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Inteiro Teor

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Número do processo: 1.0701.07.205159-5/001(1) Númeração Única: 2051595-57.2007.8.13.0701 Acórdão Indexado!


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Relator: Des.(a) EDILSON FERNANDES
Relator do Acórdão: Des.(a) EDILSON FERNANDES
Data do Julgamento: 18/03/2008
Data da Publicação: 23/04/2008
Inteiro Teor:

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA - LICITAÇÃO - QUALIFICAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA - INABILITAÇÃO DE LICITANTE -


AUSÊNCIA DE CERTIDÃO NEGATIVA DE EXECUÇÃO PATRIMONIAL - LIMINAR CONCEDIDA. Em processo licitatório, não se exigirá
certidão negativa da existência de execução patrimonial a não ser de pessoa física, salvo quando os valores elevados dos títulos
executivos em cobrança judicial puderem comprometer a situação financeira de uma pessoa jurídica tanto quanto uma falência ou
processo de recuperação judicial. Constatada a coexistência dos requisitos legais da relevância do fundamento em que se assenta o
pedido na inicial e a possibilidade da ocorrência de lesão irreparável ao direito da impetrante, a concessão da liminar, ainda que
parcial, é medida que se impõe.

AGRAVO N° 1.0701.07.205159-5/001 - COMARCA DE UBERABA - AGRAVANTE(S): FENIX EMPREENDIMENTOS LTDA -


AGRAVADO(A)(S): MUNICÍPIO UBERABA - AUTORID COATORA: PRESID CIA HABITACIONAL VALE DO RIO GRANDE E OUTRO(A)(S)
- RELATOR: EXMO. SR. DES. EDILSON FERNANDES

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 6ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório
de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO
PARCIAL.

Belo Horizonte, 18 de março de 2008.

DES. EDILSON FERNANDES - Relator

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. EDILSON FERNANDES:

VOTO

Trata-se de recurso interposto contra a r. decisão de f. 131-TJ proferida nos autos do Mandado de Segurança impetrado por FÊNIX
EMPREENDIMENTOS LTDA contra ato dos PRESIDENTES DA CIA. HABITACIONAL VALE DO RIO GRANDE (COHAGRA) e da
COMISSÃO PERMANENTE DE LICITAÇÃO, que indeferiu o pedido de liminar formulado pela impetrante.

Em suas razões, a agravante afirma que a Comissão licitante, agindo de ofício e sem a observância do devido processo legal,
considerou-a inabilitada na concorrência pública, por verificar a existência de ações judiciais contra a mesma. Sustenta que a sua
qualificação econômico-financeira não foi impugnada pelos demais licitantes e a certidão negativa de execuções patrimoniais é
exigência imposta pela Lei 8.666/93 apenas às pessoas físicas.

Salienta que apresentou regularmente a documentação exigida às pessoas jurídicas, como a certidão negativa de falência ou de
recuperação judicial dos últimos 05 anos, de modo que a revogação do anterior ato de sua habilitação foi feita indevidamente, sem
a garantia da ampla defesa e no seu próprio recurso administrativo interposto contra a habilitação de outro licitante.

Sustenta que a Construtora Centro Minas ltda, litisconsorte passiva necessária, deve ser inabilitada, pois não apresentou a
certificação PBQP-H, conceito A, conforme exigência prevista no edital de licitação, mas mera declaração fornecida pela empresa
SAS Certificadora.

Pugna pela reforma da decisão impugnada, concedendo a liminar, para reconhecer seu direito à habilitação na primeira fase do
certame e suspender o ato de habilitação da Construtora Centro Minas ltda, bem como a própria licitação (f. 02/24-TJ).

Em sua resposta, o ente público suscita preliminar de não conhecimento do recurso, pois a agravante não apresentou
especificamente os fundamentos para impugnar a decisão agravada e contra decisão que indefere liminar em mandado de
segurança não cabe agravo de instrumento. No mérito, pugna pelo desprovimento do recurso (f. 195/205-TJ).

A preliminar de inépcia do recurso, pela falta de impugnação específica dos fundamentos da decisão recorrida não merece
prosperar. Analisando as razões apresentadas, vislumbro o empenho decisivo da recorrente para demonstrar o desacerto da
decisão atacada, ainda que com as mesmas razões já delineadas na inicial, tendo sido apresentados os fundamentos de fato e de
direito suficientes para acarretar o interesse na reforma do julgado, de modo que deve ser admitido o recurso, privilegiando os
princípios da efetividade, da prestação jurisdicional e do acesso à Justiça.

