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Docente: Discentes:
1
ÍNDICE
Resumo/Abstract 5
Introdução 6
Método 18
Conclusão 23
Referências Bibliográficas 24
Anexos
2
ÍNDICE DE FIGURAS
3
ÍNDICE DE TABELAS
4
ÍNDICE DE ANEXOS
Fonte: http://www.wri.org/chart/world-greenhouse-gas-emissions-2005
Fonte: http://www.fao.org/docrep/010/a0701e/a0701e00.HTM
Fonte: http://www.fao.org/docrep/010/a0701e/a0701e00.HTM
5
Resumo
O Homem ao decidir o que come está também a tomar uma decisão que pode
ser (in)consciente sobre a sua influência no ambiente. Neste sentido
apresentamos uma revisão bibliográfica sobre o consumo de carne e o seu
impacto ambiental, evidenciando-o na indústria pecuária, como sejam a
emissão de gases com efeito de estufa, consumo e poluição da água,
desertificação dos solos e o seu impacto na biodiversidade. Procedeu-se
posteriormente a um estudo com o intuito de constatar o conhecimento
existente acerca do impacto do consumo de carne no meio ambiente e qual a
intenção inicial de redução do consumo de carne e posterior efectivação ou não
dessa intenção, quando confrontado com a informação do impacto ambiental.
O método utilizado foi o inquérito, tendo participado 838 pessoas na 1º fase e
225 numa 2º fase. Constatou-se que 64% das pessoas consideram possuir
conhecimentos acerca deste impacto e que inicialmente 81% dos inquiridos
tinha intenção de reduzir o consumo de carne mas só 28% concretizou
posteriormente essa intenção.
Abstract
When Man decide what to eat is also making a decision that could be
(un)conscious about its influence on the environment. In this sense we present
a bibliographical revision about the consumption of meat and its environmental
impact, based in the livestock farming industry, as the emission of harmful
gases, the consume of water and its pollution, land desertification and the
impact in the biodiversity. After we preceded to a study to verify the knowledge
about the impact of the consumption of meat in the environment, the initial
intention to reduce the consumption of meat and the subsequent
accomplishment or not of that intention, when confronted with the impact of the
consumption of meat in the environment. The approach used was the inquiry,
participated 838 people on the first phase and 225 on the second phase. The
results show that 64% of the people consider to have knowledge about this
impact and that initially 81% had the intention to reduce the consumption of
meat but only 28% has accomplished latter that intention.
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Key-words: Environment; Consumption; Meat; Industry Livestock farming;
Pollution
INTRODUÇÃO
Todos tomamos decisões que têm consequências ambientais. Estas reflectem-
se quando escolhemos conduzir, viajar de avião, comer alimentos orgânicos ou
reduzir a água que utilizamos, pois estamos a afectar o ambiente local e global.
Muitas vezes, estas escolhas reflectem dilemas, em que temos que escolher
entre os nossos próprios interesses e os do ambiente que nos envolve. Poder-
se-á dizer que estamos sobre o paradigma da interdependência humana, em
que decidimos sem saber com certeza qual será o resultado para nós ou para o
ambiente ou sequer quando é que este se manifestará.
A possível solução para este paradigma residirá em tornarmo-nos, a nós
próprios e aos outros, mais conscientes das decisões que tomamos e dos
eventuais impactos que estas terão no ambiente.
A nossa investigação prende-se precisamente com esta tomada de consciência
acerca do que comemos, quando falamos de carne, e do impacto que essa
dieta alimentar poderá ter a nível ambiental.
Quando falamos de alimentação e da possibilidade de retirar alguns alimentos
da nossa dieta alimentar e/ou acrescentar outros novos, a reacção das
pessoas é bastante diferente. Há quem aceite bem esta mudança, mas existem
também os chamados neofóbicos, ou seja, pessoas que têm receio de
experimentar alimentos novos e evitam esse contacto.
