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FLORIANÓPOLIS
2010
1
FLORIANÓPOLIS
2010
2
___________________________________________
Prof. D. Sc. Josimar Ribeiro de Almeida
(UFRJ/USP)
Presidente da Banca Examinadora
___________________________________________
Profa. D. Sc. Lais Alencar de Aguiar
(UFRJ)
Membro da Banca Examinadora
3
RESUMO
ABSTRACT
This study presents a research which contextualizes the urbanized problems and the
difficulties of pluvial urban management. Besides the problem complexity itself, there aren't
any basic action mechanisms, as well as integrated management. The watershed management
including, urban drainage control, ends up as an extra urban use and soil use uncontrolled
problem. Because of that, managing plan cannot focus on deep rains but the urban soil. It´s
expected to keep the natural existing hydrograph, based on the basin before anthropic
interference, so that the focus is not to tubulate and drain the whole water as soon as possible
but infiltrate and keep it in the source by making use of appropriate dealing solutions, besides
that, there´s also interaction and interference of amounts of elements which contribute to form
the urban physical structure and their public and respective services, among them; wasting
gathering service, sanitation, erosion control and road structures. So rain drainage can only be
analyzed and properly developed as part of this complex system, which is, the urban one, and
the integration of all elements that must be at the basin ambit. It´s clear that the problem-
solving of both, urbanization and sanitation, when it comes to a basin, will be the guarantee of
the water salubriousness, their hydrographical system, the population, and environmental
quality life; not to mention the fact that soil impermeability is one of the most nefarious
impacts in urbanization and, the more unbalanced the relations between society and nature,
the more destructive is the flood and sliding slopes disasters like the one occurred in Itajai
valley, Santa Catarina state, Brazil in 2008. It´s also clear that most of the disasters involving
water matters either quantitative or qualitative, can be softened or solved with technical
dealing uses and preventive control on the source of it. Preventive work causes people to a
strong and participative attraction, interest in their “selves” welfare, benefitting directly from
its effects. Those are economically and viable alternatives raising our awareness of
environmental sustainability.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Tabela 1: Políticas públicas com reflexos na redução de desastres, seus objetivos e instâncias
de implementação. .................................................................................................................... 26
Figura 8: Cortes com altura excessiva e com muita declividade em áreas urbanas e sistemas
vários ........................................................................................................................................ 33
Figura 11: Corte na encosta com a confecção das bermas (terraços), com posterior colocação
Figura 12: Tipos de drenagem em encostas: vala revestida, canaleta pré-moldada e canaleta
moldada. ................................................................................................................................... 39
Figura 15: Proteção superficial do talude através de impermeabilização com asfalto, solo-
Figura 17: Selagem de trincas e fissuras com argila impermeável, com arbóreas ou gramíneas
na encosta. ................................................................................................................................ 42
Figura 22: Estabilização de encosta com muro gabião, aterro adensado, solo grampeado e
Figura 24: Interface entre os planos. (UED = Unidade Executiva Descentralizada). .............. 55
Figura 28: Paisagismo, ruas que não geram aumento do escoamento (sem meio fio) ............. 62
Figura 30: Exemplo de uso adequado de áreas baixas. No exemplo superior, tempo bom. No
Figura 31: Passeios públicos (a água escoa sempre para a área de infiltração)........................ 64
Figura 33: Escola de Arte e Design da Universidade de Nanyang em Singapura, onde telhados
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10
5 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 73
GLOSSÁRIO .......................................................................................................................... 80
ANEXOS ................................................................................................................................. 86
10
1 INTRODUÇÃO
conscientizamo-nos de que eles não podem ser abordados isoladamente. São problemas
sistêmicos, interligados e interdependentes. Vive-se uma era de limites impostos pela ação
suporte, e já são visíveis alguns sinais de colapso dos sistemas vivos e as catástrofes naturais
O objetivo deste estudo é apresentar uma visão integrada da gestão das águas
pluviais urbanas em uma abordagem cujo planejamento das ações considera questões de
população, que sofre com inundações, deslizamentos de terra, doenças de veiculação hídrica e
É uma ilusão pensar que o ser humano está separado do meio ambiente e que
pode agir sobre este sem sofrer as conseqüências do que faz. Além de compreender
deixar-se inspirar pelo sentimento da comunhão com a natureza. Assim, aprende-se a colocar
cada um dos processos econômicos e sociais a serviço da vida, não colocar a vida a serviço
dos processos.
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oportunizado por experiências de contato direto com o mundo natural, é fonte de inspiração
eles.
conceito de gestão integrada de águas pluviais, demonstra sua importância em áreas urbanas,
e exalta a necessidade da gestão dos recursos hídricos, visto que o recurso água é
indispensável à vida, mas pode, também, ser responsável por grandes perdas humanas e
materiais diante da ocorrência de eventos extremos. Além disso, propõe reflexões sobre
global como base para a construção de uma civilização mais ética e solidária.
Este material é voltado a todos que de alguma forma atuam no meio ambiente
percepção da unicidade reinante em tudo que há. Faz-se necessária uma abordagem conjunta e
dentro de uma visão global, seja lançada a ideia mestra desta nova forma de conceber a vida, e
que cada um individualmente internalize o sentido deste todo e possa agir localmente em prol
deste objetivo que é de todos e é de cada um. Precisam-se mudar as ações das pessoas, pois as
reações do planeta já dão sinais do desequilíbrio instaurado pela ação insensata do homem. Os
“desastres climáticos” são cada vez mais frequentes e violentos, assim como no dia-a-dia da
população cada vez mais se impõem as dificuldades criadas pela atual organização urbana.
