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INTRODUÇÃO

Angola como sabemos, é um país africano imenso, que tem a extensão territorial de
1.246.700 Km2, rodeado pela República Democrática do Congo, pela Zâmbia a leste e pela
Namíbia a sul, ocupada por cerca de uma centena de etnias e subetnias, de origem Bantu.

Segundo Herlânder Felizardo, por seu turno, tenta fazer uma abordagem sobre os Bantu.
Para ele, ‘’o termo Bantu foi proposto na África do Sul, em 1856, pelo alemão Wilhehm
Bleek, para se referir a uma ‘’família’’ de línguas que usavam uma raiz ntu para ‘’pessoa’’;
muntu, singular, e bantu, plural na grande maioria’’.

A sociedade angolana é plural, composta por vários grupos culturais. A maior parte dos
povos de Angola são falantes de língua Bantu, integrando um grupo que ocupa um terço do
continente africano.

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O QUE É CULTURA?
Cultura é um conceito amplo que representa o conjunto de tradições, crenças e costumes de
determinado grupo social. Ela é repassada através da comunicação ou imitação às gerações
seguintes.

Dessa forma, a cultura representa o patrimônio social de um grupo sendo a soma de padrões
dos comportamentos humanos e que envolve: conhecimentos, experiências, atitudes,
valores, crenças, religião, língua, hierarquia, relações espaciais, noção de tempo, conceitos
de universo.

A cultura também pode ser definida como o comportamento por meio da aprendizagem
social. Essa dinâmica faz dela uma poderosa ferramenta para a sobrevivência humana e
tornou-se o foco central da antropologia desde os estudos do britânico Edward Tylor (1832-
1917). Segundo ele:

"A cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a
lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como
membro da sociedade".

OS PRINCIPAIS GRUPOS ETNOLINGUÍSTICOS ENTRE OS POVOS


ANGOLANOS SÃO OS SEGUINTES:
1º OS OVIMBUNDU – GRUPO ETNOLINGUÍSTICO UMBUNDU
Com mais de um terço da população (33%), sendo o maior de todos e o mais homogéneo de
Angola, incluía as províncias de: Benguela, Huambo e Bié. Em finais do século XIX
estavam organizados politicamente em 12 reinos, dos quais o do Bailundo, Bié, Chyaka,
Galangue e Andulo eram os mais poderosos. O seu idioma é o Umbundu. As três funções
mais importantes desempenhadas pelos reis consistiam em comunicar com o mundo
espiritual, relacionar-se com os outros povos e administrar a justiça.

O rei era o sacerdote supremo do seu povo, uma vez que os seus antepassados eram as
principais divindades comunais. Ele e os seus curandeiros ofereciam sacrifícios no altar
régio com o objectivo de controlar os elementos e assegurar a fertilidade e o sucesso nas
caçadas. Cada rei umbundu exercia a sua autoridade sobre uma série de sub-reinos, ou

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atumbu. O reino maior de todos, o Bailundo, era composto por cerca de 200 atumbu,
governado cada atumbu, entre três a trezentas aldeias.

Os Ovimbundu eram temidos durante muito tempo pelos seus vizinhos por causa das suas
incursões de intuitos escravocratas. Estes agricultores que por algum tempo se
transformaram em caravaneiros de longo curso, raramente se sentiam tentados a rejeitar os
moldes europeus e, por esse facto, foram frequentemente usados para colaborar com os
portugueses.

2º OS KIMBUNDO
Os M’bundu (Kimbundu), situados entre os rios Cuanza e Dande, com cerca de 26% da
população, abrangendo Luanda, na costa, até à bacia do Cassange, na parte oriental do
distrito de Malange. Faziam parte deste grupo Kimbundu vinte povos: Ambundu, Luanda,
Luango, Ntemo, Puna, Dembo, Bangala, Holo, Cari, Chinje, Minungo, Bambeiro, Quibala,
Haco, Sende, Ngola ou Jinga, Bondo, Songo, Quissama e Libolo. Exprimem-se em
Kimbundu.

Como afirma Segundo Teresa Neto:

‘’ grupo Kimbundu constitui o grupo étnico, no centro do país, que mais assimilou os
costumes coloniais portugueses’’; e, Lawrence W.Henderson corrobora afirmando também
que ali foi o centro da assimilação porque na abordagem dele: ‘’os Kimbundu aprenderam o
português ao serem assimilados, como foram eles quem produziu as primeiras obras das
literaturas escritas angolana’’.

