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Duas vezes Guararapes

(1648-1649)
Marcos Vinicius Vilaça
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

N
enhum episódio da História do Brasil é capaz
de superar, em grandiosidade e largueza, as duas
batalhas travadas por luso-brasileiros contra
os holandeses nos Montes Guararapes (Pernam-
buco), nos meses de abril de 1648 e fevereiro de 1649,
decidindo a sorte da Companhia das Índias Ocidentais
em terras da América Portuguesa.
Grandiosidade pelo número de personagens en-
volvidos, que, naqueles dois confrontos, puseram em pitanias do norte que, desde 1630, encontravam-se com
jogo, “à custa de suas vidas e fazendas”, a hegemonia da seus territórios e portos ocupados pelas tropas e navios
atual nação brasileira. da Companhia das Índias Ocidentais, constituindo o que
Largueza quando, pela vez primeira, o povo brasi- se chamou de Brasil Holandês.
leiro se revela como soberano; dispensando para isso qual- Somente após a Restauração Pernambucana, em
quer ajuda de um reino da Europa, começa a traçar o seu 1654, é que o Brasil se apresenta com a magnitude do seu
próprio destino ao derrotar o mais importante exército futuro território, em face da devolução à coroa portu-
de então. Nos Montes Guararapes, de forma única e pio- guesa das capitanias do norte.
neira, reunidos em torno dos ideais da chamada Guerra Na época, o padre Antônio Vieira já fizera a seguinte
da Liberdade Divina, pugnaram ombro a ombro os exérci- observação:
tos constituídos de negros, índios, luso-brasileiros e portu- Após uma aventura que lhe custara apenas sobressal-
gueses, comandados respectivamente por Henrique Dias, tos, eis que o Rei de Portugal se vê presenteado com
Filipe Camarão,Vidal de Negreiros e João Fernandes Vieira. três cidades, oito vilas, catorze fortalezas, quatro capi-
Antes de Guararapes os nascidos na América Portu- tanias, trezentas léguas de costa e lhe desafogaram o
guesa de pais estrangeiros, sobretudo portugueses, eram Brasil, franquearam seus portos e mares, libertaram
chamados de forma pejorativa de mazombos. Só a partir seus comércios e seguraram seus tesouros.1
das Guerras Brasílicas é que os naturais do Brasil vieram a Tivesse Portugal perdido os territórios das capita-
ser conhecidos como brasileiros. nias do norte, ocupados pelos holandeses entre 1630 e
Em Guararapes foi definido o destino do Brasil, co- 1654, o Brasil talvez não existisse hoje na grandeza dos
mo futura nação soberana, ao se traçar o destino das ca- seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Basta um

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Batalha dos Guararapes – Óleo sobre tela de Victor Meirelles
Acervo Museu Nacional de Belas Artes – Rio de Janeiro

olhar comparativo nos mapas da época e imaginar o ter- paus tostados, sem qualquer apoio da coroa portuguesa
ritório brasileiro seccionado, sem os atuais estados de e/ou de outro “príncipe cristão”, juraram expulsar os in-
Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, vasores do território da atual região Nordeste do Brasil.
Ceará, Piauí e Maranhão, para se compreender a dimen- Em 1647, o Rei de Portugal, D. João IV, tomando
são das vitórias conquistadas nos Montes Guararapes. ciência da impossibilidade de conter a fúria dos naturais
Um Brasil repartido no século XVII não seria ja- de Pernambuco, resolve apoiar com mais empenho os
mais este nosso Brasil do século XXI. insurretos quando nomeia para o cargo de comandante-
em-chefe das tropas luso-brasileiras o General Francisco
As guerras brasílicas Barreto de Menezes (Lima, Peru, 1616 – Lisboa, 1688).
Chegando ao Arraial Novo do Bom Jesus em 23 de ja-
Desde o início de 1630 encontravam-se os territó- neiro de 1648, após uma temporada como prisioneiro
rios das capitanias do norte do Brasil ocupados pelos dos holandeses no Recife, recebeu o novo comandante
exércitos e marinha da Companhia das Índias Ociden- a chefia das tropas por parte dos mestres-de-campo
tais, uma empresa holandesa com sede em Amsterdã João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros.
formada por capitais das diversas províncias sob a dire- Ao contrário do que se pensava, segundo teste-
ção dos Estados Gerais. munho de Diogo Lopes Santiago, o novo comandante
Insatisfeitos com a dominação holandesa, os habi- transfere de imediato a chefia das tropas para os natu-
tantes de Pernambuco resolveram pegar em armas, em rais da terra:
junho de 1645, quando da proclamação da Insurreição Por não ser prático na campanha, nem saber o modo
Pernambucana. Assim, tendo por armas foices, facões e com que nela se pelejava a nossa gente, que é muito

