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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA


NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DESENVOLVIMENTO REGIONAL
PROGRAMA REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE
CONSTRUÇÃO CIVIL E SUSTENTABILIDADE EM
CANTEIROS DE OBRAS
DE ARACAJU

Autor: Patrícia Menezes Carvalho

Orientador: Prof. Dr. José Daltro Filho


Co-orientadora: Profª Drª Débora de Góis Santos

MARÇO - 2008
São Cristóvão – Sergipe
Brasil
Livros Grátis
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ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE


PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DESENVOLVIMENTO REGIONAL
PROGRAMA REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE
CONSTRUÇÃO CIVIL E SUSTENTABILIDADE EM
CANTEIROS DE OBRAS
DE ARACAJU

Dissertação de Mestrado apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação


em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de
Sergipe, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do
título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Autora: Patrícia Menezes Carvalho

Orientador: Prof. Dr. José Daltro Filho


Co-orientadora: Profª Drª Débora de Góis Santos

MARÇO - 2008
São Cristóvão – Sergipe
Brasil
iii

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Carvalho, Patrícia Menezes


C331g Gerenciamento de resíduos de construção civil e
sustentabilidade em canteiros de obras de Aracaju / Patrícia
Menezes Carvalho. – São Cristóvão, 2008.
178 f. : il.

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente)


– Núcleo de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, Programa Regional de Desenvolvimento e Meio
Ambiente, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa,
Universidade Federal de Sergipe, 2008.

Orientador: Prof. Dr. José Daltro Filho


Co-orientadora: Profª.Drª. Débora Góis Santos

1. Planejamento regional. 2. Meio ambiente e desenvolvimento


sustentável. 3. Construção civil. 4. Canteiro de obras. 5. Resíduos
sólidos – Aspectos ambientais. I. Título.

CDU 504.03:69(813.7 Aracaju)


iv

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE


PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DESENVOLVIMENTO REGIONAL
PROGRAMA REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO CIVIL E


SUSTENTABILIDADE EM CANTEIROS DE OBRAS DE ARACAJU

Dissertação de Mestrado defendida por Patrícia Menezes Carvalho e aprovada em 25 de


março de 2008 pela banca examinadora constituída pelos professores:

_____________________________________________
Prof. Dr. José Daltro Filho – Orientador
Universidade Federal de Sergipe

_____________________________________________
Profª Drª Débora de Góis Santos – Co-orientadora
Universidade Federal de Sergipe

_____________________________________________
Profª Drª Maria Augusta Mundin Vargas – membro interno
Universidade Federal de Sergipe

_____________________________________________
Profª Drª Nelma Mirian C. de Araújo – membro externo
Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba
v

Este exemplar corresponde à versão final da Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento


e Meio Ambiente

_____________________________________________
Prof. Dr. José Daltro Filho – Orientador
Universidade Federal de Sergipe

_____________________________________________
Profª Drª Débora de Góis Santos – Co-orientadora
Universidade Federal de Sergipe
vi

É concedido ao Núcleo responsável pelo Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente


da Universidade Federal de Sergipe permissão para disponibilizar, reproduzir cópias desta
dissertação e emprestar ou vender tais cópias.

_____________________________________________
Patrícia Menezes Carvalho – Autora
Universidade Federal de Sergipe

_____________________________________________
Prof. Dr. José Daltro Filho – Orientador
Universidade Federal de Sergipe

_____________________________________________
Profª Drª Débora de Góis Santos – Co-orientadora
Universidade Federal de Sergipe
vii

Ao Paulo, Ricardo e Emerson, luzes no meu

caminho.
viii

AGRADECIMENTOS

Agradeço com muita sinceridade a todos que contribuíram para a elaboração deste
trabalho.

À força criadora que tudo ilumina.

Aos meus pais que não pouparam esforços para a minha formação.

Ao Prof. Dr. José Daltro Filho pela dedicação e paciência na orientação e confiança no
meu trabalho.

À Profª Drª Débora de Góis Santos pelas valiosas contribuições e discussões sobre a
construção civil.

Ao Emerson pelo companheirismo e cumplicidade sempre presentes nas inúmeras


discussões e revisões de texto.

A todos os professores do PRODEMA e aos colegas da turma de 2006 pela oportunidade


de compartilhar novas visões de mundo.

À Nair pela disponibilidade sincera e apoio eficiente nas minhas atividades da M&C
Engenharia e elaboração dos gráficos desse trabalho.

Ao Matheus pela seriedade como desenvolveu o acompanhamento dos canteiros de obras.

À Marcela pela disponibilidade e disposição na realização das entrevistas dos


colaboradores das obras e tabulação dos dados.

A todos que fazem parte da M&C Engenharia pela compreensão e apoio durante as minhas
ausências.

À Corina Figueiredo, pela tradução do resumo deste trabalho para a língua inglesa.
ix

Aos empresários das empresas AC Engenharia, Casa Nova Habitação e Construção,


Construtora Santa Maria, Engeb – Botelho Engenharia, Impacto Construções e Montagens,
Imperial Construtora, Nassal – Nascimento Sales Construções e União Engenharia pelas
valiosas contribuições sobre a construção civil.

A todos os trabalhadores dos canteiros pesquisados por terem tornado este trabalho viável.

Ao engenheiro Gustavo Lima pelas informações sobre as obras financiadas pela CAIXA
em Aracaju.

Ao Diretor de Controle Operacional da EMSURB, engenheiro Gilson Barbosa Ramos e ao


seu Gerente de Limpeza Urbana, Sr. José Roberto Gomes do Carmo, pela receptividade e
disponibilidade para fornecer as informações sobre a gestão de RCC em Aracaju.

À Brígida Maria dos Santos, engenheira da ADEMA, pelas informações sobre a atuação
deste órgão na gestão de RCC em Aracaju.

A todos meus familiares e amigos pelo apoio e incentivo sempre presentes e paciência nas
minhas ausências.
x

RESUMO

O setor da construção civil apresenta características de grande consumidor de recursos


naturais e gerador de resíduos, além de empregador de uma mão-de-obra com baixo índice
de escolaridade e qualificação, que contribuem para a insustentabilidade da sociedade. O
grande volume de resíduos gerados nos canteiros de obras, sua destinação inadequada e seu
potencial de reciclagem motivaram a edição da Resolução CONAMA 307/02, base legal
para este estudo. Sendo assim, este trabalho objetiva avaliar o gerenciamento de resíduos
de construção civil (RCC) de acordo com a legislação atual e sua contribuição para a
sustentabilidade da obra. Foi realizada uma pesquisa exploratória-descritiva, através de
estudo de caso de dois canteiros de obras, situados em Aracaju/SE e feito o levantamento
de dados com instrumentos como observação, registro fotográfico e entrevistas. Foi
verificado que os canteiros não priorizaram a redução, reutilização e reciclagem de RCC,
os quais foram gerados em excesso, apresentando índices de 239,55 kg/m2 e 216,92 kg/m2,
superiores aos encontrados na literatura, e que 95% dos RCC retirados das obras possuem
destinação desconhecida. Concluiu-se, portanto, que o manejo dos RCC gerados não
contribuiu para a sustentabilidade das obras e que as mesmas não atenderam à legislação,
contribuindo para a degradação ambiental da cidade e para o aumento dos gastos com a
limpeza municipal. Foi observado, também, que as empresas construtoras apresentaram a
tendência de adequação às legislações que são efetivamente fiscalizadas, reforçando a
importância das políticas públicas ambientais e seus instrumentos para a melhoria do setor
e da sustentabilidade da cidade.

Palavras-chave: gerenciamento; resíduos de construção civil; sustentabilidade.


xi

ABSTRACT

The civil construction business has characteristics of large natural resources consuming
and residues generator besides of employing a great number of people who have low
educational levels and qualifications which contribute to the unsustainability of the society.
The great amount of the residues created at the building sites, its inadequate destination
and its enourmous potential to recycling have motivated the CONAMA 307/02 resolution,
which is the legal basis for this studying paper. Because of all these factcs, this study aims
to evaluate the wastes generated in activities of construction managing (RCC) based on the
current legislation and its contribution to the sustainability of the civil works. An
exploratory and descriptive research was made throughout the study of two building
sites placed in Aracaju/SE making use of observation instruments, photographic record and
also interviews. The survey concluded that the building sites did not take the reduction,
reutilization and recycling of RCC as a priority so that they were generated beyond the
limit presenting rates of 239,55 kg/m2 and 216,92 kg/m2that are higher than the ones found
in the literature; on the top of that 95% of RCC taken from the building sites have an
unknown destination. It has been concluded, therefore, that the handle of the
generated RCC did not contribute to the sustainability of the works and also that they did
not follow the legislation which has contributed to the city environmental degrating and to
the increase of the cleaning municipal expenses. It was also observed that the construction
industries have the tendency to adapt to those surpervised legislations which reinforce the
importance of the environmental public policy and its instruments to the business
improvment and to the city sustainability.

Keywords: managing; construction waste; sustainability.


xii

SUMÁRIO

Página
NOMENCLATURA xv
LISTA DE FIGURAS xvii
LISTA DE GRÁFICOS xviii
LISTA DE TABELAS xix
LISTA DE QUADROS xix

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 01

CAPÍTULO 2 – OBJETIVOS 05

CAPÍTULO 3 – CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL E 07


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
3.1 – CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL 08
3.2 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 14

CAPÍTULO 4 – A CONSTRUÇÃO CIVIL E A SUSTENTABILIDADE 22


4.1 - IMPACTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL 23
4.1.1 – Impactos econômicos 24
4.1.2 – Impactos sociais 25
4.1.3 – Impactos ambientais 28
4.2 - PROCESSO CONTÍNUO PARA A SUSTENTABILIDADE 29
4.2.1 – Busca da melhoria tecnológica 29
4.2.2 – Consciência ambiental do setor 33
4.2.3 – Necessidade de incorporação da visão sustentável 35
4.3 – CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL 37
4.3.1 – Características e recomendações sustentáveis 39
4.3.2 – Fatores impulsionadores da sustentabilidade no setor da 44
construção civil
xiii

CAPÍTULO 5 – OBRA SUSTENTÁVEL 56


5.1 – EXECUÇÃO DE OBRA SUSTENTÁVEL 57
5.1.1 – Impactos do canteiro de obra 57
5.1.2 – Recomendações sustentáveis para execução da obra 58
5.2 – GERENCIAMENTO DE RCC EM CANTEIRO DE OBRA 69
5.2.1 – Fases do gerenciamento de RCC 70
5.2.2 – O gerenciamento de RCC e a gestão municipal de resíduos 76
sólidos

CAPÍTULO 6 – METODOLOGIA 78
6.1 – QUESTÕES DE PESQUISA 80
6.2 – CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS E OBRAS 80
PESQUISADAS
6.3 – LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES SOBRE O 81
GERENCIAMENTO DE RCC ADOTADO NOS CANTEIROS DE OBRAS
6.3.1 – Levantamento de informações sobre o total de resíduos gerados 81
nos canteiros de obras
6.3.2 – Levantamento de informações sobre resíduos gerados por 82
serviço
6.4 – LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES SOBRE A VISÃO 82
AMBIENTAL DAS EMPRESAS PESQUISADAS
6.5 – LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES SOBRE AÇÕES 84
SUSTENTÁVEIS ADOTADAS NO EMPREENDIMENTO PESQUISADO
6.6 – TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS 84

CAPÍTULO 7 – ANÁLISE DE DOIS CANTEIROS DE OBRAS DE 86


ARACAJU
7.1 – INFORMAÇÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO CIVIL EM ARACAJU 87
7.2 – DESCRIÇÃO DAS EMPRESAS E OBRAS PESQUISADAS 90
7.3 – ANÁLISE DO GERENCIAMENTO DE RCC ADOTADO NOS 93
CANTEIROS DE OBRAS
7.3.1 – Projeto de gerenciamento de RCC, ações para a não geração 93
e redução da geração, reutilização e reciclagem de RCC
xiv

7.3.2 – Segregação, armazenamento inicial, transporte interno, 109


armazenamento final, transporte externo e destinação de RCC
7.3.3 – O gerenciamento de RCC em canteiro de obra formal e a 120
gestão municipal de resíduos sólidos de Aracaju
7.3.4 – Quantificação e registro de destinação de RCC 123
7.3.5 – Análise de adequação dos gerenciamentos de resíduos 129
adotados nos canteiros de obras pesquisados
7.4 – CONSTRUÇÃO CIVIL E MEIO AMBIENTE: VISÃO DO 131
EMPRESÁRIO E COLABORADOR
7.5 – SUSTENTABILIDADE DO EMPREENDIMENTO PESQUISADO 139

CAPÍTULO 8 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 141

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 147

APÊNDICE 159
Apêndice A – Modelos de formulários utilizados na pesquisa de campo nos 160
canteiros “A” e “B”
Apêndice A.1 – Quantificação de saída de resíduos do canteiro de obra 161
Apêndice A.2 – Quantificação de resíduos por serviço executado 162
Apêndice B – Modelos de formulários de entrevistas aplicadas na pesquisa 163
de campo
Apêndice B.1 – Entrevista sobre a visão ambiental do empresário da 164
construção civil
Apêndice B.2 – Entrevista sobre a visão ambiental do colaborador da 167
construção civil
Apêndice C – Cálculo de indicador de massa de resíduo gerado por área 168
construída para os canteiros “A” e “B”
Apêndice D – Cálculo de indicador de volume de resíduo gerado por área de 170
serviço executada e por área construída para os canteiros “A” e “B”
Apêndice E – Resultado das entrevistas com os colaboradores dos canteiros 172
“A” e “B”
xv

NOMENCLATURA

Siglas
ACV – Análise do Ciclo de Vida
ADEMA – Administração Estadual do Meio Ambiente
CAIXA – Caixa Econômica Federal
CARE - Cooperativa dos Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju
CBIC - Câmara Brasileira da Indústria da Construção
CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente
CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente
ELAGEC - Encontro Latino-americano de Gestão e Economia da Construção
EMURB – Empresa Municipal de Urbanização
EMSURB – Empresa Municipal de Serviços Urbanos
FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
FGV – Fundação Getúlio Vargas
FIES – Federação das Indústrias do Estado de Sergipe
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano
ISO – International Organization for Standardization
LEED - Leadership in Energy and Environmental Design
ONU – Organização das Nações Unidas
ONG – Organização Não-Governamental
ORSE - Programa de orçamento de obras e serviços de engenharia
PAC - Programa de Aceleração de Crescimento
PBQP-H - Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat
PDCA - Trata-se do ciclo de Shewhart ou ciclo de Deming, dividindo a gestão em quatro
principais passos: P (plan -planejamento), D (do – fazer), C (check – verificação) e A
(action – ação)
PIB – Produto Interno Bruto
PIGRCC – Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil
PGRCC – Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil
PMGRCC - Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil
xvi

PMI - Perda de material inicial


PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PSM - Política de Segurança Mínima
PSQ - Programas Setoriais de Qualidade
QMC - Quantidade de material comprado
QMR – Quantidade de material realmente utilizado
QMT - Quantidade de material teoricamente necessário
RCC – Resíduos de Construção Civil
RSU – Resíduos Sólidos Urbanos
SGQ – Sistema de Gestão pela Qualidade
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SiAC - Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da
Construção Civil
SINDUSCON – Sindicato da Indústria da Construção Civil
USGBC - United States Green Building Council
xvii

LISTA DE FIGURAS

Número Título Página


5.1 Fluxo da relação entre planejamento, perda de material e
63
sustentabilidade de um edifício
5.2 Fluxograma sugerido para as fases do gerenciamento de RCC em
74
canteiro de obra formal
7.1 Execução de revestimento em gesso do apartamento, sem realizar o
97
do vão da cozinha, no canteiro “A”
7.2 Resíduo gerado durante a correção do assentamento da caixa de ar 97
condicionado, no canteiro “A”
7.3 Correção dos 02 vãos de janela, para adequação de altura de
98
peitoril, no canteiro “A”
7.4 Troca de placas cerâmicas danificadas, no canteiro “A 99
7.5 Quebra da laje para instalação de ralo e realização da reposição do
101
concreto, no canteiro “B”
7.6 Quebra de alvenaria já revestida do quarto para passagem de
102
tubulação de gás, no canteiro “B”
7.7 Correção do nivelamento do revestimento do teto em gesso, no
102
canteiro “B”
7.8 Quebra de alvenaria revestida para assentamento de tubulação de
103
água e de execução de instalação hidráulica, no canteiro “B”
7.9 Quebra de alvenaria revestida para correções de instalação elétrica,
103
no canteiro “B”
7.10 Tipos de calha utilizadas nas obras e o momento de quebra de suas
105
faces para transporte e uso, nos canteiros “A” e “B”
7.11 Perda de material no canteiro de obra da empresa “A”:
na aplicação de gesso e no armazenamento do bloco 106
cerâmico
7.12 Transporte e manuseio interno de bloco cerâmico
potencializando a perda de material, nos canteiros de 106
obras pesquisados: carregamento
7.13 Transporte e manuseio interno de bloco cerâmico
potencializando a perda de material, nos canteiros de 107
obras pesquisados: descarga
7.14 Segregação de bloco cerâmico sem condições de uso
na alvenaria estrutural, no canteiro de obra da empresa 107
“B”
7.15 Reutilização de material nos canteiros pesquisados:
108
resíduo classe A, saco de cimento e pó de serra
xviii

7.16 Segregação inicial de resíduos no canteiro de obra da empresa “A”:


placa cerâmica no saco de cimento e papelão no dispositivo de 111
madeira
7.17 Segregação inicial de resíduos no canteiro de obra da empresa “A”:
111
bombona e madeira empilhada e no saco de cimento
7.18 Segregação inicial de resíduos no canteiro de obra da empresa “A”:
madeira e pó de serra empilhados no apartamento, saco de gesso 112
empilhado
7.19 Segregação inicial de resíduos no canteiro de obra da empresa “A”:
metal no balde, bloco cerâmico e argamassa empilhados no 112
pavimento
7.20 Transporte interno com o guincho “foguete”de resíduos no canteiro
115
de obra da empresa “A”
7.21 Dispositivos para armazenamento final de resíduos no canteiro de
115
obra da empresa “A”: baia, bag e caçamba estacionária
7.22 Descarte de resíduos retirados das obras pesquisadas em terreno
117
localizado em suas adjacências
7.23 Disposição inicial de resíduos no canteiro de obra da empresa “B”:
118
empilhamento de resíduos misturados e segregação de pó de serra.
7.24 Transporte interno de resíduos no canteiro de obra da empresa “B”:
119
carro-de-mão e resíduos jogados pela janela
7.25 Armazenamento final de resíduos no canteiro de obra da empresa
“B”: baia para resíduo de madeira e empilhamento de resíduos 119
misturados
7.26 Armazenamento final de resíduos no canteiro de obra da empresa
“B”: caçamba estacionária com uso adequado para resíduo classe A 120
e com resíduos misturados

LISTA DE GRÁFICOS

Número Título Página


4.1 Comparativo entre impactos ambientais e possibilidade de 39
intervenção por fase de empreendimento
7.1 Conhecimento e aplicação da legislação ambiental pelas oito 132
empresas entrevistadas
7.2 Distribuição da gravidade atribuída aos danos ambientais causados 133
pela cadeia da construção civil, segundo as oito empresas
entrevistadas
7.3 Importância do meio ambiente para a construção civil, segundo as 134
oito empresas entrevistadas
7.4 Tempo de permanência do colaborador por empresa pesquisada 136
xix

7.5 Número de obras da empresa trabalhadas pelos colaboradores 137

LISTA DE TABELAS

Número Título Página


5.1 Perda de materiais em procossos construtivos convencionais,
61
conforme pesquisa nacional em 12 estados e pesquisas anteriores
7.1 Indicador de massa de resíduo gerado por área construída para os
125
canteiros “A”e “B”
7.2 Indicador de volume de resíduo gerado por área de serviço 127
executado e por área construída para os canteiros “A”e “B”

LISTA DE QUADROS

Número Título Página


4.1 Alternativas de solução e seus impactos financeiros em edifícios
42
residenciais
4.2 Classificação e destinação dos resíduos da construção civil de
53
acordo com a Resolução CONAMA 307/02
5.1 Principais impactos ambientais para as atividades de produção que
acontecem nos canteiros de obras de edifícios (excluindo os 58
causados pelas perdas de material e produção de resíduos)
7.1 Características das empresas pesquisadas 90
7.2 Principais processos produtivos e materiais empregados na 93
execução das obras pesquisadas
7.3 Principais ações citadas pelas empresas para a não geração e
94
redução da geração de RCC nos canteiros de obras pesquisados
7.4 Dispositivo utilizado para armazenamento inicial por RCC gerado
110
no canteiro de obra da empresa “A”
7.5 Transporte interno e dispositivo utilizados para armazenamento
114
final por RCC gerado no canteiro de obra da empresa “A”
7.6 Transporte externo e destinação final utilizados por RCC gerado no
116
canteiro de obra da empresa “A”
7.7 Peso específico de materiais utilizados nas obras pesquisadas 125
CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO
Capítulo 1 – Introdução 2

1 – INTRODUÇÃO

A questão ambiental se mostra desafiadora para o homem do século XXI por trazer
em seu bojo problemas relacionados ao modo de produção e à desigualdade de acesso ao
consumo, difundidos na sociedade. Na verdade, a crise ambiental não se apresenta como
“problema”, mas como “conseqüência” do modelo econômico adotado, baseado no lucro e
acumulação de bens, e que não tem promovido o desenvolvimento social.

Dessa forma, a problemática ambiental pode ser entendida de maneira mais ampla,
envolvendo a economia e o setor produtivo, e o desenvolvimento social a ser promovido
como resultado da riqueza gerada. Esta problemática resulta no desenvolvimento
sustentável, que, em breves palavras, pode ser entendido como o desenvolvimento
alcançado com o equilíbrio dos aspectos econômicos, sociais e ambientais, de forma que
possibilite o atendimento às necessidades das próximas gerações.

Nessa perspectiva, o setor produtivo tem uma grande contribuição para a


sustentabilidade, buscando produzir mais e melhor, com menor uso de recursos naturais e
energia; reduzindo, reutilizando ou reciclando os resíduos oriundos da produção; gerando
lucratividade para os investidores; e promovendo o desenvolvimento social, principalmente
dos trabalhadores envolvidos com a produção.

Partindo-se, então, para o setor da construção civil, percebe-se a importância de sua


adequação a princípios da sustentabilildade, uma vez que inserido em uma cadeia
produtiva formada por indústrias e serviços associados, gerou riquezas na ordem de 18,4%
do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2004 e empregou 6,241 milhões de
trabalhadores no mesmo ano (CBIC, sd. b). Este setor consome aproximadamente 50% dos
recursos naturais extraídos (Espinoza et al., 2006) e gera resíduos de construção civil
(RCC) que participam em 41% a 70% da massa total dos resíduos sólidos urbanos (Pinto,
1999).

De acordo com o diagnóstico dos resíduos da construção civil em Aracaju (Daltro


Filho et al., 2005), os RCC correspondem a 65% dos resíduos sólidos urbanos e sua
Capítulo 1 – Introdução 3

geração está distribuída em 65% para os pequenos geradores e 35% para as construtoras,
consideradas grandes geradores. Além disso, a maioria dos RCC têm disposição
inadequada em depósitos irregulares ou bota-foras, produzindo efeitos negativos no
orçamento municipal, com despesa de R$ 6,05/ano.hab, e na degradação ambiental da
cidade.

Levando-se em consideração a Resolução CONAMA 307 (Brasil, 2002), que prevê


que a partir de janeiro de 2005 os grandes geradores deveriam implementar procedimentos
para manejo e destinação adequados de RCC, este trabalho se propõe a analisar o nível de
atendimento de construtoras de Aracaju a essa exigência e a contribuição dessa nova rotina
à sustentabilidade da obra.

Dessa forma, a pesquisa foi realizada com foco nos RCC retirados de obras de
edificação residencial, executadas por empresas construtoras formais de Aracaju. Não tem,
portanto, a pretensão de esgotar o assunto sobre geração, manejo e destinação de RCC e
sobre a sustentabilidade da obra, mas trazer informações importantes a fim de contribuir
como suporte para a tomada de consciência e de decisão do setor produtivo e para o
aprofundamento de outros estudos que objetivem a sustentabilidade da construção civil.

O trabalho está dividido em oito capítulos, sendo o primeiro destinado a apresentar


o assunto, sua delimitação e importância para a sustentabilidade da sociedade, além da
apresentação da estrutura utilizada.

O segundo capítulo apresenta os objetivos do estudo que nortearam o


desenvolvimento da pesquisa. O terceiro capítulo traz a reflexão sobre a crise ambiental,
como conseqüência da relação homem-natureza e seu papel como propulsora da busca de
um desenvolvimento mais sustentável, sendo o embasamento para a definição das
dimensões de sustentabilidade adotadas no estudo.

O quarto capítulo introduz o setor da construção civil no contexto da


sustentabilidade, levantando os impactos econômicos, sociais e ambientais dessa atividade,
bem como a trajetória que vem sendo percorrida pelo setor para a sustentabilidade, através
da busca de melhoria tecnológica, das exigências ambientais legais e, por fim, da
Capítulo 1 – Introdução 4

necessidade de adequação do setor através da implementação da construção sustentável. O


conceito de construção sustentável é apresentado, bem como recomendações para todas as
fases do seu ciclo de vida. Posteriormente, são discutidos os fatores que podem
impulsionar a efetivação da construção sustentável, destacando-se as políticas públicas e
legislações ambientais.

No quinto capítulo, a execução da obra sustentável é caracterizada através da


descrição dos impactos do canteiro de obra, bem como das recomendações ambientais,
sociais e gerenciais, que podem contribuir com essa fase da construção sustentável.
Posteriormente, as etapas do gerenciamento de RCC em canteiro de obra formal e sua
ligação com a gestão municipal de resíduos sólidos são apresentadas.

O capítulo seis traz os procedimentos metodológicos adotados na realização da


pesquisa, de forma a alcançar os objetivos propostos. O capítulo sete apresenta os dados
coletados durante a pesquisa, analisando seus resultados. Dessa forma, traz informações
sobre a construção civil em Sergipe e Aracaju; a sistemática de gestão de RCC adotada em
Aracaju; e a descrição das empresas, dos canteiros de obras pesquisados, das práticas
implementadas para o manejo de RCC e para a sustentabilidade do empreendimento
pesquisado. Essas informações são analisadas de forma a se concluir sobre a adequação do
gerenciamento de RCC adotado nos canteiros pesquisados e a eficácia das ações
sustentáveis desenvolvidas.

Por fim, o capítulo oito resume as conclusões do trabalho e apresenta


recomendações para viabilizar o gerenciamento eficaz de RCC, em canteiros de obras
formais, e a execução da obra sustentável em Aracaju, bem como sugestões para futuros
estudos sobre a geração de RCC.
CAPÍTULO 2

OBJETIVOS
Capítulo 2 – Objetivos 6

2 – OBJETIVOS

2.1 – GERAL

O objetivo do presente trabalho é avaliar o gerenciamento de resíduos de


construção civil em dois canteiros de obras de Aracaju, de acordo com os requisitos da
Resolução CONAMA 307/02, e sua contribuição para a sustentabilidade da execução das
obras.

2.2 – ESPECÍFICOS

• Analisar comparativamente o gerenciamento dos resíduos de construção civil adotado


nos canteiros de obras pesquisados.

• Quantificar os resíduos de construção civil retirados dos canteiros de obras


pesquisados.

• Levantar o nível de informação sobre a legislação ambiental e da importância atribuída


à destinação adequada dos resíduos de construção civil pelas empresas envolvidas com
o tipo de obra pesquisada.

• Levantar informações sobre ações sustentáveis adotadas nas fases de elaboração do


projeto arquitetônico e da execução da obra nos canteiros de obras pesquisados.
CAPÍTULO 3

CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Capítulo 3 – Conscientização Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 8

3 – CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL

Esse capítulo tem como objetivo descrever a trajetória da relação homem-natureza


no decorrer do desenvolvimento da humanidade, abordando as conseqüências da forma de
produção adotada, apoiada na exploração excessiva dos recursos naturais, e da distribuição
desigual das riquezas geradas por esse desenvolvimento.

Parte-se, então, para o conceito de desenvolvimento sustentável como um caminho


para o equilíbrio entre os desenvolvimentos econômico e socioambiental. Considerando-se
a dificuldade de solução do conflito existente na interconexão entre as dimensões
econômica, ambiental e social, apresentam-se as dificuldades para aplicação do conceito de
desenvolvimento sustentável, nos atuais padrões culturais, econômicos, de produção e de
consumo da sociedade.

3.1 – CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL

Segundo Rousseau (2005), o primeiro sentimento que o homem teve no estado natural
foi o da sua existência e o primeiro cuidado foi o da sua conservação, tal como os animais,
sendo que os instintos foram os guias para que se perpetuassem, através do aproveitamento
dos alimentos da natureza e da reprodução da espécie. Com o surgimento de dificuldades
para suprir suas necessidades básicas, o homem desenvolveu meios para sobrepujar os
obstáculos da natureza, através da sua capacidade de aperfeiçoamento. Sendo assim, os
primeiros e lentos progressos habilitaram o homem a obter outros mais rápidos, surgindo
as comodidades que se tornaram necessidades. A partir de então, houve mudanças na
forma de viver do homem: de errante para fixo; de solitário para a formação de grupos; do
instinto para os sentimentos; de independente para dependente; de indolente para
desenvolver o amor próprio, a estima pública e a consideração.

A relação homem-natureza ao longo da história vem se modificando de submissão à


tentativa de se tornar senhor da natureza. Segundo Porto-Gonçalves (1989), partindo da
physis da época pré-socrática, onde a natureza era considerada como a totalidade, encontra-
se em Platão e Aristóteles o início do privilégio do homem e da idéia, marcado pelo
Capítulo 3 – Conscientização Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 9

surgimento do período da filosofia grega. A influência judaico-cristã, com a crença na


criação do homem à imagem e semelhança de Deus, dota o homem de privilégios e
aprofunda a oposição homem-natureza e espírito-matéria. Com Descartes (século XVII), o
método científico é concebido como um instrumento que pode ser utilizado pelo homem
para penetrar nos mistérios da natureza, colocando-o como senhor da natureza e vendo a
natureza como um recurso.

Esse é um momento divisor de águas para a possibilidade de exploração da


natureza pelo homem apoiado pela ciência, consagrado pelo antropocentrismo e
cristalizado com a civilização industrial, inaugurada pelo capitalismo.

A visão antropocêntrica vem sendo aprofundada desde a contribuição de Descartes,


mantendo-se na hipótese recente de Gaia, onde a Terra é concebida como um sistema vivo
e auto-regulado, sem privilégios entre as espécies. Porém, observa-se que, mesmo nessa
perspectiva, a humanidade é vista como a única espécie que pode desempenhar o papel de
“médica planetária”, uma vez que é dita como capaz de reequilibrar o planeta (Bourg,
1993).

A relação de exploração homem-natureza pode ser verificada na colonização


brasileira. Os portugueses tiveram uma “visão do paraíso” ao chegar ao Brasil, sendo que
nessa visão está introduzido o interesse mercantilista, desenvolvido através da atividade
extrativista dos ciclos produtivos dos recursos naturais (madeira, açúcar, ouro, café e
borracha), até seus respectivos esgotamentos. A relação de exploração e desigualdade
também é verificada nas relações sociais através da hierarquização e do trabalho escravo
(Bourg, 1993).

A partir do século XVI, a ciência moderna começa a se configurar e ser instituída


socialmente, comungando também dos pressupostos de separação homem-natureza. Tal
conceito pode ser visto pela separação entre as ciências naturais e sociais dentro das
universidades, a separação entre o pesquisador e o objeto a ser pesquisado e a subdivisão
em unidade elementar - átomo, molécula e indivíduo - (Porto-Gonçalves, 1989).
Capítulo 3 – Conscientização Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 10

Não se pode dizer que a crença de que o progresso científico é bom para a
humanidade seja uma interpretação unânime. Segundo Rubano & Moroz (2004), o
racionalismo empírico do século XVIII defende a idéia de que o progresso é alcançado
através do conhecimento e seu acúmulo levará, por sua própria direção interna, à obtenção
de uma sociedade cada vez melhor. Essa concepção foi bem aceita por alguns filósofos da
época, porém Rousseau coloca em questionamento o elo entre acúmulo de conhecimento
racionalmente adquirido e o progresso da sociedade.

Segundo Bernardes & Ferreira (2003), até o século XIX, a compreensão das
relações entre a sociedade e a natureza, vinculada ao processo de produção capitalista,
considerava o homem e a natureza como pólos excludentes, sendo a natureza concebida
como um objeto e fonte ilimitada de recursos disponíveis para o homem. Essa concepção
baseou o desenvolvimento de práticas no processo de industrialização, onde a acumulação
se realizava por meio da exploração intensa dos recursos naturais, com efeitos perversos
para a natureza e a humanidade.

Nesse mesmo sentido, Camargo (2003) afirma que a degradação dos recursos
naturais vem ocorrendo desde a Revolução Industrial, durante os séculos XVIII e XIX,
sendo provocada pela atuação humana, com o estabelecimento de uma economia
industrializada localizada no espaço urbano, utilizando técnicas de produção altamente
consumidoras de energia e matérias-primas e elevado padrão de consumo.

Os efeitos negativos da degradação ambiental se fizeram notar a partir da


Revolução Industrial, porém o ápice dessa degradação acontece com o poder destruidor da
Segunda Guerra Mundial, que traz a expansão da consciência ambiental (Camargo, 2003).

Como uma das conseqüências da Revolução Industrial, Seiffert (2005) ressalta a


percepção de que a capacidade do ser humano em alterar o meio ambiente aumentou,
trazendo a preocupação com o esgotamento dos recursos naturais e o entendimento da
interdependência entre a economia e o meio ambiente, principalmente relacionada com a
existência de limites da capacidade de suporte ambiental ao crescimento econômico.
Capítulo 3 – Conscientização Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 11

Para Bernardes & Ferreira (2003), o processo de tomada de consciência ambiental


foi iniciado com a “doença de Minamata”, no final da década de 1950, quando os
habitantes e animais da redondeza da baía de Minamata, no Japão, começaram a apresentar
sérios problemas de saúde, decorrentes da poluição causada por uma indústria instalada no
local.

Na década de 1960, fica evidenciada a crise ambiental, como conseqüência do


modo de produção e consumo, marcando a necessidade de limite para o crescimento
econômico e o surgimento da consciência ambiental (Leff, 2001). Nesse período, surgem
diversas organizações não-governamentais (ONGs) com preocupações ambientais, além de
marcos importantes, como a publicação do livro Primavera Silenciosa (1962) de Rachel
Carson e a criação do Clube de Roma (1968), que representam, respectivamente, a abertura
do debate sobre as questões ambientais e o futuro da humanidade no âmbito popular e
empresarial.

Sendo assim, no século XX, houve uma grande transformação na percepção que os
seres humanos tinham da natureza e dos problemas ambientais, havendo o despertar de
uma consciência ambiental e da necessidade de equilíbrio entre as ações humanas e o meio
ambiente (Camargo, 2003).

Segundo o autor anterior, no final da década de 1960, ficaram evidenciadas as


limitações do modelo de desenvolvimento adotado como a incapacidade de atender às
necessidades humanas de forma completa e por provocar a devastação dos recursos
naturais, base de sua produção.

O desenvolvimento tradicional usa os recursos humanos, financeiros, naturais e a


infra-estrutura, objetivando o lucro gerador do progresso. Esse desenvolvimento é
questionável por atender parcialmente as necessidades humanas e destruir sua base de
recurso (Camargo, 2003).

