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DOSSIÊ
e os desafios para o sindicalismo
O artigo se propõe a identificar os impactos iniciais da reforma trabalhista sobre o sindicalismo em um con-
texto desfavorável aos trabalhadores e à ação coletiva, dado o crescimento da precariedade e da informali-
dade no mercado de trabalho. A análise trata da reconfiguração das classes trabalhadoras e da fragmentação
sindical, bem como dos impactos da reforma sobre as estratégias e ações sindicais e sobre as negociações
coletivas. A metodologia combinou pesquisas quantitativas sobre mercado de trabalho com análise docu-
mental (instrumentos normativos, matérias de imprensa comercial e sindical) e observação participante.
Os resultados mostram que os sindicatos buscam se adaptar ao novo contexto, com pequenas inovações
substantivas na ação e organização, e que as negociações têm sido tanto espaço de resistência quanto de
legitimação do conteúdo da reforma.
Palavras-chave: Sindicalismo. Reforma trabalhista. Precariedade. Negociações coletivas.
http://dx.doi.org/10.9771/ccrh.v32i86.30691 253
REFORMA TRABALHISTA: precarização do trabalho e os desafios ...
as mulheres (Araújo; Ferreira, 2000), cabe inda- res avaliam que os bons resultados do merca-
gar de que maneira a reforma trabalhista reper- do de trabalho no período viabilizaram o apoio
cute sobre as relações de trabalho e a ação dos da grande maioria do movimento sindical aos
sindicatos, com foco na questão da precarização governos petistas e inauguraram uma “nova
do trabalho. Esse é o objetivo do presente artigo. fase do sindicalismo brasileiro”, que combina-
Na primeira seção do artigo, buscamos va uma forte e vitoriosa atividade no plano da
caracterizar o contexto mais geral em que a ação luta reivindicativa e uma orientação política
sindical se desenvolve. Na segunda, analisamos moderada na cúpula do movimento sindical
alguns dados referentes ao mercado de trabalho (Boito; Galvão; Marcelino, 2015).
e à sindicalização, para dimensionar as altera- Se o aumento de greves e do número
ções decorrentes da crise econômica e política. de sindicalizados, a melhoria nas negociações
Na terceira, identificamos a posição do movi- coletivas e a ampliação dos canais de interlo-
mento sindical sobre a reforma e suas estraté- cução com o governo podem ser identificados
gias de enfrentamento. Na quarta, examinamos como sinais de revitalização sindical, outros
as negociações coletivas. Os dados aqui apre- indicadores apontam para “a perda de força
sentados têm origem em pesquisas quantitati- e importância do sindicalismo na sociedade,
vas sobre mercado de trabalho entre 2012-2018 com o crescente descrédito da instituição sin-
(PNADC)1, em análise documental (instrumen- dical” (Krein; Dias, 2017, p. 15). Os sindicatos
tos normativos, matérias de imprensa comercial assumiram uma atitude passiva e subordina-
e sindical) e em observação participante. da às iniciativas do governo (Araújo; Véras de
Oliveira , 2010), tornando-se incapazes de vo-
calizar um projeto de desenvolvimento funda-
UM CONTEXTO DESFAVORÁVEL do na distribuição de renda e na valorização
PARA A AÇÃO SINDICAL do trabalho (Colombi, 2018).
O crescimento de greves evidencia a
O período de 2004-2014 se caracterizou eficácia do sindicalismo em mobilizar os tra-
pela melhoria dos indicadores macroeconômi- balhadores em nome de demandas econômico-
cos e do mercado de trabalho, com redução do -corporativas, mas não se deve desconsiderar
desemprego e da informalidade, reajustes sa- que muitas dessas greves foram convocadas à
lariais superiores à inflação e valorização do revelia das direções sindicais (Campos, 2016;
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salário mínimo. No plano negocial, houve uma Linhares, 2015; Mattos, 2014; Véras de Oliveira,
crescente participação de representantes sin- 2014). Ao mesmo tempo, o ambiente economi-
dicais nas instituições estatais, o que colocou camente favorável e a identificação política en-
novas questões para o debate sobre a capaci- tre a maior parcela do movimento sindical e os
dade de ação sindical. Partindo de referenciais governos petistas reduziram sua capacidade de
e indicadores distintos, vários autores conver- mobilizar os trabalhadores em torno de mudan-
giram no reconhecimento do crescimento de ças na legislação e nas políticas públicas, como
um maior ativismo na negociação coletiva e na a baixa adesão às marchas da classe trabalhado-
conflituosidade nas relações de trabalho. ra e às jornadas de lutas e paralisações convoca-
A partir dos indicadores de greve, Boi- das pelas centrais após as manifestações de ju-
to Junior e Marcelino (2010) consideraram ser nho de 2013 revela (Galvão; Marcelino, 2018).
