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DOI: 10.1590/1413-81232020251.

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Sistema educacional e a formação de trabalhadores:

Artigo Article
a desqualificação do Ensino Médio Flexível

Education system and the training of workers: the disqualification


of flexible high school education

Acacia Zeneida Kuenzer (https://orcid.org/0000-0001-6429-9345) 1

Abstract This article analyzes high school educa- Resumo Este artigo propõe-se a analisar a re-
tion reform and its impact on the education pro- forma do Ensino Médio e seus impactos para o
ject on those who work for a living. By analyzing projeto de educação dos que vivem do trabalho. A
Law 13.415/2017, recent statistics and the new partir da análise da Lei 13.415/2017, das estatís-
proposal for curricular organization, arguments ticas recentes e da nova proposta de organização
will be identified that point to the flexibilization curricular, vai levantar argumentos que apontam
of high school education as an expression of the a flexibilização do Ensino Médio como uma das
pedagogical project of the flexible accumulation expressões do projeto pedagógico do regime de
system, whose logic continues to be the unequal acumulação flexível, cuja lógica continua sendo a
distribution of knowledge, but in a differentiated distribuição desigual do conhecimento, porém com
way. The aim is the formation of flexible subjecti- uma forma diferenciada. Seu objetivo é a forma-
vities submitted to the precarity of work, naturali- ção de subjetividades flexíveis que se submetam à
zing instability, insecurity and deregulation for an precarização do trabalho, naturalizando a insta-
alleged autonomy of choice. From the ontological bilidade, a insegurança e a desregulamentação em
viewpoint, the article shows that the high school nome da suposta autonomia de escolha. Do ponto
education reform responds to the alignment of the de vista ontológico, o artigo aponta que a reforma
flexible accumulation system formation. In epis- do Ensino Médio responde ao alinhamento da for-
temological terms, it compares the conception of mação ao regime de acumulação flexível. Do pon-
praxis that guided the drafting of the curricular to de vista epistemológico, confronta a concepção
guidelines in 2012 with the dimensions of indivi- de práxis que orientou a elaboração das diretrizes
dualism, fragmentation, presentism and pragma- curriculares em 2012, com as dimensões de indi-
tism present in the new guidelines. Based on the vidualismo, fragmentação, presentismo e pragma-
analysis, the author emphasizes the need to create tismo presentes nas novas diretrizes. A partir da
other forms of curricular organization in the exer- análise, a autora reforça a necessidade de criar ou-
cise of autonomy by the school as an alternative tras formas de organização curricular no exercício
for the integral formation of young individuals. da autonomia pela escola como uma alternativa
Key words High school education reform, Flexi- para a formação integral dos jovens.
1
Universidade Federal do bilization of high school education, Pedagogy in Palavras-chave Reforma do ensino médio, Flexi-
Paraná. R. XV de Novembro the flexible accumulation system bilização do ensino médio, Pedagogia da acumu-
1299, Centro. 80060- lação flexível
000 Curitiba PR Brasil.
acaciak4@gmail.com
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Kuenzer AZ et al.