Porquê este neofobismo? Há autores como Milligan e colaboradores que, em
1997, verificaram, através de um estudo com estudantes australianos, que a
falta de informação acerca da composição dos alimentos poderia ser um dos
obstáculos a uma alimentação mais saudável, logo à introdução de novos
alimentos. Mas Brown & Ogden (2004) retaliam esta ideia defendendo que
seria essa uma justificação plausível não fossem as campanhas para a saúde
alimentar.
Assim sendo, coloca-se uma nova questão: como é que fazemos a nossa
selecção alimentar? Silva, I., Pais-Ribeiro, J.L. & Cardoso, H. (2008), referindo-
se a diversos autores, como Crossley & Khan (2001); Hamilton e tal. (2000);
7
Boothle & Sheperd (1998); Ogden (2003); Brunstorm (2005); Fisher & Birch
(2002); Holland & Petrovich (2005); Pliner & Leowen (1997), entre outros,
levam-nos a concluir que não existe um consenso relativamente ao que nos
leva a preferir um determinado alimento em detrimento de outro.
Estes autores defendem que é a partir do nosso útero materno que as nossas
escolhas alimentares começam a formar-se, com base na familiaridade; isto
deve-se ao facto de ingerirmos parte do que a nossa mãe ingere. Este
reconhecimento alimentar prossegue o seu curso na fase da amamentação,
pois o leite materno terá o sabor relativo ao tipo de alimentação da mãe, como,
por exemplo, alho, baunilha, etc.
Ao longo do nosso desenvolvimento vamos sendo expostos a diversos
produtos alimentares, quer pelos nossos prestadores de cuidados, quanto pelo
nosso grupo de pares ou ainda pelos media, entre outros. Será então
consoante os reforços positivos ou negativos que recebemos (aprendizagem
associativa), relativos a determinado alimentos, que os vamos consumir ou
não. Este reforço positivo pode dar-se após o consumo do mesmo (como uma
recompensa) ou poderá ser o alimento em si (por exemplo: “se te portares bem
dou-te um rebuçado”).
No entanto há todo um processo de escolha prévio ao momento do consumo
do mesmo (depois sujeito ao reforço ou não). Na base deste processo de
escolha existem diversos modelos teóricos tais como os de Kahn, em 1981, de
Randall e Sanjur, em 1981 e de Booth e Shepherd, em 1988. Entre estes três
modelos podemos retirar alguma informação acerca do que é importante ter em
conta no que respeita àquilo que serão factores determinantes do
comportamento humano em relação à alimentação. Estes factores serão, por
exemplo: factores intrínsecos (modo de preparação do alimento e as suas
características – textura, sabor, entre outras); factores pessoais (personalidade,
humor, apetite, influência familiar, entre outros); factores culturais e religiosos;
factores biológicos; factores fisiológicos (ex: doença, como a diabetes); factores
psicológicos; factores extrínsecos (como a exposição aos media, factores
ambientais, estação do ano, entre outros) e factores de cariz socioeconómicos
(Crossy e Kahn, em 2001, concluíram no seu estudo que grupos sociais com
menor rendimento financeiro atribuem como factor da sua escolha alimentar o
preço dos alimentos).
8
Também existem autores que defendem que o stress está relacionado com a
escolha alimentar, no que respeita ao tipo de alimentos ingeridos e à
quantidade respectiva; mas mesmo aqui não existe consenso, pois enquanto
que há quem defenda que o stress aumenta a ingestão da quantidade de
alimentos (mais snacks e menos refeições principais, no caso de estudos com
estudantes), há também autores que defendem que há uma diminuição do
consumo alimentar. Quem defende um aumento do consumo de alimentos
associa este aumento a pessoas que antes da exposição ao stress haviam
praticado alguma forma de dieta. Mas, também existem autores que dizem
nunca ter encontrado tal relação entre o stress e a alimentação, mesmo em
pessoas que praticavam dieta alimentar.