possível identificar, desde 2004, uma recupe- A confiança nos sindicatos também se reduziu.
ração da atividade sindical no Brasil. Os auto- Entre 2009 e 2013, o índice de confiança medi-
1
Com a mudança metodológica da PNAD adotada desde
do pelo Ibope Inteligência recuou de 46 para 37
2012 pelo IBGE, a série histórica para os dados de associa- pontos, chegando a 35 pontos em 2018.2
ção foram interrompidas, não sendo mais possível fazer
comparações com o período anterior. 2
Cf. http://www.ibopeinteligencia.com/noticias-e-pesqui-
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ção (0,1%), o que confirma a crise do mercado des em que as mulheres são tradicionalmente
de trabalho. Entre os ocupados, os informais maioria e nos quais elas seguem ocupando a
ganharam espaço, com um crescimento de maioria dos postos de trabalho, embora, re-
8,1% e queda de -7,9% do trabalho formal.4 centemente, venha aumentando a participação
De 46,3% da população ocupada, os informais dos homens. Além disso, como veremos, esses
passaram a 50,3% no período.5 setores que se caracterizavam pela formalida-
Há uma dinâmica de gênero articulada de dos vínculos têm ampliado a informalida-
ao processo de deterioração do mercado de tra- de. As atividades de alojamento e alimenta-
balho. A divisão sexual do trabalho se expres- ção cresceram 25,2% no total (32% entre os
sa tanto nas características dos postos que es- homens), educação, saúde humana e serviços
tão sendo criados quanto na forma de inserção sociais, 13,3% no total (15% entre os homens);
de ambos os sexos. Diante da crise, as mulhe- e outros serviços, 17,2% no total (23% entre os
res são forçadas a ingressar em trabalhos mais homens). Destaque-se também o crescimento
flexíveis como forma de compatibilizar as res- excepcional da ocupação nas atividades mal
ponsabilidades domésticas e familiares que definidas: ele foi da ordem de 92,1% entre
lhes são atribuídas. A ausência de políticas, 2014 e 2018 e de 187,9% entre 2012 e 2018.7
decorrente da redução do orçamento público, Há um movimento presente na crise, portan-
impõe às mulheres, especialmente as negras, to, de concentração de vagas de trabalho nos
a opção de se inserir em trabalhos precários, setores mais feminizados e que, à exceção da
informais, realizados, na maioria das vezes, no educação e saúde, em âmbito público, contam
âmbito dos domicílios. com baixa organização e mobilização sindical.
As atividades que tive-
Tabela 1
ram maior queda de ocupados
Evolução da ocupação por posição e atividade econômica entre 2014 e 2018, por sexo (%)
no período de 2014 a 2018 têm Mulheres Homens Total
uma maior presença de homens: Ocupação 2,3 -1,5 0,1
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indústria (-25,3%), administração pública mas há outros fatores a interferir nesse pro-
(-17,6%) e em atividades mal definidas (-29,5%). cesso. As principais centrais não conseguiram
Em contrapartida, a taxa se ampliou para o setor construir um consenso sobre o significado da
de alojamento e alimentação (+24,2%), educa- reforma, o que contribuiu para explicar certo
ção, saúde humana e serviços sociais (+17,3%), esvaziamento das ações coletivas durante sua
outros serviços (+21,1%) e serviços domésticos tramitação.
(+18,1%). Já os piores resultados, proporcio- As estratégias oscilaram entre a rejeição
nalmente, podem ser atribuídos à indústria e à total da proposta, com mobilização social, e
construção civil, setores em que a taxa de sindi- (ou) a interlocução com o Congresso e com o
calização caiu de forma mais intensa que o em- Governo Temer, buscando preservar as condi-
prego: -7,9% de emprego na indústria e -25,3% ções de sobrevivência dos sindicatos. A Força
de sindicalizados; -6,4% na construção e -27,2% Sindical, com a anuência de outras centrais,
de sindicalizados (Tabela 2). apostou na estratégia da negociação, na espe-
rança de que a instituição sindical seria preser-
Tabela 2 - Taxa de sindicalização por grupamentos de
atividade – Brasil (%) vada (Colombi; Lemos; Krein, 2018). Uma das
Variação entre 2012-2017 consequências dessa dubiedade foi
Atividade econômica
Emprego Sindicalização a escassez de materiais de massa
Agricultura, pecuária, prod. Florestal, pesca -15,9 -23,4
críticos à reforma.