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Quanto a segunda preliminar, destaco que, conforme orientação jurisprudencial do Colendo Superior Tribunal de Justiça, "desafia
agravo de instrumento a decisão que concede ou indefere a liminar nos autos de mandado de segurança" (REsp. 235.935/SP, Rel.
Min. FRANCIULLI NETTO, DJ de 22/09/03).

A propósito, confira os seguintes precedentes: REsp. 264.555/MG, Relª. Minª. ELIANA CALMON, DJ de 19/02/01; REsp.
150.086/PR, Rel. Min. WALDEMAR ZVEITER, DJ de 15/03/99; AGREsp. 361.744/RJ, Rel. Min. FRANCISCO FALCÃO, DJ de 02/12/02.

REJEITO AS PRELIMINARES para conhecer do recurso, presentes os demais pressupostos de sua admissibilidade.

Versam os autos sobre ação mandamental objetivando a concessão de liminar para: (I) suspender o ato de inabilitação da
agravante na concorrência 001/2007 (f. 49/69-TJ), (II) desqualificar da Construtora Centro Minas ltda no processo licitatório, e (III)
determinar a suspensão da própria licitação até julgamento do mérito do presente mandado de segurança.

Para a concessão de liminar em mandado de segurança, necessária a comprovação dos requisitos legais, quais sejam, a relevância
do fundamento - dos motivos em que se assenta o pedido na inicial - e a possibilidade da ocorrência de lesão irreparável ao direito
da impetrante se vier a ser reconhecido na decisão de mérito (art. 7º, II, da Lei 1.533/51).

No caso, a agravante foi desqualificada na fase de habilitação na licitação para seleção de empresa para obras e serviços de
engenharia para a construção de unidades residenciais, por não apresentar qualificação econômico-financeira, ao deixar de
comprovar a inexistência de execuções patrimoniais contra ela, tendo descumprido o previsto no item 8.4.2 do edital.

"8.4 - Qualificação Econômico-Financeira:

8.4.2 - Certidão negativa de pedido de falência ou recuperação judicial ou execução patrimonial dos últimos 5 (cinco), expedida, no
máximo, a 60 (sessenta) dias corridos anteriores a data da licitação" (f. 57-TJ - destaque original).

De ofício, a Comissão licitante apurou no sítio eletrônico deste eg. Tribunal que a empresa agravante tem contra si
aproximadamente 169 (cento e sessenta e nove) processos judiciais, inclusive contra o patrimônio (f. 105/106-TJ).

A licitação caracteriza-se como um procedimento administrativo visando escolher a proposta mais vantajosa para a Administração e
estabelecer a igualdade entre os participantes (isonomia e impessoalidade).

Na fase de habilitação, em que se verifica a aptidão do candidato para a futura contratação, a Administração não pode fazer
exigências impertinentes, conforme prescreve o inciso I do § 1º do art. 3º da Lei 8.666/93. A própria Constituição, ao referir-se ao
processo de licitação indica que este "somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à
garantia do cumprimento das obrigações" (art. 37, XXI - grifei).

A qualificação econômico-financeira é o conjunto de dados que fazem presumir que o licitante tem capacidade para satisfazer os
encargos econômicos decorrentes do contrato. Assim dispõe o art. 31 da Lei 8.666/93 a respeito desta condição de habilitação:

"Art. 31. A documentação relativa à qualificação econômico-financeira limitar-se-á a:

I - balanço patrimonial e demonstrações contábeis do último exercício social, já exigíveis e apresentados na forma da lei, que
comprovem a boa situação financeira da empresa, vedada a sua substituição por balancetes ou balanços provisórios, podendo ser
atualizados por índices oficiais quando encerrado há mais de 3 (três) meses da data de apresentação da proposta;

II - certidão negativa de falência ou concordata expedida pelo distribuidor da sede da pessoa jurídica, ou de execução patrimonial,
expedida no domicílio da pessoa física;

III - garantia, nas mesmas modalidades e critérios previstos no 'caput' e § 1o do art. 56 desta Lei, limitada a 1% (um por cento)
do valor estimado do objeto da contratação" (grifei).

