direitos e compromis-
sexual de crianças e adolescentes, cidada- sos sociais).
nia, violência e gravidez na adolescência. Desde o início do projeto, somente com recur-
Os adolescentes foram os principais atores sos humanos voluntários, já foram atendidos
de debates, apresentações e discussões 17 adolescentes identificados como autores
do dia. No dia 18 de maio, Dia Nacional de de violência sexual, na faixa etária de 11 a 18
Enfrentamento ao Abuso e à Exploração anos , e suas famílias. Inicialmente participaram
Sexual de Crianças e Adolescentes, o projeto de atendimentos individuais com Psicólogo e
contou com um grande evento, que mobili- Assistente Social; posteriormente foram intro-
zou a sociedade em geral, organizado ativa- duzidos em grupos de participação juvenil com
mente pelos adolescentes em São Vicente.
20
outros adolescentes. Atualmente todos os ado- adolescente e jovem, pela participação juvenil
lescentes já estão inseridos em ações de educa- ante a necessidade de mudança da realidade
ção e capacitação para o mercado de trabalho de seus pares. O projeto desenvolve a formação
em outras instituições que compõem a rede, de adolescentes e jovens para uma participação
sendo acompanhados pelo Sistema de Garantia social mais positiva e efetiva, os quais realizam
de Direitos – Vara da Infância e Conselho Tutelar. ações educativas de prevenção e intervenção
Capitulo 1.1
para outros adolescentes e jovens. Participam,
As atividades desenvolvidas pela TABA com es-
ainda, de espaços de discussões, construções e
A TABA
ses adolescentes já foram reconhecidas como
controle social das políticas públicas não apenas
Tecnologia Social Inovadora pela Vara da Infância
PARA, mas COM os adolescentes e jovens en-
de Campinas, CONANDA, e por outras institui-
quanto sujeitos de direitos.
ções. Nenhuma outra instituição em Campinas
oferece esse atendimento, embora o atendi- A TABA atende diretamente, desde 2008, gru-
mento ao autor de violências sexuais tenha sido pos de 60 adolescentes por meio de oficinas te-
uma das diretrizes propostas no III Congresso máticas (sexualidade, cidadania, ECA, participa-
Mundial de Enfrentamento à Violência e à ção juvenil) voltadas à formação de re-editores
Exploração Sexual – Rio de Janeiro, 2009. sociais para ações de prevenção. Esse grupo de
adolescentes participou ativamente da constru-
PROJETO
ção do Encontro Municipal de Adolescentes de
CIDADANIAS
Campinas em 2010.
PARTICIPAÇÃO
JUVENIL FORMA-AÇÃO: JUVENTUDE
O projeto é co-finan-
CIDADÃ CONTRIBUINDO PARA
ciado pela Prefeitura
UMA NOVA REALIDADE
Municipal de Campinas e teve início em 2007 Este projeto, que é co-financiado pelo
com o objetivo de possibilitar o desenvolvi- Conselho Municipal de Direitos da Criança e
mento de um novo papel social na vida do e da do Adolescente – CMDCA, propõe-se formar
21
adolescentes e jovens da rede de atendimento à os adolescentes possam ter mais independência
criança e ao adolescente da cidade de Campinas nas suas reflexões e exercitar sua participação
para participação de forma cidadã e, assim, efetiva.
juvenil política e so-
NÚCLEO DE PREVENÇÃO
cial.
DE VIOLÊNCIA – SAÚDE DO
O Projeto FormAção ADOLESCENTE
é uma conquista dos
Por meio de uma parceria em 2008 com o
e das adolescentes
Centro de Saúde Florence II do Distrito Noroeste
que propuseram, nas conferências dos direitos
de Campinas, iniciamos a implementação de
da criança e do adolescente nos anos de 2007 e
um “Núcleo Inter-geracional de Prevenção
2009, um espaço para a preparação dos adoles-
de Violência”. Iniciamos essa parceria com a
centes para as conferências e os encontros de
Secretaria Municipal de Saúde nesta região –
adolescentes.
bairro Jardim Florence - por ela ter sido iden-
A TABA é a entidade executora do projeto, tificada com o maior índice de violência com e
acompanhado por um grupo de trabalho do contra o adolescente.
Conselho Municipal dos Direitos da Criança
Um primeiro desafio atual no campo da saúde e
e do Adolescente. O projeto abrange todas as
prevenção das vulnerabilidades na adolescência
regiões da cidade de Campinas representadas
é a construção da parceria de confiança entre
por instituições, serviços e movimentos sociais
os profissionais do serviço de saúde e os e as
reconhecidas no sistema de garantia de direi-
adolescentes. Um segundo desafio é promover
tos, priorizando os eixos de Cidadania, Direitos
a melhoria da qualidade de vida desses adoles-
Humanos e Participação Juvenil.
centes para que isso possa contribuir para mu-
Dessa forma, espera-se que a preparação dos danças em suas vidas. Dessa forma iniciamos
adolescentes para participação política e social ações de sensibilização e capacitação para os
seja capaz de concretizar que, nas conferências, profissionais de quatro unidades de saúde da
22
região. No bairro Jardim Florence, uma casa foi ADOLESCENTES DIFERENTES,
estruturada para receber atividades de grupos PORÉM IGUAIS NA
de adolescentes e espaços de convivência para PREVENÇÃO
o desenvolvimento local e, sobretudo, o envol-
O Projeto “Adolescentes Diferentes, Porém
vimento dos jovens no enfrentamento ao pro-
Iguais na Prevenção” tem como objetivo princi-
blema e à promoção de uma cultura de paz. Por
Capitulo 1.1
pal criar, dentro das Unidades de Internação da
esse projeto, conquistamos o fortalecimento do
Fundação CASA/Campinas, a atenção e o aten-
centro de saúde como um espaço comunitário e
A TABA
dimento sobre Prevenção às DST/Aids junto aos
o estreitamento da relação do adolescente com
adolescentes que estão cumprindo medidas só-
a sua saúde. Assim acreditamos conseguir esta-
cio educativas de internação.
belecer ações concretas que visem a saúde do
adolescente. Para isso a TABA promove a capacitação dos
profissionais das Unidades de Internação da
Em 2010 iniciamos essas ações também no
Fundação CASA/Campinas sobre diversos te-
Jardim São Marcos, distrito norte de Campinas.
mas, que envolvem as temáticas de prevenção
Hoje temos um grupo de adolescentes que
DST/Aids, adolescências, vulnerabilidades, se-
se reúne semanalmente no Centro de Saúde.
xualidade do adolescente, violência, masculini-
Além dessa ação, o mesmo grupo participa na
dades, direitos humanos, redes sociais, sistema
TABA de ações com outros grupos de adoles-
de garantia de direitos e o papel do educador
centes. Atualmente contamos com a parceria
. Também oferecemos aos profissionais da
da UNICAMP que favorece o encaminhamento
Fundação Casa uma formação sobre KITs temá-
de estudantes de diversas faculdades, como
ticos sobre sexualidade, gravidez e prevenção
Medicina, Educação Física, Artes e Música, para
às DTS/Aids, de forma que esses profissionais
compor a equipe de estagiários que realizarão
possam atuar como educadores no desenvolvi-
oficinas de arte e saúde para esse mesmo gru-
mento dessas temáticas junto aos adolescentes.
po, contribuindo para a melhoria de sua quali-
dade de vida. Com os adolescentes utilizamos as oficinas de
23
arte-educação com as linguagens de aerografia, problema, com a
hip-hop e teatro e produção de contos eróticos. disseminação de
Os educadores desenvolvem ações educativas, informações jun-
elaborando produtos sobre a temática de pre- to à sociedade e,
venção DST/Aids que podem ser apresentados a principalmente,
outros adolescentes. com a participa-
ção social juvenil no enfrentamento às violên-
Esse projeto conta com o apoio financeiro
cias e vulnerabilidades.
da Secretaria do Estado da Saúde / Centro de
Referência e Treinamento DST/Aids. Para a realização dessas ações, contamos com
o apoio financeiro do Ministério do Turismo
I e II CONCURSO
- Programa Turismo Sustentável e Infância;
REPROVE A
da Petrobrás - Programa Desenvolvimento &
VIOLÊNCIA SEXUAL
Cidadania; e da CPFL Energia. Também conta-
Esta é uma ação que a mos com a parceria da FACAMP, por intermédio
TABA realiza anualmente da agência júnior de comunicação, e da Mendes
em escolas de ensino fundamental, com alunos & Nader, pela assessoria de comunicação.
e alunas da rede de educação pública municipal
de Campinas, na faixa etária de 12 a 18 anos,
MARIAS CHEIAS DE GRAÇA
e seus professores e professoras. Em três anos A TABA iniciou em 2006 um
de desenvolvimento desse projeto, alcançamos grupo de geração de renda e
cerca de 10.000 alunos da rede municipal de desenvolvimento familiar, ca-
educação. rinhosamente chamado de
“Marias Cheias de Graça”.
O projeto tem como uma de suas principais
Iniciou-se com a proposta de
estratégias o desenvolvimento de ações de en-
oferecer atividades artesanais
frentamento à exploração sexual de crianças
e de restabelecer vínculos familiares de mães
e adolescentes para chamar a atenção para o
24
com seus filhos que se encontravam em situa- O Grupo de Crianças
ção de rua e/ou exploração sexual comercial. Ao
O grupo de crianças é o resultado de uma de-
longo dos encontros, essa proposta se desenvol-
manda do grupo “Marias Cheias de Graça”. As
veu para o cuidado com a família, de si mesmas
mulheres, para frequentarem as oficinas, tra-
enquanto mulheres; discussões sobre a cultura
ziam seus filhos/as, netos/as e demais familia-
popular, o olhar para sua comunidade; conver-
Capitulo 1.1
res. Por conta dessa demanda, a TABA se orga-
sas sobre vulnerabilidades, violência, desigual-
nizou constituindo grupos de estágio do curso
dades e participação social; sempre por meio
A TABA
de Psicologia da PUC, Campinas, que desenvol-
da produção artesanal, motivada pela peque-
vem atividades recreativas e pedagógicas além
na geração de renda proporcionada por meio
de vivências como passeios, cinemas, teatros
de bazares e feiras de artesanato. Desde 2009
e outras atividades. Essas ações promovem o
o grupo caminhou para o empreendedorismo
desenvolvimento social das crianças, bem estar
como forma de sustentabilidade familiar, co-
e prevenção às vulnerabilidades em que se en-
mercializando seus produtos em feiras, bazares
contram.
e em suas comunidades. São almofadas, tape-
tes, agendas e cadernos personalizados, sacolas
sustentáveis, pingentes decorativos, presilhas,
chaveiros, camisetas customizadas entre ou-
tros. Com o recurso obtido pela venda de suas
produções, o grupo, além de gerar renda fami-
liar, consegue proporcionar a sustentabilidade
financeira das oficinas.
25
e prevenção às vulnerabilidades. Fomentamos
Considerações Finais o estudo, a pesquisa e o desenvolvimento de
tecnologias alternativas e criativas no campo
Além da realização dos
da ação educativa a partir da oferta de forma-
projetos acima descri-
ção de jovens, universitários, profissionais e por
tos, a TABA tem partici-
meio de convênios e parcerias com universida-
pado de/e promovido
des e centros de pesquisa.
diversas atividades de
promoção dos direitos atendendo às prerroga-
tivas do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Realizamos campanhas e projetos de enfren-
tamento à exploração sexual de crianças e
adolescentes na perspectiva de prevenção ao
fenômeno e atuamos de forma precursora no
atendimento ao adolescente identificado como
autor de violências sexuais. Promovemos e par-
ticipamos de debates, conferências, seminá-
rios e discussões sobre os direitos da criança
e do adolescente. Participamos de comissões
e ações do Conselho de Direitos da Criança e
do Adolescente e somos membro atuante nas
atividades do Fórum Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente, exercendo assim nos-
so papel de controle social. Promovemos cursos
regulares de formação e grupos de estudos no
campo das adolescências e seus temas decor-
rentes como sexualidade, participação política
26
Parceiros do Projeto
Capitulo 1.2
28
Essa estratégia foi particularmente importante campo onde a TABA luta e defende historica-
na apresentação do projeto para a rede de tu- mente, desde sua fundação: a participação dos
rismo e na definição de outros atores que pode- adolescentes, não apenas como público das
riam ser convidados a darem sua contribuição e ações, mas também como ator de mobilização,
resultou em uma série de novos contatos. de organização, de produção. Ator efetivo na
construção de ações e diretrizes para políticas
Parceiros do projeto
Capitulo 1.2
Ao mesmo tempo que iniciávamos nossa imer-
públicas voltadas à defesa de seus direitos.
são no segmento do turismo, orientados por es-
ses parceiros, voltamos também o olhar para a Nos próximos capítulos teremos a oportunidade
rede que já se constituía no enfrentamento á ex- de descrever de forma detalhada a participação
ploração sexual de crianças e adolescentes, com e a colaboração desse sólido tecido social e a
representatividade sobretudo do primeiro e do importância dessa rede nos resultados e impac-
terceiro setor. A intenção era que pudéssemos to deste projeto.
fortalecer e clarear a importância do funciona-
mento pleno e alinhado dessa rede, de forma
a esclarecer objetivos e papéis de cada um no
processo como um todo.
29
Capitulo 2
ONDE ESTAMOS: Campinas
Cenários e Desafios no Enfrentamento à
Exploração Sexual de Crianças e Adolescentess
O Sistema de Garantia de Direitos (SGD) é O
civil organizada.
atuam para efetivar os direitos da criança e do ações previstas no projeto, procuramos iden-
adolescente. Fazem parte desse sistema: a famí- tificar e nos aproximar ainda mais dos atores
Capitulo 2
Onde estamos
sociais, associações comunitárias, sindicatos, SGD do município. Este capítulo apresenta esses
escolas, empresas), os Conselhos de Direitos, atores ao mesmo tempo que apresenta qual a
Infância e da Juventude, Defensoria Pública, ações são realizadas por esses atores.
32
também prejudicam esse levantamento, como, Prevista no artigo 90º do ECA, sua principal atri-
por exemplo, as terminologias utilizadas nos sis- buição é discutir o que fazer em relação à polí-
temas: não consta em seu sistema de notifica- tica de atendimento à criança e ao adolescente
ção o fenômeno exploração sexual. Certamente do município de Campinas, de forma coletiva,
esses entraves prejudicam muito a atuação dos com maior participação possível da população,
Conselhos Tutelares no controle e cumprimento tirando da figura do prefeito os poderes em re-
Capitulo 2
dos direitos da criança e do adolescente. lação à política para a criança e o adolescente.
Onde estamos
Outro ator importante do Sistema de Garantia Inverter a “lógica” dos poderes não era tare-
de Direitos é o Conselho Municipal dos Direitos fa fácil, por isso, logo na primeira gestão do
da Criança e do Adolescente de Campinas, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
sobretudo por intermédio da Comissão de Adolescente de Campinas- CMDCA, em 1993,
Enfrentamento a Exploração Sexual contra parte dos conselheiros da sociedade civil renun-
Crianças e Adolescentes. ciaram e protestaram contra a falta de respeito
às decisões do conselho.
Criado no início da década de 90, logo após
a promulgação do Estatuto da Criança e do Em 1997, o Conselho Municipal dos Direitos da
Adolescente, o Conselho Municipal dos Direitos Criança e do Adolescente de Campinas- CMDCA,
da Criança e do Adolescente de Campinas- depois de alguns anos de funcionamento e com
CMDCA tem na sua trajetória importantes mo- status administrativo definido, se estrutura em
mentos no enfrentamento à violência e explora- espaço próprio, e sua vinculação é na Secretaria
ção sexual contra crianças e adolescentes. de Assistência Social. Tem nas comissões temá-
ticas internas seus principais espaços de discus-
Os primeiros anos de funcionamento do CMDCA
são, sempre marcados por embates entre po-
foram dedicados mais à implementação, organi-
der público e sociedade civil, o que, em vários
zação e ao reconhecimento pelo executivo mu-
momentos, resultava em propostas e delibera-
nicipal da época de qual seria seu papel e que
ções importantes para a defesa dos direitos da
lugar ocuparia na nova estrutura administrativa.
33
criança e do adolescente. aumento das denúncias de casos e exploração
sexual, que o Conselho Municipal dos Direitos da
Destacamos neste período a implementação
Criança e do Adolescente de Campinas|CMDCA
do primeiro Conselho Tutelar e a inclusão nas
incluiu na sua pauta como enfrentar o fenôme-
pautas do conselho de temas como trabalho
no da violência e exploração sexual contra crian-
infantil, abrigos, crianças desaparecidas, medi-
ças e adolescentes.
das sócio educativas, uso de drogas e crianças e
adolescentes em situação de rua. É importante dizer que, em 2002, com a desti-
nação de volumosos recursos para o Fundo da
Paralelamente, o movimento de conferências
criança pela PETROBRÁS, o poder público apre-
dos direitos da criança e do adolescente acon-
senta o projeto de criação do programa munici-
tecia no Brasil e, em 1997, Campinas sedia a 1º
pal de enfrentamento à violência e exploração
Conferência Regional DCA, embora estivesse na
sexual contra crianças e adolescentes, aprovado
2º Conferência DCA a nível municipal.
pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança
Nos anos 90, o município não reconhecia a vio- e do Adolescente de Campinas|CMDCA. O
lência e a exploração sexual contra crianças e CMDCA institui então a comissão temática de
adolescentes. Podemos afirmar que a discussão enfrentamento à violência e exploração sexual
de ESCCA teve origem nas discussões de violên- contra crianças e adolescentes.
cia doméstica, e que foi a partir dos debates da
Com a criação do programa, o CMDCA passa a
comissão de VDDCA que o município começou
discutir e deliberar importantes propostas para
a verificar que esse não era um fenômenos de
o enfrentamento do fenômeno na cidade de
outros estados, mas uma realidade também da
Campinas.
cidade de Campinas. É importante destacar que
a entidade CRAMI, em meados da década de 90, Em 2003 o CMDCA, a Câmara Municipal, o
realizava o atendimento de casos de violência Fórum DCA, a Vara da Infância e Juventude, a
sexual, na época rotulados como abuso. FEAC e os Conselhos Tutelares em conjunto ela-
boraram o Plano Municipal de Enfrentamento a
Mas foi no início dos anos 2000, com enorme
34
Violência e Exploração Sexual Contra Crianças e
Adolescentes de Campinas.
Capitulo 2
Onde estamos
de crianças e adolescentes. Coordenou as ações
da semana de 18 de maio, promovendo a cons-
tituição de um grupo de trabalho. Também es-
teve presente em todas as ações que este proje-
to promoveu, através de apoio e influência nas
ações propostas. Destaca-se como a principal
participação deste ator a revisão do plano mu-
nicipal de enfrentamento à exploração sexual
contra crianças e adolescentes.
35
Capitulo 2.1
PEESCCA
Programa de Enfrentamento a Exploração
Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes
Sandra Olivetti Mattiello
Gestora do programa de enfrentamento a ESCCA/Rua CREAS/SMCAIS
C ampinas apresenta uma longa caminhada
Em 2002, Governo e Sociedade Civil, construí-
ram juntos o “Plano Nacional de Enfrentamento
no enfrentamento as violências sexuais contra
à Violência Sexual Infanto-Juvenil”.
crianças e adolescentes.
Campinas, em compasso com todo esse movi-
Em julho de 1985, foi inaugurado o CRAMI -
mento, intensificou o debate para as questões
Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na
Capítulo 2.1
de Enfrentamento à Exploração Comercial de
Programa pEESCCA
Infância, pioneiro no país no atendimento à vio-
Crianças e Adolescentes (ESCCA) e fruto dis-
lência doméstica contra crianças e adolescen-
to, construiu em 2003, o “Plano Municipal de
tes, com destaque a violência sexual.
Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-
Campinas na década de 80, estava muito envol- Juvenil”, uma ação conjunta com representan-
vida na causa da criança e do adolescente e en- tes do poder executivo, legislativo, judiciário e
viou representantes que ajudaram diretamente sociedade civil.
na elaboração da Constituição Federal de 1988,
Em 2004, com destinação de recursos pela
mudando os olhares sobre a infância e adoles-
Petrobrás ao Fundo Municipal dos Direitos da
cência.