Para Guimarães (2003), o atual modelo de desenvolvimento, na verdade, gera o


subdesenvolvimento, além de fortes impactos socioambientais, da massificação cultural, da
sociedade de consumo e do tecnocentrismo.
Capítulo 3 – Conscientização Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 12

Fica, assim, evidenciado que a questão ambiental pode ser um fator limitante para o
desenvolvimento econômico e agravante das questões sociais. Segundo Camargo (2003), a
crise ambiental é complexa e representa apenas uma das facetas de uma crise mais geral da
sociedade humana, que incorpora também as dimensões econômicas, sociais, políticas e
culturais.

A ligação entre o elevado padrão de consumo e a questão socioambiental é


apresentada por Seiffert (2005), afirmando que uma parte relativamente grande da
degradação ambiental dos países subdesenvolvidos é decorrente do padrão de consumo dos
países desenvolvidos. Essa situação propiciou o surgimento de pressões por parte da
comunidade internacional, através de conferências e tratados, aos governos locais, como
forma de solução. Além disso, as pressões têm sido feitas por organizações não
governamentais (ONGs), ambientalistas e pela própria comunidade.

As questões sociais são afetadas pelo desequilíbrio entre as dimensões econômicas


e ambientais. Camargo (2003) afirma que a desigualdade na distribuição da riqueza e do
consumo gera um grave problema social e global. Ressalta também que, enquanto a
pobreza produz apenas algumas pressões ambientais, os elevados e insustentáveis padrões
de consumo e produção, principalmente dos países industrializados, causam a degradação
ambiental, o agravamento de desequilíbrio e da pobreza.

Com o processo da globalização, o desenvolvimentismo foi difundido no Terceiro


Mundo, sendo criticado pelo caráter desigual. Dessa forma, a crítica era à desigualdade,
que só seria superada com mais desenvolvimento, gerando o ciclo vicioso: exploração de
recursos naturais – desenvolvimento para poucos – busca de igualdade através de mais
desenvolvimento. Tal modelo desconsidera os limites da natureza e a importância da
diversidade da natureza humana (Porto-Gonçalves, 2004).

Os resultados positivos da globalização são questionados por Sachs (1993), com a


afirmação de que as situações econômica e social dos países do Sul e do Leste pioraram,
sobretudo na década de 1980 (que pode ser considerada de grave deterioração),
demonstrando que os países menos desenvolvidos foram mais prejudicados que
Capítulo 3 – Conscientização Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 13

beneficiados com a globalização da economia, aumentando a dependência de mercados dos


quais não têm controle.

Conseqüentemente, as perspectivas quanto ao meio ambiente são diferenciadas


entre os países dos hemisférios Norte e Sul. Camargo (2003) afirma que degradação e
poluição ambientais são globais, porém para os países do Norte estão associadas à
industrialização e, para os em desenvolvimento, à pobreza, ao crescimento populacional e
à desertificação. Essa mesma abordagem é feita por Sachs (1993), quando afirma que o
Norte se preocupa com riscos ambientais globais e responsabilidades compartilhadas para
seu enfrentamento. O Sul, com o desenvolvimento e imposições sob o pretexto da
degradação ambiental.

Ressaltando a insustentabilidade produtiva, Leff (2001) afirma que a produção,


orientada para a maximização dos lucros e excedentes econômicos em curto prazo, gerou o
processo de contaminação dos solos, recursos hídricos e da atmosfera; desmatamento e
desertificação; perda de fertilidade e produtividade dos ecossistemas; destruição de valores
culturais; e desmotivação da produção técnico-científica.

Resumindo os fatores que tornam a civilização contemporânea insustentável, a


médio e longo prazo, Camargo (2003) enumera-os como crescimento populacional
acelerado; depredação da base de recursos naturais, através de sistemas produtivos que
utilizam tecnologias poluentes e de baixa eficácia energética; e sistema de valores que
propicia a expansão ilimitada do consumo material.

Outro fator propulsionador da insustentabilidade é a urbanização excessiva nos


países desenvolvidos e em desenvolvimento. Sachs (1993) afirma que a explosão urbana é
uma das características mais importantes da nossa época, sendo sua população pobre a
principal vítima da destruição ambiental, pois está sujeita à poluição da pobreza e é
originada pelo alto nível de consumo da população urbana. Daí a necessidade de
estratégias pró-ativas e inovadoras para o desenvolvimento urbano que se baseiem nos
princípios da eqüidade social, prudência ecológica e eficiência urbana.
Capítulo 3 – Conscientização Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 14

Verifica-se que, apesar do crescente conhecimento que vem sendo adquirido a


respeito da interligação entre o homem e a natureza, a idéia que ainda predomina e que
orienta a ação humana é a da dominação e do uso de poder ilimitado do homem sobre a
natureza (Camargo, 2003).

A exploração excessiva dos recursos naturais tem provocado crise ambiental,


econômica e social, confirmando que o modelo de desenvolvimento adotado tem se
mostrado insustentável. Urge, então, a necessidade de aprofundamento de um novo modelo
que viabilize a existência digna e equilibrada de todos os seres na Terra.

3.2 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Com a tomada de consciência dos efeitos ambientais e sociais negativos,


decorrentes das atividades humanas, apresenta-se, como alternativa de mudança de rumo, o
desenvolvimento sustentável.

Na década de 1970, surgiram os primeiros movimentos ambientalistas e a


preocupação ambiental pelos governos e partidos, bem como as atividades de
regulamentação e controle ambientais. Foi divulgado o primeiro relatório do Clube de
Roma (1972), The limits to growth (Os limites do crescimento), apresentando um alerta
para a necessidade de mudança de hábitos da humanidade diante da provocação de
escassez de recursos naturais. Esse período foi fortemente marcado pela Conferência das
Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, celebrada em Estocolmo em 1972, onde se
evidenciaram os problemas da pobreza e do crescimento da população e foram elaboradas
metas ambientais e sociais direcionadas para os países em desenvolvimento (Camargo,
2003).

Um dos pontos marcantes da Conferência de Estocolmo foi a recusa dos países em


desenvolvimento ao crescimento zero, proposto pelo Clube de Roma. Na visão dominante,
os problemas da miséria enfrentados por esses países seriam vencidos através do
desenvolvimento, baseando-se nos moldes dos países do Norte.
Capítulo 3 – Conscientização Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 15

Essa Conferência apontou para a desconstrução do paradigma econômico da


modernidade e para a construção de futuros possíveis, baseados nos limites da natureza,
nos potenciais ecológicos, na produção de sentidos sociais e na criatividade humana, com o
desenvolvimento das estratégias do ecodesenvolvimento (Leff, 2001).

Em 1973, o primeiro diretor executivo do Conselho de Administração do Programa


das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Maurice Strong, utilizou pela primeira vez o
termo ecodesenvolvimento, para caracterizar uma alternativa de desenvolvimento
ecologicamente orientado, que mais tarde foi rebatizado como desenvolvimento
sustentável (Camargo, 2003).

Ainda conforme o autor, em 1987, foi elaborado o documento Nosso Futuro


Comum ou Relatório Brundtland, pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente, com o
objetivo de avaliar os problemas ambientais e do desenvolvimento do planeta e propor
ações realistas para solucioná-los. O relatório apresenta os resultados positivos e negativos
alcançados, porém não apresenta questionamentos ao modelo econômico vigente.

Nesse Relatório também foi proposto o conceito de desenvolvimento sustentável


como sendo a forma de desenvolvimento que “atende às necessidades da geração presente
sem comprometer a habilidade das gerações futuras de atender às suas próprias
necessidades”.

Segundo Sachs (1993), de Founex1 a Estocolmo e ao Relatório Brundtland,


percebe-se a importância de maior crescimento econômico, de forma a atender às
necessidades de distribuição mais justa da renda, baseado na conservação dos recursos e
uso de técnicas limpas de produção.

Em 1992, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, também conhecida como CNUMAD, Rio-92 ou Eco-
92, onde foram estabelecidas pela primeira vez as bases para alcançar o desenvolvimento
sustentável em escala global, resultando nos seguintes documentos oficiais: Declaração do
1
Trata-se do Encontro de Founex, realizado em junho de 1971, que fez parte do processo de preparação para
Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972.
Capítulo 3 – Conscientização Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 16

Rio de Janeiro sobre o meio ambiente e o desenvolvimento; Convenção sobre mudanças


climáticas; Declaração de princípios sobre florestas; e Agenda 21, considerada um dos
resultados mais importantes (Camargo, 2003).

Segundo o autor, a Agenda 21 trata da agenda de trabalho para o século XXI, com
definição de metas a serem alcançadas nas próximas décadas, de forma a enfrentar os
problemas identificados como prioritários, sendo um plano de intenções cuja
implementação depende da vontade política dos governantes e da mobilização da
sociedade.

Apesar da crítica à Agenda 21 pelos mais céticos quanto às possibilidades de sua


implementação em curto prazo, principalmente pelo caráter não obrigatório e o não
encaminhamento dos recursos financeiros, Sachs (1993) a considera um marco conceitual
abrangente, que visa estimular a imaginação social no desdobramento das Agendas 21 em
nível local. Além disso, é considerada um instrumento poderoso para que todos os agentes
sociais do desenvolvimento, não apenas o governo, planejem estratégias e ações locais de
transição para o desenvolvimento sustentável, agindo localmente com pensamento global.

Os posicionamentos diferenciados entre os países ficaram evidentes durante a Rio-


92 com a negação dos Estados Unidos em assinar a Convenção da biodiversidade e com o
descumprimento do acordo de diminuição de emissão de gases provenientes da queima de
combustíveis fósseis. O comprometimento das nações com a diminuição de emissão de
gases vem sendo feito desde a Rio-92, tendo sido negociado três vezes - no Japão (Kyoto,
em 1997), na Argentina (Buenos Aires, em 1998) e na Holanda (Haia, em 2000) - e seus
resultados efetivos não foram alcançados (Camargo, 2003).

Fazendo uma retrospectiva do conceito de desenvolvimento sustentável e da


contribuição da Eco-92 para seu fortalecimento, Sachs (1993) relata que o elo indissolúvel
entre desenvolvimento e meio ambiente resultou no conceito de ecodesenvolvimento ou
desenvolvimento sustentável, que vem sendo discutido desde a Conferência de Estocolmo,
em 1972, prosseguindo no âmbito da ONU (Organização das Nações Unidas) com o
Relatório Brundtland. Nos 20 anos subseqüentes, movimentos civis produziram avanços
conceituais e tentativas da prática do ecodesenvolvimento, através do uso de caminhos
Capítulo 3 – Conscientização Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 17

alternativos de desenvolvimento e da democracia participativa. Enfim, a Rio-92 conseguiu


recolocar a questão do desenvolvimento e o impasse Norte-Sul no topo das prioridades
internacionais.
No mesmo sentido, Leff (2000) afirma que o discurso do desenvolvimento
sustentável foi legitimado, oficializado e difundido na Rio-92, buscando uma política
global que possa dissolver as contradições entre meio ambiente e desenvolvimento.

Como resposta do setor produtivo à questão ambiental, surge também na década de


1990, a gestão ambiental nas empresas, com a elaboração da série de normas pela
International Organization for Standardization, ISO 14000 (Camargo, 2003).

Para Sachs (1993), o planejamento do desenvolvimento deve considerar as cinco


dimensões de sustentabilidade:

 Sustentabilidade social, com o objetivo de proporcionar uma civilização do


“ser” e com melhor distribuição de renda, reduzindo a diferença entre ricos
e pobres e abrangendo as necessidades materiais e não materiais.

 Sustentabilidade econômica, possibilitada por uma gestão eficiente dos


recursos, superando o ônus da dívida do Sul, barreiras protecionistas
existentes nos países industrializados e a limitação de acesso à ciência e
tecnologia ao Sul. A eficiência econômica deve ser avaliada em termos
macrossociais, em detrimento da lucratividade microempresarial.

 Sustentabilidade ecológica, baseada pelo uso de recursos com um mínimo


de dano aos sistemas de sustentação da vida; limitação de uso de recursos
facilmente esgotáveis; redução do volume da geração de resíduos e
poluição, por meio da conservação e reciclagem de energia e recursos;
limitação do consumo por países mais ricos; aumento da pesquisa em
tecnologias limpas a serem utilizadas no âmbito urbano, rural e industrial;
definição de regras para a proteção ambiental e todo seu arcabouço
institucional, legal e fiscalizador.
Capítulo 3 – Conscientização Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 18

 Sustentabilidade espacial, com uma distribuição mais equilibrada da


população no meio rural e urbano e uma melhor distribuição territorial
residencial e de atividades econômicas.

 Sustentabilidade cultural, baseada na busca de soluções particulares que


respeitem as especificidades de cada região, cada ecossistema e cada
cultura.

A discussão a respeito do desenvolvimento sustentável levou à reavaliação das


teorias de desenvolvimento, resultando na percepção da necessidade de uma perspectiva
multidimensional, envolvendo economia, ecologia e política simultaneamente, ainda em
construção (Seiffert, 2005).

O modelo econômico adotado suscita conflitos na perspectiva social entre


crescimento e distribuição e na perspectiva ambiental entre conservação e
desenvolvimento. A crise ambiental questiona, assim, os paradigmas da economia que
tentam internalizar a dimensão ambiental e os custos ecológicos (Leff, 2000).

Segundo Braga et al. (2005), as ações de consumidores ou produtores, que resultam


em custos (ou benefícios) que não são contabilizados em valor de mercado, são
consideradas externalidades. Ou seja, as conseqüências sociais e ambientais resultantes da
poluição gerada por uma empresa, que não são incluídas no preço do produto, são
exemplos de externalidades negativas, concluindo que, se a empresa não for obrigada a
responsabilizar-se pela poluição, ela é gratuita.

Leff (2000) ressalta, contudo, que não existem níveis de investimento que consigam
regenerar ecossistemas com elevado grau de degradação e nem quantificar o custo para o
restabelecimento de certos valores e identidades culturais.

Leff (2001) acrescenta que o discurso do crescimento econômico orientado pelo


livre comércio não tem propósito, uma vez que o mercado não tem capacidade de dar o
justo valor à natureza e à cultura, nem de internalizar as externalidades ambientais e
Capítulo 3 – Conscientização Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 19

dissolver as desigualdades sociais, além de ser bastante questionável a possibilidade da


sustentabilidade do capitalismo, regime baseado no irresistível impulso para o crescimento.

Nesse sentido, a economia apresenta duas correntes de interpretação: economia


ambiental e economia ecológica. A primeira, também conhecida como neoclássica,
pressupõe que o sistema econômico pode internalizar os custos ecológicos (internalização
das externalidades ambientais) e as preferências das gerações futuras, através da atribuição
de direitos de propriedade e do estabelecimento de preços de mercado aos recursos
ambientais, como se fossem infinitos. A economia ecológica contribuiu para desmascarar a
pretensão da primeira em valorizar a natureza como capital e aborda os processos
econômicos e ecológicos como dois sistemas interdependentes, através do balanço de
massa e energia do processo produtivo. Porém, mesmo na segunda corrente apresentada,
não se consegue fundamentar a produção sobre novas bases (Leff, 2000).

Conforme o autor, para se alcançar resultados mais comprometidos que a simples


maquiagem verde da economia, o ambientalismo está gerando novas teorias e valores para
a construção de uma racionalidade produtiva, baseada nas potencialidades da natureza e da
cultura.

O aprofundamento da compreensão do que vem a ser o desenvolvimento


sustentável, suas dimensões, forma de aplicação e entraves globais à sua concretização é
fundamental para a aplicação de políticas e ações coletivas e individuais que viabilizem
sua conquista (Camargo, 2003).

A eficácia da aplicação do desenvolvimento sustentável no modelo econômico


ecológico depende da elaboração e aplicação de políticas e instrumentos ambientais e de
ações efetivas por parte do Estado e de empresas, universidades, instituições, ONGs
(Organização Não-Governamental), enfim, de todos os cidadãos.

Na prática, a preocupação constante tem sido com a elaboração de políticas que


permitam a conciliação entre as atividades econômicas e a conservação do meio ambiente,
mesmo que pareçam categorias incompatíveis (Seiffert, 2005).
Capítulo 3 – Conscientização Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 20

A conciliação entre os imperativos sociais, econômicos e ambientais vem sendo


obtida, ainda que parcialmente, através da contribuição da regulamentação ambiental,
criada para impedir o desenvolvimento a qualquer custo e para motivar a reflexão de qual
deve ser o caráter do desenvolvimento a ser adotado. Outro caminho que também pode
contribuir é a perspectiva estratégica do planejamento (Seiffert, 2005).

O modelo do desenvolvimento sustentável requer a implementação da reciclagem,


reuso de recursos, restauração do meio ambiente e revisão do comportamento de consumo
da sociedade. Para isso, necessita-se encontrar o ponto de equilíbrio entre objetivos
conflitantes como o aumento do conforto individual e a conservação ambiental, sendo
imprescindível, portanto, a caracterização do que a sociedade pretende como qualidade de
vida (Braga et al., 2005).

Segundo Sachs (1993), alguns princípios precisam ser implementados, como a


eliminação de desperdício que libera recursos para o desenvolvimento; crescimento através
do aumento da produtividade dos recursos; desenvolvimento qualitativo com o uso
eficiente de recursos, da reciclagem e da redução de resíduos.

A ecoeficiência deve ser buscada através de ações preventivas como a implantação


de sistema de gestão ambiental, certificação ambiental, análise do ciclo de vida e processos
de produção mais limpa (Almeida, 2002).

Para Seiffert (2005), o desenvolvimento sustentável será alcançado pelo setor


industrial através do desenvolvimento de processos e produtos ambientalmente corretos e
limpos, de esforços de pesquisa e desenvolvimento, bem como da difusão desse
conhecimento.

De forma mais ampla, a economia mundial precisa ser reestruturada de maneira a


propiciar uma transferência de recursos e técnicas do Norte para o Sul, além do esforço
para adequação da educação, da ciência e tecnologia e disseminação de informações.
Partindo para soluções operacionais, é necessário desenvolver ações que viabilizem retirar
1,5 bilhão de pessoas abaixo da linha de pobreza, de acordo com as potencialidades e
cultura locais. Os obstáculos para se alcançar tal meta são, normalmente, de ordem política
Capítulo 3 – Conscientização Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 21

e institucional, uma vez que só se encontram restrições ecológicas absolutas em áreas


densamente povoadas (Sachs, 1993).

Todas as ações descritas são importantes no caminho da busca do desenvolvimento


sustentável. Porém, Camargo (2003) afirma que os entraves ao desenvolvimento
sustentável global estão interligados e variam de relevância de acordo com as diferentes
regiões, podendo ser agrupados em culturais, científicos, político-econômicos, sociais,
éticos, ideológicos, psicológicos e filosófico-metafísicos.

Apesar da existência de especificidades nos problemas ambientais, os grandes


problemas são globais, necessitando de soluções também globais, que equacionem
diferentes realidades, representando um grande desafio para a efetivação do
desenvolvimento sustentável, uma vez que a ordem internacional possui carências para
lidar com interdependência em escala global (Camargo, 2003).

É importante ressaltar que muitas ações representam uma abordagem superficial do


problema socioambiental, visto que estão apoiadas no modelo econômico vigente, não
conseguindo ultrapassar o paradigma atual, resultando, muitas vezes, na conquista de selo
verde para as empresas aumentarem sua participação no mercado externo.

Com os atuais sinais de insustentabilidade socioambiental em todo o planeta,


constata-se que o século XXI apresenta o desafio da busca de soluções para problemas
mais complexos e profundos, que vêm sendo enfrentados até então de forma a postergar
sua tendência destrutiva. Em contrapartida, o momento apresenta-se propício para uma
nova relação do homem com a natureza e dos seres humanos entre si, caminhando em
direção a um desenvolvimento que integre interesses sociais e econômicos, respeitando os
limites definidos pela natureza (Camargo, 2003).
CAPÍTULO 4

A CONSTRUÇÃO CIVIL E A SUSTENTABILIDADE


Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 23

4 – A CONSTRUÇÃO CIVIL E A SUSTENTABILIDADE

Estudos sobre a sustentabilidade na construção civil brasileira têm sido feitos com
base nas suas dimensões econômica, ambiental e social, sendo também essas as adotadas
para esse texto. As dimensões espacial e cultural são também abordadas indiretamente,
através das outras priorizadas.

Sendo assim, partindo-se das dimensões econômica, ambiental e social, da


sustentabilidade, esse capítulo apresenta a contribuição do setor da construção civil ao
desenvolvimento da sociedade e os indicadores resultantes da sua atuação.

Posteriormente, insere-se a busca da melhoria tecnológica do setor nos programas


de qualidade e produtividade e o surgimento da discussão das questões ambientais,
resultando no conceito de construção sustentável, cujas características e fatores que a
influenciam são descritos, bem como as dificuldades na sua implementação.

4.1 – IMPACTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Historicamente, a indústria da construção civil se desenvolveu através da


exploração de recursos naturais para suprir a necessidade básica de moradia do homem e
vem sendo implementada sem a preocupação com os limites da natureza para o suporte de
suas atividades.

O modelo econômico e industrial adotado nos países em desenvolvimento trouxe


como conseqüência a urbanização das grandes cidades, com aumento populacional e a
concentração de renda em uma pequena camada da população, refletindo-se em problemas
econômicos, sociais e ambientais. Do ponto de vista habitacional, a construção civil
desempenha um importante papel para solucionar o problema da necessidade de
construção de um maior número de unidades residenciais (demanda não atendida),
combatendo a realidade do déficit habitacional e sub-habitações, bem como promovendo a
organização da infraestrutura urbana.
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 24

Para a quantificação e avaliação do movimento da urbanização brasileira, é


importante o conhecimento da taxa de urbanização que, segundo o IBGE (1997), parte de
44,7% nos anos 1960, representando uma população eminentemente agrícola, passando
para 67,6% em 1980 e atingindo um índice elevado de 78,4% entre 1991 e 1996,
resultando em um acréscimo de 12,1 milhões de habitantes urbanos, durante o último
período citado.

Segundo Espinoza et al. (2006), ninguém pode negar a importância e a contribuição


que a indústria da construção realiza em prol da sobrevivência e qualidade de vida dos
seres humanos, com provisão de casas e infraestrutura, proporcionando uma contribuição
vital para o desenvolvimento social e econômico dos países.

Segundo a CBIC (1998), não se pode pensar em desenvolvimento para um país sem
inserir a construção civil, indústria do bem estar da sociedade e da qualidade de vida, já
que produz soluções de urbanismo e edificações, indispensáveis ao bem estar e à evolução
da sociedade.

O setor da construção é um importante indutor do crescimento, pois adquire


matérias-primas de diversos segmentos da economia, ativando outros setores, gerando
emprego e renda e elevando a arrecadação tributária, sendo, portanto, um setor estratégico
para o desenvolvimento socioeconômico do país (CBIC, sd. a).

Sendo assim, vê-se que a construção civil tem um importante papel no


desenvolvimento da sociedade e que sua forma de atuação e as conseqüências da sua
contribuição precisam ser conhecidas e adequadas às dimensões econômica, ambiental e
social, de maneira a torná-la comprometida com a sustentabilidade urbana.

4.1.1 – Impactos econômicos

As informações sobre a dimensão econômica são apresentadas de forma a perceber


a capilaridade da construção civil e dos setores que estão inseridos e ligados a essa
atividade, bem como sua participação na geração de riqueza do país.
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 25

Em 2004, o macrossetor da construção3 participou diretamente com 10,65% do PIB


nacional e com 18,4% deste PIB no conjunto dos efeitos diretos, indiretos e induzidos.
Possui um baixo coeficiente de importação, na ordem de 10,5% de insumos importados, ou
seja, um aumento nas atividades da construção pressiona pouco as importações brasileiras
(CBIC, sd. b).

O setor também apresenta características estratégicas, sendo essencial às políticas


de longo e médio prazo, como atualmente previsto no Programa de Aceleração de
Crescimento (PAC) do Governo Federal com investimentos na ordem de R$ 11,7 bilhões
na malha rodoviária, R$ 6,8 bilhões em energia, R$ 6,0 bilhões no acesso à água e ao
esgoto e R$ 10,2 bilhões na redução do déficit habitacional (Cardoso, 2007).

Um impacto econômico negativo, além do social e ambiental a que estão


associados, refere-se ao dispêndio anual com a coleta e destinação (gestão corretiva) de
RCC (resíduos da construção civil) dispersos pelas cidades que, segundo Pinto (1999),
variam de R$ 0,31/hab a R$ 4,39/hab.

4.1.2 – Impactos sociais

Como impactos sociais da construção civil podem ser citados a informalidade das
empresas e dos profissionais; a invasão de áreas com habitações sem licenciamento,
proporcionando uma vida indigna aos moradores; a realização de trabalhos sem contrato; a
existência de trabalhadores sem capacitação profissional; o trabalho infantil; a contratação
de fornecedores que não pagam tributos ou encargos; o desrespeito às normas técnicas; a
existência da não conformidade intencional (toda não conformidade de material que é
conhecida e não é combatida); e a concorrência desleal (Cardoso, 2007).

3
Segundo estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas, em conjunto com a Câmara Brasileira da
Indústria da Construção, é possível definir toda a complexa cadeia de atividades ligadas à construção,
também chamada de Macrossetor da Construção, formada por indústria associada à construção, construção
civil e serviços associados à construção. (O Macrossetor da Construção – FGV e CBIC – 2002).
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 26

Os empresários da construção apresentaram, em pesquisa realizada pela FGV


(Fundação Getúlio Vargas), os principais problemas enfrentados pelas empresas do setor
como sendo a elevada carga tributária e o alto grau de informalidade. Tal fato pode ser
confirmado através de pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) que mostra que do total de 5,94 milhões de pessoas ocupadas na construção
civil em 2003, 4,2 milhões de trabalhadores, representando aproximadamente 71% da mão-
de-obra ocupada no setor, não contribuíam para o sistema previdenciário e a partir de 65
anos terão direito a um salário mínimo de aposentadoria (Garcia et al., sd).

No ano de 2003, havia no setor da construção 170.803 empresas informais,


compostas por pequenos empregadores e cerca de 118.993 (41%) empresas formais. Essa
discrepância tem reflexos significativos na competitividade e produtividade da construção,
uma vez que a produtividade das atividades formais é 27% mais elevada que a do setor
informal. Outro aspecto importante é que a informalidade atinge diretamente a qualidade
da mão-de-obra, uma vez que o setor formal investe mais em treinamento e equipamento
de segurança, com geração de postos de trabalho de maior qualidade e com salário médio
mais elevado, além de contribuir com o pagamento de tributos (Garcia et al., 2005).

Desse modo, a informalidade constitui-se num sério problema social do setor,


atingindo a competitividade das empresas formais, a dignidade dos trabalhadores e de toda
a sociedade que, de uma forma ou de outra, arcará com os custos da aposentadoria de uma
grande força de trabalho que não contribui para a previdência.

O déficit habitacional, outro impacto social que está ligado à invasão de áreas
urbanas e inadequação de moradias, atingiu o índice de 7,832 milhões de domicílios no
Brasil, em 2005, o que representou um déficit relativo (relação entre a falta de moradia e o
número de domicílios) de 14,7%. Em termos absolutos, o estado de São Paulo é o campeão
com um déficit de mais de 1,5 milhão e, em termos relativos, os valores maiores estão no
Maranhão, Pará, Amazonas e Piauí. A evolução dos dados mostra que o déficit absoluto
vem aumentando no país, surgindo, no período 1993 – 2005, a carência de cerca de 1,6
milhão de habitações (FGV, 2006).
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 27

Analisando o déficit habitacional total brasileiro por faixa de renda, as informações


são que 59,8% do déficit está na faixa de até 2 salários mínimos; 77,2%, para a renda de
até 3 salários mínimos; e 95,2%, para a faixa de até 6 salários mínimos, configurando-se o
problema social da carência de moradia (FGV, 2006).

A capacidade de geração de emprego é uma das características sociais mais


marcantes do setor da construção civil. O macrossetor da construção gerou, em 2003,
12,142 milhões de empregos na economia no total dos efeitos diretos, indiretos e induzidos
e, em 2004, empregou diretamente 6,241 milhões de trabalhadores, contribuindo com uma
carga tributária da ordem de 44,27% do seu PIB (CBIC, sd. b).

Apesar de o setor ser um grande gerador de emprego, o perfil da mão-de-obra


empregada no segmento é basicamente pouco qualificada (baixo nível de escolaridade e de
qualificação), apresentando alta rotatividade e absenteísmo, com predominância de idade
entre 30 a 39 anos, proveniente do mercado rural e com baixo nível de remuneração. Esse
fato se justifica pelo uso ainda intenso de uma produção artesanal no setor (Tavares, 2007).

As características do ambiente de trabalho também não são favoráveis. Em 2005, a


indústria da construção foi responsável por 12,65% do número de acidentes de trabalho
registrados no setor da indústria e 5,89% em relação a todas as atividades econômicas do
Brasil (CBIC, sd. c). Sendo que nesse mesmo ano, o Brasil ficou em 5º lugar no ranking
mundial de acidentes de trabalho na construção civil (CBIC, sd. d).

O setor absorve uma grande quantidade de mão-de-obra pouco qualificada,


exercendo um papel social fundamental num país em desenvolvimento, que disponibiliza
de uma grande quantidade de trabalhadores ativos com baixa instrução e que não seriam
absorvidos em atividades com exigência de maior qualificação (CBIC, 2002).

Verifica-se que a construção civil teve avanços nas questões sociais, principalmente
motivados pelas normas de segurança e dos sistemas de gestão da qualidade, porém muito
ainda se pode fazer para que o desenvolvimento econômico promovido pelo setor tenha
reflexos mais positivos na melhoria de vida dos trabalhadores, o que possibilitará que os
mesmos contribuam com desenvolvimento, qualidade e produtividade desejados pelas
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 28

empresas. Nesse contexto, insere-se a cadeia de impactos sociais gerados pela disposição
inadequada de RCC, tais como a degradação da qualidade de vida urbana em aspectos
como transporte, poluição visual, proliferação de vetores de doenças, etc. (Costa &
Nóbrega, 2007), pouco estudada e com poucas informações.

4.1.3 – Impactos ambientais

Os impactos ambientais acontecem ao longo da cadeia produtiva da construção


civil, como: na ocupação de terras; na extração de matéria-prima e no seu processamento e
produção de elementos e componentes; no transporte dessa matéria-prima e de seus
componentes; no processo construtivo e no produto final; ao longo da vida útil das
edificações, até sua demolição e descarte; com exploração de recursos naturais, consumo
de energia e geração de resíduos (Blumenschein, 2004).

O consumo de recursos não renováveis do setor pode ser apresentado pelos dados
de uso de aproximadamente 2.000 kg de matérias não renováveis por indivíduo, a cada
ano, consumo médio incluindo obras de edificações, estradas e pontes (Moretti, 2005); de
consumo de mais que 50% do total de recursos naturais extraídos (Espinoza et al., 2006); e
de consumo de aproximadamente 40% da energia global (PNUMA apud Gerolla, 2007). A
dimensão desse consumo mostra, com clareza, a importância de introduzir o conceito de
sustentabilidade no setor.

O impacto ambiental proveniente dos insumos da cadeia da construção civil


também é bastante significativo. John (2000) afirma que além da extração da matéria-
prima, a produção dos materiais e o transporte envolvido com essa produção, resultam em
impactos ambientais como poluição do ar e produção de CO2. Um exemplo é o processo
produtivo do cimento que gera o CO2, gás importante no efeito estufa, sendo que a
indústria cimenteira responde sozinha por cerca de 3% das emissões globais e por mais de
6% dos gases de efeito estufa liberados pelo Brasil.

Durante a fase de execução da obra, observa-se a existência de alguns processos


ineficientes, com grande geração de resíduos. Essa situação é descrita por John (2001)
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 29

quando ressalta que a indústria da construção civil usa abusivamente de matérias-primas


naturais como agregados, originando uma enorme quantidade de resíduos oriundos dos
processos de construção e demolição.

Dessa forma, estudos mostram que, em cidades brasileiras pesquisadas, a


participação em massa dos resíduos de construção civil representa o percentual de 41% a
70% do total dos resíduos sólidos urbanos, sendo que seu impacto acontece mais pelo
excessivo volume gerado que pela sua periculosidade (Pinto, 1999).

O problema da destinação de RCC é apresentado por Pinto (1999, p. 2) quando


descreve que “os resíduos das atividades construtivas são gerados em expressivos volumes,
não recebem solução adequada, impactam o ambiente urbano e constituem local propício à
proliferação de vetores de doenças”.

É importante destacar a quantidade significativa de autores atuais que relatam os


mais diversos e graves impactos ambientais da cadeia da construção civil, demonstrando
que os problemas já estão, de certa forma, conhecidos e que é necessário partir para a
solução dos mesmos, o que não será tarefa fácil, mas fundamental para a sustentabilidade
do setor produtivo e de toda a sociedade. Pela dimensão da participação do setor na
economia do país, aquilata-se sua responsabilidade para a solução dos problemas que são
gerados por sua atuação.

4.2 – PROCESSO CONTÍNUO PARA A SUSTENTABILIDADE

4.2.1 – Busca da melhoria tecnológica

A inserção de princípios da sustentabilidade no setor da construção civil vem


acontecendo como resposta do setor aos anseios, necessidades e cobranças da sociedade
organizada e do setor público, através do uso do poder de compra e de políticas públicas.
Inicialmente, esse processo aconteceu motivado pela necessidade de aprimoramento da
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 30

visão econômica e gerencial, já que a lucratividade das empresas passou a ser ameaçada
pelos altos índices de desperdício que eram embutidos no preço de venda do produto final.

Na verdade, o combate ao desperdício apresenta-se como uma ação com resultados


econômicos e ambientais, pois atende ao princípio de realizar “mais com menos”, ou seja,
executar mais serviços, consumindo menor quantidade de recursos (mão-de-obra, matéria-
prima, energia e água).

Historicamente, o setor de construção de edifícios residenciais no Brasil tem


apresentado um lento desenvolvimento tecnológico em comparação aos outros setores
industriais, respaldado nas características como baixa produtividade e elevados índices de
desperdício de material e de mão-de-obra. Até os anos 1980, essa realidade não
comprometia a lucratividade do setor, já que as altas taxas de inflação se encarregavam da
valorização imobiliária do produto final, independentemente da ineficiência do processo
produtivo. A partir da década de 1990, com o fim dessas taxas, os efeitos da globalização
da economia, redução de financiamento, retração do mercado consumidor e aumento da
competitividade, as empresas construtoras começam a procurar viabilizar as margens de
lucro a partir da redução de custos, do aumento da produtividade e da busca de soluções
tecnológicas e de gerenciamento da produção, aumentando o grau de industrialização do
processo produtivo (Cardoso et al., 2002).

A abertura do mercado nacional, a criação do Mercosul, a necessidade das


empresas se adequarem a preços de mercado, o aumento de exigência de clientes em
relação à qualidade da obra, o Código de Defesa do Consumidor de março de 1991, além
do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade podem ser citados como fatores
indutores da competitividade que transformaram o cenário produtivo e econômico do país.
Diante dessa realidade, um novo desafio foi delineado para as empresas construtoras de
forma a se manterem em um mercado mais exigente (Souza et al., 1995).

Nesse sentido, o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade na Construção


Habitacional – PBQP-H foi instituído em dezembro de 1998, aproximando os conceitos de
qualidade, gestão e organização da produção ao setor da construção civil. Em 2000, seu
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 31

escopo foi ampliado e o “H” passou a ser de Habitat, inserindo as áreas de saneamento e
infra-estrutura (Ministério das Cidades, 2007).

