sexta-feira, 21 de maio 2021 VII
ASSOCIADO DO MÊS: CARLOS SÁ QUEIRÓS, CEO DA SEGURAMENTE, AFIRMA
“A exclusividade é uma forma quase grosseira
de falsear o mercado”
O projeto SEGURAMENTE como
mediadora de seguros digital
chega hoje tanto ao cliente que
vive em Trás-os-Montes como a
empresas de maior dimensão e
com operações internacionais e
riscos de maior complexidade,
afirma Carlos Sá Queirós, CEO
da Seguramente – Sociedade
de Mediação de Seguros e
Financiamento, Lda.
O sucesso do crescimento de
quase duas décadas de atividade
está em “estar próximos de
todos”.
Vida Económica (VE) - Quando e
como se iniciou a atividade da Segu-
ramente – Sociedade de Mediação de
Seguros e Financiamento, Lda.?
Carlos Sá Queirós (CSQ) - O proje-
to SEGURAMENTE como mediadora de
seguros digital começou a ser pensado em
2001, demorou cerca de ano e meio a ser
concretizado e ficou disponível em 2003.
Teve uma aceitação inesperadamente boa
por parte do público, o que nos entusias-
mou a continuar a investir e a desenvol-
ver logo nesses primeiros anos. Estamos
em 2021 e pode custar a acreditar mas em
2002 tivemos reuniões ao nível de admi-
nistração apenas com o intuito de pedir
autorização para utilização do logótipo da
seguradora na nossa página. Foi um cami-
nho inicial duro, de abertura de quase to-
das as portas e de todo o tipo, pagámos um
pouco o preço de sermos pioneiros, mas
foi também uma época de grande aprendi-
zagem, para nós e para as seguradoras, e de
grande excitação para os clientes, que sen-
tiram que estavam a lidar com um tipo de
serviço novo mas que não era tão distante
assim do tradicional. De facto, nós respi-
rávamos e respiramos o relacionamento
digital com clientes, da mesma forma que
a maior parte dos nossos colegas são mui-
to fortes no contacto e acompanhamento
presencial.
Em 2009 o projeto suscitou o interesse
do Eng.º Celso Laires, que teve uma vida
dedicada a cargos de direção no Grupo
General Motors, a nível nacional e interna-
cional, e que resolveu juntar-se e concen-
trar energias e esforços no fortalecimento
da presença da empresa junto dos clientes.
Tem sido uma jornada de grande tra-
balho, dedicação, inovação e de esforço
conjunto de equipas digitais com equipas
das seguradoras, que nos entendem, res-
peitam, e se esforçam igualmente para nos
apoiar em tudo o que podem.
Neste percurso, conseguimos chegar
tanto ao cliente que vive em Trás-os-Mon-
tes, e que gosta de falar connosco, como a
empresas de maior dimensão e com opera-
ções internacionais e riscos de maior com-
plexidade.
Esforçamo-nos e conseguimos estar
próximos de todos.
VE - Por que valores se pauta a
vossa empresa?
CSQ - O principal valor por que nos
“Incorporamos os problemas e necessidades que os clientes nos fazem chegar a toda a hora e
resolvemo-los como se fossem nossos”, afirma Carlos Sá Queirós, CEO da Seguramente, à esquerda,
acompanhado do Eng.ª Celso Laires, sócio gerente.
regemos tem dado um excelente resulta-
do até hoje e pode parecer estranho vin-
do de quem dirige uma empresa: nunca
pensamos em nós. Incorporamos os pro-
blemas e necessidades que os clientes nos
fazem chegar a toda a hora e resolvemo-
-los como se fossem nossos. No final,
somos recompensados pela fidelidade e
recomendação desses mesmos clientes.
Logicamente que não prescindimos nunca
do rigor técnico e da verdade e honestida-
de na apresentação seja de propostas, seja
de dificuldades. E isso, felizmente, é-nos
reconhecido tanto por clientes como por
seguradoras.
VE - Que opinião lhes suscita o
regime de exclusividade na mediação
de seguros?
CSQ- O ambiente onde nos sentimos
bem é o de concorrência, de competição.
Nem vemos aliás outra forma que impul-
sione todos, sem exceção, a melhorar.
A melhor forma de o mercado ser ava-
liado é tendo a perspetiva do valor de cada
um, e esse valor deve ser aferido todos os
dias pela massa de clientes que tem interes-
se nos produtos em distribuição.