Criança e do Adolescente (FMDCA), o município
Durante o final da década, participou da cons- iniciou ações articuladas para o enfrentamen-
trução do Estatuto da Criança e do Adolescente to ao fenômeno, com o desenvolvimento do
e comemorou com muito orgulho a promulga- Projeto Rotas Recriadas.
ção do mesmo em 13 de julho de 1990.
O Projeto “Rotas Recriadas” foi uma ação da
O Brasil, juntamente com Estocolmo (Suécia), empresa Petrobras que nesta época, entre
1996, Yokohama (Japão), 2001 é signatário os seus programas, desenvolvia o “Siga Bem
da Convenção Internacional dos Direitos da Criança”, apoiando políticas sociais voltadas
Criança e do Adolescente e demais Normativas para crianças, adolescentes e suas famílias em
e Protocolos Internacionais. todo o território nacional. Os executores consta-
taram o envolvimento dos caminhoneiros como
37
exploradores sexuais com rotas de exploração passou a integrá-lo. Esta adequação buscou o
em todo o país. O mapeamento destas rotas cumprimento das diretrizes do Sistema Único
apontou Campinas como um local de grande da Assistência Social ( SUAS ), assim como a
incidência da ESCCA. Fizeram parte do projeto garantia dos direitos econômicos, sociais, cul-
“Rotas Recriadas” as secretarias municipais de turais e outros, desta população, na perspectiva
Assistência Social, Educação, Cultura-Esporte da indivisibilidade e interdependência de todos
e Turismo, Saúde, O Conselho Municipal dos os direitos humanos.
Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e
A VIII Conferência Municipal dos Direitos
as entidades: Associação Promocional Oração e
da Criança e do Adolescente realizada em
Trabalho (APOT), Casa Betel, Centro Regional de
Campinas em 1, 2 e 3 de julho de 2009, discutiu
Atenção aos Maus Tratos na Infância (CRAMI),
entre inúmeros temas, a violência em geral que
Centros de Estudos e Promoção da Mulher
vitima crianças e adolescentes em nosso muni-
Marginalizada(CEPROMM) e Obra Social São
cípio e tirou como uma das propostas a criação/
João Bosco.
fortalecimento de mecanismos para o enfrenta-
De 2004 a 2006, houve relevante estruturação mento da mesma, entre elas a violência sexual,
das ações, especialmente com o fortalecimen- incluindo-se a ESCCA.
to da rede de atendimento e a constituição em
Neste mesmo ano a Câmara Municipal de
2006, do Programa Municipal de Enfrentamento
Campinas aprovou a Lei 13.780/09, que ins-
à Exploração Sexual Comercial de Crianças e
tituiu a semana de 18 a 22 de maio, como a
Adolescentes (PEESCCA).
de “Enfrentamento a Violência Sexual contra
A partir de fevereiro de 2008, com a implanta- Crianças e Adolescentes “e também foi im-
ção do Centro de Referência Especializado da plantada a Comissão de Estudos da Pedofilia/
Assistência Social (CREAS), um centro de aten- Violências Sexuais, levando esta temática para
dimento articulador, mobilizador e gestor de os criadores de Leis Municipais, o que compõem
ações de enfrentamento, o referido Programa para a construção de políticas públicas para o
38
enfrentamento da questão. Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes
(PEESCCA) tem por objetivo avançar na redu-
No Diário Oficial da União de 25 de novembro
ção dos riscos a que estão expostos crianças e
de 2009, é publicada a resolução nº 109 que
adolescentes em situação de exploração sexu-
versa sobre a Tipificação Nacional dos Serviços
al comercial e em situação de rua, ampliando e
Socioassistenciais, com a diretriz para o funcio-
implementando ações complementares às que
Capítulo 2.1
namento de todos os serviços da proteção social
Programa pEESCCA
estão em desenvolvimento, trabalhando nos
básica e da proteção social especial de média e
seis eixos das diretrizes do plano nacional: análi-
alta complexidade.
se da situação, mobilização e articulação, defesa
Na proteção social especial de média comple- e responsabilização; atendimento; prevenção e
xidade a diretiva é para o atendimento a ca- protagonismo infanto-juvenil.
sos de ESCCa em dois serviços sendo o CREAS
Procuramos a partir das ações deste programa,
PAIF (Proteção e Atendimento Especializado a
promover a igualdade e inclusão desta popula-
Indivíduos e Famílias) e o serviço especializado
ção, buscando assegurar diversas oportunida-
em abordagem social.
des mais equitativas a quem historicamente, foi
As ONGs e o poder público tem que readequar e vem sendo vítima de discriminação, exclusão e
seus serviços para atenderem as normativas na- violências das mais variadas formas.
cionais.
O Programa PESSCA tem responsabilidade na
O PEESCCA - Programa de gestão das redes constituídas por organizações
Enfrentamento a Exploração não governamentais - ONGs, que compõem a
Sexual Comercial de Crianças e rede sócio-assistencial e são co-financiadas pelo
Adolescentes município, para execução das ações.
Estamos desde 2004 com o apoio da Petrobras
A partir deste novo modelo, o gestor consegue
para o desenvolvimento de nossas ações.
analisar, subsidiar e monitorar o planejamento
O Programa de Enfrentamento a Exploração e execução dos serviços, com a finalidade de
39
garantir o atendimento especializado, as ações fechado;
de prevenção, de articulação e o fortalecimento
4. Crianças e adolescentes em situação de ex-
do sistema de defesa, responsabilização e pre-
ploração sexual comercial que residem em
venção.
seus domicílios.
Esse processo de gestão vem sendo aprimorado
No relatório de atividades do programa de
com inovações de métodos e estratégias na or-
Enfrentamento à Exploração Sexual Comercial
ganização e articulação da rede executora e da
de Crianças e Adolescentes e Crianças e
rede intersetorial, saúde, educação, habitação,
Adolescentes em Situação de Rua - ESCCA / RUA
esportes, cultura, lazer, turismo, segurança, tra-
de 2007, o texto coloca que o programa con-
balho e renda, entre outras.
seguiu atingir os três primeiros públicos alvos,
A partir de 2005, o CMDCA1 junto ao gestor situados em maior número na região central
público municipal, estabeleceu que a gestão da cidade e bairros adjacentes. Já, com rela-
do Programa passaria a ser da Secretaria de ção às crianças e adolescentes em situação de
Cidadania, Trabalho, Assistência e Inclusão ESCCA residindo com familiares, o programa
Social - SMCTAIS2 e as suas ações seriam execu- não conseguiu atingir. O foco ficava no trabalho
tadas pela rede de OG’s e ONG’s parceiras. com as crianças e adolescentes mais expostos
e nos pontos de ESCCA mapeados pelo “Rotas
Em 2006, definiu-se que esse programa atingi-
Recriadas”3. As ações concentravam-se no
ria, gradativamente, o seguinte público alvo:
Jardim Itatinga (bairro de casas de prostituição),
1. Crianças e adolescentes em situação de rua; na região sul com destaque a região do “Campo
40
Compunham a rede em 2007: APOT - Casa com o público de crianças e adolescentes
Guadalupana e Abrigo para crianças e adoles- em situação de rua, com ou sem ESCCA e
centes do sexo masculino em situação de rua; 30% pelo CEDAP no atendimento em situa-
Instituto Souza Novaes - Pernoite Protegido e ção de rua com ESCCA já instalado e ou situ-
Abrigo para crianças e adolescentes do sexo fe- ação de ESCCA em casas especializadas para
minino, em situação de rua; TABA - Espaço de esse fim.
Capítulo 2.1
Programa pEESCCA
Vivência e Convivência do Adolescente; Centro
2. As crianças e adolescentes abordadas fo-
de Estudo e Promoção da Mulher Marginalizada
ram encaminhados para oficinas de arte
(CEPROMM) Itatinga e Cidade Singer; Casa Betel;
educação e acompanhamento psicossocial
Programa Convivência e Cidadania; Centro de
da TABA, Guadalupana, Pernoite Protegido,
Educação e Assessoria Popular (CEDAP) e Centro
CEDAP.
Promocional Tia Ileide (CPTI).
3. Com o progresso da vinculação aos progra-
Durante o primeiro trimestre de 2007, o pro-
mas, essas crianças e adolescentes constru-
grama seguiu o mesmo modelo de 2006, com a
íram seus projetos de vida, que vão desde o
articulação do gestor visando potencializar no-
retorno à escola e a família, até a inclusão
vas ações .
em abrigos especializados e, ou, tratamento
A partir de abril/2007, iniciaram-se efetivamen- para dependência química.
te as novas ações do programa para 2007 e du-
4. O Pernoite Protegido, além de acolher a
rante o ano foram atingidos os seguintes resul-
demanda dos educadores sociais de rua,
tados:
acolheu também demanda espontânea que
1. Os educadores sociais de rua abordaram chegou ao serviço, além de casos encami-
mensalmente uma média de 90 crianças e nhados pelo Conselho Tutelar. Esse serviço
adolescentes em situação de ESCCA/RUA, atendeu aproximadamente 30 crianças e
em 750 atendimentos mensais, sendo 60% adolescentes mensalmente, sendo 20% com
pelos educadores da Casa Guadalupana suspeita ou confirmação de ESCCA, num
41
total de 360 atendimentos mensais. adolescentes do sexo feminino e a Casa
Jimmy - APOT, com atendimento médio
5. A TABA atendeu, nas oficinas de arte edu-
mensal de 15 crianças e adolescentes do
cação e no apoio psicossocial, uma média
sexo masculino
mensal de 55 adolescentes e jovens, totali-
zando 198 atendimentos mensais. 9. A Casa Betel, que está nessa rede desde
2004, como abrigo (Casa de Passagem) de
6. Com o início das oficinas de arte educação
curta permanência para o referenciamento
da Casa Guadalupana em 2007, a popula-
de crianças e adolescentes que não são de
ção atendida aumentou, devido a demanda
Campinas.Atuou como apoio para a rede,
espontânea que chegou na casa, entendida
com atendimento médio mensal de 12
como referência para esses adolescentes,
crianças e adolescentes de ambos os sexos.
sendo atendidos mensalmente, somente
nas oficinas de arte educação, 50 adolescen- 10. A participação do Programa Convivência
tes por mês. e Cidadania foi fundamental pois, além de
contribuir para a identificação e diferencia-
7. O CEPROMM, que está situado em área con-
ção das crianças e adolescentes abordados,
finada de prostituição, atendeu aproximada-
uma vez que reconhece seu público alvo,
mente 30 crianças e adolescentes mensais,
atuou também na prevenção a ESCCA.
e 39 crianças e adolescentes/mês na região
do Campo Belo, nas oficinas de arte educa- Em 2007 a rede apresentou a seguinte compo-
ção e atendimento psicossocial, num total sição: APOT com a Casa Guadalupana e abri-
de 203 atendimentos mensais. go especializado masculino; Instituto Souza
Novaes com o Pernoite Protegido e o abrigo es-
8. Os abrigos especializados para crianças e
pecializado feminino; CEPROMM; CEDAP; CPTI;
adolescentes em situação de rua e ESCCA,
Casa Betel; TABA; Convivência e Cidadania;
atuaram como retaguarda oferecendo inclu-
Obra Social São João Bosco com o Indicando
são e proteção. O Instituto Souza Novaes,
Caminhos; Serviço de Saúde Cândido Ferreira
com atendimento médio mensal de 6
42
com a República Assistida. ESCCA/Rua, obtendo a confirmação de 42 pon-
tos. Foram notificados, 19% das situações à
De acordo com os resultados apresentados pelo
Vara da Infância e Juventude, 20% ao Ministério
trabalho até 2007, verificamos um grande nú-
Público da Infância e Juventude e os restantes
mero de casos de ESCCA em ambientes fecha-
ao Conselho Tutelar, casos esses com identifi-
dos, compreendendo casas de cafetinagem,
cação das vítimas, ou não confirmação da ocor-
Capítulo 2.1
saunas, boates, chácaras, casas das próprias
Programa pEESCCA
rência dos fenômenos.
famílias (os exploradores são os próprios pais,
parentes ou responsáveis legais), locais de di- Em agosto de 2008, implantou-se o Serviço de
fícil atuação por envolver redes de aliciadores “República Assistida”, buscando o objetivo de
e exploradores sexuais mais estruturadas, com proporcionar atendimento à adolescentes que
forte ligações com tráficos de drogas e outras são moradores de rua e fazem o uso abusivo de
ações ilícitas. substâncias psicoativas, com ou sem ESCCA e
principalmente apresentando agravos na saúde
Para conhecermos este universo e elaborarmos
mental.
estratégias de proteção a estas vítimas, im-
plantamos o projeto denominado “Indicando Os dados de 2008 foram coletados a partir dos
Caminhos” com o apoio institucional da Vara da relatórios mensais enviados pelas instituições e
Infância e Juventude, no que compete as ações apresentados por semestre, uma vez que ocor-
de verificação, mapeamento dos locais fecha- reram mudanças na forma da coleta de dados.
dos e abertos, desenvolvimento de um plano de
Os dados dos abrigos Casa Betel, Pernoite e
atendimento para o local, envolvendo atuações
Abrigo especializados da APOT e Instituto Souza
de responsabilização e de proteção em situa-
Novaes não foram computados no primeiro se-
ções que se constatam crianças e adolescentes
mestre.
em situação de ESCCA, ESCCA/Rua.
Foram atendidos 379 crianças, adolescentes e
O referido projeto teve inicio em junho de 2008
jovens, entre 02 a 24 anos, sendo que 54 destes,
e até outubro, mapeou 131 pontos de ESCCA,
foram atendidos por mais de uma instituição,
43
devido as especificidades do fenômeno. Em 2009 fizeram parte do atendimento dire-
to da rede CPTI, CEDAP, CEPROMM, Indicando
Foram 173 meninas, 180 meninos e 26 travestis.
Caminhos (OSSJB) e Casa Guadalupana (APOT)
Com relação as idades foram 31 crianças entre
Foram atendidos pelos programas CPTI, CEDAP e
02 e 11 anos, 236 adolescentes, sendo 25 de 12
CEPROMM 152 crianças e adolescentes, destas
anos, 21 de 13 anos, 39 de 14 anos, 40 de 15
124 do sexo feminino e 28 do masculino, além
anos, 56 de 16 anos e 35 de 17 anos. Atendemos
de 44 travestis pelo CEDAP, que não entraram
41 jovens entre 18 e 24 anos e 71 outros sem
na análise de dados por não conseguirmos con-
informações precisas de idade.
firmar as idades, mas alguns eram adolescentes.
Evidenciou-se que a maioria do público atendi-
Atendemos 27 crianças entre 2 e 11 anos, 118
do foi de adolescentes entre 14 e 17 anos.
adolescentes entre 12 e 17 anos e 7 jovens en-
Dentre os atendidos encontramos 72 adolescen- tre 18 e 21 anos.
tes e jovens em situação de Exploração Sexual
A Casa Guadalupana atendeu a 175 crianças e
Comercial, 75 em situação de Rua e 26 em situ-
adolescentes no ano de 2009, sendo 41 meninas
ação de Rua e Exploração Sexual Comercial.
e 134 meninos. Com relação as idades foram 6
Tivemos 04 casos confirmados de superação da crianças entre 9 e 11 anos, 82 adolescentes, 4
situação de ESCCA, 06 de Rua e 03 da situação jovens entre 18 e 19 anos e 83 não informaram
de ESCCA/Rua. As instituições prestaram neste a idade precisamente.
primeiro semestre de 2008 7.738 atendimentos.
É interessante destacar o tempo de atendimen-
Entre julho a dezembro de 2008, foram reali- to no programa, sendo 18 atendidos até 6 me-
zados 9.423 atendimentos/atividades com as ses, 15 de 7 a 12 meses, 41 de 13 a 24 meses
crianças, adolescentes e jovens atendidas pelo e 5 sem informação. Verificamos que a maioria
programa, com uma média de 190 crianças, estão sendo acompanhados de 2 a 3 anos, refle-
adolescentes e jovens por mês. tindo a complexidade do fenômeno que requer
um acompanhamento longo e sistemático para
44
o rompimento do ciclo da ESCCA. do CMDCA, da Comissão Criando Redes de
Esperança que trata de políticas para crian-
Campinas conta desde 2005 com um sistema
ças e adolescentes em situação de rua e se
institucional informatizado de notificação de
faz representar nas discussões do colegiado.
violências denominado SISNOV (Sistema de
Participamos também dos Conselhos de clas-
Notificação de Violências), de acesso restrito
ses, com destaque no CRP (Conselho Regional
Capítulo 2.1
aos profissionais integrantes das redes de saúde
Programa pEESCCA
de Psicologia) e CRESS (Conselho Regional de
e assistência social principalmente, que foi uti-
Serviço Social) e do CMAS (Conselho municipal
lizado como modelo pelo Ministério da Saúde
da Assistência Social).
para a criação do SINAN (Sistema Nacional de
Notificação de Violências), onde se destacam os A Instituição TABA, que não esta atualmente
dados : sendo co-financiada pela SMCAIS, trabalha com
o enfrentamento a ESCCA e participa ativamen-
Entre 01/07/2005 a 31/12/2008 foram 2.442
te destas ações, levando a discussão para o seg-
notificações, sendo doméstica – 1.705 e urbana
mento do Turismo, Comércio , Lazer e Negócios.
– 737. Dentre estas 1.070 são de cunho sexual,
destacando-se 470 domésticas e 600 urbanas. Estas participações são imprescindíveis para le-
Destas urbanas, são 46 casos de ESCCA notifi- var as questões da infância e adolescência e da
cados. A Violência Doméstica contra Crianças e ESCCA/Rua nos espaços de formulação de políti-
Adolescentes corresponde a 62,3 % destas tipi- cas públicas e para o gestores públicos nas mais
ficadas como sexuais. diferentes àreas.
46
normalmente considerado pornográfico (fotos, recebimento de benefícios que facilitem o con-
vídeos, revistas, espetáculos), mas também sentimento de uma pessoa que tenha controle
na literatura, fotografia, publicidade, cinema, sobre outra, com propósitos de exploração”.
quando apresentam ou descrevem com claro Segundo normativas nacionais e internacionais,
caráter pedófilo situações envolvendo crianças o tráfico de mulheres, crianças e adolescentes
e adolescentes, expostas e usadas sexualmen- para fins de exploração sexual comercial é cri-
Capítulo 2.1
Programa pEESCCA
te por adultos. A pornografia infanto-juvenil na me, e uma violação dos direitos humanos.
Internet constitui atualmente um dos mais gra-
Com relação às crianças e adolescentes em si-
ves problemas a ser enfrentado pela sociedade,
tuação de rua, para o nosso projeto, são con-
em nível nacional e internacional.
sideradas aquelas que perderam seus laços fa-
TURISMO PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL: miliares e fazem das ruas, principalmente as da
Envolve a utilização de equipamentos do turis- região central, seus locais de moradia e sobrevi-
mo para a exploração sexual de crianças e de vência. Todos estes meninos e meninas saíram
adolescentes. O chamado “turismo sexual” não de suas casas por terem sido vítimas de violên-
é turismo. É, sim, um tipo de violência que vai cia doméstica gravíssima ao ponto de optarem
contra os princípios do Código Mundial de Ética pela violência e regras rígidas que imperam nas
do Turismo, além de ser uma violação inaceitá- ruas. Costumam se submeter a programas se-
vel dos direitos humanos. xuais como forma de sobrevivência e obtenção
principalmente de drogas. A ação devastadora
TRÁFICO DE PESSOAS PARA FINS SEXUAIS: De
da situação de rua na vida destas crianças e ado-
acordo com as Nações Unidas tráfico de pesso-
lescentes é presenciada por todos nós, quando
as significa: “recrutamento, transporte, trans-
somos confrontados nas ruas por meninos e
ferência, abrigo e guarda de pessoas por meio
meninas sujos, mal vestidos, magros, sob efeito
de ameaças, uso de força ou outras formas de
de drogas, fazendo “ponto” nas esquinas, dor-
coerção, abdução, fraude, enganação ou abuso
mindo pelas calçadas, mocós e marquises de
de poder e vulnerabilidade, com pagamentos ou
nossa cidade.
