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Índice
Capa
Página Título
Dedicatória
Índice
Direitos Autorais
Dramatis Personae
Dia Dois
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Dia Três
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Epílogo
Sobre o Ebook
Agradecimentos
Outros Materiais do Autor
Sobre o Autor
A Velha República - Enganados é uma obra de ficção. Nomes, lugares, e outros incidentes são
produtos da imaginação do autor ou são usadas na ficção. Qualquer semelhança a eventos atuais,
locais, ou pessoas, vivo ou morto, é mera coincidência.Direitos Autorais © 2011 da Lucasfilm Ltd. ®
TM onde indicada. Todos os direitos reservados. Publicado nos Estados Unidos pela Del Rey, uma
impressão da Random House, um divisão da Penguin Random House LLC, Nova York.DEL REY e a
HOUSE colophon são marcas registradas da Penguin Random House
LLC.randomhousebooks.com/starwars.com/Facebook.com/starwarsbooks
ZEERID DEIXOU A FATMAN VOAR livre e para bem longe da superfície de Ord
Mantell. Ele manteve os seus escâneres varrendo a área, temendo que os
piratas pudessem ter aliados em outra nave em algum lugar, mas não viu
sinais de perseguição. Com o tempo, ele se permitiu relaxar.
O rosa das nuvens de Ord Mantell e da estratosfera superior logo deu
lugar ao preto do espaço. O controle planetário não o chamou para
identificação e ele não teria respondido de qualquer maneira. Ele não
respondia a eles. Ele respondia A Permuta, embora nunca tivesse conhecido
um protagonista importante no sindicato cara a cara.
Recebendo as suas instruções por meio de um encarregado que conhecia
apenas como Oren, voava às cegas na maior parte do tempo. Cumpria as
suas atribuições remotamente, recolhia a carga onde lhe era dito e a deixava
onde lhe era dito. Ele preferia assim. Isso fazia parecer menos pessoal, o
que o fazia se sentir menos sujo.
Ele teve o cuidado de devolver a ênfase na privacidade, garantindo que
A Permuta soubesse um pouco sobre ele além do seu passado como soldado
e piloto. Pelo que eles sabiam, ele não tinha amigos nem família. Sabia que
se eles soubessem de Arra, a usariam como uma alavanca contra ele. E não
podia permitir isso. Se algum mal acontecesse a ela ...
Mais uma vez, ele percebeu que estava segurando o manche com muita
força. Relaxou, respirou fundo e recompôs os seus pensamentos. Quando
ele se sentiu pronto, conectou no código do canal subespacial seguro que
usava para se comunicar com Oren. Ele esperou até ouvir o som oco de uma
conexão aberta.
Oren não perdeu tempo com uma saudação.
— A entrega foi boa, eu presumo?
Pela voz dele, Zeerid supunha Oren como um homem humano,
provavelmente em seus quarenta ou cinquenta e poucos anos, embora
pudesse estar usando tecnologia de disfarce de voz.
— Não, — respondeu Zeerid, exalando uma nuvem de fumaça. — A
entrega foi uma emboscada.
Um momento de silêncio, então...
— Os agentes do comprador emboscaram você?
Zeerid balançou a cabeça.
– Eu acho que não. Esses eram homens que não tinha visto antes.
Piratas, eu acho. Talvez mercenários. Eu acho que eles mataram os homens
do comprador e tomaram posse da nave.
— Você tem certeza?
A raiva sangrou no tom de Zeerid.
— Não, eu não tenho certeza. O que há de certo neste trabalho? Sempre?
Oren não respondeu. Zeerid laçou as suas emoções e continuou.
— Eu tenho certeza de que o piloto que eu esperava, um sujeito
chamado Arigo, não estava lá. Mas a nave dele estava. Eu tenho certeza de
que oito homens com blasters e atitudes hostis tentaram fazer buracos em
mim.
— Oito homens. — A voz de Oren estava tensa. Não é um bom sinal. —
O que aconteceu com eles?
Zeerid teve a impressão de que Oren estava observando tudo o que ele
dizia, arquivando na memória para que pudesse peneirar por quaisquer
inconsistências mais tarde.
— Eles estão mortos. Eu farejei o ataque antes que eles o
desencadeassem.
— Isso parece... conveniente, Z-man.
Zeerid olhou para fora da canopi para a estrela de Ord Mantell e
controlou o flash de temperamento. Ele sabia que se Oren suspeitasse de
jogo duplo dele, ou simplesmente não acreditasse na sua história, uma
palavra do homem transformaria Arra em uma órfã.
— Conveniente? Deixe-me dizer o que é conveniente, Oren. Diz-se que
muitos negócios estão indo mal porque A Permuta não lida bem com os
outros sindicatos, incluindo os Hutts. E nada explica os muitos negócios
que dão errado, exceto um vazamento. Isso me diz que A Permuta está
ventilando, Oh, ou os dois.
Oren não perdeu o gancho. Zeerid quase o admirou.
— Se um de meus entregadores acha que pode haver um vazamento,
também pode pensar que é o momento ideal para fazer uma aposta para
alguns produtos ele mesmo. Especialmente se tivesse dívidas pesadas. Faça
com que isso pareça uma emboscada de, digamos, oito homens. Afinal, há
uma desculpa pronta em mãos; esse conflito com os outros sindicatos que
você mencionou.
— Ele poderia, — disse Zeerid. — Mas só se ele fosse estúpido. E eu
não sou estúpido. Ouça, você me deu as coordenadas da entrega em Ord
Mantell. Envie alguém lá, um droide de vigilância. Você vai ver o que eu
deixei lá. Mas faça isso rápido. Alguém vai limpar essa bagunça em breve,
eu aposto.
— Então... como você conseguiu matar oito homens?
A discussão estava prestes a piorar.
— Eles estavam perto demais de um dos contêineres enviados cheios de
granadas quando ele explodiu.
Oren fez uma pausa.
— Um de nossos contêineres enviados explodiu?
Zeerid engoliu em seco.
— Eu perdi na fuga. O resto da carga está intacta.
Seguiu-se um longo silêncio, um abismo de quietude. Zeerid imaginou
Oren folheando o arquivo da sua mente, cruzando a história de Zeerid com
quaisquer outros fatos pertinentes que Oren já sabia ou pensava que sabia.
— Não foi minha culpa, — disse Zeerid. — Você encontra o seu
vazamento, você vai descobrir quem é o culpado.
— Você perdeu carga.
— Eu salvei a carga. Se eu não tivesse descoberto isso, todo o
carregamento teria sido perdido para os piratas.
— Isso teria sido recuperado. É difícil recuperar granadas explodidas.
Você concorda?
— Eu estaria morto.
— Você é substituível. Eu pergunto de novo: Você concorda?
Zeerid não conseguiu responder.
— Eu escolho interpretar seu silêncio como concordância, Z-man.
Zeerid encarou o microfone enquanto Oren continuava:
— Na melhor das hipóteses, você receberá apenas a metade pelo
trabalho. A quantidade de carga perdida será avaliada e adicionada ao seu
marcador. Já ultrapassava dois milhões de créditos, se bem me lembro. A
nota sobre a nave e alguns empréstimos contra o seu jogo.
Oren sempre se lembrava corretamente. O trabalho seria negativo para
Zeerid. Ele queria dar um soco em algo, alguém, mas não havia ninguém na
cabine além dele.
— Isso me deixa mal, Z-man, — disse Oren. — E eu não gosto muito de
parecer mau. Você vai me compensar.
Zeerid não gostou do som disso.
— Como?
Uma pausa, então...
— Fazendo uma entrega de especiaria.
Zeerid balançou a cabeça.
— Eu não entrego especiarias. Esse foi o nosso acordo...
A voz de Oren nunca perdia a calma, mas o tom poderia ter rasgado a
armadura.
— O acordo mudou, dependendo, como era, da conclusão bem-sucedida
das suas atribuições. Você nos deve uma grande quantia em créditos e você
me deve uma grande quantia de imediato. Você vai compensar os dois com
algumas entregas de especiarias. É aí que estão os créditos. Então é aí que
você entrará.
Zeerid não disse nada, não pôde dizer nada.
— Nós estamos combinados, Z-man?
Zeerid fez uma careta, mas respondeu:
— Claro.
— Volte para Vulta. Eu entrarei em contato em breve. Eu já tenho algo
em mente.
Eu aposto que sim, Zeerid pensou, mas não disse.
O canal fechou e Zeerid lançou uma tempestade de granizo de palavrões.
Quando ele finalmente desabafou, ele saiu do poço gravitacional de Ord
Mantell e suas luas, definiu um curso para Vulta e acionou o hiperdrive.
— Eu sou um entregador de especiarias, agora, — ele disse, quando o
negro do espaço se transformou em azul do hiperespaço.
A esteira do círculo vicioso sob os seus pés tinha acabado de ganhar
velocidade.
ARYN SE SENTIU TONTA. Uma onda de emoção a inundou. Ela não conseguia
nomear, ou categorizar isso. Foi apenas uma onda de sentimento incipiente
e cru. Ela estava nadando nele, afundando.
— Algo está acontecendo, Syo, — ela disse, com a voz tensa, — Eu não
sei o que é, mas não é bom.
MESTRE ZALLOW e os seis Cavaleiros Jedi perto de Malgus pularam para trás
e para cima, girando no topo do arco dos seus saltos, e pousaram agachados
a vinte metros de distância.
— Que a Força esteja com todos vocês, — Zallow gritou para os seus
companheiros Jedi, e acendeu a sua lâmina.
Dezenas de outros Jedi saíram do corredor atrás dele e desceram a
escada, as lâminas dos seus sabres de luz visíveis através da fumaça e da
poeira, uma floresta de auriflamas verdes e azuis. Os Jedi não gritavam
enquanto atacavam, mas o barulho das suas botas e sandálias no piso soava
como um trovão evoluindo.
— Fique perto de mim. — disse Malgus por cima do ombro para Eleena.
— Sim, — ela disse, com os seus blasters já em mãos.
Os Sith de Malgus saíram da carcaça da nave, o rugido coletivo deles era
o som de uma fera faminta e cheia de raiva. As linhas vermelhas das suas
lâminas cortaram o ar coberto de poeira. Lorde Adraas, um favorito político
de Darth Angral e uma constante irritação para Malgus, os liderava. Como
todos os guerreiros Sith, exceto Malgus, uma máscara sombria obscurecia o
rosto deles completamente.
Malgus usou a sua antipatia por Adraas para alimentar ainda mais a sua
raiva. Havia solicitado que Darth Angral permitisse que ele liderasse o
ataque sozinho, mas Angral insistiu que Adraas liderasse a equipe da nave
de desembarque.
Descartando a sua capa, descartando as restrições restantes em sua raiva,
Malgus se juntou ao ataque Sith, tomando posição diante de Adraas. A
emoção alimentou o seu poder, e a sua ondulação o ergueu de seus pés. Ele
sentiu o poder do lado sombrio ao seu redor, dentro dele.
Os disparos de blaster cruzaram o campo de batalha da esquerda para a
direita enquanto dois pelotões de soldados da República emergiam de
algum lugar acima e do lado e disparavam contra as fileiras Sith.
Malgus, profundamente aninhado na Força, percebeu as dezenas de raios
e a sua trajetória com perfeita clareza. Sem diminuir o passo, chicoteou a
sua lâmina para a esquerda, direita, angulou dez graus e devolveu três raios
contra os soldados que os dispararam, matando todos os três. Um soldado
explodiu uma granada em seu rosto na Batalha de Alderaan, então ele
gostava de matar soldados quando podia. Atrás dele, os blasters gêmeos de
Eleena responderam à esquerda e à direita com os seus próprios raios,
abatendo mais dois soldados.
As forças Sith e Jedi se encontraram, os Sith lutaram contra a calma dos
Jedi, o chão do Templo, a arena onde séculos de lutas indeterminadas
finalmente chegariam ao fim. Os fortes na Força sobreviveriam e a
compreensão deles da Força evoluiria. Aqueles fracos na Força morreriam.
Malgus procurou Mestre Zallow, mas não conseguiu distingui-lo da
multidão de rostos, poeira, chamas e lâminas brilhantes. Então ele escolheu
um Jedi aleatoriamente na multidão, um homem humano com uma lâmina
azul e uma barba curta, e mirou nele.
Ondas de poder distorceram o ar e alteraram o som enquanto as forças
dos Jedi e dos Sith se chocavam e se misturavam em um emaranhado
caótico de corpos, sabres de luz e gritos.
Malgus aumentou o seu poder com a Força, segurou a empunhadura da
sua lâmina com as duas mãos e desferiu um golpe violento projetado para
partir o Jedi ao meio. O Jedi deu um passo para o lado evitando o golpe e
cortou com a sua lâmina azul a garganta de Malgus. Malgus levantou a sua
lâmina a tempo, defendeu-se e deu um chute no tronco do Jedi. O golpe
dobrou o Jedi ao meio, fazendo-o recuar cinco passos. Malgus saltou no ar,
girou, pousou atrás dele e cravou a sua lâmina no Jedi. Rugindo com desejo
de batalha, Malgus procurou outro oponente.
Um flash de pele lavanda atraiu o seu olhar, Eleena. Ela se abaixou sob
um golpe de sabre e mergulhou para o lado, disparando meia dúzia de tiros
de blaster enquanto o fazia. A Padawan que tentou matá-la, uma fêmea
Zabrak, os chifres de sua cabeça dourados com pigmentos coloridos,
desviou os tiros enquanto ela se aproximava para outro golpe. Eleena ficou
de pé, ainda atirando, mas a Padawan desviou todos os tiros e se
aproximou.
Malgus atraiu a Força e com uma explosão de poder levou a Padawan
através do salão e contra uma das colunas de pedra imponentes, onde ela
desabou, com sangue escorrendo do seu nariz. Eleena continuou atirando,
os seus olhos disparando aqui e ali pelo campo de batalha enquanto
procurava alvos.