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diferente do de Portugal, por respeito dos sítios, cha- po a corpo. Sabem também armar emboscadas em
mou a conselho os mestres-de-campo João Fernan- lugares e passos apropriados e vantajosos, fazer sor-
des Vieira e André Vidal de Negreiros e os tenentes- tidas dentro do mato e, em geral, produzir muito
generais Filipe Bandeira de Melo e Antônio de Freitas mal aos nossos. Quanto às armas estão bem muni-
da Silva e o sargento-maior Antônio Dias Cardozo. dos, sabem muito bem se servir delas, e no tocante
Na primeira batalha dos Guararapes, os exércitos às suas qualidades corporais excedem muito aos
locais totalizavam 2.200 homens, divididos em quatro nossos soldados mais exercitados, quando à agilida-
terços, comandados pelos mestres-de-campo João Fer- de e disposição. Além disso, sabem melhor que os
nandes Vieira e André Vidal nossos se submeter às provações, tais
de Negreiros, o governador André Vidal de
como a falta de víveres, enquanto os
dos índios, capitão-mor Fi- Negreiros nossos soldados têm de carregar sem-
lipe Camarão, e o governa- pre alforjes ou então transportar os
dor dos pretos, Henrique víveres logo atrás deles.
Dias, não dispondo de qual- Em 17 de abril de 1648, o Go-
quer peça de artilharia. vernador das Armas Holandesas,
Nas Guerras Brasílicas, Sigmund von Schkoppe, temível
os conhecimentos militares pela crueldade com que tratava os
postos em prática nas guer- seus adversários e pelo espírito de
ras de Flandres e do Alen- disciplina para com seus subordi-
tejo cediam lugar à malícia nados, saiu do Recife a frente de um
e ao elemento surpresa, de- formidável exército de 4.500 ho-
senvolvidos pelos índios, e mens, divididos em sete regimen-
pela improvisação, das guer- tos, acrescidos de cerca de 1.000 ín-
ras de emboscadas, obede- dios tapuias e negros carregadores.
cendo à topografia e à vege- Na descrição de Diogo Lopes
tação do terreno, tudo alia- Santiago, testemunha presencial
do ao denodo dos combatentes e sua inigualável técnica dos fatos aqui narrados, “depois da meia-noite da sexta
em manobrar com a espada. para o sábado”, saiu o Exército holandês marchando em
Documento holandês datado de 9 de julho de 1648, direção aos Afogados:
dirigido pelo Conselho do Recife aos Estados Gerais, diz Com grande estrondo de armas, tocando caixas, cla-
bem dessas técnicas estranhas aos comandantes segui- rins e trombetas, por imaginar, como de feito segurou
dores dos estrategistas europeus: sua gente, que logo os nossos vendo seus bem ordena-
Todos os dias a experiência nos mostra que se habi- dos e formados esquadrões que constavam de 7.400
tuaram a esta guerra de tal modo que podem medir- soldados (afora setecentos gastadores e negros, que
se com os mais exercitados soldados, como se tem eram os que carregavam a bagagem) com seis [cin-
visto nas refregas que com eles temos tido e como co, nos relatórios holandeses] peças de artilharia,
ainda se vê diariamente nos encontros que temos e suas luzentes e brilhantes armas e bandeiras tre-
com eles a cada momento. Resistem muito bem ago- mulando, que eram setenta e uma, com o objetivo de,
ra de pé firme e logo que descarregam suas espingar- através da Barreta [hoje Boa Viagem], marchar em
das, atiram-se sobre os nossos, para se baterem cor- direção da Muribeca; povoação que se situava entre

