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Modelagem Numérica das Tensões Induzidas pela Compactação

Bruno Teixeira Dantas


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, bruno.t.dantas@ufes.br

Maurício Ehrlich
COPPE/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, me@coc.ufrj.br

RESUMO: No presente trabalho, apresenta-se uma proposta para a simulação computacional da


compactação com base no modelo de Ehrlich e Mitchell (1994). A metodologia desses autores
retrata de forma mais realista as alterações sofridas pelo solo durante a compactação, pois permite a
ocorrência de deslocamentos laterais simultaneamente à variação do estado de tensões. Uma das
vantagens da modelagem ora apresentada é o fato de não necessitar alterar o código fonte dos
programas computacionais para a sua implementação. Apresenta-se uma aplicação deste novo
procedimento para estruturas de contenção de solo reforçado. Os estudos paramétricos
desenvolvidos indicaram que as tensões induzidas pela compactação podem influenciar de forma
importante as tensões mobilizadas nos reforços e os deslocamentos. Observou-se para a máxima
tração nos reforços uma boa concordância entre resultados determinados numérica e analiticamente
utilizando Ehrlich e Mitchell (1994).

PALAVRAS-CHAVE: Compactação, Modelagem Numérica, Solo Reforçado.

1 INTRODUÇÃO apresentada é o fato de não necessitar alterar o


código fonte dos programas computacionais
Procedimentos analíticos para determinação das para a sua implementação.
tensões induzidas pela compactação no
comportamento de maciços e estruturas 2 TENSÕES INDUZIDAS PELA
adjacentes são apresentados em Broms (1971), COMPACTAÇÃO
Ingold (1979), Duncan e Seed (1986), Ehrlich e
Mitchell (1994). No âmbito da pesquisa Entre outros autores, Duncan e Seed (1986),
bibliográfica efetuada, identificou-se que apenas após análise e seleção de dados confiáveis
o modelo de Duncan e Seed (1986) encontra-se publicados ao longo de 50 anos sobre medições
adaptado a simulações computacionais (Seed e de campo e laboratório de esforços induzidos
Duncan, 1986). pela compactação, observaram que, uma vez
No presente trabalho, apresenta-se uma retirado o equipamento compactador, o estado
proposta para a simulação computacional da de tensão inicial não é totalmente restabelecido.
compactação com base no modelo de Ehrlich e Enquanto a tensão vertical retorna para o seu
Mitchell (1994). A formulação de Ehrlich e valor original, a tensão horizontal tende a
Mitchell (1994) retrata de forma mais realista as permanecer elevada, e em alguns casos
alterações sofridas pelo solo durante a assumindo valores bem superiores ao original.
compactação, pois permite a ocorrência de Admite-se que parte (ou a totalidade,
deslocamentos laterais simultaneamente à dependendo do autor) do acréscimo de tensão
variação do estado de tensões. Nesse sentido, horizontal devido à operação de compactação
diferencia-se das demais metodologias fica retida no solo, sendo a tensão resultante
analíticas, em especial a de Duncan e Seed comumente designada de tensão residual da
(1986), nas quais a operação de compactação é compactação (figura 1).
considerada na ausência de deformações
laterais. Uma das vantagens da modelagem ora
para a análise do efeito da compactação sobre o
equilíbrio de muros verticais de solo reforçado.
Todavia, suas bases conceituais podem ser
estendidas para qualquer aplicação.
O modelo caracteriza-se por:
(a) assumir a tensão de pico induzida pela
compactação como constante ao longo da
profundidade da camada;
(b) admitir a ocorrência simultânea de
deslocamentos laterais durante a variação