Introdução em uma organização curricular que admite di-


ferentes percursos; a partir de, no máximo, 1800
Em 2017, ainda no governo do presidente Michel horas dedicadas à Base Nacional Comum Cur-
Temer, o ensino médio sofreu profundas refor- ricular, incluindo a parte diversificada, o jovem,
mulações, com impacto significativo na educação para “atender seu projeto de vida”, pode escolher
profissional. Sem amplo debate com professores, uma entre as diferentes áreas: linguagens e suas
entidades e comunidade científica de modo ge- tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciên-
ral, em curto período de tempo o projeto de lei cias da natureza e suas tecnologias, ciências hu-
nº 6840/2014 (2013, na versão inicial, e dezem- manas e sociais aplicadas, e formação técnica e
bro de 2014, na versão substitutiva), as edições profissional.
da Medida Provisória n° 746 (setembro de 2016) A primeira consideração a fazer com rela-
e a nova Lei n° 13.415 (fevereiro de 2017) cul- ção à essa proposta de organização curricular é
minaram na reforma do Ensino Médio, aprovada seu caráter de aligeiramento da formação; nesse
integralmente. O enfrentamento feito pelos seto- sentido, flexibilização tem o sentido de superfi-
res progressistas da sociedade civil, em particular cialidade, de simplificação. Isso porque a carga
pelo Movimento Nacional em Defesa do Ensino horária destinada à formação geral fica reduzi-
Médio, e o movimento dos estudantes secunda- da a 1800 horas no máximo, com apenas dois
ristas, foi completamente desconsiderado. componentes curriculares obrigatórios em todo
Importante destacar que o debate ocorrido o percurso: língua portuguesa e matemática; os
durante a tramitação desse processo que culmi- demais componentes curriculares têm carga ho-
nou na reforma do ensino médio pela promulga- rária reduzida, contradizendo a proposta de edu-
ção da Lei 13.415/2017 expressou, mais uma vez, cação integral, eixo das DCNEM/20121.
a contradição entre os interesses públicos e pri- Outra dimensão a considerar é que flexibi-
vados, que desta feita se materializaram na opo- lização também passa a significar redução de
sição entre rigidez e flexibilidade. Por um lado, as custos; inicialmente porque a escolha de um
instituições que representam os setores privados itinerário leva à necessidade de menor número
que ampliaram os espaços na discussão das polí- de docentes e pode ser uma forma de resolver,
ticas públicas, com o apoio e a identidade concei- embora de modo equivocado, a crônica falta de
tual dos dirigentes que integravam o Ministério docentes em algumas disciplinas, notadamente
da Educação (MEC) à época e do Conselho de nas áreas de ciências exatas e ciências da nature-
Secretários de Educação (CONSED). A posição za. Como cada sistema de ensino pode ofertar os
defendida por esses setores foi a flexibilização dos itinerários formativos que considerar adequados
percursos formativos, de modo a permitir que o segundo as possibilidades estruturais e de recur-
aluno, assegurada a base nacional comum, opte sos das instituições ou redes de ensino, essa oferta
pelo aprofundamento em uma área acadêmica, pode se restringir a apenas um itinerário, dentre
ou pela formação técnica e profissional, a partir os menos complexos e, portanto, que consomem
de sua trajetória e de seu projeto de vida. Para menos recursos humanos, materiais e financei-
esse grupo, as Diretrizes Curriculares do Ensi- ros; reside aí o caráter redutor de custos. Isso
no Médio de 20121 – DCNEM/2012, são rígidas, ocorre também pela determinação que a forma-
uma vez que estabelecem um único percurso, ção geral básica tem apenas definida sua duração
disciplinar e com excessivo número de compo- máxima, e não mínima; assim, os sistemas de en-
nentes curriculares, a partir do que propunham a sino têm autonomia para definir a duração des-
flexibilização dos percursos. sa formação, que pode ser inferior a 1800 horas,
De outro lado, as entidades e os intelectuais afastando-se ainda mais da possibilidade de uma
que historicamente têm buscado a construção de educação integral.
um projeto de educação que atendesse aos inte- Por outro lado, essa perspectiva de redução
resses da classe trabalhadora, mediante a organi- de custos é contraditada pela proposta de ex-
zação de um currículo que integrasse, de forma pansão da duração do ensino médio, que deve
orgânica e consistente, as dimensões da ciência, alcançar, progressivamente, 1400 horas/ano, ou
da tecnologia, da cultura e do trabalho, como seja, 07 horas/dia, para constituir-se em escolas
modos de atribuir significado ao conhecimento de período integral; em cinco anos, a partir de
escolar, exatamente como propunham as DC- 2017, as escolas de ensino médio devem atingir
NEM/20121. 1000 horas em 200 dias letivos, o que implica
Desnecessário dizer que a posição que preva- em 5 horas diárias de atividades. As escolas que
leceu foi a da flexibilização curricular, expressa passarem a ofertar o ensino integral a partir da
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vigência da Lei e a atender aos critérios estabele- ca de ensino em unidades educacionais da rede
cidos pelo MEC, terão apoio financeiro por dez pública, privada ou em corporações. Ou seja, a
anos, mediante formalização de termo de com- flexibilização também significa desprofissiona-
promisso que explicite as ações a serem realizadas lização, perspectiva institucionalizada pelas leis
e as metas a serem atingidas. Esse repasse, calcu- 13.429/2017 e 13467/2017, que regulamentam,
lado pelo número de matrículas cadastradas, em- respectivamente, a terceirização dos serviços e as
bora obrigatório, dependerá da disponibilidade relações de trabalho (nova Consolidação das Leis
orçamentária do MEC. As escolas que estiverem Trabalhistas-CLT).
localizadas nas regiões com menores índices de
desenvolvimento humano (IDH) e tiverem re-
sultados mais baixos nos processos nacionais de Tendências e desafios
avaliação do ensino médio, terão prioridade no
