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AULA 01 O Modelo Dinâmico (Parte 1)

A atenção aqui estará o tempo todo voltada para o risco da empresa não conseguir pagar suas
dívidas na data de vencimento e no retorno que seu capital circulante está proporcionando.
Falaremos, portanto da liquidez empresarial. Um importante indicador dessa liquidez é o
volume de capital circulante líquido (CCL), que é medido pela diferença entre o ativo circulante
e o passivo circulante (você deve ter estudado nas disciplinas de Contabilidade Geral e Análise
das Demonstrações Contábeis).

CCL = AC – PC

Em princípio, quanto maior for o valor do CCL melhor será a posição de liquidez de curto prazo
da empresa, ou seja, melhor a sua capacidade de pagamento neste período. Porém, na prática, o
CCL não fornece base totalmente adequada para conclusões a respeito de liquidez de uma
empresa.

Esta abordagem, tida como tradicional, implica que a empresa terá capacidade de saldar suas
dívidas caso venha a vender o seu ativo. Por isso o conceito “estático” de operação, já que o
nível de solvência é medido em função da pressuposição do encerramento das atividades da
empresa. Embora tais indicadores tenham a sua importância, não costumam fornecer
informações mais conclusivas a respeito de determinada evolução na posição financeira corrente
e esperada da empresa, omitindo principalmente as efetivas necessidades de investimento em
capital de giro. O Modelo Dinâmico, que iremos estudar nesta aula e na próxima, é uma
metodologia de estudo que tenta suprir essas informações, proporcionando uma avaliação mais
analítica da posição financeira da empresa, permitindo que se identifiquem as necessidades de
capital de giro efetivas da empresa, ou seja, o volume de investimento operacional em giro
adequado a seu equilíbrio financeiro.

No processo de implementação do referido modelo, a análise do ciclo financeiro assume papel


fundamental. O ciclo financeiro é o curso de tempo compreendido entre o momento do
desembolso, pelo pagamento dos insumos e demais itens necessários ao exercício da atividade
produtiva, até o recebimento das vendas a crédito da empresa. Representa, portanto, a parcela de
investimentos no giro das operações (clientes, estoques etc) que não é financiada
espontaneamente por recursos decorrentes do desenvolvimento do ciclo operacional
(fornecedores, contas a pagar etc). Percebe-se, então, que um ciclo financeiro positivo indica a
necessidade de recursos adicionais para o financiamento das atividades Você sabia que a Lei nº
6.404/76, a Lei das Sociedades por ações, sofreu alterações recentemente? Pois bem, foi
aprovada pelo Congresso e sancionado pelo Presidente da República, a Lei 11.638 de 28.12.07,
que altera, revoga e introduz novos dispositivos à lei 6.404/76 (lei das sociedades por ações) e à
lei 6.385/76, principalmente no que diz respeito a elaboração e divulgação das demonstrações
financeiras. Após sua implementação, foi aprovada a Medida Provisória 449 de 03.12.2008, que
introduz mais algumas mudanças na nova Lei. Os principais objetivos das mudanças foram:
proporcionar maior transparência e qualidade às informações contábeis; e harmonizar a lei com
as melhores práticas contábeis internacionais (IASB) International Accounting Standards Board.
Segue abaixo o texto do Artigo 178 da Lei nº 6.404/76 modificado pela Lei nº 11.638/2007 e
pela Medida Provisória 449/2008: Art. 178.

No balanço, as contas serão classificadas segundo os elementos do patrimônio que registrem, e


agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia.
§ 1º No ativo, as contas serão dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez dos
elementos nelas registrados, nos seguintes grupos: I) ativo circulante; II) ativo não circulante,
composto por ativo realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível. § 2º No
passivo, as contas serão classificadas nos seguintes grupos: I) passivo circulante; II) passivo
não-circulante; e III) patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes
de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. § 3º
Os saldos devedores e credores que a companhia não tiver direito de compensar serão
classificados separadamente. Operacionais.

Por outro lado, quando negativo, revela a disponibilidade de fundos para aplicações em outros
itens de ativo e/ou passivo, conforme políticas da Administração da empresa.

RECLASSIFICAÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL

Conforme dito anteriormente, a implementação do Modelo Dinâmico pressupõe a


reclassificação das demonstrações financeiras elaboradas e divulgadas pelas empresas. A
reclassificação do Balanço Patrimonial deve ser feita de acordo com o inter-relacionamento das
diversas contas que o compõem segundo o fator tempo (curto e longo prazos) e
simultaneamente aos diferentes níveis de decisão empresarial (estratégico, operacional e
financeiro).

Portanto os ativos e passivos circulantes são divididos em dois subgrupos:

Contas erráticas (ou financeiras): são aquelas de curto e curtíssimo prazo, não necessariamente
renováveis e que não guardam relação direta com a atividade operacional da empresa, mas sim
com decisões tipicamente financeiras (tesouraria).

Contas cíclicas (ou operacionais): são aquelas que mantêm relação direta com o exercício da
atividade operacional da empresa, na medida em que se renovam periodicamente, de acordo
com o ritmo dos negócios. São as contas tipicamente operacionais, decorrentes do ciclo de
exploração.

Já os demais ativos e passivos no seguinte subgrupo: Contas permanentes (ou estratégicas ou


não cíclicas): são aquelas que não variam em função do ritmo dos negócios da empresa, sendo o
longo prazo o denominador comum de todas essas contas. São as contas de natureza estratégica.

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO

Você estudou a respeito da Demonstração do Resultado do Exercício em Contabilidade Geral I e


II. A DRE é uma demonstração contábil obrigatória, cuja finalidade é mostrar o resultado (lucro
ou prejuízo) de uma empresa durante o período de exercício. A reclassificação da demonstração
do resultado do exercício tem por objetivo definir os diferentes níveis de lucros gerados pela
empresa, quais sejam o lucro operacional bruto, a capacidade de autofinanciamento e o
autofinanciamento, com vistas à identificação e análise do potencial de geração de recursos
próprios para o financiamento dos investimentos.

Dentro desta perspectiva, o modelo básico de reclassificação da DRE é apresentado no quadro 2


a seguir.

QUADRO 2 – Reclassificação da DRE RECLASSIFICAÇÃO DA DRE


Receita Líquida de Vendas

(-) Custo dos Produtos Vendidos - afetados da depreciação

(-) Despesas Administrativas

(-) Despesas de Vendas (+) Depreciações = LUCRO BRUTO


OPERACIONAL- 1º Nível

(-) Despesas Financeiras Líquidas *

(+/-) Receitas e Despesas não-operacionais

(-) Imposto de Renda do Exercício

= CAPACIDADE DE AUTOFINANCIAMENTO- 2º Nível

(-) Dividendos Distribuídos no Exercício =

AUTOFINANCIAMENTO- 3º Nível *

O primeiro nível de lucros refere-se à produtividade da atividade principal desenvolvida por uma
empresa (atividade operacional). O lucro bruto operacional deve vir classificado antes das despesas
financeiras, pois assim permite uma comparação válida para empresas similares, além disso, a empresa
obterá informações a respeito do recurso obtido por meio de sua atividade base. Já os outros dois níveis
referem-se às atividades de distribuição ou repartição do lucro operacional entre os principais parceiros da
atividade empresarial, podendo ser o governo, os banqueiros e os acionistas.

Uma vez liquidadas as operações de repartição (terceiros, governo e acionistas), o saldo


remanescente, mantido pela empresa, constitui-se no seu autofinanciamento. “O autofinanciamento
representa assim, o montante de recursos gerados pela empresa e que são conservados para seu
financiamento interno” (FLEURIET, KEHDY e BLANC, 1978:31). Ou seja: Autofinanciamento = Lucro
Retido + Depreciações e Amortizações.

AULA 02 O Modelo Dinâmico (Parte 2)

Diante desta reclassificação é possível mensurar as principais variáveis do modelo dinâmico do


balanço patrimonial, que são: a necessidade de capital de giro (NCG), o capital de giro (CDG) e o saldo
de tesouraria (T), as quais se constituem nas variáveis-chave para a gestão financeira das empresas, e que
vamos estudar na presente aula.

