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O LIVRO DO PASSADO
MISTERIOSO
Tradução de:
ATTÍLIO CANCIAN
Editoração de:
MAXIM BEHAR
Charroux, Robert.
C435L O livro do passado misterioso; tradução de Attílio Can-
cian, editoração de Maxim Behar. São Paulo, HEMUS,
1975.
p. ilust.
1. Curiosidades e maravilhas 2. Enigmas I. Tí-
tulo.
CDD-001.93
75-0600 -001.94
Título original:
LE LIVRE DU PASSÉ MYSTÉRIEUX
Capa:
Equipe Hemus
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
SUMÁRIO
PRÉ-HISTÓRIA
Capítulo I — 0 INSÓLITO TERRESTRE ........................... 19
Escadarias misteriosas — Caminhos que levam a outros
lugares — A porta com uma cruz — Chave para abrir
as portas interditadas — A rocha com pés — Sinais de
referência.
Capítulo II — ILHAS E PAÍSES DE UM OUTRO MUNDO 31
A miragem de São Brandão — O mistério da ilha Antilha
— Ela não é mais vista — Antilha-Atlanta — Crianças
de cor verde — Um país debaixo da montanha — Seres
verdes extraterrestres.
Capítulo IV
I. CIVILIZAÇÕES PERDIDAS ...................................... 49
Os arqueólogos selvagens — A coluna de Ashoka — Ela
é de ferro impuro — O vale das Maravilhas — Os homens
do Bego — A lenda do Vale da Máscara — Os cavalos
bancos das dunas — Cidades esquecidas na selva.
II. REINOS IMAGINÁRIOS ............................................ 65
A cidade subterrânea das Lemúrias — Homens com duas
línguas! — Manoa — Americanas — A Ciudad de los
Cesares — O El Dorado original — Sonhos, delírios e
morte — Paititi — A fonte da juventude.
7
capítulo V — CIVILIZAÇÕES MISTERIOSAS: ESCÓCIA,
FRANÇA, SARDENHA, MALTA ........................... 75
A vingança do deus Azúria — O Craig Phoedrick — As
fortificações vitrificadas do Creuse — As pedras queima
das —■ A hipótese do druida E. Coarer-Kalondan — Os
brochs — Dun Aengus — A Vênus de Quinipily — A bru
xa da guarda — A Mater gaulesa contra a Santa Virgem
— Uma Groac’h indecente — A civilização dos Nouraghes
— Um templo em forma de mão — O hipogeu de Hal-
Saflieni — Uma central de estereofonia de 6.000 anos —
As Três Enormes — A máquina de ressuscitar mortos
— A Mater de cabeça intermutável — A Nazca de Malta.
O MISTERIOSO DESCONHECIDO
Capítulo VI — A MAGIA E CRISTÓVÃO COLOMBO .... 103
O paraíso terrestre — O mapa de Toscanelli — A mira
gem das Ilhas Afortunadas — O “Winland” e o México
antes de Colombo — Martim Alonso e Vicente Pinzón —
Os precursores de Colombo — Cabot chega antes de Co
lombo — A verdadeira finalidade: Reconstruir o templo de
Jerusalém — Fim do mundo em 1656 — Colombo, grão
mestre do templo — Uma missão templária Colombo
cabalista — Um talismã de mestre do mundo — Um pacto
com Satã.
Capítulo VII — O LIVRO DE MAGIA DO GRANDE
ALBERTO ................................................................... 122
Quando a sorte nos bafeja! — Fatos estranhos — O sinal
do além — Os segredos do Grande Alberto — Para se
corresponder por magia a grande distância — Para
transformar o chumbo em ouro fino — O Conde de São
Germano — Nada de milagre na televisão — O homem
vermelho das Tulherias.
Capítulo VIII — OS RETRATOS MÁGICOS DE BELMEZ
DE LA MORALEDA .......................................................... 134
A casa encantada — Um túmulo debaixo da lareira —
As sombras falam — A casa está assombrada -— Outro
rosto aparece — Raios ultravioleta — Existiría algo
supranormal — Correntes telúricas e materialização —
A criação de um mundo.
Capítulo IX — AGPAOA, O ROMPE-BARREIRAS ............ 146
Suas mãos entram nas carnes como se entrassem na água
— Uma prova só: As chagas abrem-se e tornam a fe
char-se — Três operações com mão nua — As emanações
de Kirlian — A cirurgia espiritual (Psychic Surgery) —
Seria um legado dos Extraterrestres — Levanta-se a ponta
do véu — Ilusionismo e magia — Os racionalistas contes
tam — As aparências enganam... — A múmia da cripta
hermética.
8
Capítulo X — O MISTERIOSO DESCONHECIDO DO
FOGO .................................................................................... 162
Os estranhos incêndios — Fogo misterioso — Sentença de
Deus ou do Diabo? — O diácono Páris — Os milagres da
histeria — Mulheres crucificadas nuas — Deus está proi
bido de fazer milagres — Maria Sonnet dorme sobre o
fogo — Na confluência do físico e do psiquismo — O
ignorante zomba das leis físicas.
Capítulo XI — OS LIVROS SIBILINOS E JOANA D’ARC 173
Os livros sibilinos e o fim de Roma — Fim do mundo,
destruição de Nova Iorque e de São Francisco — Oráculos
em pedras. Fim de Marselha! — O sinal do fim do mundo
—• A telepatia de Black — As ondas do pensamento —
O 3.° olho de Joana — A espada mágica — Misteriosa
Joana d’Arc — Filha de Rainha? — Quem é que ardeu na
fogueira? — Era um assunto de magia.
FANTÁSTICO
Capítulo. XII — A MATER, A LILITH E 0 HOMEM SU
PERIOR .............................................. 189
A Mater hermafrodita — A Mater e a partenogênese —
O canal de Müller — A mulher vive mais tempo — Lilith
(Lília) — Vovó capeta! — O homem seria mais inte
ligente.
Capítulo XIII — A ESCRITA CROMOSSÔMICA E O
PECADO ...................................................................... 197
A psicosfera — As correntes telúricas — O grande medo
dos ancestrais — Os asilos de paz — A serpente e o esper
matozóide — A escrita biológica — Invenção do nome —
A alcunha ou nome cromossômico — Maldita da mulher!
— A estranha seita dos cainitas — Dois pesos e duas
medidas — Elogio do racismo — Toda a natureza é racista
— O pecado mortal.
Capítulo XIV — A CRIAÇÃO DO MUNDO ......................... 215
Existe vida em tudo — A tese do Mestre Desconhecido —
Proteus, o viajante do tempo — O + O — e o tempo zero
— Como imaginar o universo — O paradoxo de Zenão —
0 homem do nêutron — 1 morto e 1 vivente — 0 Pai, o
Filho e o Espírito Santo — Ilusão do tempo: universo
instantâneo — 0 Rig Veda dissera-o ... — Deus foi in
ventado pela Inteligência — Manou sabia disso ... — A
Cosmogênese dos Iniciados.
Capítulo XV — A VIDA E A INTELIGÊNCIA ................... 230
Vida primitiva do cosmo — Deus é o contínuum espaço-
■tempo — Atoum, o Deus átomo — Os deuses atômicos —
9
0 tempo aprisionado — Como nasce a inteligência — Os
cromossomos-memória da natureza — O círculo mágico
sem espaço-tempo.
Capítulo XVI — A NATUREZA QUE PENSA:
I. INTELIGÊNCIA DAS PLANTAS ........................... 230
— A inteligência e a alma —Inteligência das flores —
A genial orquídea — Uma planta calculista.
II. INTELIGÊNCIA DOS ANIMAIS ........................... 244
— O radar do icnêumon — Instinto e inteligência.
III. A VIDA NA MATÉRIA ........................................... 247
— Nossos ancestrais de pedra — Os pontos de amor
— Os pontos de agressividade — A terra se vinga.
Capítulo XVII — OS MUSEUS PRÉ-HISTÓRICOS DO
PETRIMUNDO ................'......................................... 253
A gravidez indócil da natureza — O museu fantástico de
Fontainebleau — Montepellier-Le-Vieux: a cidade do diabo
— Paiolive — A aldeia dos ídolos — O planalto de Mar-
cahuasi — Máquinas do futuro nos rochedos — O petri-
mundo e os museus pré-históricos.
Capítulo XVIII — A MÁQUINA DE FILMAR O PASSADO 275
Os engenhos do futuro — Elixir da juventude — Fogue
tes de dois estágios no século XVI — O passado jamais
morre — Uma foto das tábuas da lei — Eis o retrato de
Cristo — A chave do enigma...
10
MELUSINA
Capítulo XXI — MELUSINA, A SERPENTE ALADA .... 237
Preliminar — Agradecer a Deus em todas as coisas — A
grande caça do conde Aimery — Escrito nos astros — O
vaticínio se realiza — As três senhoras da fonte — Toda
noite, de sábado para domingo — 0 segredo de Melusina
— Encantamentos na floresta — O casamento de Melusina
— A fada construtora — 0 tabuleiro de Melusina — Os
três sinais do destino — 0 segredo da torre — A Licorne
maravilhosa — O vôo da serpente — Comentários —
Textos para consultas.
A FEITIÇARIA
Capítulo XXII — DEMÔNIOS E PRODÍGIOS ................... 359
As clavículas de Salomão — O Enchirídion — Para ser
invencível... E a jarreteira de andamento! — Quando o
fogo queima a sua casa — Denise de la Caille, a possessa
— Ela muge e voa — Satanás ameaçado de excomunhão —
Belzebu, Satanás, Lísis, Matelu e Brifalto assinam o termo
de capitulação! — A maldição que matou Papus — A mor
te de Fabro de Olivet — Sacrilégio em Raivavaé — Moana,
a estátua maléfica — Bossuet, o bruxo negro — Uma fo
gueira para a ano 2000.
OS MISTÉRIOS DO CÉU
Capítulo XXIII — AVENTURAS NO CÉU ........................... 375
O Vale das Maravilhas do México — Mensagens gravadas
por Extraterrestres — Gigantes e cosmonautas — Oe
deuses voadores da Austrália — Luas, sóis e ruas no
céu — As “bolas”- extraterrestres de Manilha — Uma
ilha fantasma no radar — Extravagâncias no Mediter
râneo — Os radares não se enganam, mas... — O motor
sem combustível de Van den Berg.
Capítulo XXIV — AS SOCIEDADES SECRETAS EXTRA
TERRESTRES ............................................................ 388
The Aetherius Society — A lenda do inferno — Eugênio
Siragusa — Base extraterrestre sobre a Lua preta —
Um fenômeno messiânico — As armas maravilhosas dos
Celtas — O laser dos Tuatha Dé Danann — Os discos
voadores: ilusão ou realidade? — O céu é uma bola de
cristal — Mensagens dos terrícolas aos extraterrestres.
FONTE DAS ILUSTRAÇÕES E FOTOS ............................... 405
11
Aquele que busca a verdade e a
exige com impaciência deve pro.
curá-la junto a quem possui ca
bedal de conhecimentos. Não
importa qual seja o embusteiro
que lhe venha resolver o proble
ma.
PREFÁCIO
A história dos homens e das suas civilizações só apresenta
aquilo que aprouve aos historiadores narrar para a edificação
e muitas vezes para a dependência dos povos e então nos
pareceu útil e razoável divulgar fatos estranhos e aconteci
mentos heréticos que foram propositalmente passados em
silêncio, ignorados ou deturpados por espíritos que se exce
dem em seus raciocínios.
Nossa história paralela não passa de um ensaio rápido e
jocoso, às vezes afoito, porém sempre fundamentado, embora
os elementos de que dispomos tenham sido contestados, afas
tados ou pertençam a esse fenômeno oculto que denominamos
o “Desconhecido Misterioso”.
15
sas que ocorrem no céu e poderes incríveis legados aos nossos
ancestrais terrícolas por outros ancestrais ainda mais distantes
que haviam vindo do céu.
Abre-se neste livro aquilo que deveria estar lacrado, reve
la-se o que se deveria ocultar, começando, para ferir o diapa-
são, pela frase misteriosa ouvida na lua pelo cosmonauta
Worden.
16
UMA EMISSÃO DE ORIGEM DESCONHECIDA
17
EIS A FRASE INTERDITADA
18
PRE-HISTORIA
Capítulo I
0 INSÓLITO TERRESTRE
ESCADARIAS MISTERIOSAS
19
As pistas ou desenhos gigantes dos pampas de Nazca, no
Peru, representam um exemplo típico da arqueologia ignorada
por aqueles que são precisamente pagos para conhecê-la.
Estas pistas, esses atalhos, esses caminhos balisados....
para que e por quem foram eles construídos? (3)
20
Sigíria (Ceilão). Escadarias para elfos; fadas e seres misteriosos
escalaram os flancos de um rochedo enorme.
21
CAMINHOS QUE LEVAM A OUTROS LUGARES
22
Na ilha de Ceilão uma civilização enigmática talhou estes degraus
que não se sabem aonde vão dar.
23
A PORTA COM UMA CRUZ
24
Às vezes a escadaria consta somente de pequenos entalhes. Um ser
humano não pode de forma alguma subir por eles.
Em outras palavras, toda a história do homem depois de sua
criação está gravada em seus cromossomos-memórias, como
o código genético o é para cada espécie.
26
A Rocha com Pés, perto de Lanslevillard (Savóia).
27
A Rocha com Pés. Com exceção de duas, as marcas dos pés estão
todas voltadas em direção ao sol poente.
28
SINAIS DE REFERÊNCIA
29
As cúpulas perto dos traçados relacionam-se com o mito
da água sagrada, sem dúvida com propriedades maravilhosas.
Duas pegadas, as do chefe, acham-se situadas na borda
extrema do rochedo; duas outras, transversais, implicam quer
uma intenção de sacrilégio — pode ser talvez o fato de um
inimigo — ou a dessacralização do lugar.
Naturalmente, não se trata senão de hipóteses: o local da
Rocha com pés é um caso bastante raro na arqueologia co
nhecida8 .
30
Capítulo II
31
fessor Doru Todericiu — não passaria de um posto de coloni
zação atlanteana.
Seja como for, a autenticidade da Atlântida não é mais
objeto de dúvida e estamos convencidos de que próximas des
cobertas virão confirmar definitivamente as teses defendidas
pelos tradicionalistas.
Os documentos que iremos apresentar, seja como for,
merecem fazer parte do dossiê, pois parecem trazer a prova
de que a última ilha da Atlântida só desapareceu no século XV.
32
ço do século XV Antilha, antigo vestígio da Atlântida, ainda
existia no meio do “mar ocidental” sobre o paralelo 28.
A tradição conta que, expulsos pela invasão dos árabes,
no século VIII os cristãos espanhóis buscaram refúgio no
meio do oceano, "num lugar que não foi revelado ao mundo
antes de 1500”.
O célebre globo do cosmógrafo Martin Behaim, construí
do e desenhado em 1492 para a cidade de Nuremberg, traz a
seguinte anotação (em alemão antigo):
"No ano 734 depois de Cristo, quando toda a Espanha foi
invadida pelos infiéis da África, então também a ilha Antilha,
chamada Septe citade (as Sete cidades), que aparece aqui, foi
povoada por um arcebispo do Porto, seis bispos e por cristãos
homens e mulheres, os quais haviam fugido da Espanha em
seus navios e para cá vieram com seu gado e suas fortunas.
Casualmente no ano de 1414 um navio espanhol se apro
ximou até bem perto dela. ”
O professor Florentino Toscanelli mencionara Antilha no
meio do Oceano Atlântico, entre Cipango a leste e São Bran
dão a oeste, abaixo da mítica ilha de Man Satanáxia. Chegava
a fazer uma apreciação das distâncias: devia-se contar "vinte
e seis espaços de Lisboa até Quinsay (China) e dez espaços de
Antilha a Cipango” (Japão).
Um espaço era um intervalo de meridianos, correspon
dendo a duzentas e cincoenta milhas marítimas ou cinco
graus.
Sem dúvida, inspirado no mapa de Toscanelli, o Globo
de Martin Behaim situava Antilha em 330° e Lisboa em 15®.
M. de Avezac narra que Antilha era conhecida, assinalada
e visitada no século XV; Toscanelli, acrescenta ele, havia es-*
33
crito à corte de Portugal: "Esta ilha de que vós tendes conhe
cimento e que vós daí chamais de Sete Cidades...”
Por sua vez Fernando, filho de Cristóvão Colombo, em
Vida de meu pai5, diz precisamente:
Alguns portugueses a inscreveram em seus mapas com
o nome de Antilha, embora não combinasse com a posição
dada por Aristóteles; ninguém a situava a mais de aproxima
damente duzentas léguas em sentido direto a ocidente das
Canárias e dos Açores.
Julgam como certo que se trata da ilha das Sete Cidades,
povoada por portugueses no tempo em que os mouros toma
ram a Espanha do rei Roderico, isto é, no ano 714 de Jesus
Cristo...
Sete bispos fundaram ali sete cidades a fim de que os
seus não cogitassem mais em voltar à Espanha, queimaram
os navios bem como o cordame e outros objetos próprios da
navegação...”.
Fernando Colombo assegura que durante a vida do in
fante Don Henrique um navio aportou na Antilha; os mari
nheiros foram à igreja e observaram que ali se observava o
rito romano.
34
ter-se refugiado nesta ilha, fugindo diante dos bárbaros que
invadiram a Espanha sob o reinado do rei Rodérico, o último
que governou a Espanha no tempo dos godos. Têm lá um
arcebispo e seis outros bispos e cada um deles possui sua
cidade própria, o que faz com que muitos a denominem de
ilha das Sete Cidades; o povo vive nela muito cristãmente,
coberto com todas as riquezas deste mundo”.
No Ptolomeu, a Antilha mede oitenta e sete léguas em seu
maior comprimento, no sentido norte-sul, e vinte e oito léguas
de largura. A ilha fica situada no paralelo de Gibraltar, a 36
graus e meio de latitude. Portanto, era conhecida a partir do
século II e é provável que tenha realmente existido, mas que
tenha sido tragada no decurso dos tremores de terra regis
trados em Portugal no século XV.
Tais cataclismos não são raros no Atlântico, onde vimos
diversas vezes aparecerem ilhas vulcânicas, sendo que a mais
recente surgiu em 1956 na extremidade de Faial à qual está
sempre ligada.
Se os bispos espanhóis conseguiram fazer construir tão
rapidamente sete cidades sobre uma ilha deserta, sem dúvida
deve ter sido porque encontraram no local materiais já pre
parados: os últimos vestígios de cidades e aldeias da poderosa
Posêidon (ou Atlante ou Atlanta).
Sempre no plano das conjecturas lógicas, a decisão que
os espanhóis tomaram de queimar os seus navios para não
serem tentados a retornar à Europa poderia indicar que acre
ditavam ter encontrado o paraíso terrestre, o eliseu ocidental
ou país dos primeiros pais7.
Por mais fracos que possam parecer aos "racionalistas”
exigentes, estes indícios nos incitam a crer que a Antilha não
passava de uma parcela da Atlântida que escapou miraculosa-
mente do cataclisma universal — faz 12000 anos — e que
desapareceu definitivamente por volta do ano de 1550.
ANTILHA — ATLANTA
35
Muito antes de Cristóvão Colombo e Cabral se falava de
uma ilha Brasil que se situava ou a noroeste de São Brandão
ou entre a Antilha ou a Ilha dos Carneiros.
O continente descoberto por Vicente Pinzon e Cabral to
mou o nome de Terra de Santa Cruz e depois finalmente de
Brasil, por força de corruptela da palavra braza (brasa), que
se referia à cor viva dada devido à madeira de tingir que exis
tia em abundância nesta parte do mundo
Mas Brasil ou Brazil significa também vermelho e este
país é com efeito a pátria de origem dos homens de raça ver
melha .
A etimologia de Antilha é ainda mais curiosa.
Ela é ante-ilia: ilha antes (o continente ainda desconhe
cido) ou ilha anterior, a mais antiga, isto é, a Atlântida!
É a etimologia que mais se aproxima da verdade, tanto
mais que numa carta geográfica de 1445 se lê a seguinte ins
crição:
"Esta ilha leva o apelido de ilha de Antiliis. Platão, que
foi um grande e sábio filósofo, afirma que era quase tão vasta
quanto a África...”
As cartas marítimas da Idade Média situavam Antilha
num grupo denominado Insulae de novo repertae, ou seja
■“ilhas novamente descobertas”, a saber: Antilha, Róilo, Man
Satanáxia e Tanmar.
Este arquipélago nada tinha a ver com os Açores, Madei
ra e as Canárias as quais eram bem conhecidas, e igualmente
releva pensar que sua existência fosse mítica ou então que as
ilhas, todas elas de uma vez ou uma após a outra tenham sido
engolidas pelo abismo do oceado. O onomástico e o “Miste
rioso Desconhecido" combinam ainda com a ilha Man Sata
náxia, de onde a ilha da Mão de Satanás
O geógrafo veneziano Domingos Mauro Negro chama-a de
Ilha de Mana; Beccaria a chama de Satanágio e Bianco de
Satanáxio, o que sugere ao mesmo tempo o poder mágico do
mana, palavra esta man que significa homem e a idéia de uma
mão diabólica saindo do mar.
Ilha mágica? Talvez, mas antes ilha de sortilégios, na qual
homens podem exercer um poder extraordinário, ilha do
Homem primitivo, centro do mundo como o é para os celtas
a ilha de Man no mar da Irlanda.
Eis-nos de novo na Atlântida, no País dos Primeiros Pais
sábios! Isto, só mesmo se Man Satanáxia não evocasse a ima
gem de uma terra que surge, que desaparece, que toma a sur
36
gir do oceano à maneira das ilhas-fantasma, fenômeno vulcâ
nico bastante particular na zona atlântica que cobre o imenso
império dos atlantas.
CRIANÇAS DE COR VERDE
Na Idade Média se acreditava muito no prodigioso acessí
vel deste tempo: o da religião e do ocultismo. Com efeito,
estes dois mitos muitas vezes se davam as mãos, com o céu
dos anjos a evocar o reino das fadas e com as profundezas do
inferno suscitando a idéia dos povos e dos mundos subterrâ
neos.
Dentro desta perspectiva Antilha constituía ao mesmo
tempo o paraíso terrestre e a cidade interditada do fundo dos
mares ou das entranhas terrestres onde, como era natural,
viviam seres fundamentalmente diferentes de nós.
Ainda em nossos dias fatos raros permitiríam supor que
essas crenças antigas não estavam totalmente despidas de
fundamento.
À meia-noite do dia 29 de agosto de 1911, os empregados
dos matadouros de uma pequena cidade da Califórnia (USA)
depararam com um homem nu, meio morto de esgotamento,
cuja linguagem não pertencia a nenhum dos dialetos aboríge
nes catalogados
De onde vinha? Jamais se ficou sabendo, muito embora
os antropólogos afirmassem que ele era um dos últimos indí
genas selvagens do continente americano.
Muito mais extraordinário foi o aparecimento, na Espa
nha do último século, de duas crianças de raça humana des
conhecida .
A história foi relatada em La Vie Claire8, a 8 de fevereiro de
1972 pelo simpático George Langelaan, mas podemos duvidar
de sua autenticidade, pois nossas pesquisas conjugadas com
aquelas do jornalista Sérgio Berrocal nunca nos permitiram
localizar a aldeia de Banjos, que ficaria perto de Gerona, na
Catalunha, onde se registrou o acontecimento.
Foi numa bela tarde de agosto de 1887. Aldeões faziam
a sesta à sombra das oliveiras quando perceberam a presença
de duas jovens crianças que choravam copiosamente.
Com estupor e quase que horrorizados os catalunhenses
viram que as crianças, um menino e uma menina, estavam se
37
minuas e que sua pele tinha uma cor uniformemente verde,
parecida àquela das frutas das suas oliveiras.
Os estranhos pequenos seres fugiram gritando, mas foram
imediatamente agarrados e levados à residência do Sr. Ricar
do de Calno, prefeito de Banjos, que passou a interrogá-los.
A bem da verdade, foi preciso antes acalmá-los, mimá-los,
fazê-los entender que não se queria fazer nenhum mal contra
eles e somente depois disto é que pronunciaram algumas pa
lavras numa língua desconhecida.
Então a senhora da Calno lavou o corpo das duas crianças
pois esta cor verde, diabólica, que asemelhava quase uma
decomposição das carnes, não íhe inspirava nada de bom!
Mas as crianças verdes não perderam um tiquinho sequer
de sua cor embora o prefeito, cada vez mais perplexo, tivesse
resolvido recorrer às luzes de um médico e das autoridades de
Gerona que estabeleceram processos verbais de exame, onde
se deveria reencontrar o fio da meada em Banjos, conforme
afirmativas de George Langelaan.
UM PAÍS DEBAIXO DA MONTANHA
Ficou rapidamente evidente que as duas criaturas verdes
não nertenciam à nossa raça humana, tanto em virtude da pig
mentação como pelo seu comportamento. Eram de um tipo
um pouco negróide, olhos apertados e, se aceitavam beber
água, recusavam com obstinação selvagem todo alimento cos
tumeiro: pão, carne, batatas, cenouras, azeitonas, figos, uvas
etc.
Ao cabo de cinco dias de jejum e quando se estava per
dendo a esperança de fazê-las tomar algum alimento, as crian
ças verdes viram feijões fora das vagens os quais comeram
completamente crus, com sofreguidão.
O menino, que era o mais novo e também o mais fraco,
suportou a vida dos homens de pele branca somente um mês.
Morreu docemente e foi enterrado no cemitério da aldeia.
A garotinha, que parecia ter de treze a catorze anos de
idade, aos poucos foi se acostumando ao novo gênero de vida
e chegou a aprender espanhol suficientemente para poder
contar uma estória que desafia toda credibilidade e que pa
rece totalmente possível!
— Meu irmão e eu, narrou ela, saímos da colina
através de uma gruta que dá acesso ao nosso mundo9.
38
Vivíamos com nossa família e com nosso povo num país onde
reinava uma noite quase sempre total. Todavia, via-se às vezes
uma imensa luz, muito distante no horizonte, para os lados
de lá de um grande lago.
Certo dia estava eu junto com meu irmão e houve um ba
rulho ensurdecedor em volta de nós... parecido com uma
explosão da montanha e, sem saber como é que as coisas se
passaram, repentinamente nos achávamos na gruta perto da
aldeia.
39
Mais interessante é a tese do doutor Dominic Recoodin,
da Universidade de Londres, o qual se interessa nas mudanças
fisiológicas e morfológicas que devem resultar da fotossíntese
por meio do ser humano.
40
Capítulo III
OS ANCESTRAIS SUPERIORES
41
aurora da criação pelas séries sucessivas que a ela nos ligam,
este legado genético está provavelmente inscrito nas zonas não
solicitadas, não exploradas do nosso cérebro.
À medida que o nosso conhecimento aumenta, circuitos
neurônicos virgens são desbloqueados bem como zonas não
sensibilizadas desde uma infinidade de milênios.
0 fenômeno pode continuar até que o homem tenha recon
quistado a plenitude de seus conhecimentos passados.
Então todas as zonas neurônicas estarão em estado de
vigília e de funcionamento e o homem lúcido poderá lembrar-
se de sua história anterior.
O processo das aquisições do conhecimento não corres
ponde ao fenômeno da evolução física humana. Processa-se
mais rapidamente, o que implicaria, indo no fundo do proble
ma, não uma progressão evolutiva, mas uma descoberta de
objetos de recordação já armazenados no passado.
Conforme esta tese, o homem teria tido Ancestrais Supe
riores .
Certamente não vamos encontrar “locomotivas e bicicle
tas” que tenham sido construídas por esses grandes ancestrais,
conforme faz notar o nosso confrade Jacques Bergier, mas não
estamos nós vendo o aço de uma locomotiva perdurando atra
vés de dezenas, de centenas ou de milhares de milênios?
De mais a mais — Jacques Bergier não pensara nisto —
é difícil provar se num outro planeta se encontram ou não
locomotivas e bicicletas!
Com efeito, os Ancestrais Superiores não eram necessa
riamente terrícolas e se o eram talvez seja em data recente.
Os deuses e as deusas vinham sempre de uma ilha na
mitologia do carnaval.
Sem dúvida reminiscência dos tuleanos e dos cabiranos ou
outros iniciadores que, às vezes disfarçados, às vezes parecen
do 1 como tais em razão de sua origem extraterrestre, interes
savam-se por adquirir primeiramente seus conhecimentos por
um ensino ministrado numa ilha: Delos, Samotrácia, Man,
42
Avallon, Tulê, do Sol (Titicaca), Deus2, dos Santos (na mito
logia chinesa), de Oraisan (para os japoneses) etc.
Se estes iniciadores provinham do cosmo — notadamente
da oceânica Vênus — pode-se supor igualmente que procuras
sem um lugar idêntico àquele que em seu planeta se ministra
vam o ensino das ciências.
Ademais, uma ilha oferecia a vantagem de evitar uma
eventual contaminação para organismos mal aclimatados.
Nesta hipótese, os Ancestrais Superiores originais, ou Pri
meiros Pais, ou Santos, seriam Extraterrestres, conforme,
aliás, dizem ou deixam supor as mitologias de todos os povos.
43
Existe um precipício, um abismo de milhões de anos en
tre um gibão do zôo e um sábio atomista de Saclay.
44
Caso contrário — quer dizer, se ele existe em diversos
lugares — o homem espécime único para lá foi exportado.
4 — A espécie humana parece bem fixada, parece que não tende para
um tronco original, não parece querer regredir a um tipo pri
mitivo (por exemplo, macaco). Os Primitivos mais atrasados
pareciam ser homens fracassados, com tendência a um retorno
em direção à elevação, antes que homens em evolução normal
para o aprimoramento.
Não possuímos nenhuma ligação com o estágio inferior e não
parece que o homem possa descer novamente a uma espécie
original.
5 — Esta tese não tem aquele rigor científico no sentido como se
exploram estas palavras. Supõe a existência e a intercessão de
entidades conscientes análogas a Deus ou a deuses. É sob este
prisma que ela escapa a um certo racionalismo, mas na reali
dade o rigor científico constitui uma astúcia, pois só o conhe
cimento total pode ser rigoroso, o que não se dá com a nossa
ciência humana.
Deus ou deuses que acreditamos serem visões do espírito, sim
ples postulados, talvez tenham uma consistência, na realidade
desconhecida, ou uma natureza da qual não fazemos nenhuma
idéia como seja.
É por esta razão que batizamos com o nome de «representações»
as nossas teses, hipóteses e especulações diversas.
No presente estudo é preciso imaginar o homem terrestre tra
zido ou inseminado em nosso globo por homens de um outro
planeta.
45
Em nossos dias os terrícolas enviam homens ao espaço,
com fins científicos certos, mas também por curiosidade e
talvez porque no inconsciente sejam solicitados por seus cro-
mossomos-memórias.
Com efeito, a conquista do espaço constituiría fundamen
talmente um retorno às fontes, uma peregrinação ao país dos
primeiros pais.
Se a nossa civilização existir ainda dentro de cem anos,
será fora de dúvida que os cosmonautas terão ido aos outros
planetas próximos e que as suas explorações os levarão rumo
a horizontes longínquos onde talvez tenham a possibilidade
de descobrir uma pequena estrela idêntica à Terra.
Se assim for, deveríam encontrar ali uma fauna e uma
flora quase idênticas àquelas que conhecemos, mas provavel
mente não nossas espécies de exceção: os homens e os golfi
nhos .
Os biologistas terrícolas — pois é próprio da natureza
humana propagar a civilização — procurariam então instalar
aí homens, escolhendo os mais primitivos, os mais capazes de
sobrevivência: o equivalente dos balubas e dos papuas de nos
sa época.
Os "Primeiros País”, em sua aventura de colonização ter
restre, tiveram que se conformar a este imperativo, mesmo que
tenham condicionado sujeitos, modificando-lhes o sangue e
seu sistema respiratório; quem sabe se por meio de experiên
cias de hibridação com os animais ou com as plantas que,
nessa estrela distante, mais se parecessem conosco.
46
1) carência de séries entre o macaco e o homem;
2) monstros ou seres fabulosos, semi-homens, semi-animais
que, segundo as tradições, disputaram com o homem a
supremacia sobre a Terra;
3) criaturas primárias da pré-história (os seres incapazes
de evoluir ou lastimavelmente hibridados);
4) Ancestrais Superiores que, à margem desta humanidade
fracassada, conseguiram colonizar este planeta.
Desta maneira teríamos igualmente uma explicação para
a cumplicidade misteriosa e comovente que se estabeleceu
ainda entre os exportados-humanos que lograram êxito na
aventura sobre o continente e os exportados-golfinhos, cuja
experiência marítima encalhou.
INICIADOS POUCO SENSÍVEIS
0 dilúvio universal pôs fim a esta fantástica operação,
como um cataclismo análogo um dia porá fim à nossa civili
zação; contudo os mitos testemunham uma etnia de iniciados
que se teria estabelecido na região polar antes da grande
catástrofe: os hiperboreanos.
Denominamo-los freqüentemente de os Grandes Ances
trais Brancos, os Primeiros Pais guias e chefes supremos dos
atlantas.
Hiperboréia, sua capital, situada em alguma parte entre
a Irlanda e a Groenlândia, achava-se encravada entre monta
nhas de gelo, mas gozava de uma tempertura tão clemente
que os campos eram verdejantes, com lindas árvores, e ali se
cultivava o trigo candial6.
Diz-se que a capital desse pequeno reino era Tulê, embora
outras tradições mencionem Tulê como ilha do Atlântico Nor
te (talvez Irlanda).
Seja como for, Hiperboréia, com ou sem Tulê, se nos
apresenta como o centro de iniciação dos Atlantas, o grande
Quartel General de onde partiam as ordens.
47
Depois de Hesíodo e Homero muito se tem escrito sobre
os hiperboreanos, mas jamais autor algum teve a atenção des
pertada para o fato de que iniciadores, diretores de ciência e
de consciência de um imenso povo civilizado, tenham escolhi
do precisamente uma região polar para nela se instalar, mes
mo que por um milagre da natureza ou de sua capacidade de
trabalho tenham chegado a tomá-la relativamente temperada.
OS GRANDES ANCESTRAIS BRANCOS
Sabemos que numa certa época o Grande Norte era mais
quente pelo fato de que antes do dilúvio a Terra girava sobre
um eixo perpendicular no plano eclíptico, o que eliminava as
estações.
É exato que a Suécia e a Noruega conheceram vegetações
tropicais que explicam a formação de âmbar amarelo fóssil,
•de origem resinosa, que se encontra às margens do mar Bál-
tico; contudo, é provável que a escolha da localização geográ
fica para Hiperboréia fosse motivada por razões muito mais
racionais do que o mero acaso ou a fantasia. Diz-se que os
hiperboreanos eram muito grandes, de pele muito branca, e
teriam tido, ademais, olhos azuis muito claros e uma cabeleira
loura, o que representa em nossos dias exatamente o tipo nór-
dico ideal, por oposição aos tipos morenos ou pretos das re
giões mais tropicais.
Por conseguinte, é lógico crer que esses hiperboreanos de
pele branca tenham escolhido intencionalmente a região mais
quente da Terra, porque ela correspondia da melhor manei
ra, por seu clima, ao planeta de onde eram originários.
Resumindo: se os Primeiros Pais eram indivíduos Extra
terrestres, devem pensar que o seu planeta era mais deslocado
•do centro do que o nosso globo em relação ao sol ou ao seu sol.
Se pertenciam ao nosso sistema solar, podiam vir de uma
zona vizinha da órbita de Marte ou dos asteróides onde a tem
peratura é nitidamente mais baixa que na Terra.
De acordo com as transmissões orais de iniciação, esses
hiperboreanos foram os ancestrais da raça branca7.
48
Capítulo IV
I. CIVILIZAÇÕES PERDIDAS
49
suas ferramentas de bronze, confeccionadas antes daquelas de
férro(ü) foram inventadas faz coisa de 4000 anos somente,
ou seja 6000 anos depois de terem fabricado catorze varieda
des de bronze em Medzamor (Armênia soviética)3.
50
acordo com o Dr. Faibridge, geólogo da Universidade de Co-
lúmbia, situava-se o pólo sul há 450 milhões de anos; no Irã
onde foi descoberta uma cidade industrial com 6000 anos de
idade: Shanr-I-Soktch que teria abrigado cem mil habitantes
com habilidade para trabalhar as pedras preciosas e os me
tais nas oficinas e na fábrica!
Nestas condições, |Como poderiam espíritos lúcidos re-
cusar-se a admitir a existência de Ancestrais Superiores e de
civilizações ignoradas, dentre as quais algumas quiçá mais
evoluídas que a nossa?
OS ARQUEÓLOGOS SELVAGENS
Os arqueólogos “selvagens" não têm a intenção de refor
mar as ciências clássicas e muitas vezes se enganam, por falta
de meios financeiros ou por carência de competência técnica;
mas a despeito de seus equívocos — bem escusáveis na maio
ria das vezes — contribuem com elementos preciosos e esti
mulam a pesquisa oficial.
As tradições nem sempre estão isentas de erros, de exage
ro e mesmo de afabulação pura e simples.
As informações oriundas dos meios mais autorizados não
escapam a estas críticas e parece ser o caso do dom particular
da Sra. Kouleshova, essa russa que “via com os seus dedos”.
Os cientistas soviéticos levaram sete anos jde pesquisas
para descobrir aquilo que seria sem dúvida uma tapeação.
A publicação Litcraturnayan Gazetta, que referiu esta
informação, afirma que, por ocasião das experiências oficiais
em 1963, o espectroscópio emitia um som especial toda vez
que a cor dos raios mudava. A Sra. Kouleshova teria baseado
suas (visões coloridas nessas mudanças de sonoridades quase
imperceptíveis ao ouvido normal.
Por conseguinte, o problema não está completamente
resolvido, pois há biologistas que asseguram que jtodas as
células do corpo possuem aptidões para todas as funções de
percepções sensoriais.
A COLUNA DE ASHOKA
Numerosos charlatães deitaram a escrever que a célebre
coluna de Ashoka, de ferro inoxidável, tinha uma velhice de
4000 anos. Trata-se de um exagero, conforme tivemos opor
tunidade de constatar quando examinamos minuciosamente
o monumento.
Eleva-se no pátio de um tempo de Nova Délhi (índia),
diante duma porta monumental de estilo árabe. Mede cerca
51
de 7 metros de altura e seu diâmetro varia de 42 cm na base
a 32 cm na ponta e pesa 6 toneladas6.
À primeira vista, esta coluna não pode ter a idade propa
lada, pois a ornamentação na ponta da mesma é de um estilo
facilmente identificável. Chamam-na comumente de “coluna
de Ashoka”, em virtude do nome de um soberano, neto de
Bindusâra que no decurso de 260 a 227 antes de Cristo mandou
erigir, nas <extremidades de seu império, colunas que às vezes
serviam para gravar seus editos.
Como o prova seu estilo arquitetural, a coluna não pode
ter sido levantada por Ashoka e sim pelo imperador Candra-
gupta II, apelidado Vikramâditya, que reinou de 380 a 413
da nossa era e foi o inspirador da idade do ouro da civilização
indiana.
Louis Renou, orientalista de valor, membro do Instituto7,
é categórico quanto a este ponto de fixação da data.
52
A coluna de Ashoka, em Nova Délhi, índia.
A coluna tem portanto cerca de 1550 anos e não 4000 anos.
Não chega mais a ser um ponto de atração e um enigma,
pois é exato que apesar das umidades da índia e das monções,
o ferro de que é composta jamais sofreu a mínima oxidação
(ferrugem).
ELA Ê DE FERRO IMPURO
Num estudo muito bem apresentado por Inforespaço,
Jacques Scornaux escreve que "foi atribuída ao ferro da co
luna uma pureza excepcional, inacessível à nossa tecnologia
mais avançada, com o fito de explicar a sua inalterabilidade”.
Se nos for permitido — acrescenta Jacques Scornaux —
presumir que esta apresentação pode ser realizada em nossos
dias, então é preciso frisar que é a partir da data recente, para
quantidades mínimas e a um preço exorbitante.
A coluna de Ashoka, ou melhor de Vikramâditya, seria
feita portanto de um ferro desconhecido, proveniente, acres
centam alguns, de uma ciência extraterrestre ou de um segre
do de fabricação que se perdeu!
Estamos aqui diante de uma hipótese temerária e ousada,
mas que se pode aventar na carência de explicação mais plau
sível .
Especialistas da corrosão afirmam que a coluna é consti
tuída de diversas chapas de ferro, soldadas a marteladas quan
do estavam ainda em fusão.
Análises feitas em amostras revelaram contudo uma gran
de heterogeneidade, isto é, parcelas de impurezas: carbono
(0,1 a 0,2%), fósforo (0,11 a 0,18%), silício, cobre, níquel, com
uma camada externa formada de 80% de óxidos de ferro
(Fe O e Fe2O3).
Este ferro — escreve Jacques Scornaux — é pois impuro
e o enigma de sua inalterabilidade permanece oculto... a me
nos que seja devido ao fato de que durante séc’Jo<- os crentes
hindus o tenham untado ritualmente de matérias graxas, ve
getais e animais que, penetrando o metal, acabaram garantin-
do-lhe a proteção.
Deve-se notar que o metal dos altares e dos objetos vene
rados gozam da mesma forma do privilégio de uma seme
lhante e miraculosa imunidade, tanto na índia como no Nepal.
O VALE DAS MARAVILHAS
Numa região deserta e de difícil acesso dos Alpes da
Provença, o Vale das Maravilhas oferece aos arqueólogos que
.54
não se sentem desalentados diante das dificuldades, um lugar
incomparável onde campeiam as gravuras rupestres.
Quem as desenhou? Que tipo de civilização se fixara ou-
trora nessas gargantas e nesses vales de montanha elevada?
Pouquíssimo se sabe a seu respeito.
O itinerário recomendado para ir ter ao vasto lugar, que
se estende por dezenas de quilômetros, parte de Tende em
direção a Saint-Dalmas de onde se pode subir até Mesces.
Dali temos que passar pelo vale da Mina para, depois de
seis quilômetros de dura caminhada, poder chegar às bordas
do Vale das Maravilhas.
A região é dominada ao nordeste pelo monte Bego que,
com seus 2.873 metros de altura, sobressai sobre uma con
fusão de rochedos cujo aspecto, de encontro à luz, evoca repre
sentações zoomórficas próprias para abalar a imaginação.
Foram aventadas muitas etimologias para o nome Bego
que se originaria ou do provençal begon = feiticeiro, ou de beg
= senhor, mas que parece ter uma associação de idéias com
o beugh ou mugido do touro ou de boi.
Ademais, cerca de 16.000 desenhos se referem a estes
animais dentre os 45.000 que foram mais ou menos identi
ficados .
A altitude média do lugar varia de 2.100 a 2.600 metros
e dois montes vizinhos têm o nome de “Chifre do Touro” e
"Cume do Chifre do Bode” o que, de relance, leva a pensar
que o Vale das Maravilhas foi em tempos idos um lugar con
sagrado à agricultura, à criação de animais e, mais provavel
mente ainda, ao culto mágico do touro.
É preciso procurar nos labirintos de rochedos para des
cobrir os desenhos, gravados na pedra com um instrumento
ponteagudo, ou traçados linearmente, talvez em épocas mais
recentes.
Em certos lugares existem em profusão em lajes lisas
de grez avermelhado ou de xistos folheados ou petro-silicosos,
sendo que alguns são verdes, violeta ou alaranjados.
Os mais representados são os touros (ou bois), forcados
de dois dentes, retângulos riscados em quadrados, facas, ar
mas, silhuetas humanas, arpões que têm uma grande analogia
com certas letras dos alfabetos fenício, cariano, itálico, cre-
tense, aramaico, sabeano e mais ainda com desenhos da ilha
de Páscoa.
55
O Vale das Maravi
lhas. Um local selva
gem e magnífico. So
bre a rocha lisa, no
primeiro plano, se vê
um desenho gravado.
57
As gravuras em quadrados ou cercas talvez representem
plantas de casas ou de compartimentos agrícolas; em toda
parte do mundo encontramo-las um pouco por toda parte,
principalmente no Peru (planalto de Marcahuassi) e na re
gião de Snake River, nos Estados Unidos da América.
Outros desenhos são de figurações de feiticeiros, dança
rinos, de touros e de homens que conduzem uma parelha de
bois.
Como se esperava que este lugar despertaria a atenção
do público, junto aos petroglifos se encontram os grafitti, os
nomes e os prenomes de visitantes alardeadores, ávidos de
perenizar sua identidade a uma obra impcrecível.
Sobre a "Grande mesa”, escreve André Verdet, "sinais-
totens se aproximam do alfabeto”8.
Por toda parte a decoração é grandiosa, titanesca, deso
lada, ao mesmo tempo vazia e povoada de habitantes invi
síveis .
OS HOMENS DO BEGO
58
teriam formado uma civilização itinerante cujo traço encon
tramos na região de Hesse, na Alemanha, nos arredores do
lago de Iseu, ao norte de Brescia e no Vale Camônica (Itália).
59
A bruxa partiu com seu rebanho, seus amuletos, seus es
critos de magia e suas misturas infames.
Tudo o que ela havia tocado com suas mãos impuras —
sua casa, seus móveis e a madeira de sua cerca — foi queima
do, aspergido com água benta e molhado com sal derretido.
Então, diz a lenda, a morte e a desolação se abateram
sobre a região de Tende e o Vale das Maravilhas virou estéril,
como se tivesse havido uma transferência dos malefícios.
