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30/03/2021 https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/imprimirEspelho.

do

Espelho do Acórdão

Processo
Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.19.156684-3/001 1566850-61.2019.8.13.0000 (1)

Relator(a)
Des.(a) Maurílio Gabriel

Órgão Julgador / Câmara


Câmaras Cíveis / 15ª CÂMARA CÍVEL

Súmula
NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO

Data de Julgamento
18/03/0021

Data da publicação da súmula


24/03/2021

Ementa

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - TUTELA DE URGÊNCIA - PROBABILIDADE DO


DIREITO - PERIGO DE DANO - AUSÊNCIA - NÃO CONCESSÃO - INCLUSÃO E EXCLUSÃO DE
NOME EM BANCOS DE DADOS. 1. Não se concede a tutela de urgência quando, a um exame sumário,
não houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito da parte autora e o perigo de dano, caso a
tutela não seja concedida. 2. A exclusão e o impedimento à inclusão de nome em bancos de dados, em
antecipação de tutela, exigem a presença simultânea de três requisitos, a saber: a) ação proposta pelo devedor
contestando a existência integral ou parcial do débito; b) efetiva demonstração de que a contestação da
cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e em jurisprudência consolidada do Supremo
Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; e c) em caso de contestação parcial do débito, o
depósito do valor referente à parte tida como incontroversa ou a prestação de caução idônea, ao prudente
arbítrio do magistrado.

Inteiro Teor

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - TUTELA DE URGÊNCIA - PROBABILIDADE DO DIREITO - PERIGO


DE DANO - AUSÊNCIA - NÃO CONCESSÃO - INCLUSÃO E EXCLUSÃO DE NOME EM BANCOS DE DADOS. 1.
Não se concede a tutela de urgência quando, a um exame sumário, não houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito da parte autora e o perigo de dano, caso a tutela não seja concedida. 2. A exclusão e o impedimento à inclusão de
nome em bancos de dados, em antecipação de tutela, exigem a presença simultânea de três requisitos, a saber: a) ação
proposta pelo devedor contestando a existência integral ou parcial do débito; b) efetiva demonstração de que a contestação
da cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e em jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal ou
do Superior Tribunal de Justiça; e c) em caso de contestação parcial do débito, o depósito do valor referente à parte tida
como incontroversa ou a prestação de caução idônea, ao prudente arbítrio do magistrado.

AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0000.19.156684-3/001 - COMARCA DE GOVERNADOR VALADARES -


AGRAVANTE(S): MASTER CONSTRUTORA E INCORPORADORA EIRELI EPP - AGRAVADO(A)(S): GERAIS
ENGENHARIA E FUNDAÇÕES LTDA

Ó
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ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 15ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade
da ata dos julgamentos, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. MAURÍLIO GABRIEL

RELATOR.

DES. MAURÍLIO GABRIEL (RELATOR)

VOTO

Cuida-se de agravo de instrumento interposto por Master Construtora e Incorporadora EIRELI - EPP em face da decisão
prolatada nos autos da "ação cautelar de caráter antecedente" por ela ajuizada contra Gerais Engenharia e Fundações Ltda..

Na referida decisão (documento 25), integrada pela decisão que rejeitou os embargos de declaração (documento 30), o
ilustre Juiz singular indeferiu "o pedido de tutela cautelar" e determinou a intimação da "parte autora para, em 5 (cinco) dias,
emendar a petição inicial, a fim de formular o pedido principal nos mesmos autos, (...) sob pena de indeferimento".

Alega a agravante que "não resta qualquer dúvida de que, fora demonstrado, a contento, tanto a probabilidade do direito
invocado, quanto o perigo dano e risco ao resultado útil do processo".

Sustenta que "quanto ao perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, de igual modo nítido, uma vez que, de nada
adiantará um resultado favorável em uma Ação Declaratória c/c Pedido de Reparação de Danos, após anos e anos com o
nome da Agravante protestado ou negativado indevidamente pela Agravada".