A batalha ficou cada vez mais caótica. Os Jedi e os Sith pulavam,
delimitavam, rolavam e davam cambalhotas enquanto as linhas vermelhas
se cruzavam com as azuis e verdes. Explosões de poder enviavam corpos
voando pelo ar, contra paredes, puxavam pedras soltas do teto e as
enviavam se chocando contra a carne. O salão era uma cacofonia de sons:
gritos, berros, o zumbido de sabres de luz, o som intermitente de armas de
fogo. Malgus caminhou no meio deles, deleitando-se com isso.
Ele observou Lorde Adraas saltar para o meio de um esquadrão de
soldados da República e marcar a sua aterrissagem com uma explosão de
energia da Força que lançou os soldados para longe como folhas secas.
Malgus, para não ficar atrás, escolheu um Cavaleiro Jedi ao acaso, uma
fêmea humana a dez metros de distância, estendeu a mão esquerda e liberou
veias de relâmpago azul das pontas dos dedos. As linhas irregulares de
energia cortaram uma faixa através da batalha, colhendo dois Padawans
enquanto avançavam, até que alcançaram a Cavaleira Jedi e a levantaram
do chão.
Ela gritou quando o relâmpago rasgou dentro dela, a sua carne
temporariamente translúcida pelo poder das trevas correndo por ela. Malgus
saboreou a dor dela enquanto ela morria.
Ele pegou Adraas olhando pra ele e deu-lhe uma saudação zombeteira
com seu sabre de luz.
O som agudo das explosões de Eleena chamou a sua atenção. Ela saltou
passando por ele e sobre o cadáver da Cavaleira Jedi fêmea morta, um
borrão lavanda disparando rapidamente. Colocando as suas costas em uma
coluna, ela se agachou e procurou alvos para os seus blasters. Encontrou os
olhos dele, piscou e sinalizou atrás dele. Ele girou para ver uns vinte ou
mais soldados da República correndo para dentro do salão de uma sala
lateral, rifles blaster traçando linhas quentes através do campo de batalha.
Eleena respondeu com os seus próprios disparos.
Antes que Malgus pudesse despachar os soldados, a Mandaloriana se
levantou de algum lugar atrás deles, o jetpack dela cuspindo fogo, a sua
armadura prateada e laranja da cabeça aos pés brilhando no fogo do salão.
Pairando no ar como um espírito vingador, ela disparou dois pequenos
mísseis de suportes no pulso. Eles atingiram o chão perto dos soldados da
República e floresceram em chamas. Corpos, gritos e pedras soltas voaram
em todas as direções. Ainda pairando, ela girou em um círculo no ar
enquanto o lança-chamas montado em seu antebraço engolfava outro grupo
de soldados.
Malgus sabia que a batalha havia mudado, que logo terminaria. Ele
olhou ao redor, ainda procurando Zallow, o único oponente em campo
digno da sua atenção.
Antes que ele pudesse localizar o Mestre Jedi, mais três Jedi o cercaram.
Ele aparou o golpe de um macho humano, saltou sobre o golpe baixo de
uma fêmea Togruta de pele laranja, cortou a mão da terceira, uma fêmea
humana, desarmando-a, em seguida, agarrou-a pelo pescoço com a mão
livre e bateu com ela no chão com a sua força reforçada.
— Alara! — disse o homem humano.
Saltando alto sobre o golpe transversal do macho humano, Malgus
pousou atrás da Togruta, que desviou o golpe do sabre de luz, mas não
conseguiu se defender contra uma explosão da Força que a enviou
derrapando pelo corredor e em uma pilha de escombros.
Malgus rugiu, o desejo pela batalha tão pronunciado que teria matado os
seus próprios guerreiros se não houvesse nenhum Jedi para matar. Ele
queria, precisava matar outro e fazê-lo com as suas mãos.
Ele se abaixou sob um golpe do homem, avançou e pegou o Jedi pela
garganta. Ele o ergueu de seus pés e o segurou suspenso no ar, engasgando.
Os olhos castanhos do Jedi não mostraram medo, mas mostraram dor.
Malgus rugiu, apertou com força e, em seguida, largou o corpo e parou
sobre ele, a lâmina ao lado do corpo, a respiração ofegante. A batalha ainda
girava aao redor dele e ele estava no centro, o olho da tempestade Sith.
Malgus finalmente avistou o Mestre Zallow a dez passos de distância,
girando, rodopiando, com a sua lâmina verde era borrão de precisão e
velocidade. Um guerreiro Sith caiu diante ele, e outro. Lorde Adraas
pousou antes dele, tentando tirar a morte de Malgus para si. Adraas se
abaixou e cortou perto dos joelhos de Zallow. Zallow saltou sobre o golpe e
liberou uma rajada de energia que enviou Adraas derrapando de costas pelo
salão.
— Ele é meu! — Malgus gritou, avançando pelo campo de batalha. Ele
se repetiu ao passar por Adraas. — Zallow é meu!
Zallow deve ter ouvido Malgus, pois se virou e encontrou os seus olhos.
Eleena também deve ter ouvido os gritos de Malgus. Ela emergiu de trás da
coluna, deduziu a intenção de Malgus e disparou vários tiros em Zallow.
Zallow, com os olhos em Malgus o tempo todo, desviou os raios com a
sua lâmina e os mandou de volta para Eleena. Dois tiros a atingiram, e
quando ela desabou Zallow usou uma explosão da Força para lançar o
corpo dela contra uma coluna.
Malgus parou no meio do caminho, a sua raiva diminuiu
temporariamente. Ele se virou e olhou para a forma caída de Eleena por um
longo momento, o corpo lilás dela desabado no chão, seus olhos fechados,
dois círculos pretos estragando o campo roxo liso de sua carne. Ela parecia
uma flor murcha.
A raiva o encheu, o venceu. Um grito de ódio, cru e irregular, explodiu
de sua garganta. O poder veio com isso, quebrando uma coluna próxima e
enviando uma chuva de fragmentos de pedra pelo corredor.
Ele voltou o seu olhar para Zallow e caminhou em direção a ele, com a
sua raiva e poder surgindo diante dele em uma onda palpável. Outro Jedi
entrou na frente dele, a lâmina azul erguida. Malgus mal o viu. Ele
simplesmente estendeu a mão, empurrou as defesas insuficientes do Jedi,
prendeu a garganta dele com a Força e o sufocou até a morte. Jogando o
corpo de lado, ele se moveu em direção a Zallow.
Zallow, por sua vez, moveu-se em direção a Malgus. Um guerreiro Sith
saltou para Zallow a partir de sua esquerda, mas Zallow saltou sobre a
lâmina do Sith, girou, cortou e cortou o Sith.
Zallow e Malgus se encontraram. Eles pararam a um metro, estudaram
um ao outro por um momento.
Um cavaleiro Jedi humano se separou do redemoinho da batalha e
apunhalou Malgus. Malgus deu um passo para o lado evitando a linha azul
da lâmina, deu um soco no estômago do homem, dobrando-o e ergueu a
própria lâmina dele para um golpe mortal.
Zallow saltou para frente e interceptou o golpe descendente. Zallow e
Malgus se encararam e o resto da batalha acabou.
Havia apenas Malgus e a sua raiva, e Zallow e a sua calma.
Com as suas lâminas chiando em oposição, cada um usou a Força para
pressionar contra a força do outro, mas nenhum tinha uma vantagem óbvia.
Malgus gritou de raiva no rosto de Zallow. Apenas uma sobrancelha
franzida e a linha tensa da sua boca traíam a tensão por trás da expressão
tranquila de Zallow.
Alimentando-se da raiva por Eleena, Malgus empurrou Zallow para
longe e desencadeou um ataque violento de golpes e cortes transversais.
Zallow recuou, parando, incapaz de responder com os seus próprios golpes.
Malgus tentou dividir a cabeça de Zallow, mas Zallow bloqueou novamente
e de novo.
Malgus girou em um chute alto aumentado pela força que atingiu Zallow
no peito e o mandou voando para trás dez metros. Zallow capotou e pousou
ereto agachado perto de dois dos guerreiros Sith de Malgus.
Eles investiram contra ele e Zallow defendeu um golpe, saltou sobre o
segundo e girou em um círculo rápido, cortando ambos os Sith.
Malgus, queimando de ódio, jogou o seu sabre de luz em Zallow. Ele
guiou a sua trajetória com a Força, e ela girou em um caminho escaldante
pelo ar no pescoço de Zallow. Mas Zallow, aproveitando o impulso do seu
ataque ao segundo Sith, saltou no ar e por cima da lâmina.
Enquanto Zallow ainda estava no ar, Malgus liberou uma explosão de
energia que pegou o Jedi despreparado e o fez cair em uma pilha de
escombros. Ele ficou lá, deitado.
Malgus não hesitou. Ele carregou a coluna com a sua raiva, gritando de
ódio, e saltou vinte metros no ar em direção a Zallow. No meio do salto,
usou a Força para trazer de volta sua lâmina à mão, segurou com as duas
mãos apontando o sabre pra baixo e se preparou para prender Zallow no
chão do Templo.
Mas Zallow rolou para fora do caminho no último momento e a lâmina
de Malgus afundou até o cabo na pedra do chão do Templo. Zallow saltou
sobre Malgus, pousou agachado, reativou o seu sabre de luz e disparou pelo
chão de volta para Malgus.
Deixando de lado a velocidade e graça pelo poder, Zallow desferiu uma
enxurrada de golpes, cortes e investidas rápidas. Malgus aparou um golpe
após o outro, mas não conseguiu encontrar uma abertura para montar o seu
próprio contra-ataque. Pulando pra a frente, Zallow o atacou
transversalmente, Malgus desviou e Zallow bateu com o cabo do seu sabre
na lateral da mandíbula de Malgus.
Um dente se desprendeu e o seu respirador foi derrubado. Malgus sentiu
o gosto de sangue, mas estava muito envolvido na Força para que o golpe
causasse danos reais. Ele cambaleou um passo para trás, como se o golpe o
tivesse atordoado.
Vendo uma abertura, Zallow avançou e cortou perto da garganta de
Malgus.
Como Malgus sabia que ele faria.
Malgus virou a sua lâmina na vertical para aparar o golpe e girou para
fora do bloqueio da lâmina. Invertendo o seu sabre de luz durante o giro, ele
o guiou em uma estocada que perfurou o abdômen de Zallow e saiu do
outro lado.
A expressão de Zallow caiu. Ele ficou pendurado ali, empalado pela
linha vermelha. Ele se manteve nos olhos de Malgus, e Malgus viu as
chamas do Templo queimando refletidas nas íris verdes de Zallow.
— Tudo vai queimar, — disse Malgus.
A testa de Zallow franziu, talvez de dor, talvez de desespero. De
qualquer maneira, Malgus gostou. Ele esperou que a luz desaparecesse dos
olhos de Zallow antes de soltar a lâmina e permitir que o corpo caísse no
chão.
O CHOQUE ATINGE A ARYN sem nenhum aviso, uma sensação tão repentina e
poderosa como um tiro de blaster. O seu corpo teve um espasmo. A pulseira
da tranquilidade em sua mão, a pulseira dada a ela por Mestre Zallow,
quebrou em seu punho cerrado e os pedaços em forma de lágrimas de coral
choveram no chão.
Ela se dobrou e gemeu. O seu estômago embrulhou. A sua visão ficou
turva. A sala girou. As suas pernas se dissolveram e sentiu-se escorregando,
caindo, afundando. Um punho se formou em sua garganta, estrangulando o
grito que queria ser liberado e permitindo que se soltasse apenas como um
lamento abortado e cheio de dor.
Através da sua conexão na Força, sentiu a pontada aguda de agonia que
o Mestre Zallow experimentou, sentiu a sua própria respiração com
dificuldade em simpatia quando ele deu o último suspiro e morreu. A linha
da vida dele, geralmente tão brilhante em sua mente quando ela sentia a
Força, geralmente tão perto da sua própria linha, desapareceu da sua
percepção.
Ao lado dela, a respiração aguda e surpresa de Syo lhe disse que ele
havia sentido algo também.
Apesar da dor dela, o desespero crescente, a realidade caiu sobre ela
imediatamente. Ela tinha visto isso nos olhos do homem Sith.
— O que foi isso? — Syo perguntou, a sua voz aparentemente distante,
mas a sua pergunta cheia de possibilidades.
Ela ergueu a cabeça, o cabelo comprido balançando diante do rosto, e
olhou para o outro lado da sala. Ambos os Sith estavam de pé, os corpos
deles tensos, o conhecimento nos olhos deles.
— Nós fomos traídos, — ela respondeu, a sua voz um silvo.
Ela não disse que o seu Mestre, o homem que tinha sido um pai pra ela,
estava morto.
Ela ficou surpresa ao descobrir que as suas pernas estavam firmes
enquanto se endireitava. Um grupo de pessoas estava perto dela. Não, não
pessoas. Eles eram estátuas, estátuas Alderaanianas. Ela estava em
Alderaan para as negociações de paz com os Sith.
E os Sith os traíram. Ela havia lutado contra os Sith em Alderaan antes,
durante a batalha pelo planeta. Ela faria isso de novo. Agora.
— Como você sabe disso, Aryn?
Mas a voz de Syo, a dúvida dele, não minou a certeza dela.
— Eu sei, — ela esbravejou.
Os Sith também sabiam. Eles sabiam o tempo todo. Ela podia ver nos
rostos deles.
A sua visão destilou até que consistisse inteiramente nos dois Sith e nada
mais. Um rugido encheu os seus ouvidos, as ondas quebrando de dor e raiva
crescente. Ela ouviu uma voz chamando o seu nome de algum lugar
distante, repetindo como se isso fosse uma invocação, mas ela não prestou
atenção.
Ambos os Sith a olharam, as suas posturas prontas para o combate. O
homem exibia o mesmo sorriso de desprezo, a curva dos seus lábios finos
mais feia do que as cicatrizes que revestiam seu rosto.
