Você está na página 1de 326

Para Jen, Riordan e Roarke.

Índice
Capa
Página Título
Dedicatória
Índice
Direitos Autorais
Dramatis Personae

Parte Um: O Grande Desastre


Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove

Dia Dois
Capítulo Dez
Capítulo Onze

Dia Três
Capítulo Doze
Capítulo Treze

Epílogo
Sobre o Ebook
Agradecimentos
Outros Materiais do Autor
Sobre o Autor
A Velha República - Enganados é uma obra de ficção. Nomes, lugares, e outros incidentes são
produtos da imaginação do autor ou são usadas na ficção. Qualquer semelhança a eventos atuais,
locais, ou pessoas, vivo ou morto, é mera coincidência.Direitos Autorais © 2011 da Lucasfilm Ltd. ®
TM onde indicada. Todos os direitos reservados. Publicado nos Estados Unidos pela Del Rey, uma
impressão da Random House, um divisão da Penguin Random House LLC, Nova York.DEL REY e a
HOUSE colophon são marcas registradas da Penguin Random House
LLC.randomhousebooks.com/starwars.com/Facebook.com/starwarsbooks

TRADUTORES DOS WHILLS


Todo o trabalho de tradução, revisão e layout desta história foi feito por fãs de Star Wars e com o
único propósito de compartilhá-lo com outras que falam a língua portuguesa, em especial no Brasil.
Star Wars e todos os personagens, nomes e situações são marcas comerciais e /ou propriedade
intelectual da Lucasfilms Limited. Este trabalho é fornecido gratuitamente para uso privado. Se você
gostou do material, compre o Original, mesmo que seja em outra língua. Assim, você incentiva que
novos materiais sejam lançados. Você pode compartilhá-lo sob sua responsabilidade, desde que
também seja livre, e mantenha intactas as informações na página anterior, e reconhecimento às
pessoas que trabalharam para este livro, como esta nota para que mais pessoas possam encontrar o
grupo de onde vem. É proibida a venda parcial ou total deste material. Este é um trabalho amador,
não fazemos isso profissionalmente, ou não fazemos isso como parte do nosso trabalho, nem
esperamos receber nenhuma compensação, exceto, talvez, alguns agradecimentos se você acha que
nós merecemos. Esperamos oferecer livros e histórias com a melhor qualidade possível, se você
encontrar algum erro, agradeceremos que nos relate para que possamos corrigi-lo. Este livro digital
está disponível gratuitamente no Blog dos Tradutores dos Whills. Visite-nos na nossa página para
encontrar a versão mais recente, outros livros e histórias, ou para enviar comentários, críticas ou
agradecimentos: tradutoresdoswhills.wordpress.com
DRAMATIS PERSONAE
Adraas: Lorde Sith (humano)

Angral: Lorde Sith (humano)

Arra Yooms: criança (humana)

Aryn Leneer: Jedi Knight (humana)

Eleena: criada (Twi’lek fêmea)

Malgus: Lorde Sith (humano)

Ven Zallow: Mestre Jedi (macho, espécie desconhecia)

Vrath Xizor: mercenário (humano)

Zeerid Korr: contrabandista (humano)


A Fatman estremeceu, com o seu metal gemendo, enquanto Zeerid a
empurrou pela atmosfera de Ord Mantell. A fricção transformou o ar em
fogo, e Zeerid observou o brilho laranja das chamas através do transparaço
da cabine do cargueiro.
Estava segurando o manche com muita força, ele percebeu isso, e
relaxou.
Ele odiava as entradas na atmosfera, sempre as odiava, a longa
contagem até quarenta quando o calor, a velocidade e as partículas
ionizadas causavam um blecaute temporário do sensor. Ele nunca sabia que
tipo de céu encontraria quando saísse do apagão. Na época em que
transportava comandos do Esquadrão Havoc em uma nave de mergulho
vertiginoso da República, ele e os seus colegas pilotos compararam o
blecaute a um mergulho às cegas de um penhasco à beira-mar.
Você sempre espera atingir águas profundas, eles diziam. Mas, mais
cedo ou mais tarde, a maré abaixa e você bate forte na rocha.
Ou entra com tudo em um fogo cruzado escaldante. Não importava,
realmente. O efeito seria o mesmo.
— Saindo do escuro, — ele disse enquanto a chama diminuía e o céu se
abria abaixo.
Ninguém deu reconhecimento às palavras dele. Ele voava na Fatman
sozinho, trabalhava sozinho. As únicas coisas que ainda carregava eram as
armas para A Permuta. Ele tinha os seus motivos, mas ele se esforçava para
não pensar muito no que estava fazendo.
Ele nivelou a nave, endireitou-se e fez uma rápida varredura no céu ao
redor. Os sensores não detectaram nada.
— Águas profundas e uma sensação boa, — ele disse, sorrindo.
Na maioria dos planetas, no momento em que ele entrava na atmosfera,
ele estava ocupado evitando a interdição do governo planetário. Mas não
em Ord Mantell. O planeta era uma colmeia de sindicatos do crime,
mercenários, caçadores de recompensas, contrabandistas, traficantes de
armas e de especiarias.
E essas eram exatamente as pessoas que dirigiam o lugar.
As guerras de facções e os assassinatos ocupavam a atenção deles, não o
governo e, certamente, não a aplicação da lei. As latitudes superiores e
inferiores do planeta em particular eram esparsamente povoadas e quase
nunca patrulhadas, era uma terra de ninguém literalmente. Zeerid ficaria
surpreso se o governo tivesse satélites sobreviventes orbitando a área.
E tudo isso lhe convinha bem.
A Fatman rompeu um espesso cobertor de nuvens rosa, e o marrom,
azul e branco do hemisfério norte de Ord Mantell preencheram o campo de
visão de Zeerid. A neve e gelo salpicaram a canopi, estilhaços congelados,
batendo em um ritmo constante no casco da Fatman. O sol poente
impregnava uma grande parte do mundo de laranja e vermelho. O mar do
norte ondulava abaixo dele, agitado e escuro, os círculos brancos irregulares
de arrebentação denotando as milhares de ilhas desconhecidas que surgiam
na superfície da água. A oeste, ao longe, ele podia distinguir a borda
nebulosa de um continente e a espinha dorsal de montanhas cobertas de
neve e nuvens que corriam ao longo de seu eixo norte-sul.
Um movimento atraiu a sua atenção. Um bando de asas-de-couro,
pequeno demais para causar um sinal no sensor, voou duzentos metros a
estibordo e bem abaixo dele, as coberturas das suas asas enormes e
membranosas batendo lentamente ao vento gélido, o arco do bando como
um parêntese. Eles estavam indo para o sul em busca de ar mais quente e
não lhe deram atenção enquanto ele voava sobre eles e os passava, os
opacos olhos negros deles piscando contra a neve e o gelo.
Ele puxou as alavancas dos motores de íons e diminuiu ainda mais a
velocidade. Um bocejo forçou-se a passar pelos seus dentes. Ele se
endireitou e tentou piscar para afastar o cansaço, mas isso estava tão
teimoso quanto um bantha zangado. Ele tinha colocado a nave no piloto
automático e cochilado durante a corrida pelo hiperespaço vindo de Vulta,
mas isso foi tudo o que ele teve nos últimos dois dias padrão. O cansaço o
estava alcançando.
Ele coçou a barba por fazer, esfregou a nuca e inseriu as coordenadas da
entrega no computador de navegação. O computador se conectou a um dos
satélites geo sincronizados inseguros de Ord Mantell e informou a
localização e o curso da Fatman. A tela de alerta de Zeerid exibiu na canopi
da cabine. Ele olhou a localização e tocou com o seu dedo no seu destino.
— Uma ilha da qual ninguém nunca ouviu falar, logo ali onde ninguém
vai. Parece correto.
Zeerid colocou a nave no piloto automático, que o levou em direção à
ilha.
A sua mente vagou enquanto a Fatman cortava o céu. O tamborilar
constante do gelo e da neve na canopi cantou para ele uma canção de ninar.
Os seus pensamentos vagaram de volta através das nuvens para o passado,
para os dias antes do acidente, antes dele deixar os fuzileiros navais.
Naquela época, usava o uniforme com orgulho e ainda era capaz de se olhar
no espelho...
Ele se controlou, pegou a crescente autopiedade e parou os pensamentos
frios. Ele sabia aonde isso iria levar.
— Guarde isso, soldado, — ele disse para si mesmo.
Ele era o que era e as coisas eram o que elas eram.
— Concentre-se no trabalho, Z-man.
Ele verificou a sua localização contra as coordenadas do computador de
navegação. Quase lá.
— Prepare-se e fique frio, — ele disse, ecoando as palavras que
costumava dizer aos seus comandos. — Noventa segundos para a Zona de
Aterrissagem.
Ele continuou o seu ritual, verificando a carga dos seus blasters,
apertando as tiras do seu colete de armadura composta, preparando a sua
mente.
À frente, ele viu a ilha onde faria a entrega: dez quilômetros quadrados
de rocha vulcânica margeada de mato como um corte de cabelo ruim que
chegava à cintura chicoteando ao vento. O lugar provavelmente ficaria
submerso e desapareceria no próximo ano.
Ele se inclinou mais para baixo, voou em um amplo círculo, incapaz de
ver muitos detalhes devido à neve. Ele fez uma varredura no escâner, como
sempre, e o chilrear da sua instrumentação o surpreendeu. Uma nave já
estava na ilha. Ele verificou o seu cronômetro de pulso e viu que estava
vinte minutos padrão adiantado. Ele havia feito essa corrida três vezes e
Arigo, ele tinha certeza de que o nome verdadeiro do homem não era Arigo,
nunca tinha chegado antes.
Ele desceu algumas centenas de metros para ver melhor.
O cargueiro de Arigo, o Desgraça, cuja forma não era muito diferente
do corpo de um besouro sem pernas, estava em uma clareira no lado leste
da ilha. A rampa de desembarque dele estava abaixada e projetava-se para
fora do seu ventre como uma língua. Halogênios brilhavam no crepúsculo
que se desvanecia e refletia na neve que caía, transformando os flocos em
joias brilhantes. Ele viu três homens aguardando ao redor da rampa, embora
ele estivesse muito longe para notar qualquer outro detalhe além das suas
parcas brancas de inverno.
Eles avistaram a Fatman, e um acenou com a mão enluvada.
Zeerid lambeu os lábios e franziu a testa.
Algo parecia errado.
Sinalizadores saíram do cargueiro e irromperam no ar.... em verde,
vermelho, vermelho, verde.
Essa era a sequência correta.
Ele circulou mais uma vez, olhando para baixo através do redemoinho
de neve, mas ele não viu nada que causasse alarme, nenhuma outra nave na
ilha ou no mar ao redor. Ele deixou de lado a sua preocupação e atribuiu os
seus sentimentos à tensão usual causada por lidar com malfeitores e
criminosos.
Em qualquer caso, ele não podia se dar ao luxo de bagunçar uma entrega
de várias centenas de milhões de créditos de equipamento porque se sentia
arisco. O comprador final, quem quer que fosse, ficaria infeliz, e A Permuta
tomaria os lucros perdidos por Zeerid em sangue e ossos quebrados, e então
acrescentaria à dívida que ele já tinha com eles. Ele havia perdido a noção
de quanto isto era exatamente, mas sabia que eram pelo menos dois milhões
de créditos de qualquer forma pela Fatman, mais quase a metade disso em
adiantamentos para o tratamento médico de Arra, embora ele mantivesse a
existência de Arra em segredo e o seu encarregado pensava que este último
era para perdas com jogo.
— ZA é segura. — Ele esperava que ao dizer isso tornasse isso verdade.
— Vamos lá.
O zumbido dos propulsores reversos e um redemoinho de neve soprada
pressagiavam o baque da Fatman tocando a rocha. Ele pousou a menos de
cinquenta metros da nave de Arigo.
Por um momento ele ficou sentado na cabine do piloto, perfeitamente
imóvel, olhando para a neve que caía, sabendo que haveria outra entrega
após esta, depois outra, depois outra, e ele ainda continuaria devendo A
Permuta mais do que jamais seria capaz de pagar. Ele estava em um círculo
vicioso sem ideia de como sair. Isso não importa, no entanto. O objetivo era
receber para Arra, talvez dar a ela uma cadeira flutuante em vez daquela
antiguidade com rodas. Melhor ainda, próteses.
Ele soltou um suspiro, levantou-se e tentou recuperar a sua calma
enquanto vestia uma parca de inverno e luvas sem dedos. No porão de
carga, ele teve que abrir caminho através do labirinto de contêineres de
carga. Ele evitou olhar diretamente para as letras pretas grossas nas laterais,
embora ele soubesse de cor, já tinha visto essas caixas muitas vezes na sua
carreira militar.
PERIGO — MUNIÇÕES.
SOMENTE PARA USO MILITAR.
MANTENHA LONGE DO CALOR INTENSO
OU OUTRAS FONTES DE ENERGIA.
Nos caixotes havia mais de trezentos milhões de créditos em canhões
laser assistidos por tripulação, MPAPPs, granadas e munição suficiente para
manter até a equipe de atiradores mais maluca sorrindo e pecando por
meses.
Perto da rampa de desembarque da baia, ele viu que três das quatro
correias de segurança haviam se soltado de uma das caixas de granadas. Ele
teve sorte da caixa não ter balançado na viagem. Talvez as correias tenham
se quebrado quando pousou na ilha. Ele escolheu acreditar nisso em vez de
admitir a sua própria negligência.
Ele não se preocupou em recolocar as correias. Os homens de Arigo
teriam que desfazê-las para descarregar de qualquer maneira.
Ele afrouxou os seus blasters nos coldres e apertou o botão para abrir o
compartimento e baixar a rampa. A porta desceu e a neve e o frio entraram,
e o cheiro forte do sal do oceano. Ele saiu para o vento. A luz do sol poente
o fez apertar os olhos. Ele estava apenas sob luz artificial por mais de doze
horas. A suas botas esmagaram a rocha preta com poeira de neve. As suas
exalações se dissiparam com o vento.
Dois dos homens do cargueiro de Arigo se separaram da nave deles e o
encontraram no meio do caminho. Ambos eram humanos e barbudos. Um
tinha o olho remendado e uma cicatriz como a de um raio descendo pela
bochecha. Ambos usavam blasters na cintura. Como Zeerid, ambos estavam
com as alças de retenção desfeitas.
Não reconhecer nenhum deles reacendeu as preocupações anteriores de
Zeerid. Ele tinha uma boa memória para rostos, e os dois homens eram
estranhos.
A entrega estava começando a ficar amarga.
— Onde está o Arigo? — Zeerid perguntou.
— Fazendo o que o Arigo faz, — respondeu o com a Cicatriz, e
gesticulou vagamente. — Em vez disso, nos mandou. Não se preocupe,
certo?
O sem a Cicatriz se moveu em seus pés no mesmo lugar, impaciente,
inquieto.
Zeerid assentiu com a cabeça, manteve o seu rosto inexpressivo
enquanto o seu coração disparava e a adrenalina começava a aquecê-lo.
Tudo cheirava mal, e aprendeu ao longo dos anos a confiar no seu olfato.
— Você é Zeerid? — o da Cicatriz perguntou.
— Z-man.
Ninguém o chamava de Zeerid, exceto a sua cunhada.
E Aryn, uma vez. Mas Aryn foi há muito tempo.
— Z-man, — ecoou o Sem a Cicatriz, mudando de posição no mesmo
lugar e meio que rindo.
— Soa engraçado pra você? — Zeerid perguntou a ele.
Antes que o Sem a Cicatriz pudesse responder, o da Cicatriz perguntou:
— Onde está a carga?
Zeerid olhou para além dos dois homens à sua frente, para o terceiro,
que permaneceu perto da rampa de desembarque da nave de Arigo. A
linguagem corporal do homem, muito focada na troca verbal, muito
enrolada, reforçou a preocupação de Zeerid. Ele lembrou a Zeerid da
aparência dos novatos quando enfrentavam os Imperiais pela primeira vez,
toda atitude e gatilho leve.
Suspeita acumulada em certeza. A entrega não só cheirava mal,
estava mal.
Arigo estava morto, e a tripulação na frente dele trabalhava para alguma
outra facção em Ord Mantell, ou trabalhava para alguma organização
paralelamente A Permuta. Seja o que for. Não importava para Zeerid.
Nunca se preocupou em acompanhar quem estava lutando contra quem,
então ele simplesmente não confiava em ninguém.
Mas o que importava para era que os três homens que estavam diante
dele provavelmente tinham torturado Arigo por informações e matariam
Zeerid assim que confirmassem a presença da carga.
E pode haver ainda mais homens escondidos a bordo do cargueiro.
Parecia que ele havia saído do blecaute atmosférico e entrado em um
fogo cruzado, afinal.
O que mais havia de novo?
— Por que você chama esta nave de Fatman? — o Sem a Cicatriz
perguntou. Arigo deve ter dito a eles o nome da nave de Zeerid porque a
Fatman não tinha marcas de identificação. Zeerid usava registros falsos na
naves em quase todos os planetas em que atracava.
— Porque é preciso de muito para encher a barriga dela.
— Nave é feminino, no entanto. Certo? Por que não Fatwoman?
— Pareceu desrespeitoso. — o Sem a Cicatriz franziu a testa. — Hã?
Pra quem?
Zeerid não se preocupou em responder. Tudo o que queria fazer era
entregar as munições, reduzir algumas das suas dívidas com A Permuta e
voltar para a sua filha antes que tivesse que voltar e se sujar novamente.
— Algo errado? — o da Cicatriz perguntou, o seu tom cauteloso. —
Você parece chateado.
— Não, — respondeu Zeerid, forçando um meio sorriso. — Tudo é o
mesmo de sempre.
Os homens exibiram sorrisos incertos, confusos sobre o que Zeerid
queria dizer.
— Bem, — disse o da Cicatriz. — O mesmo de sempre.
Sabendo como as coisas seriam, Zeerid sentiu a calma que normalmente
sentia quando o perigo se aproximava. Lembrou-se por um momento do
rosto de Arra, sobre o que ela faria se morresse em Ord Mantell, em alguma
ilha sem nome. Ele afastou os pensamentos. Sem distrações.
— A carga está no compartimento principal. Envie o seu homem. A
nave está aberta.
As expressões nos rostos de ambos os homens endureceram, a mudança
quase imperceptível, mas clara para Zeerid, uma transformação que traiu a
intenção deles de matar. O da Cicatriz ordenou que o Sem a Cicatriz fosse
verificar a carga.
— Ele vai precisar de um elevador, — disse Zeerid, preparando-se, com
o foco na velocidade e precisão. — Essas coisas não são leves.
O Sem a Cicatriz parou ao alcance de Zeerid, olhando pra trás para o da
Cicatriz em busca de orientação, com a expressão dele incerta.
— Nah, — disse o da Cicatriz, a mão dele pairando perto do coldre dele,
com o movimento muito casual para ser acidental. — Eu só quero que ele
tenha certeza de que está tudo lá. Então, vou informar ao meu pessoal para
liberar o pagamento.
Ele ergueu o braço como se quisesse mostrar a Zeerid um comunicador
de pulso, mas a parca o cobriu.
— Está tudo aí, — disse Zeerid.
— Vá em frente, — disse o da Cicatriz para o Sem a Cicatriz. —
Confira.
— Oh, — disse Zeerid, e estalou os dedos. — Há uma outra coisa...
O Sem a Cicatriz suspirou, parou, olhou para ele, as sobrancelhas
levantadas em uma pergunta, com a respiração vaporizando fora de suas
narinas.
— O que é isso?
Zeerid fez uma faca com a mão esquerda e enfiou a ponta dos seus
dedos na garganta do Sem a Cicatriz. Enquanto o Sem a Cicatriz desabava
na neve, engasgando, Zeerid puxou um dos seus blasters para fora do coldre
do quadril e fez um buraco no peito do com a Cicatriz antes que o homem
pudesse fazer nada mais do que dar um passo para trás surpreso e colocar a
mão no punho da sua própria arma. O da Cicatriz cambaleou mais dois
passos para trás, a boca se mexendo, mas não fazendo nenhum som, o braço
direito erguido, palma para fora, como se pudesse parar o tiro que já o
matara.
Enquanto o da Cicatriz caia no chão, Zeerid deu um tiro instintivo no
terceiro homem perto da rampa de pouso do Desgraça, mas errou feio. O
terceiro homem se protegeu ao lado do Desgraça, sacou a pistola blaster
dele e gritou em um comunicador de pulso. Zeerid viu movimento dentro
do compartimento de carga da nave de Arigo, mais homens com más
intenções.
Não havia como saber quantos eram.
Ele praguejou, deu um tiro de cobertura, depois se virou e correu para a
Fatman. Um tiro de blaster fez um sulco negro fumegante na manga de sua
parca, mas errou a carne. Outro tocou no casco da Fatman. Um terceiro tiro
o acertou bem nas costas. Isto pareceu como se tivesse sido atropelado por
uma speeder. O impacto tirou o ar dos seus pulmões e o jogou de cara na
neve.
Ele sentiu o cheiro de fumaça. O seu colete blindado havia dissipado o
tiro.
A adrenalina o pôs de pé com a mesma rapidez com que havia caído.
Ofegando, tentando encher os pulmões, escondeu-se atrás de um trem de
pouso para se proteger e limpou a neve do rosto. Colocou a cabeça para fora
por um momento para olhar pra trás, viu que o Sem a Cicatriz havia parado
de engasgar e começou a morrer, que o da Cicatriz ficou polidamente quieto
e que mais seis homens corriam na sua direção, dois armados com rifles
blaster e o resto com pistolas.
A sua armadura não aguentaria o disparo de um rifle.
Um tiro acertou o trem de pouso, outro na neve a seus pés, e outro, e
mais outro.
— Droga! — ele amaldiçoou.
A segurança da rampa de embarque da Fatman e do compartimento de
carga, só a alguns passos dele, de alguma forma parecia estar a dez
quilômetros de distância.
Ele pegou um blaster em cada mão, esticou os braços um de cada lado
do trem de pouso e atirou o mais rápido que pôde puxar o gatilho na direção
dos homens que avançavam. Não podia ver e não se importava se acertasse
alguém, ele só queria colocá-los no chão. Depois de disparar mais de uma
dúzia de tiros sem ter resposta, ele disparou a correr de trás do trem de
pouso em direção à rampa.
Ele a alcançou antes que os atiradores se recuperassem o suficiente para
lançar outra saraivada. Alguns disparos o perseguiram até a rampa,
ressoando no metal. Fagulhas voaram e o cheiro de plastóide derretido
misturou-se ao ar do oceano. Ele passou correndo pelo botão para subir a
rampa, acertou-o e correu em direção à cabine. Só depois de quase ter saído
do compartimento de carga, ele registrou que não estava ouvindo o zumbido
das engrenagens girando.
Ele se virou, amaldiçoando.
Em sua pressa, ele não acertou o botão para elevar a rampa de
embarque.
Ele ouviu gritos de fora e não ousou voltar. Ele poderia fechar o
compartimento do painel de controle na cabine. Mas ele precisava se
apressar.
Ele disparou pelos corredores da Fatman, abriu a porta da cabine com o
ombro e começou a socar a sequência de lançamento. Os propulsores da
Fatman ligaram e a nave deu uma guinada para cima. Disparos de Blaster
atingiram o casco, mas não causaram danos. Ele tentou olhar pra baixo da
canopi, mas a nave estava inclinada para cima e ele não conseguia ver o
solo. Ele apertou o controle para movê-la para frente e ouviu o guincho
distante de metal contra metal. Tinha vindo do compartimento de carga.
Algo estava escorregando de lá de dentro.
O contêiner solto de granadas.
E ele ainda se esqueceu de selar a baia.
Amaldiçoando-se por ser um tolo, ele acionou o interruptor que subia a
rampa, em seguida, lacrou o compartimento de carga e esvaziou o oxigênio.
Se alguém tivesse embarcado, sufocaria ali.
Ele pegou nos controles e acionou os motores da Fatman. A nave
disparou para cima. Ele a virou enquanto se levantava e deu uma olhada na
ilha.
Por um momento, ele ficou confuso com o que viu. Mas a compreensão
surgiu.
Quando a Fatman deu um salto para cima e para a frente, as correias
restantes prendendo o contêiner de granadas quebraram e todo o contêiner
deslizou para fora da rampa de embarque aberta.
Ele teve sorte de não ter explodido.
Os homens que o emboscaram estavam reunidos ao redor da caixa,
provavelmente se perguntando o que havia dentro. Uma rápida contagem de
cabeças colocou o seu número em seis, então ele percebeu que nenhum
havia chegado a embarcar na Fatman. E nenhum deles parecia estar indo
para a nave de Arigo, então Zeerid presumiu que não tinham intenção de
persegui-lo no ar. Talvez estivessem felizes o suficiente com o único
recipiente.
Amadores, então. Piratas, talvez.
Zeerid sabia que teria de responder a Oren, o seu encarregado, não
apenas pelo negócio que azedou, mas também pelas granadas perdidas.
O círculo vicioso de Kriffing continuou a girar cada vez mais rápido.
Ele considerou ligar os motores iônicos da Fatman no máximo, para se
livrar da gravidade de Ord Mantell e ir para o hiperespaço, mas ele mudou
de ideia. Ele ficou irritado e achou que tinha uma ideia melhor.
Ele girou o cargueiro e acelerou.
— Armas entrando em operação, — ele disse, e ativou os canhões de
plasma acima e abaixo montados nas laterais de Fatman.
Os homens no solo, supondo que ele fugiria, não o notaram chegando
até que tivesse se aproximado cerca de quinhentos metros. Rostos o
encararam, as mãos apontadas, e os homens começaram a se mexer. Alguns
disparos de blaster de um dos homens traçaram linhas vermelhas no céu,
mas um blaster não conseguia danificar a nave.
Zeerid mirou. O computador de mira centralizado na caixa.
— ZA está quente, — ele disse, e os disparou. Por um instante, linhas
laranja pulsantes conectaram a nave à ilha, a nave ao caixote de granadas.
Então, quando as granadas explodiram, as linhas floresceram em uma
nuvem laranja de calor, luz e fumaça que engolfou a área. Estilhaços
bateram contra a canopi, desta vez de metal, não de gelo, e a onda de
choque balançou Fatman ligeiramente enquanto Zeerid expurgava a nave e
se dirigia ao céu.
Ele olhou para trás e viu seis formas imóveis e fumegantes espalhadas
no raio da explosão.
— Isso foi por você, Arigo.
Ele ainda teria algumas explicações a dar, mas pelo menos ele cuidou
dos emboscadores. Isso tinha que valer algo para A Permuta.

DARTH MALGUS CAMINHOU A PASSOS LARGOS PELA ESTEIRA AUTOMÁTICA, a


batida firme das suas botas no pavimento fazendo o tique-taque de um
cronometro fazendo a contagem regressiva do tempo limitado que restava à
República.
Speeders, swoops e carros aéreos rugiam acima dele em fluxos
intermináveis, o sistema circulatório motorizado do coração da República.
arranha-céus, pontes, elevadores e praças cobriam toda a superfície de
Coruscant a uma altura de quilômetros, tudo isso as armadilhas de uma
civilização rica e decadente, uma cobertura que procurava esconder a
podridão em um casulo de duracreto e transparaço.
Mas Malgus sentia o cheiro da podridão sob o verniz e mostraria a eles o
preço da fraqueza, da complacência.
Logo tudo iria queimar.
Ele iria devastar Coruscant. Ele sabia disso. Ele sabia disso há décadas.
Memórias flutuaram das profundezas de sua mente. Ele relembrou a sua
primeira peregrinação a Korriban, lembrou-se do profundo senso de
santidade que ele sentiu enquanto caminhava sozinho pelos seus desertos
rochosos, através dos cânions empoeirados alinhados com os túmulos dos
seus ancestrais Sith. Ele sentiu a Força por toda parte, exultou com ela e,
em seu isolamento, ela lhe mostrou uma visão. Ele tinha visto sistemas em
chamas, a queda de um governo que abrangia a galáxia.
Ele acreditou então, tinha sabido em seguida e desde então, que a
destruição dos Jedi e a sua República cairia diante dele.
— O que você está pensando, Veradun? — Eleena perguntou a ele.
Apenas Eleena o chamava pelo nome de batismo, e apenas quando
estavam sozinhos. Ele gostava da maneira suave como as sílabas saíam da
língua e lábios dela, mas não o tolerava de mais ninguém.
— Eu estou pensando em fogo, — ele respondeu, o odiado respirador
abafando parcialmente a sua voz.
Ela caminhava ao lado dele, tão bonita e perigosa quanto um lanvarok
elegantemente criado. Ela estalou a língua com as palavras dele, olhou pra
ele de lado, mas não disse nada. A sua pele lilás parecia luminescente ao sol
poente.
Multidões se aglomeravam na praça em que caminhavam, rindo,
carrancudos, conversando. Uma criança humana, uma menina, chamou a
atenção de Malgus quando ela gritou de alegria e correu para os braços de
uma mulher de cabelos escuros, presumivelmente a mãe dela. A garota deve
ter sentido o seu olhar. Ela olhou pra ele por cima do ombro da sua mãe,
com o seu pequeno rosto contraído em uma pergunta. Ele a encarou
enquanto caminhava e ela desviou o olhar, enterrando o rosto no pescoço da
mãe.
Além da garota, ninguém mais o marcou na sua passagem. Os cidadãos
da República se sentiam seguros no Núcleo tão profundo, e o grande
número de seres em Coruscant garantiram a ele o anonimato. Ele caminhou
entre as suas presas, encapuzado, blindado sob a sua capa, despercebido e
desconhecido, mas firme com um propósito.
— Este é um mundo lindo, — disse Eleena.
— Não por muito mais tempo.
As suas palavras pareceram assustá-la, embora não pudesse imaginar o
motivo.
— Veradun…
Ele a viu engolir em seco, desviar o olhar. Quaisquer que sejam as
palavras que ela pretendia depois do nome dele, pareciam presas na cicatriz
que marcava a garganta dela.
— Você pode falar o que pensa, Eleena.
Ainda assim, ela desviou o olhar, observando a paisagem ao redor deles,
como se memorizando Coruscant antes que Malgus e o Império o
incendiassem.
— Quando a luta terminará?
A premissa da pergunta o confundiu.
— O que você quer dizer?
— A sua vida é a guerra, Veradun. Nossa vida. Quando isso vai acabar?
Isso não pode ser sempre assim.
Ele assentiu com a cabeça então, entendendo o sabor da conversa que
viria. Ela tentaria disfarçar a autopercepção de sabedoria por trás de
perguntas. Como sempre, tinha duas opiniões sobre isso. Por um lado, ela
era apenas uma serva, uma mulher que lhe dava companhia quando
desejava. Por outro lado, ela era a Eleena. A sua Eleena.
— Você escolheu lutar ao meu lado, Eleena. Você matou muitos em
nome do Império.
A pele lavanda das bochechas dela escureceram para roxo.
— Eu não matei pelo Império. Eu luto e mato por você. Você sabe disso.
Mas você... você luta pelo Império? Apenas pelo Império?
— Não. Eu luto porque é para isso que eu fui feito e o Império é o
instrumento pelo qual eu realizo o meu propósito. O Império é a guerra
manifestada. É por isso que é perfeito.
Ela balançou a cabeça.
— Perfeito? Milhões morrem em suas guerras. Bilhões.
— Os seres morrem na guerra. Esse é o preço que deve ser pago.
Ela olhou para um grupo de crianças seguindo um adulto, talvez um
professor.
— O preço do quê? Por que uma guerra constante? Por que uma
expansão constante? O que é que o Império quer? O que é que você quer?
Atrás do seu respirador, ele sorria como faria ao responder às perguntas
de uma criança precoce.
— Querer não é o ponto. Eu sirvo à Força. A Força é conflito. O Império
é conflito. Os dois são congruentes.
— Você fala como se isto fosse matemática.
— É sim.
— Os Jedi não pensam assim.
Ele lutou contra um lampejo de raiva.
— Os Jedi entendem a Força apenas parcialmente. Alguns deles são até
poderosos em seu uso. Mas eles não conseguem compreender a natureza
fundamental da Força, que é o conflito. A existência de um lado luminoso e
um lado sombrio é a prova disso.
Ele pensou que a conversa tinha acabado, mas ela não cedeu.
— Por quê?
— Porque o que?
— Por que o conflito? Por que a Força existiria para fomentar o conflito
e a morte?
Ele suspirou, ficando agitado.
— Porque os sobreviventes do conflito passam a entender a Força mais
profundamente. O seu entendimento evolui. Isso é propósito suficiente.
A expressão dela mostrou que ela ainda não entendia. O tom dele ficou
mais agudo enquanto a sua exasperação aumentava.
— O conflito leva a uma compreensão mais perfeita da Força. O
Império se expande e cria conflito. Nesse sentido, o Império é um
instrumento da Força. Você entende? Os Jedi não entendem isso. Eles usam
a Força para reprimir a si mesmos e aos outros, para impor a versão deles
de tolerância, harmonia. Eles são tolos. E eles verão isso depois de hoje.
Por um tempo, Eleena não disse nada, e o burburinho e zumbido de
Coruscant encheram o abismo silencioso entre eles. Quando ela finalmente
falou, parecia a garota tímida que ele resgatou dos currais de escravos de
Geonosis.
— A guerra constante será a sua vida? Nossa vida? Nada mais?
Ele finalmente entendeu os motivos dela. Ela queria que o
relacionamento deles mudasse, queria que isso também evoluísse. Mas a
dedicação dele à perfeição do Império, que lhe permitiu aperfeiçoar a
compreensão dele da Força, o impediu de qualquer vínculo preeminente.
— Eu sou um guerreiro Sith, — ele respondeu.
— E as coisas conosco sempre serão como elas estão?
— Mestre e serva. Isso te desagrada?
— Você não me trata como sua serva. Nem sempre.
Ele deixou uma dureza que não sentiu rastejar em sua voz.
— Ainda assim, você é uma serva. Não se esqueça.
A pele lavanda das bochechas dela escureceu para roxo, mas não de
vergonha, mas de raiva. Ela parou, se virou e olhou diretamente para o rosto
dele. Ele sentiu como se o capuz e o respirador que ele usava não
escondessem nada dela.
— Eu conheço a sua natureza melhor do que você mesmo. Eu cuidei de
você depois da Batalha de Alderaan, quando você estava perto da morte,
por causa daquela bruxa Jedi. Você fala as palavras com seriedade: conflito,
evolução, perfeição; mas a fé não atinge o seu coração.
Ele olhou para ela, as hastes gêmeas do lekku dela emoldurando a
adorável simetria do rosto dela. Ela manteve o olhar, sem vacilar, a cicatriz
que se estendia na garganta dela visível sob o colarinho.
Impressionado com a beleza dela, ele a agarrou pelo pulso e puxou-a
para si. Ela não resistiu e pressionou as suas curvas contra ele. Ele deslizou
o respirador para o lado e beijou-a com os lábios arruinados, beijou-a com
força.
— Talvez você não me conheça tão bem quanto você imagina, — ele
disse, com a sua voz não abafada pelo filtro mecânico do seu respirador.
Quando menino, ele matou uma serva Twi'lek na casa do seu pai
adotivo, a sua primeira morte. Ela havia cometido alguma ofensa menor de
que não conseguia mais se lembrar e isso nunca importou. Ele não a matou
por causa do delito dela. Ele a matou para se assegurar de que podia matar.
Ele ainda se lembrava do orgulho com que o seu pai adotivo havia
considerado o cadáver da Twi'lek. Logo depois, Malgus foi enviado para a
Academia Sith em Dromund Kaas.
— Eu acho que eu te conheço, — ela disse, desafiadora.
Ele sorriu, ela sorriu e ele a soltou. Ele recolocou o respirador e
verificou o cronômetro no seu pulso.
Se tudo correr como planejado, a grade de defesa deve ser desativada em
instantes.
Uma onda de emoção passou por ele, nascida na certeza de que toda a
sua vida tinha por objetivo a próxima hora, que a Força o havia trazido ao
momento em que ele planejara a queda da República e a ascensão do
Império.
O seu comunicador recebeu uma mensagem. Ele bateu em uma tecla
para decifrá-la.
Está feito, as palavras diziam.
A Mandaloriana havia feito o trabalho dela. Ele não sabia o nome
verdadeiro da mulher, então em sua mente se tornou um título, a
Mandaloriana. Ele sabia apenas que ela trabalhava por dinheiro, odiava os
Jedi por algum motivo pessoal conhecido apenas por ela mesma e era
extraordinariamente habilidosa.
A mensagem disse a ele que a grade de defesa do planeta havia apagado,
mas nenhum dos milhares de sencientes que dividiam a praça com ele
parecia preocupado. Nenhum alarme soou. As naves militares e de
segurança não estavam voando pelo céu. As autoridades civis e militares
não perceberam o fato de que a rede de segurança de Coruscant havia sido
comprometida.
Mas eles notariam isso em pouco tempo. E eles não acreditariam no que
os seus instrumentos lhes diziam. Eles fariam um teste para determinar se as
leituras eram precisas.
Mas então, Coruscant estaria em chamas.
Nós estamos nos movendo, ele digitou o dispositivo. Encontre-nos no
interior.
Ele deu uma última olhada em volta, para as crianças e os pais delas
brincando, rindo, comendo, todos vivendo as suas vidas, sem saber que tudo
estava para mudar.
— Venha. — ele disse para Eleena, e acelerou o passo. A sua capa girou
em torno dele. E, também, a sua raiva.
Momentos depois, ele recebeu outra transmissão codificada, esta é da
nave de lançamento sequestrada.
Salto completo. Em aproximação. Chegada em noventa segundos.
À frente, ele viu as quatro torres que cercam os níveis empilhados do
Templo Jedi, com a sua pedra antiga tão laranja quanto o fogo na luz do sol
poente. Os civis pareciam considerá-lo um berço amplo, como se isto fosse
um lugar sagrado e não um lugar de sacrilégio.
Ele o reduziria a escombros.
Ele caminhou em direção a ele e o destino caminhou ao lado dele.
Estátuas de Mestres Jedi mortos há muito tempo alinhavam-se nas
laterais da enorme porta do Templo. O sol poente estendeu as formas
tenebrosas das estátuas por todo o duracreto. Ele caminhou pelas sombras e
passou por elas, observando alguns nomes: Odan-Urr, Ooroo, Arca Jeth.
— Vocês foram enganados, — ele sussurrou para elas. — O seu tempo
já passou.
A maioria dos atuais Mestres da Ordem Jedi estava fora, ou participando
das negociações falsas em Alderaan ou protegendo os interesses da
República fora do planeta, mas o Templo não estava totalmente
desprotegido. Três soldados uniformizados da República, com rifles blaster
em mãos, estavam vigilantes perto das portas. Ele sentiu mais dois em uma
saliência alta à sua esquerda.
Eleena ficou tensa ao lado dele, mas não vacilou.
Ele checou o seu cronômetro novamente. Cinquenta e três segundos.
Os três soldados, cautelosos, observaram ele e Eleena se aproximarem.
Um deles falou em um comunicador de pulso, talvez consultando um centro
de comando interno.
Eles não saberiam o que fazer com Malgus. Apesar da guerra, eles se
sentiam seguros em seu enclave no centro da República. Ele os ensinaria de
outra forma.
— Pare aí, — disse um deles.
— Eu não posso parar, — disse Malgus, baixinho demais para ouvir, por
trás do respirador. — Nunca.