apoio financeiro. A possibilidade desse finan- A reforma do ensino médio, ao desqualificar
ciamento, contudo, fica afastada pelos sucessi- esse nível de ensino em nome da
vos cortes no orçamento destinado à educação, flexibilização, reforça a tese da dualidade
notadamente no governo do Presidente Jair invertida
Bolsonaro, e pela crise orçamentário-financeira
porque passam as unidades federadas, as grandes A par do caráter desqualificador da reforma
responsáveis pela oferta de Ensino Médio, o que do ensino médio, a análise dos dados sobre acesso
leva a concluir que predomina a lógica de uma e sucesso à educação nos últimos anos vêm mos-
organização curricular redutora de custos. As- trando uma queda progressiva nos indicadores
sim, a organização curricular determinada pela educacionais, que revelam a redução das opor-
Lei obedece ao princípio da flexibilidade, com tunidades educacionais, principalmente para os
redução de custos, o que contradiz a pretensa segmentos vulneráveis das juventudes, e para
expansão da duração, visando a implantação de os jovens das famílias que vivem do trabalho. A
escolas médias de educação integral. par dessa redução, em sentido contrário, mas a
Ainda na perspectiva de aligeiramento com ela dialeticamente relacionado, o crescimento do
redução de custos, a flexibilização, na educação número de jovens que não trabalham e também
técnica e profissional, em uma manifesta reto- dos que nem estudam nem trabalham.
mada do Decreto nº 2.208/97, determina que o Segundo os dados da PNAD de 20172, o nú-
currículo poderá ser organizado em módulos mero de pessoas entre 15 e 29 anos que não tra-
com sistema de créditos e terminalidade especí- balham, não estudam e não se qualificam profis-
fica; essa flexibilização abre a possibilidade, rein- sionalmente, cresceu 5,9% de 2016 para 2017, o
corporada pela Lei 13.415/2017, de que sejam que equivale a mais de 619 mil pessoas. Em 2016
firmados convênios com instituições de ensino eram 10,5 milhões, número que cresceu para 11,2
reconhecidas, que ofertem formação técnica e milhões em 2017, de um contingente de 48,5 mi-
profissional de modo presencial e a distância, de lhões de pessoas nessa faixa etária.
modo que as competências e os cursos desenvol- Desdobrando os dados por sexo, cor ou raça,
vidos em outros espaços sejam validados. verifica-se que os maiores percentuais estão entre
No caso específico das competências, elas po- as mulheres, 28,7% contra 17,4% dos homens,
derão ser certificadas desde que comprovadas por e entre os de cor preta ou parda, 25,9% contra
demonstração prática, experiências de trabalho 18,7% de brancos.
supervisionadas ou adquiridas fora do ambiente Em consequência, estudos da OCDE3 apon-
escolar, o que permite reconhecer conhecimentos tam o Brasil como um dos países com o maior
tácitos. As novas normas para a educação técni- número de pessoas sem diploma de ensino mé-
ca e profissional, portanto, atendem amplamente dio; mais da metade dos adultos (52%) com ida-
ao princípio da flexibilização, o que, nesse caso, de entre 25 e 64 anos não atingiram esse nível de
implica em desconstrução da proposta curricular formação.
da escola. Entre os jovens em idade escolar, embora a
A flexibilização proposta pela Lei também taxa de escolarização seja de 87,2%, a taxa ajusta-
atinge os docentes, em especial os da educação da de frequência escolar líquida foi de 68,4%, in-
técnica e profissional, que poderão ministrar dicando quase 2 milhões de estudantes atrasados
conteúdos de áreas afins à sua formação ou ex- e 1,3 milhão fora da escola; os dados mostram
periência profissional desde que atestado seu que é no ensino médio que estão as taxas mais
notório saber por titulação específica ou práti- altas de atraso e evasão, indicando que os jovens
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se distanciam das possibilidades de acesso à edu- jovens pobres, mesmo escolarizados, os que têm
cação, enquanto direito fundamental. mais dificuldade de acesso a trabalho5.
Essa tendência se reforça com a redução, em A hipótese com a qual venho trabalhando nos
2017, de 1,3 milhões de matrículas na educação últimos anos, provocada pelas pesquisas de Zibas6
básica em comparação com o ano de 2014 (2,6) e e por minhas próprias investigações7, é a da inver-
a taxa de distorção idade-série alcança 24,7% das são da proposta dual que, até os primeiros anos
matrículas dos anos finais do ensino fundamen- da década de 1990, apresentava a escola média de
tal e 28,2% das matrículas do ensino médio. educação geral para a burguesia e a escola profis-
Segundo o mesmo relatório, a proporção de sional para os trabalhadores. E, dadas as condições
alunos do sexo masculino com defasagem de de precarização que as escolas médias públicas que
idade em relação à etapa que cursam é maior do atendem os que vivem do trabalho têm apresenta-
que a do sexo feminino em todas as etapas de en- do, a educação geral, antes reservada à elite, quan-
sino. Com relação à cor/raça, percebe-se que as do disponibilizada aos trabalhadores, banalizou-
maiores proporções de alunos de cor/raça branca se e desqualificou-se. Ou seja, a burguesia, quando
são identificadas na creche (54,7%) e na educa- disponibiliza a versão geral para os trabalhadores,
ção profissional concomitante ou subsequente o faz de forma desqualificada; e o ensino médio
(50,1%), representando mais da metade dos alu- de educação geral passou a ser escola para os filhos
nos dessas etapas; pretos e pardos são maioria nas dos outros, enquanto a educação em ciência e tec-
demais etapas de ensino, em especial na educa- nologia passou a ser a opção dos filhos da burgue-
ção de jovens e adultos (EJA), onde representam sia, mesmo que no ensino superior; para esses, o
72,3% dos alunos. Esses percentuais podem ser ensino médio é apenas um degrau necessário para
maiores, uma vez que a ausência da informação o acesso aos cursos valorizados pelo mercado, no
de cor/raça ainda alcança 23,0% em cada uma regime de acumulação flexível8.
das etapas da educação básica. Os dados apresentados até aqui, portanto,
