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Eclesiologia ...

APRESENTAÇÃO
........................................................................

A leitura atenta da Palavra de Deus revela-nos dois aspectos


que são essenciais: o conhecimento da própria Palavra e a necessi-
dade de ensiná-la aos povos da terra. Em Provérbios está registrado
que bem-aventurado é homem que acha sabedoria, e o homem que
adquire conhecimento. (...) Os seus caminhos são caminhos de delí-
cias e todas as suas veredas, paz. É árvore da vida para os que a
seguram, e bem-aventurados são todos os que a retêm. O caminho
de Deus para o homem é seguro; leva à felicidade e à paz. Porém, é
preciso que o homem conheça, verdadeiramente, esse caminho. Há
uma relação estreita entre os aspectos evidenciados e um pressupõe
o outro. Se o homem adquire conhecimento da Palavra, necessaria-
mente, ele será compelido a transmiti-lo. Se ele não o adquiriu é,
tão somente, impossível ensiná-lo. Podemos observar, essa relação,
na vida de Esdras. Sacerdote abençoado, cheio de Espírito de Deus,
dispôs o seu coração a buscar o conhecimento da Lei de Deus, a
obedecê-la e a ensiná-la. A observação da vida de Jesus, da sua
conduta, também, não nos deixa dúvida acerca do que está sendo
descrito. A expressão e começou a ensinar é, extremamente, abun-
dante nos Evangelhos. Jesus tinha clareza do seu ministério. Ele sa-
bia, exatamente, o que lhe competia fazer e tinha prazer nisso. Dedi-
cou Sua vida à obra de Deus. As suas palavras e as suas ações
...4 Eclesiologia

demonstram com clareza a sua disposição de cumprir o propósito de


Deus: a minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e
realizar a sua obra (Jo 4.34). Antes de voltar ao céu, Jesus deixou
claro que seus discípulos continuariam a obra que Ele começara a
fazer: assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós (Jo
20.21). Muitos dos seus discípulos entenderam bem Sua vontade e
prosseguiram a obra de Deus.
É em função desse entendimento que esse curso veio à exis-
tência. O conhecimento da Palavra de Deus pode ser alcançado,
mediante seus estudos. Esse curso tem a pretensão de evidenciar os
aspectos mais relevantes e profundos acerca da obra missionária.
Depois de ter adquirido o conhecimento, é preciso transmiti-lo a
todos os povos. Esse curso tem, também, a pretensão de conclamar
aqueles que já ouviram a chamada de Deus para evangelizar os
povos até os confins da terra; pois essa é a essência da obra de
Deus: a salvação das almas que estão perdidas, que ainda não en-
contraram o Salvador da Humanidade. Nós só glorificamos a Deus,
na terra, se cumprirmos a obra que Ele nos ordenou. Não há nada
tão claro quanto a vontade Dele para nós: ... e ser-me-eis testemu-
nhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos
confins da terra (At 1.8).
Através do Projeto Um Milhão de ASAS você pode contribuir
para a evangelização dos povos africanos. Esse Projeto trabalha,
desde 1997, na evangelização da África. Já alcançou dois países:
Moçambique e Senegal, onde se encontram quatro casais de missi-
onários. No primeiro país, o projeto tem missionários em Beira, onde,
em julho de 02, houve a pré-inauguração de um templo, e em Ma-
Eclesiologia ...5

puto. No segundo, o projeto já adquiriu um terreno. A sede desse


Projeto fica na rua 7, Qda. 61, Lt. 11 – Setor Santos Dumont. Tele-
fone: (62) 297-5544 – E-Mail: projetoasas@cultura.com.br. Conhe-
ça esse projeto, torne-se um sócio dele e faça parte dos que livram
os que estão destinados à morte, e salvam os que cambaleiam para
a matança (Pv 24.11).
...6 Eclesiologia
Eclesiologia ...7

COMO
ESTUDAR COM
........................................................
APROVEITAMENTO ESTE LIVRO

Para facilitar o alcance de seus objetivos, siga nossas


instruções.
1 - Procure lugares isolados, livres da interferência de pessoas e de
ruídos, com boa iluminação;
2 - Tenha sempre um material de apoio como dicionários, concor-
dâncias, comentários, mapas, tabelas etc.;
3 – Crie o hábito de fazer anotações, elas são imprescindíveis para
um estudioso;
4 – Afaste tudo que atrapalha a sua atenção;
5 – Estabeleça um horário diário de estudo;
6 – Reserve mais tempo às partes do livro que você considera mais
difíceis; releia-as, se preciso, até mais de três vezes; essa prática é
natural para qualquer estudioso, quando se depara com um texto
mais complexo;
7 - Não fique preso a um assunto em que a compreensão esteja
difícil, talvez leituras posteriores possam ajudar a clarear passagens
mais obscuras, porém não se esqueça de retornar a ela; e não abra
mão de compreendê-la; busque ajuda, se for necessário;
8 – Faça algumas perguntas tais como:
• Qual é a afirmação principal deste capítulo?
...8 Eclesiologia

• O que chamou a minha atenção?


• O que é novidade para mim?
• O que eu não consigo entender?
• Qual é a mensagem deste texto para mim?
9 – Todas as instruções acima são muito importantes, porém nenhu-
ma se compara à orientação do Espírito Santo do Senhor; Ele é
quem abre o seu entendimento e lhe revela as maravilhas da lei do
Senhor.
Eclesiologia ...9

........................................................................................ SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................. 11

CAPÍTULO I
ESTUDO ACERCA DA IGREJA ............................................... 13
Etimologia da Palavra ............................................................ 13
Nomes e Títulos da Igreja ............................................... 14
Atividades de Apoio ............................................................. 18

CAPÍTULO II
A IGREJA: SUA GçENESE ............................................ 21
Atividades de Apoio ............................................................... 23

CAPÍTULO III
A IGREJA: SUA RESPONSABILIDADE ............................... 25
Atividades de Apoio ............................................................... 28

CAPÍTULO IV
A IGREJA: SEU PERFIL ........................................................ 31
Atividades de Apoio ............................................................... 32
...10 Eclesiologia

CAPÍTULO V
A IGREJA: SEU DECLÍNIO ............................................. 33
Carta à Igreja de Éfeso ................................................... 35
Carta à Igreja de Esmirna ............................................... 35
A Isenção Política dos Primeiros Cristãos ............................... 37
Carta à Igreja de Pérgamo ............................................. 39
A Influência Política de Constantino na Igreja Cristã .............. 40
A Influência Política dos Sucessores de Constantino .............. 42
Carta à Igreja de Tiatira ................................................... 44
Carta à Igreja de Sardes ............................................... 45
Carta à Igreja de Filadélfia ................................................... 46
Carta à Igreja de Laodiceia ............................................... 46
Atividades de Apoio ............................................................. 50

ATIVIDADES DE APROFUNDAMENTO ................................ 53

BIBLIOGRAFIA ................................................................. 55

VERIFICAÇÃO DA APRENDIZAGEM ....................................... 61


Eclesiologia ...11

............................................................................. INTRODUÇÃO

Fundada há quase 2.000 anos, a Igreja do Senhor Jesus


Cristo tem superado crises, ataques e perseguições inumeráveis;
se não fosse pela palavra profética de Seu fundador, em Mt 16.18,
as portas do inferno não prevaleceriam contra ela, não haveria
porque acreditar ou esperar seu triunfo futuro.

Nascida no apogeu do Império Romano e, portanto,


durante as mais densas trevas do paganismo bárbaro,
dinamicamente, enfrentou a solidez do sistema, dominando com
intrepidez seus inimigos, e hasteou, em cada província, a bandeira
do testemunho cristão.

Inexplicável e sobrenaturalmente, quanto maior foi a


brutalidade praticada contra ela, tanto mais cresceu e se fortaleceu.
Triunfantemente, venceu os primeiros inimigos em seus
primórdios, quando investiram contra ela com suas doutrinas
espúrias e diabólicas. Seguindo sua trajetória e vocação celestial,
enfrentou a tentativa de paganização de suas bases, o que
ocasionou a separação do sistema oficial e o mergulho na
clandestinidade; só reapareceu com ânimo redobrado na reforma
de Lutero. Renovou-se espiritualmente, retornando ao seu ofício
...12 Eclesiologia

evangelizador nos séculos XVIII e XIX; agora, em sua última etapa,


enfrenta o pior de todos os ataques satânicos: a apostasia, a apatia,
o esfriamento da fé e do amor.

O estudo desse assunto tão inebriante é denominado


pela teologia de ECLESIOLOGIA e é assunto de suma
importância, pois, histórica e espiritualmente, fazemos parte desse
organismo que é o corpo de Cristo (ICo 12.25, Ef 1.23). Por isso,
nesse manual, estudaremos acerca do que é, essencialmente, a
igreja: sua gênese, sua responsabilidade e seu perfil; este
adequado às exigências da função primordial dela, que é a obra
missionária. Além disso, faremos um breve retrospecto, a partir
das cartas destinadas às igrejas da Ásia, registradas no livro do
Apocalipse. Esse retrospecto nos ajudará a compreender a
dificuldade da realização da obra missionária, nos últimos dias;
fato que não deve nos desanimar, mas nos fazer tomar consciência
de que o que devemos fazer é cumprir a ordem do Senhor Jesus:
evangelizar os povos da terra, pois a obra no coração de cada
um quem faz é só Deus. Portanto, veremos que, independente do
grau do afastamento da igreja do seu cabeça que é Cristo, Deus
sempre haverá de se manifestar aos homens, através de um
remanescente, ou seja, de um povo que permanece fiel às bases
doutrinárias registradas na Palavra de Deus.
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..................................................................................CAPÍTULO I
ESTUDO ACERCA DA IGREJA

Etimologia da Palavra

ECLESIA - εκκλεδια - significa: chamar para fora,


convocar.