Defende que "o temido protesto ou mesmo o registro da suposta inadimplência junto a outros cadastros restritivos, a
Agravante, por certo, irá sofrer danos irreparáveis à sua atividade comercial, pois como é cediço, o "bom nome" é condição
sine qua non para o desenvolvimento de um negócio".

Argumenta que "a suspensão dos efeitos da cobrança, com a consequente determinação de que a Agravada se abstenha de
apontar o título emitido junto ao Cartório de Protesto e/ou promover o registro de inadimplência perante qualquer outro
órgão de restrição ao crédito, nada mais é, senão o meio juridicamente adequado de preservar incólume a imagem da
empresa Agravante, até que sejam discutidas as discordâncias da cobrança que entende absolutamente equivocada e
indevida".

Ao final, pugna a agravante pelo provimento do recurso para que "seja autorizado o depósito do valor de R$ 10.946,55 (dez
mil novecentos e quarenta e seis reais e cinquenta e cinco centavos), para fins de garantia de pagamento do boleto nº 0741
emitido pela Agravada", que "sejam suspensos os efeitos da cobrança realizada, determinando à Agravada que se abstenha
de apontar o título emitido junto ao Cartório de Protesto e/ou promover o registro de inadimplência perante qualquer outro
órgão de restrição ao crédito, sob pena de multa diária, em valor a ser estabelecido por V. Exa.", e para que haja "a
autorização para depósitos de cobranças posteriores ao ajuizamento desta, caso ocorram, e no valor que entender devido, nos
termos do contratualmente pactuado".

Foi atribuído efeito suspensivo ao recurso.

Os documentos de números 44 a 53 foram apresentados pela empresa agravada, entretanto, não é possível inferir deles suas
contrarrazões. A peça apresentada ao documento nº 55 está intempestiva.

Por isto e por estarem presentes os requisitos de sua admissibilidade, conheço do recurso.

Determina o artigo 300 do Código de Processo Civil que "a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo".

Discorrendo sobre o tema, Humberto Theodoro Júnior observa que os requisitos "para alcançar-se uma providência de
urgência de natureza cautelar ou satisfativa são, basicamente, dois: (a) Um dano potencial, um risco que corre o processo de
não ser útil ao interesse demonstrado pela parte, em razão do periculum in mora, risco esse que deve ser objetivamente
apurável. (b) A probabilidade do direito substancial invocado por quem pretenda segurança, ou seja, o fumus boni iuris"
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(Curso de Direito Processual Civil, Editora Forense, vol. I, 56ª edição, p. 609).

Pondera o mesmo autor que o juízo necessário no exame da probabilidade do direito (fumus boni iuris) "não é o de certeza,
mas o de verossimilhança, efetuado sumária e provisoriamente à luz dos elementos produzidos pela parte" (op. e loc.
citados).

Afirma, ainda, o doutrinador que "somente é de cogitar-se da ausência do fumus boni iuris quando, pela aparência exterior
da pretensão substancial ou pela total inexistência de elementos probatórios a sustenta-la, se divise a fatal carência de ação
ou a inevitável rejeição do pedido, pelo mérito" (op. cit., p. 610).

Acrescenta o processualista que o perigo de dano (periculum in mora) "refere-se, portanto, ao interesse processual em obter
uma justa composição do litígio, seja em favor de uma ou de outra parte, o que não poderá ser alcançado caso se concretize o
dano temido. Ele nasce de dados concretos, seguros, objeto de prova suficiente para autorizar o juízo de grande
probabilidade em torno do risco de prejuízo grave. Pretende-se combater os riscos de injustiça ou de dano derivados da
espera pela finalização do curso normal do processo" (op. cit., p. 610 e 611).

Busca a empresa autora com a presente ação cautelar antecedente para que seja autorizado o depósito do valor que entende
como incontroverso referente ao boleto de nº 741, além da suspensão dos efeitos da mora, como a consequente abstenção do
réu em inscrever o nome da autora nos cadastros restritivos de crédito e por fim "autorização para depósitos de cobranças
posteriores ao ajuizamento desta, no valor que entender devido, nos termos dos contratos" (documento nº 5).

