Sistemas de Informação Geográfica em Políticas

Públicas
Erika Priscilla Lisboa Müller1, Max Luiz de Carvalho2, Samuel Jorge Moysés3
1Mestranda do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Tecnologia da Saúde PUCPR,
2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Tecnologia da Saúde PUCPR,
3 Professor do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Tecnologia da Saúde PUCPR.

Resumo - Este artigo apresenta uma visão sobre a utilização do geoprocessamento na área da saúde,
revisando conceitos importantes e relacionados como a geografia médica e os Sistemas de Informação
Geográfica (SIGs). Ressaltando a complexidade da ação humana sobre o ambiente e entendendo que,
frequentemente, essa ação constitui a gênese dos problemas ambientais que, por sua vez, atingem o
próprio agente, o SIG é utilizado para refinar o estudo da relação entre saúde humana e ambiente. Justifica-
se como uma poderosa ferramenta de apoio à decisão bem como no planejamento e implementação de
políticas de saúde pública e no processo de construção de uma base de informações territoriais integradas,
buscando interferir positivamente nos seus potenciais impactos sobre qualidade de vida e saúde.

Palavras-chave: geografia médica, SIG, fatores ambientais, políticas públicas de saúde

Abstract - This paper presents a vision on the use of geoprocessing tools in the field of human health,
revising important concepts as the medical geography and Geographical Information Systems (GIS).
Emphasizing the complexity of the human action on the environment and understanding that, frequently, this
action constitutes the genesis of the environmental problems that eventually affect the agent, SIG is used to
refine the study of the relationship between human and environmental health. It comes as a powerful tool
supporting the decision making process as well as in the planning and implementation of public health
policies and in the process of building a base of integrated spatial information, aiming at generating positive
outcomes on the quality of life and health.