Historicamente, essa palavra designava as convocações


de eminentes cidadãos para as reuniões que se realizavam com
fins específicos nas cidades-estados da Grécia. Assim, quando
havia algo a ser deliberado ou julgado, que dizia respeito aos
interesses da cidade, eram convocados determinados cidadãos
que saíam fora dos muros à entrada da cidade e, em assembleia,
discutiam o assunto em pauta. Ninguém, a não ser os convocados,
poderia pertencer àquela assembleia, pois era exclusiva de seus
convocados. Era um grupo seleto, cuja característica essencial
era a convocação.

Daí a ideia de Igreja ou Assembleia dos santos; pois


esta é formada pelos que são, eminentemente, convocados para
fora do mundo para integrarem um grupo seleto, especial, zeloso
de boas obras (Tt 2.14). Sendo assim, há de se ressaltar a
preeminência da separação do mundo (Tg 4.4), pois nossa
...14 Eclesiologia

convocação, e assembleia, são permanentes e nossa função, na


assembleia, é vitalícia.

Nomes e Títulos da Igreja

A igreja nos é apresentada com vários nomes e títulos.


A teologia tradicional aponta alguns títulos atribuídos à
congregação de Israel, como sendo um prelúdio da igreja, uma
sombra ou o aparecimento da mesma no Antigo Testamento, ao
que não podemos concordar, pois Deus trata com a humanidade
em três fases distintas, e só houve necessidade da última porque
os responsáveis pela primeira e segunda falharam. Vejamos as
três fases:

Œ  Ž
CONSCIÊNCIA LEI GRAÇA
Adão ao Dilúvio do Dilúvio ao Calvário do Calvário ao Arrebatamento
A primeira e única oportunidade de salvação para os
antediluvianos foi a aplicação da consciência aos seus atos como
forma de nortear e encontrar o caminho de retorno ao paraíso
perdido, ou seja, à comunhão com Deus. Por falharem, o Senhor
providenciou, por meio de Noé, a arca com o fim de preservação
da raça.

Se houvesse tido um arrependimento em massa, pelo


anúncio do juízo por águas, e todos tivessem entrado na arca
não haveria necessidade da segunda e da terceira fase, visto que
o arrependimento dos homens culminaria no retorno à comunhão
Eclesiologia ...15

com Deus e na obediência irrestrita às Suas leis naturais escritas


em suas consciências (Rm 1.18, 22).

A deliberada e consciente recusa dos homens a esse


gesto de misericórdia do Pai e o insistente escárnio e desprezo
explicitado em suas palavras de zombaria ao patriarca Noé, tornou
claro, ao Senhor, que tais homens, outra sorte não mereciam,
senão a morte e destruição.

Com o advento desse juízo e o consequente extermínio


da raça humana, passamos à segunda fase ou oportunidade de
salvação da humanidade.

Tão logo apareceu a alva da liberdade, os sobreviventes


antediluvianos começaram a povoar a terra; ajuntaram-se em
Babel e, por providência de Deus, espalharam-se por toda a Terra.
Estava iniciando-se a execução do plano emergencial para a
salvação da criatura humana – a Lei. Pela chamada de Abraão,
deseja Deus fazer de toda a Terra uma só nação, um só povo; o
estrangeiro era obrigado adotar os costumes, os preceitos e as
leis judaicas, caso desejasse participar de sua vida religiosa e da
adoração de seu Deus. Porém, a lei tinha apenas a função de aio,
ou seja, a de guiar o homem para o Senhor; assim, a obediência
e observação da mesma culminariam em restabelecimento da
comunhão perdida e, por consequência, na restauração do paraíso
perdido.

Apesar de todos os ritos e cerimônias que apontavam


para a figura do Messias, a lei não clareou, suficientemente, a
visão e o entendimento do povo judeu para aceitá-Lo, momento
...16 Eclesiologia

em que a paz seria restabelecida entre Criador e criatura (Rm 9 a


11).

Com a rejeição do Messias, pelos israelitas, (Jo 1.11),


abre-se a porta (Jo 10.5) para toda a raça humana que,
voluntariamente, O reconhecesse e O aceitasse como Senhor e
Salvador (Jo 1.12). Estava, pois, sem sombra de dúvida,
inaugurada a terceira e última fase de oportunidade de salvação
ao homem – a Igreja.

Isso não quer dizer, em absoluto, que não haverá,


posteriormente, salvação ao pecador arrependido, visto que
Apocalipse 5.14 fala da multidão salva que veio de grande
tribulação e branquearam suas vestes no sangue de Jesus. Até
mesmo após o milênio poderá haver salvação, pois, onde há
julgamento, há possibilidade de libertação ou condenação.
Todavia, isto é matéria futura e não há porque discuti-la, agora;
além disso, entendemos que, sobre o que a Bíblia nada fala, pelo
menos de forma clara, não devemos nos preocupar. Apenas
acrescentamos que nossa oportunidade é enquanto a porta da
graça estiver aberta, pois a segunda epístola de Paulo aos
Tessalonicenses deixa claro no capítulo 2 e versos 10 e seguintes
que, quem não receber o amor da verdade (evangelho) para se
salvar, Deus enviará sobre eles a operação do erro para que creiam
na mentira (apostatem) e, consequentemente, estes pactuarão com
o Anticristo na Grande Tribulação. Assim, não haverá para o
desviado uma segunda chance de salvação.
Eclesiologia ...17

Daí concluirmos que cada fase encerrou em si mesma


uma etapa distinta, ainda que há uma raiz, um radical que as
sustenta. Assim, como nada indicava, nos tempos antediluvianos,
o advento da Lei, por ser a consciência, elemento capaz de levar
o homem a Deus (Enos, Enoc), também não há, na Lei, algo que
explicite a Igreja, a não ser o fato de que o reino de Deus, pregado
em uma e outra fase, é o mesmo; nesse caso, entendemos que a
constituição de Israel como cabeça das nações e povo sacerdotal,
é o mesmo futuro milênio da paz, pregado pela igreja cristã.

Logo, elencaremos, aqui, alguns dos nomes e títulos


que aparecem no Novo Testamento:

• Casa de Cristo – Hb 3.6.


• Coluna e Firmeza da Verdade – 1Tm 3.15.
• Corpo de Cristo – Ef 1.22, Cl 1.24.
• Edifício de Deus – 1Co 3.9.
• Família do Céu e da Terra – Ef 3.15.
• Igreja do Deus Vivo – 1Tm 3.15.
• Igreja dos Primogênitos – Hb 12.23.
• Israel de Deus – Gl 6.16.
• Jerusalém Celestial – Ap 21.2.
• Noiva do Cordeiro – Ef. 5.22-32.
• Rebanho de Deus – 1Pe 5.2.
• Assembleia dos Primogênitos – Hb 12.23.
• Casa de Deus – Ef. 2.22, Tt 3.15.
• Cidade do Deus Vivo – Hb 12.22.
• Castiçal de Ouro – Ap. 1.20.
...18 Eclesiologia

• Esposa do Cordeiro – Ap 19.7-10; 21.9.


• Igreja – Mt 16.18, At 2.47, Gl 1.13.
• Igreja de Deus – At 20.28.
• Lavoura de Deus – 1Co 3.9.
• Monte Sião – Hb 12.22.
• Nova Jerusalém – Ap 21.2.
• Reino de Deus – Jo 3.3, Mt 4.17, Jo 18.36.
• Templo de Deus – 1Co 3.16, 2Co 6.16.

...................................................... ATIVIDADES DE APOIO

01. Responda:

a) O que significa a palavra ECLESIA?


b) Historicamente, o que designava a palavra ECLESIA?
c) Qual a origem da ideia de Igreja, ou Assembleia dos santos?

02. Deus trata com a humanidade em três fases distintas. Sobre


esse assunto, relacione as colunas:
(1) Consciência
(2) Lei
(3) Graça

( ) do Calvário ao Arrebatamento.
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( ) de Adão ao Dilúvio
( ) do Dilúvio ao Calvário

03. Enumere alguns nomes e títulos da Igreja que aparecem no Novo


Testamento.
...20 Eclesiologia
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CAPÍTULO II
................................................................................

