Você está na página 1de 1

A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA COM A LEI DO SORTEIO MILITAR NO PIAUÍ

Clarice Helena Santiago Lira


Doutoranda em História (UFSM)
Professora de História (UESPI)
claricelira@yahoo.com.br

RESUMO

Em 4 de janeiro de janeiro de 1908 foi aprovada a lei nº 1.860 que regulava o alistamento e o
sorteio militar no Brasil como também reorganizava o exército nacional. A primeira tentativa
de implantação dessa nova legislação, conhecida como lei do sorteio, aconteceu no mesmo
ano de sua aprovação provocando uma variedade de reações em todo o território nacional. O
serviço militar era concebido pelos seus defensores como um instrumento capaz de apagar as
fronteiras entre civis e militares, através da disseminação da “consciência civil” nos quartéis.
O “cidadão-soldado” fruto desse processo de amálgama constituiria uma “força nacional
real”, de grande importância para a solução dos problemas do país. Dessa forma, a nova
experiência com o serviço militar obrigatório era vista como fundamental por parte de certos
grupos da elite nacional para a produção de um homem novo e de uma nova sociedade. Nesse
sentido, o objetivo desse trabalho é investigar como se processou, no Piauí, a implementação
da lei 1.860, levando-se em consideração o papel do exército, dos periódicos e da justiça
federal na operacionalização como também na recusa dessa nova experiência. Para isso,
utilizou-se como fonte de pesquisa jornais piauienses como “O Commercio”, “O Apóstolo”,
“Amarante”, “Piauhy”, recursos de habeas-corpus de piauienses encaminhados ao STF,
relatórios do Ministério da Guerra entre outros. O uso variado de fontes permitiu um olhar
mais cuidadoso sobre as ideias e práticas que estavam em jogo na sociedade brasileira e
piauiense e os afastamentos e aproximações com aquelas advindas de um Estado Nacional
com intenções de centralização. Dentre as referências teóricas que serviram de base para
analisar o material levantado podem ser citados os conceitos de cidadão imaginário e, de
produção e consumo formulados respectivamente por Fernando Escalante Gonzalbo (1989), e
Michel de Certeau (1994). Conclui-se que havia uma fragilidade organizacional por parte do
Estado Nacional Brasileiro que contribuiu para a inviabilização do cumprimento do serviço
militar na primeira experiência com a lei do sorteio, em 1908. Essa vulnerabilidade pôs em
xeque os ideais modernizadores e civilizatórios produzidos pela elite política para a sociedade
brasileira e seus cidadãos que viam no serviço do exército um instrumento importante para a
concretização do seu projeto.

Palavras-chave: Serviço Militar. Sorteio Militar. Piauí

Você também pode gostar