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CARACTERÍSTICAS 

E CRISES DO MODERNO DIREITO PENAL* 59

Winfried Hassemer
Professor de Teoria do Direito, Sociologia Jurídica,
Direito Penal e Processo Penal na Universidade de Frankfurt
A modernização do Direito Penal, que o legislador realiza há um longo tempo (meio ambiente,
economia, drogas, criminalidade organizada), é também um tema relativo à ciência; o congresso dos
professores de Direito Penal em 1993, em Basel, ocupou­se com este assunto. Constatam­se novos
desafios, déficits de execução penal lamentáveis e exige­se, de modo muitas vezes irrefletido, meios
eficazes de combate. Este artigo, que conserva a forma originária da palestra, dedica­se a um conceito
de modernidade (Moderne) no Direito Penal e advoga contra a tendência de "modernizar"
(modernisieren) o Direito Penal, de ampliá­lo para um instrumento funcional de política interna e
reduzir seus limites clássicos; os problemas "modernos" da sociedade seriam melhor neutralizados por
um moderno "Direito de Intervenção".
I ­ CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS
O pano de fundo deste artigo e as fontes de muitas idéias que nele estão contidas são as discussões que
os professores de Direito Penal de Frankfurt conduziram juntamente nos últimos anos em seminários
coletivos. Eu me refiro, sobretudo, de modo imediato, a três exposições literárias: à tese de doutorado
de meu aluno Felix Herzog 60, ao meu breve estudo sobre Prevenção 61, bem como a um artigo sobre a
natureza simbólica do Direito Penal 62.
Eu gostaria igualmente de mencionar pelo começo as tendências das minhas reflexões. Eu sou da
opinião de que nós podemos observar hoje no Direito Penal um fenômeno ao qual Horkheimer e
Adorno denominaram a "dialética da ilustração" 63. Pode­se mencionar aqui este fenômeno comum
como a "dialética da modernidade" e expressar, com isto, que o Direito Penal moderno se desenvolveu
até um ponto em que se tornou anacrônico, contraproducente.
Preliminarmente 64, eu compreendo como Direito Penal "moderno" (modernem) em especial as
seguintes características e desenvolvimentos:
 
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A atuação e o pensamento jurídico­penal:
­ dirigem­se a concepções metafísicas e dedicam­se a uma metodologia empírica;
­ realizam sua orientação pelo empirismo, especialmente pela idéia de orientação pelas conseqüências;
­ favorecem antes idéias teórico­preventivas e retributivas;
­ tentam vincular o legislador penal e tornar suas decisões controláveis por princípios, como, por
exemplo, o da proteção do bem jurídico.
Este desenvolvimento da moderna doutrina do Direito Penal e da política criminal era atual e
necessário em face de um pensamento e de uma atuação jurídico­penal que se mostravam ao mesmo
tempo alheios à realidade da certeza jusnaturalística e da dogmática abstrata. A crítica à praxis
jurídico­penal desde as suas conseqüências para cá, a limitação aos fins da pena, os quais podiam ser
perseguidos e não encontrados, a obrigação do legislador penal de se concentrar nos bens jurídicos, se
fizeram em direção a uma humanização e a um controle aprimorado da atuação jurídico­penal. Este
desenvolvimento me parece ter chegado ao seu fim, a modernização ameaça mudar. Por isso, eu acho
que é uma época em que os modernos desenvolvimentos no Direito Penal devem ser sintetizados
novamente com as tradições jurídico­penais.
Eu gostaria de dar dois passos adiante. Eu realizarei, em primeiro lugar, uma análise do moderno
Direito Penal (II) e divulgarei algumas alternativas de atuação (III), para estudar nelas as opções que
uma reforma do Direito Penal (sobretudo da parte especial) tem hoje em dia. Minhas reflexões
movem­se em uma linha específica entre os fundamentos, a parte geral e a parte especial do Direito
Penal. O moderno Direito Penal realiza­se, como se mostrará logo a seguir, sobretudo na parte especial
do Código Penal e no chamado "Direito Penal acessório"; deste âmbito derivam também os exemplos
que serão discutidos. Os critérios para a apreciação destes exemplos e para a fundamentação de uma
política jurídico­penal a longo prazo são os critérios dos fundamentos do Direito Penal e da parte geral.
II ­ CONCEITO E MODOS DE MANIFESTAÇÃO DO MODERNO DIREITO PENAL HOJE
Há diversas caracterizações para isto que se pode designar hoje como "moderno" Direito Penal. O
"moderno" Direito Penal subscreve­se por âmbitos especiais através dos quais ele se realiza, através de
funções especiais, instrumentos especiais, mas também de problemas especiais e custos especiais. Eu
apresentarei de modo mais preciso estas caracterizações logo em seguida (II.3). Em todo caso, elas
valem para o desenvolvimento na República Federal e para as tendências atuais de reforma do Direito
Penal em outros Estados europeus. Elas podem, com algumas reservas, ser significativas para todos os
ordenamentos penais codificados dos países desenvolvidos.
Antes de ir aos pormenores, eu gostaria de esclarecer em tempo tanto a minha análise como também o
meu discurso em três teses iniciais. Eu tentarei fundamentar estas teses sucessivamente; elas seguem
minhas reflexões como um fio condutor.
1) O Direito Penal "clássico" tem um centro ideal. A este centro pertencem as tradições democráticas
da determinação e da subsidiariedade do Direito Penal, bem como o crime de dano como a forma
normal de comportamento delitivo.
 