Indústria geral -7,9 -25,3
Apesar de um calendário co-
Construção -6,4 -27,2
Comércio, reparação de veículos 3,8 -1,0 mum de mobilização e a despeito
Transporte, armazenagem e correio 8,1 -8,8 da expressiva greve geral de 2017,
Alojamento e alimentação 39,3 24,2 já citada, as ações unificadas entre
Informação, comunicação e atividades financeiras 4,6 -5,5
as centrais foram perdendo fôlego
Administração pública, defesa e seguridade social -12,1 -17,6
Educação, saúde humana e serviços sociais 23,4 17,3
(Galvão; Marcelino, 2018).10 As ati-
Outros serviços 18,2 21,1 vidades programadas se esvazia-
Serviços domésticos 0,7 18,1 ram no período de votação (julho
Atividades mal definidas -10,1 -29,5
de 2017) e de implementação da
Fonte: Microdados PNADC/IBGE – Elaboração própria
reforma (novembro 2017) e apre-
Em síntese, a sindicalização acompa- sentaram dificuldades de coordenação. Essa
nhou as tendências do mercado de trabalho, desarticulação tem relação, entre outros fato-
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em que se destaca a progressiva queda de ati- res, com os posicionamentos distintos entre
vidades mais tradicionais do ponto de vista elas. A cerimônia de lançamento da proposta
sindical. Em contrapartida, a sindicalização de reforma pelo Governo Temer contou com a
cresceu no setor de serviços que, com exceção presença de três centrais sindicais (Força Sin-
da saúde e educação, apresenta histórica fragi- dical, UGT e CSB). Na oportunidade, o secre-
lidade sindical. tário-geral da Força Sindical, o Juruna, defen-
deu que o projeto – posteriormente ampliado
no Congresso – poderia fortalecer o papel dos
OS IMPACTOS E AS ESTRATÉGIAS sindicatos.11 Para ele, “com ajustes ‘a reforma
SINDICAIS9 10
Convém assinalar que o amplo projeto de desmonte de
direitos desenhado pelo governo Bolsonaro pode represen-
tar uma mudança de rumo a esse respeito. Vide o ineditis-
A deterioração do mercado de trabalho mo da celebração conjunta do 1º de maio de 2019, o vigor
demonstrado pela manifestação em defesa da educação e
afetou a capacidade de mobilização e de re- contra a reforma da previdência em 15 de maio, e o anún-
sistência sindical frente à reforma trabalhista, cio de uma greve geral em 14 de junho.
11
Segundo ele, o projeto valorizava a negociação coletiva e
a presença sindical nos debates e sugeria um clima de não
9
A presente parte está baseada em Galvão (2019). judicialização dos conflitos. Com a maior flexibilização, o
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ganha equilíbrio e avança na direção da mo- ta (REMIR) junto a dirigentes sindicais,13 que
dernização das relações de trabalho e da estru- registrou uma tendência majoritária (95%) de
tura sindical. É o que defendemos’”. Já a CUT respondentes contrários e somente 2,5% favo-
adotou um discurso de contraposição global à ráveis à reforma, sendo que 92% defendiam
reforma, por entender que todas as alterações sua completa revogação. No entanto, 10% dos
beneficiariam apenas os empresários. Para seu respondentes identificaram aspectos positivos,
presidente, Vagner Freitas, não se tratava de entre os quais se destacam: (1) a prevalência
“uma “modernização” das relações laborais, do negociado sobre o legislado; e (2) o fim da
mas sim [de] uma legitimação da precarização obrigatoriedade da contribuição sindical, por
do trabalho no país [... que também] visa a ata- se entender que essas medidas dinamizariam
car o sindicalismo, por meio do esvaziamento a atuação sindical.
das prerrogativas sindicais.” (Colombi; Lemos; As estratégias que começam a predo-
Krein, 2018, p. 185-186, 195). minar tendem a ser pragmáticas, pois buscam
Essas diferenças fizeram com que a ajustar o movimento sindical aos novos pa-
Agenda Prioritária da Classe Trabalhadora râmetros da reforma, tanto do ponto de vista
para as eleições de 2018, aprovada por sete da organização e da estrutura sindical, quanto
centrais (CUT, FS, CTB, UBT, Nova Central, da negociação coletiva. A seguir, analisamos
CSB e Intersindical), apresentasse apenas uma como a nova realidade começou a enfrentada
reivindicação genérica: a alteração de aspectos pelo movimento sindical.