47
Atualmente já atendemos a todas formas de vício, ou, inclusive, por coação e obrigatorie-
ESCCA. dade (imposta pelo traficante);
48
prematuramente sua sexualidade e encon- social e apresentando dificuldade de adesão
trem nela uma oportunidade para obtenção aos dispositivos da rede. Tais pessoas não se
de renda e aquisição dos produtos anuncia- sentem pertencentes àquele local, mesmo
dos; residindo há anos na cidade.
Capítulo 2.1
programas colocando a exploração sexual
Programa pEESCCA
de modo banalizado, superficial, sensacio- Para enfrentar a complexidade dos fenômenos,
nalista, romantizado e irreal; essas diferentes ações se desenvolvem de ma-
neira articulada e dinâmica, atendendo as es-
• Famílias acompanhadas pela rede de ser-
pecificidades dos mesmos, que exigem um pro-
viços dos diferentes níveis de proteção do
cesso estreito e sistemático de monitoramento,
território há muito tempo (saúde, educa-
nos baseamos nos seguintes princípios metodo-
ção, ONGs, etc.). Muitas vezes, essa rede
lógicos: gestão participativa; monitoramento e
de atendimento está saturada e apresenta
avaliação sistemática; trabalho em rede; inter-
dificuldades para realizar um acompanha-
setorialidade; transdisciplinaridade;
mento individualizado e desenvolver novas
estratégias de vinculação aos programas e Nos utilizamos das seguintes técnicas e instru-
atendimentos. Outras vezes, a integração mentos: relatórios mensais qualiquantitativos;
entre os serviços da rede é falha permitin- Reuniões semanais com a rede executora/equi-
do assim, que as famílias ou as pessoas em pe técnica; Reuniões semanais/mensais para
situação de ESCCA não consigam aderir às capacitação e supervisão; Registros em diários
propostas; de campo; Registros em prontuários individuais;
Banco de dados; Visitas de monitoramento do
• Diversas famílias migram de outras cidades/
gestor a rede executora; Reuniões periódicas
estados e não estabelecem vínculo ou iden-
com os dirigentes das instituições.
tificação com o local onde se inseriu, não
zelando, assim, pela manutenção do espaço Oferecemos os seguintes atendimentos com os
49
seguintes princípios: parceiros desta rede;
50
Travestis, Transexuais e Bissexuais) aos ser- • Aumento no número das ações voltadas
viços da rede; aos cuidados com a saúde, principalmente
à saúde sexual e reprodutiva e tratamento
• Melhora no número de adesões dos atendi-
para situações de uso e abuso de substân-
dos ao número de encaminhamentos pro-
cias psicoativas;
postos;
Capítulo 2.1
• Maior número de ações de prevenção à
Programa pEESCCA
• Melhora e aumento do número de ações no
ocorrência do fenômeno de ESCCA;
trabalho com as famílias dos atendidos;
• Melhora no número de casos referencia-
• Fortalecimento dos vínculos entre os atendi-
dos ao programa pelos Conselhos Tutelares,
dos e os profissionais da rede;
Vara da Infância e Juventude, CREAS e de
• Aumento do número de discussões conjun- outros serviços que compõem a rede de
tas de casos e situações entre os parceiros atendimento à criança e ao adolescente em
da rede; nosso município;
centes que saíram da situação de rua e fo- Conselhos de Classe destacando-se CRP, CRESS e
ram para abrigos, comunidades terapêuti- CRM, Fórum dos Direitos da Criança e Adolescente
cas ou voltaram para suas famílias; (FDCA), Centros de Defesa (CEDECA), Fundação
51
das Entidades Assistenciais de Campinas • Crianças e adolescentes de 06 a 14 anos,
(FEAC), Comissões de Direitos Humanos e da visando sua proteção, socialização e o for-
OAB, Câmara Municipal, Conselhos Tutelares, talecimento dos vínculos familiares e comu-
Vara da Infância e Juventude, Disque Denúncia nitários;
Municipal, Ministério Público da Infância
• Programa de incentivo ao protagonismo ju-
e Juventude,Prefeitura Municipal, Câmara
venil e de fortalecimento dos vínculos fami-
Municipal, Defensoria Pública, Universidades
liares e comunitários;
destacando-se UNICAMP e PUCCAMP, mídia lo-
cal. • Programas de aprendizagem profissional;
tão. centes;
As principais ações da secretaria acima mencio- • Medidas sócias educativas em meio aberto
nadas são executadas pelas organizações go- - prestação de serviços à comunidade e li-
52
• Abrigos especializados para crianças e ado-
lescentes em situação de rua, usuários ou
não,de substancias psicoativas;
• Pernoite Protegido;
Capítulo 2.1
Programa pEESCCA
• Comunidade Terapêutica para adolescentes;
e
53
Capitulo 2.2
Programa Iluminar
Cuidando das Vítimas de Violência Sexual
Dra. Verônica Gomes Alencar
Médica ginecologista sanitarista. Coordenadora do Programa Iluminar Campinas
C ampinas, o terceiro maior município do es-
e também Organizações da sociedade civil en-
volvidas na luta contra a violência. Elaborou-se
tado de São Paulo, tem como um dos principais
então uma carta de intenções, dirigida ao pre-
problemas de Saúde Pública, a violência em suas
feito, norteando a criação da Rede Iluminar.
diversas manifestações. Em 2001 a Secretaria
de Saúde detectou a necessidade do cuidado A articulação da rede começou com a organiza-
ção do fluxo de atendimento das vitimas de vio-
Programa Iluminar
Capítulo 2.2
as vítimas de violência sexual para prevenção
de DST/AIDS, e gravidez proveniente de estu- lência, que instituiu oficialmente os caminhos a
pro, porém não existiam dados para aperfeiçoar serem seguidos pelas vítimas de violência den-
o diagnóstico e elaborar uma política eficaz, e tro da rede. A rede articula conselhos comuni-
vam independentes causando revitimização da segurança pública, tanto municipal quanto es-
Para enfrentar o problema da violência sexual a As ações mais importantes da rede são a huma-
rede trabalha com o conceito de que a violência vítimas e a criação do sistema de Notificação
é um problema de saúde pública e não somente SISNOV. Até hoje já foram capacitados mais de
um problema policial. Por isso, o foco está no 3.000 profissionais da rede pública e de institui-
55
Assistência às crianças e adolescentes vítimas violência.
de violência doméstica; ESCA dirigido às crian- Processo de Trabalho
ças e adolescentes vítimas de exploração sexu- Adotado
al (SUAS) e o “Iluminar Campinas”, dirigido ao
Desde sua implantação, em 2001, o Programa
cuidado às vitimas de violência sexual urbana e
Iluminar Campinas – Cuidando das Vítimas de
doméstica de ambos os sexos e todas as idades.
Violência Sexual, vem mudando o tratamen-
Objetivos to dispensado às mulheres, homens, adultos,
crianças e adolescentes vítimas da violência se-
Cuidar da saúde das crianças mulheres, ado- xual no município, por meio de um trabalho in-
lescentes e homens vítimas de violência sexual tersetorial de interface com todas as secretarias
urbana ou doméstica aguda, antes de 72hs, pos- municipais e participação efetiva de diferentes
sibilitando a prevenção da gravidez por estupro, serviços públicos, Sociedade Civil organizada,
DST/AIDS, Hepatite. Universidades, entre outros.
Cuidar da saúde de todas as vítimas de violência O Programa envolve duas redes de trabalho:
sexual doméstica crônica, e das suas famílias. uma de cuidados diretos e outra de cuidados
indiretos. Na que se refere ao apoio indireto
Identificar, Capacitar, Integrar e Monitorar a
estão incluídos os equipamentos da Secretaria
Rede de cuidados para evitar a REVITIMIZAÇÃO,
de Cidadania, Trabalho, Assistência e Inclusão
qualificar e humanizar os serviços.
Social, como os Núcleos Comunitários de
Elaborar e implantar sistema de notificação para Crianças e Adolescentes, o Centro Municipal
construção de banco de dados, monitoramento de Proteção à Criança e Adolescente (CMPCA),
da rede de serviços, possibilitarem implementa- Casa Abrigo da Mulher Sara M e o Centro de
ção de políticas públicas mais eficientes Referência e Apoio à Mulher (Ceamo).
Cuidar das pessoas autoras de violência em am- Nesta rede também estão incluídas as Escolas
biente não policial para intervir na cadeia de Municipais (Cemeis, Emeis e Emef’s), Guarda
56
Municipal, Conselhos Municipais da Criança e o paciente é imediatamente encaminhado para
do Adolescente (CMDCA), da Mulher (CMDM) atendimento médico e assistência psicológica.
do Idoso (CMI) e das Pessoas com Deficiência O atendimento para as mulheres inclui anticon-
(Cmadene), Conselhos Tutelares, Vara da cepção de emergência. Em todos os casos é fei-
Infância e da adolescência, ONGs que traba- ta a imunização contra hepatite e aplicação do
lham com estes segmentos da população, e coquetel contra o vírus HIV. A vítima também é
Programa Iluminar
Capítulo 2.2
Delegacias de Polícias e da Mulher e os servi- orientada para fazer Boletim de Ocorrência (BO)
ços de assistência jurídica e psicológica da PUC e a agendar exame de corpo de delito.
Campinas e da Universidade Paulista (UNIP).
Com a criação do Núcleo de prevenção de aci- 100% dos casos que realizaram todo o trata-
dentes e violências e a entradas das demais re- mento não tiveram sorologias positivas para
des de cuidados de outras violências foi criado HIV/Hepatite
um Grupo de trabalho para avaliar a qualidade
A criação do serviço de cuidado aos adolescen-
das notificações e realizar capacitação dos servi-
tes autores de violência em ambiente não poli-
ços que apresentam problemas na notificação.
cial junto as suas famílias.
Principais Resultados A consciência dos serviços da rede de que as ví-
Alcançados timas de violência sexual são da nossa respon-
sabilidade e devem ser tratadas com competên-
Valores epidemiológicos e cia e humanização.
estatísticos.
O envolvimento da comunidade e da mídia ele-
Possibilitar as vítimas de ambos os sexos e de to-
varam o nº de atendimento nos anos após a
das as idades assistência á saúde física e psicos-
implantação do programa, possibilitando às ví-
social prioritariamente às questões de polícia
timas o cuidado com sua saúde.
(antes da implantação do programa apenas 20%
das vítimas chegavam aos serviços de saúde em A partir da divulgação dos dados SISNOV aos
58
Secretários Municipais e aos gestores das redes Violência Sexual, ambos os sexos todas as idades
por tipo de violência sexual
várias ações de prevenção e promoção da saúde Dados: Boletim SISNOV No3
0 a 4 anos 4 67 6
5a9 19 107 13
15 a 19 anos 160 91 17 29
alto de ocorrência; 20-29 anos 174 84 6 6
Programa Iluminar
Capítulo 2.2
30-39 anos 80 37 1
40 a 49 anos 35 15
Ronda escolar à noite pela Guarda Municipal; 50 anos e + 21 10 1
Desconhecido 3 6 3
Festa 5
Violência Sexual por local de notificação e ano
Dados: Boletim SISNOV No3 Ignorado 110
OUTROS 1 1
59
técnica. O SISNOV contribui para uma impor-
Conclusões tante discussão no cenário atual do Brasil, do
desafio de efetivar a notificação compulsória
A ação coletiva que foi proposta pelo programa
da violência nos serviços, pois em alguns casos,
Iluminar na construção do cuidado a violência
argumenta-se que o despreparo dos serviços e
articulando os serviços em rede buscou pro-
profissionais para o acolhimento da demanda,
mover a conscientização das pessoas através
somado a precariedade da rede de cuidados,
da ressignificação de novos eixos conceituais
pode trazer efeitos contrários a promoção dos
para uma realidade que antes não era percebi-
direitos e cidadania. Nos últimos anos a gestão
da como tal. Sabemos que os dados notificados
das informações trouxeram avanços significati-
ainda não conseguem mapear a totalidade das
vos nas políticas de prevenção como:Iluminação
ocorrências, mas com aqueles disponíveis estão
de locais com altos índices de violência sexual
dando visibilidade ao problema e instrumentali-
urbana.Capacitação dos observadores das câ-
zando ações e políticas.
meras de monitoramentos de ruas, terminais de
O SISNOV tem sido uma ferramenta catalisa- transporte coletivos para intervenção preventi-
dora da consolidação de política pública e ino- va em casos suspeitos.Capacitação dos seguran-
vação nas ações de vigilância enfrentamento ças privados de shopping Center da cidade.Tese
e cuidados as vítimas de violência sexual, pois de doutorado defendida pela Dra. em psicologia
além de sistematizar as violências, o sistema Claudia Pedrosa Programa Iluminar Campinas:
tem permitido ampliar a noção da situação no Da gestão inovadora do cuidado ao desafio da
município, através da divulgação dos boletins incorporação da categoria gênero nas práticas.A
periódicos com os dados coletados. O SISNOV criação do Ambulatório de cuidado as crianças e
acaba articulando diferentes setores de rede de adolescentes vítimas de violência sexual.
cuidados, e se estabelece como um facilitador
Um desafio constante para a gestão da rede de
na construção de ações e projetos terapêuti-
cuidados é o cuidado ao cuidador, ainda sem
cos, assim como na organização de capacitação
ações especificas para as equipes dos serviços.
60
Recomendações para a saúde pública em torno de 20.Capacitações para implantação
de ações e de organização das redes de cuida-
Os municípios tem hoje a possibilidade de im-
dos. Realizadas em 12 municípios.As ações de
plantar, implementar e desenvolver ações de
cuidado, prevenção e enfrentamento a violên-
cuidado e enfrentamento as violências sexuais
cia sexual urbana e doméstica passa a fazer
devido aos instrumentos disponibilizados pelo
parte do Programa de Saúde da Família , com
Programa Iluminar
Capítulo 2.2
ministério da saúde através da área técnica de
interface com SUAS ,os operadores do Direito,
saúde da Mulher e da criança e adolescentes
conselhos de direitos e tutelares, agentes de
e da Área Técnica de Vigilância e Prevenção de
segurança pública.O cumprimento das ações de
Violências e Acidentes/Coordenação Geral de
enfrentamento a exploração sexual de crianças
Doenças e Agravos Não Transmissíveis, a ela-
e adolescentes contidas no Plano Municipal de
boração da Norma técnica de atendimento as
Enfrentamento a exploração sexual de crianças
mulheres e adolescentes vítimas de violências
e adolescentes.A implantação do sistema de no-
sexual, a norma técnica para atendimento do
tificação unificado ao SINAM transformando o
abortamento, a implantação da Política Nacional
nosso SISNOV em SISNOV/SINAM contribuindo
de prevenção de acidentes e violências com a
para formulação de políticas de maior abran-
implantação da ficha de notificação compulsó-
gência , estadual e federal.A disponibilização do
ria de violências. A possibilidade de construção
cuidado as crianças, adolescentes e homens e o
das redes com o SUAS, a seguranças pública e
cuidado aos adolescentes autores de violência
os conselhos tutelares também existentes em
sexual como ações para romper com o ciclo da
quase totalidade dos municípios.Dentro desse
violência sexual.
cenário as ações do Iluminar campinas trazem
algumas sugestões que podem contribuir para a Resumo
construção das redes de cuidados as vítimas de
violência sexual.Realização de visitas técnicas Com o objetivo de Cuidar da saúde das crian-
monitoradas aos serviços da rede para municí- ças mulheres, adolescentes e homens vítimas
pios, estados e instituições. Já foram realizadas de violência sexual urbana ou doméstica aguda,
61
antes de 72hs, possibilitando a prevenção da
gravidez por estupro, DST/AIDS, Hepatite das
vítimas de violência sexual doméstica crônica,
e das suas famílias, Elaborar e implantar siste-
ma de notificação para construção de banco
de dados, monitoramento da rede de serviços,
possibilitarem implementação de políticas pú-
blicas mais eficientes, o município de Campinas
SP. Cria a rede Iluminar de cuidados as vítimas
de violência sexual, ancorado num trabalho em
rede com o SUAS, a Segurança Pública, os ope-
radores do direito, os conselhos tutelares, uni-
versidades e a sociedade civil organizada, que
através de fluxos definidos e protocolos estrutu-
rados para o atendimento de urgência e segui-
mento dos casos, diminuiu substancialmente o
tempo de atendimento das vítimas desde a hora
do ocorrido até o atendimento à saúde (norma
técnica), diminuindo em 90% o número de abor-
tos em caso de estupro, e através da implanta-
ção de um sistema de notificação ,on line hoje
SISNOV/SINAM desenvolve ações de prevenção
a violência sexual urbana, o monitoramento das
ações da rede, e a avaliação da qualidade da
notificação e a capacitação dos profissionais da
rede de cuidados.
62
Capitulo 2.3
Movimento Viva Melhor
Disque Denúncia de Campinas
General Seixas
General Seixas – Superintendente do Movimento Vida Melhor – Disque Denúncia Campinas
O crescimento desordenado das cidades e a
de Campinas (DD Campinas), em solenidade
em que estavam presentes o Governador do
decorrente situação de exclusão social gerada
Estado de São Paulo, acompanhado das figuras
favoreceu o estabelecimento de diversas for-
mais representativas de seu governo com res-
mas de violência e criminalidade instaladas nos
ponsabilidade na área de Segurança Pública e a
vazios deixados pelo poder publico.
Prefeita Municipal de Campinas com todos os
A Região Metropolitana de Campinas não fugiu seus assessores, além das mais siginificativas
a essa regra, tendo experimentado, nas últimas personalidades da sociedade civil organizada
décadas do século passado e nos primeiros anos do Município e Região. Vale dizer, o MVM-DD
dois mil, períodos em que os índices de violên- Campinas nasce apadrinhado por todos os seto-
cia e criminalidade atingiram patamares inacei- res do Poder Público e da sociedade local, com
táveis, levando o município e a RMC a serem a tarefa de apoiar, assessorar, colaborar com o
incluídos na agenda policial da mídia nacional. Poder Público e a iniciativa privada no enfrenta-
mento das causas geradoras da insegurança na
Ao final de 2001, com o assassinato do Prefeito
Região e de seus efeitos.
Municipal de Campinas, dentro de um quadro
de quase anomia no Estado de São Paulo, poder O MVM, que foi declarado pelo Poder Público
público e sociedade entenderam como inadiá- Municipal de Campinas “Örgão de Utilidade
vel a adoção de iniciativas contundentes que se Pública”, pela Lei N° 12.309, de 06 de julho
mostrassem capazes de reverter a realidade en- de 2005, explicita em seu Estatuto, ser uma
tão vivida e se constituissem em sinalização in- associação de direito privado, constituída por
questionável, para criminosos e coletividade de tempo indeterminado, sem fins econômicos,
que não se toleraria continuar convivendo com de caráter organizacional, assistencial, sem
aquele estado de coisas. cunho político ou partidário, com a finalidade
de atender a todos que a ela se dirigirem, inde-
É nesse contexto que se cria o Movimento Vida
pendente de classe social, nacionalidade, sexo,
Melhor (MVM) e se implanta o Disque Denúncia
raça, cor ou crença religiosa, com âmbito de
64
atuação no município de Campinas e sua Região O DD Campinas, braço operacional do MVM, é
Metropolitana. uma central comunitária de atendimento tele-
fônico, que funciona ininterruptamente duran-
Dentre os seus diversos objetivos, igualmente,
te as vinte e quatro horas do dia, destinada a
estatutários, merecem destaque:
receber informações da população sobre ativi-
Capítulo 2.3
MOVIMENTO que conjugará os esforços da so- -las aos órgãos públicos com responsabilidade
ciedade civil no combate à violência e à crimi- para enfrentá-los e solucioná-los, assegurando
nalidade no município de Campinas e sua região o anonimato do denunciante. Suas atividades
metropolitana; são mantidas, hoje, com recursos prove-
- Colaborar com os poderes públicos, prestando nientes das parcerias estabelecidas entre a
zação e cooperação da sociedade civil, para o civil organizada, estando, no entanto, igual-
o engajamento de amplo espectro, visando am- cida pela população, passou a ser um elemento
segmentos da sociedade para a necessidade de setor, com clara conotação de serviço so-
combate à criminalidade, estimulando a socie- cial, uma vez que a população utiliza este ser-
dade a participar das soluções que não depen- viço não só para denunciar atividades crimino-
dam exclusivamente da atuação policial e judi- sas, como também como forma de comunicar
65
público, etc.