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2) O moderno Direito Penal afasta­se deste centro ideal com uma velocidade crescente.
3) Este desenvolvimento leva o Direito Penal a problemas específicos.
1. Características de um Direito Penal Clássico
Quando eu falo de "clássico", eu quero dizer com isso que o objeto indicado situa­se na tradição da
filosofia política do Iluminismo. "Clássico" no Direito Penal não se esgota, como de costume, em uma
determinada época ou em um determinado número de objetos; "clássico" é também um ideal, uma
representação de fim pela qual pode ser determinada para onde deve ir uma viagem, quais passos
seguem na direção correta e quais na direção errada e quantos passos ainda há que se percorrer antes
que se possa julgar pela proximidade do fim. Como tempo real ou como quantidade real de objetos, o
clássico está, como qualquer outra realização de algo típico, deformado (verbogen) e poluído
(verschmutzt).
Segundo este entendimento, o Direito Penal clássico desenvolve­se pela morte do Direito Natural. É
indiferente se o Direito Natural era considerado como inexistente ou somente como não­reconhecido
ou como não­substancial: após a crítica do conhecimento da Filosofia idealista alemã não se colocava
mais em questão a fonte das ordens e proibições jurídico­penais. O modelo político desta filosofia não
era a dedução do ordenamento jurídico a partir de princípios jurídicos superiores, mas era o ajuste de
um ordenamento jurídico possível através daqueles que são atingidos por ele: era o contrato social
(Sozialvertrag).
O contrato social também não é um acontecimento real no tempo, que pretende quando muito suceder
em partes e de um modo efetivamente exemplar; ele é muito mais a condição de possibilidade do
Direito após o fim do Direito Natural. Com ele, aqueles que têm que viver socializados uns com os
outros renunciam, alternativamente, a uma parte da sua liberdade natural e exigem com isto uma
garantia de liberdade para todos. A uniformidade e a reciprocidade da renúncia à liberdade são
próprias do contrato social: sem este equilíbrio, o balanço teórico­democrático do contrato cairia no
domínio de uns sobre os outros. Assim, de modo teoricamente evidente e normativamente
concludente, o contrato social é como um fundamento do direito, ele é suscetível ao cotidiano. Os
limites da renúncia à liberdade precisam, por isso, ser marcados com garantias muito especiais.
Por estes motivos, são construídos modelos mais elaborados de contrato social, não só
horizontalmente, mas também verticalmente, e eles podem indicar ao Direito Penal uma tarefa bem
justificada:
A dimensão vertical do contrato social serve de garantia à renúncia à liberdade ajustada
horizontalmente. Pode­se designá­la autoridade ou Estado e registrar quanto a isso que se trata aqui de
uma instituição derivada, não de uma instituição do próprio direito. Ela se justifica pela sua tarefa de
permitir que os participantes existam uns com os outros no contrato social em condições jurídicas, na
medida em que os limites contratuais da renúncia à liberdade sejam obedecidos em toda parte. Não são
os cidadãos, portanto, que se funcionalizam a partir do Estado, mas o Estado a partir dos cidadãos. O
Direito Penal recebe sua função, também, como meio para a estabilização dos acordos sociocontratuais
(sozialvertraglichen); é o direito diante da lesão à liberdade e as conseqüências.
 