A IGREJA: SUA GÊNESE 1

No livro dos Atos dos apóstolos, no capítulo 2, está registrado


o relato da descida do Espírito Santo. Nessa ocasião é que se dá,
oficialmente, a constituição da igreja, embora os discípulos de Jesus,
conforme veremos adiante, não houvessem, ainda, compreendido
essa questão. Havia se cumprido o dia de Pentecostes2 e os apóstolos
continuavam reunidos, perseverantes, esperando a promessa de
Deus. De repente, veio do céu um som e encheu a casa (v. 2), e
todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras
línguas. O dia de Pentecostes foi o grande marco do encontro do
homem com Deus. Em Gn 11.1, a Bíblia nos revela que a terra era

1
Esse estudo pode ser encontrado, também, no manual de Atos dos apóstolos do Curso
Básico por extensão do Seminário Seifa. Ressaltamos, porém, que, aqui, ele foi condensado
para atender nossos objetivos específicos, pois a abordagem geral dos dois estudos é
diferente, pois diferentes são os seus objetivos.
2
Pentecoste era a segunda grande festa sagrada do ano judaico. A primeira era a Páscoa.
Cinquenta dia após esta, vinha a festa de Pentecoste, nome derivado do gr. Penteekostos
(= quinquagésimo). Era, também, chamada Festa das colheitas, porque nela as primícias
da sega de grãos eram oferecidas a Deus (Lv 23.17). Da mesma forma, o dia de Penctecoste
simboliza, para a igreja, o início da colheita de almas para Deus, neste mundo. (Cf. Bíblia
Pentecostal , nota 2.1, p. 1630)
...22 Eclesiologia

de uma mesma língua e de uma mesma fala. Mas, os filhos de Noé,


que povoaram a terra, depois do dilúvio, tiveram a genial ideia de
edificar uma cidade e uma torre que tocasse nos céus, para que não
fossem espalhados sobre a terra. Esse propósito revela uma atitude
de rebelião à vontade de Deus, pois Este havia dito a Adão para
encher a terra (Gn 1.28). Deus, como soberano Senhor, interfere na
história humana para mudar o seu destino. Ele desce e confunde a
língua dos homens de tal forma que lhes impossibilitem a
comunicação. Assim, o Senhor espalhou os homens sobre a face da
terra.

No dia de Pentecostes, a Bíblia diz que estavam, em Jerusalém,


povos de todas as nações que estão debaixo do céu (v. 5) e cada um
os ouvia falar na sua própria língua (v. 6). Deus, nesse momento, faz
com que, novamente, a terra seja de uma mesma língua!!!

A euforia dos homens com a presença de Deus provocou


vários comentários dentre os quais que estavam cheios de mosto.3
Esse comentário desencadeia o discurso que profere Pedro,
demonstrando a ousadia concedida pelo poder do Espírito Santo.
Aquele que negara Jesus, agora o defende. O discurso de Pedro
pode ser sintetizado da seguinte forma: proclama que Jesus é o
Senhor e Cristo – crucificado, ressurreto e exaltado (v. 23, 24, 36);
declara que Jesus recebera autoridade do Pai para derramar o Espírito
Santo (v. 33); demonstra que os crentes, que já se arrependeram

3
Embriagados.
Eclesiologia ...23

dos pecados, devem esperar o dom do Espírito Santo (v. 38,39); afirma
que o batismo com o Espírito Santo requer separação do mundo.
Com esse discurso, logo após o derramamento de poder que
caracterizou a fundação da igreja, entendemos que esta, desde a sua
constituição inicial, possui a responsabilidade de espalhar o
evangelho entre os povos; inicialmente, este foi pregado em
Jerusalém, mas o livro de Atos nos relata o trabalho desenvolvido
pela igreja até os confins da terra. Se compreendemos que nós,
convocados para a assembleia de Deus, fazemos parte dessa mesma
igreja, constituída em Jerusalém, no dia de Pentecostes, devemos,
então, entender, também, que a nossa responsabilidade continua a
mesma, ou seja: pregar os evangelho a todos os povos da terra.

......................................................ATIVIDADES DE APOIO

01. Responda:

01. Em que ocasião se deu, oficialmente, a constituição da


Igreja?

02. De que forma o discurso de Pedro pode ser sintetizado.


...24 Eclesiologia

02. A Igreja, desde sua fundação, tem uma responsabilidade. Dê sua


opinião sobre esse assunto e cite referências bíblicas.
Eclesiologia ...25

CAPÍTULO III
...............................................................................

A IGREJA: SUA RESPONSABILIDADE

A pregação de Pedro com ousadia do Espírito Santo levou à


conversão quase três mil almas e, segundo segue, a partir do v. 42,
todos perseveraram na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no
partir do pão, e nas orações e, ainda mais, em cada alma havia
temor (v. 43). Essa é a igreja do Senhor, cheia de poder, essa é a
igreja segundo o coração de Deus. Os irmãos estavam todos os dias
no templo, adorando a Deus com muita alegria e singeleza de coração
(v. 46). Louvavam a Deus, eram gratos a Ele e, por isso, era o próprio
Senhor que se encarregava de acrescentar à igreja as almas que
haviam de se salvar (v. 47).

A igreja do Senhor Jesus crescia e se fortalecia, pois o discurso


de homens cheios do Espírito Santo, juntamente com seu testemunho
de vida, gera nos ouvintes a convicção do pecado, da justiça e do
juízo.

A igreja, cheia de poder, que, constantemente, adorava a


Deus, não poderia permanecer somente em Jerusalém, mas deveria
se espalhar; como os discípulos, ainda, não compreendiam isso,
observamos que Deus começa a agir para que haja expansão dos
...26 Eclesiologia

limites de alcance do evangelho. A igreja em Jerusalém crescia, a


Palavra de Deus era pregada e muitos sacerdotes obedeciam à fé
(6.7). Agora, era hora de Deus espalhar seu povo, pois sua Palavra
ainda precisava alcançar os confins da terra. Assim, sobreveio uma
grande perseguição e todos foram dispersos pelas terras da Judeia e
da Samaria, exceto os apóstolos (v.1). E, os que foram dispersos,
anunciavam por toda parte a Palavra. Saulo, grande perseguidor da
igreja do Senhor, sem saber, proporcionava o começo da obra
missionária que, posteriormente, ele mesmo daria continuidade.
Filipe fez grandes maravilhas na cidade de Samaria: muitos
samaritanos creram e foram batizados; depois disso, Pedro e João
oraram para que recebessem o Espírito Santo. Seu ministério
demonstra que um homem, sob a direção de Deus, faz com que os
propósitos de Deus sejam alcançados. A ele foi ordenado que fosse
para a banda do Sul. Seguiu o caminho ordenado; encontrou-se
com o etíope; anunciou-lhe Jesus e batizou-o.
O capítulo 9 de Atos registra, também, a história da conversão
de Paulo. O encontro que teve com Jesus mudou, por completo, o
rumo de sua vida. A partir de então, mostra-se disposto a obedecer
às ordens de Deus e a buscar comunhão com Ele, através do jejum
e oração. Paulo deixa de ser um perseguidor da obra de Deus e
passa a ser perseguido.
O capítulo 9 registra como Deus se encarregou de chamar o
homem que seria seu instrumento para levar o evangelho aos confins
da terra. Mas, para que isso acontecesse, era necessária compreensão,
pelos discípulos, de como Deus gostaria de agir; para isso, há a história
da conversão de Cornélio. A vida desse homem representa as nações
Eclesiologia ...27

gentílicas, sedentas de Deus. O homem traz consigo um vazio interior


que o leva a perceber que existe algo além do seu mundo físico,
material. Assim, procura Deus através de meios que não podem
levá-lo até Ele. Dessa forma procedia Cornélio. A Bíblia diz que era
piedoso e temente a Deus (...) fazia esmola e, de contínuo, orava a
Deus. Era um homem que servia a Deus, mas não conhecia o
caminho da salvação.
Deus, vendo a disposição desse homem para servi-lo,
direciona-o para alcançar a salvação em Cristo: um anjo lhe aparece
e diz o seguinte: as tuas orações e as tuas esmolas têm subido para
memória diante de Deus (...) manda chamar Simão, que tem por
sobrenome Pedro (...) Ele te dirá o que deves fazer. A partir daqui,
Cornélio toma a iniciativa para sua evangelização, pois, conforme já
ressaltamos, a igreja ainda não conhecia seu papel, como o
conhecemos hoje.
Depois de direcionar Cornélio, Deus precisou orientar Pedro,
pois tanto ele, quanto a igreja em geral estavam fechados em si
mesmos (judeus); não percebiam que o plano da salvação de Deus
tinha uma extensão universal. Deus revela que, em Cristo, não há
judeu e gentio, pois essa distinção, com a morte de Jesus Cristo, foi
desfeita. Pedro, depois que teve a visão do céu aberto e um vaso
que descia como uma espécie de lençol, no qual havia de todos os
animais quadrúpedes, répteis da terra e aves do céu (v.12) e que
uma voz lhe disse não faças tu impuro o que Deus purificou, dirigiu-
se a Cesareia, onde Cornélio o estava esperando. Chegando lá,
contou a Cornélio e a seus parentes como Deus o havia feito perceber
que não há diferença entre o judeu e o estrangeiro. Depois do relato
...28 Eclesiologia

de Cornélio acerca da direção de Deus, Pedro aumenta sua convicção


de que Deus não faz acepção de pessoas. A partir de então, o apóstolo
começa a fazer a exposição do ministério de Jesus, que foi ungido
por Deus para fazer sua obra: livrar os homens da opressão de
Satanás. Após a exposição de Pedro, o Espírito Santo de Deus encheu
a todos que ouviam a Palavra (v.44); sendo assim, nada impedia
que fossem batizados nas águas.
A partir da experiência da vida de Cornélio, o propósito de
Deus começa a ser compreendido, com isso, o papel da igreja vai se
delineando de forma mais eficaz. Entretanto, essas mudanças
causaram conflitos entre os irmãos judeus. Quando ouviram que os
gentios tinham recebido a Palavra de Deus, começaram a discutir
com Pedro, acusando de ter comunhão com incircuncisos. A partir
do v.5, do capítulo 11, Pedro faz uma exposição de tudo que havia
acontecido. Encerra seu discurso com o seguinte questionamento:
se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando cremos no Senhor
Jesus, quem era, então, eu, para que pudesse resistir a Deus? Depois
disso, o nome de Deus foi glorificado, e o evangelho continuou a ser
pregado entre os gentios.

