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21 a 25 de Agosto de 2006

Belo Horizonte - MG

Utilização de Esponja Molecular Para Controle de Umidade em Transformadores


Energizados

Pedro Roberto Carpenedo Adair Camacho Calero


COPEL Distribuição S.A COPEL Distribuição S.A
Prcarpen@copel.com

RESUMO
O transformador de potência é de fundamental importância em qualquer sistema de distribuição de
energia elétrica.
Em geral um transformador é projetado para atingir 40 anos de vida útil, e a experiência tem
mostrado que este tempo pode ser estendido. Para que isso seja possível, é necessário que a umidade
seja removida do óleo e do papel isolante. A vida útil de um transformador está diretamente
relacionada com a conservação da celulose que compõe o seu isolamento sólido.
O presente trabalho tem por finalidade avaliar a utilização de materiais esponjosos moleculares para
remoção da umidade impregnada no isolamento sólido do transformador.
A umidade presente na celulose é transferida para o óleo, devido aos ciclos de carga que o
transformador está submetido, e na seqüência ao passar pela esponja molecular é adsorvida.
Para efetivação deste trabalho foi construída uma unidade móvel de secagem que opera totalmente
desassistida.
Com aplicação de esponja molecular de boa eficiência, garante-se uma secagem satisfatória do
sistema isolante do transformador.
No entanto, os estudos com a utilização de esponjas moleculares continuam, visando estender a vida
útil do transformador e procurando satisfazer as exigências de disponibilidade no fornecimento de
energia de forma constante, com responsabilidade ambiental.

PALAVRAS-CHAVE
Esponjas Moleculares, Isolação Sólida, Secagem do Óleo.

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1. INTRODUÇÃO
Ao longo da vida dos transformadores, existe a possibilidade de penetração de umidade no óleo que
migra para o papel do enrolamento, reduzindo a rigidez dielétrica do óleo isolante e a tensão de
ruptura do papel, acelerando seu envelhecimento térmico e tendo como conseqüência a formação de
água, reduzindo a capacidade dielétrica da isolação e podendo levar o equipamento a falha.
Outro processo que eventualmente pode gerar umidade no interior do transformador é a deterioração,
ou quebra dos anéis glicosídicos que compõe as fibras de celulose, por fatores externos tais como
entrada de oxigênio e temperatura elevada.
O controle da umidade da isolação sólida é fundamental para minimizar a degradação da celulose,
obtendo-se um significativo aumento da vida útil do transformador.
O acompanhamento periódico do teor de água no óleo é fundamental para se determinar a necessidade
de secagem da isolação sólida. A combinação de elementos tais como oxigênio, água e temperatura
presentes no sistema isolante (celulose/óleo), de um transformador tem como conseqüência um
envelhecimento acelerado e aumento do risco de falha da unidade.
O tipo de selagem do transformador, influencia em muito na entrada de umidade no interior do
equipamento. O transformador, objeto de nosso estudo, por ser um equipamento com mais de 40 anos
de fabricação, possui respiro natural com sílica-gel. Portanto é um sistema suscetível a entrada de
oxigênio e umidade. Se faz necessário um monitoramento contínuo do teor de umidade no óleo
mineral isolante.
O transformador, utilizado neste trabalho, para secagem do sistema isolante com esponjas moleculares
apresenta as seguintes características, ver Tabela 1.

Tabela 1 - Características do Transformador 102-00003

Fabricante ITEL
Potência Nominal 16,25 MVA
Volume Óleo 20.000 litros
Temperatura Óleo 60°C
Ano de Fabricação 1962
Tensões 138/34,5/13,8 KV

2. UNIDADE MÓVEL DE SECAGEM


Para a efetivação deste estudo foi projetado e desenvolvido pela COPEL, na
cidade de Cascavel, oeste paranaense, uma unidade de secagem (Figura-1),
que garantisse total segurança à operação desassistida nos longos períodos
necessários à secagem do transformador energizado.
A unidade foi construída de forma compacta, com peso reduzido, facilitando o
seu deslocamento para instalação o mais próximo possível do transformador.
Figura - 1
Esta unidade possui dispositivo para medir a umidade do óleo, tanto na entrada
como também na saída da máquina, proporcionando condições de detectar o
momento de saturação da esponja molecular e realizar sua substituição. A vazão
pode ser regulada com auxílio de um medidor de vazão, instalado no circuito de
passagem do óleo.
Da mesma forma, desenvolveu-se uma estrutura filtrante (Figura-2) que facilita a
substituição da esponja molecular. Neste caso utiliza-se o mesmo recipiente na etapa Figura - 2

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seguinte de secagem, sendo somente o dessecante esponjoso molecular substituído e não toda a
estrutura que compõe o filtro.
A grande vantagem em projetar e construir uma unidade desumidificadora, é a possibilidade de fazer
as adequações necessárias em relação aos aspectos operacionais do transformador no qual a unidade
será instalada.

3. DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE SECAGEM


A remoção contínua de umidade do óleo se encontra no fundamento de que a água migrará do
isolamento celulósico para o óleo seco, estabelecendo um equilíbrio entre a umidade do papel e do
óleo; equilíbrio este que está diretamente relacionado com o fator temperatura.
Através deste processo, o óleo é bombeado da parte inferior do transformador (Figura-3), atravessa os
filtros para retenção de partículas sólidas, com capacidade de 1 micra nominal (Figura-4), e em
seguida passa pelas esponjas moleculares (Figura-5), cuja capacidade de adsorção de água é em torno
de 17,5%, p/p; e retorna ao transformador pela parte superior em um circuito fechado de circulação de
óleo.
Os filtros retém o material sólido e as esponjas moleculares capturam as moléculas de água. O óleo
seco e livre de partículas estranhas é devolvido ao transformador (Figura-6). As esponjas moleculares
dispensam a necessidade de ser submetido a calor e vácuo, e o sistema pode operar com segurança
durante um longo espaço de tempo com o transformador energizado. O processo de remoção de
umidade é lento, devido a água contida na isolação sólida depender diretamente da temperatura para
migrar para o óleo seco que por sua vez é adsorvida pelas esponjas moleculares.

Figura-3 Figura-4 Figura-5 Figura-6

Tendo em vista a variedade de material esponjoso molecular existente no mercado, se torna necessário
avaliar o seu desempenho e encontrar o que melhor se adapte ao processo de secagem do óleo mineral
isolante.
Considerando a dimensão da molécula de água que está dissolvida no óleo ser em torno de 3,2
Angstrons de diâmetro, se torna imperativo que o material dessecante tenha o diâmetro superior a este,
pois do contrário o processo não terá a eficiência esperada.

4. DETERMINAÇÃO DO CONTEÚDO DE ÁGUA


Com a intenção de remover a umidade de forma efetiva, visando reduzir o envelhecimento da
celulose, para estender a vida útil do transformador, é calculada a quantidade de água existente no óleo
e no papel.
A solução ideal seria retirar uma amostra de papel do transformador e medir o conteúdo de umidade ,
mas isto é impraticável para equipamentos em operação. O procedimento mais simples é retirar uma
amostra de óleo para análise físico-química e em seguida verificar no Gráfico 1 a relação de umidade
no papel.

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Gráfico 1 - Relação de equilíbrio entre a umidade no óleo e o papel

É importante certificar do estado de equilíbrio do teor de água entre o papel e o óleo para um
determinado valor de temperatura, onde o valor de umidade encontrado no papel seja o mais próximo
possível da realidade.
No ínício do processo de secagem do transformador em tratamento, o cálculo realizado para verificar a
quantidade de água foi o seguinte:
Água no óleo: 20000 litros x 38 ppm = 0,76 litros;
Usando as curvas de Nielsen a 60ºC, relaciona a um conteúdo de umidade de 3,5%;
Água no isolamento sólido: 1900 kg x 3,5% = 66,5 litros;
Total de umidade = 67,26 litros.

5. DESEMPENHO DO PROCESSO
O processo de retirada de umidade em grandes transformadores através de utilização de esponjas
moleculares tem apresentado um rendimento que ultrapassa aos demais até então utilizado.
O método tradicional utilizado para secagem do transformador em fábrica é um processo denominado
de fase de vapor, sendo dispendioso e inconveniente para transformadores em campo.
O método que utiliza calor e vácuo não é recomendado, pois o mesmo retira rapidamente a umidade
do óleo, mas com o passar dos meses o teor de água volta a subir, devido a migração da umidade do
papel para o óleo. O papel isolante além de ser próximo de 800 vezes mais higroscópico que o óleo
isolante, transfere, sob tratamento, a umidade nele retida para uma atmosfera de alto vácuo de forma
extremamente lenta, devido a parte ativa permanecer na temperatura ambiente.
Este sistema termo-vácuo pode remover os inibidores naturais do óleo e suas frações leves,
contribuindo para a deterioração precoce do líquido isolante.
Algumas características que tornam a utilização das esponjas moleculares mais eficientes são:
- Processo realizado sem interrupção de energia; de forma prática segura e eficiente;
- Após saturada, a esponja molecular pode ser substituída sem necessidade de retirar de operação o
transformador;
- As esponjas moleculares não removem os inibidores de oxidação presentes no óleo;

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- Os gases dissolvidos no óleo não são removidos, portanto não prejudica o diagnóstico de defeitos
incipientes por cromatografia;
- Investimento no processo menor ao utilizado no tratamento termo-vácuo;
- Processo realizado sem necessidade de supervisão.