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o recém-criado Arraial Novo do Bom Jesus [onde se de passar em busca da Muribeca, ou de Nazaré do Cabo,
situa o atual bairro dos Torrões] e a povoação de deixando 300 homens na guarnição do Arraial Novo.
Nazaré do Cabo de Santo Agostinho. Novamente descreve Diogo Lopes Santiago:
Os regimentos holandeses tinham como coman- No sábado, à tarde, e pelas 10 horas da noite se aca-
dantes os coronéis Johan van den Brincken, Guilherme baram de situar em troços, em uma baixa e planície
de Hauthyn, Adolph van Els, Hendrick van Haus, Cor- que está ao pé do último monte, que vulgarmente
nelis van der Brande. Comandavam, cada um deles, os chamam Outeiro, distante três léguas do Arraial Novo
batalhões formados por 500 homens, divididos por fi- e uma légua da Muribeca. Restava ao inimigo uma
leiras de 300 piqueiros (grandes lan- passagem de pouco mais de
ças de 18 pés de comprimento) e cem passos de largo, cerca de
200 mosqueteiros, que se alterna- cem metros, entre o monte e
vam por ocasião do desenvolvi- um terreno alagadiço que o
mento da batalhas. contornava.
Cruzando o Rio Tejipió, nos Estacionavam assim
Afogados, as tropas holandesas se- os luso-brasileiros, escon-
guiram em direção à Barreta, onde didos entre a vegetação e o
existia uma pequena estância defen- manguezal,“em sítio acomo-
dida por 86 homens sob o coman- dado, não só para reprimir
do do Capitão Bartolomeu Soares o ímpeto do inimigo, mas
Canha. Travou-se então o comba- ainda para destruí-lo”.
te da guarnição com os tapuias que
acompanhavam as tropas holan- O dia da batalha
desas e que lutavam à maneira dos
luso-brasileiros. O seu comandan- Antônio Felipe No domingo, 19 de abril,
Camarão
te, junto com alguns, conseguiu es- continuou Von Schkoppe a
capar, restando 47 soldados, que fo- marchar com as suas tropas
ram imediatamente degolados, e mais sete prisioneiros da Barreta em direção à povoação da Muribeca, sendo
logo enforcados por ordem de Von Schkoppe. molestado por escaramuças após uma hora de cami-
Neste local os holandeses fizeram uma parada, per- nhada, o que obrigou as tropas a galgar os Montes Guara-
noitando na leitaria de Antônio Cavalcanti (na altura rapes deixando os nossos em desvantagem.
da atual igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem), en- No testemunho presencial de Diogo Lopes Santiago:
quanto aguardavam a chegada de cinco peças de arti- Ocupavam os holandeses o alto do monte, a campina
lharia que conduziram pelo Rio Tejipió. e a planície bem junto do boqueirão, e por outra parte
O General português Francisco Barreto, por sua vez, os tapuias e os índios fazendo ostentação de seus bem
que se encontrava no Arraial Novo do Bom Jesus, resol- compostos e ordenados esquadrões e de suas luzentes
veu reunir seu conselho de oficiais e assim decidiu ir ao e brilhantes armas tocando muitos clarins, trombetas
encontro das tropas holandesas nos Montes Guarara- e caixas, arvorando 61 bandeiras de cores diversas,
pes. Para isso, reuniu 2.200 homens que marcharam por principalmente azul e cor laranjada, trazendo o es-
três léguas em busca das três colinas que se erguiam na tandarte dos Estados, ao qual todas as bandeiras fazi-
margem do caminho onde as tropas holandesas teriam am salva; este era de tafetá carmesim azul, no qual

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vinham esculpidas e bordadas as armas de Holanda e ras do inimigo, que, recuando para o outro lado do mon-
dos da Companhia das Índias Ocidentais postas no te, deixou para trás as peças de artilharia, munições e
mesmo carmesim com muita curiosidade e perfeição, caixas do dinheiro que seria usado no pagamento das
e no campo um leão rompante coroado, estendendo tropas. Vislumbrando a vitória com a fuga do inimigo,
as garras [...] Constava a vanguarda do inimigo de entregaram-se, então, ao saque descuidando-se do com-
dois esquadrões, um de oitocentos e outros de nove- bate. No êxtase de que estavam tomados, não se aperce-
centos soldados, com a flor de toda a sua gente, e tra- beram do contra-ataque holandês partido de um regi-
ziam os soldados velhos das fortalezas, deixando-as mento de reserva, sob o comando do Coronel Hendrick
guarnecidas com os que de novo haviam vindo na van Haus, que, por pouco, não viria decidir a sorte da
armada de Holanda, por não serem ainda práticos batalha. Nesta refrega, o Coronel Haus é ferido mortal-
nem experimentados na terra; e muita parte da gente mente, o que obrigou o deslocamento das tropas de
que vinha no exército eram franceses, alemães, pola- Cornelis van der Brande, que, retomando a artilharia
cos, húngaros, ingleses e de outras nações das partes anteriormente conquistada, viria causar muito estrago
do norte, e o resto holandeses, todos versados e expe- entre as nossas forças se não fosse a imediata intervenção
rimentados nas guerras de Flan- de Barreto de Menezes,
dres, Alemanha e outras províncias. Francisco Barreto
que enviou, em socorro
No relatório de Francisco Bar- de Menezes aos homens de Henri-
reto, citado pelo Major Antônio de que Dias, parte do terço
Souza Júnior,2 “tanto que o inimigo se comandada por André
descobriu pelo alto dos Montes Gua- Vidal de Negreiros.
rarapes, mandei tocar a investir, ten- Na interpretação
do posto na vanguarda o Mestre-de- dos fatos, comenta o
campo Fernandes Vieira e para dar nos Major Antônio de Sou-
lados do inimigo o Capitão-mor Ca- za Júnior:
marão, de uma parte e da outra o Go- Verdadeiramente apa-
vernador Henrique Dias. Dada a pri- vorados diante do ímpe-
meira carga, em ambas as partes, in- to ofensivo dos patriotas,
vestimos à espada, rompendo ao ini- que se serviam de prefe-
migo todos os seus batalhões”. rência, de arma branca e
Os terços de Fernandes Vieira e buscavam o combate cor-
de Filipe Camarão atacaram na bai- po a corpo, os holande-
xada os regimentos de Von Schkoppe, ses foram lançados sobre
Adolph van Els e Servaes Carpentier (este, falecendo em os terrenos alagadiços no sopé dos montes e aí postos
combate, vem a ser substituído por Keerweer), que cons- fora da luta, na maioria atolados no brejo ou der-
tituíam uma brigada, enquanto o terço de Henrique Dias rubados por certeiros golpes de espada.
investira contra os regimentos de Brinck e Hauthyn posta- Interpretação bem de acordo com o relatório de Von
dos no alto do monte. Schkoppe que, ferido no artelho, foi uma simples teste-
Dada a primeira descarga, os soldados comanda- munha dos fatos desenrolados em Guararapes:
dos por Henrique Dias passaram a usar da arma branca Os nossos quiseram passar o alagado, pensando que
em combate corpo a corpo, conseguindo romper as filei- havia solo firme, mas foram obrigados a retroceder; o