CORAÇÃO PARADO, mente quieta, essas coisas iludiram Aryn, flutuaram


diante dela como flocos de neve ao sol, visíveis por um momento, então
derreteram e sumiram. Ela brincou com as contas lisas de coral da pulseira
Nautolana da tranquilidade que o Mestre Zallow lhe dera quando foi
promovida a Cavaleira Jedi. Contando silenciosamente as contas lisas e
escorregadias, deslizando-as sobre a corrente uma após a outra, ela buscou a
calma na Força.
Não adianta.
O que havia de errado com ela?
Do lado de fora, as speeders zumbiam passando além da grande janela
que dava para uma bela paisagem Alderaaneana, bucólica, adequada para
uma pintura. Por dentro, ela sentiu um turbilhão. Normalmente, ela era mais
capaz de se proteger das emoções ao redor. Ela geralmente considerava o
seu senso empático uma dádiva da Força, mas agora ...
Ela percebeu que estava balançando a perna, parou. Ela cruzou e
descruzou as pernas. Fez isto de novo.
Syo sentou-se ao lado dela, com as mãos calejadas cruzadas sobre o
colo, tão imóvel quanto a imponente escultura de estadistas Alderaanianos
que revestia o salão abobadado de ladrilhos de mármore no qual estavam
sentados. A luz do sol poente entrava pela janela, projetando longas
sombras no chão. Syo não olhou para ela quando falou.
— Você está inquieta.
— Sim.
Na verdade, se sentia como se fosse uma panela fervendo, o vapor do
seu estado emocional procurando escapar pela tampa do seu controle. O ar
parecia carregado, agitado. Ela teria atribuído os sentimentos ao estresse
das negociações de paz, mas parecia-lhe algo mais. Ela sentiu uma desgraça
se aproximando dela, uma escuridão. A Força estava tentando dizer algo a
ela?
— A inquietação não combina com você, — disse Syo.
— Eu sei. Eu me sinto... estranha.
A expressão dele não mudou por trás da barba curta, mas ele saberia
levar os sentimentos dela a sério.
— Estranha? Como?
Ela achou a voz dele calmante, o que ela supôs ser parte da razão de ele
ter falado.
— Como se... como se algo estivesse para acontecer. Eu não posso
explicar melhor do que isso.
— Isso se origina da Força, da sua empatia?
— Eu não sei. Eu só... sinto que algo está para acontecer.
Ele pareceu considerar isso, então disse:
— Algo está para acontecer.
— Ele indicou com um olhar as grandes portas duplas à esquerda deles,
atrás das quais a Mestra Dar 'nala e a Cavaleira Jedi Satele Shan haviam
iniciado as negociações com a delegação Sith. — O fim da guerra, se
tivermos sorte.
Ela balançou a cabeça.
— Algo diferente disso. — Ela lambeu os lábios e se mexeu na cadeira.
Eles ficaram sentados em silêncio por um tempo. Aryn continuou
inquieta.
Syo pigarreou e os seus olhos castanhos se fixaram em um ponto do
outro lado do corredor. Ele falou em um tom suave.
— Eles veem a sua agitação. Eles interpretam isso como algo que não é.
Ela sabia. Podia sentir o desprezo deles, uma irritação na mente dela
semelhante a uma pedra na sua bota.
Um par de Sith de manto escuro, membros da delegação do Império em
Alderaan, sentou-se em um banco de pedra ao longo da parede oposta a
Aryn e Syo. Quinze metros de piso de mármore polido, as duas fileiras de
estátuas Alderaanianas e o abismo de filosofias concorrentes separavam
Jedi e Sith.
Ao contrário de Aryn, os Sith não pareciam agitados. Eles pareciam
contraídos. Os dois se inclinaram para a frente, os antebraços apoiados nos
joelhos, os olhos em Aryn e Syo, como se pudessem ficar de pé a qualquer
momento. Aryn percebeu a zombaria deles por sua falta de controle, podia
ver na curvatura dos lábios do homem.
Ela desviou os olhos dos Sith e tentou ocupar a sua mente lendo os
nomes gravados nos pedestais das estátuas, Keers Dorana, Velben Orr, e
outros que ela nunca tinha ouvido falar; mas a presença dos Sith pressionou
contra a sua sensibilidade à Força. Ela se sentiu como se estivesse submersa
profundamente na água, a pressão empurrando contra ela. Ela ficou
esperando que as suas orelhas estourassem, para conceder a sua liberação
em um flash de dor. Mas isso não aconteceu, e os olhos dela voltaram para a
dupla de Sith.
A mulher, com um corpo esguio perdido na falta de forma de suas vestes
azuis profundas, olhou através de olhos estreitos e claros. O longo cabelo
escuro dela, preso em um topete, pendurado como um laço de carrasco em
seu couro cabeludo. O humano esguio que se sentava ao lado dela tinha a
mesma pele amarelada da mulher, os mesmos olhos claros, o mesmo brilho.
Aryn presumiu que fossem irmãos. O cabelo escuro dele e a sua longa
barba, trançada e bifurcada em duas pontas, não podiam esconder um rosto
tão marcado por cicatrizes e marcas de varíola que lembrava Aryn do solo
após uma barragem de artilharia. Seus olhos caíram para o fino cabo do
sabre de luz do homem, o volumoso cabo quadrado da mulher.
Ela imaginou que os pais deles notaram o potencial do irmão e da irmã
na Força quando eram jovens e os enviaram para Dromund Kaas para serem
doutrinados. Ela sabia que era isso que faziam com os sensitivos à Força no
Império. Se for verdade, os Sith sentados em frente a ela não tinham
realmente caído para o lado sombrio; eles nunca tiveram a chance de
crescer e se tornar outra coisa.
Ela se perguntou como ela poderia ter mudado se tivesse nascido no
Império. Ela teria treinado em Dromund Kaas, a sua empatia colocada a
serviço da dor e da tortura?
— Não tenha pena deles, — disse Syo em Bocce, como se lesse os
pensamentos dela. Bocce parecia estranho nos lábios dele. — Ou duvide de
si mesma.
A percepção dele a surpreendeu apenas ligeiramente. Ele a conhecia
bem.
— Quem é o empático agora? — ela respondeu na mesma língua.
— Eles escolheram o caminho deles. Como todos nós.
— Eu sei, — ela disse.
Ela balançou a cabeça sobre o potencial desperdiçado, e os olhos de
ambos os Sith rastrearam o movimento dela com o olhar alerta e focado de
predadores rastreando a presa. A Academia em Dromund Kaas os
transformou em caçadores, e eles viam o universo através dos olhos de um
caçador. Talvez isso explicasse a guerra no microcosmo.
Mas isto não fez nada para explicar a paz proposta.
E talvez fosse por isso que Aryn se sentia tão pouco à vontade.
A oferta para negociar o fim da guerra veio como uma queda de raio do
Imperador Sith, espontâneo, inesperado, mandando um choque através do
governo da República. O Império e a República concordaram em uma
reunião em Alderaan, o cenário de uma vitória anterior da República na
guerra, o número e a composição das duas delegações eram limitados e
estritamente proibidos. Para a sua surpresa, Aryn estava entre os Jedi
selecionados, embora ela ficasse perpetuamente estacionada fora da sala de
negociação.
— Você foi honrada por esta seleção, — Mestre Zallow lhe disse antes
dela embarcar na nave para Alderaan, e ela sabia que isso era verdade,
embora se sentisse desconfortável desde que deixou Coruscant. Ela se
sentia ainda menos à vontade em Alderaan. Não que tivesse lutado em
Alderaan antes. Era... outra coisa.
— Eu estou bem, — ela disse a Syo, na esperança de que dizer isso
funcionaria como um feitiço e que isso funcionaria. — Falta de sono,
talvez.
— Fique à vontade, — ele disse. — Tudo vai dar certo.
Ela assentiu, tentando acreditar nisso. Ela fechou os olhos no Sith e
voltou-se para os ensinamentos do Mestre Zallow. Ela sentiu a Força dentro
e ao redor dela, uma matriz de linhas brilhantes criadas pela interseção de
todas as coisas vivas. Como sempre, a linha do Mestre Zallow brilhava tão
intensamente quanto uma estrela-guia em seu espaço interior.
Ela sentia falta dele, da presença calma dele, da sabedoria dele.
Focando dentro de si, ela escolheu um ponto em sua mente, fez um
buraco e deixou seu desconforto escoar por ele.
A calma caiu sobre ela.
Quando ela abriu os olhos, ela os fixou no Sith masculino. Algo na
expressão dele, um olhar conhecedor, meio oculto por seu sorriso de
escárnio, perturbou Aryn, mas manteve o rosto neutro e sustentou o seu
olhar, imóvel como uma escultura.
— Eu vejo você, — o Sith disse do outro lado da sala.
— E eu a você, — ela respondeu, com a sua voz firme.
Malgus deixou a sua raiva aumentar a cada passo que ele dava em
direção à entrada do Templo. A Força respondeu ao seu estado emocional,
ele a reteve aumentando o seu poder até que ele foi inundado por ela. Ele
sentiu a semente do medo crescendo nas entranhas dos soldados.
— Eu disse pare, — disse o soldado líder novamente.
— Não faça nada. — disse Malgus para Eleena por cima do ombro. —
Estes são meus.
Ela deixou as suas mãos caírem para os lados e se postou atrás dele.
Os três guardas se espalharam formando um arco enquanto se
aproximavam dele, os seus movimentos cautelosos, os rifles blaster prontos.
A entrada do Templo, uma abertura de quinze metros de altura na fachada
do edifício, emergia atrás deles.
— Quem é você? — perguntou o guarda.
A última palavra pairou no ar, congelada no tempo, enquanto Malgus
chamava a Força e aumentava a sua velocidade. O cabo do seu sabre de luz
encheu a sua mão e a sua linha vermelha cortou o ar. Ele fez um corte
transversal no guarda à sua frente, colocando um cânion negro no peito
dele, continuou com o movimento passando pelo guarda à sua esquerda e
com a mão esquerda usou uma rajada de força para conduzir o terceiro
guarda na parede do Templo com força suficiente para esmagar ossos e
matá-lo.
Malgus sentiu a repentina onda de terror dos dois soldados na saliência
acima à sua esquerda, sentiu-os mirar com as mãos suadas e começar a
apertar os gatilhos. Ele jogou o seu sabre de luz neles, guiando-o com a
Força em um arco vermelho cintilante que cortou os dois, então chamou a
lâmina de volta para a sua mão. Ele o desativou e pendurou no cinto.
O rugido de um foguete chamou a sua a tenção. Em uma saliência acima
da entrada do Templo, a Mandaloriana direcionou o tiro de suas costas até
uma janela alta em uma das camadas superiores do Templo e desapareceu lá
dentro. Confiava que ela se juntaria a ele para o combate interno.
Ele verificou o seu cronômetro, observou os números evaporarem. Vinte
e nove segundos.
Eleena tomou a posição à sua direita e eles entraram no Templo.
O sol poente em suas costas alcançou a enorme porta e estendeu as suas
sombras diante deles, arautos gigantescos e sombrias marcando o caminho à
frente. Dentro do Templo havia uma quietude, uma paz que logo seria
desfeita.
As botas de Malgus bateram no chão de pedra polida. O átrio se estendia
diante deles por várias centenas de metros. Duas fileiras de colunas
elegantes iam do chão ao teto de cada lado, enquadrando uma procissão no
centro do salão. Saliências e varandas também se alinhavam em ambos os
lados.
Malgus sentiu a presença de mais guardas e Jedi à sua direita, na sua
esquerda e diante dele.
Ele checou o seu cronometro. Doze segundos.
Um movimento acima e para a sua direita, depois para a esquerda, atraiu
os seus olhos. Os Padawans curiosos olharam para baixo das saliências
acima.
Adiante, meia dúzia de Jedi com túnicas e capuzes caíram das varandas
e tomaram posição no corredor. Outro Jedi desceu a grande escadaria no
final do corredor. A assinatura da Força nele irradiava poder, confiança, um
Mestre.
Como um só, os sete Jedi se moveram em direção a Malgus e Eleena, e
ambos se moveram em direção a eles.
Mais e mais Padawans se reuniam nas varandas e passarelas acima,
faíscas da blasfêmia do lado da luz cintilando na percepção de Malgus.
As mais poderosas assinaturas dos Jedi na Força que se aproximavam e
pressionavam a Malgus, e a sua poderosa assinatura contra as deles, o poder
de cada um distorcendo o outro com a sua presença.
Em sua mente, a contagem regressiva continuava.
O espaço entre ele e os Jedi diminuiu.
O poder dentro dele cresceu.
Eles pararam a dois metros. O Mestre Jedi jogou o capuz para trás para
revelar cabelos loiros grisalhos nas têmporas, um rosto bonito e corado.
Malgus sabia o nome dele por meio dos seus informes de inteligência,
Mestre Ven Zallow.
Na aparência, Zallow era tudo o que Malgus, com a sua pele pálida,
cicatrizes e pele sem pelos, não era. Com respeito à Força, Malgus era tudo
que Zallow não era.
Os seis Cavaleiros Jedi que acompanhavam Zallow se espaçaram em
torno de Malgus e Eleena, para minimizar o espaço de manobra. Os Jedi o
olharam com cautela, como fariam com um predador aprisionado.
Eleena ficou de costas com as costas de Malgus. Malgus sentiu a
respiração dela, profunda e regular.
O silêncio dominou o salão.
Em algum lugar, um Padawan pigarreou. Outro tossiu.
Zallow e Malgus se olharam nos olhos, mas não trocaram palavras.
Nenhuma foi necessária. Ambos sabiam o que aconteceria a seguir, o que
deveria acontecer.
O cronometro no pulso de Malgus começou a bipar. O leve som soou
como uma explosão na vastidão silenciosa do salão.
O som pareceu libertar os Jedi para agir. Meia dúzia de linhas verdes e
azuis perfuraram a penumbra enquanto todos os Cavaleiros Jedi acenderam
os seus sabres de luz, recuaram um passo e assumiram uma posição de
combate.
Todos, exceto Zallow, que se manteve firme diante de Malgus. Malgus
deu um crédito a ele por isso e inclinou a cabeça em uma demonstração de
respeito.
Talvez os Cavaleiros Jedi tenham pensado que o sinal sonoro do
cronômetro indicava algum tipo de bomba. De certa forma, Malgus
imaginou, que sim.
Por trás, outro som quebrou o silêncio. O gemido dos motores da nave
de desembarque sequestrada estava se aproximando.
Malgus não se virou. Em vez disso, ele observou os eventos de trás dele
e os diante dele.
Os Cavaleiros Jedi deram mais um passo para trás, olhando além de
Malgus, a incerteza em suas expressões. Eleena pressionou as costas dela
contra a de Malgus. Sem dúvida ela já podia ver a nave de desembarque
enquanto rugia pra baixo, em direção ao Templo.
Zallow não recuou e os olhos dele permaneceram em Malgus.
O som dos motores da nave de desembarque ficou mais alto, mais
agudo, um grito mecânico prolongado.
Malgus observou os olhos dos Cavaleiros Jedi se arregalarem, ouviu os
gritos de alarme por todo o salão, depois os berros, todos logo sufocados
pelo rugido da nave de desembarque reforçada batendo em alta velocidade
na frente do Templo.
A pedra quebrou e o chão do Templo vibrou com o impacto. Metal
entortou, torceu e guinchou. As pessoas também se curvaram, se retorceram
e gritaram. A explosão coloriu o corredor de laranja, Malgus podia ver isso
refletido nos olhos de Zallow, e a chama repentina atraiu o oxigênio em um
vento poderoso, como se a conflagração fosse um grande par de pulmões
respirando.
Malgus não se virou. Ele tinha visto o ataque milhares de vezes em
modelos de computador e sabia exatamente o que estava acontecendo pelos
sons que ele ouviu.
A enorme velocidade e massa da nave de desembarque permitiram-lhe
reter o ímpeto e derrapar ao longo do chão do Templo, arrancando pedras,
arrastando fogo, tombando colunas, desmoronando balcões, esmagando
corpos.
Mesmo assim Malgus não se mexeu, nem Zallow.
A nave de desembarque derrapou mais perto, mais perto, o som de metal
triturando pedra cada vez mais alto nos ouvidos de Malgus. Mais colunas
colapsadas. Eleena se apertou de novo contra ele enquanto a nave em
chamas e retalhada deslizava na direção deles. Mas ela já estava perdendo
velocidade e logo parou.
Poeira, calor e fumaça encheram o corredor. As chamas estalaram.
Gritos de dor e surpresa penetraram no silêncio repentino.
— O que eles fizeram? — alguém gritou.
— Médico! — gritou outra pessoa.
Malgus ouviu os parafusos explosivos do compartimento de passageiros
especialmente reforçado da nave de desembarque explodirem para fora e
bater no chão como chuva de metal, e ouviu a escotilha ressoar ao bater no
chão.
Pela primeira vez, Zallow olhou além de Malgus, com a sua cabeça
inclinada em uma pergunta. A incerteza entrou em sua expressão. Malgus
saboreou isso.
Um zumbido prolongado e irregular soou enquanto os cinquenta
guerreiros Sith dentro do compartimento da nave de desembarque ativaram
os seus sabres de luz. O som anunciou a queda do Templo, a queda de
Coruscant, a queda da República.
Malgus teve a visão que vira em Korriban, de uma galáxia em chamas.
Ele jogou o capuz pra trás, sorriu e ativou o seu sabre de luz.

ZEERID DEIXOU A FATMAN VOAR livre e para bem longe da superfície de Ord
Mantell. Ele manteve os seus escâneres varrendo a área, temendo que os
piratas pudessem ter aliados em outra nave em algum lugar, mas não viu
sinais de perseguição. Com o tempo, ele se permitiu relaxar.
O rosa das nuvens de Ord Mantell e da estratosfera superior logo deu
lugar ao preto do espaço. O controle planetário não o chamou para
identificação e ele não teria respondido de qualquer maneira. Ele não
respondia a eles. Ele respondia A Permuta, embora nunca tivesse conhecido
um protagonista importante no sindicato cara a cara.
Recebendo as suas instruções por meio de um encarregado que conhecia
apenas como Oren, voava às cegas na maior parte do tempo. Cumpria as
suas atribuições remotamente, recolhia a carga onde lhe era dito e a deixava
onde lhe era dito. Ele preferia assim. Isso fazia parecer menos pessoal, o
que o fazia se sentir menos sujo.
Ele teve o cuidado de devolver a ênfase na privacidade, garantindo que
A Permuta soubesse um pouco sobre ele além do seu passado como soldado
e piloto. Pelo que eles sabiam, ele não tinha amigos nem família. Sabia que
se eles soubessem de Arra, a usariam como uma alavanca contra ele. E não
podia permitir isso. Se algum mal acontecesse a ela ...
Mais uma vez, ele percebeu que estava segurando o manche com muita
força. Relaxou, respirou fundo e recompôs os seus pensamentos. Quando
ele se sentiu pronto, conectou no código do canal subespacial seguro que
usava para se comunicar com Oren. Ele esperou até ouvir o som oco de uma
conexão aberta.
Oren não perdeu tempo com uma saudação.
— A entrega foi boa, eu presumo?
Pela voz dele, Zeerid supunha Oren como um homem humano,
provavelmente em seus quarenta ou cinquenta e poucos anos, embora
pudesse estar usando tecnologia de disfarce de voz.
— Não, — respondeu Zeerid, exalando uma nuvem de fumaça. — A
entrega foi uma emboscada.
Um momento de silêncio, então...
— Os agentes do comprador emboscaram você?
Zeerid balançou a cabeça.
– Eu acho que não. Esses eram homens que não tinha visto antes.
Piratas, eu acho. Talvez mercenários. Eu acho que eles mataram os homens
do comprador e tomaram posse da nave.
— Você tem certeza?
A raiva sangrou no tom de Zeerid.
— Não, eu não tenho certeza. O que há de certo neste trabalho? Sempre?
Oren não respondeu. Zeerid laçou as suas emoções e continuou.
— Eu tenho certeza de que o piloto que eu esperava, um sujeito
chamado Arigo, não estava lá. Mas a nave dele estava. Eu tenho certeza de
que oito homens com blasters e atitudes hostis tentaram fazer buracos em
mim.
— Oito homens. — A voz de Oren estava tensa. Não é um bom sinal. —
O que aconteceu com eles?
Zeerid teve a impressão de que Oren estava observando tudo o que ele
dizia, arquivando na memória para que pudesse peneirar por quaisquer
inconsistências mais tarde.
— Eles estão mortos. Eu farejei o ataque antes que eles o
desencadeassem.
— Isso parece... conveniente, Z-man.
Zeerid olhou para fora da canopi para a estrela de Ord Mantell e
controlou o flash de temperamento. Ele sabia que se Oren suspeitasse de
jogo duplo dele, ou simplesmente não acreditasse na sua história, uma
palavra do homem transformaria Arra em uma órfã.
— Conveniente? Deixe-me dizer o que é conveniente, Oren. Diz-se que
muitos negócios estão indo mal porque A Permuta não lida bem com os
outros sindicatos, incluindo os Hutts. E nada explica os muitos negócios
que dão errado, exceto um vazamento. Isso me diz que A Permuta está
ventilando, Oh, ou os dois.
Oren não perdeu o gancho. Zeerid quase o admirou.
— Se um de meus entregadores acha que pode haver um vazamento,
também pode pensar que é o momento ideal para fazer uma aposta para
alguns produtos ele mesmo. Especialmente se tivesse dívidas pesadas. Faça
com que isso pareça uma emboscada de, digamos, oito homens. Afinal, há
uma desculpa pronta em mãos; esse conflito com os outros sindicatos que
você mencionou.
— Ele poderia, — disse Zeerid. — Mas só se ele fosse estúpido. E eu
não sou estúpido. Ouça, você me deu as coordenadas da entrega em Ord
Mantell. Envie alguém lá, um droide de vigilância. Você vai ver o que eu
deixei lá. Mas faça isso rápido. Alguém vai limpar essa bagunça em breve,
eu aposto.
— Então... como você conseguiu matar oito homens?
A discussão estava prestes a piorar.
— Eles estavam perto demais de um dos contêineres enviados cheios de
granadas quando ele explodiu.
Oren fez uma pausa.
— Um de nossos contêineres enviados explodiu?
Zeerid engoliu em seco.
— Eu perdi na fuga. O resto da carga está intacta.
Seguiu-se um longo silêncio, um abismo de quietude. Zeerid imaginou
Oren folheando o arquivo da sua mente, cruzando a história de Zeerid com
quaisquer outros fatos pertinentes que Oren já sabia ou pensava que sabia.
— Não foi minha culpa, — disse Zeerid. — Você encontra o seu
vazamento, você vai descobrir quem é o culpado.
— Você perdeu carga.
— Eu salvei a carga. Se eu não tivesse descoberto isso, todo o
carregamento teria sido perdido para os piratas.
— Isso teria sido recuperado. É difícil recuperar granadas explodidas.
Você concorda?
— Eu estaria morto.
— Você é substituível. Eu pergunto de novo: Você concorda?
Zeerid não conseguiu responder.
— Eu escolho interpretar seu silêncio como concordância, Z-man.
Zeerid encarou o microfone enquanto Oren continuava:
— Na melhor das hipóteses, você receberá apenas a metade pelo
trabalho. A quantidade de carga perdida será avaliada e adicionada ao seu
marcador. Já ultrapassava dois milhões de créditos, se bem me lembro. A
nota sobre a nave e alguns empréstimos contra o seu jogo.
Oren sempre se lembrava corretamente. O trabalho seria negativo para
Zeerid. Ele queria dar um soco em algo, alguém, mas não havia ninguém na
cabine além dele.
— Isso me deixa mal, Z-man, — disse Oren. — E eu não gosto muito de
parecer mau. Você vai me compensar.
Zeerid não gostou do som disso.
— Como?
Uma pausa, então...
— Fazendo uma entrega de especiaria.
Zeerid balançou a cabeça.
— Eu não entrego especiarias. Esse foi o nosso acordo...
A voz de Oren nunca perdia a calma, mas o tom poderia ter rasgado a
armadura.
— O acordo mudou, dependendo, como era, da conclusão bem-sucedida
das suas atribuições. Você nos deve uma grande quantia em créditos e você
me deve uma grande quantia de imediato. Você vai compensar os dois com
algumas entregas de especiarias. É aí que estão os créditos. Então é aí que
você entrará.
Zeerid não disse nada, não pôde dizer nada.
— Nós estamos combinados, Z-man?
Zeerid fez uma careta, mas respondeu:
— Claro.
— Volte para Vulta. Eu entrarei em contato em breve. Eu já tenho algo
em mente.
Eu aposto que sim, Zeerid pensou, mas não disse.
O canal fechou e Zeerid lançou uma tempestade de granizo de palavrões.
Quando ele finalmente desabafou, ele saiu do poço gravitacional de Ord
Mantell e suas luas, definiu um curso para Vulta e acionou o hiperdrive.
— Eu sou um entregador de especiarias, agora, — ele disse, quando o
negro do espaço se transformou em azul do hiperespaço.
A esteira do círculo vicioso sob os seus pés tinha acabado de ganhar
velocidade.

ARYN SE SENTIU TONTA. Uma onda de emoção a inundou. Ela não conseguia
nomear, ou categorizar isso. Foi apenas uma onda de sentimento incipiente
e cru. Ela estava nadando nele, afundando.
— Algo está acontecendo, Syo, — ela disse, com a voz tensa, — Eu não
sei o que é, mas não é bom.
MESTRE ZALLOW e os seis Cavaleiros Jedi perto de Malgus pularam para trás
e para cima, girando no topo do arco dos seus saltos, e pousaram agachados
a vinte metros de distância.
— Que a Força esteja com todos vocês, — Zallow gritou para os seus
companheiros Jedi, e acendeu a sua lâmina.
Dezenas de outros Jedi saíram do corredor atrás dele e desceram a
escada, as lâminas dos seus sabres de luz visíveis através da fumaça e da
poeira, uma floresta de auriflamas verdes e azuis. Os Jedi não gritavam
enquanto atacavam, mas o barulho das suas botas e sandálias no piso soava
como um trovão evoluindo.
— Fique perto de mim. — disse Malgus por cima do ombro para Eleena.
— Sim, — ela disse, com os seus blasters já em mãos.
Os Sith de Malgus saíram da carcaça da nave, o rugido coletivo deles era
o som de uma fera faminta e cheia de raiva. As linhas vermelhas das suas
lâminas cortaram o ar coberto de poeira. Lorde Adraas, um favorito político
de Darth Angral e uma constante irritação para Malgus, os liderava. Como
todos os guerreiros Sith, exceto Malgus, uma máscara sombria obscurecia o
rosto deles completamente.
Malgus usou a sua antipatia por Adraas para alimentar ainda mais a sua
raiva. Havia solicitado que Darth Angral permitisse que ele liderasse o
ataque sozinho, mas Angral insistiu que Adraas liderasse a equipe da nave
de desembarque.
Descartando a sua capa, descartando as restrições restantes em sua raiva,
Malgus se juntou ao ataque Sith, tomando posição diante de Adraas. A
emoção alimentou o seu poder, e a sua ondulação o ergueu de seus pés. Ele
sentiu o poder do lado sombrio ao seu redor, dentro dele.
Os disparos de blaster cruzaram o campo de batalha da esquerda para a
direita enquanto dois pelotões de soldados da República emergiam de
algum lugar acima e do lado e disparavam contra as fileiras Sith.
Malgus, profundamente aninhado na Força, percebeu as dezenas de raios
e a sua trajetória com perfeita clareza. Sem diminuir o passo, chicoteou a
sua lâmina para a esquerda, direita, angulou dez graus e devolveu três raios
contra os soldados que os dispararam, matando todos os três. Um soldado
explodiu uma granada em seu rosto na Batalha de Alderaan, então ele
gostava de matar soldados quando podia. Atrás dele, os blasters gêmeos de
Eleena responderam à esquerda e à direita com os seus próprios raios,
abatendo mais dois soldados.
As forças Sith e Jedi se encontraram, os Sith lutaram contra a calma dos
Jedi, o chão do Templo, a arena onde séculos de lutas indeterminadas
finalmente chegariam ao fim. Os fortes na Força sobreviveriam e a
compreensão deles da Força evoluiria. Aqueles fracos na Força morreriam.
Malgus procurou Mestre Zallow, mas não conseguiu distingui-lo da
multidão de rostos, poeira, chamas e lâminas brilhantes. Então ele escolheu
um Jedi aleatoriamente na multidão, um homem humano com uma lâmina
azul e uma barba curta, e mirou nele.
Ondas de poder distorceram o ar e alteraram o som enquanto as forças
dos Jedi e dos Sith se chocavam e se misturavam em um emaranhado
caótico de corpos, sabres de luz e gritos.
Malgus aumentou o seu poder com a Força, segurou a empunhadura da
sua lâmina com as duas mãos e desferiu um golpe violento projetado para
partir o Jedi ao meio. O Jedi deu um passo para o lado evitando o golpe e
cortou com a sua lâmina azul a garganta de Malgus. Malgus levantou a sua
lâmina a tempo, defendeu-se e deu um chute no tronco do Jedi. O golpe
dobrou o Jedi ao meio, fazendo-o recuar cinco passos. Malgus saltou no ar,
girou, pousou atrás dele e cravou a sua lâmina no Jedi. Rugindo com desejo
de batalha, Malgus procurou outro oponente.
Um flash de pele lavanda atraiu o seu olhar, Eleena. Ela se abaixou sob
um golpe de sabre e mergulhou para o lado, disparando meia dúzia de tiros
de blaster enquanto o fazia. A Padawan que tentou matá-la, uma fêmea
Zabrak, os chifres de sua cabeça dourados com pigmentos coloridos,
desviou os tiros enquanto ela se aproximava para outro golpe. Eleena ficou
de pé, ainda atirando, mas a Padawan desviou todos os tiros e se
aproximou.
Malgus atraiu a Força e com uma explosão de poder levou a Padawan
através do salão e contra uma das colunas de pedra imponentes, onde ela
desabou, com sangue escorrendo do seu nariz. Eleena continuou atirando,
os seus olhos disparando aqui e ali pelo campo de batalha enquanto
procurava alvos.
A batalha ficou cada vez mais caótica. Os Jedi e os Sith pulavam,
delimitavam, rolavam e davam cambalhotas enquanto as linhas vermelhas
se cruzavam com as azuis e verdes. Explosões de poder enviavam corpos
voando pelo ar, contra paredes, puxavam pedras soltas do teto e as
enviavam se chocando contra a carne. O salão era uma cacofonia de sons:
gritos, berros, o zumbido de sabres de luz, o som intermitente de armas de
fogo. Malgus caminhou no meio deles, deleitando-se com isso.
Ele observou Lorde Adraas saltar para o meio de um esquadrão de
soldados da República e marcar a sua aterrissagem com uma explosão de
energia da Força que lançou os soldados para longe como folhas secas.
Malgus, para não ficar atrás, escolheu um Cavaleiro Jedi ao acaso, uma
fêmea humana a dez metros de distância, estendeu a mão esquerda e liberou
veias de relâmpago azul das pontas dos dedos. As linhas irregulares de
energia cortaram uma faixa através da batalha, colhendo dois Padawans
enquanto avançavam, até que alcançaram a Cavaleira Jedi e a levantaram
do chão.
Ela gritou quando o relâmpago rasgou dentro dela, a sua carne
temporariamente translúcida pelo poder das trevas correndo por ela. Malgus
saboreou a dor dela enquanto ela morria.
Ele pegou Adraas olhando pra ele e deu-lhe uma saudação zombeteira
com seu sabre de luz.
O som agudo das explosões de Eleena chamou a sua atenção. Ela saltou
passando por ele e sobre o cadáver da Cavaleira Jedi fêmea morta, um
borrão lavanda disparando rapidamente. Colocando as suas costas em uma
coluna, ela se agachou e procurou alvos para os seus blasters. Encontrou os
olhos dele, piscou e sinalizou atrás dele. Ele girou para ver uns vinte ou
mais soldados da República correndo para dentro do salão de uma sala
lateral, rifles blaster traçando linhas quentes através do campo de batalha.
Eleena respondeu com os seus próprios disparos.
Antes que Malgus pudesse despachar os soldados, a Mandaloriana se
levantou de algum lugar atrás deles, o jetpack dela cuspindo fogo, a sua
armadura prateada e laranja da cabeça aos pés brilhando no fogo do salão.
Pairando no ar como um espírito vingador, ela disparou dois pequenos
mísseis de suportes no pulso. Eles atingiram o chão perto dos soldados da
República e floresceram em chamas. Corpos, gritos e pedras soltas voaram
em todas as direções. Ainda pairando, ela girou em um círculo no ar
enquanto o lança-chamas montado em seu antebraço engolfava outro grupo
de soldados.
Malgus sabia que a batalha havia mudado, que logo terminaria. Ele
olhou ao redor, ainda procurando Zallow, o único oponente em campo
digno da sua atenção.
Antes que ele pudesse localizar o Mestre Jedi, mais três Jedi o cercaram.
Ele aparou o golpe de um macho humano, saltou sobre o golpe baixo de
uma fêmea Togruta de pele laranja, cortou a mão da terceira, uma fêmea
humana, desarmando-a, em seguida, agarrou-a pelo pescoço com a mão
livre e bateu com ela no chão com a sua força reforçada.
— Alara! — disse o homem humano.
Saltando alto sobre o golpe transversal do macho humano, Malgus
pousou atrás da Togruta, que desviou o golpe do sabre de luz, mas não
conseguiu se defender contra uma explosão da Força que a enviou
derrapando pelo corredor e em uma pilha de escombros.
Malgus rugiu, o desejo pela batalha tão pronunciado que teria matado os
seus próprios guerreiros se não houvesse nenhum Jedi para matar. Ele
queria, precisava matar outro e fazê-lo com as suas mãos.
Ele se abaixou sob um golpe do homem, avançou e pegou o Jedi pela
garganta. Ele o ergueu de seus pés e o segurou suspenso no ar, engasgando.
Os olhos castanhos do Jedi não mostraram medo, mas mostraram dor.
Malgus rugiu, apertou com força e, em seguida, largou o corpo e parou
sobre ele, a lâmina ao lado do corpo, a respiração ofegante. A batalha ainda
girava aao redor dele e ele estava no centro, o olho da tempestade Sith.
Malgus finalmente avistou o Mestre Zallow a dez passos de distância,
girando, rodopiando, com a sua lâmina verde era borrão de precisão e
velocidade. Um guerreiro Sith caiu diante ele, e outro. Lorde Adraas
pousou antes dele, tentando tirar a morte de Malgus para si. Adraas se
abaixou e cortou perto dos joelhos de Zallow. Zallow saltou sobre o golpe e
liberou uma rajada de energia que enviou Adraas derrapando de costas pelo
salão.
— Ele é meu! — Malgus gritou, avançando pelo campo de batalha. Ele
se repetiu ao passar por Adraas. — Zallow é meu!
Zallow deve ter ouvido Malgus, pois se virou e encontrou os seus olhos.
Eleena também deve ter ouvido os gritos de Malgus. Ela emergiu de trás da
coluna, deduziu a intenção de Malgus e disparou vários tiros em Zallow.
Zallow, com os olhos em Malgus o tempo todo, desviou os raios com a
sua lâmina e os mandou de volta para Eleena. Dois tiros a atingiram, e
quando ela desabou Zallow usou uma explosão da Força para lançar o
corpo dela contra uma coluna.
Malgus parou no meio do caminho, a sua raiva diminuiu
temporariamente. Ele se virou e olhou para a forma caída de Eleena por um
longo momento, o corpo lilás dela desabado no chão, seus olhos fechados,
dois círculos pretos estragando o campo roxo liso de sua carne. Ela parecia
uma flor murcha.
A raiva o encheu, o venceu. Um grito de ódio, cru e irregular, explodiu
de sua garganta. O poder veio com isso, quebrando uma coluna próxima e
enviando uma chuva de fragmentos de pedra pelo corredor.
Ele voltou o seu olhar para Zallow e caminhou em direção a ele, com a
sua raiva e poder surgindo diante dele em uma onda palpável. Outro Jedi
entrou na frente dele, a lâmina azul erguida. Malgus mal o viu. Ele
simplesmente estendeu a mão, empurrou as defesas insuficientes do Jedi,
prendeu a garganta dele com a Força e o sufocou até a morte. Jogando o
corpo de lado, ele se moveu em direção a Zallow.
Zallow, por sua vez, moveu-se em direção a Malgus. Um guerreiro Sith
saltou para Zallow a partir de sua esquerda, mas Zallow saltou sobre a
lâmina do Sith, girou, cortou e cortou o Sith.
Zallow e Malgus se encontraram. Eles pararam a um metro, estudaram
um ao outro por um momento.
Um cavaleiro Jedi humano se separou do redemoinho da batalha e
apunhalou Malgus. Malgus deu um passo para o lado evitando a linha azul
da lâmina, deu um soco no estômago do homem, dobrando-o e ergueu a
própria lâmina dele para um golpe mortal.
Zallow saltou para frente e interceptou o golpe descendente. Zallow e
Malgus se encararam e o resto da batalha acabou.
Havia apenas Malgus e a sua raiva, e Zallow e a sua calma.
Com as suas lâminas chiando em oposição, cada um usou a Força para
pressionar contra a força do outro, mas nenhum tinha uma vantagem óbvia.
Malgus gritou de raiva no rosto de Zallow. Apenas uma sobrancelha
franzida e a linha tensa da sua boca traíam a tensão por trás da expressão
tranquila de Zallow.
Alimentando-se da raiva por Eleena, Malgus empurrou Zallow para
longe e desencadeou um ataque violento de golpes e cortes transversais.
Zallow recuou, parando, incapaz de responder com os seus próprios golpes.
Malgus tentou dividir a cabeça de Zallow, mas Zallow bloqueou novamente
e de novo.
Malgus girou em um chute alto aumentado pela força que atingiu Zallow
no peito e o mandou voando para trás dez metros. Zallow capotou e pousou
ereto agachado perto de dois dos guerreiros Sith de Malgus.
Eles investiram contra ele e Zallow defendeu um golpe, saltou sobre o
segundo e girou em um círculo rápido, cortando ambos os Sith.
Malgus, queimando de ódio, jogou o seu sabre de luz em Zallow. Ele
guiou a sua trajetória com a Força, e ela girou em um caminho escaldante
pelo ar no pescoço de Zallow. Mas Zallow, aproveitando o impulso do seu
ataque ao segundo Sith, saltou no ar e por cima da lâmina.
Enquanto Zallow ainda estava no ar, Malgus liberou uma explosão de
energia que pegou o Jedi despreparado e o fez cair em uma pilha de
escombros. Ele ficou lá, deitado.
Malgus não hesitou. Ele carregou a coluna com a sua raiva, gritando de
ódio, e saltou vinte metros no ar em direção a Zallow. No meio do salto,
usou a Força para trazer de volta sua lâmina à mão, segurou com as duas
mãos apontando o sabre pra baixo e se preparou para prender Zallow no
chão do Templo.
Mas Zallow rolou para fora do caminho no último momento e a lâmina
de Malgus afundou até o cabo na pedra do chão do Templo. Zallow saltou
sobre Malgus, pousou agachado, reativou o seu sabre de luz e disparou pelo
chão de volta para Malgus.
Deixando de lado a velocidade e graça pelo poder, Zallow desferiu uma
enxurrada de golpes, cortes e investidas rápidas. Malgus aparou um golpe
após o outro, mas não conseguiu encontrar uma abertura para montar o seu
próprio contra-ataque. Pulando pra a frente, Zallow o atacou
transversalmente, Malgus desviou e Zallow bateu com o cabo do seu sabre
na lateral da mandíbula de Malgus.
Um dente se desprendeu e o seu respirador foi derrubado. Malgus sentiu
o gosto de sangue, mas estava muito envolvido na Força para que o golpe
causasse danos reais. Ele cambaleou um passo para trás, como se o golpe o
tivesse atordoado.
Vendo uma abertura, Zallow avançou e cortou perto da garganta de
Malgus.
Como Malgus sabia que ele faria.
Malgus virou a sua lâmina na vertical para aparar o golpe e girou para
fora do bloqueio da lâmina. Invertendo o seu sabre de luz durante o giro, ele
o guiou em uma estocada que perfurou o abdômen de Zallow e saiu do
outro lado.
A expressão de Zallow caiu. Ele ficou pendurado ali, empalado pela
linha vermelha. Ele se manteve nos olhos de Malgus, e Malgus viu as
chamas do Templo queimando refletidas nas íris verdes de Zallow.
— Tudo vai queimar, — disse Malgus.
A testa de Zallow franziu, talvez de dor, talvez de desespero. De
qualquer maneira, Malgus gostou. Ele esperou que a luz desaparecesse dos
olhos de Zallow antes de soltar a lâmina e permitir que o corpo caísse no
chão.

