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Paper CITENEL

Sérgio L. S. Cabral, Geraldo R. Almeida, Carlos R. Benedik, Paulo Okumoto

perda no faturamento, transtornos técnico, comercial, regula-


Resumo – O artigo apresenta o desenvolvimento e resultados tório e de imagem da Empresa, razão pela qual é muito im-
de um projeto de pesquisa e desenvolvimento do programa da portante que estes sistemas e respectivos cabos que os com-
Aneel com o objetivo de desenvolver estudos e pesquisas de põem sejam confiáveis para evitar ou minimizar estas inter-
engenharia visando definir parâmetros técnicos que estabele-
rupções. Outro fato a ser considerado é que a identificação e
çam limites para diagnosticar, preventivamente, as condições
elétricas de operação dos cabos isolados em papel impregnado à reparo de defeitos (falhas) ocorridos em circuitos subterrâ-
óleo utilizados pela Eletropaulo em seu sistemas subterrâneo de neos, normalmente, demandam bastante tempo - na maioria
distribuição em média tensão, determinando se os cabos deve- das vezes superior a 24 horas - e recursos humanos significa-
rão sofrer manutenção ou a indicação de que deverão ser subs- tivos - diversas equipes são utilizadas, totalizando em muitas
tituídos. Descreve também as metodologias e tecnologias avan- situações 20 homens por defeito. Por outro lado a empresa
çadas para medição análise e avaliação das descargas parciais
que permitirão a formulações de diagnóstico e ações de O&M.
não dispõe para suas atividades de O$M de parâmetros e
Foram realizados testes de laboratório e de desempenho de tecnologias que possam diagnosticar e identificar preventi-
cabos e acessórios de um PILOTO em ambiente controlado, vamente possíveis ocorrências de falhas para ações de manu-
sendo os resultados satisfatoriamente atingidos. tenção ou de substituição de cabo a óleo por similar. Além
disso, com o envelhecimento do sistema existente com cabos
Palavras-chave – Rede Subterrâneas, Cabo PILC, Taxa de do tipo PILC - mais de 40 anos em alguns circuitos - é espe-
Falhas, Descargas Parciais, Vida Útil.
rado um aumento no número de falhas nesses cabos, com
consequente deterioração da qualidade de fornecimento de
I. INTRODUÇÃO energia, caso não sejam desenvolvidas novas tecnologias e
O sistema de distribuição subterrâneo em média tensão da metodologias que permitam avaliar suas condições e preve-
Eletropaulo utilizou durante muito tempo como padrão, o nir a falha dos cabos.
cabo isolado em papel impregnado em óleo com a capa de Assim a Eletropaulo propôs para o seu Programa de P&D
chumbo (cabos tipo PILC). Atualmente a AES conta com, junto a ANEEL esse projeto cujos principais objetivos da
aproximadamente, 367 km desse cabo e 42 km de cabos pesquisa são:
EPR instalados em sistemas de 20 kV. Os dois tipos de sis- Desenvolver estudos e pesquisas de engenharia visando
temas efetivamente instalados na área de concessão são o definir parâmetros técnicos necessários que estabeleçam
radial e o reticulado secundário. Ambos utilizam os cabos limites para diagnosticar, preventivamente, as condições
PILC e mais recentemente o cabo seco adotado como pa- elétricas de operação dos cabos isolados em papel impreg-
drão. A orientação atual é de que haja a substituição dos nado a óleo utilizados em seu sistema subterrâneo de distri-
cabos a óleo por seco sempre que houver novas instalações buição em média tensão, indicando ações de manutenção ou
ou substituições provocadas por defeitos. Este procedimento de substituição;
tem sido comprovadamente dispendioso e na maioria das Elaborar estudo de reengenharia, construir ou reparar
vezes inadequado, uma vez que a vida útil e desempenho os acessórios emendas e terminais retirados de campo pela
dos cabos a óleo, no momento, são superiores às dos cabos Eletropaulo em circuitos que estão sendo substituídos por
secos. Ressalta-se que os sistemas subterrâneos são projeta- cabo seco, visando à montagem dos conjuntos necessários
dos para atender grandes densidades de carga ou regiões para os ensaios de laboratório e desempenho em instalação
onde as cargas têm grande importância social onde a ocor- piloto em ambiente controlado;
rência de interrupções no fornecimento acarreta, além de Desenvolver sistema, baseado em metodologias e tec-
nologias avançadas de medição, análise e avaliação das des-
Este trabalho foi desenvolvido pela AES Eletropaulo no âmbito do Progra-
cargas parciais, possibilitando diagnosticar e identificar,
ma de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Setor de Energia Elé- preventivamente, possíveis falhas nos alimentadores do sis-
trica regulado pela ANEEL - código 039016200 – sob o título “Sistema de tema de distribuição subterrâneo em média tensão isolados
diagnóstico e identificação de pontos de possíveis falhas em cabos subter-
em cabos tipo PILC (papel impregnado com capa de chum-
râneos de distribuição em média tensão com cabos tipo PILC (papel im-
pregnado com capa de chumbo”. bo);
S. L. S. Cabral e C. R. Benedik, pesquisadores da Matrix Engenharia em Implementação de instalação piloto em ambiente con-
Energia (e-mail: sergio.cabral@matrixenergia.com.br; car- trolado com cabos e acessórios utilizados no sistema subter-
los.benedik@matrixenergia.com.br). râneo da ELPA para avaliar a eficácia das tecnologias e me-
G. R. Almeida consultor técnico da Matrix Engenharia em Energia (e- todologias propostas.
mail: grdealmeida@osite.com.br).
Devem ser descritos o título e o código ANEEL do proje-
Paulo Okumoto especialista em medições de descargas parcias da Techimp
Services SrL (e-mail: jpaulo.okumoto@techimp.com). to de P&D aprovado pela ANEEL, os ciclos de desenvolvi-
mento, as entidades executoras e as empresas de energia
elétrica que deram suporte financeiro ao projeto.
Título do Projeto: Sistema de diagnóstico e identificação
de pontos de possíveis falhas em cabos subterrâneos de dis-
tribuição em média tensão com cabos tipo PILC (papel im-
pregnado com capa de chumbo)
Código ANEEL: 0016/2008.
Ciclos de Desenvolvimento: 2007/2008.

II. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA Figura 1. Sistema PILC

A. Estado da Arte – Pesquisas Bibliográficas Esse sistema PILC tem naturalmente variáveis endógenas,
Em função das pesquisas realizadas pelo Grupo de traba- que podem explicar os defeitos e envelhecimento, mas que
lho junto à literatura especializada e visitas técnicas a con- sozinhas não afetariam os parâmetros de vida e desempenho.
cessionárias, fabricantes e Universidades nacionais e inter- As variáveis exógenas destacadas, tensão, corrente tempera-
nacionais, foram levantados as principais técnicas de cons- tura e umidade, fazem parte da solicitação elétrica no siste-
trução empregadas na fabricação dos cabos tipo PILC, defei- ma PILC e sua resposta, mais alguma outra interferência do
tos típicos que ocorrem nesses cabos e em seus acessórios, meio ambiente.
técnicas e equipamentos disponíveis no mundo para auxiliar Finalmente as variáveis de resposta são aquelas que quan-
na manutenção preventiva de circuitos com cabos secos e do do o sistema PILC estiver solicitado, interna e externamente
tipo PILC e, ainda, empresas e institutos de pesquisa que indicarão os resultados de desempenho deste sistema e for-
têm desenvolvido estudos visando à definição de novas téc- necerá os dados comparativos entre os diversos fatores.
nicas neste sentido. Foram levantadas, também, as principais A análise de todas as eventuais interações entre variáveis
características construtivas, dimensionais e elétricas dos e desempenhos foi feita através de experimentação fatorial e
Cabos PILC’s e de seus acessórios instalados nas redes sub- análise de variância com 2 classificações.
terrâneas de média tensão da AES Eletropaulo, bem como, o
de ocorrências e causas prováveis de defeitos de ocorrências
C. Desenvolvimento de Estudos para Verificar se o Sistema
que provocaram interrupções no sistema subterrâneo da
já atingiu seu limite de vida útil
ELPA no período 2001 - 2009, destacando para os circuitos
de cabo PILC se a falha ocorreu no cabo ou nos seus acessó- O desenvolvimento dos estudos e pesquisas de engenharia
rios e eventuais reincidências de defeitos registrados. sobre o sistema de diagnóstico e identificação de possíveis
pontos de falhas em cabos subterrâneos tipo PILC analisou o
sistema de distribuição subterrâneo da AES-Eletropaulo
B. Hipóteses e Conjecturas sobre Defeitos Elétricos em Ca- construído com cabos PILC sob diferentes enfoques, entre
bos PILC eles:
Para a elaboração das hipóteses e conjecturas sobre defei- Parâmetros de níveis de tensão e de temperatura do
tos elétricos em cabos PILC foram estudadas e elaboradas condutor decorrentes do Regime Operacional ao quais os
considerações sobre as características construtivas dos cabos circuitos foram e poderão ser submetidos.
PILC, dos acessórios utilizados em instalações com cabos Nos estudos voltados a verificação da existência de pon-
PILC e instalações de sistemas reticulados com cabos PILC tos quentes nos cabos PILC e seus acessórios e carregamen-
utilizados pela Eletropaulo, destacando-se os principais me- tos atuais dos alimentadores construídos com cabo PILC,
canismos de falhas. foram analisados diferente fatores, tais como, determinação
Com a presença de muitas variáveis endógenas e exóge- dos pontos quentes dos cabos subterrâneos, determinação
nas no sistema PILC não existe à primeira vista uma hipóte- das correntes e temperaturas de operação, crescimento de
se ou conjectura única que possa explicar as falhas neste carga da região atendida, correntes na cobertura de chumbo,
sistema, a despeito de todas as evidências sobre o papel das efeitos de proximidade e correntes de fuga do condutor para
emendas nas estatísticas de falhas. Existem boas razões para a camada condutora externa, relacionados diretamente com
