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Em 1945, o filósofo Karl Popper publicou “The Open Society and Its Enemies”, obra
que defende os valores da democracia liberal e critica o conceito filosófico de
historicismo teleológico. Nesse mesmo livro, Popper também discursa sobre o que ele
define como O Paradoxo da Tolerância.
Popper abre sua teoria com as seguintes palavras:
“Tolerância ilimitada culminará no desaparecimento da tolerância. Se estendermos a
tolerância ilimitada até para aqueles que são intolerantes […], então os tolerantes serão
destruídos, e junto com eles a tolerância.”
“Nessa formulação eu não sugiro que devemos sempre suprimir os discursos de
filosofias intolerantes; desde que seja possível contrariá-los através da argumentação
lógica e desde que a opinião pública os mantenha quietos, suprimi-los seria
imprudente.”
“Porém, devemos reivindicar o direito de suprimi-los até pela força, se necessário; pois
é provável que eles não estejam preparados para encontrar nosso nível de argumento
racional, e podem começar a rejeitar qualquer tipo de argumento.”
“Ele podem proibir seus seguidores de ouvirem argumentos racionais, e ensiná-los a
responderem argumentos com seus punhos ou pistolas. Nós devemos portanto
reivindicar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar os intolerantes.”
Porém, quão relevante é o raciocínio de Popper no contexto sóciopolítico atual? O
crescente protagonismo de grupos da extrema direita no cenário global contemporâneo
sugere que “O Paradoxo da Tolerância” não só se demonstra atual, como mais do que
nunca, necessário.
A personificação do avanço neo nazifascista se materializa na forma dos alt-right, um
movimento ultraconservador e nacionalista branco americano. E em agosto do ano
passado, um protesto dos alt-right demonstrou a versão prática da teoria de Karl Popper.
No vídeo acima, vemos uma cena de “The Blues Brothers” (1980) em que os
protagonistas ameaçam atropelar um grupo de nazistas, assim interrompendo a
manifestação dos mesmos, que se jogam num rio para não serem atingidos pelo carro.
A cena ficou marcada como um momento icônico no cinema dos anos 80, e não faltam
outros exemplos do uso da intolerância contra intolerantes nas produções culturais e
artísticas modernas: o que seria do universo de Star Wars se a Aliança Rebelde não
tivesse se organizado contra o maquiavélico Império Galáctico? É condenável que
Katniss Everdeen tenha se utilizado da violência para se opor a seus opressores, na saga
Jogos Vorazes?
A ideia de suprimir manifestações intolerantes não é algo que surgiu recentemente.
Pode-se argumentar, inclusive, que o que surgiu nos últimos tempos foi a defesa do
direito de expressão de neonazistas e supremacistas brancos, em nome da liberdade de
expressão.
Mas não devemos nos deixar levar por tal discurso de extrema tolerância, tendo em
vista os resultados catastróficos que sofremos da última vez que permitimos a ascensão
de nazi-fascistas. Não devemos estimular a existência de mais Holocaustos, mais
Hitlers, Mussolinis, Francos e Geisels. Sejamos intolerantes com a intolerância, como
disse Karl Popper.
https://naomekahlo.com/o-paradoxo-da-tolerancia/