......................................................ATIVIDADES DE APOIO

01. Como se deu a expansão dos limites de alcance do Evangelho?

02. Qual foi a importância de Felipe para a expansão do Evangelho?


Eclesiologia ...29

03. O que registra o capítulo 9 de Atos?

04. O que a vida de Cornélio representa?

05. Faça um breve resumo sobre a história da conversão de Cornélio.


...30 Eclesiologia
Eclesiologia ...31

CAPÍTULO IV
...............................................................................

A IGREJA: SEU PERFIL

Das considerações feitas anteriormente, podemos


chegar a algumas conclusões esquemáticas, acerca do perfil da
igreja que atende aos anseios do coração de Deus. Inicialmente,
podemos dizer que uma igreja missionária é
• Unida – At 4.32;
• Fervorosa – At 2.47;
• Temente – At 2.43;
• Repartidora – At 2.45;
• Perseverante – At 2.46;
• Doutrinada – At 2.42.

Essa igreja prega:

• Um evangelho para todos – sem distinção – Lc 2.10;


• Um evangelho objetivo – At 8.30;
• Um evangelho completo – Mc 16.17,18;
• Um evangelho genuíno – Gl 1.6-9;
• O que aprendeu de Jesus – Jó 13.12-16; 14.26.
...32 Eclesiologia

E essa igreja ainda:

• Glorifica a Deus – Ef 1.6;


• Cuida dos membros – 28.19,20;
• Mantém a chama da oração acesa – At 1.14;
• Envia missionários – At 13.1-4;
• Intercede – Rm 15.30,31;
• Contribui – Fp 4.18.

......................................................ATIVIDADES DE APOIO

01. Acerca do perfil da Igreja, responda:

a) Como deve ser uma igreja missionária?

b) O que uma igreja missionária prega?


Eclesiologia ...33

CAPÍTULO V
................................................................................

A IGREJA: SEU DECLÍNIO

A força de atuação da igreja, ao longo dos anos, foi


decaindo. Esse fato, o próprio Deus se encarrega de nos fazer
saber dele. O segredo dessa força sempre esteve na permanência
aos preceitos de Deus; essa permanência, desde a formação do
povo de Israel, se caracteriza pela separação do povo de Deus
em relação aos valores e práticas predominantes do mundo que
impedem o crente de cultivar uma vida marcada pela moralidade,
pela santidade. Portanto, desde a formação da igreja houve a
tentativa de Satanás de infiltrar nela doutrinas que não condizem
com o estabelecido por Deus. Nesse sentido, a história da igreja é
marcada pelo embate que sempre houve dos homens de Deus
contra o Espírito das trevas. As cartas de Paulo, de forma geral,
são textos combativos, que defendem a permanência do povo de
Deus nos alicerces fundados por Jesus Cristo. Essa disputa existiu
desde a constituição da igreja e, evidentemente, continua até hoje.
O que diferencia esses momentos históricos é que, na atualidade,
a força das doutrinas satânicas é muito maior, pois a igreja já está
bastante adiantada no que diz respeito ao seu processo de
apostasia. Esse assunto não é facilmente aceito no meio das
...34 Eclesiologia

igrejas, mas os crentes que possuem o desejo sincero de conhecer


a Palavra de Deus, facilmente, entendem que o trono de Satanás
está instalado dentro da igreja do Senhor Jesus Cristo. Os homens
cheios do Espírito Santo, portanto, combativos, ainda existem,
mas, cada vez mais, a apostasia ganha forças. Com isso, não
questionamos o poder de Deus contra esse acontecimento, pois
Deus, na sua presciência, já sabia que isso aconteceria e, para
que não nos desesperássemos, nos relatou esse fato com muita
clareza nos primeiros capítulos do livro de Apocalipse. E são esses
capítulos que gostaríamos de estudar, a partir de agora.
João envia a revelação do Senhor Jesus Cristo às sete igrejas
que estão na Ásia (1.4). Ele explica que foi arrebatado, mas foi em
espírito (1.10), e ouviu uma voz que lhe ordenava a escrever o que
estava vendo e, posteriormente, deveria enviar às igrejas que estavam
em Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia.

As cartas escritas tinham, basicamente, dois grandes objetivos:


alcançar aos pastores que ministravam nas igrejas naquele dado
momento histórico e, também, aos pastores que vivessem em
qualquer período posterior, inclusive o que presenciasse os últimos
acontecimentos revelados. Dessa forma, observa-se que há dois
sentidos para as cartas de João: o literal e o profético. O primeiro diz
respeito às situações diferenciadas pelas quais passavam cada uma
das igrejas, no mesmo período: final do I século. O segundo diz
respeito aos períodos futuros da igreja e, portanto, é descrito numa
linguagem, extremamente, simbólica.
Eclesiologia ...35

Carta à Igreja de Éfeso4

Essa igreja refere-se, no sentido profético, à igreja primitiva, à


era apostólica. Jesus diz conhecer as obras daquele povo: paciência,
repreensão aos mentirosos, muito trabalho e pouco cansaço.

Essa era uma igreja ativa, mas já estava havendo nela a


penetração dos falsos líderes e o resultado disso era o esfriamento
do amor. Se o povo de Deus ficar atento, perceberá que Jesus já
havia mencionado este faso em Mt 24.11, 12: e surgirão muitos
falsos profetas (...) e (...) o amor de muitos se esfriará. É com essa
igreja, a apostólica, que se dará o início da trajetória da igreja até o
seu máximo declínio, mas aqueles que permanecerem atentos à
palavra da revelação não serão engodados.

Depois que Jesus fala o que tem contra a igreja de Éfeso, faz
um apelo ao arrependimento: lembra-te, pois, de onde caíste, e
arrepende-te. Além do arrependimento e da volta à prática das
primeiras obras, Jesus ainda exige a neutralização das obras dos
Nicolaítas1 , as quais Ele aborrece. A carta encerra-se com a
promessa para aqueles que vencerem: comerão da árvore da vida.

Carta à Igreja de Esmirna

4
Esse estudo, também, pode ser encontrado no manual de Apocalipse do Curso Básico
por extensão do Seminário Seifa. Porém, ressaltamos que, aqui, o estudo foi ampliado.
...36 Eclesiologia

A igreja de Esmirna, ainda, demonstra uma grande ligação


com Deus, pois o povo tinha disposição de morrer. Nessa igreja
viveram os mártires, dentre eles, Policarpo, que, tendo se recusado a
prestar culto ao imperador romano, foi levado para ser queimado.
Essa época é marcada pela grande perseguição à igreja. O imperador
era Deoclesiano.

Nessa igreja, com toda essa disposição do povo, começa a


preparação para a recepção de falsos irmãos.Observe-se que,
gradativamente, inicia a operação do inimigo de Deus: Satanás irá
se estendendo e se fortalecendo dentro da própria igreja do Senhor.
Aos falsos irmãos, Deus chama de sinagoga de Satanás. A igreja
começa a se preparar para adorar ao diabo, assim não terá dificuldade
de se render aos pés do Anticristo.

No final da carta, Jesus exorta os fiéis a permanecerem assim


até a morte e, então, receberão a coroa da vida. A promessa para os
que vencerem é que não receberão o dano da segunda morte.