A meta do PBQP-H é “organizar o setor da construção civil em torno de duas


questões principais: a melhoria da qualidade do habitat e a modernização produtiva” e tal
tarefa está baseada na estruturação e atuação articulada através de parceria entre agentes
públicos e privados como representantes dos segmentos da cadeia produtiva (construtores,
projetistas, fornecedores, fabricantes de materiais e componentes, bem como a comunidade
acadêmica e entidades de normalização) (Ministério das Cidades, 2007).

De acordo com informações do Ministério das Cidades (2007), atualmente, o


Programa conta com 1398 construtoras com certificados vigentes pelo SiAC (Sistema de
Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil), sendo
923 com o nível A.

Houve avanços também na qualidade de materiais e componentes da construção


civil, com o desenvolvimento de vinte e cinco Programas Setoriais de Qualidade (PSQ),
sendo que alguns materiais da cesta básica da construção já superam o percentual de 90%
de conformidade, além da influência sobre a revisão e edição de normas técnicas
(Ministério das Cidades, 2007).

A contribuição dos “Programas Setoriais da Qualidade” baseados em sistema de


gestão da qualidade (SGQ) é afirmada por Cardoso (2006a) que considera que os mesmos
vêm, há mais de dez anos, respaldando o aumento da competitividade das empresas do
setor da construção civil, com a participação do Estado como cliente e agente regulador,
exigindo a implantação de SGQ na relação de contratação, dando garantia da qualidade dos
produtos e serviços fornecidos.

Com relação ao processo de implantação de SGQ em construtoras, as principais


dificuldades relatadas são resistência às mudanças por parte dos recursos humanos e
pioneirismo na implantação e, na fase de manutenção, alta rotatividade da mão-de-obra e
conseqüente necessidade contínua de treinamento, alto custo de manutenção de SGQ e
relaxamento dos envolvidos, após a conquista da certificação (Santana & Carpinetti, 2006),
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 32

além de controle de documentação e treinamento da mão-de-obra com baixa escolaridade e


com alto índice de rotatividade (Mendes & Picchi, 2005).

Quanto às dificuldades relativas aos custos de implantação e manutenção de um


SGQ, Mendes et al. (2006) confirmam os resultados apresentados em outras pesquisas de
que os mesmos são elevados, porém quando é feita uma análise financeira de um
empreendimento, na qual estão incluídos os ganhos (diminuição de não-conformidades e
retrabalhos) que um SGQ implantado e em uso pode trazer, calcula-se uma economia de
4,9% no valor original da obra.

Os benefícios identificados com a implantação do SGQ são realização de registro e


possibilidade de disseminação do conhecimento, melhoria contínua e melhor
aproveitamento dos recursos, controle de materiais e equipamentos e execução dos
serviços, diminuição de custos através da diminuição do índice de retrabalho (Santana &
Carpinetti, 2006), melhoria da comunicação entre escritório e obra, melhoria do controle
de materiais e serviços, aumentando a produtividade da mão-de-obra, não sendo citadas
mudanças referentes à visão sistêmica e satisfação do cliente (Mendes & Picchi, 2005).

Entretanto, Figueiredo & Andery (2007) advertem que a adoção de um SGQ não é
suficiente para garantir que a construtora resolva todos os seus problemas. É necessário
que seja dada a devida importância à continuidade e ao acompanhamento dos processos,
através do envolvimento da direção da empresa e da motivação e participação dos
colaboradores nas metas globais, sendo esse o caminho mais seguro para que o SGQ
alcance os resultados pretendidos.

Enfim, é inegável a contribuição do PBQP-H para o incremento tecnológico e


gerencial do setor da construção civil, com ações ligadas aos programas de adequação de
materiais às normas técnicas, à exigência de implantação e certificação de SGQ em
empresas construtoras e, principalmente, pela conquista de um ambiente onde vários atores
que possuem realidades, objetivos e princípios distintos exercitam, através do consenso, a
realização de uma gestão compartilhada.
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 33

4.2.2 – Consciência ambiental do setor da construção civil

Além do combate ao desperdício, o sistema da qualidade traz no seu escopo


preocupações com a satisfação do cliente, planejamento, qualidade do material utilizado,
do serviço executado e do produto final, destinação de resíduos gerados no canteiro,
adequação ao uso, desempenho e durabilidade da edificação. Todos esses conceitos se
enquadram na melhoria ambiental do setor, uma vez que diminuem o consumo de recursos
naturais e a geração de resíduos.

Em entrevista a Moura (2007), o Ministro das Cidades, Márcio Fortes de Almeida,


ressalta que a pior forma de desperdício é a falta de qualidade dos materiais, que vem
sendo minimizada através dos PSQs (Programas Setoriais da Qualidade) do PBQP-H, que
monitoram o cumprimento das normas técnicas de produção dos materiais de construção.
Um exemplo a ser citado é o PSQ das bacias sanitárias, com redução de 40% no consumo
de cada aparelho e diminuição de até 15% no consumo diário de água por habitação. Outra
ação do programa é a implementação do uso racional da água em edifícios, através do
aumento da conformidade de metais sanitários no que se refere à estanqueidade e dispersão
do jato de torneiras e registros, possibilitando reduzir perdas de água por vazamento,
correspondentes a até 15% da demanda de água por habitação.

Não se pode constatar que o setor da construção civil possui uma consciência
ambiental. O que se percebe é a busca de tecnologia mais limpa ou de ecoeficiência que
diminua os custos e atenda às exigências legais e dos clientes, sendo que o ganho
ambiental é uma conseqüência dessas ações. Nesse sentido, o despertar da questão
ambiental está bem próximo ao uso de novas tecnologias, às discussões mundiais e
nacionais sobre meio ambiente, à internalização das externalidades, à aplicação de
legislações ambientais e à conscientização da sociedade, sendo o setor quase que obrigado
a se posicionar em resposta a todos esses estímulos e exigências.

Essa mesma idéia é apresentada por Costa & Nóbrega (2007) quando afirmam que
a preocupação maior das empresas construtoras em reduzir a quantidade de resíduos é
diminuir os desperdícios com materiais, reduzindo seus gastos na obra. Essas empresas não
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 34

colocam a questão ambiental como uma prioridade e sim uma conseqüência, pois
reduzindo os resíduos, os benefícios ambientais são obtidos.

A partir da ECO-92, governos, empresas e sociedade civil começaram a se


preocupar com instrumentos que levassem em conta as dimensões ambientais e sociais do
desenvolvimento sustentável, ganhando maior impulso a partir de 2000, com pressões
também sobre o setor da construção civil (Souza, 2007).

O desafio do desenvolvimento sustentável referendado na Agenda 21 estabelece um


pacto de mudanças no padrão de desenvolvimento e na preservação do meio ambiente e,
igualmente, na substituição dos velhos padrões de crescimento econômico (Daltro Filho
et al., 2005).

O ambiente construído tem sido produzido sob a trajetória tecnológica


fundamentada na lógica capitalista, onde a natureza apresenta-se como um meio de
produção de riquezas. Porém, pelo tamanho e número de materiais que se processam e
aplicam na cadeia da construção civil, sua interferência no meio ambiente tem sido muito
significativa, obrigando a mudança do enfoque tradicional (custo, qualidade e tempo) para
um novo paradigma e contexto, passando a considerar a relevância de fatores ambientais
(Blumenschein, 2004).

Estudos recentes mostram os prejuízos causados à natureza que estão associados à


indústria de materiais e componentes de construção (cimento, brita, aço, alumínio, cobre,
latão, vidro, componentes cerâmicos – tradicionais constituintes da cesta básica da
construção), apesar disso, admite-se que esses produtos ainda não possuem substitutos e
que provavelmente seu uso ainda deve se prolongar por muito tempo. Daí a importância de
pesquisas que possam encaminhar ações responsáveis e balizadas de médio e longo prazos
(Farah & Vittorino, 2006).

No que se refere à energia, o Ministério de Minas e Energia está concedendo selos


de Eficiência Energética aos edifícios públicos e de escritórios que reduzam seus gastos
com eletricidade, sendo que, previa-se até o final de 2007, a concessão dos selos também
para os edifícios residenciais (Moura, 2007).
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 35

No campo da legislação ambiental, a Resolução CONAMA 307, de 5 de julho de


2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da
construção civil, pode ser considerada como introdutora da consciência ecológica e
disciplinamento da construção civil, objetivando atingir níveis mais baixos de poluição e
desperdício (Faria et al., 2007).

Segundo John (apud Loturco, 2006), a questão ambiental e de sustentabilidade pode


ser vista como uma estratégia empresarial, assim como ocorreu com a qualidade. O setor
pode resistir ou torná-la uma vantagem competitiva, visto que é uma tendência mundial.

4.2.3 – Necessidade de incorporação da visão sustentável

A realidade da associação dos problemas ambientais e sociais em países em


desenvolvimento como o Brasil reflete-se também na produção e atuação do setor da
construção civil, de forma que a incorporação da visão sustentável nesse setor tende a se
tornar uma necessidade urgente, com caminhos ainda incertos a serem percorridos e
ajustados.

A insustentabilidade da construção civil convencional pode ser constatada nos


desenhos, materiais, construção, reforma e demolição de edifícios, afetando diretamente a
saúde e o ambiente da nação e do mundo; na ineficácia no manejo de energia e dos
resíduos que destróem os recursos limitados, conduzem a uma contaminação excessiva e
diminuem a produtividade dos trabalhadores, concluindo-se que os edifícios atuais estão
fora de contexto, tanto na salubridade como em sustentabilidade ambiental (Espinoza et al.,
2006).

Ainda, segundo os autores citados anteriormente, esse quadro leva a um processo


de reflexão sobre o passado e o futuro diante da crise ambiental e da urgente necessidade
de desenvolvimento de ações de conservação energética e recursos naturais. É importante
desenvolver novas atitudes e projetos que valorizem os vínculos entre o homem, a
sociedade, suas necessidades e o ambiente.
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 36

A dimensão social da sustentabilidade pode ser expressa no campo da construção


sustentável como a inclusão da melhoria da qualidade de vida para toda a população, que
pode ser buscada através de soluções inovadoras de alternativas tecnológicas que aliem
baixo custo a baixo impacto ambiental (John et al., 2001).

Segundo Schneider et al. (2007), a adequação da construção civil à sustentabilidade


é de grande importância para a sociedade, uma vez que não há desenvolvimento
sustentável sem construção sustentável que lhe dê suporte.

De acordo com Cardoso (2007), no período de 1995 – 2007 o desafio da qualidade


foi vencido, sendo a partir de agora proposto o desafio da sustentabilidade do setor, que
necessitará de sinergismo e combinação de visões para a solução de um problema
sistêmico.

A visão pouco sistêmica sobre sustentabilidade de edifícios no Brasil tem


produzido algumas medidas pontuais que favorecem a condição ambiental do
empreendimento, no entanto o processo geral da produção do edifício continua envolvendo
enormes prejuízos acumulados à natureza, como degradação de áreas, às vezes distantes do
local da obra ou nas suas proximidades, gasto de energia e transporte para a produção dos
materiais, lançamento de efluentes danosos, além de utilização predatória de mão-de-obra
(Farah & Vittorino, 2006).

Para se promover uma releitura da construção, parece possível usar a mesma


estrutura do PBQP-H, que agrega representantes de diferentes associações industriais,
profissionais e acadêmicas e sintetiza a busca coletiva de soluções de problemas de uma
forma abrangente. Inicialmente, seria estabelecida uma agenda global para o setor, sendo,
em seguida, elaborados planos setoriais ambientais (à semelhança dos PSQs) para os
diversos setores, com metas e ações ambientais específicas (John et al., 2001).
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 37

4.3 – CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

Considerando a trajetória da sustentabilidade no setor da construção civil sendo


efetivada pelas fases da busca da melhoria tecnológica, através de sistema de gestão da
qualidade e embasada no PBQP-H, obtém-se ganhos ambientais que passam a ser cada vez
mais exigidos pelo mercado e pelas políticas públicas. Isso culmina com a necessidade de
avanço para a sustentabilidade do setor, como viabilidade para uma sociedade sustentável e
que deságua no conceito de construção sustentável, bastante debatido na atualidade. Para
embasamento do objetivo desse trabalho, a discussão sobre construção sustentável será
dirigida para o subsetor de edificação residencial.

A sustentabilidade de um empreendimento é medida pela relação de equilíbrio entre


as soluções para melhoria social, ambiental e econômica (Carvalho, 2007). O conceito de
edifício sustentável se aplica ao total do ciclo de vida de uma edificação, incluindo o
desenho, sua localização, a construção, a operação, a manutenção, as renovações, a
demolição, a gestão dos resíduos e a disposição final. Sendo que construções sustentáveis
incluem edifícios residenciais, comerciais e industriais que se desenham, constroem,
renovam e demolem de uma maneira responsável ambientalmente. Esse tipo de construção
exibe um alto nível de performance ambiental, econômico e de engenharia. Suas
características mais importantes são eficiência e conservação de energia, qualidade do ar
interior e eficiência no uso de recursos e materiais. Diante do estágio atual do setor,
conclui-se que para se cumprir todas essas exigências, é necessário promover a
transformação do mercado imobiliário (Espinoza et al., 2006).

Figueiredo (2007) define um empreendimento sustentável como o que,


harmonizado com o meio ambiente e a comunidade de sua influência, proporciona maior
retorno para seus investidores e proprietários e a melhoria da qualidade de vida, saúde,
bem-estar e produtividade para seus ocupantes.

Para Ceotto (2006), a construção sustentável precisa atender às necessidades dos


usuários; ser economicamente viável para seus investidores; e ser produzida com técnicas
que reduzam o trabalho degradante e inseguro feito pelo homem. Para que o setor produza
mais e melhor com menos é necessário reduzir o consumo de materiais e de energia na
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 38

produção de bens e serviços; reduzir a emissão de substâncias tóxicas, principalmente o


gás carbônico; intensificar o uso de materiais reciclados; maximizar o uso de recursos
renováveis; e prolongar a vida útil dos produtos.

A Análise do Ciclo de Vida (ACV) de um produto permite identificar os impactos


causados ao longo de todo o processo de vida de um produto, desde a extração da matéria-
prima, incluindo aquisição desse insumo, até a fabricação de materiais manufaturados e de
produtos, armazenamento, empacotamento, distribuição, uso, reuso, manutenção,
demolição, reciclagem e gestão de resíduo (Blumenschein, 2004).

A sustentabilidade do edifício abrange duas principais vertentes de questões: as


físicas e as situadas no plano das idéias, das informações. As físicas estão ligadas às etapas
de extração e beneficiamento de matérias-primas; transporte de matérias-primas;
fabricação de materiais e componentes; transporte de materiais e componentes; obra; uso;
manutenção; eventual reforma; e demolição. Do ponto de vista das informações, estão
incluídas as fases de elaboração de projeto e planejamento, incluindo o projeto de produção
situado entre o projeto e a obra. Dessa forma, a sustentabilidade da edificação depende da
melhoria da sustentabilidade dos diversos elos da cadeia produtiva. Neste contexto, os
principais impactos se manifestam apenas na parte física do processo, porém é na fase de
informações que se definirão as principais características do edifício quanto à
sustentabilidade. Sendo, portanto, o projeto considerado como instrumento crucial para os
bons resultados (Farah & Vittorino, 2006).

Esse mesmo resultado é apresentado por Ceotto (2006), através de estudo de


percentual de custos por fase de vida útil de um empreendimento e considerando-os
diretamente proporcionais ao impacto ambiental, no qual se conclui que a fase de maior
impacto é a de uso e operação (80%), correspondendo ao custo com o consumo de energia,
água, esgoto e manutenção, necessários para seu funcionamento. Comparando essas
informações com a possibilidade de intervenção durante a vida útil do empreendimento,
verifica-se que as fases de concepção e projeto são as que apresentam os maiores índices
de possibilidade de intervenção (100% e 80%, respectivamente), custando muito pouco,
proporcionalmente. Entretanto, as intervenções na fase de maior impacto ambiental (uso e
operação) são ínfimas (5%). Ressalta-se, assim, a importância ambiental das fases de
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 39

concepção e projeto e a necessidade de se combater a cultura de pouca valorização dessas


etapas existente no setor. Esses dados estão apresentados no gráfico 4.1.

%
100 100
90 80
80 80
70
60
50
40
30
14
20
15 5
10 0,2 0,8
5
0 0
Concepção Projeto Construção Uso e operação Adaptação e
reuso

Fase do empreendimento

Impactos ambientais (%) Possibilidade de intervenção (%)

Gráfico 4.1 - Comparativo entre impactos ambientais e possibilidade de


intervenção por fase de empreendimento
Fonte: Adaptado de Ceotto (2006).

Quanto ao custo da construção sustentável, John (2004) afirma que a mesma não é
necessariamente mais cara, uma vez que um projeto adotando conceitos de sustentabilidade
não é mais caro, que a aplicação do conceito de redução de desperdício de materiais e de
gestão de resíduos pode reduzir significativamente custos de construção e que a fase de
operação do edifício é mais barata, por reduzir consumo de energia e água, apesar de
alguns materiais serem mais caros.

4.3.1 – Características e recomendações sustentáveis

A construção sustentável preocupa-se em atender às três dimensões de


sustentabilidade adotadas para esse trabalho (econômica, ambiental e social) para cada fase
do ciclo de vida de um edifício, considerada como concepção, projeto, execução da obra,
uso e demolição.
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 40

Concepção

Antes da decisão de construir um novo imóvel, pode-se optar por reformar ou


adaptar um existente, desde que haja condições para o uso pretendido. Para Moretti (2005),
reforma e reciclagem de edificações ociosas existentes nas áreas centrais para fins
habitacionais é uma alternativa importante na ótica da sustentabilidade.

Para a decisão de usar um edifício existente, mantendo sua estrutura e modificando


os espaços, é necessário que o mesmo tenha sido projetado de forma a valorizar a
flexibilidade, onde a estrutura é mantida e o lay-out pode ser modificado (Blumenschein,
2004).

Outro aspecto importante na concepção de um edifício é a definição de sua


localização. Segundo Moretti (2005), a construção de grandes empreendimentos
habitacionais na periferia das cidades, destinados à população de baixa renda, com
formação de “guetos” de população excluída vai na contramão dos princípios da
sustentabilidade. É importante também que o empreendimento esteja em local com
disponibilidade de infra-estrutura, reduzindo as demandas por transporte, despesas de
condomínio e facilitando a inclusão social.

Projeto

As definições de projeto e especificação de materiais representam uma das fases


mais críticas para o caminho de maior sustentabilidade do edifício, onde desempenho,
durabilidade, flexibilidade e facilidade de manutenção precisam ser equilibrados com os
custos do empreendimento e a visão do empreendedor.

Siciliano et al. (2007) orientam que os escritórios de arquitetura, que adotem a


sustentabilidade como um critério de projeto, levem em consideração:

a) Uso eficiente de energia, através de especificação de equipamentos com


menor consumo e melhor eficiência, transporte vertical (antecipação de
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 41

chamadas), iluminação (acionadores por sensor de presença); geração de


energia em horários de pico; aproveitamento máximo da iluminação e
ventilação naturais; adoção de soluções arquitetônicas que evitem a
incidência direta da radiação solar; diminuição da absorção de calor (uso de
acabamentos claros, áreas verdes ou pintura reflexiva na cobertura);
produção de energia alternativa (eólica ou solar), de acordo com as
condições locais.

b) Uso eficiente da água, através de equipamentos como bacias acopladas e


válvulas especiais com fluxo opcional por descarga, ou de sistemas a vácuo
e torneiras com acionamento eletrônico ou temporizador por pressão; reuso
de águas de lavagem, com tratamento local, para utilização sanitária; reuso
de águas pluviais para usos permitidos para água não potável.

c) Uso de materiais certificados e renováveis, através de especificação de


materiais sustentáveis (menor índice de impacto em todo o ciclo de vida e
que não utilize mão-de-obra com condições indignas), certificados e
recicláveis, considerando também sua durabilidade.

d) Qualidade ambiental interna e externa do edifício, através de cuidados com


o solo como diminuição da impermeabilização, erosão e rebaixamento do
lençol freático e preservação da sua conformação original; da manutenção
dos ecossistemas locais; do planejamento para a redução, reutilização e
reciclagem de lixo e resíduos durante as fases de execução da obra e de uso
(local para coleta seletiva); de cuidados para evitar todo tipo de
contaminação, degradação e poluição de qualquer natureza (visual, sonora,
ar, luminosa, entre outras); e da promoção da segurança interna e externa do
edifício e de seus usuários.

e) Soluções que permitam flexibilidade e durabilidade, através de propostas


construtivas que permitam a adaptação do imóvel a mudanças de uso ou de
usuário, evitando reformas que causem impactos ambientais; uso de
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 42

materiais duráveis e que tenham desempenho adequado, resultando na


longevidade do edifício.

Ceotto (2007a) apresenta o resumo com as principais soluções tecnológicas hoje


disponíveis em função do seu custo de implantação (em relação ao custo de construção) e
do seu impacto benéfico para o meio ambiente, adotando custo alto (acima de 3% do custo
total de construção), médio (entre 3 e 0,5%) e baixo (menos de 0,5%). Essas informações
são apresentadas no Quadro 4.1.

Quadro 4.1 - Alternativas de solução e seus impactos financeiros em edifícios


residenciais

Impactos nos custos


Alto Médio Baixo
Aproveitamento de Retenção de água de
água de chuva chuva
Tratamento total de
Metais sanitários de
esgoto Reserva de água de
baixo consumo de
chuva
água
Medição individual de Lâmpadas de alta
Alto
gás eficiência
Medição individual de Peças sanitárias de
Energia solar para
Impacto positivo no meio ambiente

água baixa vazão


aquecimento de água
Tratamento
Separação de lixo
superficial no piso das
para reciclagem
garagens
Automatização da
Fachadas de cores
irrigação de áreas
bem claras
Reciclagem de água verdes
de banho e lavatório
Médio Automação da
para uso em bacias Cobertura vegetal no
iluminação nas áreas
sanitárias térreo
comuns
Isolamento térmico de
Vidro laminado
coberturas
Uso de madeira
Isolação térmica de
reciclada nos móveis
fachadas
Automação de e revestimentos
Baixo
elevadores Revestimento de piso
Uso de vidro insulado e paredes facilmente
laváveis

Fonte: Ceotto (2007a).


Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 43

Informações esclarecedoras sobre consumo de energia e água podem direcionar


ações mais sustentáveis. O uso de ar condicionado representa 40% do consumo total de
energia de um edifício e os chuveiros elétricos, 32% (Blanco, 2007), sendo que o edifício
sustentável deve economizar pelo menos 30% da água e 15% da energia elétrica que um
edifício equivalente consumiria (Carvalho, 2007).

Ações que também favorecem a sustentabilidade do edifício são a oferta de opções


de plantas e acabamentos para a escolha do cliente ou definição de prazo máximo para
alterações de projeto, diminuindo a geração de resíduo durante a obra.

Sendo apresentada como a fase mais importante para a sustentabilidade de um


edifício, o projeto conseguirá esse objetivo a partir da conscientização e valorização dos
princípios e critérios da construção sustentável por todos os envolvidos: empreendedor,
projetista, fornecedores, construtor, comprador e usuário, além do apoio do gestor
municipal.

Uso, manutenção e reforma

A manutenção do edifício está diretamente ligada à qualidade da construção, que


evita o aparecimento de defeitos; à flexibilidade do projeto, que facilita as modificações; e
à consciência do usuário da importância da realização de manutenção e melhorias ao longo
de sua utilização, aumentando a vida útil do imóvel (Blumenschein, 2004).

Uma medida simples que a construtora pode intensificar nesse sentido é a entrega e
apresentação do manual do proprietário e do síndico, contribuindo para a melhoria do
desempenho ambiental da edificação, podendo inclusive abordar claramente a
sensibilização dos usuários para a questão da sustentabilidade, já bastante debatida pela
mídia.
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 44

Demolição

Após o maior prolongamento possível da vida útil da edificação, as preocupações


sustentáveis se voltam para que a demolição seja feita de forma a viabilizar a reutilização e
reciclagem dos materiais e que os incômodos à vizinhança sejam minimizados.

Segundo Pinto (1999), os resíduos de demolição representam uma menor parte dos
RCC gerados no Brasil, em função da urbanização recente. Em contrapartida, nos países
desenvolvidos, os resíduos provenientes de demolições são muito mais freqüentes.

Recomenda-se que a demolição de um imóvel seja procedida na forma inversa à da


construção, primeiramente com a retirada de elementos de decoração, aparelhos e
instalações, forros, revestimentos reutilizáveis, cobertura, vedações verticais e estrutura, de
forma a se ter um maior potencial de reutilização e reciclagem dos componentes e
materiais (Araújo & Cardoso, 2007).

4.3.2 – Fatores impulsionadores da sustentabilidade na construção civil

Para o contexto desse trabalho, serão considerados como fatores importantes e


impulsionadores da sustentabilidade no setor da construção civil: conscientização e
valorização da sociedade quanto a essas questões; uso do poder de compra público;
certificação ambiental; políticas públicas e legislação ambiental; estudos técnico-
científicos e inovação tecnológica; e articulação dos envolvidos.

Conscientização e valorização da sociedade quanto às questões sustentáveis

Atender e antever as exigências do cliente têm sido a meta das empresas de


construção civil, buscando a diferenciação no mercado e reforçando o papel regulador e
indutor do consumidor para a adequação do setor a padrões mais sustentáveis. Por outro
lado, a internalização das externalidades, como diminuição de taxa de condomínio, de
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 45

energia e de água, é que tem movido o cliente a valorizar ações ambientais desenvolvidas
por algumas construtoras.

Segundo Blumenschein (2004), a busca para ganhar mercados tem sido uma força
propulsora de novos produtos e processos, tanto na cadeia de insumos, quanto na de
processos, sendo esse um dos papéis da sociedade na sustentabilidade da construção civil.

De acordo com estudos recentes, os quatro fatores ambientais que, em nível


internacional, estão no topo da decisão de compra no mercado de construções são:
ecoeficiência, não produção de contaminação, construção com materiais recicláveis e não
causar dano à camada de ozônio (Espinoza et al., 2006).

Observa-se, no entanto, que atualmente a sociedade valoriza a iniciativa de


preservação ambiental que proporcione ganhos econômicos e essa visão é refletida nas
decisões empresarias no setor da construção civil.

Uso do poder de compra

As atividades da indústria da construção passam por uma evolução enfatizada pelo


papel do governo que, como um dos seus principais clientes, tem poder para influenciar em
suas direções e passos (Blumenschein, 2004).

O PBQP-H pode ser citado como exemplo de programa que disseminou a qualidade
pelo uso do poder de compra, principalmente através da Caixa Econômica Federal
(CAIXA), que exige a certificação das empresas construtoras para o acesso a
financiamentos de empreendimentos.

Certificação ambiental

Assim como aconteceu com o programa evolutivo de qualidade no setor da


construção civil, existe atualmente um movimento em prol da certificação ambiental ou
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 46

certificação da construção sustentável que pode estimular a melhoria das empresas e


representar um novo paradigma para o setor. Dessa maneira, o PBQP-H pode ser o ponto
de partida para o desenvolvimento de políticas de incentivo à construção sustentável.

Um dos caminhos para orientar o mercado da construção de edifícios quanto ao seu


desempenho ambiental tem sido a avaliação de empreendimentos quanto à sua
sustentabilidade, através de metodologias sistêmicas. Vários países (Japão, Reino Unido,
França, Austrália e EUA) desenvolveram metodologias específicas para essa avaliação e,
no Brasil, há um interesse crescente nesse sentido (Cardoso, 2006b).

Através do estudo de oito metodologias existentes de avaliação e sustentabilidade


quanto às exigências específicas aos canteiros de obras, foi constatado que apenas duas
fazem menção explícita quanto às dimensões econômica e social, concluindo-se que nessas
metodologias a sustentabilidade é praticamente medida através da dimensão ambiental
(Cardoso, 2006b).

Como nenhuma entidade brasileira concede ainda o selo, as construtoras estão


recorrendo ao LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) que foi criada pela
ONG USGBC – United States Green Building Council, sendo atualmente o critério mais
difundido de sustentabilidade ambiental de construções no mundo. Todas as fases do
projeto e de execução da obra são acompanhadas por representantes do conselho do
GreenBuilding, que avaliam o desempenho do empreendimento com questionários e
relatórios técnicos ligados a cinco áreas como desenvolvimento local sustentável, uso
racional da água, eficiência energética, seleção de materiais e qualidade ambiental interna.
Caso a concessão do selo seja aprovada, a obra poderá ser classificada com prata, ouro ou
platina (essa última, ainda rara nos Estados Unidos), de acordo com a pontuação obtida
(Moura, 2007).

O selo norte-americano, no entanto, não leva em conta problemas comuns nas obras
brasileiras como, por exemplo, a formação de entulhos, já que os EUA adotam sistema de
construção racionalizada, com muito pouca geração de resíduo no canteiro. Por essa razão,
a criação de um selo brasileiro vem sendo defendida por entidades do setor (Moura, 2007).
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 47

Segundo Silva et al. (2003), a diferença de prioridades entre os países


desenvolvidos e os em desenvolvimento com relação aos edifícios pode ser identificada no
contraponto greenbuilding versus sustentabilidade. O greenbuilding pode ser entendido
como construção verde, com baixo impacto ambiental e com preocupação em proteger o
meio ambiente, sendo chamada agenda green. A sustentabilidade é mais ampla e considera
o ambiente, a sociedade e a economia, a chamada agenda marrom, importante para os
países em desenvolvimento por visar a sociedade e a economia. Em países com economia
forte e problemas sociais resolvidos, a prioridade é a green.

A agenda marrom é o desafio da construção civil brasileira em manter a


competitividade econômica do setor e oferecer um ambiente construído adequado à
população, colaborando para a solução de problemas sociais, inclusive dentro do próprio
canteiro de obra (Silva et al., 2003).

Verifica-se que o modelo de requisitos para certificação, aplicado nos países


desenvolvidos, não se adequa à realidade brasileira, onde as questões ambientais estão
fortemente ligadas às sociais, diferentemente dos países ricos. Aprofundando-se na
dimensão social do desenvolvimento sustentável, a avaliação de sustentabilidade de um
edifício terá características distintas até mesmo nas diversas regiões brasileiras,
dependendo de suas condições especificas, não existindo um modelo pronto a ser copiado.

Cardoso (2006b) faz recomendações para as exigências relativas ao canteiro de


obra, para uma futura metodologia brasileira de avaliação de sustentabilidade de edifícios.
Primeiramente que seja considerado o atual baixo nível de organização dos canteiros
brasileiros; os cuidados limitados voltados aos trabalhadores das obras (segurança, higiene,
conforto, etc.); a pouca experiência acumulada sobre a legislação ambiental (ainda no
início da aplicação da Resolução CONAMA no. 307/02); a escassez de legislações sobre
incômodos e poluições (além dos causados pelos resíduos de construção); e o volume de
obras a ser empreendido para atender às necessidades em habitação e infra-estrutura.

A segunda recomendação é que essa metodologia apresente preocupações


ambientais, gerenciais e que avance na definição de exigências da dimensão social do
conceito de sustentabilidade. A terceira é que seja pró-ativa, trazendo informações de
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 48

maneira a facilitar a implementação das exigências da metodologia pelos agentes da cadeia


produtiva da construção civil (Cardoso, 2006b).

Segundo Carvalho (2007), o custo da sustentabilidade é reflexo do investimento em


pesquisas para o desenvolvimento de tecnologia, de equipamentos, sistemas e materiais,
sendo que o excedente de custo pode variar de 2% a 10%. Dessa maneira, há soluções que
só se viabilizam para empreendimentos de médio e alto padrão ou com um número grande
de unidades nos quais o custo de determinadas tecnologias tenha menor impacto. Nos
edifícios de baixo padrão, o investimento é mais representativo, pelo baixo custo do
empreendimento.

Para os usuários, os ganhos com a certificação são de longo prazo, pela redução no
consumo de eletricidade e água, embora isso ainda não seja reconhecido como fator
decisivo na valorização de um imóvel na sua compra; e a garantia de um imóvel que possui
tecnologia do futuro, minimizando o risco de desatualização com normas e regulamentos
vindouros e rigorosos, que podem inviabilizar economicamente o uso do edifício (Ceotto,
2007b).

Do ponto de vista mercadológico, a sustentabilidade saiu do patamar de discurso


ecológico para se tornar um diferencial competitivo, sendo que as empresas ainda precisam
investir no esclarecimento do comprador, de forma que o mesmo entenda que o maior
preço inicial de um empreendimento desse tipo é investimento e não custo. Para essa
conscientização do cliente, a certificação ambiental torna-se fundamental para diferenciar
um empreendimento sustentável do ecomarketing (Carvalho, 2007).

Destaca-se que a certificação tem o foco na construção formal, sendo que os 77%
das construções que são autogeridas no Brasil não são atingidas. Olhando desse ponto de
vista, o impacto da certificação é pequeno. Dessa forma, é preciso combinar sistemas de
certificação que premiem a inovação e o avanço tecnológico que é uma carência do setor,
com medidas concretas que criem condições de alterar a construção comum. Um exemplo
de sucesso é a introdução no mercado de bacia sanitária de 6 litros, acessível a todos os
consumidores, independentemente de seu porte (John, 2007).
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 49

Políticas públicas e legislação ambiental

O entendimento que a poluição era um indicador de progresso só foi desmistificado


com a evidência dos efeitos negativos resultantes do desenvolvimento econômico,
desvinculado das questões ambientais. Surgiu assim, a necessidade de criação de
iniciativas para o controle dessa situação, primeiramente traduzida através de medidas para
a regulamentação ambiental e mecanismos de coerção e, posteriormente, incorporando
conceitos de planejamento e gerenciamento dos recursos naturais (Braga et al, 2005).

Com o crescimento populacional urbano, os problemas ligados aos resíduos sólidos


urbanos foram dificultando as administrações municipais, aumentando a necessidade de
formulação de políticas adequadas. Os paises europeus e o Japão foram os pioneiros no
desenvolvimento de esforços para o conhecimento e controle de RCC. A Lei de
Reciclagem japonesa de 1993 estabelece objetivos de restrição à geração de resíduos para a
diminuição dos problemas ambientais e consumo de recursos não renováveis, através da
promoção da reciclagem, com previsão de políticas especificas, com o papel a ser
cumprido pelo Estado (Pinto, 1999).

Uma política ambiental deve apresentar resultados como a diminuição da


deterioração da qualidade ambiental, podendo promover sua melhoria, através do
atendimento de exigências progressivas de padrões de qualidade (Braga et al, 2005).

Segundo Pereira (2000), as políticas públicas relacionadas ao meio ambiente podem


ser classificadas segundo três macroobjetivos:

 Política de Segurança Mínima (PSM) – é uma característica dos países não


avançados e com baixa consciência ambiental, preocupa-se com acidentes
ecológicos de grande vulto e preservação de áreas e espécies;

 Política de Crescimento Ecologicamente Sustentável – é característica dos países


avançados ambientalmente, com atuação preventiva, amplo acesso à informação e
desenvolvimento técnico-científico; e
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 50

 Política da Qualidade Total / Qualidade Ambiental – não é praticada de maneira


completa em nenhum país e costuma ser desenvolvida apenas em empresas
pontuais. Neste caso, o meio ambiente é visto não apenas como pré-requisito para o
desenvolvimento de longo prazo, mas como um instrumento a mais dentro do
cenário globalizado.