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Atribuir qualidade e saúde à vida e ao meio ambiente, portanto, é uma meta a ser alcançada
coletivamente.
livros, textos monográficos e por acesso a diversos sítios na rede mundial de computadores. O
Ao longo do texto será abordada a estreita relação entre o uso do solo e águas
pluviais urbanas.
básicos para a gestão sustentável das águas pluviais, além de sugerir soluções de manejo e
controle das águas pluviais na fonte como forma de minimizar os impactos atuais e
A forma de uso e ocupação do solo urbano acontece, não raro, de maneira não
NASCIMENTO (1998) uma bacia hidrográfica adquire uma determinada forma física de
As águas das chuvas escoam e infiltram-se pelo terreno, interagindo com solos e rochas,
modificando-os e definindo seu percurso de escoamento de acordo com a forma que o terreno
assumiu. Esta condição natural é modificada pela ocupação urbana, que transforma o relevo,
impermeabiliza grandes áreas e acaba alterando o percurso natural das águas. Os rios e valas
urbana.
Observa-se que, nas últimas décadas, grande parte dos problemas urbanos
relativos à drenagem foi gerada por alguns fatores isolados, os quais, porém, quando juntos,
Além das inundações, a ocupação das áreas de encostas íngremes nas cidades
pode levar a muitas mortes em períodos chuvosos, em virtude do escorregamento de terra pela
sustentáveis.
tem-se cada vez mais água a escoar (impermeabilização progressiva dos terrenos) e,
Este conflito tem levado planejadores a considerar outras possibilidades de soluções além das
convencionais de engenharia.
drenagem numa bacia podem ser divididas em medidas estruturais e não estruturais. As
represas, novos canais e galerias etc.; as medidas não estruturais referem-se a plano diretor de
Urban Areas (IRTCUD) (1997 apud NASCIMENTO, 1998), as medidas não estruturais
drenagem urbana que envolve o planejamento urbano integrado, concepção em que o sistema
de drenagem faz parte de um sistema muito mais amplo de infraestrutura urbana. A concepção
dessas medidas não pode ser dissociada da problemática do lixo, dos esgotos sanitários, do
sistema viário, do zoneamento urbano, do uso do solo, da cobertura vegetal das áreas de
galerias. A vantagem dessas medidas é que, em geral, elas são menos dispendiosas, de fácil
básicos como rios, córregos, valas e outros escoadouros da bacia de captação. A localização
problemas de drenagem.
de manter solos férteis e climas estáveis, de manter águas de boa qualidade e repor estoques
que tenham como fundamento a visão da bacia como um todo e a adoção de medidas não
desenvolvimento sustentável. Cada vez mais as águas pluviais urbanas necessitam ser tratadas
de forma integrada com outros sistemas. Nas últimas décadas, aumentou muito o lixo urbano
proveniente de embalagens plásticas com pouca reciclagem e garrafas do tipo pet que acabam
da sustentabilidade nas cidades brasileiras impõe ainda mudanças profundas nos sistemas de
limpeza urbana.
gerenciamento atual não tem a prática de preveni-los, pois uma vez declarado calamidade
pública, o município recebe recursos a fundo perdido e não necessita fazer concorrência
pública para gastá-los. Aliada a esta postura está a população, que associa uma boa gestão ao
número de obras construídas. Por outro lado, a adoção de medidas não estruturais desagrada,
os ambientais.
viários, somada à canalização das águas, é um dos mais nefastos impactos da urbanização. O
que se observa é um aumento da gravidade dos alagamentos e das cheias e uma intensificação
dos processos erosivos dos solos, trazendo desastres para as populações, para o meio ambiente
e para a qualidade de vida das cidades. Impõem-se nesse contexto uma reorganização do uso
disponíveis.
a progressiva ocupação dos espaços urbanos pelo transporte, devem passar à luz da
criar espaços de convívio, substituir combustíveis fósseis por alternativas menos poluentes e
veiculação hídrica ou que podem ser transmitidas por vetores que se reproduzem em ambiente
pode, pela toxidade, provocar doenças degenerativas do fígado, como câncer e cirrose. A
particular, com a gestão do uso e ocupação do solo. O manejo das águas pluviais urbanas
vislumbra uma relação direta entre a forma do uso e da ocupação do solo com a infraestrutura
de saneamento.
que a interferência do homem tem causado muitos danos em diversas regiões da terra: níveis
altos de contaminação da água, do ar, da terra e dos seres vivos; desequilíbrios da biosfera;
graves deficiências nocivas para a saúde física, mental e social do ser humano no meio por ele
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meio ambiente são resultado de carros e mais carros que são lançados diariamente para um
espaço virtual, provocando engarrafamentos, acidentes, agressões pela emissão de uma massa
gasosa, vapores, poeiras, fuligens, ruído, vibração. O Brasil é um dos cinco maiores emissores
inalação de poluentes equivale a fumar oito cigarros. Até mesmo aquele que está em sua casa
ou escritório é acometido por toda essa poluição gerada pelo transporte. Outro dano causado
ao organismo é o barulho produzido pelo transporte, que causa lesão irreversível ao ouvido
interno, inicialmente um zumbido, o qual evolui para perda auditiva, culminando com a
surdez e, com ela, incapacidade, limitações e custos à saúde. A vibração produzida pelo
das articulações e do sistema circulatório à medida que permite liberar placas de gordura ou
repetitivos ao dirigir, pode desenvolver Lesão por Esforço Repetitivo (LER) ou Doença
tendinites, doenças articulares; estresse psicológico, por exemplo, pelo medo de acidentes,
síndrome depressiva, síndrome do pânico e outras fobias; estresse social pela preocupação
com o trabalho, a família, a situação econômica, a falta de apoio direto à esposa e aos filhos.