Desde o inicio do Disque Denúncia de Campinas, em fevereiro de
O reconhecimento da população 2002, e até o ano de 2007, o tipo de assunto mais denunciado sem-
à eficácia desse instrumento pode pre foi o Tráfico de Drogas, seguido por crimes contra o patrimônio.
ser constatado nos picos de denún- A partir de 2008 o assunto mais denunciado é o crime contra criança
cias ocorridos nos horários subse- e adolescentes, sendo: abandono, maus tratos, violência sexual ,
qüentes aos noticiários regionais, exploração sexual infantil.
o que permite constatar que a po-
Cabe-nos ressaltar que não foi apenas a violência que aumentou,
pulação interage indignada com
mas sim a credibilidade da população no serviço Disque Denúncia
os fatos, usando o DD Campinas
de Campinas, bem como nos parceiros que recebem a denúncia e
como instrumento para se fazer
tomam as providências (Ex: CT, DDM, Vara da Infância e as várias
ouvir pelos órgãos públicos.
secretarias do município, como a Sec. Assistência Social).
O MVM, presentemente, conduz
Esclareço que as campanhas e eventos que são realizados em parce-
significativo esforço no sentido de
ria com os diversos órgãos e instituições, a exemplo da TABA, são de
aprimorar a gestão dos seus servi-
fundamental importância para a conscientização da população em
ços, assim como de ampliar o es-
denunciar a violência contra crianças e adolescentes, como ocorreu
pectro de suas ações operacionais,
esse ano no evento 18 de maio.
tudo com o intuito de colaborar
de forma mais intensa com os di- Percebemos que o aumento das denúncias deve-se a esse trabalho
versos órgãos do Poder Público, realizado em parceria.
contribuindo para que se busque Recebimento e Encaminhamento de
assegurar benefícios progressivamente maiores Denúncias de Maus Tratos Contra Crianças
à população, reduzindo, conseqüentemente, e Adolescentes
os níveis de violência e criminalidade no seio
As denúncias são recebidas pela nossa central
da sociedade e colaborando para a construção,
do Disque Denúncia, através do telefone 3236-
igualmente progressiva, de uma cultura de paz.
3040, que funciona 24 horas ininterruptamente.
66
As denúncias são realizadas anonimamente, e o MOVIMENTO VIDA MELHOR/DISQUE DEnúncia CAMPINAS
denunciante recebe uma senha, para acompa- DENÚNCIA DE MAUS TRATOS CONTRA CRIANÇA E
ADOLESCENTE
nhamento, bem como para o caso de precisar PERÍODO DE 01/05/2009 a 20/07/2010
período de execução do projeto Turismo Sustentável e
acrescentar novos dados. Infância e Campinas
CIDADE: CAMPINAS
Após o recebimento da denúncia, é realizada
Capítulo 2.3
ATENTADO VIOLENTO AO
21
PUDOR
cia a informação, ou seja, quanto ao relato da ESTUPRO 56
denúncia, para que a mesma seja encaminhada PEDOFILIA 27
PROSTITUIÇÃO INFANTIL 72
para o devido órgão competente, para as provi-
TOTAL 176
dências cabíveis.
MOVIMENTO VIDA MELHOR/DISQUE DEnúncia CAMPINAS
As denúncias de maus tratos contra criança e DENÚNCIA DE MAUS TRATOS CONTRA CRIANÇA E
ADOLESCENTE
adolescente são encaminhadas para diversos
PERÍODO De fevereiro de 2002 a julho de 2010
órgãos, dependendo como comentado acima Período de atuação do serviço Disque Denúncia
em Campinas
do teor da denúncia.
CIDADE: CAMPINAS
Denúncia QTD. DENÚNCIAS
As denúncias são encaminhadas para: O
ATENTADO VIOLENTO AO
11
Conselho tutelar, Vara da Infância, Delegacia de PUDOR
ESTUPRO 259
Defesa da Mulher, bem como algumas coorde-
PEDOFILIA 283
nadorias da Secretarias de Assistência Social. PROSTITUIÇÃO INFANTIL 621
TOTAL 1174
Essas denúncias são encaminhadas aos órgãos
via fax e via Oficio.
67
Capitulo 2.4
Vara da Infância e Juventude
A Vara da Infância e da Juventude de
Os voluntários fazem verificações em casos de
denúncias de maus tratos, exploração sexual.
Campinas é especializada, sendo uma das pou-
cas no Estado de São Paulo que não é cumu- A Equipe Interprofissional é composta por
lativa, é composta por um cartório, Equipe Assistentes Sociais e Psicólogos e têm como
Capítulo 2.4
gura responsável é o Juiz de Direito que além
da condução do processo é o corregedor per- Além de atender os processos da Vara da Infância
manente. e da Juventude a Equipe Interprofissional aten-
é dar resolução jurídica às questões apresenta- processos de Varas Criminais referentes a Lei
das. Cabe ao Juiz de Direito, ouvido o Ministério Maria da Penha, processos de varas criminais
Público dar sentença nos casos apresentados à onde crianças e adolescentes aparecem como
Cabe ao Cartório fazer o processamento dos por determinação judicial. Considerando sua
69
esclarecimentos e orientações; família para serviços, com objetivo de que
consiga se organizar e se preparar para o re-
• Preparação da criança para adoção – verifi-
torno de sua criança;
cação da referencia de família, possibilidade
de abertura para novas experiências, despe- • Avaliação da família nos casos de abertura
dida dos amigos e cuidadores do abrigo; de contraditório (destituição do poder fami-
liar).
• Verificação do pretendente que melhor
atenda as necessidades da criança, dentro Guarda, Tutela
da ordem cronológica de cadastramento;
• Avaliação da família⁄pessoa requeren-
• Preparação da casal⁄pessoa para adoção; te a guarda⁄tutela quanto a sua condição
de se responsabilizar pelos cuidados da
• Aproximação da criança e casal⁄pessoa, le-
criança⁄adolescente.
vando em conta a necessidade de tempo
para estabelecimento de relação de confian- Situações de Violência
ça;
• Avaliar as possibilidades da família
• Acompanhamento do estágio de convivên- em ser continente as necessidades da
cia. criança⁄adolescente;
70
buscando conhecer qual dos pais oferece Justiça Restaurativa
melhores condições para os filhos, naquele
• Implantação da Justiça Restaurativa em ca-
momento, orientando sobre a importância
sos de atos infracionais.
de se manter a parentalidade e de se buscar
manter a imagem do outro genitor; Além das ações já citadas o juiz e profissionais
Capítulo 2.4
no município e no Estado das discussões sobre
manter um relacionamento amigável com
o tema da infância que busca o estabelecimento
relação aos interesses do filho, buscando
da política pública, o melhor ordenamento das
seu bem estar, evitando que ele seja objeto
ações, buscando a proteção integral e garantia
de disputa ou que se veja com a incumbên-
dos direitos de crianças e adolescentes.
cia de resolver os conflitos dos pais;
71
Capitulo 3
Diagnóstico para Embasar Ações do Projeto:
“O imaginário da Cadeia Produtiva de Turismo de Campinas a
Respeito da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”
Silvana Ferreira Bento 1,2
Maria José Duarte Osis 2
Eliana Maria Hebling 2
1 Hospital da Mulher Professor Doutor José Aristodemo Pinotti - Centro de Atenção Integral á Saúde da Mulher - CAISM -
Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Campinas, Brasil.
2 Cemicamp - Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva de Campinas. Campinas, Brasil.
A problemática da exploração sexual de
desigualdades de gênero, de cor e raça, a vio-
lência familiar, o consumo de drogas, além das
crianças e adolescentes vêm sendo tratada com
disparidades regionais, como aspectos determi-
sério rigor por diversos organismos internacio-
Capitulo 3
incluindo inúmeras ações para a prevenção e Com os mesmos parâmetros do Plano Nacional
Turismo Sustentável e Infância é uma das ações Plano Municipal de enfrentamento da violência
que visam contribuir com o enfrentamento des- sexual infanto-juvenil, tendo como objetivos a
será objeto de qualquer forma de negligência, aproximadamente 796 km² e uma população de
e opressão, punido na forma da lei qualquer população de 2007 (IBGE, 2007). Apresenta nú-
atentado, por ação ou omissão, aos seus direi- meros que a colocam como uma das mais impor-
tos fundamentais” (Brasil, 2005), a exploração tantes do Brasil e terceira cidade mais populosa
sexual de menores continua se disseminan- do Estado de São Paulo. Situada em uma região
73
tecnológico do país, principalmente em setores Municipal de Assuntos Jurídicos (SMAJ), que
dinâmicos e de alto input científico e tecnológi- dispõe sobre a obrigatoriedade de determina-
co. Constitui-se uma região que apresenta um dos estabelecimentos afixarem o número te-
dos maiores volumes de negócios realizados e lefônico do “DISQUE DENÚNCIA” de Campinas
experimenta um aumento significativo do turis- para denúncia de exploração, abuso e violências
mo de negócios e lazer nos anos mais recentes. sexuais contra crianças e adolescentes e dá ou-
Esta região convive com a perversa contradição tras Providências (SMAJ, 2005).
das grandes metrópoles, apresentando signi-
Com o objetivo de conhecer a situação de ex-
ficativo crescimento do movimento migratório
ploração sexual de crianças e adolescentes as-
de famílias de baixa renda que ocupam os bair-
sociada à cadeia produtiva de turismo - que é
ros marcados pela pobreza, agravando os pro-
prioritariamente de negócios e eventos - na ci-
cessos de exclusão social, pela convivência com
dade de Campinas, São Paulo, foi desenvolvido
precariedade territorial e vulnerabilidades so-
o estudo sobre o qual trata este capítulo.
ciais. Essas características têm contribuído para
a proliferação da exploração sexual comercial Metodologia
infanto-juvenil na região, envolvendo os diver-
sos setores do segmento turístico e de negócios,
como, hotéis, agências de eventos e de turismo, O Cemicamp – Centro de Pesquisas em Saúde
casas noturnas, além de taxistas. Outra ques- Reprodutiva de Campinas foi procurado pela
tão importante na região é o crescimento do TABA a fim de desenhar um estudo para obter
aeroporto Internacional de Viracopos que hoje um diagnóstico da situação da exploração sexu-
é um dos maiores centros de investimento da al de crianças e adolescentes associada à cadeia
Infraero. produtiva do turismo, em Campinas. Desenhou-
se, então, um estudo exploratório, qualitativo,
Uma das medidas preventivas que deveriam es-
em que foram utilizados dois tipos de técnicas:
tar sendo adotadas na região refere-se à LEI Nº
entrevistas semiestruturadas (Patton, 1990) e
12.305 de 22 de junho de 2005, da Secretaria
74
observação direta (Ulin et al., 2002) realizada selecionados diferentes tipos de estabelecimen-
em ambientes ofertados ao turismo na cidade. tos: dois hotéis e uma casa noturna. Também
foram identificados frotas de táxi e taxistas que
A primeira etapa do estudo consistiu em en-
Capitulo 3
mo. Também foram convidados a participar do
pesquisa. Esses contatos foram feitos com re-
estudo autoridades e funcionários da rodoviá-
presentantes da Vara da Infância e Juventude,
ria de Campinas e do aeroporto de Viracopos.
da Coordenação do Programa de Saúde da
Mulher da Prefeitura Municipal de Campinas Os hotéis, casas noturnas, empresas de even-
e da Coordenação do Centro de Referência tos e agências de turismo foram selecionados
Especializada em Assistência Social - CREAS do a partir de cadastros obtidos junto aos órgãos
município, com o objetivo de levantar informa- de classe dessas categorias de serviço e tam-
ções sobre locais estratégicos a serem observa- bém através de guias de serviços on-line. Em
dos na cidade e pessoas a serem entrevistadas. cada estabelecimento selecionado foi feito um
Também se solicitou a essas pessoas sugestões contato inicial por telefone por uma auxiliar de
sobre o que se deveria perguntar especifica- pesquisa em que se explicava a pesquisa, seus
mente às pessoas que participariam da pesqui- objetivos, no que consistiria a participação e se
sa. pedia a colaboração. Alguns desses estabele-
cimentos solicitaram que a carta convite fosse
A partir desse levantamento inicial, seleciona-
enviada também por e-mail ou fax. Quando o
ram-se intencionalmente (Patton, 1990) cinco
estabelecimento aceitava participar era agen-
regiões do município, por serem distintas em
dado o melhor dia e horário para a realização
suas características gerais e consideradas vulne-
das entrevistas. Os que não aceitaram foram
ráveis às questões relacionadas ao tema a ser
substituídos por outros estabelecimentos que
estudado. Em cada uma dessas regiões foram
estavam nos cadastros, sempre utilizando os
75
critérios estabelecidos anteriormente. pré-testado com pessoas de características se-
melhantes aos que fizeram parte do estudo.
Em cada um dos estabelecimentos visitados fo-
ram convidados a participar os seguintes sujei- Também se realizaram 20 observações diretas
tos para participarem da pesquisa: nos estabelecimentos, utilizando um formulá-
rio em que constavam os itens que deveriam
• Hotéis: gerente, porteiro, recepcionista, ca-
ser observados em cada ambiente visitado.
mareira e taxista.
Verificava-se se havia placa de advertência so-
• Casas noturnas: gerente, barman, porteiro, bre exploração sexual de crianças e adolescen-
segurança, funcionário do caixa e taxista. tes, local onde a placa estava afixada e existên-
76
Cada estabelecimento selecionado foi visitado Em cada estabelecimento visitado, um dos en-
por uma equipe de, pelo menos, dois entrevis- trevistadores também era responsável por fazer
tadores, sendo um homem e uma mulher, para a observação do ambiente. A princípio, o entre-
Capitulo 3
de um retorno da equipe a alguns desses lo- cia sobre exploração sexual de crianças e ado-
cais, para entrevistar uma ou outra pessoa que lescentes e solicitava sua autorização. Mediante
não estava presente na ocasião da primeira vi- a autorização, a observação era realizada e os
sita. Nessas visitas, a equipe de campo contou itens observados eram registrados no formulá-
também com a presença de um motorista, que rio específico. Todos os gerentes autorizaram.
acompanhou o grupo para melhorar as condi-
Processamento e Análise
ções de segurança, caso fosse necessário.
dos Dados
Para as pessoas que aceitaram participar da Para a análise das entrevistas semiestrutura-
pesquisa foi pedida autorização para que as en- das foi adotada uma técnica de análise rápida
trevistas fossem gravadas e garantiu-se o sigilo (Mello et al. 2005; Krueger, 1998), que consiste
quanto à sua identidade, pois as entrevistas fo- em definir, a priori, um conjunto de categorias
ram identificadas apenas por números. Alguns de análise a partir dos objetivos do estudo e dos
participantes não aceitaram que a entrevista roteiros utilizados para as entrevistas. Em segui-
fosse gravada, mas eles foram entrevistados da, procede-se à escuta das entrevistas grava-
mesmo assim e todas as respostas dadas foram das em sua íntegra, para verificar a existência de
registradas em um caderno de notas do traba- unidades de significado que possam ser agrupa-
lho de campo. Esses registros foram revisados das nas categorias de análise propostas, bem
após o término de cada entrevista e, posterior- como identificar a existência de outras unida-
mente, digitados em arquivo apropriado. des que impliquem na criação de novas catego-
rias. Uma segunda escuta foi feita com pausas,
77
re-escutando trechos da entrevista, quantas ve- de análise:
zes foi necessário, para registrar um resumo das
1. Percepção sobre a infância e adolescência;
informações de cada um dos entrevistados para
cada categoria de análise. A partir desse resu- 2. Percepção sobre os direitos da criança e do
mo (cross-interview analysis) foi desenvolvida a adolescente;
análise do conjunto das entrevistas (cross-case), 3. Informação sobre o Estatuto da Criança e do
com base nas categorias propostas e nos objeti- Adolescente (ECA), leis de proteção e leis de cri-
vos do estudo. minalização;
Em consonância com a técnica acima descrita, 4. Percepção sobre o que é exploração sexual de
para esta pesquisa a primeira escuta das entre- crianças e adolescentes;
vistas e os respectivos resumos das mesmas fo-
ram realizados pelos próprios entrevistadores. 5. Percepção e informação sobre ocorrência e
Para isso, eles recebiam um arquivo com um freqüência de exploração sexual na cidade e no
pré-definidas, no qual inseriam o resumo das in- 6. Percepção sobre quem é o explorador e quem
formações escutadas em cada entrevista. Esses é o explorado;
quadros foram revisados e corrigidos numa se-
7. Informação sobre rede de proteção e garantia
gunda escuta das entrevistas. Após a revisão, o
dos direitos das crianças e adolescentes e sobre
conteúdo das entrevistas foi agrupado segundo
ações de combate à exploração sexual de crian-
o tipo de estabelecimento visitado e de sujei-
ças e adolescentes;
tos entrevistados. Os dados obtidos através da
observação de ambientes foram agrupados de 8. Informação sobre ações de prevenção no lo-
acordo com os diferentes itens investigados, por cal de trabalho.
categoria de estabelecimento visitado. Neste
capítulo será apresentado um resumo dos re-
sultados observados nas seguintes categorias
78
foi lido para os participantes, foram esclarecidas
Considerações Éticas as dúvidas e quando eles aceitavam participar
da pesquisa recebiam uma cópia do TCLE.
Para a realização desta pesquisa foram seguidas
Capitulo 3
à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da pesquisa
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade
O acesso aos locais e pessoas a serem entre-
Estadual de Campinas (CEP/UNICAMP), parecer
vistadas nesta pesquisa foi difícil e trabalhoso,
no 766/2009. Somente participaram as pesso-
assim como em algumas outras experiências
as que assim o desejaram e demonstraram sua
relatadas em pesquisas do gênero (Libório e
anuência após terem sido informadas sobre a
Sousa, 2004; Machado et al., 2006). Isso ocor-
pesquisa e esclarecidas todas as suas dúvidas.
reu, principalmente por ser a exploração sexual
Por se tratar de um tema polêmico, delicado
de crianças e adolescentes ato ilícito, criminoso
e sensível, solicitou-se ao Comitê de Ética em
e assunto delicado. Observou-se que os primei-
Pesquisa (CEP) autorização para que o Termo
ros contatos com as pessoas responsáveis pelos
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
locais selecionados foram obtidos com certa fa-
não fosse assinado, para não causar constran-
cilidade, entretanto, quando se explicava sobre
gimentos, nem provocar situações que dificul-
o tema a ser abordado, tornava-se mais difícil
tassem a obtenção das informações necessárias
o acesso, resultando em várias recusas, tanto
ao estudo. O CEP autorizou. Foi preparado um
de hotéis (três), como de casas noturnas (seis),
TCLE, com explicações sobre a pesquisa, seus
agências de turismo (duas) e taxistas (vários). A
objetivos e no consistia a participação da pes-
maior dificuldade foi encontrar casas noturnas
soa. Nesse documento constava o nome, assi-
que aceitassem participar da pesquisa. Em uma
natura e telefone da pesquisadora responsável,
das regiões, por exemplo, não foi possível incluir
bem como o telefone do CEP. Esse documento
79
nenhuma casa noturna no estudo, porque as entrevistados demonstraram que sabiam mais
cinco existentes se recusaram a participar, não sobre o assunto do que estavam falando. De
havendo mais opções a serem tentadas nas acordo com um entrevistador, um dos partici-
proximidades. Os motoristas de táxi também pantes, quando percebia que ia falar algo que
não aceitaram facilmente participar, alegando poderia comprometê-lo, colocava as mãos na
falta de tempo e de interesse, e, muitas vezes, boca. Também em uma das casas noturnas, foi
quando aceitavam, alguns desistiam antes do observado que a maioria dos funcionários não
término das perguntas. Também alguns hotéis, estava disposta a participar, mas estava sendo
principalmente na região central, se recusaram coagida pelo proprietário, que ficava à distân-
a participar. cia, observando as entrevistas serem realizadas.