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inimigo vendo que os nossos nições e armas e as 30 bandeiras
com grande desordem se reti- que tenho referido...
ravam em direção à direita, No amanhecer do dia 20 de
sem mosquete, lança, espada abril, foram encontrados no cam-
ou algo para enfrentá-lo caiu po da batalha 33 bandeiras e es-
sobre os nossos por detrás com tandartes, duas peças de artilha-
grande fúria e encerrou os que ria em bronze, armas das mais di-
estavam no alagado e não pu- versas, muita pólvora, cunhetes
deram resistir e daí resultou de balas, alfaias, animais domés-
terem ficado tantos oficiais e ticos, algemas e grilhões diversos,
soldados. Dominada a desor- uma grande quantidade de moe-
dem, coloquei a tropa nova- das em ouro, mantimentos e até
mente no alto do monte e ve- uma sortida farmácia.
rifiquei que o total de nossa Nas baixas do Exército ho-
força tinha sofrido baixas de landês, segundo minucioso rela-
mais de 1500 homens, dos tório incluído pelo Major Antô-
Henrique Dias
quais alguns tinham fugido nio de Souza Júnior em Do Recôn-
para a Barreta e outros ti- cavo aos Guararapes (op. cit.), fi-
nham conduzido uma boa parte dos oficiais para a guravam 523 feridos e 515 outros, entre mortos e prisio-
Barreta. Eu tinha sido, muito tempo antes deste en- neiros, dos quais 46 oficiais. No confronto perderam as
contro, ferido e como estava muito enfraquecido com vidas os coronéis Hendrick van Haus, Cornelis van Elst
grande perda de sangue do meu ferimento, dei ordem e Servaes Carpentier, ficando feridos o General van
ao major Claesz (Tonis) para avisar ao coronel Schkoppe e Coronel Guilherme Houthain. O Coronel
(Cornelis) van der Brande que se mantivesse nos mon- Pedro Keerweer, que sucedera o Coronel Carpentier, fora
tes que ocupávamos e se retirasse com a noite, em boa dado por desaparecido nos relatórios holandeses, mui-
ordem, para a leitaria (de Antônio Cavalcanti). to embora, na verdade, se encontrasse como prisionei-
No seu relatório o Coronel Cornelis van der Bran- ro de João Fernandes Vieira. Do lado dos luso-brasilei-
de confirma a versão do general Sigmund von Schkoppe: ros foram computados 84 mortos, incluindo-se os que
Depois de termos lutado desde antes do meio dia de perderam a vida no combate da estância da Barreta, e
19 de abril, durante cerca de três horas e depois da luta mais de 400 feridos.
ficarem os dois exércitos um em frente ao outro, ob- Em seus comentários, o Major Antônio de Souza
servando-se, partimos à noite com boa ordem e che- Júnior diz que “a primeira Batalha dos Guararapes, es-
gamos ao destino já tarde, com um forte aguaceiro. tudada no quadro de sua época e guardadas as propor-
Por sua vez Francisco Barreto conclui: ções, é um grande acontecimento militar, digno de figu-
Amanhecendo segunda-feira, o dia de Nossa Senho- rar com realce entre os que deram renome de grandes
ra dos Prazeres, mandei descobrir o campo, achan- capitães a Gustavo Adolpho, Turenne e outros chefes mi-
do, nas demonstrações dele, ter-se retirado o inimi- litares do século XVII”.
go com grande pressa e destroço, pois deixou na cam- E, mais adiante, enfatiza:
panha 900 homens mortos e entre eles alguns feri- Destarte, sem nenhum exagero patriótico, mas, ao
dos, uma peça de artilharia de bronze, muitas mu- contrário, à luz da palavra oficial dos que tiveram a

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responsabilidade de dirigir a bata-
lha que se travou nos Guararapes,
aos 19 dias do mês de abril do ano
de 1648, podemos asseverar que
tanto o comando como as tropas
luso-brasileiras demonstraram ní-
tida superioridade moral e profis-
sional em relação ao comando e às
tropas holandesas.
A vitória dos Guararapes nesse dia
não foi, portanto, obra fortuita dos acon-
tecimentos, mas o resultado da ação vi-
gilante e decidida dos chefes, da bravu-
ra e espírito combativo dos soldados
que constituíam aquele indomável exér-
cito de patriotas.