Ainda, conforme Pereira (2000), o estado pode fazer uso de estratégias no trato com
as questões ambientais através de instrumento de comando e controle que são os mais
usados e englobam leis, normas e regulamentos, como legislação ambiental e normas
técnicas, que definem as responsabilidades dos diversos atores, tendo a fiscalização como
marco regulatório e entrave de execução; auto-regulação que busca atingir a qualidade
ambiental através de mecanismos de mercado como, por exemplo, selo verde, análise de
ciclo de vida, certificação ISO 14000, auditorias ambientais; instrumentos econômicos,
entendidos como o conjunto de mecanismos que afetam os custos-benefícios dos agentes
econômicos; e macropolíticas com interface ambiental como política energética,
tecnológica, educacional, regional e urbana.

Os instrumentos econômicos são classificados em transferências fiscais que são


aplicados através de impostos, taxas, subsídios, incentivos, ajudas financeira e fiscal, sendo
baseado no princípio do poluidor pagador; e criação de mercados artificiais, sendo mais
utilizado nos EUA, onde são criados mercados com valor econômico, antes inexistente
como mercado de reciclados, de seguros e negociáveis de poluição, permitindo a
negociação do direito de poluir (Pereira, 2000).

O princípio do poluidor pagador possibilita a internalização, para o custo do agente


causador da poluição, das externalidades ambientais, buscando, assim, repassar os custos
ambientais públicos para o agente poluidor privado. Ou seja, inclui-se nos custos da
atividade econômica, a contabilização de custos intangíveis como, por exemplo, a extinção
de uma espécie ou o fim de uma paisagem, através da qual empresas e consumidores se
apropriam de recursos da natureza (Pereira, 2000).
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 51

Na construção civil, a externalidade é representada pelos custos dos impactos no


meio ambiente, ao receber entulhos depositados indevidamente, por contaminações dos
solos e das águas subterrâneas em áreas de aterro (Blumenschein, 2004).

Segundo Faria et al. (2007), as políticas públicas nacionais sobre gestão de RCC
são a Resolução CONAMA 307/02 (da qual se tratará detalhadamente adiante), o PBQP-H
e o Plano Integrado de Gerenciamento. A Resolução foi editada com o propósito de alterar
o cenário de grande geração de resíduo na construção civil, que compromete a vida útil dos
aterros sanitários, responsabilizando os geradores pela adequada destinação dos RCC,
assim como os municípios pela elaboração do respectivo Plano Integrado de
Gerenciamento de Resíduo da Construção Civil.

Diante da contribuição de RCC para a degradação ambiental urbana, é


indispensável que sejam elaborados e colocados em prática modelos de gestão apropriados,
ações de fiscalização, controle e orientação e que sejam desenvolvidas técnicas e
procedimentos que permitam o progresso do setor da construção civil, indispensável ao
desenvolvimento urbano, e que eliminem ou minimizem ao máximo seus impactos (Leite
et al., 2007).

Para Blumenschein (2004), algumas propostas de instrumentos de gestão ambiental,


com objetivo de reduzir o volume de RCC, potencializar a reciclagem e utilizar produtos
processados e reciclados são: uso do poder de compra do cliente; incentivos para
financiamentos; facilidades de empréstimo para a construção; redução de impostos e taxas
como IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), para o cliente público ou privado que
opte pelo uso de material oriundo do processamento de resíduo; premiação de projetos
arquitetônicos que apliquem padrões sustentáveis, inclusive na especificação; aplicação de
imposto sobre produto oriundo de recursos naturais escassos; crédito para reciclagem;
proibição de disposição em aterro; e rotulagem ambiental.
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 52

Resolução CONAMA 307/02

A regulamentação ambiental de RCC, foco de estudo desse trabalho, é baseada em


uma política ambiental de segurança mínima, implementada através de instrumentos de
comando e controle e instrumentos econômicos, inserida em macropolíticas ambientais.

Trata-se da Resolução CONAMA 307, de 5 de julho de 2002, que tem como


objetivo o disciplinamento das ações necessárias para a minimização dos impactos
ambientais do setor da construção civil (Brasil, 2002), baseando-se nos princípios
norteadores do “poluidor pagador” e da “responsabilidade compartilhada”.

Segundo Marcondes & Cardoso (2005), a Resolução CONAMA 307/02 se destaca


como a primeira ação consolidada para a regulamentação do gerenciamento do resíduo
sólido da construção civil, sendo de extrema importância e podendo ser considerada como
o marco regulador da questão dos resíduos da construção civil.

Sendo assim, a responsabilidade pelos resíduos das atividades de construção,


reforma, reparos e demolições passa a ser do gerador e, para a efetiva solução da
destinação inadequada desses resíduos, prevê-se a participação de todos os atores
envolvidos: poder público, geradores, transportadores e destinatários.

A Resolução apresenta como objetivo principal a não geração de resíduos e,


secundariamente, redução, reutilização, reciclagem e destinação final, com reservação para
uso futuro.

A partir de julho de 2004, os resíduos da construção civil não podem ser dispostos
em aterros de resíduos domiciliares, áreas de "bota fora", encostas, corpos d`água, lotes
vagos e áreas protegidas por Lei (Brasil, 2002).

O Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PIGRCC) é


o instrumento previsto para a implementação da Resolução e incorpora o Programa
Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PMGRCC) e Projetos de
Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC). O PIGRCC é de
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 53

responsabilidade da municipalidade e do Distrito Federal, com prazo de elaboração


definido para 02/01/04 e para implementação, 02/07/04 (Brasil, 2002).

Os resíduos da construção civil (RCC) são classificados de acordo com a destinação


e estão apresentados no Quadro 4.2.

Quadro 4.2 - Classificação e destinação dos resíduos da construção civil de


acordo com a Resolução CONAMA 307/02

Classe Tipo de Resíduo Destinação


- Resíduos de construção, demolição, Reutilização ou reciclagem
reformas e reparos de pavimentação na forma de agregado ou
(inclusive solos de terraplenagem) encaminhados para área de
- Resíduos de construção, demolição, aterro da construção civil.
A reformas e reparos de edificação
(componentes cerâmicos, argamassa e
concreto)
- Resíduos de pré-moldados em
concreto.
- Plásticos, papel, papelão, metais, Reutilização ou reciclagem
vidros, madeiras. ou encaminhados para área
B
de armazenamento
temporário.
- Produtos oriundos de gesso (não Armazenamento, transporte
foram desenvolvidas tecnologias ou e destinação conforme
C
aplicação economicamente viável para normas técnicas especificas.
reutilização e reciclagem)
- Tintas, solventes, óleos, amianto ou Armazenamento, transporte,
resíduo oriundo de reformas em clinicas reutilização e destinação
D
radiológicas, inst. Industriais (resíduos conforme normas técnicas
perigosos). especificas.

Fonte: Adaptado de Brasil (2002).

Apesar de estar inserida num sistema de economia ecológica e ser classificada


como uma política de segurança mínima, com instrumentos de comando e controle bem
econômicos de transferências fiscais, a publicação dessa Resolução representa um avanço
na realidade da construção civil brasileira, provocando uma discussão intensa sobre as
questões ambientais no setor.
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 54

Cabe ainda uma reflexão sobre a impossibilidade da Resolução CONAMA 307/02


atender aos conceitos da sustentabilidade, diante da classificação de sua política ambiental
e das bases econômicas em que está apoiada.

Embora bastante debatidos, os instrumentos dessa Resolução ainda não foram


efetivamente implementados nos municípios brasileiros. Em levantamentos e diagnósticos
feitos em várias cidades, são descritos diversos encaminhamentos e desdobramentos que
são decorrentes do nível de comprometimento e interação entre os agentes envolvidos com
a geração de RCC de pequenos e grandes volumes, concluindo-se que não existe uma
fórmula a ser copiada.

As medidas de ecoeficiência promovidas pela Resolução CONAMA 307/02


representam um passo importante para o caminho da sustentabilidade a ser buscado pelo
setor da construção civil. Porém, percebe-se que até mesmo essas medidas encontram
dificuldades de implementação e, diante da urgência de adequação do setor, ações que
viabilizem maior rapidez nessa tarefa são de extrema importância.

Estudos técnico-científicos e inovação tecnológica

A pesquisa aplicada através de parceria entre indústrias e universidades pode suprir


a carência de informação e subsidiar decisões referentes à implantação de sistema de
gestão de RCC, principalmente relacionados a estudo sistemático de ciclo de vida de
produtos; avaliação dos impactos dos instrumentos de regulamentação adotados;
tecnologia de processamento e reciclagem de RCC, definindo critérios de qualidade
tecnológica e ambiental; desenvolvimento de projetos pilotos, de forma a disseminar a
sustentabilidade na cadeia da construção civil (Blumenschein, 2004).

A formação de profissionais com visão global de sustentabilidade, principalmente


na fase de projeto e planejamento, deve ser intensificada para uma maior aceitação da
construção sustentável (John, 2004).
Capítulo 4 – A construção civil e a sustentabilidade 55

Segundo Blumenschein (2004), a oportunidade de melhoria da qualidade do


agregado reciclado e conseqüente aplicação mais nobre passa pela melhoria da coleta
seletiva na fonte de geração e pela maior interação com pesquisa e desenvolvimento.

Articulação dos envolvidos

A visão da construção civil como uma cadeia onde os elos se interligam facilita o
entendimento da necessidade de articulação entre os diversos envolvidos para que os
objetivos em comum sejam alcançados. Nesse sentido, Blumenschein (2004) afirma que o
conceito da indústria da construção anteriormente era vinculado ao processo produtivo em
si, hoje considera seus vários setores, agentes, processos e produtos, facilitando a
identificaçao dos problemas e gargalos, bem como as oportunidades para a cadeia
produtiva.

Para se alcançar a economia de recursos e materiais na construção civil com menor


geração de resíduos e ajustamento socioambiental é necessário investir em redes de
informação e comunicação entre construtores, fornecedores e consumidores, que melhorem
o desempenho da cadeia, conscientizando o usuário sobre as tecnologias disponíveis
(Gerolla, 2007).

De acordo com Blumenschein (2004), as dificuldades para a gestão eficiente de


RCC estão relacionadas com a falta de integração dos agentes relevantes do setor público,
setor privado e de pesquisa; falta de integração dos instrumentos de gestão (legais,
econômicos e sociais); complexidade inerente ao processo construtivo e ao processo de
gestão de RCC em geral; e a necessidade de fortalecer a pesquisa relativa ao tema, sendo o
caminho a ser exercitado, com a integração dos agentes envolvidos no processo de forma a
direcionar esforços a um objetivo único.

Observa-se que todos os itens relacionados estão interligados de forma que um


incrementa o outro e o desenvolvimento de ações isoladas não resultará na melhoria
esperada para o setor.
CAPÍTULO 5

OBRA SUSTENTÁVEL
Capítulo 5 – Obra sustentável 57

5 – OBRA SUSTENTÁVEL

Este capítulo tem como objetivo caracterizar o canteiro de obra sustentável, uma
das fases do ciclo da construção sustentável, enfatizando-se as recomendações para a
diminuição dos impactos da execução da obra. Em seguida, descreve-se as fases do
gerenciamento de RCC no canteiro de obra formal, como uma ação gerencial que contribui
para a sustentabilidade da obra e a interdependência existente entre esse gerenciamento e a
gestão municipal.

5.1 – EXECUÇÃO DE OBRA SUSTENTÁVEL

As atividades desenvolvidas durante a construção ou execução da obra constituem-


se em uma das fases consideradas no ciclo de vida de um edifício e contribuem fortemente
para sua sustentabilidade, compreendendo todo o processo desenvolvido pela construtora,
como a decisão de tecnologia construtiva a ser empregada, planejamento, equipamentos a
serem utilizados, aquisição de material, contratação de mão-de-obra, execução dos serviços
e gestão. Diante do objetivo desse trabalho, o estudo do canteiro de obra e suas diversas
interferências são de grande relevância para o entendimento dos caminhos para a
sustentabilidade da construção civil.

5.1.1 – Impactos do canteiro de obra

Em estudo realizado por Cardoso et al. (2006), sobre impactos relacionados à


implantação e operação de canteiros de obras de edifícios, além dos impactos causados
pelas perdas de materiais e pela produção de resíduos de construção, foram identificados
impactos no meio físico, biótico e antrópico. As várias etapas da obra foram levadas em
consideração e foram encontrados 29 impactos referentes ao tema implantação e operação
do canteiro de obra; 6 referentes a consumo de recursos; e 19 a incômodos e poluições.
Foram considerados como principais impactos os apresentados no Quadro 5.1.
Capítulo 5 – Obra sustentável 58

Quadro 5.1 - Principais impactos ambientais para as atividades de produção


que acontecem nos canteiros de obras de edifícios (excluindo os causados pelas perdas
de material e produção de resíduos)

Meio Principais impactos ambientais


Indução de processos erosivos
Solo Contaminação química
Esgotamento de reservas minerais
Poluição sonora
Ar
Físico

Deterioração da qualidade do ar
Poluição de águas subterrâneas
Alteração da qualidade de águas superficiais
Água
Aumento da quantidade de sólidos na água
Alteração de regimes de escoamento
Alteração dinâmica de ecossistemas locais
Biótico

Interferência na fauna e flora locais


Alteração dinâmica do ecossistema global
Trabalhador Alteração nas condições de segurança e de saúde
Incômodo para a comunidade
Antrópico

Alteração de tráfego nas vias locais


Vizinhança
Alteração nas condições de segurança e de saúde
Danos a bens edificados
Aumento de volume de aterros de resíduos
Sociedade
Escassez de energia elétrica
Fonte: Adaptado de Cardoso et al. (2006).

5.1.2 –Recomendações sustentáveis para execução da obra

Baseado nas sugestões de Cardoso (2006b) para avaliação de sustentabilidade de


edifícios, as recomendações analisadas nesse trabalho para execução de obra sustentável
adotam os critérios ambientais, sociais e gerenciais. Observa-se, no entanto, que as
diretrizes gerenciais estão fortemente ligadas às outras duas, sendo o suporte para que as
ações planejadas sejam realizadas e acompanhadas, podendo proporcionar a melhoria da
sustentabilidade da obra.
Capítulo 5 – Obra sustentável 59

Recomendações ambientais

As recomendações ambientais para o processo produtivo desenvolvido no canteiro


de obra estão baseadas nos 3 R’s: reduzir, reutilizar e reciclar. Como preocupações
ambientais quanto ao canteiro de obra, pode ser citado redução da geração de resíduos do
canteiro, gerenciamento dos resíduos do canteiro, valorização da reciclagem e reuso,
limitação dos incômodos e poluições causadas pelo canteiro e limitação do consumo de
recursos demandados - água e energia - (Cardoso, 2006b).

Algumas recomendações podem ser citadas para a redução de impactos ambientais


do canteiro de obra, como controle de emissão de poluentes de máquinas, equipamentos,
veículos e tratores utilizados no canteiro de obras (Blanco, 2007); preservação ao máximo
das áreas verdes existentes (Araújo & Cardoso, 2007); implantação da obra de maneira a
evitar grandes movimentos de terra, impermeabilização do solo e danos à fauna e flora, uso
de sistemas construtivos racionalizados com minimização da geração de resíduos, uso de
estruturas executadas com concretos de alta resistência que, por serem usados em menor
quantidade, são mais econômicos e sustentáveis, uso de estruturas de aço, por ser um
material reciclável (Moura, 2007).

Nesse trabalho serão levantadas informações sobre ações que podem reduzir os
impactos ambientais do canteiro de obra, focando principalmente o planejamento da obra e
a redução de perdas de materiais, considerados fatores imprescindíveis para a redução
desses impactos.

Planejamento da obra

O planejamento está sendo considerado como o estabelecimento da seqüência de


serviços a serem executados, a disponibilidade de procedimentos e recursos necessários à
sua efetivação e como sua ausência interfere no aumento de perdas, mais especificamente
de material. Para Farah & Vottorino (2006), a falta de planejamento traz prejuízo para a
sustentabilidade do edifício por potencializar perdas mais elevadas de materiais e
Capítulo 5 – Obra sustentável 60

componentes e a geração desnecessária de entulho, gerando problemas de qualidade da


construção.

Segundo Andery & Corrêa (2006), a adoção de projeto de produção de alvenaria de


vedação no início do planejamento do empreendimento e adequado à realidade tecnológica
da empresa pode ser considerada como ferramenta de eficiência ecológica por obter
resultados como redução de perdas, desperdícios e impactos ambientais, além de ganhos
financeiros ou diminuição de custos e eliminação de improvisos e ineficiência dos
processos produtivos.

Perda de material na construção civil

Várias são as definições de perdas na construção civil, prevalecendo a convergência


para “uso não otimizado dos recursos na execução da edificação”, nesse caso, envolvendo
material, mão-de-obra, equipamento, tempo e capital (Agopyan et al., 1998, p. 8).

Entende-se como perda de material uma das parcelas da perda existente na


construção de um edifício, sendo calculada através da diferença entre o material recebido
no canteiro (consumo real) com a quantidade teoricamente necessária para a execução do
serviço, num determinado período ou fase da construção. A quantidade teórica é calculada
com base no projeto, levantando-se a quantidade de serviço executado, consumo de
material por componente e consumo de material básico por material composto (Agopyan et
al., 1998; Souza, 2005).

As perdas de material podem ser decorrentes da entrega (ocorrida no transporte do


fornecedor para o canteiro e na descarga); do estoque e no transporte interno; do
processamento intermediário e aplicação final; das sobras; de roubo ou vandalismo; do uso
de materiais de qualidade acima do especificado; e do uso de quantidade acima da
estipulada. Essas perdas podem ficar incorporadas no próprio local de aplicação ou se
tornar um entulho, que pode ser reutilizado (em aterro, por exemplo), reciclado ou retirado
do canteiro de obra (Agopyan et al., 1998; Souza, 2005).
Capítulo 5 – Obra sustentável 61

As perdas são inerentes a qualquer processo produtivo e o fato delas acontecerem


não significa incompetência desse processo, com exceção das perdas facilmente evitáveis.
Dessa forma, as perdas podem ser classificadas como evitáveis e inevitáveis, sendo que o
primeiro tipo é considerado como desperdício e deve ser combatido, onde não é
necessariamente viável eliminar toda a perda do processo produtivo complexo que
acontece no canteiro de obra (Souza, 2005).

Ainda conforme o autor, para se definir uma perda como inevitável, deve-se basear
no estabelecimento de critérios que variam entre empresas, a depender do nível de
tecnologia, da capacitação do pessoal, do padrão da obra, etc., sendo que as perdas,
principalmente as com altos índices, e o retrabalho podem ser evitados através de ações
simples, de melhoria do gerenciamento da produção dos serviços e de projetos.

Após a realização de três pesquisas nacionais, com metodologias distintas, sobre


perdas de materiais em processo construtivo, pode-se afirmar que, para a construção
empresarial, a intensidade da perda (incorporada ao produto ou transformada em entulho)
se situa entre 20% e 30% da massa total de materiais (Pinto, 1999). Valores mais
detalhados são apresentados na Tabela 5.1.

Tabela 5.1 - Perda de materiais em processos construtivos convencionais,


conforme pesquisa nacional em 12 estados e pesquisas anteriores

Materiais Pinto (1) Soibelman (2) FINEP/ITQC (3)


Concreto usinado 1,5% 13% 9%
Aço 26% 19% 11%
Blocos e tijolos 13% 52% 13%
Cimento 33% 83% 56%
Cal 102% _ 36%
Areia 39% 44% 44%
Fonte: Pinto (1999).
(1) Valores de uma obra (Pinto, 1989)
(2) Média de 5 obras (Soibelman, 1993)
(3) Mediana de diversos canteiros (Souza et al., 1998)
Capítulo 5 – Obra sustentável 62

Conforme Souza (2005), através de estudos realizados, pode-se considerar o valor


médio da perda por roubo irrelevante, chegando-se aos percentuais de natureza da perda de
material em aproximadamente 30% por entulho e 70% por perdas incorporadas. Pinto
(1999) apresenta esse percentual como 50% das perdas convertidas em resíduos.

De acordo com Souza (2005), o indicador de perda física de materiais para o


mercado formal de construção de edifícios é de aproximadamente 25% e o indicador de
perda financeira correspondente a essa perda é de aproximadamente 10% (custo dos
materiais perdidos em relação aos teoricamente necessários). Considerando que os
materiais representem 50% dos custos da obra, a perda de material significa perda de 5%
do custo da obra. Esse valor desmistifica um pouco a informação fortemente divulgada da
perda de um edifício a cada três produzidos na construção civil, mas mostra que a perda de
material pode comprometer o resultado da obra, num mercado altamente competitivo.

Com base nos resultados das pesquisas realizadas, conclui-se que: as perdas físicas
de materiais possuem índices elevados; são variáveis de obra para obra; os materiais
básicos usados na moldagem e produção intermediárias apresentam os maiores valores de
perda; materiais usados na estrutura apresentam valores mais baixos que os de
revestimento; ocorrem grandes perdas de argamassa no revestimento; os sistemas prediais
apresentam perdas não desprezíveis; o levantamento de perdas nos processos produtivos é
mais esclarecedor que no nível da obra (Souza, 2005).

Dessa forma, conclui-se que o tratamento da perda de material é de grande


importância para a sustentabilidade do edifício, principalmente nas dimensões econômicas
- manutenção da competitividade das empresas - e ambientais - menor consumo de
recursos naturais - (Souza, 2005).

Fazendo a ligação entre os aspectos de planejamento da obra e perda de material,


apresenta-se o fluxo com o resumo do comprometimento da sustentabilidade do edifício
(Figura 5.1).
Capítulo 5 – Obra sustentável 63

Falta de planejamento

Maior perda de materiais e Comprometimento da


componentes qualidade da obra

Comprometimento da
durabilidade da obra

Aumento da necessidade de
manutenção

Aumento de consumo de Maior geração de resíduos


recursos naturais

Aumento do consumo de mão-de-obra, transporte, energia e água

Aumento do custo da obra

Comprometimento da sustentabilidade do edifício

Figura 5.1 - Fluxo da relação entre planejamento, perda de material e


sustentabilidade de um edifício

A gestão da qualidade, por meio de implantação de um SGQ baseado na ISO ou no


PBQP-H, assegura a realização de processos com menos erros, reduzindo retrabalhos e
desperdícios, aumentando a qualidade e a durabilidade, reduzindo a manutenção, o que
implica em economia de recursos naturais não renováveis (Blumenschein, 2004).

Analisando os requisitos de um sistema de gestão pela qualidade (SGQ) e a busca


pela melhoria contínua dos processos que o mesmo promove, percebe-se que esse
ambiente é propício ao desenvolvimento de ações importantes para a redução de impactos
ambientais. Sendo assim, a implantação de um SGQ que tenha o comprometimento da
empresa e uma boa eficácia pode ser uma ferramenta adequada para esse feito.
Capítulo 5 – Obra sustentável 64

Reutilização e reciclagem de RCC

Após a fase de redução da geração de RCC, procura-se priorizar sua reutilização e


reciclagem. Blumenschein (2004) ressalta que o fortalecimento do processo de reciclagem
e reutilização de produtos é imprescindível para a busca de solução para o problema de
disposição dos resíduos, com desdobramentos econômicos, ambientais e sociais.

A reutilização é o processo de reaplicação de um resíduo, sem transformação do


mesmo (Brasil, 2002), sendo que uma das formas de reutilização é o uso do resíduo na
forma de aterro, para reduzir custos com a coleta e na compra de material para aterro
(Costa & Nóbrega, 2007).

Segundo Blumenschein (2004), a tecnologia e os sistemas construtivos empregados


durante a execução da obra podem favorecer a reutilização de materiais, como o uso de
escoramento e fôrmas de metal em substituição à de madeira.

Considerando que a geração de resíduos é inevitável no processo produtivo, John


(2000) afirma que a reciclagem é uma das condições para aumentar a sustentabilidade,
apresentando vantagens como preservação de recursos naturais, economia de energia,
diminuição de volume de aterros, redução da poluição, geração de empregos, redução do
custo de controle ambiental e aumento de divisas. Para o setor da construção civil, a
reciclagem representa uma forma de diminuir os significativos impactos ambientais que
são provocados por sua atuação.

Reciclagem é o processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido


submetido à transformação (Brasil, 2002). Cassa et al. (2001) relatam que os RCC são
heterogêneos, apresentam-se sob a forma sólida e, apesar da diversidade de dimensões e
formas dos materiais que o constituem, apresentam um potencial de reciclagem de
aproximadamente 90%.

Diante das informações de grande volume de geração e potencial de reciclagem dos


resíduos da construção civil, faz-se necessária a viabilização dessa ação. “Quando os
resíduos são selecionados, graduados e limpos adequadamente, tornam-se um agregado
Capítulo 5 – Obra sustentável 65

secundário, cuja utilização, em função da origem e tratamento, cobrem desde um aterro até
um concreto” (Cassa et al., 2001, p.23).

Segundo Pinto (1999), a reciclagem de resíduos da construção civil é praticada há


milênios, sendo comum na historia das civilizações antigas. Em período mais recente,
existem notícias do uso de material britado como agregado para novos produtos de
concreto, na Alemanha. Porém, o uso significativo de RCC pode ser caracterizado por três
momentos. O primeiro, após a Segunda Guerra Mundial, com a necessidade de satisfazer a
demanda por materiais de construção e de remover os escombros da guerra. O segundo,
motivado pela deficiência de oferta de materiais granulares em alguns países e regiões da
Europa, como Holanda, Dinamarca, Bélgica e regiões da França. O terceiro e atual,
caracterizado pela necessidade de solução para os grandes volumes de RCC gerados em
regiões urbanas cada vez mais adensadas.

No Brasil, os primeiros estudos sistemáticos sobre reciclagem de RCC datam de


1983, paralelamente ao uso de “masseiras-moinho” em obras de edificação para moagem
de resíduos menos resistentes e reutilizados no próprio local, em serviços de revestimento.
A experiência com equipamentos de maior porte foi iniciado em 1991, em São Paulo,
expandindo-se para outros municípios, com controle do poder público ou autarquias locais
(Londrina-PR - 1994, Belo Horizonte-MG - 1995, Ribeirão Preto-SP - 1996, São José dos
Campos-SP - 1996, Piracicaba-SP – 1997), com obtenção de resultados positivos (Pinto,
1999).

Segundo informações da empresa Obra Limpa, o Brasil possui apenas 20


instalações de reciclagem de resíduos sólidos entre equipamentos públicos e privados.
Embora o número seja insuficiente em relação ao volume total de resíduos gerados pelos
municípios, as estações operam abaixo da capacidade instalada, concluindo-se que a
adoção da reciclagem como solução de destinação de RCC passa pelo desenvolvimento
tecnológico e pelo incentivo público (Carvalho, 2007).

Observa-se que não existem maiores dificuldades para a geração de material


adequado ao uso em sub-base de vias e outros produtos simples, sendo que processos mais
Capítulo 5 – Obra sustentável 66

controlados são requeridos para a produção de agregado para uso em concreto com elevado
fator de desempenho (Pinto, 1999).

Dessa forma, o desenvolvimento de mercado para o agregado reciclado é um fator


imprescindível para a efetivação da reciclagem do resíduo classe A. Para Marcondes &
Cardoso (2005), na situação atual brasileira, é mais importante criar o mercado para os
materiais reciclados do que esperar que se tenha uma fiscalização eficaz da legislação.
Ações nesse sentido devem ser desenvolvidas para toda a cadeia produtiva da construção
civil, de forma a promover seu desenvolvimento sustentável.

No caso dos resíduos classe B, têm sido aproveitados na construção civil os ciclos
de reciclagem desses tipos de resíduos já existentes nos municípios onde existem
cooperativas e catadores, favorecendo e fortalecendo a inclusão social.

Nesse contexto, ressalta-se a importância da segregação dos resíduos no canteiro de


obra, de acordo com sua classificação e destinação, de forma a viabilizar sua reutilização e
reciclagem. Para que a separação aconteça no canteiro, é imprescindível que a empresa
adote as orientações da Resolução CONAMA 307/02 e a implantação do gerenciamento de
resíduo.

Recomendações sociais

Para a minimização dos impactos sociais do canteiro de obra, algumas ações são
previstas, como: melhoria das condições de hospedagem e alimentação nos canteiros de
obras, de segurança do trabalho e de treinamento dos trabalhadores (Moretti, 2005),
reparação imediata de danos causados ao bem comum, como calçadas e vias de circulação
de veículos, cuidados para evitar a perfuração de redes enterradas, cuidados para impedir
que as rodas de máquinas e equipamentos sujem as vias externas, fornecimento de
equipamentos de proteção adequados ao trabalhador e busca pela diminuição de
incômodos à vizinhança por ruídos, vibrações e poluição do ar (Araújo & Cardoso, 2007).
Capítulo 5 – Obra sustentável 67

Recomendações gerenciais

As preocupações gerenciais no canteiro de obra podem ser tratadas com a criação


de instrumentos gerenciais que minimizem os impactos ambientais, sociais, bem como
econômicos (Cardoso, 2006b). A ferramenta que dará suporte e condições de melhoria às
ações ambientais e sociais desenvolvidas no canteiro é o ciclo PDCA5, com o planejamento
gerencial, treinamento, implementação de ações, com acompanhamento, onde a empresa
terá condições de melhorar a sustentabilidade a cada obra edificada. Dessa forma, não
serão desenvolvidas ações pontuais em canteiros de obra, sem um foco estratégico.

Segundo Blanco (2007), algumas construtoras estão inserindo as dimensões de


sustentabilidade em seus planos estratégicos ou em projetos específicos. Assim, são
escolhidos critérios de sustentabilidade que devem ser alcançados, através de
implementação de ferramentas de gestão. Para a escolha desses critérios, as empresas estão
também levando em conta as exigências de certificações ambientais internacionais do ramo
da construção civil. Algumas diretrizes escolhidas são gestão de resíduos; redução do
consumo de recursos naturais; separação e reutilização de materiais; preferência por locais
já ocupados; redução na emissão de carbono; controle de níveis de poluição dos
caminhões, máquinas e veículos que entram na obra; critérios de redução do consumo de
materiais e energia na produção de bens e serviços; diminuição de emissão de substâncias
tóxicas, principalmente o gás carbônico; intensificação do uso de materiais reciclados;
maximização do uso de recursos renováveis; e prolongamento da vida útil dos produtos.

Dessa forma, a partir do planejamento estratégico de inserção da empresa no


mercado de construção sustentável e dos focos de atuação prioritários, poderão ser
definidas ações gerenciais a serem implementadas no canteiro de obra, de forma a se obter
um processo produtivo mais sustentável.

Para a gestão de materiais podem ser citadas algumas recomendações como


aquisição de materiais com origem mais próxima, de rápida renovação na natureza e que
possuam baixo índice de compostos orgânicos voláteis (Oliveira, 2007); substituição da

5
Trata-se do ciclo de Shewhart ou ciclo de Deming, dividindo a gestão em quatro principais passos: P (plan -
planejamento), D (do – fazer), C (check – verificação) e A (action – ação).
Capítulo 5 – Obra sustentável 68

maior parte da madeira consumida, com adoção de fôrmas metálicas e plásticas que podem
ser recicladas, uso de madeira de reflorestamento, exigência de embalagens otimizadas
(paletes ou em pacotes), evitando desperdício, incentivo em forma de aumento de
remuneração para os profissionais que atingem as metas ambientais da empresa, incentivo
à adoção de processo de sustentabilidade dos fornecedores, adoção de um programa de
qualificação de parceiros (Blanco, 2007); cuidados com o armazenamento de materiais,
tomando especial cuidado com os produtos tóxicos, inflamáveis e perigosos; incorporação
de critérios de sustentabilidade na aquisição de bens e contratação de serviços, dando
preferência às que não trabalhem com mão-de-obra informal, que estejam em dia com suas
obrigações tributárias e fiscais, que valorizem a saúde, segurança e condições de trabalho e
que respeitem o ambiente, compra de madeira somente de empresas que possam
comprovar sua origem (Araújo & Cardoso, 2007).

Para a gestão do canteiro, são diretrizes sustentáveis a: elaboração de um plano de


controle de sedimentos e erosão (Oliveira, 2007); separação, coleta, reaproveitamento e
controle de destinação adequada para os resíduos do canteiro (Blanco, 2007); elaboração
de um plano de preservação, conservação e transplante de todos os recursos naturais
existentes, plano de controle de erosão e deposição de sedimentos; monitoramento
sistemático das ligações provisórias, projeto de sistema para esgotamento de águas servidas
da obra; previsão de área para decantação de águas com material particulado (argamassas,
gesso, etc.), para recolher as águas de lavagem de equipamentos, antes de esgotá-las;
prevenção para que eventuais produtos tóxicos existentes no canteiro não sejam carreados
pelas chuvas e adentrem as redes públicas; uso de produtos modulares e reaproveitáveis
para as instalações provisórias, adoção de tapumes que causem o menor impacto visual;
realização sistemática de medições de emissões de CO2 e ruídos em máquinas, veículos e
equipamentos (Araújo & Cardoso, 2007).

Uma vez que o SGQ com base nos requisitos do PBQP-H e ISO 9001 está pautado
na melhoria contínua dos processos da empresa e na satisfação do cliente, a gestão da obra,
incluindo gestão de projeto e planejamento, de canteiro, de aquisição de material, de
execução e contratação de serviços, de contratação e treinamento da mão-de-obra, de
equipamentos e manutenção e dos resíduos da obra, é seu principal foco de atuação, por se
Capítulo 5 – Obra sustentável 69

tratar do processo mais crítico da construtora, podendo ser, então, um disseminador das
ações sustentáveis.

Conclui-se que para uma empresa que possua objetivos estratégicos de atuação no
mercado da construção sustentável a existência de um SGQ alinhado com esses objetivos
pode ser uma ferramenta de gestão poderosa para que se alcance a sustentabilidade da
obra.

Garantir canteiros de obra sustentáveis não é tarefa simples e, para sua


implementação, é necessário o desenvolvimento de um sistema de gestão ou plano de
gestão que incorpore as questões ambientais, sendo que esse deve ser o desafio cada vez
mais perseguido pelos agentes do setor (Araújo & Cardoso, 2007).

5.2 – GERENCIAMENTO DE RCC EM CANTEIRO DE OBRA

Dentro das ações gerenciais a serem adotadas no canteiro de obra, pretende-se


destacar o gerenciamento de resíduos como um fator impulsionador da sustentabilidade da
obra, podendo contribuir com a diminuição dos impactos ambientais através da não
geração, redução, reutilização, reciclagem e destinação comprometida do RCC,
incentivando a reciclagem e conseqüente inserção de camadas sociais carentes nesse ciclo,
com a educação ambiental da mão-de-obra e com a adequação da empresa às atuais
exigências legais referentes ao meio ambiente. Outro aspecto relevante é a
interdependência existente entre o gerenciamento de resíduo do canteiro com as soluções
adotadas pela municipalidade em sua gestão de resíduos sólidos.

Conforme exposto anteriormente, a geração e disposição de resíduos oriundos dos


processos construtivos apresentam-se como um dos grandes desafios para a gestão
ambiental, principalmente pelos impactos ambientais causados, como grande volume de
geração de entulho e descomprometimento com a regularidade de sua disposição,
resultando em esgotamento prematuro de área de disposição final de resíduos, obstrução da
drenagem urbana, degradação de mananciais, sujeira nas vias públicas, proliferação de
insetos, prejuízo aos cofres públicos e à saúde do cidadão. Além disso, não foram
Capítulo 5 – Obra sustentável 70

identificados impactos positivos (econômico e social), principalmente pela inexistência de


uma cadeia de valor para esses resíduos (Blumenschein, 2004).

