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Impacto do Consumo de Carne

Conhecimento do impacto ambiental do


consumo de carne e mudança comportamental

U.C. – Comportamento Humano e Ambiente


2º Semestre
2009/2010

Docente: Discentes:

Professor José Manuel de Palma Oliveira (no final do trabalho)

1
ÍNDICE

Resumo/Abstract 5

Introdução 6

Método 18

Análise e Discussão de Resultados 20

Conclusão 23

Referências Bibliográficas 24

Anexos

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ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 1 – Produção de metano nos Estados Unidos da América em 2007


pág.10

Fig. 2 - Consumo de água para 1 Kg de vários alimentos


pág.13

Fig. 3 - Emissões mundiais de gases com efeitos de estufa em 2005


Anexo II-a

Fig. 4 - Eco regiões afectadas pela indústria pecuária Anexo II-b

Fig. 5 – A pecuária como uma importante causa da ameaça da biodiversidade


em pontos sensíveis Anexo II-c

Fig. 6 – Alterações de temperatura a nível Global e Continental


Anexo II-d

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Consumo de água no fabrico de alguns produtos de carne pág. 13

Tabela 2 – Consumo de água em instalações de indústria da carne para alguns


produtos pág. 14

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ÍNDICE DE ANEXOS

Anexo I – Estatísticas na Produção da Agropecuária: 1950-2008 (abate nos


Estados Unidos por espécie)

Anexo II-a – Emissões mundiais de gases com efeitos de estufa em 2005

Fonte: http://www.wri.org/chart/world-greenhouse-gas-emissions-2005

Anexo II-b – Eco regiões afectadas pela indústria pecuária

Fonte: http://www.fao.org/docrep/010/a0701e/a0701e00.HTM

Anexo II-c – A pecuária como uma importante causa da ameaça da


biodiversidade em pontos sensíveis

Fonte: http://www.fao.org/docrep/010/a0701e/a0701e00.HTM

Anexo II-d – Variação da temperatura (por Continentes e Global)


Anexo III-a – 1º Inquérito sobre hábitos alimentares de consumo de carne

Anexo III-b – 2º Inquérito sobre hábitos alimentares de consumo de carne

Anexo IV-a – Resultados do 1º inquérito

Anexo IV-b – Resultados do 2º inquérito

Anexo V – Transcrições pessoais das outras razões mais significativas para


não ter havido uma redução do consumo de carne

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Resumo

O Homem ao decidir o que come está também a tomar uma decisão que pode
ser (in)consciente sobre a sua influência no ambiente. Neste sentido
apresentamos uma revisão bibliográfica sobre o consumo de carne e o seu
impacto ambiental, evidenciando-o na indústria pecuária, como sejam a
emissão de gases com efeito de estufa, consumo e poluição da água,
desertificação dos solos e o seu impacto na biodiversidade. Procedeu-se
posteriormente a um estudo com o intuito de constatar o conhecimento
existente acerca do impacto do consumo de carne no meio ambiente e qual a
intenção inicial de redução do consumo de carne e posterior efectivação ou não
dessa intenção, quando confrontado com a informação do impacto ambiental.
O método utilizado foi o inquérito, tendo participado 838 pessoas na 1º fase e
225 numa 2º fase. Constatou-se que 64% das pessoas consideram possuir
conhecimentos acerca deste impacto e que inicialmente 81% dos inquiridos
tinha intenção de reduzir o consumo de carne mas só 28% concretizou
posteriormente essa intenção.

Palavras-chave: Ambiente; Consumo; Carne; Indústria Pecuária; Poluição

Abstract

When Man decide what to eat is also making a decision that could be
(un)conscious about its influence on the environment. In this sense we present
a bibliographical revision about the consumption of meat and its environmental
impact, based in the livestock farming industry, as the emission of harmful
gases, the consume of water and its pollution, land desertification and the
impact in the biodiversity. After we preceded to a study to verify the knowledge
about the impact of the consumption of meat in the environment, the initial
intention to reduce the consumption of meat and the subsequent
accomplishment or not of that intention, when confronted with the impact of the
consumption of meat in the environment. The approach used was the inquiry,
participated 838 people on the first phase and 225 on the second phase. The
results show that 64% of the people consider to have knowledge about this
impact and that initially 81% had the intention to reduce the consumption of
meat but only 28% has accomplished latter that intention.

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Key-words: Environment; Consumption; Meat; Industry Livestock farming;
Pollution

INTRODUÇÃO
Todos tomamos decisões que têm consequências ambientais. Estas reflectem-
se quando escolhemos conduzir, viajar de avião, comer alimentos orgânicos ou
reduzir a água que utilizamos, pois estamos a afectar o ambiente local e global.
Muitas vezes, estas escolhas reflectem dilemas, em que temos que escolher
entre os nossos próprios interesses e os do ambiente que nos envolve. Poder-
se-á dizer que estamos sobre o paradigma da interdependência humana, em
que decidimos sem saber com certeza qual será o resultado para nós ou para o
ambiente ou sequer quando é que este se manifestará.
A possível solução para este paradigma residirá em tornarmo-nos, a nós
próprios e aos outros, mais conscientes das decisões que tomamos e dos
eventuais impactos que estas terão no ambiente.
A nossa investigação prende-se precisamente com esta tomada de consciência
acerca do que comemos, quando falamos de carne, e do impacto que essa
dieta alimentar poderá ter a nível ambiental.
Quando falamos de alimentação e da possibilidade de retirar alguns alimentos
da nossa dieta alimentar e/ou acrescentar outros novos, a reacção das
pessoas é bastante diferente. Há quem aceite bem esta mudança, mas existem
também os chamados neofóbicos, ou seja, pessoas que têm receio de
experimentar alimentos novos e evitam esse contacto.
Porquê este neofobismo? Há autores como Milligan e colaboradores que, em
1997, verificaram, através de um estudo com estudantes australianos, que a
falta de informação acerca da composição dos alimentos poderia ser um dos
obstáculos a uma alimentação mais saudável, logo à introdução de novos
alimentos. Mas Brown & Ogden (2004) retaliam esta ideia defendendo que
seria essa uma justificação plausível não fossem as campanhas para a saúde
alimentar.
Assim sendo, coloca-se uma nova questão: como é que fazemos a nossa
selecção alimentar? Silva, I., Pais-Ribeiro, J.L. & Cardoso, H. (2008), referindo-
se a diversos autores, como Crossley & Khan (2001); Hamilton e tal. (2000);