AS VARIÁVEIS DO MODELO DINÂMICO

Necessidade de Capital de Giro (NCG)

A Necessidade de Capital de Giro se define pela expressão: NCG = ativo cíclico - passivo cíclico

Em que o ativo cíclico é a soma das contas cíclicas do ativo e o passivo cíclico a soma das contas
cíclicas do passivo.
A variável pode assumir valores positivos e negativos, além disso, pode, ainda ter valor igual a
zero. Sendo assim, as situações básicas que ocorrem numa empresa, com relação à NCG podem ser assim
explicadas:

a) NCG positiva: ocorre quando o ativo cíclico (ou aplicações de capital de giro) é maior do que
o passivo cíclico (ou fontes de capital de giro). Neste caso, a empresa apresenta uma demanda de recursos
para o giro dos negócios, o que poderá ser financiado com recursos próprios e/ou recursos de terceiros de
curto e de longo prazos.

b) NCG negativa: ocorre quando o ativo cíclico é menor do que o passivo cíclico. Neste caso a
empresa não apresenta demanda de recursos para o giro dos negócios mas, pelo contrário, dispõe de
fontes para financiar outras aplicações, em conformidade às políticas de sua Administração.

c) NCG nula: ocorre quando o ativo cíclico é igual ao passivo cíclico. Neste caso a empresa não
tem necessidade de financiamento para o giro dos negócios, financiando-o apenas com contas cíclicas.

Capital de Giro (CDG)

Podemos definir Capital de Giro (CDG) a diferença entre as contas não cíclicas do passivo e as
contas não cíclicas do ativo: CDG = passivo permanente - ativo permanente

A maior parte dos fundos permanentes destinam-se ao financiamento das aplicações permanentes
enquanto apenas uma parte é utilizada para o financiamento da necessidade de capital de giro, isso para
manter o equilíbrio financeiro. Os autores Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003) evidenciam que algumas
informações adicionais são importantes para esclarecer melhor o conceito de capital de giro:

1. O capital de giro possui o mesmo valor que o capital circulante líquido (CCL), sendo apenas o
cálculo realizado de maneira diferente. Isso porque, na definição clássica, o capital circulante líquido
representa uma aplicação de fundos, enquanto que, na definição apresentada, o capital de giro representa
uma fonte de fundos.

2. Da mesma forma que a variável anterior, o CDG é um conceito econômico-financeiro e não


uma definição legal, representando uma fonte de fundos permanente utilizada para financiar a
necessidade de capital de giro da empresa.

3. O capital de giro apresenta-se razoavelmente estável ao longo do tempo. Diminui quando da


realização de novos investimentos em bens do ativo permanente (aumento do ativo permanente) e
aumenta por autofinanciamento, empréstimos a longo prazo e aumentos de capital em dinheiro (aumento
do passivo permanente).

Importante: Empresas que conseguem prever com maior grau de certeza as suas entradas de caixa podem trabalhar
com baixa liquidez ou até mesmo com liquidez negativa. Um exemplo dessa situação é o setor de energia elétrica,
em que os clientes precisam pagar a conta no prazo estipulado para que o fornecimento de energia não seja cortado por falt
pagamento.
Isso faz com que as entradas de caixa sejam altamente previsíveis, o que gera um fluxo de caixa adequado,
mesmo com liquidez negativa.

Com relação ao seu valor, podemos destacar que as situações básicas que ocorrem numa empresa, com relação ao
CDG podem ser:
a) CDG positivo: neste caso as fontes permanentes superam as aplicações permanentes, indicando a utilização de
recursos estáveis (de longo prazo) no financiamento da NCG, ou seja, o CDG representa uma fonte de fundos
permanentes para financiar as operações da empresa.

b) CDG negativo: ocorre quando as aplicações permanentes superam as fontes permanentes, evidenciando, assim, a
utilização de recursos de curto prazo no financiamento de ativos de pouca liquidez (de longo prazo). Neste caso o
CDG se transforma em aplicação de fundos, ou seja, ativos permanentes estão sendo financiados por recursos de curto
prazo, o que pode acarretar problemas de insolvência.

c) CDG nulo: ocorre quando as aplicações permanentes se igualam às fontes permanentes, indicando que os recursos
de curto prazo estão financiando as flutuações da NCG.

Saldo de Tesouraria (T)

O saldo de tesouraria resulta da diferença entre as tesourarias ativa (ativo errático) e passiva (passivo errático),
identificadas no balanço funcional.

T = ativo errático - passivo errático

O Saldo de Tesouraria representa um valor residual correspondente à diferença entre o Capital de Giro e a Necessidade
de Capital de Giro: T = CDG – NCG

Representa, então, a diferença, num dado momento, entre os recursos empregados para financiar a atividade da
empresa e as necessidades geradas por esta atividade.