Especificamente no ensino médio, em 2018, mostram que a perspectiva é a redução dos in-
foram registradas 7,7 milhões de matrículas, se- dicadores de acesso e sucesso no ensino médio
guindo a tendência de queda nos últimos anos; para a classe trabalhadora, a par da redução das
nesse período, o número total de matrículas no oportunidades de emprego, por muitos justifica-
ensino médio reduziu 7,1%. No sentido contrá- da pela falta de escolaridade e pela baixa quali-
rio, a matrícula integrada à educação profissio- dade da escola pública. Como afirma a OCDE, o
nal cresceu 24,9% no último ano, passando de menor nível de escolaridade tende a ser associado
468.212, em 2014, para 584.564 matrículas, em com a maior desigualdade de renda; menos empre-
20184. go e salários mais baixos3.
Com relação à localização, o número de ma-
trículas do ensino médio concentra-se (95,3%) A flexibilização da proposta curricular do
em escolas urbanas. Além disso, 96,1% das ma- ensino médio é a expressão pedagógica da
trículas da zona rural são atendidas pela rede flexibilização do regime de acumulação
pública. A rede federal é a que apresenta, pro-
porcionalmente, o maior número de matrículas Como já tenho afirmado em outros artigos9,
localizadas na zona rural. a flexibilização do Ensino Médio é uma das ex-
Os números aqui apresentados permitem pressões do projeto pedagógico do regime de
algumas conclusões acerca da ampliação dos di- acumulação flexível, cuja lógica continua sendo
reitos à educação da classe trabalhadora. Inicial- a distribuição desigual do conhecimento, porém
mente, há que considerar que a oferta de Ensino com uma forma diferenciada. Esse regime se fun-
Médio, integrado ou não à EP, nível mais crítico damenta, entre outras características, na flexibi-
com relação à inclusão, é predominantemente lidade dos processos de trabalho, dos mercados
para os jovens brancos, masculinos e urbanos. de trabalho, dos produtos e padrões de consumo.
Em seguida, estudos têm mostrado que a taxa Essa flexibilização vem acompanhada pela com-
de desocupação dos jovens mais pobres que têm binação entre integração produtiva, investimento
entre 11 a 14 anos de estudos, o que correspon- em tecnologia intensiva de capital e de gestão e
deria ao ensino médio, pelo menos incompleto, consumo precarizado da força de trabalho, acen-
não se reduziu com a ampliação da escolaridade; tuando o desenvolvimento desigual, tanto entre
ao contrário, se elevou, mostrando que o esfor- setores como entre regiões geográficas.
ço educacional deste segmento não diminui suas Como esse processo, por natureza é preca-
dificuldades de obtenção de ocupação. São os rizador e intensificador do trabalho, para que o
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capital possa confirmar-se enquanto princípio tuição da formação especializada, adquirida em
abrangente de síntese, os trabalhadores também cursos de educação profissional e tecnológica,
devem passar por um processo de redução on- por uma formação mais geral.
tológica. Assim é com tudo o que não possa ser No caso específico do atual Ensino Médio, a
completamente abrangido pela lógica capitalista: formação geral, dada a duração de apenas 1800
primeiro precisa ser excluído, em seguida reduzi- horas a ser complementada pelos estudos em
do à dimensão meramente econômica para, de- uma área específica ou por educação técnica e
pois, ser incluído sob outro estatuto ontológico, profissional aligeirada, em princípio responde-
processo que se dá, não individualmente, mas no ria a essa preparação para o mundo flexibiliza-
bojo das relações sociais e produtivas, ao longo do, porque a formação aprofundada ou mesmo
da história9. especializada, por ser considerada rígida, não se
Ou, como afirma Harvey10, a condição de justificaria pela suposta obsolescência do conhe-
existência de um regime de acumulação é a corres- cimento. Assim, uma base geral seria suficiente
pondência entre a transformação das condições para assegurar a flexibilidade na relação com o
de produção e de reprodução dos assalariados, de conhecimento, acompanhada pelo desenvolvi-
modo a fazer com que os comportamentos de to- mento das competências cognitivas básicas, uma
dos os tipos de agentes político-econômicos man- vez que aprender ao longo da vida é uma categoria
tenham o sistema funcionando; ou seja, a corres- central na pedagogia da acumulação flexível. Se
pondência entre as formas de disciplinamento e o trabalhador transitará, ao longo de sua traje-
as necessidades do sistema produtivo, relativas à tória laboral, por inúmeras ocupações e oportu-
formação de trabalhadores e dirigentes. nidades de educação no trabalho, não há razão
O regime de acumulação flexível, portanto, para investir em formação básica ou profissional
demanda a formação de novas formas de subjeti- especializada, como já propunha o Banco Mun-
vidade, flexíveis, para o que, na concepção grams- dial como política para os países pobres desde a
ciana, se constitui uma nova pedagogia a partir década de noventa12; na perspectiva da pedagogia
das mudanças estruturais; essa nova pedagogia da acumulação flexível, a integração entre teoria
objetiva novas formas de disciplinamento, prin- e prática se dará ao longo das trajetórias de traba-
cipalmente da força de trabalho, sobre a qual re- lho, secundarizando-se a formação escolar, tanto
caem os resultados do acelerado processo de des- de caráter geral como profissional. Justifica-se,
truição e reconstrução de habilidades, os níveis dessa forma, propostas aligeiradas de formação.
crescentes de desemprego estrutural, a redução O que o discurso da pedagogia da acumula-
dos salários e a desmobilização sindical10. ção flexível não revela é que, ao destruírem-se os
Essa pedagogia responde ao processo que cha- vínculos entre qualificação e trabalho pela uti-
mei, em outro texto, de inclusão excludente: do lização das novas tecnologias, banaliza as com-
ponto de vista do mercado, ocorre um processo petências, tornando-as bastante parecidas e com