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Neste contexto, pode­se estabelecer e fundamentar bem três conseqüências importantes para o Direito
Penal, sua tarefa e seus limites:
1) Somente pode valer como ato punível a lesão às liberdades asseguradas pelo contrato social. O bem
jurídico conserva um lugar sistemático como critério negativo de criminalização legítima: sem uma
lesão palpável a um bem jurídico, não há ato punível.
2) Os limites da renúncia à liberdade contratual devem ser compostos de modo absoluto. As revisões
posteriores destes limites à intervenção social ou executiva nos pactos sociais devem ser renunciadas
sob todas as circunstâncias. Inclusive os limites da renúncia recíproca à liberdade não podem depender
da força da interpretação de um terceiro, nem do Judiciário e nem do Executivo. Com isso alimenta­se
a tradição do positivismo legalista, declaram­se, contemporaneamente, proibições às interpretações e
aos comentários; e a exigência de determinação do Direito Penal adquire seu sentido pleno.
3) O Estado é uma instituição derivada dos direitos dos cidadãos e deve fundamentar­se e limitar o seu
poder pelos direitos dos cidadãos. O contrato social não comporta nenhum poder originário e
usurpador. Por isso, o poder do Estado, particularmente no Direito Penal ­ onde se mostra de modo
particularmente nítido ­ deve se vincular e se conceber, em princípio, pelos direitos do indivíduo: eles
o postergam. A partir daí declaram­se, por exemplo, princípios jurídico­penais como o in dubio pro
reo, o direito ao recurso, à defesa, ao silêncio, princípios como o da subsidiariedade ou da
proporcionalidade.
Pela concepção clássica, o Direito Penal é na verdade um meio violento, mas é ao mesmo tempo um
instrumento da liberdade civil. É, por isso, irrenunciável para o convívio dos homens, e deve, sem
dúvida, ser colocado na corrente, pois não pode se tornar independente. Não é nenhum passaporte, mas
apenas o último meio (ultima ratio) de solução dos problemas sociais.
2 ­ A Dialética da Modernidade
O moderno Direito Penal rompe com esta tradição, ao mesmo tempo que a "consuma". As tendências
que já caracterizavam o Direito Penal clássico caracterizam também a forma moderna; estas
características somente se desprenderam do seu contexto, elas possuem um novo meio e já não
atingem mais os antigos adversários. Deste modo, o moderno Direito Penal é, por fim, uma instituição
distinta do Direito Penal clássico.
Para elucidar isto eu gostaria de analisar, uma após a outra, as três características principais do
moderno (neuzeitlichen) Direito Penal e indicar dois exemplos de como uma compreensão clássica do
Direito Penal torna­se cada vez mais moderna. Ao lado do pensamento antimetafísico
(Entmetaphysizierung) como movimento geral do pensamento jurídico­penal, como se sabe, estão as
três características seguintes: a proteção dos bens jurídicos, a prevenção e a orientação pelas
conseqüências 65.
A proteção dos bens jurídicos no moderno Direito Penal torna­se de um critério negativo em um
critério positivo de criminalização. O que para o Direito Penal clássico era formulado como uma
crítica ao legislador, que não podia invocar a proteção de um bem jurídico, torna­se daqui em diante
um desafio para ele colocar determinados modos
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de conduta sob uma pena. Com isto modifica­se, de modo sub­reptício, integralmente, o princípio da
proteção dos bens jurídicos em sua função.
Pode valer como exemplo a interpretação do Tribunal Constitucional Federal (BVerfG) em face de
uma permissão relativamente ampla de interrupção de gravidez, em que se podia extrair da Lei
Fundamental a exigência que o legislador tinha de proteger também a vida futura como bem jurídico e
conseqüentemente impor ao aborto em geral uma pena  66. A exigência ao legislador, declarada neste
contexto, também devia ser normativamente consistente e, por isso, o "estupro no casamento" podia
ser não só um constrangimento, mas, além disso, devia­se cominá­lo com pena, como um delito
sexual. O princípio da proteção dos bens jurídicos transforma­se de uma proibição limitada de punição
em uma ordem de punição, de um critério negativo em um critério positivo de autêntica
criminalização.
A prevenção, que no Direito Penal clássico era no máximo um fim paralelo da justiça penal, torna­se o
paradigma penal dominante. Dentro deste desenvolvimento caem gradativamente os princípios da
uniformidade e da igualdade de tratamento, reconhecidos como assegurados. Exemplos são os cortes