Key-words: medical geography, GIS, environmental factors, health public policies

Introdução médica têm como um dos seus objetos de

O geoprocessamento de informações
consiste basicamente no uso da geografia
relacionada a diversas áreas do conhecimento,
para realizar operações como análise, coleta,
armazenamento e criação de bancos de dados e
mapas visando uma inter-relação entre dados
espaciais e atributos ou valores pré-
selecionados. Na área da saúde, destaca-se a
Geografia Médica, cujo uso em medicina já é
bem consolidado, visto que as informações
veiculadas por mapas são exploradas há muito
tempo como auxílio no entendimento do
dinamismo das doenças em um contexto
espacial. LACAZ (1972) diz que a Geografia
Médica nasceu com Hipócrates e, portanto, com
a própria história da medicina, quando
aproximadamente em 480 a.C., foi composta a
famosa obra “Dos ares, das águas e dos
lugares”. Nesta época, já se demonstrava a
relação dos fatores ambientais com o surgimento
das doenças [1]. Desta forma, a vinculação do
espaço à condição de saúde se mostra um
conceito clássico na medicina. Tradicionalmente,
a epidemiologia, a saúde pública e a geografia
estudo a análise do desenvolvimento de doenças
bem como da mortalidade em diversas escalas
geográficas na tentativa de associar fatores
físicos ou ambientais à presença ou não de
doença. O dinamismo do processo saúde-
doença pode ser mais bem compreendido
quando inserido em um contexto espacial.
SNOW é amplamente utilizado como referência
por seu trabalho de mapeamento de casos de
uma epidemia de cólera em um bairro de
Londres. Snow, em 1854, mostrou que os casos
de cólera aconteciam ao redor de uma bomba
pública de abastecimento de água, servindo a
população afetada. Com intenso trabalho
descritivo e analítico, lançando mão de recursos
de localização espacial das redes distribuidoras
de água e do provimento da referida bomba, o
autor produziu um clássico trabalho
epidemiológico. A subseqüente redução dos
casos após o fechamento da bomba de
distribuição, serviu como suporte para a teoria de
Snow, que concluiu que a cólera era uma doença
transmitida através da água, e essa conclusão só
pôde ser demonstrada através do mapeamento
geográfico da região [2]. Com o
desenvolvimento subseqüente da tecnologia da
informação em saúde, observado ao longo do
século XX, diversas ferramentas vêm ao
encontro da necessidade dos profissionais de
saúde em analisar grande quantidade de
informações ao mesmo tempo, de forma a
possibilitar a ação multidisciplinar no campo da
saúde. Dados geoprocessados podem ser
agregados e manipulados com sistemas de
informação geográfica, os SIGs. Com o uso de
um sistema de informação geográfica,
profissionais de saúde conseguem gerenciar
muitas informações em um contexto espacial:
mapear a distribuição de riscos para a saúde, de
doenças, ou de fatores protetivos e recursos de
atenção à saúde; analisar e relacionar fatores
ambientais e sócio-econômicos no processo
saúde-doença; além do auxílio à decisão e
implementação no desenvolvimento de políticas
de saúde [3]. Nesse sentido, os Sistemas de
Informação Geográfica (SIGs) têm sido
apontados como instrumentos de integração de
dados ambientais com dados de saúde,
permitindo uma melhor caracterização e
quantificação da exposição e seus possíveis
determinantes, bem como de seus desfechos [4].
Revisão
A. SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA
Um sistema de informação geográfica
(SIG) consiste em um conjunto de programas,
métodos, dados e usuários integrados, que
possibilita o desenvolvimento de uma aplicação
capaz de coletar, armazenar e processar dados
relevantes com expressão espacial. A utilização
de SIG ganhou uma importância muito grande,
recentemente, sendo possível melhorar o
gerenciamento de informações e evoluir nos
processos de tomada de decisão, nas áreas de
transporte, proteção ambiental, planejamento
municipal, estadual e federal e saúde pública. O
SIG manipula os dados como os demais sistemas
de informação, utilizando bancos de dados para
armazenar e coletar informações, porém estes
dados estão ligados a referências espaciais. Este
sistema computadorizado armazena e interliga
atributos não gráficos ou dados referenciados
geograficamente com mapas gráficos a fim de
permitir várias operações, tais como:
visualização, edição, análise e modelagem de
mapas [3]. Existem várias definições para um
SIG, dentre as quais, a de BURROUGH, para
quem um SIG é definido como sendo um conjunto
potente de ferramentas para recolher, armazenar,
aceder, transformar e visualizar dados espaciais
do mundo real. Esta definição caracteriza de uma
forma genérica os produtos que se destinam ao
suporte de aplicações envolvendo dados
geográficos [5].
B. CARACTERÍSTICAS DE UM SISTEMA DE
INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA
O SIG tem como característica principal a
associação de dados espaciais com atributos ou
dados estatísticos (variáveis de aspecto não-
espacial). O dado espacial consiste nas
coordenadas geográficas que contêm
informações sobre o local, as dimensões das
características físicas da superfície terrestre e as
relações entre as estruturas presentes no relevo.
Esses dados são armazenados de forma
topológica – uma estrutura que mantém
informações sobre relações tais como adjacência
e conectividade. Já o atributo ou dado estatístico
representa variáveis de censo, condições de
saúde, aspectos sem expressão espacial para o
banco de dados [3].
O atributo e o dado geográfico são ligados
por um código, o “geocode” que constitui um
identificador contido em ambos os componentes,
de forma a possibilitar recuperação e análise com
as variáveis interligadas no contexto espacial
referido [3].
C. POLÍTICAS PÚBLICAS
Segundo Lucchese (2004) “as políticas