Outra vez guararapes

Durante quase um ano, os holan-


deses permaneceram recolhidos ao Re-
cife e a outros locais da costa, enquanto
os luso-brasileiros se transformavam
em senhores das vias de comunicação
com o interior. Sitiados em terra, os in-
vasores valeram-se do mar, onde a sua
esquadra continuava a causar danos às embarcações von Schkoppe era da opinião que se armasse uma es-
portuguesas e a realizar contínuas incursões na costa da quadra para tomada da praça do Rio de Janeiro, em
África e no recôncavo baiano. função das poucas possibilidades de rompimento do
Do lado dos luso-brasileiros foi de grata surpresa a cerco feito pelos luso-brasileiros em Pernambuco. Opi-
chegada, em 4 de agosto de 1648, ao Arraial Novo do nião contrária, porém, veio a ser tomada pelo Conse-
Bom Jesus (hoje, Torrões), de 300 infantes do terço das lho Holandês que preferiu reunir um exército, sob o
Ilhas, sob o comando do Mestre-de-campo Francisco comando do Tenente-general Johan van den Brincken e
Figueiroa, munidos de armamento moderno, conforme assim enfrentar mais uma vez as tropas comandadas por
observa o relatório do Coronel Miguel van Goch ao Francisco Barreto.
Conselho de Governo: “as espingardas do inimigo alcan- Para isso, na noite de 17 de fevereiro de 1649, um
çavam mais longe do que as nossas e que o inimigo esta- exército de 3.510 homens, sob o comando do Tenente-
va armado de arcabuzes compridos e de meio croque”.3 general Johan van den Brincken saiu do Recife em direção
No Recife, curando-se do ferimento recebido no aos Afogados, onde cruzou o rio e marchou para a Bar-
artelho quando da primeira batalha, o General Sigmund reta (terras que hoje correspondem às de Boa Viagem),

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os investissem à espada, e imaginaram que
com este ardil e estratagema, com muita
facilidade rebateriam as espadas dos por-
tugueses; mas, como dissemos [anterior-
mente], manifestamente se enganaram
porque as espadas dos nossos lhes rompe-
ram os chuceiros e piqueiros, e a eles des-
barataram e mataram.4
Na manhã do dia 18, a notícia che-
gou ao Arraial Novo do Bom Jesus, e
logo se reuniu um exército de 2.600 ho-
mens “de todas as castas”, sob o coman-
do do General Francisco Barreto, que
marchou em busca do inimigo.
Segundo Diogo Lopes Santiago, a
força estava assim distribuída: “o Mes-
tre-de-campo Francisco Figueiroa, a
quem tocava a vanguarda, com 300 ho-
mens que se achavam no seu terço; o
Mestre-de-campo André Vidal de Ne-
greiros com outros 300; D. Diogo Pi-
nheiro Camarão, que sucedeu no car-
go a D. Antônio Felipe Camarão, com
320 índios; Henrique Dias com 330 dos
seus soldados; o Mestre-de-campo
João Fernandes Vieira, na retaguarda,
5
em busca dos Montes Guararapes, ao som de “muitas com 1.350”. Ao chegarem aos Guararapes, pelas qua-
trombetas, clarins e caixas”. tro da tarde, já lá se encontravam as tropas invasoras,
Os regimentos holandeses tinham entre seus co- ocupando a baixa e o boqueirão onde acontecera a pri-
mandantes, além do General Johan van den Brincken, meira batalha, “com nove esquadrões formados, postos
os coronéis Gervásio Carpentier, Guilherme de Hauthyn, a vista em som de batalha com uma soberba ostenta-
Cornélio van Elst, Cornelis van den Brande. ção e bizarria de sua artilharia, bandeiras e mais apara-
Ao contingente foram acrescidos “duzentos índios tos de guerra”.
destros na milícia”, sob o comando do chefe Pero Poti, que Fazendo alto no morro do Oitizeiro, onde se for-
veio a ser preso e enviado a Lisboa no final da batalha, e mou a cavalaria sob o comando do Capitão Antônio da
duas companhias de negros, além de 250 marinheiros, Silva, auxiliado pelos capitães Domingos Gomes de
6 canhões e 12 bandeiras (eram 61 na primeira batalha). Brito e Manuel de Araújo, as tropas luso-brasileiras fize-
Traziam na vanguarda muita quantidade de solda- ram uma parada a fim de escutar o conselho de guerra.
dos com chuços e piques, e outros que vinham nas fren- Depois de dois pareceres, dos mestres-de-campo André
tes dos esquadrões para reprimirem os nossos quando Vidal de Negreiros e Francisco Figueiroa, de que o ata-

