Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Aula 11
Exantema = erupção cutânea que aparece no contexto de uma doença geral, comumente processo
infeccioso. Pode ser um desafio diagnóstico, pois varia desde um rash inespecífico até uma erupção
distinta. Às vezes diagnóstico etiológico impossível.
A avaliação básica inclui anamnese, exame físico e exame laboratorial. São importantes a idade, a
história de exposição a algum agente infeccioso, a epidemiologia, a história patológica pregressa, as
vacinas e os medicamentos utilizados, os pródromos, a evolução do rash, a presença de enantema e
outros sintomas. No exame, deve-se atentar para os sinais vitais (principalmente temperatura),
morfologia e distribuição do rash, mucosas, linfonodos, presença de meningismo, edema (face e
extremidades) e comprometimento de outros aparelhos e sistemas.
Causada pelo vírus Epstein-Barr (infecta as células epiteliais mucosas e os linfócitos B).
Infecta cerca de 95% dos adultos. A maioria das crianças infectadas são assintomáticas ou
apresentam doença febril leve e inespecífica. Já, dos adolescentes e adultos jovens com infecção
primária, 50% têm MI.
A transmissão se dá, principalmente pela saliva (até 6 meses após a infecção aguda e
intermitentemente por toda a vida), mas também é possível pelas secreções genitais e pelo leite
materno.
A replicação viral ativa estimula uma resposta imunológica, que determina o término da replicação
viral. Restam linfócitos B com infecção latente (EBV produz uma proteína importante para
replicação do seu DNA e evasão do sistema imune). Nos imunodeprimidos pode desencadear
doença linfoproliferativa.
A imunidade celular é persistente e duradoura. A imunidade humoral não protege contra o vírus.
O período de incubação é longo (30-50 dias), mas em crianças pode ser mais curto.
São pródromos: cefaleia, fadiga, febre e mal-estar. Dura 1-2 semanas.
A tríade característica consiste de faringite + adenopatia + fadiga.
Em metade dos pacientes há esplenomegalia (pode se instalar tão rapidamente, que causa dor no
quadrante esquerdo superior do abdome). Pode cursar com hepatomegalia, adenomegalia
generalizada (a epitroclear é particularmente sugestiva), anorexia, náusea, vômito, artralgia, mialgia
1
e tosse. No 5º dia de doença pode surgir (em cerca de 10%) um rash eritematoso inespecífico, que
dura 1 semana, mais em crianças pequenas. Tem início no tronco e nos bra ços, e progride para a
face e os antebraços. Pode haver petéquias nas pálpebras e na junção do palato duro e mole, além
de edema periorbitário.
A duração da doença é de 2-3 semanas (mas a fadiga e o mal-estar podem durar mais).
Outras manifestações cutâneas mais raras:
- Síndrome de Gianotti-Crosti (acropapulose da infância)
- Eritema multiforme
- Eritema nodoso
- Urticária
- Eritema anular centrífugo
- Úlcera genital dolorosa
- Urticária ao frio
A administração de Ampicilina (penicilinas, cefalosporina), pode desencadear reação de
hipersensibilidade (dura 1 semana), que aparece como um rash macular escarlatiniforme,
acobreado, pruriginoso, acometendo as superfícies extensoras e os pontos de pressão, e progride
para o tronco e as extremidades. Acaba por descamar. São anticorpos anti-EBV que se dirigem
contra a droga? Não impede o uso desta droga no futuro.
São complicações: rotura de baço, obstrução de vias aéreas, hepatite, trombocitopenia, anemia
hemolítica, glomerulonefrite, distúrbios neurológicos centrais.
Laboratório:
-linfocitose – na 2ª ou 3ª semanas de doença
-linfócitos atípicos (20-40%)
-trombocitopenia discreta
-↑ transaminases e fosfatase alcalina
-reação leucemóide – ocasionalmente
-sorologia - Teste de anticorpo heterófilo (teste de Paul-Bunnell)–
- Pode ser falso-positivo quando:
- colagenose
- linfoma
- hepatite viral
- malária
-Pode ser falso-negativo quando (aí, solicitar pesquisa de anticorpos específicos (IgM e IgG)):
- < 3 semanas de doença;
- crianças < 5 anos de idade;
- apresentação atípica de doença, imunodeprimido, infecção crônica;
↓
Citomegalovirose
O CMV é endêmico em todo o mundo. Causa a infecção intra-uterina mais comum em humanos.
