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O que é um monstro?
Filosofia & Ciências
Enviado por: Visitante
Postado em:30/10/2007
O que é um monstro? Como reconhecê-lo? Onde ele vive? E por que achamos que devemos
temê-lo (se é que devemos)?Saiba mais...
Por Jorge Leite Júnior* O que é um monstro? Como reconhecê-lo? Onde ele vive? E por que
achamos que devemos temê-lo (se é que devemos)? Essas são questões curiosas cujas respostas,
assim como o próprio conceito de monstro, sempre são dependentes do período histórico e da
cultura que as formula. Cada cultura cria seus monstros. E cada monstro só pode nascer, crescer e
gerar descendentes dentro de uma cultura que o alimente e sustente, seja com carinho e glória, seja
com ódio e medo, mas sempre lhe dando atenção. Esses seres incríveis conhecidos por monstros
são, por excelência, a marca explícita de algo fora dos pré-supostos de ordem, do “natural” ou, no
mínimo, do conhecido. Constantemente, a monstruosidade é entendida como uma transgressão das
leis estabelecidas, visando através de sua presença, inspirar temores e dúvidas ou punir contra
infrações. O termo monstro não possui uma origem muito clara. O que se sabe com certeza é que
sua origem é latina, podendo vir tanto de monstra que significa “mostrar, apresentar”, quanto de
monstrum, com significado de “aquele que revela, aquele que adverte”, ou mesmo de monstrare que
possui a idéia de “ ensinar um comportamento, prescrever a via a seguir”. O importante é que
“monstro” é aquele que “mostra” algo: uma revelação divina, a ira de Deus, as infinitas e misteriosas
possibilidades da natureza ou aquilo que o homem pode vir a ser. É, portanto, a manifestação de
algo fora do comum ou esperado. Representa uma alteração maldita ou benfazeja das regras
conhecidas. Mas não é apenas o terror que a figura monstruosa provoca. É também fascínio,
encanto, dúvida, fonte de curiosidade e desejo. Por isso, desde a antiguidade até pelo menos o
século XVI, os monstros no Ocidente também eram classificados entre as “maravilhas” ou
“prodígios” do mundo e podiam evocar tanto o medo quanto a risada através de suas formas
exageradas, assustadoras ou ridículas. O monstro era então a imagem encarnada de um poder
sempre além do entendimento dos homens. E como algo que “mostra” ou “revela”, o monstro, ou
maravilha, se identificava pelo corpo. Independente de ser um sábio (como o centauro Quíron), ou
algo terrível e perigoso (como a Medusa), era na estrutura física que se apresentava a distinção
entre “homens” e “monstros”, não no caráter destes. É somente na baixa Idade Média, com a
associação do conceito de monstro com a figura do demônio, que o primeiro passa a ser entendido
apenas como a encarnação de algo essencialmente destrutivo, perdendo qualquer outra face que
não a da malignidade – mas mantendo ainda na corporeidade a medida de sua classificação
“monstruosa”. Por isso, a partir desse período, com a dominação da ideologia cristã na Europa, a
estranheza do “fantástico” vai ser substituída em grande parte pelo temor do maligno. O demônio
será de agora em diante a grande fonte geradora de monstros ainda reconhecidos não por atitudes
ou intenções, mas pelo físico. Quanto mais esse período chega ao fim, maior é a associação entre o
mal e o monstro. Dessa forma, tanto figuras míticas quanto pessoas com corpos distintos,
consideradas “deformadas” ou “aleijadas” comungam da idéia de “monstro”, “maravilha” e, cada vez
mais, de “periculosidade maligna”. Culminando este processo, surge a caça às bruxas no século
XVI, na qual a Igreja vai identificar o ser delinqüente, satânico e anormal na figura da mulher,
preferencialmente a feiticeira, o corpo estranho por excelência em uma cultura fundamentalmente