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GESTÃO DE

ARMAZENAMENTO,
ESTOQUE E
DISTRIBUIÇÃO

Charlene Bitencourt
Soster Luz
Sistemas de gestão
de armazenagem
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer o uso do sistema WMS na função de armazenagem.


 Identificar os métodos de UEPS e PEPS na armazenagem.
 Descrever os sistemas de cross-docking e transit point.

Introdução
Parte substancial do faturamento de empresas que administram um
alto volume de mercadorias depende diretamente de uma boa gestão
de armazenagem. A partir do uso de tecnologias como o Sistema de
Gerenciamento de Armazém (WMS), do controle de estoque baseado
em métodos do tipo PEPS (Primeiro que Entra, Primeiro que Sai) e UEPS
(Último que Entra, Primeiro que Sai) e de sistemas de distribuição como
cross-docking e transit point, a gestão de armazenagem pode resolver
problemas e evitar perdas que comprometeriam a competitividade no
mercado e a redução de custos de uma empresa.
Neste capítulo, você vai entender o uso desses sistemas e métodos para
buscar as melhores formas de planejar e controlar os acúmulos de recursos
nas cadeias de suprimentos, operações e processos. Além disso, a partir
destes estudos, você vai poder repensar as propostas de organização
de ambientes produtivos e o equilíbrio entre o custo de mercadorias e
o de serviço ao cliente.

O gerenciamento de armazém
No armazém, há necessidade de gerenciar a entrada, a saída e a localização
de produtos, entre outras questões inerentes à gestão de materiais. Dessa
forma, a tecnologia da informação exerce importante papel na logística de
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armazenagem. O WMS (Warehouse Management System, ou Sistema de


Gerenciamento de Armazém) é um sistema que faz toda a gestão do arma-
zém e, conforme Caxito (2014), possui função estratégica nas atividades de
armazenagem. Algumas dessas funções estratégicas apontadas pelo autor
(2014, p. 43-44) são:

 Programação e entrada de pedidos: o sistema faz a relação entre a


programação de compras e as entradas de materiais.
 Planejamento e alocação de recursos: o WMS é versátil e pode contro-
lar vários armazéns da mesma companhia, o que facilita o planejamento
e as transferências entre filiais.
 Recebimento: função de registro das entradas de mercadorias.
 Inspeção e controle da qualidade: o uso do WMS facilita o controle
de não conformidade, pois armazena todos os registros visando a me-
lhoria contínua.
 Separação de pedidos: função de direcionamento dos pedidos para
os clientes.
 Expedição: organização da saída dos produtos do armazém, com nota
fiscal e devida baixa no estoque.
 Inventários: organização da conferência dos materiais e de sua inte-
gridade no armazém.
 Relatórios: o WMS propicia relatórios mais precisos, pois armazena
o histórico completo do produto.

Estas funções estratégicas mostram o quanto o WMS contribui na gestão


das mercadorias do armazém. Além de ser estratégico, o WMS é versátil,
pois pode ser acoplado a outros sistemas da empresa e ser utilizado para
gerenciar simultaneamente diversos armazéns com variadas quantidades
de produtos. A implementação do WMS traz benefícios como a redução
de perdas de mercadorias e erros, pois os registros completos e a infor-
mação em tempo real auxiliam na prevenção e gestão desses problemas.
A acurácia no estoque também é um benefício do WMS, elevando a qua-
lidade do serviço prestado ao cliente ao fornecer dados precisos sobre a
disponibilidade das mercadorias.
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RECEBIMENTO MOVIMENTAÇÃO

ARMAZENAGEM
ENDEREÇAMENTO

CROSS-
-DOCKING SUPORTE

EMBALAGEM
ETIQUETAGEM

CARREGAMENTO SEPARAÇÃO

Figura 1. As atividades básicas do armazém e o gerenciamento via WMS.


Fonte: Adaptada de TADEU, 2010, p. 346.

O WMS abrange diversas atividades dentro do armazém, desde o recebi-


mento das mercadorias até o carregamento na expedição, conforme mostra a
Figura 1. Depois que a mercadoria chega no armazém, existem duas formas de
dar prosseguimento à operação. Uma das formas de operação no armazém é o
cross-docking, utilizado quando as cargas entram e já são direcionadas para a
expedição, sem ficar no estoque. A outra operação, efetuada na maioria dos ar-
mazéns, envolve mais processos de movimentação dos produtos–endereçamento,
suporte, embalagem e etiquetagem –, que posteriormente serão armazenados e,
quando houver demanda, separados para o carregamento na expedição.

