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1 O direito tributário cuida de um dos temas do direito financeiro, que é o das

2receitas derivadas, que são aquelas obtidas a partir do constrangimento do


3patrimônio particular, derivando, com isso, para os cofres públicos, parcelas da
4riqueza das pessoas, físicas ou jurídicas, conforme sua respectiva capacidade
5econômica.

6 A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88)


7prescreve em seus arts. 24, I e II, e 30, I e III, que a competência para legislar sobre
8direito tributário e orçamento é concorrente entre a União, os Estados, o Distrito
9Federal e os Municípios. Dizer que a competência é concorrente significa que cada
10ente político tem autonomia para legislar sobre direito tributário e orçamento de
11acordo com as suas especificidades locais, mas que devem sempre observar,
12contudo, a legislação nacional.1 O que aqui se denomina legislação nacional é
13tratado pelo art. 24, § 1o, da CRFB/88, como normas gerais.

14 A competência tributária, em sentido amplo, trata-se da aptidão para legislar


15sobre matéria tributária, o que tem respaldo constitucional, e, em sentido estrito,
16trata-se da aptidão de criar, em abstrato, tributos, isto é, editar a regra-matriz de
17incidência tributária. Em outros termos, pode-se dizer que a competência tributária
18se esgota na edição da legislação tributária, que, em vigor, dá lugar à capacidade
19tributária ativa, ou seja, ao direito de arrecadar o tributo criado, desde que verificada
20a ocorrência do fato gerador, e respeitados os limites constitucionais ao poder de
21tributar.

22 Ou seja, a competência tributária é a atribuição dada pela Constituição


23Federal aos entes políticos do Estado da prerrogativa de instituir os tributos, que
24necessita de um fato gerador, que nada mais é, que a situação de fato, prevista na
25lei de forma prévia, genérica e abstrata, que, ao ocorrer na vida real, faz com que,
26pela materialização do direito ocorra o nascimento da obrigação tributária, seja esta
27principal ou acessória.

28 Após as definições acima, conceituo a definição de Responsabilidade


29Tributária, que ao se criar um tributo, a lei designa quem deverá pagá-lo. O sujeito
30passivo a obrigação tributária é a mesma pessoa legalmente prevista para pagar o
31tributo, que pode ser contribuinte ou responsável tributário.

32 Um adquirente de veículo automotor é um responsável tributário, por adquirir


33o IPVA do veículo ao se tornar proprietário. E, é responsável pelos débitos não
34pagos de IPVA incidentes dos anos anteriores a aquisição.

35 Mas, o que é IPVA? O IPVA é a sigla para Imposto sobre a Propriedade de


36Veículos Automotores e trata-se de um tributo de periodicidade anual cujo fato
37gerador é a mera propriedade do veículo. Apesar do nome do imposto, ele incide
38apenas sobre veículos que transitam por meio terrestre. Ou
39seja, carro, moto, caminhão, ônibus, micro-ônibus, máquina agrícola, ciclomotor e
40afins.

41 Há uma insatisfação popular quanto ao pagamento do IPVA – Imposto sobre


42a Propriedade de Veículos Automotores. Muitos entendem que tal tributo voltado
43para a manutenção da malha rodoviária, segundo o senso comum não poderia
44subsistir, em face do pagamento do pedágio.

45 O IPVA não incide, portanto, sobre veículos que se deslocam por água como
46iates, barcos e navios – nem pelo ar – como aviões e helicópteros. Ele onera as
47pessoas físicas e jurídicas, que, após arcar com a alta carga de tributos existente no
48preço desses bens consumíveis e fungíveis, ainda permanecem com o encargo de
49pagar um tributo por serem proprietários de um veículo, que exige gastos outros
50com a aquisição de combustíveis e peças de reposição, igualmente tributados.

51 O imposto é de responsabilidade dos estados e do Distrito Federal, sendo


52que estes entes federativos ficam com 50% dos valores arrecadados. Os outros
5350% são destinados aos municípios onde os veículos são registrados, conforme
54previsão existente na Constituição Federal. A arrecadação do IPVA pelo Estado
55(governos municipal, estadual e federal) é aproveitada para custear os gastos
56públicos com segurança, saúde, educação e transporte.

57 Por ser um imposto estadual, cabe a estes determinarem a alíquota cobrada.


58Atualmente, São Paulo e Minas Gerais são os estados com a maior taxa praticada,
59que chega até a 4% sobre o valor de venda.

60 O domicílio tributário é o local onde o contribuinte deve responder por suas


61obrigações tributárias, em se tratando do IPVA, é o local onde o imposto será
62devido, deverá identificar o Estado credor.

63 Conforme o tema proposto, aduz o artigo 24, § 3º, 146, I e III e 155, III, da
64Constituição federal, onde há a possibilidade de o contribuinte recolher o Imposto
65sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) em favor do estado onde
66o veículo encontra-se registrado e licenciado, e não do estado em que o contribuinte
67mantém sede ou domicílio tributário.