No nosso estudo referimo-nos exclusivamente à questão da opção de se
reduzir o consumo alimentar de um único tipo de alimento: a carne. Tendo em
conta todos os factores sociais, pessoais, culturais, etc., directamente ligados
ao consumo de carne, sabemos que esta será uma opção difícil para diversos
indivíduos. No entanto, existem soluções menos difíceis do que parecem à
partida. Se tivermos em conta, por exemplo a, aprendizagem social defendida
por Ogden (2003), sabemos que as pessoas são influenciadas pelo que vêem
outras pessoas comer, logo, se nós não estivermos a consumir o produto
carne, influenciaremos outras pessoas a também não o fazerem e, mais ainda,
se tivermos em conta o factor exposição, também defendido pelo mesmo autor,
sabemos que quanto mais vezes formos expostos repetidamente a
determinado alimento e o consumirmos, melhor será a sua aceitação (isto
aplicar-se-á a alimentos considerados alternativos à carne).
Historicamente sabemos que a segunda metade do século XX ficou marcada
por crescentes modificações na alimentação que tiveram lugar nos países ditos
desenvolvidos. Com o desenvolvimento das populações e com o exponencial
aumento demográfico, intensificou-se também as actividades agrícolas e
agropecuárias.
Para além do crescimento populacional e da proliferação das novas tecnologias
e do sistema económico liberalista vigente, as populações adquiriram também
um maior poder de compra, alterando os seus padrões de comportamento
alimentar. Por ter um peso fundamental na economia, o sector da agropecuária
tem sido fortemente explorado. Nos Estados Unidos, a produção de carne
9
aumentou exponencialmente entre 1950 e 2007, tendo vindo a estagnar o
abate de animais em 9.5 mil milhões no ano de 2007 e 2008 (USDA, National
Agricultural Statistics Service, 2009). (ver anexo I – “Estatísticas na produção
agropecuária: 1950-2008: abate nos Estados Unidos por espécie”)
No entanto, não é unicamente a oferta de produção alimentar que determina os
gostos e as escolhas alimentares dos consumidores. Na nossa sociedade faz
parte do “senso comum” que a alimentação à base de carne de vaca, por
exemplo, seja parte integrante da cadeia alimentar humana. Comer um bife de
vaca é tão ”natural” na nossa sociedade como comer um bife de cão é tão
“natural” na China. Mas do ponto de vista dos ocidentais, esta ideia de comer
animais domésticos, como o cão e o gato, com os quais (normalmente) se
criaram fortes laços afectivos, origina repulsa, e em muitos casos, indignação,
pois a nossa sociedade não categoriza o cão como alimento, uma vez que é
convencionalmente doméstico (Joy, 2010). Para Melanie Joy, a inclusão de
carne na nossa alimentação é tão “natural” quanto a expectativa que se cria
para que os homens sejam “naturalmente” masculinos e para que as mulheres
sejam “naturalmente” femininas, ou seja, a percepção que as sociedades
ocidentais têm em relação aos animais e sobre a sua inclusão ou não na
alimentação, pode não ser considerada meramente “natural”, assim como não
pode ser desassociada de um conjunto de convenções, de códigos, crenças e
práticas culturais. Só os humanos têm a capacidade de produzir e reproduzir
valores culturais. A cultura “é o processo de produção de sentido que confere
sentido não só à realidade ou natureza exterior, mas também ao sistema social
de que ela faz parte e às identidades sociais e actividades diárias (como a
alimentação) das pessoas pertencentes a esse sistema” (Fiske, 1990). Os
sistemas de representação cultural parecem ter uma influência central nas
práticas alimentares dos indivíduos humanos porque legitimam modos de
socialização e posicionam o indivíduo de acordo com critérios e padrões. A
universalização da ordem cultural, motivada por questões económicas, torna-a
muito pouco mutável, fazendo com que pareça “natural” e assim, comem-se
determinados animais em detrimento de outros porque “faz parte da nossa
cultura”, pelo que não tem sido nem a ética nem a sustentabilidade, mas sim a
cultura quem tem estipulado ao homem aquilo que na natureza é “comestível” e
não “comestível”.