O sistema WMS tem controle total das mercadorias dentro do armazém. No recebi-
mento, é feito o registro das mercadorias, que na sequência já podem ser direcionadas
ao local mais adequado do armazém. Com o WMS as informações são precisas, e é
possível saber, por exemplo, quais produtos vendem mais e quais ficam mais tempo
no estoque, o que possibilita desenvolver uma previsão mais assertiva de vendas. A
expedição também se torna mais eficiente com o WMS, que mostra exatamente onde
a mercadoria está no armazém e registra o momento e a condição exata de sua saída.
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Os métodos de valorização de estoques


Para organizar a saída dos materiais, existem os chamados métodos de valo-
rização de estoques. Estes métodos são adotados conforme as características
dos produtos e as políticas da empresa. Assim, são métodos que determinam
a ordem de saída dos produtos que entram no estoque.
O método UEPS significa Último que Entra, Primeiro que Sai. Este
método também é conhecido como LIFO, do inglês Last In, First Out. No
UEPS, os últimos produtos a entrar no estoque são os primeiros a sair, isto é,
o produto mais novo que entrou no estoque sai com o preço atual de mercado,
e os produtos antigos saem depois. Dessa forma, realizar o controle contábil
dos estoques UEPS é uma tarefa complexa, e, por isso, o UEPS tem baixa
utilização nas empresas.
O método UEPS pode ser utilizado em empresas onde os produtos tenham
pouca variação de preços e não tenham validade, nem fiquem obsoletos
com o tempo. Um exemplo são barras de ferro e materiais que raramente se
modificam e cuja variação de preços é baixa.
Já o método PEPS significa Primeiro que Entra, Primeiro que Sai e
é também conhecido como FIFO, do inglês First In, First Out. No PEPS, a
saída dos produtos ocorre por ordem cronológica, ou seja, o produto que
entrou há mais tempo na empresa será o primeiro a sair, e os produtos mais
antigos saem pelo mesmo custo que entraram, o que torna o inventário
mais eficiente. Isso evita que produtos percam o valor financeiro ao longo
do tempo de estoque. Conforme Correa (2010), esse método é muito comum
nas empresas devido à sua praticidade. Veja um comparativo dos métodos
PEPS e UEPS na Figura 2.
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Figura 2. Principais diferenças entre os métodos PEPS e UEPS.


Fonte: Adaptada de CORREA, 2010, p. 311.

O PEPS é o método de valorização de estoques mais adotado nas empresas do Brasil


e do mundo. A utilização do PEPS ajuda a evitara perda da validade e a obsolescência
dos produtos no estoque. Por essas razões, a utilização do PEPS é recomendada, por
exemplo, para empresas de alimentos, pelo fator validade, e empresas de produtos
tecnológicos ou “da moda”, para evitar o desperdício de produtos que se tornam
obsoletos rapidamente.
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Os sistemas de cross-docking e transit point

Cross-docking
Cross-docking, como visto anteriormente, é o processo de receber os produtos
e já direcioná-los para as entregas, sem estocá-los (Figura 3). O objetivo é
evitar o custo de armazenagem. Segundo Nogueira (2015), cross-docking é o
“processo onde produtos são recebidos em uma dependência, ocasionalmente
junto com outros produtos, que são separados conforme o mix para o mesmo
destino, onde são enviados na primeira oportunidade, sem uma armazenagem
longa”. O mix se refere aos diferentes produtos de um pedido. O conceito de
cross-docking do autor mostra que o produto pode ser mantido no armazém
até ser expedido, porém esse tempo é menor do que no fluxo tradicional, no
qual o produto fica no estoque e aguarda pedido para sair do armazém.

Figura 3. Cross-docking.
Fonte: Adaptado de NOGUEIRA, 2015.

A utilização do cross-docking reduz o tempo da operação no armazém,


tornando todo o processo da cadeia de suprimentos mais ágil. Na operação de
cross-docking, a mercadoria é conferida após o recebimento e separada para
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ser conferida novamente antes de ser expedida. Sem o cross-docking, seria


necessário movimentar a mercadoria para o armazenamento, acarretando
mais tempo, custo e mão de obra na operação. Veja um comparativo entre as
operações sem e com cross-docking na Figura 4.