Dependendo da capacidade de tolerância e adaptação de cada um, o estresse pode evoluir para
o “Road Rage” (violência no trânsito), que é hoje responsável por agressões e mortes. Além
disto, a massa gasosa, poeiras e fuligens são capazes de gerar problemas respiratórios como
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rinite, sinusite, laringite, traqueíte, bronquite, irritação conjuntival, acne pela obstrução dos
poros cutâneos da face e alergias que acometem mais crianças, idosos e gestantes. No inverno
este quadro se agrava pela dificuldade de dissipação dos poluentes atmosféricos. Uma das
escoamento superficial aumenta, pois não mais dispõe das plantas que faziam com que o
escoamento fosse mais lento e houvesse uma maior infiltração das águas. Com a redução da
infiltração, o aquífero tende a diminuir o nível do lençol freático por falta de alimentação.
químicos e biológicos, que são violentamente alterados quando o ser humano atua e se
retroalimentação negativa, ou seja, num ciclo de contaminação das águas que, por fim,
asfalto, absorvem parte da energia solar. Mais ainda quando o asfalto escurece com o passar
do tempo e, pela própria cor, aumenta a absorção de radiação solar e a consequente emissão
de radiação térmica que, de volta para o ambiente, gera mais calor. A partir daí ocorre um
aumento da temperatura ambiente, produzindo ilhas de calor na área central urbana. Nestas
ruas, avenidas e rodovias. A produção de sedimentos traz como consequência a erosão das
reduzindo o escoamento de condutos, rios e lagos urbanos; contaminação das águas pluviais
densificação consolidada, a produção de sedimentos pode reduzir, mas surge outro problema
que é a produção de lixo. O lixo obstrui ainda mais a drenagem e cria condições ambientais
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ainda piores, a menos que ocorra uma adequada e frequente coleta e educação da população
sobre isso.
no esgoto in natura. Os poluentes que ocorrem na área urbana são desde compostos orgânicos
gases dos veículos e indústrias e a queima de resíduos se depositam nas superfícies e são
lavadas pela chuva, chegando aos rios e, assim, os contaminando. Dentre os poluentes
sanitários em áreas de recarga de aquíferos e procurar áreas com pouca permeabilidade, pois
subterrâneas. A utilização de fossas sépticas como destino final do esgoto tende a contaminar
via de regra, trazendo prejuízos à população à medida que fundamenta os projetos na visão de
que a melhor solução é retirar a água pluvial o mais rápido do seu local de origem e
considerar a bacia por trechos isolados. Desse modo, transfere para a jusante todo o volume
das águas, aumentando a vazão, ou seja, transfere a inundação de um lugar para outro 1. Além
disto, segundo TUCCI (2006), com a expansão urbana para montante e o consequente
existente e a necessidade de aumento das seções de canalização. Segue assim até que, perante
aprofundamento do canal com custos que podem chegar a US$ 50 milhões por quilômetro. A
sociedade paga um preço muito alto seja porque o custo desta solução é em torno de 1.000% a
mais do que soluções de amortecimento, e porque ocorre um aumento das inundações para
população de jusante. (TUCCI, 2006, p. 81). Normalmente o corpo técnico justifica adotar
esta solução estrutural pela falta de espaço para soluções de amortecimento. No entanto, com
representam somente 1% na bacia hidrográfica e podem ser distribuídas por diferentes áreas
O importante é ter uma visão ampla da bacia em estudo e projetar uma solução
criativa que atenda o conceito da não transferência de impactos para a bacia. Caso contrário,
com o passar dos anos o impacto pelo aumento do desenvolvimento urbano à montante
restarão apenas soluções de alto custo, como o aumento do fundo do rio pelo seu
aprofundamento, e aumento de sua rugosidade, túneis de desvios, entre outros. Estas são obras
_______________
1
Quando a água é tubulada em um local alagável, ao invés de tratar o problema no local, com soluções
de amortecimento, transfere-se toda a água para jusante. Esta área à jusante que recebe mais esta
quantidade de água, então, precisa aumentar a sua tubulação, pois ocorreu um aumento na vazão.
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ambientais e socioeconômicos.
24
principalmente os localizados no vale do Itajaí - nas regiões do médio vale e foz do rio Itajaí.
O evento foi alvo de atenção da imprensa nacional e colocado de forma a difundir a ideia de
as forças da natureza. Mas não é assim que os especialistas vêem o fenômeno. O fato de a
região apresentar um dos maiores índices de desenvolvimento humano (IDH 850) registrados
entre as regiões metropolitanas brasileiras versus uma comunidade altamente vulnerável aos
aplicação de recursos públicos (barragens no alto vale, melhoramentos fluviais, canais, diques
e comportas) - fez com que os técnicos se perguntassem por que isso ocorre. Infelizmente
problemas complexos não admitem soluções simples e tende-se a assumir uma espécie de
“fatalismo passivo”.
desastre e fatores sociais que incubam os impactos do desastre. Não existe o desastre por
inundação se não ocorrer chuvas intensas, também não existem desastres sem população
afetada. Pode-se, então, dizer que o que aconteceu no vale do Itajaí foi a materialização dos
riscos produzidos pela interação constante de variáveis naturais e sociais ao longo do processo
precipitação intensa, solos frágeis e relevo acidentado muito dependente da cobertura vegetal
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para sua proteção. Como variáveis sociais a região apresenta desenvolvimento baseado na
derrubada da floresta, na ocupação das margens dos rios e das encostas para habitação e
vulnerável aos desastres. A não percepção da relação entre estas variáveis e de intervir
no período pós-impacto foi sendo incubada socialmente por ações cotidianas e de escolhas
políticas. Por exemplo, altera-se o plano diretor para permitir aterros em áreas inundáveis sem
problemas sociais. Quanto mais desequilibradas as relações entre sociedade e natureza, mais
e críticos, de governantes mais responsáveis para com a vida, de forma que sejam produzidas
existem leis federais capazes de minimizar a vulnerabilidade socioambiental à medida que tais
leis preveem ações no âmbito da União, Estados e municípios, conforme indica a tabela 1.