Depois disto, afirma André Verdet, os habitantes de
Tende, de Saint-Dalmas e da Brigue não se arriscaram mais
a voltar ao Vale da Máscara e do Inferno...
60
O Cavalo Branco de Westbury sobre tuna colina de Wiltshire,
Inglaterra.
63
Com razão ou sem ela e de acordo com vários pesquisa
dores célebres9, Fawcett escreveu que se tratava de “cidades
perdidas” cujos nomes tresandavam à aventura: cidade do
Grande Paititi, Manoa, Americanas, Cidade dos Césares etc.
A que ele procurava batizou com o nome de “Cidade Z"
e, depois de muitos cortes e recortes, situou-a em alguma
parte nas proximidades do rio Xingu, afluente volumoso do
Amazonas, entre a Serra Formosa e a Serra do Cachimbo em
direção ao paralelo 10, meridiano de Greenwich.
Em maio de 1925 o coronel, seu filho Jack, seu amigo
Raleigh Rimei e uma escolta de guias indígenas lançaram-se
na floresta amazônica.
O escritor Henri Vernes investigou esta empresa afoita
que terminou tragicamente, depois que nenhum dos explora
dores não deu mais sinal algum de vida.
Em seu livro Na pista de Fawcett10, Vernes cita uma
carta do dia 20 de abril na qual Fawcett, referindo-se aos di-
zeres de um indígena, falava de uma cidade perdida na selva,
onde as casas com portas grandes eram iluminadas de dentro
pela luz que irradiava de um cristal enorme colocado no alto
de uma coluna.
No dia 29 de maio teria ele enviado de novo uma mensa
gem — cuja existência é muito duvidosa — mencionando sua
posição a nordeste da Serra Formosa, a cincoenta quilômetros
da confluência do rio Ronuro e do rio Xingu.
Certamente, inúmeras notícias chegaram ao Rio, umas
afirmando que Fawcett se tomara “rei de uma tribo de ho
mens brancos” e outras asseverando que encontrara a morte
na selva.
Uma referência, também fantasista, diz que a expedição
tinha encontrado a cidade secreta mencionada no relatório
de 1743: uma arca ciclópica indicava-lhe a entrada. Numa
praça, uma estátua com o braço erguido parecia indicar a
direção do norte. Era a capital do grande Muribeca, filho de
um explorador português que se casara com uma índia e que
havia explorado fabulosas minas de ouro.
64
Diversas expedições enviadas para procurar Fawcett e a
■"Cidade Z” retomaram sem ter trazido nenhuma solução para
o enigma.
65
“Os habitantes desse reino pertenceriam à raça antedilu-
vlana que povoava a Lemúria e a Atlântida, continentes outro-
ra tragados pelos oceanos12!"
José de Souza compartilha assim da opinião do escritor
tradicionalista Ferdinand Ossendowski13 que atestava a auten
ticidade de tais populações:
“Ouvi — escreve Ossendowski — um sábio lama chinês
dizer ao Bodgo-Khan que todas as cavernas subterrâneas da
América são habitadas pelo povo antigo que desapareceu de
baixo da terra. Estes povos e estes espaços subterrâneos são
governados por chefes que reconhecem a soberania do Rei
do Mundo”.
Aí também, trata-se ainda dos habitantes de Mu e dos
Atlantas, salvos do dilúvio, que habitariam as cavernas pro
vidas de uma luz particular, capaz de fazer crescer os vegetais.
Naturalmente, esses povos devem viver quase etemamen-
te e sem contrair doenças!
Se formos dar crédito a Assendowski, a maior parte das
civilizações antigas antes de desaparecer de qualquer modo
teriam delegado um grupo de iniciados junto ao Rei do Mun
do, cujo reino sub-himalaiano de Agarta é habitado pelo povo
subterrâneo que “atingiu o mais alto conhecimento e saber”.
Faz mais de 6000 mil anos que um santo homem e sua
tribo “desapareceram no interior do solo".
Seria também o que aconteceu às doze tribos ditas “per
didas” de Israel.
A entrada de Agarta ficaria situada ou no Afganistão ou
no Tibete, entre Chigatzé e Chambalá.
HOMENS COM DUAS LÍNGUAS!
O príncipe Choultoun Beyli teria feito pessoalmente a
descrição do reino de Agarta a Assendowski que a relatou sem
a mínima admiração.
66
Contudo, certas analogias suscitam — pelo menos — uma
legítima suspeita.
Fica a critério de cada um!
Um velho brâmane do Nepal encontrou no Sião, afirma
o príncipe, um pescador que o levou a fazer uma viagem
pelo mar.
“No terceiro dia chegaram a uma ilha onde vivia uma
raça de homens com duas línguas, que podiam falar separada
mente línguas diferentes.
Mostraram-lhe animais curiosos, enormes serpentes cuja
carne era saborosa, pássaros com dentes que agarravam peixes
para os seus senhores, no mar. Este povo disse-lhe que havia
vindo do reino subterrâneo do qual fez-lhe a descrição de al
gumas regiões...! ”
MANOA
67
Paraguai; um viajante anônimo afirma que o Eldorado se
localizava às margens do rio Paraná, tendo por capital uma
cidade magnífica chamada Manoa.
É de se crer que a lenda teve como divulgadores, indíge
nas maliciosos ou incas desejosos de guiar os conquistadores
por longínquas e falsas pistas.
Tanto uns quanto outros falavam constantemente de
Manoa com telhados de prata e com habitantes que se vestiam
com roupas em tecido de ouro.
Walter Raleigh procurou os zimbórios faiscantes do Eldo
rado os quais “resplandeciam numa vasta planície”.
Ferdinand Denis15 adianta que a fabulosa cidade talvez
fosse Palenque, no México, "esta irmã da Tebas egípcia, gran
de cidade vazia, abandonada no meio da floresta com seus
pórticos, seus templos ornados de baixos-relevos com miste
riosos hieróglifos”.
Para os conquistadores, El Dorado era mais precisamen
te o chefe do reino maravilhoso.
"Pontífice e rei, era a ele que obedecia a cidade de Manoa
e que as homenagens de um povo imenso eram continuamen
te prestadas. Filipe de Utre viu seu palácio fantástico, criado
na savana, qual raio fulgidio de sol. ”
AMERICANAS
No Brasil se falava da Mão das Águas, sereia que monta
guarda aos tesouros de um grande lago e sobretudo de um
país chamado Americanas, região imaginária que se costumava
situar ou em Minas ou em Mato Grosso.
Em Americanas o ouro campearia entre os topázios e ali
se construíam palácios com pedrarias que o sol fazia brilhar.
"No século XVIII o velho Bartolomeu Bueno percorre
florestas desconhecidas, atravessa desertos sem nome e volta
carregado de ouro e de pedrarias que podiam enriquecer os
soberanos mais afortunados. Em vão se procura sua rota;
perdeu-se como aquela que conduzia outrora até os tesouros
de Ceborá ou de Paititi16”.
68
Contudo, o que se murmura nas tavernas, de Lima ao
Rio, é que o deserto de Americanas está juncado de ouro, de
esmeraldas, de crisólitos, de águas-marinhas de uma grossura
incrível e que tudo isto rutila entre os vulgares calhaus.
Mas é preciso fugir dos animais terríveis e dos cataclis
mos da natureza: não é senão no clarão dos relâmpagos e no
ribombar do trovão que podemos arrancar as riquezas das
areias e da montanha!
A CIUDAD DE LOS CESARES
O livro de Pedro de Angelis intitulado Derroteros y viages
de la ciudad encantada o’ de los Cesares e publicado em Bue
nos Aires em 1836 revela uma rival de Americanas e de Manoa.
Ssegundo o autor, fundadas que foram em 1599 pelos es
panhóis que se salvaram de Osorno e dos outros pueblos (al
deias), existiríam três cidades que os araucanos destruíram
em fins do século XVII.
Uma delas, a mais rica, seria a Ciudad de los Cesares. Está
construída no meio da laguna de Payégué e seus templos são
recobertos de ouro maciço. Todos os utensílios de cozinha,
até as marmitas, são desse metal, do qual se fazem também
as relhas das charruas.
Enfim, para avolumar esta relação atraente, vale a pena
saber que os assentos dos habitantes são todos em ouro ma
ciço, da mesma forma que os campanários dos templos que
são vistos brilhar e cintilar a mas de dez léguas17.
O EL DORADO ORIGINAL
O El Dorado foi "inventado” por volta de 1536 pelo tenen-
te-general Sebastião de Balalcaçar e por seus soldados aquar-
telados na ocasião em Quito.
A informação provinha de um indígena o qual referiu que
no vale de Santa Fé ou de Bogotá “um senhor entrava num
lago por meio de algumas balsas, com o corpo completamen
te nu, e que depois de untarem-no com cola espalhavam por
todo o corpo dele partículas de pó de ouro, o que o tornava
fortemente brilhante".
Balalcaçar deu a esta região o nome de província de El
Dorado; supõe-se que o lago em questão seria o lago Guatavita,
69
distante 28 quilômetros ao norte de Bogotá, mas este país de
farturas e fertilidades foi situado também entre o Amazonas
e o Orenoco.
Alguns cronistas afirmam que o El Dorado foi imaginado
por um lugar-tenente de Pizarro chamado Orellana.
Um certo Martinez afirmou que morou sete meses na
cidade de El Dorado e, em apoio de sua afirmação, apresentou
uma carta geográfica da província, que podia facilmente ser
reconhecida pelas três montanhas que a limitavam. A primei
ra era de ouro; a segunda, de prata, e a terceira, de sal18.
A capital desse reino imaginário era Manoa e seu sobe
rano se chamava indiferentemente de Grande Paititi, Grande
Moxo, Grande Paru ou Enim; ou ainda melhor: O Rei Dourado
(o El Dorado).
Esta capital chamava-se também cidade dos oméguas ou
omáguas, mas era o El Dorado ou Manoa, ainda desconhecida
sob estes nomes.
Mais tarde a opinião pública deu uma explicação à fábula:
o jovem irmão de Ataualpa, o inca reinante de Cuzco, havia-se
refugiado, levando consigo prodigiosos tesouros, no interior
das terras onde havia fundado um novo império.
Hoje em dia se pode pensar que essas tradições, que fa
zem sentido ou que se contradizem, repousam sobre algum
fundamento: o último dos soberanos do Peru, o inca Manco,
teve que se retirar para a cidade secreta de Machu-Pichu que
só foi descoberta em 1911.
É provável que nesta cidade perdida sobre o Altiplano
estejam escondidos imensos tesouros.
70
SONHOS, DELÍRIOS E MORTE
O mito do Eldorado passou aos poucos para as misterio
sas regiões do Brasil.
O cronista Magalhães Gandavo relata esta pasmosa infor
mação:
"Indígenas do país de Santa Cruz19, não se dando bem
em seu país, mergulharam nas vastas solidões do interior.
As fadigas e as misérias dizimaram um grande número
deles e os que sobreviveram chegaram a um país onde havia
grandes cidades, uma numerosa população e tantas riquezas
a ponto de afirmarem que viram ruas muito compridas cheias
de gente cuja única ocupação consistia em trabalhar o ouro
e as pedrarias...
Quando viram suas ferramentas de ferro... e que ouvi
ram falar que se tratava de portugueses brancos e barbudos
ou de espanhóis do Peru... os habitantes presentearam-nos
com escudos guarnecidos de ouro, pedindo-lhes que os levas
sem para o seu país e que anunciassem que estavam prontos
a trocar coisas deste gênero por ferramentas de ferro...”
Mais tarde o Eldorado foi para o norte, até os Estados
Unidos: foi localizado em Quivira, na Califórnia.
Mitos, sonhos, imaginações, "andanças dos mortais”...,
tudo o que a febre do ouro, a avidez e a sede de aventuras
pode inspirar o homem, tudo isto o Novo Mundo viveu du
rante mais de três séculos.. . e, deveriamos dizer, até nossos
dias!
Vasquez de Cornado encontrou o Padre João em Cibolá,
a cerca de 400 léguas ao norte do México, e Alexandre Hum-
boldt escreveu que nessas paragens havia sido descoberto des
troços dos navios do Catai!
PAITITI
Nuno de Guzman, presidente da Nova-Espanha, reuniu
um exército de 400 espanhóis e 20.000 indígenas para desco
brir Cibolá ou Ciborá (atual Califórnia), capital do país das
Sete Cidades "onde o ouro é tão abundante quanto os cas-
calhos”.
Ele encontrou sete pobres cidades!
Mas tão fortes eram as paixões e a credulidade na reli
gião do bezerro de ouro, que imaginaram outra Cibolá, desta
vez a verdadeira!
71
“Achava-se na província de Tiguer. Um soberano fazia a
sesta debaixo de uma grande árvore da qual pendiam cam
painhas de ouro que o vento fazia soar docemente, agitando-
as . Uma grande águia de ouro ornava a proa do navio real...”
Uma nova decepção lançou os conquistadores na pista do
“mais belo império”, aquele do Waipite ou Paititi que no
começo tomava as vezes de Cibolá, com a mesma lenda rela
tiva a Manco Capac II, mas que foi situado no Peru, na região
banhada pelo Apurimac e pelo Ucayale.
"Era um reino poderoso — escreveu Juan de Velasco —
que os incas haviam fundado, mas estes monarcas fracassados
sabiam ilaquear a vista dos espanhóis graças a poderosos en
cantamentos. Todas as cabeças de Lima ficaram portanto
tomadas de delírio quando Frei Benito de Ribera, religioso
de São Francisco que estava adido às missões de Guanuco,
contou que havia estado no Paititi, do qual fazia uma des
crição entusiasta. Este reino tinha milhões de habitantes e
por lá só se via ouro por toda parte.”
Muitos gentis-homens de Lima armaram um exército a
suas expensas e em 1670 se puseram em marcha sob as ordens
de um franciscano, à procura do Paititi.
Foi um verdadeiro fiasco, mas nem por isso a miragem
ficou destruída!
Em 1681 o Pe. João Lucero afirmou que havia ido a um
país entre os piros e que havia pego em suas mãos “pratos,
berloques, brincos e outras jóias de ouro, fabricadas pelos
índios”.
Nesses relatos legendários, incríveis por seus detalhes
ousados e pelas descrições de tesouros fantásticos, encontra
mos contudo um certo fundo de verdade que dá o que refletir.
Este país de piros de que fala o Pe. João Lucero muito
provavelmente existiu, mas parece que foi perdido o seu
paradeiro.
"O licenciado Montesimos, que em 1652 recolheu as tra
dições conservadas pelos amautas, colégio dos sacerdotes e
dos astrônomos peruanos, conta que a civilização dos incas,
relativamente recente, teria sucedido a um período de barbá
rie, a qual fora ela mesma precedida pela antiga civilização
dos Pyr-Huas (os piros do Pe. Lucero), que se organizou de
pois do cataclismo diluviano e que possuía misteriosos hie
róglifos, como todos os povos que tiveram vínculos de união
com a Atlântida engolida20.”
72
O país de Piros talvez fosse Tiahuanaco (Bolívia), Machu-
-Pichu, ou uma das cidades encontradas no Altiplano ou perto
do Amazonas peruano; mas nós estamos mais propensos a
pensar nas ruínas de Caballo Muerto (Peru) onde o doutor
americano Michael Moseley, da Universidade de Harvard, des
cobriu as ruínas de um templo e uma cabeça colossal que
data de mais de 3.000 anos.
Tais eram nos séculos XVI e XVII as cidades perdidas
e os mitos que lançaram os catadores de aventuras nas selvas,
nos desertos e nas serras onde mais das vezes encontraram
a morte ao invés da fortuna.
A FONTE DA JUVENTUDE
73
talvez atlanteana, e que os mergulhadores que a descobriram
referem que uma fonte de água doce jorra junto a estes ves
tígios.
A Fonte da Juventude foi também localizada no Egito e
na índia, onde Alexandre o Grande a tinha procurado.
Gilgamesh, o herói da mitologia assíria, empreendeu
sua viagem “ao país dos Grandes Ancestrais, nas extremida
des do Ocidente” para procurar ali a planta que rejuvenesce
os velhos.
0 sábio Um-Napishti (o Noé dos assírios) revelou-lhe
que ela rebentava no fundo da água. Gilgamesh, lastrado de
pedras, mergulhou portanto como um pescador de pérolas e
colheu no fundo de uma fonte uma planta, o kishkanü ou
sihlú, que seria... nosso agrião21!
Mas o aspecto mais pasmoso nesta legenda, que foi efeti
vamente uma aventura vivida, é que Gilgamesh foi procurar
esse agrião numa Fonte da Juventude que, segundo os bons
mitologistas, se situava na América e provavelmente na Flo
rida ou em Bimini!
É difícil não sermos sensibilizados por esta estranha coin
cidência, tão estranha que, se não pudéssemos deixar de nu
trir dúvidas sobre a mesma, repousa sobre uma verdade
histórica.
Há milhares de anos a Fonte da Juventude existia em al
guma parte na região de Bimini e nossos Ancestrais Superio
res transmitiram-nos a história que era ainda bem viva e rica
de detalhes, há 5.000 anos atrás.
74
Capítulo V
CIVILIZAÇÕES MISTERIOSAS:
NA ESCÓCIA, NA FRANÇA, NA SARDENHA, EM MALTA
75
A
O CRAIG PHOEDRICK
As duas construções mais típicas são o Craig Phoedrick
e o Ord Hill of Kissock, “que se erguem como duas imensas
colunas sobre colinas distantes entre si três milhas e situadas
na extremidade do golfo de Moray, perto da cidade de In
verness, cujo acesso pelo lado do mar parecem estar defen
dendo”12 .
O arqueólogo Jules Marion descreve estas fortificações
como uma acrópole regularmente desenhada com a parte
superior, tendo um terraço de forma oval achatado, escavada
no centro de uma bacia de dois a três metros de profundidade,
semelhante a uma cratera de vulcão.
Ao pé da acrópole, prossegue J. Marion, o contorno in
teiro do conjunto é recoberto de blocos de granito vitrificado,
de dimensões ciclópicas, os quais certamente devem ter feito
parte das construções.
77
O forte de Dun Aengus, no Irishmore, ilhas de Aran, Irlanda.
78
AS FORTIFICAÇÕES VITRIFICADAS DO CREUSE
Não se sabe muito de quando é que datam as fortifica
ções vitrificadas que se encontram na França, onde podemos
registrar umas doze delas.
Objetos enterrados ou retirados dos entulhos tiveram sua
data fixada no século V, mas somos de opinião que a cons
trução é muitas vezes milenar, conforme testemunham os
manuscritos irlandeses que falam da torre incendiada de Tory.
Ademais, as crônicas históricas não teriam feito menção
dessas fortificações se elas só tivessem sido construídas há
1500 anos.
Contudo, no museu de Guéret podemos ver um bloco de
graiiito fundido que contém uma telha de origem romana,
o que complica singularmente o mistério.
As principais fortificações vitrificadas do nosso país são,
no Creuse: em Châteauvieux, em Ribandelle (fronteiriça a
Châteauvieux, sobre a margem oposta do Creuse), em Thau-
ron, em Saint-George-de-Nigremont; na Bretanha: em Péran;
na Vienne, talvez em Thorus, perto de Château-Larcher onde
aquilo que foi um promontório fortificado domina o vale do
Clouère (nas ruínas e as fortificações não foram nem inves
tigadas nem desobstruídas e por isso é difícil saber se elas
encerram blocos vitrificados, reas a analogia entre Thorus e
Châteauvieux deixam margem para assim crermos); perto de
Argentan (Orne); em Saint-Suzanne (Mayenne). A fortifica
ção de Châteauvieux é de forma oval e tem um comprimento
axial de 128 metros; o baluarte é como que um aterro terra-
planado de 7 metros na base por 3 metros no vértice.
Sobre estas subestruturas foi edificado um muro com
paredes de granito.
“O espaço entre as duas paredes — escreve M. de Na-
daillac — é preenchido por uma extensão de granito fundido,
da largura de 4 metros e com 60 centímetros de espessura
e repousa sobre uma camada de tufo. Não se vê nenhum
traço de emprego de uma argamassa qualquer, como na
Escócia. ”
Por conseguinte, a parte inferior do muro é completa
mente vitrificada, ao passo que as paredes exteriores não o
são!
A antiga fortaleza da Ribandelle-du-Puy-de-Gaudy, que
foi ocupada pelos celtas e depois r ucessivamente pelos roma
79
nos e pelos visigodos, é de natureza análoga. Tem um perí
metro de 1.500 metros e uma superfície de 13 hectares.
O interior dos muros em granito vitrificado é separado
das paredes por camadas de terra de charneca. A vitrificação
só é superficial e tem uma espessura de aproximadamente
dois centímetros.
Diferentes indícios mostram que a construção terminava
quando o granito em fusão era lançado dentro dos muros; ou
então quando o fogo que o fazia fundir-se era colocado no
interior das paredes. Outra constatação: a massa vitrifiçada
é dividida em parcelas de aproximadamente três metros de
comprimento, como se as operações tivessem sido sucessivas
e não efetuadas simultaneamente.
Em Thauron, perto de Bourganeuf, as pedras da fortifi
cação são às vezes de tal maneira cozidas que se transformam
numa espécie de lava. Subsistem ainda restos de abóbadas.
AS PEDRAS QUEIMADAS
80
desa, sabiam “construir um muro vermelho”. Era um muro
de fogo, ou vitrificado?
Em todos os casos, constituía um tabu intransponível34
.
A mesma tradição fala de um fogo druídico de um poder
extremo.
M. de Cessac, que estudou os antigos fortes do Creuse,
conseguiu fazer fundir um muro construído com granito en
tremeado de madeira, mas a sua experiência não é conclu
dente quando se trata de grandes superfícies.
81
1. A torre, que pertencia aos Fomoré, foi atomizada pelos
Tuatha5 em seguida à segunda batalha de Mag Tured.
O enorme calor que se despreendia por suas armas
científicas (lança-chamas, ou nuvem atômica) havia
vitrificado o granito e a fortaleza.
2. A torre fora untada com uma matéria isolante vítrea
que a protegia contra as radiações que emanavam das
armas ofensivas...
3. Só a base do edifício é construída solidamente. Por
cima de um embasamento de granito se ergue o corpo
da torre, composto inteiramente de matéria vitrificada.
Um grande incêndio, uma atomização ou o emprego de
energia solar pode fornecer uma explicação do fenô
meno ."
Este é o mistério das fortificações vitrificadas da França,
da Escócia e da civilização — provavelmente céltica — que
os edificou, talvez para intrigar os arqueólogos do século XX,
se é que com isto podem eles sentir-se interessados ao que
diz respeito ao nosso patrimônio ancestral.
OS BROCHS
Os brochs da Escócia, nas ilhas Shetland e dos Orcades,
são construções de pedra seca em forma de gigantescos so-
quetes de pedra e cal, nos quais se penetra por um corredor
comprido e estreito.
Acreditou-se que estas habitações, de difícil acesso, ha
viam servido aos ilhéus para se defenderem contra as incur
sões dos Vikings, no século XI.
Mais plausível é a tese que as faz recuar até às primeiras
migrações dos celtas no Ocidente, à dos pictos (e dos pictões
do Poitou), mas a este respeito não temos nenhuma certeza.
Os pictos ocupavam a Escócia há 4000 anos atrás, pelo
menos, e talvez devamos relacionar com eles a civilização
ilhota das Shetland e das Orcades.
Os brochs possuem geralmente uma fortificação idêntica
à das fortalezas vitrificadas de Dun Aengus.
82
DUN AENGUS
Construído sobre uma penedia perpendicular que domi
na o mar de uma altura de 60 metros, Dun Aengus, nas ilhas
Aran, a oeste da Irlanda6, constitui uma das mais belas e mais
enigmáticas fortificações da Europa ocidental.
Tem três baluartes de defesa, de forma semicircular,
sendo que o menor no centro tem um caminho em volta e
salas de habitação.
Do lado de fora da fortificação, o solo é semeado de uma
confusão de grossas pedras eriçadas — cavaletes — que têm
por finalidade tornar o acesso difícil e perigoso a um even
tual invasor.
O arqueólogo Peter Harbison7, que é um especialista,
acha que Dun Aengus data de alguns séculos antes da nossa
era, mas que foi utilizado como bastião até o século XVII.
Uma tradição atribui aos Firbolgs8, tribo selvagem cél-
tica da epopéia irlandesa, a construção desta estranha "Babi
lônia” que talvez não existisse há 3000 anos no estado em que
a vemos hoje.
Efetivamente, crê-se possível que a erosão do oceano, ou
um desmoronamento da penedia, tenha levado embora a me
tade das fortificações.
Outras teses, mais afoitas, afirmam que Dun Aengus teria
podido ser uma escala fenícia a caminho do estanho — mas
então, por que uma fortaleza? — ou um sistema de defesa
dos antigos povos da Irlanda contra os poderosos vizinhos. . .
os atlantas!
Sem dúvida isto é ir longe demais nas conjeturas, mas,
se nos prendermos à mitologia céltica, podemos pensar que
a fortificação que fica a cavaleiro do “mar ocidental”, o Ocea
83
no Tenebroso dos antigos, constituía um posto de vigia e de
defesa contra os Tuatha de Danann que invadiram a Irlanda
para aí levarem a sua civilização e quebrar a hegemonia dos
gigantes Fomorés.
A VÊNUS DE QUINIPILY
84
A Vênus de Quinipily, no Baud, Morbihan, não era uma ísis gaulesa,
mas antes uma Mater céltica.
85
O estranho monumento erigido por Pierre de Lannion em homenagem
à Mater de Quinipily. Embaixo se vê a grande cavidade onde as
mulheres de resguardo iam banhar-se.
86
A BRUXA DA GUARDA
87
Missionários e vigários banquetearam-se fartamente, en
toaram hinos à glória do Todo-Poderoso e invenctivaram con
tra a “feiticeira abominável que tanta luxúria incitava e ma
lefícios espalhava”.
Ficou até decidido que dentro em pouco tempo uma es
tátua da Santíssima Virgem substituiría aquela da Groac’h!
Pois bem, as coisas não se passaram exatamente como
o vigário havia dito e como prometeram o menino Jesus e
sua venerável mãe!
A estátua de pedra sem dúvida estava realmente carre
gada do mana e talvez representasse o autêntico Reino dos
Céus, protetora dos homens, pois alguns dias depois de ter
sido jogada nas águas do Blavet começou a chover, a chover
a cântaros, e tanta chuva despencava como jamais tinha sido
vista depois do Dilúvio e todas as colheitas desapareceram
tragadas pela torrente de água e de lama!
Furiosos e compreendendo a peta que enfim o vigário,
Jesus e Maria lhes haviam pregado, foram retirar a estátua
das águas e repuseram-na sobre a "montanha” de Castennec1213.
Imediatamente o tempo ficou bom e as más línguas es
palharam por toda parte que quem “resolvia mesmo as coisas
era a boa Groac'h e não a sagrada família”!
De vez que desta maneira a religião era posta em cheque,
o assunto provocou grande celeuma, suscitou um considerá
vel tumulto e a polícia do rei procurou os réus de mentira e
blasfemadores que ousavam sustentar a glória da deusa bretã
e vituperar a gloriosa Virgem e seu menino-Deus!
Alguns foram presos, derreados de pauladas, deixados
como mortos no solo; novamente o vigário entoou à glória do
Misericordioso, depois Claude de Lannion mandou jogar de
novo a estátua no fundo do rio e a ordem — a despeito da
justiça — voltou ao bom país de Baud10.
UMA GROACH INDECENTE
Em 1696, Pierre de Lannion, que herdou os bens de seu
pai mas não seu caráter sectário, retirou a Groac’h do Blavet
88
e mandou transportá-la ao castelo de Quinipily, "na qualidade
de peça curiosa e antiga”.
De novo a Igreja olhou as coisas pelo lado mau e se
amofinou.
— Que seria feito da fé dos nossos camponeses e da con
fiança em Nosso Senhor se uma estátua pagã fazia impune
mente alarde de seu poder e de seu direito? — disse o vigário
ao castelão.
E desta vez o crime se consumou inteiramente: M de
Lannion — certamente a contragosto — mandou retalhar a
estátua e "tirar o que ela tinha de indecente em sua forma”.
Desapareceu do domínio público e aos poucos o culto ao
ídolo foi caindo no esquecimento.
Hoje em dia questiona-se a identidade da Vênus de Qui
nipily e "aquilo que ela teria de indecente em sua forma”.
Como as Mater da época pré-históricaH, é possível que
ela tivesse o púbis saliente e grosso, bem vistoso, mas pensa
mos que ela devia ter uma gravidez monstruosamente grande,
com mais um detalhe que devia motivar a virtuosa indignação
dos bons missionários.
Seja como for, certamente ela representava a Mater, mãe
da humanidade ou menos provavelmente uma ísis céltica.
Hoje em dia a estátua se ergue sobre um monumento de
cinco metros de altura, com o início em estilo romano, de
onde sai uma bica d’água que outrora servia de conduto de
água de uma fonte. Esta água se despejava então numa gran
de cavidade de pedra talhada, de 1,50 m de altura, com 2,50 m
de comprimento por 2 m de largura (aproximadamente), a
qual era a piscina, atualmente vazia, onde vinham lavar-se
as mulheres com resguardo de parto.
A Vênus mede 2,20 m de altura e tem os braços cruzados
por cima dos seus seios. O conjunto é de uma feitura bas
tante grosseira.
A "restauração” a que o Sr. de Lannion mandou proceder
nela não permite mais entrever como ela era em sua forma
original. Do pescoço parte uma espécie de lenço e desce até
ao meio das pernas (coxas), escondendo o ventre e o sexo.
Sobre a faixa que cinge a fronte do ídolo, três letras enigmá
ticas desafiam a sagacidade dos pesquisadores: L.I.T.
89
Sem disto ter certeza, aventura-se a hipótese: Lux. Initia-
irix. Terrae (Luz da iniciação para os mundos desconhecidos).
Estas iniciais foram provavelmente gravadas quando do
seu retalhamento.
Inscrições em latim, apagadas pela metade e difíceis de
traduzir, acham-se gravadas em volta do pedestal.
A Vênus céltica ou gaulesa de Quinipily guarda seu segredo
mágico, impenetrável, aos pés da fonte que secou e que não
murmura mais, mas se diz que ainda em nossos dias se rea
lizam milagres por sua intercessão.
90
A civilização muito pouco conhecida dos nouraghes teria
começado há 3500 anos e continuado sob os domínios púnico
e romano, mas cremos que ela é muito mais antiga.
As construções de Barumini comportam um imponente
sistema de defesa com fortalezas de quatro torres ligadas por
potentes muros. Este sistema é cercado de uma segunda mu
ralha coroada de torres, formando-se um conjunto tipo labi
rinto com múltiplos obstáculos.
Os muros são feitos de enormes blocos não cimentados,
bastante parecidos com aqueles de Sacsahuaman no Peru e
de Dun Aengus na Escócia.
91
Um dos templos mais importantes, o Hagar-Qim, distante
10 quilômetros de La Valetta, é uma espécie de Stonehenge
em pedra calcária que, da mesma forma que em Barumini,
foi construído em labirinto com salas interiores, mas ovais
ao invés de redondas.
92
O Hipogeu de Malta é um vasto labirinto subterrâneo leito por nm
povo misterioso para acomodar as pitias.
93
O HIPOGEU DE HAL-SAFLIENI
94
tido o culto de uma estranha Mater, mais obesa ainda do que
as Mater das épocas da pré-história.
Escavações permitiram exumar estátuas, todas sem ca
beça, que representam, ao que se pensa, mulheres que em
sua maioria não têm seios.
Estes mastodontes de carne, quase tão largas quanto
altas, têm os braços cruzados sobre o peito como a Vênus de
Quinipily ou então um braço somente, enquanto que o outro
está pendente sobre o quadril.
Christia Sylf20 chama-as As Três Enormes e se admira
que elas não apresentem os mamilos suntuosos e nutritivos
que são a marca lógica e o apanágio “das mulheres antigas”.
“Tratar-se-ia, escreve Sylf, de uma casta de grandes sen
sitivos especialmente tratados, de eunucos, de castrados, evi
dentemente não reprodutores, mas que possuem as caracte
rísticas lunares dos médiuns, cuja feminilidade forçada, ex
travagante, permitia a obtenção de faculdades captadoras
paranormais?”
Deve-se, pois, crer que não se trata de Mater, mas de cria
turas como que assexuadas, condicionadas em seu físico e
em seu psiquismo num fim religioso particular.
Ora, este escopo se torna evidente quando estudamos a
arquitetura do labirinto do hipogeu.
Ali tudo foi disposto para atender a leis de acústica ad
miravelmente compreendidas.
As vozes e os sons emitidos numa sala são dirigidos, por
reflexos cientificamente estudados, até um recinto de eco, am
plificando-se nestas cavidades retangulares cujo teto e pare
des foram cuidadosamente alisados, mas que passam também
por aberturas ovais ou quadrangulares análogas à dos recin
tos de ressonância.
Numa parede, a um nível ligeiramente mais elevado, ou
tra janela oval tem lados côncavos nos quais figuram três
discos pintados de vermelho ocre.
Se um homem falar com voz forte por esta abertura, as
palavras que ele pronuncia repercutem de uma maneira par
ticularmente estridente 21.
É de se crer que antigamente as Mater sem seios, invisí
veis, escondidas na sala de emissão, ouviam as perguntas fei-
95
O buraco do oráculo estereofônico de Hal-Saflieni, Malta.
tas pelos sacerdotes e a elas respondiam de maneira tão ca
vernosa, tão possante e aparentemente tão fora do humano
que os fiéis acreditavam estar ouvindo a própria voz dos
deuses.
Na parede desta sala de emissão, perto do teto, desco
briu-se um pequeno conduto talhado na rocha cujo papel con
sistia em transportar, por intermédio de um segundo canal,
as palavras divinas, o que produzia um efeito de estereofonia.
Resumindo: as salas, as antecâmaras, os corredores do
hipogeu foram ideados e dispostos por um arquiteto inteli
gente para servir de estúdio de emissão, de reflexo e de
escuta.
AS TRÊS ENORMES
97
Uma Enorme, sem cabeça, do Hipogeu de Paola, Malta.
Certamente, em Lourdes jamais se produziu um milagre,
jamais um dedo cortado foi recolocado, ainda que por um
pequeno centímetro, mas nesta imensa capital da devoção a
fé suscitou curas quase que inesperadas as quais, interpretadas
de má-fé, foram qualificadas de "miraculosas".
É o que se passou em Malta, notadamente em Hal-Saflie-
ni; é o que se passou em Delfos, em Delos, em Dodone onde
a floresta de carvalhos ribombava pelos intérpretes dos cal
deirões de bronze... e da velhacaria dos sacerdotes.
É o que se produzia nos templos do Egito, cujas portas
se fechavam ao som da voz, onde as estátuas se elevavam
para o ar como por magia, onde o fogo se acendia "comple
tamente sozinho" na cratera divina...
99
O Oráculo dos Mortos de Achéron ou nekyomantéion, do
qual Homero e Heródoto falaram e que foi um dos mais cé
lebres da antigüidade, acaba de dar a chave do seu enigma,
a prova material da impostura das religiões antigas.
Foi localizado o lugar, no antigo Epiro dos gregos (em
frente a Corfu), perto das aldeias gêmeas de Kastri-Mesopo-
tamon e do antigo rio Achéron, o qual na realidade é um pe
queno riacho de águas turvas porém calmas.
Os sábios, os tiranos, os príncipes, os reis procuravam o
nekyomantéion a fim de consultar os fantasmas de mortos
familiares que acreditavam ver e cujas vozes ouviam.
O escritor e arqueólogo Henry N. Ignatieff, que estudou
o fenômeno e assistiu às escavações realizadas depois de 1961
pelo professor Dadakis, revelou os assombrosos truques pos
tos em ação para abusar da boa-fé do crente supersticioso.
0 fiel era submetido a ritos e a um condicionamento que
o levavam todo ofegante, vazio de toda força e de senso crí
tico, até à sala das aparições.
Depois de se ter lapidado, depois de ter andado por labi
rintos intermináveis, à luz tremelicante de tochas, depois de
ter bebido drogas alucinógenas (a nepentácea), o paciente es
tava preparado para ver fantasmas e ouvir as suas palavras!
Ora, não se tratava de alucinações, ou pelo menos não
era exatamente isto: bem que os fantasmas saíam das Trevas
do Inferno e que vozes chegavam, soturnas, porém discerní-
veis, aos ouvidos do consulente!
Essas vozes eram as dos sacerdotes, escondidos numa
cripta debaixo da sala dos encantamentos; quanto aos fantas
mas, eram eles o resultado de um engenhoso sistema de pro
jeção cinematográfica que o professor Dadakis descobriu nu
ma sala secreta contígua à sala das aparições.
O aparelho consistia de uma espécie de torniquete com
palas de bronze e de múltiplas engrenagens, provido de um
eixo que atravessava a parede e de uma manivela acionada
com a mão.
Henry N. Ignatieff é de opinião que este aparelho proje
tava sombras sobre uma tela de fumaça — talvez até imagens
grotescas — mediante um jogo complexo de lâmpadas com
luzes coloridas.
100
O mecanismo encontrado numa ganga de terra estava
evidentemente deslocado e fora de uso, mas as peças de bron
ze, ainda intactas, permitem reconstituir o conjunto.
Esta máquina de tapeação abusara das massas e fizera-as
tremer durante quase dois mil anos!22
Contudo, não precisaríamos crer que todos os sacerdo
tes são uns trapaceiros, que todas as pítias, que todas as si-
bilas divagavam ao som de uma bolsa cheia de patacas de
ouro!
101
A NAZCA DE MALTA
102
O MISTERIOSO DESCONHECIDO
Capítulo VI
103
de que tinha a ousadia de expor uma tese contrária àquela dos
historiadores patenteados1.
O PARAÍSO TERRESTRE
104
Nada há que possa dizer até que ponto era vítima da
grande ilusão das ilhas atlânticas, mas incontestavelmente nas
índias Ocidentais esperava encontrar aquilo que constituía
para ele a coisa mais importante: o ouro, as pedras preciosas
e a glória.
Talvez acreditasse também na existência desse Paraíso
terrestre ocidental de que falavam as mitologias do Egito, da
Irlanda e do país de Sind.
Ele escreveu que a Terra não é redonda mas em forma
de uma pera, tendo num lado um bico com formato de seio
de mulher.
A ponta do seio situada na zona equatorial constituía a
parte do globo mais próxima do réu e Colombo julgava que
era lá que devia achar-se o Paraíso descrito no Gênese.
“A não ser pela Vontade de Deus — escrevia ele — nin
guém pode atingir este Paraíso terrestre. ”
Mas, Glorioso3, como era chamado então, não se julgava
o primeiro a chegar!
Este convertido mais ou menos adquirido para o cristia
nismo tinha as qualidades e os defeitos de sua raça. Era
inteligente, ganancioso e se julgava superior a toda a huma
nidade .
Quando se dirigiu aos seus soberanos escrevia ele:
"Tendo expulsado os judeus, vós me enviastes à índia e
fizestes-me almirante-mor. Rebaixando minha raça, vós me
elevastes”4.
Com efeito, Colombo era ao mesmo tempo péssimo judeu
e péssimo cristão e, em que pese o seu mérito como desco
bridor,5 somos forçados a ver nele um herói cúpido, sem
coração e às vezes indecente e de má fé.
105
O MAPA DE TOSCANELLI
106
Perestrello ou Palestrello, filha de um desses viajantes e her
deira de seus mapas e seus documentos.8
Ademais, foi graças à carta de Toscanelli que em novem
bro de 1475 Fernão Telles foi designado governador do reino
das Sete Cidades que se presumia existir em alguma parte
em direção a São Brandão e Antilha! É provável, se não certo,
que Colombo, escarafunchador e fuçador como era, e possuí
do da mania diabólica de viagem oceânica, tenha lido essa
carta famosa e nela se tenha inspirado.
Salvador de Madariaga se admira que Colombo tenha
fugido de Portugal (em 1488, julgamos nós).
"Um homem que roubou um documento importante deve
fugir! escreve ele. Colombo fabricou a correspondência com
Toscanelli (que estava morto e conseqüentemente não podia
negá-la)... a fim de fornecer explicações plausíveis para evi
tar que disso se fale aos portugueses." Subentende-se: do rou
bo de mapa geográfico!
Em apoio desta afirmativa, Madariaga apresenta uma
carta do rei João II que afirma que no decurso de sua via
gem, se voltar a Portugal “o seu amigo particular Cristóvão
Colombo não será nunca detido, preso, acusado, recambiado
ou mantido em prisão domiciliar para responder a nenhuma
questão, civil ou criminal, de espécie alguma”.
Que explicação se pode dar para esta estranha garantia?
Colon era um ladrão, escreve Madariaga. "Não possuí
mos nós a prova material de que roubara o mapa de Tosca
nelli?. .. Ele roubou o meio de ir ao Novo Mundo. "
107
nha tido conhecimento dos documentos que no século XV
circulavam entre os marinheiros e os aventureiros que o mis
tério do Mar Tenebroso entusiasmava.
Era uma verdadeira psicose.
Jean de Mandeville escrevera: "Um homem valoroso de
nosso país partiu um dia por este mundo afora. Passou pela
índia e foi mais de 5 léguas além da índia e girou em volta do
mundo durante várias estações”.
Em 1473, dizem uns cronistas, um representante da coroa
de Portugal, João Corte Real, teria participado de uma expedi
ção rumo ao Novo Mundo. Quando voltou teria sido nomeado
governador dos Açores, "em recompensa de sua descoberta do
País dos Bacalhaus”, que seria a Terra Nova, ou o Labrador,
isto é, a Terra Firme, o continente americano.1011
Colombo estava a par dessas descobertas e desses relató
rios . Havia lido as teorias sobre as índias Ocidentais de auto
ria de Duarte Pacheco Pereira, expressas no Esmeraldo de
Situ Orbio, na Cosmologia de Ptolomeu, no Livro das Mara
vilhas, de Jean de Mandeville, nos escritos de Felipe de Beau-
vais, os quais mencionavam a existência, além do oceano, de
um novo mundo ainda desconhecido, no Livro de Marco
Polo, nos relatórios de viagens de Henrique o Navegador etc.11
Temos que lhe dar um tento de confiança neste ponto:
ele estudou tudo o que se relacionava com o seu projeto, viu
e copiou numerosos mapas marítimos, o mapa-mundi de Hen-
ricus Martelus Germanus, o Globo de Laon e talvez também
os esboços de Martin Behaim que davam a posição das ilhas
do Poente: Cipango, Cândia, Java Maior, Java Menor, Angua-
na, Ceilão, Antilha, Brasil..,
108
O “WINLAND” E O MÉXICO ANTES DE COLOMBO
109
Em primeiro lugar, cumpre frisar que os irmãos Martim
Alonso e Vicente Pinzon armaram as três naves da expedição,
em benefício de Colombo! a Pinta, a Nina e a Santa Maria
pertencentes ao navegador Juan de la Cosa. Sem os Pinzon
e sem Juan de la Cosa, Colombo jamais teria podido zarpar
rumo ao Ocidente.12
As naves jamais teriam atravessado o Atlântico se os
Pinzon não tivessem assumido o comando da marinhagem.
A travessia foi longa: depois de terem ultrapassado as
700 léguas previstas pelo “almirante" Cristóvão Colombo, os
marujos perceberam que este era um péssimo navegador, que
não entendia patavinas do assunto, provido de mapas eivados
de erros, incapaz principalmente de dar uma ordem que pu
desse ser obedecida decentemente.
Passaram a resmungar com freqüência e chegaram a falar
em jogar ao mar esse almirante de comédia.
Quando o motim eclodiu, certamente Colombo estava
pronto para morrer bravamente, talvez em vias de querer dar
meia-volta, mas Martim Pinzon mais uma vez salvou a situa
ção.
— Queira Deus, gritou ele, que frota de tão grande rainha
não volte atrás, não somente esta noite, mas durante um ano
inteiro!
De acordo com Pierre Margry, autor de Os navegadores
franceses e a revolução marítima, do século XIV ao XVI,
“Vicente Yanez Pinzon teria sido a segunda pessoa do navio
de Jean Cousin que em 1488 — quatro anos antes da viagem
de Colombo — descobria o Brasil e dobrava o Cabo da Boa
Esperança”.
OS PRECURSORES DE COLOMBO
110
0 que depois se chamou de Cabo da Boa Esperança ele
em primeiro lugar batizou com o nome de “Ponta das Agu
lhas”, isto dez anos antes de Vasco da Gama.
De acordo com as tradições e os relatórios antigos, eis a
ordem cronológica dos “descobridores" conhecidos das Amé
ricas, desde o dilúvio até Colombo!
— Faz 9000 a 10000 anos, povos que emigraram da Europa
sulcaram o oceano, conta o Popol-Vuh, livro sagrado dos
maias-quichés e em etapas sucessivas se apoderaram de terras
do norte (Canadá) até o México, passando pelos Estados
Unidos.
Os mesmos povos migrantes passaram ao lucatã-Guate-
mala, depois para a Colômbia, em seguida ao Peru e Bolívia.
De lá sem dúvida para a Oceania e notadamente para a ilha
de Páscoa.
— No tempo do rei Minos navegadores cretenses teriam
chegado ao México.
— 850 anos antes de Cristo, Badezir, rei da Fenícia, teria
estado no Brasil, se dermos crédito à seguinte inscrição (na
realidade indecifrável) da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro:
111
1362: Oito suecos, vinte e dois noruegueses, segundo a
inscrição rúnica da pedra de Kensington.14
1473: Os portugueses, dinamarqueses e noruegueses da
expedição — muito duvidosa — comandada pelos capitães
alemães Pining e Pothorst.