no Direito Penal das drogas (Betäubungsmittelstrafrecht), que, por um lado, perseguem o fim da
ressocialização (§§ 35 e ss. da BtMG) pela renúncia geral à pena em face das pessoas solícitas e
capazes à terapia, enquanto, por outro lado, os vendedores de drogas devem ser intimidados com penas
elevadas (§ 30 da BtMG). Também o âmbito da legislação de combate ao terrorismo e agora à
"criminalidade organizada" é dominada quase exclusivamente por interesses preventivos: aumento das
cominações penais, expansão dramática dos meios de coação na instrução penal, introdução de uma
"testemunha principal" (Kronzeugen), de novas e incondicionais "penas patrimoniais", etc.: o fim
parece consagrar gradativamente os meios.
Também a orientação pelas conseqüências, que para o Direito Penal clássico era no máximo um
critério complementar da legislação adequada, torna­se no Direito Penal moderno um fim
predominante. Ela desloca a igualdade e a retribuição do injusto para a margem da política criminal.
Indicadores de tais desenvolvimentos são, por exemplo, as exigências atuais (por exemplo, no campo
da proteção ambiental, ou, por exemplo, do lado feminista, a finalidade de antidescriminalização) de
estabelecer o Direito Penal como instrumento de pedagogia popular: para "sensibilizar" as pessoas.
Aqui, de modo algum se destaca se o emprego do meio jurídico é "adequado" ou inteiramente "justo" ­
quando somente se pode alcançar o objetivo de chamar a atenção da população para o fato de que se
deve reparar na beleza do meio ambiente ou na violência contra as mulheres. Inclusive, a tendência
progressiva de instituir o Direito Penal não mais como ultima, mas como sola ou prima ratio para a
solução dos problemas sociais, é, neste contexto, um bom exemplo de uma fecunda orientação pelas
conseqüências. Em face das "grandes perturbações" 67 sociais atuais, mas também em face de
experiências pontuais, como a construção de uma
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fábrica de gás venenoso na África do Norte com o auxílio alemão ou o doping de esportistas, ressoam
como os primeiros da chamada, de acordo com o legislador penal.
Em resumo, a "dialética da modernidade" leva a que o Direito Penal se desenvolva como um
instrumento de solução dos conflitos sociais, o qual, de acordo com a percepção pública, não se
distingue mais, por um lado, pela sua utilidade e, por outro, pela sua gravidade dos outros instrumentos
de solução dos conflitos; o Direito Penal, apesar dos seus instrumentos rigorosos, torna­se um soft law,
um meio de manobra (Steuerung) social. As expectativas de solução dos problemas, que se dirigem ao
Direito Penal, explodem; e visto deste modo, o Direito Penal torna­se, quanto às expectativas, algo
"novo".
3 ­ As Inovações no Moderno Direito Penal
Embora o moderno Direito Penal no fundo não faça nada diferente do que "consumar" os critérios do
Direito Penal clássico da época do Iluminismo, pode­se denominar algumas características que
marcam claramente este moderno Direito Penal 68.
a) Setores. O moderno Direito Penal favorece determinados campos de reformas e não coloca outros
em vista.
A "Política criminal" na República Federal já há uns dez anos é a da criminalização e não a da
descriminalização 69 ­ as regras como sempre reconhecem exceções. Os âmbitos nos quais o legislador
penal vê uma "necessidade de atuação" não são os da parte geral do Direito Penal ou da Execução
Penal. O sistema de penas e de medidas de segurança e sua execução não se encontram no centro do
atual interesse político­criminal. Os progressos sistemáticos e conceptuais não são fomentados pelo
legislador. O âmbito central da reforma da legislação penal é a parte especial do Código Penal como
também o Direito Penal complementar. As reformas aqui não consistem em uma revogação, mas na
ampliação ou na criação de novas cominações penais. Os âmbitos centrais de reformas na legislação
penal são: o meio ambiente, economia, processamento de dados, drogas, tributos, comércio, em geral:
a "criminalidade organizada".
Estas modificações são defendidas através das "reformas" no Direito Processual Penal. E, inclusive, os
setores que aqui necessitam de uma reforma urgente, como, por exemplo, a prisão preventiva 70, não
têm nenhuma possibilidade de uma defesa interessada; pelo contrário, giram em torno da aceleração e
facilitação do processo, bem como de um agravamento dos instrumentos de investigação 71.
Em resumo: o Direito Penal, nos últimos tempos, tem ampliado de modo significativo suas
capacidades e assim tem deixado cair a bagagem democrática, a qual é um obstáculo na realização das
novas tarefas.
 