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Tabela 1: Políticas públicas com reflexos na redução de desastres, seus objetivos e instâncias de
implementação.
Fonte: Frank e Sevegnani (2009, p. 56). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).
estar das comunidades, para a proteção dos recursos naturais e segurança das populações. São
elas que deveriam nortear as políticas públicas municipais, para reduzir a vulnerabilidade das
de encostas e corridas de massa. No vale do Itajaí a face mais trágica do desastre de 2008,
1) Rastejo (ver figura 1): consiste de movimentos lentos com maior velocidade
intermitentes, podendo incluir solo, rocha alterada e fraturada. Pode-se percebê-los pelos seus
efeitos. Podem ser diagnosticados pela presença de árvores e postes inclinados, muros
escoamento rápido e de grandes dimensões, podendo atingir vários quilômetros. Podem ter
naturais nas encostas íngremes, porém os cortes na base, no meio e no topo, para construir
vidas. Após longos períodos de chuvas, seguidos de uma precipitação intensa, é que ocorrem
desequilibra-se, o acréscimo de água provoca liquefação da massa do solo, que passa a fluir
encosta abaixo, levando tudo por diante, podendo inclusive se transformar em corrida de
secundários, aumentando seu poder destruidor, com velocidade de dezenas de quilômetros por
hora. É como um trator levando pedras, vegetação, cultivos e construções que estejam em seu
podem envolver de pequenos até grandes volumes de solo ou rocha, com deslocamento rápido
Nos escorregamentos circulares o solo já encharcado, com a sobrecarga de uma chuva intensa,
atinge seu limite de resistência e a massa inicia um processo de reacomodação encosta abaixo.
facilitando a infiltração de mais água e iniciando o movimento de descida. Quando esta massa
sistemas viários.
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superfície até o contato da rocha subjacente e são comuns nas serras litorâneas (ver figura 6).
formas variadas que, ao se desprenderem das encostas caem ou se movem sobre um plano
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1)Cortes nos morros (figura 8): os cortes nos morros sejam na base, no meio
deslizamentos. Os cortes devem ser evitados, mas quando imprescindíveis devem seguir
Figura 8: Cortes com altura excessiva e com muita declividade em áreas urbanas e sistemas vários
Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 86). Adaptação por Maiana Fontoura
(2010).
vegetação pré-existente e sem boa drenagem, são instáveis e tendem a escorregar durante ou
ramos e folhas que protegem o solo da erosão superficial. Com o passar dos anos, as raízes
das árvores cortadas apodrecem, deixando vazios dentro do solo, pelos quais a água entra
saturando este e sobrecarregando-o. Tal fragilidade leva longo período de tempo para ser
de massa. Já nas encostas cobertas por florestas nativas bem desenvolvidas e em bom estado
apresentam uma homogeneidade dos sistemas radiculares e de copas que altera a dinâmica da
intensamente pastejadas pelo gado, o solo fica compactado e, como o sistema radicular é
superficial, não atende a uma ancoragem profunda do solo nas encostas. Com muita chuva
ocorre pouca infiltração e a água escoa sobre a superfície, provocando erosão superficial e
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alagamento das planícies abaixo. Percebe-se que todos estes fatores interferem isolada ou
os habita.
dragagens dos canais potencializam a intensidade das inundações bruscas, bem como a
gravidade dos danos que causam. A remoção da mata ciliar que acompanha os cursos d’água
favorece a erosão das suas margens e promove o assoreamento de sua calha, tornando tais
água pela galeria ou tubulação, erodindo o entorno e causando danos a outras edificações. Os
cidadãos que lançam resíduos sólidos (lixo) e entulhos nos rios e córregos que margeiam suas
gerando represamento em locais impróprios, com riscos de rompimentos bruscos que causem
dragagens dos cursos d’água ou planícies lindeiras provocam o confinamento do rio na sua
calha com aumento da velocidade da água e do seu potencial erosivo. A jusante do trecho
poderá aumentar a inundação e o poder destrutivo do rio quando o nível estiver elevado. A
retificação e drenagem dos cursos d’água alteram a dinâmica da água e suas margens, a
extensão do rio e o ecossistema fluvial (a vida aquática e a existente nas margens dos rios).
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desastre socioambiental de 2008 precisa ser analisado de vários ângulos a fim de se coletar
dos problemas por parte dos planejadores e tomadores de decisão. Todas as atividades
manutenção do nível de água nos rios, o controle do clima, a purificação do ar, a regeneração
de áreas degradadas etc. Os espaços que o ser humano ocupa e nos quais constrói sua casa
refletem sua intervenção nos ambientes. O homem afeta e é afetado pelos ecossistemas. A
humanidade representa uma ligação importante na teia da vida: as pessoas são seres
ecológicos porque fazem parte da natureza e dependem dela para viver. Pessoas que moram
em áreas de risco consideram os rios e encostas ameaças, sem levar em conta a forma como
ocuparam o espaço. Portanto, há que se considerar os fatores naturais associados aos fatores
dos proprietários e dos agentes públicos. O cidadão sente-se impotente diante das enchentes e
enxurradas. Diferente são as exigências diante dos movimentos de massa que exigem ações
contenção de encostas. Estas medidas apresentam altos custos e técnicas rigorosas para serem
eficazes. A situação é muito grave, pois quando executadas sem os devidos critérios técnicos
podem sugerir a falsa sensação de segurança e contribuir para o próximo desastre. Diante de
com materiais naturais tipo cobertura vegetal e com materiais artificiais tipo
procedendo cortes na parte superior e aterros na parte inferior. A geometria final dos taludes
ser sempre iniciada no topo e seguir em direção à base. O material retirado não deve ser
tiver propriedades físicas adequadas, o material pode ser colocado na base da encosta,
aumentando a estabilidade desta. Devem ser evitados materiais como argilas orgânicas
Figura 11: Corte na encosta com a confecção das bermas (terraços), com posterior colocação de
canaletas para drenagem
Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 183). Adaptação por Maiana Fontoura
(2010).