6. ASPECTOS AMBIENTAIS
O século passado foi marcado pela ênfase na industrialização, porém neste início de terceiro milênio
percebe-se uma nítida atenção voltada para projetos de desenvolvimento sustentáveis, com adoção de
práticas ambientalmente corretas.
Os aspectos de proteção ao meio ambiente devem ser considerados em qualquer processo de
manutenção que utilize produtos que gerem resíduos com potencial de contaminação ao ecossistema,
onde está instalado.
O óleo mineral isolante, derivado do petróleo se derramado ao solo pode contaminar o lençol freático,
onde um litro de óleo contamina um milhão de litros de água, pois o óleo cria uma película superficial,
impedindo o fitoplancton de realizar as atividades fotossintéticas.
Os transformadores do sistema COPEL possuem no local onde estão instalados bacia de captação
individual para reter eventual derramamento de óleo que estão sujeitos.
A secagem de transformadores energizados utilizando esponjas moleculares gera um passivo
ambiental, classificado como tóxico, ou seja, classe I , segundo NBR 10004, que é a esponja molecular
impregnada com óleo mineral.
Este passivo não pode ser descartado em solo, pois o óleo desprende-se da esponja molecular e
contamina o lençol freático.
Desenvolvemos então, um processo de reciclagem deste material com
possibilidade de reutilizá-lo em ciclos de regeneração de óleo mineral isolante
(Figura - 7).
A esponja após totalmente saturada pode ser incorporada em concreto,
encerrando seu ciclo de utilização sem se tornar um passivo agressor para o meio
ambiente.
Com a implantação do conceito dos três R´s ( REDUZIR, REUTILIZAR,
RECICLAR ) todos saem ganhando e contribui para alcançar plena harmonia
entre desenvolvimento industrial e preservação dos recursos naturais, com
Figura - 7 sustentabilidade ambiental.

7. CONCLUSÃO
Após 14 meses de operação, com 08 substituições da esponja molecular, o processo apresentou o
seguinte resultado:
Água no óleo: 20000 litros x 25 ppm = 0,50 litros,
Temperatura do óleo = 70°C,
Usando as curvas de Nielsen a 70 ºC, relaciona-se a um conteúdo de umidade de 2,0%,
Água no isolamento sólido: 1900 kg x 2,0% = 38 litros,
Total de água retirada do sistema isolante = 28,76 litros.
Considerando um transformador deste porte, onde não possui membrana separadora do óleo da
atmosfera ambiente e em operação a 44 anos; entendemos que 2,0% de umidade na isolação sólida é
razoável para este caso específico.
O ensaio de umidade no óleo foi novamente realizado após três meses da retirada de operação da
unidade de secagem, em 11/01/2006, sendo que o teor de água continua com valor de 25 ppm, em
temperatura de 76ºC, demonstrando a eficiência do processo de desumidificação com o uso de
esponjas moleculares. Pois, neste caso não está havendo migração da água do papel para o óleo, sendo
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que este fato pode ser considerado uma boa condição do equilíbrio entre a umidade do papel e do óleo.
Este mês de janeiro/2006 tem sido atípico, com temperatura ambiente elevada, na região oeste do
Paraná, e por conseguinte tem refletido no aumento da temperatura do transformador em seu ciclo de
carga.
Finalmente, entendemos que todo processo é suscetível a melhoria e nossa intenção é dentro em breve,
reinstalar a unidade de secagem no referido transformador com o objetivo de tentar diminuir a
umidade do óleo para próximo de 20 ppm, em uma temperatura de 75°C; equivalente a 1,5% de
umidade na celulose. Certamente será um avanço significativo, considerando as características
peculiares deste transformador.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(1) Milasch, Milan - Manutenção de Transformadores em Líquido Isolante, Volume 1, 5º Reimpressão,
1998.

(2) Myers, S.D., Kelly,J. e Horning, M. - Transformer Maintenance, 2ª Edition, Ano-2001.

(3) Silveira, Murilo - Tratamento de Transformadores de Potência e Regeneração do Óleo Mineral


Isolante, Centro de Desenvolvimento - COPEL, agosto de 1997.

(4) Shakhnovich, M.I e Lipshtein, R.A. - Transformer Oil,


2ª Edition, Ano-1970.

(5) Y. Du, M. Zahn, B.C. Lesieutre, and A.V. Mamishev, “Moisture Equilibrium in Transformer
Paper-Oil Systems”, IEEE Eletrical Insulation Magazine, Volume 15, Nº 1, Ano 1999.

(6) Solomons, T. W. Graham e Fryhle, Craig B. – Química Orgânica, Volume 1,


7a Edição, Ano 2001.

(7) ABNT NBR 10004, Resíduos Sólidos – Classificação, Ano 2004.

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