Nos imunocompetentes, a maioria das infecções são assintomáticas ou subclínicas, já nos
imunocomprometidos e neonatos, há risco de infecção grave.
2
A transmissão ocorre através de fluidos corporais (saliva, sangue, urina, sêmen, leite materno,
secreções vaginais e cervicais) e órgãos transplantados. O CMV usa os leucócitos como transporte,
disseminando-se para os órgãos. O sangue depletado de leucócitos ou criopreservado diminui o
risco de transmissão, e deve ser preferência para os imunodeprimidos.
Pode se disseminar via fômites.
Diagnóstico:
- Padrão ouro: cultura em fibroblasto humano (leva dias a semanas);
- IF;
- PCR;
- Sorologia -
A liberação viral persistente dificulta a avaliação do seu verdadeiro papel na patogenia de uma
infecção, pois o encontro do vírus em uma lesão não garante certeza dele ser a causa, exceto se
sorologia demonstrar (IgM ou título com diferença de 4X num período de 4-5 semanas).
- Biópsia – aspecto de “olhos de coruja” (células endoteliais infectadas aumentadas e com
corpos de inclusão intra-nucleares cristalinos circundados por halo claro).
• Exantema súbito
O agente etiológico é o herpes vírus humano 6 (HHV-6), raramente HHV-7 – talvez quando
contato mais tardio.
Causa um dos exantemas mais comuns no lactente e nas crianças pequenas.
Quase 100% das crianças até 3 anos têm atcs contra o HHV-6.
Proteção imunológica passa da mãe para o bebê (↓ aos 6 meses e volta a ↑ entre 3-5 anos de idade).
Existe alta soro-prevalência e somente 30% desenvolvem manifestações clínicas.
3
O HHV-6 tem tropismo pelos linfócitos CD4+, mas é capaz de infectar outras células também.
Diagnóstico:
- Anamnese
- Exame físico
- Sorologia (raro).
Tratamento:
- Sintomáticos
- Imunodeprimidos – trabalhos com foscarnet e com ganciclovir (suscetibilidade semelhante
ao CMV).
• Eritema infeccioso
Causado pelo Parvovírus B19 , que tem tropismo pelas células progenitoras da linhagem eritróide (
o globosídeo- antígeno P - é o receptor celular); indivíduos que não têm este antígeno são
resistentes à infecção pelo Parvovírus B19. Este receptor também é encontrado nas células
endoteliais, células placentárias e células miocárdicas fetais.
4
Período de incubação: 4-28 dias.
Pode haver pródromos leves (febre baixa, cefaleia, calafrios, mialgia, mal-estar).
O exantema começa como máculas nas bochechas poupando a região perioral – “Sinal da
bofetada”; 1-4 dias depois, surgem máculas e pápulas eritematosas, que vão adquirindo um padrão
reticular principalmente nas extremidades. Pode haver prurido. É evanescente, dura em torno de 2
semanas e se exacerba com o choro, sol e calor. Diagnóstico diferencial com Artrite Idiopática
Juvenil – rash durante a febre e mais crônica.
Cerca de 10% têm artrite ou artralgia (predominantemente de pequenas articulações das mãos,
punhos, joelhos e tornozelos) auto-limitada. Mais comum em mulheres adultas. Pode aparecer na
ausência de exantema.
Infecção no feto pode ser assintomática ou causar anemia com hidropsia fetal (principalmente antes
da 20ª semana de gestação).
Diagnóstico:
- Sorologia IgM (melhor)
- PCR
- Hemograma (anemia)
- Reticulocitopenia
- Raros: aplasia eritrocitária, trombocitopenia, neutropenia, pancitopenia.
Tratamento:
- Sintomático
- Nos imunossuprimidos pode ser necessário IgIV (se supressão crônica da medula óssea).
Causada, principalmente pelo Parvovírus B19, mas foram relatados casos relacionados ao HHV-6,
HHV-7, sarampo, coxsackie B16 e CMV.