1488: O dieppense Jean Cousin teria estado no Brasil e
teria reconhecido a foz do Amazonas.
1497: Jean Cabot teria pisado a Terra Firme antes de
Colombo.
112
Os habitantes desta ilha cobriam-se com peles de animais,
com as quais se julgavam bem enfeitados... para guerrear
se serviam de arcos, bestas, lanças, dardos, porretes de ma
deira e de fundas.
Viram que em muitos lugares este terreno era árido e
dava poucos frutos; que estava cheio de ursos brancos e de
cervos muito maiores do que aqueles da Europa, que produ
ziam certa quantidade de peixes e daqueles do tipo maior que
há na espécie, como focas e salmões.
Encontraram ali linguados de três pés de comprimento
e muito desse peixe que os selvagens chamam de baccallaos.
Viram aí também perdizes, falcões e águias, mas o que há de
singular é que todos eram pretos como corvos.16”
Esta primeira terra descoberta por Jean Cabot em 1497
era o Labrador. Desceu a costa até a Flórida e depois retor
nou a Bristol, levando consigo três “selvagens” vivos e um
rico carregamento.
Cristóvão Colombo só tocou a terra firme das Américas
em 1498, isto é, um ano depois de Cabot... e dez anos depois
do dieppense Jean Cousin, que havia reconhecido o Maranhão
ou foz do Amazonas.
113
Em Baza teria assegurado ao rei e à rainha que todos os
benefícios que auferisse de sua empresa seriam consagrados
à libertação da casa de Sião e à reconstrução do Templo.
FIM DO MUNDO EM 1656
114
nidade da descoberta da América, alinha-se aquele da sua assi
natura, a qual reproduzimos aqui abaixo:
115
UMA MISSÃO TEMPLÃRIA
116
COLOMBO CABALISTA
121
Capítulo VII
122
Será que o fator sorte tem opções privilegiadas ou esta
ria uma entidade misteriosa se imiscuindo para escamotear
as leis do racional?
Foi também um erro que poupou a vida do nosso corres
pondente e amigo E. Becouse... uma falta de habilidade de
somenos importância, uma coisa de nada, mas que dá muito
que pensar.
"Foi no dia l.° de outubro de 1918 — escreve o Sr. Be
couse — em plena ofensiva da Campanha. Na ocasião eu co
mandava a 18? bateria do destacamento 102 de artilharia pe
sada, com um fuzil Scnheider 155 cano curto. Em companhia
de Levejac, meu lugar-tenente, eu disparava tiros a esmo.
Ambos estávamos sentados, um de cada lado de uma me
sa de abrir e fechar, debaixo de um toldo de barraca de cam
panha que nos servia de posto de comando. De repente meu
lápis cai. Abaixo-me para apanhá-lo e eis que neste exato mo
mento uma bala de obus fura o toldo na altura em que minha
cabeça teria estado se não tivesse me curvado. Sou muito
grato a esta coincidência, pois o obus que disparara o tiro
acabou matando um condutor de artilharia, feriu um cabo e
estripou três cavalos.
Nesta terrível guerra de 14-18, em que o número servia
de palpite para salvar a sua pele, todo incidente assumia pro
porções desconhecidas e o azar e a sorte tinham um signifi
cado todo particular.
O Sr. Becouse teve oportunidade de anotar quatro fatos
extraordinários, quatro "coincidências", escreve ele, que o le
varam a crer num misterioso desconhecido consciente.
FATOS ESTRANHOS
123
Passados alguns minutos, o teto ruiu sobre o lugar que
havia sido evacuado.”
Em junho de 1971 um habitante de Romans (Drôme)
possuía uma galinha que depois do último eclipse parcial da
lua de fevereiro, punha ovos com uma parte lisa sobre a qual
estava gravado um sol constituído de um círculo e de treze
raios.
Um dos nossos leitores nos comunicou o seguinte fato
estranho, que sua mãe, “Sra. Benedita Vernay, e várias pes
soas de sua idade lhe haviam contado”:
Em 1868 o carteiro da aldeia de Iguerande, em Saône-e-
-Loire, deixava suas aves domésticas entrarem na cozinha de
sua pequena moradia. Pois bem, uma de suas galinhas costu
mava ficar acocorada diante do relógio e um belo dia pôs um
ovo que reproduzia, em relevo e de maneira perfeita, o mos
trador desse relógio.
Outros ovos vieram, mas com a imagem menos visível.
A notícia se espalhou pela aldeia e o carteiro, muito as
tucioso, de cada pessoa que quisesse assistir a uma postura
e ver o primeiro ovo fenomenal exigia o pagamento de dois
soidos.
Depois teve a idéia de encobrir o mostrador com um re
trato de Napoleão III, na esperança de que a galinha repro
duzisse a imagem, o que lhe proporcionaria uma nova fonte
de rendas!
Mas qual não foi sua decepção quando a galinha pôs um
ovo com uma silhueta muito vaga.
A história passa por verdadeira. Sem dúvida um biologis-
ta poderia explicá-la pelo fenômeno da impregnação psíquica;
mas, que explicação daria ele para quinhentos gaviões que,
em junho de 1969, aboletaram-se na chaminé da casa da Sra.
Girard (de 80 anos, residente na Praça São Severo, n.° 5, em
Viena, Isère) para ali morrerem?
A chaminé foi limpa três vezes, pois bandos de pássaros
apareciam para ali morrerem asfixiados.
Por que razão escolhiam eles a chaminé da Sra. Girard
para este estranho suicídio? Mistério!
Em seus estúpidos filmes de western, que estranho im
pulso leva os cenógrafos do cinema americano a emprestar
significados convencionais à direita e à esquerda?
A este respeito uma revista especializada escreve o se
guinte
124
"Os americanos convencionaram de maneira formal que
o sentido dos movimentos, entradas e saídas de campo, e
aquele do seguimento de um personagem atrás do outro em
andamento, revestia-se de uma importância considerável nos
filmes.
Também na maioria dos westerns, se o bom persegue o
mau, o sentido da cavalgada se efetua da direita para a es
querda. Se é o mau que dá caça ao bom, então a perseguição
se realiza da esquerda para a direita.”
Não se encontra explicação para isto, mas o fato é que
tradicionalmente a esquerda (portanto, lado do coração) tem
sentido maléfico e a direita, benéfico.
O SINAL DO ALÉM
125
Straton, o nimense, relata também a aventura, também
pasmante (se é que é verídica), vivida recentemente por Luís
Bianchi, de Nápole, um jovem operário de usina que voltava
para casa de moto.
Encontrou uma jovem que lhe fazia o sinal muito conhe
cido dos que param os carros. Mandou que ela tomasse as
sento no lugar traseiro e como começasse a cair uma chuva
fininha emprestou-lhe o seu casaco para que se protegesse.
A jovem deu-lhe o endereço de sua residência para onde
a conduziu, mas ficara tão encantado com o encontro casual
que chegou a se esquecer de pedir-lhe o casaco de volta.
Para recuperar o casaco, no dia seguinte foi à casa de
sua passageira e foi recebido por parentes que manifestaram
um grande espanto.
— De que casaco e de que jovem se trata?
Luís contou o encontro que tivera na véspera e então o
pai, com ar muito consternado, respondeu:
— Meu senhor, já faz mais de dois anos que nossa filha
morreu! Estupefato e incrédulo, Luís Bianchi foi ao cemité
rio no túmulo da jovem. Lá estava o casaco, pendente na gra
de que cercava o túmulo. . .
126
gens e mixórdias estúpidas que atribuem com muita injustiça
ao célebre dominicano” 23.
Receitas, umas mais mirabolantes que as outras, abun
dam no livro de magia do Grande Alberto: para produzir o
terrível fogo de artifício, para tomar-se invisível por meio de
um anel, para não ser traído pela mulher, para remediar a
virgindade perdida, para fazer gorar um casamento, para fa
zer com que uma jovem se entregue...
De vez em quando uma pitada de bom senso acaba me
tendo-se de permeio com as misturas de gordura de bode, de
olhos de lobo e de plantas colhidas na lua cheia.
Uma receita "contra a bebedeira do vinho” pode ser tal
vez a seguinte: antes de sentar-se à mesa, tomar duas colhe
radas de água de betônica e uma colherada de bom óleo de
oliveira; você poderá então se encher de vinho sem nenhum
perigo.
Para acabar com o porre de um homem é só "enrolar
seus órgãos genitais num pano branco que esteja ensopado de
vinagre forte” e, no caso de uma mulher, "colocar um pano
igual sobre os seios”.
Quanto a nós, não garantimos nenhum resultado!
127
damente inteligente: cortar a agulha de uma bússola em duas
partes (no sentido do comprimento)!
"Fazer duas caixas de aço fino (semelhantes às caixas
comuns de bússolas de mar), idênticas no peso e medida,
com um lado bastante grande para colocar à sua vol
ta todas as letras do alfabeto. No fundo deve ter um eixo
para colocar a agulha, como num quadrante comum. Depois,
dentre várias pedras de ímã fino e bom, procurar uma que
no lado de baixo tenha veios brancos; aquele que for o mais
comprido e o mais reto, cortá-lo em duas partes, que sejam
as mais iguais possíveis, para delas fazer duas agulhas para
as duas caixas. É preciso que tenham a mesma espessura e
o mesmo peso, com um pequeno buraco para colocá-las no
eixo, em equilíbrio. Feito isto, entregar uma dessas caixas ao
amigo com quem se quer manter contato; marcar então com
ele uma hora de qualquer dia da semana, mesmo uma hora
de cada dia, se assim se quiser. Quando se falar um ao outro
em seu escritório, deixar passar um quarto de hora ou meia
hora, até mesmo uma hora, antes daquela que tiver sido com
binada com o amigo, e em seguida então colocar a agulha no
eixo da caixa e fixá-la com os olhos durante este tempo. No
começo do alfabeto é preciso que haja uma cruz ou outro sinal
qualquer para que, quando a agulha apontar para este sinal,
se veja que ambas as pessoas têm a intenção de se falar, pois
é preciso que ela se ponha em movimento sozinha antes de
começar neste sinal, depois que o amigo que estiver longe a
tiver colocado também.
Desta maneira o amigo, para fazer o outro ciente de sua
intenção, girará a agulha sobre uma letra e a agulha do outro
simultaneamente se colocará sobre a letra semelhante, pela
relação que elas têm junto. Quando se quer responder, é pre
ciso fazer a mesma coisa e, assim feito, colocar a agulha sobre
o mesmo sinal. Note-se que, depois de ter falado, é preciso
ter muito cuidado de fechar a caixa e a agulha, separadamen
te, em algodão numa caixa de madeira e, principalmente, não
deixar que enferrugem”.
128
É o caso do bilhete que foi premiado na Loteria Federal,
cujo número foi revelado a uma senhora de bem, em sonho,
pelo seu marido falecido ou por um ser particularmente caro.
Como se, por exemplo, se quisesse comprar a esmo o
bilhete 28.753 da próxima extração, o que suporia o conheci
mento miraculoso da cidade ou da aldeia em que este número
foi vendido e sorteado!
A alquimia pertence a este misterioso desconhecido que
nos intriga, pois não sabemos se no decorrer dos tempos um
pesquisador com dons especiais conseguiu fabricar ouro e es
sa pedra filosofal, portadora de tudo quanto é bem, da feli
cidade, da saúde e do conhecimento.
O engrimanço do Grande Alberto fornece com precisão
o meio de mudar o chumbo em ouro, de acordo com "o sábio
químico Fallopius” aprovado por estes alquimistas de fama
que foram Basílio Valentin e Odomar4.
"Misturar uma libra de caparrosa de Chipre5 numa libra
de água de forja, que tenha sido bem filtrada e clara. A in
fusão deve levar vinte e quatro horas para que a caparrosa
se liquefaça inteiramente e se incorpore à água. Em seguida
destilá-la por filtragem com o auxílio de pedaços de feltro bem
limpo e depois disto por alambique em fogo lento. Conservar
esta destilação num vaso de vidro resistente, bem fechado.
Colocar no cadinho uma onça6 de bom azougue purificado,
e cobrir o cadinho para impedir a evaporação. E, quando se
presumir que vai começar a ferver, juntar uma onça de fo
lhas finas de ouro bom e retirar imediatamente o cadinho do
fogo. Isto feito, tomar uma libra de chumbo fino e bem pu
rificado, na maneira como diremos abaixo: estando o chumbo
fundido, incorporar-lhe a composição de ouro e de azougue
que tiver sido preparada e, quando tudo estiver bem mistu
129
rado, juntar uma onça da água de caparrosa e deixar ferver
toda a mistura feita no fogo durante um pequeno espaço de
tempo. Quando a composição tiver sido esfriada, eis que sur
girá o bom ouro.”
Será que foi o segredo de Fallopius que faz pouco tempo
valeu uma súbita fama a um elegante cavaleiro, antiquário da
praça de Vosges, em Paris?
Uma revista consagrada às “ciências ocultas” e que leva o
nome do alquimista dominicano de que falamos se faz fia-
dora disto em seu número 4. O herói da aventura, que pre
tendia ser o verdadeiro conde de São Germano,7 tomou-se
conhecido de nossa geração no dia 28 de janeiro de 1972, às
21,30 horas, no canal doze da televisão da ORTF (Organização
de Radio-Televisão Francesa), em sua emissão “O terceiro
olho".
130
O "conde de São Germano”, jovem, rapaz bonito, simpá
tico, sempre escoltado por jovens bonitas, ministrou aos olhos
de milhões de franceses a prova de que possuía a pólvora
mágica!
Ao menos é o que teria provado a experiência, se não ti
vesse sido uma burla eivada de truques.
A apresentação foi feita do interior dos escritórios da
revista que organizou o programa, na quarta-feira do dia 5 de
janeiro de 1972, as 21:30 horas, dia e hora escolhidos pelo
próprio alquimista que, de acordo com o combinado, “não
devia tocar em nada”.
O material consistia de um fogareiro de camping a gás
e de chumbo fornecidos pela ORTF e controlados pelas "tes
temunhas”.
Para juntar as barras do fogareiro que estavam afastadas
demais, São Germano enfiou suas mãos na chama sem sofrer
nada e efetuou o pequeno acerto.8
O cadinho havia sido levado pelo alquimista; o apresen
tador da transmissão (e jornalista — o que não inspira nenhu
ma confiança) colocou nele 3 cm de fuzível de chumbo que
pusera previamente em contacto com a pólvora mágica que
o mago trazia num medalhão pendurado em seu pescoço.
O cadinho foi fechado e posto sobre o fogareiro.
Passados cinco minutos retiraram o cadinho do fogo e
mergulharam-no na água fria.
Finalmente abriram o cadinho: continha um pequeno re
síduo escuro (o chumbo?) e um pedaço de ouro.
NADA DE MILAGRE NA TELEVISÃO
A simpática diretora do canal 2 a cores, Sra. Jacqueline
Baudrier, a nosso pedido nos fez conhecer seu ponto de vista
sobre este mistério:
"Ref. 383/JL/MB — Prezado Senhor.
Não me parece que o jovem senhor que se declara ser
o conde de São Germano levante problemas.
O que ele pretende é transformar o chumbo em ouro num
fogareiro de camping e, com efeito, sua ligeireza e habilidade
de mãos teve êxito completo.
131
A rigor ele poderia solapar quaisquer convicções se não
tivesse garantido que tem 17000 anos dc idade, que viaja regu
larmente ao planeta Marte, que criou um besouro de 17 kgs, e
sei eu lá mais o quê? Ê muita coisa, é mesmo demais. ..
Na realidade, o conde de São Germano se atribui muitos
privilégios prodigiosos.
Conheceu Luís XV, Frederico o Grande, vive atualmente
com Ninon de Lenclos e é um dos doze verdadeiros Rosacru-
zes que dirigem ocultamente o mundo.
Bem entendido, os Rosacruzes9 não dão crédito total a
esta afirmativa.
O nome verdadeiro do conde de São Germano é Richard
Chanfray e, ainda que não tenha realmente o poder de mudar
o chumbo em ouro, pode-se admitir que possui contudo conhe
cimentos muito amplos em esoterismo.
A experiência que realizou com êxito diante das câmaras
da ORTF, em pleno século XX, é rica de ensinamentos sobre
o que se deve crer a respeito das transmutações alquímicas
realizadas na Idade Média!
Para o professor Rameau de Saint-Sauveur, o taumaturgo
"não é o verdadeiro Conde de São Germano, mas sem dúvida
um Extraterrestre, em vista dos conhecimentos que possui10!
Mas, acrescenta o professor, “se estamos em face de um
Temporal (viajante do tempo) seria de se desejar que publi
camente se tornasse luminoso, sem sais luminescentes nem
truques, unicamente por meio da ionização de sua indumen
tária, em função do seu índice temporal”.
Eis portanto o enigma do conde de São Germano lançado
numa nova perspectiva que se transformará em repasto deli
cioso dos amadores do insólito!
O HOMEM VERMELHO DAS TULHERIAS
Nos primeiros anos do século XIX, um personagem es
tranho, à maneira do conde de São Germano, alimentou e di
132
vertiu a crônica sob o nome de o "homenzinho vermelho das
Tulherias”.
A história foi narrada em 1863 pelo escritor Christian
Pitois'1.
No dia 24 de dezembro de 1800, depois de haver escapado
miraculosamente ao atentado da rua São Nicásio, Bonaparte
foi agradecer o velho beneditino D. Guyon que o havia preve
nido do perigo.
Recebeu então do velhote um envelope fechado contendo
o seu horóscopo com sua prodigiosa ascensão, mas também a
predição da sua queda, o que o deixou de tal modo agastado
e contrafeito que deixou de ir consultar seu amigo astrólogo.
Na noite do dia 20 de março de 1804, um granadeiro que
montava guarda no jardim das Tulherias percebeu uma forma
humana iluminada de vermelho que parecia pairar nas ala
medas .
Depois da terceira intimação o soldado abriu fogo; a luz
que iluminava se apagou e o fantasma se extinguiu. Alertado
para o fato, o posto de guarda que se dirigira ao local só des
cobriu uma lanterna que havia sido apagada de pouco e um
grande manto vermelho.
Pouco tempo depois o enigma foi descoberto: despeitado
porque não recebia mais as visitas do Premier cônsul e já
um tanto quanto desequilibrado da cabeça, D. Guyon pas
sara a fazer seus passeios costumeiros pelos jardins das Tu
lherias, durante a noite, enroupado numa grande peça de
pano vermelho que, aliada ao seu espírito perturbano, lhe
dava um aspecto e andar de hierofante.
O tiro assustou tremendamente o pobre diabo que fugiu,
abandonando sua lanterna e seu manto. Quando chegou à sua
mansarda morreu em consequência do susto que levara.
Ao tomar conhecimento deste fim trágico, Bonaparte te
ria dito: “Pobre diabo! Em suas magias não previra isto!”
Deu ordens para que D. Guyon fosse enterrado secreta
mente com a proibição de tornar o incidente público .
Esta seria a história do Homenzinho Vermelho das Tu
lherias que teria sido o astrólogo de Bonaparte e que mais
tarde os soldados do Egito transformaram em gênio das pirâ
mides, invulnerável às balas e imponderável como um fan
tasma .11
133
Capítulo VIII
134
Voltando a si e supersticiosa como todas as crentes espa
nholas, viu nisto logo uma manobra do Maligno e, vestindo
uma roupa grosseira de espantalho, começou a apagar a ima
gem suspeita. Mas em vão!
Quanto mais Maria lavava e esfregava a pedra do fogão,
tanto mais nítido e colorido se desenhava o rosto, sem dúvida
feminino, com olhos amendoados, sobrancelhas hirtas e bem
traçadas, nariz afilado e delgado, boca entreaberta e lábics
finos.
Os cabelos pareciam penteados em bandó e pelo pescoço
se podia adivinhar o começo de um busto escuro.
Detalhe raro: das narinas partiam dois traços escuros
— talvez dois filetes de sangue — que sublinhavam as faces e
saíam mesmo do oval perfeito do rosto.
A imagem tinha um tamanho mais ou menos normal, de
cor cinza sépia, com manchas avermelhadas.
Toda assustada, Maria chamou seu marido, depois seus
vizinhos e todos, debruçados sobre o fogão, examinaram a
aparição fantasmagórica.
— Quem podia ter feito este desenho? perguntou Juan
Pereira. Mas sua pergunta não tinha nenhum sentido, pois
era p’ra lá de evidente que nem ele nem sua mulher, nem seus
filhos podiam ter sido os autores da pintura1.
Ademais, todos os outros afirmaram peremptoriamente
que nada tinham a ver com a estranha história, tão extrava
gante e incompreensível que logo os curiosos afluíram da Es
panha, de Portugal, da Alemanha, da Itália e da França...
UM TÚMULO DEBAIXO DA LAREIRA
Cansado de ser importunado por uma multidão cada vez
mais numerosa e desordeira, um mês mais tarde Juan Pereira
mandou vir um pedreiro que cobriu a pedra do fogão com
uma camada de cimento de uns três centímetros de espessura.
A visão sumiu durante algum tempo mas, à medida em
que o cimento ia secando, a cabeça do fantasma ressurgia do
calcário e finalmente reapareceu tão nítida e colorida como
antes.
135
Belmez de Ia Moraleda — Esta cabeça apareceu pela primeira vez
sobre a pedra da lareira.
136
A pedra da lareira da casa encantada, cortada por um pedreiro, foi
colocada na cozinha onde os Pereira a adornam de flores como uma
sepultura.
137
Maria fizera colocar num canto da cozinha a laje cortada
e devotamente a ornava de flores conforme se costuma fazer
com pedras tumulares.
AS SOMBRAS FALAM
138
Belmez de la Moraleda.
Cabeça de ancião.
139
Como era de se esperar, à meia-noite o aparelho mira
culoso do Sr. Germano captou na casa dos Pereira informa
ções interessantes... se é que podemos dar-lhes crédito3.
Vejamos o que teria registrado:
— Lamentos — os transes do amor — uma respiração
ofegante.
— um grito estridente parecendo ser emitido por uma
mulher.
— estas palavras: “no habe... mujeres...no quiero...
pobre quinco” (não... ter... mulheres... não quero...
pobre quinco).
— Borracho! Aqui no accepto borrachos! (Beberão! Aqui
não aceito bêbados!).
— os gemidos de uma criança moribunda.
— Va con todos los hombres (ela vai com todos os ho
mens) .
— Entra, mujer, entra. .. (Entra, mulher, entra).
E como que uma sonorização de fundo, escreve o Pueblo
de Jaen, ouviam-se "ruídos e sons que lembram a sexualidade,
as brutalidades, a bebedeira e percebia-se o palavrório desbo
cado de lupanas e discussões e, também, choros horríveis de
bebês. Talvez estivessem massacrando-os!
140
A casa mudou muitas vezes de donos, todos eles silencian
do os estranhos incidentes a fim de não prejudicar a venda.
Só divulgaram os fatos quando os retratos apareceram na
pedra...
Diz-se também que dois homens lutaram até à morte no
lugar onde se produziram as aparições4”.
Na pequena cidade (2.500 habitantes) afirmavam logo
que os retratos falavam!
OUTRO ROSTO APARECE
Nossos amigos Jean e Denise Larroque, de Málaga, foram
a Belmez de la Moraleda para fazer uma averiguação por sua
própria conta.
“O primeiro rosto que se desenhou, escreve Denise Lar
roque,5 foi cortado na pedra do fogão e este tipo de pintura
foi colocado perto da parede sob uma placa de vidro de
proteção.
Uma outra placa foi destacada da mesma forma na chapa
do fogão, mas a imagem que aí se desenhou não se vê pro
priamente e sim dela se faz uma idéia, pois parece que se vai
desfazendo com o correr dos dias.
Apresenta um velho de barbas compridas, muito bem
desenhado, como se fosse pela mão de um Leonardo da Vinci.
Interroguei Maria Pereira.
Esta senhora de cincoenta e três anos parece sincera e
sustenta que as explicações pseudo-científicas dos jornalistas
do Pueblo são destituídas de fundamento. ”
— Eu estava fritando ovos na frigideira, disse ela, quan
do diante do fogo, no próprio piso, apareceu a primeira fi
gura.
Fiquei com muito medo e chamei meus filhões e os vi
zinhos. Procuramos limpar o cimento, mas a imagem conti
nuava lá e resistia a todo tipo de detergente.
A aldeia inteira acredita nestas aparições e tomou partido
contra os jornalistas que por várias vezes tiveram que deixar
o local sob os apupos dos habitantes.
Os apontamentos do Sr. Germano não são levados a sé
rio nem pelos Pereira nem por seus vizinhos que afirmam que
se ouve algum ruído fora do comum na casa.
141
Maria Pereira é uma senhora esquisita e parece muito
impressionada com o fenômeno.
A polícia e os habitantes de Belmez bem como as autori
dades locais julgam-na incapaz de semelhante trapaçaria.
Belmez de la Moraleda, linda cidade situada num conjunto
agradável, possui um excelente hotel com um parque, o que
levou os céticos a propalar que o assunto podia ter sido mon
tado com toda a encenação a fim de criar uma nova Fátima
ou uma Lurdes!
Contudo, o vigário, Pe. Antônio Molina, declara alto e
bom tom que o fenômeno é absolutamente alheio à religião.
RAIOS ULTRAVIOLETA
142
Inconscientemente, "por fixação dos seus pensamentos
em entes desaparecidos” ela teria podido fazer aparecer as
imagens.
Esta a opinião do Sr. Joaquim Grau, conhecido parapsi-
cólogo da Espanha, que se omite sob o nome de Uttama Sit-
kari.
No domínio da especulação podemos ir mais longe.
Em tempos idos, disposições de ondas do pensamento
emitidas em circunstâncias particularmente dramáticas pude
ram encerrar-se numa espécie de nó do tempo (universo sin
gular)6 sob a influência de uma fonte exterior de energia, ao
invés de se propagarem no espaço-tempo.
Em nossos dias, circunstâncias propícias, elementos quí
micos disponíveis, o poder catalisador de um médium teriam
então disposto um arranjo à maneira como se ordenam as
linham de limalha de ferro na extremidade do ímã.
Pode-se inclusive pensar numa disposição figurativa de
elementos elétricos, postos em funcionamento pela distorsão
e pela vontade inconsciente de um médium que serve de de
tector ou de transmissão .
A casa dos Pereira (outra hipótese) é um lugar propício
às materializações e à influência particular das correntes elé
tricas que poderiam agir com inteligência e vontade criadora
para ressuscitar situações e cenas do passado.
A solução mais livre do problema consiste, com efeito, em
imaginar a ação de uma força inteligente natural ou sobrena
tural (o que acaba dando do mesmo) para revelar um segredo,
libertar uma consciência, determinar o estabelecimento de
um diálogo entre o além e o aquém.
143
Para que o registro se efetuasse, talvez tenha sido sufi
ciente uma excepcional coincidência eletromagnética (inter
ferência nos comprimentos de ondas do tempo?).
A Natureza tem uma inteligência e possui uma vontade
de se exprimir, de participar da vida e dos cuidados dos
homens.
O objeto fabricado, mesmo o cimento, pode manifestar
a sua inteligência e o seu pensamento quando merece con
fiança e quando é posto em sintonia com o seu meio ambiente.
Esta a razão porque em certos lugares, em certos locais a co
munhão é tão perfeita e tão harmoniosa que tudo floresce,
tudo cura, tudo é bem sucedido8.
Então, a matéria dita inerte vibra, entra em contacto ínti
mo com um detector (galena, médium) e, por meio dele, com
o homem cuja natureza é na realidade fundamentalmente
idêntica à sua.
Os destinos quase paralelos e complementares unem-se
então e eis que se estabelece um diálogo.
Na crença dos ocultistas, é características das correntes
telúricas favorecer um tal fenômeno, mas, se estas correntes
estão ausentes dos lugares da materialização, outras forças
podem substituí-las.
A CRIAÇÃO DE UM MUNDO
Pode-se imaginar um pensamento encerrado em espécies
de “ferritas orgânicas” que, à medida que se vão decompondo
e transformando, libertam este pensamento criador de fenô
menos supranormais9.
144
Ou então, aprisionado num círculo fechado, o pensamen
to acaba adquirindo uma energia enorme e criadora ( que vai
transformar-se numa espécie de divindade) que engendra a
eclosão de elementos materiais inteligentes dotados de uma
lembrança cromossômica que os liga a uma vida anterior.
Ê como uma verdadeira criação de um mundo e talvez
seja desta maneira que o universo se cria.
A energia criadora ou pensamento assim libertado esboça
então esquemas (desenhos) relacionados com o pensamento
de um universo destruído.
Um processo análogo (ação fisiológico-patológica, histe
ria) atua na criação natural dos estigmas. Haja vista em
Teresa Neumann e nas pessoas neuróticas ou muito beatas.
Teresa Neumann pensava nos estigmas de Cristo e a in
teligência do seu organismo celular (exterior à sua inteligên
cia consciente) reproduzia a imagem nos lugares adequados.
Da mesma forma uma mulher histérica, que se enamora
por uma vedete de cinema, se ela pensa ou aspira a uma iden
tificação (o que em geral não se dá), poderia fazer aparecer
a imagem idolatrada sobre uma parte do seu corpo.
Poderia ela fazer aparecer esta imagem em outro lugar. ..
por exemplo sobre uma laje de cimento? Isto talvez não fos
se impossível, mas os biofísicos nem sequer estudaram a even
tualidade .
Tratar-se-ia então de uma transferência e quase de uma
transformação10.
O mistério de Belmez de la Moraleda poderia estar ligado
e ser atribuído a um tal fenômeno de transmutação do pensa
mento e de projeção do desejo.
145
Capítulo IX
AGPAOA — O ROMPE-BARREIRAS
146
Congresso internacional de parapsicologia em Campione, Itália.
Da esquerda para a direita: Eng. Ettore Mengoli, Dr. Giuseppe Crosa.
prof. Marcei Martiny, o prefeito de Campione e o Dr. Hans Naegeli,
de Zurique. Todos afirmam a autenticidade dos milagres.
147
O logurgo (curandeiro) filipino Tony Agpaoa
UMA PROVA SÓ
AS CHAGAS ABREM-SE E TORNAM A FECHAR-SE
Eis como a reportagem descreve uma operação de tumor
filmada em 1971
“Numa espécie de anfiteatro ao ar livro, quatro escadas
voltadas para os pontos cardeais descem até uma pequena
cabana (ou altar) muito simples, com quatro entradas gran
des, o que dá um campo de visão mais ou menos perfeito, se
tirarmos as quatro traves dos ângulos.
O curandeiro desce pela escada do norte e o doente, pela
do sul; os parentes, os ajudantes de cirurgia, os cineastas e as
testemunhas se servem das outras escadarias.
Os cineastas ocupam um lugar recuado para poder fil
mar à vontade, utilizando os refletores que clareiam a cena.
Nada portanto deve escapar à objetiva do seu aparelho e as
testemunhas têm toda facilidade para controlar a operação.
O curandeiro está costumeiramente vestido com um blu-
são branco de mangas curtas, fechado na frente com pequenos
botões. Não usa máscara e às vezes carrega anéis em suas
mãos nuas 12.
Entra em recolhimento mental, toca ora a cabeça ora o
pléxus solar antes de efetuar a operação 3.
O doente, em perfeito estado de consciência, jaz deitado
sobre o altar preparado dentro do casebre e puxa as roupas
até à altura do peito; os ajudantes dispõem um pano branco
e toalhas em volta do campo operatório.
O logurgo não parece procurar o ponto onde está locali
zado o mal, mas suas mãos começam a apalpar e amassar as
carnes como faria um massagista ou uma dona de casa que
prepara uma massa de bolos.
■Repentinamente ele enterra seus dedos no ventre e, de
olhos fechados, entrega-se a um afã misterioso.
Retira uma massa sanguinolenta que distinguimos perfei-
tamente na ponta dos seus dedos sujos até à primeira falange
e entrega-a a um assistente.
149
Operação no abdômen.
AS EMANAÇÕES DE KIRLIAN
151
Plano ampliado de uma operação com mão nua.
152
quanto à sua boa-fé. Deveriamos aceitá-lo sem reticências,
crer na palavra do doutor, se o racionalismo — quer o quei
ramos quer não — que condiciona cada um de nós, não se
insurgisse contra um fenômeno que a razão pura não pode
aceitar.
É verdade que esta razão, hostil ao milagre por princí
pio, não teme arrastar-nos para o erro quando as sacrossan
tas instituições da ciência são impotentes para dar uma ex
plicação.
É bem verdade, ainda, que, se somos reticentes em crer
nos milagres feitos pelos logurgos, no entanto somos de uma
credulidade beata naquilo que se relaciona com a ciência clás
sica: acreditamos nos prótons, nos elétrons, nos mésons, sem
jamais tê-los visto!
Vejamos como o Dr. Naegeli relata aquilo que testemu
nhou, o que verificou e como é que ele interpreta as inter
venções cirúrgicas.
Para abrir as carnes à distância, o "curandeiro espiritual”
emprega o seu dedo ou o dedo de uma outra pessoa (se lhe
dá o poder que é uma espécie de mana6).
Diversas vezes me prontifiquei pessoalmente para a ex
periência que controlei na presença de duas pessoas que me
acompanhavam. Não se trata de uma trapaça.
O fenômeno é idêntico àquele das Injeções espirituais no
qual a aparência simbólica de uma injeção com uma seringa
provoca um bucaro na epiderme, com aparecimento ou não
de sangue.
Agpaoa e trinta outros curandeiros das Filipinas mergu
lham realmente suas mãos no corpo dos doentes.
Creio na autenticidade do fenômeno que não encontra
ainda explicação éabal nas ciências naturais.
Aquilo que costumamos chamar de Emanações Kirlian
entram provavelmente também em ação, mas não traz uma
explicação para tudo”.
As "emanações Kirlian” seriam ondas de alta freqüência
irradiadas pelo psiquismo humano. Os meios científicos oci
dentais não as conhecem, mas os russos nelas se interessam
com o escopo de conseguir a retirada dos órgãos à maneira
dos curandeiros filipinos.
153
A CIRURGIA ESPIRITUAL (PSYCHIC SURGERY)
154
suas raízes numa ciência extraterrestre legada há milhares de
anos pelos Iniciadores vindos do céu.
Efetivamente, os curandeiros filipinos agem por virtude
de segredos transmitidos por tradição aos bruxos Igorots das
ilhas do norte que, há 15.000 luas, foram visitados pelos deuses
Kabunians que desceram do céu em bolas voadoras.
É a partir desta época que esses curandeiros andam im
punemente sobre o fogo e praticam sua cirurgia miraculosa
pelo único poder das forças biomagnéticas de suas mãos.
Segundo o Dr. Naegeli, eles não entram em transe —
salvo exceção — mas preparam-se (da mesma forma que para
caminhar sobre o fogo), entoando cânticos uma noite inteira
e rezando durante todo um dia. Suas intervenções nunca
passam de dois ou três minutos.
“Às vezes, diz o prático suíço, do corpo enfeitiçado ex
traem pelos, barbantes, cabelos, objetos de matéria plástica
e até... dentes de alho!
Eu mesmo vi pessoalmente um curandeiro extrair três
dentes de alho da nádega de um doente. Guardei um desses
dentes como lembrança.
E possível que algumas operações sejam falseadas, mas
a meu ver isto só acontece raramente, e nunca na capela das
invocações espirituais onde as intervenções são todas elas
incontestavelmente honestas e verídicas.
De mais a mais, existe sempre a possibilidade de se veri
ficar, de examinar: os curandeiros não se opõem a este tipo
de controle; até pelo contrário.”
155
"Estes cirúrgicos espirituais desmaterializam o mal7, por
exemplo um tumor que, transmudado em ondas ou em partí
culas subatômicas extremamente peneti-antes do gênero dos
neutrinos 8, atravessa as carnes e a epiderme para remateria-
lizar-se exteriormente, em nosso universo conhecido, sob forma
de exsudação.
Esta purulência se aloja então numa cavidade que apa
rece espontaneamente, em geral sobre a parede abdominal.
0 conjunto destes fenômenos, somente admitidos em me-
tapsíquica, implicaria portanto uma desmaterialização, uma
transmutação, uma telequinésia e uma rematerialização.
O mesmo processo atua nas experiências de metapsíquica
com os médiuns e é justamente um médium que é o curan
deiro.
A fim de dar uma explicação para este tipo de portento,
o Dr. Naegeli sugere a intervenção de uma corrente bioelétrica
que emana do prático e particularmente dos seus dedos. Esta
corrente, pouco estudada pelos que se dedicam à ciência,
constituiría o elemento complementar e indispensável para
que se produza um efeito supranormal.
Entre os hindus este poder misterioso se chama a kunda-
lini e acha-se em estado desenvolvido nos chacras, ou centros
espirituais, situados na medula espinhal.
"No próprio interesse da ciência contemporânea, diz o
Dr. Naegeli, seria de se desejar que esta cirurgia espiritual
exercida por pessoas sem intelectualidade desenvolvida fosse
estudada e verificada pelos biologistas, o que sem dúvida al
guma ampliaria os limites ainda estreitos dos nossos conheci
mentos racionais.”
ILUSIONISMO E MAGIA
156
e pouco evoluídos, estão prontos a jurar de mãos e pés jun
tos, pela operação9.
Testemunhas mais circunspectas têm aventado a possibi
lidade de tratar-se de trapaça que se reduz a uma simples
habilidade de prestidigitação.
Na França curandeiros imitavam outrora Agpaoa e talvez
pratiquem ainda a sua arte a qual, salvo equívoco, não está
inquinada de nenhuma artimanha.
A Sra. R., da Ilha Jourdain (Vienne), nos contou que
quando era jovem seu marido tivera uma enorme inflamação
que formava como uma bola, no pescoço, mais ou menos em
cima da veia aorta.
Foi procurar um curandeiro — falecido mais tarde —
da aldeia de Ages que afirmou poder livrá-lo rapidamente
do mal e tirou de seu bolso uma faca visivelmente afiada com
cuidado.
Como o jovem senhor tinha medo, pensando que fosse
haver uma incisão, o curandeiro lhe disse:
— Não tenhas medo, não vou nem te cortar nem te ferir.
Se queres, tu mesmo podes colocar a tua mão sobre a infla
mação.
Postado a uns dez centímetros de distância da carne, o
curandeiro fez menção de fazer uma incisão ou talvez tenha
realizado num gesto de magia. Em seguida disse:
— Podes ir embora. Quando chegares em casa teu mal
virá a furo e estarás curado.
Mais ou menos uma hora depois, quando ia chegando
em casa, o Sr. R. sentiu alguma coisa quente que escorria
pelo seu pescoço. Levou a mão ao lugar e a retirou cheia de
sangue.
O abscesso, ou mais exatamente a inflamação, estava su-
purando, desinchava-se e em pouco tempo o pescoço voltou
ao seu aspecto normal.
OS RACIONALISTAS CONTESTAM
157
Estas operações miraculosas referidas pelas imagens de
diversos filmes tirados, quer por Juan Blanche quer pelo ci
neasta M. Fuchs, suscitaram reações contraditórias.
Naturalmente, os racionalistas —- e talvez não estejam
equivocados — acreditam que se trata de tapeação e não admi
tem que as leis rígidas da ciência sejam postas em dúvida.
No estado atual das nossas experiências e dos nossos co
nhecimentos científicos, dizem eles, é impossível que uma
mão possa penetrar num corpo como se este fosse um fluído
ou uma pasta mole.
Isto vale acreditar no “rompe-barreiras" e na permeabi
lidade de toda substância, o que é inaceitável para um físico.
Podem os logurgos fazer um braço atravessar uma parede,
atravessar uma blindagem de tanque? Se podem, que o façam;
pois sim, claro que não conseguem!
E no entanto, num filme de M. Fuchs vimos Tony Agpaoa
cortar uma fita adesiva de 7 cms de largura e feita de quatro
camadas superpostas, quer com o seu dedo pontudo quer
com a ponta da língua e sem tocar o objeto.
Se este relato corresponde com a verdade, como conci
liar as explicações aventadas: as “emanações Kirlian”, elétri
cas, ondulatórias, presumidas de alta freqiiência e o fenômeno
que se parece completamente diferente da desmaterialização
e da rematerialização?
Este o raciocínio daqueles que contestam os fatos e, di
gamo-lo: o milagre!
Então, se queremos crer nisto, forçoso é pensar num mis
terioso desconhecido, num poder que seria conferido aos “ci
rurgiões espirituais” com possibilidade de transmiti-lo, como
foi o caso para o Dr. Naegeli.
Quem daria este poder? Deus ou os “Kabunians” antigos?
Por que esse Deus, ou as entidades desconhecidas que
seriam suas emanações, não confere esse poder ao papa? Por
que não o deu a Jesus ou aos santos das diversas religiões?
O problema é um verdadeiro quebra-cabeça, sem expli
cação satisfatória: os racionalistas negam os fatos, mesmo
que os tenham testemunhado, os crentes confiam na autenti
cidade de seu testemunho visual e nas experiências das quais
têm sido os sujeitos, mas nenhum, tanto num quanto no
outro, não tem certeza em sua opinião!
158
AS APARÊNCIAS ENGANAM ...
159
charlatão, que finge operar e fazer a troca dos órgãos, mani-
pulando com destreza vísceras de animais”11.
Eis-nos pois diante dum beco sem saída: ou acreditar no
Dr. Naegeli e nos médicos que, como ele, com a mesma hones
tidade, controlaram as operações miraculosas, ou então per
filar a opinião das personalidades científicas que negam una
nimemente a autenticidade do filme e das intervenções cirúr
gicas.
É certo que um ilusionista hábil como o é na França o
célebre Kassagi poderia facilmente ser substituído por Agpaoa,
pelo menos no que tange as curas, se é que elas existem.
Ê menos certo que o misterioso desconhecido dos pode
res humanos e da ciência intrínseca, muito diferente da ciência
condicionada das disciplinas oficiais, escapa às nossas per
cepções e esbarra com uma hostilidade absurda em nossa
civilização.
E como não almejar a vitória de Agpaoa, do milagre enfim
demonstrado, e o advento dos tempos em que o homem, re
tornando àquilo que talvez tenha sido sua via original, saberá
passar como um neutrino através das muralhas e ver com
seus olhos os mistérios dos universos ocultos.
160
Em outubro de 1938, operários que trabalhavam numa
pedreira de Pedro Mountain12 nos Estados Unidos abriram
uma mina numa penedia monolítica de granito que não apre
sentava nem falha nem fenda, pois tiveram que furar um bu
raco com picareta para introduzir a carga de dinamite.
Blocos caíram no fundo da pedreira e deixaram a desco
berto na parede, perpendicularmente, uma gruta com 5 metros
de comprimento
Dois homens penetraram nela e, para sua maior surpresa,
sentada no chão encontraram uma pequena múmia da altura
de 22 centímetros, com pele bronzeada, cabeça baixa e nariz
achatado.
O conservador do museu de Boston, a quem foi levada
para exame, declarou que era do tipo daquelas que se desco
brem no Egito, com a particularidade de que não estava en-
faixada.
O professor Henry Fairfield deu a esta múmia o nome
e classificou-a entre os hominídeos que
de hesperopithecus 1314
viveram no plioceno, período final da era terciária que vai de
— 10 a 1 milhão de anos.
Sua tese não foi admitida pelos historiadores clássicos
da pré-história e a pequena criatura foi esquecida na vitrine
de um museu dos Estados Unidos H.
Certamente é permitido contestar os milhões de anos de
idade que se atribuem à múmia, mas como explicar que ela
tenha podido ser colocada — ou que tenha vivido — numa ca
verna situada em meio a um granito compacto?
Como pôde ela entrar nesta cavidade hermeticamente fe
chada?
Voltamos então ao milagre de Agpaoa, a um misterioso
desconhecido que escarnece do nosso racionalismo: a possi
bilidade incrível que certos seres teriam de atravessar a ma
téria densa, de ser “rompe-barreiras”.
161
Capítulo X
OS ESTRANHOS INCÊNDIOS
162
Também o grande incêndio de Chicago, na noite de 8
para 9 de outubro de 1971, não poupou as vidas humanas e
permaneceu um mistério jamais esclarecido.
Múltiplas combustões surgiram em pouco tempo por
toda parte na cidade como se tivessem sido provocadas
por malfeitores ou por... anjos exterminadores!
Seguiu-se uma verdadeira "tempestade de fogo”, que pro
jetou assombrosos clarões vermelhos e verdes absolutamente
sobrenaturais.
“Jamais se encontrou nem a causa nem sombra de
explicação, escrevem J. W. Sheahan e G. P. Upson *; havia
alguma coisa no ar que alimentava este fogo que não era
como os outros.”
— No dia 2 de julho de 1951 a Sra. Reeser — de 78 anos
de idade — de Saint Petersburg, na Flórida (USA), morreu
queimada em seu apartamento em condições extremamente
esquisitas.
Perto de sua janela aberta foi encontrada a sua poltrona
ou, melhor, o que dela restava: as molas ainda quentes; uma
tomada de corrente, velas sobre o fogão haviam-se fundido, o
vidro de um espelho estava rachado e as paredes, a um metro
acima do chão até o teto, estavam cobertas de fuligem ou de
sinais de um calor violento.
Da Sra. Reeser não restavam senão cinco a seis quilos
de cinzas, o pé esquerdo, algumas vértebras e seu crânio en-
carquilhado.