do estado de tensões promovida pela
compactação;
(c) considerar o comportamento tensão-
deformação do solo dependente da
história de tensões;
Figura 1. Acréscimo de tensão no solo devido à operação
de compactação. (d) desprezar o efeito de histerese de
camadas previamente compactadas
Nesse contexto, a compactação pode ser devido aos efeitos de carga e descarga
analisada como uma alteração do estado de promovidos pela compactação de
tensão do solo, induzindo deformações e camadas sobrejacentes;
esforços de pico e residuais na massa e em (e) representar a compactação como um
estruturas adjacentes. As várias passadas do acréscimo de tensão vertical equivalente,
equipamento sobre um mesmo ponto impõem uniforme, aplicado na superfície de toda
ciclos de carga e descarga no material, a camada a ser compactada.
submetendo-o a um comportamento histerético. Segundo Ehrlich e Mitchell, em um processo
Portanto, os pontos principais de um construtivo envolvendo várias camadas,
procedimento de análise são: (a) uma trajetória tipicamente, as camadas são relativamente
de tensões que seja representativa das condições pouco espessas, de 0,15 m a 0,30 m, o que
de carregamento e descarregamento a que o solo permite considerar que todos os pontos de cada
é submetido na operação de compactação; e (b) camada estão igualmente compactados. Assim,
a intensidade das tensões de pico e residuais a tensão de pico induzida pela compactação
induzidas pela compactação, tanto em pode ser considerada constante ao longo da
subsuperfície como em profundidade. espessura da camada. Outros pesquisadores,
Os procedimentos analíticos de Broms como Ingold (1979), também admitem como
(1971), Ingold (1979) e Duncan e Seed (1986) representativa distribuição uniforme da máxima
são adequados para a determinação das tensões tensão horizontal induzida com a profundidade,
induzidas pela compactação em maciços ou desde que em todas as camadas o mesmo
estruturas em que a condição em repouso possa processo e equipamento tenham sido utilizados
ser razoavelmente admitida como válida no e que o empuxo passivo não seja um fator
solo. Nessas metodologias, qualquer evento de limitador.
carregamento, descarregamento ou A figura 2 apresenta a trajetória de tensões
recarregamento é simulado supondo a ausência do modelo. O carregamento é representado
de deformações laterais. Todos esses autores pelos segmentos 1-2-3 e o descarregamento
recomendam o cálculo dos acréscimos de tensão pelos segmentos 3-4-5. Tanto o carregamento
de pico e ao longo da profundidade com base na como o descarregamento foram considerados
teoria da elasticidade. em duas etapas: uma em que não se permite a
deformação lateral do solo (segmentos 1-2 e
2.1 Modelo de Ehrlich e Mitchell (1994) 3-4) e outra em que é permitida (segmentos 2-3
e 4-5).
Esse modelo foi desenvolvido originalmente
Essa figura representa resultado típico de um
ensaio de histerese sob condições Ko, incluindo
múltiplos ciclos de carga e descarga. A
trajetória ABC indica um ciclo de carregamento
e descarregamento virgem, e a trajetória CDED’
um ciclo não virgem de carga e descarga. O
ponto D’ é o estado de tensões final do ensaio.
Verifica-se que, para uma mesma tensão
vertical, 'z, existe tendência de haver
diferenças relativamente pequenas entre as
tensões horizontais nos pontos III, D e D’,
posicionados sobre as trajetórias de
Figura 2. Trajetória de tensões idealizada por Ehrlich e descarregamento virgem, carregamento não
Mitchell (1994). virgem e descarregamento não virgem,
respectivamente. Ehrlich e Mitchell assumem
