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Objectivos de Aprendizagem
Até ao fim da aula os alunos devem ser capazes de:
1. Listar as indicações e contra indicações para o pedido de radiologia simples de abdómen
(decúbito, de pé, e lateral) nas principais condições GI.
2. Explicar a sistemática da leitura dum RX de abdómen, reconhecendo as principais imagens
normais.
3. Descrever as principais imagens radiológicas anormais: hepato-esplenomegália, estenose pilórica,
distensão intestinal (obstrutiva e paralítica), líquido livre e ar livre peritoneais, colecções peritoneais
e retroperitoneais, vólvulo, calcificações bilio-pancreáticas.
4. Descrever o valor da ecografia abdominal, como meio diagnóstico e terapêutico nas principais
condições GI, listando as indicações e limitações para o seu pedido.
5. Listar as indicações, contraindicações e limitações para o pedido de endoscopia alta (esófago-
gastroscopia) e baixa (recto-colonoscopia).
6. Indicar os meios auxiliares de diagnósticos mais adequados para o apuramento do diagnóstico
diferencial de casos clínicos dados (10) dos sindromas GI mais frequentes.
7. Ler em voz alta um RX abdominal normal, explicando a sistemática de leitura.
Estrutura da Aula
Bloco Título do Bloco Método de Ensino Duração
1 Introdução à Aula
2 Imagiologia em Gastroenterologia
3 Pontos-chave
Trabalhos para casa (TPC), exercícios e textos para leitura – incluir data a ser entregue:
Sistema Gastrointestinal
Versão 1.0 1
BLOCO 1. INTRODUÇÃO À AULA
1.1. Apresentação do tópico, conteúdos e objectivos de aprendizagem.
1.2. Apresentação da estrutura da aula.
1.3. Apresentação da bibliografia que o aluno deverá manejar para ampliar os conhecimentos.
Sistema Gastrointestinal
Versão 1.0 2
2.2. Interpretação do raio-x simples do abdómen
Este tema já foi abordado na disciplina de meios diagnósticos, aula 15 de modo superficial, agora,
faremos uma abordagem detalhada, passo-a-passo.
2.2.1. Identificação:
Na inspecção inicial do raio-x, deve-se procurar pelo nome do doente, idade, sexo e data em
que foi feita a chapa. A possibilidade de se fazer um diagnóstico certo no doente errado não
é nula. Tenha a atenção de verificar a identificação do doente se não corre o risco de fazer
uma paracentese num doente com apendicite!
2.2.2. Qualidade e técnica:
Observe a projecção: AP (ântero-posterior), PA (póstero-anterior), perfil
Penetração: o objectivo principal do raio-x do abdómen é ver as vísceras e não os ossos,
se por acaso, os ossos estiverem muito bem visíveis, como se fosse um AP da coluna
vertebral, o seu raio-X está demasiadamente penetrado e pode dar-lhe falsos dados
acerca dos órgãos.
Revelação: sem ajuda do negatoscópio, ponha o dedo por detrás da chapa (no local
mais escuro da chapa, por exemplo nos cantos), se o seu dedo for facilmente visível, o
raio-X foi mal revelado. É suposto não ver nem a sombra do dedo.
Rotação: observar as espinhas ilíacas superiores (se estão tortas ou se uma não parece
maior que a outra) ou se a coluna vertebral esta centralizada.
Posição: decúbito (visualiza-se bem os órgãos abdominais) ou erecto (visualiza-se bem
os níveis hidroaéreos). Para verificar a posição de maneira prática, observe a bolha
gástrica, se tiver um nível hidroaéreo o paciente estava em pé.
Verificar se a chapa cobre o abdómen desde o diafragma ate a pélvis.
Certifique se a posição da chapa é correcta. Observe se a bolha gástrica está do lado
esquerdo e se a sombra hepática está do lado direito. Existe uma condição rara
chamada situs inversus, onde os órgãos estão todos no lado contrário do habitual, por
exemplo, o fígado do lado esquerdo e o estômago no direito. As implicações para a vida
do doente não são graves, pois este indivíduo tem um equilíbrio próprio, o facto é que
isto pode criar uma certa confusão no TMG na hora de ler o Rx e fazer um diagnóstico.
Peça uma ecografia para descartar o situs inversus.
Tabela 1. Densidade com que cada estrutura aparece no raio-x.
Existem algumas excepções como no caso do fígado, rins, e baço, por serem órgãos
maciços, aparecem com uma densidade como do osso.
2.2.3. Partes moles:
Observe o Raio-X de fora para dentro e de cima para baixo. Comece por ver a pele, depois a
gordura da parede, se houver muito acúmulo de lípidos a distância entre a pele e os ossos
Sistema Gastrointestinal
Versão 1.0 3
será grande, e depois os músculos psoas, que devem ser observados como duas linhas
paralelas e rectas.
