Você está na página 1de 2

A DESVITALIZAÇÃO DO MÉDIUM PELO MAL USO DA PALAVRA

Nem tudo é obsessor ou demanda


Ser fiel é imprescindível, particularmente nas sociedades de tradição oral, onde ela é
indispensável à sobrevivência do indivíduo, do grupo e da história.
Um velho adágio diz: Pelo fruto se conhece a árvore e pela palavra se conhece o
homem.
A palavra falada movimenta energias e tem poder de criação, conservação ou
destruição, também detém o poder de criar a paz ou destruí-la. Aquele que procura
desenvolver sua consciência moral liga a palavra falada com a verdade. Verdade
remete-nos à fidelidade e à confiabilidade. Tornam-se confiáveis às pessoas cujas
demonstrações de responsabilidade social ou espiritual não deixam margens a dúvidas e
incertezas. A verdade associa-se à sinceridade que, por sua vez, relaciona-se à
honestidade.

Há pessoas de palavras saudáveis e há outras pessoas de palavra adoecida. Todo e


qualquer uso depreciativo da fala e dos atos, refere-se a esse adoecimento. Na ausência
ou afastamento da verdade, ocorre o que poderíamos chamar de “lepra da palavra”:
mentira, tagarelice, fofoca, maledicência, calúnia, escárnio, xingamento e maldição,
entre outras.

A mentira é uma das mais frequentes manifestações da falta de apreço da palavra. Um


mentiroso, ao perder o crédito dos demais, perde também o respeito que lhe devotavam.
Por isso se diz que a mentira mais promove morte social por perda de credibilidade e da
confiabilidade. Seu efeito nocivo vai além disso: mata também fisicamente, por
acarretar perda de vitalidade, pois, ao promover o distanciamento entre a pessoa e seu
próprio ori, a mentira dificulta ou mesmo impede o fluxo do axé que, advindo da
divindade pessoal – Ori – que vitaliza o corpo físico e espiritual.

Um tipo especial de mentiroso é o homem que não cumpre o que promete e, assim, não
assume compromisso com a palavra que profere. Podemos chamá-lo vulgarmente de
“boca frouxa”, pois sua palavra não é firme e confiável. Neste grupo de pessoas inclui-
se aquele que, de má fé, mente deliberadamente, prometendo vantagens que, de
antemão, sabe ser incapaz de oferecer. Inclui-se, também, aquele outro que não age de
má fé: é uma pessoa que não reconhece a si mesma como mentirosa, pois, ao enunciar
determinado propósito, talvez esteja pessoalmente convencida de que o cumprirá; talvez
tenha dificuldade de avaliar os próprios limites e possibilidades e, por isso, proponha-se
a realizar tarefas que de fato não realizará nunca.

Essa fraqueza da palavra, aparentemente sem maiores consequências, é de fato


desastrosa. Não apenas para a própria pessoa, por sua perda de confiabilidade, mas,
também, pelos efeitos sociais desse comportamento, pois a sobrevivência do coletivo
(concretização das tarefas), também depende do compromisso de cada qual para com a
própria palavra. Por isso, o ditado: Não prometa nada sem a certeza de poder cumprir.

A tagarelice, outra lepra da palavra, caracteriza-se pelo falar excessivamente: o homem


falante e verborrágico não exerce crítica sobre o que verbaliza: fala de tudo e de todos,
conta seus planos a quem quer que se apresente diante dele. A tagarelice, em suas
múltiplas formas, associa-se a difamação, à bisbilhotice e à maledicência, entre outras.
Denota irresponsabilidade e falta de compromisso para com a vida, pois o bom uso da
palavra demanda consciência a respeito de sua natureza e função. A fala deve ser
funcional, ou seja, deve haver uma finalidade clara para o que está sendo enunciado e
quando alguém tem um problema ou necessidade deve comunicá-los exclusivamente a
quem possa aconselhar ou ajudar.

O homem verborrágico ou “boca aberta” é aquele que não reflete antes de falar, ignora
se o seu interlocutor está interessado no que diz, não observa se “sua vítima” tem
condições de sobreviver a seu bombardeio de palavras. Falam de tudo a todos e a
qualquer um de modo indiscriminado e acrítico. Saem por aí contando seus planos mais
íntimos e os planos alheios ao primeiro que encontram

A verdade é um compromisso que se tem para com o Ori e para com os demais orixás.
Cada vez que uma pessoa utiliza a palavra de modo adequado, o seu ori se fortalece e
ocorre um avanço em sua existência: a palavra correta fortalece o homem e lhe
possibilita prosperar.

Você também pode gostar