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Figura 12: Tipos de drenagem em encostas: vala revestida, canaleta pré-moldada e canaleta moldada.
Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 184). Adaptação por Maiana Fontoura
(2010).
pelo talude. Toda vegetação e solo orgânico na base do talude devem ser retirados para, então,
da água.
drenagens podem ser superficiais (meio tubo, valas revestidas e canaletas) representadas nas
estruturas de contenção ou barbacãs (ver figuras 13 a 16). É necessário considerar toda a área
40
caixas de dissipação de energia para evitar a erosão. O objetivo destas estruturas é retirar a
encostas. Em estruturas de contenção como muros utilizam-se os barbacãs (ver figura 16).
Figura 15: Proteção superficial do talude através de impermeabilização com asfalto, solo-cimento ou
argamassa e drenagem tipo barbacãs.
Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 186). Adaptação por Maiana Fontoura
(2010).
mas se pode utilizar árvores. Deve-se evitar o uso de espécies não nativas como pinus,
eucaliptos e bananeiras. Diferentes coberturas vegetais têm ação distinta sobre o movimento
profundos. Quando a inclinação dos taludes é muito acentuada, utilizam-se telas ou grampos
para fixar as placas de grama, evitando escorregamento e/ou morte das placas. Se ocorrerem
trincas e fissuras nas encostas, a solução pode ser a utilização de argila para preenchimento
das mesmas.
Figura 17: Selagem de trincas e fissuras com argila impermeável, com arbóreas ou gramíneas na
encosta.
Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 187). Adaptação por Maiana Fontoura
(2010).
ancoragem com auxílio de tela grampeada, mas o talude deve estar previamente aplainado,
sem materiais soltos (pedras, entulhos e resíduos vegetais) e com instalação de sistema de
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drenagem do tipo barbacãs. Em áreas urbanas a aplicação de materiais artificiais deve ser
dependendo da altura do talude. Para taludes de até 1,5 m de altura podem-se utilizar muros
de pedras; para contenção de taludes de até 3,0 m de altura o recomendado é o muro de pedra
argamassada; os muros de concreto armado (ou não) são recomendados para taludes com mais
de 4,0 m de altura, porém têm custos mais elevados e utilizam contrafortes de base em forma
de “L” ou “T”; os muros de gabiões constituem caixas formadas por armação de fios
metálicos preenchidas por pedras, e são recomendados para pequenos cortes e aterros. No
do tipo barbacã, dreno de areia, brita ou pedra rolada, e de estudos detalhados da geometria,
Figura 22: Estabilização de encosta com muro gabião, aterro adensado, solo grampeado e cortina
ancorada.
Fonte: Juarez J. Aumond (2008 apud FRANK; SEVEGNANI, 2009, p. 191). Adaptação por Maiana Fontoura
(2010).
têm custos elevados e devem ser aplicados quando outras soluções não são possíveis. Servem
para estabilização de blocos de rochas instáveis, ou para conter materiais alterados (não
rochosos).
inadequadas ou mal dimensionadas pode não resolver (e até mesmo agravar) a situação em
correto é fundamental para a escolha da técnica adequada a cada caso. Recomenda-se, além
e de geotecnia devem se adaptar ao meio, e não o contrário; se deve evitar, sempre que
água nas cidades e diz respeito à visão integrada dos usos e impactos na bacia hidrográfica,
aceleração do escoamento pelo transporte, pelo meio fio, por bueiros, condutos e canais. Esse
principal causa dos impactos negativos. O planejamento setorial tem sido a principal causa
dos problemas gerados e dos investimentos inadequados. A gestão integrada dos componentes
sustentabilidade. O processo fragmentado da gestão das águas urbanas precisa ser revisto e
A área de drenagem foi muito impactada por implicar um serviço prestado por
diferem de um município para outro e comprometem o objetivo básico deste serviço público:
uma bacia hidrográfica; logo, municípios cujos territórios compartilham a mesma bacia
devem também compartilhar a gestão dos serviços. Neste sentido, a Lei nº 11.445/07 em seu
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Art. 48, X, aponta a bacia como unidade de referência para o planejamento das ações de
saneamento.
Desta maneira, a gestão de águas pluviais deve ser coordenada pelas diferentes
autoridades políticas de forma que se consiga gerir integralmente esse recurso dentro da bacia,
Nas propostas relativas às soluções de drenagem o ideal é fazer com que seja
retomado o ciclo hidrológico natural da bacia, com medidas que favoreçam a infiltração da
água no solo, ou se utilizar de técnicas compensatórias que criem condições as mais próximas
11.445/07 é pouco abrangente, pois apenas faz referência aos elementos estruturais que
compõem este sistema, e não considera que os serviços de drenagem pluvial urbana fazem
parte de um sistema complexo de uso e gestão dos recursos hídricos em meio à busca de se
encontrar soluções para os impactos presentes e seus desdobramentos futuros. A Lei não faz
referência nem projeta questões como: o crescimento demográfico e o aumento das demandas
para o consumo de água; as mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre os processos
Com efeito, quando a urbanização nas cidades aumenta, também aumenta o efeito “ilhas de
relação aos sítios da periferia. Esse aumento de temperatura aumenta também a intensidade
das chuvas de curta duração. Por outro lado, a expansão da impermeabilização pela
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compactação do solo, pela pavimentação de vias e de calçadas e pela ocupação dos lotes com
construções adensadas causa aumento significativo dos deflúvios superficiais nas áreas
situadas à jusante. Esta água entra em contato com diversos poluentes, comprometendo sua
qualidade e, quando lançada no corpo d’água receptor, pode contaminar rios, lagos e
aqüíferos subterrâneos. Além disso, a poluição difusa está relacionada com a ocorrência de
Saneamento Básico passou a ser uma exigência das boas práticas de gestão das águas urbanas,
foram introduzidas. Dessa forma as águas pluviais passam a integrar a paisagem urbana e
deve se preconizar a manutenção dos cursos d’água em seus leitos naturais, ou seja, não
devem contemplar a bacia como um sistema, adotando soluções com a visão de conjunto de
Drenagem, além de uma ação pública preventiva por meio de gerenciamento. Devem ser
adotados critérios sustentáveis partindo-se de duas premissas: nenhum usuário urbano pode
ampliar a cheia natural e a ocupação do espaço urbano e a drenagem das águas pluviais deve
serviço público de drenagem e manejo de águas pluviais urbanas deve levar em conta, em
intensidade. Diante destes graves problemas ambientais percebe-se um avanço nos discursos
urbanas. Neste contexto ganham destaque as medidas não estruturais, pois estas tratam não só
dos problemas específicos das enchentes, mas, sobretudo, do uso racional do espaço urbano,
drenagem pluvial, integrando-a na prática aos problemas ambientais e sanitários das águas
urbanas, em estreita interação com a qualidade das águas pluviais como recurso hídrico
alinha-se com as práticas de infiltração, contenção, reuso, detenção das águas pluviais nas
fontes geradoras de deflúvios superficiais como lotes, praças, parques e o sistema viário.