Estudos mostram que entre 15% a 30% da massa dos RCC de cidades brasileiras
são resultantes da atuação da construção formal (Pinto, 2005). Porém, Blumenshein (2004)
ressalta que, apesar dos pequenos geradores serem os maiores contribuidores para a
situação de grande volume de RCC e da irregularidade de sua disposição, são as empresas
construtoras as que mais podem contribuir com o setor, por serem o elo da cadeia
produtiva com maior potencial catalisador e disseminador de comportamentos.

Diante da realidade de grande quantidade de RCC gerado, seu potencial de


reciclagem e requisitos da Resolução CONAMA 307/02, passa-se a exigir dos canteiros de
obras a realização da segregação e destinação adequada dos RCC, através da implantação
de gerenciamento de resíduos.

5.2.1 – Fases do gerenciamento de RCC

Gerenciamento de resíduos é o sistema de gestão que visa reduzir, reutilizar ou


reciclar resíduos, incluindo planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos e
recursos para desenvolver e implementar as ações necessárias ao cumprimento das etapas
previstas em programas e planos (Brasil, 2002).

As fases do gerenciamento de RCC aqui consideradas são as estabelecidas para


grandes geradores, de acordo com a Resolução CONAMA 307/02. Sendo, portanto,
iniciada com a elaboração do PGRCC, onde os vários tipos de RCC serão identificados e
quantificados, além de definidas as formas de triagem, acondicionamento, transporte e
destinação dos mesmos. Posteriormente, o PGRCC deve ser apresentado ao órgão
ambiental, para o licenciamento do empreendimento e deverá ser implementado durante a
execução da obra.

Esse trabalho considerou que as atividades relativas à não geração e redução da


geração de RCC estão contempladas através da aplicação do SGQ, para as empresas que
Capítulo 5 – Obra sustentável 71

possuem certificação PBQP-H ou ISO 9001, e de ações voltadas ao combate de


desperdícios e diminuição de custo, normalmente desenvolvidas por empresas construtoras
que não possuem certificação e que buscam manter-se no mercado competitivo.

Partindo para a solução do RCC com geração inevitável, busca-se a reutilização, a


reciclagem ou o descarte ambientalmente adequado, nessa ordem de prioridade.
Ressaltando que a reutilização e a reciclagem só serão viáveis se os vários tipos de
resíduos estiverem adequadamente separados.

A triagem do RCC deve ser feita através da segregação e armazenamento iniciais,


ou seja, próximo da execução do serviço, de acordo com a classificação e destinação
planejada. Devem ser previstos dispositivos para o armazenamento inicial, de forma a se
manter a separação dos diversos tipos de resíduos gerados, muitas vezes, na execução de
um único serviço ou dos vários que acontecem simultaneamente no mesmo local. Outro
aspecto relevante é a localização desses dispositivos que deve ser o mais próximo possível
da geração, podendo ser alterada de acordo com o andamento dos serviços que estão sendo
executados na obra.

Blumenschein (2002) ressalta a importância da sinalização dos locais, caçambas e


baias de armazenamento dos resíduos, de forma a facilitar a memorização da classe, local
de armazenamento e destinação dos RCC pela mão-de-obra.

O transporte interno de RCC entre os armazenamentos inicial e final dentro do


canteiro é de grande importância para que se mantenha segregado e evite sua
contaminação, imprescindível para uma destinação ambientalmente adequada.

A capacidade e quantidade dos dispositivos para o armazenamento final dos vários


tipos de RCC devem ser compatíveis com a freqüência de remoção. Outro aspecto
importante é a localização desses dispositivos dentro do canteiro, de forma a facilitar a
coleta e manter o aspecto de limpeza e organização da obra.

Para que as fases de segregação, armazenamentos inicial e final e transporte interno


aconteçam dentro do canteiro, é preciso um forte investimento em treinamento dos
Capítulo 5 – Obra sustentável 72

colaboradores envolvidos, inclusive terceirizados, incentivando a mudança da cultura de


limpeza da obra. Normalmente, a limpeza é feita através do empilhamento de todos os
tipos de resíduos e a implantação do gerenciamento de RCC pretende que os mesmos
sejam separados em dispositivos distintos, com o objetivo de destiná-los adequadamente,
contribuindo com a preservação do meio ambiente.

Com relação ao treinamento dos envolvidos, Blumenschein (2004) afirma que a


conscientização e participação da mão-de-obra são imprescindíveis para o sucesso da
coleta seletiva no canteiro de obra.

A segregação a ser realizada dentro do canteiro de obra também é defendida por


Marcondes & Cardoso (2005) quando afirmam que, após a geração do resíduo, existem
duas alternativas: segregação (incluindo identificação, separação e quantificação) logo
após sua geração ou envio de RCC misturado para uma Área de Transbordo e Triagem,
delegando a responsabilidade pela sua separação, mediante pagamento. A segunda opção
não deve ser a preferencialmente usada por grandes geradores (construtoras) por terem
capacidade para gerenciar o RCC, evitando sua contaminação e favorecendo a reciclagem.

De acordo com a quantidade e destinação a ser dada aos resíduos separados, a


construtora deve providenciar seus respectivos transportes. Caso a reutilização e
reciclagem ocorram no próprio canteiro ou externamente, mas com a coleta sendo feita
pelo destinatário, essa etapa não será necessária.

Segundo Pinto (2005), a coleta e remoção de RCC do canteiro devem conciliar


fatores como compatibilização com a forma de armazenamento final, minimização de
custos, possibilidade de valorização e adequação dos equipamentos com a legislação. Além
disso, é importante tomar alguns cuidados na contratação desse tipo de serviço como
qualificação (cadastro junto ao órgão competente, obediência à legislação municipal),
disponibilização de equipamentos em bom estado de conservação, obrigatoriedade de
devolução da comprovação da destinação do resíduo de acordo com a solicitação do
contratante e condicionamento do pagamento do serviço mediante a apresentação do
registro de destinação.
Capítulo 5 – Obra sustentável 73

Para o mesmo autor, as soluções de destinação de RCC devem combinar


compromisso ambiental e viabilidade econômica, garantindo sustentabilidade. Apresenta
como fatores determinantes para a escolha da destinação a possibilidade de reutilização ou
reciclagem no próprio canteiro, proximidade do destinatário e uso de áreas especializadas
para destinação de resíduos mais complicados.

Os resíduos classe A podem ser reutilizados para aterro de terrenos, desde que as
orientações da gestão pública sejam obedecidas, ou enviados a recicladores para a
produção de agregado reciclado ou ainda armazenados para utilização futura.

A reciclagem de resíduo de alvenaria, concreto e cerâmica no canteiro de obra


(reciclagem interna) deve ser feita com base em análise de viabilidade econômica e
financeira, considerando aspectos como volume e fluxo estimados de geração; custo com
mão-de-obra, equipamento e energia comparado com o do agregado natural e de remoção
de RCC; disponibilidade de espaço para armazenamento de estoque; possíveis usos do
agregado reciclado; e controle tecnológico do agregado produzido (Pinto, 2005).

Os resíduos classe C podem ser depositados em aterros para futura reciclagem, após
desenvolvimento de tecnologia que a viabilize técnica e economicamente. Os classificados
como perigosos (D) devem ser depositados, aguardando solução específica e recomenda-se
a sua disposição em aterros de resíduos perigosos (Marcondes & Cardoso, 2005).

Todos os envolvidos com o sistema de gerenciamento de resíduos devem ser


qualificados e cadastrados pela construtora e todo resíduo retirado do canteiro deve ter sua
destinação registrada para sua quantificação e comprovação de adequação.

Dessa forma, durante a execução da obra e na sua finalização, podem ser levantadas
as quantidades por tipo de resíduo e total gerada, com a possibilidade de avaliação da
melhoria de serviços que gerem resíduos em demasia e de criação de indicadores a serem
acompanhados pela empresa. Além disso, pode ser feita uma análise comparativa do custo
previsto e realizado com a remoção de resíduo, com a adoção de medidas corretivas, caso
necessário, usando essa informação para o orçamento das próximas obras.
Capítulo 5 – Obra sustentável 74

Para que a solução adotada no canteiro de obra possa se tornar uma rotina na
construtora, faz-se necessário que seja formalizado um procedimento descrevendo os
passos para a implantação do gerenciamento de resíduos. Caso a empresa possua um SGQ,
o gerenciamento de resíduo pode ser inserido no mesmo. Dessa forma, cria-se a cultura do
tratamento adequado do RCC.

As etapas descritas do gerenciamento de RCC são apresentadas resumidamente na


Figura 5.2.

Elaboração e apresentação de PGRCC ao órgão competente

Implementação de ações para a não geração e redução da geração de RCC

Treinamento dos envolvidos para a separação e transporte de RCC

Segregação e armazenamento inicial de RCC, de acordo com a respectiva classificação e destinação

Transporte interno

Armazenamento final no canteiro

Qualificação e cadastro dos envolvidos

Transporte externo Reutilização e reciclagem internas

Reutilização externa Destinação ambientalmente


Reciclagem externa
comprometida

Registro da destinação

Quantificação de RCC

Análise de quantidade RCC gerada

Formalização de procedimento para gerenciamento de RCC

Melhoria contínua

Legenda: Fase interna ao canteiro de obra


Fase dependente da gestão municipal
de resíduos

Figura 5.2 - Fluxograma sugerido para as fases do gerenciamento de RCC em


canteiro de obra formal

Vários são os resultados que podem ser alcançados com a implantação do


gerenciamento de resíduos, como: redução de custos com o transporte dos resíduos,
Capítulo 5 – Obra sustentável 75

melhoria da organização e limpeza da obra, marketing positivo para a empresa,


cumprimento de responsabilidades sócio-ambientais da empresa, fortalecimento da auto-
estima dos participantes e promoção de educação ambiental, a exemplo do que ocorreu em
Goiânia e no Distrito Federal (Blumenschein, 2002). Em São Paulo, os resultados citados
pelas construtoras foram: organização da obra, conscientização ambiental, redução de
custos, melhoria na administração dos resíduos, adequação à legislação e melhora da
imagem da construtora (Pinto, 2005). Já em construtoras em Recife foram identificados os
seguintes resultados: redução de volume de resíduos a descartar, otimização do fluxo de
resíduos, redução de custos com remoção de resíduos, ajuste aos padrões de
desenvolvimento sustentável e respeito às normas ambientais (Carneiro et al., 2006).

Por outro lado, alguns autores alertam para a motivação restrita e o processo muitas
vezes descompromissado de implantação do gerenciamento de resíduos que estão
comprometendo resultados mais efetivos. Marcondes & Cardoso (2006) constataram que
com a obrigação de realizar o gerenciamento de resíduos gerados durante a execução da
obra, a maioria das empresas paulistas vem implantando um plano de ação de pequena
abrangência e de atuação isolada. Schneider et al. (2007) afirmam que o gerenciamento de
RCC adotado por empreendedores de Bento Gonçalves está baseado na redução de custos
e que a falta de uma estrutura baseada em preceitos ambientais acarreta geralmente na
ineficiência das ações tomadas. Andery & Corrêa (2006) ressaltam a necessidade de
adoção de ações mais sistêmicas e que atuem preventivamente em detrimento de
programas que se restringem à diminuição das perdas visíveis nos canteiros de obras.
Marcondes & Cardoso (2005) questionam se a motivação para o gerenciamento de RCC
em canteiros de obras baseada no atendimento à legislação, na redução de custos de
disposição e na melhoria da imagem corporativa, podem trazer resultados perenes para a
empresa.

Pode-se concluir que o gerenciamento de resíduos implantado em alguns canteiros


de obras é movido pela busca ao atendimento à legislação, sem aumento de custos da obra,
não sendo utilizado como uma ferramenta gerencial e de melhoria dos processos da obra.
Apesar desse significado restrito para as empresas, a ação tem trazido benefícios
ambientais, sociais e econômicos que precisam avançar de forma a ampliar e aprofundar os
resultados.
Capítulo 5 – Obra sustentável 76

5.2.2 – O gerenciamento de RCC e a gestão municipal de resíduos sólidos

O gerenciamento de RCC é composto por uma fase interna ao canteiro de obra que
depende da iniciativa e do comprometimento da empresa e uma externa que depende da
gestão municipal de resíduos sólidos, sem o qual o processo não se completa.

O exemplo da dificuldade de realização de todas as fases do gerenciamento de RCC


pelas construtoras em Recife pode ilustrar essa problemática. Silva et al. (2007) afirmam
que, para o aprimoramento do gerenciamento de resíduo implantado em canteiro de obra, é
fundamental o suprimento de carências como criação e melhor distribuição de áreas
legalmente habilitadas para disposição de RCC; efetivo cumprimento da legislação
pertinente, através da cobrança da responsabilidade dos agentes envolvidos no sistema;
desenvolvimento de mecanismos eficientes para controle, fiscalização e incentivo para
utilização de resíduos reciclados.

Também Silva & Simões (2007) constataram, através de pesquisa realizada em


canteiros de obras de pequeno porte de Belo Horizonte, que a implantação das diretrizes do
CONAMA é viável técnica e economicamente, necessitando que haja uma maior
divulgação e cobrança por parte dos órgãos responsáveis, de forma que se torne uma
realidade em todos os canteiros.

Marcondes & Cardoso (2005) citam algumas ações públicas que favorecerão o
gerenciamento de RCC, como licenciamento de área de transbordo e triagem (viabilizando
reciclagem), abertura do mercado público para materiais reciclados, regulamentação da
fiscalização da destinação de RCC e incentivos ao desenvolvimento do mercado produtor e
consumidor de produtos com reciclados produzidos a partir de RCC.

Segundo Pinto (2005), as soluções para a gestão de RCC nas cidades são
viabilizadas através da integração e atuação de agentes como órgão público municipal,
controlando e fiscalizando o transporte e a destinação dos resíduos; os geradores,
observando os padrões de destinação final, previstos na legislação; e os transportadores,
destinando o RCC aos locais licenciados e devolvendo comprovantes de destinação. Mais
Capítulo 5 – Obra sustentável 77

uma vez depara-se com a necessidade de integração entre os agentes envolvidos com o
gerenciamento de RCC.

A implantação do gerenciamento de resíduo no canteiro de obra é uma tarefa


desafiadora e as dificuldades que são apresentadas na literatura podem ser de caráter
interno do canteiro e da empresa (custos com consultoria, treinamento e aquisição de
dispositivos, dificuldade de adequação a uma nova rotina, comprometimento dos
envolvidos nos vários níveis hierárquicos da empresa, dentre outros) ou externo
(comprometimento de transportadores e fabricantes, ausência de local adequado para
destinação dos resíduos, política de valorização do agregado reciclado, dificuldade de
articulação dos diversos agentes, etc). Ambas precisam ser resolvidas, mas é certo que um
gerenciamento de resíduo implementado de forma comprometida dentro do canteiro se
perde por um todo quando não encontra o respaldo da gestão pública que complete o ciclo
virtuoso desse processo.
CAPÍTULO 6

METODOLOGIA
Capítulo 6 - Metodologia 79

6 – METODOLOGIA

Para alcançar o objetivo proposto, foi realizada uma pesquisa que pode ser
caracterizada como exploratória-descritiva, com adoção de delineamento na forma de
estudo de caso, método observacional, comparativo e monográfico. Foram utilizados
instrumentos como levantamento em documentos, entrevistas, registro fotográfico e
planilhas para a coleta e tratamento de dados.

Para a delimitação da unidade de estudo de caso, foi feito um levantamento no


setor de engenharia da CAIXA, em agosto de 2006, sobre as obras residenciais a serem
executadas, dentro do cronograma previsto para a realização da pesquisa, e que possuíssem
tipologia executada com freqüência no mercado de Aracaju, buscando assim a realização
da pesquisa em casos típicos.

Foi então selecionado um condomínio vertical, composto por vinte e quatro


prédios, com quatro pavimentos e dezesseis apartamentos cada, executados em alvenaria
estrutural, que seria construído por duas empresas construtoras, conforme descrição mais
detalhada, feita no capítulo 7.

As atividades de acompanhamento dos canteiros foram realizadas no período de


janeiro de 2007 a janeiro de 2008, pela mestranda e um estagiário do oitavo período do
curso de Engenharia Civil, selecionado e treinado para a realização do acompanhamento
diário das obras, no período da manhã.

Observou-se que a estratégia de ataque à obra para a execução dos serviços


acontecia em praticamente todos os prédios ao mesmo tempo e que a parcela de
contribuição dos colaboradores, encarregados e engenheiros das obras para a quantificação
dos RCC era bastante limitada, não oferecendo condições para o acompanhamento do
resíduo gerado por serviço em todos os prédios.

Sendo assim, em março de 2007, foram selecionados os dois prédios que possuíam
menor quantidade de serviço executado de cada canteiro, onde seriam quantificados os
Capítulo 6 - Metodologia 80

resíduos por serviço, além da manutenção do acompanhamento geral, que já vinha sendo
feito, das fases de gerenciamento de RCC adotadas nos canteiros.

6.1 – QUESTÕES DE PESQUISA

Foram formuladas as seguintes questões de pesquisa, com o objetivo de orientar o


estudo:

 Como inserir o conceito de desenvolvimento sustentável no setor da


construção civil?

 Qual a contribuição do gerenciamento de resíduo para a sustentabilidade da


obra em Aracaju?

A seguir procede-se a descrição das fases da pesquisa, com a identificação dos


respectivos instrumentos utilizados para a coleta de dados.

6.2 – CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS E OBRAS PESQUISADAS

Foi realizada entrevista semi-estruturada com os empresários e os engenheiros das


obras pesquisadas e as características levantadas foram embasadas nos critérios
considerados relevantes para a sustentabilidade da obra e o gerenciamento de resíduos,
descritos nos capítulos 4 e 5, além de serem fundamentais para o entendimento do contexto
onde a pesquisa está inserida, delimitando as possibilidades de análise e comparação entre
os dados das duas obras pesquisadas e de outros canteiros de obras que se interessem pelas
informações.

Para a caracterização da obra, foi feito, também, o levantamento da documentação


da obra como, por exemplo, planta de implantação do empreendimento, especificação
técnica, planilha orçamentária, projeto de gerenciamento de resíduo e programação
operacional da obra.
Capítulo 6 - Metodologia 81

6.3 – LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES SOBRE O GERENCIAMENTO DE


RCC ADOTADO NOS CANTEIROS DE OBRAS

As diversas fases do gerenciamento de RCC foram acompanhadas, com base nas


recomendações da Resolução CONAMA 307/02, através de observações simples e
sistemáticas, com o uso de plano de observação, principalmente para o registro das opções
adotadas pelas empresas como: armazenamentos inicial e final, transportes interno e
externo de RCC.

As informações sobre as ações para a não geração e redução da geração de RCC e


de reutilização interna de RCC foram obtidas através de observação simples, com registro
fotográfico e de entrevista parcialmente estruturada com os engenheiros e mestres das
obras.

Os dados sobre o PGRCC foram obtidos através de entrevista parcialmente


estruturada com o responsável pelo SGQ de uma das empresas. As informações sobre
treinamento foram conseguidas da mesma maneira que o PGRCC, além de entrevista
estruturada realizada com os colaboradores dos canteiros pesquisados.

Para realizar a análise de adequação dos gerenciamentos adotados nos canteiros


pesquisados, foi necessário conhecer a gestão municipal de RCC de Aracaju e as opções
disponíveis para sua destinação, que foram levantadas através de entrevista parcialmente
estruturada com o Diretor de Controle Operacional e com o Gerente de Limpeza Urbana da
Empresa Municipal de Obras e Urbanização (EMURB); e com a engenheira responsável
pela análise dos projetos de gerenciamento de resíduos de construção da Administração
Estadual do Meio Ambiente (ADEMA), em setembro de 2007.

6.3.1 – Levantamento de informações sobre o total de resíduos gerados nos canteiros


de obras

O formulário “Quantificação de Saída de Resíduos do Canteiro de Obra”,


apresentado no Apêndice A.1, foi elaborado com base nos tipos de resíduos que seriam
Capítulo 6 - Metodologia 82

gerados nos canteiros e preenchido para todas as retiradas de RCC, através de observação e
das informações fornecidas pelos almoxarifes das obras. Esse mesmo formulário também
foi usado para registrar o transportador, a destinação final e a devolução de registro da
destinação.

Para os resíduos que não tiveram a devolução do registro de destinação, a


quantificação foi feita em volume, de acordo com a capacidade do transporte utilizado,
sendo considerado, para as caixas coletoras, o volume de 4,5 m3/caixa e, para o caminhão,
8,5 m3/viagem e sua destinação foi considerada desconhecida.

6.3.2 – Levantamento de informações sobre resíduos gerados por serviço

O formulário “Quantificação de Resíduo por Serviço Executado”, disponível no


Apêndice A.2, foi elaborado para a coleta de informações dos resíduos gerados nos
serviços executados nos quatro prédios escolhidos inicialmente.

Para a quantificação dos resíduos em peso, foram utilizadas a balança de fabricação


Valmak, modelo 101-e, com capacidade de 200 kg, de propriedade de uma das
construtoras; e a balança eletrônica de fabricação Filizola, com capacidade de 60 kg, do
Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Sergipe, para os resíduos
mais leves. Quando em volume, a quantificação foi feita através da contagem do resíduo
em carrinho-de-mão, sendo considerado o volume de 0,08 m3/carrinho-de-mão, ou foi
cubado na obra. Normalmente a quantificação foi feita com o acompanhamento do
estagiário e, eventualmente, quando realizada no período da tarde, algum colaborador da
obra era solicitado para essa tarefa.

6.4 – LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES SOBRE A VISÃO AMBIENTAL


DAS EMPRESAS PESQUISADAS

Para se conhecer o nível de informação sobre a legislação ambiental e a


importância atribuída à legislação e ao meio ambiente para as atividades das construtoras,
Capítulo 6 - Metodologia 83

foi realizada entrevista estruturada com os empresários de todas as empresas que estavam
executando obras com a mesma tipologia das pesquisadas, totalizando oito entrevistas.

O formulário da entrevista, disponível no Apêndice B.1, foi elaborado de maneira a


se obter informações sobre a real aplicação da Resolução CONAMA 307/02 nos canteiros
das empresas e a relação percebida pelo empresário entre as atividades da construtora e o
meio ambiente. As entrevistas foram realizadas em junho de 2007, porém as duas empresas
que tiveram seus canteiros acompanhados pela pesquisa foram entrevistadas em janeiro de
2008.

Foi realizada, também, entrevista com os colaboradores dos dois canteiros


pesquisados, no período de junho a agosto de 2007, buscando-se informações sobre o
conhecimento da destinação do RCC gerado na obra e a relação entre o RCC e o meio
ambiente. O formulário utilizado é apresentado no Apêndice B.2 e o mesmo foi
inicialmente testado e aplicado pela mestranda, com o acompanhamento de dois estagiários
de Engenharia Civil que foram treinados para dar continuidade à aplicação do instrumento
de pesquisa.

O número de colaboradores pesquisados foi definido de acordo com Ribeiro (1977),


que apresenta que o dimensionamento de amostras depende do nível de confiança
estabelecido e do erro amostral, previamente fixado pelo pesquisador. Para uma amostra
com precisão razoável nos parâmetros, adota-se erro amostral máximo de 10%.

Para variável quantitativa contínua e população finita, calcula-se o tamanho da


amostra aleatória simples a ser selecionada da população, através da Equação 6.1:

n = z2 . P . Q . N_
Er2 (N-1) + z2 . P . Q

Sendo:

z = abscissa da curva normal, de acordo com o nível de confiança adotado;


Er = erro amostral;
Capítulo 6 - Metodologia 84

P = probabilidade de ocorrência da característica a ser observada;


Q=1–P
N = população
Considerando-se nível de confiança de 95%, o valor de z a ser adotado é de 1,96.

Utilizando-se P = 0,5, obtém-se o maior tamanho da amostra e, conseqüentemente,


maior probabilidade de acerto e Q = 0,5.

A população foi definida pelo número máximo de colaboradores presentes até a


realização da entrevista, que foi de 220 para cada canteiro. Aplicando os parâmetros
adotados acima e considerando-se um erro amostral de 10%, define-se a amostra da
entrevista de 68 colaboradores em cada obra.

6.5 – LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES SOBRE AÇÕES SUSTENTÁVEIS


ADOTADAS NO EMPREENDIMENTO PESQUISADO

As informações sobre ações sustentáveis adotadas na fase de concepção, projeto e


execução da obra do empreendimento pesquisado foram levantadas através da realização
de entrevista parcialmente estruturada, em janeiro de 2008, com a arquiteta e os
empresários construtores; do levantamento em documentos; e da observação simples com
registro fotográfico.

A pauta elaborada para a realização das entrevistas e da observação foi baseada nas
informações coletadas na pesquisa bibliográfica sobre recomendações sustentáveis a serem
adotadas para as fases da construção sustentável que foram pesquisadas.

6.6 – TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

A análise e interpretação dos resultados do gerenciamento de RCC foram feitas


através da comparação entre a realidade levantada nos dois canteiros de obras pesquisados
Capítulo 6 - Metodologia 85

e as exigências da Resolução CONAMA 307/02, além das opções disponíveis no


município de Aracaju.

A quantificação total do RCC retirado de cada canteiro de obra foi realizada através
da conversão das unidades de volume em massa levantadas no preenchimento do
formulário “Quantificação de Saída de Resíduos do Canteiro de Obra”, utilizando-se
valores de peso específico existentes na literatura, conforme Quadro 7.7. A área utilizada
para o cálculo do indicador de massa de resíduo gerado por área construída foi informada
pelo engenheiro de uma das obras. O Apêndice C apresenta o cálculo desse indicador. Os
valores encontrados foram comparados com os existentes na literatura e também
contribuíram para a interpretação dos resultados do gerenciamento de RCC.

A totalização dos resíduos gerados por serviço foi feita através da conversão das
unidades de massa em volume levantadas no preenchimento do formulário “Quantificação
de Resíduo por Serviço Executado”, da mesma maneira descrita no item anterior e está
apresentada no Apêndice D. A área por serviço executado foi levantada com base na
especificação da obra e no projeto arquitetônico e a área total foi a mesma usada na
quantificação total de saída de resíduo.

Os dados obtidos nas entrevistas estruturadas dos empresários e colaboradores


foram tabulados com o pacote Microsoft Office e as perguntas abertas foram analisadas a
partir do seu conteúdo, sendo que o resultado da entrevista dos colaboradores está
apresentado no Apêndice E. Essas informações foram utilizadas para avaliar a evolução do
conhecimento e aplicação da legislação ambiental pelas construtoras através da
comparação com levantamento feito anteriormente por Daltro Filho et al. (2005) e para
definir sugestões para a melhoria da sustentabilidade da obra, a partir da visão dos
empresários e colaboradores da construção civil de Aracaju.

A análise e interpretação dos resultados de ações sustentáveis desenvolvidas no


empreendimento pesquisado foram feitas por meio da comparação das informações
levantadas na obra com as existentes na literatura. Essa comparação resultou em
recomendações para viabilizar esse avanço na construção civil de Aracaju.
CAPÍTULO 7

ANÁLISE DE DOIS CANTEIROS DE OBRAS DE ARACAJU


Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 87

7 – ANÁLISE DE DOIS CANTEIROS DE OBRAS DE ARACAJU

Este capítulo tem como objetivo apresentar e analisar os resultados da pesquisa,


buscando seguir os conhecimentos apresentados no referencial teórico, de maneira a se
conhecer melhor as práticas adotadas nos canteiros de obras e seu respectivo potencial de
contribuição ambiental e sustentável.

7.1 – INFORMAÇÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO CIVIL EM ARACAJU

Aracaju, capital do Estado de Sergipe, possui uma área de 181,80 km2 e conta
atualmente com uma população de 520.303 habitantes (IBGE, 2007) e densidade
demográfica de 2.861,95 hab/km2.

Assim como na maioria das cidades brasileiras, o processo de urbanização de


Aracaju é crescente, apresentando, no período de 1960 a 2000, um crescimento
populacional de 309,69% (Daltro Filho et al., 2005).

A forte urbanização tem gerado, entre outros impactos, um elevado déficit


habitacional absoluto no Estado de Sergipe, da ordem de 87.212 unidades habitacionais,
representando um déficit relativo de 15,8% (FGV, 2006).

Dados da Federação das Indústrias do Estado de Sergipe - FIES (2007a) mostram


que a indústria da construção civil participou em 3,9% do PIB do Estado de Sergipe em
2006, representando 7,3% da participação da indústria sergipana.

Outra informação que ressalta a importância econômica da construção civil


sergipana é que aproximadamente 40% dos seus insumos são fornecidos por produtores do
próprio Estado, movimentando e incentivando a indústria e comércio estaduais (FIES,
2007a).

Em 2005, o número total de estabelecimentos da construção civil em Sergipe era de


907, formado por 97% de micro e pequenas empresas e representando 36,9% dos
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 88

estabelecimentos industriais do Estado. Com relação à distribuição das empresas, 56,8%


(515 estabelecimentos) estão localizadas em Aracaju, incluindo nesse percentual as
maiores empresas do setor, e 74,3% localizadas na chamada Grande Aracaju, da qual
fazem parte os municípios de Aracaju, Barra dos Coqueiros, Nossa Senhora do Socorro e
São Cristóvão (Tavares, 2007; FIES, 2007a).

A grande capacidade de geração de emprego do setor é confirmada pelos dados de


2005, que mostram que a indústria sergipana participou com 22,9% nos empregos formais
do Estado, sendo 7,8%, referentes à indústria da construção civil. Esse segmento ocupa, em
empregos diretos e formais, 13,4 mil pessoas em Sergipe, chegando a 20 mil pessoas,
considerando também os empregos indiretos, sendo que 83% do pessoal empregado
diretamente está localizado na Grande Aracaju (FIES, 2007a).

Segundo Tavares (2007), o pessoal empregado formalmente na construção civil em


Sergipe e Aracaju possui baixo nível de escolaridade, baixa remuneração média e
rotatividade significativa.

Pesquisa realizada com colaboradores de canteiros de obras de Aracaju mostrou


que um elevado percentual (93,71%) nunca recebeu treinamento para o exercício de suas
ocupações e 48,43% afirmaram que trabalham 10 horas por dia. Com relação a acidente de
trabalho, 91,03% dos trabalhadores não sofreram acidentes, porém esse dado positivo deve
ser visto com certa reserva, uma vez que 58,75% da força de trabalho permanece menos de
um ano no emprego, muitas vezes, não havendo tempo para expor o trabalhador ao risco,
além do que só são registrados os acidentes graves e essa mão-de-obra é formada
predominantemente por jovens, 43,05% com idade até 30 anos (FIES, 2007b).

Dentre os impactos ambientais da construção civil em Aracaju podem ser citados o


surgimento de áreas degradadas, localizadas no rio Poxim (próximo à Universidade
Federal de Sergipe), no bairro Santa Maria e em vários pontos nas proximidades da
Avenida Tancredo Neves, em decorrência do processo de retirada de areia e argila de
jazidas exploradas sem licenciamento, para uso na construção civil, e aterramento de áreas
invadidas na zona norte da cidade. Além disso, outros impactos ao meio ambiente, como o
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 89

desabamento de encostas, poluição de rios e degradação de manguezais, são decorrentes da


disposição irregular de resíduos dessa atividade (Daltro Filho et al., 2005).
A realidade da disposição irregular de RCC em Aracaju propicia um impacto
econômico negativo para a municipalidade da ordem de R$ 6,05/ano.hab (Daltro Filho et
al., 2005).

Fatos caracterizados como relevantes para a busca de melhoria tecnológica das


empresas construtoras e da consciência ambiental do setor foram descritos no Capítulo 4 e
apresentaram desdobramentos importantes no Estado de Sergipe, como os apresentados a
seguir.

Com relação ao PBQP-H, o Termo de Adesão do Estado de Sergipe foi assinado


em 26 de abril de 2001 e, atualmente, apenas a CAIXA exige o certificado do PBQP-H das
empresas que usam seus financiamentos para a execução de obras. De acordo com
informações do Ministério das Cidades, atualmente, no Estado de Sergipe, o programa
conta com 11 construtoras com certificados vigentes pelo SiAC (Sistema de Avaliação da
Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil), sendo 8 com o nível
A. Existem também 7 construtoras que estão com os certificados vencidos há pouco tempo,
podendo indicar que estão em processo de manutenção para atualização dos certificados, o
que totalizaria um número de 15 empresas certificadas no nível A e 18 envolvidas com a
certificação. Comparando-se esse número com o total de empresas associadas ao Sindicato
da Indústria da Construção Civil no Estado de Sergipe (SINDUSCON-SE), percebe-se que
o percentual de 22,5% é ainda pequeno, mas representa um avanço dado pelo setor, em
resposta ao uso do poder de compra do setor público.

O estabelecimento de novas práticas de gerenciamento e destinação de RCC nos


canteiros de obras de Aracaju, motivado pelas exigências da Resolução CONAMA 307/02,
foi iniciado pelos setores organizados da sociedade, capitaneado pelo SINDUSCON-SE.
Os desdobramentos foram: criação da Comissão de Meio Ambiente no Sindicato;
elaboração do “Diagnóstico de Resíduos Sólidos da Construção Civil em Aracaju” (Daltro
Filho et al., 2005); elaboração da Cartilha “Gestão de Resíduos da Construção Civil”
(Barreto, 2005); realização de eventos com palestras técnicas e debates sobre o assunto e
audiências públicas promovidas pelo Ministério Público; desenvolvimento de projeto em
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 90

parceria entre o SINDUSCON-SE e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de


Sergipe (SEBRAE-SE), para a implantação de sistema de gerenciamento de resíduos em
canteiros de obras, com a adesão de 15 empresas construtoras; implementação de projeto
piloto com o uso de recicladora móvel com o objetivo de avaliar a aplicação de agregados
provenientes de reciclagem de RCC na composição de concreto, argamassa e bloco (Sales,
2007); elaboração de projeto de gerenciamento de resíduos para o licenciamento das obras,
conforme exigência da ADEMA (Administração Estadual do Meio Ambiente); e realização
de parcerias institucionais para a efetivação de todas as ações (Daltro Filho et al., 2007;
Carvalho & Daltro Filho, 2006).

7.2 – DESCRIÇÃO DAS EMPRESAS E OBRAS PESQUISADAS

As empresas construtoras e seus respectivos canteiros de obras pesquisados serão


denominadas pelas letras “A” e “B”, a fim de se preservar suas identidades. Suas principais
características estão descritas no Quadro 7.1.

Quadro 7.1 - Características das empresas pesquisadas

Empresa
Característica
"A" "B"
Tempo de existência 25 anos 19 anos
(1)
Porte Médio Médio
Edificações (residencial
Edificações (residencial
Área de atuação e comercial) e
e industrial)
Saneamento
Local de atuação Estado de Sergipe Estado de Sergipe
Certificação PBQP-H (nível A) PBQP-H (nível A)
Quantidade de empreendimentos já
(2) 6 1
executados com a tipologia pesquisada
Total de unidades habitacionais já
1.024 _
executadas com a tipologia pesquisada
Data de início da implantação do SGQ 1999 2002
Data da primeira certificação no nível A do
2005 2005
PBQP-H
Quantidade de obras onde foi implantado o
3 1
gerenciamento de resíduos
(1) Porte das empresas definido pelo número de funcionários situado no intervalo de 100 a 499
(2) Inclui a obra pesquisada
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 91

O empreendimento pesquisado é um condomínio residencial de incorporação e


construção da empresa “A” com a participação da empresa “B”, sendo composto por 24
blocos de apartamentos residenciais com 16 apartamentos cada, dos quais 9 blocos com
apartamentos de 48,43 m2 de área construída e com dois quartos, e 15 blocos com
apartamentos de 59,87 m2 com três quartos, distribuídos em 4 pavimentos, totalizando 384
unidades habitacionais, além de salão de festas, parque infantil, quadra de esportes, casa de
lixo, guarita, vagas de garagem e estacionamento para visitantes.