— Aryn! — Era Syo chamando o nome dela. — Aryn! Aryn!
Eles sabiam. Os Sith sabiam.
— Eles sabiam o tempo todo, — ela disse, falando tanto para si mesma
quanto para Syo.
— O que? Sabiam o quê? O que aconteceu?
Ela não se preocupou em responder. Ela caiu na Força, aproveitando este
poder.
O tempo pareceu ficar lento. Ela se sentia como se existisse fora de si
mesma, observando. O corpo dela se moveu pela antecâmara, as suas botas
espalhando o coral da sua pulseira. A violência encheu a sua mente
enquanto se movia entre as estátuas de homens e mulheres de paz.
— Aryn! — Syo chamou. — Não faça isso.
Ela não pegou o seu sabre de luz. A sua necessidade não permitiria tal
justiça antisséptica. Ela vingaria a morte de Mestre Zallow com as próprias
mãos.
— Nenhuma morte limpa para você, — ela disse através da parede de
seus dentes cerrados.
Uma parte distante dela reconheceu o seu deslize emocional, reconheceu
de passagem que o Mestre Zallow não teria aprovado. Ela não ligava. A dor
era muito profunda, muito forte. Isso queria se expressar em violência e os
dois Sith na sala se tornaram o foco da sua necessidade.
O homem Sith alcançou o sabre de luz dele. Antes que ele pudesse ativá-
lo, Aryn lançou uma explosão de poder que levantou os dois Sith de seus
pés e os jogou contra a parede. Duas estátuas Alderaanianas, capturadas
pelo efeito de seu poder, se chocaram contra a parede de cada lado dos Sith
e se estilhaçaram em pedaços.
Os Sith devem ter usado a Força para amortecer o impacto, pois nenhum
dos dois parecia ferido. Ambos ficaram de pé e se separaram para o
combate. Empunhaduras chegaram às mãos e os sabres de luz deles fizeram
linhas vermelhas no ar. O homem segurou a sua lâmina acima da sua cabeça
em um estilo pouco convencional, esperando o seu ataque, ligeiro na planta
dos pés. A mulher segurou o dela baixo, em uma variante do estilo médio.
Atrás dela, Aryn ouviu o zumbido de Syo ativando a lâmina dele. Ela
não retardou o seu avanço. Usando a Força, puxou a empunhadura do
homem da mão dele e a trouxe voando para o seu próprio alcance. Em
seguida, ela a jogou de lado, e o sorriso desdenhoso dele derreteu no calor
da surpresa dele.
Ela avançou para ele, sem se importar com a mulher, imaginando a
sensação de suas mãos na garganta dela. Ele respondeu a abordagem dela
com uma explosão de poder, mas ela fez um V com as mãos, formou uma
cunha com a sua vontade e desviou a explosão para os dois lados dela. Mais
estátuas tombaram e se espatifaram. A mulher Sith, apanhada pela explosão
desviada, foi jogada a dez passos atrás.
Ela deu cinco passos, quatro. O homem Sith assumiu uma postura de
combate. Eles lutariam não com sabres de luz, mas com as mãos, um
trabalho próximo e sangrento.
Aryn usou a Força para aumentar a sua força, e a sua velocidade. Ela a
sentiu fluindo dentro e ao redor dela, transformando seu corpo em uma
arma...
— Aryn Leneer! — disse uma voz de comando, a voz da Mestra
Dar'nala. — Cavaleira Jedi Aryn Leneer!
Syo também a chamou.
— Aryn! Pare!
A combinação das vozes de Dar'nala e Syo penetrou na névoa do estado
emocional dela. Ela vacilou, diminuiu a velocidade, parou. A razão abriu
caminho através da turbulência emocional dela e ela deu voz aos seus
pensamentos. Sem tirar os seus olhos do homem Sith, ela disse:
— Os Sith nos traíram, Mestra Dar'nala. As negociações foram um
estratagema.
Dar'nala não falou por um momento. Então,
— Você... sentiu isso?
As lágrimas lutaram para cair dos olhos de Aryn, mas ela as forçou a
voltar. Ela assentiu, incapaz de falar.
As próximas palavras da Mestra Dar'nala atingiram Aryn como um soco
no estômago.
— Me escute, Aryn. Eu sei. Eu sei. Mas ouça-me agora... Coruscant está
nas mãos do Império.
A respiração de Aryn saiu dela. A afirmação não fazia sentido.
Coruscant, o coração da República, havia caído nas mãos do Império?
— O que? — Syo perguntou. — Como? Eu pensei...
— Isso não pode ser, — disse Aryn. Ela deve ter ouvido mal. Ela se
virou do homem Sith, que havia recapturado o seu sorriso de escárnio, para
ficar de frente para a líder da delegação Jedi.
Mestra Dar'nala estava na arcada, a sua pele de um vermelho mais
profundo do que o normal. O senador Am-ris e uma Cavaleira Jedi Sênior,
Satele Shan, a flanqueavam. O senador, um Cereano cuja juba de cabelo
branco chegava ao topo do precipício da sua testa franzida, elevava-se sobre
os outros dois. Os seus olhos preocupados pareciam sair de um rosto
enrugado, mas sem focar em nada. Ele parecia perdido.
Satele, por outro lado, parecia tão tensa quanto uma bobina de íon, seu
olhar fixo em frente, seu cabelo castanho avermelhado despenteado, o
verniz da sua expressão neutra incapaz de mascarar a emoção fervendo por
baixo dela.
Nem Am-ris nem Satele pareceram notar a destruição no salão. Ambos
pareciam atordoados, deslocados, de olhos vazios vagando pelas ruínas dos
eventos. Apenas Dar'nala parecia serena, com as suas mãos cruzadas diante
dela, seus olhos observando os detalhes da sala, as esculturas quebradas, a
posição de Aryn em relação aos dois Sith.
Aryn se perguntou o que havia acontecido na sala de negociação. Por um
momento fugaz, a esperança cresceu nela, esperança de que os seus
companheiros Jedi tivessem percebido a traição Sith e prendido ou matado
os negociadores Sith, mas essa esperança se desvaneceu quando o
negociador Sith líder, Lorde Baras, saiu da câmara e ficou perto de Dar
'nala.
Seu rosto enrugado não conseguia conter a presunção que ele sentia. Isso
vazava pelos cantos elevados da boca dele. Seu cabelo escuro, penteado
para trás, parecendo uma viúva, combinava com as suas vestes e olhos
escuros. Em um tom de barítono arrogante, ele disse:
— Isso pode ser, Cavaleira Jedi. E isso é. Coruscant caiu.
Satele visivelmente tensa; sua mão esquerda cerrada em punho. Am-ris
cedeu. Dar'nala fechou os olhos por um momento, como se lutasse para
manter a calma.
— A partir de agora, — Lorde Baras continuou, — Coruscant pertence
ao Império.
— Como...? — Aryn começou, mas Dar'nala levantou a mão.
— Não diga mais nada. Não diga mais nada.
Aryn engoliu a pergunta que ela desejava fazer.
— Desative o seu sabre de luz, — disse Dar'nala a Syo, e ele assim o
fez. A mulher Sith fez o mesmo.
— O que aconteceu aqui? — Lorde Baras perguntou, os olhos dele no
irmão e irmã Sith, e na ruína na sala.
O homem Sith curvou-se, usou a Força para puxar o cabo do sabre de
luz para a mão e prendeu-o no cinto.
— Um ligeiro desacordo, Lorde Baras. Nada mais. Por favor, perdoe o
tumulto.
Baras encarou o homem Sith por um tempo, depois a mulher.
— É bom que o desacordo não tenha levado a derramamento de sangue.
Afinal, estamos aqui para discutir a paz.
Ele parecia prestes a cair na gargalhada. Am-ris se virou para ele. Satele
agarrou a capa do Senador, como se fosse uma coleira, para impedi-lo de
chegar muito perto de Baras.
— Paz! Todo esse processo foi uma farsa...
— Senador, — disse Dar'nala, e pegou Am-ris pelo braço. Mas Am-ris
não queria nada disso. Sua voz ganhou volume quando deu vazão à sua
raiva.
— Você não veio aqui para discutir a paz! Você veio aqui para mascarar
um ataque furtivo contra Coruscant. Vocês são mentirosos desonrosos,
dignos de...
— Senador! — Dar'nala disse, e o tom dela deve ter chegado a Am-ris,
pois ele ficou em silêncio, a respiração dele vindo rápida e forte.
Lorde Baras parecia imperturbável pela explosão de Am-ris.
— Você está enganado, Senador. O Império está aqui para discutir a paz.
Nós queríamos simplesmente garantir que a República fosse mais receptiva
aos nossos termos. Eu devo entender que a sua explosão significa que a
República não está mais interessada em negociar?
Enquanto Am-ris ficava vermelho e gaguejava, Dar'nala interrompeu.
— As negociações continuarão, Lorde Baras.
— Você é sempre a voz da sabedoria, Dar'nala, — disse Baras. — O
Império espera um retorno à mesa de negociações a esta hora amanhã. Do
contrário, as coisas irão... mal para o povo de Coruscant.
A pele de Dar'nala escureceu ainda mais, mas a voz dela permaneceu
plácida...
— A nossa delegação discutirá os assuntos e entrará em contato com
você amanhã.
— Eu vou esperar por isso. Descanse bem.
Am-ris amaldiçoou Baras em Cereano e Baras fingiu não ouvir.
Enquanto a comitiva da República abria caminho entre os escombros no
salão, entre os escombros em seus corações, Aryn sentiu os olhos
zombeteiros do homem Sith sobre ela e mal pôde conter um grito de raiva.
Antes de sair da sala, ela se ajoelhou e pegou uma das contas de coral da
sua pulseira quebrada.
Malgus examinou a ruína. O casco da nave de desembarque ainda
fumegava e queimava em alguns lugares. Pedaços de metal enegrecido
pontilhavam o salão. Paredes e colunas foram reduzidas a pilhas de entulho
recortado. Rachaduras percorriam as paredes e o teto. A luz do sol poente
do dia traçava linhas cheias de poeira do telhado ao chão. Corpos, muitos
deles dos Sith, mas a maioria deles de Jedi e militares da República, jaziam
espalhados pelo chão, em meio aos escombros. Alguns gemidos soaram
aqui e ali. A Mandaloriana estava na entrada destruída do Templo. Ela
segurava o capacete debaixo do braço e o sol brilhou em seus longos
cabelos. Os olhos dela se moveram pela destruição, a linha dura da sua boca
não mostrando nenhuma emoção. Ela deve ter sentido os olhos de Malgus
nela. Ela encontrou o olhar dele e assentiu. Ele retribuiu o gesto, um
guerreiro reconhecendo o outro. Ela colocou o capacete de volta, se virou,
acendeu o seu jato propulsor e decolou para o céu de Coruscant. O Império
cuidaria do seu pagamento.
Dos cinquenta guerreiros Sith que atacaram o Templo, talvez uns vinte
permanecessem em pé. Malgus ficou descontente, mas não surpreso ao ver
o Lorde Adraas dentre os vivos. Eles também compartilharam um olhar
através da ruína, mas nenhum gesto mútuo reconheceu a afinidade deles
como guerreiros. Nenhum creditou nada ao outro.
Com a batalha terminada, os guerreiros Sith restantes se reuniram perto
da nave e ergueram os punhos em uma saudação a Malgus, bradando um
grito de vitória entre os seus inimigos caídos. Por um momento, Adraas
ficou entre eles e não fez nada, apenas olhou para Malgus, então ele
também, relutantemente juntou-se à saudação. Malgus deixou o atraso dele
passar.
Por enquanto.
Malgus reconheceu a saudação com um aceno de cabeça.
— Vocês são servos do Império, — ele disse. — E da Força.
Eles gritaram mais uma vez em resposta.
Malgus chutou o punho da arma de Zallow para fora do seu caminho,
desativou o seu próprio sabre de luz, passou por cima do corpo de Zallow e
caminhou entre os escombros, entre as fogueiras, entre os mortos, até
chegar a Eleena. Ele sentiu os olhos dos seus guerreiros sobre ele, os olhos
de Adraas, sentiu a mudança de sentimento tomar conta deles. Ele não se
importou.
Ele se ajoelhou e embalou Eleena nos seus braços. Ela permanecia
aquecida, respirando. Os ferimentos enrugados da arma de fogo que Zallow
havia causado a ela pareciam bocas pretas na pele de seu ombro e peito. Ela
parecia não ter ossos quebrados.
— Eleena. Abra os seus olhos. Eleena.
Os olhos dela se abriram.
— Veradun, — ela sussurrou.
Ouvir ela pronunciar o seu nome perante outro Sith o surpreendeu, e a
mão dele se fechou em um punho tão apertado que fez os seus dedos
doerem. Ela nunca deve, nunca, se comportar familiarmente com ele na
frente de outro Sith.
Ela deve ter percebido a raiva dele, pois empalideceu, se encolheu,
olhando para o punho fechado dele, com os olhos arregalados dela.
Como ela entendeu a transgressão a raiva dele dissipou. Ele desenrolou
o punho e estendeu a mão.
— Você aguenta ficar de pé?
— Sim. Obrigado mestre.
Ele a ergueu bruscamente, sem se importar com os ferimentos dela. Ela
estremeceu de dor e se apoiou nele. Ele permitiu. A respiração dela veio em
suspiros de dor.
— Chame uma equipe médica da Inabalável, — ele ordenou a Adraas.
Os olhos de Adraas se estreitaram. Sem dúvida, ele pensou que a tarefa
estava abaixo dele.
— Você ouviu o Darth Malgus, — Adraas disse a um guerreiro Sith
próximo. — Chame uma equipe médica.
— Não, — disse Malgus. — Faça você, Adraas.
Adraas o encarou por um momento, raiva em seus olhos, antes de puxar
uma cortina para cobrir a sua irritação e tornar o seu rosto inexpressivo.