No caso em que a situação em repouso for que o ensaio ABCDED’ pode ser descrito
representativa do estado de tensões no solo simplificadamente e de forma conservadora pela
durante a compactação, os segmentos 2-3 e 4-5 trajetória I-II-III. Desse modo, admite-se nesse
da trajetória da figura 2 apresentam modelo que a compactação de camadas
comprimento nulo. superiores não promove alterações importantes
O comportamento tensão-deformação do no estado de tensões de camadas já
solo é modelado segundo a formulação de compactadas, sendo esse efeito desprezado.
Duncan et al (1980). Essa formulação Com relação à hipótese (e), Ehrlich e
caracteriza-se por utilizar uma curva hiperbólica Mitchell consideram que o equipamento de
para a condição de carregamento e uma curva compactação promove acréscimo de tensão
linear para a condição de descarregamento e horizontal aproximadamente uniforme em toda a
recarregamento. Portanto, parâmetros distintos extensão e espessura da camada compactada. Por
de comportamento mecânico, em especial o essa razão, adotaram o artifício de associar esse
módulo de deformação e o coeficiente de acréscimo horizontal de pico a um acréscimo de
Poisson, são definidos para o carregamento e tensão vertical, uniforme, equivalente,
para o descarregamento/recarregamento. admitindo, assim como em Duncan e Seed
No modelo de Ehrlich e Mitchell, durante o (1986), válida a condição de repouso para esse
carregamento, o coeficiente de Poisson é cálculo.
constante e igual a Ko / (1 + Ko). Durante o
descarregamento, esse coeficiente é constante e
igual ao valor para condições de
descarregamento Ko, cuja expressão é
apresentada em Ehrlich e Mitchell (1994).
A hipótese (d) é uma simplificação do
comportamento histerético real dos solos. A
compactação de camadas sobrejacentes
promove ciclos de carga e descarga, sem
representar carregamento primário, sobre as já
compactadas. Considerando que o acréscimo de
tensão produzido em profundidade é menor do
que a máxima tensão aplicada pelo equipamento
compactador, o efeito de histerese, tipicamente,
Figura 3. Trajetória de tensões típica para ensaio de
não deve resultar em alterações expressivas em
histerese sob condições Ko (adaptado de Ehrlich e
relação ao estado de tensão previamente Mitchell 1994). ’z = tensão vertical efetiva; ’x = tensão
existente. A figura 3 ilustra o efeito da histerese. horizontal efetiva.
A tensão vertical de pico equivalente está ser idêntico em todas elas. O procedimento
para a compactação assim como a tensão de adotado para representar um acréscimo de
sobre-adensamento está para o adensamento. tensão limitado a certo conjunto de elementos,
Enquanto a tensão vertical geostática não for foi a imposição de incrementos nulos de
superior à tensão vertical de pico equivalente, o deslocamentos verticais na base da camada em
efeito da compactação prevalece no processo de compactação, durante a aplicação
comportamento do maciço. de sobrecarga equivalente à tensão de pico, zc,i,
As expressões da tensão vertical de pico figura 4 (ilustrada estrutura de solo reforçado).
equivalente, zc,i, são apresentadas nas equações A retirada do equipamento de compactação da
(1), para rolos compactadores, e (2) para placas camada é representada pela aplicação de esforço
vibratórias e sapos mecânicos. vertical de mesmo módulo mas sentido
contrário ao do carregamento, figura 4c,
  xp,i mantendo-se a condição de incrementos nulos
 zc ,i  de deslocamentos verticais na base da camada.
 Ko
Uma vez terminada a etapa de compactação,
 1 (1)
 1 N 2 permite-se o livre deslocamento dos nós que
 xp,i   o  1  K a       Q  
L 
foram restringidos, figura 4d.
 2
     