de exclusão da força de trabalho dos postos re- uma base comum de conhecimentos de auto-
estruturados, para incluí-la de forma precari- mação industrial, a par da estratégia toyotista de
zada em outros pontos da cadeia produtiva. Já definir a produção pela demanda, quando o mer-
do ponto de vista da educação, se estabelece um cado de trabalho passa a reger-se pela lógica dos
movimento contrário, dialeticamente integrado arranjos flexíveis de competências diferenciadas7.
ao primeiro: por força de políticas públicas “pro- Diferentemente do que ocorria no tayloris-
fessadas” na direção da democratização, aumenta mo/fordismo, onde as competências eram de-
a inclusão em todos os pontos da cadeia, mas pre- senvolvidas com foco em ocupações previamente
carizam-se os processos educativos, que resultam definidas e relativamente estáveis, a integração
em mera oportunidade de certificação, os quais produtiva se alimenta do consumo flexível de
não asseguram nem inclusão nem permanência11. competências diferenciadas, que se articulam ao
Assim é que o discurso da acumulação flexível longo das cadeias produtivas. Estas combinações
sobre a educação aponta para a necessidade da não seguem modelos pré-estabelecidos, sendo
formação de profissionais flexíveis, que acompa- definidas e redefinidas segundo as estratégias
nhem as mudanças tecnológicas decorrentes da de contratação e subcontratação que são mo-
dinamicidade da produção científico-tecnológica bilizadas para atender à produção puxada pela
contemporânea, ao invés de profissionais rígidos, demanda do mercado. São combinações que ora
que repetem procedimentos memorizados ou incluem, ora excluem trabalhadores com diferen-
recriados por meio da experiência. Para que esta tes qualificações, de modo a constituir corpos co-
formação flexível seja possível, propõe a substi- letivos de trabalho dinâmicos, por meio de uma
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rede que integra diferentes formas de subcontra- ganização curricular aprovada, ao flexibilizar os
tação e trabalho temporário e que, ao combinar percursos, institucionaliza o acesso desigual e di-
diferentes estratégias de extração de mais-valia, ferenciado ao conhecimento.
asseguram a realização da lógica mercantil. Em resumo, o Ensino Médio, na atual versão,
Se há combinação entre trabalhos desiguais integrando a pedagogia da acumulação flexível,
e diferenciados ao longo das cadeias produtivas, tem como finalidade a formação de trabalha-
há também demandas diferenciadas, e desiguais, dores com subjetividades flexíveis, por meio de
de qualificação dos trabalhadores, que podem uma base de educação geral complementada por
ser rapidamente atendidas pelas estratégias da itinerários formativos por área de conhecimen-
aprendizagem flexível, o que permite que as con- to, incluindo a educação técnica e profissional; a
tratações sejam definidas a partir de um perfil de formação profissional é disponibilizada de forma
trabalhador com aportes de educação geral e ca- diferenciada por origem de classe, de modo a le-
pacidade para aprender novos processos, e não a var os que vivem do trabalho a exercer, e aceitar,
partir da qualificação7. de forma natural, as múltiplas tarefas no mercado
Daí o caráter “flexível” da força de trabalho; flexibilizado. Ser multitarefa, neste caso, implica
importa menos a qualificação prévia do que a exercer trabalhos disponibilizados pelo mercado,
adaptabilidade, que inclui tanto as competências para os quais seja suficiente um rápido treina-
anteriormente desenvolvidas, cognitivas, práticas mento, a partir de algum aporte de educação ge-
ou comportamentais, quanto a competência para ral, seja no nível básico, técnico ou superior.
aprender e para submeter-se ao novo, o que su- Para alguns, significará exercer trabalhos
põe subjetividades disciplinadas que lidem ade- qualificados e criativos; esses não serão atingidos
quadamente com a dinamicidade, com a instabi- pela reforma do Ensino Médio porque dispõem,
lidade, com a fluidez. em face de sua origem de classe, de outros espa-
O discurso da necessidade de elevação dos ços e itinerários de formação, que não o ensino
níveis de conhecimento e da capacidade de tra- médio em escola pública. Para a maioria dos tra-
balhar intelectualmente, quando adequadamente balhadores, contudo, ser multitarefa significará
analisado a partir da lógica da acumulação fle- exercer trabalhos temporários simplificados, re-
xível, mostra seu caráter concreto: a necessida- petitivos e fragmentados, que não necessitam de
de de ter disponível para consumo, nas cadeias formação qualificada, mas talvez de certificados
produtivas, força de trabalho com qualificações ou reconhecimento de competências, o que o
desiguais e diferenciadas que, combinadas em atual Ensino Médio talvez atenda.
células, equipes, ou mesmo linhas, atendendo a A análise levada a efeito vai ao encontro dos
diferentes formas de contratação, subcontratação dados apresentados no item 2.1; a tendência
e outros acordos precários, assegurem os níveis decrescente da matrícula no nível médio aliada
desejados de produtividade, por meio de proces- ao fato de que as taxas de abandono e insucesso
sos de extração de mais-valia que combinam as atingem predominante os filhos dos estratos mais
dimensões relativa e absoluta. baixos da classe trabalhadora e negros e pardos,
Esta forma de consumo da força de traba- reforçam o caráter excludente do Ensino Médio,
lho ao longo das cadeias produtivas aprofunda que disponibiliza para o mundo do trabalho um
a distribuição desigual do conhecimento, onde, grande contingente de trabalhadores desqualifi-
para alguns, dependendo de onde e por quanto cados, que terão como alternativa trabalhos pre-
tempo estejam integrados nas cadeias produtivas, carizados. Fecha-se o ciclo da exclusão includente
se reserva o direito de exercer o trabalho intelec- na ponta da escola, mostrando a reforma do en-
tual integrado às atividades práticas, a partir de sino médio seu caráter reprodutor no regime de