10
A acção de comer carne, uma acção única por cada indivíduo, leva a um
conjunto imenso de acções semelhantes levadas a cabo por indivíduos
independentes e, face a isso, é fundamental mudar as acções/comportamentos
dos indivíduos ou de organizações no que respeita ao consumo de carne.
O relatório “Livestock’s long shadow environmental issues and options” da
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO),
realizado em 2006, teve como objectivo, precisamente, identificar o impacto
ambiental da indústria pecuária.
Os principais impactos estudados foram na emissão de gases, na água, na
desertificação dos solos e na biodiversidade.
11
Figura 1 – Produção de metano nos Estados Unidos da América em 2007
Fonte: EPA Methane and Nitrous Oxide Emissions from Natural Sources April 2010.
http://www.epa.gov/methane/sources.htm
12
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO),
realizado em 2006. Mais de metade das emissões de gás metano devem-se a
actividades humanas, enquanto para o dióxido de carbono essa proporção é
inferior a 5%. Assim, parece muito mais lógico que a redução das emissões
deste gás teria um impacto muito mais significativo na sua concentração na
atmosfera do que a redução das emissões de dióxido de carbono.
Mas de onde vem então as avultadas emissões de gás metano para a
atmosfera? A maior fonte de metano antropogénica é a agro-pecuária intensiva,
em particular o sistema digestivo dos ruminantes. A par, encontra-se a questão
da desflorestação de grandes superfícies florestais, como a Amazónia, que
desde 1970 tem sido brutalmente “despida”, o que contribui para o aumento
das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera.
Em 2009, perante o Parlamento Europeu, Sir Paul McCartney, apoiado pelo
Prof. Rajendra Pachauri, Presidente do Painel Intergovernamental sobre as
Alterações Climáticas, assumiu a sua convicção de que a melhor forma de lutar
contra as alterações climáticas é promover activamente a redução do consumo
de carne.
Água
A produção de ração para o gado requer uma enorme quantidade de água,
resultando na escassez de água em certas áreas, como por exemplo nos
Estados Unidos, onde mais de metade da água consumida para todos os fins é
gasta na produção animal, segundo um relatório publicado pelo Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PLUMA).
13
A actual redução dos stocks de água a nível mundial faz estimar que em 2025,
64% da população mundial tenha problemas de consumo de água, divulgam os
dados da Agência de Protecção do Meio Ambiente.
A indústria pecuária é responsável por 8% do total de gasto de água feito pelo
homem, sendo provavelmente a maior fonte de poluição aquática. Para tal
contribuem principalmente os resíduos animais (estrume e carcaças), os
antibióticos, as hormonas, os fertilizantes e pesticidas usados nas plantações
para alimentação animal e sedimentos originados pela erosão dos solos das
pastagens. Não existem dados mundiais, mas os que se referem aos Estados
Unidos, estes apontam para que a produção de carne seja responsável por
55% da erosão e sedimentação dos solos, 37% do uso de pesticidas, 50 % do
uso de antibióticos e 30% de lançamento de nitrogénio e fósforo na rede
hídrica.
O sector afecta ainda o ciclo da água devido à compactação do solo, à redução
da permeabilidade do mesmo, à degradação dos lençóis de água e ao facto de
secar planícies.
Figura 2 - Consumo de água por 1 Kg de vários alimentos
Fonte: http://www.centrovegetariano.org
14
Fonte: Empresas do sector (CETESB, 2006, citado por Secretaria do Meio Ambiente do Estado de S. Paulo)
15
O sector da produção animal é de forma destacada, o maior utilizador dos
solos, sendo 70% do solo agrícola mundial usado para a alimentação animal
(Margulis, 2004).