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Boothle & Sheperd (1998); Ogden (2003); Brunstorm (2005); Fisher & Birch
(2002); Holland & Petrovich (2005); Pliner & Leowen (1997), entre outros,
levam-nos a concluir que não existe um consenso relativamente ao que nos
leva a preferir um determinado alimento em detrimento de outro.
Estes autores defendem que é a partir do nosso útero materno que as nossas
escolhas alimentares começam a formar-se, com base na familiaridade; isto
deve-se ao facto de ingerirmos parte do que a nossa mãe ingere. Este
reconhecimento alimentar prossegue o seu curso na fase da amamentação,
pois o leite materno terá o sabor relativo ao tipo de alimentação da mãe, como,
por exemplo, alho, baunilha, etc.
Ao longo do nosso desenvolvimento vamos sendo expostos a diversos
produtos alimentares, quer pelos nossos prestadores de cuidados, quanto pelo
nosso grupo de pares ou ainda pelos media, entre outros. Será então
consoante os reforços positivos ou negativos que recebemos (aprendizagem
associativa), relativos a determinado alimentos, que os vamos consumir ou
não. Este reforço positivo pode dar-se após o consumo do mesmo (como uma
recompensa) ou poderá ser o alimento em si (por exemplo: “se te portares bem
dou-te um rebuçado”).
No entanto há todo um processo de escolha prévio ao momento do consumo
do mesmo (depois sujeito ao reforço ou não). Na base deste processo de
escolha existem diversos modelos teóricos tais como os de Kahn, em 1981, de
Randall e Sanjur, em 1981 e de Booth e Shepherd, em 1988. Entre estes três
modelos podemos retirar alguma informação acerca do que é importante ter em
conta no que respeita àquilo que serão factores determinantes do
comportamento humano em relação à alimentação. Estes factores serão, por
exemplo: factores intrínsecos (modo de preparação do alimento e as suas
características – textura, sabor, entre outras); factores pessoais (personalidade,
humor, apetite, influência familiar, entre outros); factores culturais e religiosos;
factores biológicos; factores fisiológicos (ex: doença, como a diabetes); factores
psicológicos; factores extrínsecos (como a exposição aos media, factores
ambientais, estação do ano, entre outros) e factores de cariz socioeconómicos
(Crossy e Kahn, em 2001, concluíram no seu estudo que grupos sociais com
menor rendimento financeiro atribuem como factor da sua escolha alimentar o
preço dos alimentos).

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Também existem autores que defendem que o stress está relacionado com a
escolha alimentar, no que respeita ao tipo de alimentos ingeridos e à
quantidade respectiva; mas mesmo aqui não existe consenso, pois enquanto
que há quem defenda que o stress aumenta a ingestão da quantidade de
alimentos (mais snacks e menos refeições principais, no caso de estudos com
estudantes), há também autores que defendem que há uma diminuição do
consumo alimentar. Quem defende um aumento do consumo de alimentos
associa este aumento a pessoas que antes da exposição ao stress haviam
praticado alguma forma de dieta. Mas, também existem autores que dizem
nunca ter encontrado tal relação entre o stress e a alimentação, mesmo em
pessoas que praticavam dieta alimentar.
No nosso estudo referimo-nos exclusivamente à questão da opção de se
reduzir o consumo alimentar de um único tipo de alimento: a carne. Tendo em
conta todos os factores sociais, pessoais, culturais, etc., directamente ligados
ao consumo de carne, sabemos que esta será uma opção difícil para diversos
indivíduos. No entanto, existem soluções menos difíceis do que parecem à
partida. Se tivermos em conta, por exemplo a, aprendizagem social defendida
por Ogden (2003), sabemos que as pessoas são influenciadas pelo que vêem
outras pessoas comer, logo, se nós não estivermos a consumir o produto
carne, influenciaremos outras pessoas a também não o fazerem e, mais ainda,
se tivermos em conta o factor exposição, também defendido pelo mesmo autor,
sabemos que quanto mais vezes formos expostos repetidamente a
determinado alimento e o consumirmos, melhor será a sua aceitação (isto
aplicar-se-á a alimentos considerados alternativos à carne).
Historicamente sabemos que a segunda metade do século XX ficou marcada
por crescentes modificações na alimentação que tiveram lugar nos países ditos
desenvolvidos. Com o desenvolvimento das populações e com o exponencial
aumento demográfico, intensificou-se também as actividades agrícolas e
agropecuárias.
Para além do crescimento populacional e da proliferação das novas tecnologias
e do sistema económico liberalista vigente, as populações adquiriram também
um maior poder de compra, alterando os seus padrões de comportamento
alimentar. Por ter um peso fundamental na economia, o sector da agropecuária
tem sido fortemente explorado. Nos Estados Unidos, a produção de carne