Nesse local, três dos cinco participantes não
Em geral, os entrevistadores observaram que as
aceitaram que a entrevista fosse gravada e um
pessoas que aceitaram participar da entrevista
deles se recusou a continuá-la antes do término
estavam receosas, temerosas em responder as
das perguntas.
perguntas do roteiro. Em vários estabelecimen-
tos foi observado que os participantes haviam b) Principais unidades de conteúdo identifi-
conversado antes sobre o assunto e combinado cadas nas falas dos participantes
algumas coisas que deveriam falar. Alguns par-
No Quadro 1 da página seguinte, apresenta-se
ticipantes não aceitaram que a entrevista fosse
um resumo com as principais unidades de con-
gravada, outros interromperam a entrevista em
teúdo que foram identificadas nas falas das pes-
algum momento, antes de concluir. Dos dezes-
soas entrevistadas, agrupadas nas respectivas
sete taxistas entrevistados, sete não aceitaram
categorias de análise.
que a entrevista fosse gravada, dois interrom-
peram para atender chamadas telefônicas e
as entrevistas, em geral, foram mais rápidas
porque eles tinham que sair quando recebiam
chamadas. Observou-se também que alguns
80
Quadro 1 – Resumo segundo categorias de análise Não souberam informar a idade quando começa
e termina a infância e a adolescência. As idades
1. Percepção sobre infância e adoles-
mencionadas pelos participantes muitas vezes
cência
Capitulo 3
- O período da infância foi referido como uma
- Quase todos os participantes já tinham ouvido
época em que a criança deve brincar, ser feliz,
falar sobre os direitos da criança e do adoles-
não ter responsabilidade e ser inocente.
cente através da mídia (TV, jornais, rádio), atra-
“Ser criança é ter o direito de brincar, ter o direi- vés do ECA, cartilha sobre o direito das crianças,
to ao estudo, ter o direito, acima de tudo, à imaginação treinamentos realizados.
pra poder trabalhar essa questão da imaginação, de
- Houve concordância com esses direitos e as
desenvolver coisas que vão ser necessárias depois dessa
pessoas acreditavam que deveriam ser respeita-
formação da criança, né, capacidades físicas, capacida-
des psicológicas, ter o direito de crescer ” dos. Eles ouviram falar / entendiam que era di-
reito da criança e do adolescente: saúde, educa-
(Casa Noturna)
ção, ter uma família, ter moradia, alimentação,
- A adolescência foi descrita como época da
brincar, ser protegido da violência doméstica,
transição da infância para a juventude, mudan-
não ser maltratado.
ças no corpo, de rebeldia, de ter mais respon-
sabilidade. “Concordo, porque a criança desde
“...‘aborrecência’ no caso... Adolescência é uma cedo pode ser explorada e se ela não tiver esses direitos,
”
mudança né, da infância para a juventude, que começa
- trabalhe
os conflitos entre pai e mãe,, eu posso fazer aquilo, eu
(Agência de Turismo)
não posso, vou e faço, faz coisa errada né, eu acho que
81
3. Informação sobre ECA, leis de pro- 4. Percepção sobre o que é explora-
teção e leis de criminalização ção sexual de crianças e adolescentes
“...acho que são três vertentes, acho que pri- conheciam leis federais, estaduais ou munici-
pais de criminalização.
meiramente a tarefa de defender e proteger se inicia
dentro do lar, depois ela tramita pelos órgãos de gover- - A maioria deles acreditava que este tipo de cri-
nância, no governo e se estende pela sociedade como um me não era punido.
todo ” (Aeroporto) - Foi comum entre os entrevistados a percepção
de que a situação de exploração sexual de crian-
“...do Estado, do Estado. Porque é obrigação, ças era mais grave, porque elas eram inocentes
e não tinham maturidade para se defender, en-
lógico obrigação da comunidade, mas o Estado tem
quanto os adolescentes já entendiam a situação
como opção a policia, ele tem a policia a disposição
82
que ao tráfico de drogas, ao contrário do que 6. Percepção sobre quem é o explora-
ocorreu com a percepção sobre a exploração de dor e quem é o explorado
adolescentes.
- Os participantes referiram que as pessoas que
Capitulo 3
trabalho gonha, pessoas que não têm cabeça, e que só
consideram o fato de ganhar dinheiro de modo
- Na opinião de quase todas as pessoas entre-
fácil.
vistadas, existia exploração sexual de crianças
e adolescentes em Campinas, assim como em “São pessoas que não têm ética, não têm
qualquer grande cidade, mas ninguém sabia di- valor nenhum, são pessoas que enxergam na situação
zer exatamente onde essa exploração ocorria. a oportunidade de fazer dinheiro, não levando nada mais
83
“Os exploradores são os traficantes, pessoas
atenção dos pais.
em geral, não considero muito o turista, mas dos trafi- “...são psicopatas, pais, padrastos, irmãos, pesso-
cantes se aproveitarem dos usuários ” as que usam drogas, que bebem”
(Casa Noturna) (Hotel)
“...o que mais se ouve falar é que são pessoas “...acho que essas [crianças e adoles-
centes] que não têm acesso a um monte de coisas, por
de dentro de casa, são padrastos, vizinhos, colegas de
região, chegando ao cúmulo de pais, tios e avós ” exemplo, a família não cuida, não dá carinho, não pro-
84
“...por necessidade, mesmo, que leva uma
outdoors). Alguns funcionários de hotéis referi-
ram que no local onde trabalhavam havia dis-
criança a ter uma atitude desse tipo, sei lá, às vezes é
tribuído folhetos e havia anúncio no balcão da
espancada em casa, a família não ajuda, a pessoa quer
Capitulo 3
ambiente que está inserido... porque, para chegar neste
- Não sabiam para onde encaminhar as vítimas um número específico de telefone, e, em geral,
de exploração sexual e nem onde denunciar os não houve coincidência quanto aos números
casos. mencionados.
- Os que já tinham ouvido falar de uma rede de - Foram mencionadas algumas atividades que
proteção citaram como fonte da informação a deveriam ser realizadas como forma de preven-
mídia (televisão, jornal), propaganda em vá- ção da exploração sexual de crianças e adoles-
rios lugares (ônibus, supermercados, correio, centes. Foi enfatizado que, na prática, deveria se
poupa-tempo, cartazes espalhados pela cidade, tirar os adolescentes da rua, propiciar melhores
85
condições de lazer e qualidade de vida para as Os entrevistados tiveram o cuidado de dizer
pessoas carentes; deveria haver mais rigor nas que em seu local de trabalho não ocorria ex-
investigações e prender pessoas que realizam ploração sexual de crianças e adolescentes. Nos
a exploração sexual; fechar hotéis e casas hotéis e casas noturnas, a justificativa foi que o
noturnas que cometem esse ato ilícito. Por ou- os procedimentos seguidos por eles eram cor-
tro lado, deveria se proporcionar mais educa- retos e tudo era feito de acordo a não permi-
ção nas escolas sobre esse assunto; oferecer tir a entrada de menores de idade. Os taxistas
informações na rodoviária, aeroporto, agência também referiram que só faziam o transporte
de viagens, para as famílias nas comunidades; de crianças e adolescentes por solicitação dos
realizar palestras em locais públicos e em em- pais. Nas agências de turismo e eventos referi-
presas, fazer campanhas informativas, divulgar ram que não lidavam diretamente com crianças
o número do disque denúncia. ou adolescentes. No aeroporto e na rodoviária
declararam que havia fiscalização e não tinham
- Foi referido que essas ações deveriam ser fei-
tido nenhum tipo de anormalidade envolvendo
tas pelo governo, pelas escolas e pela sociedade
esse tipo de exploração sexual.
como um todo. Alguns participantes referiram
que essas ações deveriam ser feitas pela polícia c) Resultados da observação direta
e pela guarda municipal. Disseram também que
Dos vinte locais visitados, apenas cinco hotéis e
deveria ter mais fiscalização em relação a esse
a Estação Rodoviária possuíam essas placas afi-
assunto nas periferias das cidades, favelas, ba-
xadas.
res, casas noturnas e hotéis. Essas pessoas en-
tendiam que todas essas ações não irão surtir - Apenas em um hotel a placa de advertência
efeito se não houver uma fiscalização efetiva e possuía o texto e o tamanho de acordo com o
punição. determinado pela lei municipal 12.305 de 22 de
junho de 2005. Nos seis hotéis visitados as pla-
8. Informação sobre ações de preven-
cas advertiam que exploração sexual de crianças
ção no local de trabalho
e adolescentes é crime e deve ser denunciada,
86
no entanto, em um deles não havia o número pela impressão que os funcionários passavam
do telefone do Disque Denúncia. de estarem instruídos a não levantar qualquer
suspeita sobre o local de trabalho ou sobre atos
- Em todos os hotéis e na rodoviária as placas es-
Capitulo 3
- Apenas em um dos hotéis e na rodoviária havia abordagem dos possíveis sujeitos para que se-
placas de advertência afixadas em vários luga- jam coletados dados fidedignos. Isso implica em
res. investir bastante na seleção e capacitação das
- Em dois hotéis havia também folhetos infor- pessoas que irão realizar entrevistas e observa-
mativos sobre exploração sexual de crianças e ções, que foi o que ocorreu na preparação deste
A repercussão que o tema desta pesquisa al- do turismo de negócios acerca do que é e como
a insegurança que causou nas pessoas convi- centes, bem como o desconhecimento da exis-
dadas para as entrevistas merecem ser breve- tência de legislação sobre o tema e de uma rede
envolvidos quando se trata do tema proposto. Chamou atenção a associação entre exploração
Isso foi observado desde os primeiros contatos, sexual de crianças e adolescentes com pobreza
pela dificuldade enfrentada para que as pessoas e tráfico de drogas, que foi bastante enfatizada
atendessem as ligações e pelas recusas em par- pelos participantes. Ao lado disso apareceu o
ticipar, até o momento da chegada dos entre- não reconhecimento da ocorrência desse tipo
vistadores aos locais, salvo algumas exceções,
87
de exploração nos ambientes ofertados ao tu- sejam aplicadas frente às ocorrências denun-
rismo, o que pareceu lógico aos participantes, ciadas. Essas medidas possibilitarão também
uma vez que não se trata, aos olhos deles, de que as pessoas não sintam mais tanto medo de
ambientes marcados pela pobreza e pelo tráfico denunciar esses crimes, o que, provavelmente,
de drogas. Se essa visão não for desconstruída facilitará a quebra desse círculo vicioso de des-
não se conseguirá que a população e os diversos conhecimento e impunidade.
setores da sociedade fiquem atentos a esse tipo
de ocorrência fora de ambientes de pobreza e Referências Bibliográficas
criminalidade explícita, como é o caso da cadeia
ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da
produtiva do turismo. Verifica-se, portanto, a
Infância. Exploração Sexual de Crianças e
necessidade de trabalhar junto às pessoas liga-
Adolescentes: Guia de referência para a cober-
das a essa cadeia, não apenas para transmitir in-
tura jornalística. Brasília, 2007. 112p.
formação, mas também para discutir e descons-
truir conceitos e preconceitos envolvidos nessa Brasil. Constituição Federal de 1988. (Acesso em
questão. 22/07/2009). Disponível em: www.senado.gov.
br/sf/legislacao/const
Por outro lado, os resultados da pesquisa reite-
ram que o fato de existirem leis de proteção e Brasil. Ministério da Justiça. Conselho Nacional
criminalização da exploração sexual de crianças dos Direitos da Criança e do Adolescente,
e adolescentes não é suficiente para prevenir CONANDA/DCA/SEDH/MJ. Plano Nacional de
nem para reprimir a ocorrência desses casos. É Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-
necessário que tais leis sejam conhecidas, que Juvenil. 3 Ed. Brasília:SEDH/DCA, 2002. 59p
haja fiscalização e punição aos que as desres- Brasil. Secretaria Especial dos Direitos
peitam. Por isso é preciso que essas leis sejam Humanos. Ministério da Educação. Assessoria
divulgadas, que a população esteja informada, de Comunicação Social. Estatuto da criança e do
possa discutir o assunto e que a fiscalização adolescente. Brasília: MEC, ACS, 2005. 77p.
seja efetiva de forma que as punições previstas
88
Câmara Municipal de Campinas. Comissão per- Psicologia: Reflexão e Crítica, 18(3):413-420,
manente de defesa dos direitos da criança e do 2005.
adolescente. Plano municipal de enfrentamen-
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Capitulo 3
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International USA, pp. 69-82.
90
Capitulo 4
Ampliar Conhecimento da Realidade
para Gerar Compromisso: Mobilização do
Trade Turístico e do Sistema de Garantia de Direitos
E ste capítulo procura contribuir tecnicamen-
esses setores, através de capacitações e mobi-
lizações, sempre focando no papel social que
te para que municípios e regiões que possuam
cada um possui.
turismo de negócios, bem como o aumento do
trânsito de pessoas por conta do desenvolvi- Apresentamos a seguir as experiências desse
mento das rodovias, aerovias e ferrovias, se em- projeto na mobilização do sistema de garan-
turismo, e possam ter referenciais práticos para ações de enfrentamento á exploração sexual de
92
Capitulo 4.1
Mobilização e Capacitação do Trade
de Turismo
O grande desenvolvimento do turismo de
agentes multiplicadores na cadeia de turismo
visando uma reflexão acerca do importante
negócios em Campinas, bem como o de outros
papel e da influência que exercem nesse con-
setores produtivos da cidade, provoca aumento
texto. Algumas dessas ações foram planejadas
da circulação das pessoas, facilitada pela infra-
durante a elaboração da proposta de convênio
estrutura de acesso (rodovias, aerovias e ferro-
com o Ministério do Turismo. Outras ações fo-
vias), contribuindo com o aumento de situações
ram pautadas nos levantamentos encontrados
de vulnerabilidade e degradação social e am-
na pesquisa realizada pela CEMICAMP sobre o
biental quando realizado de forma desordenada
imaginário da cadeia produtiva de turismo em
e sem planejamento.
Campinas acerca da exploração sexual de crian-
O olhar das organizações hoje vai além-muros. ças e adolescentes.
Não dá mais para promover a gestão de ne-
O planejamento envolveu basicamente quatro
gócios sem que haja uma preocupação com o
etapas que foram realizadas simultaneamente
restante da sociedade e com o impacto do seu
com os outros eixos do projeto: promoção da
negócio nessa sociedade.
participação juvenil no enfrentamento ao fenô-
A responsabilidade social corporativa é uma for- meno, capacitação do sistema de garantia de
ma de responder e de atuar nas principais de- direitos e campanha de sensibilização, conside-
mandas sócio-ambientais rando que, neste momento, o eixo diagnóstico
já havia sido realizado.
Como forma de demonstrar a responsabili-
dade do trade do turismo no enfrentamento Abaixo consta como se deram cada uma das
da exploração sexual da criança e do adoles- ações planejadas:
cente na região, com a orientação técnica da
Contato com o trade de turismo para apresen-
Coordenação do Programa Turismo Sustentável
tação do projeto e sensibilização para a causa.
e Infância – TSI, a TABA realizou ações de sen-
sibilização, mobilização e capacitação de • Distribuição do material de sensibilização;
94
• Oferecimento de cursos de capacitação cus- suas redes.
tomizados, respeitando a especificidade dos
Nesse primeiro material de apresentação, fo-
diferentes setores e segmentos;
ram divulgados o objetivo do projeto, a deman-
Capítulo 4.1
das capacitações, as orientações para inscrições
• Assinatura de um Acordo de Cooperação.
e a disponibilidade de capacitações na própria
Contato com o trade de turismo para apre- empresa.
sentação do projeto e sensibilização para a
Promoveu-se, em outros momentos, outras reu-
causa.
niões conjuntas, sobretudo o CRCVB e a SMCIST,
Iniciou-se esta ação do projeto com o levanta- com o objetivo de fazê-los permanecerem pre-
mento de órgãos, instituições e empresas es- sentes nas ações do projeto. O então Secretário
tratégicas para a mobilização do trade. A partir Municipal de Turismo, Sinval Dorigon, manifes-
desse levantamento, optou-se por um contato tou amplo apoio ao projeto.
inicial com três representantes do trade de tu-
Após essa primeira apresentação ao trade, aces-
rismo, importantes pelo seu potencial de mobi-
sada indiretamente por meio das redes desses
lização e capilaridade. Contatou-se o Sindicato
equipamentos, deu-se início a uma série de
de Hotéis, restaurantes, bares e afins (SHBRA), o
agendamentos com atores estratégicos para
Campinas e Região Convention & Visitors Bureau
convidá-los a participar de ações do projeto, so-
(CRCVB) e a Secretaria Municipal de Comércio,
bretudo das capacitações. Esses contatos ocor-
Indústria, Serviços e Turismo (SMCIST).
reram por telefone e/ou e-mail. Inicialmente
Em reuniões inicialmente individuais com esses pretendeu-se participar das reuniões com os as-
equipamentos sociais, o projeto foi apresenta- sociados do CRCVB, porém nos foi apresentado
do, sendo solicitado que os materiais de apre- que não seria adequado, já que as reuniões são
sentação do projeto fossem encaminhados para pouco freqüentes e possuem outras pautas de
95
interesse dos associados. de turismo em nossa cidade.” Esse convite foi
enviado pelo SHBRA, pelo CRCVB e pelo SMCIST
Ao início de cada ação, eram enviados, por meio
a todos os seus associados. Nessa primeira di-
do mailing formulado com os contatos realiza-
vulgação houve apenas um retorno espontâneo,
dos, os informativos e convites, além de serem
da gerente de um hotel da região do Aeroporto
realizados novos contatos telefônicos com o pú-
de Viracopos. Por conta dessa baixa deman-
blico foco da ação.
da espontânea, a TABA procurou comunicar-se
Capacitações, palestras e reuniões de qua- com todos os estabelecimentos associados ao
lificação sobre temas identificados na pes- CRCVB, seguindo uma lista de contatos forneci-
quisa aos segmentos de hotéis, taxistas, da pelo próprio Convention & Visitors Bureau.
aeroporto e rodoviária do município de Nesse contato procurava-se sempre falar com
Campinas: o gerente do estabelecimento ou o gerente de
Espaço de Vivência e Convivência está oferecen- horários de seus funcionários para a capacita-
do uma capacitação para a rede de turismo de ção. Em alguns hotéis houve dificuldade no con-
Campinas sobre responsabilidade social empre- tato e, mesmo depois de repetidas tentativas, o
sarial, demandas sociais da região de Campinas que sucedia era um direcionamento direto aos
Ministério do Turismo. Nosso objetivo é disse- que se entendia como recusa. Em alguns casos,
minar informações técnicas para sua equipe o hotel já se posicionava, no contato telefônico
bem como contribuir para o desenvolvimento e ou por e-mail, não interessado em participar da
96
a receber retornos de que uma capacitação Por conta disso, a capacitação foi planejada com
com esse foco não era de interesse do hotel. 4 horas, além de serem ofertadas reuniões indi-
Percebeu-se que ora era manifestada certa in- viduais nos estabelecimentos participantes para
Capítulo 4.1
No entanto, mesmo com esse modelo reformu-
de dedicar tempo ao projeto.
lado, não se obteve a adesão esperada. Apenas
Diversas turmas foram abertas e divulgadas. No três hotéis enviaram seus funcionários para a
entanto, pela falta de inscritos, decidiu-se reto- capacitação. Foram oferecidas outras turmas e
mar os contatos para levantar qual era a maior procedeu-se ao retorno dos contatos para refor-
dificuldade apontada para participação. Por çar a possibilidade de sensibilizações nos pró-
telefone e por e-mail, foi realizado um levan- prios estabelecimentos, mas ainda assim houve
tamento com esses estabelecimentos quando dificuldade de adesão, principalmente por pro-
então era perguntado: qual o horário de maior blemas de agenda e disponibilidade de pessoal
facilidade, qual dia da semana, qual período desses hotéis
do ano e qual a carga horária possível de par-
Novamente, nos meses de janeiro a agosto de
ticipação. Constatou-se que o período de me-
2010, outros convites foram enviados, mas ain-
nor ocupação dos serviços em Campinas e do
da sem adesão.
turismo de negócios é de novembro a feverei-
ro, programando-se, portanto, as capacitações A partir dessa avaliação da dificuldade de ade-
para esse período, dando início a uma turma no são às capacitações, foram planejadas outras
dia 30 de novembro. O formato da capacitação ações que contemplassem o objetivo de sensi-
também foi reformulado, passando de 20 para 4 bilização. Diversas reuniões foram realizadas.
horas, para garantir a participação de um maior Para essas reuniões foram contatadas: admi-
número de pessoas, pois a carga horária inicial nistração da rodoviária municipal - SOCICAM
era inviável para grande parte dos interessados. (concessionária administradora do terminal
97
rodoviário municipal), EMDEC (Empresa muni- escrita destes ou da autoridade judiciária, em
cipal de Desenvolvimento de Campinas), Grupo hotel, pensão, motel ou congênere.” (Art. 250
CCR (Administradora da concessão das Rodovias do Estatuto da Criança e do Adolescente).