Camada sobrejacente presente durante
N   tan 45    tan 4  45    1 a compactação da camada inferior

 2   2 
Sv
Camada em processo
onde:  = peso específico do solo; o = de compactação Sv

coeficiente de Poisson no carregamento


(= Ko / 1 + Ko); Ko = coeficiente de empuxo no Reforços Base da Camada

repouso; Ka = coeficiente de empuxo ativo de (a) Visão geral da compactação de uma camada.
Rankine (= tan2(45 – /2)); Q e L = força
zc,i
vertical máxima de operação e comprimento do
rolo, respectivamente;  = ângulo de atrito do
Elementos de
solo; e N = fator de capacidade de carga, Reforço
Elementos
calculado pela teoria das cunhas de Rankine. de Solo

(b) Etapa de carregamento: compressão vertical e extensão lateral.


Q
 zc ,i  (2) Incremento nulo de deslocamento vertical na base da camada.

A zc,i

onde: Q = força vertical máxima de impacto; e


A = área da base.

3 MODELAGEM NUMÉRICA (c) Etapa de descarregamento: extensão vertical e compressão lateral.


Incremento nulo de deslocamento vertical na base da camada.

A modelagem numérica da compactação, de


acordo com o modelo de Ehrlich e Mitchell
(1994), pode ser implementada como um
acréscimo de tensão vertical aplicado em cada (d) Fim da compactação da camada.
camada de solo e reforço, que representa a Deslocamento vertical permitido na base da camada.

tensão vertical de pico equivalente, zc,i, Figura 4: Modelagem numérica da compactação: (a)
induzida. De forma a assegurar que todas as Visão geral da compactação de uma camada; (b) Etapa de
camadas sejam igualmente compactadas, e que carregamento, equivalente à passagem do equipamento
a compactação de uma não afete as demais sobre a camada; (c) Etapa de descarregamento,
equivalente à remoção do equipamento; (d) Fim da
camadas, o acréscimo de tensão vertical deve compactação da camada (apud Dantas, 2004).
Constata-se na figura 4a que o processo nas análises numéricas deste trabalho
computacional proposto envolve o lançamento contemplou essa implementação.
de uma camada sobrejacente com espessura
igual a Sv antes da aplicação da tensão vertical 4 ANÁLISES PARAMÉTRICAS
de pico equivalente. A ausência dessa camada
pode provocar um estado limite de ruptura por A modelagem numérica proposta foi utilizada
empuxo passivo da camada em compactação. para avaliar a influência da compactação sobre a
Dantas (2004) deduz expressões para a tração máxima e os deslocamentos da face de
espessura mínima da camada sobrejacente. Para muros verticais de solo reforçado. Os resultados
estruturas em que o estado em repouso tende a de tração máxima foram cotejados com os
prevalecer, com face vertical e solo não coesivo, determinados analiticamente utilizando Ehrlich
a espessura mínima, z, é dada pela equação (4), e Mitchell (1994).
para estruturas em que o estado ativo tende a As análises foram conduzidas no programa
prevalecer, pela equação (5). Atribuindo valores de elementos finitos CRISP92-SC, uma versão
típicos para zc,i = 100 kPa (rolo compactador), modificada por Iturri (1996) do código original
 = 20 kN/m3 e  = 35º, o intervalo numérico é CRISP92 (Britto e Gunn, 1990). Essa versão
z > 0,03 m (eq. 4) e z > 0,37 m (eq. 5). incorpora, entre outras implementações, a
formulação hiperbólica de Duncan et al. (1980)
1 modificada por Seed e Duncan (1984). O
 zc ,i  K o 
  CRISP92-SC utiliza a técnica incremental,
z (4)
  K p 
 através da aproximação da rigidez tangente,
para representar a não-linearidade física do
material. As análises foram conduzidas em
 zc ,i  K a 
z   (5) termos de tensões totais, em condições drenadas
  K p  e estado plano de deformações.
A estrutura modelada consistiu de um muro
onde: Kp = coeficiente de empuxo passivo de vertical hipotético, com altura, H, de 5 m,
Rankine (= tan2(45 + /2));  = parâmetro reforçado por geossintético, com face flexível,
adimensional de Mayne e Kulhany (1982) para assentado sobre fundação competente, figura 5.
descarregamento Ko (= 0,7 sen , sugestão de O muro contou com um total de 10 camadas de
Ehrlich e Mitchell 1994). reforço primário, com comprimento de 4 m. O
espaçamento vertical entre reforços, Sv, foi de
Ressalta-se, no entanto, que, na simulação 0,5 m; o horizontal, Sh, de 1 m. Reforços
proposta, a compactação da última camada secundários, com comprimento de 0,8 m, foram
ocorre sem uma camada de sobreposição. utilizados com o intuito de manter a
O procedimento proposto para a simulação estabilidade da face durante a compactação, isto
da compactação não requer alterações no código é, atuaram como ancoragem para a face flexível.
original do programa computacional, desde que
Camada 10
seja possível aplicar uma restrição de Camada 9
incrementos de deslocamentos verticais em Camada 8
determinados nós e que a relação constitutiva Reforços Camada 7

baseada em Duncan et al (1980) esteja Primários Camada 6


Camada 5
disponível na biblioteca de materiais.
Camada 4
Seed e Duncan (1984), entre outras Reforços Camada 3
modificações, implementaram na formulação Secundários
Sv Camada 2
y
original de Duncan et al (1980) a condição de o Sv Camada 1