A infra-estrutura interna do condomínio é composta por vias pavimentadas com


paralelepípedo, redes de energia elétrica, de água e de drenagem. A área total construída é
de 23.290,47 m2, distribuídos em 22.610,64 m2 para os 24 blocos e 679,83 m2 para as
demais áreas e o terreno tem área total de 24.846,67 m2. O prazo contratual de execução
da obra foi de 12 meses, sendo as obras finalizadas em janeiro de 2008.

O condomínio pesquisado está localizado no bairro Farolândia, em Aracaju-SE,


podendo ser classificado como um bairro de características mistas por ser formado por
habitações de padrões elevado, médio, popular e favela, possuindo uma boa infra-estrutura
de abastecimento de água, transporte, escola, comércio e lazer.

O empreendimento foi comercializado através de imobiliária e financiado pela


CAIXA, com recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) no programa
associativo, para um público com renda de até 5 salários mínimos, tendo uma excelente
aceitação pelo mercado e com venda total dos apartamentos em 45 dias após seu
lançamento.

Apesar de se tratar de um empreendimento único, com contrato assinado com a


CAIXA em 11/12/06 pela empresa “A”, a execução da obra foi feita com administrações
distintas, inclusive com a separação física dos canteiros, havendo troca de informações
entre as empresas, principalmente pelo fato da empresa “A” já ter realizado outras obras da
mesma tipologia.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 92

A empresa “A” executou 8 blocos de apartamentos com três quartos e 4 blocos com
dois quartos, totalizando 11.738,40 m2 de área construída. A empresa “B” executou 7
blocos de apartamentos com três quartos e 5 blocos de apartamentos com dois quartos,
totalizando 11.552,07 m2 de área construída. A execução da área comum e da infra-
estrutura foi dividida entre as duas construtoras.

A construtora “A” iniciou a obra em setembro de 2006 e manteve um quadro médio


de aproximadamente 215 funcionários (incluindo os terceirizados), chegando ao número
máximo de 248 funcionários, tendo praticamente finalizado a execução dos serviços que
lhe cabiam em novembro de 2007. Os serviços de execução de protensão da fundação,
reboco interno e externo, revestimento interno em gesso, cobertura, calçamento, fabricação
e assentamento de sanca de gesso, fabricação de pré-moldados, instalação de gás e
esquadria foram realizados por empresas terceirizadas.

A construtora “B” iniciou a obra em novembro de 2006 e manteve um quadro


médio de aproximadamente 162 funcionários (sem inclusão dos terceirizados), chegando
ao número máximo de 228 funcionários, tendo finalizado a execução dos seus serviços em
janeiro de 2008. Os serviços de execução de protensão da fundação, fôrma para estrutura,
revestimento interno em gesso, pintura, cobertura, calçamento e instalação de gás foram
realizados por empresas terceirizadas.

O canteiro possuía uma única entrada para material e pessoal das duas obras e o
armazenamento dos materiais era realizado separadamente, no canteiro de cada obra, sendo
feito, prioritariamente, nas proximidades dos locais da execução dos serviços, em depósitos
fechados ou baias, de acordo com o material e, posteriormente, alguns apartamentos e a
casa de lixo foram utilizados para esse fim. O transporte interno de material foi realizado
com carrinho-de-mão, caminhão munck, retro-escavadeira e guincho foguete (transporte
vertical).

Os processos produtivos desenvolvidos nos canteiros de obras, de acordo com as


etapas da obra, e os principais materiais especificados e empregados na execução da obra
são descritos no Quadro 7.2.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 93

Quadro 7.2 - Principais processos produtivos e materiais empregados na


execução das obras pesquisadas

Etapa da obra Processo Produtivo Utilizado Principais Materiais Utilizados


Concreto usinado / aço cortado e
Fundação Placa de concreto protendido dobrado no fornecedor / forma de
madeira
Bloco e calha cerâmicos /
Estrutura e vedação vertical Alvenaria estrutural
argamassa produzida na obra
Gesso pega lenta / argamassa
Gesso sobre alvenaria e pintura / produzida na obra / tinta PVA /
Revestimento vertical interno
emboço e cerâmica argamassa colante / placas
cerâmicas / argamassa de rejunte
Argamassa produzida na obra /
Revestimento vertical externo Reboco / pintura
tinta acrílica
Argamassa produzida na obra /
Revestimento piso Contrapiso / cerâmica argamassa colante / placas
cerâmicas / argamassa de rejunte
Arame galvanizado / placas de
Forro Gesso em placa
gesso
Concreto usinado / aço cortado e
dobrado no fornecedor / forma de
Laje Laje maciça em concreto armado
madeira / escoramento metálico e
de madeira
Cobertura Convencional Madeira / tellha cerâmica
Assentamento de esquadria pré- Madeira / alumínio e vidro /
Esquadria
fabricada espuma expansiva
Passagem de condutores dentro dos Conduite flexível e rígido / caixa
Instalação elétrica / telefônica
blocos de passagem / fio
Passagem de tubulação dentro dos
Instalação hidro-sanitária Tubo PVC / conexões / acessórios
blocos

7.3 – ANÁLISE DO GERENCIAMENTO DE RCC ADOTADO NOS CANTEIROS


DE OBRAS

7.3.1 – Projeto de gerenciamento de RCC, ações para a não geração e redução da


geração, reutilização e reciclagem de RCC

O projeto de gerenciamento de resíduos foi elaborado para todo o empreendimento,


identificando e estimandando os resíduos a serem gerados, de acordo com a tecnologia e os
materiais a serem empregados na obra; definindo ações para redução da geração de RCC;
planejando triagem, acondicionamento, transporte, destinação e registro dos RCC gerados,
tendo sido apresentado à ADEMA.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 94

O Quadro 7.3 apresenta as ações citadas pelas empresas como desenvolvidas nos
canteiros de obras para a não geração e redução da geração de RCC.

Quadro 7.3 - Principais ações citadas pelas empresas para a não geração e
redução da geração de RCC nos canteiros de obras pesquisados

Empresa Ação
Elaboração de procedimento de execução de serviço
"A" Treinamento dos envolvidos
Acompanhamento através de formulário de verificação de serviço
"B" Cuidados na seleção de pessoal para a obra

Através do acompanhamento da execução das obras, foram verificadas também


ações como: uso de escoramento metálico; uso de bisnaga para argamassa na execução da
alvenaria; uso de bloco com furação vertical, permitindo a passagem de tubulação;
cuidados com o armazenamento dos materiais; e recebimento de aço já cortado e dobrado,
que contribuíram para a não geração e redução da geração de RCC.

Por serem consideradas como ferramentas com grande capacidade de contribuição


para a não geração e redução da geração de RCC, foram levantadas informações sobre o
planejamento e SGQ dos canteiros pesquisados.

Planejamento, programação e SGQ da empresa “A”

A empresa “A” elaborou o cronograma físico de toda a obra, incluindo as


atividades a serem executadas pela empresa “B”, com o programa Excel. Esse cronograma
foi refeito quatro vezes para ajustes, principalmente pelo fato de a obra ser executada por
duas empresas que iniciaram suas atividades em datas distintas. É importante destacar que
a empresa não adotou o projeto de paginação de alvenaria e que considera o planejamento
das várias etapas da obra como uma ferramenta que interfere positivamente na diminuição
da geração de resíduo.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 95

O levantamento das quantidades de materiais necessários à execução dos diversos


serviços foi feito com base nos índices de consumo das composições unitárias de serviços
do ORSE, programa de orçamento de obras e serviços de engenharia, desenvolvido pela
Companhia de Habitação do Estado de Sergipe e adotado como referência do setor no
Estado. Segundo a empresa, esse programa considera índices de perda de material na faixa
de 10 a 15%, valores superiores aos adotados nas suas obras. Para o acompanhamento
financeiro da obra, foi utilizado o programa Control Q.

Observa-se que as ferramentas utilizadas para o planejamento e orçamento da obra


serviram para a elaboração do cronograma físico-financeiro e para acompanhamento de
faturas, não conseguindo planejar a programação de serviços que respeitasse as
antecedências e precedências de atividades a serem executadas na obra. Tal fato pode ser
exemplificado pela execução de revestimento interno em gesso nos apartamentos, sem ter
sido realizado o chapisco externo e a cobertura do prédio, provocando infiltração e a
necessidade de realização de retrabalho, com perda de material.

A previsão de consumo de material mostrou-se pouco consistente para o tipo de


obra executado, principalmente pelo fato de a empresa já ter realizado outras cinco obras
com a mesma tipologia, resultando na dificuldade em obtenção de dados que viabilizassem
análises importantes, como a de perda de material.

Observou-se que a falta de clareza, dispersão e pouca estruturação das informações


sobre a obra inviabilizam a realização de controles simples e de fácil aplicação, que
poderiam ser adequados para a obra em questão. Outro ponto que não deve ser esquecido é
que quanto menor o prazo de execução da obra, maior é a necessidade do seu planejamento
e industrialização dos processos produtivos, fatores a serem bem trabalhados em obras
deste tipo.

Através dos procedimentos do SGQ, foi feito o controle de recebimento e


armazenamento de material no canteiro “A”, que registrou problemas de atraso na entrega
de materiais como areia, brita, bloco cerâmico, concreto usinado e tinta, que não
comprometeram o andamento da obra.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 96

Com relação à execução de serviços, o procedimento do SGQ prevê o


acompanhamento e registro dos problemas ocorridos nos serviços terceirizados e
executados pela própria empresa. Os terceirizados apresentaram não-conformidades, tais
como: demora indevida na coleta de resíduos, falta do uso de equipamento de proteção
individual na execução da cobertura, bem como problemas no acabamento dos serviços de
reboco e revestimento em gesso.

Para os serviços executados pela própria empresa, foram registradas não-


conformidades na marcação da alvenaria em 17 apartamentos, resultando em retrabalhos; 2
apartamentos com problemas na direção do caimento do contrapiso do box; 1 apartamento
com problemas no esquadro da cerâmica do piso; 38 apartamentos com problemas no
revestimento do gesso (nivelamento e arestamento); 24 apartamentos com problemas no
nivelamento das lajes, causando dificuldade no assentamento das sancas de gesso, que
necessitaram de regularização, aumentando o consumo de gesso.

Através do acompanhamento da execução da obra, pode-se também observar


problemas no posicionamento de caixas de ar condicionado (3 apartamentos), no
assentamento de esquadrias (64 apartamentos), na revisão final do revestimento cerâmico e
na quebra de vidros (48 janelas), provocando o aumento do consumo de material.

As Figuras de 7.1 a 7.3 apresentam momentos de perda de material verificados


durante a execução da obra, normalmente causada pela falta de planejamento e
sobreposição de atividades, ou por problemas na execução dos serviços e com geração de
resíduos.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 97

Figura 7.1 - Execução do arestamento em gesso do vão da cozinha não


realizado quando da execução do revestimento interno em gesso do apartamento, no
canteiro “A”.

Figura 7.2 - Resíduo gerado durante a correção do assentamento da caixa de


ar condicionado, no canteiro “A”.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 98

Figura 7.3 - Correção dos dois vãos de janela, para adequação de altura de
peitoril, no canteiro “A”.

O SGQ não possui um procedimento que normaliza a rotina do gerenciamento de


resíduo no canteiro de obra.

A empresa desenvolve um programa de treinamento dos colaboradores da obra, de


acordo com os serviços a serem executados, inclusive dos terceirizados. Foram registrados
treinamentos sobre segurança do trabalho, procedimentos de execução de serviços e
gerenciamento de resíduos, totalizando 218 treinamentos realizados em 224 horas. Foi
relatada a consideração de que os treinamentos interferem positivamente na diminuição da
geração dos resíduos.

Foi elaborado e implantado o programa de prevenção de acidentes do trabalho,


tendo ocorrido 21 acidentes leves e 1 acidente com afastamento, sendo esses números
considerados aceitáveis, dentro de uma faixa de normalidade, pelo técnico de segurança da
empresa, devido ao elevado número de colaboradores que participaram da execução da
obra. Houve fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, que resultou em duas
notificações e nenhuma autuação.

Na verificação final realizada pela empresa, antes da vistoria feita pelo cliente,
foram registradas não-conformidades referentes ao revestimento cerâmico, necessitando
trocar aproximadamente 25 placas por apartamento, totalizando 4.800 placas de 34 x 34
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 99

cm (Figura 7.4), que foram repostas pelo fabricante; pintura; arremate nas caixas elétricas;
revestimento em gesso; porta; e tranca da janela. Na vistoria realizada pelos clientes, foram
detectados problemas referentes a retoques de pintura e rejunte do revestimento cerâmico.

Figura 7.4 - Troca de placas cerâmicas danificadas, no canteiro “A”.

Quando da entrega do imóvel ao cliente, a construtora entrega um cd-room,


contendo o Manual do Proprietário com informações sobre materiais utilizados e
procedimentos para as solicitações de manutenção, porém o mesmo não traz informações
sobre a manutenção do imóvel e não é feita uma explicação detalhada do seu uso, no
momento de sua entrega. Não é entregue o Manual do Síndico para as áreas comuns. Nesse
momento, também não é realizada pesquisa de avaliação de satisfação do cliente.

O empresário da empresa “A” relatou na entrevista que implantou o SGQ na


construtora motivado pelo atendimento às exigências da CAIXA e pela busca da
diminuição de custos da obra, sendo a desqualificação e o baixo nível de escolaridade da
mão-de-obra as principais dificuldades encontradas no processo de implantação e
manutenção do SGQ. Os benefícios verificados pelo entrevistado foram diminuição de
retrabalhos e maior controle dos materiais e serviços, não sendo verificados problemas
decorrentes da certificação. A empresa também considera que o SGQ consegue contribuir
significativamente para a não geração e diminuição da geração de RCC.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 100

O SGQ tem trazido resultados importantes quanto ao controle de materiais e


serviços no canteiro de obra, além de propiciar um ambiente favorável para a
implementação de melhorias, condições que podem ser mais bem aproveitadas pela
empresa.

Planejamento, programação e SGQ da empresa “B”

A empresa elaborou e acompanhou o cronograma físico de suas atividades com o


programa Excel. O dimensionamento da mão-de-obra para o serviço de execução de
alvenaria foi elaborado por empresa terceirizada, tendo sido implantado e acompanhado
pelo engenheiro. A empresa considera que um bom planejamento das várias etapas da obra
interfere positivamente na diminuição da geração de resíduo e não adotou o projeto de
produção de alvenaria. Com relação ao levantamento das quantidades de material
necessárias para a execução da obra, foi adotado o mesmo procedimento da empresa “A”.

Assim como no canteiro da empresa “A”, foi constatada a falta de programação de


atividades, de clareza, dispersão e pouca estruturação das informações existentes, sendo
esses fatos potencializados, na empresa “B”, pela rotatividade da equipe administrativa da
obra (engenheiro e almoxarife), pela interrupção no fornecimento de materiais, como bloco
cerâmico, gesso e placa de revestimento cerâmico, e pela dificuldade natural de realizar
esse tipo de obra, pela primeira vez, em um prazo exíguo.

O dirigente da empresa “B” relatou, na entrevista, que implantou o SGQ motivado


pela busca da perfeição administrativa e dos serviços, objetivando a melhoria da obra e da
satisfação dos clientes e dos colaboradores. Os benefícios verificados pelo entrevistado
com a implantação do sistema foram a melhoria organizacional e dos processos, além da
imagem da empresa. Outro aspecto positivo relatado do SGQ foi o potencial de
contribuição para a fase de não geração e diminuição da geração de RCC.

As informações sobre o SGQ e os controles realizados durante a execução da obra


não foram coletadas, devido à impossibilidade de entrevista com a responsável, com
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 101

exceção das solicitações realizadas pelos clientes na vistoria, que foram relativas a
retoques de pintura e rejunte do revestimento cerâmico.

Através do acompanhamento da execução da obra, foram observados problemas na


marcação da alvenaria e posicionamento de combogó; vidros quebrados; 80 apartamentos
com problemas no posicionamento da tubulação de gás; 128 com instalação de ralo
incorreta, necessitando quebrar as lajes para executar as correções; 128 com
posicionamento inadequado do vão da cozinha, percebido após o assentamento da bancada,
necessitando executar o reposicionamento em 5 cm; troca de placas de revestimento
cerâmico, numa média de 18 por apartamento, totalizando 3.456 placas repostas; todos os
apartamentos apresentaram não-conformidades referentes ao nivelamento do revestimento
em gesso no teto, posicionamento inadequado de tubulação de água e instalação elétrica.
Algumas dessas não-conformidades estão apresentadas nas Figuras 7.5 a 7.9.

(a) (b)
Figuras 7.5 - Quebra da laje para instalação de ralo (a) e realização da
reposição do concreto (b), no canteiro “B”.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 102

Figura 7.6 - Quebra de alvenaria já revestida do quarto para passagem de


tubulação de gás, no canteiro “B”.

Figura 7.7 - Correção do nivelamento do revestimento do teto em gesso, no


canteiro “B”.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 103

(a) (b)
Figura 7.8 - Quebra de alvenaria revestida para assentamento de tubulação
hidráulica (a) e de execução de instalação hidráulica (b), no canteiro “B”.

(a) (b)
Figura 7.9 – Detalhe de quebra de alvenaria revestida para assentamento de
caixa elétrica (a) e quebra de alvenaria revestida para correções na instalação
elétrica, no canteiro “B”.

Perda de material

No acompanhamento das fases do gerenciamento de resíduos nos canteiros de


obras, percebeu-se a perda significativa de materiais que, apesar de não ser o foco de
análise do trabalho, tornou-se uma variável a ser avaliada, objetivando, inclusive, motivar
o interesse das empresas nos resultados da pesquisa. Foi então levantada, através de
entrevista com os envolvidos nos dois canteiros de obras pesquisados, a percepção dos
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 104

mesmos com relação aos materiais que apresentaram maiores índices de perda durante a
execução da obra.

A empresa “A” identificou blocos e calhas cerâmicos, gesso, placas cerâmicas e


argamassa produzida na obra, principalmente a utilizada para revestimento externo, como
os materiais com maior índice de perda. Foram citadas, como causas para as perdas, a
baixa qualidade de materiais, manuseio e transporte interno inadequados (principalmente
dos blocos e calhas cerâmicos), desqualificação da mão-de-obra e prazo reduzido para
execução da obra, provocando a sobreposição de suas etapas.

A empresa “B” identificou o gesso e as placas cerâmicas para revestimento como


os materiais com maior perda, sendo o primeiro causado por deficiência no processo de
construção e o segundo pela baixa qualidade do material utilizado, além da desqualificação
da mão-de-obra como comprometedor da perda dos dois materiais citados.

Dos materiais citados pelas empresas, foram descartadas as possibilidades de


cálculo dos índices de perda para argamassa, pela dificuldade de acompanhamento de um
insumo utilizado em vários serviços; e para calha, pela existência de mais de um tipo de
calha, sem quantificações distintas, sendo, portanto, assunto para um estudo específico.

Ressalta-se, porém, que a observação realizada durante a execução da obra aponta


para a importância de um estudo sobre a calha cerâmica, não só pelo volume de calhas
perdidas em decorrência da fragilidade do material, da embalagem inadequada, do
transporte e manuseio excessivo na obra, como também pela grande geração de resíduo
que acontece devido à necessidade de quebra das suas faces para o uso na obra (figura
7.10).

Sendo assim, foram levantadas informações sobre os materiais gesso, bloco


cerâmico e placa cerâmica, como serviços e locais onde foram aplicados, quantidade de
material teoricamente necessária (QMT), perda de material inicial e incluída nessa
quantificação teórica (PMI), quantidade de material comprada (QMC) e quantidade de
material realmente utilizada na obra (QMR), com o objetivo de calcular a perda de cada
um desses materiais, conforme já citado no Capítulo 5.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 105

(a) (b)
Figura 7.10 - Tipos de calhas utilizadas nas obras (a) e o momento de quebra
de suas faces para transporte e uso (b), nos canteiros “A” e “B”.

A análise dos dados QMT, PMI e QMC fornecidos pelas empresas pesquisadas,
bem como de QMR levantadas pelas fichas de controle de entrada e saída de materiais,
existentes nos respectivos almoxarifados, apresentou inconsistências que revelaram a
impossibilidade de cálculo dos índices de perda.

A dificuldade do levantamento desses dados confirma a dispersão das informações


existentes nas empresas e a pouca valorização do conhecimento sobre a perda real de
material na obra, respaldada pela cultura existente nas empresas de que a perda é inerente
ao processo construtivo, representando uma barreira a ser transposta na fase de redução da
geração de RCC. É importante ressaltar que a perda de material contribui para a
insustentabilidade da obra nas dimensões ambientais, pelo aumento do consumo de
recursos naturais e da geração de resíduo; econômica, através do comprometimento da
lucratividade da empresa; e social, na medida em que a difusão da cultura do desperdício
não é combatida.

As Figuras 7.11 a 7.14 ilustram momentos de perda de material verificados nos


canteiros pesquisados que podem indicar focos para estudos posteriores.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 106

(a) (b)
Figura 7.11 - Perda de material no canteiro de obra da empresa “A”, na
aplicação de gesso (a) e no armazenamento do bloco cerâmico (b).

(a) (b)
Figura 7.12 – Carga de caminhão (a) e de pallet com bloco cerâmico (b),
caracterizando o manuseio excessivo e perda de material, nos canteiros de obras
pesquisados.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 107

(a) (b)
Figura 7.13 – Transporte vertical (a) e descarga de bloco cerâmico (b),
caracterizando o manuseio excessivo e perda de material, nos canteiros de obras
pesquisados.

Figura 7.14 - Segregação de bloco cerâmico sem condições de uso na alvenaria


estrutural, no canteiro de obra da empresa “B”.

Reutilização e reciclagem de RCC

A reutilização de RCC, acompanhada durante a execução das obras pesquisadas, foi


referente a fôrmas de madeira para as lajes dos diversos blocos; uso do resíduo classe A
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 108

como aterro das vias do condomínio, apesar da necessidade de retirada de parte desse
material quando do nivelamento das vias para a pavimentação; reutilização de material
proveniente de escavação; reutilização de placas cerâmicas para marcação do nível de
revestimento; reutilização de embalagens de tinta, saco de cimento e pó de serra para a
vedação de fôrma e passagem de tubulações, respectivamente, na execução de lajes;
reutilização de saco de cimento também para armazenamento de peças pré-moldadas nas
obras; sacaria em geral (cimento e gesso). Madeira e pó de serra segregados no canteiro da
empresa “A” foram reutilizados como fonte energética nos fornos de uma cerâmica.
Exemplo da reutilização de material nos canteiros é apresentado na Figura 7.15.

(a) (b)
Figura 7.15 - Reutilização de material nos canteiros pesquisados, resíduo
classe A (a) e saco de cimento e pó de serra (b).

A reciclagem de RCC, que foi verificada, refere-se aos resíduos de papelão,


plástico e metal, que foram segregados no canteiro da empresa “A” e doados à Cooperativa
dos Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju (CARE).

Constatou-se que a elaboração do projeto de gerenciamento de resíduos pouco


contribuiu para a não geração, redução da geração e reutilização de resíduos nos canteiros
de obras pesquisados, sendo que as ações efetivadas foram as já previstas no SGQ, as
referentes a melhorias tecnológicas e as que faziam parte da cultura da empresa ou da
equipe administrativa da obra. Com relação à reciclagem, o projeto trouxe informações que
foram seguidas pelo canteiro “A”.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 109

O planejamento e acompanhamento das obras forneceram informações para os


controles financeiros das construtoras, porém não foram usadas ferramentas que pudessem
contribuir com as fases do gerenciamento de resíduos ora analisadas.

No canteiro “A”, o SGQ trouxe contribuições e informações mais evidentes que no


“B”, porém o potencial de melhoria que essa ferramenta pode trazer para as empresas e
para o meio ambiente não está sendo aproveitado.

7.3.2 – Segregação, armazenamento inicial, transporte interno, armazenamento final,


transporte externo e destinação de RCC

Essas são as fases do gerenciamento de RCC que realmente podem garantir a


viabilidade de resultados efetivos, sendo que a disseminação de uma nova cultura no
manuseio do RCC representa um desafio para a gestão da obra.

Descrição das fases da empresa “A”

De maneira geral, os resíduos gerados no canteiro “A” eram segregados na


execução dos serviços e a existência de dispositivos para seu acondicionamento
(bombonas, caixa de madeira, balde e o próprio saco de cimento e gesso) e treinamento do
pessoal contribuíram para que a separação acontecesse, porém de forma incompleta.
Resíduos como papelão e plástico muitas vezes eram misturados, bem como gesso e
resíduos classe A. Como dificuldades observadas para a triagem dos resíduos podem ser
citadas a ocorrência de diversos tipos de serviços simultaneamente dentro de um mesmo
apartamento; a pequena quantidade de dispositvos disponibilizada, saturando rapidamente
sua capacidade; e identificação insuficiente dos dispositivos; falta de cultura dos
colaboradores de separar os resíduos e manter o ambiente limpo. As opções de
armazenamento de resíduos nas proximidades de sua geração estão apresentadas no
Quadro 7.4.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 110

Quadro 7.4 - Dispositivo utilizado para armazenamento inicial, por RCC


gerado, no canteiro de obra da empresa “A”

Classificação
Armazenamento Identificação do Localização do
CONAMA Resíduo Segregação
inicial dispositivo dispositivo
307/02

Solo Na execução Empilhamento Sem identificação -

Bombona /
Bloco / tijolo Na execução
Empilhamento
A Sem identificação Apartamentos em serviço
Concreto /
Na execução Empilhamento
argamassa
Empilhamento /
Placa cerâmica Na execução Sem identificação Apartamentos em serviço
Caixa da própria
Dispositivo
Embalagem de papel Proximidades da
específico para saco
(saco de cimento, Na execução Sem identificação betoneira / Apartamentos
de cimento /
gesso, etc) em serviço
Empilhamento
Embalagem de Pavimentos em serviço
Na execução
papelão Dispositivo de Identificação (dispositivo de madeira) /
madeira / Bombona "Papel" ou "Plástico" Em frente aos edifícios
Embalagem plástica Na execução (bombonas)
Empilhamento / Apartamentos em serviço
Madeira Na execução Sem identificação
Saco de cimento / Bancada de serra
Apartamentos em serviço
Serragem Na execução Caixa de madeira Sem identificação
/ Bancada de serra
B
Aço Na execução Laje em serviço /
Balde Sem identificação
Prego Na execução Bancada de armação
Metal (embalagem Devolução no
Na execução - Sem identificação
de tinta) almoxarifado
Pavimentos em serviço
Dispositivo de
Eletrodutos e Identificação (dispositivo de madeira) /
Na execução madeira / Bombona
conduítes "Plástico" Em frente aos edifícios
/ Empilhamento
(bombonas)
Pavimentos em serviço
Dispositivo de
Identificação (dispositivo de madeira) /
Tubos PVC Na execução madeira / Bombona
"Plástico" Em frente aos edifícios
/ Empilhamento
(bombonas)
Empilhamento /
Gesso Na execução Saco do próprio Sem identificação Apartamentos em serviço
gesso
C
Manta asfáltica Na execução Empilhamento
Espuma Sem identificação Apartamentos em serviço
Na execução Empilhamento
poliuretânica
Ferramenta de Devolução no
Na execução - Sem identificação
pintura almoxarifado
D Embalagem de
Devolução no
espuma Na execução - Sem identificação
almoxarifado
poliuretânica
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 111

A segregação inicial de RCC no canteiro “A” é apresentada nas figuras 7.16 a 7.19.

(a) (b)
Figura 7.16 - Segregação inicial de resíduos no canteiro de obra da empresa
“A”, placa cerâmica no saco de cimento (a) e papelão no dispositivo de madeira (b).

(a) (b)
Figura 7.17 - Segregação inicial de resíduos no canteiro de obra da empresa
“A”, bombona com resíduo de bloco cerâmico (a), madeira empilhada e no saco de
cimento (b).
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 112

(a) (b)
Figura 7.18 - Segregação inicial de resíduos no canteiro de obra da empresa
“A”, madeira e pó de serra empilhados no apartamento (a) e saco de gesso
empilhado (b).

(a) (b)
Figura 7.19 - Segregação inicial de resíduos no canteiro de obra da empresa
“A”, metal no balde (a), bloco cerâmico e argamassa empilhados no pavimento (b).

A determinação da empresa foi que, a partir do segundo pavimento, os resíduos


fossem transportados pelo guincho “foguete”, evitando que os mesmos fossem jogados
pela janela e que os diversos tipos fossem misturados. Freqüentemente, essa orientação não
era seguida, visto que o uso desse transporte era disponibilizado até o final da fase de
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 113

execução de alvenaria do prédio e seu uso era preferencialmente para o suprimento de


materiais nas frentes de trabalho. O carrinho-de-mão também foi bastante usado para o
transporte interno dos diversos tipos de resíduos.

Para o armazenamento final de resíduos de bloco e argamassa foram preparadas


duas baias, porém a localização delas representou uma dificuldade para a segregação
desses resíduos, pela extensão do canteiro. Posteriormente, as baias foram desativadas e
esses resíduos passaram a ser colocados em caçamba estacionária.

A empresa usou, também, uma baia para armazenamento de resíduo de madeira,


caçamba estacionária para o gesso, bags para papelão e plástico e caixas para placas
cerâmicas e metal. O uso da caçamba estacionária foi adequado por sua mobilidade,
facilitando o uso pelos colaboradores, porém o fornecedor não conseguiu manter uma
freqüência adequada de retirada das mesmas, ocasionando o empilhamento desses
resíduos. Os bags e a caixa para metal foram utilizados adequadamente, porém a caixa para
resíduo cerâmico era pequena, não suportando o volume a ser armazenado.

Com relação à identificação, as caçambas estacionárias e a caixa para


armazenamento de metal não foram identificadas, dificultando a segregação dos resíduos.

As informações de transporte interno e armazenamento final de resíduos no


canteiro “A” estão resumidas no Quadro 7.5 e apresentadas nas Figuras 7.20 e 7.21.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 114

Quadro 7.5 - Transporte interno e dispositivos utilizados para armazenamento


final, por RCC gerado, no canteiro de obra da empresa “A”

Classificação
Transporte Armazenamento Identificação do Localização do
CONAMA Resíduo
interno final dispositivo dispositivo
307/02
Dependendo da
Retro-escavadeira /
Solo Empilhamento Sem identificação disponibilidade do
Caminhão
canteiro
Carrinho-de-mão / Entre os blocos 2 e 3 / 3 e
Bloco / tijolo "Resíduo de
A balde / jogado pela Baia / Caçamba 4 (baia) / Em frente aos
cascalho" (para as
Concreto / janela / guincho estacionária blocos em execução
baias)
argamassa "foguete" (caçamba estacionária)
Identificação
Cerâmica Carrinho-de-mão Caixa em madeira Próximo ao almoxarifado
"Cerâmica"
Embalagem de
papel (saco de Próprio Proximidades da
Fardos amarrados Sem identificação
cimento, gesso, colaborador betoneira
etc)
Embalagem de Identificação
Bag Próximo ao bloco 6
papelão Próprio "Papel"
Embalagem colaborador Identificação
Bag Próximo ao bloco 6
plástica "Plástico"
Entre os blocos 4 e 5
Próprio Identificação
Madeira Baia (proximidades da central
colaborador "Madeira"
de fôrma)
B Entre os blocos 4 e 5
Identificação
Serragem Carrinho-de-mão Ensacado, na baia (proximidades da central
"Madeira"
de fôrma)
Aço Próprio
Caixa de madeira Sem identificação Bancada de armação
Prego colaborador
Metal
(embalagem de Carrinho-de-mão Almoxarifado Sem identificação Almoxarifado
tinta)
Eletrodutos e Próprio
conduítes colaborador Identificação
Bag Próximo ao bloco 6
Próprio "plástico"
Tubos PVC
colaborador
Jogado pela janela Caçamba
Próximo aos blocos em
Gesso / Saco do gesso / estacionária Sem identificação
serviço
Carrinho-de-mão específica
C Próprio Caçamba
Manta asfáltica
colaborador / estacionária, Próximo aos blocos em
Sem identificação
Espuma Balde / Carrinho- misturado com serviço
poliuretânica de-mão outros resíduos
Ferramenta de
Caçamba
pintura Próprio
estacionária, Próximo aos blocos em
D Embalagem de colaborador do Sem identificação
misturado com serviço
espuma almoxarifado
outros resíduos
poliuretânica
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 115

Figura 7.20 - Transporte interno, com o guincho “foguete”, de resíduos no


canteiro de obra da empresa “A”.

(a) (b)

Figura 7.21 - Dispositivos para armazenamento final de resíduos no canteiro


de obra da empresa “A”, baia (a), bag e caçamba estacionária (b).

O transporte externo adotado foi definido pelo tipo de destinação dos resíduos e
buscando a diminuição de custos. O papelão, plástico e metal, que foram doados à CARE,
e os sacos de cimento e gesso, madeira e pó de serra, que foram doados a uma cerâmica,
eram transportados pelos respectivos destinatários, sem custos para a empresa. Os outros
tipos de resíduos foram transportados por prestadores de serviços com caminhão
basculante ou poliguindaste, sendo o último para a retirada de caixas coletoras ou
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 116

caçambas estacionárias e ambos possuíam autorização para descarte de resíduo no Aterro


da Terra Dura, conforme melhor descrito no próximo item. As opções de transporte
externo e destinação final de resíduos estão resumidas no Quadro 7.6.

Quadro 7.6 - Transporte externo e destinação final utilizados, por RCC


gerado, no canteiro de obra da empresa “A”

Classificação
CONAMA Resíduo Transporte externo Destinação final
307/02
Solo Caminhão basculante/ poliguindaste Reaproveitamento em outra obra

Bloco / tijolo
A Aterro da Terra Dura / Descarga em
Concreto /
Caminhão basculante / poliguindaste terreno na proximidade da obra /
argamassa
Destinação desconhecida
Cerâmica

Embalagem de papel
Poliguindaste / Caminhão do Cerâmica / Aterro da Terra Dura /
(saco de cimento,
fornecedor de bloco cerâmico Destinação desconhecida
gesso, etc)

Embalagem de
papelão
Caminhão da CARE CARE
Embalagem plástica

Caminhão do fornecedor de bloco


Madeira cerâmico / Poliguindaste / Caminhão
basculante
B Cerâmica / Aterro da Terra Dura /
Destinação desconhecida
Caminhão do fornecedor de bloco
Serragem cerâmico / Poliguindaste / Caminhão
basculante

Aço
Caminhão da CARE CARE
Prego

Metal (embalagem Aterro da Terra Dura / Destinação


Poliguindaste / Caminhão basculante
de tinta) desconhecida

Eletrodutos e
Caminhão da CARE
conduítes CARE
Tubos PVC Caminhão da CARE

Gesso Caminhão basculante / Poliguindaste


Aterro da Terra Dura / Destinação
C Manta asfáltica
desconhecida
Espuma Caminhão basculante / Poliguindaste
poliuretânica
Ferramenta de
pintura
Aterro da Terra Dura / Destinação
D Embalagem de Caminhão basculante / Poliguindaste
desconhecida
espuma
poliuretânica
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 117

Uma das destinações finais, dita como “desconhecida”, foi identificada nas
proximidades da obra e é apresentada na Figura 7.22.