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aumentou exponencialmente entre 1950 e 2007, tendo vindo a estagnar o
abate de animais em 9.5 mil milhões no ano de 2007 e 2008 (USDA, National
Agricultural Statistics Service, 2009). (ver anexo I – “Estatísticas na produção
agropecuária: 1950-2008: abate nos Estados Unidos por espécie”)
No entanto, não é unicamente a oferta de produção alimentar que determina os
gostos e as escolhas alimentares dos consumidores. Na nossa sociedade faz
parte do “senso comum” que a alimentação à base de carne de vaca, por
exemplo, seja parte integrante da cadeia alimentar humana. Comer um bife de
vaca é tão ”natural” na nossa sociedade como comer um bife de cão é tão
“natural” na China. Mas do ponto de vista dos ocidentais, esta ideia de comer
animais domésticos, como o cão e o gato, com os quais (normalmente) se
criaram fortes laços afectivos, origina repulsa, e em muitos casos, indignação,
pois a nossa sociedade não categoriza o cão como alimento, uma vez que é
convencionalmente doméstico (Joy, 2010). Para Melanie Joy, a inclusão de
carne na nossa alimentação é tão “natural” quanto a expectativa que se cria
para que os homens sejam “naturalmente” masculinos e para que as mulheres
sejam “naturalmente” femininas, ou seja, a percepção que as sociedades
ocidentais têm em relação aos animais e sobre a sua inclusão ou não na
alimentação, pode não ser considerada meramente “natural”, assim como não
pode ser desassociada de um conjunto de convenções, de códigos, crenças e
práticas culturais. Só os humanos têm a capacidade de produzir e reproduzir
valores culturais. A cultura “é o processo de produção de sentido que confere
sentido não só à realidade ou natureza exterior, mas também ao sistema social
de que ela faz parte e às identidades sociais e actividades diárias (como a
alimentação) das pessoas pertencentes a esse sistema” (Fiske, 1990). Os
sistemas de representação cultural parecem ter uma influência central nas
práticas alimentares dos indivíduos humanos porque legitimam modos de
socialização e posicionam o indivíduo de acordo com critérios e padrões. A
universalização da ordem cultural, motivada por questões económicas, torna-a
muito pouco mutável, fazendo com que pareça “natural” e assim, comem-se
determinados animais em detrimento de outros porque “faz parte da nossa
cultura”, pelo que não tem sido nem a ética nem a sustentabilidade, mas sim a
cultura quem tem estipulado ao homem aquilo que na natureza é “comestível” e
não “comestível”.

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A acção de comer carne, uma acção única por cada indivíduo, leva a um
conjunto imenso de acções semelhantes levadas a cabo por indivíduos
independentes e, face a isso, é fundamental mudar as acções/comportamentos
dos indivíduos ou de organizações no que respeita ao consumo de carne.
O relatório “Livestock’s long shadow environmental issues and options” da
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO),
realizado em 2006, teve como objectivo, precisamente, identificar o impacto
ambiental da indústria pecuária.
Os principais impactos estudados foram na emissão de gases, na água, na
desertificação dos solos e na biodiversidade.

Emissão de gases com efeito de estufa

O ano de 2009 foi marcado pela Conferência das Nações Unidas em


Copenhaga sobre as Alterações climáticas, nomeadamente sobre o
aquecimento global e os gases com efeito de estufa.
A emissão de gases com efeito de estufa tem como consequências o aumento
da temperatura, o degelo dos glaciares, o aumento do nível dos Oceanos, as
mudanças nas correntes marítimas e as mudanças climatéricas, sendo, por
isso, considerado o maior desafio à raça humana.
A indústria pecuária é responsável por 18% das emissões de gases com efeito
de estufa, medidos em equivalência com o CO2, sendo de entre todos o sector
mais poluente. Dentro do valor atrás referido incluem-se:
- 9% do total de emissões de CO2;
- 65% antropogénico hemióxido (em grande parte produzido pelo estrume);
- 64% do amoníaco (contribui para chuvas ácidas e acidificação ecossistemas).
- 37% de todo o metano (em grande parte produzido pelo sistema digestivo dos
ruminantes - fermentação entérica);

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Figura 1 – Produção de metano nos Estados Unidos da América em 2007

Fonte: EPA Methane and Nitrous Oxide Emissions from Natural Sources April 2010.
http://www.epa.gov/methane/sources.htm

Consumo de carne e alterações climáticas – O efeito do Metano


O Word Resources Institute refere que o total de emissões de gases com efeito
de estufa cresceu 12.7% entre 2000 e 2005, uma média anual de 2,4% e
apresenta um gráfico com o total mundial dessas emissões (ver Anexo II-a –
“Emissões mundiais de gases com efeitos de estufa em 2005”). Nesse gráfico é
possível verificar que o indústria pecuária é o principal responsável pela
emissão do gás metano que, por ser 23 vezes mais prejudicial para o efeito de
estufa que o dióxido de carbono, faz com que esta actividade seja a principal
responsável pela emissão de gases com efeito de estufa. Este facto foi também
constatado no relatório da FAO, em 2006.
Investigadores, políticos, população em geral, todos se têm dedicado quase
exclusivamente à questão do dióxido de carbono (CO2), ignorando outros
gases com efeito de estufa, nomeadamente o metano (CH4), que tem um
impacto muito superior como referido anteriormente (FAO, 2006).
Embora a noção de que a redução das emissões de dióxido de carbono seja
uma prioridade, a que todos os países deveriam dedicar atenção e
investimento, a irrelevância atribuída ao metano é deveras preocupante, até
porque este seria, muito provavelmente, mais fácil de reduzir.
Embora as emissões de gás metano para a atmosfera sejam
consideravelmente inferiores às de dióxido de carbono, a sua influência nas
alterações climáticas é determinante e está rigorosamente documentada no
relatório “Livestock’s long shadow environmental issues and options”, da

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Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO),
realizado em 2006. Mais de metade das emissões de gás metano devem-se a
actividades humanas, enquanto para o dióxido de carbono essa proporção é
inferior a 5%. Assim, parece muito mais lógico que a redução das emissões
deste gás teria um impacto muito mais significativo na sua concentração na
atmosfera do que a redução das emissões de dióxido de carbono.
Mas de onde vem então as avultadas emissões de gás metano para a
atmosfera? A maior fonte de metano antropogénica é a agro-pecuária intensiva,
em particular o sistema digestivo dos ruminantes. A par, encontra-se a questão
da desflorestação de grandes superfícies florestais, como a Amazónia, que
desde 1970 tem sido brutalmente “despida”, o que contribui para o aumento
das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera.
Em 2009, perante o Parlamento Europeu, Sir Paul McCartney, apoiado pelo
Prof. Rajendra Pachauri, Presidente do Painel Intergovernamental sobre as
Alterações Climáticas, assumiu a sua convicção de que a melhor forma de lutar
contra as alterações climáticas é promover activamente a redução do consumo
de carne.

Água
A produção de ração para o gado requer uma enorme quantidade de água,
resultando na escassez de água em certas áreas, como por exemplo nos
Estados Unidos, onde mais de metade da água consumida para todos os fins é
gasta na produção animal, segundo um relatório publicado pelo Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PLUMA).