A expansão deste sector é também o principal responsável pela desflorestação,
tendo especial impacto na América Latina onde 70% da desflorestação da
floresta amazónica se deveu à criação de pastagens para o gado e cultivo de
produtos para alimentação animal (Margulis, 2004).
A degradação dos solos afecta 20% das pastagens mundiais, subindo esse
valor para 73 % quando são consideradas somente as pastagens em solo
árido. Esta degradação é feita sobretudo pelo pastoreio intensivo e pela
compactação e erosão do solo.
Sérgio Margulis (2004) do Banco Mundial demonstrou que, desde 1970, 91%
da desflorestação na Amazónia Brasileira está ligada às necessidades da
indústria da carne, agravando os efeitos do aquecimento climático, que é um
dos maiores problemas actuais do planeta.
As regiões mais afectadas pela desertificação são as áreas produtoras de
gado, como já referimos, inclusive o Oeste Americano, a América Central e
América do Sul, a Austrália e a África Sub-Saariana.
16
vegetal, apesar da proteína animal ser 1,4 vezes mais nutritiva para humanos
do que a proteína vegetal.
Este professor e investigador da Universidade de Cornell, realça ainda que
toda a actual produção agrícola destinada ao consumo animal nos Estados
Unidos daria para alimentar directamente cerca de 800 milhões de pessoas.
Akifumi Ogino (2007) realizou um estudo no Japão sobre o impacto da
produção de carne no meio ambiente. Segundo o autor a produção de um
quilograma de carne é responsável por uma maior emissão de gases com
efeito de estufa que conduzir um carro durante três horas e deixar todas as
luzes de casa acesas durante esse mesmo período de tempo.
17
alterações climáticas, defende que “reduzir pouco a pouco o consumo de carne
é a opção mais atractiva para que cada um contribua de forma imediata para a
redução das emissões de CO2.”
Já Fernando Barros e Licco António abordam a questão da reciclagem dos
resíduos de origem animal. De acordo com Prandl (1994, citado por Barros e
Licco) estima-se que somente 68% do frango, 62% do porco, 54% do boi e
52% da ovelha/cabra são directamente consumidos pelo homem. Assim existe
uma grande quantidade de resíduos que se não forem correctamente
reciclados originam a degradação dos tecidos animais que pode servir de
matriz ideal para a transmissão e perpetuação de doenças, com o potencial de
atingir o homem e os próprios animais. Franco (2002, citado por Barros e Licco)
refere que dos vários processos de reciclagem: aterros, compostagem, queima,
incineração e reciclagem, esta última é a “mais equilibrada dos pontos de vista
sanitário, económico e ambiental”. Mas mesmo essa apresenta duas
desvantagens: um odor intensamente desagradável e o aumento do risco de
contracção de encefalopatias.
Gidon Eshel investigador da Universidade de Chicago, concluiu que “Se deixar
de comer carne, cada pessoa anualmente reduzirá numa tonelada e meia a
emissão de CO2”.
Nicholas Stern (2006) autor do maior e mais difundido relatório sobre Economia
e as Alterações climáticas: “Stern Review on the economics of climate change”,
defendeu numa entrevista ao The Sunday Times que “a produção de carne
origina um desperdício de água e emite gases nocivos, pondo uma enorme
pressão nos recursos naturais mundiais. Uma dieta vegetariana é mais
adequada.”
De acordo com Lukianocenko (2001), os consumidores estão a tornar-se cada
vez mais influentes, informados, específicos e exigentes em relação à escolha
de alimentos, procurando alimentos mais saudáveis, frescos, naturais e
saborosos. A crescente preocupação das pessoas em relação à saúde,
longevidade e segurança alimentar, a par com a preocupação com a
conservação do meio ambiente, tem resultado no crescimento da demanda por
produtos orgânicos livres de aditivos e ecologicamente correctos
(biodegradáveis, recicláveis e que gastem pouca água e energia (Lukianocenko
2001)).