— Como desejar, Darth Malgus.
Do lado de fora, explosões como trovões soaram, a batida constante de
bombardeio intenso. A frota de Angral havia começado o seu ataque a
Coruscant.
— Eu sinalizei para Darth Angral que o Templo estava seguro, — disse
Adraas, o mais leve indício de desafio em seu tom. — Você parecia...
preocupado com outras coisas na hora.
O olhar de Adraas pousou em Eleena, depois voltou para Malgus.
Malgus olhou para Adraas, um punho cerrado, e lutou contra o impulso
da raiva. Ele não permitiria que a insubordinação limítrofe de Adraas
diminuísse a pressa que sentia pela sua vitória.
— Eu perdoarei a sua arrogância de poder desta vez, mas não ultrapasse
novamente, — disse Malgus. — Agora saia da minha vista.
Adraas corou de raiva, a sua boca era uma linha fina de raiva, mas não
ousou dizer mais uma palavra. Deu uma meia reverência e se afastou.
Malgus apertou Eleena com mais delicadeza enquanto se viravam para
olhar pra fora. A entrada em ruínas do Templo, ampliada pela nave de
desembarque que se chocou contra ela, abria-se para o céu claro. Juntos, ele
e Eleena assistiram aos bombardeiros Imperiais saírem das nuvens laranja e
vermelhas e iluminar Coruscant com chamas.
— Vá ver, Mestre. — sussurrou Eleena para ele. — É a sua vitória. Eu
estou bem. Vá.
Ela não estava bem e ele sabia disso. Mas também sabia que ele
precisava ver.
Ele a deixou e caminhou pelo salão até chegar à entrada destruída. As
estátuas dos Jedi que se alinhavam no caminho processional caíram,
quebradas ao seus pés. Ele olhou para o ponto culminante de sua vida.
Naves Imperiais enxamearam no ar. As bombas caíam como chuva e
explodiam em chuvas vermelhas, laranjas e pretas. Gotas de fumaça se
derramavam do céu. As poucas speeders nativas que permaneceram no ar
foram perseguidas por caças Imperiais e abatidas. Centenas de incêndios
encheram o campo de visão de Malgus. Uma arranha-céus queimava, um
pilar de chamas alcançando os céus. Explosões secundárias enviaram
vibrações profundas gemendo pelo solo. Malgus ocasionalmente captava
sons de gritos distantes e em pânico. Um punhado de caças da República
voavam, mas eles foram rapidamente cercados por caças Imperiais e
explodidos do céu.
Ele abriu um canal de comunicação para a Trevas, o cruzador de
comando de Angral.
— Darth Angral, você ouviu dizer que o Templo Jedi está seguro?
O som de uma ponte movimentada serviu como ruído de fundo para a
resposta de Angral.
— Eu ouvi. Você fez bem, Darth Malgus. Quantos guerreiros morreram
no ataque?
— Adraas não te contou?
Angral não respondeu, apenas esperou que Malgus respondesse à
pergunta original.
— Talvez trinta, — disse Malgus por fim.
— Excelente. Eu enviarei um transporte para buscar você e os seus
homens.
— Eu prefiro que você espere.
— Oh?
— Sim. Eu gostaria de ver Coruscant queimar.
— Eu entendo, velho amigo. Vou garantir que os bombardeiros poupem
o Templo. Por enquanto.
O canal fechou e Malgus sentou-se de pernas cruzadas na porta do
Templo. Logo, vários dos guerreiros Sith tomaram posição ao redor dele.
Juntos, eles testemunharam o incêndio.
ZEERID TENTOU e não conseguiu dormir em sua cadeira por algumas horas
enquanto a Fatman disparava pelo túnel azul do hiperespaço. Em vez disso,
ele se preocupou com o seu próximo trabalho. Mais, ele se preocupou com
o trabalho depois disso, e com o outro depois. Ele se preocupava com a sua
filha, sobre como ela receberia os cuidados de que precisava quando ele, via
isso como inevitável agora, morresse em um de seus trabalhos. O buraco
em que vivia parecia estar ficando cada vez mais profundo, e não estava
nem perto de cavar para sair.
A instrumentação bipou um sinal para indicar o fim do salto. E repintou
a cor da canopi da cabine quando a nave saiu do hiperespaço e o azul deu
lugar ao preto.
A orbe da estrela de Vulta queimava à distância. Vulta era visível através
da canopi, o seu lado diurno brilhava como uma joia verde e azul contra a
escuridão do espaço.
Chegar ao sistema de Vulta fez com que se sentisse imediatamente mais
leve. A parte dele que mantinha o trabalho afastado se reafirmou. A ideia de
ver Arra sempre fazia isso por ele.
Ele ligou os motores e a Fatman acelerou pelo espaço vazio entre ele e a
sua filha. Quando se aproximou do planeta, colocou a nave no piloto
automático e esperou que o controle planetário o acionasse.
Enquanto esperava, ligou em um canal de notícias no HoloNet. A sua
pequena tela de vídeo na cabine do piloto mostrou imagens das negociações
de paz em Alderaan. Ele havia se esquecido deles. Desde a reunião, a
guerra entre o Império e a República havia se tornado pouco mais do que
um ruído de fundo para ele. Sabia que o Esquadrão Havoc tinha sido bem
sucedido em Alderaan, mas não muito mais que isso.
Imagens da delegação Sith entrando no prédio do conselho encheram a
tela, comentários, depois imagens da delegação Jedi fazendo o mesmo. Ele
pensou ter visto um rosto familiar entre os Jedi.
— Congele a imagem e amplie à direita.
A tela de vídeo fez o que ele ordenou e lá estava, a Aryn Leneer. Ela
ainda usava o cabelo comprido cor de areia solto, ainda tinha os mesmos
olhos verdes, a mesma postura curvada, como se estivesse se preparando
para uma tempestade.
O que era verdade, supôs Zeerid, dada a avidez com que ela sentia as
emoções das pessoas à sua volta.
Não a via há anos. Eles se tornaram amigos durante os meses em que
serviram juntos em Balmorra. Sabia que ela podia voar e lutar muito bem.
Ele respeitava isso. E porque ele lutou muito bem e voou ainda melhor, ele
pensou que ela o respeitava. Ela nunca bebia com Zeerid e os comandos,
mas sempre ia pra a cantina com eles. Apenas os observando.
Zeerid presumira que ela os acompanhava porque gostava da
temperatura emocional dos comandos quando bebiam, o alívio e alegria por
terem sobrevivido a outra missão. Sempre teve uma franqueza no rosto,
uma expressão nos olhos que dizia que ela entendia. A franqueza dela atraía
os soldados bêbados como doces, moscas ao mel néctar. Eles queriam olhar
nos olhos dela e confessar algo. Zeerid imaginou que devia ser exaustivo
pra ela. E ainda assim sempre esteva lá para eles. Toda as vezes.
O vídeo cortou para uma cena de Coruscant e um comentarista disse:
— Até hoje, quando um ataque...
A unidade de comunicação da nave soou o recebimento de um sinal e
Zeerid desligou o vídeo. Esperando o controle planetário, ele a alcançou,
mas parou no meio do caminho quando percebeu que era o canal no
subespaço criptografado que usava com A Permuta.
Ele considerou ignorar a saudação. Falar com Oren tão perto de Vulta
prejudicaria o seu reencontro com Arra. Ele não queria negócios em sua
mente quando visse a sua filha.
O piscar constante e vermelho da saudação continuou.
Ele cedeu, praguejou e apertou o botão para abrir o canal, com tanta
força que quebrou o plastóide. Ele ficou tenso pelo que iria ouvir.
— O que? — ele esbravejou.
Por um momento, Oren não disse nada, então:
— Se a análise de voz não mostrasse que era você falando, poderia ter
presumido que tinha saudado outra pessoa.
— Eu tenho outra coisa em mente agora.
— Oh? — Oren fez uma pausa, como se esperasse uma explicação mais
completa. Zeerid não ofereceu nenhuma, então Oren continuou:
— Como eu já aludi, eu tenho algo urgente. A entrega requer alguém com
habilidades de pilotagem extraordinárias. Alguém como você, Z-man.
— Eu acabei de terminar um trabalho, Oren. Eu preciso de tempo...
— Este trabalho vai deixar a sua ficha limpa.
Zeerid se endireitou na cadeira, sem saber se tinha ouvido direito.
— Diga novamente?
— Você me ouviu.
Zeerid o tinha ouvido; ele simplesmente não conseguia acreditar. Poucas
horas atrás, ele imaginou que nunca poderia se livrar do A Permuta. Agora
Oren estava oferecendo a ele exatamente isso. Ele tentou manter a voz
firme.
— Isso é só uma entrega?
— Isto é uma entrega.
— Qual é a carga? — Ele tentou não engasgar com a próxima palavra.
— Especiaria?
— Sim.
— Para onde vai?
Ele percebeu que devia estar indo para algum buraco perigosamente
quente de um planeta para Oren ter oferecido para saldar a dívida dele.
— Coruscant. — Oren pronunciou o nome com relutância, como se
esperasse que Zeerid empacasse.
— E daí?
— Você ouviu o que eu disse?
— Eu ouvi. Você disse 'Coruscant'. Então, qual é a pegadinha?
— A pegadinha?
— Coruscant não é exatamente um ZA quente. São férias em
comparação com o que estou acostumado. Então, qual é a pegadinha?
— Você não tem assistido o holo?
— Eu estive no hiperespaço.
— Claro. — Oren riu. — O Império atacou Coruscant.
Zeerid se aproximou, mais uma vez sem certeza de ter ouvido direito. A
declaração simples de Oren e o tom neutro com que ele a proferiu não
pareciam ter os meios para transmitir o significado das palavras que Zeerid
pensou ter ouvido.
— Repita? Havia negociações de paz ocorrendo em Alderaan. Eu acabei
de vê-los no holo. O que você quer dizer com ‘atacado’?
— Eu quero dizer atacado. Uma frota Imperial está em órbita ao redor
do planeta. As forças Imperiais ocupam Coruscant. Ninguém sabe muito
mais porque o Império está bloqueando as comunicações para fora de
Coruscant.
Os pensamentos de Zeerid ainda não conseguiam envolver a ideia.
Como o Império poderia ter atacado qualquer um dos Mundos Centrais,
quanto mais a capital?
— Como poderiam ter superado a grade de defesa? Não faz sentido.
— Eu não sei nem me importo com os detalhes, Z-man. Embora conclua
que foi um ataque surpresa que ocorreu bem no meio das negociações de
paz. Sem mais nada, pode-se apreciar a ousadia do Império. Você lutou
contra o Império, não é, Z-man?
Zeerid assentiu com a cabeça. Ele trocou tiros com as forças Imperiais
muitas vezes, originalmente como um comando do exército da República,
então como... o que quer que ele fosse agora. Por um momento, teve a ideia
ridícula de que deveria se reintegrar ao exército. Ele se repreendeu pela
estupidez.
— Você pode pegar o resto no holo, — disse Oren. — Enquanto isso,
comece a planejar essa entrega.
A entrega. Certo.
— Você quer que eu pilote uma nave cheia de especiarias em um mundo
recém-conquistado e ocupado pelo Império? Você disse que eles
bloquearam o tráfego de comunicação. Eles terão um tráfego orbital
mínimo também. Eu não posso me esgueirar por isso, mesmo voando no
escuro. Eles vão me explodir no espaço.
— Você encontrará uma maneira.
— Eu estou aberto a sugestões.
— Eu tenho fé que você vai descobrir alguma coisa.
— Pelo menos nós devemos esperar até que as coisas se resolvam. O
Império provavelmente permitirá que o tráfego regular de naves comerciais
seja retomado em cerca de uma semana. Nesse ponto...
— Isso não vai funcionar.
— Tem que funcionar.
— Não. A carga precisa se mover imediatamente.
Zeerid estava começando a gostar cada vez menos das coisas. O seu
olfato detectou algo que estava apodrecendo.
— Por quê?
— Você não precisa saber.
— Eu preciso se eu estiver transportando. O que eu ainda nem decidi.
Oren ficou em silêncio por um momento. Então...
— Isto é a Engespeciaria.
Zeerid soltou um suspiro. Não admira que o trabalho deixaria a sua ficha
limpa. A especiaria produzida por quimioterapia não era apenas
especialmente viciante, mas também alterava a química do cérebro dos
usuários, de modo que apenas mais da mesma "marca" de Engespeciaria
poderia satisfazer suas necessidades. Mera especiaria não serviria. Os
revendedores chamavam a Engespeciaria de "a coleira" porque isso lhes
dava o monopólio sobre os seus usuários. Eles podiam cobrar um prêmio, e
o faziam.
— Nós temos um comprador em Coruscant cujo suprimento está
acabando. Ele precisa que essa remessa chegue em Coruscant rapidamente,
com Império ou sem Império. Você sabe o motivo.
Zeerid sabia por quê.
— Porque se os usuários não conseguirem obter a sua marca da
Engespeciaria, entrarão em processo de descontinuação. E se passarem por
isso...
— Eles quebram o vício da marca e o nosso comprador perde o mercado
dele. A preocupação dele com isso é grande, compreensivelmente.
— O que significa que A Permuta deu um nome a seu preço.
— O que funciona bem para você, Z-man. Não soe tão desdenhoso.
Zeerid mordeu o canto do lábio. Ele se sentiu um pouco nauseado. Por
um lado, poderia ficar livre apenas com esta entrega. Pelo outro, tinha visto
uma cova da Engespeciaria em Balmorra uma vez, enquanto servia no
exército. Não era bonito.
— Não, — disse Zeerid. Para se fortalecer, olhou através da canopi da
cabine para Vulta, onde a sua filha morava, e balançou a cabeça. — Eu não
posso fazer isso. Especiaria é ruim o suficiente. Engespeciaria é demais. Eu
vou conseguir a minha saída disso de outra maneira.
A voz de Oren ficou dura.
