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Espelho do Acórdão
Processo
Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.19.156684-3/001 1566850-61.2019.8.13.0000 (1)
Relator(a)
Des.(a) Maurílio Gabriel
Súmula
NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO
Data de Julgamento
18/03/0021
Ementa
Inteiro Teor
Ó
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ACÓRDÃO
Vistos etc., acorda, em Turma, a 15ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade
da ata dos julgamentos, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.
RELATOR.
VOTO
Cuida-se de agravo de instrumento interposto por Master Construtora e Incorporadora EIRELI - EPP em face da decisão
prolatada nos autos da "ação cautelar de caráter antecedente" por ela ajuizada contra Gerais Engenharia e Fundações Ltda..
Na referida decisão (documento 25), integrada pela decisão que rejeitou os embargos de declaração (documento 30), o
ilustre Juiz singular indeferiu "o pedido de tutela cautelar" e determinou a intimação da "parte autora para, em 5 (cinco) dias,
emendar a petição inicial, a fim de formular o pedido principal nos mesmos autos, (...) sob pena de indeferimento".
Alega a agravante que "não resta qualquer dúvida de que, fora demonstrado, a contento, tanto a probabilidade do direito
invocado, quanto o perigo dano e risco ao resultado útil do processo".
Sustenta que "quanto ao perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, de igual modo nítido, uma vez que, de nada
adiantará um resultado favorável em uma Ação Declaratória c/c Pedido de Reparação de Danos, após anos e anos com o
nome da Agravante protestado ou negativado indevidamente pela Agravada".
Defende que "o temido protesto ou mesmo o registro da suposta inadimplência junto a outros cadastros restritivos, a
Agravante, por certo, irá sofrer danos irreparáveis à sua atividade comercial, pois como é cediço, o "bom nome" é condição
sine qua non para o desenvolvimento de um negócio".
Argumenta que "a suspensão dos efeitos da cobrança, com a consequente determinação de que a Agravada se abstenha de
apontar o título emitido junto ao Cartório de Protesto e/ou promover o registro de inadimplência perante qualquer outro
órgão de restrição ao crédito, nada mais é, senão o meio juridicamente adequado de preservar incólume a imagem da
empresa Agravante, até que sejam discutidas as discordâncias da cobrança que entende absolutamente equivocada e
indevida".
Ao final, pugna a agravante pelo provimento do recurso para que "seja autorizado o depósito do valor de R$ 10.946,55 (dez
mil novecentos e quarenta e seis reais e cinquenta e cinco centavos), para fins de garantia de pagamento do boleto nº 0741
emitido pela Agravada", que "sejam suspensos os efeitos da cobrança realizada, determinando à Agravada que se abstenha
de apontar o título emitido junto ao Cartório de Protesto e/ou promover o registro de inadimplência perante qualquer outro
órgão de restrição ao crédito, sob pena de multa diária, em valor a ser estabelecido por V. Exa.", e para que haja "a
autorização para depósitos de cobranças posteriores ao ajuizamento desta, caso ocorram, e no valor que entender devido, nos
termos do contratualmente pactuado".
Os documentos de números 44 a 53 foram apresentados pela empresa agravada, entretanto, não é possível inferir deles suas
contrarrazões. A peça apresentada ao documento nº 55 está intempestiva.
Por isto e por estarem presentes os requisitos de sua admissibilidade, conheço do recurso.
Determina o artigo 300 do Código de Processo Civil que "a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo".
Discorrendo sobre o tema, Humberto Theodoro Júnior observa que os requisitos "para alcançar-se uma providência de
urgência de natureza cautelar ou satisfativa são, basicamente, dois: (a) Um dano potencial, um risco que corre o processo de
não ser útil ao interesse demonstrado pela parte, em razão do periculum in mora, risco esse que deve ser objetivamente
apurável. (b) A probabilidade do direito substancial invocado por quem pretenda segurança, ou seja, o fumus boni iuris"
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(Curso de Direito Processual Civil, Editora Forense, vol. I, 56ª edição, p. 609).
Pondera o mesmo autor que o juízo necessário no exame da probabilidade do direito (fumus boni iuris) "não é o de certeza,
mas o de verossimilhança, efetuado sumária e provisoriamente à luz dos elementos produzidos pela parte" (op. e loc.
citados).
Afirma, ainda, o doutrinador que "somente é de cogitar-se da ausência do fumus boni iuris quando, pela aparência exterior
da pretensão substancial ou pela total inexistência de elementos probatórios a sustenta-la, se divise a fatal carência de ação
ou a inevitável rejeição do pedido, pelo mérito" (op. cit., p. 610).