O CHOQUE ATINGE A ARYN sem nenhum aviso, uma sensação tão repentina e
poderosa como um tiro de blaster. O seu corpo teve um espasmo. A pulseira
da tranquilidade em sua mão, a pulseira dada a ela por Mestre Zallow,
quebrou em seu punho cerrado e os pedaços em forma de lágrimas de coral
choveram no chão.
Ela se dobrou e gemeu. O seu estômago embrulhou. A sua visão ficou
turva. A sala girou. As suas pernas se dissolveram e sentiu-se escorregando,
caindo, afundando. Um punho se formou em sua garganta, estrangulando o
grito que queria ser liberado e permitindo que se soltasse apenas como um
lamento abortado e cheio de dor.
Através da sua conexão na Força, sentiu a pontada aguda de agonia que
o Mestre Zallow experimentou, sentiu a sua própria respiração com
dificuldade em simpatia quando ele deu o último suspiro e morreu. A linha
da vida dele, geralmente tão brilhante em sua mente quando ela sentia a
Força, geralmente tão perto da sua própria linha, desapareceu da sua
percepção.
Ao lado dela, a respiração aguda e surpresa de Syo lhe disse que ele
havia sentido algo também.
Apesar da dor dela, o desespero crescente, a realidade caiu sobre ela
imediatamente. Ela tinha visto isso nos olhos do homem Sith.
— O que foi isso? — Syo perguntou, a sua voz aparentemente distante,
mas a sua pergunta cheia de possibilidades.
Ela ergueu a cabeça, o cabelo comprido balançando diante do rosto, e
olhou para o outro lado da sala. Ambos os Sith estavam de pé, os corpos
deles tensos, o conhecimento nos olhos deles.
— Nós fomos traídos, — ela respondeu, a sua voz um silvo.
Ela não disse que o seu Mestre, o homem que tinha sido um pai pra ela,
estava morto.
Ela ficou surpresa ao descobrir que as suas pernas estavam firmes
enquanto se endireitava. Um grupo de pessoas estava perto dela. Não, não
pessoas. Eles eram estátuas, estátuas Alderaanianas. Ela estava em
Alderaan para as negociações de paz com os Sith.
E os Sith os traíram. Ela havia lutado contra os Sith em Alderaan antes,
durante a batalha pelo planeta. Ela faria isso de novo. Agora.
— Como você sabe disso, Aryn?
Mas a voz de Syo, a dúvida dele, não minou a certeza dela.
— Eu sei, — ela esbravejou.
Os Sith também sabiam. Eles sabiam o tempo todo. Ela podia ver nos
rostos deles.
A sua visão destilou até que consistisse inteiramente nos dois Sith e nada
mais. Um rugido encheu os seus ouvidos, as ondas quebrando de dor e raiva
crescente. Ela ouviu uma voz chamando o seu nome de algum lugar
distante, repetindo como se isso fosse uma invocação, mas ela não prestou
atenção.
Ambos os Sith a olharam, as suas posturas prontas para o combate. O
homem exibia o mesmo sorriso de desprezo, a curva dos seus lábios finos
mais feia do que as cicatrizes que revestiam seu rosto.
— Aryn! — Era Syo chamando o nome dela. — Aryn! Aryn!
Eles sabiam. Os Sith sabiam.
— Eles sabiam o tempo todo, — ela disse, falando tanto para si mesma
quanto para Syo.
— O que? Sabiam o quê? O que aconteceu?
Ela não se preocupou em responder. Ela caiu na Força, aproveitando este
poder.
O tempo pareceu ficar lento. Ela se sentia como se existisse fora de si
mesma, observando. O corpo dela se moveu pela antecâmara, as suas botas
espalhando o coral da sua pulseira. A violência encheu a sua mente
enquanto se movia entre as estátuas de homens e mulheres de paz.
— Aryn! — Syo chamou. — Não faça isso.
Ela não pegou o seu sabre de luz. A sua necessidade não permitiria tal
justiça antisséptica. Ela vingaria a morte de Mestre Zallow com as próprias
mãos.
— Nenhuma morte limpa para você, — ela disse através da parede de
seus dentes cerrados.
Uma parte distante dela reconheceu o seu deslize emocional, reconheceu
de passagem que o Mestre Zallow não teria aprovado. Ela não ligava. A dor
era muito profunda, muito forte. Isso queria se expressar em violência e os
dois Sith na sala se tornaram o foco da sua necessidade.
O homem Sith alcançou o sabre de luz dele. Antes que ele pudesse ativá-
lo, Aryn lançou uma explosão de poder que levantou os dois Sith de seus
pés e os jogou contra a parede. Duas estátuas Alderaanianas, capturadas
pelo efeito de seu poder, se chocaram contra a parede de cada lado dos Sith
e se estilhaçaram em pedaços.
Os Sith devem ter usado a Força para amortecer o impacto, pois nenhum
dos dois parecia ferido. Ambos ficaram de pé e se separaram para o
combate. Empunhaduras chegaram às mãos e os sabres de luz deles fizeram
linhas vermelhas no ar. O homem segurou a sua lâmina acima da sua cabeça
em um estilo pouco convencional, esperando o seu ataque, ligeiro na planta
dos pés. A mulher segurou o dela baixo, em uma variante do estilo médio.
Atrás dela, Aryn ouviu o zumbido de Syo ativando a lâmina dele. Ela
não retardou o seu avanço. Usando a Força, puxou a empunhadura do
homem da mão dele e a trouxe voando para o seu próprio alcance. Em
seguida, ela a jogou de lado, e o sorriso desdenhoso dele derreteu no calor
da surpresa dele.
Ela avançou para ele, sem se importar com a mulher, imaginando a
sensação de suas mãos na garganta dela. Ele respondeu a abordagem dela
com uma explosão de poder, mas ela fez um V com as mãos, formou uma
cunha com a sua vontade e desviou a explosão para os dois lados dela. Mais
estátuas tombaram e se espatifaram. A mulher Sith, apanhada pela explosão
desviada, foi jogada a dez passos atrás.
Ela deu cinco passos, quatro. O homem Sith assumiu uma postura de
combate. Eles lutariam não com sabres de luz, mas com as mãos, um
trabalho próximo e sangrento.
Aryn usou a Força para aumentar a sua força, e a sua velocidade. Ela a
sentiu fluindo dentro e ao redor dela, transformando seu corpo em uma
arma...
— Aryn Leneer! — disse uma voz de comando, a voz da Mestra
Dar'nala. — Cavaleira Jedi Aryn Leneer!
Syo também a chamou.
— Aryn! Pare!
A combinação das vozes de Dar'nala e Syo penetrou na névoa do estado
emocional dela. Ela vacilou, diminuiu a velocidade, parou. A razão abriu
caminho através da turbulência emocional dela e ela deu voz aos seus
pensamentos. Sem tirar os seus olhos do homem Sith, ela disse:
— Os Sith nos traíram, Mestra Dar'nala. As negociações foram um
estratagema.
Dar'nala não falou por um momento. Então,
— Você... sentiu isso?
As lágrimas lutaram para cair dos olhos de Aryn, mas ela as forçou a
voltar. Ela assentiu, incapaz de falar.
As próximas palavras da Mestra Dar'nala atingiram Aryn como um soco
no estômago.
— Me escute, Aryn. Eu sei. Eu sei. Mas ouça-me agora... Coruscant está
nas mãos do Império.
A respiração de Aryn saiu dela. A afirmação não fazia sentido.
Coruscant, o coração da República, havia caído nas mãos do Império?
— O que? — Syo perguntou. — Como? Eu pensei...
— Isso não pode ser, — disse Aryn. Ela deve ter ouvido mal. Ela se
virou do homem Sith, que havia recapturado o seu sorriso de escárnio, para
ficar de frente para a líder da delegação Jedi.
Mestra Dar'nala estava na arcada, a sua pele de um vermelho mais
profundo do que o normal. O senador Am-ris e uma Cavaleira Jedi Sênior,
Satele Shan, a flanqueavam. O senador, um Cereano cuja juba de cabelo
branco chegava ao topo do precipício da sua testa franzida, elevava-se sobre
os outros dois. Os seus olhos preocupados pareciam sair de um rosto
enrugado, mas sem focar em nada. Ele parecia perdido.
Satele, por outro lado, parecia tão tensa quanto uma bobina de íon, seu
olhar fixo em frente, seu cabelo castanho avermelhado despenteado, o
verniz da sua expressão neutra incapaz de mascarar a emoção fervendo por
baixo dela.
Nem Am-ris nem Satele pareceram notar a destruição no salão. Ambos
pareciam atordoados, deslocados, de olhos vazios vagando pelas ruínas dos
eventos. Apenas Dar'nala parecia serena, com as suas mãos cruzadas diante
dela, seus olhos observando os detalhes da sala, as esculturas quebradas, a
posição de Aryn em relação aos dois Sith.
Aryn se perguntou o que havia acontecido na sala de negociação. Por um
momento fugaz, a esperança cresceu nela, esperança de que os seus
companheiros Jedi tivessem percebido a traição Sith e prendido ou matado
os negociadores Sith, mas essa esperança se desvaneceu quando o
negociador Sith líder, Lorde Baras, saiu da câmara e ficou perto de Dar
'nala.
Seu rosto enrugado não conseguia conter a presunção que ele sentia. Isso
vazava pelos cantos elevados da boca dele. Seu cabelo escuro, penteado
para trás, parecendo uma viúva, combinava com as suas vestes e olhos
escuros. Em um tom de barítono arrogante, ele disse:
— Isso pode ser, Cavaleira Jedi. E isso é. Coruscant caiu.
Satele visivelmente tensa; sua mão esquerda cerrada em punho. Am-ris
cedeu. Dar'nala fechou os olhos por um momento, como se lutasse para
manter a calma.
— A partir de agora, — Lorde Baras continuou, — Coruscant pertence
ao Império.
— Como...? — Aryn começou, mas Dar'nala levantou a mão.
— Não diga mais nada. Não diga mais nada.
Aryn engoliu a pergunta que ela desejava fazer.
— Desative o seu sabre de luz, — disse Dar'nala a Syo, e ele assim o
fez. A mulher Sith fez o mesmo.
— O que aconteceu aqui? — Lorde Baras perguntou, os olhos dele no
irmão e irmã Sith, e na ruína na sala.
O homem Sith curvou-se, usou a Força para puxar o cabo do sabre de
luz para a mão e prendeu-o no cinto.
— Um ligeiro desacordo, Lorde Baras. Nada mais. Por favor, perdoe o
tumulto.
Baras encarou o homem Sith por um tempo, depois a mulher.
— É bom que o desacordo não tenha levado a derramamento de sangue.
Afinal, estamos aqui para discutir a paz.
Ele parecia prestes a cair na gargalhada. Am-ris se virou para ele. Satele
agarrou a capa do Senador, como se fosse uma coleira, para impedi-lo de
chegar muito perto de Baras.
— Paz! Todo esse processo foi uma farsa...
— Senador, — disse Dar'nala, e pegou Am-ris pelo braço. Mas Am-ris
não queria nada disso. Sua voz ganhou volume quando deu vazão à sua
raiva.
— Você não veio aqui para discutir a paz! Você veio aqui para mascarar
um ataque furtivo contra Coruscant. Vocês são mentirosos desonrosos,
dignos de...
— Senador! — Dar'nala disse, e o tom dela deve ter chegado a Am-ris,
pois ele ficou em silêncio, a respiração dele vindo rápida e forte.
Lorde Baras parecia imperturbável pela explosão de Am-ris.
— Você está enganado, Senador. O Império está aqui para discutir a paz.
Nós queríamos simplesmente garantir que a República fosse mais receptiva
aos nossos termos. Eu devo entender que a sua explosão significa que a
República não está mais interessada em negociar?
Enquanto Am-ris ficava vermelho e gaguejava, Dar'nala interrompeu.
— As negociações continuarão, Lorde Baras.
— Você é sempre a voz da sabedoria, Dar'nala, — disse Baras. — O
Império espera um retorno à mesa de negociações a esta hora amanhã. Do
contrário, as coisas irão... mal para o povo de Coruscant.
A pele de Dar'nala escureceu ainda mais, mas a voz dela permaneceu
plácida...
— A nossa delegação discutirá os assuntos e entrará em contato com
você amanhã.
— Eu vou esperar por isso. Descanse bem.
Am-ris amaldiçoou Baras em Cereano e Baras fingiu não ouvir.
Enquanto a comitiva da República abria caminho entre os escombros no
salão, entre os escombros em seus corações, Aryn sentiu os olhos
zombeteiros do homem Sith sobre ela e mal pôde conter um grito de raiva.
Antes de sair da sala, ela se ajoelhou e pegou uma das contas de coral da
sua pulseira quebrada.
Malgus examinou a ruína. O casco da nave de desembarque ainda
fumegava e queimava em alguns lugares. Pedaços de metal enegrecido
pontilhavam o salão. Paredes e colunas foram reduzidas a pilhas de entulho
recortado. Rachaduras percorriam as paredes e o teto. A luz do sol poente
do dia traçava linhas cheias de poeira do telhado ao chão. Corpos, muitos
deles dos Sith, mas a maioria deles de Jedi e militares da República, jaziam
espalhados pelo chão, em meio aos escombros. Alguns gemidos soaram
aqui e ali. A Mandaloriana estava na entrada destruída do Templo. Ela
segurava o capacete debaixo do braço e o sol brilhou em seus longos
cabelos. Os olhos dela se moveram pela destruição, a linha dura da sua boca
não mostrando nenhuma emoção. Ela deve ter sentido os olhos de Malgus
nela. Ela encontrou o olhar dele e assentiu. Ele retribuiu o gesto, um
guerreiro reconhecendo o outro. Ela colocou o capacete de volta, se virou,
acendeu o seu jato propulsor e decolou para o céu de Coruscant. O Império
cuidaria do seu pagamento.
Dos cinquenta guerreiros Sith que atacaram o Templo, talvez uns vinte
permanecessem em pé. Malgus ficou descontente, mas não surpreso ao ver
o Lorde Adraas dentre os vivos. Eles também compartilharam um olhar
através da ruína, mas nenhum gesto mútuo reconheceu a afinidade deles
como guerreiros. Nenhum creditou nada ao outro.
Com a batalha terminada, os guerreiros Sith restantes se reuniram perto
da nave e ergueram os punhos em uma saudação a Malgus, bradando um
grito de vitória entre os seus inimigos caídos. Por um momento, Adraas
ficou entre eles e não fez nada, apenas olhou para Malgus, então ele
também, relutantemente juntou-se à saudação. Malgus deixou o atraso dele
passar.
Por enquanto.
Malgus reconheceu a saudação com um aceno de cabeça.
— Vocês são servos do Império, — ele disse. — E da Força.
Eles gritaram mais uma vez em resposta.
Malgus chutou o punho da arma de Zallow para fora do seu caminho,
desativou o seu próprio sabre de luz, passou por cima do corpo de Zallow e
caminhou entre os escombros, entre as fogueiras, entre os mortos, até
chegar a Eleena. Ele sentiu os olhos dos seus guerreiros sobre ele, os olhos
de Adraas, sentiu a mudança de sentimento tomar conta deles. Ele não se
importou.
Ele se ajoelhou e embalou Eleena nos seus braços. Ela permanecia
aquecida, respirando. Os ferimentos enrugados da arma de fogo que Zallow
havia causado a ela pareciam bocas pretas na pele de seu ombro e peito. Ela
parecia não ter ossos quebrados.
— Eleena. Abra os seus olhos. Eleena.
Os olhos dela se abriram.
— Veradun, — ela sussurrou.
Ouvir ela pronunciar o seu nome perante outro Sith o surpreendeu, e a
mão dele se fechou em um punho tão apertado que fez os seus dedos
doerem. Ela nunca deve, nunca, se comportar familiarmente com ele na
frente de outro Sith.
Ela deve ter percebido a raiva dele, pois empalideceu, se encolheu,
olhando para o punho fechado dele, com os olhos arregalados dela.
Como ela entendeu a transgressão a raiva dele dissipou. Ele desenrolou
o punho e estendeu a mão.
— Você aguenta ficar de pé?
— Sim. Obrigado mestre.
Ele a ergueu bruscamente, sem se importar com os ferimentos dela. Ela
estremeceu de dor e se apoiou nele. Ele permitiu. A respiração dela veio em
suspiros de dor.
— Chame uma equipe médica da Inabalável, — ele ordenou a Adraas.
Os olhos de Adraas se estreitaram. Sem dúvida, ele pensou que a tarefa
estava abaixo dele.
— Você ouviu o Darth Malgus, — Adraas disse a um guerreiro Sith
próximo. — Chame uma equipe médica.
— Não, — disse Malgus. — Faça você, Adraas.
Adraas o encarou por um momento, raiva em seus olhos, antes de puxar
uma cortina para cobrir a sua irritação e tornar o seu rosto inexpressivo.
— Como desejar, Darth Malgus.
Do lado de fora, explosões como trovões soaram, a batida constante de
bombardeio intenso. A frota de Angral havia começado o seu ataque a
Coruscant.
— Eu sinalizei para Darth Angral que o Templo estava seguro, — disse
Adraas, o mais leve indício de desafio em seu tom. — Você parecia...
preocupado com outras coisas na hora.
O olhar de Adraas pousou em Eleena, depois voltou para Malgus.
Malgus olhou para Adraas, um punho cerrado, e lutou contra o impulso
da raiva. Ele não permitiria que a insubordinação limítrofe de Adraas
diminuísse a pressa que sentia pela sua vitória.
— Eu perdoarei a sua arrogância de poder desta vez, mas não ultrapasse
novamente, — disse Malgus. — Agora saia da minha vista.
Adraas corou de raiva, a sua boca era uma linha fina de raiva, mas não
ousou dizer mais uma palavra. Deu uma meia reverência e se afastou.
Malgus apertou Eleena com mais delicadeza enquanto se viravam para
olhar pra fora. A entrada em ruínas do Templo, ampliada pela nave de
desembarque que se chocou contra ela, abria-se para o céu claro. Juntos, ele
e Eleena assistiram aos bombardeiros Imperiais saírem das nuvens laranja e
vermelhas e iluminar Coruscant com chamas.
— Vá ver, Mestre. — sussurrou Eleena para ele. — É a sua vitória. Eu
estou bem. Vá.
Ela não estava bem e ele sabia disso. Mas também sabia que ele
precisava ver.
Ele a deixou e caminhou pelo salão até chegar à entrada destruída. As
estátuas dos Jedi que se alinhavam no caminho processional caíram,
quebradas ao seus pés. Ele olhou para o ponto culminante de sua vida.
Naves Imperiais enxamearam no ar. As bombas caíam como chuva e
explodiam em chuvas vermelhas, laranjas e pretas. Gotas de fumaça se
derramavam do céu. As poucas speeders nativas que permaneceram no ar
foram perseguidas por caças Imperiais e abatidas. Centenas de incêndios
encheram o campo de visão de Malgus. Uma arranha-céus queimava, um
pilar de chamas alcançando os céus. Explosões secundárias enviaram
vibrações profundas gemendo pelo solo. Malgus ocasionalmente captava
sons de gritos distantes e em pânico. Um punhado de caças da República
voavam, mas eles foram rapidamente cercados por caças Imperiais e
explodidos do céu.
Ele abriu um canal de comunicação para a Trevas, o cruzador de
comando de Angral.
— Darth Angral, você ouviu dizer que o Templo Jedi está seguro?
O som de uma ponte movimentada serviu como ruído de fundo para a
resposta de Angral.
— Eu ouvi. Você fez bem, Darth Malgus. Quantos guerreiros morreram
no ataque?
— Adraas não te contou?
Angral não respondeu, apenas esperou que Malgus respondesse à
pergunta original.
— Talvez trinta, — disse Malgus por fim.
— Excelente. Eu enviarei um transporte para buscar você e os seus
homens.
— Eu prefiro que você espere.
— Oh?
— Sim. Eu gostaria de ver Coruscant queimar.
— Eu entendo, velho amigo. Vou garantir que os bombardeiros poupem
o Templo. Por enquanto.
O canal fechou e Malgus sentou-se de pernas cruzadas na porta do
Templo. Logo, vários dos guerreiros Sith tomaram posição ao redor dele.
Juntos, eles testemunharam o incêndio.

EM MENOS DE MEIA HORA-PADRÃO, um transporte médico Imperial cortou a


fumaça e as chamas e outras naves Imperiais que enchiam o céu para pousar
em uma nuvem de poeira no grande processional fora do Templo Jedi. Os
dois pilotos, visíveis através do transparaço da cabine, saudaram Malgus.
Uma porta dorsal se abriu e dois homens vestidos de cinza e azul do
Corpo Médico Imperial desceram a rampa. Ambos carregavam caixas de
suprimentos e instrumentos e ambos tinham o físico suave de homens que,
apesar do seu treinamento de guerreiro, não viam trabalho duro há algum
tempo. droides médicos bípedes, como os seus corpos prateados polidos
refletindo o fogo queimando na paisagem urbana, caminhavam atrás deles,
cada um puxando um carrinho de tratamento com uma maca de três níveis
atrás deles.
Malgus se levantou e se aproximou deles. Os olhos dos médicos se
arregalaram com a sua aparência, seu semblante cheio de cicatrizes
alarmava a maioria, e eles fizeram saudações rápidas.
— Há vários feridos lá dentro, — disse Malgus. — A fêmea Twi’lek é
minha serva. Cuide dela como você faria comigo.
— Uma alienígena, meu senhor? — perguntou o mais velho dos dois
homens, a sua papada pontilhada com a barba grisalha de um dia sem fazer,
— Como eu tenho certeza de que você sabe, as instalações médicas
Imperiais no teatro de combate são restritas...
Malgus deu um passo em direção a ele e a boca do médico se fechou.
— Cuide dela como você faria comigo. Você entendeu?
— Sim, meu senhor, — respondeu o médico, e a equipe médica passou
apressada.
Mais explosões abalaram a paisagem urbana. Uma bomba atingiu uma
estação de energia e um enorme jato de plasma foi lançado meio quilômetro
no céu. Uma revoada de interceptadores ISF, notáveis por suas asas
dobradas, sobrevoou o Templo. Os Sith ao redor dele aplaudiram.
Eleena emergiu do Templo, a boca apertada de dor. O médico foi atrás
dela, a preocupação franzindo a testa dele.
— Por favor, senhora. — disse o médico, olhando para Malgus com
terror. — Por favor.
Os olhos de Eleena se arregalaram quando percebeu a escala do
bombardeio, da destruição. Malgus deu um passo e ficou em frente dela.
— Vá com os médicos, — ele disse. — Há uma nave médica Imperial, a
Inabalável, em órbita com o resto da frota de cruzadores. Me espere lá. Eu
irei quando eu terminar aqui.
— Eu não preciso de cuidados, Mestre.
— Faça o que eu mando, — ele disse, embora a sua voz não fosse
áspera.
Ela engoliu em seco, sorriu e assentiu com a cabeça.
— Obrigado, meu Lorde, — disse o médico a Malgus. — Venha,
senhora. — Ele pegou Eleena delicadamente pelo braço e a acompanhou a
bordo do transporte enquanto as bombas caíam e a República morria.
Depois que a equipe médica fez a triagem e carregou os feridos, os Sith
carregaram os seus próprios mortos para bordo. Os corpos seriam levados
para Dromund Kaas ou Korriban para os rituais adequados. Malgus desejou
que Adraas estivesse entre eles.
Depois que o transporte decolou, Adraas, mascarado mais uma vez, veio
para o lado de Malgus.
— E quanto aos corpos dos Jedi? — Adraas perguntou.
Malgus considerou. Os Jedi lutaram bem, especialmente Zallow. Eles
compreendiam mal a Força, mas mesmo assim desejou tratá-los com honra.
— Faça do Templo o túmulo deles. Traga tudo pra baixo.
— Eu vou solicitar um bombardeiro do...
Malgus balançou a cabeça e se virou para Adraas. Eles tinham quase a
mesma altura, e Adraas não vacilou perante a aparência de Malgus.
— Não, — interrompeu Malgus. — Ainda há explosivos mais do que
suficientes na nave. Use-os.
— Esta é uma ordem... meu Lorde?
Malgus manteve a calma com dificuldade...
— Os Sith devem destruir o Templo Jedi, não os pilotos Imperiais. Você
discorda, Adraas?
Adraas parecia não ter considerado isso. Malgus não ficou surpreso.
Adraas também não entendia a Força e tinha pouco senso de honra. Ainda
assim, ele fez o que lhe foi dito.
— Assim será feito, meu Lorde.
Quando as cargas foram definidas e Malgus segurava um detonador
remoto na mão. Ele olhou para o Templo uma última vez, as suas torres, as
camadas empilhadas da estrutura central, as estátuas tombadas, a grande
entrada transformada em um sorriso áspero e irregular pela passagem da
nave. O resto das suas forças Sith estavam reunidas em torno dele.
— Nós devemos nos retirar para uma distância segura? — Adraas
perguntou.
Malgus o olhou com desprezo.
— Esta é uma distância segura.
— Nós estamos a vinte metros da entrada, — disse Adraas.
Olhando para o rosto de Adraas, Malgus ativou o detonador. Uma série
de estrondos baixos soou, começando nas profundezas do Templo e se
aproximando conforme as cargas explodiram em sequência e minaram a
fundação do Templo.
Uma forte rajada de poeira e detritos soltos explodiu da entrada. As
explosões nos níveis superiores começaram, ficaram mais altas, mais
violentas. Pedra rachada. Grandes pedaços caíram da fachada do Templo e
se espatifaram no chão. As chamas eram visíveis pela entrada. Uma série de
explosões se seguiu em rápida sucessão, o som da espinha estalando da
Ordem Jedi.
O enorme edifício, um símbolo dos Jedi por séculos, começou a desabar
sobre si mesmo. As torres desabaram em seu rastro, as enormes torres
desmoronando como se estivessem em câmera lenta. Um jato de fogo e
pedaços de rocha se movendo mais rápido do que a velocidade do som
explodiu para fora da entrada agora em colapso.
Em vez de se proteger, Malgus caiu na Força, ergueu as duas mãos, com
as palmas para fora, e formou uma parede transparente de poder diante de si
e dos seus guerreiros. Os seus companheiros Sith se juntaram a ele,
refletindo o seu gesto, refletindo o seu poder. Rochas e destroços atingiram
a barreira compartilhada, os estilhaços velozes da ruína. O jato de chamas
atingiu-o e se dividiu em torno dele, como água em uma pedra.
O Templo continuou seu lento desaparecimento, caindo para dentro,
encolhendo-se em um monte disforme de entulho e ruínas. E então tudo
acabou.
Uma espessa nuvem de poeira pairava como uma mortalha funerária
sobre a montanha de pedra e aço quebrada que havia sido o Templo Jedi.
Pode ter havido sobreviventes Jedi nos níveis inferiores do Templo. Malgus
não se importava. Eles foram esmagados ou presos para sempre.
— E assim cai a República, — disse Malgus.
Os Sith ao redor dele aplaudiram.

NINGUÉM DA delegação da República em Alderaan falou até que eles


tivessem esvaziado o salão. Ninguém parecia saber o que dizer. Aryn lutou
para manter a turbulência emocional coletiva deles sob controle. Como ela,
eles estavam saltando aleatoriamente entre tristeza, raiva e decepção. Até
mesmo Dar'nala estava lutando para se manter centrada, embora ela
parecesse exteriormente calma.
Dar'nala finalmente rompeu o silêncio, seu tom, pelo menos, todo
profissional.
— Nós precisamos entrar em contato com Mestre Zym o mais rápido
possível. Eu preciso do conselho dele.
— Como nós podemos ter certeza de que ele está vivo? — Satele
perguntou. — Se Coruscant caiu...
Em uníssono a delegação vacilou. Syo e Aryn trocaram um olhar de
choque. Não havia ocorrido a Aryn que Mestre Zym também poderia ter
sido perdido.
— Eu teria sentido se ele estivesse... morto, — disse Dar'nala,
assentindo com a cabeça como se fosse para se assegurar. — Providencie
um link de comunicação seguro, Satele.
— Sim, Mestra Dar'nala.
— Ninguém deve sair daqui, — disse Dar'nala a todos eles. Aryn viu
que os olhos da Mestra estavam injetados. — Quando a notícia do ataque
chegar ao público, a imprensa vai querer comentar. Não devemos dar nada
até que tenhamos estabelecido nosso curso. Eu vou falar por esta delegação
por enquanto. De acordo?
Todos concordaram, até o senador Am-ris.
— Esta será, em última análise, uma decisão a ser tomada pela
República, Senador, — disse Dar'nala. — Os Jedi irão aconselhar, é claro.
Am-ris encolheu-se ao falar, oprimido pelos acontecimentos.
— Eu vou discutir os assuntos com o chefe interino do Senado, — ele
disse.
— O Senado pode não existir a partir de hoje, — disse Dar'nala. — Você
pode ter que agir em seu lugar. Os seus conselheiros aqui podem ajudá-lo.
Nós vamos apoiá-lo em qualquer decisão que for finalmente tomada.
Linhas de preocupação vincaram na testa de Am-ris. Ele engoliu em
seco e assentiu.
Eles caminharam desanimados pelos corredores vazios. O edifício do
Conselho Superior foi desocupado para as negociações. Até mesmo os
guardas Alderaaneanos normalmente estacionados dentro da estrutura
foram relegados a postos externos. Embora as janelas dessem vista para
pátios de grama e arbustos bem cuidados, fontes que fluíam suavemente e
esculturas elegantes, Aryn se sentia como se estivesse passando por uma
tumba. Algo tinha morrido dentro do prédio.
Os pensamentos dela se agitaram. Todos eles pareciam estar à beira de
dizer algo, mas ninguém disse nada. Aryn finalmente deu voz ao que ela
imaginou que todos eles deviam estar pensando.
— Nós não podemos deixar essa agressão permanecer, Mestra.
Satele e Syo deram pequenos acenos de concordância. Dar'nala olhou
diretamente pela janela para a zona rural Alderaaneana.
— Eu temo que nós não tenhamos escolha. O Chanceler está morto...
— Morto? — Aryn perguntou.
— Nós vimos isso acontecer, — disse Satele, balançando a cabeça, sua
voz firme. — Ele disse que uma frota Imperial atacou Coruscant. Parece
que o ataque se concentrou no Senado e no Templo Jedi.
— Eu duvido que eles tenham parado por aí, — disse Am-ris.
— Havia Padawans no Templo, — disse Syo.
— Nós não temos ideia do número das forças Imperiais ou de outros
danos que eles podem ter causado. — continuou Satele.
— Nós não podemos render Coruscant, — disse Aryn.
A declaração chocou a todos em silêncio.
— Eu concordo, — disse Dar'nala por fim. — Não deveria chegar a esse
ponto.
— Não deveria? — Syo perguntou.
Aryn mal podia acreditar no que ela estava ouvindo. Os Jedi foram
enganados, falharam no dever de proteger a República. Mestre Zym deveria
ter previsto o plano Sith. Ela olhou pelas janelas enquanto caminhavam,
mal vendo a paisagem Alderaaneana, o rio próximo.
Ela havia lutado contra as forças Imperiais em Alderaan e os havia
derrotado. Ela não queria nada mais do que lutar contra eles novamente
agora.
A voz de Dar'nala a trouxe de volta ao presente.
— Como você sabia que os Sith haviam atacado Coruscant antes de
sairmos da sala de negociação, Aryn?
— Eu não sabia, — admitiu Aryn. — Não com certeza. Eu só sabia
que... — Ela tentou, sem sucesso, esconder a emoção de sua voz. — Mestre
Zallow foi morto. E quando eu vi a expressão nos olhos dos Sith...
Syo deu um passo para mais perto dela, como se fosse protegê-la da sua
dor.
— Mestre Zallow está morto, então, — disse Dar'nala, enrijecendo. As
suas palavras soaram tensas, a dor vazando através do seu controle. — Você
tem certeza?
Aryn assentiu, mas não disse mais nada, simplesmente construiu uma
parede com sua vontade de conter as lágrimas. Syo parecia querer oferecer
conforto a ela, mas em vez disso ele não fez nada.
— Todos nós lamentamos por ele, Aryn, — disse Dar'nala. — E os
outros que perdemos hoje.
Aryn não conseguiu esconder a raiva na sua voz.
— Ainda assim, você gostaria que nós voltássemos a negociar com
aqueles que fizeram isso.
Dar'nala parou no meio do caminho e se virou para Aryn. Aryn sabia
que ela havia ultrapassado os limites. A voz de Dar'nala permaneceu
nivelada, mas o calor em seus olhos poderia ter incendiado Aryn.
— Existem bilhões de pessoas em Coruscant. Crianças. As vidas deles
dependem de nós agirmos de forma judiciosa, não precipitada. As suas
emoções estão controlando a sua língua. Não as deixe controlar o seu
pensamento.
— Ela está certa, Aryn, — disse o senador Am-ris e colocou a mão no
ombro de Aryn, — Nós devemos pensar no bem da República.
Aryn sabia que os dois estavam certos, mas isto não importava. Ela
obteria justiça para o Mestre Zallow, de uma forma ou de outra.
— Perdoe-me, Mestra, — ela disse. — Senador.
— Eu entendo, — disse Dar'nala, e o grupo começou a andar
novamente. — Eu entendo tudo muito bem.

ZEERID TENTOU e não conseguiu dormir em sua cadeira por algumas horas
enquanto a Fatman disparava pelo túnel azul do hiperespaço. Em vez disso,
ele se preocupou com o seu próximo trabalho. Mais, ele se preocupou com
o trabalho depois disso, e com o outro depois. Ele se preocupava com a sua
filha, sobre como ela receberia os cuidados de que precisava quando ele, via
isso como inevitável agora, morresse em um de seus trabalhos. O buraco
em que vivia parecia estar ficando cada vez mais profundo, e não estava
nem perto de cavar para sair.
A instrumentação bipou um sinal para indicar o fim do salto. E repintou
a cor da canopi da cabine quando a nave saiu do hiperespaço e o azul deu
lugar ao preto.
A orbe da estrela de Vulta queimava à distância. Vulta era visível através
da canopi, o seu lado diurno brilhava como uma joia verde e azul contra a
escuridão do espaço.
Chegar ao sistema de Vulta fez com que se sentisse imediatamente mais
leve. A parte dele que mantinha o trabalho afastado se reafirmou. A ideia de
ver Arra sempre fazia isso por ele.
Ele ligou os motores e a Fatman acelerou pelo espaço vazio entre ele e a
sua filha. Quando se aproximou do planeta, colocou a nave no piloto
automático e esperou que o controle planetário o acionasse.
Enquanto esperava, ligou em um canal de notícias no HoloNet. A sua
pequena tela de vídeo na cabine do piloto mostrou imagens das negociações
de paz em Alderaan. Ele havia se esquecido deles. Desde a reunião, a
guerra entre o Império e a República havia se tornado pouco mais do que
um ruído de fundo para ele. Sabia que o Esquadrão Havoc tinha sido bem
sucedido em Alderaan, mas não muito mais que isso.
Imagens da delegação Sith entrando no prédio do conselho encheram a
tela, comentários, depois imagens da delegação Jedi fazendo o mesmo. Ele
pensou ter visto um rosto familiar entre os Jedi.
— Congele a imagem e amplie à direita.
A tela de vídeo fez o que ele ordenou e lá estava, a Aryn Leneer. Ela
ainda usava o cabelo comprido cor de areia solto, ainda tinha os mesmos
olhos verdes, a mesma postura curvada, como se estivesse se preparando
para uma tempestade.
O que era verdade, supôs Zeerid, dada a avidez com que ela sentia as
emoções das pessoas à sua volta.
Não a via há anos. Eles se tornaram amigos durante os meses em que
serviram juntos em Balmorra. Sabia que ela podia voar e lutar muito bem.
Ele respeitava isso. E porque ele lutou muito bem e voou ainda melhor, ele
pensou que ela o respeitava. Ela nunca bebia com Zeerid e os comandos,
mas sempre ia pra a cantina com eles. Apenas os observando.
Zeerid presumira que ela os acompanhava porque gostava da
temperatura emocional dos comandos quando bebiam, o alívio e alegria por
terem sobrevivido a outra missão. Sempre teve uma franqueza no rosto,
uma expressão nos olhos que dizia que ela entendia. A franqueza dela atraía
os soldados bêbados como doces, moscas ao mel néctar. Eles queriam olhar
nos olhos dela e confessar algo. Zeerid imaginou que devia ser exaustivo
pra ela. E ainda assim sempre esteva lá para eles. Toda as vezes.
O vídeo cortou para uma cena de Coruscant e um comentarista disse:
— Até hoje, quando um ataque...
A unidade de comunicação da nave soou o recebimento de um sinal e
Zeerid desligou o vídeo. Esperando o controle planetário, ele a alcançou,
mas parou no meio do caminho quando percebeu que era o canal no
subespaço criptografado que usava com A Permuta.
Ele considerou ignorar a saudação. Falar com Oren tão perto de Vulta
prejudicaria o seu reencontro com Arra. Ele não queria negócios em sua
mente quando visse a sua filha.
O piscar constante e vermelho da saudação continuou.
Ele cedeu, praguejou e apertou o botão para abrir o canal, com tanta
força que quebrou o plastóide. Ele ficou tenso pelo que iria ouvir.
— O que? — ele esbravejou.
Por um momento, Oren não disse nada, então:
— Se a análise de voz não mostrasse que era você falando, poderia ter
presumido que tinha saudado outra pessoa.
— Eu tenho outra coisa em mente agora.
— Oh? — Oren fez uma pausa, como se esperasse uma explicação mais
completa. Zeerid não ofereceu nenhuma, então Oren continuou:
— Como eu já aludi, eu tenho algo urgente. A entrega requer alguém com
habilidades de pilotagem extraordinárias. Alguém como você, Z-man.
— Eu acabei de terminar um trabalho, Oren. Eu preciso de tempo...
— Este trabalho vai deixar a sua ficha limpa.
Zeerid se endireitou na cadeira, sem saber se tinha ouvido direito.
— Diga novamente?
— Você me ouviu.
Zeerid o tinha ouvido; ele simplesmente não conseguia acreditar. Poucas
horas atrás, ele imaginou que nunca poderia se livrar do A Permuta. Agora
Oren estava oferecendo a ele exatamente isso. Ele tentou manter a voz
firme.
— Isso é só uma entrega?
— Isto é uma entrega.
— Qual é a carga? — Ele tentou não engasgar com a próxima palavra.
— Especiaria?
— Sim.
— Para onde vai?
Ele percebeu que devia estar indo para algum buraco perigosamente
quente de um planeta para Oren ter oferecido para saldar a dívida dele.
— Coruscant. — Oren pronunciou o nome com relutância, como se
esperasse que Zeerid empacasse.
— E daí?
— Você ouviu o que eu disse?
— Eu ouvi. Você disse 'Coruscant'. Então, qual é a pegadinha?
— A pegadinha?
— Coruscant não é exatamente um ZA quente. São férias em
comparação com o que estou acostumado. Então, qual é a pegadinha?
— Você não tem assistido o holo?
— Eu estive no hiperespaço.
— Claro. — Oren riu. — O Império atacou Coruscant.
Zeerid se aproximou, mais uma vez sem certeza de ter ouvido direito. A
declaração simples de Oren e o tom neutro com que ele a proferiu não
pareciam ter os meios para transmitir o significado das palavras que Zeerid
pensou ter ouvido.
— Repita? Havia negociações de paz ocorrendo em Alderaan. Eu acabei
de vê-los no holo. O que você quer dizer com ‘atacado’?
— Eu quero dizer atacado. Uma frota Imperial está em órbita ao redor
do planeta. As forças Imperiais ocupam Coruscant. Ninguém sabe muito
mais porque o Império está bloqueando as comunicações para fora de
Coruscant.
Os pensamentos de Zeerid ainda não conseguiam envolver a ideia.
Como o Império poderia ter atacado qualquer um dos Mundos Centrais,
quanto mais a capital?
— Como poderiam ter superado a grade de defesa? Não faz sentido.
— Eu não sei nem me importo com os detalhes, Z-man. Embora conclua
que foi um ataque surpresa que ocorreu bem no meio das negociações de
paz. Sem mais nada, pode-se apreciar a ousadia do Império. Você lutou
contra o Império, não é, Z-man?
Zeerid assentiu com a cabeça. Ele trocou tiros com as forças Imperiais
muitas vezes, originalmente como um comando do exército da República,
então como... o que quer que ele fosse agora. Por um momento, teve a ideia
ridícula de que deveria se reintegrar ao exército. Ele se repreendeu pela
estupidez.
— Você pode pegar o resto no holo, — disse Oren. — Enquanto isso,
comece a planejar essa entrega.
A entrega. Certo.
— Você quer que eu pilote uma nave cheia de especiarias em um mundo
recém-conquistado e ocupado pelo Império? Você disse que eles
bloquearam o tráfego de comunicação. Eles terão um tráfego orbital
mínimo também. Eu não posso me esgueirar por isso, mesmo voando no
escuro. Eles vão me explodir no espaço.
— Você encontrará uma maneira.
— Eu estou aberto a sugestões.
— Eu tenho fé que você vai descobrir alguma coisa.
— Pelo menos nós devemos esperar até que as coisas se resolvam. O
Império provavelmente permitirá que o tráfego regular de naves comerciais
seja retomado em cerca de uma semana. Nesse ponto...
— Isso não vai funcionar.
— Tem que funcionar.
— Não. A carga precisa se mover imediatamente.
Zeerid estava começando a gostar cada vez menos das coisas. O seu
olfato detectou algo que estava apodrecendo.
— Por quê?
— Você não precisa saber.
— Eu preciso se eu estiver transportando. O que eu ainda nem decidi.
Oren ficou em silêncio por um momento. Então...
— Isto é a Engespeciaria.
Zeerid soltou um suspiro. Não admira que o trabalho deixaria a sua ficha
limpa. A especiaria produzida por quimioterapia não era apenas
especialmente viciante, mas também alterava a química do cérebro dos
usuários, de modo que apenas mais da mesma "marca" de Engespeciaria
poderia satisfazer suas necessidades. Mera especiaria não serviria. Os
revendedores chamavam a Engespeciaria de "a coleira" porque isso lhes
dava o monopólio sobre os seus usuários. Eles podiam cobrar um prêmio, e
o faziam.
— Nós temos um comprador em Coruscant cujo suprimento está
acabando. Ele precisa que essa remessa chegue em Coruscant rapidamente,
com Império ou sem Império. Você sabe o motivo.
Zeerid sabia por quê.
— Porque se os usuários não conseguirem obter a sua marca da
Engespeciaria, entrarão em processo de descontinuação. E se passarem por
isso...
— Eles quebram o vício da marca e o nosso comprador perde o mercado
dele. A preocupação dele com isso é grande, compreensivelmente.
— O que significa que A Permuta deu um nome a seu preço.
— O que funciona bem para você, Z-man. Não soe tão desdenhoso.
Zeerid mordeu o canto do lábio. Ele se sentiu um pouco nauseado. Por
um lado, poderia ficar livre apenas com esta entrega. Pelo outro, tinha visto
uma cova da Engespeciaria em Balmorra uma vez, enquanto servia no
exército. Não era bonito.
— Não, — disse Zeerid. Para se fortalecer, olhou através da canopi da
cabine para Vulta, onde a sua filha morava, e balançou a cabeça. — Eu não
posso fazer isso. Especiaria é ruim o suficiente. Engespeciaria é demais. Eu
vou conseguir a minha saída disso de outra maneira.
A voz de Oren ficou dura.
— Não, você não vai. Você pode morrer tentando fazer essa entrega, ou
pode morrer não fazendo essa entrega. Você entende o que quero dizer?
Zeerid rangeu os dentes.
— Sim. Eu entendo.
— Eu estou feliz. Olhe isto deste modo. Se você fizer a entrega, você
estará quites com A Permuta. Talvez até vá embora, hein? Se não fizer a
entrega, está morto e quem se importa?
Oren riu da sua própria sabedoria, e Zeerid não desejou nada mais do
que sufocar o bastardo.
— Então eu preciso de mais, — disse Zeerid. Se ele ia se sujar, ele
queria créditos suficientes para comprar um chuveiro para a sua
consciência. — Não apenas uma ficha limpa. Quero duzentos mil créditos
além de liquidar a dívida e quero cem deles pagos antes de pousar em Vulta,
o que significa que você tem um quarto de hora.
— Z-man...
— Isso não é negociável.
— Você precisa de dinheiro para jogar, hein?
— Algo parecido.
— Muito bem. Feito. Os primeiros cem irão cair na sua conta antes de
você tocar no solo.
Zeerid mordeu o lábio de raiva. Ele deveria ter pedido mais.
— Quando eu vou?
— A carga está a caminho de Vulta agora. E quando eu disser que é hora
de ir, você mexe o rabo.
— Bem. — Zeerid respirou fundo. — Você terminou de falar, Oren?
— Terminei.
— Então eu tenho mais uma coisa.
— O que é isso?
— Quanto mais eu te conheço, mais eu quero atirar na sua cara. Só pra
ouvir isso de mim pelo menos uma vez. Com duzentos mil ou sem duzentos
mil.
— É por isso que eu gosto de você, Z-man, — disse Oren, — Desça a
sua nave com nome de Anã Vermelha e siga as instruções de atracação. Eu
entrarei em contato com você quando a carga estiver pronta.
— Você vai carregar a Fatman ou vou voar em outra coisa?
— Não sei ainda. Provavelmente vamos carregar a Fatman da maneira
usual, um droide de manutenção modificado. Você saberá quando eu
souber.
— Se não for a Fatman, certifique-se de que é outra coisa rápida.
— Entrarei em contato.
— Tudo bem, — disse Zeerid, embora não estivesse bem. Ele fechou o
canal, recostou-se na cadeira e olhou para o espaço.