implicar uma variável com outra e por que não dizer até pontos de aquecimento nos cabos isolados. Sendo conside-
mais de duas variáveis atuando simultaneamente. rados, também, os conceitos de degradação do papel isolan-
Assim, o sistema PILC representado na Figura1 poderá te, perfis de instalação e pontos de drenagem.
ser observado por duas variáveis de resposta: O ângulo de Sob estes aspectos, conforme verificados nas simulações,
perdas e as DP descargas parciais, evidentemente deixando nenhum trecho de alimentador com cabo PILC superou seu
para esta última variável um papel muito mais relevante. limite térmico (ou operativo) em regime normal de opera-
ção. Análise de amostras de cabos PILC retiradas da Rede
da ELPA, cabos 2/0 AWG de cobre com tempo de instala-
ção superior a 50 anos, enviada para ensaios em Laboratório
de Alta Tensão, não revelou anormalidades quanto às cor-
rentes de fuga devido à característica capacitiva dos cabos
PILC, nem quanto a níveis de descargas parciais. Assim, os de polimerização do papel feitas pelos dois laboratórios,
aquecimentos dos condutores dos cabos PILC verificados estão dentro de uma faixa bem caracterizada e o limite infe-
foram originados exclusivamente pela corrente normal de rior desta faixa é aceito internacionalmente, para atestar a
operação. existência de vida útil remanente das amostras de cabos
Envelhecimento da camada isolante em papel Kraft PILC analisadas.
dos Cabos PILC A blindagem metálica
Este capítulo apresentado no trabalho foi dedicado a uma No cabo PILC (Paper Insulated Lead Covered) a blinda-
análise de pontos que mesmo não passando pelo crivo de gem metálica hermética é essencial, seja para preservar as
método científico tem informações relevantes dentro daque- características do papel impregnado contra a penetração de
las obtidas no projeto. umidade, seja para prover o confinamento do campo elétri-
A degradação do dielétrico (massa-papel) co. O hermetismo contra penetração de umidade ou outros
A degradação do papel impregnado se manifesta em dois contaminantes deriva da degradação do conjunto massa-
mecanismos: Térmico e Elétrico. Parece não haver interação papel na presença destes, enquanto que o confinamento do
entre os dois na faixa de 20ºC e 100ºC e isto foi levado em campo eletromagnético vem da necessidade de melhor ex-
conta neste trabalho. A degradação térmica esta ilustrada na ploração da rigidez do conjunto (massa-papel) e garantia de
figura 2 abaixo e neste a forma usada foi medida através do que não existam campos elétricos maiores do que aqueles
grau de polimerização da celulose. A literatura reporta que a projetados. A grande maioria dos cabos PILC instalados no
celulose nova possui um grau de polimerização cerca de Brasil possuem cabos com blindagens metálicas de
1500 meros (ou seja, a cadeia principal da celulose possui CHUMBO. Estas, todavia, têm sido substituídas por
cerca de 1500 meros), enquanto que a celulose degradada ALUMÍNIO ao longo do tempo.
possui um grau de polimerização cerca de 500 meros. Uma Inventário sobre ocorrências de falhas no sistema
celulose com grau de polimerização cerca de 200 deve ser subterrâneo MT da Eletropaulo
considerada completamente degradada. Este parâmetro foi O inventário realizado tomou em consideração os dados
do período 2001 - 2009, pois para tempo mais longo não
existiam estatísticas nem anotações sobre eventos de falhas.
Neste período foram registradas 313 ocorrências que envol-
veram desligamentos do Sistema Reticulado de Média Ten-
são (com cabos secos e com cabos tipo PILC), com a evolu-
ção mostrada no Gráfico 1. O gráfico 2 apresenta as ocor-
rências registradas somente com cabos e acessórios nas re-
QUEBRA LIGAÇÕES GLICOLÍTICAS des com cabos tipo PILC e com cabos secos e acessórios
ABRE ANÉIS DE GLICOSE
(EPR/XLPE).
DEGRADAÇÃO TÉRMICA
Figura 2. Degradação Térmica do Dielétrico

