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10 EUREKA

Matemática A . 10.o ano


Ana Inês Azevedo | José Manuel dos Santos | Raul Aparício Gonçalves

Revisão científica
O tema Estatística foi revisto por:
PROFESSORA DOUTORA MARIA ANTÓNIA AMARAL TURKMAN
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

especialista designada para o efeito pela


Sociedade Portuguesa de Estatística.

Os restantes temas foram revistos por:


PROFESSORA DOUTORA MARIA FERNANDA VEIGA DE OLIVEIRA
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa

especialista designada para o efeito pela


Sociedade Portuguesa de Matemática.

P
Capítulo 2 – Geometria

2.2. Volumes
A Sofia e a Inês estavam a fazer uma tarefa de Matemática envol-
vendo o volume de três sólidos.

Volume esfera/cilindro
11 Determina o volume da esfera sendo r
o seu raio. • Usa a plasticina para moldares uma bola.

12 Obtém o volume do cilindro de altura


2r e base com raio r . Sofia: Que giro. Não me imaginava na aula de Matemática a usar plasti-
13 Obtém a fracção que corresponde à cina.
razão dos volumes da esfera e do cilin- Inês: Mas funciona! Claro que não se obtém um modelo exacto, mas dá
dro.
para ter uma ideia.

• Com o acetato obtém um cilindro que tenha para a base o


mesmo diâmetro considerado para a esfera e altura igual ao
diâmetro (coloca-lhe uma graduação).
• Esmaga a esfera dentro da forma cilíndrica.
14 Obtém a expressão do volume de um
cone nas condições do problema. • Verifica a fracção do cilindro que corresponde à esfera.

Sofia: Acho que está a meio.

Inês: Deixa ver… não é bem. Vamos fraccionar de outra forma. Dividir
em quatro não deu muito certo; e se fosse seis?

Sofia: Assim dá quatro sextos.

Inês: Sim, deve ser isso, quatro sextos ou dois terços.

FRANCESCO Volume cilindro/cone


BONAVENTURA
• Utiliza um cone e um cilindro com igual altura e diâmetro da
CAVALIERI
(1598-1647) base.
Nasceu em Milão, • Verifica quantas vezes deverias encher o cone de areia até
Itália, por volta de
encher o cilindro.
1598. Em 20 de
Setembro de 1615
entrou para a ordem religiosa dos
jesuítas em Milão, assumindo o nome Sofia: Uma… duas… três. Deu para encher três vezes o cone e o cilindro
de Bonaventura Cavalieri. Em 1635, ficou cheio.
publicou a sua obra mais conhecida,
denominada Geometria indivisibilibus Inês: Pois foi, um é o triplo do outro.
continuorum nova.
Na obra “Nova Geometria dos Indivisíveis Contí- Também é possível deduzir a expressão do volume da esfera recor-
nuos”, Cavalieri desenvolveu a ideia de Kepler rendo ao Princípio de Cavalieri.
sobre quantidades infinitamente pequenas. A
teoria de Cavalieri permitiu-lhe determinar rapi-
damente áreas e volumes de figuras geométri- Princípio de Cavalieri
cas. Cavalieri publicou 11 livros de Matemática
tratando de geometria, trigonometria, astrono- «Se em dois corpos de igual altura, as áreas das secções produzidas
mia, óptica e logaritmos, mas o seu trabalho
mais importante foi sobre os indivisíveis. por planos paralelos à base são iguais, então eles têm o mesmo
volume.»
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Capítulo 2 – Geometria

Consideremos um plano R sobre o qual estão apoiados dois sólidos


com a mesma altura. Se todo plano paralelo ao plano R intersectar os
sólidos com secções de áreas iguais, então os volumes dos sólidos tam-
bém serão iguais.

Uma boa ilustração do princípio consiste em


observares duas pilhas com o mesmo número de
moedas idênticas; para determinares o volume, pelo
Princípio de Cavalieri, basta considerares o volume
de um cilindro.

As relações que se podem obter seguindo a tarefa


que a Sofia e a Inês realizaram foram encontradas por
Arquimedes vários séculos antes dos trabalhos de
Cavalieri. 15 Na figura seguinte está representada a
planificação de uma pirâmide, de base
quadrangular.