públicas podem ser definidas como conjunto de
disposições, medidas e procedimentos que
traduzem a orientação política do Estado e
regulam as atividades governamentais
relacionadas às tarefas de interesse público. São
também definidas como todas as ações de
governo, divididas em atividades diretas de
produção de serviços pelo próprio Estado e em
atividades de regulação de outros agentes
econômicos”.
As políticas públicas saudáveis se definem
como aquelas que têm uma grande repercussão
nas condições de saúde das populações. Para
que haja uma adequada formulação de políticas
públicas saudáveis, os vários setores da vida
moderna devem levar em consideração a saúde
como um fator essencial [6].
O sucesso de uma política saudável de
saúde dentro do sistema de saúde pode ser
percebido através da junção de todos os sistemas
que devem ser envolvidos, culminando no
desenvolvimento humano [6]. Construído no
âmbito do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), no início da década de
1990, o desenvolvimento humano compreende as
potencialidades humanas em todas as
sociedades e abrange o indivíduo em todas as
etapas de desenvolvimento.
Para o enfrentamento de situações
problemática ou negativas que comprometem o
desenvolvimento humano, em particular a sua
saúde, é necessário aperfeiçoar os processos de
tomadas de decisões, a fim de integrar os
diversos fatores sociais e econômicos aos
sociais. É preciso que meio ambiente saúde e
desenvolvimento humano sustentável se situem
no centro desse processo [6].
D. SIG EM POLÍTICAS PÚBLICAS
Na tentativa de encontrar mecanismos de
enfrentamento das situações negativas e que
visem o desenvolvimento humano sustentável
gerando desfechos tais como boa qualidade de
vida e saúde, propõe-se, entre inúmeros recursos
a interação dos SIG’s com o planejamento das
ações em políticas públicas. O conta as características presentes no local
geoprocessamento das informações, desta forma,
figura como instrumento de auxílio poderoso e
eficiente junto aos órgãos competentes,
formuladores de polítcas e tomadores de decisão.
Todavia, esta proposta ainda é pouca
discutida e utilizada, particularmente no contexto
político-institucional das instituições públicas
brasileiras, carecendo de estudos para completa
validação de sua utilização.
E. CONSIDERAÇÕES SOCIAIS
O uso de dados de interesse para as
políticas públicas, em um sistema de informação
geográfica, implica em diversas considerações.
Nos bancos de dados de informações da
população e nos Sistemas de Informação em
Saúde são encontrados endereços postais,
condições de saúde e de vida além de diversas
outras características pessoais, que são
relevantes. Porém, muitas destas informações
são pessoais exigindo a confidencialidade e
outros requisitos éticos por conta do gestor de
tais dados. No intuito de preservar tais
informações de qualquer acesso inadvertido
pode-se proceder de algumas maneiras: utilizar
dados dos pacientes agregados à códigos
postais; utilização de escalas menores de forma a
disponibilizar menos detalhes; opção de não
utilizar endereços residenciais nos mapas,
quando em modo de visualização [3]. Além dos
dados pessoais, certas informações como
localizações geográficas precisas, referenciadas
em sistemas de informação geográfica, exigem
segurança e controle de acesso de forma a evitar
o uso indevido como em atos terroristas e
planejamento de ações criminosas [3].
Conclusão
Dentre os diversos recursos para apoio à
decisão e análise de grande número de
informações, as geotecnologias, tais como os
SIGs, figuram como uma poderosa ferramenta.
São capazes de ajudar os profissionais de saúde
a melhor entender o processo de
desenvolvimento das doenças ou
promoção/manutenção da saúde, relacionando
fatores ambientais e sócio-econômicos aos dados
estatísticos em um contexto geográfico e planejar
ações em saúde coletiva e ambiental como
instrumentos de políticas de saúde. Como a
própria Organização Mundial da Saúde (OMS)
caracteriza o meio ambiente como influente nas
condições de saúde e qualidade de vida dos
indivíduos ou de comunidades, os sistemas de
informação geográfica constituem valiosa
ferramenta na correta avaliação de processos
relacionados à saúde/doença, além de possibilitar
previsão e planejamento localizado, levando em
analisado. Desta forma, a sociedade e os
profissionais das diversas áreas do conhecimento
devem se familiarizar com esta tecnologia
emergente, buscando aperfeiçoar a busca de um
melhor apoio no planejamento e implementação
de políticas saudáveis.
Referências
[1] LACAZ C. Introdução à Geografia Médica
do Brasil, São Paulo: Editora E. Blücher, 1972.
[2] Lemos, J. C.; Lima, S. C. A GEOGRAFIA
MÉDICA E AS DOENÇAS INFECTO-
PARASITÁRIAS. Caminhos de Geografia 3(6)
– junho de 2002.
[3] O´Carrol, P.W.; Yasnoff, W.A.; Ward, M.E.;
Ripp, L.H.; Martin, E.L., (2003), “Public Health
Informatics and Information Systems”, 21: 432-
463.
[4] BRIGGS, D.J. Mapping Environmental
Exposure. In Geographical and Environmental
Epidemiology: Methods for Small-area Studies,
158-176, Oxford University Press, 1992.
[5] Burrough, P., 1986. Principles of Geographical
Information Systems for Land Resources
Assessment (Oxford: Clarendon Press).
[6] OPAS, OPAS. Políticas Públicas Saudáveis.
Disponível em:
http://www.opas.org.br/coletiva/temas.cfm?id=25&
area=Conceito Acesso em: (20 mai. 2006)
Contatos
1- Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós-
Graduação Mestrado em Tecnologia da Saúde
PUCPR; fone: 41 9988-5770;
erikamuller@pucpr.br.
2- Odontólogo, Mestrando do Programa de Pós-
Graduação Mestrado em Tecnologia da Saúde
PUCPR; fone: 8805-0502; maxluizz@gmail.com.
3- Professor do Programa de Pós-Graduação
Mestrado em Tecnologia da Saúde PUCPR; fone:
3342 0479; s.moyses@pucpr.br.