A exclusividade é uma forma quase
grosseira de falsear o mercado e de er-
guer muros protecionistas que defendem
o espaço de cada um. Não, os muros
não devem existir, os melhores designers
de produto, os melhores subscritores, os
melhores gestores de sinistros, devem ser
premiados pelo volume de vendas em con-
corrência e não por uma força de vendas
de uma só cor.
Somos frontalmente avessos a essa
ideia, e o mercado, que já não é dos mais
avançados, só iria perder com isso. Perde-
ríamos todos, aliás, sem exceção.
“A independência é fundamental”
VE - Em algum momento pondera-
ram tornarem-se exclusivos? Porque
decidiram não o ser?
CSQ- Nunca equacionámos essa pos-
sibilidade.
É bom que alguém possa tomar a de-
cisão de ser exclusivo, obrigar alguém a ser
exclusivo é que é uma forma de retrocesso
que para nós seria inimaginável.
A independência é fundamental.
O que se seguiria? Um médico só recei-
ta medicamentos de um laboratório? Um
taxista só pode usar uma marca de auto-
móveis? Isso é independência? E, sobretu-
do, ajuda alguém?
Mesmo que não pareça, as segurado-
ras beneficiam muito com um mercado
competitivo, basta tirar um retrato ao que
evoluíram nos últimos anos em que houve
uma competição muito grande. Todas me-
lhoraram os produtos, os serviços, a assis-
tência aos mediadores.
As poucas que não o conseguiram, é o
mercado que lhes está a dizer: ou melho-
ram ou desaparecem.
Mas, sobretudo, é esta busca constante
e incessante por ser melhor que torna o ca-
minho prazeroso e interessante e nos enche
de orgulho a cada passo que conseguimos
melhorar, adaptar, inovar.
Pelo contrário, a divisão do mercado
em coutadas iria tornar o ambiente de-
sinteressante, lento, sem pressão pela ino-
vação, e isso começa logo por afastar as
melhores pessoas, e a indústria precisa é de
“A DIVISÃO DO MERCADO
EM COUTADAS IRIA
TORNAR O AMBIENTE
DESINTERESSANTE, LENTO,
SEM PRESSÃO PELA
INOVAÇÃO”
pessoas vibrantes, com entusiasmo e com
ideias para pôr em prática.
VE - Os clientes valorizam essa in-
dependência? Porquê?
CSQ- A independência é das quali-
dades mais valorizadas pelos clientes, que
estão cada vez mais informados e discutem
os assuntos com um nível de conhecimen-
tos cada vez profundo.
Vou mais longe em achar que o negó-
cio da mediação de seguros é um negócio
de independência. A maioria das pessoas
que se dedica a esta atividade tem um
perfil de independência e veio para a ati-
vidade para se tornar independente. Não
faz muito sentido, ou não se coaduna um
perfil desse tipo com um regime de exclu-
sividade.
VE - Que relevância atribuem às
parcerias entre mediadores de segu-
ros?
CSQ - Ao longo dos anos fomos sendo
abordados por colegas que trabalhavam de
forma individual e que gostariam de ope-
rar sob a nossa marca. Nunca achámos in-
teressante, mas, ao dia de hoje, já estamos
a olhar para essa possibilidade de outra
forma e existe uma forte possibilidade de
arrancarmos já nesse sentido.
“A Seguramente estava preparada
para a Covid-19 há 15 anos”
VE - Consideram que a “revolu-
ção digital”, que foi substancialmen-
te impulsionada pela pandemia do
Covid-19, constitui uma ameaça ou
uma oportunidade para a mediação
de seguros?
CSQ - Em dezembro de 2019 fizemos
um teste para saber se realmente a nossa
estrutura permitia desligar a “tomada”
num lado e ligar noutro, e funcionou na
perfeição.
Como diz uma colaboradora nossa,
com graça, a Seguramente estava prepara-
da para a Covid-19 há 15 anos, e de facto
é verdade, para nós e em termos operacio-
nais, tudo ficou igual.
Para a mediação com presença física,
veio sim acelerar a aquisição de ferramen-
tas digitais e isso é positivo, porque duran-
te o período pior da crise (e esperando que
tenham sido esses os piores) foi possível
continuar a contactar e ajudar os clientes
fazendo um “bypass” aos escritórios que
estavam fechados e encontrando alternati-
va, e isso foi uma prova de que o setor e a
classe da mediação soube reagir e adaptar-
-se aos tempos.
No final, todos ficaremos bastante me-
lhorados em competências e capacidade
de reação. Foi um grande teste e o setor
superou-o com distinção, estamos todos
de parabéns.