Tratamento sintomático.
• Doença mão-pé-boca
Causada pelo Coxsackie A16. Mais raramente outros vírus – quando causada pelo enterovírus 71
costuma ser mais grave (acomentimento neurológico, hemorragia pulmonar).
5
Período de incubação entre 3-5 dias.
Tratamento sintomático.
• Herpangina
Cursa com febre alta, mialgia, náusea, vômito, dor abdominal, bolhas na mucosa oral (base dos
pilares, úvula e parte posterior do palato mole), que evoluem para úlceras (com até 1 semana de
duração).
Geralmente entre 3-10 anos de idade.
Mais comumente doença leve, embora já tenha sido relacionada à meningite asséptica. A resolução
dos sintomas ocorre em 3-7 dias.
Tratamento sintomático.
• Sarampo
O vírus causa necrose do epitélio do trato respiratório, com infiltrado linfocítico. Produz ainda
vasculite mucocutânea de pequenos vasos. Ele também infecta células T CD4+, resultando em
supressão da resposta Th1e vários efeitos imunossupressores.
Pródromos: febre crescente, rinite, conjuntivite, fotofobia, faringite, tosse seca, rash macular ou
urticariforme
↓
2º ou 3º dias
↓
Manchas de Koplik (pápulas branco-acinzentadas na mucosa jugal – pré-molar*)
↓ 1-4 dias
Exantema
6
*Pode progredir para lábios, palato duro e gengiva. Também pode aparecer nas pregas conjuntivais e na
mucosa vaginal.
O exantema consiste de máculas e pápulas eritematosas ovais que confluem, inicialmente na fronte,
na implantação dos cabelos, retro-auricular e nuca, com progressão céfalo-caudal. Com o início do
rash, os sintomas começam a diminuir. Após cerca de 4-7 dias, evolui com descamação (céfalo-
caudal) e diminuição da temperatura axilar. A tosse é o sintoma que mais demora a desaparecer (10
dias).
Sarampo atípico –
- Vacinação com vírus morto (ou inadvertidamente inativado) – talvez pelo desenvolvimento
de complexos imunes circulantes formados devido à uma resposta imune anormal à vacina;
- Febre alta, tosse, cefaleia, dor abdominal;
- Rash petequial acral ou urticariforme, com edema de mãos e pés- pode progredir
centripetamente;
- Frequente pneumonia;
- Geralmente sem coriza e conjuntivite;
- Raramente sinal de Koplik;
- Pode haver marcada hepatoesplenomegalia, hiperestesia e parestesia;
Exantema vacinal –
- 5-20% dos vacinados;
- Não é infeccioso;
- Erupção macular transitória;
- Ocasionalmente púrpura trombocitopênica.
Infecção durante gravidez pode ocasionar perda fetal ou prematuridade. Desconhece-se padrão de
mal-formações congênitas.
Laboratório:
- leucopenia, linfopenia absoluta;
- alteração do hepatograma;
- sorologia (IgM detectável 1-2 dias do surgimento do rash, até 1 mês).
Tratamento:
7
- Isolamento respiratório (até 4 dias do início do rash e durante toda a doença nos
imunodeprimidos);
- Sintomático – atentar para complicações;
- Vitamina A – baixos níveis de retinol em crianças com sarampo foram associados a maior
morbidez e mortalidade. O sarampo diminui o retinol sérico:
- 6 meses e 2 anos – hospitalizados pela doença;
- > 6 meses com fatores de risco para envolvimento grave (imunodeficiência, desnutrição,
mal-absorção)
- dose 100,000UI entre 6 meses e 1 ano ou 200,000UI se > 1 ano – repetir no próximo dia e
após 4 semanas para crianças com evidência oftalmológica de deficiência de vitamina A.
- Reduz mortalidade até 60%
• Rubéola
Geralmente subclínica na infância. Pode cursar com febre baixa, mal-estar, conjuntivite, sintomas
respiratórios altos, principalmente em adolescentes e adultos.