Revista de Estudos Criminais 8 ­Doutrina ­ Página 60

b) Instrumentos. Os instrumentos dos quais o Direito Penal se utiliza com prioridade estão, em uma
visão claramente precisa, a serviço da ampliação desta capacidade do Direito Penal.
Os âmbitos nos quais o moderno Direito Penal se concentra estão todos relacionados somente
indiretamente com os cidadãos e os indivíduos. Diretamente estão as instituições da sociedade ou
também do Estado. No moderno Direito Penal, a proteção dos bens jurídicos torna­se a proteção das
instituições.
A isso corresponde que os bens jurídicos, para os quais deve haver proteção, não são bens jurídicos
individuais, mas bens jurídicos universais. E é certo que o legislador penal formula estes bens jurídicos
universais de modo muito vago e trivial (a proteção à saúde do povo, proteção à função dos meios de
subvenção, etc.). Deste modo, o moderno Direito Penal afasta­se das suas tradições em um duplo
sentido. Ali se girava em torno da proteção dos bens jurídicos individuais, os quais eram determinados
do modo mais concreto e preciso possível. Os bens jurídicos, os quais o moderno Direito Penal pode
designar para a legitimação das cominações penais, não são mais discriminados. E existem apenas
alguns tipos de comportamento humano, que hoje se deveriam descriminalizar com a invocação do
princípio da proteção dos bens jurídicos.
O segundo instrumento do moderno Direito Penal, o qual serve claramente a uma ampliação da sua
capacidade, é a forma delitiva dos crimes de perigo abstrato. Uma breve análise do Código Penal já
nos adverte que o crime de perigo abstrato é a forma delitiva da modernidade. Os crimes de perigo
concreto ou apenas crimes de dano parecem estar ultrapassados.
É muito fácil ver por que o legislador toma este caminho. A forma delitiva dos crimes de perigo
abstrato facilitam de maneira extraordinária a aplicação do Direito Penal. Se se renuncia à prova de um
dano, não se pode mais encontrar a prova da causalidade. Por conseqüência, se insiste na prova da
conduta incriminada, cuja gravidade não depende da apreciação do juiz, mas, para o legislador, era
motivo para a criminalização desta conduta. A tarefa do juiz, portanto, é facilitada de um modo
extraordinário.
Com a redução dos pressupostos de punição (quanto aos crimes de perigo abstrato, em relação aos
crimes de perigo concreto ou de dano), evidentemente reduzem­se também as possibilidades de defesa.
Os pressupostos para a punição são limitações à punibilidade. Ao mesmo tempo, reduzem­se as
instruções do legislador penal, as quais ele dá ao juiz para a interpretação dos respectivos tipos. Uma
prescrição como, por exemplo, a do § 263 do StGB (estelionato), o qual dispõe sobre um sistema
diferenciado de elementos do tipo, pode dar ao juiz criminal, em qualquer ponto deste sistema,
informações sobre a ratio legis; uma prescrição como aquela contra a fraude ao apoio financeiro (§ 264
do StGB), a qual permite satisfazer a prova da conduta incriminada, deixa o magistrado/intérprete da
lei isolado neste ponto. A conseqüência é uma diluição e uma redução do processo de interpretação
legalmente determinado em face da jurisprudência.
Os bens jurídicos universais e os crimes de perigo abstrato, como instrumentos da moderna legislação
penal, levam consigo ainda um outro problema, o qual não se deve estimar como insignificante. Se se
trabalha nos âmbitos mencionados com os referidos instrumentos penais, então se reduz, a longo
prazo, a clareza e a percepção do injusto. As descrições dos delitos do moderno Direito Penal são
orientadas pela criminalidade absolutamente sem vítimas ou com vítimas rarefeitas. Não se exige mais
um dano. O
Revista de Estudos Criminais 8 ­Doutrina ­ Página 61

injusto não é mais do que o resultado de uma pura avaliação técnica. Deve­se refletir se a visibilidade
do injusto ­ inclusive aos olhos do povo ­ é e deve continuar sendo um critério do Direito Penal, do que
de um âmbito especial do Direito.
c) Funções. Não se pode deixar de ver que junto a estas inovações nos objetos e nos instrumentos do
Direito Penal também as suas funções se modificam. Estas modificações, evidentemente, em uma boa
parte são incertas.
As novas criminalizações na Parte Especial do Código Penal e no Direito Penal complementar trazem
consigo uma ampliação significativa do Direito Penal e já por isso reduzem relativamente o
significado do Direito Penal nuclear (Kernstrafrechts). O Direito Penal tende muito menos a reação às
lesões mais graves ao interesse de liberdade dos cidadãos e tende a se tornar muito mais um
instrumento de defesa da política interna. Desse modo, ele desocupa, inclusive, a sua posição no
elenco dos âmbitos do Direito e aproxima­se das funções do Direito Civil ou do Direito
Administrativo.
Com isto, relaciona­se a já mencionada tendência de que o legislador penal compreende este
instrumento não como ultima, mas como sola ou prima ratio e que, ao contrário, insere aí,
prontamente, o princípio da subsidiariedade, com o uso do qual seria possível obter um proveito
político. Estas inovações, por outro lado, relacionam­se com a nova função de satisfazer o interesse de
efetivação das conseqüências também por intermédio do Direito Penal. A característica clássica da
reação penal, de ser distanciada e proporcionalmente uniforme, passa para o segundo plano. Em vez de
chegar a uma resposta a um injusto e à compensação por meio da reação justa, leva agora à prevenção
dos futuros injustos ou até mesmo ao vencimento de futuras desordens. Em outras palavras, de agora
em diante, também no Direito Penal não se trata mais de dar uma resposta apropriada ao passado, mas
da dominação do futuro. As estruturas do pensamento e da atuação do Direito Penal desenvolvem­se
desde padrões normativos até padrões empíricos.
d) Problemas. Novos setores, novos instrumentos e novas funções produzem novos problemas. Podem­
se sintetizar os problemas do moderno Direito Penal sob dois aspectos, os quais se relacionam de
modo estreito um com o outro: o perigo (Gefahr) de que o moderno Direito Penal somente possa
realizar a sua execução real de modo deficiente e a expectativa de que se recolha em funções
simbólicas.
Entretanto, é notório que os principais setores do moderno Direito Penal (particularmente as drogas, o
meio ambiente e a economia) estão acompanhados de "déficits de execução" crônicos. Descobre­se
que:
­ uma enorme parte dos processos fica parada (steckenbleiben) já na fase de investigação;
­ os juízes criminais não preenchem muito as condições para punição;
­ os campos obscuros são extraordinariamente amplos;
­ as pessoas "erradas" vem à luz do Direito Penal e as "corretas" permanecem ocultas;
Os "déficits de execução" não significam somente que as leis, lamentavelmente, não funcionam como
deveriam, mas significam também que as leis e sua aplicação levam a conseqüências injustas e
desiguais.
 
