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1. Conceitos importantes
Acesso: qualquer registro individual constante de uma coleção de germoplasma. Pode ser uma
amostra de uma população, de uma cultivar, ou de uma espécie silvestre mantida para a
conservação e uso.
Conservação ex situ: A conservação é feita com plantas no campo, em telados, casas de vegetação,
in vitro e com sementes em câmaras frias.
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Pré-melhoramento: identificação de genes e/ou características de interesse em germoplasma exótico
ou em populações que não foram submetidas a qualquer processo de melhoramento (parentes
silvestres e raças locais), e sua posterior incorporação em materiais elites agronomicamente
adaptados. O desenvolvimento de programas de pré-melhoramento tem sido indicado como
alternativa eficiente para promover o aumento da utilização dos RGV’s.
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A composição total da biodiversidade brasileira não é conhecida e talvez nunca venha a ser na
sua plenitude, tal a sua magnitude e complexidade. Nesse sentido, e considerando-se que o número
de espécies existentes no território nacional, particularmente na plataforma continental e nas águas
jurisdicionais brasileiras, - em grande parte ainda desconhecida, é elevado, é fácil inferir que o
número de espécies, tanto terrestres quanto marinhas, ainda não identificadas, no Brasil, pode
alcançar valores da ordem de dezena de milhões. Apesar dessas estimativas, a realidade é que o
número de espécies conhecidas atualmente, em todo o planeta, está em torno de 1,7 milhões, valor
que atesta o alto grau de desconhecimento da biodiversidade, especialmente nas regiões tropicais.
Além disso, é interessante registrar que a maior parte dos conhecimentos sobre a biodiversidade no
nível específico se refere a organismos de grande porte. O nosso conhecimento sobre outros
organismos, a exemplo dos insetos, liquens, fungos e algas é ainda muito incipiente. A parcela da
biodiversidade menos conhecida está localizada na copa das árvores, no solo e nas profundezas
marinhas.
Em relação aos recursos fitogenéticos, estimativas da FAO indicam a existência, em âmbito
mundial, de cerca de 6,5 milhões de acessos de interesse agrícola mantidos em condição ex situ.
Desse total, 50% são conservados em países desenvolvidos, 38% em países em desenvolvimento e
12% distribuídos nos Centros Internacionais de Pesquisa (IARCs), do Grupo Consultivo
Internacional de Pesquisa Agrícola (CGIAR).
Os recursos genéticos são mantidos em condições in situ, on farm, e ex situ. A conservação in
situ de recursos genéticos é realizada, basicamente, em reservas genéticas, reservas extrativistas e
reservas de desenvolvimento sustentável. Naturalmente, a conservação in situ de recursos genéticos
pode ser organizada também em áreas protegidas, seja de âmbito federal, estadual ou municipal. As
reservas genéticas, por exemplo, são implantadas e mantidas em áreas prioritárias, de acordo com a
diversidade genética de uma ou mais espécies de reconhecida importância científica ou sócio-
econômica. Teoricamente, essas reservas podem existir dentro de uma área protegida, de uma
reserva indígena, de uma reserva extrativista e de uma propriedade privada, entre outras.
Nos termos da Convenção sobre Diversidade Biológica, conservação in situ é definida como
sendo a conservação dos ecossistemas e dos habitats naturais e a manutenção e a reconstituição de
populações viáveis de espécies nos seus ambientes naturais e, no caso de espécies domesticadas e
cultivadas, nos ambientes onde desenvolveram seus caracteres distintos. A conservação in situ
apresenta algumas vantagens, tais como: (i) permitir que as espécies continuem seus processos
evolutivos; (ii) favorecer a proteção e a manutenção da vida silvestre; (iii) apresentar melhores
condições para a conservação de espécies silvestres, especialmente vegetais e animais; (iv) oferecer
maior segurança na conservação de espécies com sementes recalcitrantes e (v) conservar os
polinizadores e dispersores de sementes das espécies vegetais. Deve-se considerar, entretanto, que
este método é oneroso, visto depender de eficiente e constante manejo e monitoramento, pode exigir
grandes áreas, o que nem sempre é possível, além do que a conservação de uma espécie em um ou
poucos locais de ocorrência não significa, necessariamente, a conservação de toda a sua
variabilidade genética.