Alega na petição inicial que a empresa agravada, injustificadamente, esta cobrando valores a mais, referentes ao contrato de
locação de equipamentos havido entre as partes.

Entretanto, verifico que os autores não demonstraram os requisitos necessários a concessão da tutela cautelar requerida em
caráter antecedente, quais sejam, o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, como determina o artigo 305 do
Código de Processo Civil, bem como o pericullum in mora e o fumus boni iuris.

Verifica-se no caso em questão que a empresa agravante levanta sérias dúvidas acerca do exato cumprimento do contrato,
tanto em relação ao objeto, quanto em relação ao modo e forma de pagamento, não sendo possível, neste momento, sem a
devida dilação probatória, constatar a probabilidade do direito da recorrente.

O artigo 330 do Código de Processo Civil, em seu parágrafo 2º, determina que, "nas ações que tenham por objeto a revisão
de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de inépcia,
discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, além de quantificar o
valor incontroverso do débito".

Por sua vez, o parágrafo 3º do mesmo artigo 330 preceitua que "o valor incontroverso deverá continuar sendo pago no tempo
e modo contratados".

Decorre, destes dispositivos, que o pagamento do valor incontroverso deverá ser efetuado diretamente ao credor, no tempo e
modo contratados, e não mediante depósito judicial.

Neste sentido:

"Nos termos do parágrafo único, do art. 285-B, do CPC, 'o valor incontroverso deverá continuar sendo pago no tempo e
modo contratados', o que significa dizer que o financiado deverá realizar tal pagamento diretamente à financeira, o que
impõe o indeferimento do pedido de depósito judicial do valor incontroverso" (ac. da 17ª Câmara Cível deste Tribunal de
Justiça no Agravo de Instrumento 1.0394.12.008336-2/002, Rel. Des. Luciano Pinto, j. aos 13/03/2014, publicação da
súmula em 25/03/2014).

"O novel artigo 285-B, inserido ao Código de Processo Civil pela Lei n. 12.810/13, preceitua que inviável o depósito do
valor entendido como devido pelo devedor, bem como a extirpação da mora mediante este depósito, pois a redação deste
dispositivo é clara ao elucidar que o autor deve apenas indicar o valor que pretende controverter e, continuar pagando as
parcelas diretamente ao banco na forma contratada" (ac. da 14ª Câmara Cível deste Tribunal de Justiça no Agravo de
Instrumento 1.0625.13.007189-1/001, Rel. Des. Valdez Leite Machado, j. aos 27/02/2014, publicação da súmula em
12/03/2014).

A exclusão e o impedimento à inclusão de nome em bancos de dados, em antecipação de tutela, exigem a presença
simultânea de três requisitos, a saber: a) ação proposta pelo devedor contestando a existência integral ou parcial do débito; b)
efetiva demonstração de que a contestação da cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e em jurisprudência
consolidada do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; e c) em caso de contestação parcial do débito,
o depósito do valor referente à parte tida como incontroversa ou a prestação de caução idônea, ao prudente arbítrio do
magistrado.

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No caso em exame, a empresa autora não nega a existência do débito, pois apenas questiona a validade de algumas das
cláusulas avençadas no contrato firmado com o agravado, bem como o correto cumprimento do pacto.

Portanto, não há como, nesta fase, impedir o credor de exercer os seus direitos, entre os quais se encontra o de lançar ou
manter o nome da devedora em cadastros restritivos de crédito, desde que caracterizada a sua mora.

Entendo ser necessária a dilação probatória para comprovar o direito alegado pela empresa autora, não sendo os elementos
presentes nos autos suficientes a demonstrar a verossimilhança de suas alegações.

Consequentemente, não há como, em antecipação de tutela, determinar a abstenção das inscrições do nome do autor em
órgão de proteção ao crédito e determinar.

Desta forma, deve mantida a decisão recorrida, pois não se concede a medida cautelar, quando ausentes os requisitos do
periculum in mora e do fumus boni iuris.

Com tais considerações, nego provimento ao recurso.

Custas recursais, pela agravante.

JD. CONVOCADO FERRARA MARCOLINO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. ANTÔNIO BISPO - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO"

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