coeficiente de Poisson ser no mínimo igual a


Solo de Fundação
Ko / (1 + Ko), independentemente do estado de
tensões do solo. A relação constitutiva utilizada Figura 5: Ilustração esquemática do muro (sem escala). O
aterro (camadas) foi ampliado em relação à fundação.
As camadas foram lançadas como mostrado c = 0 / 5 / 10 / 20 kPa,  = 35º,  = 0 e  = 19,6
na figura 5 e eram compostas de duas linhas de kN/m3; sendo , n = constantes do módulo de
elementos de solo, a fim de melhor captar as carregamento; Rf = razão de ruptura, constante
variações de tensões e deformações provocadas do módulo de carregamento; kur = constante do
pela compactação, elementos de reforço módulo de descarregamento e recarregamento;
primário, elementos de reforço secundário e kB, m = constantes do módulo volumétrico; ,
elementos de face.  = parâmetros do ângulo de atrito; c =
O processo construtivo consistiu em: intercepto de coesão. Para o solo do aterro,
(a) lançamento da camada 1 e 2, todas com variou-se a coesão para simular o efeito da
espessura Sv; sucção devido à presença de finos.
(b) aplicação da etapa de carregamento da A fundação foi modelada como um solo
compactação na camada 1 arenoso com capacidade de suporte adequada ao
simultaneamente ao “travamento” dos porte da estrutura. Os valores dos parâmetros
deslocamentos verticais de sua base; foram:  = 600, n = 0,25, ur = 900, Rf = 0,7,
(c) aplicação da etapa de descarregamento da b = 450, m = 0, c = 0,  = 36º,  = 1º and
camada 1;  = 20,4 kN/m3.
(d) lançamento da camada 3 Os reforços e a face foram modelados com
simultaneamente ao “destravamento” da propriedades da elasticidade linear. Para os
base da camada 1; reforços primários, a rigidez axial foi de 2431,8
(e) aplicação da etapa de carregamento da kN/m; para os reforços secundários e a face, de
compactação na camada 2 24,318 kN/m. Para todos, o coeficiente de
simultaneamente ao “travamento” dos Poisson foi nulo.
deslocamentos verticais de sua base; A tensão vertical de pico equivalente
(f) aplicação da etapa de descarregamento da induzida pela compactação, zc,i, foi modelada
camada 2; com três valores: 0, 50 e 100 kPa. Estudou-se o
(g) lançamento da camada 4 efeito dessa variação sobre a tração máxima nos
simultaneamente ao “destravamento” da reforços e os deslocamentos da face.
base da camada 2; e assim Para as análises elaboradas no presente
sucessivamente até a camada 10. trabalho, foi considerada tensão de compactação
Para a camada 10, não houve camada de constante no topo da camada, a fim de manter
sobreposição durante a compactação. A etapa de uniformidade na comparação com o método de
lançamento de cada camada foi dividida em 50 Ehrlich e Mitchell (1994). É comum, entretanto,
incrementos de carga. Cada etapa de utilizar compactação mais leve próximo à face.
carregamento ou descarregamento foi dividida Na modelagem proposta, esse aspecto pode ser
em 100 incrementos de carga. simulado alterando a intensidade do acréscimo
As malhas contaram com um total de 2139
de tensão vertical, zc,i, na região afetada.
nós e 796 elementos. Para o solo, foram
A figura 6 apresenta os resultados de tração
utilizados elementos isoparamétricos
máxima no reforço. Nota-se que os esforços
quadriláteros de 8 nós. Os reforços e a face
induzidos pela compactação podem promover
foram representados por elementos
acréscimo significativo sobre as solicitações na
unidimensionais de treliça com 3 nós. Não
condição geostática e que há uma boa
foram utilizados elementos de interface,
convergência nos resultados numérico e
admitindo-se válida a hipótese de aderência
analítico. Observa-se de forma nítida a
perfeita solo-reforço, solo-face, face-fundação
profundidade de influência da compactação para