Com relação a esta variável, as seguintes situações podem ser encontradas:

a) Saldo de Tesouraria positivo: ocorre quando o ativo errático é superior ao passivo errático. Neste caso a empresa
dispõe de fundos de curto prazo, que poderão, por exemplo, ser aplicados em títulos de liquidez imediata. Indica que
recursos de longo prazo (próprios ou de terceiros) dão cobertura às necessidades de recursos para o giro dos negócios e
ainda permitem aplicações no mercado financeiro ou simplesmente a sua manutenção em caixa. Pode evidenciar
ainda uma situação financeira folgada, em função das aplicações em ativos financeiros. Cabe ressaltar,
entretanto, que a existência de um saldo de tesouraria positivo e elevado nem sempre é bom para a empresa,
pois pode significar também o fato da empresa não estar aproveitando adequadamente as oportunidades de
investimento proporcionadas por sua estrutura financeira. Neste caso o saldo de tesouraria “engorda” por falta
de uma estratégia dinâmica de investimentos.

b) Saldo de Tesouraria negativo: ocorre quando o ativo errático é menor do que o passivo errático. Neste caso a
empresa tem fontes de recursos de curto prazo financiando suas atividades, o que revela a insuficiência de recursos de
longo prazo (próprios ou de terceiros) e a tomada de empréstimos de curto prazo para cobrir a NCG, evidenciando
uma situação de risco de insolvência mais elevado. Dentro desta perspectiva, é importante que a gestão financeira
da empresa acompanhe a evolução do saldo de tesouraria, a fim de evitar que permaneça constantemente
negativo e crescente. Quando a necessidade de capital de giro cresce mais que proporcionalmente às fontes de
capital de giro, tem-se a ocorrência do chamado efeito tesoura (desequilíbrio financeiro).

TIPOS DE ESTRUTURA DO BALANÇO

a) CDG positivo, NCG positiva e T negativo. Neste caso a empresa apresenta insuficiência de fundos de
longo prazo para o financiamento de suas necessidades de capital de giro, utilizando-se, assim, de créditos de curto
prazo (T<0), o que se evidencia pela relação T/NCG (que veremos a seguir, no tópico sobre o termômetro de
liquidez). Tal estrutura revela uma empresa em desequilíbrio financeiro, apesar de possuir capital de giro positivo.
b) NCG positiva, CDG positivo e T positivo. Este tipo de estrutura revela uma situação financeira sólida, uma
vez que a empresa dispõe de um saldo de tesouraria positivo que lhe permite enfrentar aumentos temporários da
necessidade de capital de giro. Ou seja, o capital de giro é suficiente para bancar as necessidades de capital de giro e
ainda proporcionar aplicações em ativos financeiros, facultando, assim, relativa liquidez à empresa.
c) NCG positiva, CDG positivo e T positivo. Este tipo de estrutura revela uma situação financeira sólida, uma
vez que a empresa dispõe de um saldo de tesouraria positivo que lhe permite enfrentar aumentos temporários da
necessidade de capital de giro. Ou seja, o capital de giro é suficiente para bancar as necessidades de capital de giro e
ainda proporcionar aplicações em ativos financeiros, facultando, assim, relativa liquidez à empresa.
d) CDG positivo, NCG negativa e T positivo. Refere-se a uma situação de menor freqüência na prática, sendo
específica de atividades como supermercados e empresas de transporte, que compram a prazo e vendem à vista,
permitindo, assim, a ocorrência de ciclo financeiro negativo.

ANÁLISE DE TENDÊNCIA: O EFEITO TESOURA

Quando ocorre uma piora significativa e persistente da NCG, em decorrência do crescimento relativo do
saldo de tesouraria (T) como uma fonte de recursos (T<0), podemos identificar a deterioração da situação
financeira da empresa, num processo chamado efeito tesoura.
De um modo geral, o efeito tesoura ocorre quando estão presentes as seguintes condições:
• As vendas da empresa crescem a taxas anuais elevadas;
• A relação NCG/Vendas mantém-se mais elevada do que a relação
Autofinanciamento/Vendas, durante o período de crescimento das vendas;
• As fontes externas que aumentam o CDG são utilizadas somente para novos investimentos em ativos
permanentes (diminuem CDG).
Desta maneira, o efeito tesoura pode ocorrer das seguintes formas:
• A empresa não consegue aumentar o capital de giro no mesmo ritmo de aumento da necessidade de
capital de giro.
• O capital de giro se reduz, mesmo quando a necessidade de capital de giro permanece relativamente
constante ou quando o CDG se reduz mais que a NCG.