2.2.4. Partes ósseas:
Observe sempre os ossos (coluna vertebral, pélvis e as últimas costelas), procurando por
soluções de continuidade, deformidades, espessamentos, infiltrações entre outros.
2.2.5. Órgãos abdominais:
As margens do fígado, baço, rins, bexiga (com urina), gás do estômago, gás do cólon
descendente são visíveis.
Procure o material fecal, ele identifica o cólon! Quando temos um cólon cheio de fezes, as
haustras são bem visíveis.
Não confunda a densidade das mamas sobre o abdómen com fígado e baço!
Procure a bolha gasosa dupla, onde a do lado esquerdo representa os fundos do estômago
e a direita o duodeno.
EXEMPLO:
Paciente com iniciais R.N, 24 anos, sexo feminino, vem com queixa de obstipação há 10
dias. Raio-X feito no dia 18.11.10 as 14 h. Trata-se de um raio-X AP do abdómen, com boa
penetração, revelação aceitável, sem rotação, feito com o paciente em pé.
A pele não apresenta enfisema, tecido gorduroso aceitável, músculos psoas visíveis em
linha recta. Ossos da coluna vertebral, pélvis e costelas sem descontinuidade, e com
densidade normal. Observa-se sombra do fígado, baço e rins sem alterações. Bolha gástrica
do lado esquerdo, normal com nível hidroaéreo. Observa-se bastante material fecal dentro
da sombra do anel pélvico, sugestivo de fecaloma no cólon descendente e sigmóide
EXERCÍCIO: 15 min
Com um raio-X normal, peça 2 estudantes para descrevê-lo, usando a sequência ensinada.
Sistema Gastrointestinal
Versão 1.0 4
2.3. Achados patológicos mais frequentes no Raio-X simples
2.3.1. Hepatomegalia:
Para ver se o tamanho do fígado está aumentado, procure por:
Massa grande do lado direito do abdómen, que se apresenta como uma área de
densidade aumentada, podendo aproximar-se da espinha ilíaca
Ausência do cólon ascendente e parte do transverso (podem ter sido afastados)
O rim esquerdo demasiado alto.
2.3.2. Esplenomegalia:
Normalmente o baço não pode ser visto num raio-X normal. Quando está aumentado (>
15cm), é detectado por aumento de densidade no hipocôndrio esquerdo, e pela tracção dos
outros órgãos adjacentes.
2.3.3. Estenose pilórica:
Estreitamento do esfíncter que comunica o estômago com o intestino delgado (denominado
piloro) que ocorre como malformação congénita em recém-nascidos, e nos adultos pode ser
consequência de uma fibrose peripilorica por várias causas.
O raio X simples é pouco útil, mas o raio-X contrastado com bário revela uma distensão do
estômago e um estreitamento do piloro.
Deve-se confirmar o diagnóstico com ecografia, onde irá se observar um piloro aumentado.
2.3.4. Distensão intestinal (obstrutiva e paralítica):
Quando o TMG depara com uma distensão abdominal, o seu primeiro reflexo é pedir um
raio-X ou ecografia para saber qual é causa do aumento do tamanho do abdómen.
O exame que confirma o diagnóstico clínico é o raio-X simples de abdómen, com o paciente
em posição vertical (em pé). Nesta posição, podemos identificar os seguintes aspectos:
Distensão das alças intestinais.
Níveis hidroaéreos dentro dos intestinos, criados pelo acúmulo de líquido/fezes e gás
nos intestinos
Áreas de obstrução
Na obstrução mecânica em geral é possível identificar a região da obstrução, uma vez que
as alças acima da obstrução costumam estar dilatadas, cheias de líquidos e gases,
enquanto as alças abaixo da obstrução costumam estar murchas (obstrução total), ou
menos dilatadas (obstrução parcial).
Como o intestino delgado e cólon têm suas características morfológicas diferenciadas,
sendo que o intestino delgado tem as paredes lisas e o cólon tem haustrações, o TMG
experiente observa que os gases acumulados desenharam as paredes destes órgãos. Com
estes sinais, ele pode determinar a provável localização da obstrução.
Níveis líquidos na mesma alça, em alturas diferentes, demonstram obstrução mecânica (luta
da alça).
No ílio paralítico, observa-se a presença de vários níveis hidroaéreos (área escura superior e
opaca inferior), em alturas diferentes, dando ao raio-X o aspecto de uma tábua de xadrez.
A obstrução do cólon tem algumas particularidades. No raio-X pode assumir muitas formas,
dependendo da posição e local da obstrução, se a válvula ílio cecal é competente ou não.