— Não, você não vai. Você pode morrer tentando fazer essa entrega, ou
pode morrer não fazendo essa entrega. Você entende o que quero dizer?
Zeerid rangeu os dentes.
— Sim. Eu entendo.
— Eu estou feliz. Olhe isto deste modo. Se você fizer a entrega, você
estará quites com A Permuta. Talvez até vá embora, hein? Se não fizer a
entrega, está morto e quem se importa?
Oren riu da sua própria sabedoria, e Zeerid não desejou nada mais do
que sufocar o bastardo.
— Então eu preciso de mais, — disse Zeerid. Se ele ia se sujar, ele
queria créditos suficientes para comprar um chuveiro para a sua
consciência. — Não apenas uma ficha limpa. Quero duzentos mil créditos
além de liquidar a dívida e quero cem deles pagos antes de pousar em Vulta,
o que significa que você tem um quarto de hora.
— Z-man...
— Isso não é negociável.
— Você precisa de dinheiro para jogar, hein?
— Algo parecido.
— Muito bem. Feito. Os primeiros cem irão cair na sua conta antes de
você tocar no solo.
Zeerid mordeu o lábio de raiva. Ele deveria ter pedido mais.
— Quando eu vou?
— A carga está a caminho de Vulta agora. E quando eu disser que é hora
de ir, você mexe o rabo.
— Bem. — Zeerid respirou fundo. — Você terminou de falar, Oren?
— Terminei.
— Então eu tenho mais uma coisa.
— O que é isso?
— Quanto mais eu te conheço, mais eu quero atirar na sua cara. Só pra
ouvir isso de mim pelo menos uma vez. Com duzentos mil ou sem duzentos
mil.
— É por isso que eu gosto de você, Z-man, — disse Oren, — Desça a
sua nave com nome de Anã Vermelha e siga as instruções de atracação. Eu
entrarei em contato com você quando a carga estiver pronta.
— Você vai carregar a Fatman ou vou voar em outra coisa?
— Não sei ainda. Provavelmente vamos carregar a Fatman da maneira
usual, um droide de manutenção modificado. Você saberá quando eu
souber.
— Se não for a Fatman, certifique-se de que é outra coisa rápida.
— Entrarei em contato.
— Tudo bem, — disse Zeerid, embora não estivesse bem. Ele fechou o
canal, recostou-se na cadeira e olhou para o espaço.
MESMO DE LONGE, Vrath foi capaz de ouvir através das paredes sintetizadoras
da estação de comunicação. Quando a ligação terminou, tinha um nome
para o piloto, era Zeerid, e os nomes de pessoas com quem o piloto parecia
se importar, Nat e Arra.
— Pra onde, senhor?
— Parque Karson, eventualmente, — disse Vrath. — Mas, por enquanto,
siga as minhas instruções com precisão.
— Sim, senhor.
Zeerid tinha mostrado discrição ao telefonar pra Nat de uma estação de
comunicações pública, por isso Vrath esperava que tomasse uma rota
sinuosa, talvez mudar de veículo algumas vezes. Ele se instalou para uma
longa viagem.
Mesmo se o perdesse, sabia como encontrá-lo novamente.
ZEERID ESTUDOU OS ROSTOS das pessoas ao seu redor, procurando por mais
alguém que pudesse estar observando. Rostos borrados um no outro. Ele
sentiu como se os seus perseguidores estivessem respirando em seu
pescoço. Incapaz de se conter, virou-se e olhou para trás.
Através do mar de rostos, vislumbrou os dois homens que Aryn havia
descrito no cassino. Ambos o viram olhando pra eles.
Ele desviou o olhar, xingando a si mesmo.
— Eles sabem que nós sabemos, — ele disse.
Aryn estava olhando para uma tela de vídeo fixada na parede que
mostrava uma notícia sobre as negociações em Alderaan.
UM AVANÇO NAS NEGOCIAÇÕES? dizia a legenda.
Um homem humano, seu cabelo escuro penteado para trás sobre um
rosto enrugado, estava falando. Zeerid não o reconheceu. A etiqueta abaixo
da sua imagem o chamava de LORDE BARAS.
— Você ouviu o que eu disse, Aryn?
Ela afastou os olhos da tela com dificuldade.
— Eu te ouvi. O que você acha que eles querem?
Zeerid tinha feito muitos inimigos desde que assinou com A Permuta,
mas percebeu que aqueles que os perseguiam queriam a Engespeciaria.
— Eles querem a carga que estamos levando para Coruscant, — ele
disse.
Eles pularam em uma esteira automática que os acelerou através do
porto. Através das janelas transparaço ao longo de uma parede, eles
puderam ver cargueiros e outras pequenas naves estelares estacionadas nas
plataformas de pouso do porto. droides guindaste carregavam e
descarregavam cargas.
Ele usou o reflexo no transparaço para determinar se os homens ainda
estavam atrás deles. Eles estavam. Mas ele ainda não sabia se havia mais ou
apenas os dois.
— Eles acabaram de entrar na esteira automática atrás de nós, — disse
Zeerid, enquanto os homens os seguiam pela a esteira.
— Diga-me o que é, Zeerid. A carga.
Ele não hesitou, embora não tenha olhado para ela ao responder. Em vez
disso, ele olhou para seu próprio reflexo no transparaço.
— Engespeciaria.
Ela não disse nada por um tempo, e ele não gostou da importância do
silêncio.
— Como você começou a transportar Engespeciaria? — ela perguntou
finalmente.
Ele não gostou ainda mais da acusação que ouviu no tom dela e se virou
para encará-la.
— Como você se desentendeu com a Ordem e saiu procurando por
assassinato? É uma longa história, não é? Bem, isso também é.
Ela olhou pro rosto dele, aqueles olhos verdes abertos. Ele viu mais dor
neles do que ele nunca tinha visto antes.
— Você está certo. Sinto muito, Zeerid. Eu não quis dizer...
— Não estou orgulhoso disso, Aryn.
— Eu sei.
Ela saberia. Ela sentiria a sua culpa, a sua ambivalência.
— Fazemos o que fazemos, — ela disse.
— Nós fazemos o que devemos.
— Certo, — ela disse. — O que devemos.
Eles trocaram de esteiras, subiram um andar em uma escada rolante. Ele
continuou a observar os dois homens atrás deles. Eles não fizeram nenhum
movimento para diminuir a distância entre eles.
— O que eles estão esperando? — Aryn perguntou.
Zeerid tinha se perguntado a mesma coisa, mas a compreensão logo
surgiu.
— Eles não sabem se sei onde está a especiaria.
À frente, viu a plataforma de pouso onde a Fatman, com o nome de Anã
Vermelha, estava atracada. Um longo carrinho de carga passou. Um pelotão
de droides de manutenção caminhou perto dele. Um homem e uma mulher à
frente dele acenaram um para o outro, sorriram, se abraçaram e seguiram
em frente.
Outros dois homens próximos chamaram a atenção dele. Um estava
sentado em uma cadeira perto da porta que dava para a plataforma de
pouso. Um computador portátil estava aberto em seu colo, mas não prestava
atenção. O segundo ficava de frente pra janela de transparaço,
ostensivamente voltado para a plataforma de pouso. Zeerid o imaginou
observando-os se aproximando pelo reflexo.
— Você sabe onde está? — Aryn perguntou.
— Está na minha nave, — ele disse, — A Permuta usa droides de
manutenção roubados para colocar a carga ilícita em suas mulas.
ARYN NÃO PRECISOU consultar o visor do seu escâner para saber que as naves
do comboio estavam se afastando para dar ao cruzador e às fragatas um
campo de tiro livre. Zeerid não disse nada, apenas segurou o manche,
mexeu no painel de instrumentos e ocasionalmente consultou a leitura do
escâner. A Fatman fez uma curva fechada a direita, saltou para longe, para
o cargueiro próximo e cobriu o pequeno abismo de espaço vazio entre ele e
a próxima nave. Zeerid estava pulando ao longo do comboio, enquanto
tentava levar a Fatman para mais perto do planeta.
Mas o comboio estava começando a se separar. Os cargueiros e fragatas
se afastaram uma do outra. E acima de todos erguia-se o enorme volume do
cruzador Imperial, esperando pela sua chance de atirar.
— Estou ficando sem naves, Aryn. Temos que correr para a atmosfera.
Diante deles, a esfera brilhante do lado noturno de Coruscant pairava na
noite profunda do espaço. O sol apareceu atrás do planeta e a linha do
horizonte de Coruscant iluminou-se como se estivesse pegando fogo.
— Faça isso, — ela disse. — Não, espere. Eles estão nos saudando. Uma
holo.
— Você está brincando?
Aryn balançou a cabeça e Zeerid ativou o pequeno transmissor montado
no seu painel de instrumentos.
Um holograma de uma ponte Imperial tomou forma. A tripulação
sentada em suas estações, com as suas imagens nítidas na resolução do
holograma. Dois homens humanos estavam em primeiro plano, um era um
ruivo magro com uniforme de oficial da marinha, o outro era uma figura
alta e volumosa de um homem que usava uma capa preta pesada e cujos
olhos pareciam brilhar na luz da instrumentação da ponte. Os olhos
estudaram Zeerid com tal intensidade que o incomodou até mesmo através
do holograma. Um respirador estava agarrado ao rosto do homem, cobrindo
a boca dele. A sua pele pálida parecia cinza como a de um cadáver.
— Desligue completamente, — disse o homem alto, a sua voz tão crua
quanto uma ferida aberta. — Você tem cinco segundos.
Aryn se aproximou para ver melhor o holograma. Os olhos do homem
moveram-se de Zeerid até ela e mesmo à distância sentiu o poder dele. Ela
o reconheceu. Ele lutou na Batalha de Alderaan.
— Ele é um Sith, — disse Aryn. — Darth Malgus.
Um movimento atrás de Malgus chamou a atenção de Aryn, um terceiro
homem, baixo, braços cruzados sobre o peito. Ela e o Zeerid quase bateram
as cabeças ao olhar para o holo. Aryn o reconheceu. Zeerid também, ao que
parecia.
— Esse é o homem que nos emboscou no espaçoporto, — disse Zeerid.
— Vrath Xizor.
— Ele os alertou de que estávamos chegando.
Zeerid olhou para o holo e depois recostou-se com os olhos arregalados.
— Droga, Aryn. Esse é o mesmo homem que eu vi no Parque Karson
em Vulta.
— Onde?
— Ele sabe que eu tenho uma filha.
Malgus encarou o holotransmissor, agora escuro, no qual havia se
comunicado com o cargueiro, o cargueiro que tinha uma Jedi a bordo.
Dividido, ele pensou em Eleena, em Lorde Adraas, em Angral, no
Império imperfeito que estava se formando diante dos seus olhos e como
ficava aquém do Império como deveria ser, um Império congruente com as
necessidades da Força.
— Eles estarão longe do comboio em breve, Comandante Jard, — disse
o tenente Makk, o oficial de armas da ponte.
Malgus observou o cargueiro dançar entre as naves do comboio que
agora se separavam, tentando abraçar todas as naves que pudesse enquanto
saltava em direção a Coruscant.
Pensou que deveria derrubá-lo e esperar que a morte de uma Jedi em
Coruscant destruísse as negociações de paz e reiniciasse a guerra.
Deveria fazer isso.
Sabia que deveria.
— Acho que ele vai tentar seguir para o planeta, — disse Jard. — Por
que ele simplesmente não salta?
Os membros da tripulação da ponte balançaram a cabeça com a tolice do
piloto. Se fosse sábio, teria pulado no hiperespaço e fugido.
— A sua necessidade de chegar ao planeta supera o risco de ser abatido,
— disse Malgus, intrigado.
— Tudo isso por especiarias? — Jard disse.
— Talvez seja a necessidade da Jedi que os impulsiona.
— Curioso, — observou Jard.
— Concordo, — disse Malgus. Com dificuldade, deixou a curiosidade
assassinar a tentação. — Aproxime-se o suficiente para usar o feixe trator.
Há mais nisso do que um mero transportador de especiaria.
— Sim, meu Lorde.
Malgus bateu no fone de ouvido e reabriu o canal com Darth Angral.
— O que está acontecendo aí? — Angral perguntou, com o seu tom
perturbado.
Malgus ofereceu uma meia-verdade.
— Um transportador de especiaria está tentando passar pelo bloqueio.
— Ah, entendo. — Angral fez uma pausa e disse:
— Recebi um comunicado da nossa delegação em Alderaan.
A simples menção da delegação causou a Malgus um lampejo de raiva,
um lampejo que quase o levou a reconsiderar a sua decisão de capturar, em
vez de destruir, o cargueiro.
Angral continuou:
— Um membro da delegação Jedi deixou Alderaan sem preencher um
plano de voo e sem relatar a sua intenção a seus superiores. Os Jedi têm
motivos para acreditar que ela pode estar vindo para Coruscant. As suas
atividades não são autorizadas pelo Conselho Jedi e não deve ser tratada de
forma diferente do transportador de especiaria que você está perseguindo
agora.
— Ela? — Malgus perguntou, olhando o cargueiro na tela, lembrando-se
da mulher que vira na tela. — Esse Jedi renegado é uma mulher?
— Uma mulher humana, sim. Aryn Leneer. as ações dela, quaisquer que
sejam, não devem ser atribuídas ao Conselho Jedi ou à República. O
Imperador não quer que nada afete as negociações em andamento. Você
entende, Darth Malgus?
Malgus entendeu muito bem.
— A delegação Jedi contou a Lorde Baras sobre esta Jedi renegada?
Eles sacrificariam um dos seus para garantir que as negociações
continuassem sem problemas?
— Mestra Dar'nala em pessoa, pelo que entendi.
Malgus balançou a cabeça em desgosto. Ele sentiu uma pitada de
simpatia por Aryn Leneer. Como ele, ela havia sido traída por aqueles em
quem acreditava e servia. Claro, o que ela acreditava e servia era herético.