Algumas considerações, nesse ponto, serão importantes para


que haja uma compreensão mais profunda acerca de como foi o
desenvolvimento da igreja, depois que Jesus já não estava mais entre
os seus discípulos. Após a morte dele, seus seguidores, por orientação
dos apóstolos – grupo seleto dentre os seguidores do mestre –
fundaram, conforme já relatamos, a igreja que, mais tarde, veio a
denominar-se cristã. Essa igreja começou sua missão, proclamando
o evangelho na cidade de Jerusalém. A vida simples e o apego aos
ensinamentos de Cristo, mormente em relação à obediência à Lei,
ao espírito comunitário e à devoção diária, atraíram milhares de
judeus que aderiram, em massa, à nova religião – Atos 2.41 a 47.
Eclesiologia ...37

A isenção política dos primeiros cristãos

Incomodadas com o crescimento da igreja, as autoridades


judaicas convocaram os líderes da mesma para uma audiência para
impor-lhes, sob pena de morte, que paralisassem a expansão da
igreja, At 4.17,33. Não obstante, a perseguição que se desencadeou
contra os discípulos, com a execução sumária de alguns, At 7.59,
8.1 e 12,1 a 3, eles, movidos pelos ensinamentos de Cristo,
estabeleciam, de cidade em cidade, a nova doutrina que haveria de
dominar todo o ocidente.
O próprio Império Romano tomou parte na perseguição dos
cristãos, na tentativa de estorvar-lhes o intento de transformar os
ensinamentos de Cristo na Igreja Universal. Toda sorte de hostilidades
e de violências foi perpetrada contra eles, desde o incêndio de Roma,
por Nero, posteriormente, atribuiu a culpa aos cristãos, até a
alimentação das feras, pelos corpos dos discípulos, na arena do
Coliseu. Daí a conhecida expressão: O sangue dos mártires foi o
fermento do cristianismo (Adir G. Soriano, p.44)
O mundo pagão estava encantado com os cristãos; eles
realmente levavam a sério os ensinamentos de Cristo e aplicava-os
à comunidade emergente. Esta era constituída, na sua maioria, por
pessoas pobres, embora se tenha notícia de algumas de classe nobre
e da casa de César (Lc 8.3; At 13.1; Fp 4.22). Era distinguida entre
os bárbaros pelo estilo de vida simples, em completa comunhão,
pois se tratavam e agiam, mutuamente, como irmãos em Cristo.
Tinham um cuidado especial com os necessitados, com os órfãos,
com os doentes, com as viúvas e com os demais desamparados. Os
...38 Eclesiologia

discípulos, naquela época, se distinguiram pelo caráter e pela pureza


moral jamais conhecidos em todos os tempos.
De Nero (54-68) a Constantino, os cristãos foram,
periodicamente, perseguidos por causa de sua fé e devoção. Tal era
o apego à sua lei que dispensavam toda e qualquer participação na
vida pública; e, ainda, dispensavam o culto ao Imperador, que era
para os romanos uma forma de reconhecer o Estado como suprema
força e a religião pagã uma forma de patriotismo. Os adeptos de
outras religiões não tinham problema com o Estado, pois cultuavam
o Imperador, como a seus deuses nacionais. Dessa forma, o
cristianismo foi considerado uma ameaça ao Estado supremo e sofreu
as mais drásticas perseguições.
Foi com o Edito de Tolerância publicado por Galério, Imperador
no oriente, que se reconheceu ao absurdo da perseguição aos
discípulos de Cristo; porém, o fim da perseguição aos cristãos somente
veio dois anos mais tarde, com o Edito de Milão, assinado por
Constantino e por Licínio, imperadores do ocidente e do oriente,
respectivamente. Até essa época, séc. III, o cristianismo era o mesmo
da fundação. Seus membros desenvolviam a vida comunitária com
base no alto padrão moral, no auxílio aos pobres, aos órfãos, às
viúvas e aos necessitados em geral, renunciavam à vida política como
meio de escapar das perseguições que sofriam; pouquíssimos eram
os escândalos de seus membros. Contudo, com a falsa conversão do
imperador Constantino ao cristianismo, o sistema político voltou a
penetrar o seio da igreja e, por consequência, refletir na conduta de
seus líderes. O desdobramento desse fato será desenvolvido mais
adiante.
Eclesiologia ...39

Carta à Igreja de Pérgamo

Nessa igreja, Satanás já consegue instalar totalmente o seu


trono. Ele agora habita no meio do povo de Deus, retendo o Seu
nome, mas a fé foi negada, pois abriu mão dos mandamentos de
Deus e permitiu que filosofias satânicas invadissem o coração dos
servos do Senhor. Observe-se que há uma sequência nas ações de
Satanás: primeiro, ele consegue esfriar o amor do coração do povo
de Deus; depois ele consegue introduzir falsos crentes, as sinagogas
de Satanás, no meio dos santos e, agora, na igreja de Pérgamo, vê-
se que ele consegue dividir o mesmo espaço.

Mas, mesmo em situações tão desfavoráveis, Deus tem o Seu


remanescente, a Sua fiel testemunha. No caso da igreja de Pérgamo,
Deus contava com Antipas. Dessa forma, vê-se que, nas piores
adversidades, a igreja resiste e Jesus não deixa de exortar o Seu
povo, e nem de denunciar os que seguem a doutrina de Balaão, o
influenciador e colocador de tropeços para o povo de Deus. Esse
povo é induzido às práticas de prostituição, não apenas física, mas,
também, espiritual, pela convivência com homens que não têm os
mandamentos de Deus como fundamento para uma vida saudável.
A exortação ao povo vem logo em seguida, juntamente com
a promessa para os vencedores: ao que vencer, darei Eu a comer do
maná escondido...

As cartas que foram direcionadas às igrejas da Ásia têm


algumas semelhanças entre si. Por exemplo, há sempre a repetição
da expressão: Eu sei as tuas obras. Jesus Cristo demonstra aos
pastores que a Seus olhos nada está oculto ou encoberto. Ele conhece
...40 Eclesiologia

o procedimento de cada pastor; Ele sabe como os pastores têm


conduzido seus rebanhos e sabe, também, dos pastores que têm
permitido a infiltração do reino de Satanás. Depois de dizer Eu sei
as tuas obras, há a descrição de cada uma delas para ratificar e
validar a afirmação. Em todas as cartas, o Senhor Jesus é apresentado,
mas, em cada uma, de uma forma diferente, para ressaltar a
totalidade, a grandeza de Sua pessoa e domínio.

A expressão contra ti se repete em todas as cartas com exceção


das que foram enviadas às igrejas de Esmirna e de Filadélfia. Em
todas as cartas há uma exortação para conserto ou perseverança e,
também, promessas para aqueles que se mantiverem fiéis.

Para que essa questão da infiltração de Satanás, no seio


da igreja, fique clara aos leitores, consideramos de primordial
importância continuar as considerações históricas iniciadas
anteriormente. Esses acontecimentos, que podem ser constatados
nos livros de história antiga, demonstram como Deus tem o domínio
total de todos os acontecimentos passados, presentes e futuros, pois,
muito antes de eles acontecerem, a Bíblia já nos havia relatado-os.

A influência política de Constantino na Igreja Cristã

A partir do domínio de Constantino, a história da igreja


começa a sofrer a poderosa influência do mundo político. Antes do
Edito de Milão, o cristianismo enfrentava, com resignação, muita
dor e profunda coragem, o Império Romano, os pagãos e o mundo;
vencia-os pelo testemunho cristão, pela devoção a Deus e pela
profunda comunhão na sociedade.
Eclesiologia ...41

Não se sabe ao certo as razões da mudança efetuada por


Constantino, talvez tenha percebido, pela perspicácia, que a
destruição dos cristãos não se faria pela força, mas pela corrupção
de suas leis, doutrinas e costumes. Constantino e Licínio
estabeleceram uma ampla liberdade religiosa, tanto no império
ocidental quanto no oriental. Constantino, por sua vez, demonstrou
profunda admiração pelos cristãos, passando a favorecê-los com
grandes ajudas para construção de templos, liberação dos impostos
dos templos e valiosas ofertas para a manutenção do clero.
Com isso, o imperador despertou a avareza, o materialismo
do clero e, por falta de genuíno caráter cristão, iniciou uma corrida
em busca do poder temporal. Embora o imperador não tenha se
tornado um cristão, pois só aceitou o batismo próximo à sua morte,
interferiu, ativamente, nos assuntos internos da comunidade cristã;
chegou a tentar dirimir as disputas doutrinárias, não obstante
continuasse sendo o sumo pontífice da religião pagã do império.
Dessa forma, Constantino foi o responsável pelo início da politização
da igreja, despertando em seus líderes o anseio pela conquista do
poder temporal o que acabou, mais tarde, resultando na Santa
Inquisição. Para se ter uma ideia da influência desse imperador nas
questões internas da igreja, foi ele que convocou o primeiro Concílio
Geral da Igreja, em Niceia, no ano 325, para dirimir a disputa
doutrinária entre Ário e Atanásio; além disso, a própria a decisão do
concílio teve grande influência do imperador.
...42 Eclesiologia

A influência política dos sucessores de Constantino

Os séculos IV e V foram marcados pela expansão cristã nas


terras do império. A igreja aproveitou a paz inaugurada por
Constantino e alargou suas tendas por todo o território, especialmente
na Grécia, no alto Egito, no norte da Itália, na Espanha, na França e
nas terras ao longo do Reno e Danúbio (44). À semelhança de
Constantino, seus sucessores intervinham e exerciam autoridade nos
negócios da igreja, tornando o cristianismo, praticamente, uma
religião oficial do Estado, o que, legalmente, ocorreu no governo de
Teodósio; este baixou um decreto determinando que todos os súditos
do império deveriam aceitar o cristianismo como doutrina e como
regra de fé. Esse foi o princípio do estabelecimento da igreja no
direito, pois, pelo decreto, passou a ser parte da Lei Imperial (44).
Com a adesão dos pagãos, pelo decreto de Teodósio, o cristianismo
ganhou em números, mas decresceu-se o padrão moral na mesma
proporção; os escândalos e os crimes começaram a aparecer entre
eles e amor cristão e a comunhão, a desaparecer. Nessa época, o
cristianismo sai das fronteiras do império para o oriente e chega à
Índia.
Por volta do ano 400, o poder da igreja já era notório. Os
bispos se fortaleceram e se tornaram verdadeiros governadores de
suas dioceses. A disputa para um governo central de toda igreja se
estabeleceu entre os cinco maiores patriarcas, sendo dois mais
importantes o de Roma e o de Constantinopla. A sorte coube ao
bispo de Roma.
Eclesiologia ...43