DAR’NALA DISPENSOU ARYN E SYO, presumivelmente para que ela, Satele e o


Senador Am-ris pudessem se aconselhar em particular com o Mestre Zym.
Sem nada para fazer e nada mais a dizer, Aryn voltou para os seus
aposentos para...
Para quê?
Ela não sabia o que fazer. Ela sentiu que deveria estar fazendo algo, mas
não tinha ideia do quê. Então comeu sem provar, andou de um lado para o
outro e meditou, tentando manter a dor sob controle mantendo-se ocupada.
Quando isso não funcionou, procurou por notícias na HoloNet. Sem
surpresas, os relatórios foram preenchidos com especulações sem
embasamento sobre o ataque Imperial em Coruscant e o que isso significou
para as negociações de paz. Não podia suportar o som dos apresentadores,
então silenciou a tela de vídeo.
Não haviam imagens do pós-ataque de Coruscant, então Aryn presumiu
que o Império devia ter obstruído as comunicações. Em vez disso, a
filmagem mostrou imagens antigas da capital da República. Milhões de
speeders, swoops e carros aéreos moviam-se em linhas organizadas acima
da paisagem de duracreto e transparaço. Milhares de pedestres percorriam
as autoestradas e praças.
A imagem mudou para uma vista do Templo Jedi tirada de um gravador
aerotransportado. Aryn não conseguia tirar os olhos da imagem, das torres,
dos níveis em camadas da estrutura. Estátuas imponentes de antigos
mestres, sabres de luz apontados para o céu, alinhavam-se na larga avenida
que levava às enormes portas do Templo.
Ela se lembrou da sensação de admiração que sentiu ao caminhar sob
aquelas estátuas pela primeira vez, ao lado do Mestre Zallow. Ela era uma
criança e o Templo e as estátuas pareciam impossivelmente grandes.
— Esta será a sua casa agora, Aryn, — Mestre Zallow tinha dito, e
sorriu pra ela em seu caminho.
Ela se perguntou como o Templo parecia agora, após o ataque, se
perguntou se ele ainda estava de pé.
Ela imaginou Mestre Zallow, comandando os Cavaleiros Jedi e
Padawans, lutando contra os guerreiros Sith nas sombras daquelas estátuas,
assim como ela lutou contra o guerreiro Sith no meio das estátuas
Alderaanianas. Ela o imaginou caindo, morrendo.
As lágrimas voltaram a brotar. Tentou lutar contra elas, mas falhou. Não
conseguia nivelar o seu estado emocional, nem tinha certeza se queria. A
dor da morte de Mestre Zallow foi tudo o que restou dele para ela.
Um pensamento a atingiu, e o pensamento se transformou em uma
necessidade urgente. Uma ideia enraizada em sua mente, em sua entranha, e
não conseguia destruí-la.
Queria saber o nome e o rosto do assassino de Mestre Zallow. Ela queria
vê-lo. Precisava vê-lo. E se pudesse ver o Sith, aprender nome dele, então
poderia vingar o Mestre Zallow.
Quanto mais ponderava sobre a ideia, mais necessária se tornava.
Mas não poderia saber de nada em Alderaan, como parte de uma
negociação de paz. Ela sabia o que Zym, Dar 'nala e Am-ris decidiriam, o
que eles deveriam decidir. Eles dariam um show de negociação, então
aceitariam quaisquer termos que os Sith oferecessem. Eles trairiam a
memória do Mestre Zallow, de todos os Jedi que tinham lutado e caído no
Templo.
Isso era obsceno e Aryn não faria parte disso.
Incapaz de conter a emoção, gritou uma torrente de palavrões, um após o
outro, um largo e longo rio de palavrões do tipo que não pronunciava desde
a adolescência.
Momentos depois, uma batida urgente soou em sua porta.
— Quem é? — ela perguntou, com a sua voz ainda áspera e irritada.
— É o Syo. Você está... bem? Eu ouvi...
— Foi o vídeo, — ela mentiu, e desligou a tela. — Eu quero ficar
sozinho agora, Syo.
Um longo silêncio, então...
— Você não precisa carregar isso sozinha, Aryn.
Mas ela teve que carregá-lo sozinha. A memória do Mestre Zallow era o
peso que tinha que suportar.
— Você sabe onde me encontrar, — disse Syo.
— Obrigada, — ela disse, baixinho demais para ele ouvir.
Ela passou as horas na solidão. O dia deu lugar à noite e nenhuma
palavra veio da Mestra Dar'nala ou Satele. Ela tentou dormir, mas não
conseguiu. Ela temia o que a manhã traria.
Ela estava deitada na cama, na escuridão, olhando para o teto. A lua de
Alderaan, gibosa e nebulosa, levantou-se e pintou o quarto com uma luz
lúgubre. Tudo parecia desbotado, fantasmagórico, surreal. Por um
momento, se permitiu sentir como se tivesse entrado em um sonho. De que
outra forma as coisas poderiam ter acontecido assim? De que outra forma
os Jedi poderiam ter falhado assim?
A voz da Mestra Dar'nala repetiu em sua mente, uma e outra vez: Temo
que nós não teremos escolha.
A dor das palavras veio do fato de que elas estavam corretas. Os Jedi
não poderiam sacrificar Coruscant. A República e o Conselho Jedi
aceitariam um tratado. Eles teriam que aceitar. Faltava apenas negociar os
termos, os quais que deviam ser favoráveis ao Império. No final, a traição
do Império, a traição dos Sith, seria recompensada com uma capitulação
Jedi.
Embora Aryn reconhecesse a razoabilidade do curso a ser seguido, ela
não conseguia se livrar da sensação de que era errado. Mestra Dar'nala
estava errada. O senador Am-ris estava errado.
Tal pensamento nunca havia entrado em sua mente antes. Isso também
trouxe dor. Tudo mudou pra ela.
Os seus punhos se fecharam com a raiva e a tristeza, e sentiu mais gritos
subindo por sua garganta. Respirando profundamente, regularmente, ela
procurou reprimir a sua falta de controle. Ela sabia que o Mestre Zallow
não teria aprovado.
Mas o Mestre Zallow estava morto, assassinado pelos Sith.
E logo a Ordem falharia com ele, a sua memória assassinada por
necessidade política.
A sua mente percorreu as memórias do Mestre Zallow, não de seus
ensinamentos, mas de seus sorrisos, suas severas, mas carinhosas
reprimendas por sua obstinação, o orgulho que ela sabia que ele sentiu
quando ela foi promovida a Cavaleira Jedi.
Essas eram as coisas que os uniam, não a pedagogia.
O buraco que se abriu nela enquanto sentiu a morte dele ainda vomitava.
Ele temia que pudesse entrar por ele. Ela sabia o nome do buraco.
Amor.
Ela amava Mestre Zallow. Ele tinha sido um pai para ela. Nunca disse a
ele e agora nunca poderia. Perder algo que ela amava a rasgou de uma
forma que ela não esperava. A dor feria, mas a dor estava certa.
A Ordem criou uma galáxia na qual o bem capitulou sobre o mal, onde
os sentimentos humanos, os sentimentos de Aryn, foram esmagados sob o
peso do desapego Jedi.
Do que adiantaria se isso trouxesse problemas?
Os seus pensamentos acelerados a levantaram da cama. Estava inquieta
demais para dormir. Colocou os pés no chão acarpetado, baixou a cabeça,
tentou reunir os pensamentos que saltavam caoticamente em seu cérebro.
Percebeu que ainda usava as suas vestes, não as suas roupas de dormir.
Ela cruzou a sala e passou pelas portas de correr para a varanda. O vento
forte bagunçou o seu cabelo. O cheiro de flores silvestres e argila saturou o
ar. Os insetos emitiram sons. Uma ave noturna piou.
Isto teria sido pacífico em outras circunstâncias.
Cem metros abaixo, a paisagem Alderaaneana se desenrolou diante dela,
uma campina de grama alta, arbustos e pequenas árvores apo que
sussurravam e balançavam com a brisa. Não conseguia ver as paredes do
complexo através da vegetação.
Isto era lindo, Aryn se permitiu. No entanto, ainda tinha a sensação de
que estava na cena de um crime. O ar fresco da noite e o ambiente calmo
não fizeram nada para amenizar a sensação de que os Jedi haviam falhado
catastroficamente. Agarrou o topo da varanda com tanta força que fez os
seus dedos doerem.
Além do complexo, à distância, a superfície de um rio largo e sinuoso
brilhava ao luar. As luzes de funcionamento de alguns barcos pontilhavam a
sua superfície. Ela observou a travessia lenta e hipnótica deles sobre a água.
O céu também estava pontilhado de tráfego.
Ela achava irritante que a vida continuasse como sempre para todos os
outros, enquanto pra ela tudo havia mudado. Sentiu-se como se tivesse sido
esvaziada.
— Pensando em pular? — Uma voz disse, com um sorriso gentil no
tom.
Ela começou antes de identificar a voz como sendo a de Syo. Por um
momento, ela soou exatamente como a do Mestre Zallow.
Syo estava na varanda dos seus próprios aposentos, cinco metros à
direita dela. Ele deve ter estado lá o tempo todo. Talvez também não
conseguisse dormir.
— Não, — ela respondeu. — Só pensando.
— A expressão calma usual dele foi marcada por uma testa franzida e
olhos preocupados. — Sobre o Mestre Zallow? — ele perguntou.
Ouvir outra pessoa falar o nome do seu mestre naquele momento a
atingiu. A emoção cresceu dentro dela, colocou um punho em sua garganta.
Ela assentiu, incapaz de falar.
— Eu sinto muito por você, Aryn. O Mestre Zallow fará falta.
Ela encontrou a sua voz.
— Ele era mais pra mim do que apenas um mestre.
Ele assentiu com a cabeça como se entendesse, mas ela suspeitava que
não, não de verdade.
— Falar de desapego, entendê-lo, isso é uma coisa. Mas praticar isso...
— Ele olhou pra ela. — Isso é uma outra coisa.
— Você está me dando um sermão, Syo?
— Eu estou lembrando a você, Aryn. Todos os Jedi devem se sacrificar.
Às vezes, sacrificamos os laços emocionais que geralmente unem as
pessoas umas às outras. Às vezes, sacrificamos... mais, assim como Mestre
Zallow. Essa é a natureza do nosso serviço. Não perca isto de vista em sua
dor.
Ela percebeu que havia mais a separando de Syo do que cinco metros de
distância. A dor estava permitindo a ela ver pela primeira vez.
— Você não entende, — ela disse.
Por um tempo não disse nada, então...
— Talvez eu não. Mas eu estou aqui se você precisar conversar. Eu sou
seu amigo, Aryn. Eu sempre serei.
— Eu sei disso.
Ele ficou em silêncio por um momento, então se afastou da saliência da
sua varanda. — Boa noite, Aryn. Eu vejo você pela manhã.
— Boa noite, Syo.
Ele a deixou sozinha com os pensamentos dela, com a noite.
Sacrifício, Syo havia dito. Aryn já havia sacrificado muito em sua vida,
e o Mestre Zallow sacrificou tudo. Ela não abandonou o sacrifício, mas o
sacrifício tinha que ter um significado. E ela viu agora que tudo tinha sido
em vão. Sempre acalmou as suas necessidades, os seus desejos, sob o peso
do sacrifício, desapego, serviço. Mas agora a sua necessidade era muito
grande. Devia muito ao Mestre Zallow para deixar a morte dele sem
vingança.
Dar'nala e Zym e Am-ris e o resto deles poderiam concordar com os
termos onerosos dos Sith para salvar Coruscant. Isso era uma questão
política. O assunto de Aryn era pessoal, e ela não se esquivaria.
Voltou para o quarto e ligou a tela de vídeo. Mais comentários sobre o
ataque, um especialista Cereano oferecendo sua análise de como ele mudou
o equilíbrio de poder nas negociações de paz. Aryn assistia aos vídeos para
distraí-la, mal os via.
Vídeos.
— Vídeos, — ela disse, sentando-se.
O sistema de vigilância do Templo teria registrado o ataque Sith. Se ela
pudesse chegar lá, ela poderia ver o assassino do Mestre Zallow.
Supondo que o Templo ainda estivesse de pé.
Supondo que a gravação não tenha sido descoberta e destruída.
Supondo que os Jedi não renderiam Coruscant ao Império.
Não deveria chegar a isso, Mestre Dar'nala tinha dito. Não deveria
chegar.
Aryn não deixaria a sua necessidade ao acaso, não desta vez.
Afinal, ela estava pensando em pular.
Tendo tomado a decisão, sabia que tinha que agir imediatamente ou
deixar as dúvidas assaltar a sua certeza. Levantou-se, se sentindo leve pela
primeira vez em horas. Pegou a sua mochila, apertou as suas vestes e voltou
para a varanda. O vento aumentou. As folhas assobiaram com a brisa. O
próximo passo, uma vez dado, era irrevogável. Sabia disso.
Olhou para o quarto de Syo e viu que estava escuro.
Com o coração acelerado, ela se virou e saltou para o ar livre, seguindo
os seus pensamentos em direção ao solo, livre da Ordem, do desapego, de
tudo exceto a sua necessidade de consertar um erro.
Usando a Força para diminuir a sua descida, atingiu o solo agachada e
saiu em disparada. Ninguém a viu sair e ninguém notaria a sua ausência
antes do amanhecer. Estaria em sua nave e partiria bem antes disso.
Ela precisava descobrir uma maneira de chegar a Coruscant e tinha uma
ideia de quem poderia ajudá-la. Queria aqueles vídeos de vigilância. E
então iria encontrar o Sith que havia assassinado o Mestre Zallow.
A Ordem poderia ser forçada a trair o que representava, mas Aryn não
trairia a memória do seu mestre.
O resto das forças Sith haviam retornado à frota, mas Malgus
permaneceu. Ele ficou sozinho entre as ruínas do Templo Jedi. Desligou o
seu comunicador, deixando-o fora de contato com as forças Imperiais e se
comungando em paz espiritual com a Força. Caminhando pelo perímetro
das ruínas, vagou sobre a destruição, satisfeito com a sua vitória, mas sem
emoção ao perceber que havia derrotado o seu inimigo e nenhuma
substituição óbvia era aparente.
Ele ansiava por conflito. Ele sabia disso por si mesmo. Ele precisava de
conflito.
Haveria mais batalhas com os Jedi e a República, é claro, mas com a
captura e o arrasamento de Coruscant, a queda da República era uma
certeza, era apenas uma questão de tempo. Logo a sua visão da Força seria
realizada, então... o quê?
Ele teria que confiar que a Força o apresentaria a um outro inimigo,
outra guerra que valesse a pena lutar.
Escalando um monte de entulho, encontrou um mirante que oferecia
uma excelente vista da paisagem urbana circundante. O rosto rachado da
estátua de Odan-Urr estava no topo do monte ao lado dele, olhando-o
tristemente.
Lá, montado nas ruínas do seu inimigo, Malgus esperou que a frota
Imperial começasse a incineração do planeta.
Uma hora se passou, depois outra, e quando o crepúsculo deu lugar à
noite, o número de naves Imperiais rondando o céu sobre Coruscant
começou a diminuir em vez de engrossar. Os bombardeiros voltaram aos
seus cruzadores e os caças não assumiram o ataque, mas sim formações de
patrulha.
O que estava acontecendo? A frota Imperial não tinha recursos para
administrar uma ocupação de longo prazo de Coruscant. As forças
Imperiais tinham que arrasar o planeta e seguir em frente antes que as
forças da República pudessem se reunir para um contra-ataque.
E ainda... nada estava acontecendo. Malgus não entendeu.
Ele ativou o seu comunicador e entrou em contato com o seu cruzador,
a Bravura.
— Darth Malgus, — disse o seu segundo em comando, o Comandante
Jard, — Nós temos tentado entrar em contato com você a horas. Eu estava
preocupado com o seu bem-estar. Eu acabei de enviar um transporte para
procurar por você no Templo.
— O que está acontecendo, Jard? Onde estão os bombardeiros? Quando
o bombardeio planetário começará?
Jard tropeçou na resposta.
— meu Lorde... eu... Darth Angral ...
A mão de Malgus apertou o comunicador enquanto imaginava o
significado por trás da resposta gaguejada de Jard.
— Fale claramente, Comandante.
— Parece que as negociações de paz continuam em Alderaan, meu
Lorde. Darth Angral instruiu todas as forças a parar até que as coisas lá se
cristalizem.
Malgus observou uma patrulha de Mark VI interceptors sobrevoar.
— Negociações de paz?
— Esse é o meu entendimento, Darth Malgus.
Malgus ferveu, olhou para uma nuvem de fumaça lançada por uma
fogueira em chamas. — Obrigado, Jard.
— Você vai voltar para a Bravura, meu Lorde?
— Não, — respondeu Malgus. — Mas mande aquele transporte vir até
mim agora. Eu exijo uma audiência com Darth Angral.
OS TERMOS DAS NEGOCIAÇÕES proibiam as delegações do Império ou da
República de postar segurança externa ao redor do prédio e complexo do
Alto Conselho. Em vez disso, ambos tiveram as extensões de suas
delegações postadas em cidades próximas.
Movendo-se com a velocidade aumentada pela Força, Aryn evitou
facilmente os guardas Alderaaneanos postados no terreno do complexo. Um
canino de uma das equipes de guarda deve ter sentido o cheiro dela. Rosnou
quando ela passou, mas antes que os guardas pudessem ligar os seus
escâneres infravermelhos, Aryn já estava a cem metros de distância. Não
saiu por nenhum dos postos de controle. Em vez disso, escolheu o seu
caminho entre os jardins até chegar às paredes do complexo, repletas de
trepadeiras verdes florescendo com flores amarelas e brancas.
Sem desacelerar, ela atraiu a Força, saltou no ar e se arqueou sobre a
parede de cinco metros. Ela atingiu o chão do outro lado, livre.
Pra a sua surpresa, não sentiu vontade de voltar. Ela interpretou isso
como um sinal de que havia tomado a decisão certa.
O edifício do Conselho Superior ficava no topo de uma colina
arborizada. Estradas sinuosas, riachos e trilhas panorâmicas desciam a
colina até uma pequena cidade turística situada ao seu pé. As luzes dos
edifícios da cidade piscaram por entre as árvores e outras folhagens. O
barulho do tráfego e da vida na cidade subia a colina.
Era tarde, mas não tão tarde para que não pudesse chamar um táxi aéreo
e chegar ao espaçoporto antes de sua ausência ser notada.
Sem olhar pra trás, saiu em disparada noite adentro.
Quando chegou à cidade, localizou uma fila de táxis-aéreos automáticos
estacionados em frente a um restaurante ao ar livre cheio de jovens. Um
chefe Rodiano cuidava da grelha central, os seus braços eram um turbilhão
de cutelos e facas. O cheiro de carne assada, fumaça e um tempero que não
conseguiu identificar enchia o ar. Música retumbava nos alto-falantes, o
baixo fazendo o chão vibrar. Manteve o capuz puxado sobre o rosto e saltou
para o primeiro táxi da fila. O droide motorista antropomórfico colocou o
cotovelo no assento e se virou para encará-la. Ele usava um chapéu de pano
ridículo projetado para torná-lo mais humano. Dados os seus próprios
sentimentos frágeis, Aryn estava satisfeita por ter um motorista droide.
droides eram vazios para o seu senso empático.
— Destino, por favor.
— O espaçoporto de Eeseen, — ela respondeu.
— Muito bem, senhora, — ele disse.
A porta do táxi se fechou, o motor deu partida e o carro subiu no ar. A
cidade se afastou sob eles.
A programação social do droide entrou em ação, e ele tentou conversar
um pouco para deixar a passageira à vontade. — Você é de Alderaan,
senhora?
— Não, — respondeu Aryn.
— Ah, então eu recomendo que você tente...
— Não preciso conversar, — ela interrompeu. — Por favor, dirija em
silêncio.
— Sim, senhora.
Assim que o táxi se posicionou em altitude comercial e entrou em uma
pista, o droide acelerou o veículo para algumas centenas de quilômetros por
hora. Eles chegariam ao espaçoporto em meia hora. Ela considerou ligar a
tela de vídeo do carro, mas desistiu. Em vez disso, olhou pela janela para
outro tráfego, para o terreno escuro de Alderaan.
— Espaçoporto à frente, senhora, — informou o droide.
Abaixo e à frente, o espaçoporto de Eeseen, um dos muitos espaçoportos
de Alderaan, apareceu. Aryn não poderia ter perdido de ver isso. As suas
luzes brilhavam como uma galáxia.
Uma das maiores estruturas do planeta, o espaçoporto era na verdade
uma série de estruturas interconectadas que ocupavam cinquenta
quilômetros quadrados. O centro principal do porto era uma série de braços
concêntricos em camadas que se contorciam em torno de um núcleo de
principalmente transparaço, que os moradores locais chamavam de "a
bolha". Era uma cidade bastante independente, com os seus próprios hotéis,
restaurantes, instalações médicas e forças de segurança.
De cima, Aryn sabia, o espaçoporto parecia uma galáxia em espiral. Ele
poderia atracar várias centenas de naves ao mesmo tempo, desde grandes
supercargueiros nas plataformas de carga de nível inferior até embarcações
com um único ser nas plataformas superiores. Uma torre de controle
planetário projetava-se do topo da bolha como uma antena gorda.
Devido à hora tardia, a maioria das plataformas de acoplamento
superiores estavam escuras, mas os níveis inferiores estavam claros e cheios
de atividade. Enquanto Aryn observava, um grande cargueiro desceu em
direção a uma das plataformas mais baixas, enquanto outros dois
começaram sua lenta ascensão para fora da doca e para a atmosfera. As
empresas de entregas geralmente faziam grande parte do seu trabalho à
noite, quando o tráfego na atmosfera era reduzido.
Assistindo a tudo, Aryn ficou mais uma vez impressionada com a
estranheza do fato de que a vida para todos os outros na galáxia continuava
como antes, enquanto a própria República estava em grave perigo. Ela
queria desesperadamente gritar com todos eles: O que vocês acham que vai
acontecer a seguir!
Mas em vez disso, manteve isso guardado, uma pressão emocional que
pensou que logo estouraria uma artéria.
Dezenas de speeders, swoops e droides carregadores voaram, zumbiram,
rastejaram e rolaram ao longo das muitas docas do porto e no ar ao redor
das plataformas de pouso. Guindastes automatizados içaram os enormes
contêineres de encomendas carregados nos compartimentos dos cargueiros.
Mesmo a meio quilômetro de distância, Aryn podia ver as filas de
pessoas e droides seguindo pelas esteiras automáticas e elevadores dentro
da bolha central do espaçoporto. Toda a estrutura parecia uma colmeia de
insetos. Uma parte da bolha perto do topo abrigava um hotel de luxo. Cada
quarto tinha uma varanda com vista para a beleza natural de Alderaan. Ao
vê-los, Aryn pensou em sua conversa com Syo.
— Um Jedi deve se sacrificar, — ela disse.
Ela estava prestes a fazer exatamente isso.
— Desculpe, senhora, — disse o droide. — Você disse algo?
— Não.
— Que entrada, senhora?
— Eu preciso chegar ao nível um, subnível D.
— Muito bem, senhora.
O carro aéreo desceu da pista de tráfego para parar em uma das entradas
no nível um do espaçoporto. O droide ofereceu a sua mão, que apresentava
um escâner de cartão integrado, e Aryn passou o seu cartão de crédito. A
Ordem seria capaz de rastreá-la pelo uso, mas não tinha outra maneira de
pagar. Ela saiu do carro aéreo e seguiu pelas portas automatizadas do porto.
Uma vez lá dentro, moveu-se rapidamente, mal vendo os outros
sencientes nas passarelas e elevadores. A conversa ocorria ao seu redor,
mas, perdida em seus pensamentos, ela a ouviu apenas como um zumbido
distante. A música retumbava de uma cantina escura. Um jovem casal, um
humano e uma Cereana, saiu de um restaurante de braços dados, as cabeças
juntas, rindo de algum segredo compartilhado. Os droides passaram
zunindo por Aryn, carregando cargas e bagagens.
— Me perdoe, — eles diziam enquanto passavam zunindo.
Haviam telas de vídeo penduradas em locais estratégicos por toda a
instalação. Ela olhou para uma, viu uma imagem de Coruscant, que então
cortou para o complexo do Alto Conselho em Alderaan. Ela evitou olhar
para qualquer outro vídeo enquanto seguia em frente.
Ela manteve os olhos focados no nada, esperando que a hora tardia a
poupasse de qualquer contato com outros membros da delegação Jedi que
poderiam estar estacionados no espaçoporto. Temia que o som de suas
vozes estourasse a bolha do seu controle emocional.
Correndo ao longo dos corredores, elevadores e caminhos, atingiu o
nível onde tinha pousado o seu Raven e se permitiu relaxar. Ela ergueu o
comunicador de pulso até a boca, pensando em saudar T6, mas uma voz de
trás a chamou e rompeu a sua calma.
— Aryn? Aryn Leneer?
O coração dela deu um salto quando se virou para ver Vollen Sor, um
companheiro Cavaleiro Jedi, emergindo de um elevador próximo e correndo
para alcançá-la. O Padawan de Vollen, um Rodiano chamado Keevo, estava
atrás dele, um satélite em órbita ao redor do planeta do seu Mestre. Ambos
usavam as suas vestes tradicionais. Usavam os seus sabres de luz
abertamente, fora de suas vestes, como fariam em um ambiente de combate.
Ela ficou tensa. Talvez a Mestra Dar'nala tenha notado a sua ausência e
deduzido a sua intenção. Talvez Vollen e Keevo tivessem vindo para
impedi-la.
Ela deixou a sua mão pairar perto do cabo do seu sabre de luz.

QUANDO O TRANSPORTE pousou perto do Templo, Malgus já tinha


acompanhado as conversas de comunicação o suficiente para entender o
que havia acontecido. E o que havia aprendido só o enfureceu ainda mais.
Ele saltou para o transporte e parou no pequeno compartimento de carga
traseiro.
— Deixe o compartimento aberto enquanto você voa, — ele ordenou ao
piloto pelo interfone do transporte.
— meu Lorde?
— Suba cem metros e circule. Eu quero ver a superfície.
— Sim, Darth Malgus.
Quando o transporte o levou acima, para longe das ruínas do Templo
Jedi, o vento soprou ao redor do compartimento e bateu em sua capa. Ele
parou na beira da rampa e usou a Força para se ancorar no lugar. De lá, ele
inspecionou Coruscant, o planeta que deveria ter sido destruído.
A maior parte da paisagem urbana estava iluminada, então a noite não
escondia a destruição. Uma névoa de fumaça pairava como uma mortalha
funerária sobre as ruínas ainda fumegantes. O ar carregava o sabor doce e
enjoativo de corpos queimados e plastoide derretido. Ele tentou adivinhar o
número de mortos: na casa das dezenas de milhares, certamente. Cem mil?
Ele não poderia saber. Sabia que deveriam ter sido bilhões.
Hastes de aço espetadas como ossos em pilhas de duracreto
despedaçada. Aqui e ali, equipes de escavação auxiliadas por droides
vasculhavam os escombros, procurando sobreviventes ou corpos. Rostos
assustados se viravam para ver o transporte passar.
— Vocês deveriam estar mortos, — disse Malgus a eles. — Não apenas
com medo.
Quadrante após quadrante de Coruscant foi reduzido a escombros.
Mas não o suficiente.
A maioria dos edifícios ainda estava de pé e a maioria das pessoas do
planeta ainda vivia. A República foi ferida, mas não morta.
E não havia nada mais perigoso do que um animal ferido.
Malgus teve dificuldade em conter a raiva que sentia. O seu punho
cerrou e abriu reflexivamente.
Foi induzido ao erro. Pior ainda, foi traído. Uma vintena dos seus
guerreiros morreu sem nenhum motivo além de fortalecer a postura de
negociação do Império.
Sirenes gritaram ao longe, quase inaudíveis com o vento. Ao longe, as
naves médicas desarmadas da República zuniam pelo céu. Speeders e
swoops pontilhavam o ar aqui e ali, a luz do tráfego e ao acaso.
Malgus soube que Darth Angral havia dissolvido o Senado e declarado a
lei marcial. Mas com o planeta pacificado, Angral permitiu que os serviços
de resgate salvassem quem eles pudessem. Malgus imaginou que Angral
logo permitiria o movimento livre de civis. A vida recomeçaria em
Coruscant. Malgus não entendia o pensamento de Angral.
Não. Ele não entendeu o pensamento do Imperador, pois deve ter sido o
Imperador quem decidiu poupar Coruscant.
Nada estava como deveria ser. Malgus tinha a intenção, esperava,
transformar Coruscant em uma brasa. Sabia que a Força pretendia que
derrubasse a República e os Jedi corruptos que a lideravam. Sua visão o
havia mostrado muito.
Em vez disso, o Imperador incendiou ligeiramente a República e
começou a negociar.
A negociar.
Um esquadrão de dez caças imperiais passou em alta velocidade, com as
suas asas refletindo o brilho vermelho das sirenes de uma nave médica
próxima. Plumas de fumaça de vários incêndios em andamento
serpenteavam pelo céu.
Malgus poderia esperar que o Imperador planejasse forçar a República a
render Coruscant ao Império, mas sabia muito bem, a frota havia
assegurado temporariamente o planeta, mas não tinha forças para mantê-lo
por muito tempo. O planeta era muito grande, a população muito numerosa
para que a frota Imperial o ocupasse indefinidamente. Mesmo uma rendição
formal não acabaria com a resistência da população de Coruscant, e uma
insurgência entre uma população tão grande devoraria os recursos
Imperiais.
Não, eles tinham que destruí-lo ou devolvê-lo. E parecia que o
Imperador havia decidido por este último, usando a ameaça do primeiro
como alavanca nas negociações.
A voz do piloto soou pelo interfone.
– Eu devo continuar o sobrevoo, meu Lorde?
— Não. Leve-me ao Prédio do Senado. Notifique Darth Angral da nossa
chegada iminente.
Ele tinha visto tudo o que precisava ver. Agora precisava ouvir uma
explicação.
— Paz, — ele disse, uma palavra, uma maldição.

ZEERID FINALMENTE NOTOU o sinal do controle planetário de Vulta. Ele o


observou piscar, meio atordoado, sem ter ideia de quanto tempo eles tinham
estado sinalizando pra ele. Balançou a cabeça para clarear o seu
pensamento, acessou o registro do cargueiro falso que Oren lhe disse para
usar, executou-o no computador da Fatman e o usou para responder
automaticamente ao sinal. Em instantes, recebeu aprovação para aterrissar e
instruções de atracação.
— Bem-vindo a Vulta, Anã Vermelha, — disse o controlador. — Pouse
na plataforma de pouso do Lago Yinta, um-onze B.
Zeerid tentou deixar o calor da entrada atmosférica queimar os seus
pensamentos de Oren, dA Permuta, da Engespeciaria. Em vez disso, tentou
se concentrar apenas nos cem mil créditos que deveriam estar esperando por
ele e no que poderia fazer com eles.
No momento em que a nave saiu da estratosfera e entrou no tráfego do
céu de Vulta, mais uma vez começou a se distanciar do trabalho e da pessoa
de que isto precisava.
Mas se despojar de entregador de vícios estava ficando cada vez mais
difícil. O buraco estava ficando muito fundo, a roupa muito pegajosa. Ele
ficaria envergonhado se a sua filha soubesse como ganhava a vida.
Ele colocou a Fatman no piloto automático e foi para a pequena sala
abaixo da cabine que havia convertido em seus aposentos.
O seu tempo no exército ensinou-lhe o valor da organização, e o seu
quarto refletia isso. O seu armário estava arrumado com capricho, embora
ninguém jamais o tenha visto, exceto ele. As suas roupas estavam
cuidadosamente penduradas em um armário de parede ao lado da janela.
Mantinha blasters extras de várias marcas arrumadas pela sala, e um cofre
continha embalagens de carregadores extras suficientes para mantê-lo
disparando por um ano padrão. O tampo da sua pequena mesa de trabalho
de metal estava limpo, sem nada em cima, exceto um computador portátil e
uma pilha de faturas fraudadas. Integrado no chão ao lado estava um cofre
escondido. Ele o expôs, inseriu a combinação e abriu. Dentro havia um
cartão de pagamento ao portador com um mero punhado de créditos
sobressalentes que conseguiu guardar e, mais importante, um pequeno
holograma da sua filha.
Ver o holograma provocou um sorriso.
Ele o pegou. Sempre notava as mesmas três coisas sobre a imagem: os
longos cabelos cacheados de Arra, o sorriso dela, tão brilhante quanto uma
estrela nova, apesar da sua deficiência, e da cadeira de rodas em que ela se
sentava.
Ele poderia ter escolhido um holo que não incluísse a cadeira, mas não o
fez. Doía-lhe vê-la com isso e continuaria a doê-lo até que a tirasse de lá.
E esse era o ponto.
O holograma o lembrou do seu propósito. Olhou para o holo antes de
dormir em seus aposentos e olhou pra ele quando acordou.
Odiava a cadeira de rodas. Isso era o pecado que precisava expiar.
Val e Arra tinham vindo vê-lo na licença planetária. Ainda estava no
exército até então. Val vinha sofrendo de crises de tontura, mas insistiu em
ir mesmo assim e ele, desesperado para ver a sua esposa e filha, não fez
nada para desencorajá-la. Ela teve um mal estar enquanto dirigia e entrou
em outro tráfego aéreo de veículos.
O acidente matou Val e deixou Arra à beira da morte. As pernas dela
foram esmagadas com o impacto e os médicos foram forçados a removê-
las.
Ele havia saído do exército para chorar por Val e cuidar de Arra, sem
pensar muito além de apenas passar um dia e depois outro. Não tinha
pensão nem propriedade, e logo aprendeu que, mesmo com as suas
habilidades de piloto, não conseguia encontrar um trabalho legítimo que
pagasse perto do que precisava e iria precisar. Não só o atendimento
imediato pós-acidente de Arra resultou em enormes contas médicas, mas a
reabilitação contínua custava o mesmo.
Desesperado, desanimado, resolveu arriscar, mergulhando na atmosfera
e esperando que atingisse a águas profundas. Entrou em contato com alguns
velhos conhecidos que conheceu antes da sua passagem pelo exército, e eles
o colocaram em contato com A Permuta. Quando ouviu a oferta, pulou na
esteira da empreitada, pensando que poderia fazer isto dar certo.
As suas dívidas só aumentaram desde então. Contraiu dívidas com uma
empresa de propriedade dA Permuta para comprar a Fatman, e fingiu ter
um problema com jogo contra o qual às vezes tomava empréstimos
adicionais. Na verdade, os créditos dos empréstimos eram para o cuidado
permanente de Arra.
Mas também estava pisando na água. Mal conseguia pagar os juros e,
enquanto tentava manter a cabeça acima da água, Arra permanecia em uma
cadeira de rodas pré-histórica não motorizada. Zeerid não ganhou o
suficiente para comprar pra ela nem mesmo uma cadeira flutuante básica,
muito menos as pernas protéticas que ela merecia.
Ele uma vez ouviu falar de tecnologia no Império que poderia realmente
regenerar membros, mas ele se recusou a pensar muito sobre isso. Se
existisse em algum lugar, o custo o colocaria muito além dos seus meios.
Só queria dar a ela uma cadeira flutuante, ou pernas se pudesse fazer um
grande trabalho. Ela merecia pelo menos isso e planejava cuidar disso.
A entrega da Engespeciaria para Coruscant era o início, o ponto de
virada. Só o dinheiro inicial poderia dar a ela uma cadeira flutuante, e com
sua lousa apagada depois, poderia realmente começar a fazer créditos reais
sem que tudo isso fosse para o pagamento de dívidas.
Créditos para as próteses. Créditos para as pernas regeneradas, talvez.
Ele a veria correr novamente, jogar bola gravitacional.
Ele devolveu o holo ao cofre e tirou as suas roupas de "trabalho",
despindo-se do Z-man, o transportador de especiarias, para revelar Zeerid, o
pai, e as jogou em um cesto. Depois de pousar, ativaria o pequeno droide de
manutenção que mantinha a bordo; o qual limparia e varreria a nave e
lavaria as suas roupas.
Vestiu uma calça, uma camiseta e o seu colete de armadura ablativa,
depois tirou uma camisa de colarinho do cabide e a cheirou. Cheirava
razoavelmente a limpeza.
Trocou os seus coldres de quadril com os seus GH-44 s por um único
coldre de tipoia que usaria sob a sua jaqueta e preencheria com um E-11,
em seguida, prendeu dois blasters E-9, um em um coldre de tornozelo, e o
outro nas costas.
Arra nunca o vira segurando um blaster desde que se incorporou aos
contrabandistas e, se o destino quisesse, ela nunca o veria. Mas Zeerid
nunca foi a lugar nenhum desarmado.
Antes de deixar os seus aposentos, sentou-se em frente ao computador
portátil, fez o login e verificou o saldo da conta fictícia que usava com A
Permuta.
E lá estava, cem mil créditos, recém-depositados.
— Obrigado, Oren.
Transferiu os créditos para um cartão ao portador não rastreável. Era
mais do que jamais segurou em sua mão antes.

VRATH SENTOU-SE em um dos muitos bancos de metal disponíveis no


espaçoporto de Lago Yinta em Vulta. droides passaram rápido. Sencientes
passaram em grupos de dois, três e quatro. A voz de alguém gritou no alto-
falante.
Como todo espaçoporto em qualquer planeta da galáxia, o lugar
fervilhava de atividade: droides, holovídeos, veículos, conversas. Vrath
desligou-se de tudo.
Uma grande tela de vídeo pendurada no teto mostrava as últimas
notícias do lado direito e as últimas chegadas e partidas de naves à
esquerda. Ele observou apenas as chegadas. O painel rastreava cada nave
para a qual o controle planetário deu instruções de atracação, as alterações
movendo-se tão rapidamente quanto a atividade no porto. Vrath estava
esperando por um nome em particular.
Um exercício de vontade, o disparo de certos neurônios, fez com que os
seus olhos artificiais aumentassem três vezes. As palavras na tela ficaram
mais claras.
O informante dos Hutts nA Permuta tinha dado a Vrath um nome de
nave, o que significava que tinha um piloto, o que significava que poderia
encontrar a Engespeciaria e impedir que isso chegasse a Coruscant.
Os Hutts queriam que os viciados em Coruscant ficassem livres da sua
dependência da Engespeciaria do seu concorrente, para que pudessem ser
fisgados pela Engespeciaria Hutt, um novo mercado para os Hutts, como
Vrath entendia a questão.
Na verdade, achou surpreendente que A Permuta tivesse sido capaz de
encontrar um piloto louco o suficiente para fazer uma entrega em
Coruscant, um mundo em bloqueio Imperial. A Permuta deve ter tido um
piloto com uma habilidade incomum.
Ou uma estupidez incomum.
A tela de vídeo na sua cabeça mostrou as mesmas imagens de notícias
que todas as telas de vídeo e holovídeos na galáxia devem ter mostrado:
outra história sobre as negociações de paz em Alderaan. Uma mulher
Togruta, Vrath sabia que era uma Mestra Jedi, mas não conseguia se
lembrar do nome dela, estava dando uma entrevista. Parecia severa, de
cabeça erguida enquanto falava. Vrath não conseguia entender as palavras
dela. O som de motores e pessoas tornava impossível ouvir. Ele poderia ter
ativado o implante auditivo em seu ouvido direito para captar o som do
vídeo, mesmo através do barulho, mas realmente não se importava com o
que a Jedi tinha a dizer. Não se importava com o andamento da guerra entre
a República e o Império, contanto que pudesse transitar entre eles e ganhar
os seus créditos.
Ele esperava se aposentar em breve, talvez ir para Alderaan. Se pudesse
tirar a Engespeciaria, os Hutts o compensariam bem. Quem sabe? Talvez
este fosse o seu último trabalho, depois do qual ficaria bêbado, gordo e
velho, nessa ordem.
Ele alternou a sua atenção entre as notícias e o quadro de chegadas até
que viu o nome que estava esperando,a Anã Vermelha.
Pendurou a mochila que continha o seu equipamento no ombro,
levantou-se e caminhou até a área de pouso do Anã Vermelha.
Permanecendo entre a agitação, assistiu discretamente enquanto o cargueiro
surrado pousava na pista de pouso. Notou as carcaças do motor
modificadas. Ele suspeitou que a Fatman era rápida.
Enfiou a mão na mochila e pegou o distribuidor de nano droide.
Normalmente preferia usar uma versão em aerossol dos nanos de
rastreamento, mas o porto estava lotado demais para isso.
Preparado, ele esperou.