usado para avaliação do TEMPO MÉDIO PARA


PRIMEIRA FALHA possuindo boa adesão com a
CONFIABILIDADE avaliada sobre os cabos completos A
degradação elétrica, considerada neste trabalho desacoplada
da degradação térmica, foi avaliada através de cinética quí-
mica. Foram analisados parâmetros como o grau de polime-
rização de amostras retiradas de campo e comparada a índi-
ces referentes a cabos novos e cabos completamente degra- Gráfico 1. Evolução das ocorrências do sistema reticulado
dados. Observa-se que esta faixa de grau de polimerização é
bem caracterizada e o limite inferior desta faixa é aceita in-
ternacionalmente. Para efetuar a análise de Weibull para a
degradação da polimerização do papel utilizamos resultados
de análises realizadas pelos laboratórios do IPT e da MGM.

Tabela I. Dados obtidos nos Laboratórios MGM e IPT

Gráfico 2. Evolução das ocorrências com cabos PILC e EPR/XLPE

Análise de Descargas Parciais geradas


Verifica-se que os valores médios das medições do grau Esses estudos foram voltados principalmente as Descargas
Parciais geradas por diversas fontes como, tais como, gaps ações podem ser tomadas:
gerados por drenagem da massa impregnante, elevação de
temperatura da massa impregnante, produtos contaminantes Tabela II. Avaliação de Tendências após Segunda Medição
confinados no interior do cabo (gases, umidade, outros) ge-
rados pelo envelhecimento do papel Kraft, compatibilidade
entre os compostos químicos da isolação dos cabos PILC
com os materiais poliméricos dos acessórios nos pontos de
transição entre os cabos PILC e POLIMÉRICOS.
O Grupo de Pesquisa contou com a consultoria interna-
cional do Professor Gian Carlo Montanary – Techimp Servi-
ces SrL nos trabalhos envolvendo detecção e avaliação da Estratégia 2: testes periódicos e manutenção imediata.
ocorrência de descargas parciais em cabos tipo PILC, con- A equipe de manutenção pode estar interessada em efetu-
ceituação física do fenômeno descarga parcial, aplicação das ar a manutenção do circuito do cabo, logo que veem cabos
medições de descarga parcial em equipamentos elétricos, afetados por DP sem avaliar a tendência. Neste caso as me-
aplicação das medições de descarga parcial em cabos elétri- dições on-line podem ajudar na economia de tempo em rela-
cos, técnicas para localização do ponto de ocorrência de ção ao teste off-line. A IDENTIFICAÇÃO dos defeitos é de
uma descarga parcial em cabos elétricos e estudo de casos - qualquer maneira fundamental, pois diferentes defeitos têm
aplicação prática das técnicas de localização de descargas diferentes taxas de degradação, mesmo que tenham a mesma
parciais, com destaque a avaliação de ocorrência de descar- amplitude. Após a Separação de todos os fenômenos e Iden-
gas parciais em cabos do tipo PILC. tificação de cada DP pode-se tomar as seguintes decisões:
Os resultados de referentes a estudos realizados por con- (Os limites propostos na Figura 4 são válidos apenas co-
cessionárias Norte-americanas e Européias onde ainda é mo referência).
significativa a parcela de cabos PILC ( com tempo de insta-
lação superior a 20 anos) no universo de cabos subterrâneos
em operação, voltados principalmente para a vida útil da
camada isolante dos cabos sob diversos aspectos, não são
conclusivos quantos aos níveis de descarga parcial para a