3º OS BACONGO
Com cerca de 13% da população, era o terceiro maior reino de Angola. Era composto por
oito povos, relacionados entre sí, os quais ocupavam Cabinda e distrito do Zaire e Uíge.

Aquando à chegada dos portugueses em Abril de 1482, era o mais forte e estruturado nessa
região da África Central. Mas ao fim de dois séculos de colaboração intensa com os
portugueses, no comércio de escravos, o que de início constituiu um factor de
enriquecimento das linhagens aristocráticas, teve gradualmente como consequência o
enfraquecimento das estruturas sociopolíticas.

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4º OS OVAMBUS – GRUPO ETNOLINGUÍSTICO AMBO –
CRIADORES DE GADO E LAVRADORES
Este grupo representava menos de 3% da população, possuíam a maioria do gado em
Angola, sendo os principais fornecedores do planalto central. A sua economia devia
classificar-se como agro-pastoril, uma vez que dependiam tanto da agricultura como da
criação de gado, dando preferência em possuir uma grande manada, e que para eles o gado
constituía uma parte importante da vida, embora envolvam mais na agricultura do que os
seus vizinhos Herero.

Os Ambo ocupavam a fronteira entre Angola e a Namíbia. Em Angola aquela dominação


aplicava-se ao grupo etnolinguístico que incluía os Cuanhama, Cuamata, Dombandola,
Evale e Cafima.

Os Ambo não viviam em aldeias como os Umbundu. A população rural dividia-se em


comunidades ou distritos, tendo cada comunidade um numero que oscilava entre as cem e
as trezentas famílias, que ocupavam uma área de limites mal definidas, chamadas chilongo.
Os Ambo não tinham um tipo centralizado de monarquia, mas todos os povos tinham o seu
rei. Entre os Ambo de Angola, os reis dos Cuanhama desempenharam um papel
preponderante.

5º OS NHYANECAS-HUMBI – GRUPO ETNOLINGUÍSTICO


LUNHANECA – CONSERVADORES
Os Nhanekas-Humbe, situando-se geográfica e culturalmente entre os Umbundu e os
Ambo, representavam cerca de 5% da população angolana. Dispersaram-se pelos distritos
de Huíla e Cunene, desde as vilas de Chongoroi e Quilengues, a norte, até à fronteira da
Namíbia, a sul. Este grupo é composto por dez povos. Os Muílas, os Gambos, os Humbes,
os Donguenas, os Hingas, Cuancuas, Handa de Quipungos, Quilengues-Humbes e
Quilengues-Musos.

O grupo Nhaneka-Humbe era o mais conservador de todos os povos de Angola, são acima
de tudo pastores, deixando para as mulheres todas as atividades agrícolas que praticam.
Eles tinham sido menos influenciados do que os outros pela cultura europeia, apesar de um

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número relativamente grande de colonos portugueses ter invadido o seu território em
meados do século XIX. Este conservadorismo que resistiu à urbanização fez com que Sá da
Bandeira/Lubango, situado em pleno território Nhaneka-Humbe, fosse a única cidade em
Angola a ter uma maioria branca.

6º OS HEREROS – GRUPO ETNOLINGUÍSTICO TCHERERO -


VERDADEIROS PASTORES
Os Hereros podia disputar com os Nhaneka-Humbe a classificação de «o mais
conservador», mas como os povos Herero eram pouco numerosos, o seu lugar na cena
angolana revestia-se de menor importância. Os poucos milhares de Dimbas, Chimbas,
Chavicuas, Hacavonas, Cuvales, Dombes, Cuanhocas e Guendelengos ocupavam o
território situado nos distritos de Benguela, Moçamedes e Huíla, chegando ao interior a
partir do deserto de Namibe.

Do ponto de vista económico, os Herero eram, entre todos os angolanos, os que mais se
dedicavam à criação de gado. Os grupos vizinhos, os Ambo e os Nhaneka-Humbe, davam
mais importância à sua riqueza pastoril do que à agrícola, tudo porque o grande valor que
davam ao gado não era apenas fundamental para a economia mas também para o seu
sistema cultutal de valores, pois repudiam quaisquer atividades sedentárias, não
descartando a sua longa tradição agrícola. Em 1958, o membro mais velho Herero
lembrava-se ainda do tempo antes da agricultura ter entrado na economia do seu povo.