O EDIFÍCIO DO SENADO SURGIU À VISTA, uma cúpula de transparaço com uma


torre no topo em seu centro apontada como uma lâmina de faca para o céu.
A maioria das janelas estavam escura. O transporte seguiu para a pista de
pouso no topo do prédio. Os halogênios iluminavam o telhado. Malgus viu
um esquadrão de guardas Imperiais, cinza como sombras em suas
armaduras completas, e um único oficial da marinha uniformizado perto do
campo de pouso. O oficial colocou a mão sobre o chapéu para evitar que o
vento o soprasse.
Malgus não esperou a nave pousar. Quando o transporte ainda estava a
dois metros de altura, saltou do compartimento de carga aberto e pousou
diante do oficial, cujos olhos se arregalaram ao ver o método de
desembarque de Malgus.
O jovem oficial, com o uniforme cinza bem passado, o cabelo bem
penteado sob o chapéu, provavelmente não disparava nem mesmo um
blaster há anos. Malgus não se preocupou em disfarçar o seu desprezo.
Tolerou o oficial e a sua laia apenas porque forneciam o apoio necessário
para aqueles que lutavam de fato pelo Império.
— Darth Malgus, bem-vindo, — disse o adido. — Meu nome é Roon
Neele. Darth Angral...
— Fale apenas se for preciso, Roon Neele. As gentilezas me irritam nos
melhores momentos. E este não é o melhor deles.
A boca de Neele ficou aberta por um momento, depois fechou.
— Excelente, — disse Malgus, quando o transporte pousou e o peso dele
vibrou na plataforma de pouso. — Agora me leve para Darth Angral.
— Claro.
Eles caminharam pelo telhado até o turbo elevador. Tropas Imperiais
Blindadas flanqueavam a porta de cada lado dela. Ambos saudaram a
Malgus. Neele e Malgus desceram vários andares de elevador em silêncio.
As portas se abriram para revelar um corredor longo e largo repleto de
portas de escritório à direita e à esquerda, terminando em um grande par de
portas duplas nas quais estavam gravadas as palavras:

O ESCRITÓRIO DO CHANCELER DA REPÚBLICA

Mais dois soldados Imperiais armados e blindados estavam de guarda


nas portas.
A mesa da recepção em forma de arco imediatamente antes do elevador,
presumivelmente o domínio da secretária do Chanceler, estava vazia, a
secretária havia sumido há muito tempo.
Roon indicou o gabinete do chanceler, mas não se moveu para sair do
elevador.
— Darth Angral confiscou o gabinete do Chanceler. Ele está esperando
por você.
Malgus saiu do elevador e caminhou pelo corredor. Os escritórios de
cada lado dele estavam vazios, todos mostrando sinais de uma evacuação
apressada, xícaras de café derramadas, papéis soltos no chão acarpetado,
uma cadeira virada. Malgus imaginou o choque que os ocupantes devem ter
sentido ao observar as forças Imperiais despejando-se do céu. Ele se
perguntou o que Angral tinha feito com os Senadores e as suas equipes.
Alguns, ele sabia, foram mortos no ataque inicial. Outros provavelmente
foram executados depois.
Quando chegou ao final do corredor, os soldados Imperiais o saudaram,
se separaram e abriram as portas para ele. Entrou e as portas se fecharam
atrás dele.
Angral estava sentado à mesa do Chanceler da República, na outra
extremidade de um amplo escritório. Com o seu cabelo escuro, salpicado de
cinza, estava bem penteado, uma reminiscência de Roon Neele. Bordados
elaborados decoravam a cor de sua capa. O seu rosto anguloso e bem
barbeado lembrava a Malgus uma machadinha.
Arte de vários mundos estavam penduradas nas paredes ou em pilares de
exibição, esculturas em osso de Mon Calamari, uma pintura de paisagem a
óleo de Alderaan, uma escultura em madeira de uma criatura que Malgus
não conseguiu identificar, mas que o lembrava de uma das míticas bestas
zillo de Malastare. Uma garrafa aberta de vinho de flores estava na mesa de
Angral em um decanter de cristal. Dois cálices estavam ao lado dele, ambos
meio cheios com o raro espírito amarelo pálido. Angral sabia que Malgus
não bebia álcool.
Duas grandes poltronas de couro de encosto alto estavam posicionadas
diante da mesa, de costas para a porta. Qualquer um poderia estar sentado
nelas. Atrás da escrivaninha, uma janela de transparaço do chão ao teto
dava para a paisagem urbana. Plumas de fumaça negra se enrolaram em um
céu noturno quase vazio de naves e mal iluminado pelos muitos incêndios
que queimavam em todo o planeta. Para Malgus, as linhas pretas de fumaça
pareciam rabiscos de gigantes. Um labirinto de edifícios de duracreto
estendia-se até o horizonte.
— Darth Malgus, — Angral disse, e gesticulou para uma das cadeiras.
— Por favor sente-se.
As palavras explodiram em Malgus antes que ele pudesse detê-las.
— Nós seguramos Coruscant em nossos punhos e só precisamos apertar.
Mesmo assim, entendi que as negociações de paz continuam.
Angral não pareceu surpreso com a explosão. Ele tomou um gole do seu
vinho de flores e colocou o cálice de volta na mesa...
— O seu entendimento está correto.
— Por quê? — Malgus colocou uma acusação na pergunta. — A
República está de joelhos diante de nós. Se a apunhalamos, ela morre.
— Usando isso como uma alavanca nas negociações de paz...
— Paz é para os burocratas! — Malgus deixou escapar, muito forte,
muito alto. — Não é para os guerreiros.
Ainda assim, o rosto de Angral manteve a calma.
— Você questiona a sabedoria do Imperador?
As palavras esfriaram o calor de Malgus. Ele controlou o seu
temperamento.
— Não. Eu não questiono o Imperador.
— É um prazer ouvir isso. Agora sente-se, Malgus. — O tom de Angral
não deixou dúvidas de que as palavras não eram uma sugestão.
Malgus seguiu o seu caminho através dos trabalhos de arte. Antes que
tivesse chegado na metade do escritório, Angral disse:
— Adraas derrotou você aqui.
Malgus parou.
— O que?
Adraas se levantou de uma das cadeiras diante da mesa, revelando-se, e
se virou para encarar Malgus. Ele não usava mais a máscara dele, e o seu
rosto, imaculado e bonito, como o do Mestre Zallow, e com um cavanhaque
bem aparado, exibia presunção com comodidade.
Malgus se lembrou da expressão no rosto de Zallow quando o Jedi
morreu, e imaginou substituir a expressão atual de Adraas por uma que
ecoasse a careta de morte de Zallow.
— Darth Malgus, — disse Adraas, com o seu sorriso falso, mais
zombeteiro do que qualquer coisa. — Lamento não ter me anunciado antes
da sua... explosão.
Malgus ignorou Adraas e se dirigiu a Angral diretamente.
— Por que ele está aqui?
Angral sorriu, todo inocente.
— Lorde Adraas estava me dando o relatório completo dele do ataque ao
Templo.
— Relatório dele?
— Sim. Ele falou muito bem de você, Darth Malgus.
Adraas pegou o outro cálice da mesa de Angral e tomou um gole.
— Ele? Ele falou muito bem de mim?
Malgus não jogava bem a política Sith, mas de repente se sentiu como se
tivesse caído em uma emboscada. Sabia que Adraas era um dos favoritos de
Angral. Eles estavam armando para Malgus? Eles certamente poderiam usar
a sua condenação das negociações de paz contra ele.
Com esforço, ele se controlou e afundou no assento ao lado de Adraas.
Adraas também se sentou. Malgus se esforçou para escolher as suas
palavras com cuidado.
— O ataque ao Templo não poderia ter sido melhor. O plano que eu
desenvolvi funcionou perfeitamente. Os Jedi foram pegos completamente
desprevenidos. — Ele se virou para encarar Adraas. — Mas o seu relatório
deveria ter sido aprovado por mim antes de chegar a Darth Angral. — Ele
se voltou para Angral. — Desculpe, meu Lorde.
Angral acenou com a mão com desdém.
— Não há necessidade de desculpas. Eu solicitei o relatório dele
diretamente.
Malgus não sabia o que fazer com isso e não gostava que não soubesse.
— Diretamente? Por quê?
— Você acredita que devo uma explicação a você, Darth Malgus?
Malgus deu um passo errado novamente.
— Não, meu Lorde.
— Mesmo assim, eu vou lhe dar uma, — disse Angral. — A razão é
simples. Eu não consegui te localizar.
— Eu desliguei o meu comunicador enquanto...
Adraas o interrompeu e Malgus teve que conter o impulso de golpeá-lo
com as costas da mão no rosto.
— Nós presumimos que você estivesse verificando o bem-estar da sua
mulher, — disse Adraas.
— Nós presumimos? — Malgus perguntou. — Você pretende falar por
Darth Angral, Adraas?
— Claro que não, — respondeu Adraas, seu tom irritantemente
despreocupado. — Mas quando nós não conseguimos localizar você, Darth
Angral me pediu pra falar por você.
E lá estava, não adulterado e exposto. Nem mesmo Malgus poderia
perder isso. Adraas tinha essencialmente admitido que desejava o lugar de
Malgus na hierarquia, e a participação de Angral sugeriu que sancionou a
tomada de poder.
A voz de Malgus ficou baixa e perigosa...
— Isto vai precisar mais do que palavras para falar por mim, Adraas.
— Sem dúvida, — disse Adraas, e respondeu ao olhar de Malgus com
um dos seus. Os seus olhos escuros não fraquejaram diante da raiva de
Malgus.
Angral observou a troca, então se recostou na cadeira.
— Onde você estava, Darth Malgus? — Angral perguntou.
Malgus não tirou os olhos de Adraas.
— Avaliando a situação pós-batalha em torno do Templo, meu Lorde.
Tentando entender…
Ele se deteve. Quase disse, Tentando entender porque o Império não
arrasou Coruscant.
— Tentando entender a situação no planeta com mais clareza.
— Entendo, — disse Angral. — O que tem essa mulher que Adraas
mencionou? Eu entendi pelo relatório de Adraas que ela era uma
responsabilidade para você durante o ataque ao Templo?
Malgus olhou para Adraas. Adraas sorriu atrás da borda do cálice
enquanto bebia o seu vinho.
— Adraas está enganado.
— Ele está? Então essa mulher não é uma responsabilidade pra você?
Ela é uma alienígena, não é? Uma Twi’lek?
Adraas fungou com desprezo, afastou-se de Malgus e bebeu o seu vinho,
os gestos capturando perfeitamente a visão do Império a respeito dos
alienígenas como, na melhor das hipóteses, sencientes de segunda classe.
Angral compartilhava dessa visão e tinha acabado de deixar Malgus saber
disso.
— Ela é, — Malgus respondeu.
— Entendo, — disse Angral.
Adraas colocou o seu cálice de vinho na mesa de Angral.
— Uma excelente safra, Darth Angral. Mas certamente no final da sua
vida na adega.
— Eu também acho, — disse Angral.
— Deixe as coisas durarem muito tempo e podem ficar rançosas.
— Concordo, — disse Angral.
Malgus não perdeu nada, mas não conseguiu dizer nada.
Adraas estalou os dedos como se tivesse acabado de se lembrar de algo.
— Oh! Darth Malgus, eu lamento por ter recusado o tratamento da sua
mulher a bordo da Inabalável.
Um tique causou espasmo no olho esquerdo de Malgus. Seus dedos
afundaram nos braços da cadeira e perfuraram o couro.
— Você fez o que?
— A prioridade deve ser dada às forças Imperiais, — continuou Adraas.
— Forças humanas. Eu tenho certeza que você entende.
Malgus já tinha tido o suficiente. Para Angral, ele disse:
— O que é isso? O que está acontecendo aqui?
— O que você quer dizer? — Angral perguntou.
— A mulher Twi'lek está no planeta, — disse Adraas, como mais
ninguém falou, — Eu tenho certeza de que o atendimento que ela receberá
será... adequado.
— Eu quero dizer o que está acontecendo aqui, agora, nesta sala, —
disse Malgus. — Qual é o seu propósito nisso, Angral?
A expressão de Angral endureceu e ele pousou o copo com um tilintar
audível...
— O meu propósito?
— Quem é essa mulher para você, Darth Malgus? — Adraas pressionou.
— A presença dela na batalha pelo Templo Jedi fez com que você
cometesse erros.
— As paixões podem levar a erros, — disse Angral.
— As paixões são poder, — disse Malgus a Angral. — Os Sith sabem
disso. Os guerreiros sabem disso. — Ele fixou o seu olhar em Adraas, e as
palavras saíram em um grunhido. — Que erros você quer dizer, Adraas?
Nomeie-os.
Adraas ignorou a pergunta.
— Você se importa com ela, Malgus? Você a ama?
— Ela é uma serva e você é um tolo, — respondeu Malgus, a sua raiva
crescendo. — Ela satisfaz as minhas necessidades quando eu preciso. Nada
mais.
Adraas sorriu como se ele tivesse marcado um ponto.
— Ela é sua escrava, então? Uma prostituta vira-lata que te satisfaz
porque ela deve?
O calor ardente da raiva crescente de Malgus se acendeu em chamas.
Rosnando, ele saltou da sua cadeira, ativou o seu sabre de luz e desferiu um
golpe direto para partir a cabeça de Adraas em duas.
Mas Adraas, antecipando o ataque de Malgus, pôs-se de pé, ativou o seu
próprio sabre de luz e aparou o golpe. Os dois homens pressionaram suas
lâminas contra o outro diante da mesa de Angral, a energia chiando, faíscas
voando.
Malgus testou o poder de Adraas.
— Você tem escondido o seu poder, — ele disse.
— Não, — respondeu Adraas. — Você é cego demais para ver as coisas
diante dos seus olhos.
Malgus reuniu uma reserva de força e empurrou Adraas para trás. Eles
se olhavam com ódio nos olhos.
— Isso é tudo, — disse Angral, ficando de pé.
Nem Malgus nem Adraas tiraram os olhos do outro e nem desativaram
as suas lâminas.
— Isso é tudo, — repetiu Angral.
Como um só, os dois recuaram mais um passo. Adraas desativou o seu
sabre de luz, depois Malgus.
— Você deveria tê-la enviado à minha nave para tratamento, — disse
Malgus, apontando o comentário para Adraas, mas pretendendo para
ambos.
Angral parecia desapontado.
— Depois de tudo isso, você ainda diz essas coisas? Muito bem,
Malgus. A mulher está em uma instalação médica da República perto daqui.
Eu terei as informações enviadas para o seu piloto.
Malgus inclinou a cabeça em agradecimento relutante.
— Quanto a você, Lorde Adraas, — disse Angral, — eu aceito o seu
relatório da batalha.
— Obrigado, Darth Angral.
Angral se ergueu em toda a sua altura.
— Vocês dois irão seguir os meus comandos sem questionar ou hesitar,
— Eu tratarei duramente qualquer desvio dessa ordem. Vocês entenderam?
Angral tinha dirigido a repreensão a ambos, mas Malgus entendeu que
era para ele.
— Sim, Darth Angral, — eles responderam em uníssono.
— Vocês são servos do Império.
Malgus, matutando, não disse nada.
— Vocês dois me deixem, agora, — disse Angral.
Ainda fervendo de raiva, Malgus caminhou para a porta. Adraas seguiu
a passos largos atrás dele.
— Darth Malgus, — Angral chamou.
Malgus parou e se virou. Adraas parou também, mantendo algum espaço
entre eles.
— Eu sei que você acredita que o conflito aperfeiçoa a compreensão da
Força. — Ele fez Malgus esperar um pouco antes de acrescentar:
— Eu estou curioso para ver se os eventos validam a sua visão.
— Quais eventos? — Malgus perguntou, e então entendeu. Angral
deixaria Adraas fazer o jogo dele para a posição de Malgus na hierarquia.
Ele pretendia ver quem iria prevalecer em um conflito entre Malgus e
Adraas, um conflito conduzido nas sombras, por procuração, de acordo com
todas as regras políticas ridículas dos Sith.
Conflito sutil e indireto não era a força de Malgus. Ele olhou para
Adraas, que olhou de volta.
— Isso é tudo, então, — disse Angral, e Malgus caminhou em direção às
portas.
— Adraas, espere um momento, — disse Angral, e Adraas demorou.
Malgus olhou por cima do ombro para ver Adraas olhando pra ele.
Malgus saiu do escritório sozinho, da mesma forma que havia entrado.
Havia sido feito de bobo e estava sendo manipulado para a diversão de
Angral.
Pior ainda, a vitória que tanto conquistou seria em vão, uma mera
alavanca para o Imperador manejar nas negociações de paz. Após a
conclusão das negociações, o Império deixaria Coruscant.
No corredor do lado de fora, bateu com o punho na mesa da secretária,
fazendo uma rachadura no topo de mármore.
Quando Vollen e Keevo se aproximaram, Aryn percebeu o que estava
fazendo e deixou cair a mão ao lado do corpo. Ela não lutaria contra outro
Jedi, nunca. Além disso, não sentiu hostilidade neles.
Ela tentou limpar a emoção do seu rosto enquanto Vollen e Keevo
evitavam um trem de droides de carga e se aproximavam dela. O cabelo
castanho de Vollen caía solto sobre os olhos injetados de sangue. Ele não
tinha se barbeado, e os círculos que escureciam a pele sob seus olhos
castanhos indicavam a sua necessidade de dormir. Aryn imaginou que devia
estar muito parecida. O seu próprio estado emocional tornava difícil manter
os seus escudos empáticos. Tanto Vollen quanto o seu Padawan suavam de
apreensão. Saiam deles em ondas.
— Olá, Vollen, Keevo.
Ambos retribuíram a saudação.
— O que você está fazendo aqui a esta hora, Aryn? — Vollen perguntou.
Por um momento, não disse nada. Achou isso estranho pois sabia que a
pergunta viria, mas não havia ensaiado uma resposta. Talvez ela não
quisesse mentir. Então não tinha preparado.
— Eu estou fazendo algo... algo que o Mestre Zallow quer que eu faça.
A tensão fluiu visivelmente da expressão de Vollen. O alívio de ambos
inundou Aryn.
— Então o Mestre Zallow sobreviveu ao ataque Sith, — Vollen disse,
fechando o punho e sorrindo. — Essa é uma notícia maravilhosa. Eu sei que
você permaneceu perto dele. — Ele se virou para o seu Padawan. — Você
vê, Keevo. Ainda há esperança.
O Rodiano assentiu. Membranas nictitantes lavaram seus olhos grandes
e escuros. O óleo hidratando a sua pele esverdeada brilhava sob as luzes do
teto.
— Sempre há esperança. — disse Aryn, ignorando o quão falsas as
palavras soaram para ela. Não podia partir os corações deles com a verdade.
Deixe-os sentir algum alívio, mesmo que apenas por um tempo.
Um par de droides de carga passou por eles, apitando na fala dos
droides.
Vollen se aproximou dela e baixou a voz, como se discutisse uma
conspiração.
— Então o que está acontecendo no salão do Alto Conselho? Nós
ouvimos que as negociações continuariam. Como Dar'nala pode justificar
isso? Devíamos estar planejando um contra-ataque. Toda a delegação Sith
deveria ser mantida sob custódia.
Keevo colocou a mão no punho do seu sabre de luz e murmurou algo em
rodiano que Aryn considerou ser um assentimento. O rodiano olhou em
volta como se estivesse preocupado que alguém pudesse ter ouvido.
Aryn sentiu a pressão crescente da raiva reprimida deles, da decepção
deles. Eles se sentiram traídos, enganados. Ela ouviu nas palavras deles o
eco dos seus próprios pensamentos e começou a concordar completamente.
Mas antes que as palavras saíssem dos seus lábios, ela viu como as
palavras, os pensamentos, se tivessem rédea solta, fragmentariam a Ordem
Jedi.
Pela primeira vez, as consequências da sua decisão a atingiram, mas
mesmo assim, ela sabia que não poderia fazer outra escolha. O sacrifício era
dela. Outros Jedi, entretanto, não poderiam fazer a mesma escolha ou a
Ordem se desintegraria.
— Acredite que a Mestra Dar'nala sabe o que está fazendo, — ela disse.
Vollen fez um gesto de desprezo e continuou como se Aryn não tivesse
falado.
— Há muitos de nós prontos para agir, Aryn. Se nós pudermos
coordenar com os membros sobreviventes da Ordem em Coruscant, nós
podemos...
— Vollen. — interrompeu Aryn, com a sua voz suave, mas a sua
intenção afiada.
Ele parou de falar, encontrou os olhos dela.
— Faça como a Mestra Dar'nala diz. Você deve, ou a Ordem cairá. Você
entende?
— Mas negociar com os Sith depois disso é uma loucura! Nós estamos
no nosso ponto mais fraco. Devemos retomar a iniciativa...
— Faça como ela diz, Vollen. Eu nem deveria ter que dizer isso. — Ela
falou com uma voz firme e clara, para quebrar o feitiço conspiratório que
Vollen e Keevo lançaram com os sussurros deles. — Você fez um
juramento. Ambos fizeram. Vocês pretendem quebrá-lo?
Vollen corou. Keevo se mexeu e baixou os olhos.
— Não, — disse Vollen.
Aryn estava nadando na frustração de Vollen e na sua própria. Ela se
sentia como uma hipócrita.
— Bom, — ela disse, e tocou no ombro dele. — As coisas vão
funcionar. O Conselho sabe o que está fazendo. Nós somos um instrumento
da República, Vollen. Nós faremos o que for melhor para a República.
— Eu espero que você esteja certa, — disse Vollen, parecendo não estar
convencido. Keevo concordou com a cabeça.
Aryn não aguentava mais a sua própria falsidade.
— Eu preciso ir. Fique bem, Vollen. E você também, Keevo. Que a
Força esteja com vocês dois.
A sua recitação familiar de despedida pareceu tranquilizá-los.
— E com você também, — disse Vollen.
— Fique bem, Aryn Leneer, — disse Keevo em um Básico estridente.
— Você ainda não disse para onde está indo, — disse Vollen.
— Não, não disse, — disse Aryn. — É pessoal.
Ela se virou e se dirigiu para a sua nave. Enquanto caminhava, ela ativou
o seu comunicador e saudou o seu astro mecânico.
— Tê-seis, prepare a nave para o lançamento.
O droide acusou o recebimento e perguntou sobre um plano de voo.
— Nenhum. — disse Aryn, e o droide soltou um longo bipe de
sofrimento.
Quando ela alcançou a baía de pouso, T6, com a cúpula da sua cabeça
laranja saindo da tomada droide do PT-7, bipou uma saudação. O caça
estelar Raven já estava em pré-lançamento e o zumbido das bobinas do
motor aquecendo fez a plataforma vibrar sob os pés dela.
Ela ficou lá por um tempo, olhando para a escada que levava para a sua
cabine, ouvindo o zumbido dos motores, pensando que se ela entrasse e
decolasse ela nunca poderia voltar.
Ela se lembrou da dor que ela sentiu quando o Mestre Zallow morreu.
Ela tinha sentido isso fisicamente, um choque lancinante no seu abdômen
que queimou a dúvida. Fechando os olhos, ela inalou profundamente, uma
respiração nova e limpa, e tirou as suas vestes Jedi externas, as vestes que
ela ganhou sob a tutela do Mestre Zallow.
Ela não poderia vingá-lo como uma Jedi. Ela poderia e deveria vingá-lo
como sua amiga.
— O que você está fazendo, Aryn? — Vollen chamou atrás dela.
Ela se virou para ver que Vollen e Keevo a haviam seguido até a nave.
Vollen estava com uma expressão preocupada.
— Vocês estão me seguindo? — Aryn perguntou.
— Sim.
— Não façam isso, — ela disse.
— O que você está fazendo, Aryn?
Ela colocou uma mão na escada para a sua cabine.
— Eu já disse a você, Vollen. Estou fazendo algo pelo Mestre Zallow.
— Mas as suas vestes? Eu não entendo.
Ela não podia oferecer nenhuma explicação que o satisfizesse. Ela se
virou, subiu a escada para a cabine do piloto e colocou o capacete.
Felizmente, T6 reteve quaisquer perguntas que pudesse ter.
Vollen e Keevo caminharam em direção à nave. Aryn sentiu o alerta em
Vollen, a incerteza dele. Ele parou quando alcançou as vestes de Aryn. Ele
parecia como se estivesse diante de um túmulo. Talvez soubesse o que
significava porque Aryn as havia deixado lá.
— Diga à Mestre Dar'nala que eu sinto muito, — ela gritou para ele. —
Diga a ela, Vollen.
Vollen e Keevo não se aproximaram. Era como se as vestes descartadas
demarcassem algum limite que não podiam cruzar.
— Desculpar pelo quê? — Vollen gritou. — Aryn, por favor, me diga o
que você está fazendo. Por que você está deixando as suas vestes?
— Ela vai entender, Vollen. Fique bem.
Ela abaixou a canopi transparente da cabine e não conseguiu ouvir o que
quer que Vollen disse em resposta. Os motores ficaram mais altos e Vollen
parou na pista de pouso, olhando para Aryn. Keevo estava ao lado dele,
com os seus olhos escuros nas vestes de Aryn.
— Tire-nos daqui Tê-seis, — ela disse. — Defina um curso para Vulta,
na Orla Média.
Ela conheceu alguém lá, uma vez. Ela esperava que ainda estivesse lá.
Se alguém podia levá-la a Coruscant, era o Z-man.
O droide bipou em concordância e os motores da Raven a ergueram da
plataforma.
Ela olhou para baixo uma última vez para ver Vollen recolhendo as
vestes dela com a mesma delicadeza que poderia usar para carregar um
companheiro caído.

MALGUS REPETIU A TROCA com Adraas e Angral repetidamente na sua mente.


A sua raiva permaneceu inabalável enquanto saiu do elevador para o
telhado do Edifício do Senado e caminhou em direção ao seu transporte,
ignorando os guardas que o saudaram enquanto passava. O piloto do
transporte aguardava na rampa de pouso abaixada.
— Você recebeu uma localização de Darth Angral? — Malgus
perguntou ao piloto. — Um hospital?
— Sim, meu Lorde.
— Leve-me lá.
Ele embarcou no transporte, com as portas fecharam sussurrando, e a
nave logo decolou na destruição nebulosa do céu noturno de Coruscant.
Eles não precisaram voar muito longe. Em menos de um quarto de hora, a
voz do piloto foi transmitida pelo intercomunicador.
— Chegando na instalação agora, meu Lorde. Onde eu devo pousar?
Abaixo, Malgus viu o retângulo de vários andares da instalação médica.
Swoops, carros aéreos, speeders e transportes médicos lotavam a pista de
pouso iluminada artificialmente no seu telhado. Dezenas de pessoas se
moviam entre os veículos, médicos, enfermeiras, médicos, e os feridos.
Corpos deitados em macas aqui e ali.
No nível do solo, a cena era praticamente a mesma. Veículos e pessoas
coagularam a artéria da estrada e uma massa de pessoas aglomerou-se na
entrada principal das instalações.
— Coloque-se no nível do solo, — Malgus ordenou.
Algumas das pessoas no telhado notaram as marcações Imperiais do
transporte. Rostos olhavam para o céu, incertos, assustados, e algumas
pessoas correram para os elevadores. Um tropeçou em uma maca e caiu.
Outro correu para um médico e o derrubou.
— Darth Angral comandou temporariamente este hospital para fazer a
triagem dos feridos Imperiais, — disse o piloto pelo interfone. — Agora
todos eles já foram transferidos para a Inabalável.
— Nem todos eles. — disse Malgus, mas não alto o suficiente para ser
ouvido pelo interfone.
— Há muitas pessoas lá embaixo, meu Lorde. Eu não vejo um local
livre para pousar.
Malgus olhou para eles, a sua raiva borbulhando.
— Pouse. Eles vão se mover.
O transporte girou, pairou e começou a descer. A multidão abaixo se
separou quando a nave se aproximou do duracreto. Malgus podia ouvir os
gritos da multidão através das anteparas.
— meu Lorde, eu devo mandar algumas tropas? Para te proteger?
— Eu não preciso de guarda. Mantenha a nave segura. Eu não vou
demorar. — Malgus apertou o interruptor que abria a porta lateral do
transporte, e uma cacofonia de sirenes e gritos raivosos vazaram pela
abertura.
Para Malgus, a sua própria raiva era mais do que páreo para a da
multidão, descartou a sua capa, revelando seu rosto cheio de cicatrizes e o
respirador, e saiu pela a rampa de aterrissagem.
Ao vê-lo, a multidão ficou muda. Apenas as sirenes continuaram a uivar.
Um mar de rostos olhavam pra ele, pálidos à luz da rua, assustados, sujos de
poeira e sangue, mas acima de tudo, com raiva. A raiva e o medo coletivos
deles tomaram conta dele. Ele parou diante deles, olhando um após o outro.
Ninguém conseguiu segurar o olhar dele.
Ele desceu a rampa e chegou ao meio deles. Eles cederam diante dele.
No momento em que ele pôs o pé na estrada, a gritaria se renovou.
— Monstro!
— Assassino!
— Nós precisamos de suprimentos médicos!
— Ele está sozinho. Matem ele.
— Covarde!
A presença dele entre eles focou a raiva deles. À medida que o tumulto
crescia, ele não conseguia distinguir as palavras individuais. Ele ouviu
apenas um único rugido prolongado e cheio de ódio, uma onda de punhos e
dentes à mostra. Ecoou a sua própria emoção, alimentou-a, amplificou-a.
De algum lugar à frente, um pedaço de duracreto do tamanho de um
punho curvou-se sobre a multidão na sua direção. Sem se mover, ele o
parou no meio do voo com a Força. Ele o deixou ficar suspenso no ar por
um momento, para que a multidão pudesse ver, antes de usar a Força para
esmagá-lo em pedaços.
A multidão ficou em silêncio novamente enquanto as pedras e a poeira
choviam na estrada, sobre as cabeças deles.
— Quem jogou isso? — Malgus perguntou, o calor de sua raiva
aumentou.
Sirenes soaram. Uma tosse de algum lugar. Olhos temerosos em todos os
lugares.
Malgus ergueu a voz.
— Eu disse quem jogou isso?
Sem resposta. A raiva da multidão se transformou em ansiedade.
— Dispersem-se. — disse Malgus, com a sua própria raiva crescendo
enquanto a deles diminuía. — Agora.
Talvez sentindo a raiva dele, aqueles que estavam perto dele começaram
a recuar. Alguns na periferia da multidão se viraram e fugiram. A maioria se
manteve firme, embora se olhassem inseguros.
— Nós temos família lá dentro.
— Eu preciso de cuidados, — alguém gritou.
Malgus se envolveu na Força enquanto a sua raiva fervilhante
borbulhava para a superfície.
— Eu disse para dispersar!
Quando a multidão não respondeu à sua demanda, bateu com o punho na
palma da mão e deixou o poder alimentado pela raiva explodir para fora de
seu corpo. Gritos soaram quando a explosão empurrou tudo para longe dele
em todas as direções.
Corpos voaram para trás, batendo uns nos outros, nas paredes, contra e
através das janelas. O transporte em que viajou balançou com a explosão.
As portas do centro médico voaram de seus batentes e se espatifaram no
chão.
As sirenes continuaram a soar.
Parcialmente desabafado, ele voltou a si.
Gemidos e choramingos de dor soaram ao seu redor. Uma criança
chorava. Corpos jaziam espalhados como bonecos de pano. Cacos de vidro
cobriram o chão. Speeders e swoops estavam virados de lado. Papéis soltos
balançaram com o vento.
Indiferente, Malgus percorreu o caminho agora livre para o centro
médico.
Lá dentro, pacientes e visitantes se agachavam atrás de cadeiras, mesas,
uns aos outros. A respiração de Malgus era o som mais alto da sala.
Ninguém se atreveu a olhar para ele.
— Onde estão os Jedi? — alguém disse.
— Os Jedi estão mortos no seu Templo, — disse Malgus. — Onde eu os
deixei. Não tem ninguém pra te salvar.
Alguém chorou. Outro gemeu.
Malgus encontrou um homem obeso com o uniforme azul claro de
funcionário de um hospital e o puxou pela camisa.
— Eu estou procurando uma mulher Twi'lek com uma cicatriz na
garganta, — disse Malgus. — Ela sofreu dois ferimentos de blaster e foi
trazida pra cá hoje cedo. O nome dela é Eleena.
Os olhos do homem dispararam ao redor como se eles estivessem
procurando escapar da sua cabeça,
— Eu não conheço nenhuma Twi’lek. Eu posso verificar nos registros.
— Se algum mal lhe aconteceu aqui...
Uma enfermeira corpulenta, com o cabelo ruivo preso em um coque
apertado, levantou-se de trás de uma mesa. O uniforme dela parecia uma
tenda azul em seu corpo robusto. As sardas pontilhavam o seu rosto.
— Conheço a mulher que você procura. Posso te levar até ela.
Malgus jogou o homem no chão e seguiu a enfermeira pelos corredores.
O ar cheirava a antisséptico. Paredes e pisos eram brancos ou prateados.
Funcionários e droides médicos corriam pelos corredores, mal notando
Malgus, apesar da sua desfiguração. Uma voz feminina pelo interfone
chamava quase continuamente os médicos para esta ou aquela sala de
tratamento, ou anunciava códigos em vários locais da instalação.
Malgus e a enfermeira pegaram um elevador até uma enfermaria de
tratamento, passando por salas superlotadas de pacientes. O choro de uma
mulher atravessou o corredor. Gemidos de dor soaram de outras salas. Uma
equipe de cirurgiões passou correndo, seus rostos escondidos atrás de
máscaras manchadas de sangue.
A enfermeira não olhou para Malgus quando falou.
— A mulher Twi'lek foi deixada nas portas por um transporte não
identificado. Nós não sabíamos que ela era... Imperial.
Malgus grunhiu.
— Você não a teria tratado se soubesse?
A enfermeira parou, girou nos seus calcanhares e encarou Malgus em
seu rosto cheio de cicatrizes.
— Claro que nós a teríamos tratado. Nós não somos selvagens.
Malgus não perdeu a ênfase sutil da mulher em nós.
Decidiu permitir à enfermeira o momento de desafio dela. O espírito
dela o impressionou.
— Apenas me leve até ela.
Eleena estava deitada em uma cama em uma pequena sala de tratamento
com três outros pacientes. Um deles, um homem idoso, estava enrolado em
posição fetal na cama, gemendo, os lençóis ensanguentados. A outra, uma
mulher de meia-idade com o rosto lacerado, observou Malgus e a
enfermeira entrarem, a expressão vaga. O terceiro parecia estar dormindo.
Uma linha de fluido foi ligada ao braço desenrolado de Eleena e vários
cabos... cabos!... a conectavam ao equipamento de monitoramento. A
instalação deve ter sido ampliada para usar essa tecnologia ultrapassada. As
feridas de blaster dela, pelo menos, foram tratadas e enfaixadas. O braço
com o ombro ferido foi estabilizado em uma tipoia.
Eleena o viu, sentou-se e sorriu.
Percebeu que ela era a única pessoa na galáxia que sorriu ao vê-lo.
— Veradun, — ela disse.
Ver o rosto e ouvir a voz dela o afetou mais do que gostaria. A raiva foi
drenada dele como se tivesse um buraco no calcanhar. O alívio tomou o
lugar e não lutou, embora percebesse que tinha permitido que os seus
sentimentos fortes por ela crescessem perigosamente.
Quando olhou para Eleena, estava olhando para a sua própria fraqueza.
As palavras de Angral saltaram em torno da sua consciência.
As paixões podem levar a erros.
Ele tinha que possuí-la e tinha que permanecer fiel ao Império.
Ele tinha que transformar um quadrado em um círculo.
Ele resolveu que encontraria uma maneira.
Ele foi até a cabeceira da cama dela, tocou o rosto dela com a mão
calejada e começou a desconectá-la da linha de fluido e dos cabos.
— Você será tratada a bordo da minha nave. Em instalações adequadas.
A voz de um homem veio por trás dele disse:
— Você aí! Pare! Você não pode fazer isso!
Malgus olhou por cima do seu ombro para ver um enfermeiro parado na
porta. O homem se encolheu ao ver o rosto de Malgus, mas ele se manteve
firme.
— Ela não está liberada para alta. — O homem entrou na sala como se
fosse impedir Malgus, mas a enfermeira que tinha levado Malgus a Eleena
interpôs com o seu largo corpo.
— Deixe-os em paz, Tal. Eles estão saindo.
— Mas...
— Deixe isso pra lá.
Malgus não conseguia ver o rosto da enfermeira gorda, mas a imaginou
tentando com a sua expressão comunicar ao enfermeiro que Malgus era um
Sith. Ele perguntou a Eleena:
— Você consegue andar?
Antes que ela pudesse responder, ele a pegou em seus braços.
— Eu posso andar, — ela disse sem entusiasmo.
Ele a ignorou, passou pelos enfermeiros e foi para o corredor. Por um
tempo, Eleena olhou para os quartos pelos quais passavam, para os feridos,
os moribundos. Mas logo se tornou muito e ela enterrou a cabeça no peito
de Malgus. Malgus apreciou a sensação dela em seus braços, o calor que ela
irradiava, o cheiro almiscarado dela.
— Você é atencioso, — ela sussurrou. A sensação da respiração dela na
orelha dele enviou pontadas de desejo por ele.
— Eu estou pensando em geometria, — ele disse. — De quadrados e
círculos.
— Essa é uma linha de pensamento estranha.
— Talvez não seja tão estranho quanto você pensa.
Quando eles saíram da instalação, ela viu dezenas de corpos espalhados
pelo chão. Equipes médicas pairavam sobre vários, tratando dos seus
ferimentos. Rostos se viraram para Malgus, olhos arregalados, mas
ninguém disse uma palavra enquanto caminhava em direção ao transporte.
— O que aconteceu aqui? Para essas pessoas? Não era assim quando eu
cheguei.
Malgus não disse nada.
— Eles têm medo de você.
— E deveriam ter.
Quando eles embarcaram no transporte, Malgus instruiu o piloto a levá-
los até a Bravura, o cruzador em órbita que ele comandava. Então ele
deitou Eleena em um sofá reclinável e a cobriu com um cobertor. Ela tocou
a mão dele enquanto ele a acomodava.
— Há gentileza em você, Veradun.
Ele puxou a mão afastando da dela e se levantou.
— Se você me chamar de Veradun em público novamente, eu vou te
matar. Você entendeu?
O sorriso dela derreteu com o calor da raiva dele. Ela parecia como se
ele tivesse levado um soco no estômago. Ela se apoiou no cotovelo dele. —
Por que você está dizendo isso?
A voz dele saiu alta e áspera.
— Você entendeu?
— Sim! Sim! — Ela jogou fora o cobertor, levantou-se e ficou diante
dele, com o seu corpo tremendo. — Mas por que você está tão zangado?
Por quê?
Ele olhou para o rosto adorável dela, engoliu em seco e balançou a
cabeça. A raiva dele era apenas parcialmente culpa dela. Ele estava com
raiva de Adraas, Angral, e do próprio Imperador. Ela era apenas um foco
conveniente para isso.
— Você deve fazer o que estou pedindo, Eleena. — ele disse, mais
suavemente. — Por favor.
— Eu vou, Malgus. — Ela deu um passo pra frente, levantou a mão e
traçou as linhas estragadas escritas na pele do rosto dele. O toque dela
colocou uma carga nele.
— Eu te amo, Malgus. — Ela retirou o respirador dele para revelar a
boca em ruínas dele. — Você me ama?
Ele lambeu os lábios com cicatrizes, seus pensamentos girando,
novamente nenhuma palavra vindo.
— Você não tem que responder, — ela disse, sorrindo, com a sua voz
suave. — Eu sei que você me ama.

ZEERID VERIFICOU A SUA APARÊNCIA no pequeno espelho do refrigerador da


nave e repreendeu-se por ter negligenciado de se barbear. Ele ativou o
droide de manutenção da nave e saiu para a agitação das docas.
Carrinhos de carga e droides subserviente passavam em alta velocidade,
buzinas de sinalização abrindo caminho diante deles. droides caminhantes
motorizados circulavam pelas passarelas. Membros das tripulações e
estivadores exerciam os seus ofícios, carregando e descarregando
engradados de carga com a ajuda de droides guindaste. Um dos mestres do
porto, um humano gordo com a cabeça calva, mas com longa barba e
bigode, caminhava no meio do caos, ocasionalmente gritando uma ordem
para alguém no porto, ocasionalmente murmurando algo em seu
comunicador. Carregava uma enorme chave de torque em uma das mãos e
parecia que queria bater em algo ou alguém com ela. O ar cheirava
levemente a gás ventilado e escapamento do motor, mas principalmente
cheirava a lago.
A cidade do Lago Yinta circundava o maior lago de água doce do
planeta, o Lago Yinta. As fontes geotérmicas mantinham a água quente
mesmo no inverno e o diferencial entre a temperatura da água e o ar do
outono fazia com que o lago transpirasse vapor, de modo que o ar sempre
parecia espesso e gorduroso. Isso lembrava a Zeerid da decadência, e toda
vez que voltava, sentia como se a cidade tivesse se decomposto um pouco
mais em sua ausência.
O Lago Yinta começou como um refúgio de inverno sem nome para os
ricos do planeta, aqueles que fizeram fortuna com a fabricação de armas, as
mansões formando um fino anel ao redor da margem do lago. Naquela
época, o anel era chamado de cinturão da riqueza.
Com o tempo, a presença dos ricos atraiu um espaçoporto de tamanho
médio para trazer mercadorias de outros mundos para o dinheiro no mundo.
Isso trouxe trabalhadores, depois mercadores, depois os não tão ricos,
depois os muito pobres.
E a essa altura o local de férias sem nome havia se tornado Yinta, uma
cidade, e não havia parado de crescer desde então. Agora era uma
metrópole, o lago Yinta, um disco de acúmulo de pessoas e edifícios que se
agrupavam em torno da atração gravitacional do lago.
Com o tempo, o transporte marítimo poluiu as águas do lago, a maioria
dos ricos fugiu e a cidade começou uma lenta espiral em decrepitude. As
mansões outrora grandiosas na margem do lago foram vendidas a
incorporadores e convertidas em moradias baratas. O cinturão da riqueza
tornou-se favelas e docas de carga.
Zeerid tinha crescido nas favelas, sentindo o cheiro acre e podre do lago
todos os dias da sua infância. Ele havia provido o melhor para a sua filha,
mas não muito.
O estrondo grave e profundo de uma buzina atravessou a cidade, o
chamado de um dos enormes navios de carga que transportavam
mercadorias e pessoas através do lago e para cima e para baixo no rio que o
alimentava. Zeerid sorriu ao ouvi-lo. Ele havia acordado com aquele som
quase todos os dias de sua infância.
Ele entrou no tumulto, sentindo-se estranhamente em casa e ansioso para
ver a sua filha.

DO CORTE DE CABELO, constituição muscular e postura ereta, Vrath


interpretou o piloto como ex-militar. Vrath também era ex-militar, tendo
servido na infantaria Imperial.
O homem sorriu enquanto caminhava e Vrath descobriu que gostou do
homem imediatamente.
Que pena que provavelmente teria que matá-lo.
Segurando o dispersador de solução de nano droides com o braço
frouxo, Vrath avançou pela multidão em direção ao piloto. Cortou na frente
dele, retardando-o, só outro um corpo na mídia, e jorrou um bocado da
suspensão no chão aos seus pés.
Vrath deu um sorriso falso e ergueu a outra mão em um aceno frenético
para ninguém.
— Rober! Rober, por aqui!
Ele saiu apressado como se fosse encontrar alguém, mas observou o
piloto de lado o tempo todo.
O piloto nem mesmo olhou pra baixo, nem pareceu notar a Vrath. Sem
suspeitar de nada, o homem pisou na suspensão oleosa que Vrath havia
deixado no chão diante dele. Outros pisaram nisso depois, mas isso não
importava. Em alguns momentos, todos os vestígios disso desapareceriam.
Vrath ficou atrás do piloto e tirou o nano ativador da sua mochila.

ZEERID NÃO DEVERIA ESTAR SORRINDO, e certamente não deveria estar à


vontade. Sabia, como sempre, que era um erro, uma ruptura infeliz com
alguém descobrindo Arra e a usando contra ele. Ou pior, machucando-a. O
pensamento o fez sentir mal do estômago.
Não podia se permitir ficar desleixado.
Ele pulou na parte de trás de um carrinho de carga conduzido por um
droide e seguiu nele até se aproximar de uma das saídas do porto. O
espaçoporto e todos os veículos enferrujados no ar úmido do Lago Yinta; as
manchas marrons nas paredes e nos cantos pareciam manchas de sangue.
As portas de saída se abriram e saltou do carrinho de carga. A voz
coletiva das ruas o atingiu imediatamente. Os gritos de motoristas de táxi
aéreo competindo por passageiros, o Lago Yinta precisava de mais táxis do
que qualquer outra cidade na Orla Média, vendedores ambulantes vendendo
todos os tipos de alimentos, buzinas de veículos, o barulho dos motores.
— Indo para o anel interno, senhor? — disse um dos taxistas, com um
pequeno deslize do homem. — Entre imediatamente.
— As taxas mais baixas de Yinta, senhor, — disse outro, um veterano de
cabelos grisalhos, passando na frente do primeiro.
— Vinhapeixe acabou de sair da grelha, — gritou um vendedor. — Bem
aqui. Bem aqui, senhor.
À sua direita, uma mulher Zeltron, talvez adorável outrora, mas agora
apenas abatida, encostada em uma parede. Quando ela sorriu, mostrou os
dentes manchados de uma viciada em especiarias.
Ele estremeceu. A vergonha aqueceu as suas bochechas.
Apenas os cem mil no bolso e o que isso poderia fazer por Arra o
mantinham no curso.
Carros aéreos e velozes alinhavam-se na rua, até mesmo alguns veículos
com rodas. Empurrou a multidão de pedestres e abriu caminho através do
barulho do tráfego até uma estação de comunicação pública do outro lado
da rua.