Figura 7.22 - Descarte de resíduos retirados das obras pesquisadas em terreno


localizado em suas adjacências

Descrição das fases da empresa “B”

A empresa “B” realizou a segregação do resíduo de metal na montagem de


armadura nas lajes, utilizando baldes ou latas para o armazenamento inicial, e do saco de
cimento e pó de serra para reutilização na vedação da laje e caixas elétricas, antes da
concretagem, não apresentando uma sistemática de segregação inicial de RCC. Sendo
assim, em geral, os resíduos eram misturados no local da execução, praticamente
inviabilizando a reutilização e reciclagem dos resíduos gerados no canteiro.

O transporte interno utilizado foi o carrinho-de-mão ou o lançamento dos resíduos


pela janela, comprometendo mais ainda a possibilidade de valorização dos mesmos. O
armazenamento final foi feito através de empilhamento ou uso de caçamba estacionária,
onde todos os resíduos eram misturados, com exceção da madeira que foi armazenada em
baia específica, para facilitar o reaproveitamento e posterior transferência para outra obra.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 118

O transporte externo foi feito pelas mesmas empresas terceirizadas, contratadas pela
empresa “A”, e por veículos da própria empresa para o Aterro da Terra Dura ou local
desconhecido.

Sendo assim, observa-se que apenas ações pontuais de segregação de RCC foram
realizadas para viabilizar uma pequena reutilização e os resíduos foram misturados, até
mesmo o metal que foi coletado nas lajes, não sendo implementado o gerenciamento dos
resíduos no canteiro “B”. A disposição inicial de RCC no canteiro “B” é apresentada na
Figura 7.23; seu transporte interno, na Figura 7.24; e seu armazenamento final, nas Figuras
7.25 e 7.26.

(a) (b)
Figura 7.23 - Disposição inicial de resíduos no canteiro de obra da empresa
“B”, empilhamento de resíduos misturados (a) e segregação de pó de serra (b).
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 119

(a) (b)
Figura 7.24 - Transporte interno de resíduos no canteiro de obra da empresa
“B”, carrinho-de-mão (a) e resíduos lançados pela janela (b).

(a) (b)
Figura 7.25 - Armazenamento final de resíduos no canteiro de obra da
empresa “B”, baia para resíduo de madeira (a) e empilhamento de resíduos
misturados (b).
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 120

(a) (b)

Figura 7.26 - Armazenamento final de resíduos no canteiro de obra da


empresa “B”, caçamba estacionária com uso adequado para resíduo classe A (a) e
com resíduos misturados (b).

7.3.3 – O gerenciamento de RCC em canteiro de obra formal e a gestão municipal de


resíduos sólidos de Aracaju

De acordo com levantamentos feitos na Empresa Municipal de Serviços Urbanos


(EMSURB) e ADEMA e priorizando informações referentes aos grandes geradores,
descreve-se abaixo a gestão municipal de RCC e sua influência no gerenciamento desses
resíduos nos canteiros de empresas construtoras.

O projeto de gerenciamento de resíduos de obras está sendo exigido pela ADEMA


para emissão da licença de instalação, documento necessário para a emissão da licença de
construção de responsabilidade da Empresa Municipal de Obras e Urbanização (EMURB),
para todas as obras realizadas por pessoa jurídica ou localizadas em áreas de proteção. Não
existe uma aprovação formal do projeto e a liberação da respectiva licença reflete sua
aprovação. O licenciamento de obras de pessoas físicas é realizado apenas pela EMURB,
que não exige a apresentação do respectivo projeto.

A ADEMA não está fiscalizando a implantação do gerenciamento de resíduos


planejado pela empresa, porém só libera a licença de operação ao final da obra, necessária
para a emissão do Habite-se do imóvel, quando o empreendedor apresenta um relatório
final do gerenciamento, com comprovantes de transporte e destinação do RCC gerado.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 121

A EMSURB não possui cadastro de empresas licenciadas para o transporte de


RCC, apenas emite uma autorização, com validade de um ano, para descarga de RCC no
Aterro da Terra Dura, localizado no bairro Santa Maria. Sendo assim, a construtora pode
usar veículo próprio ou terceirizado (mesmo que não sejam os poliguindastes normalmente
utilizados com as caixas coletoras ou caçambas estacionárias) para transportar o RCC,
desde que solicite a referida autorização, indicando a procedência do RCC e o veículo que
seja compatível com a atividade.

Outra opção de transporte para as construtoras é a utilização do número 0800 284-


1300 da EMSURB. Apesar desse sistema ser direcionado para o atendimento a pequenos
volumes (até dez coletas), também atende a construtoras, utilizando pá carregadeira e
caçamba basculante e cobrando uma taxa R$ 31,50 por coleta de 6 m3 (valor menor que o
cobrado pelas empresas transportadoras). Esse material é encaminhado para o Aterro da
Terra Dura.

A Prefeitura ainda não elaborou o PIGRCC, não existindo áreas licenciadas para
transbordo e triagem de RCC, nem para a reciclagem de resíduo classe A. O local indicado
pela mesma para o descarte desses resíduos é o Aterro da Terra Dura, mesmo destino dos
resíduos domiciliares, não existindo cobrança de taxa para esse descarte. O RCC que chega
ao aterro é utilizado para a cobertura das células destinadas ao recebimento dos resíduos
domiciliares e para o reforço do acesso e pátios de trabalho do aterro.

Convém ressaltar que, conforme exposto anteriormente, a Resolução CONAMA


307/02 previa a elaboração do PIGRCC para até 02/01/04 e definia a data de julho de 2004
como limite para disposição de RCC em aterros de resíduos domiciliares, estando o
município de Aracaju completamente em desacordo com as exigências da referida
Resolução.

Em atendimento às exigências que vêm sendo feitas pelo Ministério Público para a
solução dos problemas de destinação dos resíduos sólidos dos municípios de Aracaju,
Barra dos Coqueiros, São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro, o diretor da EMSURB
entrevistado acredita que a construção de um novo aterro, mais próximo que o da Terra
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 122

Dura, que prevê a existência de uma recicladora de RCC, trará grandes benefícios para a
gestão municipal, porém ainda não se tem a data para a implantação desse aterro.

Dessa maneira, a ADEMA está aceitando a destinação de resíduos classe A, C e D


para o Aterro da Terra Dura, que sequer é licenciado para operar, por não existirem opções
que atendam à Resolução CONAMA 307/02. As destinações aceitas para os resíduos
classe B são as realizadas por empresas e cooperativas de reciclagem e por empresas
licenciadas da indústria de cerâmica vermelha.

Para a reutilização de RCC fora do canteiro de obra, como aterro de áreas externas,
por exemplo, a entrevistada da ADEMA entende que essa é uma atividade de engenharia
que deveria ser licenciada pela EMURB, responsável pelo uso e ocupação do solo. Quanto
a esse aspecto, os entrevistados da EMSURB entendem que deve ser emitida uma licença
para essa atividade e o encaminhamento sugerido é que seja feita uma solicitação de
autorização à EMSURB, informando o local, volume a ser recebido e a maneira como será
realizado o descarte, com o consentimento do proprietário do terreno.

A falta de convergência no entendimento sobre essa questão entre os órgãos


envolvidos e a inexistência de uma legislação específica têm resultado em grandes áreas de
“aterro” que, na verdade, podem ser classificadas como bota-foras, prejudicando toda a
população do município.

Sendo assim, o gerenciamento dos resíduos realizado nos canteiros de obras de


Aracaju fica com a destinação ambientalmente adequada restrita aos resíduos classe B,
podendo viabilizar também a reutilização externa do resíduo classe A, após autorização da
EMSURB.

Considerando que os resíduos classe B representam apenas 5,08% do RCC gerado


em canteiros de obras de Aracaju (Daltro Filho et al., 2005), observa-se que o resultado do
esforço de implantação do gerenciamento de resíduos nos canteiros formais está
alcançando um resultado que pode ser considerado irrisório.
Outro pequeno ganho a ser citado é a cobrança que as construtoras estão
começando a fazer, junto às transportadoras, para que o RCC retirado das suas obras tenha
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 123

a comprovação de destinação emitida no Aterro da Terra Dura, para apresentação posterior


à ADEMA. Essa prática pode resultar na diminuição de RCC disposto em bota-foras ou em
pontos clandestinos, já que 35% do RCC gerado na cidade é proveniente de construção
nova (Daltro Filho et al., 2005).

Em contraponto a essa expectativa de resultado pela exigência de apresentação de


registros à ADEMA, tem-se observado que as empresas transportadoras começaram a
cobrar mais caro pelos seus serviços, quando a construtora pede a comprovação do
descarte do RCC coletado. Esse acréscimo tem variado de R$ 10,00 a R$ 30,00, por caixa
coletora de 6 m3 e, muitas vezes, o registro que é devolvido à construtora não é do material
retirado de sua obra, podendo-se fazer essa constatação através da comparação entre as
datas de retirada do RCC do canteiro e a emitida no Aterro. Ou seja, é importante que se
monitore o comportamento dos resultados dessa medida para que não seja criado um
“mercado” de venda de registro de destinação de RCC.

Os caminhos para a diminuição dos impactos ambientais da construção civil,


apontados pelos entrevistados da EMSURB e ADEMA, foram a implementação de
programa de educação ambiental para a população, elaboração e aplicação do PIGRCC
pelo município, estudo de soluções para o problema da destinação dos resíduos
transportados por carroceiros e implantação de “ecopontos” para recebimento de RCC e
resíduos da coleta seletiva domiciliar, além da definição mais clara do papel dos
envolvidos com a problemática de RCC e a integração entre os órgãos licenciadores e
fiscalizadores.

7.3.4 – Quantificação e registro de destinação de RCC

Resíduo por área construída

Para a obtenção dos resultados, houve o acompanhamento da retirada de resíduo


das obras pesquisadas e dos controles de quantificação e devolução de registros referentes
a essas coletas, realizados pelas empresas durante o período de execução da obra, com
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 124

exceção do mês de janeiro, quando ainda foram retirados resíduos dos serviços do canteiro
“B”.

Durante o período em que as construtoras utilizaram-se primordialmente do uso de


transportes terceirizados de caçambas estacionárias retiradas por poliguindastes, ou de
caminhão basculante com pagamento por viagem, os controles realizados pelos
almoxarifes eram mais freqüentes. Porém, os transportes realizados pela própria empresa
(no caso da “B”) ou de caminhão basculante com pagamento por diária (a partir de
14/05/07) não foram controlados pelos mesmos, dificultando a coleta de dados, uma vez
que as retiradas de RCC realizadas durante a tarde ou no final de semana foram informadas
à pesquisadora de maneira pouco compromissada.

Além disso, as informações de saída de resíduo do canteiro “B” eram menos


organizadas que do “A”, principalmente pela rotatividade da equipe administrativa,
dificultando a coleta dos dados.

Os dados referentes às notas fiscais ou aos pagamentos realizados aos


transportadores não foram obtidos nas construtoras, de forma que as informações coletadas
nas obras não puderam ser verificadas com os controles dos escritórios centrais.

Ao término das obras, foram totalizados os tipos de resíduos retirados dos canteiros
e essa tipificação ficou comprometida pelo fato de a maioria dos resíduos terem sido
misturados no armazenamento final, sendo, portanto o indicador calculado para o resíduo
total retirado dos canteiros de obras.

Para facilitar o tratamento dos dados, foram transformadas as unidades dos resíduos
de bloco cerâmico, papel, madeira, gesso e resíduo misturado, utilizando-se de
informações de peso específico (kg/m3) existentes na literatura, como fator de conversão.
O Quadro 7.7 apresenta os valores de peso específico usados.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 125

Quadro 7.7 - Peso específico de materiais utilizados nas obras pesquisadas

Peso específico
Material 3
(kg/m )
(1)
Bloco Cerâmico 1.300
(1)
Argamassa de gesso 1.250
(2)
Papel 47,5
(2)
Madeira 350
(3)
Resíduo misturado 1.235

Fonte: (1) Yazigi, W. (2002)


(2)
Pucci, R. B. (2006)
(3)
Daltro Filho et al. (2005)

Com os dados em quilograma, obteve-se a massa total dos resíduos retirados dos
canteiros “A” e “B” que, divididas pelas respectivas áreas de construção (m2) de cada obra,
resultou no indicador de geração de resíduo em massa por metro quadrado, para cada obra.
Nesse cálculo não foi incluído o valor de 5.848,00 m3, referente à limpeza e nivelamento
iniciais do terreno.

O cálculo da geração de resíduo por metro quadrado, dos canteiros de obras “A”e
“B”, são apresentados no Apêndice C e a Tabela 7.1 traz os respectivos indicadores de
forma resumida.

Tabela 7.1
Indicador de massa de resíduo gerado por área construída para os canteiros
“A”e “B”

Classificação Quantificação (Kg)


CONAMA 307/02 Canteiro A Canteiro B
B 47.350,20 16.740,00
C 67.029,50 5.625,00
(1)
Resíduo misturado 2.697.571,20 2.483.549,35
TOTAL 2.811.950,90 2.505.914,35

Área Construída ( m2) 11.738,40 11.552,07


Indicador (kg/m2) 239,55 216,92
(1)
Resíduo sem classificação pela Resolução CONAMA 307/02 e formado pela mistura dos vários
tipos de resíduos.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 126

Comparando a massa de resíduo gerado por metro quadrado, verifica-se que a


geração do canteiro “B” foi 9,45% menor que do “A”.

Esses valores também podem ser comparados com o adotado por Pinto (1999), de
150 kg/m2 para edificações executadas por processos convencionais, com os valores
levantados por Pucci (2006), em duas obras da mesma construtora, executadas em São
Paulo, sendo prédios residenciais multifamiliares de alto padrão, um com 20 pavimentos
(5.453 m2), aplicando plano de gestão de resíduos, gerou 156,70 kg/ m2 e o outro, com 16
pavimentos (4.307 m2), sem aplicar a gestão de resíduos, gerou 238,50 kg/ m2, e com os
levantados por Silva & Simões (2007), em três canteiros de obra de pequeno porte, no
setor comercial, industrial e de reforma, onde foram implantadas as recomendações da
Resolução CONAMA, de 95,20 kg/ m2, 100,50 kg/ m2 e 684,00 kg/ m2, respectivamente.

Considerando-se que os dois canteiros pesquisados tinham características


semelhantes de tecnologia, tipologia e fornecedores, sugere-se o uso do valor médio de
228,24 kg/m2 como índice de RCC por área construída para esse tipo de empreendimento
em Aracaju.

Verifica-se, portanto, que o índice de geração de resíduo por metro quadrado tem
uma grande variação, conforme descrito na literatura, e que são valores que apontam para a
necessidade de maior cuidado por parte das construtoras com a redução da geração de
resíduo, uma vez que o foco apenas na busca de destinação adequada para o RCC traz uma
contribuição pequena para o meio ambiente e para a competitividade da empresa.

Resíduo por serviço executado

Os resíduos dos serviços executados nos prédios acompanhados foram


quantificados, conforme já explicitado na Metodologia, e transformados para a unidade de
volume (m3), com o uso de valores de peso específico. Posteriormente, foram calculados os
índices de resíduo por unidade de serviço e resíduo de serviço por área construída, sendo
utilizadas as áreas dos serviços e construída, respectivamente, para os serviços de execução
de alvenaria, montagem de armadura na laje, montagem de instalações na laje (antes da
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 127

concretagem), execução de revestimento interno em gesso, execução de revestimento


cerâmico, execução de cobertura e execução de revestimento argamassado na fachada.
Porém, as informações do canteiro “B” de revestimento em gesso e cerâmico, além da
cobertura, foram descartadas pelo pequeno número de apartamentos onde se conseguiu
obter dados.

A Tabela 7.2 apresenta as informações sobre os índices de volume de resíduo por


unidade de serviço e volume de resíduo de serviço por área construída. Os respectivos
cálculos, a partir dos dados coletados no campo, estão no Apêndice D.

Tabela 7.2 - Indicador de volume de resíduo gerado por área de serviço


executado e por área construída, para os canteiros “A”e “B”

Indicador de geração
Indicador de geração
(volume / área de
(volume / área
serviço executada -
Serviço Tipo de resíduo construída - m³/m²)
m³/m²)
Empresa Empresa Empresa Empresa
"A" "B" "A" "B"

Alvenaria Argamassa e bloco cerâmico 0,005161 0,006802 0,008803 0,011607

Montagem de armadura na
Metal (1) 0,000003 0,000003 0,000003 0,000003
laje
Montagem de instalações
Tubos de PVC 0,000094 0,000180 0,000094 0,000180
(tubulação) na laje
Revestimento de paredes e
Gesso 0,005753 __ 0,015300 __
tetos com gesso
Revestimento cerâmico
Placa cerâmica e argamassa de rejunte 0,000406 __ 0,000556 __
em paredes e pisos
Madeira 0,001053 0,000828
Cobertura __ __
Telha cerâmica 0,000466 0,000367
Revestimento de fachada
Argamassa de chapisco e reboco 0,005717 0,007200 0,005299 0,006673
com argamassa

(1)
Metal referente ao arame recozido, uma vez que a armadura era recebida no canteiro já cortada e
dobrada.

Comparando o volume de resíduo gerado por metro quadrado de alvenaria nos


canteiros pesquisados, houve uma geração de resíduo de argamassa e bloco menor em
24,12% no canteiro “A”. Para o metal, foram encontrados valores iguais para os dois
canteiros. Para os tubos de PVC, na montagem de instalações na laje, houve uma geração
menor em 47,78% no volume de resíduo gerado por metro quadrado de laje, no canteiro
“A”.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 128

Esses índices podem ser úteis para a quantificação de resíduo a ser gerado nesses
tipos de serviços e obra, principalmente na elaboração do projeto de gerenciamento de
resíduos ou planejamento de custo com a retirada de resíduo da obra. É importante que os
índices dos serviços restantes possam ser calculados em outros estudos, de forma a se
viabilizar a quantificação dos resíduos para toda a obra.

Resíduo reutilizado ou reciclado externamente

O resíduo gerado no canteiro “B” foi totalmente encaminhado para deposição final
no Aterro da Terra Dura ou local desconhecido. No canteiro “A”, parte dos resíduos de
papelão, plástico e metal foram encaminhados para reciclagem e parte dos resíduos de
madeira, pó de serra e papel foram reutilizados, em fornos do fornecedor de bloco
cerâmico da empresa. O volume de resíduos classe B, provenientes do canteiro “A”, que
foi reutilizado ou reciclado foi de 31.101,30 kg, de um total de 2.811.950,90 kg de resíduos
gerados, sendo, portanto, 1,11% do resíduo gerado no canteiro “A” destinado para
reutilização ou reciclagem. Este valor é inferior ao de 6,9% apresentado por Daltro Filho et
al. (2005) como o percentual de resíduo classe B gerado em canteiros de obras de empresa
de médio porte.

Foi verificado que o baixo índice de reutilização e reciclagem externas aponta para
o desperdício da oportunidade de contribuição dos canteiros “A” e “B” com a melhoria
ambiental da cidade.

Registro de destinação de RCC

Praticamente todo resíduo retirado do canteiro “B” não possuiu registro de


destinação, pois apenas 0,63% possuía a comprovação de destinação no Aterro da Terra
Dura, sendo 15.760 kg de resíduo misturado num total de 2.505.914,35 kg de resíduo
gerado.

No canteiro “A”, 4,25% possuiu registro de destinação, representando 119.565,80


kg (31.101,30 kg – 26,01% de resíduo classe B; 16.404,50 kg – 13,72%, classe C; e
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 129

72.060,00 kg – 60,27%, resíduos misturados), num total de 2.811.950,90 kg de resíduo


gerado.

Observa-se que uma pequena parte do resíduo gerado nos canteiros tem sua
destinação comprovada e conhecida, reforçando a possibilidade de contribuição dos
canteiros de obras pesquisados com aterros executados sem a autorização dos órgãos
competentes ou bota-foras, comprometendo a sustentabilidade da obra, poluindo e
degradando ambientalmente a cidade.

7.3.5 – Análise de adequação dos gerenciamentos de resíduos adotados nos canteiros


de obras pesquisados

Pretende-se avaliar o atendimento dos gerenciamentos de resíduos implementados e


descritos anteriormente nos canteiros de obras às diretrizes da Resolução CONAMA
307/02 e às possibilidades disponibilizadas e exigidas no município de Aracaju.

As etapas do gerenciamento do canteiro “A” foram: elaboração de projeto de


gerenciamento de resíduos; ações para a não geração, redução e reutilização de resíduos
pouco desenvolvidas; realização de treinamento dos envolvidos, resultando na segregação
de resíduos; transporte externo realizado por empresas autorizadas pela EMSURB a efetuar
o descarte no Aterro da Terra Dura; a maior parte dos resíduos classe B foram reutilizados
ou destinados à reciclagem; os resíduos classe A, C e D foram misturados e parcialmente
destinados ao Aterro da Terra Dura. Com relação à comprovação de destinação dos
resíduos retirados do canteiro, apenas uma pequena parte (4,25%) foi registrada e se obteve
conhecimento do local de descarte.

Verifica-se, portanto, que o mesmo não atende à Resolução CONAMA 307/02


quanto à baixa priorização da não geração e da redução da geração de RCC; os resíduos
classe A foram destinados para o aterro de resíduos domiciliares em substituição à sua
reciclagem ou armazenamento para reciclagem futura; os resíduos classe C e D foram
destinados ao aterro de resíduos domiciliares e não para locais de armazenamento ou
destinação específicos.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 130

Com relação às exigências estabelecidas em Aracaju, existe falha pela inexistência


de registro da destinação do total dos resíduos classe A, C e D, não importando se foram
misturados, podendo indicar, mais uma vez, que os mesmos foram descartados em bota-
foras ou locais indevidos, contribuindo para a degradação ambiental da cidade.

Conforme já exposto, o canteiro “B” não implementou um gerenciamento de


resíduos nos moldes previstos pela Resolução CONAMA 307/02 e, com relação às
exigências realizadas no município, este canteiro apresentou uma grande falha por não ter
registro de destinação dos resíduos gerados.

Na análise geral do tratamento dado aos resíduos gerados nos canteiros


pesquisados, percebe-se que existe forte possibilidade de terem contribuído para a
degradação ambiental da cidade e de terem comprometido a lucratividade da obra pelo
consumo de material acima do necessário, aumentando o consumo de recursos naturais;
gasto desnecessário com transporte de resíduo classe B; “desperdício” de material
reciclável e da possibilidade de contribuir socialmente com as cooperativas de reciclados;
diminuição do tempo de vida útil do aterro sanitário, com descarte de material
reaproveitável e de resíduo em excesso; possibilidade de aumento dos gastos municipais,
com descarte de resíduo em local desconhecido.

Dessa forma, foi verificado que o gerenciamento de resíduo, ferramenta com forte
potencial para contribuir com a sustentabilidade da obra no atendimento às questões
ambientais e gerenciais, não foi implementado nos canteiros pesquisados de forma a se
alcançar esse objetivo.

As construtoras demonstram ter facilidade de adequação às exigências que são


impostas e fiscalizadas pelo poder público, sendo, portanto, de suma importância as
solicitações, que hoje acontecem no município de Aracaju, com relação à elaboração do
projeto de gerenciamento de resíduo e à comprovação de sua destinação para as obras
formais, apesar de ainda não atenderem à legislação federal. Pelo exemplo das empresas
pesquisadas, observa-se que esses foram os pontos priorizados pela empresa “A” no trato
dos resíduos gerados em seu canteiro, tentando comprovar a reutilização, reciclagem ou
disposição adequada, realidade distinta da existente anteriormente.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 131

7.4 – CONSTRUÇÃO CIVIL E MEIO AMBIENTE: VISÃO DO EMPRESÁRIO E


COLABORADOR

Entrevista com empresários

As entrevistas realizadas com oito empresários, que executam obras com a mesma
tipologia pesquisada, definiram o perfil das empresas como de médio porte (87,5%) e de
grande porte (12,5%), de acordo com o número de funcionários e classificação apresentada
no Apêncide A, sendo que todas possuem o certificado do PBQP-H, nível A, e nenhuma
definiu indicador ambiental no SGQ, nem possui sistema de gestão ambiental.

Com relação à implantação do gerenciamento de resíduos em canteiros de obras,


87,5% já elaboraram projeto de gerenciamento de resíduos e apresentaram a comprovação
da destinação de RCC ao final da obra no órgão ambiental, 75% disseram já tê-lo
implementado e 62,5% já desenvolveram treinamento voltado à educação ambiental no
canteiro de obra. A maior dificuldade encontrada para o gerenciamento de resíduos foi a
conscientização dos colaboradores.

O transporte é feito por empresas terceirizadas, sendo que 75% das empresas
utilizam empresas transportadoras de entulho (caminhão poliguindaste com caixa coletora),
associada ao serviço de caçambeiros avulsos (retro-escavadeira com caminhão basculante).

A destinação da maior parte (62,5%) dos resíduos oriundos das etapas construtivas
de alvenaria, concreto, gesso e ferramenta de pintura é desconhecida, podendo ser também
feita em aterros de lotes ou no Aterro da Terra Dura. Já o descarte do papel está distribuído
em 50% desconhecido, 12,5% queimado, 12,5% doado e 12,5% em aterros de terrenos. O
maior índice de reciclagem citado foi 75% do papelão e plástico doados à CARE. O metal
é doado à CARE (37,5%) e os 62,5% restantes estão divididos entre venda a “ferro velho”,
doação aos colaboradores, descarte no Aterro da Terra Dura e aterros de lotes, ou
desconhecida. A madeira é doada à indústria de bloco cerâmico (25%), bem como 12,50%
do pó de serra, e o restante de resíduo desses materiais tem destinação desconhecida.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 132

Todos os entrevistados consideram que o treinamento dos colaboradores diminui a


geração de resíduo na obra e 87,5% concordam que o planejamento também pode
contribuir para esse feito. Com relação à perda de material, 85,7% incorporam esse tipo de
índice no orçamento das obras e todos consideram que o entulho da obra representa
desperdício de material, apesar de citarem que parte dele é inevitável.

Com relação à legislação ambiental, 87,5% das empresas pesquisadas a conhecem e


100% dizem aplicá-la. É importante esclarecer que a aplicação da legislação considerada
pelos empresários é ratificada pelo recebimento da licença de operação ao final da obra,
não importando, por exemplo, se o gerenciamento de resíduos foi praticado no canteiro,
uma vez que apenas 75% afirmaram que o implementou. Apenas 37,5% consideram as
exigências dos órgãos ambientais como entrave à produção e todas citaram, como
dificuldade nesse âmbito, a ausência de uma legislação específica e a falta de estrutura da
ADEMA, resultando em um período longo para análise de projetos. Essas informações são
apresentadas no Gráfico 7.1.

Considera as
exigências dos órgãos
37,5
ambientais como um
entrave à produção

Segue a legislação
100
ambiental

Conhece a legislação
ambiental referente a 87,5
construção civil

0 20 40 60 80 100 120

Gráfico 7.1 - Conhecimento e aplicação da legislação ambiental pelas oito


empresas entrevistadas.

A comparação dessas informações com às levantadas por Daltro Filho et al. (2005),
apresenta uma evolução na ampliação do conhecimento da Resolução CONAMA 307/02,
na elaboração e implantação de gerenciamento de RCC, na destinação alternativa de
resíduos classe B à CARE e indústria cerâmica e no controle de comprovação de
destinação, não havendo alterações com relação ao transporte de RCC.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 133

Os danos ambientais causados pela construção civil mais citados foram: a


degradação de áreas na extração de matéria-prima; e a disposição irregular do RCC. A
gravidade atribuída a esses impactos foi igualmente distribuída, como apresentado no
Gráfico 7.2.

30
25 25 25 25
25

20
% EMPRESAS

15

10

0
Muito grave Grave Pouco grave Sem gravidade

GRAVIDADE

Gráfico 7.2 - Distribuição da gravidade atribuída aos danos ambientais


causados pela cadeia da construção civil, segundo as oito empresas entrevistadas.

A maioria das empresas atribuiu uma grande importância aos recursos naturais para
suas atividades, sendo que 50% se disseram dispostas a adquirir matéria-prima de baixo
impacto ambiental, mesmo a custo mais elevado, apesar de 75% dos entrevistados
considerarem que seus clientes atribuem pouca importância a atividades socioambientais
desenvolvidas pelas construtoras. O conhecimento sobre a possibilidade de uso do
agregado reciclado foi citado por 62,5% dos entrevistados. Esses dados estão resumidos no
Gráfico 7.3.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 134

Cliente atribui pouca importância para


atividades socioambientais desenvolvidas 75
pelas empresas

Conhecimento sobre uso de agregado


62,5
reciclado

Disposição para adquirir uma matéria-prima


de baixo impacto, mesmo que tenha custo 50
maior

Recursos naturais têm grande importância


75
para a atividade da empresa

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Gráfico 7.3 - Importância do meio ambiente para a construção civil, segundo


as oito empresas entrevistadas.

As ações citadas para a redução dos impactos ambientais da atividade da construção


civil foram: aumento da qualificação e conscientização da mão-de-obra sobre o meio
ambiente em todos os níveis; definição e adoção de medidas eficazes para o problema do
RCC; respeito à legislação; proteção do entorno do empreendimento; implementação de
uma usina de reciclagem; e o uso do agregado reciclado.

Foi verificado, portanto, um elevado conhecimento, atendimento e atribuição de


importância à legislação ambiental, indicando mais uma vez o valor da definição de
políticas ambientais e da aplicação de seus instrumentos, para a adequação das empresas
construtoras.

É preocupante o fato de 50% dos entrevistados terem respondido que os impactos


da cadeia da construção civil têm pouca ou nenhuma gravidade, podendo indicar uma
dificuldade para a tomada de decisões mais proativas a esse respeito. Por outro lado, a
maioria dos entrevistados percebe a importância dos recursos naturais para sua produção,
citando durante as entrevistas a preocupação com o custo crescente dos agregados naturais,
sendo, inclusive, o maior motivador para a percepção da necessidade do uso do agregado
reciclado.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 135

Entrevista com os colaboradores dos canteiros “A” e “B”

O perfil traçado, pela pesquisa, dos colaboradores do canteiro “A” foi o seguinte:
21,43% de pessoal administrativo; 57,14% de profissionais; 21,43% de ajudante e
servente; 94% do sexo masculino; 6%, feminino; 40,3% com faixa etária de 18 a 29 anos;
32,9% com faixa etária de 30 a 39 anos; 26,8% com faixa etária acima de 39 anos.

Já o perfil dos colaboradores da empresa “B” foi o seguinte: 47,06% de pessoal


administrativo; 35,29% de profissionais; 17,65% de ajudante e servente; 100% do sexo
masculino; 38,8% com faixa etária de 18 a 29 anos; 34,3% com faixa etária de 30 a 39
anos; 26,9% com faixa etária acima de 39 anos.

O resultado das entrevistas com os colaboradores dos canteiros pesquisados está


apresentado de maneira detalhada no Apêndice E.

Observa-se uma permanência maior dos colaboradores na empresa “A”, uma vez
que 37,9 % dos entrevistados trabalham na empresa por um período maior ou igual a 12
meses, sendo esse valor para a empresa “B” de 1,5%. Além disso, para a empresa “A”,
30,3% dos entrevistados permanecem por um período de até 3 meses, sendo esse
percentual de 43,9% para a empresa “B”. O Gráfico 7.4 mostra os dados do tempo de
permanência dos colaboradores nos canteiros pesquisados.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 136

50
43,9
45

40 37,9
% COLABORADOR

35 31,8
30,3
30

25 22,7

20
16,7
15,1
15

10

5
1,5
0
Até 3 meses De 3 a 6 meses De 7 a 12 meses Mais que 12
meses
TEMPO

% de colaborador Canteiro "A" % de colaborador Canteiro "B"

Gráfico 7.4 - Tempo de permanência do colaborador por empresa pesquisada.

Foi verificado que 38,9% dos colaboradores do canteiro de obra “A” já


participaram de quatro ou mais obras da empresa, sendo esse percentual de apenas 3,6%
para os do canteiro “B”. Também para 89,3% dos colaboradores do canteiro “B”, a obra
pesquisada era a primeira em que participaram naquela empresa, sendo esse percentual de
31,5% para o canteiro “A”. Essas informações estão apresentadas no Gráfico 7.5.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 137

100
89,3
90
80

% Colaborador
70
60
50
38,9
40 31,5
30 20,4
20
7,1 9,2
10 3,6
0
0
1 2 3 4 ou mais

Nº de Obras

% de colaborador Canteiro "A" % de colaborador Canteiro "B"

Gráfico 7.5 - Número de obras da empresa trabalhadas pelos colaboradores.

A análise comparativa das respostas das entrevistas com os colaboradores das


empresas pesquisadas informa que o canteiro “A” apresentou uma menor rotatividade da
mão-de-obra, utilizando equipes mais antigas na empresa e que já participaram de outras
obras, tendo investido mais em treinamento sobre os procedimentos da qualidade,
segurança do trabalho e separação dos resíduos gerados na obra, que o canteiro “B”. Em
geral, o grau de instrução do pessoal do canteiro “B” foi mais elevado que do “A”,
apresentando um índice de analfabetismo de 4,5% e no canteiro “A” esse percentual foi de
12,6%, sendo que o índice de profissionalização dos dois canteiros foi baixo (18,2% no
canteiro “B” e 10,4%, no “A”).

Os colaboradores do canteiro “A” estão mais conscientes a respeito da destinação


dos resíduos retirados da obra que os do “B”. Porém, 60,6%os colaboradores do canteiro
“B” percebe que o entulho representa desperdício de material que os do “A” (50,7%) e, em
geral, comentaram que os resíduos poderiam ser reaproveitados. Os colaboradores que não
acham que o entulho representa um desperdício, justificaram que o resíduo já é aproveitado
na própria obra e o que precisa ser retirado é o resíduo inevitável. A melhor percepção a
respeito do desperdício de material pelos colaboradores do canteiro “B” pode ter
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 138

contribuído para a menor geração de entulho que aconteceu nesse canteiro em relação ao
“A”.

Com relação à análise da interferência da construção civil no meio ambiente, a


grande maioria dos colaboradores dos dois canteiros acha que o entulho polui (“A” em
82,1% e “B” em 72%), porém os mesmos demonstraram dificuldade, durante a entrevista,
de analisar a degradação ambiental que as obras podem causar na cidade por não
conseguirem perceber o problema como cidadãos e sim como trabalhadores de um setor
que promove o desenvolvimento da cidade. Mesmo assim, a maioria concorda que o
entulho disperso pela cidade pode provocar problemas de saúde na população (“A” em
89,5% e “B” em 89,4%).

Quanto à contribuição que os colaboradores podem dar para a diminuição da


geração de RCC nos canteiros, a maioria teve dificuldade em identificá-la e os relatos
foram em torno da necessidade de evitar o desperdício e reaproveitar o material, executar o
serviço corretamente e manter o ambiente de trabalho limpo, como medidas que podem
contribuir para esse feito. Alguns citaram, também, que a reciclagem, reutilização e
colocação do entulho em local apropriado são usos mais adequados para o RCC.

O fato da empresa “A” executar a obra com equipes mais treinadas e que
trabalharam em obras da mesma tipologia, executadas pela construtora, não foi suficiente
para se obter uma menor geração de resíduos que na obra da empresa “B”. A explicação
para isto pode residir na constatação, conforme já citado anteriormente, de que a falta de
quantificação dos resíduos retirados no mês de janeiro de 2008 e em finais de semana
foram representativas na quantificação geral de seus resíduos.

