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Nã o sei ao certo quando tudo começou, minhas lembranças sã o turvas demais,

nã o me lembro da minha infâ ncia, tudo o que eu lembro começou em um dia que
me recordo como se fosse ontem, apesar de ter acontecido a muitos anos.
Lá estava eu vendo tv a noite, minha mã e dormia com meu irmã ozinho, meu pai
jantava, eu sabia que meus pais vendiam droga para nos sustentar, as coisas
sempre foram agitadas por aqui, mas neste belo dia, bom, foi quando tudo
começou. A casa foi invadida, vieram cobrar dividas, essas coisas eu acho,
mataram primeiro meu pai com um tiro, ouvi apenas o barulho e me encolhi no
chã o da sala, segundos depois ouvi outro disparo no quarto, ao ouvir o segundo
disparo, eu no fundo sabia que minha mã e havia morrido também com meu
irmã o, assim de agonia, pâ nico, ou sei lá o que eu desmaiei, tudo escureceu, e
minhas memó rias sumiram, me lembrava apenas meu nome, Samuel, e o que
havia acontecido naquela noite.
Acordei, a tv chiava, fui ate a cozinha, meu pai morto debruçado na mesa, fui ao
quarto, minha mae deitada, como se tivesse sido assassinada enquanto dormia,
passei a mã o em seu braço até encontrar suas mã os frias, estavam abraçando
meu irmã o Gabriel contra o peito perfurado, para minha surpresa naquele
momento Gabriel começa a chorar, ouvir aquele choro me preencheu e me deu
um sentido para continuar a viver, chorei com ele, aliviado por nã o ter que viver
só neste mundo maldito.
O tiro perfurou minha mã e, e a bala atingiu o corpo do meu irmã o, ele era
neném, o ferimento infelizmente o deixou tetraplégico, mas para mim isso nã o
faz diferença, estamos juntos nã o importa o que aconteça, claro que as coisas
desde aquele dia foram bem difíceis no início, fome, desabrigo perseguiçã o,
tivemos de fugir como cã es vadios, só deus sabe onde tivemos de ir para nos
esconder e viver em paz.
Mas como dizem, as coisas mudam, o tempo passou, e conseguimos dar a volta
por cima depois de anos sofrendo como condenados ao inferno. Hoje, apó s anos
conhecendo as ruas, sobreviver nã o é difícil, eu cresci, me tornei alguém neste
mundo, nã o tenho medo de nada, tudo o que quero é viver e proteger meu irmã o,
e nada pode me impedir de fazer o que quero, ninguém tem colhõ es para me
julgar, ou dizer o que fazer, eu simplesmente faço.
Eu e meu irmã o somos os reis da cidade, comemos o melhor hambú rguer
quando queremos, e vamos a qualquer clube que essa cidade de merda venha ter.
Eu adoro isso, Gabriel nã o pode falar por si, apenas seus olhos falam, e só eu
posso entender o que dizem, Gabriel é a pessoa mais inteligente e brilhante que
já conheci, ele é perfeito, me conforta quando preciso, me aconselha sempre que
tenho dú vidas, e me corrigi quando estou errado, minha vida já teria se perdido a
muitos anos sem ele, claro que as pessoas que nos olham pensam o contrá rio, me
veem o empurrando e muitas vezes o carregando, e imaginam que ele depende
de mim para viver, mas isso é a maior baboseira que as pessoas podem pensar,
eu apenas retribuo como posso por ele cuidar de mim, e ser tudo para mim, tudo
o que tenho.
Hoje vai ter luta no ninho a noite, nã o está muito cheio como de costume, mas
fiquei sabendo que teremos apostas grandes. Nã o tenho muitos amigos, mas
gosto do Mosca, ele vai lutar hoje, o cara e fantá stico, um verdadeiro animal que
nã o sente nada, alem do mais temos negó cios, ele gostaria que eu fosse seu
empresá rio, e as vezes até me apresenta como sendo, mas sabemos que nã o é
assim na verdade, eu sou apenas um parceiro dele, digamos que sou a garantia
do recebimento das apostas, afinal ele sempre vence, só quando o pagam que ele
perde, mas as vezes as coisas nã o acontecem como o combinado, é ai que eu e o
Gabriel entramos na histó ria, nosso papel seria resgatar o pagamento por vias
alternativas, hostis quase sempre, mas ainda assim amo este trabalho, nã o tem
rotina, ganha-se bem, e respeitado, e nã o precisa ralar muito. Se nã o pagam, eu
sou avisado enquanto aguardo do lado de fora muitas vezes, dai eu e meu irmã o
apenas esperamos o filho da puta sair e resolvemos da forma menos incomoda
possível, mas se houver complicaçõ es apelo para o método divertido de fazer a