DEPOIS QUE O PILOTO DEIXOU O ESPAÇOPORTO, Vrath sub-repticiamente


apontou o ativador para ele e o ligou. Os nanodroides aderidos à bota do
piloto ganharam vida.
A pressão de outro botão sincronizou o ativador com a assinatura
particular dos droides no piloto e apenas esses droides. Ele não queria pegar
nenhum dos outros que haviam aderido a outros pedestres.
Os corpos dos nanodroides de rastreamento, aproximadamente do
tamanho de uma única célula e projetados em forma de gancho, se
contraíam para se embutir na sola da bota do piloto. De lá, eles
responderiam ao sinal de Vrath a uma distância de até dez quilômetros. As
suas células de energia os manteriam responsivos por três dias padrão.
Tempo mais do que suficiente, Vrath sabia. A Permuta precisava levar a
Engespeciaria para Coruscant rapidamente ou o mercado estaria perdido.
Ele ficaria surpreso se não tentassem mover a especiaria esta noite.
Ele observou o piloto atravessar a rua e dirigir-se a uma estação de
comunicação pública. Virando o ouvido na direção da estação, Vrath ativou
o seu implante de áudio.

ZEERID FECHOU AS PORTAS da estação para ter privacidade, cortando o


barulho externo, e digitou o número de Nat. Nunca ligou pra ela da unidade
de comunicação da sua nave ou do seu comunicador pessoal por medo de
que alguém nA Permuta o estivesse monitorando. Um excesso de paranoia
salvou a sua vida mais de uma vez, e mais recentemente em Ord Mantell.
Nat não respondeu, então deixou uma mensagem pra ela.
— Nat, é o Zeerid. Eu estou no planeta. Se você receber isso logo, traga
Arra e me encontre no Parque Karson em uma hora. Mal posso esperar para
ver vocês duas.
Ele desligou e chamou um táxi.
Um motorista Bothano magro, com o rosto que lembrava um equino,
olhou pra ele pelo espelho retrovisor.
— Pra onde?
— Apenas dirija. Vá devagar.
— Os créditos são seus, amigo.

MESMO DE LONGE, Vrath foi capaz de ouvir através das paredes sintetizadoras
da estação de comunicação. Quando a ligação terminou, tinha um nome
para o piloto, era Zeerid, e os nomes de pessoas com quem o piloto parecia
se importar, Nat e Arra.
— Pra onde, senhor?
— Parque Karson, eventualmente, — disse Vrath. — Mas, por enquanto,
siga as minhas instruções com precisão.
— Sim, senhor.
Zeerid tinha mostrado discrição ao telefonar pra Nat de uma estação de
comunicações pública, por isso Vrath esperava que tomasse uma rota
sinuosa, talvez mudar de veículo algumas vezes. Ele se instalou para uma
longa viagem.
Mesmo se o perdesse, sabia como encontrá-lo novamente.

O CARRO AÉREO LEVANTOU DO SOLO e se misturou com o tráfego. Zeerid fez o


motorista dar uma série de curvas abruptas por cerca de dez minutos.
Durante todo o tempo, manteve os olhos atrás de si, tentando ver se alguém
o estava seguindo. Por um tempo, pensou que outro táxi o estivesse
perseguindo, mas saiu e não voltou.
A placa brilhante de um cassino que ele conhecia, o Falcão Prateado,
brilhava à frente.
— Bem aqui, motorista.
Ele pagou o Bothano, saltou, se dirigiu para a porta da frente do cassino
e saiu de lá por trás. Lá, chamou outro táxi e fez o mesmo exercício.
Ainda ninguém que ele pudesse ver. Ele respirou com mais facilidade.
Ele chamou outro táxi, um que poderia abrigar uma cadeira flutuante,
este dirigido por um droide.
— Pra onde, senhor?
Até o droide mostrava alguma ferrugem no ar. A cabeça dele rangeu
quando se virou.
— Eu preciso comprar uma cadeira flutuante.
O droide parou por um momento enquanto os seus processadores
pesquisavam o diretório da cidade.
— Claro senhor.
O táxi decolou e o levou a uma revenda de suprimentos médicos.
Dispositivos médicos enchiam o armazém cavernoso, atendidos por um
único homem idoso que lembrava a Zeerid um espantalho.
Lá, oitenta e sete mil créditos deram a Zeerid uma cadeira flutuante
usada do tamanho para uma criança de sete anos e um curso intensivo sobre
como operá-la. Zeerid não conseguia parar de sorrir enquanto o droide
utilitário do atacadista colocava a cadeira no banco de trás do táxi.
— Não vejo cartões ao portador com muita frequência, — disse o velho,
olhando para o método de pagamento de Zeerid.
— Créditos são créditos, — disse Zeerid. Ele sabia o que o homem
devia estar pensando.
— Verdade. Eu era enfermeiro, sabe? Essa cadeira é um bom
dispositivo.
— Ela vai adorar, — disse Zeerid.
O velho esfregou as mãos.
— Se isso for tudo, senhor. Eu só preciso que você preencha alguns
formulários. O cartão ao portador não pode ser rastreado, como você sabe.
— Nós podemos fazer isso em outra hora? — Zeerid disse, e começou a
caminhar para a porta. — Eu realmente tenho que ir.
O velho tentou fazer o seu melhor para manter o ritmo.
— Mas, senhor, este é um dispositivo médico regulamentado. Mesmo
para revenda, preciso do seu nome e de um endereço no planeta. Senhor!
Por favor senhor!
Zeerid saltou para o táxi.
— Eu voltarei amanhã, — ele disse, e fechou a porta do táxi. — Parque
Karson, — ele disse ao droide.
— Muito bem, senhor.
Através da janela do táxi, Zeerid viu o Parque Karson abaixo. Os bancos
cercavam um grande lago onde nadavam cisnes da espécie bico verde.
Caminhos para pedestres ziguezagueavam através de um pequeno bosque.
Mesas de piquenique pontilhavam a grama aqui e ali. Quadras públicas de
atletismo, a maioria delas rachadas, mas ainda utilizáveis, formavam o
terreno geométrico de reunião onde a juventude do bairro se encontravam e
brincavam.
Zeerid verificou o seu cronômetro enquanto o carro aéreo pousou. Bem
na hora.
Ele pagou o motorista, colocou um boné, descarregou a cadeira flutuante
e empurrou-a à sua frente quando ele entrou no parque. A cadeira parecia
leve em suas mãos, embora ele pensasse que poderia estar apenas animado.
Ele foi direto para a passarela e bancos ao redor do lago.
À frente, ele viu a Nat empurrando Arra em sua cadeira de rodas. Arra
estava jogando para os bicos verdes a ração processada vendida pelos
droides utilitários que limpavam o parque. Ela riu enquanto os bicos verdes
grasnavam e disputavam os empanados de ração. Para Zeerid, o som da
alegria dela era como música.
Ele deu uma rápida olhada ao redor, vendo muitos pedestres e alguns
droides, mas nada que o preocupasse.
— Nat! — chamou e acenou para elas. — Arra!
Pensou que a sua voz soava diferente no planeta do que na Fatman, e
aprovou a mudança. Não era a voz de um entregador de especiarias, nem
mesmo a voz de um soldado. Em vez disso, era a voz gentil de um pai que
amava a sua filha. Arra o deixou melhor. Ele sabia disso. E precisava ter
certeza de vê-la com mais frequência.
Nat virou a cadeira de Arra e ambos os olhos se arregalaram com a
visão.
— Papai! — Disse Arra.
De todas as palavras da galáxia, essa era a que ele mais gostava de ouvir.
Ela se virou na direção dele, deixando Nat e os bicos verdes ainda brigando
para trás.
— O que é isso? — ela perguntou enquanto se aproximava. Os olhos
dela estavam arregalados, seu sorriso brilhante.
Ele se ajoelhou e a puxou da cadeira para um abraço. Ela ficou sem
palavras.
— É a minha surpresa para você, — ele disse.
O rosto de Arra se contraiu em uma pergunta.
— E o que é isso? — ela perguntou, batendo no colete da armadura que
usava por baixo das roupas.
Ele sentiu as suas bochechas aquecerem.
— Algo para trabalhar. É só isso.
Ela pareceu aceitar isso.
— Olha, tia Nat. Uma cadeira flutuante!
— Estou vendo, — disse Nat, caminhando atrás dela.
— Isso é pra mim? — Perguntou Arra.
— Claro que é! — Zeerid respondeu.
Arra gritou e deu outro abraço em Zeerid, desalojando o boné dele.
— Você é o melhor, papaizinho. Posso experimentar agora?
— Claro, — disse Zeerid, e colocou-a nela. — Os controles estão bem
aqui. Eles são intuitivos, então...
Ela manipulou os controles e saiu voando antes que pudesse dizer outra
palavra. Ele apenas a observou ir, sorrindo.
— Olá, Nat, — ele disse.
A cunhada parecia cansada, jovem demais para as rugas no rosto e as
olheiras. Usava o cabelo castanho em um estilo que até Zeerid sabia estar
cinco anos desatualizado. Zeerid se perguntou como deveria parecer pra ela.
Provavelmente tão desgastado.
— Zeerid. Isso foi muito bom. A cadeira, quero dizer.
— Sim, — disse Zeerid. — Ela parece gostar.
Arra voou com a cadeira flutuante atrás de alguns bicos verdes e eles
fugiram pra a água.
— Cuidado, Arra! — ele chamou.
— Eu estou bem, papai, — ela disse.
Ele e Nat estavam ali, um ao lado do outro, mas com um abismo entre
eles.
— Já faz um tempo, — Nat disse. — Ela precisa te ver com mais
frequência.
— Eu sei. Estou tentando.
Ela parecia querer dizer algo, mas se conteve.
— Como está o trabalho?
— Eu sou uma garçonete em um cassino, Zeerid, — ela zombou. —
Uma velha garçonete. O trabalho é difícil. Meus pés doem. Minhas costas
doem. Estou cansada. E o nosso apartamento é do tamanho de um carro
aéreo.
Ele não podia deixar de levar tudo para o lado pessoal.
— Eu vou tentar enviar mais.
— Não, não. — Ela acenou para pontuar as palavras. — Se não fosse
pelos créditos que você envia, passaríamos fome. Não é isso. Eu só... sinto
que estou em uma esteira, sabe? Eu não consigo parar de correr, mas não
vou a lugar nenhum.
Ele assentiu.
— Eu te entendo.
Arra o chamou.
— Olhe, papai!
Ela voou com a cadeira flutuante em um círculo fechado, rindo o
caminho todo.
— Cuidado, Arra, — ele disse, mas sorriu.
— Espere até pegar o jeito, Minha Doçura, — disse Nat.
Eles ficaram juntos em silêncio por um tempo. Então a voz de Nat ficou
séria.
— Como você comprou a cadeira, Zeerid?
Não olhou para ela, com medo de que visse a ambivalência no rosto
dele.
— Trabalhos. O que mais?
— Que tipo de trabalho?
Ele não gostou do tom da pergunta.
— O mesmo de sempre.
Ela se virou pra ele, e a expressão severa no rosto dela canalizou Val tão
bem que quase desmoronou.
— Você tem nos enviado cem, duzentos créditos por mês há quase um
ano. Hoje você aparece com uma cadeira flutuante que sei que custa mais
do que o carro aéreo que eu dirijo.
— Nat...
— No que você se meteu, Zeerid? Você está com esse chapéu ridículo,
armadura.
— O mesmo...
— Você acha que eu sou cega? Estúpida?
— Não, claro que não.
— Eu posso adivinhar o que você faz, Zeerid. Arra já perdeu a mãe. Ela
não pode perder o pai também. Isso vai esmagá-la.
— Eu não vou a lugar nenhum, — ele disse.
— Você não está me ouvindo. Acha que ela preferiria ter pernas ou ter o
pai? Que prefere aquela cadeira flutuante mais do que você? Ela brilha
quando sabe que você está vindo nos ver. Ouça-me, Zeerid. O que quer que
esteja fazendo, desista. Venda aquela sua nave, arrume um emprego no
planeta e seja apenas um pai para a sua filha.
Ele gostaria de poder.
— Eu não posso, Nat. Ainda não. — Ele virou para encará-la. — Mais
uma entrega e tudo muda. Mais uma.
Ela olhou de volta para ele, a pele dela pálida devido ao pouco sol e à
nutrição inadequada. — Disse a ela para não se casar com um soldado,
muito menos com um piloto.
— Val?
— Sim, Val.
— Nat...
— Não sabe quando parar, Zeerid. Nunca soube. Todos vocês, colocam
aquela armadura, entram naquela cabine e pensam que são invulneráveis,
que um blaster não pode matá-los, que a sua nave não pode ser derrubada
do céu. Pode sim, Zeerid. E se isto acontecer, vai doer mais em Arra do que
o acidente que tirou as pernas dela.
Ele não conseguia pensar em nada pra dizer, porque sabia que ela estava
certa.
— Eu vou comprar um picolé pra ela. Você quer um?
Ela balançou a cabeça e ele caminhou em direção ao quiosque. Ele
sentiu os olhos de Nat em suas costas por todo o caminho.

VRATH OBSERVOU ZEERID se afastar da mulher, a cunhada dele, e dirigir-se à


barraca do vendedor para pegar um sorvete doce para a filha dele.
A filha dele.
Não é de admirar que Zeerid agisse com tanta preocupação em ser
seguido. Vrath sabia o que uma organização como A Permuta, ou uma
como a dos Hutts, poderia fazer a um homem com uma família. Uma
criança era uma alavanca esperando para ser puxada, as cordas de
marionete para fazer um homem dançar.
Um homem que vivesse a vida que Zeerid e Vrath viviam precisava ter
poder suficiente, ou um patrono com poder suficiente, para proteger a sua
família, ou a sua família estaria em risco. Zeerid não tinha poder nem
patrono. Vrath respeitou o fato de Zeerid ter conseguido manter a sua filha
fora do jogo por tanto tempo. Não significa uma façanha.
Mas agora ela estava dentro do jogo, uma peça no tabuleiro.
Vrath não a usaria, é claro. Por uma questão de orgulho profissional,
Vrath nunca recorreu a ameaças ou danos à família de um homem, muito
menos a uma criança. Faltava precisão, algo que um piloto de bombardeiro
faria, não um atirador de elite.
E Vrath ainda era um atirador de elite em sua alma. Um tiro, uma morte,
sem danos colaterais.
Ele se afastou de Nat e Arra para localizar Zeerid e o encontrou de pé
bem atrás dele, um picolé vermelho em uma mão, um verde na outra, e os
olhos como lanças.
— Eu te conheço, amigo? — Zeerid disse. Os seus olhos observaram as
roupas de Vrath, a postura dele.
Vrath se curvou um pouco, adotando um olhar o mais inofensivo que
pôde.
— Acho que não. Você é daqui?
Zeerid deu um passo à frente, inclinando o corpo para um ataque.
Vrath teve que lutar contra o instinto de mudar a sua própria postura
para eliminar o obstáculo da abordagem de Zeerid. Zeerid reconheceria isto.
E Vrath não podia se dar ao luxo de matar Zeerid agora, não até usar Zeerid
para localizar a Engespeciaria.
— O que você estava olhando, amigo? — Zeerid perguntou.
— Papai! — Arra chamou, mas os olhos de Zeerid não deixaram o rosto
de Vrath.
— Eu só estava assistindo os bicos verdes. Eu gosto de alimentá-los. —
Vrath enfiou a mão no bolso e pegou um punhado de pelotas de ração que
tinha comprado de um dos droides do parque.
— Papai, eu quero o sorvete verde! — Disse Arra.
Vendo as pelotas de alimentação, Zeerid relaxou visivelmente, embora
não totalmente. — Claro, — ele disse. — Desculpe, amigo.
— Essa é a sua filha? — Vrath perguntou, acenando para Arra.
— Sim. — respondeu Zeerid, e a sugestão de um sorriso curvou os seus
lábios.
— Ela parece muito feliz, — disse Vrath. — Tenha um ótimo dia,
senhor.
Vrath passou por Zeerid e se juntou aos corredores, motoqueiros e outros
sencientes que usavam o parque. Ao fazer isso, ele se repreendeu por tirar
os olhos de Zeerid. O homem claramente tinha faro pra problemas.

ZEERID SE VIROU PARA OBSERVAR o homem se afastar. Algo nele parecia


estranho, mas Zeerid não conseguia definir o que era. Parecia abertamente
interessado em Arra e Nat, e tinha uma frieza em seus olhos, apesar do
sorriso estúpido.
— Papai! Está derretendo!
Arra levou a cadeira até ele e ele entregou o picolé, limpando as mãos na
jaqueta.
— Obrigada, — ela disse e deu uma mordida. — Humm.
Deeeeeelicioso!
Sorriu pra ela e, quando olhou para trás, não conseguiu localizar o
homem em lugar nenhum.
— Quem era aquele? — Nat perguntou enquanto se aproximou.
Zeerid distraidamente ofereceu a Nat o outro picolé, ainda olhando na
direção em que o homem havia caminhado.
— Eu não sei. Ninguém.
Nat deve ter percebido as preocupações de Zeerid.
— Você tem certeza?
— Sim, — ele respondeu, e forçou um sorriso. — Tenho certeza.
Só que ele não tinha.
— Acho que vou levar vocês duas para casa, certo?
— Viva! — Disse Arra.
— O que é isso? — Nat perguntou. Ela ainda não tinha pegado o picolé.
— Nada, — ele disse, não querendo alarmá-la. — Eu não posso levar as
minhas meninas até a porta?
— Eu não vou caminhando, — disse Arra, sorrindo. — Estou voando.

A RAVEN DE ARYN SAIU do hiperespaço. Havia deixado as suas vestes e os


seus arrependimentos em Alderaan.
— Direto para Vulta, Tê-seis.
O astromecânico assumiu o voo e a Raven cortou pelo espaço. Vulta
apareceu através da canopi, um planeta solitário circundando a sua estrela.
A luz do sol refletiu sobre os muitos satélites artificiais em órbita e o
tráfego espacial se movendo para e do planeta.
— Envie um sinal ao controle planetário com as nossas credenciais
oficiais da República, — ela disse ao T6. — Solicite um espaço no
espaçoporto do Lago Yinta.
O droide assobiou afirmativamente.
Aryn logo saberia se a sua ausência tinha sido notada. Nesse caso, as
suas credenciais provavelmente não seriam boas.
T6 deu uma série de bipes satisfeitos enquanto as instruções de pouso
rolavam no tela de alerta de Aryn.
— Leve-nos para baixo, Tê-seis. E também abra um link para o diretório
planetário e encontre o endereço de Zeerid Korr.
Ela não via o Zeerid há anos. Poderia estar morto. Ou poderia não estar
disposto a ajudá-la. Foram bons amigos: Aryn foi a única pessoa a quem
Zeerid contou sobre a morte da esposa dele antes que fosse dispensado.
Aryn o ajudou a superar o choque inicial. E ela ainda podia sentir a dor
intensa, o desespero que ele suportou ao ouvir a notícia. Foi semelhante ao
que ela sentiu quando Mestre Zallow morreu. Zeerid tinha ficado grato por
ela ser uma boa ouvinte, ela sabia. Mas ela ia pedir muito a ele.
T6 emitiu um bipe negativo. Nenhum Zeerid Korr no diretório.
Aryn cerrou o punho enquanto o planeta crescia.
— A esposa dele tinha uma irmã. Natala... alguma coisa. Natala...
Yooms. Tente encontrá-la, Tê-seis.
Em instantes, T6 tinha um endereço. Ela morava perto da margem do
lago, no Lago Yinta, e tinha a tutela legal de uma menina de nove anos
chamada Arra Yooms.
— Arra?
Aryn sabia que Arra era o nome da filha de Zeerid. Se Natala tivesse a
custódia da garota, Zeerid poderia muito bem estar morto. O seu plano
começou a desmoronar. Ela não tinha mais ninguém a quem recorrer. Se
Zeerid estava morto, então também estava a sua oportunidade de vingar o
Mestre Zallow.
Não teve escolha senão tentar. Não sabia como poderia passar pelo
bloqueio Imperial em Coruscant sem ajuda.
A Raven desceu pela atmosfera em uma mortalha de calor e chamas.
Quando emergiu no céu azul da estratosfera de Vulta, podia ver abaixo
deles o grande oval azul do Lago Yinta e o anel de urbanismo que o
cercava.
O T6 os colocou no fluxo do tráfego aéreo, e se dirigiram para a pista de
pouso no Lago Yinta. De lá, encontraria Natala.

ZEERID SE SENTIA COMO UM PAI enquanto acompanhava Nat e Arra de volta ao


apartamento delas perto do lago. Ele se sentiu um fracasso ao ver o buraco
que era isso. Elas moravam em uma das mansões convertidas em habitação
subsidiada pela autoridade planetária. Ferrugem, vidro quebrado, pedra
lascada, viciados e bêbados pareciam onipresentes.
— Parece pior do que é. — Nat disse a ele, baixo o suficiente para que
Arra não pudesse ouvir.
Zeerid assentiu com a cabeça.
— Ouviu o que aconteceu em Coruscant? — Nat disse, aparentemente
querendo mudar de assunto. — Está tudo na Holonet.
— Eu ouvi.
— Como você acha que isso vai acabar?
Ele encolheu os ombros.
Enquanto caminhavam, manteve os olhos abertos para qualquer pessoa
suspeita, mas não viu ninguém. Ainda assim, não conseguia se livrar da
sensação de que algo estava errado. O homem no parque cheirava a
problema.
Eles pegaram um elevador frágil e passaram por vários andares. Zeerid
não entrou no apartamento e Nat não o convidou para entrar. Arra girou a
cadeira flutuante dela, manobrando no pequeno espaço como uma
profissional.
— Você é filha de um piloto, — ele disse.
Ela sorriu.
— Eu te amo, papai.
— Também te amo.
Ele a ergueu da cadeira e a apertou com tanta força que ela gritou. Sentiu
a ausência das pernas dela como um buraco em seu coração. Não queria
deixá-la, mas sabia que deveria.
Ele pode ver um pouco do minúsculo apartamento de dois cômodos
sobre o ombro de Nat. Uma janela, uma cozinha delimitadora.
— Você vai voltar logo, Papai? — Arra perguntou enquanto entrava de
volta na cadeira.
— Sim, — ele disse, tão inequívoco quanto um tiro de blaster. — Em
breve. — Ele roubou o nariz dela e ela riu. — Eu vou devolver isso a você
quando eu voltar.
Nat, de pé ao lado dela, acariciou o cabelo dela.
— É hora do dever de casa, Arra. Depois, hora de dormir.
— Tudo bem, Tia Nat. Tchau, Papai, — ela disse, com os olhos
lacrimejando. Ela estava tentando ser forte.
Zeerid se ajoelhou.
— Eu voltarei em breve. Dentro de dias. Tudo bem?
Ela assentiu e ele bagunçou o cabelo dela. Virou a cadeira flutuante e se
dirigiu para o seu quarto.
Ele arquivou a imagem do rosto dela no arquivo da sua memória.
— Ela adorou aquela cadeira, — disse Nat. — Você fez bem, Zeerid.
— Vou tirar vocês duas daqui, — ele disse, determinado a fazer isso. —
Depois deste próximo trabalho...
Nat levantou a mão e balançou a cabeça.
— Não quero ouvir sobre esse trabalho. Só quero que prometa que não
vai correr riscos desnecessários.
— Eu prometo, — ele disse.
— Nós o veremos quando você voltar. Estamos bem aqui, Zeerid. Não
parece muito, mas nós estamos bem.
Ele enfiou a mão na jaqueta e tirou o cartão ao portador.
— Há mais de treze mil créditos aqui. Pegue. Compre algo legal pra
você e pra Arra.
Ela olhou para o cartão como se fosse mordê-lo.
— Treze mil…. — Ela o olhou no rosto. — Como você ganhou essa
quantidade de dinheiro?
Ele ignorou a pergunta e ergueu o cartão até que ela o pegasse.
— Obrigado, Nat. Por tudo. — Ele a abraçou, o gesto tão estranho como
sempre. Ela parecia muito magra, tão puída quanto um suéter velho. Ele
jurou a si mesmo naquele momento que ele tiraria as duas da favela. Faria
tudo o que tivesse que fazer.
— Cuide-se, Z-man, — Nat disse.
— Eu vou. E voltarei em breve.
Para isso, ela não disse nada.
No momento em que a porta se fechou e as fechaduras se encaixaram,
acionou o interruptor em seu cérebro. Zeerid, o pai, sumiu diante de Z-man,
o soldado e contrabandista.
O homem no parque estava todo errado, desde o seu cabelo, as suas
roupas, até a frieza em seus olhos. Poderia ter sido ninguém. Ou poderia ter
sido alguém.
Zeerid decidiu que ficaria no prédio por um tempo, fora de vista, só para
ter certeza de que Nat e Arra estavam seguras.
Ele tomou posição no andar delas e se instalou. Não fazia o serviço de
sentinela desde que era um recruta novato. Ele se sentiu bem, entretanto.
VRATH SENTOU-SE no táxi aéreo na rua em frente ao prédio de apartamentos
decrépito. O cheiro de peixe podre e de lago sujo encheu o ar. Ele observou
por um longo tempo, monitorando os movimentos de Zeerid com o
rastreador. Zeerid havia parado de se mover. Talvez dividisse um
apartamento lá com Nat e Arra.
Ele esperou um pouco mais, então decidiu dar uma olhada. Pagou o
droide motorista, saltou do carro aéreo, evitou os poucos speeders em ruínas
e o speeder de transporte público que voava baixo pela rua e se dirigiu para
o prédio de apartamentos.

OS OLHOS DE ZEERID AJUSTADOS às luzes fracas que piscavam


intermitentemente no corredor. A porta do apartamento de Nat e Arra ficava
na metade do corredor. Não havia outra maneira de entrar ou sair do
apartamento. Tudo o que precisava fazer era dar uma olhada no corredor.
A outra extremidade do corredor terminava em uma janela de vidro
rachada. O lado mais próximo terminava no elevador e a porta para as
escadas. Além de escalar o prédio pelo lado de fora, o elevador e as escadas
eram a única maneira de chegar ao quarto andar. Ele poderia cobrir a
ambos.
Pensou em apenas aguardar no corredor e colocar o cano de seu blaster
na barriga de qualquer um que olhasse pra ele de lado. Mas isso não
funcionaria. Não queria chamar muita atenção para si mesmo e não queria
causar desnecessariamente uma cena. Ele finalmente decidiu tomar posição
na escada de emergência ao lado do elevador. Apoiou a porta aberta para
que pudesse ver o elevador, o corredor e as escadas.
Uma boa posição de tiro, ele decidiu.
Ele pegou a pistola blaster E-9; pequena, compacta, mas com potência
decente; segurou-a no bolso da frente da jaqueta e esperou.
Os minutos se passaram, passaram de meia hora, pra uma hora, e
começou a pensar que a sua paranoia o havia servido mal. O prédio não
tinha muito tráfego de pedestres. Um droide utilitário quase obsoleto subiu
pelo elevador rangente e passou o aspirador no chão, ignorando Zeerid por
completo. Quando completou a sua varredura, retirou-se para um armário
de utilidades próximo ao elevador.
Zeerid estava sentado sozinho, com apenas os pensamentos incômodos
como companhia, em uma escada que cheirava a urina e vômito. Havia
decepcionado a filha. Pra tentar dar a ela uma vida melhor, ele se
transformou no tipo de homem que teria visto com desprezo. E o que ela
tinha ganho com isso? Um apartamento decrépito e um pai ausente que
poderia morrer na sua próxima missão.
E uma cadeira flutuante, lembrou a si mesmo. Mas ainda…
Ele tinha que sair dessa vida. Mas não havia como sair até que pagasse a
sua dívida com A Permuta. Então faria uma última entrega em Coruscant...
A porta da escada no térreo se abriu com um guincho raivoso. Quase no
mesmo momento, ouviu o barulho do elevador subindo pelo poço.
Alerta e tenso, foi até o corrimão na beira da escada e olhou pra baixo. A
luz da luminária fluorescente fixada no teto dois andares acima dele pouco
fez para iluminar a escada. As sombras cobriam os andares inferiores, mas
Zeerid pensou ter visto uma forma lá, humanoide, e a observou começar a
subir as escadas.
Enquanto isso, a campainha do elevador anunciava a sua chegada ao
quarto andar.
Firmando o seu blaster na mão, Zeerid se achatou contra a parede perto
da porta da escada. Os passos vindos de baixo continuaram a sua lenta
ascensão. Eles paravam de vez em quando, como se a pessoa não tivesse
certeza do seu destino ou parasse para ouvir.
As portas do elevador se abriram e Zeerid ouviu o suave sussurro de um
movimento silencioso. As portas do elevador se fecharam.
Os passos nos degraus começaram novamente, pararam.
Zeerid esperou uma contagem de três e enfiou a cabeça pela porta para
ter uma visão do corredor.
Uma figura encapuzada saiu furtivamente pelo corredor, mais ou menos
do tamanho do homem que encontrou no parque. Ela estava verificando as
portas em busca dos números dos apartamentos. Zeerid não conseguia ver
as mãos da figura. Ele lançou um olhar para a escada, não ouviu nada e saiu
furtivamente para o corredor.
A figura parou diante do apartamento de Nat e consultou um
computador portátil do tamanho da palma da mão, como se confirmasse um
endereço.
Zeerid vira tudo o que precisava ver. Ele brandiu o E-9.
— Você! Afaste-se dessa porta.
A figura se virou pra ele, buscando algo na altura da cintura. Zeerid não
hesitou. Ele puxou o gatilho e o cano abafado do E-9 soou como uma tosse
educada.
Em um momento quase perfeito com Zeerid puxando o gatilho, o
movimento foi tão rápido que ficou borrado, a figura soltou um cilindro
prateado do qual cresceu uma linha verde brilhante e desviou o disparo do
E-9 para o chão.
Antes de Zeerid dar outro tiro, a figura inclinou a cabeça e desativou o
sabre de luz.
— Zeerid?
Uma mulher.
Zeerid não baixou a sua arma e nem a atenção. Ele não conseguia
entender o sabre de luz. Uma Jedi?
— Quem é você? — ele perguntou.
A figura jogou o capuz para trás, revelando longos cabelos cor de areia e
os calorosos olhos verdes que Zeerid nunca havia esquecido. O calor e a
tensão saíram dele rapidamente.
— Aryn? Aryn Leneer? O que você está fazendo aqui?
— Procurando por você, — ela respondeu. Ela apontou para a porta do
apartamento de Nat. — Pensei em tentar a sua cunhada...
— Você está sozinha? Alguém te seguiu?
Ela pareceu surpresa com as perguntas rápidas.
— Eu sim. Não.
— Como você me achou?
— Sorte. Lembrei-me do nome da sua cunhada. Esperava que ela
pudesse me ajudar a encontrar você.
— Fique aí, — ele disse, e voltou correndo pelo corredor até a escada.
Ele olhou pra baixo e não viu nada, nem ninguém. Quem quer que estivesse
na escada havia sumido.
Ele disse a si mesmo que provavelmente era apenas um morador
voltando para casa.
Ele se virou pra olhar para o rosto preocupado de Aryn. Ela ainda se
parecia muito com quando o segurou enquanto chorava pela a morte de Val.
— Qual é o problema? — ela perguntou.
Sem dúvida podia sentir a apreensão dele.
— Provavelmente nada. Estou exagerando, acho.
Ela sorriu com o seu melhor sorriso, mas viu algo novo nos olhos dela,
uma dureza. Não precisava ser um usuário da Força para saber que algo
estava diferente.
— O que aconteceu com você? — ele perguntou. — Acabei de ver você
na Holonet. Achei que você estivesse em Alderaan.
Um véu caiu sobre os olhos dela e a fechou. Nunca tinha a visto assim
antes, não nela, embora imaginasse que a própria expressão dele parecia a
mesma quando estava trabalhando.
— Eu estava. Isso é parte do que quero falar. Preciso da sua ajuda.
Podemos ir a algum lugar e conversar?
— Este realmente não é um bom momento, Aryn.
— É importante.
Ele teve um lampejo de medo, pensando que a Jedi tinha ouvido falar da
entrega da Engespeciaria, tinha conhecimento que iria entregá-lo e tinha a
intenção de pará-lo. Mas não disse nada sobre a Engespeciaria.
— É um problema pessoal, Z-man. Não é algo da Ordem.
Ele respirou com mais facilidade, até sorriu com o quão bobo o seu
nome soou quando disse ele. Talvez isso parecesse tão bobo o tempo todo.
Lançou um olhar para o corredor no apartamento de Nat.
Fechado e seguro, como todas as outras portas do corredor. Um tiro de
blaster e um sabre de luz ativado nem mesmo mereciam uma porta aberta.
Ele tinha que tirar as duas de lá. Ali não era lugar para uma criança.
Aryn tocou no braço dele.
— Você está bem?
Ele soltou um longo suspiro e tentou se livrar do estresse. Estava
exagerando. Desde que chegou no planeta, havia tomado todas as
precauções que normalmente tomava. Ninguém que ele não queria que
soubesse, sabia do seu relacionamento com Arra ou Nat, muito menos onde
elas moravam. Aryn tropeçou nele apenas porque eles eram amigos há
muito tempo e ela sabia o nome de Nat. O homem no parque provavelmente
não era ninguém, apenas um transeunte aleatório.
— Não, eu estou bem. Eu conheço um lugar onde podemos conversar.
Pelos velhos tempos. Mas posso ter que encurtar. Estou esperando uma
ligação.
Zeerid poderia obter o sinal de Oren a qualquer momento.
Eles saíram para a rua e esperaram com uma pequena multidão pela
chegada de um speeder de transporte público de alta velocidade. Eles
embarcaram e ele seguiu. Zeerid observou o prédio de Nat e Arra
desaparecer abaixo deles. Ele tentou preencher a boca do estômago dizendo
a si mesmo que elas ficariam bem.

ZEERID E ARYN SEGUIRAM NO TRANSPORTE em silêncio até uma parada perto


da geometria desajeitada e enferrujada do espaçoporto. De lá, eles
caminharam pela rua movimentada até um cassino que Zeerid conhecia, o
Galáxia Espiral, onde Nat trabalhava. Um mar avassalador de fumaça,
gritos, luzes piscando e a música os saudou. Ninguém iria ouvi-los lá.
Zeerid conduziu Aryn até a área do bar, encontrou uma mesa de canto
que lhe permitia ver o resto da sala e se sentou. Acenou para o garçom antes
que o jovem chegasse à mesa. Aryn olhou ao redor no cassino, pequenas
rugas na testa dela. Parecia ter envelhecido dez anos desde que a viu pela
última vez. Imaginou que parecia o mesmo pra ela, se não pior. Ficou
surpreso por ela tê-lo reconhecido. Mas então, talvez não o tivesse
reconhecido tanto pela visão quanto pelo sentimento.
Ele se recostou na cadeira e falou alto o suficiente para ser ouvido acima
do som ambiente.
— Você disse que precisava da minha ajuda?
Ela assentiu e se inclinou para frente para apoiar os cotovelos na mesa.
Ela olhou além dele enquanto falava, e teve a impressão de que ela estava
recitando algo que havia ensaiado.
— Eu preciso chegar a Coruscant o mais rápido possível.
Ele deu uma risadinha...
— Nós dois queremos.
A resposta dele a desconcertou.
— O que você quer dizer?
— Deixa pra lá. Coruscant não é exatamente amigável aos Jedi no
momento.
— Não. E isso... não é sancionado pela Ordem.
A resposta dela o desconcertou. Ele nunca soube que Aryn desacatasse
às ordens.
— Sério?
— Sério.
— Você vai querer esperar até que as negociações em Alderaan sejam
concluídas, certo? Ver como as coisas se acomodam? Em uma semana...
— Eu não posso esperar.
— Não? Por quê?
Ela se recostou na cadeira como se quisesse abrir alguma distância entre
eles, talvez espaço para uma mentira.
— Eu preciso pegar algo no Templo.
— O que?
— Algo pessoal.
Ele se inclinou pra frente, fechando a lacuna entre eles, reduzindo o
espaço para falsidades.
— Aryn, não nos vemos há anos. Você aparece de uma nebulosa e me
diz que quer a minha ajuda para chegar a um mundo que acabou de ser
conquistado pelo Império e que levá-la até lá não é sancionado pela Ordem
Jedi.
Ele a deixou pensar por um momento antes de continuar.
— Talvez queira te ajudar. Talvez possa.
Ela olhou para cima, com esperança em seus olhos.
— Você estava lá comigo quando passei por um momento difícil. Mas
preciso entender o que realmente está acontecendo aqui.
Ela sorriu e balançou a cabeça.
— Senti a sua falta e não sabia.
Ele sentiu as suas bochechas aquecerem e tentou esconder o seu
desconforto. Claro, não podia esconder nada dela. Ela sentiria o calor que as
palavras dela colocaram nele.
Ela deslizou a sua cadeira pra frente e cruzou as mãos sobre a mesa. Ele
estava muito consciente de quanto as mãos dela estavam perto das dele.
Parecia que também tinha sentido falta dela.
— O ataque matou alguém de quem gostava.
A sensação de afundamento que sentiu o surpreendeu.
— Um marido? — Um Jedi podia se casar? Ele não sabia.
Ela balançou a cabeça.
— Meu mestre. Ven Zallow.
— Eu sinto muito. — Ele tocou a mão dela em simpatia e isso fez com
que passasse uma carga através dele que se afastou. Surpreendentemente,
não viu dor na expressão dela, mas sim raiva.
— O Templo terá vídeos do ataque. Eu preciso ver como ele morreu.
— Podem ter sido bombas, Aryn. Qualquer coisa.
Ela balançou a cabeça antes que ele terminasse a frase.
— Não. Foi um Sith.
— Como você sabe isso?
— Eu sei disso. E quero ver esse Sith, saber o nome dele.
O discernimento despontou.
— Você quer matá-lo.
Ela não o contestou.
Ele soltou um assobio.
— Droga, Aryn, pensei que você tinha vindo aqui para me prender.
— Prender você? Por quê?
— Não importa, — ele disse. — Não me admira que a Ordem não tenha
autorizado a sua ida a Coruscant. O que isso faria com as negociações de
paz? Você está falando sobre assassinar alguém.
A frieza nos olhos dela era algo novo para ele...
— Eu estou falando sobre vingar o meu mestre. Eles o assassinaram,
Zeerid. Eu não vou deixar assim. Você acha que eu não sei exatamente o
que estou fazendo? Quanto isto vai custar?
— Não, acho que não sabe.
— Você está errado. Quero a sua ajuda, Zeerid, não uma palestra. Agora,
preciso chegar a Coruscant. Você vai ajudar?
Ele estava trabalhando sozinho desde que se incorporou. Preferia desse
jeito. Mas trabalhar com Aryn sempre pareceu... certo. Se ia voar com
alguém, seria com ela.
O seu comunicador zumbiu. Ele verificou, viu uma mensagem
criptografada de Oren e a descriptografou.
As mercadorias estão a bordo da Fatman. Saia imediatamente. A carga
está quente.
Ele olhou através da mesa para Aryn.
— A sua sincronia é boa.
Os olhos dela formaram uma pergunta.
— Estou voando para Coruscant também. Exatamente agora.
— O que? — Ela parecia estupefata.
Ele empurrou a cadeira para trás e se levantou.
— Vamos?
Ela permaneceu em sua cadeira.
— Você está voando para Coruscant? Agora?
— Agora mesmo.
Ela situou-se.
— Então sim, estou indo.
— O que quer que tenha trazido até aqui, você precisa deixar. Estamos
levando apenas a minha nave.
Aryn bateu no comunicador dela e falou acima do som do cassino.
— Tê-seis, coloque a Raven em bloqueio. Estou saindo do planeta.
Monitore nosso canal sub-espacial usual e entrarei em contato com você
quando puder.
Os bipes de resposta do droide foram perdidos na cacofonia.
Eles começaram a abrir caminho no meio da multidão.
Aryn o pegou pelo bíceps e puxou a orelha dele até a boca dela.
— Não pode ser coincidência, você sabe. Considere a sincronia. A Força
nos trouxe aqui neste momento para que possamos ajudar um ao outro.
Você vê isso, não é?
Em uma mesa perto deles, sinos tocaram e um Zabrak ergueu os braços,
gritando de alegria.
— Sorte grande! — o Zabrak gritou. — Sorte grande!
Zeerid decidiu que precisava contar a ela. Ele gritou acima do barulho.
— Se a Força nos uniu, então a Força tem um estranho senso de humor.
Os olhos dela se estreitaram em uma pergunta.
— Do que você está falando?
Ele foi fundo.
— Escute, o que estou fazendo faz com o que você quer fazer pareça um
trabalho de caridade.
A expressão desapareceu o corpo dela se inclinou ligeiramente para trás.
— O que você quer dizer?
— Vou lhe dar outra chance de fazer essa pergunta antes de te responder.
Antes de fazer isso, perceba que faria essa missão, quer viesse ou não,
Aryn. Não me orgulho disso, mas tenho que fazer. Agora, você quer saber?
— Sim, — ela disse, e piscou. — Mas depois. Neste momento, e não
olhe em volta, há pessoas nos observando.
Num esforço de vontade manteve os olhos dele nela. Oren tinha dito que
a carga era quente, mas ele não percebeu que isto era tão quente. Ele fingiu
um sorriso.
— Onde? Quantos?
— Dois que eu possa ver. Um homem humano no bar, jaqueta marrom,
cabelo preto comprido. À minha direita, um homem com um longo casaco
preto e luvas.
— Você tem certeza? — Ele assentiu com a cabeça como se estivesse
concordando com algo que ela disse.
— Na maioria das vezes.
— Como vamos fazer isso? — Ele perguntou a ela.
Engraçado como eles caíram tão facilmente em papéis antigos. Ela
dando as ordens e ele obedecendo.
— Nós nos fingimos de idiotas e vamos para o espaçoporto. Nós
avaliaremos à medida que avançamos. Então…
— Então?
A mão dela foi por baixo da capa, até o cabo do sabre de luz.
— Então improvisamos.
Ele fez um balanço mental de todas as armas que carregava e a
localização delas no seu corpo.
— Bom o suficiente, — ele disse, e se dirigiram para a saída.
O transporte espacial levou Eleena e Malgus em direção ao céu para o
cruzador de Malgus, a Bravura. Malgus olhou para fora por uma das janelas
enquanto rompiam a atmosfera. Sentiu os olhos de Eleena sobre si, mas não
se virou pra ela. Os pensamentos dele estavam na Força, no Império e em
como os dois pareciam divergir diante de seus olhos. A questão para ele era
singular, o que faria a respeito?
A voz do piloto foi transmitida pelo alto-falante.
— Darth Malgus, Darth Angral deseja falar com você.
Malgus inclinou a cabeça em uma pergunta. Ele olhou pra Eleena, mas
ela desviou o olhar, para uma janela na superfície recuada de Coruscant.
— Passe a ligação.
A pequena tela de vídeo no compartimento de passageiros do transporte
espacial se iluminou e projetou uma imagem holográfica de Darth Angral.
Ele estava sentado na mesma mesa no escritório do Chanceler de onde
havia dado uma lição em Malgus. Ele se perguntou se Adraas permanecia lá
ainda.
— meu Lorde, — disse Malgus, embora as palavras parecessem falsas.
— Darth Malgus, vejo que você recuperou a sua... companheira. Estou
feliz por você.
— Eu a estou levando a Bravura, então voltarei à superfície para
ajudar...
Angral ergueu a mão e balançou a cabeça.
— Não há necessidade disso, velho amigo. A sua presença em
Coruscant não é mais necessária. Em vez disso, preciso que comande o
bloqueio e garanta a segurança das vias do hiperespaço.
— meu Lorde, qualquer oficial da Marinha poderia...
— Mas eu estou mandando você fazer isso, Darth Malgus.
Malgus olhou para a imagem de Darth Angral por um longo tempo antes
de confiar em si mesmo para responder.
— Muito bem, Darth Angral.
Ele cortou a conexão e a imagem desapareceu na tela.
Uma dor de cabeça enraizou na base do seu crânio. Podia sentir as veias
em sua cabeça pulsando, cada batida amplificando a sua desilusão, a sua
raiva crescente.
Não precisava ser hábil em manobras políticas para entender que Angral
estava lhe ordenando para um papel sem importância era uma forma de
enviar a mensagem clara de que caiu em descrédito. Angral o havia usado
apenas o tempo suficiente para garantir o sucesso do saque de Coruscant, e
agora estava sendo colocado de lado em favor de Lorde Adraas. No espaço
de um dia, passou de conquistador de Coruscant a um Darth de segundo
nível.
Ele olhou para Eleena mais uma vez, imaginando o quanto ela entendia.
Ela não olhou pra ele, apenas continuou a olhar pela janela.