G D C
E

A B

A razão entre os volumes de um prisma e de uma pirâmide com a


mesma base e altura é 3 . De modo análogo, a razão entre os volumes
de um cilindro e de um cone com a mesma base e com a mesma altura H
Sabe-se que:
é igualmente 3 .
w = 2 CD
• CE w;
Vprisma Vcilindro • a área da base é de 2 m2 .
=3 e =3
Vpirâmide Vcone Determina o volume da pirâmide em
milímetros cúbicos.
Os volumes do prisma e do cilindro obtêm-se multiplicando a área
da base pela altura. Substituindo, obténs as fórmulas já tuas conhecidas
para o volume da pirâmide e do cone.

1 1 16 Dado um paralelepípedo, explica como


Vpirâmide = A * altura e Vcone = A * altura
3 base 3 base podes encontrar três pirâmides geome-
tricamente iguais que justapostas com-
No caso da esfera verifica-se que a razão entre o seu volume e o põem o sólido inicial.
2 (Sugestão: observa a imagem do exer-
volume de um cilindro ao qual é tangente é .
3 cício anterior.)
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Capítulo 2 – Geometria

A escudela de Galileu

O volume da esfera foi determinado pela primeira vez por Arquime-


des no século III a. C.

A demonstração que aqui desenvolveremos foi apresentada pelo


professor da Universidade de Roma, Luca Valerio, no ano de 1600 (1).
Esta demonstração é conhecida por Escudela de Galileu, visto que é refe-
rida por este numa das suas obras. Vamos então determinar o volume
da esfera utilizando apenas o volume do cilindro e do cone.

Em primeiro lugar, observa que para determinar o volume da esfera


basta determinar o volume da semiesfera.

Podemos obter uma semiesfera por rotação do semicírculo de diâme-


tro [AB] em torno do raio [OP] perpendicular a [AB] . Considerando
os segmentos [AD] e [BC ] perpendiculares a [AB] , e imaginando-os
a rodarem em torno de [OP] , gerariam um cilindro de altura e raio da
base geometricamente igual ao raio da semiesfera (como podes obser-
var nas figuras seguintes).

A O B

D P C

O B
A

Páginas da obra de Luca Valerio De centro gravitatis


solidorum, publicada em 1604
C
D

Ao rodar a área sombreada na figura acima a vermelho, em torno


de [OP] obtemos um sólido limitado por um cilindro e uma semies-
fera. Este sólido semelhante a uma tigela é, por tal facto, designado por
Escudela de Galileu. Podemos dizer que o volume da semiesfera será
igual ao volume do cilindro subtraído do volume da escudela.

Sabemos calcular o volume de cilindros e cones, mas como calcular


o volume da escudela?

É aqui que Luca Valerio utiliza o Princípio de Cavalieri, observando


que o volume da escudela está relacionado com o volume de um cone
de base geometricamente igual à base do cilindro e com a mesma
altura.
Retrato de Galileu Galilei por Justus Sustermans,
1636 (1) Castelnuovo: 303, 1969.

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Capítulo 2 – Geometria

Demonstremos, então, a equivalência entre a escudela e o cone.

Seccionemos a escudela e o cone de raio r por um plano paralelo à


base e a uma distância a do ponto O . Este plano secciona o cone
num círculo e a escudela numa coroa circular.

O B
A
F G H
E
C 17 A Sofia foi a uma geladaria e pediu
D P um cone com uma bola de gelado de
pistácio, que detestou! Sabendo que as
dimensões do diâmetro da base do
cone e esfera coincidem e a altura do
cone é o seu dobro, deduz se o gelado
ao derreter irá transbordar ou não do
recipiente.
E F G H
18 Sabendo que a fórmula do cálculo do
volume da esfera é dada por:
4
Vesfera = pr 3
3
Indica as dimensões de:

Como [OEF] é rectângulo no vértice E e, simultaneamente, isósce- a) um cone e de um cilindro de modo


que a razão entre os seus volumes
les, temos que OE = EF e a área do círculo de raio [EF] é dada por pa 2 .
seja 2 ;
A área da coroa circular é dada pela seguinte expressão: b) uma esfera e de um cilindro de
modo que a razão entre os seus
pEH 2 - pEG 2 volumes seja œ2 .