negativos da reforma.12 Os posicionamentos
distintos, porém, não inviabilizam uma críti-
ca comum das centrais, que consideraram a A prevalência do negociado sobre o legislado
reforma um “retrocesso da proteção social ao
trabalho aos primórdios do processo de indus- A tese de que as negociações coletivas
trialização no país.” (Galvão; Teixeira, 2018, deveriam assumir um papel mais destacado na
p. 169). As críticas se estendem à sustentação determinação das condições de contratação,
financeira das entidades, à perda de prerroga- uso e remuneração do trabalho não é nova, nem
tivas sindicais com a criação da comissão de é exclusividade do discurso patronal e gover-
representação dos trabalhadores nas empresas namental. Ela foi defendida pelo novo sindica-
e a descentralização da negociação para o âm- lismo, tendo como referência um padrão de re-
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cou a proibição de acordos de banco de ho- está concentrada no setor de comércio, ho-
ras individual. A diversidade de redações téis, entidades recreativas e culturais, além
expressa as tentativas de regular o tema por da construção civil e transporte e logística.
meio de instrumentos coletivos. Presente em 148 instrumentos coletivos, as
2. Redução dos intervalos intrajornada – Des- redações oscilam entre sua adoção e proibi-
de 2007, havia previsão legal para redução ção, por ser incompatível com o princípio
do intervalo do repouso mediante conven- protetivo e ferir o artigo 7º da CF/88. É o caso
ção ou acordo coletivo. A reforma retoma dos Condutores em Motocicletas de Campo
essa questão para eliminar possíveis contro- Grande (MS); dos Empregados em Hotéis de
vérsias sobre o pagamento das horas devi- Criciúma (SC), onde a contratação foi limi-
das. A redução do intervalo de almoço para tada à prestação de serviços em eventos; dos
30 minutos representa danos severos à saú- Trabalhadores e Instrutores em Autoescolas
de do trabalhador. Os empregos mais precá- (SP), em que o trabalho intermitente não
rios e que contam com pouca infraestrutura poderá ser utilizado nas atividades que não
sejam sazonais, sob pena de nulidade; e dos
23
Consulta realizada no dia 19/04/2019. http://www3.mte.
gov.br/sistemas/mediador/ConsultarInstColetivo Empregados em Refeições Coletivas do Es-
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tado de São Paulo, em que a contratação de vio indenizado pela metade e indenização
trabalho na modalidade intermitente poderá sobre 80% do saldo do FGTS, sem ingres-
ocorrer somente para as atividades eventu- so no seguro-desemprego. A dispensa por
ais, proibida a substituição por contratados acordo mútuo tem pouca frequência entre
a prazo indeterminado. os instrumentos vigentes e, quando aparece,
4. Homologação e rescisão por mútuo acor- é para reafirmar que ela só poderá ocorrer
do – A possibilidade de que a homologação mediante assistência do sindicato. No en-
não seja realizada na entidade sindical e as tanto, chama a atenção o seu crescimento:
demissões por acordo mútuo fortalecem a de novembro de 2017 a fevereiro de 2019 já
fraude, já que o trabalhador não terá a quem tinham sido realizados 202.122 acordos.
recorrer para verificar se está tendo acesso a 5. Prevalência do negociado sobre o legisla-
todos os seus direitos. São as próprias em- do – O Sindicato de Alimentação estabele-
presas que passam a realizar as homologa- ce que toda e qualquer contratação e (ou)
ções, seja por meio de sua área de recursos alteração contratual que tiver como base a
humanos ou por empresas especializadas Reforma Trabalhista será precedida de nego-
em gestão de desligamentos e processos de ciação com o ente coletivo representativo da
homologação. O fim das homologações no categoria profissional, devido à supremacia
sindicato é uma das principais causas da do negociado sobre o legislado.
queda acentuada dos processos na Justiça 6. Contribuição assistencial e negocial – Em-
do Trabalho. A isso soma-se o receio do tra- bora ela fosse adotada pela maior parte dos
balhador de arcar com os custos processu- sindicatos mais estruturados desde o início
ais em caso de perda da ação. A cláusula da dos anos 2000, a grande maioria das peque-
homologação foi retirada de parte significa- nas entidades sobreviviam apenas do impos-
tiva dos instrumentos: 1.206 tratavam des- to sindical e, em alguns casos, da contribui-
se assunto na data consultada, com queda ção confederativa. Até a 19/04/2019, foram
de 40% em comparação a igual período do identificados 2.665 instrumentos vigentes24
ano anterior. Nos instrumentos que manti- que continham cláusulas sobre contribui-
veram a cláusula, as redações assumiram ção. Elas são amplas e também regulam a
novos conteúdos. As homologações deverão contribuição do empregador. Em alguns ca-
ser feitas, preferencialmente, no sindicato sos, é remetida para o acordo aditivo ou re-
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Mas as inovações mais substantivas ainda estão ARAÚJO, Â. M. C.; VÉRAS DE OLIVEIRA, R. El
sindicalismo em la era de lula: entre paradojas y nuevas
mais no âmbito do debate do que da ação efetiva. perspectivas. Trabajo, México, v.5, n.2, p. 83-112, 2011.