PEDESTRES PASSARAM pela rua enevoada do lado de fora do cassino. O cheiro


do lago era forte: peixes mortos, outras decomposições orgânicas. Zeerid
varreu a multidão com os olhos, procurando qualquer outra pessoa que
parecesse suspeita. Ele viu vinte homens na rua movimentada que poderiam
estar de olho nele.
— Não consigo acertar ninguém nesta multidão, — ele disse.
Dois Houks bêbados cambalearam, gritando uma música em sua língua
nativa. Um jovem Bothano acelerou o motor de seu swoop e disparou pelo
ar. Táxis de carros aéreos onipresentes alinhavam-se na rua. Carros aéreos
particulares e um speeder de transporte público voaram acima deles.
— Continue andando. — disse Aryn. — Sem urgência, no entanto.
O espaçoporto ocupava vários quarteirões, começando do outro lado da
rua. Cartazes digitais afixados ao lado exibiam anúncios de tudo, desde
casas de férias a barras energéticas e aconselhamento para alívio de dívidas.
Zeerid simpatizou com esse último.
Movendo-se com a casualidade forçada, atravessaram a rua, provocando
o toque de uma buzina e um punho erguido, e se dirigiram para a entrada
mais próxima do espaçoporto.
— Não olhe pra trás, — disse Aryn, — Eles estão lá.
— Como você sabe?
— Eu sei.
As portas do espaçoporto se abriram. Carrinhos de bagagem puxados
por droides passaram pelas portas, seguidos por uma dúzia ou mais de
chegadas recentes de várias espécies sencientes diferentes. As portas se
fechando atrás deles interromperam as conversas dos motoristas de táxi.

VRATH SENTOU-SE EM UM BANCO dentro do espaçoporto, pressionado entre


uma Rodiana fêmea à sua esquerda e um Ithoriano macho à sua direita. O
Ithoriano cheirava a couro e cantarolava uma melodia pelas duas bocas.
Vrath resistiu e observou Zeerid e a mulher entrarem no espaçoporto.
Zeerid olhou ao redor, com suspeita em seus olhos. Mas Vrath havia
passado anos aperfeiçoando a sua própria imperceptibilidade, uma
habilidade inestimável para um franco-atirador, e os olhos de Zeerid se
moveram dele e para além.
Ele sussurrou comandos, o som inaudível acima da comoção do
espaçoporto. O implante em sua mandíbula amplificou as palavras e as
enviou aos fones de ouvido de sua equipe.
— Ele é cauteloso. Mantenham distância.
Vrath não queria que Zeerid sentisse o perigo e fugisse antes que Vrath
localizasse a carga. A sua equipe havia entrado a bordo da nave de Zeerid
horas antes e revistado. Eles não encontraram nada e, exceto uma visita de
rotina de um dos droides de inspeção da manutenção do porto, ninguém
havia estado a bordo desde então. Dois membros da sua equipe estavam
estacionados perto da nave, de olho nela.
Vrath observou Zeerid e a mulher com sua visão periférica e, usando seu
implante auditivo, ouviu-os o melhor que pôde sobre os sons do porto.

ZEERID ESTUDOU OS ROSTOS das pessoas ao seu redor, procurando por mais
alguém que pudesse estar observando. Rostos borrados um no outro. Ele
sentiu como se os seus perseguidores estivessem respirando em seu
pescoço. Incapaz de se conter, virou-se e olhou para trás.
Através do mar de rostos, vislumbrou os dois homens que Aryn havia
descrito no cassino. Ambos o viram olhando pra eles.
Ele desviou o olhar, xingando a si mesmo.
— Eles sabem que nós sabemos, — ele disse.
Aryn estava olhando para uma tela de vídeo fixada na parede que
mostrava uma notícia sobre as negociações em Alderaan.
UM AVANÇO NAS NEGOCIAÇÕES? dizia a legenda.
Um homem humano, seu cabelo escuro penteado para trás sobre um
rosto enrugado, estava falando. Zeerid não o reconheceu. A etiqueta abaixo
da sua imagem o chamava de LORDE BARAS.
— Você ouviu o que eu disse, Aryn?
Ela afastou os olhos da tela com dificuldade.
— Eu te ouvi. O que você acha que eles querem?
Zeerid tinha feito muitos inimigos desde que assinou com A Permuta,
mas percebeu que aqueles que os perseguiam queriam a Engespeciaria.
— Eles querem a carga que estamos levando para Coruscant, — ele
disse.
Eles pularam em uma esteira automática que os acelerou através do
porto. Através das janelas transparaço ao longo de uma parede, eles
puderam ver cargueiros e outras pequenas naves estelares estacionadas nas
plataformas de pouso do porto. droides guindaste carregavam e
descarregavam cargas.
Ele usou o reflexo no transparaço para determinar se os homens ainda
estavam atrás deles. Eles estavam. Mas ele ainda não sabia se havia mais ou
apenas os dois.
— Eles acabaram de entrar na esteira automática atrás de nós, — disse
Zeerid, enquanto os homens os seguiam pela a esteira.
— Diga-me o que é, Zeerid. A carga.
Ele não hesitou, embora não tenha olhado para ela ao responder. Em vez
disso, ele olhou para seu próprio reflexo no transparaço.
— Engespeciaria.
Ela não disse nada por um tempo, e ele não gostou da importância do
silêncio.
— Como você começou a transportar Engespeciaria? — ela perguntou
finalmente.
Ele não gostou ainda mais da acusação que ouviu no tom dela e se virou
para encará-la.
— Como você se desentendeu com a Ordem e saiu procurando por
assassinato? É uma longa história, não é? Bem, isso também é.
Ela olhou pro rosto dele, aqueles olhos verdes abertos. Ele viu mais dor
neles do que ele nunca tinha visto antes.
— Você está certo. Sinto muito, Zeerid. Eu não quis dizer...
— Não estou orgulhoso disso, Aryn.
— Eu sei.
Ela saberia. Ela sentiria a sua culpa, a sua ambivalência.
— Fazemos o que fazemos, — ela disse.
— Nós fazemos o que devemos.
— Certo, — ela disse. — O que devemos.
Eles trocaram de esteiras, subiram um andar em uma escada rolante. Ele
continuou a observar os dois homens atrás deles. Eles não fizeram nenhum
movimento para diminuir a distância entre eles.
— O que eles estão esperando? — Aryn perguntou.
Zeerid tinha se perguntado a mesma coisa, mas a compreensão logo
surgiu.
— Eles não sabem se sei onde está a especiaria.
À frente, viu a plataforma de pouso onde a Fatman, com o nome de Anã
Vermelha, estava atracada. Um longo carrinho de carga passou. Um pelotão
de droides de manutenção caminhou perto dele. Um homem e uma mulher à
frente dele acenaram um para o outro, sorriram, se abraçaram e seguiram
em frente.
Outros dois homens próximos chamaram a atenção dele. Um estava
sentado em uma cadeira perto da porta que dava para a plataforma de
pouso. Um computador portátil estava aberto em seu colo, mas não prestava
atenção. O segundo ficava de frente pra janela de transparaço,
ostensivamente voltado para a plataforma de pouso. Zeerid o imaginou
observando-os se aproximando pelo reflexo.
— Você sabe onde está? — Aryn perguntou.
— Está na minha nave, — ele disse, — A Permuta usa droides de
manutenção roubados para colocar a carga ilícita em suas mulas.

VRATH CAMINHOU AO LADO de uma mulher Twi'lek carregando uma pequena


bolsa de viagem. Ficou perto dela e deixou a sua linguagem corporal sugerir
que estavam juntos. Quando ouviu as palavras de Zeerid através do seu
implante de áudio, ele se amaldiçoou por perder o óbvio, o droide de
manutenção tinha sido sequestrado com programação furtiva para carregar a
Engespeciaria.
Vrath não tinha o poder de fogo disponível para destruir a nave de
Zeerid, então ele teria que fazer as coisas da maneira mais difícil.
— A carga está na nave do alvo e o alvo não pode entrar a bordo, — ele
disse, com as suas palavras altas o suficiente para que a Twi'lek olhasse pra
ele de soslaio e se afastasse.
— Keene, — ele chamou o motorista da speeder que havia estacionado
do lado de fora. — Esteja pronto para uma evacuação na plataforma de
pouso do alvo.
Vrath sacou o seu blaster e empurrou a multidão.
— Todo mundo pro chão!
O HOMEM DE FRENTE para a janela de transparaço virou-se enquanto o outro
sentado no banco largou o computador portátil e se levantou.
— Lá vêm eles, — disse Zeerid.
Aryn deixou sua mão cair até o cabo do seu sabre de luz.
— Já os vi.
Zeerid olhou pra trás e viu os dois homens que os seguiram pra fora do
cassino movendo-se apressadamente, depois correndo, através da multidão.
Ambos alcançaram as costas em busca de armas.
Um terceiro homem que Zeerid não havia notado antes, mas que lhe
parecia vagamente familiar, gritou para que todos se abaixassem e disparou
um tiro de blaster para o alto no teto.
O pânico tomou conta da multidão. Gritos irromperam ao redor e as
pessoas mergulharam no chão ou se esconderam atrás de bancos e cadeiras.
As dezenas de droides nas proximidades pararam de trabalhar e
olharam confusos ao redor, a programação deles os deixava lentos para
responder a algo inesperado.
Os dois homens entre Aryn e Zeerid e a nave tinham os blasters em
mãos, atirando enquanto se aproximavam. O sabre de luz de Aryn ganhou
vida, girou em um arco rápido diante deles e desviou os tiros entre o teto e o
chão.
Mais gritos. O fedor acre de blasters descarregados.
Zeerid puxou o seu blaster do seu coldre axilar e acertou dois tiros em
um dos dois homens. O impacto arrancou o homem do chão e deixou uma
camisa carbonizada e dois buracos negros no peito dele.
Zeerid agarrou Aryn e a puxou pra baixo, para trás do corpo em forma
de caixa de um droide de manutenção estacionado, enquanto o homem
sobrevivente na frente deles respondia ao fogo e os três homens se
aproximavam por trás. Um tiro atingiu a sola da bota de Zeerid e a deixou
fumegante e preta. O droide que usaram como escudo vibrou sob o impacto
de vários tiros.
— Não se mova, droide, — disse Zeerid.
Mas ele não poderia ter se movido se quisesse. A fumaça subiu dos
buracos em seu corpo e faíscas dispararam.
— Nós temos que chegar na minha nave, — disse Zeerid.
— As autoridades virão…
Zeerid balançou a cabeça.
— Muitas perguntas, Aryn. Eu tenha Engespeciaria a bordo. Eles vão
apreender a nave e prender a nós dois. Temos de ir. Agora.
Os homens de trás estavam se aproximando, usando bancos, cadeiras e
os corpos de transeuntes e droides como cobertura enquanto diminuíam a
distância. Os gritos e berros dos civis tornava difícil pensar.
— Eu só quero a carga, — gritou um dos homens, aparentemente o líder,
acima do tumulto.
Como resposta, Zeerid apareceu por trás do droide e disparou três tiros
rápidos. Não atingiu ninguém, mas jogou os três homens atrás deles no
chão. Girou para o homem na frente deles bem a tempo de ver o clarão
vermelho do tiro de blaster atingir o seu peito e o fez deslizar por três
metros no chão. O impacto arrancou o fôlego de seus pulmões e o deixou
ofegante. Fumaça negra subiu em espiral do buraco aberto em seu colete
blindado.
Ele já havia sido atingido antes e manteve o juízo, apesar da dor e da
dificuldade para respirar.
— Fui atingido, — ele disse.
Ele rolou sobre o estômago e atirou o mais rápido que pôde puxar o
gatilho nos três homens atrás deles. Eles responderam na mesma moeda. Os
disparos do Blaster abrindo buracos no chão ao redor dele. Pedaços de
ladrilho voaram no ar. Ele mal conseguia ouvir nada além do som de
rajadas de blaster e os gritos dos civis.
Um tiro do líder do ataque, o homem que parecia tão familiar, pegou o
ombro de Zeerid. Mais uma vez, a sua armadura o poupou de ferimentos
graves, mas o impacto enviou uma sacudida de dor por todo o comprimento
de seu braço, deixou a sua mão dormente e fez seu blaster deslizar pelo
chão.
E foi parar bem na frente de uma mulher Zeltron deitada no chão. Ele
encontrou o olhar de olhos arregalados dela e viu o medo estúpido. Ela não
fez nenhum movimento em direção ao blaster.
Ele rolou para se proteger longe da mulher enquanto mais e mais tiros
dos três homens o prenderam. Perto dele, um civil gemeu, provavelmente
atingido pelo fogo cruzado. Uma mulher gritou.
Ele tinha que ficar livre.
Mas antes que ele pudesse se levantar, Aryn estava sobre ele, a lâmina
dela um borrão de movimento que formou um casulo de luz verde ao redor
deles, desviando tiros de blaster em todas as direções. Ela o agarrou pela
axila e o ajudou a se levantar, ainda desviando os tiros.
— Levanta, — ela disse, — Levanta.
Ele ainda não havia recuperado o fôlego pra responder, mas com a ajuda
dela, se levantou. Com o seu braço direito pendurado em seu ombro como
um pedaço de carne. Alcançando a nuca, puxou o E-9 que mantinha ali e o
pegou na mão esquerda.
— A nave, — ele disse, ainda lutando pra respirar.
Aryn apontou para um carrinho de carga perto dos três homens que
atiravam neles por trás. Os seis carros do carrinho correram em direção aos
homens, impulsionados pelo poder de Aryn. Eles pularam para o lado, e
Aryn e Zeerid correram para a Fatman.
O único homem parado entre eles e a nave atirou uma, duas vezes, e
Aryn desviou os dois tiros. Zeerid nivelou o E-9 e disparou. O tiro atingiu o
homem na sobrancelha e ele caiu pra trás, os olhos bem abertos, o sangue se
acumulando, morto.
Enquanto eram atacados antes da nave, mais tiros dispararam e a lâmina
de Aryn zumbiu. A energia da arma fez com que os cabelos de Zeerid se
arrepiassem.
Eles pularam sobre o homem morto e através das portas de transparaço
para a plataforma de pouso. As portas se fecharam atrás deles, silenciando
os gritos dos civis. Zeerid ficou grato por isso. Tiros de blaster bateram nas
portas. O som de speeders, swoops e outras naves próximas colocou um
zumbido no ar.
Tiros soaram de cima e da direita. Um disparo acertou Aryn na
panturrilha e a derrubou sobre as suas pernas.
Uma speeder de capota aberta sem identificação voou da direita, o
piloto, um homem humano, disparando pela lateral.
Zeerid se agachou, com uma mão sobre Aryn, enquanto disparava três
tiros com o E-9, tentando atingir um dos propulsores gravitacionais da
speeder, mas acertando apenas a fuselagem ao redor. Os tiros não causaram
danos, então mirou na cabine. Tentando evitar o fogo de Zeerid, o piloto
compensou e a speeder virou totalmente à direita. Enquanto o piloto se
mexia para recuperar o controle, Zeerid agarrou Aryn com o seu braço bom
e a puxou para a colocar de pé.
— Eu estou bem, — ela disse. — Vai, vai.
Sirenes gritavam ao longe, pressagiando a chegada das autoridades
portuárias.
Apoiando um ao outro de braços dados, eles mancaram até a porta de
entrada e Zeerid digitou o código. Atrás deles, as portas da plataforma de
pouso se abriram. Tiros ressoaram no casco de Fatman. Zeerid disparou
alguns tiros cegos para trás dele. Aryn desviou outros dois tiros na antepara.
A porta da nave se abriu muito lentamente. Zeerid agarrou Aryn e subiu
antes que a porta estivesse totalmente aberta. Apertou o botão para fechá-la
e a porta parou e reverteu.
— Eu tenho que nos tirar daqui. Você está bem?
— Estou bem, — ela disse.
O ferimento na panturrilha estava feio, mas parecia um arranhão. A
carne crua e rosada de sua carne estava delimitada por linhas pretas de pele
carbonizada.
Ele disparou pelos corredores de Fatman até chegar à cabine do piloto,
atirou-se para o assento do piloto e ligou os motores. Seu braço dormente
dificultou, mas ele conseguiu. Ele olhou para fora da cabine em busca da
speeder e o viu acima dele.
Ele iria bater se ele não saísse do caminho.
Os propulsores foram acionados e Fatman se levantou da plataforma. a
speeder girou para o lado. O piloto atirou descontroladamente na cabine,
mas a canopi de transparaço da Fatman desviou os tiros sem nenhuma
marca.
Zeerid considerou explodir a speeder no ar com os canhões de plasma da
Fatman, mas os destroços que cairiam poderiam ferir um inocente.
— Considere-se um sortudo, amigo.
Quando alcançou dez metros de altitude, ele acionou os motores iônicos
e a Fatman disparou em direção ao céu. Ele monitorou os escâneres para
garantir que ninguém os estava seguindo.
Quando ele não viu nada, ele se deixou relaxar. Ele testou o braço,
descobriu que não estava quebrado, apenas muito machucado. A sensação
já estava começando a voltar para a sua mão.
Assim que a nave rompeu a atmosfera, ele a colocou no piloto
automático e correu de volta ao porão para verificar Aryn.

VRATH COLDREOU a sua arma ainda quente enquanto observava a nave de


Zeerid subir no céu noturno de Vulta. Os motores iônicos da nave brilharam
em azul e o cargueiro acelerou na escuridão e se misturou com o resto do
tráfego noturno.
Ele praguejou enquanto inspecionava as ruínas da emboscada: dois de
seus homens mortos, um ferido, as autoridades a caminho, e não apreendeu
nem destruiu a Engespeciaria.
Os Hutts ficariam infelizes.
Centenas de rostos os encaravam através das janelas transparaço do
espaçoporto. Atrás dos rostos, viu droides de segurança e oficiais de
segurança de uniforme azul acelerando ao longo das esteiras automáticas.
Alguns dos curiosos se viraram para os oficiais, apontaram o dedo para
Vrath e os seus homens. Ele podia ouvir sirenes à distância.
— É hora de escapar, chefe, — disse Deron.
Vrath concordou. Ele se arrependeu de ter deixado os seus mortos pra
trás, mas as identidades deles não diriam nada às autoridades. Todos foram
alteradas cirurgicamente várias vezes. As suas identidades atuais não seriam
rastreadas até os Hutts.
Keene baixou a speeder na plataforma de pouso. Vrath, Deron e Lom
entraram.
— Movam-se, — disse Vrath.
Keene levou a speeder para acima e apertou a aceleração. O vento
soprava sobre eles. Keene manteve a speeder baixo e se misturou com o
tráfego no coração do Lago Yinta. Vrath ficou de olho atrás deles por
perseguidores, mas não viu nenhum.
— Tudo limpo, — ele disse.
Keene diminuiu a velocidade da speeder e mudou o curso, indo para o
esconderijo deles.
Lom iniciou uma série de palavrões que durou três minutos. Quando ele
terminou, Deron disse:
— Os Hutts não disseram nada sobre o envolvimento de uma Jedi.
— Não, eles não sabiam, — concordou Vrath, embora duvidasse que o
seu contato com os Hutts soubesse.
— O que os Jedi estão fazendo com um transportador de especiaria? —
Deron perguntou.
Vrath balançou a cabeça, ponderando. O envolvimento Jedi não fazia
sentido, a menos que...
— Talvez os Jedi queiram colocar a agente deles em Coruscant e
estejam usando um entregador de especiaria para levá-la até lá.
Deron pigarreou, aparentemente não impressionado com a explicação.
— Então, como eles vão passar pelo bloqueio Imperial e chegar a
Coruscant? Ele não pode simplesmente voar até um cruzador Imperial.
— Não, — disse Vrath, ainda pensando. — Ele não pode. Mas ele tem
que ter algo em mente. A especiaria precisa chegar lá e chegar rápido.
— Certo.
Vrath tomou uma decisão.
— Keene, leve-me até a Navalha.
— Por quê? O que você vai fazer? — Deron perguntou.
— Vou voar direto para um cruzador Imperial.
— Hã?
Vrath não perdeu tempo com mais explicações. As autoridades estariam
procurando por eles assim que analisassem o vídeo da batalha no
espaçoporto. Provavelmente A Permuta também já tinha o vídeo. Eles
estariam caçando Vrath e a sua equipe também.
— Peguem as suas naves e saiam do planeta, — disse Vrath. A sua
equipe havia pousado no mato próximo ao Lago Yinta e não havia se
registrado no controle planetário.
— Nós nos encontraremos em três dias padrão no local de costume em
Ord Mantell.
Ele teria mais uma chance de parar a Engespeciaria.

ZEERID ENCONTROU ARYN mancando pelos corredores em direção à cabine.


— Estamos longe, — ele disse. — Com segurança, ao que parece. Não
tenho nada além de tráfego normal nos escâneres.
— Bom. E agora o que?
— Agora vamos para Coruscant.
Ela disse:
— Como nós vamos passar pelo bloqueio Imperial?
— Ah. Bem, isso é complicado. Por que você não vai cuidar dessa
perna?
— Por que você não cuida desse braço?
— Preciso examinar a carga. Você não precisa vir.
— Acho que não.
Ele assentiu.
— Compartimento médico está à frente e a estibordo.
Ela sorriu.
— Kolto para os seus cortes.
— Kolto para os seus cortes, — ele repetiu, uma frase de soldado para
cuidados médicos no campo.
— Há comida na cozinha, — ele disse. — Barras de proteína e
suplementos de glicose, principalmente. Fique à vontade.
— Você ainda está comendo como um soldado.
— Ainda faço muitas coisas como um soldado.
Não só as coisas mais importantes.
Ela partiu e ele se dirigiu para o compartimento de carga, esgueirando-se
entre as caixas como se fossem um animal facilmente assustado. Elas eram
pequenas, talvez um metro de lado, minúsculas no porão vazio. Não sabia o
que esperava. Alguma coisa maior, ele supôs. Pareciam ser um grande
problema para recipientes tão pequenos. Ele passou as mãos sobre elas e
decidiu que não queria ver a especiaria, afinal.
Ele voltou para a cabine para pilotar a sua nave. A chamada de Oren já
estava piscando. Ele a apertou.
— Diga, — ele disse.
— Os nossos hackers estão com o filme do espaçoporto. Eu vi o seu
pequeno incidente.
— Incidente? Fui baleado. Duas vezes.
— O reconhecimento facial do aparente líder da equipe de assassinato
fornece uma identificação de Vrath Xizor. — Oren riu. — Aparentemente, é
um professor do ensino fundamental no Núcleo.
— Acho que podemos assumir com segurança que é falso. Quem é ele,
Oren?
— Agente livre, nós achamos. Provavelmente trabalha para os Hutts.
Eles não queriam que a Engespeciaria chegasse a Coruscant. Eles estão...
em desacordo com o nosso comprador.
Os Hutts. Parecia que eles estavam em tudo.
— Isso é tudo o que tem? — Zeerid perguntou a ele.
— Isso é tudo o que tenho. Como você está planejando levar a especiaria
para Coruscant, Z-man?
— Não vou contar nada para você, Oren. Você tem um vazamento na
sua organização. Eu vou para lá. Isso é tudo o que precisa saber.
Oren riu.
— Adeus, Z-man.
Atrás dele, Aryn pigarreou. Zeerid não conseguiu fazer contato visual
com ela. Começou a marcar as coordenadas no computador de navegação e
Aryn se acomodou no assento do copiloto. Já fazia muito tempo que
ninguém dividia a cabine com ele. Ela tinha enfaixado a panturrilha.
— A bandagem parece boa, — ele disse.
— Obrigada. — Ela olhou para os cálculos no computador de
navegação. — Isso não vai nos levar a Coruscant.
— Não, — ele disse. — Isso vai nos levar ao sistema Kravos .
— Esse é um sistema morto, — ela disse. — No limite do espaço
Imperial.
Ele assentiu.
— Comboios de suprimentos param por lá para deslizar sobre os
gigantes gasosos em busca de hidrogênio.
— Eu não entendo. Qual é o plano para chegar a Coruscant?
— Achei que você tivesse o plano, — ele disse.
— O que?
Ele sorriu.
— Estou brincando.
— Não tem graça. Qual é o plano, Zeerid.
Ele assentiu.
— É perigoso.
Aryn parecia despreocupada. Ela olhou pra fora da cabine enquanto
voavam pelo veludo do espaço, esperando que explicasse. Ele tentou.
— Eu vou pegar carona com a Fatman nas costas de uma nave Imperial.
— O que isso significa?
— Significa o que parece. Ouvi sobre isso na escola de aviação, na volta
ao serviço
— Você ouviu sobre isso?
Zeerid continuou como se ela não tivesse dito nada.
— Séculos atrás, os contrabandistas costumavam pular pra dentro e pra
fora do hiperespaço milissegundos depois de uma nave da República,
digamos, uma grande nave de suprimentos, indo para Coruscant. O
contrabandista sai do hiperespaço em baixa energia, exceto pelos
propulsores.
Aryn considerou isso.
— Difícil de detectar nos sensores.
— Certo, mas apenas se sair na sombra da nave de suprimentos. E só se
sair e baixar a energia imediatamente.
— Você teria que saber exatamente de onde sairiam.
— E eles faziam. E nós faremos agora.
Zeerid conhecia todos os detalhes de cada pista do hiperespaço no
Núcleo. Se ele soubesse onde as naves Imperiais entraram no hiperespaço e
o seu destino final, sabia onde elas sairiam.
— E o que acontece depois?
— Então você trava nele.
Os olhos de Aryn pareciam tão arregalados quanto os de um Rodiano.
— Você trava nele?
— Um selo eletromagnético. Essa parte é fácil de fazer.
— Eles vão sentir isso.
Zeerid assentiu com a cabeça.
— Tem que ser uma nave grande o suficiente e tem que travar em um
compartimento de carga ou algo semelhante. Algo que provavelmente está
vazio. Então, uma vez que você atravessa a atmosfera, você solta o selo e
flutua para o céu claro.
Parecia ridículo quando falou em voz alta. Ele não podia acreditar que
estava pensando nisso.
Aryn soltou um suspiro e olhou para fora da cabine.
— Este é o seu plano?
— Tal como é. Você tem algo melhor?
— Quem já fez isso?
— Ninguém que eu conheço. Quando a República soube disso, eles
ajustaram os seus sensores de varreduras para procurar por isso. Ninguém
faz isso há séculos.
— Mas o Império não sabe disso.
— Assim espero.
Ele se esforçou para não ver a dúvida na expressão dela. Que ecoou com
a sua.
— Isso é tudo que eu tenho, Aryn. É isso ou nada.
Ela olhou para fora da cabine, a mudança de seus pensamentos visível
por trás do véu verde dos olhos dela.
Fatman estava quase livre dos poços de gravidade.
— Eu ainda posso deixar você em algum lugar, — ele disse, esperando
que ela não aceitasse. — Você não precisa pegar uma carona comigo.
Ela sorriu.
— Isso é tudo que eu tenho também, Z-man.
— Somos uma dupla, então.
Ela riu, mas isso desapareceu rapidamente.
— Aryn? Você está bem?
— Eu sinto como se tivesse deixado Alderaan há muito tempo, — ela
disse. — Foram horas.
— Muita coisa pode acontecer em poucas horas, — ele disse.
Ela assentiu com a cabeça, e adormeceu.
— Aryn?
Ela voltou pra ele de onde quer que estivesse.
— Estou com você, — ela disse, — E acho que posso ajudar a fazer isso
dar certo.
Vrath ligou o computador de navegação da Navalha e gerou um
curso para Coruscant. Mesmo que Zeerid saltasse no hiperespaço
imediatamente, o que Vrath duvidava, era que a nave de desembarque
Imperial modificada de Vrath ainda chegaria antes da Fatman a Coruscant.
O seu trabalho exigia muitas viagens. A Navalha tinha os melhores
hiperdrives que os créditos podiam comprar.
Quando o computador de navegação terminou os seus cálculos, acionou
o hiperdrive e a nave disparou pelo hiperespaço. Diminuiu a intensidade da
cabine e observou um cronometro montado na antepara marcar os
segundos, os minutos. Após um curto período de tempo, ele desligou o
hiperdrive e o preto do espaço normal substituiu a agitação cerúlea do
hiperespaço. À distância, a Coruscant do lado diurno brilhava contra a
escuridão do espaço.
O planeta, inteiramente revestido de duracreto e metal, sempre lembrava
a Vrath de uma engrenagem gigante, a mola mestra da República.
Perguntou-se o que aconteceria à República agora que a primavera tinha
sido despojada.
Por um momento, ficou nostálgico do seu tempo no Exército Imperial,
quando transformava soldados da República em bonecos de pano a mais de
trezentos metros. Ele teve cinquenta e três mortes confirmadas antes de ser
expulso do serviço e não se arrependeu de nenhuma delas. Odiava tudo
sobre o serviço, exceto as mortes e como se sentia depois de vencer uma
batalha. Imaginou como deveria ser para as forças Imperiais caminharem
como conquistadoras na superfície de Coruscant, para a marinha possuir o
espaço em torno da joia da República.
Mesmo à distância, Vrath podia ver as flechas de prata de dois
cruzadores Imperiais patrulhando a escuridão ao redor de Coruscant. Uma
terceira orbitou uma lua. Normalmente, uma flotilha de satélites girava em
torno do planeta também, mas Vrath não viu nenhum deles. Talvez o
Império os tivesse destruído como parte do blecaute forçado das
comunicações do planeta.
Duas das dezenas de caças que escoltavam o cruzador mais próximo, os
novos interceptadores avançados Mark VII, decolaram e aceleraram em
direção à nave de Vrath. Ele certificou-se de que os seus sistemas de armas
estavam desligados e colocou o seu equipamento de comunicação em
aberto. Pouco antes dele tirar a mão do painel de controle, a marinha o
acionou.
— Embarcação não identificada, — disse uma voz severa que soava
como todos os oficiais de comunicações Imperiais que tinha ouvido durante
todo o seu tempo no exército. — Você está em um espaço restrito. Desligue
os seus motores e defletores completamente e prepare-se para ser rebocado.
Qualquer desvio dessa instrução resultará na sua destruição imediata.
Vrath não duvidou disso.
— Mensagem recebida. Será cumprida. — Ele desligou os seus motores
e desativou os seus defletores. — Eu preciso falar com o Oficial Imperial de
Correções. Tenho informações de interesse do Império.
Os caças zuniram ao passar pela sua nave. Um deles voou ao redor e sob
a Navalha. Quando saiu da frente dele, ativou um reboque eletromagnético.
Uma linha azul brilhante se formou entre as duas naves e o Mark VII
começou a puxá-lo pelo espaço. O outro caça manteve a posição atrás da
Navalha para que pudesse explodir ao Vrath no espaço caso fosse
necessário. Adiante, o túnel da baia de aterrissagem do cruzador apareceu.

O CAÇA PUXOU Vrath pela entrada da baia de aterrissagem do cruzador até


chegarem a um local de pouso isolado, onde duas dúzias de troopers em
armaduras de batalha cinza completas o aguardavam, junto com um oficial
da marinha alto e ruivo. Ele acenou pra eles através da canopi, soltou-se da
cadeira, desarmou-se do seu blaster e das suas facas, e saiu.
No momento em que a rampa de pouso da Navalha ressoou no convés
de metal do cruzador, estava olhando para os olhos mortos de quatorze
rifles blaster TH-17 .
— Revistem-no, — disse o oficial da Marinha.
Dois dos troopers de armadura colocaram as suas armas nos ombros e
avançaram contra ele. Não resistiu quando um deles colocou algemas
flexíveis em seus pulsos e o outro o apalpou.
— Ele está desarmado, — disse um deles, a voz com som mecânico
modulado do alto-falante do capacete.
— Revistem a nave, — disse o oficial da Marinha. — Quero ver os
registros de voo dele.
— Sim, senhor, — responderam os troopers, e sete deles embarcaram na
nave para fazer buscas.
— Não há nada de seu interesse a bordo, — disse Vrath. — Eu vim de
Vulta. Isso é o mais longe que os registros vão.
O oficial da marinha sorriu, num gesto tenso e falso, e caminhou até
Vrath. O seu uniforme sem rugas cheirava a recém-limpo. As sardas em seu
rosto pálido pareciam uma varíola.
Vrath poderia tê-lo matado com um chute alto na traqueia, mas achou
isso imprudente.
— Eu sou o Comandante Jard, primeiro oficial do cruzador Imperial
Bravura. Você está preso por voar em espaço restrito. Se a sua punição é a
execução ou mera prisão, fica inteiramente a meu critério e depende de
quão satisfeito ficar com as respostas que fornecer às minhas perguntas.
— Compreendo.
— Qual é o seu nome? De onde você veio?
Ele mal se lembrava do nome que sua mãe lhe dera. Ele forneceu o que a
sua profissão lhe dera mais recentemente.
— Vrath Xizor. Como eu disse, voei para cá diretamente de Vulta.
— O que o traz aqui, Vrath Xizor?
— Eu tenho informações de interesse do OIC.
O oficial da Marinha inclinou a cabeça.
— Você é militar, Vrath Xizor?
— Ex., Destacamento especial dos Quadringentésimo Terceiro.
Companhia E.
— Um atirador de elite Imperial?
Vrath ficou impressionado com o fato de Jard conhecer a designação da
sua unidade. Ele assentiu.
— Bem, Vrath Xizor do Quadringentésimo Terceiro, pode me dar as
suas informações.
— Prefiro falar diretamente com o capitão.
— Darth Malgus não vai...
— Darth? O comandante é um Sith?
Jard olhou fixamente para Vrath.
— Ele vai querer ouvir o que tenho a dizer, — disse Vrath. — Diz
respeito aos Jedi.
Jard estudou o rosto dele.
— Coloque-o na detenção, — ele disse a outro soldado atrás de Vrath.
— Se Darth Malgus deseja falar com você, assim o fará. Se ele não o fizer,
então ele não o faz.
— Você está cometendo um erro...
— Cale a boca, — disse um dos troopers, e o algemou na nuca.
Três troopers escoltaram Vrath para fora do compartimento de
desembarque até um elevador próximo. Vrath não resistiu. Passaram-se
anos desde que esteve a bordo de uma nave Imperial, e permaneceram
exatamente como se lembrava, máquinas de matar anti-sépticas puramente
funcionais.
Igual a ele.
— Este foi um atirador de elite desligado do Quadringentésimo Terceiro,
— disse um dos troopers para o outro.
— Ou assim ele diz.
— Isso é verdade? — disse outro. — Ouvi coisas sobre essa unidade.
Vrath não disse nada, apenas olhou para a fenda escura do visor do
capacete do trooper.
— Ouvi falar de algum tipo de super-homens.
O trooper segurando o ombro dele o sacudiu.
— Este aqui não parece muito super.
Vrath apenas sorriu. Ele não parecia muito... deliberadamente.
Os soldados o levaram para as entranhas da nave. Os corredores se
estreitaram, e os seguranças de uniforme azul começaram a aparecer em
portas que respondiam apenas a certos códigos. Vrath tinha estado em
detenções Imperiais muitas vezes, geralmente por insubordinação.
Antes de chegarem à ponte, um dos troopers, aquele com o símbolo de
sargento em sua ombreira, ergueu a mão para os outros pararem. Ele
inclinou a cabeça para o lado enquanto ouvia algo pelo alto-falante do
capacete. Ele olhou para Vrath enquanto ouvia.
— Confirmado, — ele disse para quem estava falando. Então, para os
seus homens, — Darth Malgus o quer na ponte.
Os três homens trocaram olhares e mudaram o curso.
— Sorte sua, Quadringentésimo Terceiro. — disse o trooper que o
segurava.
Explodindo em movimento, Vrath deu um chute na placa de peito do
soldado à sua frente, fazendo-o voar para o sargento e batendo os dois com
força contra a parede. Então girou pra trás do terceiro enquanto deslizava os
seus braços amarrados sobre a cabeça do trooper. Manobrou as algemas sob
o anel de pescoço do capacete e apertou, não o suficiente para matar, apenas
o suficiente para marcar uma posição.
A mordaça do homem soou alto no alto-falante do capacete. Os seus
dedos agarraram os braços de Vrath. Provavelmente estava começando a
ver um borrão.
Vrath o soltou e o empurrou. A troca toda levou talvez quatro segundos.
Os dois homens que havia batido contra a parede tinham os seus rifles
apontados pra a cabeça dele.
Vrath estendeu os braços para eles o pegarem.
— Não parece muito, — ele disse.
AFATMAN SAIU do hiperespaço no sistema Kravos. Zeerid imediatamente
acionou os motores iônicos e levou o cargueiro para o sistema em apuros.
Detritos de um disco de acreção parcialmente disperso em torno da
estrela do sistema preencheram a escuridão do espaço com gás ionizado e
detritos. Algum golpe de sorte da evolução do sistema solar resultou na
formação de um gigante de gás laranja algumas centenas de milhares de
quilômetros fora da orla mais distante do disco.
Zeerid conduziu a Fatman através do redemoinho, habilmente evitando
asteroides e partículas menores. Manobrou a nave até o fim do disco e
manteve sua posição, embora isso sobrecarregasse a sua habilidade de
piloto.
— E o que acontece agora? — Aryn perguntou.
— Nós esperamos. E quando um comboio Imperial indo para Coruscant
passar, nós tentamos a sorte.
— Como saberemos que está indo para Coruscant?
— Não saberemos, estritamente falando. Mas os regulamentos da
Marinha Imperial exigem que um comboio o qual se dirige a um mundo
ocupado tenha uma escolta de pelo menos três fragatas. Se virmos isso,
provavelmente está indo para Coruscant.
— E se não vermos isso?
Zeerid preferiu não pensar nisso.
— Nós vamos.
— E se estiver errado? E se o comboio não estiver indo para Coruscant?
— Então vai pular para onde está pulando e vamos pular para Coruscant,
sem cobertura e ao alcance de uma frota Imperial. Você não é do tipo
modesta, é?
Ele tentou transmitir com seu sorriso uma confiança que não sentia.
Ela apenas balançou a cabeça e olhou para o gigante gasoso.
Eles esperaram. Um transporte médico passou e Zeerid o ignorou. Um
único cruzador chegou mais tarde e ainda esperavam. Depois de várias
horas, os instrumentos de Zeerid mostraram outra distorção do hiperespaço.
Um comboio apareceu, com três super cargueiros de suprimentos e
quatro fragatas cheias de armas.
— Essa é a nossa carona, — ele disse. — Está pronta?
— Estou pronta, — ela respondeu.