18
Estudos referem que em relação à percepção de risco para o próprio, as
pessoas são unânimes quando questionados quais os produtos que mais
ofereciam risco ao consumidor ao incluírem a carne entre os três produtos com
maior percepção de risco (Pereira, 2005).
No nosso estudo pretendemos averiguar, por um lado, qual o consumo actual
de carne de cada participante e qual a percepção que estes têm da relação
entre as Indústrias de Carne e as alterações climáticas, por outro, a intenção
de reduzir o consumo de carne ou mesmo suprimi-lo da alimentação, face aos
dados disponibilizados aos participantes relativamente à influência do consumo
de carne para o Ambiente.
19
Método
O objectivo geral do trabalho é analisar o grau de intenção em efectuar uma
redução do consumo de carne, após ser prestada alguma informação
específica acerca do seu impacto ambiental. Este objectivo será posteriormente
complementado com a comparação entre essa intenção inicial e o nível
efectivo de concretização da mesma.
Para cumprir os objectivos atrás enunciados foram elaborados dois inquéritos:
O primeiro inquérito (ver anexo III-a – “1º inquérito sobre hábitos alimentares de
consumo de carne”) teve como premissa base obter resposta ao grau de
intenção da amostra em reduzir o consumo de carne, tendo sido dividido em
dois blocos:
20
Ao segundo bloco responderam 717 pessoas da amostra inicial, não tendo sido
possível confirmar a distribuição desta parte da amostra inicial, sendo no
entanto crível que se tenham mantido na generalidade as percentagens do 1º
bloco.
O segundo inquérito (ver anexo III-b - “2º inquérito sobre hábitos alimentares de
consumo de carne”) teve como objectivo obter resposta sobre o nível efectivo
de concretização da intenção inicial manifestada no primeiro inquérito. Para
registar tal efeito, este segundo inquérito foi distribuído à mesma população
uma semana após o primeiro.
21
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DO 1º INQUÉRITO
23
Por fim relativamente às razões que impediram 72% da amostra de reduzir o
consumo de carne, a mais apontada com 34% foi o prazer em comer carne,
seguindo-se com 15% as reduzidas opções de escolha nos restaurantes e com
12% o ter de aprender a cozinhar refeições sem carne. O receio no aumento
das despesas com a alimentação é a dificuldade apontada com o menor
impacto (8%). Com percentagens residuais, não sendo por isso consideradas
dificuldades, surgem o prejuízo no convívio social e a vergonha de assumir a
redução do consumo de carne. Existem ainda 27% de pessoas que apontam
outras razões onde há a realçar:
(Anexo V – Transcrições pessoais das “outras razões” para não ter havido uma
redução do consumo de carne”)
24
25
Conclusões
Verificou-se que 80% dos inquiridos manifestaram nas suas respostas que
possuíam conhecimentos gerais sobre o impacto do consumo de carne no
ambiente. De forma discriminada o grau de conhecimento foi “Pouco” 16%;
“Algum” 41%; “Elevado” 17%; “Muito elevado” 5%.
Também em igual percentagem (80%) revelaram a intenção de reduzir o seu
consumo de carne, o que não vem contradizer a nossa hipótese de que o
conhecimento sobre o impacto ambiental do consumo de carne contribui para
uma mudança de atitude ambiental.
A confirmação da hipótese atrás referida é analisada nos resultados ao 2º
inquérito, onde 225 inquiridos (isto é, 31% dos sujeitos que responderam à
manifestação ou não manifestação de intenção de redução do consumo de
carne) é que revelaram se tinham ou não mudado de comportamento. Os
resultados obtidos demonstraram que 28% considerou que tinha mudado o seu
comportamento, reduzindo o seu consumo de carne (10% para 4 a 7 refeições;
14% para 1 a 3 refeições; 3% deixou de comer carne) numa semana. Este
valor permite-nos concluir que o conhecimento sobre o impacto ambiental do
consumo de carne não contribui apenas para alterações de intenções ou
atitudes, mas também de comportamento, confirmando assim a nossa hipótese
de trabalho.