Quanto às negociações coletivas pós-re- BOITO, A.; GALVÃO, A; MARCELINO, P. La nouvelle
phase du syndicalismebrésilien. Cahiersdes Amériques
forma, observa-se uma queda dos instrumen- Latines, n. 80, p.147-167, 2015.
tos normativos assinados em 2018. O teor das BOITO JUNIOR, A.; MARCELINO, P. O sindicalismo
deixou a crise para trás? Um novo ciclo de greves na
negociações compreende um movimento con- década de 2000. Caderno CRH, Salvador, v. 23, n. 59, p.
323-338, 2010.
traditório, o que traduz a disputa em torno dos
CAMPOS, C. V. Conflitos trabalhistas nas obras do PAC:
conteúdos da reforma. Por um lado, há estra- o caso das Usinas Hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio
tégias e ações de resistência, que buscam ate- e Belo Monte. 2016. 220 p. Dissertação (Mestrado em
Ciência Política) – Unicamp.
nuar os efeitos precarizantes e flexibilizadores CARDOSO, A. Dimensões da crise do sindicalismo
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510.
procurando resguardar alguma regulação pú-
CASTRO, B. As armadilhas da flexibilidade. Trabalho e
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Annablume, 2016.
muneração do trabalho. Por outro lado, vários
COLOMBI, A. P. A institucionalização do consenso: atuação
temas que eram objeto de negociação desde os da CUT e da FS nos governos do PT (2003-2014). 2018.
anos 1990 e que foram incorporados à reforma, Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de Campinas,
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especialmente os referentes à flexibilização da COLOMBI, A. P. F.; LEMOS, P. R.; KREIN, J.D. Entre
jornada, têm sido acordados nos instrumentos negociação e mobilização: as estratégias da CUT e da FS
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normativos, o que acaba por legitimar a refor- Paraná, v. 17, p. 179-198, 2018.
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Marilane Oliveira Teixeira
LABOR REFORM: precarious work and the RÉFORME DU TRAVAIL: le travail précaire et les
challenges for unions défis du syndicalisme
The paper proposes to identify the initial impacts L’article propose d’identifier les impacts initiaux
of the labor reform on trade unionism, in a context de la réforme du travail sur le syndicalisme, dans
that is unfavorable to workers and to collective un contexte défavorable aux travailleurs et à
action, resulting from the transformations in the l’action collective, en raison du développement de
reconfiguration of the working classes, with the growth la précarité et de l’informalité dans le marché du
of precariousness and crisis of the labor market. The travail. L’analyse porte sur la reconfiguration de la
analysis focuses on the impacts of this reconfiguration classe ouvrière et de la fragmentation syndicale,
of the working classes and the fragmentation of trade aussi bien que sur les impacts de la réforme sur
unions, as well as the impacts of the labor reform les stratégies et actions des syndicats et sur la
on union strategies and actions and on collective négociation collective. La méthodologie combine
negotiation. The methodology combined quantitative une étude quantitative du marché du travail avec
labor market research with documents (collectives des documents (contrats de travail collectives,
work contracts, commercial and trade union press matériel de presse commerciale et syndicale) et de
materials) and participant observation. The results l’observation participante. Les résultats montrent
show that the trade unions are searching to adapt to que les syndicats essayent de s’adapter au nouveau
the new context with some substantive innovations contexte, avec de petites innovations substantielles
in action and organization. The latest negotiations dans l’action et l’organisation, et que les négociations
have been, at the same time, spaces of resistance and sont autant des espaces de résistance comme de
legitimization of the content of the reform. légitimation du contenu de la réforme.
Andréia Galvão – Professora de Ciência Política da Unicamp. Editora da revista Crítica Marxista. Pesquisa
relações de trabalho, sindicalismo e movimentos sociais no Brasil. Publicações recentes: Neoliberalismo
e reforma trabalhista no Brasil (Revan-Fapesp, 2007); Política e classes sociais no Brasil dos anos 2000
(Alameda, 2012); As bases sociais das novas centrais sindicais brasileiras (Appris, 2015).
Bárbara Castro – Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas. Professora
do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas. Coordenadora do Programa de
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