promissor para a utilização das águas das chuvas, captadas pela bacia hidrográfica, no
condomínios habitacionais pode ser eficientemente realizado por meio de um paisagismo que
hidráulicos eficazes para redução dos efluentes pluviais de áreas urbanizadas e podem ser
conhecimento dos problemas das águas urbanas e buscam novas abordagens e novos
diversos atores envolvidos. As questões são sempre atuais, exigindo constante e ampla
variadas esferas que compõem as forças sociais da cidade. A figura 23 a seguir apresenta um
os recuperando, tanto na área interna da cidade, quanto na externa mais a jusante. Desta forma
O Plano Diretor da Cidade é a base para tão complexa análise e nele deve se
integrar o Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDU), que é fundamental para a gestão das
águas pluviais urbanas. Devido à interferência que a ocupação do solo tem sobre a drenagem,
existem elementos do Plano de Drenagem que são utilizados para regulamentar os artigos do
legislação, regulamentação e medidas não estruturais para o espaço urbano ocupado e não
quanto às questões relacionadas com o uso e a ocupação dos espaços urbanos e às medidas
é o instrumento utilizado para planejar o controle dos impactos dentro da cidade e orientar as
alguns locais, mas estarão associadas à visão do conjunto de toda a bacia onde estas estarão
7) O controle não deve ser feito por trechos isolados e sim considerando a
estabelece as linhas principais do Plano Diretor de Drenagem Urbana; o controle através das
essencial para que as decisões públicas sejam tomadas conscientemente por todos;
da drenagem urbana deve ser transferido aos proprietários dos lotes, proporcionalmente a sua
águas pluviais;
fiscalização da regulamentação.
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A gestão das águas pluviais deve, entre outras coisas, estimular a elaboração de
fenômenos de precipitação e escoamento ao novo meio físico criado pela ocupação urbana,
plano urbanístico, com o crescimento urbano, com a gestão das águas superficiais e
reúne as atividades de captação dos escoamentos de superfície por meio de uma infraestrutura
que abrange toda a malha viária de uma cidade, suas sarjetas, suas caixas de captação e sua
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por onde escoam os cursos d’água, ou seja, constitui-se nos meios receptores dos escoamentos
A percepção de que grande parte dos problemas urbanos atuais - tanto do ponto
de vista quantitativo como qualitativo das águas pluviais, como saúde, poluição, mobilidade -
medidas cuja implantação traz consigo um custo-benefício que justifica que estas sejam
sistema viário, priorizando-se medidas que não aumentam o escoamento, a contaminação das
e paisagísticas implantadas em cada lote urbano que, além de ter o solo impermeabilizado e
consequentemente pouca infiltração da água da chuva, não retém nem parcialmente as águas
que caem dos telhados. O pouco que cada lote contribua na retenção de água na bacia diminui
de caráter não estrutural, tanto pela eficiência em solucionar o problema na fonte como pela
infiltração de pequeno porte elimina a necessidade de uma estrutura central de grande porte. O
d’água, protegendo-os da degradação, à medida que impedem que a ação erosiva da chuva
valas de infiltração e canteiros nas áreas centrais e/ou contíguas às vias. O processo natural
desempenhado pela cobertura vegetal é um dos fatores que mais afetam a produção de água
podem ter diferentes formatos e que são assentados numa camada de areia onde os espaços
vazios são preenchidos com material granular ou grama. Suportam normalmente veículos
conservação periódica, com jateamento ou varredura a vácuo, para retirada do sedimento fino
pluviais. A vala deve ter proteção para evitar erosão quando a velocidade da água for alta.
reter o deflúvio. A água vai se infiltrando no solo através do fundo e das paredes. Recomenda-
4.1.3 Paisagismo, ruas que não geram aumento do escoamento (sem meio fio) e
Recreação Urbana
62
verdes que facilita a infiltração das águas pluviais e possibilita caminhadas agradáveis com
Figura 28: Paisagismo, ruas que não geram aumento do escoamento (sem meio fio)
Fonte: Tucci ([20--], p. 41).
Figura 30: Exemplo de uso adequado de áreas baixas. No exemplo superior, tempo bom. No inferior,
chuva e área inundada.