Nota que o triângulo [OEG] é rectângulo e a sua hipotenusa, o seg-


mento [OG] , é geometricamente igual ao raio da base do cone. Recorda o Princípio de Cavalieri
«Se em dois corpos de igual altura as
Aplicando o Teorema de Pitágoras, temos que:
áreas das secções produzidas por planos
2 2 2
EG = OG - OE = r 2 - a 2 paralelos à base são iguais, então eles têm
o mesmo volume.»

Donde, a área da coroa circular é:

pEH 2 - pEG 2 = pr 2 - (r 2 - a 2)p = pa 2 . 19 Considera embalagens para armazenar


três, quatro e oito bolas de ténis.

As secções determinadas por um plano paralelo à base do cone e da a) Que tipo de embalagens podes
usar? Quais as suas dimensões?
escudela têm a mesma área. Como ambos os sólidos têm a mesma
altura, aplicando o Princípio de Cavalieri concluímos que o cone e a b) Investiga em qual das embalagens
que propões usar é menor o volume
escudela têm o mesmo volume. de “vazios”.
1 3
Vescudela = Vcone = pr 20 Determina o volume de uma esfera:
3
a) contida e tangente a um cubo cuja
Assim, obtemos o volume da esfera: aresta mede 10 cm ;

1 1 3
2 4 b) cuja superfície contém os vértices
Vesfera = 2 * Vsemiesfera = 2 * (Vcilindro - Vescudela) = 2 pr 3 - pr = pr 3 de um cubo de aresta a .
3 3
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EURA10-04
Capítulo 2 – Geometria

Volume de um tronco de pirâmide no Antigo Egipto

Os Egípcios foram brilhantes pela forma como trabalharam com a


geometria, nomeadamente no cálculo de áreas e volumes. É plausível
que, para chegar a algumas técnicas de cálculo, tenham considerado
mentalmente decomposições de figuras, quer bidimensionais, quer tri-
dimensionais.

O papiro de Moscovo, assim denominado por se encontrar no


Museu de Belas-Artes de Moscovo desde 1912 , tem, nos seus cerca
de 5 metros de comprimento por 8 cm de largura, 25 problemas,
muitos dos quais não se conseguem interpretar devido ao estado de
degradação.

Um dos problemas, o 14.° , contempla a deter-


minação do volume duma pirâmide truncada, consi-
derada como uma pirâmide quadrangular à qual foi
Extracto do papiro de Moscovo (problema 14) retirado o topo por um corte paralelo à base. No
papiro é considerado um tronco em que uma aresta
21 Imagina a pirâmide que, seccionada
lateral é perpendicular à base.
por um plano paralelo à base, origina
o tronco referido no papiro de Mos-
covo. Qual é a sua altura? Poderemos pensá-lo como uma das quatro partes geometricamente
iguais de um tronco de uma pirâmide egípcia, quadrangular recta.

No papiro podemos encontrar uma téc-


nica para a determinação do volume de uma
pirâmide truncada com as dimensões sugeri-
das na figura 2.
2 Fig. 1

4 Se te é dito, um tronco de pirâmide tem 6 cúbitos de altura,


4 cúbitos de base por 2 cúbitos no topo.

22 Confirma a validade do resultado do


Resolução:
problema 14 do papiro de Moscovo.
Sugestão: Utiliza de alguma forma a
pirâmide referida no exercício anterior. Calcula com este 4 , quadrando. Resultado 16 . 2

Dobra este 4 . Resultado 8 .


23 No tronco a que se refere o papiro de
6
Moscovo (ver esquema na figura 2) Calcula com este 2 , quadrando. Resultado 4 .
podes imaginar um paralelepípedo qua-
drangular cuja base superior coincide Adiciona este 16 , com este 8 , e com este 4 .
com o topo do tronco e uma aresta late- Resultado 28 .
ral que coincide com a 4
aresta do tronco que é 1 Fig. 2
perpendicular à base.
Calcula de 6 . Resultado 2 .
3
Qual é a percentagem Calcula o dobro de 28 . Resultado 56 .
de tronco ocupado
pelo paralelepípedo? É 56 . Encontraste o resultado certo.