De acordo com esta Organização, lençóis de água como o gigantesco aquífero


Ogalalla (EUA), estão a ser rapidamente esgotados. Em paralelo, um dos
factores mais poluentes da água é a acumulação resultante das descargas de
resíduos animais, pois o nitrogénio proveniente destes resíduos é convertido
em amónia e nitrato. Estes, infiltrando-se nas águas do subsolo e na superfície,
não só poluem a atmosfera, como contaminam poços, rios e ribeiros,
eliminando muita da vida aquática. De acordo com a Agência de Protecção do
Meio Ambiente dos EUA, cerca de metade dos poços e todos os ribeiros do
país estão contaminados por poluentes oriundos da pecuária.

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A actual redução dos stocks de água a nível mundial faz estimar que em 2025,
64% da população mundial tenha problemas de consumo de água, divulgam os
dados da Agência de Protecção do Meio Ambiente.
A indústria pecuária é responsável por 8% do total de gasto de água feito pelo
homem, sendo provavelmente a maior fonte de poluição aquática. Para tal
contribuem principalmente os resíduos animais (estrume e carcaças), os
antibióticos, as hormonas, os fertilizantes e pesticidas usados nas plantações
para alimentação animal e sedimentos originados pela erosão dos solos das
pastagens. Não existem dados mundiais, mas os que se referem aos Estados
Unidos, estes apontam para que a produção de carne seja responsável por
55% da erosão e sedimentação dos solos, 37% do uso de pesticidas, 50 % do
uso de antibióticos e 30% de lançamento de nitrogénio e fósforo na rede
hídrica.
O sector afecta ainda o ciclo da água devido à compactação do solo, à redução
da permeabilidade do mesmo, à degradação dos lençóis de água e ao facto de
secar planícies.
Figura 2 - Consumo de água por 1 Kg de vários alimentos

Fonte: http://www.centrovegetariano.org

Segundo um estudo elaborado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de


S. Paulo, na produção dos derivados de carnes, podem ocorrer consumos
significativos de água, tanto nos processos de limpeza dos equipamentos e das
próprias áreas produtivas, como na água utilizada no processo de produção.

Tabela 1 – Consumo de água no fabrico de alguns produtos de carne

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Fonte: Empresas do sector (CETESB, 2006, citado por Secretaria do Meio Ambiente do Estado de S. Paulo)

Tabela 2 – Consumo de água em instalações de indústria da carne para alguns produtos

(1) Linguiças, presuntos, bacon, etc


Fonte: Itália, 2001 apud IPPC, (2006 citado por Secretaria do Meio Ambiente do Estado de S. Paulo

Desertificação dos solos/Desflorestação


Desertificação é o empobrecimento dos ecossistemas áridos, semi-áridos e
sub-áridos provocado pelo impacto das actividades humanas. Todos os anos,
milhares de quilómetros quadrados de florestas tropicais são destruídos de
forma permanente ocasionando a extinção de muitas espécies de plantas e
animais.
A exploração e devastação constante de novos solos (muitas vezes
abandonados poucos anos depois) para criação de pastos para gado leva à
utilização excessiva da terra, o que resulta na contínua perda da camada fértil
do solo.
Esta desertificação dos campos e florestas foi responsável pela maior massa
migratória da História, levando as populações a viverem em áreas urbanas.

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O sector da produção animal é de forma destacada, o maior utilizador dos
solos, sendo 70% do solo agrícola mundial usado para a alimentação animal
(Margulis, 2004).
A expansão deste sector é também o principal responsável pela desflorestação,
tendo especial impacto na América Latina onde 70% da desflorestação da
floresta amazónica se deveu à criação de pastagens para o gado e cultivo de
produtos para alimentação animal (Margulis, 2004).
A degradação dos solos afecta 20% das pastagens mundiais, subindo esse
valor para 73 % quando são consideradas somente as pastagens em solo
árido. Esta degradação é feita sobretudo pelo pastoreio intensivo e pela
compactação e erosão do solo.
Sérgio Margulis (2004) do Banco Mundial demonstrou que, desde 1970, 91%
da desflorestação na Amazónia Brasileira está ligada às necessidades da
indústria da carne, agravando os efeitos do aquecimento climático, que é um
dos maiores problemas actuais do planeta.
As regiões mais afectadas pela desertificação são as áreas produtoras de
gado, como já referimos, inclusive o Oeste Americano, a América Central e
América do Sul, a Austrália e a África Sub-Saariana.

Biodiversidade/Uso de recursos naturais


A actual diminuição de biodiversidade regista valores sem precedentes, sendo
que 15 dos 24 principais ecossistemas estão actualmente em declínio e das 33
regiões identificadas como estando em risco de perda de biodiversidade, 23
referiram a produção animal como contribuindo para essa situação (ver Anexo
II-b - “Eco regiões afectadas pela indústria pecuária”).
A indústria pecuária pode ser o principal factor para a perda de biodiversidade
dado que é o principal responsável pela desflorestação a nível mundial, e é
uma das principais origens da degradação dos solos, da poluição e das
alterações climáticas (ver Anexo II-c – “A pecuária como uma importante causa
da ameaça da biodiversidade em pontos sensíveis”).
Outro factor que contribui para a perda de biodiversidade é que 30% da área
ocupada pelo sector foi anteriormente habitat natural.
David Pimentel (1997) assinala que a produção de proteína animal necessita
de oito vezes mais energia de combustível fóssil que a produção de proteína

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vegetal, apesar da proteína animal ser 1,4 vezes mais nutritiva para humanos
do que a proteína vegetal.
Este professor e investigador da Universidade de Cornell, realça ainda que
toda a actual produção agrícola destinada ao consumo animal nos Estados
Unidos daria para alimentar directamente cerca de 800 milhões de pessoas.
Akifumi Ogino (2007) realizou um estudo no Japão sobre o impacto da
produção de carne no meio ambiente. Segundo o autor a produção de um
quilograma de carne é responsável por uma maior emissão de gases com
efeito de estufa que conduzir um carro durante três horas e deixar todas as
luzes de casa acesas durante esse mesmo período de tempo.