Podemos apresentar como principais fontes de distúrbios o crescimento muito elevado das vendas;
investimentos elevados com retorno a longo prazo; baixa geração de lucros; investimento com baixo
retorno; além da dependência dos recursos financeiros de curto prazo para financiamento da demanda
operacional de recursos permanentes e de longo prazo.

E como fazer para evitar esse efeito tesoura? Pois bem, para evitar os distúrbios as empresas devem
planejar a evolução do saldo de tesouraria, além disso, o autofinanciamento das empresas deve ser
suficiente para financiar, pelo menos, os aumentos de sua necessidade de capital de giro (NCG).

O TERMÔMETRO DE LIQUIDEZ

O Termômetro de Liquidez (TL) é conhecido, também, como o índice de liquidez do modelo dinâmico. E
pode ser encontrado por meio da seguinte fórmula:
TL = T
|NCG|
O TL permite efetuar um diagnóstico das empresas no curto e no curtíssimo prazo e medir a situação
econômica e financeira a partir das informações constantes nas contas do balanço dinâmico para qualquer
período pertinente de análise.
Quanto mais negativo for o valor apresentado pelo indicador, significando maior utilização de
recursos de curto prazo originados das instituições financeiras, pior tenderá a ser a situação
financeira da empresa.

AULA 03- Capital de Giro

Capital de giro: são os ativos circulantes, que representam a parcela do investimento que circula de uma
forma ou de outra, durante a condução normal dos negócios. Essa ideia compreende o ciclo operacional da
empresa.
Ciclo operacional: transição periódica de caixa para estoques, destes para duplicatas a receber e de volta
para caixa, que ocorre dentro do capital circulante da empresa.

Na condição de substitutos de caixa, os títulos negociáveis são considerados como parte do capital de giro.
Da mesma forma, as despesas pagas antecipadamente estão incluídas no capital de giro porque
representam serviços devidos à empresa e que são usados na realização de suas atividades, eliminando a
necessidade de desembolsos de caixa posteriores.

A administração do capital de giro refere-se à administração dos ativos e passivos circulantes. À diferença
entre ativos e passivos circulantes, dá-se o nome de capital circulante líquido (CCL). O CCL representa a
parcela de ativo circulante que se encontra financiada por recursos de longo prazo (exigibilidades e
patrimônio líquido).
Quanto maior o CCL menor será o risco de insolvência de uma empresa. A necessidade de capital
de giro é fruto do descompasso entre entradas e saídas de caixa.
A necessidade de capital de giro surge da falta de sincronismo entre as atividades de produção, vendas e
cobrança. As saídas de caixa são relativamente previsíveis, enquanto que as entradas são mais difíceis de
serem previstas. Deste modo, quanto mais previsíveis forem as entradas de caixa, menor será a
necessidade de capital de giro para a empresa.

2.1 Capital Circulante Líquido (CCL)

1ª Definição: É a interpretação mais usual. Representa, de maneira geral, o valor líquido das aplicações
(deduzidas das dívidas a curto prazo) processadas no ativo (capital) circulante da empresa. Segundo essa
conceituação, a forma mais direta de obter-se o valor do capital circulante líquido é mediante a diferença
entre o Ativo Circulante e Passivo Circulante. Visto por este ângulo, o capital circulante líquido constitui
uma medida estática de folga financeira que a empresa apresenta para liquidar seus compromissos de curto
prazo.
Algebricamente tem-se: CCL = Ativo Circulante – Passivo Circulante

2ª Definição: Dentro de um conceito mais rigoroso, o capital circulante líquido representa normalmente a
parcela de Ativos Circulantes financiada por recursos a longo prazo. Na realidade, essa interpretação
acurada do capital circulante líquido é processada de “baixo para cima” no balanço, isto é, identificando-se
os valores passivos de longo prazo (próprios ou de terceiros) que estão financiando o ativo circulante da
empresa. Em outras palavras, o CCL representa a parcela do financiamento total de longo prazo que
excede as aplicações também de longo prazo.
Algebricamente, o cálculo desse valor é obtido pela seguinte expressão: CCL = (Patrimônio Líquido
+ Passivo não Circulante) – (Ativo não Circulante)