A conservação on farm pode ser considerada uma estratégia complementar à conservação in
situ, já que esse processo também permite que as espécies continuem o seu processo evolutivo. É
uma das formas de conservação genética da agrobiodiversidade, um termo utilizado para se referir à
diversidade de seres vivos, de ambientes terrestres ou aquáticos, cultivados em diferentes estados de
domesticação. A conservação on farm apresenta como particularidade o fato de envolver recursos
genéticos, especialmente variedades crioulas - cultivadas por agricultores, especialmente pelos
pequenos agricultores, além das comunidades locais, tradicionais ou não e populações indígenas,
detentoras de grande diversidade de recursos fito-genéticos e de um amplo conhecimento sobre eles.
Esta diversidade de recursos é essencial para a segurança alimentar das comunidades. Dentre os
principais recursos fito-genéticos mantidos a campo pelos pequenos agricultores brasileiros estão a
mandioca, o milho e o feijão. Contudo, muitos recursos genéticos de menor importância para a
sociedade "moderna" são também mantidos, podendo-se citar como exemplos uma série de espécies
de raízes e tubérculos, plantas medicinais e aromáticas, além de raças locais de animais
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domesticados (suínos, caprinos e aves, entre outros). A manutenção desses materiais on farm, com
ênfase para as variedades crioulas, envolve recursos nativos e exóticos adaptados às condições
locais. Outra particularidade é que estas variedades crioulas, mesmo deslocadas de suas condições
naturais, continuam evoluindo na natureza, já que estão permanentemente submetidas à diferentes
condições edafoclimáticas.
A conservação ex situ, por sua vez, envolve a manutenção, fora do habitat natural, de uma
representatividade da biodiversidade, de importância científica ou econômico-social, inclusive para
o desenvolvimento de programas de pesquisa, particularmente aqueles relacionados ao
melhoramento genético. Trata da manutenção de recursos genéticos em câmaras de conservação de
sementes (-20º C), cultura de tecidos (conservação in vitro), criogenia - para o caso de sementes
recalcitrantes, (-196º C), laboratórios - para o caso de microorganismos, a campo (conservação in
vivo), bancos de germoplasma - para o caso de espécies vegetais, ou em núcleos de conservação,
para o caso de espécies animais. A conservação ex situ implica, portanto, a manutenção das espécies
fora de seu habitat natural e tem como principal característica: (i) preservar genes por séculos; (ii)
permitir que em apenas um local seja reunido material genético de muitas procedências, facilitando
o trabalho do melhoramento genético; (iii) garantir melhor proteção à diversidade intraespecífica,
especialmente de espécies de ampla distribuição geográfica. Este método implica, entretanto, na
paralisação dos processos evolutivos, além de depender de ações permanentes do homem, visto
concentrar grandes quantidades de material genético em um mesmo local, o que torna a coleção
bastante vulnerável.
As três formas de conservação, in situ, on farm e ex situ, são complementares e formam,
estrategicamente, a base para a implementação dos três grandes objetivos da Convenção sobre
Diversidade Biológica: i) conservação da diversidade biológica; ii) uso sustentável dos seus
componentes e iii) repartição dos benefícios derivados do uso dos recursos genéticos. A
conservação on farm vem recebendo crescente atenção nos diversos fóruns internacionais
relacionados à temática da conservação dos recursos genéticos. Nesse contexto, a Convenção sobre
Diversidade Biológica, por meio das suas Conferências das Partes, tem dado especial atenção a essa
questão, considerando que: i) o campo da agricultura oferece oportunidade única para o
estabelecimento de ligação entre a conservação da diversidade biológica e a repartição de benefícios
decorrentes do uso desses recursos; ii) existe uma relação próxima entre diversidade biológica,
agronômica e cultural; iii) a diversidade biológica na agricultura é estratégica, considerando os
contextos sócio-econômicos nos quais ela é praticada e as perspectivas de redução dos impactos
negativos sobre a diversidade biológica, permitindo a conciliação de esforços de conservação com
ganhos sociais e econômicos; iv) as comunidades de agricultores tradicionais e suas práticas
agrícolas têm uma significativa contribuição para a conservação, para o aumento da biodiversidade
e para o desenvolvimento de sistemas produtivos agrícolas mais favoráveis ao meio ambiente; v) o
uso inapropriado e a dependência excessiva de agro-químicos têm produzido efeitos significativos
sobre os ecossistemas, com impactos negativos sobre a biodiversidade; e, finalmente, os direitos
soberanos dos Estados sobre seus recursos biológicos, incluindo os recursos genéticos para
alimentação e agricultura. Esse posicionamento dos países nas Conferências das Partes tem
permitido, além do estabelecimento de um programa de longo prazo voltado especificamente às
atividades sobre agrobiodiversidade, um crescente avanço na discussão e implementação de ações
relacionadas à conservação e promoção do uso dos recursos da biodiversidade agrícola.