68 Para a supressão desse tributo, é necessária emenda ao texto constitucional,


69o que pode se tornar algo extremamente difícil de obter, em face da possível (e
70previsível) resistência dos estados e municípios, quanto à perda de arrecadação
71sem compensação a princípio com o incremento de outras fontes de receitas
72públicas, o que poderia ser obtido junto a outras fontes ou mediante racionalização
73das despesas públicas, com expressiva diminuição do tamanho do Estado.

74 No acórdão apresentado, a empresa Uber Representações Ltda., interpôs


75recurso extraordinário com o objetivo de reformar o julgado e ter reconhecido o
76direito de recolher o Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotor (IPVA) no
77estado em que realizou o registro de licenciamento do veículo correspondente,
78apesar de estar sediada em unidade federativa diversa.

79 Trata-se de um caso comum envolvendo empresas de locação de veículos e


80de contribuintes que atraídos por tributação mais baixa, fraudam endereços em
81Estados diferentes de onde, efetivamente, têm domicílio, e o Supremo entendeu que
82o licenciamento e o registro devem coincidir com o domicilio do proprietário do
83veículo.
84 O Supremo Tribunal Federal julgou sobre a possibilidade de o contribuinte
85recolher o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) em favor
86do estado onde o veículo encontra-se registrado e licenciado, e não do estado em
87que o contribuinte mantém sede ou domicílio tributário. Em 18/08/2020, o mesmo
88órgão competente finalizou o mérito com o seguinte termo: "A Constituição autoriza
89a cobrança do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA)
90somente pelo Estado em que o contribuinte mantém sua sede ou domicílio
91tributário."

92 Prevaleceu no julgamento, o voto do ministro Alexandre de Moraes, a


93justificativa de seu voto é remunerar a localidade onde o veículo circula, o que faz
94total sentido visto que conforme o art. 158, metade do valor arrecadado com este
95tributo, fica com o município. Onde, vencido o ministro Luís Roberto Barroso, ele
96entendeu que a Constituição não prevê o domicílio como local da incidência do fato
97gerador em qualquer dispositivo, desta forma, ele propôs a tese que é constitucional
98a cobrança do IPVA pelo Estado em que o contribuinte mantém sua sede ou
99domicílio.

100 O voto do Ministro Alexandre de Moraes, que diverge do relator, frisa que o
101imposto é para remunerar a localidade onde o veículo circula, em razão da maior
102exigência de gastos em vias públicas, desta forma, é plenamente correto a visão do
103Alexandre de Moraes, pois metade do valor arrecadado fica com o município, então
104nada mais justo que cobrar o tributo no Estado onde o veículo circula.

105 O ministro observou também que se trata de um caso típico de “guerra fiscal”,
106em que o Estado que pretendem ampliar a arrecadação reduzem o IPVA, desta
107maneira, com falsas alegações o contribuinte alega ser domiciliado num
108determinado Estado quando, na verdade, reside em outro.

109 Portanto, trata-se de um caso típico de guerra fiscal, que refere-se à disputa
110entre os territórios de diferentes países ou entre unidades federativas e municipais
111pela atração de investimentos e empresas. O imposto deve ser cobrado no Estado
112em que o veículo circula, o contribuinte alega, com falsas declarações, que é
113domiciliado em um estado, quando na realidade reside em outro, se tratando de
114fraude.

115 Este tema passar por uma espécie de “guerra fiscal”, que para ampliar a
116arrecadação do IPVA, reduzem suas alíquotas para “atrair” mais contribuintes que
117se dispõem a registrar e licenciar o veículo no local onde a tributação é mais atrativa
118ou baixa. Assim, com falsas declarações de endereço e com a intenção de recolher
119um imposto menor, o contribuinte alega ser domiciliado num determinado Estado
120quando, na verdade, reside em outro.

121 No STF, ela pretendia a reforma de acórdão do TJMG que havia reconhecido
122a legitimidade do Estado de Minas Gerais para a cobrança do imposto. Para a Lei
123Estadual 14.937/2003, do Estado de Minas Gerais, a cobrança do IPVA independe
124do local de registro, desde que o proprietário seja domiciliado no Estado. O recurso
125da empresa mineira foi desprovido. Por 6 a 5, o Plenário do STF considerou que
126essa lei mineira está de acordo com a estrutura legislativa do IPVA e com o Código
127de Trânsito Brasileiro.

128 No julgamento, prevaleceu a divergência instaurada pelo Min. Alexandre de


129Moraes. Ele rememorou que o IPVA foi criado em 1985 por meio de Emenda
130Constitucional e repetido na Constituição de 1988. Segundo seu voto, a justificativa
131é remunerar a localidade onde o veículo circula, em razão da maior exigência de
132gastos em vias públicas – tanto que metade do valor arrecadado fica com o
133município, como prevê o art. 158 da Constituição.

134 Para Moraes, o CTB não permite o registro de veículos fora do domicílio do
135proprietário. Desta maneira, o STF decidiu que o IPVA deve ser recolhido no
136domicilio do proprietário do veículo, onde o bem deve ser registrado e licenciado.

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