Segundo o World Resources Institute, actualmente a agricultura mundial


produz 4.600 quilocalorias por dia/habitante. No entanto, dado que 37% da
produção mundial de cereais dos países serve para alimentar o gado (56% nos
países ricos). Ou seja, deste total de 4600 quilocalorias, 1.500 são em média
dedicadas à alimentação dos animais, sendo que estes só restituem em média
500 calorias na mesa.

Outros dados e informações


Nos países desenvolvidos é impossível ignorar a relação entre a produção
animal e o impacto económico-ambiental. O custo da criação intensiva de
gado, aves, porcos, cabras, carneiros, etc., para alimentar uma população
humana excessiva e em contínuo crescimento, inclui o uso indevido de água e
do solo, o alto nível de contaminação produzido por fezes de animais e a
consequente desflorestação das florestas, que irão contribuir para a
desertificação, extinção de muitas espécies animais e vegetais, para o aumento
das emissões para a atmosfera dos gases com efeito de estufa e
consequentemente altamente responsáveis pela alteração climáticas
verificadas nos últimos anos – os 10 anos mais quentes alguma vez registados
foram nos últimos 14 anos (Intergovernmental Panel on Climate Change, 2007)
(ver anexo II-d – “Variação da temperatura (por Continentes e Global”).

Rajendra Pachauri (2008) presidente do painel intergovernamental de


especialistas para as alterações climáticas das Nações Unidas e vencedor do
prémio Nobel da paz em 2007, pelo seu trabalho relativamente ao combate às

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alterações climáticas, defende que “reduzir pouco a pouco o consumo de carne
é a opção mais atractiva para que cada um contribua de forma imediata para a
redução das emissões de CO2.”
Já Fernando Barros e Licco António abordam a questão da reciclagem dos
resíduos de origem animal. De acordo com Prandl (1994, citado por Barros e
Licco) estima-se que somente 68% do frango, 62% do porco, 54% do boi e
52% da ovelha/cabra são directamente consumidos pelo homem. Assim existe
uma grande quantidade de resíduos que se não forem correctamente
reciclados originam a degradação dos tecidos animais que pode servir de
matriz ideal para a transmissão e perpetuação de doenças, com o potencial de
atingir o homem e os próprios animais. Franco (2002, citado por Barros e Licco)
refere que dos vários processos de reciclagem: aterros, compostagem, queima,
incineração e reciclagem, esta última é a “mais equilibrada dos pontos de vista
sanitário, económico e ambiental”. Mas mesmo essa apresenta duas
desvantagens: um odor intensamente desagradável e o aumento do risco de
contracção de encefalopatias.
Gidon Eshel investigador da Universidade de Chicago, concluiu que “Se deixar
de comer carne, cada pessoa anualmente reduzirá numa tonelada e meia a
emissão de CO2”.
Nicholas Stern (2006) autor do maior e mais difundido relatório sobre Economia
e as Alterações climáticas: “Stern Review on the economics of climate change”,
defendeu numa entrevista ao The Sunday Times que “a produção de carne
origina um desperdício de água e emite gases nocivos, pondo uma enorme
pressão nos recursos naturais mundiais. Uma dieta vegetariana é mais
adequada.”
De acordo com Lukianocenko (2001), os consumidores estão a tornar-se cada
vez mais influentes, informados, específicos e exigentes em relação à escolha
de alimentos, procurando alimentos mais saudáveis, frescos, naturais e
saborosos. A crescente preocupação das pessoas em relação à saúde,
longevidade e segurança alimentar, a par com a preocupação com a
conservação do meio ambiente, tem resultado no crescimento da demanda por
produtos orgânicos livres de aditivos e ecologicamente correctos
(biodegradáveis, recicláveis e que gastem pouca água e energia (Lukianocenko
2001)).

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Estudos referem que em relação à percepção de risco para o próprio, as
pessoas são unânimes quando questionados quais os produtos que mais
ofereciam risco ao consumidor ao incluírem a carne entre os três produtos com
maior percepção de risco (Pereira, 2005).
No nosso estudo pretendemos averiguar, por um lado, qual o consumo actual
de carne de cada participante e qual a percepção que estes têm da relação
entre as Indústrias de Carne e as alterações climáticas, por outro, a intenção
de reduzir o consumo de carne ou mesmo suprimi-lo da alimentação, face aos
dados disponibilizados aos participantes relativamente à influência do consumo
de carne para o Ambiente.

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Método
O objectivo geral do trabalho é analisar o grau de intenção em efectuar uma
redução do consumo de carne, após ser prestada alguma informação
específica acerca do seu impacto ambiental. Este objectivo será posteriormente
complementado com a comparação entre essa intenção inicial e o nível
efectivo de concretização da mesma.
Para cumprir os objectivos atrás enunciados foram elaborados dois inquéritos:
O primeiro inquérito (ver anexo III-a – “1º inquérito sobre hábitos alimentares de
consumo de carne”) teve como premissa base obter resposta ao grau de
intenção da amostra em reduzir o consumo de carne, tendo sido dividido em
dois blocos:

1. Consumo actual de carne e grau de conhecimento geral, e


posteriormente o detalhado, do impacto do consumo de carne no
ambiente;

2. Intenção de redução do consumo de carne e sua relação com as


áreas de impacto; Opinião sobre a proposta nacional de privilegiar
o não consumo de carne num dia da semana; Grau de dificuldade
das razões que dificultarão a redução do consumo de carne.

Ao primeiro bloco responderam 838 pessoas distribuídas da seguinte forma:

20
Ao segundo bloco responderam 717 pessoas da amostra inicial, não tendo sido
possível confirmar a distribuição desta parte da amostra inicial, sendo no
entanto crível que se tenham mantido na generalidade as percentagens do 1º
bloco.

O segundo inquérito (ver anexo III-b - “2º inquérito sobre hábitos alimentares de
consumo de carne”) teve como objectivo obter resposta sobre o nível efectivo
de concretização da intenção inicial manifestada no primeiro inquérito. Para
registar tal efeito, este segundo inquérito foi distribuído à mesma população
uma semana após o primeiro.