Os resultados parecem-nos também sugerir, que de facto há um maior nível de
intenção em mudar comportamentos, do que a concretização dessa intenção.
Logo, é de todo relevante, operacionalizar a quantificação desta mudança, para
em futuros estudos tornar mensurável o nível de eficácia das campanhas de
informação sobre o impacto em estudo.
26
Referências Bibliográficas
Akifumi Ogino (2007). Effects of beef production on global warming, water
acidification and eutrophication, and energy consumption. New Scientist.
Acedido em 07 de Julho, 2010, de:
http://www.newscientist.com/article/mg19526134.500
http://www.youtube.com/watch?v=rYX18NGTwls&feature=related
27
http://www-
wds.worldbank.org/servlet/WDSContentServer/WDSP/IB/2004/02/02/00009034
1_20040202130625/Rendered/PDF/277150PAPER0wbwp0no1022.pdf
http://tvnet.sapo.pt/noticias/video_detalhes.php?id=33509
http://www.news.cornell.edu/releases/aug97/livestock.hrs.html
Silva, I., Oais-Ribeiro, J.L., & Cardoso, H. (2008). Porque comemos o que
comemos? Determinantes psicossociais da selecção alimentar. Psicologia,
Saúde & Doenças, 2008, 9 (2), 189-208.
Stern N. (2009, 27 Outubro). Climate chief Lord Stern: give up meat to save the
planet. The Sunday Times Acedido em 07 de Julho, 2010 de:
http://www.timesonline.co.uk/tol/news/environment/article6891362.ece
28
29
Anexos
30
Anexo I
31
Anexo II-a
Emissões mundiais de gases com efeito de estufa em 2005
32
33
Anexo II-b
Eco regiões afectadas pela indústria pecuária
34
35
Anexo II-c
A pecuária como uma importante causa da ameaça da
biodiversidade em pontos sensíveis
36
37
Anexo II-d
Variação da temperatura (por Continentes e Global)
38
Comparação de valores observados da temperatura continental, dos oceanos e global.
Resultados simulados por modelos climáticos usando forças naturais e antrópicas.
Anexo III-a
39
1º Inquérito sobre hábitos alimentares de consumo de carne
O presente inquérito insere-se num trabalho de investigação sobre o tema:
Impacto do consumo da carne no meio ambiente, no âmbito da unidade
curricular Comportamento Humano e Ambiente, da Faculdade de Psicologia
da Universidade de Lisboa (FP-UL).
1) 1. Sexo:
2) 2. Idade:
Até 24
25 a 34
35 a 44
45 a 54
55 a 64
Acima de 65
3) 3. Habilitações académicas:
40
41
Anexo III-b
42
2º Inquérito sobre hábitos alimentares de consumo de carne
O presente inquérito insere-se na continuidade de um trabalho de
investigação sobre o tema: Impacto do consumo da carne no meio ambiente,
no âmbito da unidade curricular Comportamento Humano e Ambiente da
Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (FP-UL).
