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KANT vs BENTHAM: CRITÉRIOS ÉTICOS

Durante a Idade Média, a visão teocêntrica do mundo fez com que os valores religiosos
impregnassem as concepções éticas, de modo que os critérios do bem e do mal se
achavam vinculados à fé e dependiam da esperança de vida após a morte. No entanto, a
partir da Idade Moderna, culminando no movimento da Ilustração, no século XVIII, a
moral se torna laica, secularizada. Ou seja, ser moral e ser religioso não são polos
inseparáveis, sendo perfeitamente possível que um homem ateu seja moral, e mais
ainda, que o fundamento dos valores não se encontre em Deus, mas no próprio homem.

O movimento intelectual do século XVIII conhecido como Iluminismo e caracteriza o


Século das Luzes exalta a capacidade humana de conhecer e agir pela “luz da razão”.
Critica a religião que submete o homem à heteronímia, que o subjuga a preconceitos e o
conduz ao fanatismo. Em contraposição, a maioria dos filósofos deste período defende o
ideal de tolerância e autonomia.

KANT

A máxima expressão do pensamento iluminista se encontra em Kant (1724-1804), que


escreveu a Crítica da razão prática e Fundamentação da metafísica dos costumes, nas
quais desenvolve sua teoria ética.

A razão prática diz respeito ao instrumento para compreender o mundo dos costumes e
orientar o homem em sua ação. Analisando os princípios da consciência ética, Kant
conclui que a vontade humana é verdadeiramente ética quando regida por imperativos
categóricos. O imperativo categórico é assim chamado por ser incondicionado, absoluto,
voltado para a realização da ação tendo em vista o dever.

Neste sentido, Kant rejeita as concepções éticas que predominam até então, as quais
norteiam a ação ética a partir de condicionamentos como a felicidade e o interesse. Por
exemplo, para Kant, não faz sentido agir bem com o objetivo de ser feliz ou evitar a dor,
ou ainda para alcançar o céu ou não merecer punição divina. Para Kant, o agir ético se
funda exclusivamente na razão. A lei ética que a razão descobre é universal (válida para
todos seres humanas) e necessária (não poderia ser diferente), pois é ela que preserva a
dignidade dos seres humanos. A lei ética, ou o critério ético, fundamental para Kant,
poderia ser sintetizado na seguinte afirmação:

“Age de tal modo que a máxima de tua ação possa sempre valer como princípio
universal de conduta” (Imperativo categórico)

Vamos exemplificar: Suponhamos a normal moral “não roubar”.

- para a concepção cristã o fundamento da norma se encontra no sétimo mandamento de


Deus;

- para Kant, a normal- não roubar- se enraíza na própria natureza da razão; pois se
aceitarmos o roubou como algo válido, elevando a máxima ao nível universal, haverá
uma contradição: se todos podem roubar, não há como manter a posse do que foi
furtado.

BENTHAM

Jeremy Bentham (1748- 1832) é o fundador de uma escola filosófica chamada de


utilitarismo. Segundo o utilitarismo de Bentham, o cidadão só deveria obedecer o
Estado quando a sua obediência contribui para a felicidade geral. Para Bentham, o
objetivo da ética é o controle do egoísmo, e a virtude é o que amplia os prazeres e
diminui as dores. O pensamento ético de Bentham envolve, portanto, um cálculo ético: é
preciso fazer um cálculo entre duas ações para saber qual delas reúne maior número de
prazeres e menor quantidade de dores. Segundo Bentham, são três os princípios do
utilitarismo:

a) “a natureza colocou o gênero humano sob o domínio de dois


senhores soberanos: a dor e o prazer [...] Ao trono desses dois
senhores está vinculada, por uma parte, a norma que distingue
o que é certo do que é errado”.

b) O princípio da utilidade é simples decorrência da proposição


anterior. Qual seja: “o princípio
que estabelece a maior felicidade de todos aqueles cujo interesse
está em jogo, como sendo a justa e adequada finalidade da
ação humana, e até a única finalidade justa, adequada e universalmente
desejável; da ação humana, digo, em qualquer situação
ou estado de vida, sobretudo na condição de um funcionário ou
grupo de funcionários que exercem os poderes de governo. A palavra
‘utilidade’ não ressalta as idéias de prazer e dor com tanta
clareza como o termo ‘felicidade’; tampouco o termo nos leva a
considerar o número dos interesses afetados; número este que
constitui a circunstância que contribui na maior proporção para
formar a norma em questão –a norma do reto e do errado”.

c) “Aqueles cujo interesse está em jogo” compõem, sempre, uma


“comunidade”. O que é uma comunidade? “Se a palavra tiver um
sentido, será o seguinte. A comunidade constitui um corpo fictício,
composto de pessoas individuais que se consideram como
constituindo os seus membros. Qual é, neste caso, o interesse da
comunidade? A soma dos interesses dos diversos membros que
integram a referida comunidade”.

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