Outro fato estranho: com exceção de uma pequena marca
de queimadura, o tapete sobre o qual repousavam esses restos
ainda fumegantes estava intacto!
O médico legista, o professor Wilton Forgman, declarou
que em sua vida jamais dera com um caso tão obscuro.
Para se obter um semelhante resultado teria sido neces
sário um calor normal de 1.500 graus centígrados. Mas, o
que pensar do tapete e dos objetos não queimados que se
achavam na parte baixa do quarto, isto é, ao rés do chão e
até à altura de um metro?
163
FOGO MISTERIOSO
164
Já na Idade Média assistia-se às Sentenças de Deus ou
ordálias, que teriam demonstrado o estranho poder, ou da
divindade ou dos condenados às provas.
Tratava-se às mais das vezes de segurar na mão uma
barra de ferro benta, de aproximadamente três quilos, a qual
era aquecida na medida da gravidade da culpa (e a situação
social do acusado), às vezes até ficar vermelha.
Era guardada ritualmente na igreja, onde aquele que era
submetido à prova jejuava durante três dias, assistia a missa
e comungava.
Depois de jurar solenemente que era inocente, ele devia
levar a barra queimante e dar alguns passos.
Se ao cabo de três dias não se notasse nele nenhum sinal
de queimadura, então era declarado inocente.
Às vezes era preciso passar pelo fogo.
Conta-se o caso de Pedro Igneo ou Pedro do Fogo, reli
gioso de Valombrocca (Itália) o qual, com as vestes sacerdo
tais, passou são e salvo sobre um braseiro ardente, no meio
de duas fogueiras acesas, e voltou para dentro dela a fim de
apanhar o seu manipulo (faixa de pano que o sacerdote leva
pendurada no braço esquerdo, quando celebra a missa) que
havia deixado cair.
Strabon (livro XII) fala das sacerdotisas de Diana que
caminhavam sobre carvões ardentes, sem se queimar, para
provar que eram puras.
Santo Epifânio relata que sacerdotes do Egito esfrega
vam o rosto com certas drogas e em seguida o mergulhavam
em caldeiras com água fervendo, sem aparentemente sentirem
a menor dor.
Diz a crônica que um "charlatão” de nome Gaspar d Tou-
ravant no século XVIII percorria as províncias e lavava as
mãos com chumbo derretido, como o faria com a água.
Não é preciso mais nada: por si só já está julgado!
Charlatão, o homem que se lava as mãos com chumbo
fundido (327°)?
Realmente, como diz o bom senso popular: experimente
quem quiser!
Na presença dos convidados da Srta. Douglas, o médium
inglês Home transportou num lenço que não se queimou um
carvão que ele alimentava aceso soprando por cima.
Ilusionismo? Talvez, mas ainda assim seria preciso pro
vá-lo!
165
O DIÁCONO PARIS
166
OS MILAGRES DA HISTERIA
167
"Foram vistos quatro ou cinco homens de pé, com todo
o peso do seu corpo sobre uma jovem estendida no chão na
qual em seguida batiam com achas, sem que ela experimen
tasse o menor sofrimento."
Diversas mulheres lindas, e mais lindas ainda em sua
transfiguração, quiseram a todo custo ser crucificadas nuas,
à imagem de "Nosso Senhor”.
Deixaram que lhes enfiassem as pontas de ferramenta
de carpinteiro nas palmas de suas mãos abertas e pregar os
seus pés um em cima do outro, sem aparentemente experi
mentar dor, quando o Messias, talvez menos crédulo do que
elas, “sofreu um martírio espantoso”!4
Senhoras crentes exaltadas que muitas vezes depois da
crucificação reclamaram, foram diversas vezes pregadas sobre
uma cruz, "a fim de desagravar com sua penitência a conduta
depravada de Luís XV e de sua corte de nobres devassos sem
escrúpulos e sem consciência, mas adeptos da bula Unige-
nitus”.
Voltaire escreveu um veredito sumário sobre estas cenas
cujo caráter, ao mesmo tempo histérico e esotérico, desafiava
a sua sagacidade.
"Sabeis vós, escreveu ele, o que é um convulsionário? É
um desses energúmenos da escória do povo que, para provar
que uma certa bula do papa está errada, andam por aí afora
fazendo milagres de casa em casa, castigam as jovens sem
lesá-las, batendo nelas com achas e com chicote em nome do
amor de Deus e vociferando contra o papa."
168
Os grandes socorros consistiam em batidas com achas,
com pedra, com martelo, com limpador do fogão, com espa
da, desferidas sobre e em diversas partes do corpo.
Os pequenos socorros, menos eficazes, poderiamos dizer
análogos à homeopatia dos nossos dias (tudo é relativo!), li
mitavam-se a bastonadas, pontapés, esmurrações, pisotea-
mentos, bofetadas e outros maus tratos.
A título de consolo uma mulher se dava cem golpes de
acha sobre a cabeça, no ventre ou nos rins.
“De outras que tinham os seios cobertos, torciam-se os
mamilos com tenazes até o ponto de desfigurá-los.”
Nesse pesadelo de atos de loucura e de histeria parece
que se teriam produzido milagres verdadeiros, pois em tomo
deles se discutiu em pleno Parlamento. Os teólogos e os dou
tores da Sorbona examinaram por sua vez os caracteres, as
causas e os resultados e, não querendo atribuir a Deus a pa
ternidade dos fenômenos, garantiram “que o demo exercia
um certo poder sobre a natureza e, até certo ponto, o poder
de operar prodígios”.
Os jesuítas acabaram fazendo com que fossem interdita
das as cenas alucinantes do cemitério de São Medardo, o que
permitiu aos bons espíritos jansenistas ter, seja como for, a
palavra final com um célebre epigrama:
169
façanhas deixou para trás aquelas já bem fantásticas que se
desenrolavam no cemitério de São Medardo.
Vestindo somente um pano branco, deitava-se ela sobre
fogueiras ardendo e aí adormecia sem nada sofrer durante o
"tempo necessário para assar um pedaço de carne de carneiro
ou de vitela”.
Paris inteira teve oportunidade de assistir a este milagre
e as testemunhas, que podem ser tidas como dignas de fé,
lavraram um documento em boa e devida forma.
Eis o texto do processo verbal que data de 12 de maio
de 1731:
“Nós, abaixo-assinados, Francisco Desvernays, padre dou
tor em teologia da casa e sociedade da Sorbona; Pedro
Jourdan, licenciado da Sorbona, cônego de Bayeux; milorde
Eduardo de Rumond Perth; Luís Basílio Carré de Contgeron,
conselheiro no Parlamento; Armando Arouet, tesoureiro da
Câmara Comercial; Alexandre Roberto Boindin, cavaleiro;
Senhor de Boibessin: Pedro Pigeon, cidadão de Paris; Denis
Villat, cidadão de Paris; J. B. Comet, cidadão de Paris; Luís
Antônio Archambault e Amable Francisco Pedro Archambault,
seu irmão, cavaleiros certificamos que vimos, nesta data de
hoje, entre oito e dez horas da noite, a chamada Maria Sonnet
em convulsões, com a cabeça apoiada num tamborete e os
pés noutro, estando os ditos tamboretes inteiramente nos dois
lados de um grande fogão e debaixo do manto desta. Seu
corpo pairava no ar por cima do fogo que era de uma vio
lência extrema. Ela ficou nesta posição pelo espaço de trinta
e seis minutos, em quatro vezes diferentes, sem que o pano
em que estava envolta se queimasse, de vez que estava sem
roupa, embora a chama às vezes passasse acima, o que nos
pareceu completamente sobrenatural. E, pela fé que o fato
merece, assinamos neste dia de hoje, 12 de maio de 1731.
Assinam: (seguem-se os nomes anteriores). Ademais, cer
tificamos que, enquanto estávamos assinando o presente cer
tificado, a dita Sonnet voltou novamente ao fogo na maneira
acima descrita e ali ficou durante nove minutos, parecendo
dormir em cima do braseiro que estava em chama viva e ti
nha quinze tições de achas e de um pau queimados durante
as ditas duas horas e um quarto.”
170
Quando estava em êxtase, Bemadete podia colocar sua
mão na chama de uma vela durante um quarto de hora, con
forme o constatou, de relógio na mão, o doutor Dozous, e
os dedos não apresentavam nenhum sinal de queimadura.
Em estado normal Bernadete dizia que a chama a quei
mava se a vela fosse aproximada somente durante dois
segundos.
"É certo, diz Olivier Leroy, que o comportamento do ho
mem no fogo oferece algo de absolutamente excepcional. ..
Por que o mundo das leis físicas não teria seus ornitorrincos
e seus peixes voadores? Por que sobretudo não admitir, visto
que a experiência o sugere, que estes excêntricos sejam nor
mais na confluência do físico e do psíquico?”
Para o Sr. E. Mengoli, diretor de Metapsichica, "com os
métodos da ciência tridimensional não é possível verificar a
veracidade dos fenômenos que se passam num mundo qua-
tridimensionai .
É neste sentido que ele julga que a penetrabilidade da
matéria opaca pelas mãos de Agpaoa e que a incombustibili-
dade de Maria Sonnet podem pertencer a uma ultrafísica,
cuja recente descoberta do fogo sem calor nos dá a intuição.
É preciso igualmente fazer uma distinção entre Agpaoa
verdadeiro curandeiro-ilusionista, que enganava suas testemu
nhas sobre os detalhes da intervenção cirúrgica, mas que
curava o doente, como se a operação tivesse sido verdadeira,
e Maria Sonnet que, ao que parece, se deitava de verdade
sobre um fogo ardente.
Por uma razão que nos escapa, ou este fogo não irradiava
calorias, ou então o corpo de Maria Sonnet se tomara mo
mentaneamente incombustível, talvez por um efeito de exal
tação ou de fé que neutralizava as leis físicas mais bem es
tabelecidas.
171
invulnerabilidade constituem o apanágio somente dos "selva
gens", isto é, dos pagãos.
Sem dúvida, existem na Bulgária e na Grécia alguns
anastenárias" ou caminheiros do fogo que são tutelados da
pia Helena e do devoto Constantino, mas sabemos que as
crenças desses fanáticos nada têm de cristão, e muito pelo
contrário, pois trata-se de celebrar o antigo culto de Diôniso,
que tem 3000 anos e, por conseguinte, muito anterior a Jesus.
Acontece, porém, que no século XX os seres evoluídos e
cultos — um biologista, um matemático, um bispo, um chefe
religioso hindu ou um grande teólogo do islamismo, todos eles
pessoas que conhecem perfeitamente as regras da física —
são incapazes de andar sobre as brasas ardentes, de deitar-se
sobre uma fogueira ou de atravessar uma parede.
Em contrapartida o ignorante, aquele que não é um
crente na religião da ciência, isto é, aquele que ignora as leis,
os teoremas, os postulados da química e da física, eis que este
pode zombar destas leis, pelo menos até um certo ponto.
O homem "natural” pode ter conceitos e poderes que nos
parecem supranormais porque seus pensamentos não foram
reduzidos a uma forma sistemática e formados (ou deforma
dos) nas leis, nos quadros e nos imperativos de nossas inven
ções e de nossas convenções científicas.
Conseqiientemente, sua natureza, sua fisiologia e sua psi
cologia são diferentes das nossas e este homem "natural”
pode evoluir em seu universo como no seu evoluem o pássaro,
a raposa ou a abelha com suas leis físicas próprias, diferen
tes, e com faculdades que nos parecem muitas vezes miraculo
sas, como o sentido misterioso da direção e da adivinhação.
Em outros termos: os milagres, quando autênticos, per
tencem a um misterioso desconhecido que é um universo
paralelo.
172
Capítulo XI
173
"Todo rosacruz sabe — escreve ele — que a lei do
triângulo é fundamental e se aplica a todos os domínios, do
mais sutil ao mais tosco, no universo visível e invisível da
criação.
Ela diz respeito, por conseguinte, ao problema das profe
cias e dos vaticínios, na medida em que ela poderia explicar
não importa que outra questão embaraçosa para o pensamen
to humano.”
Em resumo, para que se concretize, uma predição deve
estar em concordância com condições estabelecidas, o que não
é sempre o caso.
Na Antiguidade as sibilas gozavam de uma grande fama
e se diz que uma delas, Atenaís, certificou a origem divina
de Alexandre, o que dá grande margem à suspeição!
Na realidade, essas profetisas eram os instrumentos dó
ceis dos governantes e muitas vezes seus vaticínios eram tor
nados públicos depois do acontecimento que elas tiveram co
mo escopo anunciar. Aliás, é o que aconteceu também com
Nostradamus!
Os vaticínios das sibilas eram feitos oralmente ou por
meio de cartas fechadas, ou em folhas volantes.
Os Livros Sibilinos ou Oráculos, em alto apreço primeira
mente entre os gregos e depois em seguida entre os romanos
e os neoplatonianos, consistiam de três coleções, das quais só
nos chegou uma única e mesmo assim muito falsificada.
A tradição conta como o livro de uma profetisa desco
nhecida se tornou propriedade de Tarqüínio o Velho (chamam-
no também de Tarqüínio o Soberbo), quinquagésimo rei de
Roma, em 615 antes de Cristo.
Ela se aproximou do rei e apresentou-lhe nove livros os
quais, dizia ela, continham o destino dos romanos e as indica
ções que se tornava indispensável seguir para que este destino
se realizasse. Como preço ela pedia 300 filipos de ouro, o que
na época era soma considerável.3
Diante da recusa do rei, a sibila queimou três coleções e
pediu o mesmo preço pelos seis volumes que restavam.
Tarqüínio recusou de novo e então a velha senhora quei
mou incontinenti três livros e manteve o mesmo preço para os
três volumes que escaparam à destruição.
174
Impressionado diante disto, o rei deu os 300 filipos de
ouro, não pondo mais dúvidas no imenso interesse de que de
via revestir essa sua aquisição.
No ano 671 de Roma, sob a ditadura de Sila, os preciosos
manuscritos não puderam ser salvos do incêndio que destruiu
o Capitólio.
Em 76 antes de Cristo, três deputados foram incumbidos
pelo Senado de reconstituir o teor dos antigos livros de orá
culos, que mais tarde o imperador Augusto retocou, antes de
mandar queimar cerca de dois mil deles.
Só conservou os livros ditos sibilinos os quais, recopiados
e dispostos de maneira elegante, foram colocados na base da
estátua de Apoio Palatino.
Conforme crença existente, foram destruídos pelo gene
ral Flávio Estilicão, de origem vândala, “com vistas a causar
a ruína do império, retirando-lhe o penhor de sua duração
eterna”.
Em nossos dias, fundamentando-se nas profecias perdidas
da sibila de Cume e naquelas de Nostradamus, há ocultistas
que afirmam que no ano 2088 Roma será destruída por um
espantoso incêndio e que da Cidade Eterna não restará senão
um magma fumegante.
175
"Não haverá mais Santo Império e sobre suas ruínas nas
cerão o império de Cristo e aquele do Anticristo.
A guerra lavrará entre as duas partes da Alemanha e os
inimigos se unirão. Isto durará até ao tempo da Guerra Ver
melha, prevista no Livro da Cólera, e do Grande Império do
Oriente que verá o último imperador da terra.”
O Anticristo havia sido anunciado outrora pela profecia
da sibila Tuburtina!
"Então da tribo de Dan sairá um príncipe cheio de iniqüi-
dade, que se chamará o Anticristo.
Filho de perdição, cheio de um orgulho e de uma malícia
insensata, fará sobre a terra uma multidão de prodígios em
apoio do erro que ele ensinará; por meio de seus sacrifícios
mágicos surpreenderá a boa-fé de muitos que verão o fogo
descer do céu, ao comando de sua voz.
E haverá uma grande perseguição, como jamais se viu
e jamais se verá.”
Alguns quiseram ver Jesus na pessoa desse anticristo, mas
ele não saiu da tribo de Dan e seria injusto atribuir-lhe os
prodígios e as más intenções inventadas pela sibila.
Mais apropriada aos nossos tempos é a inscrição que data
do século XV, gravada sobre uma esteia do cemitério de Kirby:
“When pictures look alive with movements free,
When ships, like fishes, swim beneath the sea,
When men, outstripping birds shall scan the sky,
Then, half the world deep drenched in blood shall lie.”
que se poderia traduzir assim:
"Quando as imagens parecerem vivas, como movimentos
[livres,
Quando os navios, quais peixes, navegarem por baixo do
[mar,
Quando os homens, sobrepujando os pássaros, escalarem
[os céus,
Então a metade do mundo afundará no sangue.”
O célebre vidente americano Edgar Cayce, que morreu
em 1945, previa a destruição de Nova Iorque em torno de
19705, justamente antes do fim de Los Angeles e de São Fran
cisco.
Não se produziu nenhuma catástrofe natural ou aciden
tal; todavia, em 1969 e 1971 em Los Angeles a terra tremeu
com particular intensidade. 6
5 — Em 1944 disse que Nova Iorque desaparecería na próxima ge
ração, o que dava: 1944 + 25 = 1969. Portanto, Cayce se enganou!
6 — Quando do sismo de 1969 houve 60 mortos em Los Angeles.
176
Os sismólogos sabem que a fenda de Santo André, resoon-
sável pelo terrível tremor de terra que devastou São Fran
cisco em 1906, é constituída de duas vastas massas rochosas
que se movimentam em sentido contrário (sudeste e noro
este) debaixo da Califórnia, à razão de alguns centímetros
por ano.
O sismólogo Dom Anderson anuncia que o esmagam en to
dos dois magmas rochosos poderia se produzir por ocasião
da conjunção Sol-Lua-Terra.
ORÁCULOS EM PEDRAS. FIM DE MARSELHA!
Perto de Rennes-le-Château (Aude) existe um montão caó
tico de rochas. A lenda diz que caíram do céu, jogadas à
terra por um gigante que fez a seguinte profecia:
— Quando estas rochas voltarem a se reunir, o fim do
mundo chegará.
Um ancião da região costumava contar que na sua in
fância os garotos da aldeia vizinha brincavam de cabra-cega
entre as pedras. Hoje em dia crianças que tivessem um cor
po do mesmo tamanho teriam dificuldade em passar entre elas.
Quem é que faz com que estas rochas se movimentem?
A profecia do gigante ou o deslizamento de terreno? O fim
' do mundo para logo?
Em todos os casos, os habitantes da aldeia acreditam nis
to, pois colocaram barras de ferro entre os blocos para impe
dir que se unam!
No desfiladeiro de Naurouze, a 13 quilômetros a noroeste
de Castelnaudary e a 215 metros de altitude, levantaram um
obelisco à memória do engenheiro Riquet sobre três blocos
de rochas chamadas Pedras de Naurouze. Trata-se de pedras
nuas, com rachaduras, que de acordo com a tradição popular
devem anunciar uma indecência generalizada dos costumes a
que se seguirá o fim do mundo, quando as rachaduras se fe
charem.
De Novage, vidente do começo deste século, escreveu em
1905 que Marselha seria engolida por uma inundação e agua
ceiro justamente antes de grandes acontecimentos que muda
rão a face da terra.
O SINAL DO FIM DO MUNDO
Em 1971 e 1972 uns cinqüenta sinais, representando um
M com a última linha (perna) que descia mais baixa que as
demais e atravessada por uma barra, foram traçados miste
riosamente nas superfícies planas que balisam as estradas que
ligam Sisteron a Puget-Théniers.
177
O sinal do fim do mundo,
traçado sobre as rotas de
Provence, em 1972.
178
A TELEPATIA DE BLACK
Se a visão do futuro depende de aval, em contrapartida
somos perturbados pelos sentidos misteriosos de certos ani
mais e por outro misterioso fenômeno que se chama telepatia.
O Sr. Valembois, manobreiro de máquinas numa empre
sa do Pas-de-Calais, no começo de 1971 saiu de Béthune para
ir trabalhar em outros estaleiros.
Deixara com primos seus o seu fiel Black, um pastor dos
Flandres, não sem pena, pois o homem e o animal estimavam-
se, mas na realidade Black não poderia acompanhar seu
dono em seus deslocamentos contínuos.
No dia 17 de junho, por conseguinte seis meses depois
da separação, o Sr. Valembois, que na ocasião se encontrava
em Châteaurenard nas Bouches-du-Rhônes, ouviu dizer que um
cachorro preto, com ar desconsolado, andava erradio pelas
ruas da aldeia.
Era Black, que ficou todo faceiro ao reencontrar seu dono!
0 cachorro tinha atravessado a França e sem dúvida ha
via percorrido mais de mil quilômetros para encontrar aquele
que não podia esquecer!
Pormenor mais extraordinário ainda: Black tinha anda
do até um lugar, Châteaurenard, onde nunca havia estado.
Não pode, pois, tratar-se de instinto de orientação, mas de
uma teleguiagem misteriosa, uma telepatia de cérebro a cére
bro, porquanto está fora de dúvida que o Sr. Valembois pen
sava muitas vezes em seu querido companheiro.
Seus pensamentos provavelmente guiaram Black na tra
vessia da França, como a torre de controle por suas emissões
guia o avião que vai aterrissar.
AS ONDAS DO PENSAMENTO
179
Depois dos russos, os americanos começam a dar crédito
à telepatia e visam entrar em contacto com os astronautas no
caso de as comunicações eletrônicas serem falhas.
Em suma, tratar-se-ia de substituir um sistema elétrico ex
perimentado por outro sistema da mesma natureza, mas ainda
desconhecido. O professor russo Kogan adianta que os pen
samentos podem ser transmitidos por meio de campos eletro
magnéticos sobre ondas cujos comprimentos extremamente
variáveis vão de 25 a 965 quilômetros.
Experiências bem sucedidas foram feitas entre a Inglater
ra e a universidade de Los Angeles sobre uma distância de 8.000
quilômetros. Ademais, a NASA confirmou que o médium Olof
Jonsonn havia “adivinhado” as quatro cartas de jogar que o
astronauta Edgar Mitchell tinha tirado de um baralho de vin
te e cinco cartas, quando ele se achava numa cabine da Apoio,
a 150.000 km da terra. Mitchell, que consentira que fizessem
a experiência com ele, concentrara-se por muito tempo nas
cartas tiradas ao acaso.
Na Itália o psicólogo Inardi deixou os espíritos intriga
dos ao responder a todas as perguntas que lhe eram feitas
durante um programa televisionado intitulado “Vale tudo”.
Desta maneira ganhou 35 milhões de liras e os telespec
tadores o acusaram de ler as respostas por telepatia nos pen
samentos do apresentador do programa, o qual naturalmente
as sabia.
Mudaram o regulamento da emissão, com as respostas em
envelopes fechados que somente eram abertos depois que os
candidatos tivessem falado.
A partir deste momento o Sr. Inardi não foi mais o in
vencível!
180
O misterioso desconhecido, condenado, negado pelos ra-
cionalistas sectários, contudo exerceu um papel primordial na
política de todas as nações e particularmente na História da
França.
Não seria nossa Joana d'Arc nacional dotada do tercei
ro olho?
Por força de que magia reconheceu ela em Chinon o rei
que se havia misturado ao grupo dos seus favoritos?
Isto não foi uma experiência absolutamente convincente,
mas a história da Santa Catarina de Fierbois pertence, em
compensação, na opinião dos cronistas ao domínio do miste
rioso desconhecido.
Sua urdidura em que a lenda acompanha no começo os
fatos históricos foi escrita pelo cônego Bas e pelo abade Char
les Pichon, antigo cura da paróquia8.
Uma tradição muito antiga diz que Carlos Martelo, depois
da batalha de Poitiers, depositou no santuário de Santa Cata
rina de Fierbois a espada que derrotara os sarracenos.
Sete séculos depois deste grande fato, a França se acha
va novamente em perigo, e desta vez pela invasão das tropas
inglesas do rei Henrique VI e o autêntico soberano do nosso
País, Carlos VII, encontrava-se em situação muito difícil.
E eis que surge a mágica Joana d'Arc, a Donzela, que de
via inflamar a alma nacional dos franceses e libertar o terri
tório.
Tudo parecia perdido para a nossa pátria, nessa tarde do
dia 5 de março de 1429, quando os habitantes de Fierbois vi
ram chegar pea estrada de Loches um pequeno grupo de ca
valeiros.
O grupo se dirigiu à capela, onde a jovem senhora vestida
com trajes de homem que vinha à frente permaneceu por lon
go tempo em oração diante do altar dedicado a Santa Ca
tarina.
Um de seus companheiros, João de Metz, contou então
que Joana d’Arc, filha de cultivadores de Domremy de Barrois,
acabava de ser nomeada chefe de guerra pelo rei Carlos VII
o qual em conseqüência lhe dera "o comando de uma tropa
para a realização de suas promessas”.
Os armeiros de Tours lhe haviam fabricado uma armadu
ra, os bordadores fizeram seu estandarte, seu cavalo de bata
lha era um presente do duque de Alençon, mas a Donzela se
recusou que lhe dessem uma espada.
8 — Sainte Cathérine de Fierbois, son histoire, ses monuments e l’é-
pée libératrice, L. Frebinet, impressores, Rua de Rochechouart
75 — Paris — 9e — Junho de 1952.
181
— Esta espada, dizia ela, foi preparada para mim por
minha amiga celeste, Santa Catarina, e ela está na capela de
Eierbois!
A ESPADA MÁGICA
182
Joana tinha dito com precisão que a arma mágica estava
marcada com cinco cruzes sobre o escudo, o que a seus olhos
tinha uma importância primordial: ela precisava desta espa
da e não de outra!
O cônego Bas e o abade Pichon escrevem que a sua origem
é das mais incertas.
As lendas fazem dela ora a arma de Carlos Martelo ora
aquela de Guilherme de Pressigny que a recebera de São Luís
moribundo ou de Godofredo de Bulhão ou ainda do rei René
de Anjou!
Pierre de Sermoise, autor de um estudo apaixonante so
bre Joana d’Arc9, garante que ela pertencera a Du Guesclin.
Não se sabe o que foi feito da espada mágica. Quando foi
presa em Compiège, Joana não a trazia consigo.
Ela a teria depositado em Saint-Denis ou escondido em
Compiège quando se julgou perdida.
Não possuímos nenhuma relíquia de Joana, dizem os Srs.
Base Pichon, pois os ingleses queimaram seu corpo e lança
ram as cinzas no Sena, que se tornou santificado desde Rouen
até à sua foz.
Suas armas desapareceram. Este ser angélico voltou para
o céu sem deixar sobre a terra outros traços senão aqueles dos
seus benefícios."
183
Joana contou pessoalmente o caso no decorrer do seu in
terrogatório e a este respeito possuímos um testemunho ir
refutável.
Foi ferida no dia 7 de maio de 1429.
Cerca de um mês antes, a 12 de abril, um embaixador
flamingo, que se achava na corte de Carlos VII, escreveu a seu
governo uma carta onde encontramos esta frase:
"A Donzela... será ferida com uma flecha diante de Or-
leãs, mas via não morrerá com isto."
A passagem desta carta foi lavrada nos registros da Câ
mara de Comércio de Bruxelas.
Em compensação quando Joana anuncia que "antes que
se passem sete anos, os ingleses abandonarão um quinhão
maior que não fizeram diante de Orleãs e perderão tudo na
França", a profecia não chegará a ver senão uma justificação
muito imperfeita.
Com efeito, em 1438 somente Paris havia sido libertada!
Mas estas considerações se revestem de pouca importân
cia diante da mais estranha contestação: todo o assunto Joa
na d'Arc não passaria de uma mistificação, de um vasto com-
plô montado por uma poderosa conjuração política!
É a tese fartamente documentada, sustentada por Pierre
de Sermoise para quem Joana era a filha natural da rainha
Isabeau e do duque Luís de Orleãs10.
"Subjugada e ao mesmo tempo protegida pelo talento
maquiavélico do Sr. Cauchon, ela escapou à fogueira. Final
mente, depois de um casamento, que não se consumou, com
Roberto des Armoises”, ela continuou sua missão.
As opiniões dos historiadores acham-se divididas, mas to
dos reconhecem que o assunto está longe de ser claro!
FILHA DE RAINHA?
As Comptes de l’Hôtel Saint-Pol (Arq. Nacional) falam
que no dia 12 de junho de 1407 (por conseguinte, cinco anos
antes da data presumida do nascimento da Donzela) uma al-
deã de nome Joana d’Arc veio oferecer braçadas de flores a
Carlos VI.
A rainha Isabeau teria tido gêmeos; o rapaz, Felipe, mor
reu, e a filha Joana teria sido entregue a uma ama de leite em
Domremy na família Darc.
184
Joana teria reconhecido o rei em Chinon, porque era seu
irmão; teria recebido todas as indicações para identificá-lo du
rante os dias que ela passou nos apartamentos da rainha antes
de ir ter com Carlos VII. Teriam sido os senhores de Poulengy
e de Novelompont que teriam feito dela uma excelente cava
leira (uma camponesa não teria sabido montar cavalos).
Ela era donzela porque, fisicamente, teria sido ginandrói-
de (hermafrodita).
Sua armadura, que custou 100 liras tornesas (ca. 100
francos), lhe foi oferecida pela sogra do rei; era uma armadu
ra “real”.
Sua espada pertencera a Du Guesclin que a legara a Luís
de Orleãs, pai presumível de Joana. Tinha sido colocada efe
tivamente na igreja de Santa Catarina de Fierbois.
Portanto, Joana teria recuperado a espada do seu pai.
QUEM Ê QUE ARDEU NA FOGUEIRA?
Uma crônica do Deão de Saint-Thibaud-de-Metz, relatada
por Pierre de Sermoise, garante que Joana “na cidade de
Rouen, na Normandia, foi aquecida e depois ardeu num fogo,
é o que se quer dizer, mas depois foi provado o contrário.
A Donzela foi conduzida à fogueira, envolta em véu; o
rosto da supliciada estava e ficou encapuzado até o fim.
Seu nome não figura na lista das feiticeiras queimadas em
Rouen de 1430 a 1432, mas nela deparamos com três outras
Joanas: Jeanne-la-Turquenne, Jeanne Vannerit e Jeanne-la-
Guillorée.
Um manuscrito guardado no British Museum diz tex
tualmente: "Finalmente, queimaram-na publicamente, ou en
tão outra senhora parecida com ela. Razão porque muitas pes
soas esposaram e ainda esposam opiniões diferentes”.
Enfim, sabemos que em 1436 m Orleãs uma “senhora dos
Armoises”, que garantia que fora a Donzela, foi reconhecida
por seu irmão Pierre de Lis, por sua própria mãe e pelo te
soureiro João Bouchet que antigamente a recebera em sua
casa!
A causa do rei da França tinha tanta necessidade de uma
heroína nas dimensões de Joana, que os conselheiros de Car
los VII lhe suscitaram um visionário, pastor de Gévaudan que
fez também milagres.
Uma obra histórica espanhola, A crônica de dom Álvaro
de Luna, contém um capítulo, o XLVI.°, que leva o título:
Como a Donzela de Orleãs, estando sob os muros da Rochelle,
enviou para perguntar ao rei, e o que o condestável fez por
seu intermédio.
185
Álvaro de Luna era contemporâneo de Joana; viveu apro
ximadamente de 1400 a 1453.
Estes fatos estranhos, estes testemunhos e estes documen
tos muitas vezes contraditórios não deixam de ser inquietan-
tes e dariam margem a pensar que a missão de Joana d'Arc
não era talvez tão espontânea e límpida como se quis fazer
crer.
186
— Pierre Cauchon: o indigno bispo de Beauvais, "ferido de
morte súbita pela mão de Deus” (escreve Eliphas Lévi), foi
excomungado depois de sua morte pelo papa Calixto IV.
Seus ossos, retirados da terra santa, foram jogados pelo
povo no monturo de lixo.
Mesmo um espírito cético há de convir que a convergên
cia dos elementos ocultos, quando não diabólicos, não permi
te crer somente no mero acaso.
Mais de uma centena de outros indícios corroboram estas
coincidências exageradas: as oferendas de Joana ao carvalho
de Bourlemont (ela levava leite para lá), as vozes mágicas ou
vidas, as defesas contra o diabo, a espada misteriosa, o Bella-
tor que serviu de virtuosa eficácia11 etc.
As visões de Joana e suas profecias pertencem a um mis
terioso desconhecido, cuja essência talvez seja melhor não
aprofundar se quisermos conservar de nossa doce heroína na
cional a imagem maravilhosa ratificada pela História.
187
FANTÁSTICO
Capítulo XII
A MATER HERMAFRODITA
189
A Ishtar dos assírio-babilônios, deusa das manhãs e das
noites (Vênus Lúcif r e Vênus Vésper), era representada por
uma barba, em Nínive, e o Astartê dos fenícios tinha uma tam
bém, em Cartago 2.
No livro mais antigo do mundo: a História dos Fenícios,
de Sanchoniathon, se diz que “Os Zophasemin ou Observado
res do céu, saídos da substância primordial, originariamente
eram andróginos.
Quando as luzes e as trevas se separaram, seus sexos se
separaram” (Preparação evangélica de Eusébio, cap. I, vers.
10).
O Adão de nossa Bíblia, falsificado e mal traduzido, é na
realidade o apelativo da espécie humana novamente criada.
Em Midrasch Shemot Rabba, cap. XX a — Parascha XIV,
cap. XII3, ele escreve:
“Quando Deus criou Adão, este último era homem-
-mulher.”
Segundo Jeromia ben Eleasar, Deus criou o homem andró
gino (masculino e feminino).
Moisés Maimonide4 diz: “Adão e Eva foram criados juntos,
unidos pelas costas; este ser duplo foi dividido e então Deus
tomou a metade que foi Eva e ela foi dada à outra metade".
Manasseh ben Israel escreveu que a forma de Adão era
dupla: "masculina na frente e feminina atrás”.
Cibele, a mãe dos deuses, era andrógina da mesma forma
que a Afrodite dos gregos que tinha “os atributos do macho
dos quadris para cima e aqueles da fêmea daí para baixo”.
Em Chipre e em Berlim podem-se ver estátuas de Afrodite
barbuda.
Por conseguinte é ponto pacífico que os povos antigos
muitas vezes pensaram que o ser humano primordial era um
andrógino e que a Mater que eles veneravam acima de todos
os deuses tinha ao mesmo tempo um pênis e uma vulva.
190
A MATER E A PARTENOGÊNESE
O CANAL DE MÜLLER
Em 1917 o professor B., da universidade de Poitiers, en
sinava da seguinte maneira a história do feto humano:
— Quando os dois sexos não estão ainda diferenciados,
na região peritoneal aparecem dois canais duplos e simétricos
de origens um pouco diversas: o canal de Müller e o canal de
Wolf.
Na continuidade da evolução do tipo feminino, o canal de
Müller forma as trompas, o útero e a vagina.
No tipo masculino, este canal se atrofia e os vestígios dão
origem ao corpo de Morgagni no utrículo prostático.
O canal de Wolf constitui a origem das vias urinárias na
mulher e do canal deferente no homem.
A mulher conserva pois os canais separados, enquanto
que o homem só tem um em conseqüência de uma mutação»
ou de uma adaptação mais tardia7.
191
Por conseguinte, no homem haveria uma especificidade
mais pronunciada, uma complexificação que, segundo as leis
aceitas em biologia, demonstraria a anterioridade da mulher
sobre o homem8.
Esta conclusão do professor de Poitiers foi retomada di
versas vezes por biologistas, notadamente na Sorbona.
Um outro indício da anterioridade da mulher poderia ser
o fato de seus cromossomos serem todos X-X ao passo que
os do homem são X aos quais é preciso acrescentar um Y,
o que representa uma diferenciação, pelo que é razoável que
se veja uma mutação9.
Hoje em dia é crença que os tipos puros não existem,
tanto na espécie humana como nas espécies animais e vege
tais, o que parece opor-se à idéia de evolução de dois tipos
humanos completamente diferenciados: a mulher e o homem,
possuindo cada um caracteres dominantes e caracteres asso
ciados e antagônicos.
192
De acordo com a Organização Mundial da Saúde11, damos
abaixo as médias de vida de alguns povos (o primeiro número
se refere aos homens e o segundo se relaciona com as mu
lheres):
Noruegueses .......................... 72 77
Suecos ..................................... 72 76
Holandeses ............................ 71,5 76,8
Suíços ..................................... 70,5 75,8
Franceses .............................. 68,2 75,7
Ingleses .................................. 68,5 74,8
Italianos ................................ 68,7 74,2
Belgas ..................................... 67,8 74
Luxemburgueses ................. 67,1 73,4
Alemães .................................. 67,5 73,3
Americanos (USA) ............... 66,3 74,4
Japoneses ................................ 63,5 66,8
LILITH (Lília)
Existem tradições — a bem da verdade tão pouco consis
tes como o romance da Bíblia, que garantem que Eva não
foi a primeira mulher da criação.
O símbolo degenerado da serpente, apesar de tudo facil
mente reconhecível em seu papel de iniciador, se nos depara
com a história da queda de Adão e Eva no paraLo terrestre.
Esta serpente era o demônio que, de fato, trouxe o conhe
cimento à humanidade, apresentando a maçã a Eva, a não
ser que tenha sido a uma concubina, pois não se sabe muito
bem quem foi a primeira esposa do primeiro homem.
Uma lenda talmúdica antiga, muito pouco ortodoxa, adian
ta a Enciclopédia, atribui duas mulheres a Adão: Eva e Lilith
(Lília).
Quando foi expulso do paraíso terrestre, Adão abandonou
a mulher que dera ouvidos às intenções da serpente que a
incitara a dar uma mordida na maçã11 12.
193
Esta mulher cra Eva que depois de ter pecado com o de
mônio deu ao mundo Abel e Caim.
No Talmud se lê que o principal demo feminino era Li-
lith, a qual era representada com uma cabeleira comprida;
muito linda, excitava tanto os homens como também as mu
lheres aos segredos do amor e da volúpia.
É a ela que se dirige o adepto em magia cerimonial na
"Conjuração dos Sete”: Não nos tormentes, Lilith, afasta-se,
Neeimá!
Segundo o Sepher-A-Zohar13, ela teria sido a verdadeira
sedutora de Adão, enquanto que o belo arcanjo negro Samuel
teria sido o de Eva.
Dos amores mágicos entre Adão e Lilith teriam nascido
os Egregórios ou Guardas de que falam os manuscritos do
Mar Morto, identificando-os, a nosso ver, com os "anjos” ou
Iniciadores vindos de um outro planeta.
VOVÓ CAPETA!
194
Por conseguinte, Adão abandonou-a, dando preferência a
Eva que havia sido feita de sua carne e de seu sangue. Em
suma, ele se “preferiu” a si mesmo!
Esta última tradição foi poemizada em 1855 pelo marquês
de Belloy, com algumas variantes, pois ele fez nascer Lilith e
Eva de um lado de Adão.
Em seu Banquete Platão testemunha outra lenda muito
antiga, aquela do homem nascido andrógino.
O Sr. Belloy descreve Lilith como um critério de pureza,
de ideal, de castidade e de beleza inacessível à tentação.
O demônio, representado pela serpente, nada pode con
tra ela.
Josefo garante que no tempo da criação a serpente falava.
Ainda em nossos dias, segundo opinião de Paracelso, por pri
vilégio especial de Deus a serpente conserva o conhecimento
dos maiores mistérios.
Eva ou Heva, no poema do Sr. Belloy, é a Encantadora
que enfeitiça desde que aparece. Foi por esta razão que Adão
abandonou o amor ideal de Lilith e voou para os braços da
sensual Heva.
O enigma da primeira mulher de criação e de um Adão
hermafrodita que se "preferiu” a si mesmo, escolhendo uma
Heva feita de sua carne e de seu sangue, sugere uma interes
sante tese sobre a anterioridade da criação humana.
Na realidade, é nisto que reside o verdadeiro problema
da Mater.
195
Disto decorrería uma conclusão singular e por conseguin
te aceita pelas observações em matéria de evolução fisioló
gica: o homem seria teoricamente mais inteligente do que a
mulher, pois seu organismo é mais complexo!
É o que tendería a fazer crer, em abono do homem, a
atrofia do canal de Müller, o qual num tipo humano mais
antigo tinha um papel essencial.
Í96
Existem duas grandes raças
humanas: a dos bons e a dos
maus, a dos pobres e a dos ri
cos, dos que ignoram e dos que
sabem. O domínio do mundo
pertence sempre aos que são
maus, inteligentes e ricos.
Capítulo XIII
197
Este plasma era um campo de forças elétricas no qual
havia uma diferenciação, a força psíquica, que constituía a
psicosfera terrestre.
É na psicosfera, eternamente presente, que o Vivente (tu
do o que tem vida e notadamente a matéria orgânica) haure
sua energia espiritual e mental: o que tem a faculdade de ver,
a sua visão; o sábio, a sua meditação; o mal, o seu instinto
maligno; o iniciado, o seu conhecimento; e o acaso, as suas
leis de séries.
A água é o catalisador e o dissolvente desta força psíquica
que parcialmente é carreada pelas correntes hidrotelúricas
que alimentam as fontes, os poços, os tanques e os rios.
Os radioestesistas e numerosos observadores notaram
uma relação constante que existe entre estas correntes, de um
lado, e, por outro lado, os pontos de grandes calamidades, as
casas, os lugares enfeitiçados e também, dizem eles, os “pon
tos negros” da estrada.
Há quem classifique numa categoria vizinha, mas dife
rente, as correntes eletrotelúricas que, na realidade, se iden
tificam com as primeiras.
AS CORRENTES TELÚRICAS
1 — Citado por Lumières dans Ia Nuit (Luzes na Noite), n.° 117, abril-
maio de 1972.
198
Os lugares “malditos” são aqueles onde os íons criam
um desequilíbrio celular (e de qualquer forma elétrico) ou
uma perda de potencialidade.
Os lugares “benéficos” são aqueles onde a carga trans
portada compensa uma falta de potencial, recarrega as bate
rias humanas oü restabelece por sintonização (concordância,
harmonia, ressonância) um equilíbrio elétrico rompido.
O jogo consiste portanto em saber qual o eletrodo que
deve ser complementar do nosso e que lhe enviará, já não
influxos maléficos mas, pelo contrário, regeneradores.
Este eletrodo muitas vezes é uma árvore, uma pedra solta
ou uma composição particular de terreno.
Os druidas antigamente utilizavam este método por em-
pirismo e entre todas as árvores escolhiam o carvalho para
ser seu pai nutritivo e o menir para servir de médico.
Segundo o Sr. G. Thieux, as correntes telúricas se for
mam sob a influência solar, têm uma periodicidade de 27
dias e entre elas existe uma interação, o campo magnético ter
restre e gravitação.
Um computador, se lhe fornecéssemos cartões perfurados
bem programados, indicaria para cada indivíduo os lugares
onde as correntes telúricas lhe são favoráveis.
É um negócio de alguns milhões de francos durante to
dos os 27 dias!
Felizmente o homem tem em si um computador natural
que melhor do que o outro está em condições de detectar os
pontos brancos benéficos e os pontos pretos perniciosos!
E sua utilização não custa nada: é gratuita!
199
Um único erro, e a humanidade desaparecería do cenário
terrestre!
Em seu inconsciente pessoal e coletivo, os homens se res
sentiam profundamente com a intensidade do drama e com a
gravidade de cada um dos seus atos.
A Terra-Mãe havia-os engolido, fizera rebentar seus ocea
nos, explodir suas montanhas: sua cólera fora terrível e a boa
política consistia doravante em concertar com ela uma paz
duradoura.
Mas, daqui e dacolá existiam ainda zonas em estado in
surrecional: pântanos pestilentos, vales sujeitos a inundações,
maciços periodicamente quebrados por abalos telúricos, mon
tanhas de onde o fogo surgia crepitante do solo.
OS ASILOS DE PAZ
200
Mas o altar ficava como testemunho de reconhecimento.
É provável que o magnetismo das terras ferruginosas in
fluencie o complexo biológico e o magnetismo dos homens.
201
Todos os maias partiram em busca da Terra Prometida,
sob a égide dos sacerdotes. Eles tinham que reconhecer o lu
gar onde fundariam a sua cidade por uma árvore sobre a qual
estivesse empoleirada uma águia devorando uma serpente.
A SERPENTE E O ESPERMATOZÓIDE
A ESCRITA BIOLÓGICA
202
Por força do jogo do conhecimento inconsciente, a escrita
original deve necessariamente ter derivado desta escrita bio
lógica, cujos sinais de maneira surpreendente se reconhecem
na esteia de Mesa (Palestina), nos alfabetos da Oceania, da
China, do Japão etc.
Podemos distingui-los particularmente no sânscrito: le
tras a, p, m, 1; no páli e no fenício: y, x, c, u, v, 1; e na escrita
de Glozel: y, u, x, c, i, 1.
Nos filamentos do núcleo e da célula acham-se 46 cro
mossomos.
Quando se reencontram, o espermatozóide e o óvulo en
gendram 23 grupamentos a partir dos quais se formam as 46
divisões de célula do futuro ser.
Se aceitamos estes 23 grupos como base para um alfabeto
de 23 letras, podemos então considerar que o nome próprio
verdadeiro de cada indivíduo já está programado, inscrito, es
crito em caracteres alfabéticos no processo de evolução orgâ
nica.
É o nome cromossômico do homem, seu nome desconheci
do, irreconhecível, impronunciável como aquele de Deus. Por
tanto, é um nome divino. O outro nome: João Gauthier ou
Cláudio Giraud não é senão o nome humano de estado civil
que pode ser modificado ou trocado por acórdão administra
tivo.