Anhanguera e Bandeirantes), ECOFROTAS;
Nos contatos realizados com os hotéis, por meio
SENAC Campinas – Cursos de Turismo, Hotelaria,
das capacitações, reuniões ou mesmo por meio
Gastronomia e cursos livres; Consulting 27;
das conversas telefônicas, era comum a surpre-
Cooperativa de taxistas: Camptáxi, Coopercamp
sa quando apresentados os dados municipais de
e Coopertaxi; INFRAERO; Hotéis: Confort Suites,
ESCA. Muitos diziam não saber que existia ex-
Hotéis Vitória, Royal Palm, Fildi Hotéis, Dan Inn
ploração sexual de crianças e adolescentes em
Hotéis, Sehlton Inn Viracopos, Monreale Classic
Campinas ou que a situação possuía dados tão
Campinas, Sonotel, Hotel Opala Avenida, Hotel
significativos.
Vila Rica.
No entanto, no decorrer da conversa e com a
Todas as empresas visitadas receberam o mate-
conceituação do que é exploração sexual entre
rial de sensibilização formulado para a capacita-
outras informações, os próprios participantes
ção com uma apresentação do cenário de ESCA
começaram a relatar casos que identificariam
e convite para aderir a outras ações do projeto,
como ESCA, principalmente na região central da
como divulgação dos materiais de sensibiliza-
cidade e no entorno dos hotéis.
ção à sociedade em geral e atendimento às leis
municipais, federais e ao Estatuto da Criança e Também era comum citarem a situação de cida-
do Adolescente. Entre eles: afixação de cartazes des do nordeste do Brasil, onde, segundo esses
e placas com os dizeres “EXPLORAÇÃO SEXUAL participantes, é grave a situação da exploração
DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES É CRIME! sexual de crianças e adolescentes, sobretudo re-
DENUNCIE! Ligue para 3236.3040” (Lei Federal lacionada ao turismo.
nº 11.577 e Lei Municipal n°12.305) e “Hospedar Todos os hotéis foram veementes ao relatar que
criança ou adolescente, desacompanhado seguem as orientações de não hospedar crian-
dos pais ou responsável ou sem autorização ças e adolescentes menores de 18 anos sem a
98
presença do responsável ou de um documento entrevistas realizadas pela pesquisa, os próprios
registrado, conforme orienta o artigo 250 do taxistas sugerem a oferta de capacitações: “Com
ECA. relação a terem recebido alguma orientação ou
Capítulo 4.1
Solicitou-se que as cooperativas distribuíssem
que havia participado de um curso oferecido
os convites a seus cooperados e propôs-se a re-
por uma empresa de transportes da cidade de
alização de palestras nos próprios espaços das
São Paulo. Os demais entrevistados afirmaram
cooperativas.
que nunca haviam recebido qualquer orienta-
Houve retorno por parte dos presidentes das ção ou treinamento sobre o assunto.
cooperativas dizendo que seus associados com-
Entretanto, todos achavam necessário que os
põem um público com baixa adesão às capaci-
taxistas recebessem esse tipo de orientação,
tações, que já tinham tentando oferecer cursos
porque, além de ajudá-los a observar e identi-
e capacitações, mas sempre sem sucesso. As
ficar casos de exploração, também permitiria
cooperativas divulgaram o convite, mas não foi
que soubessem sobre as providências a serem
obtido nenhum retorno, apesar da insistência
tomadas ante situações desse tipo, como, por
da equipe do projeto nessa tentativa.
exemplo, onde ligar, a quem recorrer, onde levar
Em função de a pesquisa realizada pelo instituto a vítima ou denunciar o caso.
de pesquisa CEMICAMP ter identificado os ta-
Essa orientação, na opinião de um dos parti-
xistas como o público de maior dificuldade de
cipantes, poderia ser passada pelo sindicato,
abordagem e de serem apontados muitas ve-
pela prefeitura, pelos órgãos públicos, Estado
zes como agentes facilitadores da exploração
e Município, pela polícia e por todos os meios
sexual de crianças e adolescentes, a equipe do
de comunicação, por meio de uma cartilha que
projeto dispensou especial atenção a esse seg-
eles poderiam ler e levar no carro para consultar
mento. De acordo com as declarações feitas nas
99
quando necessário. de alteração de procedimentos e decretos que
regulamentam o alvará de funcionamento para
Outra sugestão é que essa orientação poderia
permissionários e auxiliares. Uma sensibilização
ser dada pela EMDEC para todos os taxistas e,
com cerca de 560 taxistas foi realizada, e todos
caso vissem alguma situação suspeita, algo que
receberam uma cartilha com as definições de
chamasse a atenção, os taxistas pudessem ligar
violência sexual, leis e penas, como denunciar
para a EMDEC, ou passar um rádio para um ou-
e como
tro táxi, alertando. Um outro sugeriu também
se tor-
que a Unicamp poderia fazer uma reunião com
nar um
os taxistas a fim de orientá-los sobre como agir
agente
nesse tipo de situação.”
protetor
A TABA procu- da crian-
rou a EMDEC ça e do
- Empresa adolescente. Outras propostas de capacitações
Municipal de e sensibilizações estão sendo planejadas junto
Desenvolvimento à EMDEC.
de Campinas S/A
O Superintendente do Aeroporto de Viracopos
para conversar a
e Representantes da SOCICAM (concessionária
respeito da reali-
administradora do terminal rodoviário munici-
zação de ações de capacitação e sensibilização
pal) participaram de reuniões com a equipe do
dos taxistas. Reuniu-se com o setor de educação
projeto.
da EMDEC e apresentou a proposta de capacita-
ção e a abordagem dos taxistas utilizando outras Tanto o Aeroporto quanto o Terminal
metodologias, como a formação dos agentes de Rodoviário receberão uma grande campanha
mobilidade urbana, a inserção de conteúdos re- de comunicação, lançada no dia do Seminário
lacionados ao fenômeno da ESCA e a proposta Responsabilidade Social Empresarial no
100
segmento de turismo na Região Metropolitana Adolescente e Código Penal.
de Campinas.
- Apresentação do Código de Conduta da
Importante também foi o fato de se comprome- Organização Mundial do Turismo
Capítulo 4.1
mento à exploração sexual de crianças e adoles-
outros municípios e como dar início a um proje-
centes.
to de responsabilidade social.
Sensibilizar a Cadeia
Produtiva de Turismo O que é Violência?
A violência é quando uma pessoa é impedida
do município de
de se desenvolver, viver bem e ser feliz. Uma
Campinas por meio de
das bases da violência é a relação de dominação
ações informativas
(por exemplo, de um adulto sobre uma criança,
Foi distribuída uma car- o mais rico sobre o pobre, o mais forte sobre o
tilha junto à rede do mais fraco).
101
uso da força física ou grave
ameaça com a intenção de Fenômenos x Turismo
ESTUPRO
obter relação sexual ou outros DESTINOS
N. DE DENÚNCIAS DE
atos libidinosos. REGIÃO CASO DE EXPLORAÇÃO
TURISTICOS
SEXUAL COMERCIAL
propostas ou conversas
Norte 120 585
obscenas vindas de alguém
ASSÉDIO que está em posição superior Nordeste 436 2.226
SEXUAL de poder, que fazem pressão Sudeste 317 1.714
para ter relações sexuais que o Centro-Oeste 188 682
outro não deseja. Sul 453 756
é a relação sexual de crianças Fonte: Serviço Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração
Sexual contra Crianças e Adolescentes da Secretaria Especial dos
EXPLORAÇÃO e adolescentes com adultos Direitos Humanos da Presidência da República. Novembro/2008
SEXUAL em troca de dinheiro, bens ou
troca de favores.
é quando crianças e dados da rede municipal de atendimento
adolescentes, ou até adultos
TRÁFICO DE Atendimentos e Resultados de 2008
são induzidos a ir a outro
PESSOAS PARA
território, através de coação,
FINS SEXUAIS Retornou à família 32
seqüestro ou engano e é
Exploração
explorado sexualmente.
Sexual de
é quando se usa imagens 365 Abrigados 20
– fotos ou filmes – com Crianças e
PORNOGRAFIA
cenas que induzem ao sexo Adolescentes
INFANTIL
envolvendo crianças ou Em acompanhamento 313
adolescentes.
TURISMO
é a exploração sexual de Retornou à família 17
PARA FINS DE
crianças e adolescentes através
EXPLORAÇÃO
de oferta à turistas.
SEXUAL Abrigados 19
Situação de
Enfrentar a exploração sexual de 157
crianças e de adolescentes no turismo é Rua Medida
missão de todos. socioeducativa meio 11
Governo, agentes do setor turístico e fechado
sociedade devem se comprometer e tomar
medidas eficazes para evitar esse tipo de Em acompanhamento 110
violência.
102
Como sua empresa pode ajudar Disque Denúncia Municipal - 3236 3040
a proteger nossas Crianças e Disque Denúncia Nacional - 100
DENÚNCIA
Adolescentes Centro de Referência Especializado em Assistência
Capítulo 4.1
no Turismo (The Code), comprometem-se
RESPONSABILIZAÇÃO
a implementar ações contra a exploração
sexual de crianças e adolescentes: Conselho Tutelar – 3236 3378
• Estabelecer uma política corporativa ética Vara da Infância e Juventude – 3756 3528
103
crime código penal brasileiro crime código penal brasileiro
Hospedar criança ou Mediação para servir à Art. 227
adolescente, Art. 250 lascívia de outrem. Pena - Reclusão de 1 a 3 anos.
desacompanhado dos pais ou Multa de 10 a 50 salários
responsável ou sem autorização de referência; em caso de Constranger alguém com o
escrita destes ou da autoridade reincidência, a autoridade judiciária intuito de obter vantagem Art. 216-A
judiciária, em hotel, pensão, poderá determinar o fechamento ou favorecimento sexual, Pena - Detenção, de 1 (um) a 2
motel do estabelecimento por até 15 dias prevalecendo-se o agente (dois) ano
ou congênere. da sua condição de superior § 2º A pena é aumentada em até
hierárquico ou ascendência um terço se a vítima é menor de 18
Art. 231 inerentes ao exercício de (dezoito) anos.
Promover, intermediar ou
Pena - Pena de 4 a 10 anos – Se emprego, cargo ou função.
facilitar a entrada, no território
há emprego de violência, grave
nacional, de pessoa que venha
ameaça ou fraude, a pena é de Ter conjunção carnal ou praticar Art. 217-A
exercer a prostituição ou a
reclusão de 5 a 12 anos e multa, outro ato libidinoso com menor Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15
saída de pessoas para exercê-la
além da pena correspondente à de 14 (catorze) anos: (quinze) anos
no estrangeiro.
violência.
Art. 228
Corromper ou facilitar a Favorecimento da prostituição
Pena - Reclusão de 2 a 5 anos
corrupção de pessoa maior de Art. 218
catorze e menor de dezoito Pena: reclusão, de um a quatro
Art. 213
anos, com ela praticando ato de anos.
Pena - Reclusão, de 6 (seis) a 10
libidinagem, ou induzindo-a a Constranger alguém, mediante
(dez) anos
praticá-lo ou presenciá-lo. violência ou grave ameaça,
§1º Se da conduta resulta lesão
a ter conjunção carnal ou a
Art. 218-B. corporal de natureza grave ou se a
praticar ou permitir que com
Reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) vítima é menor de 18 (dezoito) ou
ele se pratique outro ato
anos. maior de 14 (catorze) anos:
libidinoso.
§ 2º Incorre nas mesmas penas: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12
Submeter, induzir ou atrair à I - quem pratica conjunção carnal (doze) anos.
prostituição ou outra forma ou outro ato libidinoso com alguém
de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) e maior Manter por conta própria ou de
menor de 18 (dezoito) anos de 14 (catorze) anos na situação terceiros casa de prostituição Art. 229
ou que, por enfermidade ou descrita no caput deste artigo; ou lugar destinado a encontros Pena - Reclusão de 2 a 5 anos
deficiência mental, não tem II - o proprietário, o gerente ou o libidinosos, haja ou não a
o necessário discernimento responsável pelo local em que se intenção de lucros.
para a prática do ato, facilitá- verifiquem as práticas referidas no
la, impedir ou dificultar que a caput deste artigo; Tirar proveito da prostituição
abandone. § 3º Na hipótese do inciso II do § alheia, participando Art. 230
2º, constitui efeito obrigatório da diretamente de seus lucros Pena - Reclusão de 1 a 4 anos e
condenação a cassação da licença ou fazendo-se sustentar, no multa.
de localização e de funcionamento todo ou em parte, por quem a
do estabelecimento. exerça.
104
LEI FEDERAL Nº 11.577, DE 22 NOVEMBRO DE 2007
Torna obrigatória a divulgação pelos meios que especifica de mensagem relativa à exploração sexual e tráfico de
crianças e adolescentes apontando formas para efetuar denúncias.
Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a obrigatoriedade de divulgação de mensagem relativa à exploração sexual e trá-
Capítulo 4.1
fico de crianças e adolescentes indicando como proceder à denúncia.
Art. 2o É obrigatória a afixação de letreiro, nos termos dispostos nesta Lei, nos seguintes estabelecimentos:
IV – clubes sociais e associações recreativas ou desportivas cujo quadro de associados seja de livre acesso ou
que promovam eventos com entrada paga;
V – salões de beleza, agências de modelos, casas de massagem, saunas, academias de fisiculturismo, dança,
ginástica e atividades físicas correlatas;
VI – outros estabelecimentos comerciais que, mesmo sem fins lucrativos, ofereçam serviços, mediante paga-
mento, voltados ao mercado ou ao culto da estética pessoal;
VII – postos de gasolina e demais locais de acesso público que se localizem junto às rodovias.
I – ser afixado em local que permita sua observação desimpedida pelos usuários do respectivo estabelecimento;
II – conter versões idênticas aos dizeres nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola;
105
III – informar os números telefônicos por meio dos quais qualquer pessoa, sem necessidade de identificação,
poderá fazer denúncias acerca das práticas consideradas crimes pela legislação brasileira;
IV- estar apresentado com caracteres de tamanho que permita a leitura à distância.
§ 2o O texto contido no letreiro será EXPLORAÇÃO SEXUAL E TRÁFICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES SÃO
CRIMES: DENUNCIE JÁ!
§ 3o O poder público, por meio do serviço público competente, poderá fornecer aos estabelecimentos o ma-
terial de que trata este artigo.
Art. 3o Os materiais de propaganda e informação turística publicados ou exibidos por qualquer via eletrônica,
inclusive internet, deverão conter menção, nos termos que explicitará o Ministério da Justiça, aos crimes tipifi-
cados no Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, sobre-
tudo àqueles cometidos contra crianças e adolescentes.
Art. 4o (VETADO)
Art. 5o Esta Lei entra em vigor no prazo de 30 (trinta) dias contados de sua publicação.
Tarso Genro
106
LEI MUNICIPAL Nº 12.305 DE 22 DE JUNHO DE 2005
Capítulo 4.1
A Câmara Municipal aprovou e eu, Prefeito do Município de Campinas, sanciono e promulgo a seguinte lei:
Art. 1º - Ficam as empresas destinadas à realização e promoção de eventos artísticos e/ou musicais (boates,
casas de shows e assemelhados), bem como os hotéis, motéis, pensões ou estabelecimentos congêneres, no
âmbito do Município de Campinas, obrigadas a afixar, em local visível, na porta de entrada de seus estabeleci-
mentos, a seguinte advertência: “EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES É CRIME! DENUNCIE!
Ligue para 3236.3040 (Disque Denúncia)”.
§ 1º - Os dizeres e o número telefônico mencionados no caput deste artigo deverão constar, de maneira destaca-
da e legível, numa placa, com dimensões de 50 (cinqüenta) centímetros de altura por 60 (sessenta) centímetros
de largura.
§ 2º - Caso o número telefônico de que trata este artigo sofra alteração, as empresas farão as respectivas modi-
ficações nas placas.
§ 3º - O aviso de que trata este artigo deverá ficar afixado em local visível, de forma permanente, mesmo que
não haja evento ou qualquer atividade nos estabelecimentos.
Art. 2º - Os estabelecimentos descritos no art. 1º terão 60 (sessenta) dias, contados a partir da publicação desta
Lei, para providenciar a fixação do aviso previsto nesta lei.
Art. 3º - O não cumprimento desta lei acarretará as seguintes penalidades aplicadas, conforme decreto regula-
mentador, sucessivamente na ocorrência de reincidências:
107
I - Notificação para normalização no prazo de 30 (trinta) dias;
Parágrafo Único - Os valores arrecadados com a aplicação das multas previstas neste artigo será revertido ao
Fundo Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Art. 4º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
108
LEI Nº 13.502, de 22 de dezembro de 2008
DISPÕE SOBRE A PUBLICAÇÃO, NOS CLASSIFICADOS DOS JORNAIS LOCAIS DA CIDADE DE CAMPINAS, DE
ADVERTÊNCIA QUANTO À EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES.
A Câmara Municipal aprovou e eu, Prefeito do Município de Campinas, sanciono e promulgo a seguinte Lei:
Capítulo 4.1
Art. 1º - Os jornais da cidade de Campinas, que publicam diariamente colunas de classificados com anúncios
de acompanhantes, saunas, massagistas e profissionais do sexo ficam obrigados a publicar, na mesma página
destes anúncios, a seguinte advertência:
Art. 2º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Prefeito Municipal
109
LEI Nº 11.720 DE 20 DE OUTUBRO DE 2003
INSTITUI O DIA 18 DE MAIO COMO O DIA MUNICIPAL DE ENFRENTAMENTO AO ABUSO SUXUAL E À EXPLORAÇÃO
SEXUAL INFANTO-JUVENIL.
A Câmara Municipal aprovou e eu Prefeita do Município de Campinas, sanciono e promulgo a seguinte lei:
Art. 1º - Fica instituído o dia 18 de maio como o Dia Municipal de Enfrentamento ao Abuso Sexual e à Exploração
Sexual Infanto-Juvenil.
Art. 2º - Entre as atividades realizadas por ocasião deste dia fica incluída a avaliação do Plano Municipal de
Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil.
Parágrafo único - A realização da atividade citada no caput deste artigo ficará sob responsabilidade da Comissão
de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Câmara Municipal em conjunto com órgãos públicos,
conselhos e entidades da área.
Art. 3º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
IZALENE TIENE
Prefeita Municipal
110
Seminário Técnico para promover ações de de um termo de cooperação. O objetivo desse
qualificação e sensibilização sobre Turismo acordo é oferecer um ponto de partida para que
Sustentável e infância o poder público municipal e o setor produtivo,
Capítulo 4.1
Seminário sobre “RESPONSABILIDADE SOCIAL
tos legais que darão sustentação e estímulo à
EMPRESARIAL NO SEGMENTO DE TURISMO
atividade turística socialmente responsável, so-
NA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS”.
bretudo no enfrentamento à exploração sexual
Esse seminário foi realizado em parceria com o
de crianças e adolescentes.