2.2 Risco e Lucratividade

Como regra geral, as decisões financeiras, incluindo aqui aquelas de capital de giro, são baseadas na
comparação entre risco e retorno. O investimento total de uma empresa engloba os ativos circulantes
(capital de giro) e os ativos permanentes, sendo que sua lucratividade e risco são afetados pela relação
entre essas duas categorias. O nível de ativos permanentes de uma empresa é determinado pela escala de
produção e pela intensidade de uso do fator capital. Por sua vez, o nível de ativos circulantes guarda
estreita relação entre com o nível de produção, acompanhando de forma direta os aumentos e reduções
desta.
A lucratividade, neste contexto, é a relação entre receitas e custos (receitas menos custos) geradas pelos
usos dos ativos da empresa (circulantes e permanentes) nas suas atividades produtivas. O lucro de uma
empresa pode ser aumentado de dois modos:
(1) aumentando-se as receitas (através do investimento em ativos mais rentáveis) ou
(2) reduzindo-se os custos, notadamente os provenientes de suas fontes de financiamento
(pagando-se menos por um item ou serviço, ou usando-se os recursos existentes de modo mais
eficiente). As empresas mais rentáveis são geralmente aquelas que detêm a maior parcela de
mercado para seus produtos.
O risco tem dois significados.
O risco operacional é o risco de a empresa ser incapaz de cobrir os custos operacionais. Já o risco
financeiro refere-se a impossibilidade de efetuar os pagamentos fixos programados decorrentes de
empréstimos, leasing e dividendos preferenciais.
Uma empresa que não consegue saldar suas dívidas nos vencimentos é considerada tecnicamente insolvente.
Geralmente, entende-se que quanto maior o CCL de uma empresa, menor o seu risco, exatamente porque sua
liquidez reduz a probabilidade de que ela se torne tecnicamente insolvente. Entretanto, tal suposição pode ser
equivocada. Um CCL positivo significa que fundos a longo prazo estão financiando parte dos ativos
circulantes. Como os custos desses recursos a longo prazo costumam ser mais caros do que aqueles a
curto prazo, a empresa poderá enfrentar maiores restrições.
Uma empresa pode decidir minimizar o montante de seus investimentos em capital circulante como
estratégia para reduzir seus custos, notadamente os provenientes de suas fontes de financiamento.
Neste objetivo de cortar custos e promover maiores lucros, a unidade decisória envolve-se com o dilema
risco-retorno, cuja conciliação traz normalmente conflitos ao processo decisório. É aceito que quanto maior
o capital circulante líquido mantido por uma empresa, mais ampla é sua folga financeira e menor seu risco
de insolvência, ou seja, apresenta-se bastante estreita a relação entre capital de giro, folga financeira e
insolvência.
É preciso não ignorar, por outro lado, que uma maior segurança mantida por uma folga financeira crescente
incorpora um custo de oportunidade mais elevado para a empresa, pressionando negativamente seus
resultados. Para qualquer nível de atividade, quanto maior o montante de recursos aplicados em ativos
circulantes menor tende ser a rentabilidade oferecida pelo investimento e, em contrapartida, menos arriscada
se apresenta a política de capital de giro adotada. Nesta situação, revela-se maior imobilização de capital de
giro (maior folga financeira), que promove retornos relativos inferiores àqueles apurados ao optar-se por
uma estrutura financeira de menor liquidez, com mais reduzido volume de capital de giro.
De maneira inversa, um montante mais reduzido de CCL, ao mesmo tempo em que sacrifica a margem de
segurança da empresa elevando seu risco de insolvência, contribui positivamente para a formação da
rentabilidade do investimento ao restringir o volume de fundos imobilizados em ativos de menor
rentabilidade. Essa relação risco-retorno comporta-se de forma que nenhuma alteração na liquidez ocorre
sem que promova, em sentido contrário, modificações na rentabilidade.
Assim, na definição do nível adequado de recursos a serem imobilizados em ativos circulantes, a empresa
deve levar em consideração sua opção entre risco e retorno. BOX a. Variações nos ativos circulantes É
sabido que o ativo circulante se constitui, para diversos segmentos empresariais, no grupo patrimonial menos
rentável. Os investimentos em capital de giro, conforme comentado, não geram diretamente unidades físicas
de produção e venda, meta final do processo empresarial de obtenção de lucros. A manutenção de
determinado volume de recursos aplicado no capital de giro visa, fundamentalmente, à sustentação da
atividade operacional de uma empresa. O capital de giro é constituído, em grande parte, por ativos
monetários, ou ativos depreciáveis perante a inflação. Tipicamente, investimentos em disponível e créditos
realizáveis a curto prazo produzem perdas inflacionárias à empresa, as quais são determinadas em função do
tempo em que os recursos ficam expostos à inflação. Dessa maneira, o mais rentável para qualquer empresa
seria manter em seus ativos circulantes valores mínimos ou exatamente iguais à sua necessidades
operacionais.
Por exemplo, os valores disponíveis poderiam ser sempre iguais aos desembolsos de caixa efetuados em
diferentes momentos. Da mesma forma, o valor investido no realizável a curto prazo seria o reflexo do
volume e prazo ideais de vendas a crédito, e os estoques deveriam conter a quantidade estritamente
necessária para a consecução da meta de produção e venda estabelecida pela empresa. Ratifique-se,
entretanto, que os baixos níveis de ativo circulante determinam, juntamente com o aumento na rentabilidade,
uma elevação nos riscos da empresa. Evidentemente, valores mínimos de capital de giro, ou exatamente
iguais à demanda por esses recursos, podem levar a empresa a um aperto em sua liquidez, no caso de
eventuais atrasos nos recebimentos, ou a sacrificar seu processo normal de produção e venda, na
eventualidades de falta de estoques
Uma empresa é tecnicamente insolvente, se for incapaz de pagar suas contas na data do vencimento. A
insolvência técnica normalmente precede a falência. Uma empresa, em muitos casos, pode superar a
insolvência técnica através de empréstimos.

