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CONTAMINAÇÃO POR
MERCÚRIO ANTRÓPICO EM
SOLOS E SEDIMENTOS DE
CORRENTE DE LAVRAS DO
SUL, RS, BRASIL
¹Carlos Antonio Grazia : grazia@pa.cprm.gov.br
²Maria Heloisa Degrazia Pestana, mariahdp@fepam.rs.gov.br
¹Serviço Geológico do Brasil-CPRM/SUREG-PA
²Fundação Estadual de Proteção Ambiental-FEPAM
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da CRM e do Moinho Chiapetta, e por Pestana et al. As amostras de solos são do horizonte A. Foram pe-
(2000) em uma amostra de sedimento coletada na lagoa neiradas por via úmida para obtenção da fração < 230
de tratamento do moinho Cerro Rico. mesh, com peneiras de PVC e malha de nailon e, posteri-
ormente secas à temperatura ambiente. As amostras de
OBJETIVOS DESTE TRABALHO sedimentos de corrente também foram secas à tempera-
tura ambiente, desagregadas em almofariz de ágata e
- Confirmar a existência de contaminação por Hg nos separadas as frações < 120 mesh, com peneiras de PVC
solos próximos às unidades de beneficiamento e verifi- e malha de nailon. As frações granulométricas < 230
cá-la em locais afastados dessas; mesh e < 120 mesh das amostras de solos e sedimentos
- Verificar o grau de dispersão do Hg dos solos contami- de corrente, respectivamente, foram abertas com
nados nas drenagens, através de análises de sedi- água-régia (6 ml para 1 g de amostra), a 95°C durante 1
mentos de corrente; hora para determinações de 51 elementos por ICP-MS,
- Estabelecer os limiares (ou thresholds) e valores médi- nos ACME Laboratórios (Canadá). As concentrações de
os de backgrounds para Au, Fe, Mn e para elementos As, Au, Cd, Cu, Fe, Hg, Mn, Pb e Zn são avaliadas neste
de interesse ambiental, como As, Cd, Cu, Hg, Pb e Zn, trabalho. No lote enviado para análise, foi incluída uma
em sedimentos de corrente sobre granitos e andesitos, amostra de material de referência certificado para Hg
e estabelecer os valores médios desses mesmos ele- (NIST-8407), cujo resultado mostrou erro de exatidão <
mentos para solos; 7% para o método analítico utilizado.
- Comparar os limiares obtidos com os atuais guidelines
brasileiros (CONAMA e CETESB). RESULTADOS E DISCUSSÃO
METODOLOGIA Solos
Os valores de concentração dos elementos anali-
Foram coletadas 8 amostras de solos sobre andesi- sados em amostras de solos distantes das áreas de be-
tos, sendo uma junto à área de beneficiamento da CRM, neficiamento de ouro foram extraídos de Grazia & Pes-
outra junto à área de beneficiamento do Cerro Rico e as tana (2005a) e estão mostrados na tabela 1. Os valores
restantes seis amostras em locais afastados de áreas de médios (VM) de concentração para as 5 amostras de
beneficiamento. Sobre os granitos, foram coletadas: solos sobre andesitos e os valores referentes a uma
uma amostra no interior da área de beneficiamento do amostra coletada sobre granito foram usados como re-
moinho Chiapetta; outra coletada na parte externa da ferência para calcular as taxas de contaminação das
mesma área e uma terceira amostra, utilizada como refe- amostras coletadas nas áreas de beneficiamento.
rência de solo não contaminado, longe de área de bene- A comparação dos VM de solos sobre andesitos,
ficiamento. Sobre a área granítica, se situam 24 amos- com valores orientadores para solos, conforme CETESB
tras de sedimentos de corrente, e sobre a área andesíti- (2001), descritos no rodapé da tabela 1, mostrou back-
ca, 19 amostras. grounds naturalmente elevados para As, Cu e Pb nessa
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Contaminação por Mercúrio Antrópico em Solos e Sedimentos de Corrente de Lavras do Sul, RS, Brasil
Tabela 2 - Teores em solos junto às instalações de beneficiamento de ouro e respectivas taxas de contaminação
Fração < 230 mesh Abertura: Água-régia Leitura: ICP-MS
As Au Cd Cu Fe Hg Mn Pb Zn
Amostra Substrato
µg/g ng/g µg/g µg/g % ng/g µg/g µg/g µg/g
7 Andesito CRM 24,5 688 0,20 270 3,03 18508 626 79 113
(2) (35) (6,8) (4,9) (1,1) (511) (1,3) (3,8) (2,0)
9 Granito Chiapetta 127 13173 1,34 270 4,86 43497 418 1465 661
Interior (15) (2195) (44) (26) (2,7) (805) (3,2) (77) (17)
10 Granito Chiapetta 59,3 2870 1,63 124 2,84 11021 566 1100 500
Exterior (7,23) (478) (54) (12) (1,5) (219) (4,3) (58) (13)
12 Andesito Cerro Rico 163 1533 0,29 1469 5,68 10379 1029 719 250
Exterior (13,2) (78) (7,2) (27) (2) (287) (2,1) (13) (4,5)
1
Valor de Referência 3,5 nr <0,5 35 nr 50 nr 17 60
1
Valor de Alerta 15 nr 3 60 nr 500 nr 100 300
1
Valor Intervenção Agrícola 25 nr 10 100 nr 2500 nr 200 500
1
Valor Intervenção Residencial 50 nr 15 500 nr 5000 nr 350 1000
> ou = ao valor de referência > ou = ao valor de alerta > ou = ao valor de intervenção agrícola
1
Valores orientadores em solo em amostra total da CETESB (2001) - Taxas de contaminação ( ) nr = não referenciado pela CETESB
litologia vulcânica. Os valores de referência também fo- Cu superaram os respectivos valores de intervenção
ram ultrapassados para As, Hg e Pb na amostra 08 cole- para solos de uso agrícola em 100% das amostras, e as
tada sobre granito. de As e Pb, em 75% delas, indicando risco potencial à
As concentrações doos elementos obtidas nas saúde humana. O Zn superou o valor de intervenção
amostras de solos em áreas de beneficiamento, bem agrícola em 50% das amostras coletadas em áreas de
como as respectivas taxas de contaminação, encon- beneficiamento do minério, mais especificamente em
tram-se na tabela 2. Estas taxas foram calculadas como ambas as amostras coletadas no moinho Chiapetta. De-
o quociente entre a concentração na amostra e o respec- ve-se ressaltar, entretanto, que as concentrações dos
tivo valor médio (VM) retirado da tabela 1, que, para gra- elementos analisados nos solos de Lavras do Sul foram
nitos, refere-se ao valor da amostra 08. Na tabela 2 tam- determinadas na fração silto-argilosa, enquanto o relató-
bém foram incluídos os valores orientadores, conforme rio da CETESB (2001) não especifica a fração granulo-
CETESB (2001), exceto os de intervenção industrial. métrica, o que leva a crer que se trate de amostra total.