indicação de ação de manutenção, mostrando dados de de-
sempenho adequados com cabos apresentando até 3000 pC,
ou seja, sem indicação de manutenção.
Figura 4. Luzes de Diagnóstico de acordo com o Fenômeno de DP - Mani-
Sobre este aspecto a Techimp sugeriu ao Grupo de Pes- festação Imediata
quisa que a indicação de ações de manutenção fosse deter-
minada sobre a base da tendência, que não está relacionada
D. Engenharia Reversa de Acessórios
com a amplitude DP, mas está relacionado com DP tendên-
cia ao longo do tempo. Propôs ao Grupo de Pesquisa a Por necessidade de adquirir cabos, emendas e terminais
adoção de duas estratégias de manutenção: dos tipos usados antes de 1976 a evolução do projeto ficou
Estratégia 1: testes on-line periódicos e manutenção pla- muito comprometida, pois os fabricantes mundiais que ainda
nejada após a avaliação das tendências. fabricam cabos com esta tecnologia vendiam apenas lotes
A melhor maneira de avaliar a real condição do isolamen- muito grandes. Assim, o Grupo de Pesquisa decidiu por bus-
to do cabo é avaliar as mudanças nas tendências da DP. Para car uma alternativa técnica que não comprometesse o plano
fazer isso, é necessário realizar medições repetitivas. A de pesquisa aprovado pela ANEEL e consequentemente os
IDENTIFICAÇÃO dos defeitos é fundamental porque dife- produtos previstos no projeto, pois a não aquisição dos ma-
rentes tipos de defeitos têm diferentes taxas de degradação, teriais previstos acarretaria na paralisação do projeto. A so-
mesmo que tenham a mesma amplitude. lução encontrada foi a de realizar ensaios com cabos inclu-
Depois de ter separado todos os fenômenos e identificado indo emendas e terminais retirados de campo pela Eletropau-
cada DP é possível tomar as seguintes ações. lo, em circuitos que estão sendo substituídos por cabo seco.
Para que essa atividade fosse possível se fez necessário
promover à engenharia reversa para a recuperação de termi-
nais retirados de campo e construção de emendas visando à
montagem dos conjuntos necessários para os ensaios. Esta
etapa envolveu as seguintes atividades: desmontagem de
emendas e terminais retiradas de campo, refazer o desenho
construtivo de todos os componentes com detalhes relevan-
Figura 3. Código de Cores para Diagnóstico de acordo com os Fenômenos tes de medidas, refazer o projeto de enfaixamento em papel
DP – Avaliação de Tendência de emenda e terminal, refazer o desenho de montagem das
emendas e terminais com indicação de todos os componen-
Avaliação da tendência após segunda medição: tes, refazer a especificação técnica das emendas e terminais,
Para DP AMARELA é necessário realizar uma segunda construir 4 emendas e montar 7 terminais com o máximo de
medição para avaliar a Tendência de Aumento. As seguintes
reaproveitamento dos componentes dos conjuntos retirados teno de alta viscosidade - nome comercial “ Napelec C”).
da rede, para serem submetidos aos testes elétricos previstos
no projeto em uma instalação piloto com ambiente controla-
do.
Em decorrência à falta de desenhos e detalhes construti-
vos das emendas e terminações, após analise detalhada dos
acessórios dos cabos PILC padronizados pela
ELETROPAULO foram feitas a engenharia reversa e o re-
desenho das configurações dos terminais externos e emendas Figura 6. Acompanhamento da montagem da emenda