O nome cromossômico é o nome hereditário que corres
ponde à transmissão das qualidades do pai, mas não àquelas
da mãe, geralmente mais importantes. Na realidade, a criança
deveria levar hereditariamente o nome de sua mãe e, mais lo
gicamente ainda, deveria ter um nome próprio, individual, que
a caracterizasse e a distinguisse dos membros de sua família.
Esta função fica como atribuição do prenome que, de fa
to, é muito mais individual do que o nome.
203
INVENÇÃO DO NOME
Inicialmente os nomes dos indivíduos deviam ser certamen
te nomes comuns: Carpinteiro, do Lago, de Carvalho, do Pla
no, da Rocha e neste sentido eles significam uma função, um
objeto, um lugar etc.
A Lei de Manu, na índia, recomendava que se desse às mu
lheres um nome suave de pronunciar e aos homens um nome
com sentido másculo, isto é, que tivesse um significado físico
e moral. Muitos indianos optaram pela aposição a este nome
daquele de uma divindade cujas qualidades eles admirassem
de modo particular.
Entre os antigos hebreus os nomes dos patriarcas tinham
um significado místico habitualmente em relação com Deus e
os sentimentos que lhe eram atribuídos4. Mais tarde os nomes
passaram a referir-se a elementos da natureza: Thamar = Pal
meira; Sara = princesa; Raquel = ovelha; Débora = abelha.
Em seguida, referiam-se a nomes de profetas e, finalmente,
205
quando a raça foi degenerando juntamente com suas qualida
des morais, os nomes se tornaram tipicamente materialistas:
Pedra de ouro, Pedra de prata, Montanha de ouro, Montanha
de prata = Goldstein, Silvestein, Goldberg, Silverberg etc. (na
língua alemã).
O decreto de 20 de julho de 1803 sobre os judeus estran
geiros residentes na França obrigou-os a adotar um nome pró
prio que fosse capaz de distingui-los uns dos outros e recomen
dou os nomes de cidades francesas e estrangeiras. É deste tem
po que datam os Lisboa, os Ratisbona, os Carcassona, os Cri-
méia, os Cremona, os Friburgo etc.
Entre os muçulmanos os nomes patronímicos são de cria
ção recente; ainda em muitos Estados o nome se extingue com
a morte do indivíduo.
Os povos do norte e os bárbaros faziam muita questão de
um nome distintivo, essencialmente pessoal e não transmissí
vel, salvo por meio da fórmula: filho de.
206
MALDITA DA MULHER!
Segundo a Bíblia, sabemos que o pecado original foi con
sumado por Eva e Adão que surripiaram o fruto da árvore do
conhecimento e que, em vendo-se nus, deixaram-se arrastar pe
lo prazer da carne.
Com exceção dos puritanos, ninguém mais se avexa nem
com a gulodice nem com a “torpeza” dos nossos ancestrais; pe
lo contrário, pois em todas as latitudes do mundo a instrução
e a consumação do casamento se tomaram virtudes louváveis
e encorajadas pelas religiões e pelos governos.
Por conseguinte, na origem o famoso pecado devia cons
tituir algum crime cuja natureza se perdeu na noite dos
séculos.
O terceiro dos cinco livros canônicos chineses, o Chi-King5,
anterior à Bíblia, assaca contra a mulher a responsabilidade
da primeira falta.
Nele se lê: "Possuíamos campos propícios e a mulher no-
los arrebatou.
Tudo nos era submisso, mas a mulher nos lançou na es
cravidão. Ela odeia a inocência e ama o crime. O marido pru
dente levanta fortificações nos muros, mas a mulher, que tudo
quer saber, derruba-as. Oh! Como é esperta! É um pássaro
de grito funesto; foi muito linguaruda. Ela é a escada por onde
desceram todos os males...
Foi ela quem pôs a perder o gênero humano; no começo
foi um erro e depois um crime".
Diz um provérbio chinês: não se deve ir atrás de conversa
de mulher, pois ela foi a fonte e a raiz do mal.
O desejo imoderado da ciência, diz o filósofo Hoí-nã-Isé,
fez com que o gênero humano se perdesse. Mas não diz com
precisão quem foi o responsável.
O Zend-Avesta dos antigos iranianos, ao falar do primeiro
casal humano, narra o pecado desta forma: "Mésquia e Mes-
quiana a princípio eram puros e eram do agrado de Ormuzd6;
Arimã, invejoso de sua felicidade, aproximou-se deles sob a
forma de uma cobra, ofereceu-lhes frutos e convenceu-os de
que ela era o verdadeiro criador do universo.
207
Mésquia e Mesquiana acreditaram nas palavras dela e tor
naram-se seus escravos; a partir deste momento a sua natu
reza se corrompeu e esta corrupção afetou a sua posteridade”.
208
De acordo com modo de pensar deles, Jesus teria sido
o Messias se tivesse pregado a discórdia, conforme a tinha
anunciado, e não o amor que é fundamentalmente detestável7.
A perfeição, garantiam esses gnósticos, consiste em come
ter o maior número de infâmias possível!
Seu evangelho era aquele de Judas em livro extravagante
intitulado A Ascensão de São Paulo.
Essas doutrinas esquisitas fizeram muito sucesso e alguns
talvez veiam nos "hippies” dos nossos tempos- um ressurgi
mento dos cainitas.
7 — Com efeito Jesus havia dito (Mateus, cap. 10, vers. 34 e 35):
«Não julgueis que vim trazer a paz sobre a terra. Vim trazer
não a paz, mas a espada. Eu vim fazer a divisão entre o filho
e o pai, entre a filha e a mãe etc.»
209
nar crimes odiosos que constituíam verdadeiramente pecados
mortais.
Tal como tomar uma colherada de caldo grosso numa
sexta-feira!
Inocente XI excomungava as mulheres “que não cobriam o
peito, do seio até o pescoço".
Esta determinação foi renovada por Pio VII e Leão XII
que, ademais, estenderam sua severidade e rigor aos costu
reiros, modistas e alfaiates que confeccionassem roupas in
decentes.
Bento XIII lançou a excomunhão “contra os jogadores
de loterias das diversas nações e aqueles que estavam empre
gados na administração desse jogo”.
Clemente XII (1730-1741) se colocou também ao lado
deste virtuoso edito, mas, tendo ele próprio instituído uma
loteria em seus Estados, não deu força de lei ao anátema a
não ser contra aqueles que perdiam seu dinheiro alhures!
ELOGIO DO RACISMO
210
Houve uma época em que os homens tiveram , relações
íntimas abomináveis com outras raças que não a sua. As
mitologias ,e a maior parte dos escritos sagrados dão teste
munho deste desvio do bom senso humano e daí se seguiram
procriações monstruosas que deterioraram o legado genético
e,colocaram a humanidade em perigo.
Já tratamos deste assunto9 quando lembramos as reco
mendações do Senhor a seu povo, na Bíblia.
Levítico, cap. 18, vers. 22-24:
“Não te deitarás com um homem, como se fosse mulher:
isto é uma abominação.
Não terás comércio com um animal, para não te conta
minares com ele. Uma mulher não se prostituirá a um
animal: isto é uma abominação.
Não vos contamineis com nenhuma dessas coisas, porque
é assim que se contaminaram as nações que vou expulsar
diante de vós.”
Eis o que aparece com limpidez: houve antigamente có-
pulas entre a raça humana e a raça dos animais inferiores.
O resultado foi uma degenerescência da humanidade que
talvez por pouco não tenha soçobrado na animalidade mons
truosa.
Isso não teria sido o fim do mundo e sim o fim do homem,
a destruição de uma laboriosa e maravilhosa ascensão da
qual nossos milênios históricos são as testemunhas.
Eis as razões porque somos de opinião que o pecado
mortal por excelência é aquele que é perpetrado contra a
raça humana.
211
O vento traz o pólen e espalha-o no pistilo de milhares
de flores diferentes, a abelha transporta o pólen de um lírio
sobre goiveiros, acácias, buxos, lis, mas nunca se segue uma
fecundação.
Mesmo entre as orquídeas, se a espécie não é rigorosa
mente idêntica, precipitam-se imediatamente anticorpos para
neutralizar o pólen estranho.
E assim a lei se salva.
Em todos os departamentos de sua vasta organização, a
Natureza zela pelo respeito à proteção das espécies e tudo
está previsto no sentido de que as hibridações perigosas não
possam produzir-se, sobretudo na escala superior, isto é, nas
espécies mais evoluídas.
Em compensação, um norueguês pode ter um filho com
uma mulher baluba ou com uma papua, um chinês com uma
mexicana: todos pertencem à raça humana.
Contudo, um homem' intelectual, culto e inteligente come
tería sem dúvida uma falta se fosse desposar uma senhora de
nível intelectual e psíquico anormalmente baixo.
O homem deve tender a elevar o seu nível de consciência
e de ação e não a rebaixá-lo10.
Os antigos hebreus haviam editado leis contra este crime
fora do bom senso.
O Talmud recomenda que uma mulher se case, se puder,
com um membro do sinédrio ou então com um professor de
escola ou ainda com um homem inteligente e conhecedor dos
escritos sagrados.
O homem ignorante ou idiota “causava vergonha a Deus”
e devia ser apedrejado, até mesmo suprimido (eutanásia).
A lei mosaica comina com pena de morte aqueles que
contraem matrimônio entre parentes próximos.
Levando longe demais a noção de pecado e de racismo,
recomendava-se que, sempre que possível, os israelitas esco
lhessem suas esposas entre a sua própria tribo, a fim de tornar
menos complicadas as questões de hereditariedade.
Os casamentos entre os hebreus e os cananeus eram for
malmente proibidos (Êxodo 33,16 — Deuteronômios, 7,3 etc.).
212
O PECADO MORTAL
213
Podemos imaginar um tirano capaz de destruir, aniquilar
três bilhões de homens e deixar vivos somente mil ou cem
indivíduos.
Isto constituiría um grande crime, mas não o pecado,
pois o mundo poderia recomeçar e nada está perdido enquanto
tudo não estiver perdido.
Pelo contrário, e não estamos longe disto11, quando o bio-
logista começar a mercadejar os genes e os cromossomos,
então estará cometendo o pecado imperdoável e a raça hu
mana estará sendo precipitada no nada.
Não haverá mais quem a possa salvar, o paraíso terrestre
estará perdido, será a queda do homem.
É desta maneira que compreendemos a fábula do pecado
original.
É desta forma que parece manifestar-se a verdade pro
funda e terrível do símbolo do fruto da árvore do conheci
mento do bem e do mal, isto é, da ciência.
É uma terrível eventualidade que pesa sobre o destino
da humanidade.
214
Capítulo XIV
A CRIAÇÃO DO MUNDO
215
Em resumo, a vida existe por toda parte com suas quali
dades físicas e psíquicas, do mineral ao ser humano, pois um
e outro têm uma essência idêntica.
Torna-se então provável que a matéria e a energia tenham
também uma mesma identidade examinada sob aspectos dife
rentes.
216
PROTEUS, O VIAJANTE DO TEMPO
A função básica liga curiosamente a massa ao psiquismo,
o que corresponde bastante bem ao axioma de Einstein: ma
téria = energia.
Ela faz lembrar, por outras, a tradição do filho de Netuno
e de Fenícia: o deus marítimo Proteus que, de igual modo que
o ADN e os cromossomos, possuía o dom de conter o futuro,
isto é, de viajar no tempo e de conhecer também todas as
coisas.
Proteus, cujo nome tem por raiz a palavra grega protos =
primeiro, só revelava seu saber se Iho arrancassem (o iniciado
não revela senão àquele que o merece; é preciso matar o
dragão para pegar o tesouro; tem-se que esperar a morte do
Mestre para herdar seu conhecimento).
Outro elo de iniciação: Proteus tinha o poder de se meta-
morfosear em rocha (matéria), em árvore (reino vegetal) e
em animal, o que deixa margem a pensar que a função protô-
nica, primeira e positiva, tem o privilégio de decidir sobre a
escolha da espécie e das direções de evolução.
Se continuamos a manobra dos cotejos entre a iniciação
e a ciência, notamos que com Proteu a água mãe do Oceano
primitivo está intimamente unida à ação, da mesma forma
que a água mãe na tese dos biologistas está obrigatoriamente
associada à eclosão dos aminoácidos, geradores da vida dita
biológica.
Enfim, para se exercerem, os poderes de metamorfose e
de predição do deus implicam a existência de um universo
diferente do nosso, análogo àquele em que Jean Charon en
cerra as ondas eletromagnéticas de ligação entre a Matéria e
o Vivente, ondas que ele chama de "mnemônicas”, sem dúvida
porque elas são parentes próximas dos cromossomos-memó-
ria e dos “arquivos akashicos do universo!”.
Estas reminiscências e estas teses sugerem imperiosamen
te um universo de quatro ou cinco dimensões, que facilite
singularmente as especulações sobre o mistério da criação.
0 +, 0 — E O TEMPO ZERO
217
contida num círculo curvado por uma energia e que encerrasse
as ondas eletromagnéticas de suas informações, por exemplo
sob a forma da espiral de cadeia molecular de ADN.
O princípio entre a matéria e o vivente ficaria ligado a
uma questão de continuum espaço-tempo3.
Estas comparações e aproximações em torno do mistério
da criação desfazem o dilema caduco dos antigos cosmólogos:
teve o mundo um começo, ou é ele eterno?
Seria humilhante esposar a explicação bíblica dos cristãos
e dos judeus, para quem o mundo foi criado pelo Deus de
Abraão!
Curiosamente, às mais das vezes quem se apegou ao pro
blema têm sido a lenda, a mitologia, a tradição e até mesmo
o conto.
Os maias do Popol Vuh tinham uma concepção da histó
ria e do tempo que se assemelhava ao milagre puro e simples,
sem atender às leis de duração e de espaço do nosso universo
tridimensional.
A metamorfose, o "proteísmo”, a ubiqüidade e a viagem
no tempo figuraram sempre como os elementos-base da fei
tiçaria, da religião, da magia e dos feitos fabulosos das faça
nhas romanescas da Távola Redonda.
Para grande escândalo daqueles que pensam sensa-
tamente e bem, a verdade era arranhada!
Com efeito, a verdade raia pelo miraculoso, pelo incrível,
e é por isso que o Pe. Teilhard de Chardin dizia que somente
o fantástico tinha chances de ser verdadeiro.
Os ocultistas supunham-no e em suas especulações e fre-
qüentemente em suas divagações introduziam um princípio
extracientífico relativo à natureza, ao tempo, ao espaço e aos
poderes de metamorfoses da matéria, os quais nunca foram
aceitos pelos racionalistas.
Pois bem, é com base neste princípio herético que em cer
tos círculos de iniciação se ensina a cosmogênese.
Mediante esta hipótese, o nada tem existido, existe ainda
em conjunto com a criação, se reduzirmos o espaço-tempo à
sua mais simples expressão: zero.
218
Segundo Frederico Joliot-Curie e Chadwick, a matéria ini
cial não teria tido carga elétrica? Deveriamos imaginá-la como
um nêutron.
Por conseguinte, o nêutron seria a protomatéria.
Este universo primordial donde o + e o — teriam estado
ausentes identifica-se com o zero, isto é, com o nada, mas com
um nada cheio do + e do — em potência no futuro, da
mesma maneira que o zero supõe o seguimento dos algarismos
1, 2, 3 etc.
Desta maneira somos levados a conceber um começo que
não é um, um neutro "vazio-cheio”, que encerre o positivo
e o negativo.
Graficamente, o símbolo do universo é representado por
um traço horizontal acoplado a um círculo de onde parte um
traço horizontal cortado por um traço vertical:
- 0 +.
219
Estas tentativas de soluções e estas explicações são per-
feitamente fantasistas, errôneas, e por sua vez os físicos sabem
muito disto.
Os que ignoram, os ignorantes, eles evidentemente têm
uma certeza, quer dizer: têm uma fé, uma crença.
Na verdade, o homem esbarra num obstáculo tanto mais
invencível, porquanto todo raciocínio humano se apóia geral
mente em bases de lógica cuja realidade e leis físicas consti
tuem os pilares inquebráveis e necessários.
Logo, estas realidades e estas leis só têm sentido no uni
verso imperfeito que percebemos.
O PARADOXO DE ZENÃO
220
A realidade parece sobrepujar a fantasia de cálculo!
Não está certo! Em termos de realidade absoluta, o trem
não chega a Bordéus, mas atinge somente umas zonas da ci
dade; incontestavelmente não até à Praça dos Quinconces, nem
passa pela porta do Hôtel-de-Ville, nem pelo Palácio Gallien,
nem pela catedral de Santo André.
Pois bem, Bordéus não se constitui somente da estação
Saint-Jean, mas compreende-se toda a cidade em sua máxima
grandeza e tamanho que se possa relancear com a vista até à
sua íntima pequenez, até ao seu ponto infinitamente pequeno
que jamais será atingido não importa qual meio viéssemos a
empregar para isto!
Esta especulação outro escopo não tem senão levar nossa
mente a uma outra forma de pensamento.
O HOMEM DO NÊUTRON
221
Ainda pela mesma linha de raciocínio, o homem sobre
seu planeta que imaginasse “seu” universo profundo de X bi
lhões de anos-luz, segundo seus radiotelescópios, é como se
fosse o próton de um átomo e o habitante do vírus da pa
peira (parótida).
Portanto, a idéia de grandeza e a idéia de pequenez são
destituídas de toda consistência, pois o infinitamente longe
não está mais distanciado (afastado) do que o infinitamente
perto e vice-versa.
Ambos coincidem com este centro zero teórico que é o
nosso "eu” físico, como o futuro coincide com o passado e
com o centro zero teórico que é o nosso “eu” presente. Neste
sentido, nossa realidade percebida é inimaginável, fora de al
cance, ilusória.
Eis-nos, finalmente, próximos a uma concepção relativa
mente positiva do nosso universo, do seu espaço e do seu tem
po, pois se chegamos a admitir que o espaço e o tempo real
mente não existem, então teremos uma certa noção do misté
rio da criação e da vida.
1 MORTO E 1 VIVENTE
222
Para o crente preguiçoso, esta trindade consiste em Deus
e suas hipóstases. É um conceito esotérico muito válido.
Para o homem “disponível”, é a possibilidade necessária.
Tanto num como noutro caso, o sistema consiste em acres
centar ao 1 morto alguma coisa que não seja vivente, que não
existe, mas que passa a ter vida: vida do espaço e do tempo.
As experiências do Sr. Bernard d’Espagnat, professor do
Colégio de França, evidenciaram este fenômeno de ubiqüida-
de próprio de certas ondas. A ficção raia a ciência.
223
Então, com estes dados podemos aventurar uma explica
ção da criação do Universo: não é eterno, não teve nem co
meço e nem terá um fim: o universo está continuamente em
estado de criação e de desaparecimento.
O Universo foi criado há uma infinidade de bilhões de
anos-luz; exatamente neste momento ele começa sua criação,
tudo isto simultaneamente, com uma coincidência absoluta
do tempo e do espaço, do vazio e do cheio, do mais, do menos
e do neutro.
Este conceito fantástico, já suposto pelos físicos de van
guarda, tem chances de ser menos ilusório do que a criação
que nos é apresentada pelo catecismo quando diz: Deus criou
todas as coisas; ou então a cosmogênese da escola leiga e
primária: o Universo sempre existiu7.
224
Quem neste mundo conhece exatamente e quem poderá
afirmar de onde e como esta criação teve lugar?
Os deuses são posteriores a esta produção do mundo8.”
225
Eis o que escreveu o sábio orientalista, Sr. Ed. Duméril,
registrado pelos enciclopedistas10:
"Ciosos de levar uma existência contemplativa, numa
atmosfera de exaltação que fazia de todo trabalho um suplício,
os brâmanes quiseram legitimar com seu estilo de reflexão a
superioridade de sua casta: inventaram um Ser supremo para
atender à necessidade de sua causa.
Introduzindo um deus num sistema filosófico que não dei
xava nenhum lugar à divindade, sem contudo negar-lhe posi
tivamente a existência, a classe inteligente da índia realizou
um verdadeiro esforço máximo.
Lançando mão de uma hábil encenação, acrescenta Ed. Du
méril, o autor (do Bagavat Geeta) confere aos seus ensina
mentos a unção da santidade que é apanágio de verdades, cuja
origem se perde na noite dos tempos, e atribui-lhes a autori
dade de um revelador superior à humanidade.”
Esse "revelador”, a que os fundadores de religiões cha
mam de Deus ou o Ser supremo para impressionar os crentes
ignorantes, na realidade em sua concepção não é senão um
maiá, uma Inteligência desconhecida e impenetrável.
Resulta daí que os Grandes Iniciados da índia, e sem dú
vida aqueles do mundo inteiro, inventaram um demiurgo na
medida do povo, o qual forjou, ele próprio, o culto de deuses
secundários que não eram senão heróis, legisladores, entes hu
manos superiores.
226
Produziu primeiramente as águas, nas quais depositou um
germe que se transformou num ovo brilhante no qual o Ser
supremo nasceu por si só (novamente uma interpenetração e
a utilização de um espaço-tempo estranho) sob a forma de
Brama masculino, o avô de todos os seres. Brama permane
ceu neste ovo durante um ano (= 3.110.400 milhões de anos
humanos) e só com o seu pensamento o separou em duas par
tes: o Céu e a Terra”.
Por esta exposição fica evidente que a primeira criação
não foi a argila (barro), nem mesmo os gases (H e O), mas
a água (H2O) de onde tudo teria saído.
Esta tese não goza do beneplácito dos físicos, que reputam
a criação da água posterior àquela dos gases elementares: hi
drogênio, oxigênio, azoto, carbono (gás carbônico), eles mes
mos oriundos da energia-matéria.
No entanto a tradição é formal: o primeiro movimen
to produziu-se nas águas e Nara, o espírito divino, passou a
chamar-se Naraiana, aquele que anda sobre as águas (plagia
do pelo Evangelho), porque tudo participa da água e do espí-
rito-divino.
A mitologia védica confunde-se portanto com a mitologia
grega para associar a água à criação; Naraia é um parente
próximo de Proteu e ambos simbolizam a preparação alquí-
mica da verdadeira Obra Magna: a criação.
Nos arcanos da mitologia aninham-se não somente conhe
cimentos iniciáticos, mas também segredos científicos dos
quais os físicos e os biologistas talvez façam mal descurar.
A COSMOGÊNESE DOS INICIADOS
A cosmogênese que se ensina nos naos dos iniciados pode
ser expressa assim: no inexistente e no nada do grande vazio
inicial passado tudo foi procriado com o existente e com o
criado do universo futuro.
Na manifestação do Vivente, a conjetura da evolução (fu
turo) é mais provável do que a existência do passado11.
A criação pertence a todos os tempos e deve-se concebê-la
tanto no futuro não acontecido como no passado terminado e
no presente imperceptível.
O Universo tem portanto um começo e um não-começo
(inexistência).
O universo começa com o futuro, com a condição de in-
troduzi-lo no passado, que é nada e não-começo.
11 — Um grão de trigo pode produzir uma espiga, o que constitui uma
quase certeza que podemos provar, mas não podemos atestar
de forma absoluta e peremptória que este grão provém de um
outro grão.
227
Neste sentido, poder-se-ia quase dizer que o futuro existe
antes do passado e lhe é anterior, quando lhe é contemporâneo.
Tudo teria sido criado, não com hidrogênio ou carbono,
conforme pensam os químicos, nem com fogo, com ar e com
terra comum como ensinam os espiritualistas — mas sim com
matéria original una e indivisível: o espaço-tempo.
O primeiro segundo da criação era filho do segundo se
cundo e ao mesmo tempo sua mãe: o futuro impregnava o
passado e confundia-se com ele.
228
Não é possível imaginar o "primeiro” tempo presente com
um passado; pelo contrário, deve-se admitir que este primeiro
tempo tinha um futuro; tinha-o mesmo hereditariamente, em
forma de código genético e então podemos concebê-lo como o
passado inexistente do tempo presente.
A quase-certeza do futuro constitui uma das chaves da
nossa cosmogênese.
O passado pertence ao universo em três dimensões, e não
encerra nenhum problema que a nossa percepção física e aque
la do intelecto não possa resolver.
O futuro pertence a um universo em quatro dimensões:
comporta as dimensões do nosso mundo habitual e ainda por
cima aquela do mundo provável mas desconhecido para o qual
nos encaminhamos.
A crença — religiosa ou não — inscreve-se também ela
num universo em quatro dimensões, pois implica uma conjun
tura mais ou menos desconhecida.
A criação do mundo, impossível de conceber em nosso
universo de três dimensões, pode ser apreendida quando não
compreendida; e nós podemos imaginá-la num universo em
quatro ou cinco dimensões (a topologia cilíndrica de Jean
Charon).
229
Energia = Matéria
(Diógenes de Apolônia — 500 a. C.)
Capítulo XV
A VIDA E A INTELIGÊNCIA
230
Com efeito, para o futuro temos a certeza de que compos
tos orgânicos muito complexos nascem e desenvolvem-se no
quase-vazio e no frio dito absoluto do cosmo2.
De acordo com Sydney Fox, os compostos orgânicos dos
espaços interestelares seriam microesferas, células pré-bioló-
gicas ou, antes, esquemas de células biológicas.
231
No absoluto e no infinito do espaço-tempo esta concei-
tuação é certamente falsa, mas dela nos valemos com fre-
qüência por razões de comodidade na limitação do nosso Uni
verso conhecido.
Nesta hipótese, quem é Deus? Quem é a Inteligência su
prema?
Também nisto Hermes Trismegistos afina com todos os
grandes luminares de nossos tempos:
"O Mestre da criação é o todo e a unidade, o Universo in
teiro e a parcela mais minúscula que se possa imaginar, par
cela esta que representa, contém e gera a totalidade.
O Mestre Único é preexistente e pós-existente: ele é o eter
no viajante dos séculos” ... Isto é, o continuum espaço-tempo.
Ficamos confusos de admiração quando meditamos estas
sábias palavras que os físicos e os astrônomos do século XX
deviam assumir e colocar em seu devido lugar de honra, 4000
anos depois do grande iniciado egípcio.
A tradição e a ciência são pois afirmativas: existem tan
tas possibilidades de inteligência num grão de areia como
numa molécula de carne animal.
232
"É o Deus primordial, que com sua própria substância
criou os deuses e os homens e tudo o que é, o que atrai e o
que repele, o positivo e o negativo7.
Ele é Inconhecível, por fora do nosso tempo e do nosso
espaço habituais.”
Em suma, Atoum é a substância primordial, a protoma-
téria (o nêutron) e, digamo-lo de vez: Atoum é o átomo origi
nal feito de espaço, de tempo e de desejo.
Este vínculo etimológico seria bem menos consistente, se
um rei iniciado no século XIV antes da nossa era, Akenaton,
não tivesse por pouco batizado com o nome do átomo o Deus
único no qual os egípcios deviam crer; e esse nome era Aton.
OS DEUSES ATÔMICOS
Com efeito, Áton era uma ressurreição de Atoum, deus
primeiro e único, que, com a deterioração inelutável devida
aos milênios, fora substituído por Ra, Rê, Amon e mesmo por
Hórus e Osíris.
A identificação de Atoum com o átomo, matéria primeira
dos físicos, e efetivamente geradora de toda a criação, resul
ta da própria etimologia do deus, que é oriunda de uma raiz:
A, que significa “não ser”, e Tou, que quer dizer "ser com
pletamente”8.
Os sacerdotes iniciados de Heliópolis ensinavam que "no
Noun (caos, oceano primordial no qual jaziam a criação e os
germes de todas as coisas e de todos os seres, mas em está
gio não vivente, não manifestado) vivia um espírito indefi
nido que trazia em si a soma das existências”.
Chamava-se ele Atoum e de sua própria substância havia
tirado os deuses, os homens e todos os seres (dito J. Viau).
Sem nenhum auxílio exterior, desse Atoum neutro, idên
tico ao Brama neutro primordial dos Vedas, saíram o + e o -,
o homem e a mulher.
Portanto, Atoum era o próprio princípio da vida de onde
se originou o universo.
233
Cada vez mais os físicos e os biologistas encaram a hipó
tese de que o princípio-vida é a protomatéria, que não tem
carga elétrica e que eles identificam com um isótopo do nêu
tron, o que é efetivamente o átomo primitivo neutro9.
Este conhecimento iniciático dos egípcios era partilhado
pelos antigos sacerdotes da maioria das grandes religiões.
A Grande Alma dos brâmanes era deus único sob o nome
de Atma; o vocábulo sagrado dos tibetanos era Aum; Adonai
era o Mestre (Senhor) supremo dos hebreus e Adônis, dos
gregos.
Attis, esposo de Cibele, a Magna Mater, era o "Pai” dos
fenícios e talvez fosse possível buscar a etimologia de Atoum
em Atena, que saiu cheia de vida do cérebro de Zeus, e em
Ator ou Hátor ou Nout, entre os egípcios deusa do céu.
Os Srs. Guéret e Oudinot escrevem o seguinte a propósito
destas curiosas coincidências:
"Não cremos que tudo isto seja obra do acaso. Àquilo
que nós chamamos de átomo os antigos davam o nome de
Atoum, Áton, Atma, Aum etc.; mas, tanto à idéia como aos
termos atribuíam eles um sentido vasto, completo, filosófico
e religioso.”
Esta hipótese é ainda corroborada pela mitologia da
Pérsia antiga, uma das mais velhas do mundo, onde Atar —
o fogo dos arianos — era o filho do deus supremo Aura-Mazda.
“Mas a crítica, escrevem P. Masson-Oursel e Louise Mo-
rin10, adivinha que o filho deve ser mais antigo do que o pai”.
Ele é o princípio-vida e como tal reputa crime inexpiável o
fato de queimar ou cozinhar carne morta.
O TEMPO APRISIONADO
234
magnéticos que supomos preexistentes, pois, por uma série
de complexificações, assumiu uma estrutura atômica.
O impulso fora dado, o primeiro passo vencido; o átomo
passou em seguida ao estado da molécula, mais tarde ao dos
elementos químicos simples, depois compostos etc.
Estava formada a vida manifestada, controlável; Jean
Charon chama-a de o Vivente.
Prosseguindo, conjetura ele que as estruturas e os vín
culos foram determinados por razões de "lembrança” funda
mentalmente unidas ao Vivente pelo “campo mnemônico” ou
memória do passado específico.
Em Relatividade geral, o espaço-tempo curva-se na pro
ximidade de uma zona de grande densidade de energia.
Jean Charon é de opinião que o espaço, no interior de uma
estrutura ADN, quando obedece a esta lei, pode curvar-se de
maneira a formar um círculo que aprisionaria as ondas ele
tromagnéticas de suas informações11.
Este fenômeno se aplicaria tanto no caso das células ve
getais como naquelas dos animais, que são idênticas.
O princípio entre a Matéria e o Vivente estaria então vin
culado a uma questão de continuum espaço-tempo.
Para Jean Charon, os vínculos por meio de campos físicos
entre diferentes estados se estabelecem por topologia plana
no espaço-matéria e por topologia cilíndrica no Vivente; com
necessidade de energia, mais em quantidade fraca1112.
Os vínculos, que seriam impossíveis na matéria, por meio
da topologia cilíndrica poderíam realizar-se bruscamente
neste espaço novo onde as ondas eletromagnéticas têm o po
der de ficar encerradas.
COMO NASCE A INTELIGÊNCIA
Mediante suas experiências e especulações, nossos físicos
lembraram-se e foram em busca de Hermes Trismegistos e
acabaram esposando suas teses13.
11 — Estas ondas sempre esposam a forma do espaço onde se pro
pagam.
12 — Ler Planète, n.° 10 — Edições Retz — Rua de Berri n.° 8 — Paris 8?
A topologia é a geometria de figuras de um sustentáculo elás
tico deformado sem que por isso se alterem as proposições geo
métricas clássicas.
13 — Já no século V antes de Jesus Cristo o filósofo herético Diógenes
de Apolônia identificara a matéria com a energia e escrevia: ex
nihilo nihil fit (nada pode originar-se do nada)... Sendo evi
dente a existência da Inteligência, então Diógenes concluía que
o ar (éter ou átomo) e que toda a criação era habitada por um
pensamento.
235
São de opinião que a energia eterna, infinita, psíquica e
inteligente preexiste a todos os Universos14.
Origina-se espontaneamente da matéria (condensação,
transmutação de joules em corpúsculos), isto é: corpúsculos
elementares que por complexificações sucessivas chegam a
estruturar-se em átomos de hidrogênio, oxigênio, carbono etc.
É assim que nasceria a matéria visível, desde o grão de
argila até a galáxia gigante.
Um processo cada vez mais complexo e mais sutil poria
em evidência a inteligência e uma cerca consciência desta
matéria, mediante uma manifestação no poder de escolha, de
memória e de iniciativa.
Se a inteligência, como acreditamos, se caracteriza pela
aptidão em fazer frente a situações novas, então a matéria,
falsamente dita inanimada, é infinitamente mais inteligente
do que a matéria organizada!
“A todo instante, diz o físico alemão Jordan15, alguma
coisa de novo e imprevisto se apresenta no nível atômico.”
É também a opinião de Robert Linssen16, quando escreve
que “em cada instante de um bilionésimo de bilionésimo de se
gundo os constituintes intranucleares respondem adequada
mente (completamente) à exigência... de processos de permu-
tas fulgurantes cuja complexidade e velocidade ultrapassam to
das as possibilidades de nossas representações mentais”.
Os pensadores Lothar Bickel, Constantin Brünner, Roger
Godel e Estêvão Lupasco acreditam também eles que as for
mas mais autênticas da inteligência habitam nas zonas últimas
da materialidade e têm não somente esta qualidade, mas tam
bém uma certa capacidade de amor, bem entendido, diferente
do amor humano, pessoal e egoísta17.
Aquilo que os físicos filósofos atribuem à matéria e à
energia seria análogo, nota Robert Linssen, a um estado de
ser, liberto das servidões da afeição e da dor.
236
Como aquela da inteligência, também esta capacidade de
amor existiria na energia-matéria sob a forma mais sublimizada
e corresponderia em suma à energia amorizante evocada por
Teilhard de Chardin, que em nossos tempos foi um dos pri
meiros que soube frisar a espiritualidade da matéria.
Jean Charon adianta que o agente catalisador ou motor da
inteligência — ou quiçá sua natureza — seja talvez a memória
“cromossômica” do universo, ou campo mnemônico, o qual
residiría. em todas as coisas.
OS CROMOSSOMOS-MEMÓRIA DA NATUREZA
Por esta hipótese pode-se imaginar que a matéria, achan
do-se no reino do criado, aquele que fica mais próximo dos
tempos originais, é habitada ainda por toda energia que se
possa conceber, sujeita a leis onde o “continuum” espaço-tem
po se avizinha do zero (vizinho da eternidade, da imobilidade,
da essência primeira).
Esta matéria teria o privilégio de possuir uma memória
dos tempos futuros, que seria como seu cartão perfurado, seu
programa.
A máquina eletrônica, o ordenador, tem seu tipo de inte
ligência que o homem lhe deu; também o calcário tem sua in
teligência que recebeu de si mesmo, isto é, da Inteligência uni
versal e eterna dos seus cromossomos e do tempo onde ele
existirá sob uma forma mais elaborada: água, planta, animal,
homem.
Esta memória de todos os tempos deve ser cotejada com
a memória akháshica do Universo, misteriosamente conhecida
dos espiritualistas iniciados.
Para os físicos, o fenômeno estaria ligado àquele do es
paço-tempo, o qual, como dissemos, é curvado pelos poderosos
campos de energia18, como o fóton é curvado em sua curva
quando passa na proximidade do sol.
Se a energia é muito grande, a curva chega a tomar a
forma de um círculo, cujo fóton e espaço não podem mais
sair19.
Assim as ondas da memória do futuro poderíam aprisio
nar-se elas mesmas, com suas possibilidades, seus bilhões de
18 — Com justa razão se pode supor que a própria essência da vida,
que residia por toda parte e principalmente no ADN e nas mis
teriosas regiões da célula, constitui uma fonte intensa de ener
gia, embora de dimensões infinitamente pequenas.
19 — Em Iniciação, o espaço-tempo, no Invariável Meio (o Centro dos
centros) se recurva e forma uma serpente que morde sua cauda
ou uma esfera infinitamente pequena que em suma coincide
com o ponto e se toma igual a zero.
237
planos, sua inteligência, nos labirintos do pensamento-matéria
da Natureza original.
238
Capítulo XVI
239
A INTELIGÊNCIA E A ALMA
240
Os animais e as plantas recebem impressões sensoriais, ob
servam, comparam, julgam, suputam, o que constitui prova de
sua inteligência.
241
Com o fito de proteger sua espécie e preservar seu código
genético, pode até secretar toxinas que destoem ou estirilizam
os polens estranhos5.
Estamos aqui frente a um caso de puro racismo no sen
tido benéfico do termo e depara-se-nos numa luta contra o ver
dadeiro pecado: a deterioração da espécie.
A GENIAL ORQUÍDEA
A rosa pentecostal ou satirão de folhas largas, que cresce
nos prados úmidos nos meses de abril e maio, tem uma flor
que se parece com uma goela fantástica e escancarada de dra
gão chinês.
No fundo desta goela podem ser vistos dois ferretes sol
dados sobre os quais há um terceiro que leva na extremidade
uma metade de baciazinha redonda cheia de um líquido vis
coso.
Nesta estranha piscina jazem mergulhados dois óvulos, ca
da um com uma pequena bolsinha de grãos de pólen.
Quando um inseto pousa sobre o lábio inferior, que se
apresenta como um repositório, é irresistivelmente convidado
pelo odor do néctar a penetrar no fundo da uma.
É aí que a orquídea demonstra seu conhecimento magis
tral da arquitetura, e nem por isso postula um lugar na Legião
de Honra e nem agita o fantasma do Prêmio de Ouro: propo
sitalmente estreitou ao máximo a via que leva ao néctar, em
bora a cabeça do inseto vá dar obrigatoriamente na semi-bacia.
Como sob o efeito de um sinal elétrico, ela então se rasga,
pondo à vista os dois óvulos que desta maneira se põem em
contacto imediato com a cabeça do visitante e grudam-se com
ele por meio do líquido viscoso que os unta.
O inseto bebe do néctar e se retira recuando, já não mais
como havia chegado, mas enfeitado com uma espécie de chi
242
fres formados pelos óvulos e pelas duas hastes que possuem
para sustentar as bolsinhas de pólen.
Vai imediatamente procurar outra flor vizinha, à maneira
de beija-flor, introdu-se nela da mesma forma, com os chifres
na frente, e seríamos tentados a pensar que o pólen da pri
meira planta vai fecundar a segunda.
Absolutamente nada disto: pólen com pólen não resulta
ria em geração alguma!
243
Não é preciso que se chegue a tanto; o que importa é não
esgotar numa única aventura as chances do pólen e sim mul
tiplicá-las tanto quanto possível.
A flor, que conta os segundos e mede as linhas, ainda por
cima é química e destila duas espécies de cola: uma de poder
extremamente aglutinante e que endurece imediatamente ao
contato com o ar para grudar os chifres com pólen na cabeça
do inseto; e a outra, muito diluída, para o trabalho do ferrete”.
Em resumo: esta cola tem a adesividade ideal para gru
dar qualquer semente, mas não a massa polínica inteira, de
maneira a permitir que o inseto vá fecundar numerosas ou
tras flores.
Qual o cérebro que, exterior ou interior ao animal, tem
aperfeiçoado esta maravilhosa mecânica e ademais tomou a
iniciativa de novas precauções? Sim, quando a membrana da
bacia se rasga para libertar os óvulos viscosos, imediatamente
seu lábio inferior se coloca numa posição tal com o fim de
conservar preciosamente o resto de pólen deixado pelo inseto.
É bom fazer economia!
Todas as plantas possuem esta inteligência difusa, desde
as suas raízes que se projetam, que contornam, que atraves
sam, que fazem opções, até às suas flores que sabem driblar
as artimanhas dos insetos, secretar os odores afrodisíacos pró
prios para atraí-los e enganá-los. Sua inteligência é formal,
evidente, às vezes tão pronunciada quanto a dos animais, cujo
grau de complexificação é nitidamente mais avançado.
244
O RADAR DO ICNÊUMON
245
e conhecemos a inteligência dos castores, dos corvos e dos
nossos amigos os cães, gatos e cavalos.
INSTINTO E INTELIGÊNCIA
246
È difícil crer que isto se dê sem nenhuma razão, conscien
te ou não, que seja unicamente por mero acaso, por automa-
tismo ou adivinhação, que o icnêumon detecte 100 vezes sobre
100 a larva e o sexo dessa larva, através de 7 centímetros de
madeira!
Impossível crer com os entomologistas que o icnêumon
construa sua chocadeira artificial cegamente, sem dificuldade
consciente, sem previsão de seus fins, enfim sem inteligência,
isto é, sem conhecer, calcular, refletir e compreender.
É mais difícil ainda admitir que as térmites, cuja civili
zação é a mais desenvolvida no reino dos insetos, construam
sua cidade-fortaleza completamente às tolas, que produzam,
amealhem em celeiros e utilizem sua comida sem calcular os
efetivos militares que têm a missão de defender a comunidade!
O conhecimento que o animal tem sobre a fabricação do
ninho, da toca, do covil, do comportamento que deve observar
em caso de perigo, de ataque ou de descanso, não é instintivo
e sim conhecido pelo subconsciente e, mais exatamente, pelos
cromossomos-memória.
É um legado hereditário que pertence ao código genético;
nada prova que a razão esteja ausente deste fenômeno; muito
pelo contrário, vemos nisso a firmação de uma inteligência su
perior, difusa, diferente da inteligência consciente em seu mo
do de expressão, mas não em sua essência-
Paralelamente, não se pode dizer que o desenvolvimento
da célula segundo o programa de uma espécie, que a evolução
universal, sejam fenômenos automáticos, instintivos, mecâni
cos onde a inteligência está ausente.
A Natureza — e com isto nós entendemos o Universo —
é “um grande pensamento”, um organismo inteligente em sua
totalidade como na sua mais ínfima manifestação e estamos
mesmo convencidos de que ela é a Inteligência integral e ab
soluta.
O animal, como a argila, o rochedo, a montanha, o rio, o
prado, a rosa pentecostal e a margarida são um "caniço pen
sante”!
III. A VIDA NA MATÉRIA
Nem sempre distinguimos, ou não distinguimos comple
tamente, o pensamento na pedra e no carvalho, porque ela não
é aparente; mas é lógico acreditar que uma inteligência supe
rior, transcendente, uma razão habite o calcário da mesma
maneira que a árvore ou o cérebro de um sábio.
247
A inteligência misteriosa de um grão de areia é provavel
mente mais sutil do que aquela que se pode discernir num fí
sico. Einstein teria sido incapaz de calcular e de regrar o com
portamento de uma célula de cachorro, de abelha ou de um
pinheiro.
É certo que no cachorro, na abelha e no pinheiro existe
uma inteligência escondida que sente, suputa, calcula e reage
com a precisão de um computador eletrônico.
A razão que preside a este fenômeno é de essência desco
nhecida dos homens que sabem somente que ela se manifesta
particularmente pela ARN.
0 químico russo V. A. Firsoff admite que a matéria é vi
vente, inteligente, e adianta que as partículas elementares são
dotadas de uma interação mental, sendo que uma dessas par
tículas, o mentino, chega a identificar-se como aquilo que po
deriamos chamar de onda da inteligência.
Os mentinos, escreve Charles Noêl Martin, "constituiríam
uma inteligência desencarnada, o que evidentemente tomaria
a detecção extremamente complicada’’12.
248
Trata-se sem dúvida de uma lenda, mas a verdade é tão
fantástica que nos é permitido deixar a imaginação vaguear,
numa perspectiva-ficção quando então a Natureza, escarnecida
pela nossa civilização, desencadearia um cataclismo e tudo
faria por substituir os homens, depois de havê-los destruído,
por criaturas de matéria dita inerte ou pelo reino vegetal.
O Popol Vuh dos maias conta que em tempos idos a
humanidade da II idade era feita “como que de bonecos de
madeira com a aparência de homens que falam”.
No plano da estrita observação dos fatos, é permitido
crer que na intenção de tornar-se mais vivente e de subli-
mar-se o mineral tenda, e às vezes se saia bem, a assumir
uma forma animal.
Quando a Terra está em calor, em efervescência, todos
os milagres são possíveis!
Estes períodos de calor — o Desejo dos arianos e dos
fenícios na mitologia, talvez fossem os ciclos da história e
coincidissem com o surgimento de uma humanidade nova.
Numerosas tradições mencionam com insistência que os
homens foram criados a partir de rochas, de pedras ou de
seixos.
Teria a terra uma necessidade inconsciente de dar à luz?
Obedece ela a seus "cromossomos-memória” ou a uma cons
ciência que em certas zonas radiantes, por conseguinte parti
cularmente inteligentes, tende a modificar formas animais?
Sentimos a tentação de acreditar.
OS PONTOS DE AMOR
249
resulta em formas mais ou menos viventes, mais ou menos
próximas de nós, não importando a sua situação na escala das
medidas.
Talvez tenha havido períodos em que a conjunção de
todos estes fenômenos físicos, químicos, biológicos e outros
tenha podido realizar-se e produzir seres e animais viáveis,
mutações e metamorfoses duráveis, em espaços-tempos dife
rentes".
O pensamento do Sr. Endress se coaduna com aquele dos
antigos que acreditavam nos pontos de emergência das cor
rentes telúricas e que construíam templos em pedestal (no
México) a uma altitude que julgavam ser um gradiente da
Terra e do Céu eminentemente favoráveis à geração, à eclosão
e à reconciliação.