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Versão 1.0 5
Se a válvula for competente, a maior distensão será mais visível no ceco, mas se a válvula
for incompetente, a pressão será transmitida para o intestino delgado, e este também irá se
distender. No raio-X do abdómen com suspeita de obstrução colonica, procure por:
Alças dilatadas (> 6 cm)
Distensão marcada do ceco
Localização periférica do cólon, dando aspecto de moldura de fotos
Haustrações muito bem desenhadas
Níveis hidroaéreos (fezes e gás nos intestinos)
Quanto mais baixa a obstrução maior é o volume de ansas dilatadas e quanto maior for o
número de níveis hidroaéreos, maior o tempo de evolução do quadro
Vólvulos
Vólvulos é uma forma particular de oclusão intestinal mecânica, e trata-se de uma torção do
intestino e pode afectar qualquer parte do trato GI, mas é mais frequente no cólon sigmóide
e no ceco.
No raio-X , apresenta as características de uma obstrução mecânica, onde a dilatação das
alças inicia no sigmóide ou no ceco.
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Fonte: Dr. Abhijit Datir, radpod.org
http://www.radpod.org/2007/07/03/caecal-volvulus-2/
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Versão 1.0 7
Fonte: Clinical Cases, Wikimedia Commons
http://en.wikipedia.org/wiki/
File:Pneumoperitoneum_modification.jpg
Figura 4. Pneumoperitoneu.
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Versão 1.0 9
A ecografia é um aparelho imagiológico que cria imagens através de transmissão de ondas
sonoras num meio líquido. Quando estamos no sistema GI é de grande valia, principalmente na
visualização dos órgãos intra abdominais que estão sempre “mergulhados” em líquidos.
Na aula 17 da disciplina de meios auxiliares de diagnóstico, foi profundamente abordado o tema
sobre ecografia. Aqui não vamos repetir.
2.5.1. Indicações para ecografia
Suspeita de doença hepática (abcesso hepático, onde também pode se usar a ecografia
para guiar a punção)
Suspeita de doenças do sistema biliar (calcificações, cálculos, atresia dos ductos
biliares)
Doenças do pâncreas (calcificações biliopancreaticas)
Suspeita de doença vascular (aneurisma da aorta, etc.)
Suspeita de doença do baço
Suspeita de patologia genito-urinária
Pesquisa de líquido livre no abdómen
Outras
2.5.2. Contra indicações
Por ser um método não invasivo e que não emite radiações, não é contra-indicado em
nenhuma situação, simplesmente o TMG deve ter o senso de gestão de recursos e tempo.
2.5.3. Limitações
Não observa estruturas ósseas.
O ultra-som tem a sua resolução prejudicada na presença dum paciente obeso, fezes e
gás no interior das alças intestinais.
Outros aspectos que podem limitar os resultados correctos do exame são a má
preparação da paciente, e o tempo insuficiente para a realização do exame.
Insuficiente informação clínica sobre o paciente
2.6. Endoscopia
Endoscopia significa “olhar por dentro”. É o exame das estruturas internas utilizando um tubo de
observação de fibra óptica, como foi explicado na aula 17 de meios auxiliares de diagnóstico. Ela
pode ser alta ou baixa.
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Tabela 3. Indicações, contra-indicações e limitações da endoscopia.
Indicações Contra-indicações Limitações
Alta (esófago- Sintomas de dores Pacientes anémicos Lesão de difícil acesso
gastroscopia) abdominais descompensados ou quando o problema é
persistentes DPOC (doença uma alteração do
(epigastralgia) náuseas pulmonar obstrutiva funcionamento do órgão
e/ou vómitos, crônica) que é melhor avaliado
sangramento do trato descompensado por um outro tipo de
intestinal superior, Carcinoma avançado exame.
inflamação, úlcera e de hipofaringe, laringe
tumores do esófago Recusa do paciente em
estômago e duodeno. realizar o exame
conforme as indicações
do médico.
BLOCO 3. PONTOS-CHAVE
3.1. Quando vemos uma alteração obvia no raio-X, é tentador ignorar o resto da chapa e focar-se no
que está errado. Atenção! Não caia nesse erro, siga os passos a risca, senão perde-se a
oportunidade de observar pequenas alterações que podem perigar a vida do doente.
3.2. Lembre-se que, para ler qualquer imagem, deve ter um domínio da anatomia normal, deve pensar
de maneira lógica. A imagem é uma foto do que aconteceu naquele momento, mas como o corpo é
dinâmico e podem estar a ocorrer outras modificações mais importantes, apoie-se sempre na
anamnese e no exame físico.
3.3. Siga a ordem na leitura do raio-X: identificação, qualidade da técnica, partes moles, partes ósseas,
órgãos abdominais.
3.4. O raio-X simples é muito útil na prática do TMG, porém para o estudo do trato gastrointestinal, o
raio-X com contraste é mais útil, e permite identificar anomalias como pólipos, estenoses, tumores,
etc.
3.5. A endoscopia e ecografia são exames sofisticados e devem ser feitos pelo especialista, mas é
dever do TMG conhecer as suas indicações e contra-indicações.
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