Pródromos duram 1 a 5 dias, e depois surge o rash de rápida progressão céfalo-caudal. Ele é mais
comumente morbiliforme (mas pode se apresentar escarlatiniforme ou mesmo semelhante ao
eritema infeccioso), e geralmente dura 2-3 dias (não deixa descamação). Pode haver o sinal de
Forchheimer já no início do rash, que consiste de petéquias no palato mole. São comuns
adenopatias occipital e cervical posterior dolorosas.
Nos adultos pode cursar com artrite ou dor testicular.
Complicações: artralgia e artrite (predominantemente nas mulheres pós-puberais), hepatite,
miocardite, pericardite, anemia hemolítica, púrpura trombocitopênica, encefalite.
Tratamento:
- Sintomático
- Isolamento respiratório (até 7 dias do início do rash)
- Profilaxia com Ig.
• Escarlatina
8
É causada por uma exotoxina estreptocócica pirogênica de um foco de infecção ou colonização,
maioria por toxina A. Durante o curso da doença se produz um anticorpo contra a toxina, que não
confere proteção contra nova infecção pelo estreptococo. Por volta dos 10 anos de idade 80% das
crianças têm proteção permanente contra essas toxinas.
Afeta, primariamente, entre 4-8 anos de idade. Rara em menores de 2 anos, pois os anticorpos
maternos protegem e há necessidade de contato prévio com a toxina (hipersensibilidade para fazer
o exantema).
A infecção que mais está ligada à escarlatina é a amígdalo-faringite. O rash aparece em menos de
10% dos pacientes com esta infecção.
Começa com dor de garganta e febre de início abrupto. Depois de 1 a 2 dias surge o rash. Há
amígdalo-faringite exsudativa, eritema das membranas orais, petéquias no palato e na úvula, língua
em morango (branco e vermelho). O rash (eritema generalizado com aspecto de lixa) tem
início na base do pescoço, face e tronco superior, se generalizando em 1-2 dias, geralmente
poupando as palmo-plantas – mais intenso nas dobras (petéquias lineares – linhas de Pastia –
fragilidade capilar) – dura 5-7 dias. Pode ser acompanhada de cefaleia, náusea, vômito, dor
abdominal, mialgia, astenia, adenopatia generalizada e esplenomegalia. Segue descamação (face,
tronco, axilas e virilha), em grandes lâminas nas mãos e nos pés, que pode durar semanas. Pode
haver linhas de Beau e eflúvio telógeno.
Complicações: miocardite, febre reumática, GNDA.
• Dengue
Causada por vírus RNA do gênero Flavivírus, que tem 4 sorotipos. O sorotipo 3 é o mais virulento
(capacidade de multiplicação mais rápida no organismo – encefalopatia, hepatite e hipoglicemia).
Os vetores (fêmeas do Aedes aegypti e do Aedes albopictus – têm hábitos diurnos) se criam na
água. As fêmeas do mosquito transmissor depositam seus ovos nas paredes de recipientes escuros
ou sombreados com água mais ou menos limpa (não adianta apenas substituí-la – os ovos podem
resistir até 1 ano na parede de um recipiente seco).
O homem infectado pode contaminar o mosquito desde 1 dia antes da febre até 6 dias após, daí a
importância do uso do repelente nos doentes também.
A imunidade é soro-específica, de longa duração. Infecção prévia por um sorotipo favorece o
aparecimento de forma grave da doença.
O vírus injetado no homem replica no fígado, baço, tecidos linfóides e células sanguíneas , e
produz substâncias capazes de alterar a permeabilidade vascular.
9
cutânea e alterações do paladar. Dura cerca de 1 semana ( febre pode desaparecer mas outras
manifestações podem progredir).
A forma hemorrágica ou grave consiste do quadro citado, associado à trombocitopenia (< 100.000
plaquetas), hemoconcentração (elevação do hematócrito em 20%), serosite, hipoalbuminemia. A
principal causa de morte é o extravasamento para terceiro espaço causando choque hipovolêmico.
Diagnóstico:
- PCR e cultura viral (início)
- Sorologia (após 6 a 7 dias de doença).
Tratamento:
- Sintomáticos (paracetamol – evitar AAS);
- Hidratação vigorosa;
Tratamento sintomático.
10
Melhora em 3 semanas.
11