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que deveria ser pela frente, o Gene- anterior, ao sul e não ao norte dos
João Fernandes
ral Francisco Barreto de Menezes Vieira
Montes Guararapes, como esta-
preferiu esperar pela chegada do vam sendo esperados.
Mestre-de-campo João Fernan- Segundo esclarece o Major
des Vieira, que viera na retaguar- Antônio de Souza Júnior:
da, a fim de ouvir a sua opinião. Os holandeses, defendendo as pas-
Ao chegar, mostrou-se Vieira sagens dos montes e ainda forçados
favorável ao ataque pela retaguar- pelo terreno, tinham-se colocado
da, mostrando os inconvenientes num dispositivo análogo ao toma-
de um assédio frontal, por cami- do no ano antecedente: o corpo da
nhos tão estreitos que “apenas po- batalha, constituídos pelos Regi-
diam ir quatro a quatro homens mentos Brinck e Carpentier, for-
em fileira e que, estando o inimi- mou na baixada; a vanguarda, com
go, como estava, senhor do me- os Regimentos do tenente-general
lhor posto, terreno e das eminências dos montes, com e do coronel Hauthyn, e a retaguarda, com os Regi-
pouco trabalho poderia destruir ou ao menos derrotar mentos dos Coronéis Van den Brande e Van Elst, ocu-
a nossa gente”. Pelo adiantado da hora, já não haveria pavam os montes, num dos flancos. O flanco sul esta-
sítio para acomodar a infantaria, que necessitava de água va, como da outra vez, coberto ou protegido pelo tre-
e lenha, “que iam os soldados mui sequiosos (...) e que medal [pântanos].7
era justo que quando lhes faltava o comer lhes não fal- Nessas posições permaneceram os dois exércitos,
tasse a água e que, buscando pela retaguarda, havia água até o início da tarde, observando-se sem qualquer inicia-
e lenha para acomodar o exército (...) e que pela dita tiva de confronto:
retaguarda havia terrenos de onde a infantaria com Os holandeses ocupando o alto dos montes, sofren-
menos trabalho poderia pendenciar”. do assim no descampado sob o sol causticante (O sol em
Aceitando o plano de João Fernandes Vieira, o Pernambuco leva dois sóis, / sol de dois canos, de tiro repeti-
General Francisco Barreto fez voltar o exército, “que já do; lembra o poeta João Cabral); enquanto os luso-bra-
ia marchando por outro caminho”: sileiros, em grupos, permaneciam escondidos dispersos
Orientando os terços para os engenhos Novo, Gua- pelos canaviais e matas do Engenho Guararapes, bem
rarapes e Barachos onde, encobertos pelos canaviais, próximos das fontes de água, “de onde avistavam os ho-
passaram a noite. Algumas partidas, porém, foram landeses e podiam acompanhar-lhes os movimentos”.
deflagradas contra as posições inimigas, a fim de mo- Leve-se em conta, ao descrever o quadro das cir-
lestá-las no seu moral, como se depreende do relató- cunstâncias, a alimentação das tropas holandesas, qua-
rio holandês: “essa noite o inimigo fez apenas um se sempre constituída de conservas, toucinho, carne sal-
falso alarme: nossas tropas imediatamente tomaram gada e vinho, o que viria contribuir para o aumento “da
as armas para esperá-lo; no entanto ele não se apre- sede mortificante, naqueles montes ‘desertos, sem som-
sentou nessa ocasião.6 bra e sem água’”.
Ao amanhecer do dia 19 de fevereiro, uma surpresa Mais uma vez se confirmava a observação de Viei-
vislumbrou-se perante os exércitos da Companhia das ra: “era justo que quando lhes faltava o comer lhes não
Índias Ocidentais. Os luso-brasileiros haviam contorna- faltasse água”.8 Assim permaneceram os exércitos, até às
do o campo de batalha e se apresentavam, como no ano três da tarde, sem que os luso-brasileiros abandonas-