Não é certo, mas possível, que este ponto de junção goze
de privilégios de natureza elétrica, não somente no sentido
como conhecemos a eletricidade (geradora de atração, de re
pulsas, de faíscas e de comoções), mas também num outro
sentido mais sutil e essencial.
Seja como for, parece que no globo existem pontos de
amor que se constituem em lugares preferidos de fenômenos
estranhos num gradiente privilegiado, onde se conjugam, ca
sam-se e formam-se as correntes de inteligência do Céu e da
Terra.
Tudo é possível, inclusive o improvável e o milagre, nesses
lugares onde sopramos o espírito e o amor, onde a matéria
se cristaliza sob a impulso da energia, num imenso desejo de
criação.
Como nos albores dos mundos e da vida.
Nessas eras, o homem atento, para apaziguar a Terra,
erige-lhe um altar, um megalítico, um oratório, uma capela ou
uma igreja. Nessas épocas ainda, foram traçados os primei
ros tabus, edificados os primeiros refúgios, as primeiras ci
dades.
Nesses pontos de amor, em seus períodos de calor a Terra
gera rochedos zoomorfos ou então o acaso e erosão escultu-
ram humanidades aproximativas.
OS PONTOS DE AGRESSIVIDADE
250
Em certos lugares o homem é vítima de influências no
civas, o animal contrai doenças, a árvore entra em decadência
sem razão evidente.
Esta tese, por mais sumária e imperfeita que possa pa
recer, explicaria contudo a persistência dos lugares malditos,
povoados de fantasmas, de alucinações, juncados de crimes ou
de doenças, sem que nenhuma conjuração possa neutralizar
os malefícios.
Infeliz do país de Israel, infelizes dos desertos de Góbi e
do Colorado... lá onde a Terra antigamente foi atomizada e
continuará ainda sendo-o. Infeliz de Roma, de Veneza, de Ná
poles, de Tóquio, de Berna, de Zurique, de Las Vegas e de Nova
Iorque. Infelizes dos homens que por falta de sensibilidade
ou por força de um destino trágico, abandonam os lugares de
amor — ou deles são expulsos — para ir estabelecer-se em
zonas de fratura e de cataclismo.
Como o corpo humano, aquele de Gaea que o engendrou
possui seus chakras, seus pontos de acupuntura que são os
pontos de emergência das correntes telúricas que percorrem
as veia do Dragão.
Por empirismo ou por percepção superior, o sábio tenta
reconhecer os lugares onde o espírito sopra e procura fixar-se
ali.
Em contrapartida, sabe evitar os pontos de agressividade,
os lugares malditos onde jamais poderá estabelecer-se um equi
líbrio benéfico.
A TERRA SE VINGA
251
A Terra inteira é um imenso e complexo organismo provi
do de centros onde deve acumular-se uma inteligência-energia
que até o presente somente os empíricos souberam descobrir.
Como todo organismo, ela tem uma matriz: o mar, um
ventre; o solo, um sistema nervoso; o circuito, correntes te
lúricas e muito provavelmente ela tem também zonas para a
sua cabeça e o seu coração: naquele lugar em que desabro
cham e se desenvolvem as civilizações e os melhores instintos
humanos.
A Terra esconde as cidades antigas, esconde a história pas
sada, as civilizações desaparecidas, talvez com uma lenta e
enorme malícia.
Nos dias de hoje ela muda o rumo do seu sistema nervo
so, começa a deixar explodir seu humor vulcânico e vomita
seu veneno verde, carregado de massa, de ameaça e de possi
bilidades diabólicas: a pedra mágica de onde o sábio-bruxo
arranca o poder infernal da bomba atômica, o urânio 235.
252
Capítulo XVII
253
Tudo era selvagem, majestoso, sublime, mais triste e si
lencioso. De tempos em tempos ribombava uma trovoada, até
mesmo terríveis borrascas que faziam uma espécie de filme
em cinemascope colorido e tridimensional, mas o som era mo
nótono e os personagens, invisíveis.
A Natureza se pôs a pensar e, como ela era mulher, co
meçou a sonhar; e, com que pode uma senhora pensar, senão
com o amor?
254
A Mão da Princesa, na «Pedra fincada», menir situado perto de
Cosqueville (Mancha) que, juntamente com os dois menires de
Saint-Pierre-Eglise, forma o «Casamento das Três Princesas».
A Torre Hermética
de Ebéon (Charan-
te-Martime) é um
monumento enigmá
tico, talvez o túmulo
de um herói antigo,
cuja erosão houve
por bem reproduzir
o retrato: queixo,
nariz, olhos, fronte,
e até o boné de es-
Jtilo veniciano.
Ciabeça de campo
nesa, na alameda
coberta das «Pier-
res Poquelèes», em
Beaumont-Hague —
Mancha.
Pertil de Cristo, em Celorio-Llanes — Espanha
Ganso em granito, no maciço de Sidobre — Tam.
258
tepellier-le-Vieux, o zôo prodigioso da floresta de Fontaine-
bleau, os ídolos do planalto de Vence.
No começo tudo isso talvez tivesse vida, inteligência e dese
jo, mas os milhares de milênios petrificaram essa criação que
nos chegou gélida e aparentemente insensível.
Não obstante, a carne, o sangue e a inteligência, habitam
sempre esta matéria de grés, de calcário, de granito e de toda
espécie de coisas, para tomar-se existência viva.
É desta maneira que o poeta e o sábio explicam o mila
gre dos rochedos zoomorfos e antropomorfos da França, do
Peru, do Brasil e da Rumênia.
Por mais extravagante que isto possa parecer, os biolo-
gistas, os geólogos e os físicos não estão longe de esposar a
mesma tese...
259
Floresta de Fontainebleau: em cima, da esquerda para a direita:
1. Cabeças humanas no planalto de Franchard — 2. O elefante de
Barbizon — 3. O filhote de vitela.
262
A medida que a cerração se dissipa, cs pastores viam surgir as
muralhas de um castelo onde sobressaia uma torre enorme e
gigantesca.
Os pastores das charnecas diziam que os gigantes de ou
trora haviam construído este reino, juncado de torres com
ameias, de cidades fortificadas, de fortificações, de castelos,
de ruínas de cidades tão vastas como uma capital, povoado
de dragões, de cães, de ursos, camelos, de pastoras liliputia-
nas, de pastores tão grandes como montanhas, mas também
de damas dos tempos idos com suntuosas anáguas armadas
em arco, de reis de mouros, de princesas evanescentes e de
rainhas coroadas de diademas.
Uma cidade com ruelas, ruas, praças, avenidas, arcos de
triunfo, portas monumentais, casas misteriosas, hotéis luxuo
sos, torres de castelo arrogantes, faróis, porto que davam para
os mares azuis e cores “exóticas”.
E nesta cidade imensa, neste reino sonhado por Gustavo
Doré paira o silêncio, o grande silêncio da eternidade das coi
sas antigas de cores esmaecidas, de azul desbotado, esfuma-
das, de perfumes indefiníveis e leves. Mesmo que um grilo
cante ou um melro chilreie ou que o grunhido humilde de um
coelho transpasse a insólita serenidade.
E, no entanto, neste silêncio ouve-se o rumor de uma mul
tidão invisível, impalpável, qual fantasma, o sussurro de uma
vida que escoa, que flui, que vagueia, que às vezes some por
debaixo da terra, desaparece, ressurge e esvai-se com a irrup
ção de um raio de sol ou de um passeante distraído.
Não existe nenhuma construção feita pelo homem. Tudo
é em rocha natural que sofreu os impactos da erosão, é devo
rado, esculpido pelo tempo, pela chuva, pelo vento, pelo gelo e
pelo sol. Tudo, os castelos fantásticos, as torres isoladas, os
animais, os personagens, os objetos.
É um verdadeiro conto de fadas em pedra e cascalho, um
iriilagre incrível, um deslumbramento, um filme digno da Ida
de Média e da época arturiana, em cores, com fascínios, encan
tamentos, desaparições, substituições e transformações mági
cas, no grau das iluminações, das horas e da cor do espírito.
Eis porque os pastores do Causse viam nisso outrora
uma cidade construída por gigantes mágicos e, visto que esta
cidade era vasta, real e quase desconhecida, creram que ela
fosse uma antiga capital.
Por ser Montpellier a maior cidade da região, deram ao
lugar o nome de Montpellier-le-Vieux (Montpellier o Velho),
ancestral do outro Montpellier, aquele do Hérault.
264
Eram as ruínas de um castelo feudal. Em cada ala, uma torre com
saliências evocava rudes e sangrentas batalhas, assaltos e canhonaços,
que finalmente deram motivo a espessas muralhas de pedra.
266
O castelo em ruínas, nas Gargantas do Tarn, foi construído há
duzentos milhões de anos. A inteligência do vento, do gelo, o esculpiu,
provocou a erosão e o demoliu. Não é senão um maciço rochoso natural.
268
O «Castelo Perigoso» não passava de um amontoado de ruínas
dominadas por uma torre ainda formidável e que era guardada
(à esquerda) por uma espécie de cão de pedra.
269
Quando se faz um passeio ao léu — muito agradável —
por caminhos de relva magra, vai-se margeando lanços ro
chosos que se parecem com cidadelas desmanteladas, com
casas em ruínas e, cá e acolá por sobre as praças naturais,
ergue-se para o céu a estátua gigante de um deus bárbaro ou
de uma divindade pré-histórica.
Foi nosso amigo Guy Tarade que nos fez a descrição des
te lugar encantado onde gosta de embeber sua inspiração
de poeta do fantástico4.
O PLANALTO DE MARCAHUASI
270
A esta civilização deu o nome de "Cultura Masma".
A tese do arqueólogo peruano afasta o capricho da cria
ção orográfica e parece efetivamente que a fauna de Mar
cahuasi, ainda que tenha uma origem natural, foi posterior
mente remodelada pela mão dos homens.
Em Marcahuasi podemos ver leões, um cavalo, um grupo
de elefantes, um camelo, otárias etc., mas a par disso tam
bém uma cabeça de inca, um perfil de assírio, numerosas
figuras humanas e desenhos quadriculados, cujo lavor e fei
tura humanos não podem ser postos em dúvida.
Mas estas representações antropomorfas e zóomorfas
não têm a precisão — e muito longe disto estão — das figu
ras de Fontainebleau.
272
É provável que os mais ricos, os mais impressionantes "ca
prichos da natureza” gerados há milhões de anos desaparece
ram por completo, tragados pelos sismos, roídos pelos ventos,
pelas chuvas, pelos gelos, dinamitados pelos homens, nivelados
pelos trabalhos agrícolas.
273
numentos pré-históricos os rochedos zoomorfos e antropomor-
fos desses lugares e dos outros, numerosos, que logo serão
descobertos, agora que o público está informado e tomou cons
ciência do fenômeno8.*
6
274
Capítulo XVIII
OS ENGENHOS DO FUTURO
275
O objeto era tão semelhante ao avião de transporte ame
ricano “Hércules”, que os egiptólogos acreditam se tratar de
uma maquete de planador que data de 2400 anos.
O escritor dinamarquês Frede Melhedegard, especialista
das civilizações antigas, sobre os hieróglifos e os afrescos do
Egito acaba de publicar um estudo que o levou à conclusão de
que os templos do Nilo tinham sido construídos com a ajuda
de maquinário muito aperfeiçoado. Ê de opinião também que
os fenícios conheciam muito bem certas aplicações da eletrô
nica, da eletricidade e em particular da galvanoplastia2.
De acordo com F. Melhedegard, numerosos hieróglifos se
riam reproduções estilizadas de máquinas elétricas e apóia a
sua tese, confrontando-as com esquemas de motores ou de cir
cuitos, o que dá um resultado bastante surpreendente.
Levando mais avante suas investigações, estabeleceu o
mesmo paralelo com os desenhos e os afrescos do México, do
Peru e da índia.
Os planos de templos que ele reuniu têm na realidade se
melhanças tão estranhas com arranjos mecânicos, que somos
tentados a ver neles os esquemas de algum motor misterioso.
Sem com isto abraçarmos este ponto de vista, contudo é
permitido imaginar que os arquitetos e os desenhistas da An
tiguidade, sob o efeito de drogas alucinógenas, tenham sido
solicitados e orientados por lembranças cromossômicas ou por
premonições, da mesma forma que Júlio Veme sorvia no sé
culo XX as invenções geniais descritas em seus livros.
277
ELIXIR DA JUVENTUDE
278
Desta forma, ratos expostos a um campo magnético de
4.000 gauss vivem 2O°/o mais tempo do que a média de sua
existência normal.
A ação do magnetismo se exerce na escala das enzimas,
isto é, bem no começo da formação da célula.
O Sr. Adolf Unmüssig, de Freiburg im Breisgau, nos faz
cientes de que na Alemanha submeteram o ventre de uma se
nhora grávida a uma descompressão atmosférica, colocando-a
numa caixa pequena contendo ar rarefeito.
As experiências se realizaram à razão de aproximadamen
te uma hora por dia, cujo resultado foi a irrigação excepcio
nal dos tecidos do feto.
A criança que nasceu e que foi manchete dos jornais da
época era um verdadeiro gênio. Com três anos possuía uma
memória prodigiosa, conhecia a geografia da Terra como se
lesse num livro, reconhecia todas as marcas de automóveis etc.
É opinião que o sistema de descompressão, quando apli
cado nos tecidos orgânicos de indivíduos idosos, podería ter
uma influência feliz e provocar uma certa regenerescência das
células, jugulando sua astenia natural. Seguir-se-ia logicamen
te uma longevidade maior.
279
sões da Academia de Ciências de Moscou6; mas cada ano que
se passa as oposições vão definhando e caem diante da reali
dade dos fatos.
280
Giorgio desenhara, especialmente, um canhão-foguete que
lançava um projétil, montado inicialmente sobre rodas, mas
que em seguida se elevava por sua própria velocidade de
tração.
Ainda mais elaborado era o foguete de dois estágios, o
primeiro lançando o segundo por meio de cargas de pólvora.
Como Giorgio não teve a idéia das rampas de lançamen
to, o engenho duplo era colocado numa carroça que provavel
mente rodava num plano inclinado, de acordo com um ângulo
estudado, antes de perder peso.
Uma terceira invenção prefigurava nossos torpedos ma
rítimos e se ela não foi utilizada — pelo menos não temos ne
nhuma informação a este respeito — possuía contudo todos os
apetrechos necessários por um bom funcionamento 7.
Consistia de um sistema de flutuação provido de três tam
bores rotativos para diminuir a resistência ao avanço. Na
dianteira, duas pontas de ferro resistente deviam cravar-se no
casco do navio inimigo.
O torpedo, colocado na traseira do sistema, no começo
fazia o papel de propulsor a reação e depois de explosivo,
quando o fogo se comunicava à carga.
A cábrea tinha por missão manter o explosivo de encon
tro ao casco do navio.
Se nossos pesquisadores modernos tivessem tido a idéia
de investigar os arquivos dos nossos ancestrais, teriam desco
berto a V 1 quatro séculos antes que o Sr. von Braun!
Mas, nem por isso a nossa civilização teria dado um pas
so à frente!
Mas, graças a Deus, eles não tiveram essa curiosidade!
281
mo computador talvez fosse capaz, com base neste começo
de filme, de imaginar a sequência do cenário e de elaborar as
imagens do futuro.
Teoricamente, por relação de causa e efeito, uma máquina
eletrônica que tenha como base única um fato histórico capi
tal, idealmente detalhado, poderia reconstituir toda a história
da humanidade no sentido — e no sentido +.
Reencontrar as ondas do passado e convertê-las em ima
gens e sons, até nossos dias parecia pertencer ao mundo da
ficção científica, mas um sábio monge beneditino italiano, o Pe.
Pellegrino Ernetti, teria realizado cientificamente este milagre.
O padre não é um iluminado ou um feiticeiro da Idade Mé
dia, que opera por invocações, magia ou subterfúgios; é tido
na conta de autêntico sábio.
Com a idade de quarenta e sete anos, é docente substituto
de "prepolifonia”, isto é, da música tal qual era conhecida
desde a mais remota Antiguidade até o ano mil; é Tente no
Conservatório Benedetto Marcello de Veneza, da Fundação Cini
e dirige o Secretariado de ensino religioso masculino da Itália.
Conduziu suas pequisas em conjunto com doze físicos cuja
identidade se recusa declinar, num laboratório secreto que
existe em Veneza ou em Roma.
Sabe-se contudo que por volta de 1956 começou a estudar
a possibilidade de ressuscitar o passado como por um filme
de televisão.
Em 1957 travou conhecimento com o professor português
de Matos, que com seus trabalhos devia dar uma orientação
nova às suas pesquisas.
Também o próprio professor de Matos se interessava na
televisão do passado e estava elaborando teses em tomo dos
textos de Aristóteles relativos à desintegração dos sons, tex
tos talvez tomados emprestados de uma idéia pitagórica ainda
muito mais antiga.
De acordo com suas declarações, a idéia genial do Pe. Er
netti consistiu em tomar como base o princípio científico clás
sico, segundo o qual as ondas luminosas e sonoras, depois de
sua emissão não são destruídas mas se transformam e perma
necem etemamente presentes.
Diante disto, torna-se teoricamente possível reconstituí-las,
reintegrando-as em seu sistema energético original.
Para dizer a verdade, os físicos não admitem este princí
pio, pelo menos sob esta forma sumária, tanto mais que o bom
282
O Pe. Ernetti Pellegrinc
283
do padre entende que as ondas em questão “se registram na
esfera astral", o que não é aceitável em física convencional.
Sempre de acordo com o Pe. Ernetti, uma onda sonora —
por exemplo — se subdividia em sons harmônicos, em ultra-
sons, hipersons, hipo-sons etc. e em seu processo de transfor
mações se sujeita às leis habituais da desagregação da maté
ria, até ao estágio atômico e além disso até as contexturas mais
ínfimas do infra-átomo.
Graças a “aparelhos apropriados”, entre os quais figura
ria um oscilógrafo catódico que utiliza os desvios de um fluxo
de elétrons, por meio de um caminho inverso do processo se
chega a reconstituir a emissão sonora inicial.
Ao que parece este fenômeno é possível, pois cada um dos
componentes da onda tem uma individualidade própria, um
cartão de identidade psíquica que lhe permite a volta inelutá
vel à fonte.
“— Meu invento, diz o Pe. Ernetti, nada tem de comum
com os métodos da parapsicologia ou de metapsíquica. Trata-
se de ciência pura!
Para a ressurreição das ondas luminosas o método é idên
tico; é até o princípio primeiro, pois a base do criador é luz,
conforme está escrito na Bíblia!”
284
Conseguiu localizar e recompor, em latim arcaico — logi
camente — o Tieste, uma tragédia de Quinto Ênio que foi en
cenada em Roma no ano 169 antes de nossa era.
Teria conseguido identificar a pronúncia exata das lín
guas antigas, o texto original das Tíbias da Lei ditadas pelo
próprio Deus no monte Sinai, teria registrado imagens menos
distantes e de todo convincentes: as do papa Pio XII e de
Benito Mussolini.. .
O Pe. Ernetti não revela um tiquinho sequer dos seus re
sultados, mas sabemos que ele filmou e sonorizou "a presu
mida explosão atômica de Sodoma e Gomorra”.
285
Segundo o padre Ernetti, esta foto teria sido tirada durante a vida de
Jesus, enquanto agonizava na cruz.
286
maneira desgraciosa de São Sulpício, mas com uma comoven
te sinceridade.
O personagem é atraente e simpático e suscita uma inten
sa emoção.
Sim, mas... seria mesmo o Cristo?
A CHAVE DO ENIGMA. . .
287
Mas seu primeiro cuidado seria consultar os sábios anti
gos, como Sólon, Tales, Anaximandro, Lêucipo, Ferécides, Pi-
tágoras, Anaxágoras, Sócrates ... um verdadeiro programa de
Senhor do Mundo ...
Felizmente o inventor da máquina de auscultar o passado
não tem nenhuma ambição pessoal. Nem mesmo a de se tor
nar papa, o que aliás lhe caberia de direito!
— “Quando poderá o Sr. anular as ordens de silêncio que
cercam seu invento?” perguntou um jornalista da Domenica
dei Corriere.
— "Quando o homem tiver aprendido a agir dentro do
senso do bem!” respondeu o Pe. Ernetti. “Nada senão visando
o bem!”
Nestas condições, e como diz o bom senso popular: "Só
mesmo no dia de São Nunca!"
288
ENSAIO DE MITOLOGIA FRANCESA
Capítulo XIX
289
tória legendária pela invasão de uma religião estrangeira, o
cristianismo, de um deus forasteiro, Jesus, e de dogmas sectá
rios, abusivos e sacrílegos.
Os países que são os mais cristãos — a França, a Espanha
e a Itália — e que deveriam ter as mitologias mais ricas e pito
rescas, nada disto possuem e se prendem ao longínquo passado
dos ancestrais por meio de lendas ou tradições gregas, escan
dinavas ou irlandesas.
Nas universidades se ensina a mitologia grega e nas esco
las cristãs, a dos hebreus.
Revoltar-nos, pretender que somos celtas, que nossos deu
ses antigos tinham nomes como Teutatés, Esus, Lug, Cemudos
etc., constitui abominável heresia que outrora conduzia à fo
gueira.
Em Éfese, São Paulo fez com que se queimasse uma bi
blioteca inteira contendo livros científicos onde, contrariamen
te à palavra de Deus, se dizia que a Terra era redonda e que
girava em torno do sol.
No século VII, monges irlandeses ignorantes queimaram
como “demoníacos” dez mil manuscritos rúnicos, de valor
inestimável, que se referiam à civilização céltica.
Em 490 os cristãos incendiaram a biblioteca de Alexan
dria e em 789 Carlos Magno interditou o culto pagão e ordenou
a destruição de todo objeto ou documento que com ele se
relacionasse.
Quase toda a história da humanidade soçobrou nessas
aventuras mais assassinas do que as invasões dos bárbaros e
que as guerras de conquista.
Eis porque os povos cristianizados — franceses, espanhóis
e italianos — foram amputados dos seus avoengos e não pos
suem uma mitologia nacional.
Mas o passado quer ressurgir e chegaram os tempos em
que a verdade deve vir à tona nua e límpida, nem que fosse
para soltar gritos de horror contra os tartufos e os falsos
devotos.
Embora tenha escapado à atenção dos historiadores, hoje
em dia a lenda da Melusina impõe seus títulos de valor e
proclama seu direito de entrar na mitologia céltica.
Mais ainda, ela se define como sendo a própria essência
da nossa mitologia celto-gálica ou, para sermos mais precisos,
do povo que há 5000 anos habitava o nosso país.
290
O TEMPO DO SONHO
291
Nisto podemos ver então anjos vindos do céu, quer dizer,
de outro planeta, com o fito de criar a vida humana sobre a
Terra.
Os anjos, esses “forasteiros na Terra” que se tomaram os
Iniciadores, os heróis antigos, os deuses, enfim — é que deram
origem a um politeísmo.
Era o que afirmávamos em 1962 como tese, em nosso pri
meiro livro, vários anos antes que um plagiário muito mais
rico em falta de delicadeza do que talento se apropriasse da
idéia e desavergonhadamente escrevesse "meus Extraterres
tres”.
Cumpre ademais que se frise que 2400 anos antes de nós
e de nossa pobre prosa, um Iniciado, o filósofo grego Evêmero
(século IV antes de Cristo), disse e escreveu que os deuses
da mitologia tinham sido simplesmente seres humanos, deifi-
cados pelos povos dados e propensos à admiração.
Foi o caso de Atenas e Roma, com Safo, Platão, Petrônio,
com imperadores e com homens ilustres.
Ainda em nossos dias o mesmo fenômeno exaustivo se
aplica com as personalidades em evidência ou verdadeiramente
eminentes.
A atriz Greta Garbo, apesar de muitas outras estrelas, foi
chamada a Divina; um culto foi celebrado em homenagem ao
ator Rudolph Valentino, que teve seu apogeu de glória por
volta de 1927. A bela dançarina nua Colette Andris em 1939
era adorada por fãs.
Em alguns templos do Daomêi, em 1950, eram prestadas
honras divinas às fotos da francesa Lídia Bastien, heroína do
Paris-secreto do pós-guerra.
A partir de sua morte, ocorrida em 1970, o General de
Gaulle foi divinizado em seu próprio país.
O corredor ciclista Fausto Coppi, quando em vida teve fãs,
verdadeiros crentes fanáticos.
Para dizer a verdade, como sói acontecer com as compa
nhias de honra de nosso século, “a Ordem da Divinização”
era monopolizada principalmente pelos tiranos, pelos poten
tados, pelos mercantilizadores da matéria e do pensamento.
No começo do século III da nossa era, o geômetra, astrô
nomo e sábio médico Sexto Empírico2, que não se deixava
292
sequer contar entre o número dos moralistas, afirmava que
Evêmero tinha em seu poder relações de fatos autênticos e
muito antigos pois, escrevia ele, “datavam de uma época em
que aqueles que sobrepujavam os outros em força e habili
dade os haviam obrigado a submeter-se às suas vontades e
depois, com ambições mais elevadas, julgaram-se dotados de
faculdades sobrenaturais, de tal modo que muitos homens os
tomaram como objeto de seu culto".
EVÊMERO, O ATEU
AS ILHAS FLUTUANTES
293
Uma dessas ilhas produzia bastante incenso que dava para
alimentar os altares de todos os templos do mundo.
Panchaea era o país onde nascia e renascia o fênix (o país
de Cousch, ou Etiópia, ou Arábia meridional segundo Heró-
doto).
Nenhum geógrafo conseguiu identificar essas três ilhas e
queremos crer que Evêmero outra coisa não fez senão relatar
esta história baseado “no livro dos sacerdotes egípcios que
haviam falsificado a Tri-Cuta* mítica dos hindus, dando-lhe um
caráter de realidade”.
"Da mesma maneira que Hecateu situava os hiperboreanos
na Bretanha, em frente à Gaule, assim os egípcios pareciam
ter fixado as ilhas Flutuantes do Oriente e de ao dogma geral
de um triplo eliseu terem acrescentado hieróglifos e outras
particularidades derivadas de sua opinião e de seus costumes.”
Hoje em dia estamos muito menos seguros da inexistência
dessas Ilhas Flutuantes do Oceano Índico, rivais das Ilhas
Afortunadas da Atlântida, de vez que acreditamos em convul
sões geológicas submarinas capazes de tragar tenas à tona
d’água, tanto no Oriente como no Ocidente.
294
outro planeta, como foi o caso com os venusianos Viracocha
e Quetzalcoatl?5
Saturno e Júpiter, como também Urano, teriam sido anti
gos reis ou heróis.
Estas idéias não eram novas na Grécia, onde muito antes
de Evêmero, no século VI antes de Cristo, o historiador e geó
grafo Hecateu de Milet dizia que o Géryon de Erítia dos doze
trabalhos de Hércules era realmente um rei do Epiro, possui
dor de ricos rebanhos; e que Cérbero, o cão do Hades, deus
dos Infernos, era uma serpente que habitava uma caverna de
Tênare, na Lacônia, lugar este que os antigos julgavam ser a
entrada e o império infernal.
Em tempos mais recuados ainda, no século VIII antes de
nossa era, Hesíodo escrevera que Géryon era muito simples
mente um homem possuidor de uma força extraordinária ou
quiçá um rei poderoso.
O historiador grego Éforo, no ano 400 antes de Cristo,
fazia do gigante Títio6 um salteador e da serpente Pitão um
personagem odioso chamado Pitão ou Draco, que matou o
herói Apoio.
Ora bem, acontece que o legislador ateniense Draco (ca.
624 antes de Cristo) era um reformador íntegro e genial, mas
de uma retidão inflexível.
Punia de morte toda falta contra as leis (as leis draco
nianas).
Segundo Estrabão, este Títio era o tirano de Pânopa ou
Fócides.
De acordo com revelações feitas por sacerdotes egípcios,
Heródoto conta a estranha história que existiu no começo dos
oráculos da Líbia e de Dôdona.
O de Dôdona, no Epiro, era o mais antigo da Grécia e o
único que fora conhecido dos Pelágios, ancestrais dos gregos.
A tradição afirmava que duas pombas pretas vindas do
Egito haviam parado uma em Dôdona e a outra na Líbia, onde
deram ordens para que se instituísse um culto a Júpiter.
5 — No Peru, Manco Capac, o primeiro inca, dizia que ele era o filho
do Sol e da Lua.
6 — Titia ou Títio, o filho de Gaea, quis violar Latona e por isso foi
morto a flechadas por Apoio e Diana e jogado nos infernos onde
dois abutres lhe devoram eternamente o fígado.
295
Heródoto, como aliás Evêmero, desenterrou esta lenda e
após pesquisar, concluiu que se tratava de duas sacerdotisas de
Tebas (Egito) que, levadas como escoavas ao Epiro e à Líbia,
instituíram ali um culto e cerimônias análogas àquelas que se
praticavam em seu país de origem.
Homero garante que essas pítias eram homens; Estrabão
e mais tarde Scaliger, no século XVI, são da mesma opinião.
Não obstante, é provável que a sacerdotisa de Dôdona
fosse uma druida vinda de Gaule, o que explicaria o nome
de pomba conservado pela tradição: as antigas pítias dos
deuses que se chamavam peleiadés, que significa também:
pombas.
OS CARVALHOS DE DÔDONA
296
minado por velas e com um sacerdote vestido de paramentos
litúrgicos predispõe em nossas igrejas e em nossas catedrais
o espírito dos cristãos que imaginam Deus particularmente
presente entre eles nesta morada que lhe é consagrada.
OS FALSOS DEUSES
A LENDA DE MONTMARTE
297
Evidentemente esta última etimologia não resiste ao exa
me, porquanto o monte Marte existia muito antes de São Dênis
(272), mas ela geralmente prevalece sobre as outras.
Pensou-se também que o monte parisiense teria uma re
lação com a marta ou matre, carnívoro muito raro na França
e que gosta de habitar as florestas de pinheirinhos e os
bosques, ricos em pássaros e em pequenos mamíferos7.
A verdadeira etimologia é muito mais linda, mais fasci
nante e mais fantástica do que aquelas impostas pelas Con
jurações.
Na mitologia pré-céltica, as martas eram uma espécie de
Amazonas ou de Bacantes — talvez sacerdotisas ou demônios
em forma de mulher — que freqüentavam os campos.
Altas de estatura, lindas, bastas cabeleiras louras, anda
vam sempre nuas, com os peitos orgulhosamente pontudos
quais “escudos de amor”.
Posteriormente enfeiaram-nas, com as mamas compridas
e flácidas que lhe deram.
As martas, escreve S. de Beaufort, inspiravam o maior
pavor aos agricultores, os quais elas perseguiam aos gritos de:
“Olha a teta, ó trabalhador!” e jogavam suas mamas por
sobre seus ombros.
O perfil dessas mulheres, por toda parte idêntico, sua
moradia na proximidade dos dolmens que trazem igualmente
o seu nome8, inclinar-nos-iam a pensar que as martas seriam
as sacerdotisas "que praticavam sacrifícios com erotismo e
sangue, cuja vítima muitas vezes talvez fosse o pacífico traba
lhador”.
Em Poitou-Charentes, onde as tradições conservaram ainda
um caráter vivo, as Martas, contava Augustin Bobe9, eram ao
mesmo tempo bacantes, dríades e feiticeiras hábeis em me
dicar as feridas e curar as doenças.
298
Com efeito, parece que elas eram sacerdotisas curandei-
ras, que oficiavam ou nos bosques ou nos dolmens ou perto
dos menires geralmente levantados nos cumes das colinas.
Em datas sagradas procuravam também as ervas medicinais
cujas propriedades conheciam, dedicavam às correntes telú
ricas, às forças da natureza e aos menires fálicos um culto
impudico análogo àquele prestado a Anaítis entre os armônios
e os lídios.
Peritas na arte do amor, dizem que as Martas foram as
causadoras primeiras dos poderes atribuídos às pedras, que
tomavam fecundas, aos menires furados.
Durante a noite, quando crises e transes em que as mer
gulhavam as bebidas alucinógenas e sem dúvida afrodisíacas
que elas sabiam preparar10, ficavam desvairadas e iam à
busca de um macho capaz de saciar seus delírios.
É provável que o comércio carnal com elas nesses momen
tos não deixava de oferecer perigo, pois temos delas memó
rias de bacantes insaciáveis e cruéis.
A lenda, de permeio com a realidade pouco conhecida, diz
que elas sabiam metamorfosear-se em animais terríveis ou
assumir formas medonhas e espantosas.
Talvez obrigassem os homens que capturavam a tomar
as suas beberagens.
Albert Goursaud as vê sob o aspecto de “ demônios-mulhe-
res da ordem inferior, que a mitologia germânica designa sob
o nome de mahr e cujo tipo mais conhecido é o cauchemar
(em francês = pesadelo; em alemão = Nachtmahr)”.
A. Goursaud estabeleceu um paralelo entre os chaucho-viei-
Iho do Limousin, cujo nome composto explica os procedimen
tos das criaturas que durante a noite penetravam no quarto de
quem estivesse dormindo e “se deitavam sobre ele até cobri-lo
completamente e sufocarem-no, quando não tinha mais nem
jeito e forças para se desvencilhar do algoz”.
É possível que estas martas legendárias tenham engendra
do a crença popular das fanetes ou fadetes que, segundo J. de
299
Sazilly e o Dr. Clancier-Gravelat, tinham um busto de mulher
e pernas de cabra.
LUGARES PREDESTINADOS
300
O sarcasmo de Suburo era temido pelos quarteirões ele
gantes, como o jargão de Montmartre o era de Paris.
Era em Suburo como em Montmarte que campeavam a
ralé.do povo, os lupanares, os depósitos e mafuás de objetos
roubados e onde os gangsters da época sabiam que encontra
riam um esconderijo.
A imperatriz Messalina costumava ir a Suburo apagar
seus ardores amorosos com os gladiadores e os maus rapazes.
Também em nossos dias a alta burguesia de Paris e os peque
nos burgueses gostam de ir a Montmarte para farrear e em
briagar-se também com bebidas tão alucinógenas e afrodisía-
cas, como aquelas que eram preparadas pelas martas.
Os americanos chamam de Pigalle: pig alley (alameda dos
porcos) e, se admiram suas lindas mulheres novas, quando
com elas têm “assunto” experimentam a sensação que outrora
se atribuía às martas insaciáveis do Limousin e do Poitou-
Charentes.
O verdadeiro nome do cerro parisiense é sem dúvida Mont
marte.
301
De vez que os primeiros reis egípcios eram "divinos”,
deve-se pensar que os símbolos voadores atribuídos à sua qua
lidade de iniciadores tinham uma interferência ao mesmo tem
po com o espaço aéreo e com o conhecimento.
Nossa cultura e os acontecimentos que dominam o século
XX nos fornecem então a chave provável deste mistério ale
górico, desta fábula mitológica: Iniciadores vindos num enge
nho voador fizeram explodir a civilização do Nilo na época
arcaica que se seguiu ao dilúvio, há cerca de 10.000 anos.
Vinham esses forasteiros de um outro planeta? Há mar
gem para se supor isto, talvez meditando e refletindo na afei
ção particular que os egípcios têm pela estrela Sotis (Sírio)13
e pelo uréu sagrado.
AS MITOLOGIAS E AS CONVERGÊNCIAS
302
A vítima ou, se preferimos, o protagonista da história era
Asar, chamado de Osíris pelos gregos, que foi crucificado e
lacerado por seu irmão Set (ou Tifão)15.
Certamente os espíritos medrosos ou escravos das supers
tições religiosas jamais aceitarão ir além do sentido literal
das fábulas mitológicas, e no entanto o Gavião Divino da Sra.
Ruspoli é um livro de iniciação, no sentido próprio da palavra.
Nele se fala muito do Amenti (o Ocidente, o país dos an
cestrais mortos), o qual não consiste mais — como para os
egiptólogos superados —» no oeste do antigo Egito, ou seja a
Líbia, mas sim uma região muito mais ocidental e longínqua:
o país de Asar e dos povos arianos da antiga Ásia, isto é, da
Europa central16.
Naturalmente, a aventura nos leva em direção a Tulis,
Tulé, Tula ou Tulan-Zuiva, onde os maias iam procurar seus
deuses, pois a mitologia egípcia está direta e fundamentalmen
te ligada àquela dos celtas e dos maias.
Toda mitologia é impenetrável para quem quer que lhe
desconheça os princípios diretores e os arquétipos de todas as
outras mitologias.
O Conhecimento é um fenômeno, uma faculdade de sín
tese, que tem como base a cultura, a experiência, o bom senso,
a honestidade, a pesquisa e a inspiração.
No que se refere ao Egito e aos seus mitos maravilhosos,
podemos operar esta síntese, lendo Marthe Ruspoli e Mar-
celle Weissen-Szumlanska, iniciada e erudita, e principalmen
te Eugène Beauvois que, mais e melhor do que qualquer outro
historiador, soube ressuscitar nosso passado ocidental em li
303
vros que hoje em dia infelizmente são difíceis de se encon
trar17.
Citamos estes autores, pois cremos que somente eles sou
beram se haver bem no labirinto das mitologias e da história.
304
do dilúvio encontrado nos textos das pirâmides de Saqqara
(IIIa dinastia), do Jardim do Éden, da Terra Escolhida de
Amente, da árvore da vida do rei Pepi (VI.a dinastia — 2280
antes de Cristo).
Os Papiros de Ani e de Hunefer chamam Osíris de "Se
nhor de Justiça (Maat), Senhor santo”; falam da serpente hu
mana Sata dos Filhos das Trevas, da Paixão de Osíris depois
de uma ceia no decurso da qual “o Rei distribuiu o pão e as
carnes consagradas em seu nome de Senhor do Alimento Di
vino.”
Este Senhor santo passou então sua taça a cada um (a
Traição, pág. 6, conforme o Papiro de Ani, cap. XVII e Pirâ
mide de Teta, 214, ed. Maspero).
"Osíris conhece a sua hora e sabe que viveu seu período
de vida... Osíris tem medo. Osíris sente pavor em andar nas
trevas... Aqueles que querem se ver livres de mim e fazer-me
mal são os filhos das trevas, diz ele..(Pirâmide de Unas,
linha 19, ed4. Maspero, e Papiro de Hunefer, cap. XVII).
"Pai de Osíris! Ha Tum nas trevas! Toma Osíris a teu
lado” (Pirâmides, 1265-1266, ed. Mercer).
Depois, quando “o Inimigo” vem para prender o Messias
egípcio, Osíris diz:
"Eu sou vosso Senhor. Vinde e tomai vossos lugares em
minhas fileiras. Eu sou o filho do vosso Senhor e vós me per
tenceis por meu divino Pai que vos criou.. . Eu sou o Senhor
da Vida” (Papiro de Nu, cap. XL).
É exatamente o que iria dizer Jesus, filho do Senhor Pai,
2.300 anos mais tarde!
Ao mesmo fundo comum pertence o tema do Bhagavata
Geeta, Evangelho, Boa Nova anunciada ao mundo há mais de
dois mil anos por um deus que se fez homem: Krishna18.
“Krishna veio à Terra para apagar os pecados da idade de
Kali (idade do ferro), para tomar sobre seus ombros o ônus
dos pecados que esmagam a humanidade.
Cumprida sua missão, retornou ao céu, mostrando desta
maneira o caminho àqueles que lhe são devotados19.”
A CRUCIFICAÇÃO DE OSÍRIS
A Sra. de Ruspoli tem o mérito de ter sabido retirar dos
manuscritos e dos papiros egípcios os traços essenciais que
305
dois mil anos mais tarde deviam servir de arquétipos para a
Operação Jesus20.
No capítulo LVII do Papiro de Hunefer lemos: "Oxalá
minha carne e meus membros não fossem cortados com gol
pes de faca! Oxalá não fosse eu flagelado!” (Jesus foi flage
lado).
No capítulo L e XLII do Papiro de Nu encontramos: "Oh!
Fortificai-me contra os assassinos de meu divino Pai! Nin
guém me puxará pelos braços! Ninguém me agarrará violen
tamente pelas mãos!” (Jesus implorará a seu Pai e será mal
tratado da mesmo maneira).
Em Papiro de Ani, pl. 32: “As mãos de Osíris (Ani) são
as mãos de Ba-neb-Tatu” (o carneiro, Senhor do Patíbulo:
Jesus é o cordeiro pascal).
E exatamente como Jesus o será, Osíris é crucificado so
bre uma forca formada de um tronco de sicômoro sobre o qual
foi disposta uma prancha em sentido horizontal. A cruz do
suplício de Osíris se chamava tat.
306
Texto das Pirâmides, linha 964, ed. Mercer: "Pepi vem a
ti, Osíris! Oxalá enxugue ele teu rosto!" (repetido quatro ve
zes). E, quando prestes a morrer, o deus murmura:
OS MITOS E JESUS
307
O IMPERADOR JULIANO
308
Quanto a mim, confesso que esta história é tão fabulosa
quanto a outra23.”
Juliano explica então que a mitologia não deve ser toma
da em seu sentido literal:
"Contudo, existem casos em que a forma alegórica do pen
samento pode ser admissível, em vista de um fim útil, a fim de
que os homens não sejam obrigados a recorrer a tuna explica
ção estranha, mas que, instruídos pela própria fábula, lhe pe
netrem o sentido misterioso e que, guiados pelos deuses, de
sejem prosseguir com mais entusiasmo em suas pequisas”24.
309
Capítulo XX
310
de alienação mental que ainda encontramos em nossos dias, de
forma atenuada, na expressão: “vous rêvez (vós delirais, dis
paratais).
Possíveis etimologias: da velha palavra desver (do la
tim deviare), que quer dizer “afastar-se do caminho"; ou do
latim repuerare, cujo significado é "tornar-se criança”; ou do
grego rembein que significa “virar", “errar”, “aventurar”; ou
do gálico rabhde: disparatar.
André Bourguenec apresenta uma explicação, válida so
mente para a língua francesa, mas que se integra curiosamen
te no misterioso desconhecido do fenômeno.
“Rêver é um palíndrome; lendo-se tanto da direita como
da esquerda a palavra comporta um elemento central que é
Eve: R-EVE-R, simbolizando o retorno à Eva original, à fonte,
ao manancial do saber.
Fazer rêver a palavra somme, sugere memos, a memória,
a lembrança.
Os sonhadores, os poetas, os pesquisadores de idéias se
riam então sumidades do conhecimento, fazedores de somas
sobre todos os planos, pois remember ou mémoirer significa:
repor os membros, reconstituir.
É justamente este o sentido que os primitivos da Austrá
lia davam ao sonho: a faculdade de reconstituir, de reencon
trar a verdade antiga.”
A grande força dos celtas, escreve Jean Markale2, tem sido
e continua sendo o mito... o qual não é forçosamente falso ou
verdadeiro, real ou irreal. Mas, quando existe mito, existe ne
cessariamente realidade cultural complexa.
“As mitologias são a expressão tardia das visões do mun
do que os primeiros homens contemplaram”, dizia Rudolf
Steiner. Sem pretender ressuscitar a gênese, as lendas da Fran
ça trazem clarões precisos sobre os piocessos mentais dos nos
sos antepassados que "sonhavam” ao mesmo tempo com o seu
passado prestigioso e com suas imagens-desejos.
Elas servem-se de aparatos grandiosos, de proezas de per
sonagens fabulosos e de fatos expressivos onde o sonho, a ma
gia, o impossível e a viagem no tempo e no Outro Mundo im
pregnam e embebem a realidade, com o cuidado latente de ex
primir o que vai no fundo da alma céltica, a abnegação, o sen
tido do gratuito e do cavalheiresco.
311
E’ aí quase sempre se grava como urdidura e cenário de
fundo a nostalgia de um país maravilhoso, estranho ao nosso
mundo, onde todos os milagres são realizáveis3.
Sob este prisma, se nossos ancestrais “sonharam ” com a
lenda de Melusina, é porque a sua história estava inscrita nos
seus cromossomos-memória e marcada com o sinete de uma
realidade fantástica.
312
Era filho da Deusa Mãe dos celtas: Danu, Donu ou Dôn
(que deu seu nome aos rios Don e Danúbio) e sem dúvida há
que identificá-la com os deuses civilizadores Gwydion, Ógmios
e Odin, cuja origem misteriosa permite supor que viessem de
um país estranho ao planeta Terra.
Muito embora não fossem os deuses da criação, compor
tavam-se como biologistas que teriam atuado para criar seres
humanos partindo dos vegetais. De qualquer maneira, uma ex
periência científica!
Lug — o Apoio dos galenses e dos irlandeses — é filho de
Arianrod, a filha única da Deusa Mãe, e é curioso notar que
Arianrod significa “roda de prata” ou, diz-se ainda, “roda
ariana”.
Uma roda que evoca aquela de Ezequiel e os engenhos
voadores em forma de disco ou de roda que, na mitologia hin
du, transportaram nossos primeiros ancestrais do Céu à Terra
pelo caminho de Ariamã”.
Sem crer no mito atual dos discos voadores, é preciso
contudo reconhecer que engenhos extraterrestres com a mes
ma forma, com idêntica aparência desempenharam, na Anti
guidade e entre todos os povos, um papel eminente e pode
riamos mesmo dizer primordial, pelo fato de esses engenhos
estranhos estarem sempre ligados a uma vinda de Iniciadores
e à eclosão de uma civilização muito mais avançada.