Fonte: Mascaró (1989 apud NASCIMENTO, 1998, p. 17). Adaptação por Maiana Fontoura (2010).
pessoas e no contexto urbano. O passeio público ideal é aquele que oferece condições para um
obstáculos, sem degraus entre os terrenos, facilitando a mobilidade, com mobiliário urbano
Existem diversos tipos de pisos que permitem a drenagem das águas pluviais e alimentam o
lençol freático. O plantio de árvores, arbustos e grama enriquecem a paisagem urbana e traz
Figura 31: Passeios públicos (a água escoa sempre para a área de infiltração).
Fonte: Tucci ([20--], p. 39).
uma das prioridades mais comuns as obras do sistema viário que têm como objetivo
primordial dar vazão ao grande número de veículos existentes. O foco de atenção das políticas
caminhar e pedalar. As áreas urbanas vão se adaptando sem muito planejamento, com a
abertura de novas vias, construção de túneis, viadutos e pontes. Como resultado, têm-se sérios
de energias não renováveis. O contexto é agravado pelo pouco incentivo do poder público
mais antiga e básica de transporte humano, constitui-se no modo de transporte mais acessível
e barato.
servir para facilitar a circulação de pedestres, vão sendo ocupados pelos estacionamentos,
pelo comércio informal, pela ampliação das ruas e avenidas, pela inserção de sinalização e até
elaboração da legislação urbanística, assim como contribuir para que as cidades sejam
oportunizando a implantação de uma política de mobilidade que traga mais qualidade de vida,
infiltração das águas pluviais, promove o conforto térmico com a absorção do calor diurno e a
adequado das raízes, evitando danos nos pisos dos passeios e proporcionando sombreamento,
pessoas com alguma deficiência física ou com dificuldades de locomoção, idosas, gestantes,
mães com carrinho de bebê etc. A dimensão disponibilizada para a implantação do passeio é
fundamental para o conforto e convívio dos pedestres, devendo ter no mínimo dois metros de
conscientização da população.
exemplo da cartilha disponibilizada pela Prefeitura de São José dos Campos disponível
integralmente no Anexo A.
da urbanização. Esse dispositivo funciona muito bem em áreas onde o adensamento das
construções tem um nível elevado, pois reduz o escoamento pelo aumento da área verde e
pela evapotranspiração.
diminuindo a poluição atmosférica, assegura efeito visual e estético aos edifícios, agregando
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valor comercial aos empreendimentos e cria condições de vida natural, provendo um habitat
prática mostrou-se muito difícil no passado. Hoje, com o aquecimento global, o aumento das
poder público, das empresas privadas e dos cidadãos. As coberturas verdes se beneficiaram da
Basicamente, para sua instalação, é necessário uma laje estrutural suficientemente resistente e
alguns cuidados para garantir impermeabilização e boa drenagem. Além disso, deve-se ter
cuidado na escolha das plantas em função de suas características, resistência e porte. A figura
curta duração, podendo reter até 75% da chuva, que é liberada, via condensação e
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fatores decisivos, pois cerca de 27% da radiação solar incidente é refletida, 60% é absorvida
especialmente nas cidades com alta densidade, possibilitando às pessoas uma alternativa de
acesso a espaços verdes, além de todo o encantamento que essas coberturas promovem (ver
Figura 33: Escola de Arte e Design da Universidade de Nanyang em Singapura, onde telhados e
gramas variam de horizontais a quase verticais.
Fonte: Dunnet e Kingsbury (2008 apud REMOR, 2009, p. 18).
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ocupação intensa e desorganizada é uma prática que costuma ter bons resultados.
nos picos das cheias nas áreas urbanas, permitindo que seja mitigado em parte o impacto da
erosivos nas margens e tendo o conseqüente assoreamento dos leitos de córregos e rios.
de água de chuva deve servir como instrumento de gestão urbana no que se refere às
70
drenagem.
entretanto consiste em um recurso limpo se comparado a alguns rios onde é captada água para
redução do volume de água a ser captada e tratada, uma vez que minimiza o uso de água
por um sistema de calhas e tubulações até um reservatório, para então ser utilizada em
diversos fins, como jardinagem, esgotamento sanitário, lavação de veículos etc. Na região
com poeira, folhas ou resíduos de pássaros, devem ser descartadas. O reuso pode ocorrer em
nível individual, dentro do lote; em nível municipal, pode ser retida em lagos para irrigação de
detenção na área urbana, podendo propiciar a recarga do aqüífero subterrâneo e, muitas vezes,
presentes na mesma.
kits que viabilizam a filtragem e descarte das primeiras chuvas. Deste modo, a água da chuva
pode ser aproveitada para muitos fins, dentre outros: em indústrias (resfriar máquinas e
71
Portanto, a água da chuva pode representar uma fonte alternativa de água para
consumo, desde que passe por um sistema de filtragem e seja direcionada a reservatórios e,
Porto Alegre têm adotado legislações específicas sobre a retenção da água da chuva em
5 CONCLUSÃO
manejo das águas pluviais. Ele promove um questionamento sobre o modo de vida e os
padrões que a sociedade adota hoje, e sugere a revisão de alguns parâmetros culturais
Nas últimas décadas a substituição das áreas naturais por áreas urbanizadas foi
do solo, articulado com a gestão das águas pluviais, quando tratado no âmbito da bacia
hidrográfica é determinante na redução dos impactos ambientais, assim como nos custos
econômicos e sociais para o governo e sociedade. Este gerenciamento integrado reduz o risco
maneira contundente nas relações e dinâmicas antes estabelecidas. Ficou evidente que, para
dependem intimamente do grau de interferência inadequada que o ser humano fez dentro do
seu espaço. Os desastres podem ser maiores diante de certas situações de agravo ou atenuados
naturais; portanto, pode-se alterar para melhor as formas como as intervenções humanas
atuam na paisagem.