Na época de Oto I, o império foi chamado de Santo Império


Romano, pois se tornou o principal poder político da Idade Média.
Era chamado santo porque os homens da época criam que o império
tinha caráter religioso e o Reino de Deus tinha dois representantes
na Terra: o Império para proteger os negócios temporais e a Igreja
para reger os negócios espirituais na pessoa do Papa. Como se vê, a
sociedade medieval via que havia dois métodos de governo
divinamente indicados, mas a ideia de divisão de autoridade entre
os dois governos não era viável.
Essas ideias foram, paulatinamente, ganhando corpo entre o
clero que, cada vez mais, desejava, também, o poder temporal.
Nenhum rei era coroado sem a bênção papal e - em função da
oficialização do cristianismo como religião oficial do Santo Império,
do fortalecimento do papa como representante de Deus no mundo
para gerir os negócios espirituais - os imperadores acabavam cedendo
aos caprichos do Papa, que tinha o poder divino de excomungar os
cristãos e a quem ele excomungasse se tornava perdido e
amaldiçoado por Deus.
Foi na época do Papa Gregório I que o papado se fortaleceu
sobremaneira e passou a exercer o poder universalmente. Com esse
fortalecimento do papado, o próximo passo era a conquista do poder
temporal para concretização do sonho dos bispos de Roma.
Dentro desse contexto é que a história da igreja se desenvolve
na Idade Média. O afastamento dos preceitos de Deus foi se
intensificando cada vez mais, até que a ousadia de homens como
Martinho Lutero fez com que os rumos da igreja mudassem. Mas
essa mudança, embora significativa, não poderia resolver os
...44 Eclesiologia

problemas futuros da igreja, pois, conforme vimos, Satanás já havia


instalado seu trono nela. A Reforma promoveu uma limpeza no meio
da igreja, mas Satanás nunca deixou o seu plano de lado.
Desde já gostaríamos de ressaltar que o trabalho missionário
da igreja deve pautar por dar continuidade à igreja fundada no tempo
dos apóstolos; isso significa dizer que os seus preceitos devem estar
arraigados na Palavra de Deus; cristianizar o mundo, Constantino já
cristianizou, o que devemos fazer é formar verdadeiros discípulos
do Senhor.

Carta à Igreja de Tiatira

Jesus diz ao pastor da igreja de Tiatira que tem visto as obras,


a caridade e os serviços da igreja. Diz, inclusive, que as últimas obras
são mais que as primeiras. Ao que tudo indica, a grande quantidade
de atividades desenvolvidas por essa igreja tornara-se sem valor: as
atividades eram desenvolvidas, mas sem critérios, sem uma
aprovação de Deus. Tanto é assim que Jesus diz que a igreja tolerava
Jezabel.

Deve-se ressaltar que Jezabel não é, especificamente, uma


mulher que não tem um comportamento adequado a uma serva de
Deus, mas é o estado espiritual da igreja: estado de depravação, de
falta de escrúpulos, de falta de critério nas alianças que firma com o
mundo. Esse estado espiritual tem levado muitos servos de Deus ao
engano. Homens, que se intitulam ministros de Deus, têm ensinado
o povo a se prostituir, pois têm permitido uma mistura de sentimentos
religiosos dentro da igreja do Senhor.
Eclesiologia ...45

A carta enviada a Tiatira é a mais extensa. A igreja desse lugar


passava por uma fase negra: não tinha uma liderança forte e
compromissada com a Palavra de Deus; não havia testemunhas,
cheias do poder de Deus e pessoas, como Jezabel, profetizavam.
Diante dessa situação lastimável, Jesus exorta e dá um
direcionamento para os que permaneciam fiéis: o que tendes,
retende-o. Encerra com a promessa: dar-lhe-ei a estrela da manhã, e
com a exortação: Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às
igrejas.

Carta à Igreja de Sardes

Não se deve perder de vista que as cartas foram escritas às


igrejas da Ásia que passavam, simultaneamente, por situações e
problemas distintos. Mas, também, cada uma dessas igrejas representa
uma fase, um momento histórico da igreja. Assim, vê-se um contínuo
esfriamento e perda de compromisso sincero da igreja, com Deus.

A igreja de Sardes se encontrava numa situação lastimável e,


pensando numa sequência histórica, dava continuidade à degradação
dos princípios fundamentais que nortearam a igreja primitiva. Essa
igreja perde a perfeição das obras; estava sendo, praticamente,
derrotada e já enfrentava um profundo esfriamento. Mas a verdadeira
igreja do Senhor vive fora desse baixo estado espiritual. Há sempre
entre o povo de Deus um remanescente fiel que não se contamina
com os manjares deste mundo.
...46 Eclesiologia

Carta à Igreja de Filadélfia

A situação da igreja de Filadélfia é a seguinte: diante de tanta


apostasia e falta de compromisso com a Palavra de Deus, resta-lhe
pouca força para continuar segurando o ensinamento da Palavra tal
qual é a perfeita vontade de Deus. Em I Co 11.29, 30, Paulo escreve
acerca dos que comem e bebem indignamente o cálice do Senhor.
Estes ficam doentes, fracos e, ainda, dormem; não conseguem
discernir o sagrado do profano.

A sinagoga de Satanás, que começou a se infiltrar na igreja


de Esmirna, nunca saiu de dentro da igreja; esta romperá,
completamente, a relação com a igreja que foi contaminada, pois o
amor de Deus está com o grupo remanescente. Jesus fortalece e
tranquiliza àqueles que guardam a Sua Palavra, dizendo que, por
isso, seriam guardados na hora da tentação. Encerra com a promessa
para os vitoriosos e com a exortação: Quem tem ouvidos ouça o que
o Espírito diz às igrejas.

Carta à Igreja de Laodiceia

A igreja de Laodiceia, na sequência histórica das situações


vividas pela igreja, ao longo dos séculos, incorpora todos os
problemas das igrejas anteriores. É uma igreja morna porque o trono
de Satanás tem domínio dentro dela e, por isso, já não há uma
distinção nítida entre os crentes e os não-crentes. Há uma espécie
de conciliação, de convivência entre a igreja e o mundo. Jesus disse
Eclesiologia ...47

que esta igreja será vomitada; ela é repugnante aos olhos de Deus e
corre o perigo de ser afastada dEle para sempre.

A mornidão da igreja é marcada pela ilusão nas riquezas e,


portanto, na independência. A igreja, representada pelos líderes, crê
que conquistou espaços: material, intelectual etc. Agora é uma igreja
que tem voz na sociedade e tem decisão. Mas Jesus aconselha ao
povo uma análise: deve comprar ouro provado no fogo, pois assim
é a vida do crente fiel, marcada pelo sofrimento, pela purificação
das imundícies do mundo. Assim, ele terá vestes brancas para vestir.
Aconselha, também, a unção dos olhos com colírio. Olhos que
precisam de colírio são olhos doentes, que perderam a clareza da
visão. Essa é a condição dos homens que deixaram os princípios
essenciais da fé cristã. A igreja do Senhor, que romperá com a
idolatria, tão abominável aos olhos de Deus, volta à prática do uso
de símbolos. Isso demonstra que os olhos desses homens já não
conseguem contemplar as maravilhas da lei de Deus.

CONCLUSÃO

De forma resumida, a sequência das cartas enviadas às igrejas


da Ásia: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e
Laodiceia representam o desenrolar da história da igreja do Senhor
Jesus. Por isso, essas cartas são proféticas. A igreja de Éfeso era a
igreja apostólica que denunciava falsos apóstolos, mas já enfrentava
a penetração de falsos líderes. A igreja de Esmirna vive o período da
presença de falsos irmãos que inserem a sinagoga de Satanás dentro
...48 Eclesiologia

dela. Na de Pérgamo, Satanás já consegue instalar, totalmente, o seu


trono no meio do povo de Deus; na de Tiatira, o povo de Deus já
vive num estado de prostituição espiritual – há uma mistura de
religiões. A igreja de Sardes perde a perfeição das obras e vive um
profundo esfriamento. A de Filadélfia já não tem forças para segurar
o avanço do reino de Satanás. A de Laodiceia ajunta todos os
problemas anteriores e vive um estado de profunda mornidão,
pensando que é uma igreja abençoada, mas e abominável diante
dos olhos de Deus. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às
igrejas.