extensa e qualificada trajetória de escolarização; acumulação flexível.
o mesmo não ocorre com a maioria dos traba-
lhadores, que desenvolvem conhecimentos táci- A organização curricular flexível completa
tos pouco sofisticados, em atividades laborais de o quadro da formação precarizada
natureza simples e desqualificada e são precaria-
mente qualificados por processos rápidos de trei- A flexibilização da organização curricular e
namento, com apoio nas novas tecnologias e com da metodologia é uma das formas de atender à
os princípios da aprendizagem flexível. finalidade de formação de profissionais, cuja for-
Nesse contexto de distribuição desigual, se ça de trabalho poderá ser consumida de forma
insere o novo Ensino Médio; diferentemente da mais ou menos predatória, ao longo das cadeias
proposta que integrava as DCEM/20121, a or- produtivas.
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Sua concepção se insere no contexto da cha- dade, desde que as condições materiais necessá-
mada aprendizagem flexível, entendida como rias estejam dadas. Esse processo de construção
flexibilização dos itinerários, dos tempos e dos de consciências intelectualmente e eticamente
espaços de aprendizagem, tal como propõe a re- autônomas, visando a construção de uma socie-
forma do Ensino médio; neste caso, a justificativa dade mais justa, constitui-se em um dos mais ca-
é autonomia do aluno, em contraposição à rigi- ros objetivos da Educação Básica e, portanto, do
dez dos tempos dos cursos tradicionais. Ensino Médio.
Como reza o parágrafo 9 do art. 17 da Res. Ao contrário, a organização curricular flexí-
03/2018, que atualiza as DCNEM de 20121, a or- vel, centrada nos indivíduos e pautada por seus
ganização curricular do ensino médio deve oferecer projetos de vida, busca superar a concepção cur-
tempos e espaços próprios ou em parcerias com ou- ricular proposta pelas DCNEM/2012, onde a
tras organizações para estudos e atividades, a fim amplitude, a profundidade e a dimensão práxica
de melhor responder à heterogeneidade e plurali- com que seriam tratados os conteúdos visando a
dade de condições, múltiplos interesses e aspirações formação integral, passam a ser substituídas por
dos estudantes, com suas especificidades etárias, uma trajetória em que a formação geral fica re-
sociais e culturais, bem como sua fase de desenvol- duzida e os itinerários conduzem, para além da
vimento1. escolha precoce, à fragmentação na relação com
Do ponto de vista epistemológico, a apren- o conhecimento. Seus fundamentos não são mais
dizagem flexível pauta-se por fundamentos que os das teorias modernas, nem mais contemplam
diferenciam a nova proposta dos pressupostos a concepção de totalidade; ao contrário, inscre-
teórico-metodológicos afirmados pelas DC- vem-se no âmbito das teorias pós-modernas que
NEM/2012; nesse documento, entre os conceitos sustentam a concepção de aprendizagem flexí-
centrais destacam-se práxis e totalidade, a partir vel. A produção de conhecimentos deixa de ser
da concepção materialista histórica que orientou compreendida como resultante da relação entre
sua elaboração1. A práxis é compreendida como teoria e prática para resultar dos discursos inter-
atividade teórica e prática que transforma a na- subjetivos, nesse caso, da interlocução dos alunos
tureza e a sociedade; prática, na medida em que nas redes, nas comunidades de prática, mediada
a teoria, como guia da ação, orienta a atividade pelas tecnologias.
humana; teórica, na medida em que esta ação é Do ponto de vista dessas teorias, o conheci-
consciente13. mento é uma impossibilidade histórica, uma vez
Nessa concepção, a articulação entre teoria e que ao pensamento humano é impossível apre-
prática é pressuposto epistemológico; partindo ender a realidade, porque está demarcado por di-
da compreensão que o processo de produção do versidades culturais; assim, as interpretações são
conhecimento resulta da re-criação, ou seja, da diversas, sendo verdadeiras apenas no contexto
reprodução da realidade no pensamento, o que cultural que lhes deu origem. O que há são inter-
ocorre por meio da atividade humana, processo pretações, narrativas atreladas à prática cotidia-
através do qual a realidade adquire significado na, reduzindo-se o conhecimento à linguagem,
para os seres humanos, trabalho intelectual e ati- do que decorre que a teoria se constrói mediante
vidade prática constituem uma dualidade dialé- o embate de discursos intersubjetivos, ao nível da
tica. Assim, se a prática não fala por si mesma, superestrutura; ou seja, pelo confronto de dis-
tendo que os fatos ou fenômenos serem identi- cursos, e não pelo confronto entre pensamento
ficados, analisados, interpretados, já que a reali- e materialidade.
dade não se deixa revelar através da observação Assim, não há verdade, não há possibilidade
imediata, o trabalho intelectual passa a ser im- de conhecer, o que resulta no ceticismo epis-
prescindível no ato de conhecer. É no movimento temológico14. Importante destacar que não há
do pensamento que se debruça sobre a realidade negação da realidade e sim da possibilidade de
a ser conhecida, relacionando-se com a dimensão apreendê-la, pois não há discursos desinteressa-
empírica na prática, que são construídos os sig- dos, uma vez que são produzidos a partir de uma
nificados; é pelo trabalho intelectual que a apa- dada cultura e manifestam relações de poder.
rência dos fenômenos é superada, e as relações, Tem-se, como resultado, a superficialização
as conexões, as estruturas internas, as formas de do processo educativo, reduzindo-se o conheci-
organização, as relações entre parte e totalidade, mento a narrativas sobre as atividades cotidianas,
as finalidades, passam a ser conhecidas; como re- fenômeno denominado por Moraes14, de recuo
sultado desse processo, podem transformar-se as da teoria; essa precarização da formação atinge a
consciências, as relações sociais e a própria socie- formação docente, o que fecha o círculo da fragi-
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Kuenzer AZ et al.