públicos interagem entre si e integram-se num único corpo, que é a própria cidade. As
homem necessitam de uma leitura sistêmica que considere os resultados sinérgicos dos
diferentes elementos que compõem o meio. Este é o caminho adotado para explicar os
evitar desastres só é válida se a tomada de decisão for feita a partir de uma base científica
que não somos capazes de deter os fenômenos naturais. Toda e qualquer situação desastrosa é
único fator ou variável, mas de um conjunto destes, que determinam as condições do meio;
logo, para tomar decisões, mesmo que sob a perspectiva de um único fenômeno, é necessário
fenômeno e compõem a paisagem. Essa é uma tarefa complexa, pois exige uma leitura
metas de desenvolvimento que têm por finalidade a melhoria da qualidade de vida e a busca
ambiente. Esse planejamento também deve levar em conta a interdependência com as bacias à
cooperação coletiva com o objetivo de implementar novas práticas de manejo das águas
pluviais. Mediante esse modo de planejar será possível organizar formas de gestão solidária e
A gestão de águas pluviais faz parte da gestão de águas urbanas, composta pela
hidrográfica.
das fases do ciclo hidrológico, promovendo uma série de serviços ambientais, dentre estes se
aqüífero – os aqüíferos dependem das águas pluviais para se recompor. Estas podem se dar
naturalmente, proporcionadas pelas águas retidas pela vegetação, infiltradas e retidas no solo,
através de reservatórios, indicados para áreas urbanas que já apresentam problemas devido à
mecanicamente, tanto da atmosfera, como do solo ou até de algum curso d’água, realizando
presente estudo, mas os principais temas que afetam diretamente o ser humano no curto prazo
percepção da água de chuva, que deixa de ser vista como esgoto e passa a ser vista como
recurso e componente do ciclo hidrológico. Essa mudança deve ser promovida com a
educação ambiental direcionada tanto para o corpo técnico da área de recursos hídricos, para
políticas e técnicas.
urbanas, por isso há que se pensar de maneira ampla. Cabe uma crítica às cidades que têm
suas atividades urbanas segregadas (como morar, deslocar-se, trabalhar) e negam o espaço
planejamento de uma cidade, pois, além de estudar a drenagem, utiliza-se de técnicas que
garantam a eficiência necessária do sistema a um menor custo, buscando a redução das redes
d’água, assegurando uma melhor qualidade das águas superficiais, pois ao se evitar
Logo, a correta gestão das águas pluviais está diretamente vinculada à gestão
de águas urbanas e deve ser sempre estudado de forma integrada à gestão do saneamento e o
preservar a integridade dos meios físico e biótico, bem como a dos grupos sociais que deles
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Josimar R. de (et al). Política e Planejamento Ambiental. 3. ed. Rio de Janeiro:
Thex, 2004. [Edição revista e atualizada em 2006].
SANTOS, R. F. dos (Org.). Vulnerabilidade Ambiental. Brasília: MMA, 2007. 192p.: il.
color.
GLOSSÁRIO
Acessibilidade: condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos
reduzida.
precariedade da drenagem.
Área impermeável: superfícies impermeáveis tais como pavimentos ou telhados, que evitam
Aterro sanitário: instalação para destino final dos resíduos sólidos urbanos por meio de sua
adequada disposição no solo, sob controle técnico e operacional permanente, de modo a que
nem os resíduos, nem seus efluentes líquidos e gasosos venham a causar danos à saúde
Barbacãs: estruturas cujo objetivo é retirar a água subterrânea e conduzi-la para fora da área
sua construção a extremidade interna deve ser perfurada e revestida com tela geotêxtil e
Bermas: intervalos entre uma inclinação e outra (como degraus, patamares). Eles garantem
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de águas pluviais.
mais representativo do que a concentração. Uma concentração pode ser alta com pequena
ser aplicadas quando outras soluções não são possíveis. Associadas com outras técnicas, como
Comporta: elemento do tipo porta ou tapume que impede a passagem das águas.
encontro a uma parede, para dar-lhe resistência adicional; o reforço de muro ou muralha,
parede.
Dique: palavra aportuguesada a qual designa barreira que impede a passagem das águas.
Doenças de veiculação hídrica: são as que dependem da água para sua transmissão, a água
age como veículo passivo para o agente da infecção ou o agente utiliza a água para se
veiculação hídrica.
elevadas do relevo, seja natural ou artificial, por exemplo, obras de estradas, terraplanagem,
Fontes poluidoras: fontes difusas e pontuais. As fontes difusas geralmente são de origem
urbana (escoamento pluvial), agrícola (escoamento pluvial que transporta matéria orgânica,
sedimentos, pesticidas, entre outros), produção agropecuária difusa (granjas com aves e
suínos), mineração dispersa (uso de mercúrio, mineração de carvão que deixa a água ácida,
Galeria: canalizações públicas usadas para conduzir as águas pluviais provenientes das
em mm/h ou cm/dia.
Inundação: ocorre quando o rio sai do seu leito menor, atingindo a várzea.
Jusante: refere-se a uma localização rio abaixo com relação a uma seção de referência.
paralelamente ao eixo da rua e com sua face superior no mesmo nível do passeio.
Montante: refere-se a uma localização rio acima com relação a uma seção de referência.
84
Muros Gabiões: constituem caixas formadas por armação de fios metálicos preenchidas por
permeabilidade do solo.
Preservação: é entendida como a ação que evita qualquer ação antrópica sobre o ecossistema.
receptora das águas pluviais que incidem sobre as vias públicas e que para estas escoam.
Sistema natural: o sistema natural é formado pelo conjunto de elementos físicos, químicos e
Talude: o plano inclinado que limita um aterro. Tem como função garantir a estabilidade do
aterro.
globo terrestre e suas interações. Modificação Climática: lnteração do clima em função das
ações antrópicas. De outro lado o IPCC definiu, em 2001, Modificação Climática (Climate
Change) como as mudanças de clima no tempo devido à variabilidade natural e/ou resultado
socioeconômicas.
ANEXOS
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91
92
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