É dentro desse contexto que nós, representantes da igreja de


Filadélfia, sem forças para impedir o avanço de Satanás, devemos
pregar o evangelho e fundar igrejas que mantenham o padrão da
igreja primitiva. Se observarmos bem o trabalho do apóstolo Paulo,
perceberemos que ele sempre pregou e ensinou o evangelho e sempre
teve o cuidado de abrir igrejas e deixar homens capacitados para
administrá-las. Sendo assim, devemos nos recordar dos estudos
desenvolvidos no manual de Antropologia Bíblica. Esses estudos
possuem entre si convergências que são essenciais para a formação
integral do missionário que se dispõe a fazer com que a obra de
Deus avance. Relembrado, então, literalmente, o estudo
desenvolvido, sabemos que, uma vez que os missionários tenham
abraçado a responsabilidade de levar a mensagem cristã a todos os
povos da terra, a responsabilidade de atingir a compreensão cultural
e de iniciar o processo de contextualização da Palavra de Deus recai
sobre eles. As parábolas descritas por Jesus demonstram o quanto
Eclesiologia ...49

Ele estava atento à cultura do povo para o qual ensinava. Portanto,


as aplicações da Palavra devem ser feitas, pelos missionários, de
acordo com o estilo de vida do povo. Fazendo isso, pode descansar,
pois o restante é obra do Espírito Santo de Deus, pois é Ele que
convence o homem acerca das coisas de Deus. Levar em conta o
estilo de vida do povo não significa manter costumes que entram
em choque com os padrões bíblicos, pois aprendemos, em
Antropologia Bíblica, que se a cultura determina o comportamento
do homem, ou seja, se suas ações são de acordo com o padrão
cultural, e este é transmitido socialmente, o comportamento dos
crentes é desenvolvido pelo que lhes foi transmitido, diretamente,
por Deus, através da Sua Palavra; como a Lei do Senhor é a
expressão do Seu caráter e da Sua santidade fica evidente que o
caráter desenvolvido no homem, pelo aprendizado da Lei divina,
deve ser, pelo menos, semelhante ao de Deus. Por isso, Deus,
querendo ser conhecido pelos homens e, compartilhar suas ideias
com eles escolheu Abraão, formou a nação de Israel e deu-lhe uma
Lei para nortear todos os aspectos de sua vida. Como a igreja assumiu
o lugar do povo de Israel para levar o conhecimento de Deus a
todas as nações, ela deve ter conhecimento e consciência de que,
independente do comportamento do povo de determinadas regiões
que ela irá levar o evangelho, o comportamento, regido pela Lei de
Deus, deve ser ensinado e, mais cedo ou mais tarde, ele deve ser
dominante. Não há o que se falar sobre respeito aos traços culturais
distintos porque o povo de Deus tem uma Lei e o seu comportamento
tem que ser moldado por ela. Segundo discursos humanos, deve-se
preservar o relativismo cultural para preservar a beleza e a riqueza
...50 Eclesiologia

de culturas distintas. Ainda, segundo esses discursos, a não


consideração das culturas distintas revela a intolerância, o racismo,
o preconceito. Entretanto, esses discursos nada mais revelam do que
a cegueira espiritual dos seus produtores, pois edificar a igreja sobre
a pedra, que é Jesus, significa que o missionário deve ter
conhecimento da cultura celestial para que esta seja implantada nas
igrejas fundadas por ele.

......................................................ATIVIDADES DE APOIO

01. Sobre o declínio da Igreja, relatado nos primeiros capítulos do


livro de Apocalipse, responda:

a) Quais eram os dois grandes objetivos das cartas escritas às


sete igrejas que estão na Ásia?

b) Quais são os dois sentidos das cartas de João? Comente


cada um.

c) A que se refere, no sentido profético, a Igreja de Éfeso?

d) Caracterize a Igreja de Esmirna.

e) Caracterize a Igreja de Pérgamo.

f) Caracterize a Igreja de Tiatira.


Eclesiologia ...51

g) Qual era a situação da Igreja de Sardes?

h) Qual era a situação da Igreja de Filadélfia?

i) “A Igreja de Laodiceia, na sequência histórica das situações


vividas pela igreja, ao longo dos séculos, incorpora todos os
problemas das igrejas anteriores”. Fale sobre a Igreja de
Laodiceia.
...52 Eclesiologia
Eclesiologia ...53

ATIVIDADES DE APROFUNDAMENTO
....................

01. “A primeira e única oportunidade de salvação para os


antediluvianos foi a aplicação da consciência aos seus atos (...).
Por falharem, o Senhor providenciou, por meio de Noé, a arca
com o fim de preservação da raça”. Comente sobre o desfecho
desse acontecimento histórico.

02. “(...) a constituição de Israel como cabeça das nações e povo


sacerdotal, é o mesmo futuro milênio da paz, pregado pela igreja
cristã”. Comente essa assertiva.

03. Resumidamente, discorra sobre a constituição da igreja.

04. Fale sobre a responsabilidade da Igreja e cite exemplos de


personagens bíblicos que cumpriram com essa responsabilidade.

05. Como deve ser uma Igreja missionária? Cite exemplos.

06. Apresente alguns fatos que contribuíram para o declínio da


Igreja.

07. Caracterize as Igrejas:


...54 Eclesiologia

a) de Éfeso
b) de Esmirna
c) de Pérgamo
d) de Tiatira
e) de Sardes
f) de Filadélfia
g) de Laodiceia

08. O que foi o Edito de Tolerância?

09. Como era o Cristianismo antes do Edito de Milão?

10. Quem foi o responsável pelo início da politização da Igreja,


que, mais tarde, resultou na Santa Inquisição?

11. Fale sobre o primeiro Concílio Geral da Igreja.

12. Quem foi Martinho Lutero?


Eclesiologia ...55

BIBLIOGRAFIA
............................................................................

Bíblia Pentecostal. RJ: CPAD, 1997.

Bíblia Thompson. SP: Vida, 1998.

NICHOLS, Hastings R. História da Igreja Cristã. SP: Casa Editora


Presbiteriana, 1985.

CHAMPLIN, R. Normam. Novo Testamento interpretado


versículo por versículo. SP: Candeia, 1995.

PFEIFFER, C. F. e HARRISON, E. F. Comentário Bíblico Moody.


SP: Imprensa bíblica regular, 1984.

SEEDD, R. P. Novo Comentário da Bíblica. SP: Vida Nova, 1987.


Eclesiologia ...61
...62 Eclesiologia

01. Quanto à etimologia da palavra Eclesia, marque as alternativas


com “C” (correto) ou “E” (errado).

( ) Historicamente, essa palavra designava as convocações


de eminentes cidadãos para as reuniões que se
realizavam com fins específicos nas cidades-estados da
Ásia.
( ) Quando havia algo a ser deliberado ou julgado, que
dizia respeito aos interesses da cidade, eram
convocados determinados cidadãos que saíam fora dos
muros à entrada da cidade e, em assembleia, discutiam
o assunto em pauta.
( ) A assembleia era aberta a qualquer pessoa que quisesse
participar.
( ) A assembleia era composta por um grupo seleto, cuja
característica essencial era a convocação.

02. “A igreja nos é apresentada com vários nomes e títulos”. Sobre


este assunto, marque com “C” (correto) ou “E” (errado) as
seguintes alternativas.

( ) A teologia tradicional aponta alguns títulos atribuídos


à congregação de Israel, como sendo um prelúdio da
igreja, uma sombra ou o aparecimento da mesma no
Novo Testamento.
( ) Deus trata com a humanidade em três fases distintas:
Consciência, Lei e Graça.
Eclesiologia ...63

( ) Apenas antes do milênio poderá haver salvação, pois,


onde há julgamento, há possibilidade de libertação ou
condenação.
( ) Não há, na Lei, algo que explicite a Igreja, a não ser o
fato de que o reino de Deus, pregado em uma e outra
fase, é o mesmo.

03. Sobre a gênese da Igreja, marque com “C” (correto) ou “E”


(errado) as alternativas abaixo:

( ) O dia de Pentecostes foi o grande marco do encontro


do homem com Deus.
( ) Na ocasião da descida do Espírito Santo é que se dá,
oficialmente, a constituição da Igreja.
( ) A ideia que os filhos de Noé tiveram, de edificar uma
cidade e uma torre que tocasse nos céus, revela uma
atitude de obediência à vontade de Deus.
( ) O derramamento de poder, no dia de Pentecostes,
caracterizou a fundação da Igreja.

04. Sobre a Igreja e sua responsabilidade, marque com “C” (correto)


ou “E” (errado).

( ) A pregação de Pedro com ousadia do Espírito Santo


levou à conversão quase mil pessoas.
...64 Eclesiologia

( ) A história da conversão de Cornélio, a vida desse


homem representa as nações gentílicas, sedentas de
Deus.
( ) Desde a morte de Jesus Cristo há, em Cristo, a distinção
entre judeu e gentio.
( ) A partir da experiência da vida de Cornélio, o propósito
de Deus começa a ser compreendido, e, com isso, o
papel da Igreja vai se delineando de forma mais eficaz.

05. Marque com “C” (correto) ou “E” (errado). “Uma Igreja


missionária é”:

( ) Repartidora.
( ) Unida.
( ) Doutrinada.
( ) Fervorosa.

06. Marque com “C” (correto) ou “E” (errado). “Uma Igreja


missionária prega”.

( ) Um evangelho objetivo.
( ) Um evangelho para alguns, fazendo distinção entre
pessoas.
( ) Um evangelho distorcido.
( ) Um evangelho completo.
Eclesiologia ...65

07. Sobre a Igreja e seu declínio, marque com “C” (correto) ou “E”
(errado).

( ) Desde a formação da Igreja houve a tentativa de


Satanás de infiltrar nela doutrinas que não condizem
com o estabelecido por Deus.
( ) A história da Igreja é marcada pelo embate que sempre
houve dos homens contra Deus.
( ) O segredo da força de atuação da Igreja sempre esteve
na permanência aos preceitos de Deus.
( ) Na época da constituição da Igreja, a força das
doutrinas satânicas era muito maior que na atualidade.