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Capítulo 2 – Geometria

Apesar do trabalho matemático desenvolvido no papiro de Moscovo 24 Demonstra que o volume da pirâmide
não é dada uma fórmula geral para a determinação do volume de uma que tem como tronco o representado
na figura 3 é dado pela expressão:
pirâmide truncada.
a3h
.
Simplificadamente e em escrita moderna, essa fórmula é 3(a - b)
1
V = h (a 2 + ab + b2) (1) , em que a representa o lado do quadrado da
3
base, b o lado do quadrado do topo e h a altura do tronco de pirâmide. 25 Determina uma expressão que repre-
sente a razão entre o volume da pirâ-
Vejamos qual poderá ter sido então o raciocínio dos Egípcios para a mide referida na questão anterior e o
determinação do volume de uma pirâmide truncada, suportado na da pirâmide representada na figura 3
(uma das “peças” da decomposição).
decomposição do tronco em paralelepípedos.
O que podes concluir acerca da seme-
lhança entre as duas pirâmides?
Consideremos um tronco do mesmo tipo do que foi referido no
papiro, mas com dimensões arbitrárias. Uma sua decomposição em
quatro partes pode ser a que se observa na figura seguinte. 26 Deduz a fórmula geral do volume de
uma pirâmide truncada, do tipo da que
b é referida no papiro de Moscovo.

Sugestão: Podes aproveitar o trabalho efec-


h tuado no exercício 24.
Se necessitares podes utilizar a seguinte
propriedade sobre números reais, que pode-
rás começar por verificar:
a a3 - b3 = (a - b) (a2 + ab + b2)

Fig. 3

Façamos a seguinte reorganização dos sólidos obtidos na decompo-


sição e consideremos os sete paralelepípedos formados pelo processo
h
sugerido na figura, todos eles com altura , que, em conjunto, são
3
equivalentes ao tronco de pirâmide.

a–b 27 Justifica a equivalência da pirâmide e


do paralelepípedo coloridos a rosa na
figura 4.

h
b
b

a–b
Fig. 4

51
Capítulo 2 – Geometria

28 A partir da decomposição do tronco, cuja Considera agora os paralelepípedos finais da figura 4 agrupados da
reorganização está representada nesta seguinte forma:
página, deduz a fórmula do volume de
um tronco de pirâmide, referenciada por
(1), no início da página anterior.

29 Revê os exercícios 24 e 25, e verifica, b


b
por processos algébricos análogos aos b b a–b
utilizados nesses exercícios, que a fór-
mula obtida é a mesma, quer se trate de
um tronco do tipo do papiro de Mos-
covo, quer se trate de outro tronco de
qualquer pirâmide quadrangular recta.
b
a–b
b a–b

E, agora, para pensares um pouco mais…

30 E para um tronco de uma pirâmide


quadrangular que não é recta, a fór-
mula do seu volume será a mesma que
se obteve, na página anterior, em (1)?
Observa que também estes paralelepípedos têm, no conjunto, um
volume igual ao da pirâmide truncada inicial.
a
Pudeste assim observar como obter o volume de uma pirâmide
h h
truncada a partir do volume de paralelepípedos, o que te permite con-
b
cluir a fórmula obtida em (1) e que te possibilita o processo descrito no
papiro de Moscovo.

Para determinares o volume de um tronco de pirâmide egípcia com o


formato habitual, ou seja, quadrangular recta, basta observares nova-
mente a figura 1 , da página 50 , para compreenderes que apenas tens
31 O monumento funerário mandado de multiplicar por 4 o volume de um tronco do tipo do que aqui foi tra-
construir, em Dashur, pelo rei Sneferu balhado. E não deixa de ser verdadeira a fórmula referida em (1), pois:
primeiro rei (2613 a. C. – 2589 a. C.)
da 4.a dinastia do Egipto é composto 1
por um tronco de pirâmide, com 4* h(a 2 + ab + b2) =
3
metade da altura total da pirâmide, e
uma outra pirâmide, sendo ambas as
1 [(2a)2 (2a) (2b) (2b)2]
pirâmides de base quadrangular. A = h + * +
construção funerária tem as seguintes 3
dimensões:
Lado da base: 188 m e designando por A o comprimento do lado da base inferior do tronco
Altura total da construção: 105 m e por B o do lado da base superior, observa que A = 2a e que B = 2b ,
Ângulo relativo à 1.a base: 54° 27’ 44” donde:
Ângulo relativo à 2.a base: 43° 22’
1 (A2
Qual é o volume total do monumento Vtronco = + AB + B 2) .
3
funerário construído pelo rei Sneferu?

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