Revista de Estudos Criminais 8 ­Doutrina ­ Página 62

Quanto aos déficits de execução, podem distinguir­se de acordo com o modo como são vistos os seus
fundamentos. Esta também é situação atual na praxis e na ciência da República Federal. A maioria é da
opinião de que os déficits de execução resultam de uma aplicação não muito convincente dos
instrumentos jurídico­penais; eles exigem, por isso, que se acentuem estes instrumentos e radicalize o
seu emprego: more of the same 72. Outros ­ dentre os quais, inclusive, eu me coloco 73 ­ atribuem os
déficits de execução a um problema estrutural, que não pode ser solucionado através do emprego
acentuado dos instrumentos jurídico­penais, mas pode somente ser agravado ainda mais. Sob este
aspecto, os déficits de execução são um indício de que o Direito Penal está inserido em determinados
setores, armado com instrumentos e ampliado para funções que lhe são desconhecidas e que este
desconhecimento (Fremdheit) é fundamental e não passageiro. Ao fato dos déficits de execução
aponta­se a normatividade de uma violação do Direito Penal e das suas sólidas possibilidades.
Os déficits de execução, os quais são declarados somente como um problema quantitativo e
passageiro, no moderno Direito Penal devem levar, a longo prazo, a que o Direito Penal se recolha
somente em funções simbólicas e, ao final, perca suas verdadeiras funções 74. Do amálgama
deflagrado pela grande "necessidade de atuação" social, pela difundida crença na eficiência dos meios
penais e pelo extenso déficit no uso destes meios, pode surgir o risco de que o Direito Penal se recolha
na ilusão de que pode realmente solucionar os seus problemas. O Direito Penal simbólico é, a curto
prazo, um paliativo, mas a longo prazo, destrutivo 75.
e) Custos. O moderno Direito Penal não está isento de custos. Nós abatemos os custos do depósito
(Reservoir) das nossas tradições liberais.
Os custos dos crimes de perigo abstrato são evidentes e desde já nominados: a redução dos
pressupostos de punição significa, ao mesmo tempo, uma redução das possibilidades de defesa e da
orientação do juiz pelo legislador.
No moderno Direito Penal, pode­se verificar, por toda parte, que as diferenciações dogmáticas, as
quais possibilitam a imputação objetiva e a subjetiva em uma graduação sutil e, ao mesmo tempo, de
acordo com critérios racionais e controláveis, se desgastam. Assim, as distinções entre autoria e
participação, entre tentativa e consumação ou entre dolo e culpa, as quais têm determinado em toda
parte o Direito Penal tradicional, no moderno Direito Penal, que trata do "comércio" ou das
"empresas", não possuem maior urgência e as vezes nenhuma significação. A conseqüência é que se
amplia cada vez mais a margem de decisão do juiz criminal (cada vez menos controlável), a qual se
torna bem menos acessível a uma revisão através de critérios dogmáticos.
Sobretudo no Direito Penal ambiental e no Direito Penal econômico é, entretanto, publicamente
evidente 76 que os tradicionais pressupostos de imputação do Direito Penal podem ser inteiramente
impeditivos de uma política criminal eficiente. Aqui se entende,
Revista de Estudos Criminais 8 ­Doutrina ­ Página 63