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sem os seus redutos, enquanto os holandeses sofriam veio a tornar-se “um erro imperdoável, que lhe custou
com o sol e a sede, como observa o relatório do Coronel bem caro: a própria vida, a derrota, o maior desastre
Miguel van Goch antes citado: das armas holandesas no Brasil”.
Tendo tomado em consideração que o inimigo não Eram três horas da tarde quando os diversos regi-
seria facilmente seduzido para nos dar combate, visto mentos holandeses desceram “em boa ordem dos mon-
conservar-se obstinadamente em suas posições van- tes, conforme a resolução sobredita, e com o fim mencio-
tajosas no mato, e por detrás dos pântanos, e que as nado, seguindo ao largo do sopé dos montes até o mato”,
nossas tropas ficando sobre os montes, que são deser- segundo descreve o Coronel Miguel van Goch:
tos, sem sombra e muito longe d’água, seriam extre- Aí fez alto o Regimento de Carpentier, que formava a
mamente fatigadas e enfraquecidas, procedeu-se à vanguarda e era comandado pelo tenente coronel
convocação dos chefes da expedição [tenentes-coro- Lobbrecht; depois chegou a artilharia com uma com-
néis e majores] para deliberarem juntamente sobre o panhia de fuzileiros em cada flanco, sendo os do coro-
que haveria de fazer-se nessa circunstância, e todos nel Brinck e depois o próprio Regimento do coronel
por unanimidade opinaram que não se devia aconse- Brincken; seguiram-se então o Regimento do coronel
lhar conservar as tropas ainda por mais tempo no alto Hauthyn e do tenente general, comandados pelo te-
dos montes, com a esperança incerta de chamar para nente coronel Claes, e formando o corpo de batalha,
lá o inimigo, e que por conseqüência as tropas deviam mas fazendo serviço de retaguarda, até que os dois
retirar-se antes que os embornais ficassem inteira- Regimentos dos coronéis Van den Brande e Van Elst,
mente vazios e os soldados inteiramente esgotados que tinha o seu encargo de continuar o caminho pelo
pelo calor excessivo. cimo dos montes a fim de não abandonar inteira-
Desejavam os chefes “tomar o caminho pelas vár- mente a nossa vantagem, tivessem executado sua re-
zeas, atravessando os Afogados e acampar o exército lá tirada até o fim.
para fazer todo o mal ao inimigo, tanto em torno desses Ao tomar conhecimento da retirada das tropas ho-
distritos como de qualquer outra forma”. landesas, desfazendo assim a sua formação inicial de
Para efetuar o seu plano, aconselhava o documen- combate, os luso-brasileiros, aproveitando-se desse erro
to holandês: estratégico, resolvem atacar com toda a fúria recolhida
Aproveitar a noite para descer dos montes, sem baru- no exato momento em que “os regimentos de Hauthyn e
lho de tambores e com toda tranqüilidade; mas a mai- do tenente-general desciam do monte grande para se-
oria dos outros chefes consultantes sustentou que ten- guir a vanguarda na terra baixa...”
do essa expedição começado com o fim de dar batalha As cinco companhias, comandadas pelo capitão Ten-
ao inimigo, seria bem contrário à reputação e honra bergen e que formava a retaguarda, voltaram frente à
do exército retirar-se durante a noite, como se tivesse retaguarda imediatamente e começaram a ação com
medo e que o nosso exército não podia agüentar-se o inimigo. Tanto quanto pude julgar fizeram o seu
nas várzeas, onde aliás, não havia modo de fazer mal dever convenientemente; mas repelidas vivamente
ao inimigo; – assim, depois de madura deliberação pelo inimigo viam-se obrigadas à retirada. Nesse ín-
e exame das razões alegadas, de parte a parte, deci- terim, os regimentos do tenente general e de Hauthyn
diu-se descer dos Montes Guararapes e retirar-se até a voltaram-se igualmente, achando-se separados em
Leiteria onde o exército poderia acampar essa noite. duas divisões, a primeira comandada pelo coronel
Na observação do Major Antônio de Souza Júnior, Hauthyn, que avançou pela direita até bem perto do
a decisão do Tenente-general Johan van den Brincken inimigo, e que deixando aí os mosqueteiros atirou-se

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com as lanças do corpo de batalha sobre o inimigo; mas Antônio da Silva, pelas alturas, atacavam e punham
então o inimigo a cavalo acudiu, lançou por terra uma em debandada os Regimentos dos Coronéis van den
parte das lanças e repeliu o dito coronel, que, ferido, Brande e van Elst.
teve de retirar-se para o flanco do monte.9 Conclui Diogo Lopes Santiago que, após duas ou
E continua o oficial holandês com a sua narrativa: três horas de luta titânica sem quartel, Vieira “se foi unir
O tenente coronel Claes com o regimento do tenente e incorporar com André Vidal de Negreiros, Francisco
general do qual naquele momento tinha o comando, e Figueiroa e Antônio Dias Cardoso, e todos juntos fo-
o coronel Hauthyn , tendo entrado ambos igualmente ram apertando com o inimigo de tal sorte que o fizeram
em ação contra o inimigo, e tratando de reconquistar a precipitar e despenhar por aquelas barrocas e grutas
garganta do monte abandonado, tiveram
de recuar igualmente para o monte, por
causa da excessiva força do inimigo, que
então veio com tanta impetuosidade so-
bre os nossos que as nossas tropas começa-
ram a fugir e acharam-se logo na maior
confusão, a tal ponto que nem as palavras
nem a força puderam retê-las, apesar de
todos os esforços dos oficiais em geral e do
abaixo assinado em particular, tendo pela
brandura como pela força. Essa fuga e con-
fusão foram consideravelmente aumen-
tadas pelas tropas dos coronéis van den
Brande e van Elst, que descendo o monte
vieram correndo o mais que podiam ati-
rar-se em confusão nos mencionados regimentos do dos montes Guararapes, donde lhe fizeram grande es-
tenente general e de Hauthyn, produzindo neles uma trago e mortandade, com que estava já toda aquela cam-
desordem completa. panha dos altos e baixos dos montes lastrada e juncada
Analisando o documento holandês, em compara- de corpos mortos do inimigo, que era uma cousa hor-
ção com a narrativa de Diogo Lopes Santiago, conclui o renda e espantosa de ver tanta mortandade, tantas e tão
Major Antônio de Souza Júnior:10 espantosas feridas, tantos corpos sem cabeças, braços,
Enquanto Vieira, na baixada, entrava no boqueirão pernas, uns já mortos, outros agonizando e lutando com
e repelia o inimigo, causando-lhe pesadas perdas, a morte, outros revolvendo-se em sangue e muitos ur-
Vidal de Negreiros, por sua vez, acossava os holande- rando e gritando com as ânsias e agonias mortais, não
ses no alto do monte e infligia-lhes muitas baixas. poucos dando e exalando o último suspiro”.11
Parece que Vieira, Henrique Dias e Diogo Camarão O cenário realístico, pintado com cores vivas pelo
enfrentavam, na terra baixa e na ladeira do monte, cronista português, está bem de acordo com o relatório
os Regimentos do Tenente General [Johan van den do oficial holandês, quando analisa a maneira de lutar
Brincken] e dos coronéis Hauthyn, Brinck e Car- das forças luso-brasileiras:
pentier, ao passo que Vidal de Negreiros, Francisco Em referência ao combate acima relatado, observei
Figueiroa, Antônio Dias Cardoso e a Cavalaria de principalmente duas particularidades que, em minha