7º OS LUNDA-TCHOKWE – GRUPO ETNOLINGUÍSTICO


TUTCHOKWE -CAÇADORES POR EXCELÊNCIA
Conhecidos pelo seu talento artístico, estes povos têm-se deslocado para Angola a partir da
região do Congo-Catanga ao longo dos últimos 150 anos, sobretudo como caçadores e
comerciantes. Os povos do grupo Lunda-Chokwe incluíam os Lunda, Lunda-lua-Chindes,
Lunda-Ndembo, Mataba, Cacongo, Mai, e Chokwe. Na denominação composta deste
grupo, «lunda» refere-se ao grande império da África Central, que no século XVIII enviou
chefes políticos de Katanga/Shaba, no Zaire, para as zonas mais populosas do Leste de
Angola. Entre os povos que os chefes lunda foram encontrar, estavam os Chokwe, que
viviam para lá da religião banhada pelos rios Kasai, Cuango, Zambeze e Cuanza, no
Centro-Leste de Angola.

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A organização sociopolítica dos Chokwe assentava em doze clãs matrilineares, governados
por chefes de linhagens menores. Os Lundas impuseram-se como dirigentes políticos aos
governantes locais e fundaram reinos, segundo o modelo que vigorava no império lunda.

Em finais do século XIX, os Chokwe eram o povo mais agressivo e mais independente em
toda a Angola, mostrando sê-lo ao século passado, no terem começado a expandir-se em
direcção ao Centro de Angola. O poder económico reforçava ainda mais a sua não
dependência, visto que o marfim, a cera e a borracha, que constituíam os produtos
principais das trocas comerciais em finais do século XIX, se encontravam essencialmente
na parte leste de Angola em áreas controladas pelos Chokwe.

Eram também bons caçadores, tendo acumulado armas de fogo. Por trocas que efectuavam
ou por ataques que perpetravam, adquiriam muitas mulheres e escravas, que iam aumentar
em grande número a população Chokwe, não só pelo facto de serem muitos, mas por
estarem em idade de conceber.

Os Chokwe, para além de serem conhecidos como caçadores-guerreiros orgulhosos e


independentes, eram ainda famosos como artistas. Os seus escultores executavam em
madeira elegantes figuras humanas e máscaras para os rituais. Uma outra parte em que os
Chokwe foram verdadeiros mestres era a pintura mural.

8º OS GANGUELAS – GRUPO ETNOLINGUÍSTICO


TCHINGANGUELA PESCADORES
Os Ganguelas representavam cerca de 7% dos angolanos: os Luimbe, Luena, Lovale,
Lutchazi, Bunda, Ganguela, Ambuela, Ambuila-Mambumba, Econjeiro, Ngonielo, Nhemba
e Avico. O antropólogo americamo, George Murdock, inclui a maioria destes povos num
agrupamento Lunda, juntamente com os Chokwe.

O grupo Ganguela era o mais heterogéneo de Angola. Os anteriores grupos etnolinguísticos


descritos, que representavam mais de 95% da população em finais do século XIX, eram
todos bantos. Os restantes grupos eram os Khoisans, que eram representantes dos povos
que viviam em Angola antes da invasão dos Bantos, depois os portugueses e os mestiços.

9º O GRUPO KHOISAN – OS NATIVOS DE ANGOLA

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Os Bosquímanos Kung, a sul de Angola, chamavam-se a sí próprios o «povo inofensivo»,
ou seja, zhu twa si. Aos não bosquímanes, eles chamavam zosi, o que quer dizer «animais
sem casco». Segundo eles, os não bosquímanos eram maus e perigosos como as hienas e os
leões. Quando os Bantos, ou os «animais sem casco», entraram em Angola, quatro a dez
séculos atrás, foram encontrar populações que se dedicavam à caça e que eram de tal modo
inofensivas que depressa se deixaram dominar.

Khoisan é uma palavra composta a partir de khoikhoi, que era o nome hotentote que eles se
davam a sí próprios, e san, que era o nome que atribuíam aos Bosquímanos.