por exemplo, que a imputação individual, como a determina a tradição do Direito Penal, pode impedir
a atuação dos meios penais (a qual, aliás, sempre foi sua tarefa!). Por conseguinte, faz­se a exigência
de que em determinados setores do Direito se devam enterrar as sutilezas de uma imputação individual
77
. No mesmo contexto, pode­se mencionar o aumento das cominações penais, bem como as
tendências que levam a uma difusão do injusto (que no Direito Penal ambiental por exemplo, através
do princípio da acessoriedade administrativa, somente as autoridades administrativas estipulam onde
começa o limiar do injusto criminal). Tudo isto leva finalmente a uma perda dos tradicionais
pressupostos de imputação, os quais não poderiam deixar o Direito Penal passar, de modo algum, sem
prejuízos.
No retículo do moderno Direito Penal está também a ordem de determinação (art. 103, II, da GG e § 1
do StGB). Uma criminalização determinada ao máximo possível, como faz parte do núcleo efetivo do
Direito Penal democrático, é, em muitos casos ­ e esta é sua tarefa ­, um motivo de impedimento de
uma criminalização superficial. Mas com certeza isto não se encontra na tendência do moderno Direito
Penal. O moderno Direito Penal deve ser flexível e abrangente para poder responder de maneira
adequada às crescentes perturbações. A ordem de determinação é a inimiga da flexibilização, do futuro
e dos crescentes problemas colocados a um Direito aberto. Com isso, de modo algum é exigível que o
legislador introduza com cautela conceitos jurídicos indeterminados; basta apenas (e assim ele age
inclusive) que ele escolha conceitos que possam ser aplicados do modo mais flexível e superficial
possível.
Dos custos do moderno Direito Penal fazem parte, em minha avaliação 78, também a corrupção do
Direito Processual Penal, que nós observamos atualmente 79 e sobre cujo domínio nós refletimos. Se
um problema central do moderno Direito Penal consiste em que continuam se abrindo os cortes, tanto
qualitativos como quantitativos, entre a capacidade real do Direito Penal e a da justiça penal por um
lado e as esperanças de solução do problema pelo Direito Penal por outro lado, então é de se esperar
que se ofereçam meios de solução ­ começando pela praxis ­ pelos quais possa ser levado a cabo o
aumento da capacidade. Estes devem ser, sobretudo, meios processuais penais.
Um Processo Penal democrático custa tempo e dinheiro. Principalmente nos setores que foram
caracterizados aqui como "modernos" 80, passa­se o que nós denominamos como "acordo (Deal) no
Processo Penal". E isto provavelmente não é um acaso. São estes mesmos setores, os quais romperam
as capacidades do moderno Direito Penal, que não podem mais ser levados a cabo com os princípios
tradicionais do Processo Penal. Portanto, deve­se contar com uma tendência de reduzir as sutilezas
jurídico­processuais penais, para converter o Direito Penal material em realidade, para assegurar a sua
"grande função".
O Direito Penal material e o Direito Processual Penal, por fim, estão funcionalmente interligados. Um
Processo Penal democraticamente diferenciado somente é possível se o Direito Penal material também
for democraticamente diferenciado. As
Revista de Estudos Criminais 8 ­Doutrina ­ Página 64

criminalizações de maior amplitude no Direito Penal material devem conduzir a estratégias de atuação
de maior amplitude no Direito Processual Penal. O "compromisso com a justiça" 81, em sua raiz,
portanto, é um problema não só do Direito Processual Penal, mas também do Direito Penal material.
III ­ ALTERNATIVAS
As opções que se encontram à disposição em face dos problemas do moderno Direito Penal situam­se
tanto no âmbito do Direito Processual Penal e do Direito Constitucional como também no âmbito do
Direito Penal material. Elas devem ser apresentadas de forma incondicional; naturalmente, na praxis,
se oferecerão formas mistas para refletir.
1 ­ O Direito Processual Penal
O moderno Direito Penal já reagiu à ampliação da capacidade do Direito Penal material, de maneira
que introduziu o princípio da oportunidade (§§ 153 e ss. do StPO) e o efetivou em ampla proporção.
Sem este princípio, certamente não se poderia mais conceber a realização do atual Direito Penal
material no processo. Os problemas desta realização do processo já são conhecidos: eles se dão por
falsas instituições, sem publicidade e de acordo com critérios não comprováveis, provavelmente
desiguais. Pode­se pensar nas demais reduções de um Processo Penal democrático, especialmente a
respeito da fase de apelação e do direito de produção de provas. Inclusive a possibilidade de admitir,
até um certo grau, e formalizar os acordos no Processo Penal se oferecem como meios processuais
penais de realização do moderno Direito Penal.
O que todos estes instrumentos têm em comum é que eles atentam contra as tradições democráticas do
Direito Penal. Por isso, sob o meu ponto de vista, eles não são uma opção no sentido real, mas antes
um resignado retrocesso diante das necessidades do moderno Direito Penal.
2 ­ O Direito Constitucional
Não há nada de diferente quanto às possibilidades que o Direito Constitucional coloca à disposição
para realizar o Processo Penal de um modo mais rápido e com custos mais favoráveis.
Tem­se proposto 82 como alternativa ao processo oportunista dos §§ 153 e seguintes do StPO permitir
realizar uma boa parte do Processo de modo abreviado e não­público. Pode­se pensar, além disso, em
baixar ou reduzir as competências: dos Tribunais para o Ministério Público, destes para a polícia.
Pode­se pensar em restringir de algum modo a apelação, a revisão e os recursos constitucionais, mas
estas também não seriam na verdade opções, senão reformas contra nossa tradição democrática.
3 ­ O Direito Penal Material
No Direito Penal material há dois caminhos de solução, os quais, de modo funcional, seriam
equivalentes um ao outro, mas que em face das tradições democráticas precisam ser apreciados de
modo distinto.
 