Há a registar o muito menor número de pessoas que respondeu ao segundo


inquérito (225) em relação ao primeiro (838). Algumas hipóteses levantadas
para justificar tal facto foram, o 1º ter estado activo durante duas semanas e o
2º tê-lo estado somente uma semana; algumas pessoas poderem ter
considerado que já tinham feito a sua contribuição para esta investigação e não
se disponibilizarem para responder ao 2º inquérito; o facto de quem já não
consumia carne poder ter considerado que este 2º inquérito teria menos
importância ou ainda a possibilidade de algumas pessoas poderem prever que,
como no 2º inquérito iria ser questionada a implementação da intenção de
redução manifestada no 1º inquérito, e não a tendo feito, considerarem que não
valeria a pena responder.

A amostra de 225 pessoas que responderam ao 2º inquérito é caracterizada da


seguinte forma:

21
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DO 1º INQUÉRITO

Da análise do consumo de carne constata-se que cerca de 65% da população


consome entre 4 a 11 refeições de carne por semana. Por outro lado, 30%
consome menos de 3 refeições, sendo que cerca de 15% não consome carne
de todo. No outro extremo estão 5% que consomem carne em todas ou
praticamente todas as refeições.
Quanto ao conhecimento do impacto que o consumo de carne tem no
ambiente, cerca de 41% da população refere ter algum conhecimento,
enquanto 20% não possui nenhum conhecimento sobre o assunto.
Relativamente ao conhecimento específico do impacto no ambiente, as
diversas áreas são vistas como recebendo genericamente a mesma influência.
Em termos de grau de influência do consumo de carne no ambiente, as
maiores percentagens são atribuídas ao grau “terem influência” (37%) ou
“terem muita influência” (31%). Uma percentagem residual (cerca de 2%)
admite que “não existe qualquer influência”.
No que se refere à intenção de redução do consumo de carne consoante os
diferentes impactos ambientais, os resultados são também semelhantes entre
as várias áreas. É de salientar no entanto o facto de 81% dos inquiridos ter
demonstrado intenção de reduzir o consumo de carne e somente 19% terem
referido que apesar de reconhecerem o impacto ambiental não terem intenções
de mudar os seus hábitos alimentares.
Também quanto à opinião sobre a proposta nacional de privilegiar a ausência
de consumo de carne durante um dia da semana, cerca de 85% concordaria
com essa situação, 10% seria indiferente e somente 5% discordaria.
Por fim, quanto às dificuldades em conseguir reduzir o consumo de carne, mais
de metade dos inquiridos refere em média que os pontos abordados não
dificultariam nada e quase 30% reconhece que em média existem situações
que criarão pequenas dificuldades. Descriminando as diversas razões: o prazer
em comer carne é a situação que acarretará as maiores dificuldades e no
extremo oposto estão, segundo ordem apresentada, a vergonha em assumir a
redução do consumo de carne e o prejuízo no convívio social. As restantes
hipóteses apontadas como limitadoras (ter de aprender a cozinhar refeições
22
sem carne, reduzidas opções de escolha nos restaurantes e receio de aumento
da despesa com a alimentação) recebem as percentagens intermédias no grau
de dificuldade que apresentarão.
(Anexo IV-a – “Resultados do 1º inquérito”)

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DO 2º INQUÉRITO

Da análise do gráfico do consumo de carne constata-se que tem sensivelmente


as mesmas percentagens de consumo que o registado no 1º inquérito, o que
por um lado mostra consistência nas amostras mas por outro pode indicar que
não existiu redução do consumo de carne.
Parecendo contrariar o dado anterior, o gráfico da redução do consumo de
carne na semana após o 2º inquérito, demonstra que 72% dos inquiridos refere
não ter alterado os seus hábitos alimentares, mas os restantes 28% alteraram
de algum modo esses hábitos, sobretudo passando para quantidades entre “4
e 7” e “1 e 3” refeições semanais.
Relativamente ao impacto ambiental médio das várias áreas de influência ele é
considerado entre o “influente” (32%) e o “pouco influente” (25%). Analisando
as várias áreas afectadas, regista-se que as diversas áreas não apresentam
diferenças significativas, havendo no entanto uma ligeira menor atribuição de
influência na emissão de gases com efeito de estufa, estando no extremo
oposto, apesar de ser por pequena diferença, a influência dos 5 impactos em
conjunto.
Quanto às dificuldades sentidas por aqueles que reduziram o consumo de
carne, mais de dois terços refere que em média não sentiu nenhumas
dificuldades, cerca 20% sentiu um pouco de dificuldades e os restantes 10%
sentiram bastante ou imensas dificuldades. Quanto à descriminação das
razões, a vergonha de assumir a redução do consumo de carne, praticamente
não é sentida como dificuldade, enquanto o prazer em comer carne está no
extremo das razões que mais dificultam a redução do seu consumo e o ter de
aprender a cozinhar refeições sem carne e ter reduzidas opções de escolha
nos restaurantes, são apontadas também como razões que dificultam bastante.

23
Por fim relativamente às razões que impediram 72% da amostra de reduzir o
consumo de carne, a mais apontada com 34% foi o prazer em comer carne,
seguindo-se com 15% as reduzidas opções de escolha nos restaurantes e com
12% o ter de aprender a cozinhar refeições sem carne. O receio no aumento
das despesas com a alimentação é a dificuldade apontada com o menor
impacto (8%). Com percentagens residuais, não sendo por isso consideradas
dificuldades, surgem o prejuízo no convívio social e a vergonha de assumir a
redução do consumo de carne. Existem ainda 27% de pessoas que apontam
outras razões onde há a realçar:

As dificuldades em harmonizar as preferências individuais com as da


família;

A crença de que uma alimentação equilibrada tem que conter carne;

A menor motivação para concretizar essa mudança;

A falta de alternativa de refeição nos refeitórios dos locais de trabalho;

A maior facilidade e comodidade na confecção das refeições;

O facto de já se considerar que come pouca carne;

Por ser um hábito alimentar;

(Anexo IV-b – “Resultados do 2º inquérito”)

(Anexo V – Transcrições pessoais das “outras razões” para não ter havido uma
redução do consumo de carne”)