— Se esta Jedi tentar alcançar Coruscant e ela cair em suas mãos, você
deve destruí-la. Eu fui claro, Darth Malgus?
— Sim, meu Lorde.
O cargueiro se libertou do comboio para o espaço aberto e voou em um
caminho evasivo em direção a Coruscant. Talvez o piloto tenha pensado em
escapar na atmosfera do planeta.
— Engate o raio trator, — disse o Comandante Jard, e Malgus não
contestou a ordem.
Ele cortou a conexão com Angral.
Ele desobedeceu a uma ordem, deu o primeiro passo em um caminho
que nunca havia trilhado antes. Ele ainda não tinha certeza do porquê.
NÃO HAVIA NADA ENTRE A Fatman e Coruscant a não ser um espaço aberto, e
isso significava que o fogo estaria chegando. Aryn observou a distância até
a atmosfera do planeta diminuir em seu escâner. Ela se sentou curvada,
preparada contra o fogo de plasma que sabia que logo viria. Achou que eles
poderiam conseguir, até que a Fatman cambaleou e perdeu a metade da sua
velocidade, jogando Aryn e Zeerid para frente em seus assentos.
— O que foi isso? — Aryn disse, verificando o painel de instrumentos.
— Raio trator, — disse Zeerid, e empurrou o manche com força. A
Fatman mergulhou, com o nariz voltado para o planeta, e Aryn pôde ver o
lado noturno de Coruscant, as linhas de luz da paisagem urbana como letras
brilhantes na superfície escura.
A nave não estava acelerando. Alarmes soaram e os motores da Fatman
gritaram, lutando contra o raio trator, mas decisivamente perdendo.
O cruzador começou a puxá-los.
Amaldiçoando, Zeerid desligou os motores e o movimento reverso da
Fatman aumentou visivelmente. Através da canopi, Aryn observou as
estrelas distantes passarem por eles ao contrário. Ela imaginou a abertura da
baia de pouso do cruzador conforme se aproximavam, como uma boca que
iria mastigá-los.
Ela clareou a sua mente, pensou em Mestre Zallow, e se preparou para
enfrentar ao Lorde Sith e qualquer outra coisa que pudesse encontrar no
cruzador. Ela enfiou a mão no bolso, traçou os dedos sobre a única pedra
que trouxera de Alderaan, a pedra Nautolana da pulseira calmante que
Mestre Zallow tinha dado a ela. O toque fresco, suave disso a ajudou a
limpar a sua mente.
— Eu sinto muito, Zeerid, — ela disse.
— Eu estava vindo de qualquer maneira, Aryn. E você não me pegou.
Eu peguei você. E de qualquer maneira, não se desculpe ainda. — As mãos
dele voaram sobre o painel de instrumentos. — Nenhum raio trator Imperial
vai segurar a minha nave. Eu tenho que voltar para Vulta e para a minha
filha.
Ele aumentou a potência dos motores, embora ainda não os tivesse
acionado. A nave vibrou enquanto Zeerid aumentava a potência e segurava
um pouco antes dos coletores de troca, um rio de energia se acumulando
atrás de uma represa.
— O que você vai fazer? — Aryn perguntou, embora suspeitasse que
sabia.
— Tirando essa rolha da garrafa, — ele disse, e desviou mais potência
para os motores. Ele fez como se estivesse sacudindo uma garrafa de água
com gás. — Prenda-se com o cinto de segurança, Aryn. Não apenas na
cintura. Todos os cinco pontos.
Aryn fez isso.
— Você poderia rasgar a nave ao meio, — ela disse. — Ou os motores
podem explodir.
Ele assentiu.
— Ou podemos nos soltar. Mas para que isso funcione, preciso estar
oblíquo para arrancar no momento correto. — Ele verificou o escâner. —
Você não é tão grande, — ele disse ao cruzador.
O seu tom uniforme e mãos firmes não surpreenderam Aryn. Ele parecia
prosperar sob estresse. Ele teria sido um Jedi decente, ela imaginou.
Ela verificou a distância entre o cruzador e Fatman, a velocidade com
que o raio os puxava.
— Você tem cinco segundos, — ela disse.
— Eu sei.
— Quatro.
— Você acredita que isso é útil?
— Dois.
Ele apertou outra série de teclas e os motores zumbiram tão alto que
sobrecarregaram o alarme.
— Um segundo, — ela disse.
Em sua mente, imaginou a Fatman se partindo em dois, imaginou a ela e
o Zeerid perecendo no vácuo, a visão da morte deles e partes da Fatman em
chamas como pirotecnias enquanto abriam caminho na atmosfera de
Coruscant.
— E... lá vamos nós! — Zeerid disse.
Ele girou o manche para a esquerda no mesmo momento em que liberou
toda a potência reprimida dos motores.
O ímpeto repentino interrompeu o movimento para trás da nave e
Fatman resistiu como um rancor furioso. O metal rangeu, gritou sob o
estresse. Em algum lugar dentro da nave, algo explodiu com um silvo.
Por uma fração de segundo, a nave ficou suspensa no espaço,
perfeitamente imóvel, os motores roncando, com a sua potência em conflito
com a força do raio trator. E então a Fatman se soltou e se libertou. A
aceleração repentina pressionou a Aryn e o Zeerid contra o encosto dos seus
assentos.
Alarmes de incêndio soaram. Aryn verificou o painel.
— Incêndios no compartimento do motor, Zeerid.
Ele estava falando consigo mesmo baixinho, manuseando o manche,
observando o escâner, e pode não a ter ouvido.
— Está bem atrás de nós, — disse Zeerid.
— Entre na atmosfera, — ela disse. — Esse cruzador não tem
capacidade de manobra fora do vácuo. Podemos nos meter em algum lugar,
nos perder no trânsito do céu antes que possam despachar um caça.
— Certo, — ele disse, e bateu no manche.
A Fatman baixou o nariz e Coruscant apareceu mais uma vez,
tentadoramente perto.
A fumaça flutuava para dentro da cabine vindo da parte traseira, o cheiro
de eletrônicos queimados.
— Aryn!
— Estou cuidando disso, — ela disse, e começou a se desprender.
— Extintores químicos estão em suportes de parede em todos os
corredores.
ARYN ESTAVA MEIO CAMINHO fora do seu assento quando uma explosão
balançou a nave.A Fatman cambaleou e Aryn caiu no chão.
— Volte ao seu lugar, — disse Zeerid. — As armas naquele
cruzador estão atirando.
Aryn subiu no seu assento e colocou o cinto na cintura. No momento em
que a fivela se encaixou no lugar, Zeerid foi evasivo. Coruscant girou na
tela enquanto a Fatman girava, rodava e mergulhava. As linhas vermelhas
de fogo de plasma iluminaram a escuridão do espaço. Zeerid foi direto para
a direita, para baixo e depois para a esquerda.
A nave adentrou na atmosfera.
— Desviar tudo, exceto os motores e suporte de vida para os defletores
traseiros.
Aryn trabalhou no painel de instrumentos, fazendo o que Zeerid
ordenou.
Outra explosão balançou a nave.
— Os defletores não vão segurar outro tiro, — ela disse.
Zeerid assentiu com a cabeça. As chamas laranja da entrada atmosférica
eram visíveis através da canopi. Disparos de plasma cortavam sobre eles,
abaixo, à esquerda. Zeerid desviou Fatman para a direita enquanto eles
desciam, arriscando uma entrada ruim que poderia queimá-los.
A fumaça na cabine ficou mais espessa.
— Máscaras? — Aryn perguntou, tossindo.
— Ali, — Zeerid respondeu, apontando para o armário da nave entre os
assentos deles. Aryn o abriu, pegou duas máscaras, jogou uma para Zeerid e
puxou a outra para si mesma.
— Você segura o manche, — disse Zeerid enquanto colocava a máscara.
Aryn agarrou o manche do copiloto e continuou a descida em espiral da
Fatman em direção a Coruscant.
Um disparo do cruzador atingiu a nave a estibordo e fez o cargueiro
girar violentamente. Aryn se sentiu tonta, doente.
— Peguei o manche. — disse Zeerid, com a voz abafada pela máscara.
Ele controlou o giro e lançou Fatman quase verticalmente na atmosfera. A
cabine ficou quente. As chamas envolveram a nave. Devem ter parecido
como um cometa cortando o céu.
— Está muito íngreme, — disse Aryn.
— Eu sei, — disse Zeerid. — Mas temos que entrar.
O fogo implacável do cruzador atingiu o cargueiro novamente, o
impacto empurrando-os através da estratosfera. As chamas diminuíram,
desapareceram e Coruscant ficou mais uma vez visível abaixo deles.
— Nós atravessamos, — disse Aryn.
Sem avisar, os motores pararam e a Fatman ficou mole no ar, girando,
caindo, mas sem força.
Zeerid praguejou e bateu com a mão no painel de instrumentos, tentando
freneticamente reacendê-los, mas sem sucesso.
— Eles ainda podem nos atingir aqui, — ele disse, e desafivelou os
cintos. — Eu não tenho nada além de propulsores. Vá para o pod de fuga.
— A carga, Zeerid.
Ele hesitou, finalmente balançou a cabeça e desabotoou as alças dela.
— Esqueça a carga. Vamos.
Ela se levantou e outro raio atingiu Fatman. Uma explosão sacudiu a
parte traseira da nave. Outra. Eles estavam caindo. Alarmes soaram. A nave
estava queimando, caindo do céu. Zeerid bateu no painel de controle para
ativar os propulsores e manter a nave no ar.
Por enquanto, pelo menos.
— ELES ESTÃO MORTOS NO AR, — anunciou o tenente Makk. — À deriva, só
com os propulsores.
O Comandante Jard olhou para Malgus em busca da ordem de morte.
Vrath também observou com interesse.
O cargueiro pairava baixo sobre a atmosfera de Coruscant. Mancava
com os propulsores, deixando um rastro de chamas dos seus motores
iônicos mortos. Eles poderiam laçá-los de volta com o trator.
— Atire neles. — ordenou Malgus.
Com o canto do olho, viu Vrath sorrir e cruzar os braços sobre o peito.
ARYN DESEMBRULHOU e comeu a barra de proteína que Zeerid lhe dera. Ela e
T7 se abrigaram em um dos apartamentos. Ela se sentou em um sofá
empoeirado, com o fedor de um planeta em chamas nas suas narinas.
Repassou em sua mente a morte do Mestre Zallow, o olhar em seu rosto.
Viu mais uma vez as ruínas do Templo e soube que o corpo dele jazia sob a
montanha de escombros.
Lutando contra a crescente onda de luto, adotou uma postura meditativa,
fechou os olhos e tentou se conectar a Força.
— Acalme o coração, acalme a mente, — ela entoou, mas ambos se
mostraram impossíveis.
Eventualmente, sentou-se no sofá e olhou pro céu. A fumaça onipresente
parecia nuvens negras contra as estrelas. De vez em quando, via as luzes de
uma nave à distância e presumia que pertenciam a uma nave de patrulha
Imperial.
Com o tempo, a sua exaustão emocional e física a venceu e ela
adormeceu.
Sonhou com o Mestre Zallow. Ele parou diante dela nas ruínas do
Templo Jedi, com as vestes dele ondulando com a brisa. O rosto de pedra
rachada de Odan-Urr os observava. A boca do Mestre Zallow se moveu,
mas nenhum som emergiu. Parecia estar tentando dizer algo a ela.
— Não consigo ouvir você, Mestre, — ela disse. — O que você está
dizendo?
Ela tentou se aproximar dele, abrindo caminho através dos escombros,
mas quanto mais perto tentava chegar perto, mais ele se afastava.
Finalmente, a frustração dela levou a melhor e gritou:
— Eu não sei o que você quer que eu faça!
Acordou com o coração batendo forte e encontrou T7 parado diante
dela. Ele assobiou uma pergunta.
— Não, estou bem, — ela disse, mas não estava.
Levantou-se e puxou a sua capa com força.
Checou seu cronometro. Zeerid havia partido há mais de uma hora.
Provavelmente demoraria mais uma hora, pelo menos.
O sonho a deixou abalada. Pegou o cabo do sabre de luz do Mestre
Zallow em suas mãos, virou-o e estudou a sua confecção. O seu design
espelhava a personalidade dele: sólido, sem floreios, mas maravilhoso em
sua simplicidade.
Ela queria voltar ao Templo, à cena onde o assassinato ocorrera. Deveria
ter feito Zeerid abaixar a speeder quando terminaram lá antes. Ela queria
caminhar entre as ruínas e comungar com os mortos. Ela prendeu a arma do
Mestre Zallow no seu cinto.
— Eu tenho que ir a um lugar, Tessete. Volto em breve.
Ele assobiou outra pergunta, alarme nos bipes.
— Diga a ele que voltarei. Não há nada com que se preocupar.
Deixou o prédio em ruínas e seguiu para o Templo Jedi.
Havia algo lá para ela. Tinha que haver.
ZEERID VOOU COM a speeder a todo vapor a mais de cem metros de altitude.
Observou uma nave Imperial acelerar no céu das vizinhanças do Templo
Jedi. Pensando em Aryn, sentiu o seu estômago revirar. Voou ainda mais
alto, na esperança de ter um vislumbre dela perto do Templo.
E teve.
Ela e Darth Malgus saltavam pelas ruínas do Templo, com as suas
lâminas piscando, travando, a velocidade do duelo deles tão rápida que
Zeerid mal conseguia acompanhar o movimento deles. Apesar de si mesmo,
achou o combate lindo.
Ele diminuiu a velocidade da speeder e T7 bipou uma pergunta.
Aryn tinha feito o que tinha vindo fazer em Coruscant, estava
enfrentando Malgus.
E Zeerid vira o que Malgus fizera no Templo. O Sith merecia a morte.
Mas se preocupou com os motivos de Aryn. A linha entre buscar justiça
e buscar vingança era tênue, de fato, mas Zeerid podia ver que Aryn havia
superado isso. Queria Malgus morto porque queria vingança. E não haveria
como desfazer isso uma vez que estivesse feito.