lização dos processos educativos sistematizados: a sociedade à interação entre indivíduos e as re-
acesso restrito à teoria por trabalho intelectual lações sociais são reduzidas ao plano individual,
pouco complexo. das escolhas pessoais. Consequentemente, não
Por outro lado, a afirmação do conhecimen- há teorias sociais, pois estas são ilusões que dis-
to como resultante do confronto de discursos, farçam interesses particulares; a totalidade passa
ao não o reconhecer como resultante da relação a ser um recurso metodológico impossível, pois
entre teoria e prática, entre trabalho intelectual e não há como estabelecer relações causais entre
atividade, põe por terra a concepção de práxis, o fenômenos sociais. A totalidade é substituída
que conduz a duas dimensões que caracterizam o pela fragmentação.
pós-modernismo: o presentismo e o pragmatis- A organização curricular proposta pela re-
mo, que, não por coincidência, alimentam o con- forma do Ensino Médio, portanto, pela flexibi-
sumo e, portanto, sustentam a lógica mercantil. lização que resulta na sua precarização episte-
Se não é possível conhecer a realidade, também mológica, integra-se perfeitamente ao regime
não é possível transformá-la! de acumulação flexível, pelas novas formas de
Com relação ao recuo da teoria, afirmou- disciplinamento que fragilizam a relação com o
se em outro texto, que a Lei 13.415/2017 abre conhecimento, reduzem a relação entre teoria e
a possibilidade de substituir parte da formação prática ao pragmatismo, matam a crença na pos-
que seria dada nas escolas de Ensino Médio por sibilidade de construção de uma nova sociedade
cursos a distância, módulos ou cursos ofertados referendando o presentismo e substituem os pro-
por outras instituições, em um nítido processo cessos coletivos na vida social e produtiva pelo
de flexibilização curricular que relativiza a orga- individualismo.
nização curricular sistematizada, notadamente
na formação técnica e profissional. Nesse caso
específico, o recuo à teoria é de tal monta que se Perspectivas
admite a certificação de competências compro-
vadas por exercício profissional supervisionado, A análise levada a efeito nesse texto aponta o peso
sempre lembrando que se está falando de um jo- das dimensões materiais – no caso, o regime de
vem adolescente, e não de um trabalhador adulto acumulação flexível, na rearticulação das alianças
e experiente; certifica-se o conhecimento tácito7. que permitam o seu crescente desenvolvimento;
A negação da práxis enquanto possibilidade constitui-se um novo bloco hegemônico que,
de transformação anula os projetos, as possibili- inexoravelmente, e sem resistência efetiva, vai
dades, e a historicidade: o que vale é o presente. processando o ajuste a favor do capital: a reforma
A experiência histórica é substituída pela expe- da previdência, o ajuste dos gastos públicos que
riência do momento; as organizações históricas penalizam a educação e a saúde, além de outros
e suas experiências acumuladas são substituídas investimentos, a reforma da CLT, a aprovação do
pelo ativismo, onde a sensação do ineditismo nas projeto de lei que regulamenta a terceirização in-
ações voluntaristas torna-se a referência maior discriminada, e, na área da educação, o ajuste no
das escolhas das posturas e das posições políti- Ensino Médio.
cas15. Contudo, no bojo das contradições, abre-se
A História é compreendida como uma forma uma pequena brecha no art. 7o. da Res.03/2018/
específica de discurso, a forma narrativa, que, se- CNE/CEB, parágrafos 1o. e 2o, que permitem or-
gundo um roteiro previamente definido, atribui ganizações curriculares alternativas pelas escolas,
um efeito de verdade aos fatos e dados históri- no exercício de sua autonomia:
cos, revestindo-os de uma racionalidade que não § 1º Atendidos todos os direitos e objetivos de
existe na realidade; portanto, a História não exis- aprendizagem instituídos na Base Nacional Co-
te. Em consequência, também não existe o uni- mum Curricular (BNCC), as instituições e redes
versalismo e nem o coletivo, pois os fenômenos de ensino podem adotar formas de organização e
sociais não podem ser explicados por referências propostas de progressão que julgarem pertinentes
externas a eles, uma vez que essas referências são ao seu contexto, no exercício de sua autonomia, na
atravessadas por leituras particularistas, diversas construção de suas propostas curriculares e de suas
culturalmente. identidades.
Se não há história, não há valores, nem § 2º O currículo deve contemplar tratamento
princípios ou fundamentos e não há futuro; só metodológico que evidencie a contextualização, a
o presente, que deve ser vivido em sua comple- diversificação e a transdisciplinaridade ou outras
tude. Reforça-se o individualismo, reduzindo-se formas de interação e articulação entre diferentes
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Ciência & Saúde Coletiva, 25(1):57-66, 2020