Apesar dos colaboradores afirmarem que o resíduo polui a cidade e que pode
provocar problemas de saúde na população, não se pôde concluir que os mesmos percebem
a importância da destinação adequada dos resíduos da obra onde estão trabalhando.
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 139

7.5 – SUSTENTABILIDADE DO EMPREENDIMENTO PESQUISADO

A sustentabilidade do empreendimento pesquisado pode ser verificada pelas


informações das fases de concepção, projeto e execução da obra. Com relação à fase
inicial, já foi citada a característica positiva de localização com infra-estrutura, porém
precisa ser avaliado o beneficio da diminuição do valor da taxa de condomínio à custa do
elevado número de edifícios que foi implantado, inclusive fora do padrão normal da
CAIXA de doze blocos. Há de se considerar, também, a realização do trabalho social
promovido pela CAIXA com os futuros condôminos, preparando-os para a convivência em
grupo e motivando a integração prévia dos mesmos, podendo gerar uma melhor qualidade
de vida dos usuários. Outro fator a ser ressaltado é a impossibilidade de adaptação futura
de lay-out, uma vez que as paredes dos apartamentos fazem parte da estrutura do prédio,
não podendo ser modificadas.

O projeto arquitetônico precisa atender às exigências internas da CAIXA e da


legislação municipal. Com relação ao uso eficiente de energia, foram citadas pela arquiteta
e pelas construtoras ações implementadas, como aproveitamento máximo da iluminação e
ventilação naturais e uso de cores claras nas fachadas. Para o uso eficiente da água, as
iniciativas mais significativas foram o uso de medidor individual de água, apesar do de gás
ser único para cada três prédios, e a disponibilização de poço artesiano com bomba para
regar gramas e árvores.

A qualidade ambiental, interna e externa, foi promovida pela elaboração de projeto


de paisagismo, sendo exigido pela CAIXA o índice de uma árvore para cada seis unidades
habitacionais e grama na parte frontal dos prédios; previsão de local para a coleta seletiva a
ser efetivada pelos usuários; elaboração do projeto de gerenciamento de RCC; previsão de
áreas comuns, como quadra de esportes, salão de festas e parque infantil; promoção de
segurança através de guarita e cerca elétrica; previsão de rampas e banheiro para deficiente
nas áreas de uso comum e vagas de garagem para visitantes; opções de planta com dois ou
três quartos; e entrega do Manual do Proprietário.

Para a fase de execução da obra, as recomendações ambientais de reduzir, reutilizar


e reciclar, além das gerenciais ligadas ao gerenciamento de RCC, já foram apresentadas e
Capítulo 7 – Análise de dois canteiros de obras de Aracaju 140

discutidas, cabendo ressaltar que as empresas pesquisadas não possuem objetivos


estratégicos ou projetos específicos para inclusão de critérios de sustentabilidade na
execução de suas obras e na gestão dos canteiros de obras.

As ações sociais que podem contribuir para a sustentabilidade das obras, citadas
pelas empresas, foram: preferência pela contratação de serviços e materiais a fornecedores
formais; uso de cadastro das concessionárias para evitar a perfuração de redes existentes;
execução dos serviços mais incômodos durante o horário normal de trabalho, apesar de não
terem sido desenvolvidas ações mais efetivas para a diminuição do incômodo à vizinhança;
cuidados e atendimento à legislação sobre segurança do trabalho e desenvolvimento de
treinamentos, sendo esse último aspecto mais desenvolvido e estruturado no canteiro “A”.

A comparação das possibilidades de ações sustentáveis, para a fase de concepção,


projeto e execução da obra, apresentadas na literatura, e as efetivadas no empreendimento
pesquisado mostra que muito ficou por se fazer para a conquista da construção sustentável
neste, apesar de os dois empresários e a arquiteta ratificarem a idéia de existência de
mercado para esse tipo de obra. Na visão deles, o caminho para a construção sustentável
popular passa pela manutenção do preço de venda do imóvel, ou seja, o aumento do custo
da obra sustentável não deve ser repassado para o cliente. Isto pode ser conseguido através
de subsídios temporários do governo federal, de forma que os materiais e produtos
sustentáveis comecem a ser produzidos em série e tenham condições de se adequarem ao
preço daqueles usados atualmente e que não incorporam características de sustentabilidade.
Essa constatação reforça a importância de políticas públicas nesse sentido.
CAPÍTULO 8

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Capítulo 8 – Conclusões e Recomendações 142

8 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A crise ambiental mostrou a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento


baseado nas premissas de intensa exploração dos recursos naturais, da desconsideração dos
limites de suporte da natureza, do uso de sistemas produtivos ineficientes, concentração
urbana da população, da distribuição desigual das riquezas geradas e da cultura de
expansão do consumo material. Tal realidade trouxe a necessidade da ligação entre as
dimensões econômica, que disciplina o desenvolvimento, ambiental e social, para a
fundamentação de um novo modelo de desenvolvimento mais sustentável.

A atuação do setor da construção civil tem se encaixado perfeitamente no modelo


descrito acima, gerando impactos econômicos, ambientais e sociais, sendo que a
implementação da construção sustentável pode ser a contribuição do setor para a
sustentabilidade da sociedade.

A sustentabilidade da construção civil requer o equilíbrio das dimensões


econômicas, ambientais e sociais em todo ciclo de vida do empreendimento, ou seja, desde
sua concepção, projeto, execução da obra, uso, manutenção, reforma e demolição. No
contexto mercadológico existente atualmente, verifica-se a importância da valorização ou
exigência de ações sustentáveis pela sociedade e pelo setor público, para a efetivação da
construção formal e sustentável.

A sustentabilidade do canteiro de obra formal está ligada a critérios: ambientais, de


redução do consumo de matéria-prima e sua reutilização, e reciclagem de resíduos; sociais,
referentes aos trabalhadores e à vizinhança do canteiro de obra; e gerenciais, que são o
suporte para que os dois primeiros sejam alcançados.

Para os dois canteiros de obras pesquisados em Aracaju, desenvolvidos por


empresas de médio porte e possuidoras de certificação de sistema de gestão pela qualidade,
PBQP-H, verificou-se que a elaboração do projeto de gerenciamento de RCC da obra e a
existência do SGQ nas empresas não foram suficientes para atender às exigências da
Resolução CONAMA 307/02 e aos critérios ambientais da sustentabilidade.
Capítulo 8 – Conclusões e Recomendações 143

Os canteiros pesquisados geraram RCC em excesso, apresentando índices de massa


de resíduo gerado por área construída de 239,55 kg/m2 para o canteiro “A” e 216,92 kg/m2
para o canteiro “B”, valores maiores que os encontrados como média na literatura de 150
kg/ m2. Esse fato, aliado às opções restritas de destinação ambientalmente adequadas
disponíveis em Aracaju e à ausência de registro de destinação de mais de 95% do RCC
retirado dos canteiros, reforça a conclusão de contribuição dos canteiros pesquisados com
bota-foras ou aterros executados sem autorização dos órgãos competentes, contribuindo
para a degradação ambiental da cidade e para o aumento dos gastos da municipalidade com
a limpeza da cidade.

Os índices de volume de resíduo gerado por área de serviço executado e por área
construída para os serviços de execução de alvenaria, montagem de armadura e de
instalações na laje, revestimento interno em gesso, revestimento cerâmico, cobertura e
revestimento argamassado em fachada foram calculados para os canteiros pesquisados e
poderão ser utilizados para o cálculo de geração de resíduo para esse tipo de obra. O valor
de resíduo gerado por serviço pode ser utilizado pelas empresas no PGRCC a ser
apresentado ao órgão ambiental e na previsão de custo com transporte de RCC retirados
das obras.

Um maior conhecimento sobre a aplicação da Resolução CONAMA 307/02,


demonstrado pelos empresários entrevistados de oito construtoras, em relação à pesquisa
realizada por Daltro Filho et al. (2005), pode indicar uma melhoria ambiental nos
procedimentos de destinação do RCC. Porém, o levantamento dos dados de registro de
destinação dos RCC, retirados dos canteiros pesquisados, aponta para uma pequena parcela
de contribuição efetiva nesse sentido.

Por outro lado, o conhecimento sobre a legislação ambiental não foi suficiente para
conscientizar os empresários pesquisados com relação à gravidade dos danos ambientais
causados pela construção civil, uma vez que 50% dos entrevistados classificaram como
pouca ou nenhuma, a gravidade desses impactos.

Todas as empresas pesquisadas disseram-se cumpridoras da legislação ambiental,


por obterem a licença de operação dos empreendimentos realizados, apesar de apenas 75%
Capítulo 8 – Conclusões e Recomendações 144

terem afirmado que já implantaram o gerenciamento de resíduos em seus canteiros.


Podendo-se concluir que as empresas construtoras apresentam a tendência de adequação às
normas e legislações que são fiscalizadas, reforçando a importância da definição de
políticas públicas e de seus instrumentos de aplicação para a melhoria do setor e da
sustentabilidade da cidade.

A maior parte dos colaboradores entrevistados nos dois canteiros pesquisados


(50,7% no canteiro “A” e 60,6%, no “B”) afirmou que o entulho gerado durante a
execução da obra representa desperdício de material. Com relação ao impacto que o RCC
pode provocar na cidade, a avaliação feita foi que o mesmo polui a cidade (82,1% no
canteiro “A” e 72%, no “B”) e que pode causar problemas de saúde na população (89,5%
no canteiro “A” e 89,4%, no “B”), mas existe uma menor percepção (56,1% no canteiro
“A” e 53,7%, no “B”) de que esse RCC é resultado da produção no canteiro de obra, como
forma de recusar os resultados negativos que a construção civil, atividade promotora do
desenvolvimento, traz para a cidade.

Com relação à aceitação da construção sustentável pelo mercado de Aracaju, foi


verificada a importância de incentivos públicos e a necessidade de conscientização e
valorização dos clientes para que as construtoras atuem com esse foco.

Esse fato pode ser reforçado pelo dado de que nenhuma das empresas entrevistadas
possui indicadores ambientais, planejamento estratégico ou projeto específico que
contemple critérios de sustentabilidade, dificultando a adequação dos canteiros de obras.

Em suma, pode-se concluir que os canteiros pesquisados não atenderam aos


critérios ambientais, sociais e gerenciais de sustentabilidade e que o caminho para que se
alcance esse objetivo, em Aracaju, ainda é longo, sendo necessárias ações integradas dos
envolvidos com o setor produtivo, sociedade, setor público e de pesquisa.
Capítulo 8 – Conclusões e Recomendações 145

Como recomendações para que o gerenciamento de resíduos possa efetivamente


contribuir com a sustentabilidade da obra formal em Aracaju podem ser citadas:

 Utilização de ferramentas eficientes de planejamento pelas construtoras e


que possam contribuir para a diminuição do desperdício de material na obra;
 Adequação do SGQ das construtoras no que se refere ao acompanhamento
de perda de material, podendo ser criado um indicador para as obras que
traga informações a esse respeito;
 Incentivo à melhoria dos produtos cerâmicos (calhas e blocos cerâmicos)
fabricados no Estado de Sergipe, relativa ao aumento de resistência da calha
e adequação das embalagens, preferencialmente em pallets, de forma a
diminuir a perda desse tipo de material no canteiro de obra;
 Utilização de processos produtivos racionalizados, de forma a diminuir o
consumo de recursos naturais e a geração de resíduos, nas fases de execução
da obra, de uso e manutenção do imóvel;
 Conscientização dos colaboradores, em todos os níveis, sobre a importância
ambiental e econômica do combate ao desperdício na obra;
 Investimento em educação ambiental em todos os níveis da obra;
 Promoção da reutilização de resíduos no canteiro de obra;
 Intensificação da segregação de RCC na obra e busca de mais opções de
destinações adequadas;
 Busca de parceria com os fornecedores de materiais empregados na obra, de
forma a identificar destinações para o RCC;
 Elaboração e implementação do Plano Integrado de Gerenciamento de
Resíduo pela Prefeitura de Aracaju, de forma a viabilizar destinações mais
adequadas ao RCC segregado no canteiro de obra;
 Implementação de uma usina de reciclagem de resíduo classe A,
acompanhada do aprofundamento de estudos já existentes sobre a
viabilidade técnica de aplicação dos agregados reciclados;
 Realização de fiscalização da destinação do RCC retirado dos canteiros de
obras, com aplicação de multas para o não atendimento a essa prerrogativa;
 Controle da atuação das empresas de transporte de RCC, de forma que as
mesmas se comprometam com a destinação ambientalmente adequada.
Capítulo 8 – Conclusões e Recomendações 146

Como contribuição para a sustentabilidade da execução da obra, podem ser citadas


ações como:

 Preparação de profissionais ligados à área de projeto, planejamento e da


execução da obra com visão global da sustentabilidade;
 Aumento do investimento de recurso e de tempo na fase de elaboração de
projeto;
 Realização e divulgação de pesquisas sobre o ciclo de vida dos materiais
utilizados na obra, de forma a viabilizar a escolha de materiais mais
sustentáveis;
 Desenvolvimento de materiais e equipamentos que atendam a requisitos
sustentáveis, com custo compatível com os de mercado;
 Elaboração e implementação de políticas públicas que incentivem a adoção
de ações mais sustentáveis no canteiro de obra e a articulação dos
envolvidos com essa problemática, a exemplo do PBQP-H;
 Elaboração e divulgação de critérios objetivos para a classificação da
sustentabilidade da obra, com base nas várias realidades brasileiras;
 Desenvolvimento de ações de sensibilização e valorização da construção
sustentável pela sociedade, inclusive esclarecendo os ganhos financeiros de
longo prazo que esse tipo de produto traz ao usuário;
 Combate a todo tipo de trabalho inseguro, informal ou infantil;
 Inclusão de dimensões da sustentabilidade no planejamento estratégico das
empresas construtoras e no planejamento das obras.

Com relação à sustentabilidade dos imóveis, sugere-se que sejam desenvolvidos


estudos sobre esse assunto em Aracaju, para a fase de uso e manutenção, uma vez que é
considerada a fase de maior impacto ambiental e que não foi abordada nesse trabalho.

Para a continuidade do estudo da geração de resíduo no canteiro de obra, são


sugeridos novos estudos sobre perda de material, com o objetivo de conscientizar os
empresários da construção civil de Aracaju de que o desperdício existe, compromete a
sustentabilidade econômica e ambiental da obra e que a cultura de que essa perda é
inevitável deve ser combatida.
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APÊNDICE
Apêndice 160

APÊNDICE A - MODELOS DE FORMULÁRIOS UTILIZADOS NA PESQUISA DE


CAMPO NOS CANTEIROS "A" e "B"
Apêndice
APÊNDICE A.1 - QUANTIFICAÇÃO DE SAÍDA DE RESÍDUOS DO CANTEIRO DE OBRA

EMPRESA: MÊS:

RESÍDUOS
STATUS
PREENCHI -
DATA Papel(saco Resíduo Resíduo TRANSPORTADOR DESTINO
MENTO DO
OBS
Madeira Pó Serra Papelão Plástico Metal Bloco Concreto Gesso Gesso Cerâmica
cimento, misturado misturado
(m3) (sacos) (Kg) (Kg) (Kg) (m3) e arg (m3) (Kg) (m3) (Kg) REGISTRO
gesso) (m3) (m3) (kg)

TOTAL

161
Apêndice
APÊNDICE A.2 - QUANTIFICAÇÃO DE RESÍDUOS POR SERVIÇO EXECUTADO

Empresa: Bloco:

OBS (forma de medição e de


Data Local Serviço Resíduo Quant Un
acompanhamento)

162
Apêndice 163

APÊNDICE B – MODELOS DE FORMULÁRIOS DE ENTREVISTAS APLICADAS


NA PESQUISA DE CAMPO
Apêndice 164
APÊNDICE B.1 - ENTREVISTA SOBRE A VISÃO AMBIENTAL DO EMPRESÁRIO
DA CONSTRUÇÃO CIVIL
I. IDENTIFICAÇÃO
1-Empresa: 2-Entrevistado: 3-Data:
o
4-Função: 5-N de obras em andamento:
o
6-N de condomínios com prédios de 04 pavimentos em alvenaria estrutural já realizados:
7-Totalizando ___________ unidades habitacionais
8-Porte da empresa: micro (até 19 empregados) médio (100 - 499 empregados)
pequena (20 - 99 empregados) grande (mais de 500 empregados)

II. GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO


9-A empresa já desenvolveu ou contratou a elaboração de projeto de gerenciamento dos resíduos produzidos
durante a execução da obra?
Sim Não
10-Caso positivo, a empresa foi fiscalizada durante e execução da obra pelo órgão ambiental quanto à
aplicação desse projeto?
Sim Não
11-Caso positivo, a empresa precisou apresentar registros da destinação dos resíduos ao órgão ambiental
para obter a licença de operação?
Sim Não
12-A empresa já desenvolveu algum treinamento ou ação educativa voltada ao meio ambiente no canteiro
de obra?
Sim Não Citar:_____________________________________________
______________________________________________________________________________________
13-A empresa já promoveu algum treinamento no canteiro de obra com objetivo de melhorar as atividades
operacionais?
Sim Não Citar (inclusive frequência):______________________________
______________________________________________________________________________________
14-A empresa já implantou o gerenciamento de resíduo em algum canteiro de obra?
Sim Não
15-Caso positivo, quais foram as principais dificuldades encontradas para a implantação?
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
16-Caso positivo, quais foram os principais resultados positivos alcançados?
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
17-Na sua opinião, o planejamento de execução das várias etapas da obra interfere na quantidade de resíduo
gerado no canteiro?
Sim Não
18-Na sua opinião, o treinamento da mão-de-obra interfere na quantidade de resíduo gerado no canteiro?
Sim Não
19-Na sua opinião, o entulho que sai do canteiro de obra representa um desperdício de material?
Sim Não
20-A empresa considera algum índice de perda de material no orçamento ou planejamento das obras?
Sim Não Citar:_____________________________________________
Qual a solução adotada pela empresa para os resíduos gerados no canteiro de obra?
(podem ser marcadas mais de uma opção, citando algum exemplo de solução adotada)
Qual a solução adotada pela empresa para os resíduos gerados no canteiro de obra?
(podem ser marcadas mais de uma opção, citando algum exemplo de solução adotada)
21-Redução de geração de resíduos Citar:_____________________________________________
______________________________________________________________________________________

22-Reutilização de resíduos Citar:_____________________________________________


______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
Apêndice 165

23- Reciclagem de resíduos Citar:_____________________________________________


______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
24-Doação de resíduos Citar:_____________________________________________
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
25-Venda de resíduos Citar resíduos vendidos e destino da renda:_______________
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
26-Transporte de resíduos Citar:_____________________________________________
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
Destinação final de resíduos (citar por tipo de resíduo)
Tipo de Resíduo Destinação Tipo de Resíduo Destinação
27- Alvenaria e concreto 31- Pó de serra
28- Papel 32- Metal
29- Papelão e plástico 33- Gesso
30- Madeira 34- Ferram de pintura

III. MEIO AMBIENTE E CONSTRUÇÃO CIVIL


35-Na sua opinião, quais são os danos / impactos que a cadeia da construção civil provoca no meio ambiente?
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
36-Como os classificaria?
muito grave grave pouco grave sem gravidade
37-Qual a importância atribuída aos recursos naturais para a atividade da empresa?
grande mediana pequena sem importância
38-Citar ação (ões) que a empresa desenvolve ou incentiva que podem ajudar a diminuir esses danos / impactos.
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
39-A empresa já desenvolveu projeto adotando alguma medida ecológica?
Sim Não Citar:_____________________________________________
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
40-A empresa dá preferência a produtos que utilizam matéria-prima de baixo impacto ambiental?
Sim Não Citar:_____________________________________________
41-A empresa está disposta a adquirir uma matéria-prima de baixo impacto ambiental, mesmo que tenha um
custo maior?
Sim Não
42-A empresa tem conhecimento sobre o uso de agregado reciclado?
Sim Não
43-Na sua opinião, qual o nível de impotância atribuída por seus clientes para atividades socioambientais que
sejam desenvolvidas pela empresa?
Muita importância Média importância Pouca inportância Nenhuma importância
44-A empresa conhece a legislação ambiental para a atividade da construção civil?
Sim Não Citar:_____________________________________________
45-A empresa segue a legislação ambiental?
Sim Não
46-A empresa considera as exigências dos órgãos ambientais como um entrave à produção?
Sim Não
47-A empresa possui sistema de gestão pela qualidade?
Sim Não
48-Caso positivo, possui o certificado do PBQP-H?
Sim Não
49-Caso positivo, qual o nível de certificação?
D C B A
Apêndice 166

50-A empresa definiu e acompanha algum indicador ambiental?


Sim Não Citar:_____________________________________________
51-A empresa possui sistema de gestão ambiental?
Sim Não
52-Na sua opinião, como se poderia reduzir os impactos da atividade da construção civil sobre o meio ambiente?
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
Apêndice 167

APÊNDICE B.2 - ENTREVISTA SOBRE A VISÃO AMBIENTAL DO COLABORADOR


DA CONSTRUÇÃO CIVIL
I. IDENTIFICAÇÃO
1-Empresa: 2-Data: 3-Função:
4-Nome: 5-Sexo: 6-Local de nascimento:
7-Tempo na obra: 8- Situação na obra: funcionário subcontratado
9-Tempo na empresa: 10-No. obras da empresa que já trabalhou:
11-Faixa etária até 17 anos 12-Grau de instrução analfabeto
18 - 24 anos ensino fundamental incompleto
25 - 29 anos ensino fundamental completo
30 -39 anos ensino médio incompleto
40 -49 anos ensino médio completo
50 - 64 anos ensino superior incompleto
a patir de 65 anos ensino superior completo
Possui curso profissionalizante? Sim Não
Caso positivo, citar o curso: _______________________
13-Estado civil solteiro casado divorciado viúvo
separado outros
II. GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS PRODUZIDOS NO CANTEIRO DE OBRA
14-Você já recebeu algum treinamento promovido pela empresa para desenvolver melhor suas tarefas?
Sim Não Citar:_____________________________
15-Você já recebeu algum treinamento promovido pela empresa sobre a necessidade de separação dos
diversos tipos de resíduos da obra?
Sim Não Citar:_____________________________
16-Na obra em que você está trabalhando, os vários tipos de resíduos (papel, plástico, madeira, metal,
gesso, alvenaria e concreto) são separados?
Sim Não
17-Caso positivo, a empresa acompanha/cobra a sepração dos resíduos?
Sim Não Como?:_____________________________
18-Você sabe em que local do canteiro deve ser colocado o entulho que é produzido durante a execução
do seu serviço?
Sim Não Citar:_____________________________
19-Você sabe qual o destino do entulho que é retirado da obra?
Sim Não Citar:_____________________________
20-Na sua opinião, o entulho que sai do canteiro de obra representa um desperdício de material?
Sim Não Por quê?___________________________
21-Qual a contribuição que você poderia dar para que se produzisse menos entulho na obra?
__________________________________________________________________________
III. CONSTRUÇÃO CIVIL E MEIO AMBIENTE
Quando você observa as obras que existem na cidade ou no seu bairro, você percebe que:
22-O canteiro de obra suja a cidade ou seu bairro?
Sim Não Por quê?___________________________
23-O entulho polui?
Sim Não Por quê?___________________________
24-Caso positivo, ordenar o nível de poluição do menor para o maior (1, 2 e 3)
Solo Água Ar
25-O entulho disperso pela cidade pode provocar problemas de saúde na população?
Sim Não
26-Qual seria o melhor uso do entulho produzido na obra?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
Apêndice 168

APÊNDICE C – CÁLCULO DE INDICADOR DE MASSA DE RESÍDUO GERADO


POR ÁREA CONSTRUÍDA PARA OS CANTEIROS “A” e “B”
Apêndice
APÊNDICE C - CÁLCULO DE INDICADOR DE MASSA DE RESÍDUO GERADO POR ÁREA
CONSTRUÍDA PARA OS CANTEIROS DE OBRAS PESQUISADOS
Classificação Quantificação Conversão Quantificação (Kg)
CONAMA Resíduo 3
Canteiro "A" Canteiro "B" Unidade (kg/m ) Canteiro A Canteiro B
307/02
Bloco cerâmico - 4,80 m3 1.300,0 - 6.240,00
Papelão 2.262,00 - kg - 2.262,00 -
3
Papel (Saco 3,24 - m 47,5 153,90 -
cimento, gesso) 340,80 - kg - 340,80 -
B
Plástico 1.245,50 - kg - 1.245,50 -
Metal 1.620,50 - kg - 1.620,50 -
3
Madeira 116,25 30,00 m 350,0 40.687,50 10.500,00
Pó Serra 1.040,00 - kg - 1.040,00 -
16.404,50 - kg - 16.404,50 -
C Gesso 3
40,50 4,50 m 1.250,0 50.625,00 5.625,00
3
Resíduo misturado 2.125,92 1.998,21 m 1.235,0 2.625.511,20 2.467.789,35
-
Resíduo misturado 72.060,00 15.760,00 kg - 72.060,00 15.760,00
TOTAL 2.811.950,90 2.505.914,35
2
Área Construída ( m ) 11.738,40 11.552,07
Indicador (kg/m2) 239,55 216,92

169
Apêndice 170

APÊNDICE D – CÁLCULO DE INDICADOR DE VOLUME DE RESÍDUO GERADO


POR ÁREA DE SERVIÇO EXECUTADO E POR ÁREA CONSTRUÍDA PARA OS
CANTEIROS “A” e “B”
Apêndice
APÊNDICE D - CÁLCULO DE INDICADOR DE VOLUME DE RESÍDUO GERADO POR SERVIÇO EXECUTADO PARA OS CANTEIROS DE OBRAS
PESQUISADOS: VOLUME POR ÁREA DE SERVIÇO EXECUTADO E VOLUME POR ÁREA TOTAL CONSTRUÍDA
Canteiro "A" Canteiro "B"
Área de
Tipologia
serviço m³/área de m³/área m³/área de m³/área
Serviço Tipo de resíduo da Quant.
executado Quant. (m³) serviço construída serviço construída
edificação (2) (m³) (2)
(m²) executada executada

03 quartos 1.709,36 10,2613 0,006003 0,010144 12,9067 0,007551 0,012759


Alvenaria Argamassa e bloco cerâmico
02 quartos 1.427,52 6,1653 0,004319 0,007461 8,6400 0,006052 0,010456
Montagem de armadura (1)
03 quartos 1.011,59 0,0029 0,000003 0,000003 0,0031 0,000003 0,000003
Metal
na laje 02 quartos 826,31 0,0026 0,000003 0,000003 0,0026 0,000003 0,000003
Montagem de instalações (1)
03 quartos 1.011,59 0,0373 0,000037 0,000037 0,1867 0,000185 0,000185
Tubos de PVC
(tubulação) na laje 02 quartos 826,31 0,1253 0,000152 0,000152 0,1444 0,000175 0,000175
Revestimento de paredes 03 quartos 2.867,08 14,8853 0,005192 0,014715 __ __ __
Gesso
e tetos com gesso 02 quartos 2.079,04 13,1267 0,006314 0,015886 __ __ __
Revestimento cerâmico Placa cerâmica e argamassa de 03 quartos 1.357,24 0,5087 0,000375 0,000503 __ __ __
(1)
em paredes e pisos rejunte 02 quartos 1.149,12 0,5027 0,000437 0,000608 __ __ __
(1)
Madeira 03 quartos 482,00 0,8374 0,001737 0,000828 __ __ __
Cobertura (1)
Telha cerâmica 03 quartos 482,00 0,3708 0,000769 0,000367 __ __ __
Revestimento de fachada
Argamassa de chapisco e reboco 03 quartos 937,54 5,3600 0,005717 0,005299 6,7500 0,007200 0,006673
com argamassa

(1)
Quantidades coletadas na unidade Kg e transformadas segundo o quadro 7.7 e as seguintes informações:
Metal: 7.850 kg/m3, conforme NBR 6118:2003
Plástico: 30 kg/m3, conforme Pucci R. B. (2006)
Placa cerâmica e argamassa de rejunte:2.100 kg/m3, conforme Pucci R. B. (2006)
Telha cerâmica: 1.780 kg/m3, conforme informação do fornecedor do serviço de cobertura
(2)
As áreas construídas dos blocos de 03 e 02 quartos são 1.011,59 m² e 826,31 m², respectivamente.

171
Apêndice 172

APÊNDICE E – RESULTADO DAS ENTREVISTAS COM OS COLABORADORES


DOS CANTEIROS DE OBRAS “A” e “B”
Apêndice 173

APÊNDICE E – RESULTADO DAS ENTREVISTAS COM OS COLABORADORES DOS CANTEIROS "A" e "B"

I. IDENTIFICAÇÃO
3-Função:
Função "A" (%) "B" (%)
Administrativo 21,43 47,06
Profissional 57,14 35,29
Ajudante e servente 21,43 17,65
total 100,00 100,00

5-Sexo:
Sexo "A" (%) "B" (%)
Masculino 94,00 100,00
Feminino 6,00 0,00
total 100,00 100,00

6-Local de nascimento:
Estados "A" (%) "B" (%)
Sergipe 70,49 75,41
Alagoas 14,75 13,11
Bahia 6,56 4,92
Rio de Janeiro 0,00 3,28
São Paulo 1,64 1,64
Paraná 3,28 1,64
Pernambuco 1,64 0,00
Paraíba 1,64 0,00
total 100,00 100,00

7-Tempo na obra:
Tempo na obra "A" (%) "B" (%)
Até 3 meses 38,30 43,70
De 3 à 6 meses 25,00 34,40
De 7 à 12 meses 26,70 21,90
Mais que 12 meses 10,00 0,00
total 100,00 100,00

8-Situação na obra:
Situação na obra "A" (%) "B" (%)
Funcionário 76,70 64,10
Subcontratado 23,30 35,90
total 100,00 100,00
Apêndice 174

9-Tempo na empresa:
Tempo na empresa "A" (%) "B" (%)
Até 3 meses 30,30 44,00
De 3 à 6 meses 16,70 31,80
De 7 à 12 meses 15,10 22,70
Mais que 12 meses 37,90 1,50
total 100,00 100,00

10-No. de obras da empresa que já trabalhou:


No. de obras "A" (%) "B" (%)
Apenas uma 31,60 89,30
Duas obras 20,40 7,10
Três obras 9,20 0,00
Quatro obras 11,10 1,80
Cinco obras 11,10 0,00
Seis obras 7,40 0,00
Sete obras 5,50 0,00
Muitas 3,70 1,80
total 100,00 100,00

11-Faixa etária:
Faixa etária "A" (%) "B" (%)
18 – 24 anos 22,40 26,90
25 – 29 anos 17,90 11,90
30 – 39 anos 32,90 34,30
40 – 49 anos 16,40 19,40
50 – 64 anos 10,40 7,50
total 100,00 100,00

12-Grau de instrução:
Grau de instrução "A" (%) "B" (%)
Analfabeto 12,60 4,50
Ensino Fundamental 67,20 70,20
Incompleto:
Ensino Fundamental 6,20 11,90
Completo:
Ensino Médio Incompleto 6,20 1,50
Ensino Médio Completo 7,80 10,40
Ensino Superior Completo 0,00 1,50
total 100,00 100,00
Apêndice 175

Curso profissionalizante?
Curso profissionalizante "A" (%) "B" (%)
Sim 10,40 18,20
Não 89,60 81,80
total 100,00 100,00

13-Estado civil:
Estado civil "A" (%) "B" (%)
Solteiro 34,30 38,80
Casado 32,80 32,80
Divorciado 3,00 3,00
Viúvo 7,50 0,00
Outros 22,40 25,40
total 100,00 100,00

II. GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS PRODUZIDOS NO CANTEIRO DE OBRA


14-Você já recebeu algum treinamento promovido pela empresa para desenvolver melhor
suas tarefas?
"A" (%) "B" (%)
Sim 83,60 41,80
Não 16,40 58,20
total 100,00 100,00

Citação:
"A" : treinamentos sobre qualidade e segurança do trabalho
"B" : treinamentos sobre segurança do trabalho e orientações dos encarregados

15-Você já recebeu algum treinamento promovido pela empresa sobre a necessidade de


separação dos diversos tipos de resíduos da obra?
"A" (%) "B" (%)
Sim 80,60 40,30
Não 19,40 59,70
total 100,00 100,00

Citação:
"A" : separação dos resíduos dos serviços
"B" : separação para reaproveitamento
Apêndice 176

16-Na obra em que você está trabalhando, os vários tipos de resíduos (papel, plástico,
madeira, metal, gesso, alvenaria e concreto) são separados?
"A" (%) "B" (%)
Sim 89,60 68,70
Não 10,40 31,30
total 100,00 100,00

17-Caso positivo, a empresa acompanha/cobra a sepração dos resíduos?


"A" (%) "B" (%)
Sim 86,90 77,80
Não 13,10 22,20
total 100,00 100,00

Citação:
"A" : cobrança feita pelos técnicos e mestre, reuniões
"B" : cobrança pelos superiores

18-Você sabe em que local do canteiro deve ser colocado o entulho que é produzido
durante a execução do seu serviço?
"A" (%) "B" (%)
Sim 79,10 77,60
Não 20,90 22,40
total 100,00 100,00

Citação:
"A" : bombona, dispositivos, baia, caixa coletora, bag
"B" : baia, caixa coletora, empilhado no canteiro, perto do local de serviço

19-Você sabe qual o destino do entulho que é retirado da obra?


"A" (%) "B" (%)
Sim 47,80 14,90
Não 52,20 85,10
total 100,00 100,00

Citados:
"A" : CARE, Terra Dura, terreno baldio
"B" : aterro, outras obras, terreno atrás da rodoviária, terreno baldio
Apêndice 177

20-Na sua opinião, o entulho que sai do canteiro de obra representa um desperdício de
material?
"A" (%) "B" (%)
Sim 50,80 60,60
Não 49,20 39,40
total 100,00 100,00

Citados:
"A" : desinteresse dos colaboradores, inevitável, existe reaproveitamento, eficiência na execução
do serviço
"B" : poderia ser reaproveitado, reaproveitado em terrenos baldios ou outras obras, inevitável, o
resíduo não serve para nada

21-Qual a contribuição que você poderia dar para que se produzisse menos entulho na
obra?
Citados:
"A" : treinamento, reaproveitamento do material, executar bem o serviço e manter a limpeza no
local do trabalho
"B" : reaproveitamento de material e RCD, evitar desperdício de material, executar o serviço
corretamente

III. CONSTRUÇÃO CIVIL E MEIO AMBIENTE


Quando você observa as obras que existem na cidade ou no seu bairro, você percebe que:
22-O canteiro de obra suja a cidade ou seu bairro?
"A" (%) "B" (%)
Sim 56,10 53,70
Não 43,90 46,30
total 100,00 100,00

Citação:
"A" : poluição, sujeira, descarte inadequado de resíduo, recolhimento pela prefeitura, destinação
adequada
"B" : poluição, destinação inadequada
Apêndice 178

23-O entulho polui?


"A" (%) "B" (%)
Sim 82,10 72,00
Não 17,90 28,00
total 100,00 100,00

Citados:
"A" : atração, poeira, doença, compromete a drenagem, destinação imadequada, material tóxico,
o RCD é reaproveitado e reciclado
"B" : poeira, pela destinação inadequada, prejudica a saúde e o meio ambiente, porque existe a
limpeza do entulho

24-Caso positivo, ordenar o nível de poluição do menor para o maior (1, 2 e 3)


Citação:
"A" : poluição do solo, água e ar
"B" : entulho polui o solo, água e ar
25-O entulho disperso pela cidade pode provocar problemas de saúde na população?
"A" (%) "B" (%)
Sim 89,60 89,40
Não 10,40 10,60
total 100,00 100,00

26-Qual seria o melhor uso do entulho produzido na obra?


Citação:
"A" : reciclagem, reutilização, levar a um local adequado
"B" : reciclagem e reutilização, colocar em local adequado, colocar em terreno baldio, utilizar
como aterro, não existe uso para esse material
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