Sabia disso melhor do que ninguém.
Tomou uma decisão e pisou no acelerador ao máximo.
ZEERID VOOU BAIXO e rápido pelas ruas de Coruscant, girando em torno dos
edifícios, correndo por becos, descendo para os níveis mais baixos à medida
que avançava. Logo, o céu se perdeu para a densidade de estruturas acima
deles. Estavam em um submundo industrial, uma série de túneis de metal e
duracreto que cobriam todo o planeta.
— Alguém está nos seguindo? — ele perguntou.
Aryn não respondeu. Ela sentou no banco do passageiro e olhou para o
cabo do sabre de luz do seu Mestre como se nunca o tivesse visto antes.
— Aryn! Alguém está nos seguindo?
— Não, — ela respondeu, mas não olhou pra trás.
Zeerid lançou um olhar para trás deles, acima deles, e não viu ninguém.
Ele se deixou respirar mais aliviado.
— Droga, Aryn, o que você estava fazendo?
Ela respondeu em um tom tão mecânico quanto um droide de protocolo.
— O que vim fazer aqui, Zeerid. Enfrentando Malgus. O que você
estava fazendo?
— Ajudando você.
— Eu não precisava de ajuda.
— Não? — Ele olhou para ela do outro lado do compartimento da
speeder.
— Não.
Zeerid pensava de outra forma.
— Por que você entrou na speeder, Aryn?
— Eu não queria que você se machucasse. E eu disse que ajudaria você
a sair do planeta.
— Uma mentira, — disse Zeerid. — Por que não ficar lá e terminar?
Ela desviou o olhar dele enquanto respondia.
— Porque…
— Por que?
— Porque matá-lo não é o suficiente, — ela deixou escapar. — Eu quero
machucá-lo.
Ela enganchou o cabo do sabre de luz do Mestre em seu cinto e olhou
para Zeerid.
— Quero machucá-lo como ele me machucou, como machucou Mestre
Zallow antes de morrer.
— Aryn, não preciso ter empatia para sentir a sua ambivalência.
Vingança...
Ela ergueu a mão para interrompê-lo.
— Eu não quero ouvir isso, Zeerid.
Disse mesmo assim. Devia isso a ela.
— Isso não parece muito com você.
— Não nos vemos há anos, — ela retrucou. — O que você sabe sobre
mim?
O tom afiado o cortou.
— Não tanto quanto pensava, ao que parece.
Por um tempo, o silêncio pairou entre eles como uma parede.
— Eu entrei para A Permuta por um bom motivo, eu achava. Para
proporcionar uma boa vida para a minha filha.
— Zeerid...
— Apenas ouça, Aryn! — Ele respirou fundo para se acalmar. — E
aquela decisão, que parecia tão certa, me levou a contrabandear armas, e
então especiaria. Uma decisão, Aryn. Um ato.
Ela balançou a cabeça.
— Isso não é como isto, Zeerid. Eu sei o que estou fazendo.
Não tinha tanta certeza, mas decidiu não pressionar mais. Mudou de
assunto.
— Eu acho que posso nos levar para o espaçoporto. Há naves lá, da
Bravura e tropas Imperiais, mas eu tenho um plano.
Sem olhar pra ele, alcançou o assento e tocou a mão dele, apenas por um
momento.
— Sinto muito pela maneira como falei, Zeerid. Não estou…
Ele balançou a cabeça.
— Sem desculpas, Aryn. Eu sei que você está sofrendo. Eu só... não
quero que torne as coisas piores para você. Sei como isso pode acontecer.
Você está... vendo claramente?
Ele se sentiu ridículo tentando fornecer uma empatia, de todas as
pessoas, justo uma com percepção de estado emocional.
— Eu estou, — ela respondeu, mas ouviu a incerteza no tom dela.
— No final, você tem que viver com você mesma.
Ele sabia bem o quão difícil isso poderia ser.
— Eu sei, — ela disse. — Eu sei. Agora, qual é o seu plano?
Ele contou a ela.
Ela ouviu com atenção e assentiu com a cabeça quando ele terminou.
— Isso deve funcionar.
— Tessete pode fazer isso?
Aryn acenou com a cabeça e T7 bipou em concordância.
— Vou ajudá-lo a entrar e conseguir uma nave, — disse Aryn. — Mas...
não vou deixar Coruscant.
— Achei que você diria isso, — disse, mas em sua própria mente ainda
não havia admitido a questão. Lutou para saber se deveria contar a ela sobre
a Twi'lek.
— Você está escondendo algo, — ela disse.
Ele esfregou a nuca, dividido.
No final, ele decidiu que lhe devia honestidade e sabia que não poderia
tomar decisões por ela.
— A Twi’lek que vimos no vídeo do Templo...
Ele vacilou. Aryn agarrou o antebraço dele e apertou.
— Diga-me, Zeerid.
Ele engoliu em seco, sentindo-se cúmplice de um crime. Não era tanto o
dano para a Twi'lek que o preocupava, mas sim para Aryn.
— Eu a vi no espaçoporto Liston. Ela estava lá.
As unhas de Aryn afundaram na pele dele, mas pareceu não notar. Ele
deu boas-vindas à dor. Ela olhou pelo para-brisa. Imaginou que podia vê-la
pesando nas opções na escala da mente dela. Tinha esperança de que ela
escolhesse o caminho certo.
— Quero vê-la, — ela disse. — Vamos.
Essa não era a resposta que Zeerid esperava ouvir.
VRATH ACORDOU COM O SOM de uma rajada de blaster, o zumbido agudo das
sirenes e a voz no sistema de alto-falantes do porto dizendo algo sobre um
vazamento de combustível. Ele tinha tomado um comprimido para dormir
para apagá-lo e demorou alguns instantes para a sua cabeça clarear. Ele
tinha adormecido na cabine. Ele checou o seu cronometro. Quase
amanhecendo, ou logo depois. Esteve apagado a maior parte da noite.
Algo bateu no casco da Navalha, um tiro de blaster.
— O que no...
Ele diminui o bloqueio de luz da canopi de transparaço da cabine e
olhou para a plataforma de pouso. O ângulo da Navalha ofereceu-lhe um
campo de visão muito pequeno de forma que viu pouco, apenas parte de
uma das naves Imperiais ancoradas perto dele. Estranhamente, não viu
trabalhadores, soldados Imperiais, nem droides.
Ouviu mais alguns tiros de blaster atrás da nave. Não tinha ideia do que
estava acontecendo e não tinha vontade de descobrir. Ainda não tinha
permissão para deixar Coruscant, mas não deixaria a sua nave na doca no
meio de um tiroteio ou o que quer que estivesse acontecendo lá. Ele
imaginou que poderia simplesmente levar a Navalha para o ar e permanecer
na atmosfera. Sintonizou no tom monótono de informes automático do
espaçoporto no seu comunicador de bordo.
— Um derramamento de substância perigosa ocorreu na baia de pouso
dezesseis-B. Existe um perigo significativo. Por favor, mova-se
rapidamente em direção à saída mais próxima. Derramamento de substância
perigosa...
Na parede perto dele, escritas em grandes letras pretas, estavam as
palavras: BAIA DE POUSO 16-B.
Verificou duas vezes para garantir que a Navalha ainda estava bem
selada. Mas não estava. A porta traseira estava aberta. Ele praguejou. Jurou
que a tinha fechado. Apertou o botão para fechá-la, mas ainda piscava como
não lacrada e aberta. Algo a mantinha aberta ou havia um defeito no
circuito.
Ele teria que fechá-la com o interruptor traseiro ou a carga cairia
enquanto voava. Começou a sequência de lançamento automático da
Navalha, levantou-se e se dirigiu para a parte traseira da nave. No meio do
caminho, percebeu que havia deixado o seu blaster e as suas adagas na
cabine. Ele os tinha tirado quando deu uma cochilada.
Não importa. Não iria precisar deles.
ARYN ABRIU OS OLHOS. Malgus estava de pé sobre ela, com os seus olhos
injetados de sangue fixos no rosto dela. Segurava a Twi'lek, ainda
inconsciente, em seus braços. Também segurava os dois sabres de luz de
Aryn. O seu próprio punho de sabre de luz pendurado no seu cinto.
Ele não a matou. Não tinha ideia do porquê.
Ele a olhou e ela sentiu a ambivalência dele. Estava lutando com algo.
— Pegue-os e vá, — ele disse, e largou os dois sabres de luz dela. Eles
caíram no chão com estrépito. — Pegue a nave. Vou garantir que você tenha
uma passagem segura para longe de Coruscant.
Ela não se mexeu. Os sabres de luz estavam a centímetros da sua mão.
Os olhos dele se estreitaram.
— A menos que a sua necessidade de vingar o seu Mestre exija que você
morra, você deve fazer o que eu mando, Jedi.
Ela se levantou com uma das mãos e pegou os dois sabres de luz com a
outra. O metal estava frio em sua palma.
— Por quê?
— Porque você a poupou, — ele disse, a sua voz suave atrás do
respirador. — Se a nossa situação fosse inversa, eu não teria feito isso.
Porque a sua presença me fez perceber algo que deveria saber há muito
tempo.
Aryn se levantou, ainda cautelosa, e prendeu os sabres de luz em seu
cinto.
— Estaremos deixando Coruscant, você sabe, — ele disse, quase com
tristeza. — O Império, quero dizer. Resta assinar o tratado. Então teremos
paz. Isso te agrada?
— Se me agrada? — Ela ainda não entendia. Fez um inventário dos seus
ferimentos. Muitos hematomas e lacerações. Nada quebrado. Fez um
inventário da sua alma. Nada quebrado ali também.
Ela olhou para o rosto de Malgus. Ela não sabia o que dizer.
— Talvez nos encontremos novamente, em outras circunstâncias.
— Se nos encontrarmos novamente, Aryn Leneer, — apontou Malgus.
— Vou te matar como fiz com o seu Mestre. Não confunda as minhas ações
com misericórdia. Estou pagando uma dívida. Quando você sair daqui,
estará pago.
Aryn molhou os lábios, olhou-o no rosto e assentiu.
— Você sabe que a sua própria Ordem a traiu, Jedi? — ele perguntou. —
Eles nos informaram que você poderia estar vindo para cá.
Aryn não ficou surpresa, mas a traição ainda doía.
— Eu não pertenço mais a uma Ordem, — ela disse, com a garganta
apertada.
Ele riu, o som de uma tosse seca.
— Então, temos mais em comum do que a raiva, — ele disse. — Agora
vá.
Ela não entendia e se resignou a nunca entender. Virou-se, ainda sem
acreditar, e se dirigiu para a nave. T7 emergiu de um esconderijo perto da
nave e bipou uma pergunta a qual não tinha resposta. Juntos, embarcaram
no transporte espacial. Quando alcançou a cabine e se sentou, percebeu que
estava tremendo.
— Acalme o coração, acalme a mente, — ela disse, e se sentiu mais
calma.
Exalando, acionou os propulsores. Ela não tinha ideia para onde iria.
MALGUS ASSISTIU A NAVE pilotada por Aryn Leneer subir com os seus
propulsores. Ele chamou Jard no comunicador.
— Uma nave está decolando de Liston, — ele disse. — Também está
liberada para deixar o espaço de Coruscant.
— Sim, meu Lorde. — respondeu Jard.
Malgus poderia ter quebrado a sua palavra com a Jedi, poderia ter
atirado em Aryn Leneer no céu. Mas não quis. Ele cumpria as suas
promessas.
Mas percebeu, mais do que nunca, que os Jedi eram muito perigosos pra
ele permitir que existissem. Eles eram para os Sith o que Eleena era pra ele,
um exemplo de paz, de conforto e, portanto, uma tentação de fraqueza.
Angral não via isso. O Imperador não via isso. Mas Malgus via. E sabia o
que deveria fazer. Ele devia destruir os Jedi completamente.
Ajoelhou-se ao lado de Eleena, aninhando a cabeça dela em seu braço
esquerdo. Estudou o rosto dela, a sua simetria, a linha da sua mandíbula, os
olhos fundos, o nariz perfeitamente formado. Lembrou-se da primeira vez
que a viu, uma escrava intimidada e espancada que mal saíra da
adolescência. Ele matou o dono dela pela brutalidade dele, levou-a para a
sua casa, a treinou em combate. Ela tinha sido a sua companheira, sua
amante, sua consciência desde então.
Os olhos dela se abriram, focalizados. Ela sorriu.
— Veradun, você é o meu salvador.
— Sim, — ele disse.
— Onde está a mulher? — Eleena perguntou, — a Jedi?
— Ela se foi. Ela nunca mais vai te machucar novamente.
Ela inclinou a cabeça para trás no braço dele, fechou os olhos e suspirou
contente.
— Eu sabia que você me amava.
— Eu amo, — ele reconheceu, e o sorriso dela se alargou. Ele sentiu as
lágrimas se formando em seus olhos, a sua fraqueza se manifestou.
Ela abriu os olhos, viu as lágrimas, estendeu o braço para colocar a mão
na bochecha dele.
— O que há de errado, meu amor?
— Que eu te amo é o que está errado, Eleena.
— Veradun...
Ele se preparou, levantou-se, acendeu o seu sabre de luz e enfiou-o no
coração dela.
Os olhos dela se arregalaram, e não deixaram o rosto dele, o perfuraram.
A sua boca se abriu em um suspiro de surpresa. Ela parecia querer dizer
algo, mas nenhum som saiu da sua boca.
E então tudo acabou e ela se foi.
Desativou a sua lâmina.
Não podia mais se dar ao luxo de ter uma consciência ou fraqueza, não
se fosse pra fazer o que deveria ser feito. Poderia servir apenas a um mestre.
Ficou sobre o corpo dela até que as suas lágrimas secassem.