Variações nos ativos circulantes

O mais rentável para qualquer empresa seria manter em seus ativos circulantes valores mínimos ou exatamente
iguais à sua necessidades operacionais. Por exemplo, os valores disponíveis poderiam ser sempre iguais aos
desembolsos de caixa efetuados em diferentes momentos. Da mesma forma, o valor investido no realizável a curto
prazo seria o reflexo do volume e prazo ideais de vendas a crédito, e os estoques deveriam conter a quantidade
estritamente necessária para a consecução da meta de produção e venda estabelecida pela empresa. Ratifique-se,
entretanto, que os baixos níveis de ativo circulante determinam, juntamente com o aumento na rentabilidade, uma
elevação nos riscos da empresa. Evidentemente, valores mínimos de capital de giro, ou exatamente iguais à demanda
por esses recursos, podem levar a empresa a um aperto em sua liquidez, no caso de eventuais atrasos nos
recebimentos, ou a sacrificar seu processo normal de produção e venda, nas eventualidades de falta de estoques.

Quanto o índice ativos circulante-ativos totais aumenta, a lucratividade reduz-se, entretanto, o risco também se reduz
à medida que esse índice aumenta. O oposto também é verdadeiro. 1.

Efeitos de um aumento no índice AC/AT

• a lucratividade diminui, visto que ativos circulantes são menos rentáveis que os ativos permanentes, • o risco de
insolvência técnica diminui, visto que com o Passivo Circulante constante, um aumento no Ativo Circulante elevará o
Capital Circulante Líquido. 2. Efeitos de uma diminuição no índice AC/AT • Lucratividade aumenta, • risco crescerá,
pois o CCL diminuirá com a redução no CCL.