313
De acordo com opinião dos exegetas modernos, este re
lato, de resto pouco claro, se não sabe a bruxaria pelo menos
dela tem certos eflúvios, e a nuvem do Senhor parece ribom
bar como um engenho de reação!
Ora, no século XX não se crê mais num Deus que con
versa face a face com um humano e que desce do Céu à Terra,
encastelado numa espessa nuvem!
A esta imagem de Epinal os nossos espíritos evoluídos
reagem, quer negando a autenticidade do fenômeno quer subs
tituindo Deus pai por um cosmonauta e a sua nuvem estron-
deante por uma nave espacial.
Pois bem, as mitologias do País de Gales e da Irlanda
afirmam:
“Sabemos que a irradiação do rosto de Lug é tal que ne
nhummortal lhe pode suportar a vista"5.
Esta coincidência entre o Senhor Javé-Jeová, iniciador
dos hebreus, e Lug, iniciador dos celtas, é acentuada pelo fato
de que um traz uma lei gravada em tábuas de pedra e o outro
o conhecimento da escrita ogham.
Tanto um quanto o outro tem a sua aventura misteriosa
ligada a um fenômeno celeste, tenha sido a sua origem extra
terrestre ou tenham eles recebido instruções ou uma missão
de Mestres estranhos ao nosso planeta.
A VERDADE CHEIRA A BRUXARIA
A história oficial nunca ousou abordar o problema, nunca
explicou porque os incas, os mexicanos, os fenícios e os assí-
rio-babilônios tinham tido deuses que representavam o pla
neta Vênus ou que eram venusianos6.
Incontestavelmente o problema toma a dianteira dos his
toriadores e ultrapassa-os ou mete-lhes medo, pois arriscaria
aclarar o passado com uma luz com demasiada claridade de
efeitos de feitiço para seu gosto de pessoas bem-pensantes.
Positivamente, a história oficial é sempre comerciada ili
citamente em proveito das religiões, pois importa antes de
tudo deixar que os verdadeiros deuses, os verdadeiros Inicia-
dores não consistiam num incerto Moisés, Javé ou num Jesus,
mas eram homens superiores que temos boas razões em crê-los
vindos de um outro planeta.
314
E esse planeta, que se chama Vênus, é particularmente
detestado pelos homens e pelos cristãos.
É proibido falar em Deus ... principalmente se se trata
do verdadeiro!
315
A tradição diz que Apõlo "todos os anos no final do
outono ia para além dos montes Rifês onde reina o impetuoso
Boreal, em direção do país misterioso dos hiperboreais. Lá,
sob um céu perpetuamente luminoso, vivia numa felicidade
contínua um povo de homens virtuosos, consagrados ao culto
de Apoio”8.
Também sua mãe Latona, ou Leto, era originária do vale
do Tempé, em Hiperboreal.
Estas tradições não representavam uma versão mais ou
menos acreditada, mas a própria expressão de todos os povos
do mundo conhecido que habitualmente chamavam Apoio de:
o Hiperboreano, isto é, o Nórdico.
Então, por força de que aberração puderam identificar
este deus com o Sol (Hélios), quando seria antes o símbolo
contrário, que se retirava da estação fria, não rumo ao norte
e sim para o sul, lá onde não brilha no inverno9.
E ademais, “Sol hiberboreano” não faz sentido, o que é
preciso reconhecer!
Mas então, quem é Apoio?
Como já dissemos, seu nome evoca uma imagem de cla
reza e “daí seus sobrenomes de Phoíbos: o Brilhante; de Xan-
thos: o Louro; de Chrysocomés: a cabeleira de ouro.
Em suma, ele se parece bastante — para não dizer com
pletamente — com Belisama (parecida com a mulher), com
Vênus "com guedelhas de fogo!”
Não seria a Estrela, tão detestada dos hebreus? No Da
núbio lhe davam o nome de Belenus: o Esplêndido, e na Grã-
Bretanha: Balan, Balin, Belinus. Era o Belin dos gauleses, o
Granus também muito provavelmente, o bala (Bala-Rama)
dos hindus, e o Osíris dos egípcios.
Henri Donteville nota10: “A identidade de Apoio se esta
belece em Aquiléia na Veneza onde cinco vezes, de acordo
com o Corpus de Mommsen, inscrições levam Apollini Be-
leno..
316
Por conseguinte, podemos considerar este ponto como pa
cífico: Apoio era Beleno, o paredro, esposo, irmão ou compa
nheiro de Belisama, a iniciadora venusiana “parecida com a
mulher”.
E este Brilhante, este cabeludo dourado, é o Baal dos fe-
nícios, o Bel dos assírio-babilônios e a "Grande Estrela” ou
“Estrela Brilhante” dos povos americanos.
Em resumo e para concretizar o nosso pensamento, Apoio
era a representação do planeta Vênus, o que assenta perfeita-
mente com o tema das outras mitologias.
Com Apolo-Sol, a mitologia ocidental não passa de con-
tra-sensos e divagações. Com Apolo-Vênus, tudo se esclarece,
imbrica-se, toma-se lógico e luminoso.
317
beauty etc.11, mas podemos pensar que por assimilação de
idéias — como se diz de uma pessoa gentil: ela é um "quin
dim”, ela é um “coração” — esta palayra devia representar um
ser, uma coisa ou um deus particularmente agradável de se
ver. E aqui pensamos no belo Apoio, em Bel, em Belin.
A hipótese é tanto mais aceitável se levarmos em conta
que no velho francês a primeira forma de "beau" era bel,
para o masculino: Bel sire reis (belo Senhor rei); bel fut li
vespres (bela foi a tarde).
Encontramos outro respaldo para a nossa hipótese na
sanha a que os hebreus e os cristãos se entregaram no sen
tido de lançar o descrédito sobre a Estrela (Vênus) e seus
representantes de rosto radioso: Bel, Baal, Belus e até o
pseudo-demônio Belaam "que insuflava nas mulheres desejos
desonestos”, que elas escutavam de boa vontade, pois Belaam
era irresistivelmente belo.
Na tradição, os venusianos têm sempre o privilégio da
beleza e não é por acaso que Vênus é o arquétipo neste gênero.
Lúcifer, encarnação da estrela do pastor (Vênus), ele
também tinha sua beleza subumana e os pastores romanos,
na data ritual de maio, lhe prestavam homenagem nas Palílias,
chamando-o de Pales ou Bal.
Permitimo-nos pois retomar a observação de Henri Don-
tenville, seguindo-a em seu sentido estético: "Os deuses sem
pre foram representados maiores e mais belos do que os
homens".
E de nossa parte ousamos acrescentar: porque eram ve
nusianos ou representavam o planeta Vênus.
Encarado sob este prisma, Gargantua, bilho de Belen, era
um gigante bom e belo de ascendência divina e venusiana,
cujo túmulo, no monte Tombe, atraía ainda numerosos pere
grinos no século de Carlos Magno11 12.
318
chuva e de gruta onde nascia uma fonte. Melusina, paredro de
Lug, fada de uma beleza sobre-humana — ela também sem
pre associada aos mitos da água, da gruta e da eterna juven
tude — é incontestavelmente parenta próxima de Vênus,
deusa da beleza, nascida da espuma do mar.
A fada Morgana13, a brilhantíssima, comprazia-se em an
dar pelas margens dos rios e dos cursos d’água, em voar em
sua superfície, a bordo de um barquinho puxado por animaisr
marinhos; sua morada era um palácio no fundo das águas,
pois ela era também ondina.
Arbois de Jubainville dizia-a "nascida do mar”; ela atraía
os pescadores bretões para a gruta imersa.
A fada Morgana do estreito de Messina, escreve Henri
Dontenville, no meio do verão fornece imagens derrubadas
de objetos invisíveis; certamente, ela é marinha ... exerce
suas influências um pouco antes do levantar do sol. Isto.é,
quando ainda brilha a última estrela do céu da noite: Vênus
lucífera.
O mesmo autor relata, segundo Leo Desaine, uma lenda
onde se reconhecem ao mesmo tempo os mitos de Melusina,
da água e de Vênus.
Um senhor havia trazido de um país distante uma cria
tura maravilhosamente linda que fizera sua esposa legítima.
Todos elogiavam seu belo rosto, seu porte flexível, suas
belas maneiras e sua elegância, mas estranhavam contudo que
ela vestisse sempre uma roupa comprida, luxuosa e que não
deixava ver suas pernas e seus pés.
Como o Redondin do Romance de Melusina, seu marido
havia feito um juramento solene de que jamais tentaria ver
seus pés e, da mesma forma como aconteceu com Remondin,
um dia a curiosidade falou mais alto.
O senhor espalhou em volta do leito conjugal uma camada
de cinza, pois desta maneira esperava conseguir uma marca
que lhe daria uma idéia.
Sua linda esposa tirou a roupa e, vestindo somente uma
longa camisa de dormir, dirigiu-se para a sua cama.
319
De repente soltou um grito enorme de dor e de deses
perança, pois acabara de pisar num carvão ainda ardente e
se havia queimado terrivelmente.
Assumiu imediatamente o aspecto de uma fada, lançando
uma maldição, e seu esposo descobriu na cinza o traço muito
nítido de um pé de ganso.
Em seguida o castelo se afogou nas águas e surgiu um
grande tanque d'água.
Talvez a lenda de Mesulina se sirva deste conto, mas mais
ainda dos arquivos das bibliotecas de Mehun-sur-Yàvres e do
Louvre.
Em Gervais de Tilbury se lê esta anedota: "Nas margens
do Arc, rio acima de Aix-en-Provence, o cavaleiro de Rousset
encontrou por acaso, uma tarde, uma fada que consentiu em
tornar-se sua esposa e desde então sua propriedade não cessou
de crescer.
Mas um dia, contrariando sua promessa, ele olhou sua
dama no baldio; ela tinha cauda de serpente.
Ela abandonou para sempre este homem desleal, cuja
propriedade desde aquele momento declinou14.
Essas morganas, essas fadas, essas ondinas, essas serpen
tes devoradoras de crianças, têm denominadores comuns: a
beleza, a gruta e uma deformação física com relação à água:
a pata de ganso ou a cauda de serpente.
Segundo autores antigos, Êlinas, o pai de Melusina, cha-
mar-se-ia Belinas, isto é: Belin, o venusiano.
Torna-se sempre a cair nos Iniciadores oriundos do pla
neta Vênus, com defeitos físicos que presumimos provocados
por tentativas mal sucedidas de hibridação entre casais de
raças diferentes, bem como envoltos em mistérios que pare
cem ter uma correspondência com aqueles de Elêusis cujo
nome atual de Levsina não deixa de lembrar Melusina. E
esses mistérios, estamos prestes a admitir, poderiam muito
bem encobrir um segredo que transpira por todos os poros das
tradições, das lendas e dos escritos sagrados: a origem extra
terrestre de nossa civilização.
320
Quando os examinamos analiticamente parece resultar
que o herói Remondin só participa ocasionalmente dos acon
tecimentos e que poderia ser substituído por Perceval, Ro-
land ou Huon de Bordeaux.
Assim despojada, a história pode então ser resumida como
segue: uma mulher excepcionalmente linda se entrega a uma
aventura em plena noite, perto de uma fonte, num bosque do
Poitou.
Esta heroína guarda um segredo, misturado a uma estó
ria de água, de tesouro e de gruta.
Ela dará à luz filhos monstruosos e um dia voará, embora
sob a forma de uma serpente com asas.
Eis portanto o essencial e tudo é possível, salvo o des
fecho: não conseguimos perceber como uma linda mulher,
por mais encantadora que seja, poderia metamorfosear-se em
serpente que voa!
Não damos crédito maior às outras serpentes voadoras
que povoam a mitologia: Quetzalcoatl, a deusa-serpente emplu
mada dos maias; Mertseger, deusa e serpente-abutre dos egíp
cios; a barca dita solar de Kamak, cujo caso é uma serpente
que voa de um horizonte a outro; o uréu sagrado inscrito no
frontão dos templos, representado por duas serpentes aladas;
Mardouk, dragão voador com cabeça de serpente dos assírio-
babilônios; a serpente com hélice dos fenícios, descrita por
Sanchoniathon; as Nagas, serpentes fabulosas da mitologia da
índia, e sereias e dragões voadores que abundam e campeiam
na maioria das mitologias15.
Essas serpentes representam sempre o engenho aéreo que
serve de veículo aos Iniciadores para descer do céu à Terra,
e via de regra se identificam com o próprio Iniciador.
Foi o que se deu também com os "anjos” alados da Bíblia.
Somos tentados a crer que a serpente voadora de Lusig-
nan pertence também a esta raça extraterrestre que, no pas
sado longínquo, teria vindo para nos hibridar e nos propor
cionar ensinamentos.
Se adotamos esta tese, então Melusina tomará outra di
mensão e assim todos os mistérios que a cercam ficarão ins
tantaneamente esclarecidos. '
321
Que fazia ela perto da fonte de Coulombiers onde Remon-
din a viu pela primeira vez? Visto que a água irá desempenhar
um papel vital em seu segredo — como desempenha um papel
essencial com todas as deusas-serpentes16, logicamente pensa
mos que Melusina devia estar dentro da água ou que pelo
menos chapinhava neste elemento que poderia muito bem
ser um elixir indispensável para conservar essa maravilhosa
e eterna beleza que era seu apanágio, mesmo depois do seu
oitavo filho.
Neste sentido, a Fonte do Saber jorrava uma água de Ju
ventude e Melusina recarregava nela o seu potencial de vida,
da mesma maneira como Orejana no lago Titicaca, como
todas as sereias de fascinante beleza no mar.
Haja vista que estas hipóteses, onde a fada-serpènte é uma
Iniciadora vinda de um outro planeta17, se integram notavel
mente no ciclo das mitologias já afirmadas.
Nesta conceituação, a aventura Lug-Melusina se situaria
há 5.000 anos quando se desenvolveram simultaneamente as
civilizações fenícia, assírio-babilônia, incaica e maia, sob o
signo das serpentes, dos carneiros ou dos touros alados e do
planeta Vênus.
Não queremos afirmar que a iniciação dos povos da Terra
foi feita por viajores extraterrestres, mas tudo se passou como
se assim tivesse sido.
Em nossos dias, quando americanos e russos desembar
cam na lua e se preparam para o assalto a Marte e a Vênus,
uma semelhante eventualidade não podia estar ausente de um
estudo lógico e racional.
322
A MITOLOGIA CELTO-GAULESA
323
Ao lado de Orejona19, de Quetzalcoatl, de Astart, de Ishtar
etc., Melusina — a formosíssima, a "licome maravilhosa” de
Remondin — constitui sem dúvida a iniciadora vinda de um
outro planeta (Vênus) e que com ele se identifica.
Esta identificação não chocará nenhum historiador fami
liarizado com as mitologias.
Desde o século XVIII inovadores, pioneiros da autêntica
história humana, aqueles que com mofa chamavam de “celto-
maníacos”, haviam tentado esclarecer seus contemporâneos
sobre a provável existência de uma mitologia nacional que até
então se confundia com aquela dos irlandeses e dos gauleses.
Rendemos nossa homenagem a esses precursores: Paul
Pezron, Simon Pelloutier, Jean-Baptiste Bullet, Caradeuc de la
Chalotais, Court de Gébelin, Latour d’Auvergne e Le Brigant
aos quais devemos acrescentar também: Michel Honnorat,
autor de La Tour de Babel et la langue primitive de la Terre,
e principalmente Henri Dontenville, presidente fundador da
Sociedade de Mitologia Francesa, do qual se torna indispen
sável ler La Mythologie Française, Les Dits et les Récits e La
France Mythologique20.
19 — Orejona: a Eva dos povos do altiplano peruano, mãe dos homens.
Segundo as tradições andinas e o padre Blas Varela, nos albores
da humanidade «uma astronave brilhante como o ouro» veio
pousar perto da ilha do Sol, no lago Titicaca (Bolívia-Peru).
Desta nave astral desceu uma mulher muito linda, mas que tinha
o crânio em forma de pão de açúcar, pés e mãos com quatro
dedos unidos por membranas e orelhas muito grandes, como as
têm os deuses da Ásia. Daí então o seu nome de Orejona (as
Grandes Orelhas). Provinha do planeta Vênus e gerou os primei
ros homens tendo como pai um tapir. Certo dia Orejona foi
embora em sua astronave e não foi mais revista.
Quetzalcoatl: deus iniciador dos antigos mexicanos, identificado
com o planeta Vênus.
Astart: deusa feniciana, antiga Afrodite, nascida de espuma do
mar. Representava o planeta Vênus.
Ishtar: deusa assírio-babilônica, representante do planeta Vênus.
20 — Pezron Paul, religioso da Ordem dos Cistercienses (1639-1706)
Antiquité de la nation et de la langue des Celtes (1703); Simon
Pelloutier (1694-1757), Histoire des Celtes, reeditada com o título
de Histoire des Celtes et particulièrement des Gaulois et des Ger.
mains, depuis les temps fabuleux jusqu’à la prise de Rome par
les Gaulois (Paris 1771, 2 vol.); Jean-Baptiste Bullet (1669-1775)
Louis René de Caradeuc de la Chalotais (1701-1793), Essai d’édu-
cation nationale; Court de Gébelin (1728-1784), Le monde primitif
analysé et comparé avec le monde moderne (1784). Histoire na-
turalle de la parole; Théophile Maio Corret de la Tour d’Auvergne
(1743-1800), o maior herói de nossa história, nascido em Carhaix,
autor de numerosos livros sobre o celtismo; Jacques Le Brigant
(1720-1804), La langue primitive conservée; Henri Dontenville,
La mythologie française — Les Dits et Récits, ed. Payot, La France
Mysterieuse, ed. Tchou.
324
LUSIGNAN, CAPITAL DOS CELTAS
325
Uma Academia Celto-Gaulesa está sendo fundada.
Finalidades dessa Academia: Pesquisa da identidade gau-
lesa, dar à França uma mitologia, pesquisar os vestígios de
nosso patrimônio nacional, fazer dele um levantamento, res
suscitar a essência e o espírito gaulês-francês.
Em caso de toda e qualquer, informação, favor escrever
para o Sr. Philippe Vidal, 13, rue Fernet, 94700-Maisons-Alfort.
326
MELUSINA
Capítulo XXI
MELUSINA
A SERPENTE ALADA
PRELIMINAR
1 — Jehan de. Arras teria ido inspirar-se para o tema desta história
no Melusina ou Livro dos Lusignan que estava guardado na bi
blioteca da Torre Maubergeon, em Poitiers.
Teve como precursores: Gervais de Tilbury (1153-1221) e Jean
327
De mais a mais, pensamos que o romance de Jehan d’Arras
— elaborado com notas recolhidas na corte do duque de
Berry ou tiradas dos manuscritos hoje desaparecidos — de
via ser completado por tradições locais inéditas e pelos pro
longamentos sugeridos pelo conhecimento do esoterismo e
pelas crenças do nosso tempo.
Este romance foi forjado em todos os seus atos ou re
pousaria ele numa base histórica digna de crédito?
Certamente numerosas lendas são invenções de poetas, de
moralistas ou muito simplesmente de narradores fantasistas;
mas aquela da Melusina se serve de um semelhante fundo
histórico, de esoterismo, de biologia e de fantástico; comporta
uma tão admirável interferência com as mitologias estrangei
ras, que se torna difícil pensar que esta entidade sábia e que
estas ocorrências exageradas (no sentido de numerosas de
mais) são fruto de um acaso feliz.
A interpretação que damos, respeitando ao máximo, por
necessidades de clareza, o estilo, os rodeios de frases e os
termos arcaicos, as repetições de palavras (maravilhoso, falso,
alto, grande, senhor etc.) e mesmo as ortografias diferentes
para o mesmo nome (Melusina, Melusigne), se afasta às vezes
do tema de Jehan d’Arras, mas pelo contrário se aproxima da
urdidura original, ignorada dos autores do século XIV.
328
O castelo de Lusignan no século XIII
329
O castelo de Lusignan, segundo um documento da época.
331
— Como vos aprouver, meu senhor, respondeu Remon-
din, descendo do cavalo. Depois foi juntar umas madeiras se
cas, e acendeu o fogo.
Longe, lá muito longe por sobre os montes ouviram-se
os cem sinos e campainhas das trinta e cinco igrejas de Poi-
tiers tocar o ângelus.
332
— Verdadeiros deuses, quão maravilhoso é tudo o que
existe aqui embaixo em tua acolhedora (servente) natureza e
diverso em seu destino quando tu espalhas a tua graça divina.
E como é maravilhosa esta aventura que eu vejo no curso
das estrelas que tu tens assentado lá em cima no começo do
céu por alta ciência de astronomia, cujo conhecimento me des
te, pelo que devo te louvar de coração perfeito.
Mas como poderia eu ser razoável, senão por teu invisí
vel julgamento, que um homem adquire bem e alta honra por
mal fazer? E no entanto eu vejo que é justamente assim, por
alta ciência e arte de astronomia e por tua santa graça a mim
conferida.
Remondim, que havia acendido o fogo, ao ouvir estas re
flexões respondeu com deferência:
— Meu Senhor, o fogo está aceso, vinde aquecer-vos.
Visto que o seu tio suspirava ainda mais forte, acres
centou:
— Oh! meu Senhor, por Deus do céu, expulsai vossos cui
dados. Não fica bem a um príncipe tão elevado atormentar-se
com semelhantes coisas, pois, Deus seja bendito, ele vos agra
ciou com altíssimos e nobres títulos e com posses de boa
terra.
Só depende de vós esquecerdes estes devaneios incertos
que não podem nem ajudar nem prejudicar.
“O conde teve um sorriso discreto, imperceptível mas gran
de, superior ao destino5.”
— Ah! louco, disse ele. Se tu soubesses a grande e rica
e maravilhosa aventura que eu li para ti no céu, tu ficarias
todo embasbacado!
Sem maldar, Remondin respondeu:
— Meu temidíssimo Senhor, por favor, queira revelar-me
o segredo, se é coisa que eu devo saber.
— Pelos céus, tu o saberás! Fica sabendo ao certo que
quisera que nem Deus e nem os homens te pedissem satisfa
ção disso, mas que a sorte te coubesse provinda de mim mes
mo pois doravante eu sou velho. Tenho bastante herdeiros
para os meus títulos e posses e eu te amo tanto que gostaria
333
que tão elevada honra te fosse destinada. Fica sabendo por
tanto o que eu li nas estrelas: se no presente momento um
vassalo matar seu senhor, ele tornar-se-ia o mais rico, o mais
poderoso, o mais honrado que jamais houve em sua linhagem
e dele nasceria tão nobre descendência que dela falariam e se
lembrariam até o fim do mundo. E fica sabendo que isto é
verdade!
— Então, respondeu Remondin, não posso crer que se
melhante profecia se realize, pois seria contra o bom senso
que um homem tenha tamanha honra em praticando uma
traição mortal. Por outro lado, neste instante e neste lugar
estamos somente nós dois; vós sois o meu suzerano e o meu
tio que eu amo e venero mais do que a meu pai; então como
poderia lhe advir por obra minha uma desdita?
— Está escrito no céu!
O VATICÍNIO SE REALIZA
334
Todos aqueles que me ouvirem me condenarão e terão
direito em matar-me com uma morte vergonhosa e com tortu
ra, pois traição pior e mais falsa jamais foi praticada por se
melhante pecador.
Terra, por que não te abres? Se me engoles e me colo
cas com o mais obscuro e o mais hediondo dos anjos que ou-
trora foi o mais alto de todos, bem o merecerei.
E, dirigindo-se ao conde que jazia morto, disse-lhe:
— O sr. me dizia que se tal acontecesse comigo eu seria o
mais honrado de minha linhagem. Mas eu vejo que é justa
mente o contrário, pois eu serei o mais infeliz, o mais deson
rado e certamente com muito justa razão.
Em seguida aproxima-se do seu senhor, beija-o piedosa-
mente em prantos e, recobrando ânimo, monta rápido o cava
lo e parte pela floresta onde andou errante até depois de meia-
noite, desgraçadamente, cheio de dor e desconsolo.
335
Então, agarrando as rédeas do cavalo, ela diz com firmeza:
— Vassalo, tu és muito orgulhoso e ingênuo por não cum
primentares gentis senhoras.
E como Remondin parecia sempre perdido em seus so
nhos, ela acrescentou:
— Senhor, estás tão despeitado que não te dignas respon
der? Pelos céus, creio que este senhor está dormindo em cima
do cavalo, ou então ele é surdo e mudo. Senhor vassalo, estás
dormindo?
Remondin teve um sobressalto, voltou a si e viu então que
aquela que lhe falava era de uma beleza tão pura e tão mara
vilhosa como jamais tinha visto igual.
— Mui querida senhora, disse ele, perdoai-me a injúria e
a vilania muito involuntárias, mas ficai sabendo que eu estava
pensando num assunto triste que me preocupa e peço a Deus
que me ajude para sair dele!
— Eis quem é bendito! Em todas as coisas devemos re
correr a Deus, mas depois do Senhor eu sou aquela que maior
ajuda te pode prestar e te ajudar a ir avante neste mundo dos
mortais no meio de todas as adversidades e mudar o malefício
em sorte.
Eu sei, Remondin, que tu mataste o teu senhor, mas isto
foi por acidente e tu não cometeste um pecado.
Quando o bravo ouve que ela o cita, fica tão pasmo que
não sabe mais em que pensar. Não obstante, ele acaba respon
dendo:
— Querida senhora, vós me dizeis a pura verdade, mas eu
me admiro como é que podeis sabê-lo e quem é que vo-lo teria
anunciado tão depressa! Seríeis vós feiticeira para ler assim
em meu coração? Sois vós criatura de Satã?
— Sei muito bem que tu pensas7 que eu sou um fantasma
ou obra diabólica ditada e feita por mim, mas eu te garanto
que eu sou da parte de Deus e creio em tudo o que uma verda
deira católica deve crer.
Se queres ouvir-me eu te tirarei de embaraços e te pres
tarei serviços tais que te farão rico, poderoso e honrado e de
ti surgirá estirpe tão nobre que dela se lembrarão até o fim
do mundo!
Muito perturbado, Remondin reconhece a profecia do seu
tio e, já subjugado pela bela criatura, pergunta-lhe o que deve
fazer.
336
— Primeiramente, é preciso que me ames! disse ela.
— Linda Senhora, sou do vosso agrado?
Arrisca-se então a olhá-la com prazer e fica tomado de
admiração.
Ela está vestida com traje de cores do junquilho e violá-
ceas, harmoniosamente dispostas; seus cabelos são dourados,
seus olhos de esmeralda, sua carne de mel e de leite. Nota
sobretudo seus pés que estão desnudos e burilados melhor do
que uma jóia mourisca, com suas formas encantadoras e deli
cadas melhor do que pétalas de rosa.
— Senhora, murmura ele maravilhado, jamais me foi da
do sonhar com criatura tão bela como vós. Como poderia eu
não vos amar?
— Pois bem, será preciso que te cases comigo1
— Isto será uma grande honra para mim!
— E mais ainda, ouve-me meu belo senhor, será preciso
que assumas o compromisso de que jamais duvidarás que eu
me conduza honesta e cristãmente, além de todo sortilégio.
— Senhora, farei lealmente tudo o que puder fazer. To-
mar-vos-ei por esposa diante de Deus numa capela, desde que
vós o decidais; mas, por favor, dizei-me o vosso nome.
337
Embevecido e subjugado pela Encantadora, Remondin ju
rou “por todos os riscos que na noitinha e à noite desse dia
jamais faria coisa que fosse em seu detrimento e que ele não
tomaria conhecimento de sua ausência, em nome de seu bem
estar e de sua honra”.
E eis que a sorte está lançada.
Doravante tudo vai se desenrolar de acordo com uma tra
ma inevitável e mágica, atuando os seguintes personagens:
Remondin, impulsivo e correto, é um herói da Idade Média;
Melusina, terna, submissa e sincera, mais linda do que a noite,
mais bela do que a luz do dia, mais formosa do que o reflexo
das estrelas sobre o oceano dos mares tenebrosos, entendida
em feitiçarias maravilhosas e benfazejas, pois ela é a fada de
um outro mundo; o conde de Forest, irmão de Remondin, cria
tura manhosa suscitada pelo destino para mexer com o curso
das aventuras no sentido diabólico.
O SEGREDO DE MELUSINA
Melusina é fada e quer tornar-se mortal para conhecer o
amor e a boa morte acalmante, sagrada, que põe fim à vida
dos mortais na Terra.
Mas ela cometeu um pecado com a cumplicidade de suas
duas irmãs: aprisionou seu pai perjuro “na montanha de
Northumberland, chamada Brumbeloys, na Albânia8, e sua mãe,
a fada Presina, condenou-a a sofrer um encantamento toda
noite de sábado para domingo. Contudo, ela poderá viver uma
vida humana se encontrar um homem capaz de amá-la e que
nunca procure sondar o segredo que uma noite por semana
a manterá sempre ligada à sua condição de ninfa e de fada.
Se o segredo for descoberto, então Melusina voltará a ser
para sempre fada.
Talvez tivesse ela, mais profundo e inacessível, um outro
segredo a esconder aos homens do nosso planeta, pois sua
origem efetivamente é desconhecida e num século condiciona
do pelas superstições teria sido imprudente reivindicar uma
procedência extraterrestre9.
338
Contudo, como a Orej ona venusiana dos meas que, a bor
do de um navio celeste, arribou outrora nas margens do lago
Titicaca nos Andes, assim Melusina se apresenta em plena Ida
de Média como uma iniciadora vinda de um outro mundo para
ensinar os terrícolas e, quem sabe, para tentar entre eles uma
experiência de integração de sua raça.
Ao inverso dos "anjos” do Gênese1011 , ela vai unir-se a um
bravo senhor terrestre com o fim de gerar filhos, não gigan
tes, mas uma nova humanidade de mutantes. No plano físico
e psíquico na Bíblia esta tentativa teve resultados que redun
daram no dilúvio e no fim do mundo.
Na história tradicional e esotérica contada pelos cronis
tas, Melusina é aparentemente uma fada e quanto a isto não
deixa nenhuma dúvida que entrega a Remondin duas varinhas
de ouro, uma para preservar de morte súbita por acidente de
arma e a outra para garantir sucesso em toda ocorrência de
negócios ou de combates. Em seguida ela dá conselhos sobre
a conduta a seguir, a fim de que tudo se passe da melhor ma
neira nos assuntos de seu interesse que de agora em diante
são comuns.
Remondin sobe no cavalo e retorna a Poitiers, "a bela
cidade, sólida, fina e linda em suas fortificações com muralhas
dominadas por seu castelo forte com arquiteturas superpostas,
com ameias e saliências colocadas umas acima das outras
entre as catapultas e as máquinas de arrojar pedras ...”
ENCANTAMENTOS NA FLORESTA
339
— Permita Deus, diz o conde Bertrand, que o meu bom
primo possa usufruir o quinhão que lhe concedo!
Mas acontece que um misterioso desconhecido vende a
Raymondin uma pele de cervo cortada em correias tão finas
que rodeia a montanha perto da fonte, no comprimento de
duas léguas!
Magicamente uma torrente começa a jorrar no domínio
e em menos de uma hora diveisos moinhos com asas mur
murantes aparecem nas colinas.
Quando estes prodígios chegaram ao conhecimento da
corte, causaram grande sensação e a condessa viúva dotada
resumiu a opinião de todos, dizendo a Bertrand, seu filho:
— Duvido se Raymondin não teve alguma aventura na
floresta de Coulombriers, pois ela é muito propícia para aven
turas e cheia de encantamentos.
— Creio que a Sra. esteja dizendo a verdade, apoiou o
conde de Forest12, e ouvi dizer que na Fonte do Saber foram
vistas muitas coisas estranhas!
Para grande estupefação do valoroso senhor, os prodígios
aumentam e se renovam: no começo é um "hotel” que surge
nos domínios, com um salão esplêndido, "maior do que aquele
do castelo de Poitiers, e uma grande corte com numerosos
senhores e senhoritas bem vestidas, com lindas cabeleiras
protegidas por lindos chapéus, e acompanhadas de es
cudeiros”.
Numa outra sala, “mais ampla ainda”, é servida a ceia,
opulenta, com uma criadagem numerosa, destra; uma orques
tra de bandurras, rebecas, baixos, violas e alaúdes deleita os
ouvidos com uma música de bom gosto.
— Meu bem, de onde vem tudo isto que se vê? pergunta
Remondin.
— Estes cavaleiros e estas senhoritas estão às suas or
dens, respondeu Melusina com um sorriso encantador.
— Vós não me direis nunca ccmo é que realizais estas
maravilhas ?
Então ela o encara com um sorriso grave, imperceptivel-
mente protetor e amargo, e diz simplesmente:
— Se tu queres saber, um dia — e eu por minha fé em
Deus não to aconselho — vai beber três vezes a água da Fonte
do Saber que abre os olhos e os horizontes dos espíritos.
340
Sim, é uma água miraculosa, feita para os fortes que
querem desafiar o Destino; mas, em nome do nosso amor,
eu te suplico: resiste à tua curiosidade masculina.
O CASAMENTO DE MELUSINA
Enfim, chegou o dia dos esponsais. Na memória dos
homens jamais foram vistas pompas tão faustosas, nem de
senhor, nem de rei nem de imperador.
Um cavaleiro com ar muito idoso, com ricas vestes gas
tas, porém esplêndidas na forma com uma cintura de pedras
preciosas e de pérolas em volta do corpo, recebe o conde de
Poitiers como se ele fosse o mestre dos lugares.
— Senhor, muito poderoso e nobre, a Sra. Melusina de
Albânia vos rende suas homenagens e vos agradece pela gran
de honra que prestais ao vosso primo Remondin e a ela por
virdes participar dos seus esponsais.
Todos os convidados têm à sua disposição aposentos mag
níficos, indumentárias extravagantes de escarlate para dis
traí-los e gentis senhoras para agradar os olhos.
O pavilhão da condessa viúva está todo enfeitado com
panos dourados e orlados de pérolas, esmeraldas e de ametis-
tas e a velha senhora está tão maravilhada que declara que
no mundo inteiro não se acharia rainha alguma, nem rei nem
imperador que pudesse mostrar tanta riqueza e que possuísse
a metade das jóias que Melusina trazia.
A quem se admira de tanto fasio, de tanta profusão
de maravilhas súbitas e acumuladas, o cavaleiro Antigo res
ponde:
— Minha Senhorita poderia fazer ainda muito melhor,
pois é só ela desejar e pedir!
A cerimônia foi celebrada numa capela com longos piná
culos, trabalhada como uma renda, que surgiu magicamente
na ponta rochosa da Fonte do Saber, "fazendo corpo com ela
e como nascida da própria pedra, a fim de dar-lhe um prolon
gamento e de projetá-la em direção ao céu”.
Os banquetes, as festas e os espetáculos sobrepujaram
em magnificência tudo o que se viu até esse dia!
Quando do torneio o conde de Poitiers, o conde de Forez
e os do Poitou causam admiração, mas os mais brilhantes
são os cavaleiros de Melusina e acima deles está Remondin,
todo vestido de branco e montando um cavalo tordilho13 de
uma fogosidade admirável.
341
Quando chegou a noite, depois de ter sido desvestida pela
condessa e sua filha, Melusina se deixa cair nas roupas do
leito nupcial onde sem tardança vem ter Remondin.
Foi nessa noite que foi gerado seu primeiro filho, o bravo
Urião que se tornou rei de Chipre.
A FADA CONSTRUTORA
Alguns meses depois destes acontecimentos foi vista che
gar à Fonte do Saber “grande leva de operários, escavadores
e carpinteiros e Melusigne mandou roçar o mato e arrancar as
grandes árvores e deixar a rocha pelada”.
Em seguida mandou vir uma multidão de pedreiros e can-
teiristas para lançar os alicerces, “tamanhos e tão resistentes
que causavam admiração. E fazia os operários tanto e tão
rapidamente, que todos aqueles que por lá passavam ficavam
pasmados. E Melusina os pagava todos os sábados, de modo
que nada lhes ficava devendo ... E ninguém sabia de onde
vinham esses operários e nem de onde eram. E em pouco
tempo foi construída a fortaleza, não uma, mas duas fortes
praças, antes de se chegar à torre.
E ficai sabendo que todas as três estão cercadas com for
tes torres salientes e as abóbadas das torres em forma de
ogivasH e os muros altos e com muitas ameias. E existem três
pares de cinturões altos e possantes e várias torres e ditos
cinturões. E há portas secretas formidáveis”.
Depois, uma vez concluídos os trabalhos da fortaleza, os
operários se foram como haviam chegado, a pé, a cavalo “ou
em carruagens compridas como as naves, de uma forma es
tranha, ignorada na região”.
“Jamais não existiu fortaleza mais forte nem mais linda,
mesmo mais tarde em Coucy, que aquela de Lusignan14 15”.
Os dias se passam, felizes e plenos das melhores venturas
para Remondin e sua maravilhosa esposa que ele vê cada dia
mais linda e que ama cada vez mais.
Foi nessa época que Melusina construiu as igrejas de
Poitou: Saint-Pierre-de-Melle, Limalonges, Cham, deniers,
Saint-Pompain, Fronteny-FAbattu, Clussay, Saint-Jouin-des-
-Marnes, Civray, Genouillé e a prodigiosa abadia de Charroux
342
onde numa só noite a floresta foi derrubada e a praça provida
de muralhas, torres, campanários e seus ornamentos adrede.
Na mesma ocasião ela mandou construir as duas torres
perfeitas da fortaleza de Niort e os castelos de Latour em
Mothe-de-Méré, Fontaine-Epinette, Crémault, Barbezière, Saint-
-Hilaire-la-Palud, Charrière, Benet, Moutiers-sur-le-Coy, Bru-
lain, Aiffres, Echiré, Chef-Boutonne e tantos outros ...
O TABULEIRO DE MELUSINA
343
Ela deu-lhe uma numerosa prole: Urião, o primeiro, um
belo rapaz de rosto curto, com um olho vermelho e o outro
verde; Odão, o segundo, bem feito de corpo, porém com duas
orelhas desiguais; Guyon, com um olho colocado em cima do
outro; Antônio, que tem uma unha de leão na face; Regnault,
que só tem um olho, mas excelente; Godofredo, dentuço; Flo-
rimundo com a mancha de toupeira.
O oitavo filho, Orubo, o mais estranho, com três olhos co
locados em forma de triângulo, é cruel e mata duas amas de
leite em quatro anos. Os dois últimos, Raimonnet e Thierry,
parecem completamente normais.
344
Então Remondin não se agüentou mais e um impulso irre
sistível e fatal o impeliu em direção à pequena porta baixa
da torre que conduzia ao retiro misterioso de Melusina.
345
A serpente alada tinha duas asas de morcego, uma cauda de serpente,
um carbúnculo sobre a fronte e a beleza das filhas de Vênus.
346
Certamente esta não é uma escadaria que leve a um re
tiro vergonhoso para qualquer adultério ou má intenção, mas
Remondin estava louco de ciúmes.
Conseguiu subir e eis que se acha frente a uma porta
“de madeira formidável, guarnecida de ferros enormes em
toda a sua largura" e sem nenhuma fechadura.
Remondin força este terceiro obstáculo mágico! com sua
faca consegue afastar as largas pranchas e, acionando inadver-
tidamente um misterioso mecanismo, vê-se jogado abrupta
mente dentro de uma sala ampla.
O SEGREDO DA TORRE
347
Era nesta torre que, segundo a lenda, estava o antro da fada-serpente
de Lusignan.
348
Numa grande bacia florida de íris negros e violetas21, lá
está Melusina completamente nua, linda e ainda mais linda
do que na primeira vez em que se encontraram; entretém-se
ela numa inocente ocupação: penteia sua longa cabeleira dou
rada, olhando-se num espelho de cristal, com o busto arquea
do, estonteante de perfeição e de encanto.
Mas, abaixo do seu busto que ele tanto amou e acariciou,
percebe Remondin a razão secreta da reclusão voluntária da
sua esposa querida: uma cauda comprida de serpente, com
escamas verdes, que dá um prolongamento ao ventre e aos
rins em forma ondulada.
A LICORNE MARAVILHOSA
Espantado, safou-se do perigo, evitando fazer sentir a sua
presença e, voltando ao castelo, por pouco não acaba com a
vida do conde de Forest, cujas calúnias tão pusilanimente
haviam quebrado a sua felicidade.
Remondin lhe vocifera:
— Fora daqui, falso traidor; por tuas falsas palavras
traidoras me fizeste cometer perjúrio contra a melhor e a
mais leal dama que jamais nasceu depois daquela que trouxe
Nosso Criador. Tu me acarretaste toda sorte de dor e me
tiraste toda alegria ...
Ah! minha doce amiga, eu sou a cruel áspide e tu és a
licorne preciosa, pois por meu falso veneno eu te traí...
Em sua dor às vezes amaldiçoa aquela que ao mesmo
tempo lhe proporcionou tanta felicidade, tanto sofrimento e
tanta decepção.
— Pela fé que tenho em Deus, creio que esta mulher
não passa de fantasma, não acredito que o que ela trouxe
venha para o melhor bem; ela não deu à luz nenhum filho
que não tivesse algum estranho sinal.
Não vê aí Onubo que não viveu (7 anos) completos e já
349
matou dois dos meus escudeiros e antes que ele tivesse três
anos já tinha morto duas de suas amas de leite de tanto mor-
der-lhes os seios?
E eu não vi a sua mãe, no sábado em que meu irmão de
Forest me contou as más notícias, em forma de serpente do
umbigo para baixo?
Tudo se acabou, meu Deus. Não é nenhum espírito ou
tudo não passa de fantasma ou de ilusão que abusou assim
da minha pessoa; a primeira vez em que a vi, não me livra
ela por assim dizer de toda minha desventura?22.
Ah! falsa serpente, por Deus, teus feitos e tu mesma não
sois senão fantasma e tu jamais deste herdeiro que chegasse
a bom termo.
Em seguida, voltando a sentimentos melhores, o bravo
reconhece que foi ele que faltou com sua honra e então faz
o seu mea-culpa.
"Minha querida amiga, minha licorne maravilhosa, meu
bem, minha esperança, eu te suplico em honra do glorioso
sofrimento de Jesus Cristo e do santo e glorioso perdão que
o verdadeiro Filho de Deus fez a Maria Madalena, que me
queiras perdoar este malefício e que queiras permanecer co
migo.
E quando a aurora foi surgindo, Melusina voltou e entrou
no quarto onde Remondin havia ido curtir a sua dor.
350
Quando a ouviu chegar, fingiu que estava dormindo e'
Melusina tira a roupa e se deita completamente nua ao lado
dele!
Ela retomara seu aspecto habitual, sua grande beleza de
mulher terrestre, mas permanece muda e como transida.
Ela sabe de tudo, pois ela é fada, e talvez lhe tenha per
cebido a presença em seu espelho de serpente.
O tempo passa, eterniza-se numa pesada manhã dramá
tica e silenciosa; os dois estão penetrados da gravidade dos
últimos instantes de pobre felicidade que ainda têm pela frente
e contudo gulosos em saborear o fel amargo e derisório.
Pois sabem que seu amor está irrevogavelmente quebrado.
Aqui começa para Melusina a penitência que durará até
o fim do mundo.
Ah, voltar ao curso do tempo ... tomar ao paraíso dos
dias passados!
Às vezes Remondin põe-se a duvidar da realidade dos
acontecimentos.
Não teria ele sido joguete de uma miragem, como sua
querida Serpente gostava de suscitar para seu deslumbra
mento?
E se sua visão era autêntica, não poderia ela com sua
magia apagar a falta, conjurar a maldição de uma fada mais
poderosa do que ela?
As horas se passam, vai ficando tarde e depois de muito
tempo os sinos da capela da Fonte do Saber soaram para a
missa dominical.
Ela se liberta em primeiro lugar do terrível torpor.
— Meu Senhor, vamos ficar atrasados; está na hora de
vos vestirdes para a missa.
— Melusina, minha doce licorne bem-amada, tu me pro
metes que nunca me abandonarás nem neste e nem no outro
mundo?
— Para este mundo, não posso prometer, meu querido
amigo, mas para o outro garanto na minha fé que vós perma
necereis sempre ligado ao meu coração e ao meu amor.
— Ah, estou vendo claramente que o destino está contra
mim e nada devia ter feito eu esquecer meu juramento solene,
mas palavras más frustraram minha segurança e o nascimento
de nossos filhos, todos marcados com um sinal estranho,
fizera-me pensar em algum sortilégio.
Melusina soltou um profundo suspiro e respondeu com voz
doce e dolente:
351
— Ah, meu querido, não é por malefício do Maligno que
nossos filhos sofreram esta prova, mas por natural razão de
sangue, pois eu sou oriunda de um outro mundo onde a vida
é diferente da vida aqui embaixo.
E a Natureza não quer que as proles contradigam a sua
lei primordial.
E ambos mergulharam de novo em abismos de amargos
pensamentos, ela sabendo o que significava falar e ele suspei
tando uma injusta maldição.
Melusina reiterou seu pedido de nunca faltar com a obri
gação e por fim se levantaram.
O VÔO DA SERPENTE
352
“Então, como que se arrastando a si mesma, toda desfi
gurada e causando pavorosa impressão pela hedionda violên
cia que se impõe, lança-se incontinenti para fora da janela
sob a forma repentina de uma grande serpente alada.
Afora a forma do seu pé, nada dela restou; o pé deixara
sua marca em forma côncava, pequeno, no apoio de pedra de
onde ela tomara o impulso para o vôo, rápido e fugaz.23”
Deus dá aos mortos a sua glória,
E aos vivos força e vitória!