Nos últimos anos ocorreram, em âmbito mundial, importantes avanços relacionados à
conservação e à promoção do uso dos recursos genéticos. Em junho de 1996, a Conferência Técnica
Internacional sobre Recursos Fitogenéticos, realizada em Leipzig, Alemanha, no âmbito da
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação – FAO, aprovou o Plano
Global de Ação para a Conservação e a Utilização Sustentável dos Recursos Genéticos para a
Agricultura e a Alimentação que tem, basicamente, como prioridades: (i) a Conservação in situ e o
Desenvolvimento; (ii) a Conservação ex situ; (iii) a Utilização dos Recursos Fitogenéticos; e (iv) a
Capacitação das Instituições.
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Em novembro de 2001, foi aprovado, no âmbito da FAO, o Tratado Internacional de Recursos
Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura que prevê, entre os seus objetivos, a conservação
e o uso sustentável dos recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura e a repartição justa
e eqüitativa dos benefícios derivados de seu uso, em harmonia com a Convenção sobre Diversidade
Biológica, para a sustentabilidade da agricultura e a segurança alimentar.
No Brasil, o despertar da consciência conservacionista conta com mais de meio século de
decisões políticas, influenciadas pela ciência e pela sociedade preocupadas com as condições do
meio ambiente e, especialmente, com a conservação da flora e da fauna. Nas últimas duas décadas
tem havido um crescente envolvimento do Governo Federal, bem como uma maior conscientização
da sociedade civil nos assuntos relativos à conservação da biodiversidade.
Nas últimas décadas, as atividades ligadas à conservação dos recursos genéticos no País
tiveram um considerável impulso, assegurando posição de destaque entre os países tropicais. Os
avanços conduzidos por alguns órgãos de pesquisa, a exemplo da Empresa Brasileira de pesquisa
Agropecuária – EMBRAPA, particularmente por meio da EMBRAPA Recursos Genéticos e
Biotecnologia, estão sendo fundamentais para o avanço do País na conservação e utilização dos
seus recursos genéticos. Paralelamente, o Brasil experimentou avanços significativos na
implantação de Unidades de Conservação, ampliando fortemente a conservação in situ da
biodiversidade e a promoção da utilização sustentável dos recursos genéticos nativos. A
conservação on farm, apesar de ser um dos métodos mais tradicionais de conservação, é ainda
bastante fragmentada no país, apesar dos recentes avanços experimentados nos últimos anos. Há de
se reconhecer que a sociedade civil organizada exerce, atualmente, uma forte liderança na
conservação on farm de recursos genéticos, promovendo não apenas o uso sustentável, mas também
o intercâmbio de recursos genéticos entre os agricultores, dentro e entre comunidades. Neste
contexto, deve-se destacar a relevância dos movimentos sociais (Movimento dos Pequenos
Agricultores, Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais, Movimento dos Trabalhadores Sem
Terra e das ONGs, principalmente daquelas organizadas em redes, caso da Rede Ecovida e Rede
Cerrado, por exemplo), que são considerados importantes atores na organização e articulação
política e social das comunidades.
Contudo, apesar desses avanços, deve-se reconhecer que a conservação dos recursos genéticos
no País, um dos principais países de megadiversidade, está longe da condição ideal. Faltam
inventários relativos às instituições (governamentais, não-governamentais e movimentos sociais)
envolvidas na conservação in situ, on farm e ex situ de recursos genéticos (fauna, flora e
microrganismos); representatividade, tanto em termos regionais quanto nos biomas; infraestrutura
existente em cada coleção; nível de uso e intercâmbio de recursos genéticos, bem como
informações sobre as necessidades e as medidas necessárias para a conservação desses materiais a
curto, médio e longo prazos.