ou solo de aterro-solo de fundação.
os diferentes valores da tensão vertical de pico
O aterro foi modelado como um solo
equivalente. Para zc,i = 50 kPa, essa
arenoso. Os parâmetros foram estimados com
profundidade é aproximadamente igual a
base na tabela de valores sugeridos por Duncan
y / H ≥ 0,55. Para zc,i = 100 kPa, toda a altura
et al (1980). Os valores foram:  = 480, n = 0,5,
da estrutura é afetada pela compactação.
ur = 720, Rf = 0,8, b = 100, m = 0,5,
1.0
c=0 c = 5 kPa A figura 7 mostra os resultados de
y / H 0.9 deslocamentos na face. Nota-se que o aumento
0.8
da tensão de compactação promove maiores
0.7
0.6
deslocamentos na face. A condição de
0.5 compactação com zc,i = 50 kPa não implicou
0.4 em acréscimos significativos de movimentação;
0.3
podem ser visualizados pequenos incrementos
0.2
0.1 na região próxima ao topo do maciço. Para
0.0 zc,i = 100 kPa, houve acréscimos ao longo de
0 6.5 13 19.5 0 5.8 11.6 17.4 toda a altura. Assinala-se, no entanto, que os
1.0
c = 10 kPa c = 20 kPa maiores acréscimos ocorreram na região entre
y / H 0.9 reforços (notar a forma de “bolsas” na figura 7).
0.8 No nível dos reforços, os acréscimos
0.7
0.6
apresentaram intensidade bem reduzida em
0.5 relação aos desenvolvidos em outros pontos da
0.4 face. Esse padrão de comportamento deve estar
0.3 associado ao uso de face flexível nas estruturas
0.2
0.1
simuladas.
0.0
0 4.1 8.2 12.3 0 3.1 6.2 9.3 CONCLUSÕES
T (kN/m)
Analítico - Sem Compactação Analítico - Compactação: 50 kPa
Uma proposta para a modelagem numérica das
Numérico - Sem Compactação Numérico - Compactação 50 kPa tensões induzidas pela compactação foi
Analítico - Compactação: 100 kPa apresentada com base no modelo de Ehrlich e
Numérico - Compactação: 100 kPa Mitchell (1994). Mostrou-se que essa
modelagem caracteriza-se por:
Figura 6: Efeito dos esforços induzidos pela compactação
sobre a tração máxima nos reforços, T, para diferentes
(a) retratar de forma mais realista as
valores de coesão. alterações sofridas pelo solo durante a
compactação, pois permite a ocorrência
de deslocamentos laterais
simultaneamente à variação do estado
de tensões;
(b) ser implementada sem a necessidade de
alterar o código fonte dos programas
computacionais.
Embora desenvolvido originalmente para
muros verticais de solo reforçado, as bases
conceituais do modelo de Ehrlich e Mitchell
(1994) podem ser estendidas para qualquer
Sem compactação aplicação, seja em configurações em que
Tensão de compactação: 50 kPa
prevalece o estado em repouso, seja em
Tensão de compactação: 100 kPa
configurações em que prevalece o estado ativo.
Apresentou-se uma aplicação deste novo
Fator multiplicador dos deslocamentos: 3 procedimento para estruturas de contenção de
solo reforçado. Os estudos paramétricos
desenvolvidos indicaram que as tensões
induzidas pela compactação podem influenciar
de forma importante as tensões mobilizadas nos
Figura 7: Efeito da compactação sobre os deslocamentos reforços e os deslocamentos. Observou-se para
da face.
a máxima tração nos reforços uma boa
concordância entre resultados determinados
numérica e analiticamente utilizando Ehrlich e
Mitchell (1994).

REFERÊNCIAS

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Programmer’s Guide. Engineering Department,
Cambridge University, Cambridge, England.
Broms, B.B. (1971), “Lateral pressures due to
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Dantas, B.T. (2004), Análise do Comportamento de
Estruturas de Solo Reforçado sob Condições de
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Duncan, J. M., Byrne, P., Wong, K. S. e Mabry, P.,
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Ingold, T.S. (1979), “The effects of compaction on
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