retas.
E. Instalação Piloto com Ambiente Controlado
Para validação das metodologias e processos constantes
do Sistema de Diagnóstico desenvolvido, foram montados 4
(quatro) corpos de prova representado eletricamente o sis-
tema subterrâneo MT com cabos PILC da AES-Eletropaulo,
em uma instalação Piloto com ambiente controlado construí-
da no Laboratório de Alta Tensão da UNIFEI – fig. 5, Os
fatores analisadas foram: temperatura do condutor (ambiente
Figura 5. Desenho Técnico do Terminal e aquecido a 85 ºC) e o desnível dos cabos (sem desnível e
Para análise da compatibilidade dos materiais e desempe- desnível de 8 metros). A variável de verificação foi à pre-
nho dos componentes de emendas híbridas, emendas PILC e sença de descargas parciais.
terminais as amostras retiradas da rede foram abertas e mi-
nuciosamente analisadas.
No que tange à compatibilidade dos materiais utilizados
em emendas híbridas o Grupo levantou algumas questões
sem respostas e recomendou, caso a Eletropaulo opte por
continuar utilizando esta tecnologia neste tipo de emenda, é
necessário refazer a engenharia dos materiais, com separa-
ção entre os dielétricos laminares (papel nos cabos PILC) e
os sólidos (cabos XLPE ou EPR). Por exemplo, o material
do componente retenção do óleo do cabo PILC tem dilata-
ção diferente do papel impregnado de óleo. Este retentor é
feito com elastômero selante, com propriedades dielétricas.
O seu envelhecimento decorrente de fadigas devidas aos
ciclos térmicos originados pelos condutores da linha de dis- Figura 7. Modelo Piloto utilizado nos ensaios no LAT-EFEI