Figura 4. Comparação entre processos sem e com cross-docking.


Fonte: e-Millennium E (2018, documento-online).

Observa-se na Figura 4 que o processo sem cross-docking possui mais


etapas em comparação ao processo com cross-docking e, consequentemente,
exige mais tempo e custo. Segundo Ching (2001), existem três níveis de cross-
-docking que podem ser utilizados nos armazéns:

 Nível 1, cross-docking paletizado: os produtos chegam dos fornece-


dores e são direcionados para outro veículo aos clientes, sem seleção
ou preparação da carga.
 Nível 2, cross-docking com separação: as mercadorias são recebidas
e separadas para um local específico dentro do armazém.
 Nível 3, cross-docking com separação e reembalagem: os produtos
são recebidos, separados e reembalados para serem direcionados aos
veículos que farão as entregas, conforme os pedidos.

O mesmo armazém pode trabalhar com os três tipos de cross-docking


dependendo da negociação realizada com fornecedores e clientes. O nível 1
de cross-docking apresenta maior agilidade do que os outros níveis, pois a
mercadoria é recebida e direcionada para a entrega.
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Transit point
O transit point é um processo muito similar ao cross-docking, porém consegue
enxugar ainda mais o tempo da mercadoria no armazém. No transit point,
a mercadoria entra e já tem pedidos de destinos; assim, vai imediatamente
para a expedição. O transit point é necessário para distribuir as mercadorias
em um caminhão de grande porte para outros veículos menores, de destinos
diversos, por exemplo. Assim, pode-se entender o transit point como um
local de passagem de produtos, que recebe as mercadorias e as separa para
as empresas que já têm o destino definido.
Diferentemente do cross-docking, no transit point geralmente entra um
grande volume de mercadorias para ser separado conforme os destinos. Assim,
o transit point tem larga utilização para entregas de cargas consolidadas,
pois antes mesmo da mercadoria chegar no armazém os pedidos já estão
prontos. Dessa forma é possível traçar rotas econômicas, consolidando várias
mercadorias para serem entregues, mesmo que em veículos pequenos. Assim,
poupa-se tempo e custo com combustível, por exemplo.

Acesse o link a seguir para saber mais sobre a operação de cross-docking nos armazéns:

https://goo.gl/KbrUit

Acesse o link a seguir e saiba como a armazenagem pode ser estratégica por meio
da utilização do transit point:

https://goo.gl/TZLXpA
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Um centro de distribuição de aparelhos celulares utiliza os três níveis de cross-docking.


No nível 1, os aparelhos são recebidos e já direcionados para os veículos das lojas. No
nível 2, os celulares entram no armazém e são colocados em local específico para
depois serem encaminhados aos seus destinos, pois aguardam os veículos chegarem.
No nível 3, os celulares são recebidos, separados e reembalados em outras caixas
conforme solicitação do cliente, para depois serem expedidos.

CAXITO, F. (Org). Logística: um enfoque prático. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
CHING, H. Y. Gestão de estoques na cadeia de logística integrada. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2001.
CORRÊA, Henrique Luiz. Gestão de redes de suprimentos. São Paulo: Atlas, 2010.
MILLENNIUM. Automação avançada de cross-docking. Disponível em: <http://e-mil-
lennium.com.br/automacao-avancada-de-cross-docking/>. Acesso em: 07 abr. 2018.
NOGUEIRA, A. de S. Cross-docking. 2015. Disponível em: <http://portallogistico.com.
br/2015/04/27/cross-docking-39781/>. Acesso em: 07 abr. 2018.
TADEU, H. F. B. (Org.). Gestão de estoques: fundamentos, modelos matemáticos e
melhores práticas aplicadas. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

Leituras recomendadas
LACERDA, L. Armazenagem estratégica: analisando novos conceitos. Disponível em:
<http://www.ilos.com.br/web/armazenagem-estrategica-analisando-novos-concei-
tos/>. Acesso em: 09 abr. 2018.
MARQUES, J. R. Qual a diferença entre transit point e cross-docking? Disponível em:
<http://www.ibccoaching.com.br/portal/qual-diferenca-entre-transit-point-e-cros-
sdocking/>. Acesso em: 07 abr. 2018.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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