24
25
Conclusões

Verificou-se que 80% dos inquiridos manifestaram nas suas respostas que
possuíam conhecimentos gerais sobre o impacto do consumo de carne no
ambiente. De forma discriminada o grau de conhecimento foi “Pouco” 16%;
“Algum” 41%; “Elevado” 17%; “Muito elevado” 5%.
Também em igual percentagem (80%) revelaram a intenção de reduzir o seu
consumo de carne, o que não vem contradizer a nossa hipótese de que o
conhecimento sobre o impacto ambiental do consumo de carne contribui para
uma mudança de atitude ambiental.
A confirmação da hipótese atrás referida é analisada nos resultados ao 2º
inquérito, onde 225 inquiridos (isto é, 31% dos sujeitos que responderam à
manifestação ou não manifestação de intenção de redução do consumo de
carne) é que revelaram se tinham ou não mudado de comportamento. Os
resultados obtidos demonstraram que 28% considerou que tinha mudado o seu
comportamento, reduzindo o seu consumo de carne (10% para 4 a 7 refeições;
14% para 1 a 3 refeições; 3% deixou de comer carne) numa semana. Este
valor permite-nos concluir que o conhecimento sobre o impacto ambiental do
consumo de carne não contribui apenas para alterações de intenções ou
atitudes, mas também de comportamento, confirmando assim a nossa hipótese
de trabalho.
Os resultados parecem-nos também sugerir, que de facto há um maior nível de
intenção em mudar comportamentos, do que a concretização dessa intenção.
Logo, é de todo relevante, operacionalizar a quantificação desta mudança, para
em futuros estudos tornar mensurável o nível de eficácia das campanhas de
informação sobre o impacto em estudo.

26
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27
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http://www.timesonline.co.uk/tol/news/environment/article6891362.ece

28
29
Anexos

30
Anexo I

31
Anexo II-a
Emissões mundiais de gases com efeito de estufa em 2005

32
33
Anexo II-b
Eco regiões afectadas pela indústria pecuária

34
35
Anexo II-c
A pecuária como uma importante causa da ameaça da
biodiversidade em pontos sensíveis

36
37
Anexo II-d
Variação da temperatura (por Continentes e Global)

38
Comparação de valores observados da temperatura continental, dos oceanos e global.
Resultados simulados por modelos climáticos usando forças naturais e antrópicas.

Anexo III-a

39
1º Inquérito sobre hábitos alimentares de consumo de carne
O presente inquérito insere-se num trabalho de investigação sobre o tema:
Impacto do consumo da carne no meio ambiente, no âmbito da unidade
curricular Comportamento Humano e Ambiente, da Faculdade de Psicologia
da Universidade de Lisboa (FP-UL).

O inquérito é anónimo, não tem respostas certas nem erradas, sendo


solicitada unicamente a sua sinceridade.

O tempo estimado de preenchimento do mesmo é de 8 a 10 minutos.

Agradecemos antecipadamente a sua disponibilidade e colaboração.

1) 1. Sexo:

2) 2. Idade:

Até 24

25 a 34

35 a 44

45 a 54

55 a 64

Acima de 65

3) 3. Habilitações académicas:

Ensino Básico (até 4ª classe)

Ensino Preparatório (até 6º ano)

Ensino Secundário (até 9º ano)

Ensino Secundário (até 12º ano)

40
41
Anexo III-b

42
2º Inquérito sobre hábitos alimentares de consumo de carne
O presente inquérito insere-se na continuidade de um trabalho de
investigação sobre o tema: Impacto do consumo da carne no meio ambiente,
no âmbito da unidade curricular Comportamento Humano e Ambiente da
Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (FP-UL).

Só deverá preencher este 2º Inquérito se respondeu ao 1º inquérito há 1


semana (aproximadamente).

O inquérito é anónimo, não tem respostas certas nem erradas, sendo


solicitada unicamente a sua sinceridade.

O tempo estimado de preenchimento do mesmo é de 2 a 4’.

Agradecemos antecipadamente a sua disponibilidade e colaboração.

1) 1. Sexo:

2) 2. Idade:

Até 24

25 a 34

35 a 44

45 a 54

55 a 64

Acima de 65

3) 3. Habilitações académicas:

Ensino Básico (até 4ª classe)

Ensino Preparatório (até 6º ano)

Ensino Secundário (até 9º ano)

Ensino Secundário (até 12º ano)

43
Anexo IV-a
Resultados do 1º inquérito

Conhecimento específico sobre os impactos ambientais

Nada Pouco Muito De extrema


Influente
influente influente influente influência
Emissão de gases nocivos 3% 18% 36% 28% 15%
Quantidade de água usada 2% 10% 37% 34% 17%
Poluição da água 1% 12% 33% 36% 18%
Desertificação dos solos 3% 15% 38% 28% 16%
Recursos naturais usados 1% 11% 43% 29% 15%
Média 2% 13% 37% 31% 16%

Intenção de redução do consumo de carne consoante impacto ambiental

44
Não Reduziria Reduziria Reduziria
Deixaria de
reduziria o para 8 a 11 para 4 a 7 para 1 a 3
comer carne
consumo refeições refeições refeições
Emissão de gases
nocivos 22% 3% 24% 29% 22%
Quantidade de água
usada 20% 3% 23% 30% 24%
Poluição da água 19% 3% 22% 31% 26%
Desertificação dos solos 19% 4% 21% 30% 27%
Recursos naturais
usados 21% 3% 21% 30% 25%
Pelos 5 impactos 16% 4% 21% 32% 27%
Média 19% 3% 22% 30% 25%

Opinião sobre a proposta nacional de privilegiar o não consumo de carne num dia
da semana

Concordari Não Seria


a concordaria indiferente
Emissão de gases
nocivos 83% 6% 12%
Quantidade de água
usada 85% 5% 11%
Poluição da água 86% 4% 10%
Desertificação dos solos 85% 4% 11%
Recursos naturais
usados 85% 4% 11%
Pelos 5 impactos 88% 4% 8%
Média 85% 5% 11%
45
Dificuldade na redução do consumo de carne

Não
Dificultaria Dificultaria Dificultaria
dificultaria
imenso bastante um pouco
nada
Prazer em comer carne 12% 16% 39% 32%

