Texto - VINTE E POUCOS ANOS

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VINTE E POUCOS ANOS


Renato Pereira Aurélio
Nanuque-MG, 09 de fevereiro de 2018

— Ah, se eu tivesse meus vinte e poucos anos... Quando ouço estas palavras da parte de
um idoso dado à labuta, gente que lutou e ainda continua na ativa, por prazer ou para
complementar a renda, em meio ao baixo valor da aposentadoria, meu pensamento se
dispersa em termos econômicos, existenciais e filosóficos. Chego a ensaiar uma coesão.
Imediatamente ouço muitas vozes e vejo muitas faces juvenis. Pessoas que poderiam dizer: —
Nós temos vinte e poucos anos! Então eu gostaria de marcar um encontro entre o velho e o
novo, embora eventos assim já se materializem nos momentos de aconselhamento no seio
familiar.
O lugar e o tempo de onde parte a fala do idoso experiente é o de um país com
escassas oportunidades de acesso à educação, em que a maioria das pessoas precisava
abandonar a escola para trabalhar em nome da sobrevivência, sendo que grande parte
sequer fora apresentada à escola e às letras. Já os mais jovens, se se conscientizarem e
também se expressarem, agirão a partir de um contexto bem mais favorável, em que o
acesso à Educação Básica e ao Nível Superior têm sido inquestionavelmente ampliados ao
longo dos anos, sobretudo a partir da LDB (nº 9.394, de 1996) e seus desdobramentos.
Feitas estas considerações, continuo em busca de uma coerência para meu
pensamento, mas algumas imagens o interrompem. Então vejo energia de sobra nas pessoas
experientes e muito pouca coragem em grande parte dos jovens. Falta-lhes resiliência,
otimismo e persistência até para fazer o mínimo, que é concluir o Ensino Médio! Enxergo nesses
jovens e em muitas outras pessoas de diversificada faixa etária e gênero, múltiplos potenciais
que podem ser desenvolvidos através da educação, da formação técnica ou superior. A
pessoa se fecha e, inacreditavelmente, deixa passar a oportunidade de se tornar,
eventualmente, um professor, um empreendedor, um servidor público, quem sabe até mais
competente que muitos por aí.
Assim como outros professores, procuro encarnar o ideal a que me refiro e consigo
sensibilizar algumas pessoas. É incrível a resistência de muitos. Sei que, para além desta
reflexão limitada, existem muitas demandas pessoais, existenciais, questões de preferência,
aptidão e gosto. Mas em plena Era do Conhecimento, da Revolução Digital, ouvir alguém
dizer que não gosta de estudar, que não nasceu para isso, para aquilo, é um fato
angustiante.
A educação e a aprendizagem escolar constituem compromissos de cada indivíduo, na
direção de uma transformação social individual e coletiva. Em última instância, representam
um gesto de retribuição aos mais velhos, que tiveram anuladas tais oportunidades, mas que as
garantiram para seus filhos e netos.
Considero ocorrido o encontro! Que desta reflexão sobre a condição do o velho e do
novo, prevaleçam o vigor deste último e a experiência do primeiro. O contexto em que
viveram nossos pais e avós foi de escassez no campo educativo, mas o atual é de uma
considerável oferta. Portanto, se temos vinte e poucos anos ou mais, vamos à universidade,
abracemos o conselho e a oportunidade. Jovem hoje, idoso amanhã. Respeitadas as
especificidades, penso que no futuro será em vão o lamento de quem preferiu se acomodar a
colocar em prática seus múltiplos potenciais, através da educação.

Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-sociedade/6249130

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