1) 1. Sexo:
2) 2. Idade:
Até 24
25 a 34
35 a 44
45 a 54
55 a 64
Acima de 65
3) 3. Habilitações académicas:
43
Anexo IV-a
Resultados do 1º inquérito
44
Não Reduziria Reduziria Reduziria
Deixaria de
reduziria o para 8 a 11 para 4 a 7 para 1 a 3
comer carne
consumo refeições refeições refeições
Emissão de gases
nocivos 22% 3% 24% 29% 22%
Quantidade de água
usada 20% 3% 23% 30% 24%
Poluição da água 19% 3% 22% 31% 26%
Desertificação dos solos 19% 4% 21% 30% 27%
Recursos naturais
usados 21% 3% 21% 30% 25%
Pelos 5 impactos 16% 4% 21% 32% 27%
Média 19% 3% 22% 30% 25%
Opinião sobre a proposta nacional de privilegiar o não consumo de carne num dia
da semana
Não
Dificultaria Dificultaria Dificultaria
dificultaria
imenso bastante um pouco
nada
Prazer em comer carne 12% 16% 39% 32%
46
Anexo IV-b
Resultados do 2º inquérito
Influência das áreas de impacto ambiental, para quem reduziu o consumo de carne
De
Nada Pouco Muito extrema
influente influente Influente influente influência
Emissão de gases
nocivos 22% 30% 27% 11% 10%
Quantidade de água
usada 14% 31% 25% 19% 12%
Poluição da água 12% 22% 36% 15% 15%
Desertificação dos solos 12% 25% 36% 12% 15%
Recursos naturais
usados 10% 27% 32% 17% 14%
Pelos 5 impactos 10% 17% 34% 21% 17%
Média 13% 25% 32% 16% 14%
47
nada
Prazer em comer carne 6% 3% 32% 59%
Ter de aprender a cozinhar refeições sem carne 3% 9% 34% 53%
Reduzidas opções de escolha nos restaurantes 5% 13% 37% 46%
Prejuízo no convívio social 1% 6% 21% 72%
Vergonha de assumir a redução do consumo de
carne 1% 0% 5% 94%
Receio de aumento da despesa com a alimentação 2% 7% 27% 64%
Média 3% 6% 26% 65%
* Para o caso das pessoas que já não comiam carne antes de o estudo ser efectuado
%
Prazer em comer carne 34%
Ter de aprender a cozinhar refeições sem carne 12%
Reduzidas opções de escolha nos restaurantes 15%
Prejuízo no convívio social 3%
Vergonha de assumir a redução do consumo de
carne 1%
Receio de aumento da despesa com a alimentação 8%
Outra razão 27%
48
49
Anexo V
Transcrições pessoais das outras razões mais significativas
para não ter havido uma redução do consumo de carne
“Marido gosta de carne e não estou para fazer 2 pratos diferentes nas poucas
refeições que temos de carne."
"Burrice."
"Medo de anemia."
"Neste momento já consegui reduzir até 7 vezes, será gradual (…). Vivo com a
minha filha que é carnívora 100% e apesar de gostar muito de animais, não
controla esse seu gosto de carne."
"Não ter tempo para fazer outro tipo de comida, acaba por ser mais rápido"
50
"O preenchimento do questionário 1, alertou-me para certas situações sobre a
produção da carne para consumo, mas não foi suficiente para mudar os meus
hábitos de consumo de carne. Penso é que a indústria deverá aperfeiçoar-se
de forma a produzir mais e melhor, e com menor impacto no ambiente. "
"Por fazer parte do habito alimentar e raras são as vezes que a consumo."
"Estar integrada numa família com quem partilha as refeições e não ter vontade
suficiente para uma tomada de decisão nesse domínio”
"Nos dias em que almocei ou jantei na messe era sempre refeição de carne"
"Já faço a minha cota parte na protecção do ambiente que outras pessoas nem
sequer pensam em fazer, quanto mais por em prática. Em termos de saúde, de
momento, não tenho nada que me impeça de comer carne."
"Eu não como muita carne, por isso não vi necessidade de nova redução.”
"Devido ao local onde me encontro e o que estou a fazer, não sou eu que faço
as refeições, sendo na sua maioria carne.”
"Falta de empenho."
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"Já como poucas vezes carne se reduzir ainda mais, há uma diminuição de ter
uma dieta variada."
"Foi o que me deram para comer às refeições, não tinha outra escolha!!"
"Não considerar a redução do consumo (de carne) uma prioridade, nem uma
opção."
"Ainda me é indiferente. Ficar dois meses sem comer carne não me choca,
mas gosto de comer o que quero quando quero."
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Identificação do Grupo de Trabalho
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