Variação nos Passivos Circulantes

A decisão de financiar os ativos com empréstimos de curto ou de longo prazo é uma escolha entre minimizar risco e
maximizar lucros. Sob condições normais, empréstimos a longo prazo são mais caros do que os de curto prazo. A
razão é que os credores que esticam o crédito por um longo período defrontam com mais incertezas do que os
credores que coletam seus empréstimos originais após um curto período de tempo. O risco de inadimplência e de
inflação é, normalmente, mais significante para empréstimos de prazos longos, já que a perda do investimento
principal é maior para empréstimos de maior prazo se a taxa de juro aumentar. Um aumento na taxa de juro produz
um desconto maior no valor do título de longo prazo devido ao prazo de vencimento ser relativamente longo.
Entretanto, os custos maiores dos empréstimos de longo prazo são, em parte, uma compensação pelo risco. Outra
razão para os financiamentos a longo prazo serem mais caros é que aos devedores fica assegurada a utilização dos
fundos por um longo período sem precisar estar renovando o empréstimo ano a ano. Se os empréstimos de curto
prazo não forem renovados em tempo, a empresa pode ficar sem dinheiro, e as suas atividades comerciais podem ser
interrompidas. O financiamento de longo prazo, embora mais caro, é uma abordagem conservadora para assegurar a
continuidade da liquidez da empresa. Nessa linha de raciocínio, os administradores financeiros conservadores
satisfazem a maioria de suas necessidades de financiamento através de empréstimos de longo prazo, captando
apenas uma quantia muito limitada através de empréstimos a curto prazo.

1. Efeitos de um aumento no índice PC/AT


• Lucratividade cresce - menores custos relacionados com a utilização de mais financiamento a curto
prazo e menos a longo prazo. • CCL diminui, conseqüentemente risco aumenta.
2. Efeitos de uma diminuição do índice PC/AT:
• Lucratividade cai • CCL aumenta e risco diminui.
ESTRATÉGIAS DE FINANCIAMENTO DO CAPITAL DE GIRO

3- Estratégia intermediária de financiamento - Misto das duas técnicas. Estratégia pela qual a empresa financia
suas necessidades permanentes e mais uma parte das necessidades sazonais com recursos a longo prazo. A relação
exata feita entre a lucratividade e o risco depende muito de quem toma decisões com respeito ao risco. Exemplo:
Observando a coluna (3) do Quadro 3, verificamos que as necessidades totais de recursos apresentam dois
extremos: em maio o menor nível (413.800) e em outubro o nível mais elevado ($18.000). A Nicholson Company
decidiu-se por um plano de financiamento baseado num montante permanente, igual ao ponto médio da
necessidade mínima e máxima mensal de recursos para o período, que é: [($13.800 + $18.000)] ÷2 = $15.900 Com
isto a empresa usará, mensalmente, $15.900 de recursos a longo prazo e obterá quaisquer recursos adicionais
necessários de fontes a curto prazo. Ou seja, os recursos adicionais corresponderiam à diferença entre as
necessidades totais

Concluindo: Dentro das hipóteses assumidas para o desenvolvimento do modelo, verificamos que, quanto menor
for o CCL, menores serão os custos financeiros. As sobras de recursos (linha 10 do Quadro 16.6) poderiam ser
aplicados no mercado financeiro, porém as taxas bastantes inferiores aos 15%. Logo, esses recursos ociosos
implicam ônus para a empresa. Os $2.208 que sobrariam na estratégia conservadora, se aplicados a 8% ao ano,
renderiam $177, os quais, mesmos abatidos dos custos financeiros de $4.050, seriam insuficientes para alterar as
conclusões extraídas desta simulação. Constatamos deste modo, que do ponto de vista da rentabilidade é
conveniente operar com o menor CCL possível. Considerando o aspecto da liquidez da empresa, verificamos que a
situação se inverte: quanto menor for o CCL, maior será o risco de insolvência. Ou seja: Na alternativa agressiva
temos o CCL restrito ao mínimo atingido pelos ativos circulantes durante o ano. Deste modo, as flutuações sazonais
teriam de ser integralmente financiadas com passivos circulantes. Trata-se de uma política de financiamento muito
arriscada porque a empresa teria de contar com uma resposta positiva instantânea de seus fornecedores e
emprestadores de recursos de curto prazo. Como sabemos, existem limites para a expansão dos passivos
circulantes e o reduzido CCL colocaria os credores atuais e potenciais de sobreaviso sobre as condições de
solvência da empresa. Ocorrendo elevação não prevista nos ativos circulantes, a empresa provavelmente não
conseguiria expandir seus passivos circulantes na medida necessária, ao mesmo tempo em que teria dificuldades
na rápida obtenção de novos recursos de longo prazo. Na alternativa conservadora a empresa não utilizando o seu
potencial de crédito, com a agravante de prejudicar a rentabilidade das operações em face dos elevados custos dos
recursos permanentes. A maior parte das empresas fazem opção por operar com esquemas semelhantes à
alternativa intermediária, equilibrando os aspectos relativos à liquidez e à rentabilidade.

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