Revista de Estudos Criminais 8 ­Doutrina ­ Página 65

a) A solução abstrata. O caminho de uma determinação geral do Direito Penal material para abrir a
possibilidade à Justiça Penal de adaptar sua capacidade real às ampliações de solução do problema
encontra­se no ordenamento jurídico penal da Europa Oriental. Ali se estabelece, por exemplo, o
pressuposto da "lesividade social" como meio de manter determinados atos debaixo de um certo limite
pela capacidade da justiça penal. Mas não se pode negar que este seja um regulador apurado e flexível
da capacidade.
Mas, por outro lado, é claro que tal regulador deve conduzir a uma margem de decisão considerável da
justiça penal (nisso se situa justamente a sua "função"). Por isso, sob meu ponto de vista, ele está
suscetível às mesmas críticas que as possibilidades jurídico­processuais penais e jurídico­
constitucionais (III, 1, 2). Tal instrumento é indeterminado e pode se tornar um "caso normal" 83:
muitos tipos de conduta no fundo recaem sobre o teor do texto do Código Penal; eles são
compreendidos de modo distinto (uniforme ou correto?) pela justiça penal. Esta é uma praxis
normativa intolerável. A ordem de determinação exige que o legislador penal indique do modo mais
preciso possível quais tipos de conduta ele gostaria de ver, ao final, como puníveis.
b) A solução concreta. A solução dos problemas do moderno Direito Penal preferida por mim consiste
em que se retire parcialmente a modernidade do Direito Penal.
Isto significa, em primeiro lugar, uma redução do Código Penal a um "Direito Penal nuclear"
(Kernstrafrecht), sobre cujos limites deve­se discutir em um caso isolado 84. Certamente pertencem a
este Direito Penal todas as lesões aos bens jurídicos individuais clássicos e pertencem a esse também
os perigos graves e visíveis, como sempre conteve o nosso Código Penal nos §§ 306 e seguintes; a
formação de associações criminosas e as subversões são exemplos de quais tipos de perigo um Direito
Penal deve conter.
Evidentemente, um Código Penal não pode, principalmente hoje, renunciar aos bens jurídicos
universais. Eu, todavia, defendo que é preciso formulá­los do modo mais preciso possível e que é
preciso funcionalizá­los pelos bens jurídicos individuais 85.
De maior importância é que os problemas que mais recentemente foram introduzidos no Direito Penal
sejam afastados dele. O Direito dos ilícitos administrativos, o Direito Civil, o Direito Público e
também o mercado e as próprias precauções da vítima 86 são setores nos quais muitos problemas, que
o moderno Direito Penal atraiu para si, estariam essencialmente mais bem tutelados 87. Recomenda­se
regular aqueles problemas das sociedades modernas, que levaram à modernização do Direito Penal 88,
particularmente, por um "Direito de Intervenção", que esteja localizado entre o Direito Penal e o
Direito dos ilícitos administrativos, entre o Direito Civil e o Direito Público, que na verdade disponha
de garantias e regulações processuais menos exigentes que o Direito Penal, mas que, para isso,
inclusive, seja equipado com sanções menos intensas aos
Revista de Estudos Criminais 8 ­Doutrina ­ Página 66

indivíduos 89. Tal Direito "moderno" seria não só normativamente menos grave, como seria também
faticamente mais adequado para acolher os problemas especiais da sociedade moderna.
O problema deste caminho se torna evidente se se travarem ou se deixarem recuar completamente as
tendências de um "moderno" Direito Penal. Eu não sou pessimista a esse respeito. Justamente em
épocas em que se gira em torno antes da sociedade do que do indivíduo, antes da desordem do que do
injusto, antes da efetividade do que da normatividade, as tradições normativas e pessoais do Direito
Penal poderiam ser uma orientação útil.
ABREVIATURAS
AKStGB ­ Comentário alternativo ao Código Penal (alemão); BtMG ­ Lei de combate às drogas;
BverfG ­ Tribunal Constitucional Federal; GG ­ Lei Fundamental; JuS ­ Ensino Jurídico (revista); JZ ­
Jornal dos Juristas; NJW ­ Novos escritos jurídicos semanais; NStZ ­ Nova Revista de Direito Penal;
StGB ­ Código Penal (alemão); StPO ­ Código de Processo Penal; StrVert ­ Defensor Penal (revista).
 
 
 

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