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opinião, merecem bem atenção: em primeiro lugar, dizer, transformaram-se em verdadeiras charruas
as tropas do inimigo saindo do mato e por detrás dos para o nosso exército, sem contar uma multidão de
pântanos e de outros lugares tinham a vantagem da outros inconvenientes, muito numerosos para serem
posição, atacavam sem ordem e em completa disper- aqui apontados.12
são e aplicavam-se a romper diferentes quadrados. A segunda batalha dos Montes Guararapes foi um
Em segundo lugar, as tropas do inimigo são ligeiras e dos maiores fracassos da história dos exércitos holande-
ágeis de natureza, para correrem para diante ou se ses. Enquanto as perdas do lado luso-brasileiro foram
afastarem, e por causa de sua crueldade inata são tam- computadas em 47 mortos e 200 feridos, do lado holan-
bém temíveis. Compõem-se de brasileiros, tapuias, dês perderam a vida o comandante geral, Tenente-gene-
negros, mulatos, mamelucos, nações todas do país e ral Johan van den Brincken, o Vice-almirante Giesseling
também de portugueses e italianos, que têm muita e 101 outros oficiais que, somados as demais perdas, per-
analogia com os naturais do país quanto à sua consti- faziam um total de 1.044 mortos e mais de 500 feridos.
tuição, de modo que atravessam e cruzam os matos e E foram tomadas muitas armas de fogo e grandes-
brejos, sobem os morros tão numerosos aqui e des- síssima quantidade de chuços e piques, de que vinham
cem tudo isso com uma rapidez e agilidade verdadei- bem armados e providos contra as nossas espadas;
ramente notáveis. Nós, pelo contrário, combatemos porém não foram de nenhum efeito. No amanhecer
em batalhões formados como se usa na mãe pátria, e no dia seguinte, relata o cronista, foram recolhidas
nossos homens indolentes e fracos, nada afeitos à cons- no campo da batalha “dez bandeiras, seis canhões,
tituição do país; disso resulta que essas espécies de muita pólvora, balas, munições e toda a mais baga-
ataque com armas de fogo, como acima se trata, de- gem, onde vinha muito de comer, com que se alenta-
vem inevitavelmente tem bom resultado, e que rom- ram os nossos soldados.13
pendo nossos batalhões e pondo-os em fuga, matan-
do-nos um maior número de soldados em persegui-
Marcos Vinicius Vilaça – Natural de Pernambuco, da cidade de Nazaré da
ção do que teriam feito em combate mesmo. [...] Além Mata, é bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Uni-
disto, as peças de artilharia de campanha não po- versidade Federal de Pernambuco. Atualmente é ministro do Tribunal de Contas
da União e presidente da Academia Brasileira de Letras. Já realizou conferências
dendo ser apontadas sobre bandos ou grupos disper-
na ESG, ECEME, ECEMAR, entre outras entidades no Brasil e no exterior.
sos, tornam-se inteiramente inúteis, ou para melhor

Notas
1
VIEIRA, Padre Antônio. História do futuro. Lisboa, 1976, 2 v.
2
SOUZA JÚNIOR, Antônio de. Do Recôncavo aos Guararapes. Rio de Janeiro, 1949, p. 152.
3
Relatório do Coronel Miguel van Goch, datado de 22 de fevereiro de 1649. In Quatro documentos históricos sobre as duas batalhas dos
Guararapes. Recife: Governo do Estado; Imprensa Oficial, 1962.
4
SANTIAGO, Diogo Lopes. Op. cit. p. 538.
5
SANTIAGO, Diogo Lopes. Op. cit. p. 538.
6
Relatório do Miguel van Goch. op. cit.
7
SOUZA-JÚNIOR, Antônio de. Do Recôncavo aos Guararapes. Rio de Janeiro, 1949, p. 180
8
SANTIAGO, Diogo Lopes. Op. cit. p. 540.
9
Relatório do Miguel van Goch. op. cit. p. 25
10
SOUZA-JÚNIOR, Antônio de. Do Recôncavo aos Guararapes. Op. cit. p. 185.
11
SANTIAGO, Diogo Lopes. Op. cit. p. 554.
12
Relatório do Coronel Miguel van Goch, datado de 22 de fevereiro de 1649. Op. cit. p. 27-28.
13
SANTIAGO, Diogo Lopes. Op. cit. p. 555.

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