tribuição MT, permitem a migração do óleo mineral isolante As medições de Descargas Parciais nestes corpos de pro-
para o condutor XLPE, provocando o inchamento da cama- va, além das realizadas pelo LAT-EFEI, foram também rea-
da isolante sintética deste cabo e a formação de micros vazi- lizadas pela TECHIMP com equipamento do mesmo modelo
os favorecendo o surgimento de descargas parciais, que po- fornecido à AES-ELETROPAULO seguindo a mesma me-
derão levar a emenda híbrida à falha. Fatos como este justi- todologia especificada para as medições em Campo. A tabe-
ficam porque mais de 60 % das falhas no sistema têm como la 6 mostra os valores de DP obtido das medições, para os
causa as emendas hibridas. arranjos com desnível de 8 metros.
Os conectores das amostras de emendas analisadas esta- Nos ensaios conduzidos com tensão 1,5 E0 (18 kV) du-
vam operando abaixo do carregamento máximo previsto rante 1000 horas as descargas parciais não apresentaram
para o condutor do cabo, cuja máxima temperatura de ope- RELEVÂNCIA. Os cabos continuaram a desempenhar bem,
ração prevista em projeto é de 80°C. a despeito de valores de DP verificados nas emendas proje-
A figura 5 acima apresenta ilustrar a desmontagem de tadas e confeccionadas com a engenharia reversa. Na litera-
uma emenda para a sua reengenharia e análises. tura também isto foi corroborado por dados de desempenho
Uma função importante de um terminal de cabo isolado é adequados com cabos apresentado até 3000 pC. Deste modo
a deflexão do campo elétrico no trecho após a blindagem apenas o valor detectado de DP não se mostra significativo
metálica, para que não haja concentrações indesejáveis de para indicação de ação de manutenção.
campo elétrico. Constatou-se que nos terminais de cabo As Medições de DP realizadas pela TECHIMP mostraram
PILC examinados o cone de material isolante, envolvido por as funcionalidades de seus equipamentos de localização de
camada semicondutora e depois por camada condutora, focos concentrados de Descargas Parciais em acessórios
cumpre esta função. (Emendas e Terminais), bem como as descargas geradas ao
Uma observação importante levantada refere-se à massa longo dos cabos.
isolante de cor preta utilizada na emenda reta, diferente da Pela relativa complexidade dos fenômenos elétricos en-
massa impregnante especificada no projeto original (polibu- volvidos, as aquisições de dados e suas interpretações “in
loco“ para tomada de decisão quanto ao prosseguimento e ainda fabricam cabos com esta tecnologia vendiam apenas
direcionamento das medições, deverão ser feitas por pessoal lotes muito grande.
devidamente qualificado.
Tabela III. Valores DP com desnível de 8 metros Para compatibilizar o custo do projeto com o orçamento
dedicado houve a necessidade de fazer a engenharia rever-
sa de terminais e emendas com os desenhos usados então.
Este capítulo foi chamado de engenharia reversa dos aces-
sórios. Descrito com muito detalhe no corpo deste relatório,
merece apenas com finalização que a maioria das falhas
nas emendas híbridas ocorre na região do conector sob o
material de separação dos dielétricos. Isto pode configurar
as causa do modo de falha recorrente; “A incompatibilida-
de de materiais”.

C. Cinética química da degradação do papel

O grau de polimerização da celulose apresentou-se como


variável efetiva para medição do trabalho de desempenho
do dielétrico de um cabo PILC. Um cabo PILC novo tem um
grau de polimerização da celulose da ordem de 1500 (me-
ros por molécula), enquanto o mesmo dielétrico envelhecido
III. CONCLUSÕES termicamente possui um grau de polimerização de cerca de
500 meros por molécula. Dos cabos analisadas na
CONFIABILIDADE, foram sorteados ao acaso 4 amostras
O Grupo de Pesquisa concluiu que os principais com datas diferentes de desempenho. Sobre estas amostras
objetivos do Projeto foram atingidos apresen- foi avaliado o grau de polimerização dos papeis isolantes.
tando as seguintes conclusões referentes aos Os resultados apresentaram uma boa correlação com o
resultados esperados MTTF.