Oxalá a possam conquistar!
Aqui a história quero eu terminar,
Deo gratias.
Muitos séculos se passaram depois disto, mas em Poitou
a crença está sempre viva de que quando um membro da
família de Lusignan está ameaçado de morte, Melusina volta
em forma de fantasma alado para lançar neste mundo seu
grito de alarma.
"Então, dizem, ela voa três vezes em volta do castelo,
lamenta-se e lastima-se e vem bater-se repentina e horrivel
mente na torre secreta, trazendo tamanha tempestade e tal
pavor que parece que todo o castelo vai cair num abismo e
que todas as pedras se chocam umas contra as outras.”
No século XIV um oficial inglês de nome Sersuelle co
mandava a guarnição instalada no castelo de Lusignan que
assediava para dele expulsar o duque de Berrv, irmão de
Carlos V.
Uma noite o oficial viu na chaminé a silhueta da serpente
alada que dançava no meio das chamas.
— É o sinal de Melusina, disseram-lhe no dia seguinte ...
podeis preparar-vos para partir!
E foi justamente o que aconteceu!
Melusina continua aparecendo de tempos em tempos aos
habitantes de Lusignan, mas em intervalos cada vez mais
espaçados.
Dizem que ela voltará para apontar o local do seu tesouro
que está escondido num subterrâneo que liga o castelo à
igreja de Santo Hilário de Poitiers.
353
Se o descobridor do tesouro fizer dele uma doação a uma
obra de beneficência, então o encantamento se romperá ins
tantaneamente e Melusina poderá voltar a ser uma verdadeira
mulher.
Caso contrário, um destino se unirá a ela e o fantasma
de Lusignan continuará povoando as noites negras do antigo
povoado do Poitou.
COMENTÁRIOS
Um exemplar do manuscrito em francês antigo se encon
tra na Biblioteca do Arsenal e outros se acham na Biblioteca
Nacional.
O texto original, embora muito excepcional para a época
em que foi escrito — 1387 — não pode ser nem publicado
nem mesmo condensado, pois contém uma abundância, uma
riqueza exuberante de pormenores que muitas vezes abafam
e perdem o fio da meada.
É por esta razão que às vezes o autor abandona Lusignan
e sua fada para nos transportar ao Oriente Próximo, à Bre
tanha ou à Inglaterra, para nos fazer assistir a longas aven
turas que pouca ou nenhuma relação têm com o enredo prin
cipal.
Este procedimento estava muito em voga na Idade Média
entre os trovadores e os escritores que declamavam suas
obras nos serões da noite, puxando intermináveis desafios.
Efetivamente, para agradar ao senhor do castelo e a algum
nobre convidado, era de bom tom evocar seus altos feitos,
não confundindo-os diretamente com a ação, mas por meio
de uma digressão muitas vezes enfadonha e fastiosa.
Ademais, os narradores de gestas e de lendas, às vezes
instigados pelo público, gostavam de trufar seus próprios dize-
res com epopéias maravilhosas atribuídas a cavaleiros bravos
célebres.
Assim, quando das festas de casamento em Lusignan, o
autor não pode resistir ao prazer de citar uma estrofe de
Pierre de Corbie e versos de Rutebeuf: a grische de Yver, a
fantástica partida de xadrez do dito de Garin de Montglave,
citações de Huon de Bordeaux, de André le Chapelain e um
grande relato do barbo de Penhoêl em que conta aventuras
de Remondin na Bretanha, o que prova claramente que a his
tória da Melusina é muito anterior a Jehan de Arras.
354
Estas prolixidades, que tomam o original pesado, foram
suprimidas nas adaptações, e a nosso ver o livro assim aliviado
passa a ser, conforme nosso modo de julgar, uma das obras
mestras da literatura francesa e o mais apaixonante romance
de cavalaria.
Alguns autores pensaram que um fundo histórico devia
ter servido de argumento ao romance de Jehan de Arras e
sobre a verdadeira personalidade de Melusina as hipóteses são
numerosas.
Ela teria sido ou Melisende, viúva de um rei de Jesura-
lém, ou a senhora de Mervent, esposa de Godofredo de Lu-
signan, ou ainda a Mater Lucina que as senhoras romanas
invocavam em seus leitos durante o parto.
É bom também que se note que Melusina é (mais ou
menos) o anagrama do antigo nome de Lusignan ou Lusignem.
Segundo André Lebey, a fada, dama da Albânia, seria
uma alegoria da Inglaterra como Remondin seria aquela da
França. Não estávamos nós na época de Jehan de Arras em
plena guerra dos Cem Anos?
Será que o autor só escreveu para ser agradável ao senhor
duque de Berry, do qual ele era secretário? É possível, por
quanto o duque era um apaixonado de artes e de letras.
Conforme Jehan de Arras, o conde Eimery era o avô do
rei São Guilherme "que foi conde e abandonou todas as pos
sessões mundanas para servir ao Nosso Criador e entrou para
a ordem e religião dos Mantos Brancos".
São Guilherme dito o Grande, duque da Aqüitânia, viveu
no século VIII e no começo do IX. Morreu em 812. Era filho
do conde de Thierry, a quem a tradição faz parente de Carlos
Magno.
Com a concordância da rainha em 806, Guilherme renun
ciou ao mundo e se retirou para o vale de Gellene, perto de
Lodève, onde construiu o mosteiro de São Guilherme do De
serto.
Seus feitos serviram de pretexto para uma cantiga de
gesta intitulada Roman de Guillaume au Court Nez (Romance
de Guilherme de Nariz Curto), escrito no começo do século X,
onde encontramos a lenda de Aimery de Narbona.
Este Guilherme da gesta foi defender Paris sitiada pelos
infiéis e matou o gigante Isoré no lugar que posteriormente
se chamou de Sepultura de Issoire (Tombe Issoire).
355
Diversos outros Guilhermes, condes ou duques de Aqüi-
tânia, são conhecidos na história:
— Guilherme III Cabeça de Estopa, nascido em Poitiers
por volta do ano 900 e morto em 965; foi despojado do seu
imenso ducado pelo rei da França.
356
TEXTOS PARA CONSULTAS:
Jehan de Arras: Melusina — Biblioteca do Arsenal e Biblioteca
Nacional (Genebra 1387).
André Lebey: O romance de Melusina (ed. Albin Michel 1925).
Louis Naneix: Melusina (ed. Robert Morei 1961 — O cepo do
Revest-Saint-Martin — Alta Provença — 174,
Berthier — Paris 179).
Louis Stouff: Melusina ou a Fada de Lusignan — (Paris 1925).
Du Mesnil du Buisson: As origens da Fada Melusina (Send).
Jean Gourvest: Melusina, lenda do Poitou (La Rochelle 1948).
Germaine Maillet: Diário íntimo de Melusina (Châlons-sur-
Marne 1925).
Auguste Coynault: Melusina (Niort, 1928).
Maurice Magre: Melusina ou o segredo da solidão.
Jean Puissant: Melusina, conto e lenda da Baixa Borgonha.
Charles Brunet: O romance de Melusina (1854).
M. Jannet: Coleção elzeviriana (1854).
Jean Marchand: A lenda de Melusina (Paris, 1927).
P. Martin-Civat: O Simplíssimo Segredo de Melusina (Imp. P.
Oudin — Poitiers — 1969).
357
A FEITIÇARIA
Capítulo XXII
DEMÔNIOS E PRODÍGIOS
AS CLAVÍCULAS DE SALOMAO
Existem três livros célebres que fazem escola entre os
empíricos da feitiçaria e da magia: O Grande Alberto, as Cla
vículas de Salomão e o Enchirídion.
359
O primeiro é uma compilação banal de receitas impossí
veis de se usar referentes à baixa feitiçaria da Idade Média.
O segundo, mais hermético, destina-se aos mágicos com a
pretensão de fomecer-lhes as chaves (clavículas = pequenas
chaves) de uma ciência que permite dar ordens “aos espí
ritos”.
Existem 36 chaves maiores ou talismãs que são patoás
ou hieróglifos hebraicos cujas virtudes, podemos certificá-lo,
são absolutamente inexistentes. Mesmo que quiséssemos fazer
força para acreditar! O sábio e simpático Élifas Levi, mestre
em magia, não temeu contudo em garantir-se quanto à sua
eficácia.
O ENCHIRÍDION
360
' Segundo o editor, Carlos Magno teria enviado ao papa
uma carta de agradecimento que estaria conservada no Vati
cano!
Aliás, o teor dessa carta figura na edição de 1633.
Os empíricos falam com imenso respeito do Enchirídion
e atribuem-lhe propriedades maravilhosas com uma ingenui
dade (e uma má-fé) desconcertante.
Vamos fazer uma breve análise deste livro "mágico e to-
do-poderoso”, a qual permitirá ao leitor formar um justo
juízo.
361
QUANDO O FOGO QUEIMA A SUA CASA
362
são de eclesiásticos ingleses, pediu à Igreja que se intensifique
a luta contra a magia negra.
“Visto que a presença e o poder dos espíritos malignos
aumentou, disse Robert Mortimer, é preciso criar escolas es
peciais encarregadas de formar sacerdotes capazes de exorci
zar os possessos do demônio.”
Em suma, depois do tempo das armaduras, dos palafréns,
dos atanores e dos encantadores, a superstição permaneceu
muito latente no Ocidente cristão. Quase tanto quanto em
1612, quando os demônios habitavam o corpo de Denise da la
Caille, a possessa de Beauvais!
A história vem narrada num livro da época sob o título
de “História verdadeira acontecida em nossos dias na cidade
de Beauvais com referência às esccnjurações e exorcismos
feitos em Denise de la Caille, possessa do demônio, com os
atos e processos verbais feitos nos lugares por ordem do Sr.
Bispo, história não menos proveitosa do que religiosa, repleta
de admiráveis e estranhos efeitos de demônios”.
Com alguma particularidade feliz, a possessão de Denise
de la Caille é o tipo evidente do caso da pobre mulher que
não foi queimada como bruxa, mas cuidada, certamente com
meios empíricos, porém marcados de caridade ingênua e be
nevolente.
Segundo o processo verbal, a possessa era agitada por tor
mentos espantosos “principalmente quando ia à Igreja rezar”.
Ela ficava então sem poder andar, cega, "às vezes gri
tando e mugindo”.
O vigário da paróquia a levou ac seu bispo, Réné Potier,
que aconselhou uma consulta de “médicos e de gente da
ciência”.
Jean Cheron, teólogo, reconhece então que o mal não é
somente corporal, o que tem a opinião favorável do médico
consultado: “agitações exorbitantes, mais do que naturalmen
te; reconhecendo também que tais esforços não podem ser
feitos por criatura humana e por assim ter julgado, com o
parecer de várias outras pessoas, que havia algumas agitações
de espíritos malignos ..."
Eis, pois, médicos e padres de comum acordo para julgar
Denise de la Caille possuída de um demônio, quando não por
diversos; e então decidem confiá-la a um exorcista da ordem
de São Domingos, chamado Laurent le Pot2.
363
ELA MUGE E VOA
364
Ela tenta comprometer a reputação de várias outras filhas
<de Beauvais, dizendo que elas têm comércio com Belzebu, mas
o Pe. Le Pot é um sacerdote inteligente e não se deixa embair!
365
três vezes. Ordenamos, queremos, mandamos e comandamos
que cada um deles receba a seu respeito as mesmas penas im
postas acima três mil anos depois do julgamento. Proibimos
ao mesmo Lísis e a todos aqueles que tiverem possuído o cor
po da referida Denise de la Caille de jamais entrar em corpo
algum, tanto de criaturas racionais como outras, sob pena de
serem crucificados, por ocasião de sua possessão, por uma pe
na acidental”.
Compreende-se que, ameaçados de ser excomungados ou
lançados ao inferno, Belzebu e Satanás, apavorados, tenham
preferido declarar-se vencidos!
366
Hoje em dia sabemos que a possessão, a maioria dos tran
ses, os arrebatamentos e as convulsões não passam de histe
rias, o que antigamente chamavam de "furores uterinos”.
367
Contudo Fabro de Olivet encontrou uma outra esposa-
médium que lhe permitiu que se entregasse a especulações
metapsíquicas tão doidas quanto estrambóticas.
Ele morreu “como mágico fulminado aos pés do altar se
creto que havia consagrado em sua residência de Paris, no
número 35 da Rua Vieillcs-Tuileries (atualmente Rue du Cher-
che-Midi) ”.
Segundo alguns cronistas, ficou apoplético no momento
em que celebrava seu culto; Saint-Yves de Alveydre é de opi
nião que ele se suicidou.
Efetivamente, encontraram o mágico revestido de um
grande paramento de linho, com um punhal enterrado no
peito, vítima de seu auto-enfeitiçamento ou de forças desco
nhecidas que ele havia imprudentemente invocado.
SACRILÉGIO EM RAIVAVAÉ
No começo do século XIX os missionários cristãos da
Polinésia conseguiram converter para a sua religião Variatoa
ou Pomaré II, rei do Taiti.
Isto representou o início de uma campanha de vandalis
mo e de destruição de ídolos de pedra que os indígenas vene
ravam desde séculos.
Em 1820, das centenas de estátuas que povoavam a ilha
de Raivavaé não restavam mais do que três; duas delas fo
ram transportadas mais tarde para Papecte e a terceira per
maneceu na ilha.
Este ídolo ou tiki representa o deus Tetuaranui e mede
somente 80 centímetros de altura, o que é incompreensível,
quando sabemos que os antigos polinésios garantiam que eram
descendentes de uma raça de gigantes.
O chefe de Raivavaé era escolhido entre os maiores indí
genas e devia submeter-se à prova da Toesa, no marae6 de
Rangiúra.
No centro do marae se ergue um menir de dois metros
de altura: é a pedra que serve para medir a altura dos chefes.
"O candidato à prova para ser aprovado devia ter uma es
tatura tal que a pedra lhe chegasse debaixo, das axilas. O tú
mulo do rei Maaotoa, de três metros de comprimento, dá uma
idéia da impressionante estatura daquele que aí repousa!7
368
Na tradição popular, os tikis são habitados durante um
certo tempo pelo espírito de um morto. Somente os membros
da família podem tocá-los, mas ai dos estranhos e dos mal-
intencionados que ousarem desafiar a proibição: a morte é o
castigo que os aguarda dentro de breve prazo.
Em compensação, alguns tikis sabem apegar-se ao seu
proprietário se o julgam de boa fé, honesto e digno de con
fiança; então sua influência é benéfica.
369
Quando projetaram a construção do hospital em Mama’o,
o tabu que envolvia as estátuas começou a causar preocupa
ção: nenhuma empresa particular aceitou desenterrar as es
tátuas para transportá-las para outro lugar.
Apelaram então para a Marinha que estava para executar
o trabalho, quando um comandante que se encontrava em
Taiti, onde os militares dificilmente são admitidos, dissuadiu
a autoridade naval de desafiam as crenças dos indígenas.
Finalmente o setor de obras públicas ficou incumbido da
operação, que se concretizou em junho de 1965. Os tikis foram
definitivamente erigidos diante do museu Paul-Gauguin, em
Papeari, a 55 quilômetros de Papecte.
Novamente, a maldição parece ter entrado em ação. O
contra-mestre dos trabalhadores públicos morreu de tuna cri
se cardíaca; um dos seus empregados desapareceu na lagoa
quando de uma pesca com piroga; um jovem senhor que es
carnecera dos tikis por ocasião da sua remoção (teria chega
do a dar um pontapé em Moana) morreu com velomotor.
Depois disto os tikis não dão mais motivos a falar, mas
nenhum velho taitiano ousaria tocá-los ou deles se aproximar
menos de seis passos.
Se na Polinésia você encontrar uma pedra trabalhada de
forma antropomórfica, não a toque — dizem os indígenas.
Se você deseja comprá-la, é preciso que você antes se
informe sobre a sua família de origem e depois entregá-la a
um feiticeiro para saber se o tiki está ainda vivo.
Se assim for, o feiticeiro guardará a estátua consigo o
tempo necessário para expulsar o espírito que a habita. Em
seguida você poderá sem susto efetuar a compra.
370
Moana, o tiki azarento do Taiti.
371
"Este fato odioso, diz a Enciclopédia, é atestado pelo des
pacho oficial datado de Fontainebleau, aos 29 de outubro de
1685."
Mais repugnante ainda: mandou internar as infelizes cujo
único crime era opor-se às suas ambições.
Um despacho datado de 28 de outubro de 1699, dirigido
por Pontchartrain ao Sr. Phelypeaux, vigário de Meaux, con
tém esta frase significativa: “Há também na rnesma paróquia
de Ussy duas jovens senhoritas de nome de Molliers, que o
Sr. de Meaux (Bossuet) julga necessário encerrar... ”
Numa de suas delirantes perorações, o odioso personagem
cria que uma conspiração de 180.000 bruxas ameaçava o fu
turo da Europa e como bom cristão que era propôs que fossem
assadas todas juntas numa única e imensa fogueira!
Bossuet lançava mão da terrível magia do seu verbo para
adular os poderosos, mas também para acarretar a miséria,
praticar a injustiça e trazer a morte para os infelizes e de
serdados.
Sua magia negra acabou voltando-se contra ele e morreu
de cirrose, depois de dois anos de justos e cruéis sofrimentos.
Sua alma se foi para os diabos!
372
malefícios de um monstro aquático que praticaria suas devas
tações na época das monções.
O cotidiano cambojano, impresso em língua francesa Le
Courrier phnompenhois em setembro de 1970, anunciou que o
Vietcong havia utilizado para a guerra, e principalmente por
ocasião dos combates de Prek Tamaeak, guerreiras escolhidas
pela beleza e perfeição de sua anatomia.
Nuazinhas da cabeça aos pés, essas combatentes charmo
sas levavam um fuzil, mas a missão principal delas consistia
em "distrair” o inimigo.
Os cambojanos estão convencidos de que a presença des
sas mulheres neutraliza o talismã que os torna invulneráveis
quando o trazem em seu peito.
0 jornal France-Soir de 23 de setembro de 1971 relatou
amplamente a crise de loucura histérico-mística de que foi
vítima uma jovem suíça da Fraternidade Branca Universal do
“mestre” Ouraam Mikhaél Aívanhov.
"Eu me mutilei para me punir e aproximar-me de Deus,
disse a jovem discípula dos Adoradores do Sol, que se desfi
gurou terrivelmente, perto de Frejus. . . No decurso das in
vestigações de terça-feira, continuou o France-Soir, o comis
sário Gonzales ficou sabendo que no último mês de agosto um
jovem senhor se havia suicidado por enforcamento nos pró
prios locais da propriedade. O inquérito que foi instaurado
nessa ocasião concluiu pelo suicídio de um desesperado. . .”.
A jovem, Diana Bontay, feriu-se cruelmente as vistas, os
pés e o peito.
A polícia a descobriu completamente nua, no dia 15 de
setembro, não distante de Bagnols-du-Var, na floresta.
Feitiçaria? Histeria? Nossos tempos turbulentos, condi
cionados por governos e por pensadores sem consciência, sem
dúvida mais do que na idade Média, são propícios para todos
os desregramentos do intelecto e dos sentidos9.
Satanás toca a orquestra com seus "hippies”, seus vi
ciados, seus magos e seus mercenários entregues ao ouro e
ao poder. Os pobres bruxos de outrora não passavam de apren
dizes, enquanto que os Mestres pontificam em nossos dias e
são eles que prometem a Moloch o grande genocínio universal
do ano 2000.
373
OS MISTÉRIOS DO CEU
Capítulo XXIII
AVENTURAS NO CÉU
375
Sob este prima, mais racional do que aquele dos pré-his
tóricos, o macaco é um ser natural e o homem uma criatura
sobrenatural.
Para valorizar suas teorias, os pré-históricos deviam des
cobrir crânios humanos que nos ligassem a ancestrais simies-
cos. Eles não os encontram, o que é bem esquisito, seja por
que estes vestígios desapareceram ou porque não existiram
ou seja porque eles se acham em outro planeta.
Estas constatações explicam a lógica das teses dos que
pensam — e os há milhões — que a conquista espacial em nos
sos dias constitui a reminiscência de uma emigração longín
qua de nossos ancestrais, Extraterrestres.
376
Uma vez acuado, Carlos Villanueva acabou por externar
todo o seu pensamento:
“Diversos destes desenhos têm uma extraordinária seme
lhança com os navios espaciais ou cem isso que chamam de
OVNI, mas em certos meios não c bom aventurar tais idéias!
377
Contudo, distinguem-se nitidamente zimbórios, objetos
circulares de onde descem pequenas escadas, formas triangu
lares providas daquilo que se poderia chamar de trem de
aterrissagem.
Vêem-se também círculos pousados no solo e marcas de
pés que se dirigem para esboços de montanhas.
Estes desenhos talvez constituam a prova mais tangível
da vinda dos cosmonautas extraplanetários ao nosso globo.
A gravura mais sugestiva é aquela que representa um ho
mem vestido com uma verdadeira combinação espacial. No
centro do casco do seu escafrandro sai uma antena e nos la
dos se vêem tubos que parecem estabelecer a conexão do ho
mem com o navio...
Este cosmonauta emerge de alguma coisa que se parece
com uma escotilha e seu braço direito toca o lado do engenho
como faz habitualmente o condutor de um tanque em pé na
torrezinha. À altura da cabeça, à esquerda, se vê um objeto
ovóide de onde partem quatro clarões. É possível que se trate
de um OVNI”.
Este o relato da nossa correspondente amiga do México,
Sra. M. Gaston, conforme palavras textuais de Carlos Villa-
nueva.
GIGANTES E COSMONAUTAS
O "Vale das Maravilhas” do México ainda não patenteou
todos os seus segredos que outro pesquisador se esforça por
arrancar-lhos, o engenheiro Mário J Dondé, de Merida, no
lucatã.
Mário Dondé descobriu na região de Parras, a apenas
alguns quilômetros do “Cosmonauta”, os corpos de cinco ho
mens em pé e uma ampla sepultura circular.
Os cadáveres, meio mumificados, estavam envoltos num
tecido que parecia ser feito de matéria sintética; tinham uma
estatura gigantesca — pelo menos 2,50 m — e pelo que se
podia julgar, tinham cabelos louros3.
Os caracteres humanos, muito diferentes dos nossos, fa
zem pensar que esses homens não pertenciam à nossa raça e
que talvez fossem Extraterrestres.
378
Ademais, outras descobertas e tradições locais apoiam esta
hipótese.
Um camponês da região, que fazia investigações na mon
tanha em companhia de alguns amigos, conta que na Sierra de
Delicias, no caminho que vai de San Pedro a Cuatro Cienagas,
havia encontrado, numa gruta, o esqueleto de um homem que
media entre três a quatro metros de comprimento.
Os exploradores, que deviam passar a noite na gruta, des
pedaçaram o esqueleto e o jogaram para fora do refúgio.
Uma família de camponeses guarda consigo grandes den
tes que diz ter tirado da queixada de um homem gigantesco.
Em Santa Eulália, aldeia situada no caminho de San Lo-
renzo, conta-se que em tempos muito remotos a região era
ocupada por uma tribo de gênios-bruxos que faziam milagres
"maiores que os realizados hoje em dia”.
Por exemplo: pegavam dos ossos de um touro, punham-nos
no chão, realizavam um certo rito e o animal ressuscitava.
Mário J. Dondé vê nisto a transmissão truncada e detur
pada de um antigo conhecimento científico.
A tribo dos gênios-bruxos desapareceu um dia na monta
nha de Santa Eulália que se tornou encantada e onde se pode
ver, depois disto, uma multidão de pequenos homens dese
nhados sobre os rochedos.
Mário Dondé descobriu outros desenhos gravados, muito
maiores, mas que só podem ser observados em certas horas
e de acordo com uma determinada claridade.
Em Saltillo (a 12 kms) podem ser vistos de 7 às 8 horas;
na região de Parras, mais a oeste, os momentos favoráveis são
entre 9 e 11 horas; distingue-se então nitidamente um homem
em pé vestido com um escafandro com um postigo.
A opinião da Sra. M. Gaston é a de que estas inscrições,
visíveis somente em determinadas horas, poderiam ser mensa
gens ou sinais destinados a viajantes do espaço.
OS DEUSES VOADORES DA AUSTRÁLIA
A noroeste da Austrália, entre os Ungarinyin, o arqueólogo
Elkin descobriu Wondjinas (galerias de gênios) onde havia,
pintados na rocha, rostos sem boca como aqueles do México
e dos utensílios de barro de Glozel4.
379
O cosmonauta de San Rafael, descoberto por Carlos Villanueva.
O Sr. Levy-Bruhl5 observa que Wondjina significa também:
"aquele que tem o poder de produzir a chuva”, o que faz lem
brar os deuses venusianos da mitologia assírio-babilônica,
deuses cosmonautas que vinham simultaneamente com chuvas
fertilizantes ou que então podiam provocá-las a seu mando6.
381
LUAS, SÓIS E RUAS NO CÉU
382
Da mesma forma que nós, os antigos viam coisas estra
nhas no céu e não eram totalmente hostis à idéia de planetas
habitados por uma certa categoria de seres.
Os mexicanos sabiam que os seus deuses Quetzalcoatl e
Huitzilo e pochtli eram venusianos que iam ao seu planeta ser
vindo-se de um engenho voador a reação, que muitas vezes
desenharam em seus mais antigos manuscritos8.
Quando os deuses cosmonautas partiram, a lembrança se
esfumou e em lugar de desenhar um engenho com boca de
forja como no Manuscrito Troano ou nos Códigos de Dresdç,
Perez e Cortesianus, representaram sua forma romantizada:
uma serpente voadora, com plumas e flechas que simbolizam
o deslocamento no espaço.
De igual modo os celtas imaginaram Ábaris (Apoio) via
jando nos ares, cavalgando sobre uma flecha.
Neunins, cronista irlandês do século III, cita em seus
relatos a presença de "misteriosos navios demoníacos que
vogam nos ares”.
O escritor bretão Claude Yvon fala de um manuscrito
onde se trata da roth ramarach ou roda em redemoinho que
voa por cima de terras e oceanos.
"Certo dia ele se esmagou ao selo, atraído pelos aflúvios
mágicos que emanavam da coluna de pedra (menir?) que
estava situada dentro de uma floresta, perto do atual Tippe-
rary.”
É possível que antigamente a reda tenha sido venerada,
não porque ela representava o globo solar, mas talvez porque
rodas que navegavam no céu haviam transportado deuses.
Não teria sido o caso da roda de Ezequiel, das rodas cél-
ticas, bascas e hindus?
383
do”: os imensos arrozais em terraços de Ifugao, cujo compri
mento é dez vezes o da Grande Muralha da China, ou sejam,
30.000 quilômetros.
As tradições locais contam que deuses chamados Kabu-
nians residiram durante 15.000 luas nesta região. Tinham vin
do do céu a bordo de navios voadores em forma de bolas que
aterrissaram sobre os terraços.
Depois, um certo dia as bolas partiram de novo; os igorots
ficaram esperando por elas mais de 1.000 luas, mas os deuses
cosmonautas não voltaram.
Na tradição dos lituanos a Via-láctea se chama pauksclu
kelias, o Caminho dos Pássaros, quer dizer: dos pássaros...
de ferro, como dizem os esquimós!
UMA ILHA FANTASMA NO RADAR
O relato que um oficial de rádio nos fez chegar de uma
linha transatlântica não parece referir-se, a rigor, ao enigma
dos OVNI, mas traz uma luz singular às observações feitas por
radar, tão preciosas para detectar os engenhos voadores.
O incidente se deu numa noite de outubro de 1970, ao largo
das ilhas Canárias.
Eis o que nos escreveu nosso correspondente:
“Estou de serviço no posto de rádio quando o tenente me
manda chamar.
Estamos navegando sobre uma rota freqüentada. longe
de toda terra, e no entanto o radar assinala diante de nós,
a cerca de 25 milhas, uma ilha que naturalmente não consta
do nosso mapa marítimo. Uma rápida averiguação nos con
vence de que não cometemos nenhum engano de navegação;
razão porque o tenente quis saber a minha opinião, pois não
sabia o que pensar.
Será que se tratava de um defeito do material ou de uma
interferência? Eu sou formal: o radar funciona perfeitamente
e se, a rigor, lhe acontecer de não registrar um eco, é-lhe im
possível refletir aquilo que não existe.
Eliminamos o problema das interferência com outros ra
dares, visto que neste caso os ecos falsos confirmam sob forma
de rastros luminosos e não apareceríam jamais no mesmo
lugar na tela, de uma rotação a outra. De mais a mais, desa
pareceríam muito rapidamente; mas eis que o fenômeno per
siste e vai durar cerca de duas horas.
De vez que a visibilidade é fraca não podemos enxergar
a ilha que no entanto se aproxima de nós à medida que
384
avançamos. Se ela for real, iremos chocar-nos com a mesma
a qualquer momento. Distinguimos muito bem os pormenores
típicos de uma terra cortada e montanhosa, a nosso ver do
comprimento de umas dez milhas.
Conhecendo muito bem a nossa rota e sabendo que lá não
pode haver nenhuma ilha, olhamos o nosso cabo como se de
nada se tratasse e sem dar disto ciência ao comandante, mas
seja como for estamos ansiosos!
Quanto mais nos aproximamos, mais nítidos se tomam os
ecos. Agora distinguimos um cabo e maciços montanhosos.
Estamos em cima do obstáculo e no entanto à nossa frente,
à nossa vista, nada senão o mar aberto!
Estamos em vias de aplicar uma guinada com o leme, mas
mudar de rota para evitar uma ilha que não existe se parece
com uma história de carochinha (sic)!
Que vou dizer em casa (ao comandante)?
Chegados a uma distância de tuna milha do obstáculo, a
imagem desaparece lentamente e passamos exatamente no lu
gar do eco sem nada notar de anormal!"
EXTRAVAGÂNCIAS NO MEDITERRÂNEO
385
tela, dois petroleiros de grande tonelagem se chocaram em
alta velocidade. Houve diversos mortos entre os quais as mu
lheres que haviam embarcado com seus respectivos esposos.
A visibilidade era muito boa, os aparelhos de navegação esta
vam em perfeito estado. Por ocasião do inquérito este aci
dente pareceu incompreensível.
Se bem me lembro, foi nesta época que o primeiro homem
pousou na lua. Para ser mais preciso na data, com diferença
de alguns dias9.”
386
Felizmente, avisado que foi, este militar teve o bom senso
de proceder a verificação que permitiram explicar o fenôme
no: a emissão de ondas rádio da lua, nessa noite, sobre 3,2 cm,
era particularmente intensa e se havia desenhado na tela!
Em certas ocasiões, todos os planetas e o sol podem pro
duzir o mesmo fenômeno que é bem conhecido dos especia
listas.
Por um acaso excepcional as imagens dos radares de
Thulé tinham a forma de foguetes!
387
Capítulo XXIV
388
The Aetherius Society, Aetherius House, 757 Fulham road,
em Londres S. W. 6, é um círculo com vocação metapsíquica
dirigido pelo Dr. George King, iogue e mestre em ciências
ocultas, nascido em 1919 no Shropshire, na Inglaterra.
Ele se corresponde telepaticamente com Extraterrestres e
visita planetas “em estado de projeção do seu corpo físico”.
Quando de suas viagens o Dr. King relata segredos cientí
ficos, cuja natureza só divulga aos seus adeptos: a telepor-
tação, a utilização dos radiônicos, a possibilidade de viajar a
uma velocidade de quatro milhões de vezes maior do que a da
luz, o controle perfeito das forças cósmicas etc.
De acordo com ele, os venusianos têm o poder de mudar
o lugar que os planetas ocupam no sistema solar.
Os venusianos e os marcianos, se viessem visitar a Terra
num estado chamado "terceiro aspecto”, mediríam cerca de
2,30 m de altura, teriam a pele da cor de canela, cabelos com
pridos, olhos azuis e um vestuário feito de uma só peça, in
teiriço.
Em Vênus, os animais e sem dúvida também as pessoas
gozam de uma temperatura interna de 110 a 150 graus "Fahre
nheit” (110° F = 61° Centígrados).
Não existe escrita venusiana; como em todas as civiliza
ções não são feitas nem pela palavra nem pela escrita e sim
por telepatia.
Os membros da Aetherius Society afirmam a existência
dos discos voadores e a vontade dos Extraterrestres de salvar
os terrícolas dos seus erros.
Os mestres Jesus, Buda e Shri Krishna eram Inteligências
do espaço e se serviam de corpos terrestres para cumprir suas
missões particulares.
Eis, bem suscinto, o programa desta associação.
A LENDA DO INFERNO
Uma lenda que seria antes uma história verídica — se
gundo o Dr. King — mas deformada por transmissões sucessi
vas, fornece uma estranha explicação do mito do inferno.
Há cerca de 20 000 anos, sábios da Atlântida teriam ido
até o centro da Terra com o fito de "dominar o fogo de vida
eterna” e afirmar o seu poder sobre todo o sistema solar.
Estes aprendizes feiticeiros malograram em sua missão,
e se adquiriram o privilégio de uma longevidade infinita, em
compensação ficaram aprisionados no núcleo central durante
dez mil anos.
Finalmente, foram soltos por adeptos de grandes conhe
cimentos científicos e se diz que a lenda do inferno teria tido
389
esta aventura como origem.
Entre iniciados circula também uma informação relacio
nada com "o fogo de vida eterna”: por volta de 1950, mi
neiros que trabalhavam na Sibéria teriam rejuvenescido de ma
neira espetacular.
Suas rugas desapareceram e não sentiam mais necessida
de de comer.
Um médium, delegado pelo governo inglês, teria ofere
cido ao Dr. King uma fortuna considerável para conhecêr o
paradeiro de um minério da Juventude.
O doutor teria podido aceitar o oferecimento, mas Sua
Majestade (a Rainha) não quis prometer que ela utilizaria o
segredo somente para fins pacíficos.
Semelhantes histórias e muitas outras são contadas pu
blicamente nas conferências da Aetherius Society.
EUGÊNIO SIRAGUSA
O Centro de Estudo Fraternidade Cósmica tem sua sede
em Lausanne — Endereço: CEFC Fracos, Caixa Postal 2798,
1000 Lausanne 22.
Este centro difunde mensagens da "parte dos Extraterrí-
colas a serviço no planeta Terra” e se refere à Lei divina e ao
mestre Jesus.
O mensageiro da Fraternidade é uma espécie de arcanjo
do nome de Ashtar Sheran; o representante na terra é o Sr.
Eugênio Siragusa, um siciliano de cinqüenta anos.
Quando ele tinha trinta e três anos, apareceu no céu um
sinal mágico que lhe deu consciência de sua missão e conhe
cimento do seu “eu” eterno.
A partir de então uma voz interior o instruiu sobre a
geologia, a cosmogonia e lhe abriu o espírito para os mistérios
da criação e de suas vidas anteriores. Desta maneira Eugênio
Siragusa ficou sabendo que 12.000 anos mais cedo ele era es
tudante em Posêidon, na Atlântida, numa sociedade que tinha
como fundamento a sabedoria e o amor.
Como diz o Dr. King, é por contacto telepático que está
em comunicação com os Extraterrestres que no entanto ele
reencontrou em forma de corpo físico sobre o Etna, numa
noite de 1962.
Dois seres em trajes espaciais prateados aí esperavam por
ele. Eram altos, atléticos, com cabelos louros que caíam pe
los ombros. Nos punhos e nas cavilhas levavam uma espécie
de braçadeiras também brilhantes como o ouro e em volta do
corpo tinham uma cinta luminescente.
390
Eugênio Siragusa é mandatário da «Confederação Intergaláctica »,
cuja sede fica em algum lugar nas bandas de Sirius.
391
Sobre seus peitos faiscavam estranhas placas.
Um dos homens dirigiu sobre ele, com o objeto que tinha
às mãos, um raio de luz verde que deu a Eugênio Siragusa
uma maravilhosa sensação de bem-estar e de confiança.
— Nós esperamos por ti, disse ele! Registra em tua me
mória o que te vamos dizer.
Tratava-se de uma mensagem destinada a todos os chefes
de Estado do globo.
Os dois seres eram os enviados de uma Confederação In-
tergaláctica que congregava inumeráveis planetas, que de qual
quer maneira havia processado a civilização terrestre: conju
rações de mentiras, crimes chamados de atos de heroísmo, vio
lência, ódio racial, religião deformada e fanática.
De uma distância de vários anos-luz, os dois seres lumines-
centes haviam vindo para nos ajudar e nossa recusa em nos
corrigirmos os mergulhava numa grande perplexidade.
Conclusão confortadora: somos vigiados por uma raça
superior que não nos permitirá que nossa civilização se afun
de numa catástrofe nuclear.
BASE EXTRATERRESTRE SOBRE A LUA PRETA
Seria o Sr. Eugênio Siragusa um iluminado, um missio-
nado? Podemos levantar a questão, mas em todos os casos o
seu desinteresse é total e sua boa-fé parece evidente, mesmo
quando em público faz revelações horripilantes.
— Existem 6 milhões de Extraterrestres sobre o nosso
planeta, diz ele!
O governo dos Estados Unidos da América está a par
desta situação, que sem sabermos porque é considerada top-se-
cret. A OTAN possuiría uma prova da existência dos viajantes
oriundos do outro mundo: a combinação espacial de um dis-
co-voador1!.
Os Extraterrestres têm uma duração de vida de uns 12.000
anos; todos os grandes iniciados e notadamente Jesus e Buda
eram eriginários de um outro planeta que não o nosso.
392
Para vantagem dos terrícolas, é preciso levar em conta o
seu quociente intelectual médio que é muito baixo: 3,5 contra
15 para os Extraterrestres e 60 para os habitantes de Alfa
Centauro!
Do profeta siciliano resulta que o fenômeno dos discos
voadores corresponde a uma verdade de fato e que a base des
ses engenhos se encontra num pequeno satélite artificial da Lua
que foi colocado numa certa órbita para impedir que o nosso
satélite natural colida com a Terra.
Este pequeno satélite se chama Lua Negra, o que oferece
uma curiosa coincidência com a tradição de Lilith e com as
observações de Cassini e de vários outros astrônomos que já
no século XVII tinham identificado este corpo celeste difícil
de localizar.
Se é que é verdadeiramente artificial, a Lua Negra existi
ría desde pelo menos trezentos anos, mas neste caso devemos
pensar que os Extraterrestres que nos observam não são aptos
a nos prestar grandes serviços, a não ser para nos indicar
lugares de encontros clandestinos e a servirem de espantalhos
para os guarda-barreiras e cultivadores de alfazema!
UM FENÔMENO MESSIÂNICO
393
S, Jean Roy, de Paris, é o representante, na Terra, dos
Extraplanetários de Baavi.
394
Devemos considerar como fato consumado a decrepitude
e a deslocação e a deambientação da velha e terrível religião
cristã.
“A árvore se julgará pelos seus frutos”, disse alguém na
Palestina, e se julgamos nossa civilização judaico-cristã do sé
culo XX, os considerandos da sentença estão sujeitos a ser
severos para com Abraão, Moisés, Jesus e os pontífices das
Igrejas.
Com os testemunhos dos milhões e milhões de pobres dia
bos crucificados, trucidados, queimados, estripados, esquarte
jados, aprisionados, interditados, expulsos e achincalhados que
se levantarão em nuvens da lenda dos séculos e dos milênios,
não há dúvida que a condenação ao Inferno será o seu quinhão!
Com a maior das más vontades do mundo se toma cada vez
mais impossível construir catedrais, partir em cruzadas ou de
trabalhar no sentido do magnífico e do sublime, sob o signo
de fogo de nossa época.
Então os homens procuram e esperam um socorro de al
guma outra parte.
Seus cuidados, seus desejos, suas inquietudes e seus ape
los criam egregórios de grande potencialidade que acabam ine-
lutavelmente por invadir um cérebro e subjugá-lo.
É o fenômeno do messianismo.
Os Jesus do nosso tempo são Emen Y, o Dr. King, Eu
gênio Siragusa e outros que não conhecemos, que vieram ou
que ainda virão.
Bastaria que se acreditasse num deles, seja qual for, para
que seja o verdadeiro Messias e mude a face do globo.
Todos aparecem como mensageiros de paz e mesmo quais
continuadores do Cristo.
Siragusa, melhor inspirado ou mais refletido, escalou as
encostas do Etna para receber a palavra dos deuses. Exata
mente como Moisés!
Se o profeta siciliano chegasse a ser perseguido, ou me
lhor, crucificado, então teria chances reais de um dia ser re
conhecido como ungido do Senhor, principalmente se o drama
se desenrolasse em circunstâncias já conhecidas.
Afinal, já teve seus precedentes...
395
AS ARMAS MARAVILHOSAS DOS CELTAS
396
Conheciam o submarino, se nos reportarmos ao fato de
que tinham “navio prateado que vogava debaixo d’água”, que
serviu a Élata para procurar seu filho depois da batalha de
Mag Tured.
Um poema irlandês fala mesmo de um combate entre
tanques anfíbios:
397
O LASER DOS TUATHA DÉ DANANN
398
Balé de discos voadores nos céus da Costa Brava, em setembro de 1968!
Na realidade, trata-se de uma contraluz com luz solar que provocou
reflexos sobre a objetiva do aparelho fotográfico.
Se tivesse havido discos voadores no céu, o operador os teria visto
e em vez de tomar um primeiro plano sem interesse ele teria
prefereniemente enfocado a foto no céu. O cavalo não está espantado,
como se pretendeu fazer crer: ele negaceia e o condutor afrouxa a
rédea como se costuma fazer quando se quer que uma junta recue.
399
Com os lança-chamas que incendiaram Tara, as nuvens
atômicas que vitrificaram a torre de Toriniz e destruíram as
habitações, os rebanhos e todos os campos de Gorsed Arberth
(arma total), os antigos celtas da Irlanda e os Tuatha do país
misterioso pareciam portanto povos que tinham tido em sua
posse, durante um certo tempo, armas científicas cuja origem
não podia ser planetária.
Esta a tese sustentada por E. Coarer-Kalondan e Gwezenn
Dana, tese esta que, mesmo se estiver errada em seus deta
lhes, tem o mérito de estabelecer um vínculo entre a história
dos celtas e a grande e maravilhosa aventura dos outros povos
entre os quais a vinda de Iniciadores extraplanetários é muito
mais evidente.
400
zes se passa rente, mas nunca completamente: existe sempre
alguma coisa de bom para ver, uma adição.
Por conseguinte, se não há fatos adicionais, não há OVNI,
muito menos fantasmas, elfos e reencamações.
401
Foi assim que Eugênio Siragusa entrou em contacto com os três
enviados da «Confederação Intergaláctica», no vulcão Etna.
402
Não pode existir nenhuma vida em Júpiter, onde a gravi
dade é enorme e o frio, intenso; mas, se o satélite americano
se perder no cosmo — o que não está excluído depois de uma
viagem de bilhões de quilômetros3 — então terá tuna chance
de encontrar uma estrela mais acolhedora ou de ser intercep
tado por uma civilização adiantada.
O metal da mensagem foi submetido a um tratamento no
sentido de resistir a tuna viagem espacial de 3.000 anos-luz, o
que representa 100 milhões de anos terrestres. A placa está
presa a um suporte de antena.
A mensagem consiste num desenho do sistema solar com
catorze linhas de brilhantes que representam “pulsars" e uma
outra linha adicional (15.a) que situa a posição da Terra em
relação ao centro da nossa galáxia.
Um homem e uma mulher, sem roupa, nus, dão a idéia de
nossa imagem; o homem levanta o braço direito para cumpri
mentar os eventuais descobridores e para dar-lhes a entender
que desejamos entabular um diálogo.
Resta saber se seres inteligentes do espaço, com natureza,
formas e consistência desconhecidas, estariam em condições
de decifrar esta mensagem sibilina.
Os homens da Terra não carecem de qualidades cerebrais
e no entanto não parecem propensos a interpretar, como um
possível diálogo, esses OVNI, essas ímagens-fantasmas que se
desenham em seus radares, e esses sinais no céu que são, qui
çá, indícios enviados por uma civilização do espaço.
Mas, sempre podemos contar com a eventualidade de os
Extraterrestres das longínquas estrelas serem mais inteligen
tes do que nós...
403
Mensagem dos Terrícolas aos Extraterrestres, levada peto satélite
americano Pioneiro 10.
404
FONTE DAS ILUSTRAÇÕES E FOTOS
Páginas: 21 — 23 — 25 — 53 — 57 — 76 — 85 — 86 — 93 — 96
— 98 — 111 — 115 — 118 — 152 — 204 — 256 — 258 —
263 — 265 — 267 — 269 — 271 — 276 — 329 — 346
— 348 — 362 — 365 — 371 — 380 — 404.
Fotos de Robert Charroux
Páginas: 27 — 28.
Fotos de Gilbert Bovard
Página: 56.
Fatos de Loic Jahan
Páginas: 61 — 62.
Fotos de Popperfoto
Página: 78.
Foto Irish Board-Bord.
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Foto H. N. Ignatieff
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Fotos Metapschiea, Gênova — Itália
Página: 178.
Foto Gendarmerie régionale, Digne
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Fotos Wilty Endress
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405
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Fotos Edith Gérin
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Foto Coll. Chiàgi, em Siènne
Páginas: 283 — 286.
Fotos La Domenica dei Corrière (Itália)
Página: 330.
Foto J. P. Moret (Lusignan)
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Foto Excelsior-Journal
Páginas: 391 — 394 — 397 — 402.
Fotos Centro de Estudos da Fraternidade Cósmica
Página: 399.
Foto André Bernier
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