SENAC Campinas.
Com essa proposta, agrupada ao sistema de
garantia de direitos, deu-se início à redação do
termo de cooperação, que foi encaminhado à
Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos de
Campinas. Esse termo de cooperação enviado
tem como fundamentação o Plano Municipal de
Enfrentamento a Exploração Sexual de Crianças
e Adolescentes redigido em 2003.
111
de Educação. avaliação a serem realizadas.
A conclusão desse movimento foi de que é im- Outro importante passo foi a revisão da Lei
prescindível e urgente a avaliação e a reformu- Municipal nº 12.305, de 22 de junho de 2005,
lação do Plano Municipal e que o termo de coo- que dispõe sobre a obrigatoriedade de deter-
peração deveria indicar esse processo. minados estabelecimentos afixarem o número
telefônico do “disque denúncia” de Campinas
Um grupo de trabalho foi estabelecido o para a
para denúncia de exploração, abuso e violências
organização das ações indicadas para a efetivi-
sexuais contra crianças e adolescentes e dá ou-
dade desse processo: realização de um seminá-
tras providências.
rio de avaliação do plano municipal, formação
de um grupo de estudos para revisão do plano A lei possuía detalhes em sua redação que difi-
com a ampla participação de todos os setores cultavam o cumprimento da mesma, não apre-
sociais, envolvimento do trade de turismo, que sentava decreto regulamentador que orientasse
já sinalizou interesse em participar dessas ações. o seu cumprimento. Assim, foram feitos os devi-
dos encaminhamentos à Câmara de Vereadores,
Vale ressaltar a demonstração de interesse de
a lei foi reescrita e está em tramitação.
três atores estratégicos nesse termo de coope-
ração: o Aeroporto Internacional de Viracopos,
a SOCICAM (concessionária administradora
do terminal rodoviário municipal) e a EMDEC
(Empresa municipal de Desenvolvimento de
Campinas).
Outro equipamento, a Delegacia da Mulher, horas, em seis encontros de 4 horas. Para pos-
demonstrou interesse em que toda equipe par- foi subdividida em dois grupos: um às sextas-
ticipasse, principalmente no que diz respeito -feiras de manhã e o outro às terças-feiras à tar-
aos marcos teóricos da violência sexual, ponto de. A capacitação teve início em 27 de outubro
114
e encerrou-se em 4 de dezembro de 2009, na As atividades planejadas e realizadas nesta ca-
Sala Barreto Leme do Espaço Arcadas - Rua José pacitação constaram da aplicação de um pré e
Paulino, 1359 - Centro - Campinas. pós-teste, dinâmicas de grupo (de integração,
Capítulo 4.2
buição dos certificados e materiais dos conteú-
seguintes temas:
dos e referências bibliográficos da capacitação
• Marcos conceituais da violência sexual con- impressos e via web.
tra crianças e adolescentes
Participaram desta capacitação 20 pessoas, em-
• Intervenções básicas de atendimento em si- bora 48 pessoas tenham se inscrito, mas que,
tuações de violência sexual devido à demanda da rede de atendimento e ao
115
Sexual de Crianças e Adolescentes de Campinas • Amadurecimento da equipe;
e uma pesquisadora da Comissão Especial da
• Reformulação do ECA (estatuto da criança e
Câmara Municipal de Campinas.
do adolescente);
Um dos temas discutidos que os atores presen-
• Comunicação entre os órgãos;
tes consideraram muito importante foi a melho-
ria do fluxograma do SGD de criança e adoles- • Saber da existência de uma rede de atendi-
cente de Campinas. Algumas reflexões do grupo mento do SGD;
resultaram na construção de um painel sobre os • Fluxo semidefinido;
avanços, a identificação dos problemas da rede
• Centralização das informações no CREAS;
do SGD e algumas propostas para a mesma:
• Rede interinstitucional fortalecida;
AVANÇOS
• Articulação entre os serviços;
• Criação do site do disque denúncia;
• Seriedade;
• Provável avanço na relação do Conselho
Tutelar com a rede de serviços; • Equipes;
116
atender a demanda; • Falta de programas para atendimento das
crianças e adolescentes, conforme necessi-
• Fluxo de diferentes disques denúncias;
dade;
Capítulo 4.2
• Demora de anos no retorno sobre andamen-
• Reunião agendada para 10 de dezembro
to dos casos, soluções e informações;
sobre a reordenação do fluxo de encami-
• Dificuldades na articulação das diferentes nhamento das denúncias: Disque Denúncia,
áreas (saúde, educação, assistência social, Delegacia de Defesa da mulher, conselho tu-
cultura e outras); telar, vara da infância e juventude e CREAS;
117
escolas e na delegacia da mulher; na operacionalização das ações. Por exemplo, a
Vara da Infância e Juventude e a Delegacia de
• Diálogo com o Disque Denúncia Estadual e
Defesa da Mulher freqüentemente recebem
Nacional;
informativos do Disque Denúncia do município
• Reconhecer os fóruns que possibilitem ofi- sobre “suspeitas de violência sexual ou qualquer
cializar os fluxos construídos a partir do diá- outro tipo de violação de direitos”. E, neste caso
logo das diferentes políticas; de “suspeita de”, a Vara da Infância e Juventude
dos casos; dades para iniciar qualquer ação, pois fazer uma
intervenção de averiguação para confirmar ou
• Envio de relatórios ao disque denúncia;
não o fato está fora do seu papel, cabendo a ou-
• Mudança na lei municipal que disciplina os tros equipamentos da rede realizar essa ação,
conselhos tutelares. como os serviços especializados e de média
complexidade. Assim, foi proposto que o Disque
Desdobramentos das discussões sobre o flu-
Denúncia de Campinas, enquanto um dos ca-
xo de denúncias. A capacitação proporcionou
nais de entrada de denúncias, observe o relato
o desdobramento das atividades, possibilitando
das denúncias e que encaminhe para a Vara da
reunir a VIJ - Vara da Infância e Juventude, a DDM
Infância e Juventude ou à Delegacia de Defesa
- Delegacia de Defesa da Mulher, o Indicando
da Mulher somente as informativas que tenham
Caminhos e o Disque Denúncia Campinas para
coerência de operacionalização a fim de agilizar
discutir e propor melhores formas de direciona-
os trabalhos. Então foi sugerido que caberia ao
mento no fluxograma do atendimento de crian-
equipamento do SGD, o Conselho Tutelar, o en-
ça e adolescente em Campinas. Aconteceram
caminhamento das denúncias, o qual seguiria o
duas reuniões, sendo uma delas com a presen-
fluxo como discriminado:
ça do Juiz da Vara da Infância de Campinas, Dr.
Richard Paulo Pae Kim. A principal discussão
foi sobre as dificuldades de cada equipamento
118
Capítulo 4.2
Capacitação do sistema de garantia de direitos
119
Capitulo 5
Envolver os Jovens e Gerar Atitude
E sse capítulo apresenta as ações realizadas
maio de 2010, Dia Nacional do Enfrentamento
ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e
sob o Eixo Participação Juvenil através da con-
Adolescentes, através de uma ação de sensi-
cepção da participação efetiva dos adolescen-
bilização na região central de Campinas. É im-
Capítulo 5
EESCCA do Conselho Municipal de Direitos da
ção de ações e diretrizes para políticas públicas
Criança e do Adolescente de Campinas.
voltadas à defesa de seus direitos.
Abaixo estão registradas em detalhes essas
Para isso a TABA realizou uma grande campanha
ações.
nas escolas municipais de Campinas com pales-
tras de sensibilização e informação a respeito Lançamento da Campanha - 14 de Maio de
121
à ESCA, bem como as ações planejadas pela pedagógicos e responsáveis pelos NAEDS para
TABA que visavam, principalmente, a partici- a capacitação dos mesmos a respeito da temáti-
pação juvenil no dia 18 de maio. ca proposta pelo projeto. Ao todo, 4.450 alunos
participaram das sensibilizações. Após esse pro-
O evento do dia 14 de maio contou com os pa-
cesso, abriu-se a inscrição para trabalhos e 16
lestrantes: Maria Luiza Moura Oliveira, repre-
escolas inscreveram seus alunos no concurso,
sentando o Comitê Nacional de Enfrentamento
o que contabilizou 151 produções e 450 alunos
à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
responsáveis por essas produções. Ao final des-
e CONANDA, João Carlos Guilhermino de
se processo, uma banca composta por profissio-
Franca, da ONG Camará de São Vicente, e
nais da área de comunicação, parceiros do pro-
Verônica Rosa, do Disque Denúncia Municipal.
jeto, e adolescentes escolheram seis desenhos
Cerca de 210 finalistas de seis escolas diferentes.
pessoas parti-
No dia 21 de dezembro de 2009, realizou-se a
ciparam desse
cerimônia de premia-
evento, durante
ção dos adolescentes
o qual foram dis-
participantes dos gru-
tribuídos à população escolar os seguintes ma-
pos que inscreveram
teriais: 4.200 folders, 2.000 fichas de inscrição
as histórias em qua-
para o concurso, 500 cartazes, 1 banner.
drinhos premiadas.
1° Fase da Campanha: O II Concurso Reprove Foram distribuídas 470 camisetas com os dese-
a Violência Sexual nhos do concurso entre os adolescentes autores
Durante a 1° fase da campanha, foram profe- dos desenhos premiados, as escolas e os NAEDs.
Capítulo 5
tos para que essas experiências se transformem
a inscrição de histórias em quadrinhos. Foi so-
em procedimentos de proteção à criança e ao
licitado a cada escola que encaminhasse 2 ado-
adolescente no universo escolar, através de me-
lescentes, sendo um para o Grupo de Escrita e
todologias e fluxos de denúncia específicos à es-
um para o Grupo de Desenho. A adesão de 11
trutura da educação municipal.
EMEFs gerou o encaminhamento de 33 adoles-
ESCOLAS PREMIADAS: centes. Dos inscritos, 32 participaram dos 4 me-
ses de atividade e completaram o período.
• EMEF Zeferino Vaz
O livro “Que tal dizer não: uma conversa de ado-
• EMEF Domingos Zatti
lescente para adolescente” é composto pelo
• EMEF Clotilde Barraquet Von Zuben produto gerado pelo curso, isto é, as ilustrações
123
“Que tal dizer não: uma conversa de adolescen- próprios organizadores das ações, escolhendo
te para adolescente” e 17.200 cartões postais quais atividades eram pertinentes e produzin-
com os desenhos produzidos pelo concurso. do materiais educativos com uma linguagem
própria de adolescente para adolescente, o que
A equipe de trabalho da TABA observou que
certamente promove um maior impacto na co-
esta segunda fase da Campanha tornou-se um
municação promovida pelo livro. Esse material
momento de descobertas para os adolescentes.
tem sido muito bem avaliado por gestores pú-
Como 83% dos participantes tinham entre 12 e
blicos e profissionais da área.
14 anos, a vinda até o centro de Campinas foi
uma grande experiência de ampliação de espa- Eventos de Mobilização Social e Lançamento
ços sociais. do Livro: “Que tal dizer não: Uma conversa de
adolescente para adolescente”
Outro ponto importante foi a participação dos
adolescentes na reflexão e no registro da te- No dia 15 de maio de 2010, foi realizado, na Escola
mática da exploração sexual. Para tanto, foram Clotilde Barraquet, o evento “Adolescências:
organizados encontros com dinâmicas, leitura das vulnerabilidades à participação”, que
de textos, acesso ao Estatuto da Criança e do marcou a abertura da Semana Nacional de
Adolescente, apresentação em mídias, respei- Enfrentamento a Exploração Sexual de Crianças
tado o conhecimento dos adolescentes e traba- e Adolescentes de Campinas. A organização
lhando com as dúvidas. A participação juvenil desse evento contou com a participação, no pe-
vem ocupando parte da agenda das políticas ríodo de fevereiro a maio, de 17 adolescentes
públicas e da sociedade civil organizada; porém, que se responsabilizaram por coordenar des-
apesar dos grandes debates e das iniciativas a de a logística de espaço até os convidados e os
respeito, ainda encontramos poucos momentos temas a serem discutidos. Contou ainda com a
em que os jovens tenham espaço para sua par- participação de 180 adolescentes que, em sa-
ticipação efetiva. Nesse projeto a participação las temáticas e mesas de debate, discutiram:
juvenil conseguiu ir além: os jovens foram os Adolescência e Sexualidade, Violências Contra
124
Crianças e Adolescentes, Exploração Sexual de e comissões de trabalho foram criadas para a
Crianças e Adolescentes, Prevenção as DST/ organização desse acontecimento, com ações
AIDS e Cidadania. Entre esses participantes, integradas para o fortalecimento da causa.
estavam adolescentes de São Vicente-SP que,
Capítulo 5
dos compareceram representantes do Conselho
na Praça Rui Barbosa, teve início às 9 horas e tér-
Tutelar, da Secretaria Municipal de Educação e
mino às 17 horas, e contabilizou cerca de 30 mil
da Comissão de ESCCA do Conselho Municipal
pessoas. O evento foi aberto pela Secretária Darci
de Direitos da Criança e do Adolescente.
Silva, da Secretaria de Cidadania, Assistência e
Ao final do evento, realizou-se a cerimônia de Inclusão Social; pela Coordenadora da Equipe
pré-lançamento do livro “Que tal dizer não: uma Interprofissional da Vara da Infância e da
conversa de adolescente para adolescente”, Juventude, Márcia Silva; pelo Superintendente
com a presença dos adolescentes que participa- Executivo do Disque Denúncia de Campinas/
ram de sua produção. Movimento Vida Melhor, General Seixas;
pelo Diretor do Departamento Pedagógico da
No dia 18 de maio, realizou-se um evento organi-
Secretaria Municipal de educação, Prof. Márcio
zado por uma rede gestora de ações, composta
Rogério Silveira de Andrade; por Maria Ivone
por 27 ONGs e órgãos públicos, e que envolveu
Aranha, da Comissão de ESCCA do CMDCA; e re-
também outras instituições que não promoviam
presentantes do Conselho Tutelar e da Câmara
até então ações com esse foco, o que veio a for-
Municipal.
talecer, sem dúvida, as ações de enfrentamento
a esse fenômeno. Essa rede deu início ao pro- Durante esse evento tivemos o lançamento ofi-
cesso preparativo para as ações do dia 18 de cial do livro “Que tal dizer não: uma conversa de
maio em março de 2010. Reuniões quinzenais, adolescente para adolescente”, com a presença,
que passaram a ser semanais no mês de abril, ainda, do Diretor do Departamento Pedagógico
125
da Secretaria Municipal de Educação e dos 28
adolescentes que participaram da produção da
obra.
126
Capitulo 5.1
Uma Parceria Construida Também
por Adolescentes
Ricardo de Castro e Silva
Psicólogo, psicodramatista, mestre e doutorando em Educação (Unicamp), coordenador pedagógico da TABA
E ste capítulo apresenta as ações realizadas
sempre possibilitou “linha” que deixasse esse
vôo mais alto e assim alcançar outros limites. O
sob o experiência de construção de parceria e
respeito mútuo e o reconhecimento de ambas
suas inúmeras produções. Parcerias estabeleci-
as partes de suas competências específicas, é o
das pela TABA-Espaço de Vivência e Convivência
que se pode chamar de uma parceria ética.
do Adolescente com os e as adolescentes e jo-
vens participantes dos projetos realizados, bem Essa ética e esse respeito já haviam proporcio-
como a parceria, já de alguns anos, exatamente nado importantes realizações, tais como: um
15 anos, portanto adolescente sem crise, com a programa municipal no campo da orientação
Secretaria Municipal de Educação de Campinas sexual (hoje nomeada como educação sexual)
(SME) envolvendo suas escolas, os educadores, inovador, que permanece até os dias de hoje e
as educadoras, especialistas, coordenação e que nos anos 90 foi referência para outras ini-
128
produções, é possível então falar dos resultados Com esse anseio, o grupo se transforma em
do ideal da TABA. uma instituição que coloca em seu nome a ra-
zão de sua existência: espaço de vivência e con-
É sempre importante relembrar e recontar a
Capítulo 5.1
grupo, tem origem no desejo de continuidade
TABA, como local de encontros das várias tribos
dos adolescentes de algumas das escolas mu-
jovens, que, na diversidade, se encontram esta-
nicipais, os quais participaram durante alguns
belecendo possibilidades de convivência e de
anos como agentes educativos do programa
vivência.
municipal de Orientação Sexual das escolas da
Rede Municipal de Campinas, de dar continui- Essa parceria com as pessoas nomeadas como
dade às atividades que desenvolviam. Um de- adolescentes e jovens tem sido o “referencial
sejo de continuidade, um desejo de não romper teórico”, a bússola, que indica à organização
com os vínculos construídos e com algumas novos e, às vezes, difíceis caminhos a percorrer.
ações já desenvolvidas. A TABA é a continuidade Sempre propor e promover a participação dos e
de um projeto que se desenvolve no espaço da das adolescentes nos diversos lugares possíveis,
rede pública e que extrapola os muros da escola quer seja nos projetos, quer seja em espaços de
e alcança as ruas e a cidade de Campinas. A von- participação, resgatando com isso um trabalho
tade de dar continuidade a algo impar na vida de formação política no campo das adolescên-
de um grupo de adolescentes, que era a possibi- cias.
lidade de encontrar-se, conversar, trocar idéias,
Além dessa central e norteadora parceria com
realizar oficinas para e com outros adolescen-
os e as adolescentes, desde o início foi possível
tes, crescer juntos e sair do lugar de isolamento
contar com a Secretaria Municipal de Educação
e afastamento no qual a adolescência muitas
de Campinas como grande e fiel parceira, já
vezes é colocada.
que foi nesse lugar que nasceu a idéia da TABA.
129
Num primeiro momento, dessa parceria foram É deste lugar, do campo das violências sexuais
criados cursos de formação para educadores, e contra crianças e adolescentes, numa perspec-
educadoras não só do ensino fundamental, mas tiva de trabalho mais preventivo, que foram ex-
também os que atuavam na educação infantil. traídas as ações a relatar.
Posteriormente, sem deixar de realizar ações de
O ano 2008 marcou o início da atuação da
formação, a atenção voltou-se diretamente para
TABA nas escolas municipais, levando à rede
os e as adolescentes das escolas municipais.
a campanha: REPROVE A VIOLÊNCIA SEXUAL
Antes de apresentar as ações direcionadas CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES. A chama-
aos adolescentes, é importante dizer do lugar da nas escolas foi: “ADOLESCENTES PELO FIM
ocupado pela TABA, cada vez mais, no cená- DA VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTO-JUVENIL” e a
rio do trabalho com adolescentes e jovens em idéia central a ser divulgada sempre foi: TODA
Campinas. É necessário ainda falar da sua atu- CRIANÇA E TODO ADOLESCENTE TÊM O DIREITO
ação, como referência que é, também no cam- DE NÃO SOFRER NENHUMA VIOLÊNCIA,
po das violências sexuais que afetam direta ou INCLUSIVE A VIOLÊNCIA SEXUAL.
indiretamente adolescentes e jovens. Nesse
No primeiro ano estabeleceu-se a comunicação
período passado, ocupou diferentes postos de
por meio de conversas com os alunos e alu-
atuação, como quando fez parte parte da rede
nas de 42 escolas, das quais 25 enviaram 386
de atendimento referenciado a adolescentes
desenhos (feitos em uma folha sulfite) sobre o
envolvidos diretamente com a exploração sexu-
tema proposto, resultado da produção direta
al. Outras etapas desse percurso foram o acolhi-
de 1.544 alunos(as) adolescentes. Um das de-
mento e o acompanhamento feitos a um grupo
corrência dessa etapa foi o aumento significa-
de adolescentes nomeados como autores de
tivo de denúncias feitas pelo disque denúncia
violência sexual. Hoje está centrada muito mais
de Campinas/Movimento Vida Melhor, já que
no lugar de ações de prevenção e fortalecimen-
passaram a ter acesso a esta forma de proteção:
to da rede de proteção de crianças e adolescen-
a denúncia. Apesar do pouco tempo disponível
tes de Campinas.