coisa.
Nã o sou um masoquista insano como o Mosca, mas temos de admitir, nã o há
prazer maior que causar dor em pessoas mesquinhas, me sinto como um deus,
invulnerá vel e glorioso, e hoje sinto que terei trabalho denovo, a noite vai ser
longa.
A parte chata é ter que esperar no carro a luta acabar, sã o alguns minutos que
parecem nã o acabar, ao final se o celular tocar provavelmente teremos de seguir
alguém e pegar o que é nosso. Neste caso esta noite se trata de um idiota
chamado Diogo acompanhado por uma prostituta qualquer, o cara achou que ia
se dar bem nas apostas, novo na cena, viu o Mosca e o desdenhou, isso realmente
o excita, com certeza tal postura o estimulou a lutar primorosamente como faz
nos momentos em que está verdadeiramente inspirado. Apanha miseravelmente
até o ú ltimo round, é assim que aquele desgraçado masoquista gosta, e quando
os idiotas acham que ganharam a bolada toda, faz aquela cena clá ssica que
sempre faz, se levanta no ultimo segundo da contagem totalmente
ensanguentado e rindo desnaturadamente, os adversá rios invariavelmente se
chocam com o que veem nessa parte, só assim Mosca sente prazer em bater,
quando está todo moído.
Obviamente Mosca venceu a luta como sempre, o desgraçado simplesmente
nã o sente dor, é resistente como uma mula, e Diogo perdeu toda grana que tinha,
bêbado e drogado, se empolgou vendo Mosca apanhar, e simplesmente apostou
tudo o que tinha, R$100.000,00 em notas novinhas recém sacadas do banco. O
idiota nã o se conformou, e achou que mandava no circo, mas no ninho ninguém
manda, por isto todos vã o lá . Diogo ao ver seu lutador cair semi-morto no chã o
nã o acreditou e nã o se conteve, sacou uma pistola, atirou para cima, e anunciou
um assalto. O cara era um verdadeiro idiota.
Assim que ele saiu do ninho o celular tocou, ao ouvir o tiro, e em seguida ver o
indivíduo apressado entrando no carro com a vadia, já previ o que se sucedera,
atendi o celular, era o Mosca, apenas me disse fadigado, “pega o desgraçado”.
O imbecíl entrou no carro arrancou virou a esquina e prosseguiu em disparada
por dois minutos, como conhecia o territó rio como a palma de minha mã o
consegui acompanha-lo de longe, até que por fim pegou a rodovia e adentrou a
outra parte da cidade crente que tinha se livrado de qualquer ameaça. O cara
morava em uma modesta casa em um setor de classe média, ele entrou com o
carro enquanto eu continuava de forma desapercebida, estacionei em frente e
junto com Gabriel aguardá vamos e observá vamos a movimentaçã o, esperamos
até de madrugada, até que decidimos agir, essa é a parte preferida de Gabriel,
quase é possível ve-lo sorrir ao saber que chegou o momento de fazer os cretinos
pagarem.
Coloquei Gabriel na cadeira de rodas, e o empurrei até o portã o da casa,
adentramos sem problemas. Nã o tenho dificuldades em abrir fechaduras ou
cadeados, aprendi nas ruas a sobreviver desta forma.
Foi entã o que as três eu estava em pé junto com Gabriel observando o cretino e
sua prostituta dormirem no quarto abraçados na cama., decidi acordá -lo com um
tiro na perna para que com o susto nã o fuja, o canalha ao ver o que estava a
acontecer desmaiou, sua mulher ficou histérica, mas se conteve ao anunciá -la
que se nã o fizesse silêncio eu teria de silenciá -la, perguntei onde estava o
dinheiro roubado, ela disse que estava em uma mochila no guarda-roupas, me
afastei dela até o mencionado guarda-roupas, me virei para abri-lo, o abri, vi a
mochila e a abri, o dinheiro estava lá , fechei de volta, ao me virar, a vadia estava
com Gabriel e uma arma apontada para mim.
Ao ameaçar matar Gabriel me rendi e entreguei minha arma e a mochila com o
dinheiro, ao pegar a mochila, matou seu parceiro idiota com um tiro na cabeça
enquanto dormia, e fez o mesmo comigo.

...........

Carro na rodovia, Gabriel no banco de passageiros do carro que costumava


andar, e eu Débora, a vadia que matou seu irmã o agora dirigindo o seu carro com
uma mochila cheia de dinheiro e seu irmã o Gabriel, eu o chamo de Biel, ele gosta
de mim percebo no seu olhar, acho que ele vai gostar de passear comigo para
comemorar todo este dinheiro...

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