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Caso prático
No interior de uma loja de eletrodomésticos, em virtude de uma discussão
após um breve desentendimento por questões futebolísticas, Amílcar empurra
violentamente Bernardo projetando-o contra um televisor de alta definição, que,
inevitavelmente, se destruiu, causando prejuízos ao Carlos, dono da referida
loja, no valor de €2.000.
Bernardo apresentou queixa.
1. Carlos tem legitimidade para deduzir, no processo penal, um pedido
de indemnização civil pelos danos causados?
2. Sendo possível, qual o procedimento a observar e qual o momento
adequado para o pedido?
3. E possível um arbitramento da indemnização civil?
4. Antes da apresentação de queixa, poderia Carlos ter deduzido o
pedido de indemnização num tribunal civil?
2- Diz-nos o CPP, quem tiver sido informado de que pode deduzir pedido de
indemnização civil (artigo 75º, número 1 do CPP), ou, não o tendo sido, se considerar
lesado, pode manifestar no processo até encerramento do inquérito o propósito de o
fazer (número 2 daquele supra referido artigo).
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Tendo sido manifestado esse propósito, o lesado (Carlos) deverá ser notificado
do despacho de acusação, ou, não o havendo, do despacho de pronúncia (se a ele houver
lugar) para querendo, deduzir o pedido, no prazo de 20 dias (artigo 77º, número 2 do
CPP). Não sendo notificado nesses termos, o lesado pode: deduzir o pedido até 20 dias
depois de o arguido ser notificado o despacho de acusação ou, se não o houver, o
despacho de pronúncia (artigo 77º, número 3 do CPP); ou deduzir o pedido em
separado, perante o tribunal civil (artigo 72º, número 1, alínea b) do CPP). São estas as
possibilidades conferidas a Carlos.
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4- Nos termos do artigo 71º do CPP, regra geral, o pedido de indemnização civil
fundado na prática de crime, é deduzido no processo penal respetivo – princípio de
adesão obrigatória –, só podendo ser em separado nos casos previstos na lei.
Uma destas situações de exceção em que a adesão não é obrigatória corresponde
ao caso de o procedimento criminal depender de queixa ou acusação particular (cfr.
artigo 72º, número 1, alínea c) do CPP). O legislador permite assim a possibilidade de
ressarcimento do lesado por danos emergentes de um crime independentemente de
haver ou não processo penal1.
Assim, antes de Bernardo ter apresentado queixa, pode então Carlos deduzir o
pedido de indemnização civil num tribunal civil.
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É de ressalvar que no caso de o procedimento depender de queixa ou de acusação particular,
a prévia dedução do pedido perante o tribunal civil pelas pessoas com direito de queixa ou de acusação
vale como renúncia a este direito (artigo 72º, número 2 do CPP).
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2- Sim. De acordo com o artigo com o artigo 68º, número 1, alínea a) do CPP,
tem legitimidade para se constituir como assistente o ofendido 5. Ora, atendendo ao
conceito de ofendido, este deve-se considerar como sendo o titular dos interesses que a
lei especialmente quis proteger com a incriminação (artigo 113º, número 1 do CP). No
caso, o crime de roubo atenta contra bens jurídicos patrimonial e bens jurídicos pessoais
(por envolver uma componente de violência sobre outrem) e, como tal, o interesse
protegido pela lei é claramente o de Bruno.
E nada impede que, no termo do inquérito, o ofendido venha requerer
simultaneamente a sua constituição como assistente e apresentar requerimento para
abertura da instrução (artigo 68º, número 3, alínea b) e 287º, número 1, alínea b), ambos
do CPP). No entanto, o JIC só apreciará o requerimento instrutório depois de admitir a
intervenção do ofendido como assistente.
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Isto uma vez que os crimes públicos não têm a sua tramitação condicionada.
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Sendo de ressalvar, no que respeita ao conteúdo da denúncia, que esta deve conter, sempre
que possível, os elementos estabelecidos nos termos do artigo 243º, número 1 (por remissão do artigo
246º, número 3 do CPP).
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Por estarmos perante um crime público a constituição de assistente é facultativa podendo a
sua intervenção dar-se em qualquer altura do processo, aceitando-o no estado em que se encontrar,
desde que o requeria ao juiz (artigo 68º, número 3)
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