08. Ainda sobre a Igreja e seu declínio, marque com “C” (correto)
ou “E” (errado).

( ) A Igreja da atualidade está bastante adiantada no que


diz respeito ao seu processo de apostasia.
( ) O processo de apostasia é um assunto facilmente aceito
no meio das igrejas, pois os crentes entendem que o
trono de Satanás está instalado dentro da Igreja do
Senhor Jesus Cristo.
( ) Os homens cheios do Espírito Santo, portanto,
combativos, ainda existem, e, por isso, cada vez mais,
a apostasia enfraquece.
...66 Eclesiologia

( ) As cartas de Paulo, de forma geral, são textos


combativos, que defendem a permanência do povo
de Deus nos alicerces fundados por Jesus Cristo.

09. Sobre a revelação do Senhor Jesus Cristo que João envia às


sete igrejas que estão na Ásia, marque com “C” (correto) ou
“E” (errado) as alternativas abaixo.

( ) As cartas escritas tinham apenas um objetivo: alcançar


aos pastores que ministravam nas igrejas naquele dado
momento histórico.
( ) Há dois sentidos para as cartas de João: o literal e o
profético.
( ) O sentido literal das cartas de João diz respeito aos
períodos futuros da Igreja e, portanto, é descrito numa
linguagem extremamente simbólica.
( ) O sentido profético diz respeito às situações
diferenciadas pelas quais passavam cada uma das
igrejas no final do I século.

10. Sobre a carta à Igreja de Éfeso, marque com “C” (correto) ou


“E” (errado).

( ) Essa era uma igreja passiva.


( ) Essa igreja refere-se, no sentido profético, à igreja
primitiva, à era apostólica.
Eclesiologia ...67

( ) É com essa igreja, a apostólica, que se dará o início da


trajetória da igreja até o seu máximo declínio.
( ) Jesus diz conhecer as obras desse povo: paciência,
repreensão aos mentirosos, muito trabalho e pouco
cansaço.

11. Sobre a carta à Igreja de Esmirna, marque com “C” (correto)


ou “E” (errado).

( ) Nessa igreja viveram os mártires, dentre eles, Policarpo,


que, tendo se recusado a prestar culto ao imperador
romano, foi levado para ser queimado.
( ) Essa época é marcada pela grande perseguição à igreja.
( ) Nessa igreja, começa a preparação para a recepção de
falsos irmãos.
( ) A igreja começa a se preparar para derrotar ao diabo,
assim não terá de se render aos pés do Anticristo.

12. Sobre a isenção política dos primeiros cristãos, marque com


“C” (correto) ou “E” (errado) as alternativas.

( ) As autoridades judaicas, incomodadas com o


crescimento da Igreja, convocaram os líderes da mesma
para uma audiência para impor-lhes, sob pena de
morte, que paralisassem a expansão da Igreja.
...68 Eclesiologia

( ) O Império Judaico tomou parte na perseguição aos


cristãos, na tentativa de estorvar-lhes o intento de
transformar os ensinamentos de Cristo na Igreja
Universal.
( ) O mundo pagão estava encantado com os cristãos.
( ) O fim da perseguição aos cristãos veio com o Edito de
Tolerância, publicado por Galério, Imperador no
Oriente.

13. Ainda sobre o assunto da questão anterior, marque com “C”


(correto) ou “E” (errado).

( ) De Nero (54-68) a Constantino, os cristãos foram,


periodicamente, perseguidos por causa de sua fé e
devoção.
( ) Os adeptos de outras religiões não tinham problemas
com o Estado, pois cultuavam o Imperador, bem como
a seus deuses nacionais.
( ) Com a verdadeira conversão do Imperador
Constantino ao Cristianismo, o sistema político voltou
a penetrar no seio da Igreja e, por consequência, refletir
na conduta de seus líderes.
( ) Nessa época, os discípulos se distinguiam pelo caráter
e pela pureza moral jamais conhecidos em todos os
tempos.
Eclesiologia ...69

14. Sobre a carta à Igreja de Pérgamo, marque com “C” (correto) ou


“E” (errado).

( ) Nessa Igreja, Satanás consegue instalar parcialmente


o seu trono.
( ) Satanás agora habita no meio do povo de Deus,
retendo o Seu nome, mas a fé foi negada, pois abriu
mão dos mandamentos de Deus e permitiu que
filosofias satânicas invadissem o coração dos servos
do Senhor.
( ) O povo de Pérgamo é induzido às práticas de
prostituição, apenas física e não espiritual, pela
convivência com homens que não têm os
mandamentos de Deus como fundamento para uma
vida saudável.
( ) Mesmo em situações tão desfavoráveis, Deus tem o
Seu remanescente que, no caso da Igreja de Pérgamo,
era Antipas.

15. Quanto à influência política de Constantino na Igreja Cristã,


marque com “C” (correto) ou “E” (errado).

( ) A partir do domínio de Constantino, a história da Igreja


começa a sofrer a poderosa influência do mundo
político.
...70 Eclesiologia

( ) Depois do Edito e Milão, o Cristianismo passou a


enfrentar, com resignação, muita dor e profunda
coragem, o Império Romano, os pagãos e o mundo.
( ) Constantino e Licínio estabeleceram uma ampla
liberdade religiosa, tanto no império ocidental quanto
no oriental.
( ) Constantino demonstrou profunda admiração pelos
cristãos, passando a favorecê-los com grandes ajudas
para construção de templos, liberação dos impostos
dos templos e valiosas ofertas para a manutenção do
clero.

16. Ainda sobre o assunto da questão anterior, marque com “C”


(correto) ou “E” (errado).

( ) Constantino foi o responsável pelo início da politização


da igreja, despertando em seus líderes o anseio pela
conquista do poder temporal, o que acabou resultando
na Santa Inquisição.
( ) Foi Constantino quem convocou o primeiro Concílio
Geral da Igreja, em Niceia, no ano 325, para dirimir a
disputa doutrinária entre Ário e Atanásio.
( ) O Imperador Constantino não interferiu ativamente nos
assuntos internos da comunidade cristã por não ser
um cristão, pois só aceitou o batismo próximo à sua
morte.
Eclesiologia ...71

( ) Apesar de ter sido o Imperador Constantino quem


convocara o primeiro Concílio Geral da Igreja, ele não
teve grande influência na decisão do concílio.

17. Sobre a influência política dos sucessores de Constantino,


marque com “C” (correto) ou “E” (errado) as seguintes
alternativas:

( ) Os séculos IV e V foram marcados pelo declínio da


Igreja.
( ) À semelhança de Constantino, seus sucessores
intervinham e exerciam autoridade nos negócios da
Igreja, tornando o Cristianismo, praticamente, uma
religião oficial do Estado.
( ) Teodósio, um dos sucessores de Constantino, baixou
um decreto determinando que todos os súditos do
Império aceitassem o Cristianismo como doutrina e
como regra de fé.
( ) Com a adesão dos pagãos, pelo decreto de Teodósio,
o Cristianismo ganhou em números, mas decresceu-se
o padrão moral na mesma proporção.

18. Ainda sobre o assunto da questão anterior, marque com “C”


(correto) ou “E” (errado).
...72 Eclesiologia

( ) Nessa época, o Cristianismo sai das fronteiras do


império para o Oriente e chega à Índia.
( ) Por volta do ano 400, a derrota da igreja há era notória.
( ) A disputa para um governo central de toda a Igreja se
estabeleceu entre os cinco maiores patriarcas, sendo
os dois mais impor tantes o de Roma e o de
Constantinopla.
( ) Na época de Oto I, o império foi chamado de Santo
Império Romano, pois se tornou o principal poder
político da Idade Média.

19. Sobre as cartas às Igrejas de Tiatira e de Sardes, marque com


“C” (correto) ou “E” (errado).

( ) À Igreja de Tiatira Jesus diz que esta tolerava Jezabel.


( ) A Igreja de Tiatira desenvolveu uma grande quantidade
de atividades, todas aprovadas por Deus.
( ) A Igreja de Sardes se encontrava numa situação
lastimável.
( ) A Igreja de Sardes estava sendo praticamente derrotada
e já enfrentava um profundo esfriamento.

20. Sobre as cartas às Igrejas de Filadélfia e de Laodiceia, marque


com “C” (correto) ou “E” (errado).
Eclesiologia ...73

( ) Diante de tanta apostasia e falta de compromisso com


a Palavra de Deus, resta à Igreja de Filadélfia pouca
força para continuar segurando o ensinamento da
Palavra tal que é a perfeita vontade de Deus.
( ) A Igreja de Filadélfia incorpora todos os problemas das
igrejas anteriores.
( ) A Igreja de Laodiceia é uma igreja morna, porque o
trono de Satanás tem domínio dentro dela e, por isso,
já não há distinção nítida entre os crentes e os não-
crentes.
( ) A mornidão da Igreja de Laodiceia é marcada pela ilusão
nas riquezas e, portanto, na independência.

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