Ter de aprender a cozinhar refeições sem carne 4% 14% 32% 50%

Reduzidas opções de escolha nos restaurantes 7% 18% 37% 38%

Prejuízo no convívio social 3% 8% 26% 63%

Vergonha de assumir a redução do consumo de


0% 0% 7% 93%
carne
Receio de aumento da despesa com a alimentação 5% 14% 34% 48%

46
Anexo IV-b
Resultados do 2º inquérito

Influência das áreas de impacto ambiental, para quem reduziu o consumo de carne

De
Nada Pouco Muito extrema
influente influente Influente influente influência
Emissão de gases
nocivos 22% 30% 27% 11% 10%
Quantidade de água
usada 14% 31% 25% 19% 12%
Poluição da água 12% 22% 36% 15% 15%
Desertificação dos solos 12% 25% 36% 12% 15%
Recursos naturais
usados 10% 27% 32% 17% 14%
Pelos 5 impactos 10% 17% 34% 21% 17%
Média 13% 25% 32% 16% 14%

Dificuldades sentidas na redução ou abstinência* do consumo de carne

Dificultou Dificultou Dificultou Não


imenso bastante um pouco dificultou

47
nada
Prazer em comer carne 6% 3% 32% 59%
Ter de aprender a cozinhar refeições sem carne 3% 9% 34% 53%
Reduzidas opções de escolha nos restaurantes 5% 13% 37% 46%
Prejuízo no convívio social 1% 6% 21% 72%
Vergonha de assumir a redução do consumo de
carne 1% 0% 5% 94%
Receio de aumento da despesa com a alimentação 2% 7% 27% 64%
Média 3% 6% 26% 65%

* Para o caso das pessoas que já não comiam carne antes de o estudo ser efectuado

Razões que impediram uma redução do consumo de carne

%
Prazer em comer carne 34%
Ter de aprender a cozinhar refeições sem carne 12%
Reduzidas opções de escolha nos restaurantes 15%
Prejuízo no convívio social 3%
Vergonha de assumir a redução do consumo de
carne 1%
Receio de aumento da despesa com a alimentação 8%
Outra razão 27%

48
49
Anexo V
Transcrições pessoais das outras razões mais significativas
para não ter havido uma redução do consumo de carne

“Marido gosta de carne e não estou para fazer 2 pratos diferentes nas poucas
refeições que temos de carne."

“Não é um assunto neste momento da minha vida prioritário, pois acabei de


fazer a mudança de cidade e acho que a última coisa que ia pensar neste
momento era em alteração de hábitos alimentares.”

"Burrice."

"Receio em não ter uma alimentação variada."

"Como pouca carne, não tive necessidade de reduzir."

"Medo de anemia."

"O consumo moderado ou mesmo reduzido de carne e peixe é necessário à


saúde do ser humano.”

"Indiferença, talvez por não me ter informado mais."

"Necessidade do organismo em comer carne."

"Do ponto de vista das intolerâncias alimentares que se verificam na família,


não houve até agora alternativas que fossem viáveis! Por isso o tipo de
alimentação que fiz, tive que manter os elementos principais."

"Neste momento já consegui reduzir até 7 vezes, será gradual (…). Vivo com a
minha filha que é carnívora 100% e apesar de gostar muito de animais, não
controla esse seu gosto de carne."

"Dificuldade de alterar hábitos alimentares de toda a família."

"Não ter tempo para fazer outro tipo de comida, acaba por ser mais rápido"

"Quase todos os pratos, incluem carne ou peixe"

"Porque já como pouca carne."

"Não me esforcei para qualquer redução, … (porque) … como muito pouca."

"Necessidade de alimentação variada"

50
"O preenchimento do questionário 1, alertou-me para certas situações sobre a
produção da carne para consumo, mas não foi suficiente para mudar os meus
hábitos de consumo de carne. Penso é que a indústria deverá aperfeiçoar-se
de forma a produzir mais e melhor, e com menor impacto no ambiente. "

"(Falta de) motivação para a mudança"

"Por fazer parte do habito alimentar e raras são as vezes que a consumo."

"Nenhuma em especial. Nem pensei nisso..."

"Estar integrada numa família com quem partilha as refeições e não ter vontade
suficiente para uma tomada de decisão nesse domínio”

"Em casa os familiares consomem muita carne"

"A alimentação equilibrada deve conter carne."

"Nos dias em que almocei ou jantei na messe era sempre refeição de carne"

"No Exército não existem ementas vegetarianas"

"A carne é um alimento necessário ao corpo."

"Maior facilidade na confecção das refeições."

"Numa família (Pais e Filhos) o consenso é difícil!"

"Porque não sou eu quem decide as refeições."

"Impacto ambiental de menor expressão."

"Não há nenhuma razão que possa levar a deixar de comer carne. Se eu


deixasse de comer as vacas não se iam extinguir e portanto elas para viver
iriam usar na mesma recursos naturais, e por não acreditar nos dados do
anterior questionário.”

"Já faço a minha cota parte na protecção do ambiente que outras pessoas nem
sequer pensam em fazer, quanto mais por em prática. Em termos de saúde, de
momento, não tenho nada que me impeça de comer carne."

"Eu não como muita carne, por isso não vi necessidade de nova redução.”

"Mudar os hábitos de muitos anos custa."

"Devido ao local onde me encontro e o que estou a fazer, não sou eu que faço
as refeições, sendo na sua maioria carne.”

"Falta de empenho."

"Nenhuma em concreto. Hábito alimentar."

51
"Já como poucas vezes carne se reduzir ainda mais, há uma diminuição de ter
uma dieta variada."

"Foi o que me deram para comer às refeições, não tinha outra escolha!!"

"Alteração dos hábitos alimentares."

"Porque não sou eu que cozinho em casa."

"Não considerar a redução do consumo (de carne) uma prioridade, nem uma
opção."

"Ainda me é indiferente. Ficar dois meses sem comer carne não me choca,
mas gosto de comer o que quero quando quero."

"Ter uma alimentação diversificada."

"Dificuldade em encontrar outras opções."

52
Identificação do Grupo de Trabalho

Ana Paiva – nº 7965

A. Semião Contente – nº 7936

Cláudia Leitão – nº 7779

Inês Ribeiro – nº 7894

Pedro Garcia Lopes – nº 7486

53

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