Para qualquer habilitação em licitação será exigida documentação sobre a qualificação econômico-financeira (art. 21, III), e essa
documentação, para o caso, a princípio, será limitada à certidão negativa de falência ou concordata (recuperação judicial nos
termos da Lei 11.101/05), expedida pelo distribuidor da sede da pessoa jurídica.

Ensina JESSÉ TORRES PEREIRA JUNIOR que:

"As cabeças dos arts. 30 e 31 (qualificação técnica e econômico-financeira) fazem uso do modo verbal 'limitar-se-á', o que significa
que, em cada caso, o respectivo ato convocatório não poderá exigir documentos além daqueles mencionados nos artigos, que
demarcam o limite máximo de exigência, mas poderá deixar de exigir os documentos que, mesmo ali referidos, considerar
desnecessários para aferir as qualificações técnica e econômico-financeira satisfatórias, porque bastarão à execução das futuras
obrigações que se imporão ao licitante que surtir vencedor do torneio" (Comentários à Lei das Licitações e Contratações da
Administração Pública, 2007, p. 370) - destaquei.

Assim, para se verificar se o licitante tem capacidade para satisfazer os encargos econômicos decorrentes do contrato, não se
exigirá certidão negativa da existência de "execução patrimonial" a não ser de pessoa física, salvo quando os valores elevados dos
títulos executivos em cobrança judicial puderem comprometer a situação financeira de uma pessoa jurídica tanto quanto uma
falência ou processo de recuperação judicial, que é a finalidade que a norma visa resguardar.

Na análise dos autos, a um juízo sumário e provisório, o simples fato de existirem ações cíveis em andamento contra a agravante
não representa, por si só, a ausência de sua qualificação econômico-financeira a justificar sua inabilitação prévia na referida
licitação.

Ademais, não é razoável permitir que a empresa seja impedida de participar do processo licitatório se a Administração, em primeira
análise a considerou apta por ter cumprido as exigências do edital (f. 88/89-TJ) e, posteriormente, de ofício, sem direito à defesa, a
Comissão diligencia unilateralmente e verifica que a agravante não atendia as exigências constantes do edital.

Forçoso concluir que, a ausência de um documento não-essencial para a firmação do juízo sobre a habilitação da empresa não deve
ser, a princípio, motivo para desqualificá-la na presente licitação.

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Por outro lado, o indeferimento da liminar causaria prejuízos à agravante, uma vez que deixaria de participar do certame e,
consequentemente, de concorrer com as demais empresas habilitadas na fase de julgamento das propostas apresentadas.

Quanto ao pedido para excluir a Construtora Centro Minas ltda do processo licitatório, diante da inaptidão da declaração de f.
126-TJ para comprovar que a mesma apresenta qualificação no Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade de Habitação
(PBQP-H) de nível "A" (item 8.3.2 do edital - f. 56-TJ), não vislumbro esta possibilidade no presente momento processual. A
mencionada empresa concorrente possui referido Certificado (f. 128-TJ) tal como o concedido à agravante (f. 124-TJ), não havendo
motivos plausíveis para desconsiderar aquela declaração por mera questão instrumental, como pretende fazer crer a agravante.

Há que se privilegiar interpretações que ampliam ou beneficiam o caráter competitivo do certame em relação àquelas
impertinentes, inúteis, que comprometem os objetivos do certame com a exclusão singela de um licitante.

Por fim, não existe razão nem necessidade para determinar a suspensão da licitação enquanto aguarda o julgamento da presente
ação mandamental, visto que seu prosseguimento não prejudica a eficácia de eventual sentença concessiva da segurança, devendo
sobrepor o interesse público na seleção da melhor proposta e execução do objeto licitado sobre o particular.

DOU PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO para deferir parcialmente a liminar requerida, suspendendo a decisão administrativa de
inabilitação da agravante na primeira fase da concorrência referente à licitação 001/2007, devendo prosseguir nas demais fases,
salvo por outros motivos.

Custas 30% pela agravante e 70% pelo agravado.

Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): MAURÍCIO BARROS e ANTÔNIO SÉRVULO.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

AGRAVO Nº 1.0701.07.205159-5/001

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