Acrescenta o processualista que o perigo de dano (periculum in mora) "refere-se, portanto, ao interesse processual em obter
uma justa composição do litígio, seja em favor de uma ou de outra parte, o que não poderá ser alcançado caso se concretize o
dano temido. Ele nasce de dados concretos, seguros, objeto de prova suficiente para autorizar o juízo de grande
probabilidade em torno do risco de prejuízo grave. Pretende-se combater os riscos de injustiça ou de dano derivados da
espera pela finalização do curso normal do processo" (op. cit., p. 610 e 611).
Busca a empresa autora com a presente ação cautelar antecedente para que seja autorizado o depósito do valor que entende
como incontroverso referente ao boleto de nº 741, além da suspensão dos efeitos da mora, como a consequente abstenção do
réu em inscrever o nome da autora nos cadastros restritivos de crédito e por fim "autorização para depósitos de cobranças
posteriores ao ajuizamento desta, no valor que entender devido, nos termos dos contratos" (documento nº 5).
Alega na petição inicial que a empresa agravada, injustificadamente, esta cobrando valores a mais, referentes ao contrato de
locação de equipamentos havido entre as partes.
Entretanto, verifico que os autores não demonstraram os requisitos necessários a concessão da tutela cautelar requerida em
caráter antecedente, quais sejam, o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, como determina o artigo 305 do
Código de Processo Civil, bem como o pericullum in mora e o fumus boni iuris.
Verifica-se no caso em questão que a empresa agravante levanta sérias dúvidas acerca do exato cumprimento do contrato,
tanto em relação ao objeto, quanto em relação ao modo e forma de pagamento, não sendo possível, neste momento, sem a
devida dilação probatória, constatar a probabilidade do direito da recorrente.
O artigo 330 do Código de Processo Civil, em seu parágrafo 2º, determina que, "nas ações que tenham por objeto a revisão
de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de inépcia,
discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, além de quantificar o
valor incontroverso do débito".
Por sua vez, o parágrafo 3º do mesmo artigo 330 preceitua que "o valor incontroverso deverá continuar sendo pago no tempo
e modo contratados".
Decorre, destes dispositivos, que o pagamento do valor incontroverso deverá ser efetuado diretamente ao credor, no tempo e
modo contratados, e não mediante depósito judicial.
Neste sentido:
"Nos termos do parágrafo único, do art. 285-B, do CPC, 'o valor incontroverso deverá continuar sendo pago no tempo e
modo contratados', o que significa dizer que o financiado deverá realizar tal pagamento diretamente à financeira, o que
impõe o indeferimento do pedido de depósito judicial do valor incontroverso" (ac. da 17ª Câmara Cível deste Tribunal de
Justiça no Agravo de Instrumento 1.0394.12.008336-2/002, Rel. Des. Luciano Pinto, j. aos 13/03/2014, publicação da
súmula em 25/03/2014).
"O novel artigo 285-B, inserido ao Código de Processo Civil pela Lei n. 12.810/13, preceitua que inviável o depósito do
valor entendido como devido pelo devedor, bem como a extirpação da mora mediante este depósito, pois a redação deste
dispositivo é clara ao elucidar que o autor deve apenas indicar o valor que pretende controverter e, continuar pagando as
parcelas diretamente ao banco na forma contratada" (ac. da 14ª Câmara Cível deste Tribunal de Justiça no Agravo de
Instrumento 1.0625.13.007189-1/001, Rel. Des. Valdez Leite Machado, j. aos 27/02/2014, publicação da súmula em
12/03/2014).
A exclusão e o impedimento à inclusão de nome em bancos de dados, em antecipação de tutela, exigem a presença
simultânea de três requisitos, a saber: a) ação proposta pelo devedor contestando a existência integral ou parcial do débito; b)
efetiva demonstração de que a contestação da cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e em jurisprudência
consolidada do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; e c) em caso de contestação parcial do débito,
o depósito do valor referente à parte tida como incontroversa ou a prestação de caução idônea, ao prudente arbítrio do
magistrado.
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No caso em exame, a empresa autora não nega a existência do débito, pois apenas questiona a validade de algumas das
cláusulas avençadas no contrato firmado com o agravado, bem como o correto cumprimento do pacto.
Portanto, não há como, nesta fase, impedir o credor de exercer os seus direitos, entre os quais se encontra o de lançar ou
manter o nome da devedora em cadastros restritivos de crédito, desde que caracterizada a sua mora.
Entendo ser necessária a dilação probatória para comprovar o direito alegado pela empresa autora, não sendo os elementos
presentes nos autos suficientes a demonstrar a verossimilhança de suas alegações.
Consequentemente, não há como, em antecipação de tutela, determinar a abstenção das inscrições do nome do autor em
órgão de proteção ao crédito e determinar.
Desta forma, deve mantida a decisão recorrida, pois não se concede a medida cautelar, quando ausentes os requisitos do
periculum in mora e do fumus boni iuris.
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