campos de saberes específicos, contemplando vivên- Contudo, não há como ignorar que a análise
cias práticas e vinculando a educação escolar ao realizada mostra a dura realidade expressa pelo
mundo do trabalho e à prática social e possibilitan- peso da materialidade e pela fragilização das
do o aproveitamento de estudos e o reconhecimento clássicas instâncias superestruturais que histori-
de saberes adquiridos nas experiências pessoais, so- camente se responsabilizaram pela formação no
ciais e do trabalho16. plano contra-hegemônico: escolas, partidos, sin-
A organização de projetos interdisciplinares e dicatos. E aponta para a necessidade de recons-
de outras formas de organização curricular que truir os velhos e construir os novos espaços for-
insiram o aluno na prática social usando os co- mativos e organizativos, em busca da superação
nhecimentos científicos e metodológicos para do estado de perplexidade e quase paralisia que
uma adequada leitura do real seguida pela prática assola os movimentos contra-hegemônicos no
coletiva de construção de entendimentos e de so- momento histórico em que se vive, sob o governo
luções, fundada na categoria práxis, pode ser uma de Jair Bolsonaro. Sob pena de manter anestesia-
alternativa para a formação integral de jovens que da a resistência e abrir mão das possibilidades de
vislumbrem possibilidades de emancipação no transformação!
bojo do movimento contra-hegemônico.
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Kuenzer AZ et al.

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Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Diário
Oficial da União 2018; 22 nov.

Artigo apresentado em 30/04/2019


Aprovado em 20/08/2019
Versão final apresentada em 03/10/2019

CC BY Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons

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