D. Experimentação fatorial
A. Inventário sobre ocorrências de falhas
Esta experimentação foi desenvolvida devido a modificação
F. O inventário tomou em consideração os dados desde o da rota do projeto (Engenharia reversa dos acessórios). Os
ano 2000, pois para tempo mais longos não existiam estatís- fatores analisadas foram: temperatura (quente e frio) e o
ticas nem anotações sobre eventos de falhas. Algumas in- desnível (o metro e 8 metros). A variável de verificação foi a
formações descritas oralmente, por experiências de eletri- presença de descargas parciais.
cistas da empresa, indicavam desempenho prejudicado de
emendas híbridas (PILC-XLPE ou PILC-EPR) e alguns A variável temperatura mostrou-se significante (maior a
erros de origem (p.e. a data de eventos tinha a precisão de temperatura maior o nível de descargas parciais), enquanto
meses), porém para um largo tempo de desempenho, as in- a presença de desnível não era significante num ensaio de
ferências não foram prejudicadas. Deste inventário emergi- 1,5 Eo (18 kV) durante 1000 horas.
ram com força que realmente as emendas híbridas tinham
uma contribuição de 66% no conjunto de todas as falhas
observadas, seguindo os cabos e por fim os terminais. E. Papel das descargas parciais
B. Confiabilidades dos componentes Nos ensaios conduzidos com tensão 1,5 E0 (18 kV) durante
1000 horas as descargas parciais não apresentaram
Os dados tratados com a estatística de WEIBULL apresen- RELEVÂNCIA. Os cabos continuaram a desempenhar bem,
taram um MTTF≈32 anos (MTTF – Tempo médio pta 1º a despeito de valores de DP verificados nas emendas proje-
falha), o que permite esperar uma vida de pelo menos 60 tadas e confeccionadas com a engenharia reversa. Na lite-
anos para este tipo de cabo. Apenas para facilitar a compa- ratura também isto foi corroborado por dados de desempe-
ração o MTTF de cabos EPR e XLPE nas construções usu- nho adequados com cabos apresentando até 3000 pC. Deste
ais neste País são da ordem de 18 e 15 anos, respectiva- modo apenas o valor detectado de DP não se mostra signi-
mente. ficativo para indicação de ação de manutenção. Sobre este
G. Engenharia reversa de acessórios aspecto o Grupo de Pesquisa propõe a continuidade de
estudos para analisar a eficiência da metodologia para a
H. Por necessidade de adquirir: Cabos Emendas e Termi- indicação de ações de manutenção determinada sobre a
nais dos tipos usados antes de 1976 a evolução do projeto base da tendência, que não está relacionada com a ampli-
ficou muito comprometida, pois os fabricantes mundiais que tude DP, mas está relacionado com a tendência da DP ao
longo do tempo e o estabelecimento de limites, com base
em medições futuras de DP pelas suas equipes de manuten- V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ção. Concluiu também que a técnica de medições de DP
propostas pela consultoria internacional e as funcionalida-
des dos equipamentos adquiridos pela ELPA para o Proje-
to, mostraram-se eficientes na localização de focos concen-
trados de DP geradas em acessórios (emendas e terminais)
e ao longo dos cabos.

IV. RECOMENDAÇÕES GERAIS

Considerando os resultados levantados neste


trabalho e tendo em vista ulteriores dados de
pesquisa sobre desempenho dos materiais o
Grupo de Pesquisa apresentou algumas reco-
mendações gerais:

A. A despeito dos cabos PILC da AES ELPA


estarem instalados a cerca de 50 anos ou
mais, estes cabos podem ainda prestarem
um bom serviço por vários anos (deze-
nas).

B. Uma emenda híbrida de melhor qualidade


(materiais compatíveis) pode alongar em
muito a sobrevida de cabos PILC.

C. Muitas são a variáveis que podem concor-


rer para uma menor vida de cabos XLPE e
EPR. Entre outras está a barreira contra
penetração de umidade para estes cabos.

D. Emendas e terminais clássicos para cabos


PILC podem ainda serem construídos
com a engenharia reversa desenvolvida.
Além disso, revelaram-se fáceis de mon-
tagem e robustos eletricamente.

E. A correlação GRAU DE POLIMERIZAÇÃO vs


MTTF mostrou efetiva na avaliação dos
dados. Este parâmetro pode ser mais bem
aproveitado.

F. A CONFIABILIDADE (MTTF) no tempo é


uma valor definitivo para previsão de fim
de vida do sistema (após o tempo médio
da 1ª falha)

G. O mesmo conceito descrito em vale tam-


bém para uso dos valores de descargas
parciais, quando usado como valor de
previsão de vida de sistema.

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