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2004 - O Integralismo Revisitado (Artigo)
2004 - O Integralismo Revisitado (Artigo)
MIGUEL REALE
fundado por Plinio Salgado, mas com manifesta má fé, como é hábito dos chamados
“esquerdistas”, até o ponto de apresentá-lo como simples variante do hitlerismo, com gangues
Nada mais errôneo do que ligar a Ação Integralista Brasileira a Hitler, pois ela foi
criada em outubro de 1932, quando a doutrina daquele líder alemão era praticamente
desconhecida no Brasil, onde repercutira apenas o Fascismo de Mussolini, com as idéias centrais
de “Estado forte”, com partido político único organizado com base em corporações econômicas.
planificação da economia – ponto este em que coincidia com o marxismo leninista – teve grande
ressonância em nosso País, contando com o apoio de intelectuais do porte de Alceu Amoroso
Lima, Fernando de Azevedo, Francisco Campos, Azevedo Amaral, Otávio de Faria, Cassiano
Ricardo e Menotti Del Picchia, como Wilson Martins objetivamente salienta em sua clássica
Plínio Salgado acolheu essa idéia, no contexto da doutrina social da Igreja, que era a
sendo partidário de um “corporativismo integral”, não identificado com o Estado. A seu ver, o
Fascismo devia ser interpretado como uma “terza via” entre o liberalismo e o comunismo, tendo
pensador romeno, Michail Manoilesco, em sua obra Le Siècle du Corporativisme, não aceitando
a tese fascista da corporação como “órgão do Estado”, mas sim como estrutura democrática com
Como se vê, o Integralismo não se reduzia à doutrina seguida por Plinio Salgado,
comportando variantes pessoais, como era o caso, por exemplo, de Olbiano de Mello, mais
sindicalista do que corporativista. Quem quiser ter informação mais completa sobre meu
pensamento na época deve ler o que escrevi, em 1934, em meu livro O Estado Moderno, com o
subtítulo “Liberalismo, Comunismo, Integralismo”, na linha da tão reclamada “terceira via”. Esse
livro foi incluído, em 1983, pela Universidade de Brasília, em uma coletânea sobre minha posição
política na juventude.
Quanto a Gustavo Barroso, ele se distinguia por seu anti-semitismo, não de caráter
racial ou religioso, mas apenas do ponto de vista econômico-financeiro como o demonstra sua
obra Brasil, colônia de banqueiros, no qual analisa nossa política de onerosos empréstimos
conquista do poder. Alegar-se-á que, em 1937, houve o chamado “putsch integralista” para
ataque ao Palácio Guanabara e prisão do presidente Getúlio Vargas, mas, como provo no
primeiro tomo de minhas Memórias, publicadas pela Editora Saraiva em 1986, aquele evento
resultou de uma aliança de liberais com integralistas no quadro de uma conspiração nacional
destinada a derrubar o Estado Novo, sob o comando do General Castro Junior e outros
elementos do Exército e da Marinha. Tanto assim que os integralistas, que realizaram a referida
tentativa de assalto, eram comandados pelo Capitão Severo Fournier, comprovado liberal, herói
Como se vê, há toda uma história a ser refeita sobre o real sentido do Integralismo,
exílio na Itália, me dei conta da ilusória organização corporativista sob o mando de um partido
único, tanto assim que me recusei a pertencer ao partido organizado por Plínio Salgado depois
da Constituição de 1946, preferindo, com Marrey Junior, criar o Partido Popular Sindicalista, ao
Agrário de Rolim Telles, para a formação do Partido Social Progressista, cujo lema era a
“socialização do progresso”, mas cujo triste destino foi, infelizmente, transformar-se em grei
adhemarista...
inspirado nos valores ideológicos em conflito na década de 1930, mas jamais me arrependi de
meu entusiasmo juvenil, ao lado da elite de minha geração, com San Tiago Dantas, Seabra
Fagundes, Pe. Helder Câmara, Câmara Cascudo, Alvaro Lins, António Gallotti, Gofredo Telles
Junior, Roland Corbisier, Thiers Martins Moreira, Loureiro Júnior, Jorge Lacerda e tantos outros,
cuja participação revela que havia valores positivos na Ação Integralista Brasileira.
ilusões e os equívocos da A.I.B., mas os acontecimentos culturais não podem deixar de ser
os genocídios perpetrados por Stalin, e os atos violentos dos brasileiros que, sob a bandeira
comunista de Luis Carlos Prestes, tentaram ganhar o poder, como o fizeram em 1934, na praça
da Sé, quando, do alto do antigo Edifício Santa Helena fuzilaram a milícia integralista que,
desarmada, vestia pela primeira vez a camisa verde, com a morte de dois operários. Sobre esses
28/08/2004