Em finais do século XIX, alguns milhares de bosquímanos dispersaram-se pela parte sul de
Angola e pelo deserto da Calaári, em bandos constituídos por famílias pouco numerosas.
Os Bosquímanos, de constituição frágil e de pele amarelada, viviam uma vida nómada sem
se fixarem permanentemente.

Por sua vez, Boubacar N. Keita, aborda que:

‘’os Khoisans, pequenos pela estatura – 155 centímetros para os homens e 145 para as
mulheres, ter-se-iam formado como entidade particular durante o Paleolítico Superior…as
suas características antropológicas, têm suscitado o mais vivo interesse e provocado
apaixonante debates entre vários especialistas ’’.

A organização social dos Bosquímanos, assentava simplesmente na família nuclear, a qual,


muito raramente, ia para além das vinte pessoas, podendo ser composta por um homem já
velho, pela mulher, as suas filhas, genros e netos e talvez ainda por um ou dois filhos
solteiros.

OS TRÊS PRINCIPAS GRUPOS ETNOLINGUÍSTICOS DE ANGOLA


E SUAS RESISTÊNCIAS CONTRA O MOVIMENTO COLONIAL
PORTUGUÊS
Dentre estes grupos citados acima, adianta-nos caracterizar neste artigo, os três principais
grupos etnolinguísticos de Angola, que segundo Edmundo Rocha, a sua população era, em
1960, a seguinte:

Ovimbundu (Umbundu) ......................... 1.750.000

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M’Bundu (Kimbundu) ………………….1.050.000

Bakongo (Kikongo) ……………………....620.000

Os três grandes grupos étnicos são por ordem decrescente da população são os Ovimbundu,
os M’Bundu e os Bakongo, que representam cerca de 75% da população e ocupam as
regiões economicamente mais importantes, o litoral, o litoral norte e centro e o planalto
central. Os dois primeiros grupos étnicos, são essencialmente angolanos, ao passo que os
Bakongo faziam parte do grande reino do Congo, radicado historicamente numa área que
abrange o ex-Congo Francês, o ex-Congo Belga e o norte de Angola. Entre os três grandes
grupos étnicos angolanos, foram os M´bundu/Kimbundu que tiveram os contactos mais
prolongados, contínuos e profundos com os portugueses. Com efeito, após a fundação de
S.Paulo de Luanda, no dia 25 de Janeiro de 1575, os portugueses progrediram para o
interior, encontrando uma grande resistência por parte do povo M’bundu.

Só um século depois, em 1671, conseguiram estabelecer-se em Pungo Andongo, e séculos


depois (1870), em Cassange. Entretanto, empurrados para o interior, os M’bundu criam os
reinos de Matamba e Cassange. É no decurso desta progressão que aparece a figura mítica
da rainha N’zinga M’Bandi Ya-Ngola Kia Samba (1584-1663).

A estrutura politica e social dos grandes reinos M’bundu do interior, manter-se-à


homogénea até ao século XX, sendo pouco «aportuguesados», referindo-se principalmente
aos reinos da Matamba e de Kassanji; ao passo que as populações M’bundu do litoral,
submetidas desde cedo ao domínio colonial, são profundamente dispersas, desestruturadas,
cristianizadas e «portuguesadas».

Os Ovimbundu ou Umbundu (Galengue, Huambo, Bailundo, Bié), povos numerosos e


empreendedores, estabelecem a ligação entre o litoral e os povos longínquos, Lunda –
Quiocos e Ganguelas, com quem comerciam e onde se vão aprovisionar de escravos.

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CONCLUSÃO
A cultura angolana é por um lado tributária das etnias que se constituíram no país há
séculos principalmente os Ovimbundu,Ambundu, Bakongo, Côkwe e Ovambo. Por outro
lado, Portugal esteve presente na região de Luanda e mais tarde também em Benguela a
partir do séculos XVI, ocupando o território correspondente à Angola de hoje durante o
século XIX e mantendo o controle da região até 1975. Esta presença redundou em fortes
influências culturais, a começar pela introdução da língua língua portuguesa e do
cristianismo. Esta influência nota-se particularmente nas cidades onde hoje vive mais de
metade da população. No lento processo de formação uma sociedade abrangente e coesa em
Angola, que continua até hoje, registam-se por tudo isto "ingredientes" culturais muito
diversos, em constelações que variam de região para região.

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