130
nesse primeiro ano para estabelecer contato di- único critério de desejarem formar um grupo,
reto com as turmas de alunos(as), muitos efei- não precisando respeitar turma e nem turno, o
tos surtiram, representados no nível dos dese- que garantia uma livre escolha.
Capítulo 5.1
desenhos e defenderam seu trabalho, o que
na vida das e dos adolescentes diante de uma
produziu uma grande movimentação entre os
situação de violência sexual. Há de se registrar
grupos de autores dos desenhos, tendo a de-
o espanto da equipe organizadora diante do nú-
fesa do desenho “campeão” sido o ponto alto
mero de trabalhos recebidos e de sua qualida-
de sua pontuação, pois o grupo apresentou
de. Isso significa o muito que estes homens e
a questão de o autor da violência, central em
estas mulheres, os adolescentes, tinham a falar
sua produção, ser alguém desconhecido, sem
sobre o tema das violências.
rosto, uma vez que se poderia supor o rosto de
Uma dificuldade encontrada pelos organizado- qualquer pessoa , inclusive da própria família.
res foi a seleção dos seis finalistas e, destes, do
desenho vencedor, cuja equipe foi premiada,
bem como os professores que os acompanha-
ram. É importante dizer do trabalho desenvol-
vido pelos professores e professoras das 25
escolas que participaram e que receberam da
TABA um kit de material educativo sobre o tema
como subsídio para o acompanhamento feito
aos grupos que se formaram para produzirem
os desenhos e participarem da campanha. Os
grupos eram formados por cinco adolescentes
que poderiam escolher-se entre si seguindo o Desenho finalista do ano I
131
No ano seguinte – 2009 - , ano II da campanha, A proposta de produção desse segundo ano foi
foi dada continuidade ao mesmo tema e às mes- a criação de uma história em quadrinhos com-
mas chamadas centrais. posta por cinco cenas, em que a última necessa-
riamente deveria apresentar a solução do pro-
blema. Muitas vezes a solução apresentada foi
a morte ou a gravidez do/da adolescente vítima
da violência sexual, o que aponta na direção da
necessidade de um trabalho mais efetivo para
o desenvolvimento de atitudes de denúncia e
autoproteção por parte dos e das adolescentes.
Outras situações muito significativas encontra-
das nos desenhos foram: a da responsabilidade
do autor da violência estar diretamente rela-
cionada à denúncia por meios de comunicação,
Participaram com o envio de desenhos, 17 es-
principalmente os jornais; a referência a novos
colas das 45 visitadas pela equipe da TABA, que
meios de relacionamento, como por exemplo a
era formada por dois profissionais e uma jovem
internet, como um ambiente de vulnerabilida-
educadora. Desta vez, pôde-se conversar du-
de; e a denúncia realizada quase sempre por
rante uma hora com grupos de, no máximo 30
amigos e outros adolescentes, mostrando a in-
alunos/as, o que resultou num processo mais
corporação positiva da denúncia como um ins-
intenso ao possibilitar maior contato e tempo
trumento de proteção dos e pelos adolescentes,
para perguntas, trocas de idéia e alguns pedi-
mas também mostrando que o adulto falha no
dos de ajuda que foram surgindo em algumas
seu papel de denúncia e proteção ao adolescen-
escolas, incluindo-se a denúncia de um grupo
te e à criança.
de alunos e alunas de uma determinada escola
sobre as atitudes inadequadas de um professor Outra mudança estabelecida no ano II foi a am-
do próprio instituto. pliação da premiação, o que resultou em seis
132
escolas premiadas. Os prêmios foram camisetas chegou ao final.
estampadas com o desenho apresentado pela
Essas pessoas, nomeadas como adolescentes
escola para os adolescentes autores dos dese-
nas conversas mantidas, trouxeram muitas per-
Capítulo 5.1
pressa em reações como o abaixar de cabeças,
sado pelas camisetas foi constatado no sorriso e
o parar de falar, de sorrir, deitar na carteira com
na alegria dos e das participantes ao verem sua
olhar distante. Estas reações chamaram muito
produção nas camisetas.
a atenção da equipe, demonstrando uma inci-
Esperava-se que haveria um número baixo de dência de casos de violência na vida daquelas
produção dos alunos/as por causa do aumen- pessoas.
to do grau de dificuldade para a elaboração do
Essa reação direta, vinda dos/as adolescentes,
trabalho (uma história em quadrinhos) em rela-
quer por meio de suas produções, quer nas per-
ção ao ano I e de uma série de dificuldades pe-
guntas feitas e em suas reações, confirmou a im-
las quais as escolas haviam passado durante o
portância e o valor de se ter realizado uma atua-
ano – pandemia da gripe H1N1 e greve na rede
ção mais direta com o adolescente e não apenas
municipal de ensino. Mais uma vez a previsão
via professores/as. O que se pôde apreender foi
falhou e foram elaboradas 151 histórias em qua-
que muito há para ser denunciado, muitas per-
drinhos que representavam 450 adolescentes,
guntas a serem feitas, um falar e pensar intenso
dos 4.450 com os quais foi estabelecido conta-
por parte dos e das adolescentes que hoje so-
to. A seleção dos seis desenhos ganhadores foi
frem diretamente os efeitos das violências sexu-
um processo que contou com profissionais de
ais em suas vidas.
diversas áreas como: comunicação, educação,
psicologia e representantes das empresas par- Uma segunda etapa do ano II da campanha
ceiras. Depois de uma pré-seleção de 50 das 151 (2010) foi uma experiência rica e produtiva.
histórias, um grupo de jovens e adolescentes No primeiro semestre de 2010 foi formado um
133
grupo de alunos (as) representantes das 17 es- representando suas escolas.
colas que enviaram as suas histórias em quadri-
nhos, e que era composto por alunos e alunas
que gostavam de escrever e de alunos e alunas
que gostavam de desenhar. Esse grupo produ-
ziu em quatro meses um livro intitulado: “QUE
TAL DIZER NÃO? Uma conversa de adolescentes
para adolescentes”.
”
culdade para selecionar o possível diante das
Beijos, Maria Gabriela
delimitações de espaço para publicação dada
a qualidade e a quantidade das produções fei-
tas pelos dois subgrupos: escrita e desenho. “O projeto TABA foi muito bom, gostaria que
Foi obtido o triplo da produção de desenhos do você estivesse aqui para passar o tempo fazen-
que era possível ser utilizado, mostrando, com do o que você gosta, desenhando.
isso, o talento, a vontade, a responsabilidade
desses adolescentes desenhistas que vieram
”
Até mais, Valter
134
O lançamento professoras possam trabalhar com seus alunos
dessa produ- a temática proposta utilizando um material feito
ção aconteceu de adolescente para adolescente.
Capítulo 5.1
dências do Cefortep, local de formação da rede
15 de maio, na
municipal de educação, no intuito de apresen-
EMEF Clotilde
tar os resultados obtidos e convidar a rede para
Barraquet,
o ano III da campanha.
por ocasião do encontro: “Adolescentes: das
vulnerabilidades à participação”, realizado No ano III o tema será: MASCULINIDADE E
pela TABA em parceria com outras instituições. VIOLÊNCIAS, dando continuidade a este traba-
Esse evento marcou a abertura da Semana de lho em que a participação social juvenil é cen-
Enfrentamento á Exploração Sexual de Crianças tral, por se reconhecerque os adolescentes, su-
e Adolescentes, que também realizou, no dia jeitos de direito, têm o direito à fala, também
18 de maio, na praça Rui Barbosa, no centro de por meio de sua produção artística.
Campinas, uma ação maior, contando com 27 Finalizando este texto sobre parcerias, quer–se
ONGs da cidade e representantes de órgãos pú- ressaltar o valor das parcerias aqui apresenta-
blicos. Nesta oportunidade, os e as adolescen- das: com os e as adolescentes e com a SME, nas
tes também fizeram o lançamento de seu livro pessoas envolvidas direta e indiretamente. Os
e a distribuição entre os adolescentes e adultos membros da TABA reafirmam o grande prazer
presentes, durante todo o dia. que é poder estar na escola com adolescentes e
No final do ano 2010, serão distribuídos 8.000 garantir sua fala que sempre é direta, honesta,
exemplares desse livro nas 17 escolas que par- clara e se expressa pela arte de suas mãos, no
ticiparam e nas demais que se interessarem em seu desenho e na sua escrita.
receber o material, para que os professores e No próximo ano, serão redigidos e
135
apresentados os resultados desta segunda te-
mática: Masculinidades e Violências. Esta in-
terface entre relações de gênero e violência é
urgente no campo das adolescências hoje, prin-
cipalmente no que se refere à discussão das
formas de ser homem e também de ser mulher,
podendo encontrar novas possibilidades que
promovam a cultura da não violência.
136
Capitulo 5.2
Uma Ação Educativa Diferenciada:
A produção do livro “Que tal dizer não: Uma conversa de
adolescente para adolescente”
Luiz Henrique Pereira Mendes
Pedagogo, Especialista na temática Adolescente em Conflito com a Lei.
Coordenador de produção Livro: “Que tal dizer não: Uma conversa da adolescente para adolescente”
A todo o momento estamos sujeitos a partici- nós envolvemos pedaços da vida com ela: para
pação direta e/ou indireta de um processo edu- aprender, para ensinar, para aprender-e-en-
cativo, da aprendizagem, da aquisição de um sinar. Para saber, para fazer, para ser ou para
conhecimento, tanto para ensinar, quanto para conviver, todos os dias misturamos a vida com a
aprender. Esse processo educativo, seja ele for- educação“ (1981, p. 7).
mal ou informal, possibilita ao ser humano seu
Seja qual for o aprendizado ou ensinamento que
desenvolvimento a partir do contexto em que
estamos vivenciando, contamos com o apoio de
está inserido, permitindo a comunicação, a lo-
outros indivíduos para executar essa ação. Em
comoção, entre outras ações que possibilitam a
todos os espaços que freqüentamos, não esta-
convivência social.
mos isolados e inertes a aprender, a ensinar e
A esse ato de ensinar e aprender identificamos a aprender-e-ensinar (BRANDÃO, 1981, p. 7).
como ação educativa. Muito mais que um pro- Contudo, Freire adverte que “...ninguém educa
cesso educativo, a ação educativa vai além do ninguém, como tampouco se educa a si mesmo:
espaço formal de ensino, está presente em to- os homens se educam em comunhão, mediati-
das as atividades que realizamos no cotidiano zados pelo mundo” (1987, p. 69).
de nossas vidas. A ação educativa possibilita aos
Neste contexto, não podemos considerar a ação
indivíduos envolvidos o acesso ao conhecimen-
educativa sem a influência do mundo, da socie-
to, desenvolvimento pessoal e aperfeiçoamento
dade a qual estamos inseridos. É impensável
de suas habilidades. Pode-se dizer que o ato de
supor que possamos estar no mundo sem vi-
aprender e ensinar não possui um período, um
venciar tudo aquilo que é ofertado, sem passar
tempo determinado, a todos os momentos es-
por conflitos internos e externos e sem apren-
tamos desenvolvendo tais ações.
der com o conhecido e o desconhecido. Não
Conforme destaca Brandão: “Ninguém esca- vivemos distante dos acontecimentos sociais,
pa da educação. Em casa, na rua, na igreja já que culturalmente a vida em sociedade exige
ou na escola, de um modo ou de muitos todos minimamente o contato com outros indivíduos,
138
grupos e membros coletivamente organizados. de produção dos desenhos e dos textos para o
livro.
Como exemplo de uma ação educativa diferen-
ciada destacamos o livro “Que tal dizer não? Fundamentados por 05 temas: violência, direi-
(uma conversa de adolescente para adolescen- tos, cidadania, vida e sexualidade, os adoles-
Capítulo 5.2
Ensino Fundamental de Campinas. Convidados de debate e reflexão, para criar através de um
a participarem da segunda etapa do Projeto processo de valorização do conhecimento e
“Reprove a Violência Sexual Contra Crianças e forma de expressão dos participantes, e assim
Adolescentes” esses adolescentes deram uma apresentar à sociedade, especialmente para ou-
lição de criatividade, conhecimento e participa- tros e outras adolescentes, “um livro que tem
ção. como objetivo fazer você refletir e saber dizer
não!”.
Com apenas 04 meses para se conhecerem, se
aprofundarem na temática sugerida, produzir e Estimulados a concluir o livro em tempo de di-
finalizar o livro, esses adolescentes demonstra- vulgá-lo no evento do Dia Nacional de Combate
ram como é possível realizar uma ação educativa ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e
junto aos adolescentes, fomentando a reflexão Adolescentes, os e as adolescentes não desani-
e participação, essencial para o desenvolvimen- maram em nenhum momento. Incentivados pe-
to humano. los educadores, produziram os textos e diversos
desenhos que descreveram e ilustraram a carac-
Após 03 encontros de integração, introdução e
terística de cada um e a de ser adolescente.
estudo do tema a ser trabalhado, os adolescen-
tes, a partir de seu interesse e suas habilidades, A produção do II Concurso demonstrou o quanto
foram divididos em 02 grupos, um de escrita e à participação, o envolvimento e a ação educa-
um de desenho. Com o apoio de 02 educadoras, tiva, são resultados efetivos no trabalho de en-
01 arte-educador e 01 jornalista iniciaram a fase frentamento a violência sexual contra crianças
139
e adolescentes. Mais que histórias em quadri- sociedade. Talvez abrir portas para projetos des-
nhos, a produção dos adolescentes destaca a sa natureza, mude o Brasil, destrua o preconcei-
importância da garantia dos direitos e proteção to e construa novos conceitos. Prazer e cultura,
integral. a um futuro melhor. Rafael Vicente.”
140
participação ativa dos e das adolescentes pode- A pagina mais discutida foi a pagina 23, na qual
remos realizar mudanças e dizer não á violência. tem uma historia em quadrinho sobre abuso se-
xual, eles pediam para ler, aliás, todos queriam
A importância desse material produzido pode
ler, até disputavam quem iria ler, liam de novo.
ser bem reproduzido pelo depoimento da
Capítulo 5.2
lescente para adolescente” como material pe- verso da adolescência, ainda mais considerando
dagógico em oficinas de educação não formal que esta faixa etária precisa de elementos sim-
com pré-adolescentes de 10 a 13 anos. bólicos para melhor entenderem seu contexto
pessoal e social.”
“A experiência de utilizar os livrinhos com o
grupo Juvenis (10 a 13 anos) foi muito positiva, Referências Bibliográficas
ainda mais por se tratar de um material que foi
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação.
escrito por adolescentes.
26ª. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.
Na pagina 6 do livro, há espaços para escrever
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: sabe-
(nome, idade, escola, medos, coragens e pai-
res necessários à prática educativa. 30ª. ed. São
xões) e eles adoraram esta atividade, um mos-
Paulo: Paz e Terra, 1996.
trava para o outro e houve um momento que
cada um pôde falar mais sobre si mesmo! _____________. Pedagogia do oprimido. 27ª.
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
Eles também pintavam os desenhos que eram
possíveis colorir. TRASSI, Maria de Lourdes. Adolescência-
violência: desperdício de vidas. São Paulo:
Na leitura do livro, as ilustrações ajudavam a en-
Cortez, 2006.
tender sobre o assunto, ou seja, além da leitura,
falávamos sobre o significado e sentido dos de-
senhos.
141
Capitulo 6
Disseminar a Causa Junto à
Sociedade: Campanha Publicitária
Simone Rodrigues
Saviezza comunicação
A exploração sexual de crianças e adolescentes um futuro melhor para crianças e adolescen-
é uma triste realidade em Campinas e região. tes. Participar desse projeto foi uma maneira de
Fechar os olhos para o que acontece em nossas mostrar o nosso lado mais humano e de exercer
Capítulo 6
pas no céu. Quem liga para a vida não pode fi- para divulgar e combater a exploração sexual.
car calado vendo tudo isso acontecer. É por isso Um sonho? Com certeza, mas é disso que a vida
que a Saviezza fez questão de participar da nova é feita. Pode perguntar para as crianças.
campanha da TABA. Como uma empresa de co-
municação, não poderíamos deixar de divulgar
esse alerta.
143
Capitulo 7
Resultados e desafios
O projeto Turismo Sustentável e Infância re-
da criança e do adolescente pudesse ser deixa-
do para outro momento.
alizado em Campinas é uma proposta focada es-
pecialmente em prevenção. Por isso as ações de sensibilização e dissemina-
ção de informações à todos os públicos envolvi-
Campinas ainda não se situa como uma cidade
dos foi um processo importantíssimo.
Resultados e desafios
com forte envolvimento da exploração sexual
Capítulo 7
relacionada ao turismo. Mas há indicadores que Da mesma forma, reiteramos a relevância do
demonstram que a rede deve se preparar para envolvimento do poder público municipal, so-
palmente pelo rápido crescimento do turismo Indústria e Turismo. São as políticas públicas
anda lado a lado com o aumento da vulnerabili- Criança e do Adolescente e os aos gestores pú-
dade social de crianças e adolescentes. blicos em parceria com toda a sociedade cabe
a responsabilidade de promover o desenvolvi-
É fundamental planejar o desenvolvimento eco-
mento da cidade com sustentabilidade, assegu-
nômico atrelado ao desenvolvimento social e
rando os direitos da criança e do adolescente
ambiental, o chamado desenvolvimento susten-
em todas as frentes previstas em lei.
tável.
Vivenciar essa experiência no projeto não foi
Assim verificamos que o trabalho apresenta
simples. A equipe muitas vezes foi tomada pelo
uma série de desafios, pois é comum que não
desânimo, com a sensação de remar contra a
haja preocupação com problemas que ainda es-
corrente. Mas ao mesmo a caminhada nos pro-
tão surgindo ou que não nos afetam diretamen-
porcionou novos encontros, parceiros e apoios
te.
importantes que nos mostraram que apesar
Durante o projeto nos deparamos com diver- das dificuldades, era o caminho a ser percorrido
sas situações que confirmaram essa percepção. O Sistema de Garantia de Direitos se apresenta
Como se esse cuidado pela garantia dos direitos como uma rede consistente e ativa, capaz de se
145
articular e promover ações de enfrentamento, Paralela a esta realidade atual e pulsante, ainda
embora ainda precise de contínuas capacita- encontramos o imaginário do mundo adulto in-
ções para uma melhor atenção ao fenômeno. vadido por imagens e pré conceitos em relação
à estas pessoas, o que dificulta a aproximação
Indicamos ações continuadas de capacitações
e um trabalho em conjunto que produza ações
e debates, sobretudo com o envolvimento do
políticas como foi o caso da publicação “Que tal
Conselho Tutelar, para melhor conhecimento,
Dizer Não”( uma conversa de adolescentes para
acompanhamento e controle das ações voltadas
adolescente).
para a garantia dos direitos das crianças e dos
adolescentes. Muito poucos são os espaços de escuta dos e
das adolescentes A política de participação ju-
Mas sem dúvida a maior conquista desse pro-
venil ainda trabalha para o adolescente e não
jeto foi o modo como crianças e adolescentes
com ele, deixando de contribuir de modo efeti-
envolvidos se apropriaram do tema e da causa
vo na transformação, impacto para que desen-
resultando na produção de um material que
volvam projetos de vida.
traduz a essência de suas realidades, valores
com a linguagem deles.Conteúdo produzido Nossa melhor experiência!
e disseminado baseado nessas vivências e não
O prazer de produzir, compartilhar e dialogar de
construído somente em cima teorias padrão.
forma prazeroza e estimulante com esses nos-
Ocupamos este espaço central entre o discurso
sos parceiros crianças, adolescentes e jovens,
acadêmico sobre a adolescência e a realidade
pessoas, como todos nós, que acreditam , lutam
vivida por estas pessoas nomeadas como ado-
e desejam que a garantia de seus direitos seja
lescentes.
uma realidade de fato em nossa cidade.
Hoje podemos afirmar da existência da crian-
A caminhada continua.
ça e do(a) adolescente sujeito de direito que
conseguem dialogar entre si e produzir ações
concretas em busca da garantia destes direitos.
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