Decidiu que nunca mais derramaria outra. Teve que destruir o que
amava. E sabia que teria que fazer isso de novo. Primeiro os Jedi, então...
Atrás dele, Kerse e os seus soldados estavam preocupados nas portas do
compartimento de desembarque, tentando abrir caminho para entrar.
Malgus se ajoelhou e pegou o corpo dela inerte. Ela parecia leve como
gaze em seus braços. Ele lhe daria um funeral com honra, e então
começaria.
A sua visão em Korriban havia mostrado uma galáxia em chamas. Mas
não era apenas a República que exigia a limpeza pelo fogo.
A noite e a raiva controlada envolveram Malgus. A sua raiva ardia sempre
agora, e os seus pensamentos refletiam o ar caliginoso. Ele pegou uma nave
em segredo nas Regiões Desconhecidas, onde estava estacionada no
momento, e fez o seu caminho para o planeta. Ninguém sabia que tinha
vindo.
Ele se concentrou em manter a sua assinatura na Força suprimida. Não
queria que ninguém soubesse da sua presença prematuramente.
Um raio da lua cortou uma fenda estreita no céu escuro, pintando tudo
em tons de cinza e preto.
A parede de pedra do complexo, com oito metros de altura, ergueu-se
diante dele, a sua superfície áspera e cheia de buracos como o semblante de
Malgus. Recorrendo à Força, deu um salto que o carregou para cima e por
cima da parede. Ele pousou em um jardim bem cuidado. Árvores anãs
esculpidas e arbustos lançavam sombras estranhas e malformadas ao luar. O
som suave de uma fonte misturado com o zumbido noturno dos insetos.
Malgus se moveu pelo jardim, uma escuridão mais profunda entre as
sombras, com as suas botas macias na grama.
Algumas luzes iluminaram as janelas da mansão retangular que ficava
no centro do terreno. A mansão, o jardim, a fonte, tudo isso, parecia
semelhante a algum mundo brando na República, algum santuário Jedi
decadente onde os chamados estudiosos da Força ponderavam a paz e
buscavam tranquilidade.
Malgus sabia que era loucura. Os impérios e os homens que governavam
impérios não podiam ficar aguçados quando rodeados de conforto, de paz.
Por amor.
Vozes baixas soaram à frente, quase inaudíveis na tranquilidade. Malgus
não diminuiu a velocidade e não fez nenhuma tentativa de esconder a sua
aproximação enquanto emergia da escuridão do jardim.
Eles o viram imediatamente, dois soldados Imperiais com meia
armadura. Eles nivelaram os seus rifles blaster.
— Quem no...
Ele recorreu a Força, gesticulou como se estivesse espantando insetos, e
mandou os dois soldados voando contra a parede da mansão com força
suficiente para quebrar os ossos. Ambos caíram no chão, imóveis. Os olhos
negros de seus capacetes olhavam para Malgus.
Caminhou entre os corpos deles e através das portas deslizantes da
mansão, lembrando-se do seu ataque ao Templo Jedi em Coruscant.
Exceto que Eleena o tinha acompanhado. Parecia uma vida atrás.
Pensar em Eleena soprou oxigênio nas brasas da sua raiva. Em vida,
Eleena foi o seu ponto fraco, uma ferramenta a ser explorada pelos rivais.
Na morte, ela se tornou a sua força, sua memória a lente da sua raiva.
Residia no olho calmo de uma tempestade de ódio. O poder se agitou ao
redor dele, dentro dele. Não se sentia como se estivesse recorrendo à Força,
usando-a. Sentia como se se tivesse se fundido a Força.
Tinha evoluído. Nada mais dividia a sua lealdade. Servia à Força e
apenas à Força, e a sua compreensão disso aumentava diariamente.
O poder crescente girando em torno dele, vazando pela tampa do seu
controle, tornava a supressão da sua assinatura na Força impossível. De
repente, ele baixou todas as barreiras mentais, deixando que toda a força do
seu poder o envolvesse.
— Adraas! — ele gritou, colocando força suficiente em sua voz para
fazer o teto e as paredes vibrarem. — Adraas!
Caminhou pelas salas e corredores do retiro de Adraas, derrubando ou
destruindo tudo ao seu alcance, mesas antigas, as estatuas bizarras e eróticas
favorecida por Adraas, tudo. Ele deixou a ruína em seu rastro, enquanto
gritava para Adraas se mostrar. Sua voz ecoou pelas paredes.
Dobrou uma esquina para ver um esquadrão de seis soldados Imperiais
em armadura completa, rifles blaster prontos, os três da frente em um joelho
antes dos outros três.
Estavam esperando por ele.
Os seus reflexos intensificados pela Força moviam-se mais rápido do
que os dedos deles no gatilho. Sem diminuir o ritmo, puxou o seu sabre de
luz em sua mão e o ativou quando os blasters dispararam. A linha vermelha
da sua arma girou tão rápido em sua mão que se expandiu em um escudo.
Dois dos tiros dos blasters ricochetearam em sua arma e atingiram o
teto. Desviou os outros quatro de volta para os soldados, colocando buracos
negros em dois peitorais e duas máscaras faciais. Outras duas passadas e
uma investida o trouxeram sobre os dois soldados sobreviventes antes que
pudessem atirar novamente. Ele cortou, girou e cortou novamente, matando
os dois.
Desativou o seu sabre de luz e continuou pela mansão até chegar a um
grande salão central, talvez de quinze metros de largura e vinte e cinco de
comprimento. Colunas decorativas de madeira que sustentavam as varandas
superiores alinhavam-se em seu comprimento em intervalos regulares. Um
par de portas duplas ficava do outro lado do corredor, oposto ao que Malgus
havia entrado.
Lorde Adraas estava parado na porta aberta. Ele usava uma capa preta
sobre a sua elaborada armadura.
— Malgus, — disse Adraas, com a sua voz mostrando surpresa, mas o
seu tom transformando o nome de Malgus em um insulto. — Você estava
nas Regiões Desconhecidas.
— Estou nas Regiões Desconhecidas.
Adraas entendeu a implicação.
— Eu sabia que você viria um dia.
— Então você sabe que estou aqui por você.
Adraas acendeu o seu sabre de luz, tirou a sua capa.
— Sim, por mim. — Ele deu uma risadinha. — Entendo você, Malgus.
Entendo muito bem você.
— Você não entende nada,— Malgus disse, e entrou na sala.
Malgus sentiu o ódio emanando de Adraas, o poder, mas empalidecia em
comparação com a raiva e o ódio turvando em Malgus. Em sua mente, viu o
rosto de Eleena enquanto morria. Isto jogou combustível nas chamas da sua
raiva.
Adraas também entrou na sala.
— Você acha que a sua presença aqui é uma surpresa? Que eu não tenho
previsto isso há muito tempo?
Malgus riu, o som alto vindo do teto alto.
— Você previu isso, mas você não pode detê-lo. Você é uma criança,
Adraas. E esta noite você vai pagar. Angral não está aqui para protegê-lo.
Ninguém está.
Adraas zombou.
— Escondi o meu verdadeiro poder de você, Malgus. É você quem não
vai sair daqui.
— Então me mostre o seu poder, — disse Malgus, zombando.
Adraas rosnou e estendeu a mão esquerda. Raios fortes estalaram dos
seus dedos, enchendo o espaço entre eles.
Malgus interpôs o seu sabre de luz, atraiu o raio pra ele e começou a
caminhar em direção a Adraas. O poder girou em torno da lâmina vermelha,
chiando, estalando, empurrando Malgus, mas ele passou por isso. A pele
das suas mãos empolou, mas Malgus suportou a dor, pagou como o preço
pela sua causa.
Enquanto caminhava, girou a sua lâmina em um arco acima da sua
cabeça, reunindo o raio e, em seguida, atirou-o de volta em Adraas. O qual
bateu no peito dele, levantou-o do chão e o jogou com força contra o poço
distante.
— Esse é o seu poder? — Malgus perguntou, ainda avançando, envolto
em raiva. — Isso é o que você queria me mostrar?
Adraas ficou de pé, com a sua armadura carbonizada e fumegante. Um
rosnado dividiu o seu rosto.
Malgus acelerou o passo e transformou a caminhada em um ataque.
Com as suas botas batendo no chão de madeira do corredor. Não se
preocupou com sutileza. Desabafou a sua raiva em um rugido contínuo
enquanto desferia uma série de golpes furiosos: um golpe direto que Adraas
defendeu; uma estocada baixa que Adraas mal contornou; um chute lateral
que atingiu o lado de Adraas, quebrou costelas e arremessou Adraas
completamente pelo do eixo estreito do corredor. Ele colidiu com uma
coluna e o impacto a partiu como um raio em uma árvore.
Adraas rosnou enquanto se levantava. O poder se reuniu ao redor dele,
uma tempestade sombria de energia, e saltou em Malgus, com a sua lâmina
erguida.
Malgus zombou, gesticulou, agarrou Adraas em seu poder e puxou-o do
ar no ápice do salto dele.
Adraas caiu no chão, com a sua respiração ofegante. Ficou de quatro, em
seguida, de pé, favorecendo seu lado, a sua lâmina segurada frouxamente
diante dele.
— Você não escondeu nada de mim, — disse Malgus, e o poder em sua
voz fez Adraas estremecer. — Você é um tolo, Adraas. A sua habilidade
está na política, em obter o favor dos seus superiores. A sua compreensão
da Força não é nada comparada à minha.
Adraas rosnou e começou a atacar Malgus, em uma última tentativa de
salvar a sua dignidade, se não a sua vida.
Malgus estendeu a mão e a raiva dentro dele se manifestou em veios
azuis de relâmpago que dispararam de seus dedos e se chocaram contra
Adraas. O poder parou a carga fria de Adraas, soprou o sabre de luz da mão
dele e o prendeu em uma gaiola de relâmpagos ardentes. Ele gritou,
contorcendo-se de frustração e dor.
— Acabe com isso, Malgus! Acabe com isso!
Malgus abriu os dedos e liberou o raio. Adraas caiu no chão, sua carne
fumegando, a pele do seu rosto outrora belo empolado e descascando.
Novamente ele ficou de quatro e olhou para Malgus.
— Angral vai me vingar.
— Angral vai suspeitar do que aconteceu aqui, — disse Malgus, e
caminhou na direção dele. — Mas ele nunca saberá, não com certeza, não
até que seja tarde demais.
— Tarde demais pra quê? — Adraas perguntou.
Malgus não respondeu.
— Você está louco, — disse Adraas, e saltou sobre os pés dele e atacou.
Puxou o seu sabre de luz para o punho e o ativou. O ataque pegou Malgus
momentaneamente de surpresa.
Adraas deu uma rajada de golpes, a sua lâmina um zumbido, um borrão
vermelho enquanto girava, esfaqueava, partia e cortava. Malgus recuou um
único passo, outro, então se manteve firme, a sua própria lâmina uma
resposta a todos os ataques de Adraas. Adraas gritou enquanto atacava, o
som de desespero, cheio de conhecimento de que ele não era páreo para
Malgus.
Finalmente Malgus respondeu com um ataque próprio, forçando Adraas
a recuar com a força e a velocidade dos seus golpes. Quando tinha Adraas
encostado na parede, cortou na altura da cabeça dele. Adraas se abaixou e
Malgus cortou uma coluna em duas. Enquanto a enorme parte superior da
coluna caia no chão e a varanda balançou acima deles, Adraas caiu de
joelhos e esfaqueou o peito de Malgus. Malgus girou para fora do caminho
e girou em um golpe que cortou o braço de Adraas no cotovelo. Adraas
gritou e agarrou o braço no bíceps enquanto o seu antebraço caía no chão
junto com a coluna.
Malgus ensinou a lição que veio ensinar.
Desativou o seu sabre de luz, ergueu a mão esquerda e fez uma pinça
com os dedos.
Adraas tentou usar o seu próprio poder para se defender, mas Malgus o
empurrou e tomou o controle de telecinesia segurando a garganta de
Adraas.
Adraas engasgou, os capilares em seus olhos arregalados começando a
estourar. O poder de Malgus levantou Adraas do chão, com as suas pernas
chutando, ofegando.
Malgus estava diretamente diante de Adraas, com o seu ódio se
fechando na traqueia de Adraas.
— Você e Angral causaram isso, Adraas. E o Imperador. Não pode haver
paz com os Jedi, não há trégua. — Ele cerrou o punho. — Não pode haver
paz de forma alguma. Nunca.
A única resposta de Adraas foi continuar engasgando.
Ao vê-lo ali, enforcado, quase morto, Malgus pensou em Eleena, na
descrição que Adraas fez dela. Ele libertou ao Adraas das garras do seu
estrangulamento na Força.
Adraas caiu de costas no chão, ofegante. Malgus colocou um joelho no
peito e as duas mãos na garganta dele antes que Adraas pudesse se
recuperar. Ele mataria Adraas com as próprias mãos.
— Olhe nos meus olhos, — ele disse, e fez Adraas olhar pra ele. — Nos
olhos!
Os olhos de Adraas mostraram hemorragia petequial, mas Malgus sabia
que estava coerente.
— Você a chamou de vira-lata, — disse Malgus. Ele tirou as suas
manoplas, pegou Adraas pelo pescoço e começou a apertar. — Na minha
cara, você a chamou assim. Ela.
Adraas piscou, com os seus olhos lacrimejando. Sua boca abriu e
fechou, mas nenhum som emergiu.
— Você é o vira-lata, Adraas. — Malgus se abaixou, nariz com nariz. —
O vira-lata de Angral e você e os outros como você mestiçaram a pureza do
Império com a sua poluição, trocando força por uma paz miserável.
A traqueia de Adraas entrou em colapso nas mãos de Malgus. Não
houve tosse ou engasgo final. Adraas morreu em silêncio.
Malgus se levantou e parou sobre o corpo de Adraas. Ele calçou as
luvas, ajustou a armadura, a capa e saiu da mansão.
tradutoresdoswhills.wordpress.com
Agradecimentos
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