Considerando a manutenção da multifuncionalida- Recentemente a CETESB disponibilizou na Internet a
de do solo na gestão ambiental, utilizamos preferencial- sua Decisão de Diretoria No 195-2005, datada de
mente os valores de intervenção para uso agrícola como 23/11/2005, que revê os valores orientadores de 2001.
referência na avaliação dos dados apresentados, por Conforme os novos valores, os solos contaminados do mo-
serem mais restritivos do que os de uso residencial. Ou- inho Chiapetta estariam superando também o valor de pre-
tro motivo para a preferência por esses valores é o fato venção para Cd (1,3 mg/g), que é mais restritivo do que o
dos locais amostrados estarem situados em área predo- valor de alerta anterior (3,0 mg/g). Entretanto, com relação
minantemente rural. ao Hg, a nova decisão é muito mais permissiva, tendo os
O Hg mostrou as maiores taxas de contaminação, valores de intervenção residencial passado de 5.000 mg/g
seguido por Pb, Cu e As. Os solos mais contaminados em 2001 para 36.000 mg/g em 2005; e os de intervenção
por Hg e Au foram coletados no interior do moinho Chia- agrícola, de 2.500 mg/g em 2001, para 12.000 mg/g em
petta e na área da CRM, mostrando clara associação 2005. Com isso, somente as amostras coletadas no interior
com perdas no processo de amalgamação. As amostras do moinho Chiapetta e na área da CRM permaneceriam na
mais contaminadas por As, Cd, Pb e Zn foram as locali- mesma categoria. As demais seriam classificadas, quanto
zadas no moinho Chiapetta (interior e exterior), e por Cu, às concentrações de Hg, como superiores ao valor de pre-
no moinho Cerro Rico. Os elementos Fe e Mn, com fraca venção, que nesse caso, coincide com o antigo valor de
ou nenhuma associação com a mineralização sulfetada, alerta. Para os demais elementos analisados, não haveria
apresentaram as menores taxas de contaminação. alterações quanto à avaliação apresentada nas tabelas 1 e
A comparação dos dados obtidos em solos conta- 2. Neste trabalho continuaremos a adotar os valores orien-
minados com valores de orientação adotados pela tadores de 2001, pois não temos conhecimento do emba-
CETESB (2001) mostrou que as concentrações de Hg e samento técnico que levou às alterações de 2005.
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Contaminação por Mercúrio Antrópico em Solos e Sedimentos de Corrente de Lavras do Sul, RS, Brasil
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Limiar 31 25 0,12 66 4,60 88 1397 40,70 99
2 1
CONAMA Nível 5,90 nr 0,60 35,70 nr 170 nr 35 123
2 2
CONAMA Nível 17 nr 3,50 197,0 nr 486 nr 91,30 315
1 2
Este trabalho Resolução Nº 344/04 - A resolução CONAMA Nº 344/04 restringe-se aos elementos As, Cd, Cu, Hg, Ni (não avaliado neste
trabalho), Pb e Zn nr = elemento não referenciado pelo CONAMA.
Nesta última, o limiar de 31mg/g de As para sedimentos pectivos valores do nível 2. Nessa amostra, a concentra-
de corrente ultrapassou até mesmo o nível 2 da RC. ção de Hg (958 mg/g) é de origem antrópica, devida à
Em amostras isoladas, o nível 2 da RC é ultrapassa- proximidade com o moinho Cerro Rico, situado a mon-
do para Cu na amostra 27 da área andesítica e para As e tante, fato que explica o seu elevado valor, o único maior
Cu na amostra 10 da área granítica. Na primeira, as con- que o nível 2 da RC para o Hg. Entretanto, uma contribui-
centrações de As, Hg e Pb também superaram os res- ção natural de Hg também é possível, pois, a análise de
Figura 2 – Detalhe de grão de cinábrio no MEV – Análise qualitativa no MEV - EDS do Microscópio Eletrônico de Varredura.
cinábrio em concentrados de bateia.
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