AS PORTAS DO ELEVADOR SE ABRIRAM para revelar um pequeno corredor que


levava às portas duplas da ponte do cruzador. Dois soldados com armaduras
estavam perto do elevador, esperando a chegada de Vrath. Mais dois
estavam no corredor, antes das portas da ponte.
Os três troopers que escoltaram Vrath até o elevador o entregaram aos
que estavam no corredor.
— Ele é perigoso, — disse o sargento. — Cuidado com ele.
— Sim, senhor, — disseram os dois troopers no corredor, com as suas
expressões ilegíveis por trás dos seus capacetes. Flanquearam Vrath, mas
não o tocaram enquanto o levavam para a ponte. As portas duplas se
abriram para revelar a câmara oval de vários níveis mal iluminada da ponte
do cruzador.
Vários oficiais da Marinha, todos humanos, estavam sentados em seus
postos, pairando sobre as suas telas de computador. Uma enorme tela à
esquerda fornecia uma visão ampliada de Coruscant e do espaço
circundante. O zumbido de uma conversa curta e baixa e o zumbido da
eletrônica enchiam o ar.
Uma cadeira de comando de montagem giratória ficava no centro da
ponte em uma plataforma elevada. O Comandante Jard estava ao lado dela,
uma mão no apoio de braço, conferenciando com o homem que estava
sentado nela. Jard olhou para Vrath e falou com o homem, que Vrath
presumiu ser Darth Malgus. Ele ativou o seu implante auditivo para ouvir a
conversa.
— Meu Lorde, — disse Jard. — O prisioneiro de que falei está aqui.
Malgus voltou os seus olhos para Vrath e qualquer presunção que Vrath
sentira ao se exibir para alguns troopers afundou sob o peso daquele olhar.
Malgus se levantou e cruzou a ponte em direção a Vrath. Tinha bem mais de
dois metros de altura, e a capa preta que usava parecia uma tenda de
pavilhão.
Ele não tirou os olhos do rosto de Vrath ao se aproximar. Cicatrizes
delineavam o seu rosto, e uma rede de veias azuis formava uma colcha de
retalhos na sua careca. Ele era tão pálido que poderia ser um cadáver, um
morto-vivo. O pequeno respirador que usava escondia sua boca e lábios.
Mas foram os seus olhos que intimidaram a Vrath. Malgus era todo olhos. A
soma dele, de seu poder, irradiava pra fora do seu olhar injetado de sangue.
Dispensou os guardas que flanqueavam Vrath e, com um gesto, usou a
Força para abrir as algemas nos pulsos de Vrath. Elas caíram no chão da
ponte com um ruído surdo.
— Você mencionou um Jedi para o Comandante Jard. — A sua voz,
profunda e áspera, soava como pedras se esfregando.
— Eu mencionei... meu Lorde. — A mera presença de Malgus puxou as
últimas palavras dele.
— Explique.
Vrath achou isso mais difícil do que tinha imaginado, ao compor os seus
pensamentos.
— Um cargueiro está a caminho de Coruscant. Uma Jedi está a bordo.
— Apenas uma?
— Sim, pelo que eu sei, apenas uma, — respondeu Vrath, assentido com
a cabeça. — Uma mulher. Humana, trinta e poucos anos, eu diria. Cabelo
castanho claro comprido. Ela está voando com um homem chamado Zeerid
Korr. Pelo que sei, eles são a única tripulação.
— Como você sabe que essa mulher é uma Jedi?
Vrath estava começando a sentir frio. Ele teve que trabalhar para manter
sua voz firme.
— Eu a vi usando um sabre de luz verde. Eu a vi fazer coisas com a
Força. — Ele ergueu as mãos para mostrar a Malgus os seus pulsos, ainda
vermelhos das algemas que Malgus havia desbloqueado. — Coisas assim.
Malgus deu meio passo para mais perto de Vrath e ele se sentiu
decididamente oprimido.
— Diga-me então, Vrath Xizor, o que mais está a bordo desta nave e por
que e quando virá para Coruscant?
Vrath bateu contra as portas atrás dele. Ele considerou mentir, mas não
achou que conseguiria.
— Engespeciaria, meu Lorde. A nave está carregada de Engespeciaria.
Ele viu conexões sendo feitas, conclusões sendo tiradas e mais perguntas
se formando nas profundezas dos olhos de Malgus.
— Este Zeerid Korr é um transportador de especiarias?
— Ele é.
— Por que uma Jedi se associaria a um transportador de especiarias,
Vrath Xizor?
— Eu... não sei, meu Lorde.
— E você? — Malgus pairava sobre ele, todo olhos escuros, toda
armadura negra, todo poder sombrio. — Você é um transportador de
especiaria? Um rival de negócios, talvez?
A mentira saiu da sua boca antes que a sabedoria pudesse detê-la.
— Não, não, eu sou um ex-Imperial. Um atirador de elite. Eu estou...
estou apenas fazendo a minha parte pelo Império, meu Lorde.
Malgus inalou profundamente, exalou, o som mecânico pesado de
decepção.
— Você é um péssimo mentiroso. Você é um transportador de especiaria
rival, ou um assassino a serviço de um dos sindicatos que negociam
especiarias.
Vrath não ousou negar. Ele ficou ali, congelado, preso pelos olhos de
Malgus.
— Quando este cargueiro deve chegar? — Malgus perguntou. — E
como eles planejam passar pelo bloqueio?
Vrath descobriu que a sua boca estava seca. Ele pigarreou.
— Eles virão em breve. Hoje. Eles devem chegar.
— Por causa da Engespeciaria?
Vrath não conseguia encontrar os olhos de Malgus.
— Sim. Não sei como pretendem passar, mas sei que tentarão.
Malgus o encarou por um longo segundo que pareceu uma eternidade
para Vrath.
— Você permanecerá na ponte, Vrath Xizor. Se este cargueiro e a Jedi
que ele carrega aparecerem, vou ignorar seu voo ilegal para um espaço
restrito. Talvez até te recompense pelo seu serviço. Mas se a nave não
aparecer, então planejarei uma... punição adequada para um transportador
de especiaria encontrado em espaço restrito. Isso parece irracional para
você?
Vrath engasgou com a sua resposta.
— Não, meu Lorde.
— Excelente.
Malgus se afastou de Vrath e Vrath sentiu como se o ar tivesse ficado
mais fácil de respirar. Malgus se sentou em sua cadeira de comando e falou
com o Comandante Jard.
— Comandante, intensifique toda a varredura até novo aviso. Quaisquer
leituras incomuns devem ser relatadas a mim. E envie um esquadrão de
caças para colocar os olhos em todas as naves que chegam.
— A maior parte da frota de caças esta designada de outra forma, meu
Lorde.
— Use os transportes espaciais então.
— Sim, meu Lorde, — respondeu Jard.
Vrath olhou para a tela de exibição do cruzador, esperando que Zeerid
não tivesse desistido da entrega por nenhum motivo. Ou pior, que Zeerid de
alguma forma o havia derrotado na fuga para Coruscant e já tenha escapado
através do bloqueio.
Ele nunca antes se sentiu tão vulnerável.

— NÓS TEMOS QUE SALTAR saltar imediatamente atrás, Aryn.


Aryn não se preocupou em responder. Ela residia na Força, flutuava
dentro e na rede quente de linhas que conectavam todas as coisas, umas às
outras. A sua consciência se expandiu para ver e sentir tudo perto dela.
Concentrou-se em sua percepção da passagem do tempo, primeiro em como
se sentia ao passar por ele, depois em espalhar, esticar, até que pudesse
demorar um milissegundo como se fosse um momento, depois um minuto.
Para Zeerid, pareceria que ela era um borrão de movimento, existindo
simultaneamente em vários lugares. Pra ela, era como se o universo ao seu
redor tivesse se acalmado. Ela sorriu, vendo os momentos que pairavam
diante dela, cada milissegundo um longo momento em que podia pensar, em
que poderia agir. O esforço a sobrecarregou e sabia que não conseguiria
mantê-lo por muito tempo.
— Observe o escâner, — disse Zeerid, nas suas palavras uma vida
inteira na pronúncia.
Ela não olhou para o escâner. O seu corpo poderia responder mais rápido
do que qualquer máquina. Em vez disso, observou a tela de exibição. As
naves Imperiais haviam terminado a sua remoção de hidrogênio e agora
manobravam para uma formação adequada para um salto no hiperespaço, as
naves de suprimentos dentro do anel da escolta de fragatas.
Ela ficou tensa.
— Eles estão se reagrupando, — disse Zeerid. As ondas de tensão dele
se chocaram contra ela, mas as reprimiu, não permitiu que perturbassem o
seu foco.
Ela assistiu, esperou, esperou ...
Como um, as naves Imperiais começaram a se conectar na percepção
dela. Por um nanosegundo, todas pareceram se esticar até o infinito, com os
seus propulsores traseiros a cem mil quilômetros da proa da Fatman, com
as suas formas alcançando uma distância incompreensível. Ela sabia que era
ilusão, que era um truque da sua percepção causado pelo momento em que
entraram no hiperespaço parecendo congelar diante dos seus olhos.
Ela acionou o hiperpropulsor da Fatman e a noite negra do espaço ficou
azul.
— Agora, Aryn! Agora! — Zeerid disse, mas estava atrasado demais.
Eles já haviam partido.
Ela permaneceu imersa na Força enquanto a Fatman avançava pelo
hiperespaço. A agitação enlouquecedora comum diminuiu para um rastejar
de espirais e caracóis, a caligrafia do universo escrita em letras grandes em
caracteres de azul, turquesa, meia-noite e lavanda. Ela imaginou que
poderia haver significado nas linhas, uma importante revelação que pairava
diante dela, um pouco além do alcance da sua consciência.
Ela perdeu a noção da lenta passagem do tempo. Zeerid falava com ela
de vez em quando, mas as palavras dele ricocheteavam na sua percepção,
ricocheteavam sem a sua compreensão. Com o tempo, algo que disse
penetrou em sua compreensão.
— Saindo, Aryn. Esteja pronta.
Ela observou Zeerid, movendo-se em câmera lenta, puxar a alavanca que
acionava o hiperdrive.
Ela se preparou e, no momento em que o azul do hiperespaço começou a
se transformar em preto, apertou uma série de botões e interruptores que
desconectaram a Fatman, exceto pelo suporte de vida, propulsores e a
pequena quantidade de energia necessária para criar um sistema de ligação
eletromagnética.
O azul desapareceu em favor da meia-noite do espaço, e ela voltou à
percepção normal.
— Ativando propulsores, — disse Zeerid. — Muito bem, Aryn.
O suor encharcou as suas vestes, grudando-as em seu corpo. Ela se
sentia como se não dormisse há dias.
— Agora é que fica divertido, — disse Zeerid.
O cargueiro que seguia no comboio, era cinco vezes o tamanho da
Fatman, voava bem na frente deles. Haviam saltado dentro do anel de
fragatas e desapareceu tão rápido que as fragatas não tinham percebido a
chegada deles. Estavam diretamente sob um dos cargueiros, um quilômetro
abaixo da sua parte inferior, talvez menos.
À distância, a esfera de metal e duracreto de Coruscant flutuava no
espaço. O resto do comboio se espalhou diante deles. Os motores de íons do
cargueiro à direita dispararam e ele começou a sair.
— Não tão rápido, — disse Zeerid.
Ele ativou os propulsores e a Fatman cambaleou em direção ao
cargueiro até que a parte inferior dele preenchesse o campo de visão deles.
Ele começou a se afastar.
Zeerid acionou os propulsores novamente.
— Aí está, — ele disse, aproximando-se do compartimento de carga do
cargueiro. As suas mãos voaram sobre o painel de instrumentos, usando um
propulsor e depois outro para inclinar a nave, finalmente virando a Fatman
de modo que o seu lado ventral plano ficasse de frente para um ponto plano
no cargueiro Imperial. Assim que estavam próximos, Zeerid acionou um
interruptor, usando o conjunto de defletores da Fatman para formar um
campo eletromagnético. Ele desligou os propulsores e eles pararam.
— Conecte, — ele disse.
A Fatman aproximou-se mais algumas centenas de metros e então o
campo eletromagnético fez o resto, puxando-os com força contra a nave
Imperial. Aryn mal sentiu um solavanco.
— Tão suave como um beijo, — disse Zeerid, e recostou-se na cadeira.
Ele olhou para Aryn, todo sorriso, aparentemente não surpreso com o seu
sucesso. — Vamos pegar uma carona.

MALGUS SENTIU UM LAMPEJO de desconforto, a irritante pontada de agulha de


um usuário do lado da luz, a sensação estranhamente semelhante à que
sentira quando lutou contra o Mestre Zallow no Templo. A sensação durou
apenas um instante e desapareceu, deixando apenas um fantasma sensorial
em seu rastro.
— Você está bem, meu Lorde? — Jard disse.
Malgus acenou com a mão em desdém. Sentou-se na cadeira de
comando e a tela da Bravura mostrava os distantes triângulos prateados e
brancos de um comboio Imperial saindo do hiperespaço.
— Amplie o comboio, — ele disse, e a imagem cresceu o suficiente para
ver as naves, cargueiros robustos escoltados por fragatas da marinha muito
menores e mais elegantes. Ele não viu nada fora do comum.
Jard monitorava as transmissões de entrada e os registros das naves do
púlpito de comando em que estava.
— Tudo parece estar em ordem, Darth Malgus.
Malgus examinou os detalhes do comboio em seu próprio leitor de
comando. Eles carregavam suprimentos médicos, peças sobressalentes e um
contingente de soldados Imperiais. Tudo perfeitamente normal.
— Eles estão solicitando instruções de pouso, meu Lorde.
— Forneça a eles. Mas faça com que as naves fiquem de olho neles.
— Nós poderíamos atrasá-los, meu Lorde. Se você acha que algo está
errado.
— Não. Vamos colocar estes mantimentos no chão para que possam ser
distribuídos.
— Sim, meu Lorde.

ARYN E ZEERID DEBRUÇARAM-SE em seus assentos e não disseram nada, como


se o silêncio dentro da cabine pudesse de alguma forma ajudar a Fatman a
passar pelo bloqueio. Zeerid irradiava apreensão e excitação. O ângulo em
que a Fatman se conectou ao cargueiro restringiu o seu campo de visão a
setenta ou oitenta graus. O sistema entrou e saiu da visão deles, uma
pequena fatia de cada vez. O comboio estava em um vetor de aproximação
e movendo-se a menos da metade. Aryn podia ver a cauda do lado estibordo
de outro cargueiro a quinze quilômetros de distância.
— Alguém pode nos ver? — ela perguntou, com a sua voz quase num
sussurro.
— Não a essa distância, — respondeu Zeerid. — Nós parecemos apenas
parte da linha da nave. Vamos nos soltar durante a entrada atmosférica. Os
sensores deles ficarão apagados e nós iremos embora antes que tenham
conhecimento de nós. Acho que vamos conseguir, Aryn.
Ela assentiu. Ela também achava.
Os segundos se passaram, se estendendo até minutos.
— Precisamos nos aproximar, — disse Zeerid.
Um movimento perto da cauda do cargueiro próximo atraiu a atenção de
Aryn. Uma pequena nave movia-se lentamente em torno do cargueiro. A
sua configuração de três asas disse a ela que era uma nave Imperial. Ela
ficou olhando por um tempo, despreocupada, até que outra apareceu, este
cruzando sob o cargueiro.
— O que aquelas naves estão fazendo? — ela perguntou.
Ele franziu a testa.
— Não faço ideia.
Eles observaram as naves se movendo metodicamente ao longo do
comprimento e largura da cauda do cargueiro.
— Eles estão verificando o exterior dela, — disse Aryn, e sentiu o nível
de apreensão de Zeerid aumentar quando ele percebeu a mesma coisa.
— Talvez tenha sofrido danos no hiperespaço, — disse Zeerid. — Pode
ser que estejam apenas verificando aquela.
— Pode ser. — disse Aryn, e sabia que nenhum dos dois acreditava
nisso.
Zeerid pigarreou e esfregou a nuca.
— Se formos vistos, então ou corremos em direção à atmosfera e
tentamos despistar sob ela, ou pulamos no hiperespaço.
— Eu preciso chegar no planeta.
Zeerid assentiu com a cabeça.
— Eu também. Então é unânime. Vamos tentar despistar.

MALGUS ESTAVA SENTADO EM SUA CADEIRA e observava as suas naves


deslizarem ao redor dos cargueiros, como moscas de areia em banthas.
Nenhum relatou ter visto algo incomum.
Um dos oficiais subalternos em um escâner chamou o comandante Jard
para ele. Os dois conferenciaram brevemente e Jard voltou ao seu púlpito de
comando perto de Malgus.
— O que foi isso? — Malgus perguntou.
— Uma leitura anômala do Dromo, — disse Jard. — Uma assinatura
magnética incomum.
Malgus viu Vrath ficar tenso e se inclinar na direção deles.
— Pare-os e envie as naves para verificar.
— meu Lorde, pode ser apenas um mau funcionamento do motor, ruído
do escâner.
Malgus achava que não. — Faça isso, Comandante.
Jard chamou o Dromo na comunicação nave a nave. — Cargueiro
Dromo, pare imediatamente.
Ele cortou a conexão antes que o capitão do Dromo pudesse protestar e,
em seguida, despachou as naves.
— Se há alguma coisa nele, — disse Jard. — Em breve saberemos.

ARYN E ZEERID OBSERVARAM primeiro uma e depois a outra nave se afastando


do outro cargueiro e partindo em direção a eles. Zeerid praguejou quando o
seu cargueiro começou a desacelerar.
— Estamos parando? — Aryn perguntou.
Zeerid assentiu com a cabeça, lambeu os lábios.
— Acho temos que esquentar agora. Eu não quero uma nave fria quando
nos virem.
— Se você ligar os motores, os escâneres deles nos pegarão.
— Eles vão nos ver de qualquer maneira. Essas naves estão chegando.
Vamos disparar nelas e fazer a nossa fuga. Está pronta?
Aryn observou as naves diminuírem a distância entre eles. Ela assentiu.
— Pronta.
Zeerid apertou botões e acionou interruptores. A Fatman voltou à vida.

O OFICIAL DE COMUNICAÇÕES GIROU na sua cadeira.


— Senhor, comunicação segura de Darth Angral. Devo passar?
— O que as naves encontraram? — Malgus perguntou a Jard.
— Ainda não chegaram lá, meu Lorde.
Vrath virou a cabeça de lado, como se ouvisse melhor de um ouvido do
que do outro.
— Leituras anômalas simplesmente explodiram e desapareceram, —
disse o oficial de varredura.
— Desapareceram? — Perguntou Jard.
— Estou pegando outra coisa, — disse o oficial de varredura.
— Darth Malgus, — disse o oficial de comunicação. — Darth Angral
insiste que eu o coloque na linha.
— Passe a ligação. — disse Malgus irritado, e apertou o botão de
comunicação. Ele colocou um fone de ouvido sem fio em seu ouvido para
que as palavras de Angral fossem ouvidas apenas por ele.
— O que é, meu Lorde?
A voz suave de Darth Angral foi transmitida pela conexão.
— Malgus, como vai a patrulha?
— Estou no meio de algo, Darth Angral. Eu imploro que você seja
breve.
Antes que Angral pudesse responder, o oficial de varredura disse:
— Motores. Senhor, acho que há uma nave escondida na sombra do
Dromo.
— É isso aí! — Vrath disse. — São eles!
— Alerte as naves, — disse Jard. — Agora.

— MOTORES PRONTOS PARA QUEIMA, — disse Zeerid.


As naves, a talvez um ou dois quilômetros de distância, os avistaram ou
ficaram sabendo da presença da Fatman. Uma vindo à esquerda, a outro à
direita. Os propulsores da Fatman o empurraram pra fora do cargueiro.
Zeerid acionou os motores de íons e Fatman gritou pelo espaço entre as
duas naves. Ele acelerou os motores do cargueiro até o máximo e foi direto
para o próximo cargueiro.
Aryn havia voado com Zeerid muitas vezes, mas havia se esquecido de
como ele era um piloto instintivo. Parecia consultar seus instrumentos
apenas raramente, em vez disso confiando na intuição, na experiência e em
seus próprios reflexos.
Um pouco como pilotar com a Força sem a Força, ela supôs.
A Fatman girou em uma espiral enquanto se aproximava do cargueiro
mais próximo e disparava do seu exterior.
— Me dê um abraço. — murmurou Zeerid.
Aryn agarrou os apoios de braços da cadeira dela, esperando que as
linhas vermelhas dos canhões de plasma das fragatas iluminassem o céu a
qualquer momento, mas não houve fogo. Ela verificou o escâner. Nenhum
caça ainda.
— O que eles estão esperando? — ela perguntou.
Zeerid conduziu a Fatman ao longo da antepara do cargueiro, perto o
suficiente para que Aryn sentisse como se pudesse estender a mão e tocá-lo.
Ela imaginou a tripulação do cargueiro Imperial abaixando-se enquanta
Fatman zumbia sobre eles.
— Muito tráfego e estamos ficando muito perto, — ele disse, acelerando
a Fatman e passando pela ponte do cargueiro. — Eles não querem atingir as
suas próprias naves.

A VOZ DE JARD ESTAVA TENSA com urgência.


— Esse é um cargueiro Corelliano XS, meu Lorde.
Vrath assentiu com a cabeça e apontou para a tela.
— Esse é o que eu te falei, Darth Malgus. Atire nele!
Malgus usou uma rajada da força para lançar Vrath contra a parede
oposta.
— Cale a boca, — disse Malgus a ele.
— Você está falando comigo? — Angral perguntou no fone de ouvido
dele.
Malgus havia se esquecido de Angral.
— Claro que não, meu Lorde. Dê-me um momento, por favor.
Ele silenciou o fone de ouvido e olhou pra a tela. Não poderia atirar no
cargueiro no meio do comboio. Os armamentos da Bravura podem atingir
inadvertidamente uma nave Imperial. As fragatas estariam na mesma
situação. A formação deles foi projetada para impedir ataques de fora do
comboio, não ataques de dentro.
— Mantenha a nave na tela. Prossiga com toda a velocidade e ordene ao
resto do comboio que saia.
— Sim, meu Lorde. — disse Jard, e fez acontecer.
Os motores da Bravura dispararam ao máximo e o cruzador deu uma
guinada atrás do cargueiro.
Vrath se levantou, privilegiando o seu lado.
As possibilidades se desenrolaram na mente de Malgus. Com uma Jedi a
bordo, atirar no cargueiro pode minar as negociações de paz. Claro, o mero
fato de que uma Jedi estava chegando a Coruscant já minou o processo de
paz.
Malgus olhou pra a tela, observou o cruzador se aproximando do
cargueiro. Em alguns momentos, ele obteria um campo de tiro limpo.
O Império precisava da guerra para prosperar. Ele sabia disso.
Ele precisava da guerra para prosperar. Ele também sabia disso.
Ele tinha com isso o poder de, possivelmente, reacender a guerra.
Ele viu Coruscant na tela além do cargueiro e o imaginou em chamas.
A luz piscando em seu console o lembrou de que Darth Angral estava
esperando.
— Envie uma saudação ao cargueiro, — ele disse.
Jard parecia confuso.
— Duvido que eles respondam.
— Tente, Comandante.

ARYN NÃO PRECISOU consultar o visor do seu escâner para saber que as naves
do comboio estavam se afastando para dar ao cruzador e às fragatas um
campo de tiro livre. Zeerid não disse nada, apenas segurou o manche,
mexeu no painel de instrumentos e ocasionalmente consultou a leitura do
escâner. A Fatman fez uma curva fechada a direita, saltou para longe, para
o cargueiro próximo e cobriu o pequeno abismo de espaço vazio entre ele e
a próxima nave. Zeerid estava pulando ao longo do comboio, enquanto
tentava levar a Fatman para mais perto do planeta.
Mas o comboio estava começando a se separar. Os cargueiros e fragatas
se afastaram uma do outra. E acima de todos erguia-se o enorme volume do
cruzador Imperial, esperando pela sua chance de atirar.
— Estou ficando sem naves, Aryn. Temos que correr para a atmosfera.
Diante deles, a esfera brilhante do lado noturno de Coruscant pairava na
noite profunda do espaço. O sol apareceu atrás do planeta e a linha do
horizonte de Coruscant iluminou-se como se estivesse pegando fogo.
— Faça isso, — ela disse. — Não, espere. Eles estão nos saudando. Uma
holo.
— Você está brincando?
Aryn balançou a cabeça e Zeerid ativou o pequeno transmissor montado
no seu painel de instrumentos.
Um holograma de uma ponte Imperial tomou forma. A tripulação
sentada em suas estações, com as suas imagens nítidas na resolução do
holograma. Dois homens humanos estavam em primeiro plano, um era um
ruivo magro com uniforme de oficial da marinha, o outro era uma figura
alta e volumosa de um homem que usava uma capa preta pesada e cujos
olhos pareciam brilhar na luz da instrumentação da ponte. Os olhos
estudaram Zeerid com tal intensidade que o incomodou até mesmo através
do holograma. Um respirador estava agarrado ao rosto do homem, cobrindo
a boca dele. A sua pele pálida parecia cinza como a de um cadáver.
— Desligue completamente, — disse o homem alto, a sua voz tão crua
quanto uma ferida aberta. — Você tem cinco segundos.
Aryn se aproximou para ver melhor o holograma. Os olhos do homem
moveram-se de Zeerid até ela e mesmo à distância sentiu o poder dele. Ela
o reconheceu. Ele lutou na Batalha de Alderaan.
— Ele é um Sith, — disse Aryn. — Darth Malgus.
Um movimento atrás de Malgus chamou a atenção de Aryn, um terceiro
homem, baixo, braços cruzados sobre o peito. Ela e o Zeerid quase bateram
as cabeças ao olhar para o holo. Aryn o reconheceu. Zeerid também, ao que
parecia.
— Esse é o homem que nos emboscou no espaçoporto, — disse Zeerid.
— Vrath Xizor.
— Ele os alertou de que estávamos chegando.
Zeerid olhou para o holo e depois recostou-se com os olhos arregalados.
— Droga, Aryn. Esse é o mesmo homem que eu vi no Parque Karson
em Vulta.
— Onde?
— Ele sabe que eu tenho uma filha.
Malgus encarou o holotransmissor, agora escuro, no qual havia se
comunicado com o cargueiro, o cargueiro que tinha uma Jedi a bordo.
Dividido, ele pensou em Eleena, em Lorde Adraas, em Angral, no
Império imperfeito que estava se formando diante dos seus olhos e como
ficava aquém do Império como deveria ser, um Império congruente com as
necessidades da Força.
— Eles estarão longe do comboio em breve, Comandante Jard, — disse
o tenente Makk, o oficial de armas da ponte.
Malgus observou o cargueiro dançar entre as naves do comboio que
agora se separavam, tentando abraçar todas as naves que pudesse enquanto
saltava em direção a Coruscant.
Pensou que deveria derrubá-lo e esperar que a morte de uma Jedi em
Coruscant destruísse as negociações de paz e reiniciasse a guerra.
Deveria fazer isso.
Sabia que deveria.
— Acho que ele vai tentar seguir para o planeta, — disse Jard. — Por
que ele simplesmente não salta?
Os membros da tripulação da ponte balançaram a cabeça com a tolice do
piloto. Se fosse sábio, teria pulado no hiperespaço e fugido.
— A sua necessidade de chegar ao planeta supera o risco de ser abatido,
— disse Malgus, intrigado.
— Tudo isso por especiarias? — Jard disse.
— Talvez seja a necessidade da Jedi que os impulsiona.
— Curioso, — observou Jard.
— Concordo, — disse Malgus. Com dificuldade, deixou a curiosidade
assassinar a tentação. — Aproxime-se o suficiente para usar o feixe trator.
Há mais nisso do que um mero transportador de especiaria.
— Sim, meu Lorde.
Malgus bateu no fone de ouvido e reabriu o canal com Darth Angral.
— O que está acontecendo aí? — Angral perguntou, com o seu tom
perturbado.
Malgus ofereceu uma meia-verdade.
— Um transportador de especiaria está tentando passar pelo bloqueio.
— Ah, entendo. — Angral fez uma pausa e disse:
— Recebi um comunicado da nossa delegação em Alderaan.
A simples menção da delegação causou a Malgus um lampejo de raiva,
um lampejo que quase o levou a reconsiderar a sua decisão de capturar, em
vez de destruir, o cargueiro.
Angral continuou:
— Um membro da delegação Jedi deixou Alderaan sem preencher um
plano de voo e sem relatar a sua intenção a seus superiores. Os Jedi têm
motivos para acreditar que ela pode estar vindo para Coruscant. As suas
atividades não são autorizadas pelo Conselho Jedi e não deve ser tratada de
forma diferente do transportador de especiaria que você está perseguindo
agora.
— Ela? — Malgus perguntou, olhando o cargueiro na tela, lembrando-se
da mulher que vira na tela. — Esse Jedi renegado é uma mulher?
— Uma mulher humana, sim. Aryn Leneer. as ações dela, quaisquer que
sejam, não devem ser atribuídas ao Conselho Jedi ou à República. O
Imperador não quer que nada afete as negociações em andamento. Você
entende, Darth Malgus?
Malgus entendeu muito bem.
— A delegação Jedi contou a Lorde Baras sobre esta Jedi renegada?
Eles sacrificariam um dos seus para garantir que as negociações
continuassem sem problemas?
— Mestra Dar'nala em pessoa, pelo que entendi.
Malgus balançou a cabeça em desgosto. Ele sentiu uma pitada de
simpatia por Aryn Leneer. Como ele, ela havia sido traída por aqueles em
quem acreditava e servia. Claro, o que ela acreditava e servia era herético.
— Se esta Jedi tentar alcançar Coruscant e ela cair em suas mãos, você
deve destruí-la. Eu fui claro, Darth Malgus?
— Sim, meu Lorde.
O cargueiro se libertou do comboio para o espaço aberto e voou em um
caminho evasivo em direção a Coruscant. Talvez o piloto tenha pensado em
escapar na atmosfera do planeta.
— Engate o raio trator, — disse o Comandante Jard, e Malgus não
contestou a ordem.
Ele cortou a conexão com Angral.
Ele desobedeceu a uma ordem, deu o primeiro passo em um caminho
que nunca havia trilhado antes. Ele ainda não tinha certeza do porquê.

NÃO HAVIA NADA ENTRE A Fatman e Coruscant a não ser um espaço aberto, e
isso significava que o fogo estaria chegando. Aryn observou a distância até
a atmosfera do planeta diminuir em seu escâner. Ela se sentou curvada,
preparada contra o fogo de plasma que sabia que logo viria. Achou que eles
poderiam conseguir, até que a Fatman cambaleou e perdeu a metade da sua
velocidade, jogando Aryn e Zeerid para frente em seus assentos.
— O que foi isso? — Aryn disse, verificando o painel de instrumentos.
— Raio trator, — disse Zeerid, e empurrou o manche com força. A
Fatman mergulhou, com o nariz voltado para o planeta, e Aryn pôde ver o
lado noturno de Coruscant, as linhas de luz da paisagem urbana como letras
brilhantes na superfície escura.
A nave não estava acelerando. Alarmes soaram e os motores da Fatman
gritaram, lutando contra o raio trator, mas decisivamente perdendo.
O cruzador começou a puxá-los.
Amaldiçoando, Zeerid desligou os motores e o movimento reverso da
Fatman aumentou visivelmente. Através da canopi, Aryn observou as
estrelas distantes passarem por eles ao contrário. Ela imaginou a abertura da
baia de pouso do cruzador conforme se aproximavam, como uma boca que
iria mastigá-los.
Ela clareou a sua mente, pensou em Mestre Zallow, e se preparou para
enfrentar ao Lorde Sith e qualquer outra coisa que pudesse encontrar no
cruzador. Ela enfiou a mão no bolso, traçou os dedos sobre a única pedra
que trouxera de Alderaan, a pedra Nautolana da pulseira calmante que
Mestre Zallow tinha dado a ela. O toque fresco, suave disso a ajudou a
limpar a sua mente.
— Eu sinto muito, Zeerid, — ela disse.
— Eu estava vindo de qualquer maneira, Aryn. E você não me pegou.
Eu peguei você. E de qualquer maneira, não se desculpe ainda. — As mãos
dele voaram sobre o painel de instrumentos. — Nenhum raio trator Imperial
vai segurar a minha nave. Eu tenho que voltar para Vulta e para a minha
filha.
Ele aumentou a potência dos motores, embora ainda não os tivesse
acionado. A nave vibrou enquanto Zeerid aumentava a potência e segurava
um pouco antes dos coletores de troca, um rio de energia se acumulando
atrás de uma represa.
— O que você vai fazer? — Aryn perguntou, embora suspeitasse que
sabia.
— Tirando essa rolha da garrafa, — ele disse, e desviou mais potência
para os motores. Ele fez como se estivesse sacudindo uma garrafa de água
com gás. — Prenda-se com o cinto de segurança, Aryn. Não apenas na
cintura. Todos os cinco pontos.
Aryn fez isso.
— Você poderia rasgar a nave ao meio, — ela disse. — Ou os motores
podem explodir.
Ele assentiu.
— Ou podemos nos soltar. Mas para que isso funcione, preciso estar
oblíquo para arrancar no momento correto. — Ele verificou o escâner. —
Você não é tão grande, — ele disse ao cruzador.
O seu tom uniforme e mãos firmes não surpreenderam Aryn. Ele parecia
prosperar sob estresse. Ele teria sido um Jedi decente, ela imaginou.
Ela verificou a distância entre o cruzador e Fatman, a velocidade com
que o raio os puxava.
— Você tem cinco segundos, — ela disse.
— Eu sei.
— Quatro.
— Você acredita que isso é útil?
— Dois.
Ele apertou outra série de teclas e os motores zumbiram tão alto que
sobrecarregaram o alarme.
— Um segundo, — ela disse.
Em sua mente, imaginou a Fatman se partindo em dois, imaginou a ela e
o Zeerid perecendo no vácuo, a visão da morte deles e partes da Fatman em
chamas como pirotecnias enquanto abriam caminho na atmosfera de
Coruscant.
— E... lá vamos nós! — Zeerid disse.
Ele girou o manche para a esquerda no mesmo momento em que liberou
toda a potência reprimida dos motores.
O ímpeto repentino interrompeu o movimento para trás da nave e
Fatman resistiu como um rancor furioso. O metal rangeu, gritou sob o
estresse. Em algum lugar dentro da nave, algo explodiu com um silvo.
Por uma fração de segundo, a nave ficou suspensa no espaço,
perfeitamente imóvel, os motores roncando, com a sua potência em conflito
com a força do raio trator. E então a Fatman se soltou e se libertou. A
aceleração repentina pressionou a Aryn e o Zeerid contra o encosto dos seus
assentos.
Alarmes de incêndio soaram. Aryn verificou o painel.
— Incêndios no compartimento do motor, Zeerid.
Ele estava falando consigo mesmo baixinho, manuseando o manche,
observando o escâner, e pode não a ter ouvido.
— Está bem atrás de nós, — disse Zeerid.
— Entre na atmosfera, — ela disse. — Esse cruzador não tem
capacidade de manobra fora do vácuo. Podemos nos meter em algum lugar,
nos perder no trânsito do céu antes que possam despachar um caça.
— Certo, — ele disse, e bateu no manche.
A Fatman baixou o nariz e Coruscant apareceu mais uma vez,
tentadoramente perto.
A fumaça flutuava para dentro da cabine vindo da parte traseira, o cheiro
de eletrônicos queimados.
— Aryn!
— Estou cuidando disso, — ela disse, e começou a se desprender.
— Extintores químicos estão em suportes de parede em todos os
corredores.

NA TELA PRINCIPAL, Malgus observou os motores do cargueiro brilharem em


azul. A nave se soltou do laço do raio trator e mergulhou em direção ao
planeta como um tiro de blaster. Um murmúrio percorreu a tripulação da
ponte.
— Persiga, leme. — disse o Comandante Jard.
O timoneiro ligou os motores e acelerou atrás do cargueiro.
— O trator falhou, meu Lorde. — disse o Comandante Jard a Malgus,
verificando a leitura do comando. — Teremos tudo pronto novamente em
instantes.
Malgus observou o cargueiro abrir alguma distância entre eles e o
cruzador e tomou uma decisão. Ele cruzou uma linha e começou a descer
uma estrada quando engatou o feixe trator pela primeira vez. Mas ainda não
era o momento certo para prosseguir nessa estrada. Ele não podia permitir
que a Jedi, Aryn Leneer, chegasse a Coruscant, para que Angral não
percebesse os motivos em Malgus que Malgus ainda não reconhecia em si
mesmo.
— Não, — ele disse. — Eles estarão na atmosfera em um momento.
Derrube-os.
— Muito bem, meu Lorde. — Jard olhou para o oficial de armas. —
Armas liberadas, tenente Makk. — Jard olhou para Malgus. — Devo alertar
a ala de caça planetária, meu Lorde?
— Isso não deveria ser necessário, desde que o tenente Makk faça o
trabalho dele.
— Muito bem, meu Lorde.
Linhas vermelhas dos canhões de plasma da Bravura encheram o espaço
entre a nave, o fogo tão espesso que as linhas pareciam sangrar juntas em
um plano vermelho.

ARYN ESTAVA MEIO CAMINHO fora do seu assento quando uma explosão
balançou a nave.A Fatman cambaleou e Aryn caiu no chão.
— Volte ao seu lugar, — disse Zeerid. — As armas naquele
cruzador estão atirando.
Aryn subiu no seu assento e colocou o cinto na cintura. No momento em
que a fivela se encaixou no lugar, Zeerid foi evasivo. Coruscant girou na
tela enquanto a Fatman girava, rodava e mergulhava. As linhas vermelhas
de fogo de plasma iluminaram a escuridão do espaço. Zeerid foi direto para
a direita, para baixo e depois para a esquerda.
A nave adentrou na atmosfera.
— Desviar tudo, exceto os motores e suporte de vida para os defletores
traseiros.
Aryn trabalhou no painel de instrumentos, fazendo o que Zeerid
ordenou.
Outra explosão balançou a nave.
— Os defletores não vão segurar outro tiro, — ela disse.
Zeerid assentiu com a cabeça. As chamas laranja da entrada atmosférica
eram visíveis através da canopi. Disparos de plasma cortavam sobre eles,
abaixo, à esquerda. Zeerid desviou Fatman para a direita enquanto eles
desciam, arriscando uma entrada ruim que poderia queimá-los.
A fumaça na cabine ficou mais espessa.
— Máscaras? — Aryn perguntou, tossindo.
— Ali, — Zeerid respondeu, apontando para o armário da nave entre os
assentos deles. Aryn o abriu, pegou duas máscaras, jogou uma para Zeerid e
puxou a outra para si mesma.
— Você segura o manche, — disse Zeerid enquanto colocava a máscara.
Aryn agarrou o manche do copiloto e continuou a descida em espiral da
Fatman em direção a Coruscant.
Um disparo do cruzador atingiu a nave a estibordo e fez o cargueiro
girar violentamente. Aryn se sentiu tonta, doente.
— Peguei o manche. — disse Zeerid, com a voz abafada pela máscara.
Ele controlou o giro e lançou Fatman quase verticalmente na atmosfera. A
cabine ficou quente. As chamas envolveram a nave. Devem ter parecido
como um cometa cortando o céu.
— Está muito íngreme, — disse Aryn.
— Eu sei, — disse Zeerid. — Mas temos que entrar.
O fogo implacável do cruzador atingiu o cargueiro novamente, o
impacto empurrando-os através da estratosfera. As chamas diminuíram,
desapareceram e Coruscant ficou mais uma vez visível abaixo deles.
— Nós atravessamos, — disse Aryn.
Sem avisar, os motores pararam e a Fatman ficou mole no ar, girando,
caindo, mas sem força.
Zeerid praguejou e bateu com a mão no painel de instrumentos, tentando
freneticamente reacendê-los, mas sem sucesso.
— Eles ainda podem nos atingir aqui, — ele disse, e desafivelou os
cintos. — Eu não tenho nada além de propulsores. Vá para o pod de fuga.
— A carga, Zeerid.
Ele hesitou, finalmente balançou a cabeça e desabotoou as alças dela.
— Esqueça a carga. Vamos.
Ela se levantou e outro raio atingiu Fatman. Uma explosão sacudiu a
parte traseira da nave. Outra. Eles estavam caindo. Alarmes soaram. A nave
estava queimando, caindo do céu. Zeerid bateu no painel de controle para
ativar os propulsores e manter a nave no ar.
Por enquanto, pelo menos.
— ELES ESTÃO MORTOS NO AR, — anunciou o tenente Makk. — À deriva, só
com os propulsores.
O Comandante Jard olhou para Malgus em busca da ordem de morte.
Vrath também observou com interesse.
O cargueiro pairava baixo sobre a atmosfera de Coruscant. Mancava
com os propulsores, deixando um rastro de chamas dos seus motores
iônicos mortos. Eles poderiam laçá-los de volta com o trator.
— Atire neles. — ordenou Malgus.
Com o canto do olho, viu Vrath sorrir e cruzar os braços sobre o peito.

AS EXPLOSÕES NA PARTE TRASEIRA da Fatman começaram a se espalhar, as


explosões secundárias abrindo caminho em uma série de estrondos
maçantes. Eles nunca conseguiriam chegar à capsula de fuga.
Aryn ativou o seu sabre de luz.
— Segure-se em algo.
— O que você está fazendo?
— Tirando-nos daqui.
— O que?
Ela não se preocupou em explicar. Apoiando-se e segurando a alça do
seu assento, enfiou a lâmina no transparaço da canopi da cabine do piloto e
abriu um corte. O oxigênio correu para fora da cabine enquanto a pressão se
equalizava. As suas máscaras permitiam que respirassem, apesar da
atmosfera tênue. O frio assustou Aryn.
Ela usou a sua lâmina para cortar uma porta na canopi. O ar rarefeito
passou assobiando.
— Nós estamos a cinquenta quilômetros de altitude, Aryn! — Zeerid
disse, com a sua voz aumentando pela primeira vez. — A velocidade
sozinha...
Ela o agarrou pelo braço e o sacudiu para calá-lo.
— Não me solte, aconteça o que acontecer. Você entende? Não importa
o que acontecer.
Os olhos dele estavam arregalados por trás das lentes da sua máscara.
Ele assentiu.
Ela não hesitou. Conectou-se a Força, envolvendo os dois em um
invólucro protetor, e saltou para fora da nave para o ar livre.
O vento e a velocidade os puxaram para trás. Eles bateram na fuselagem
da nave e chicoteados através das chamas que saíam pelos lados. Quase no
mesmo momento, o plasma disparado do cruzador acima deles atingiu a
Fatman dorsalmente e a nave explodiu em uma bola de fogo em expansão.
A onda de choque os fez disparar loucamente pelo céu e os fez girar como
um cata-vento. Por um momento alarmante, a visão de Aryn turvou e ela
temeu perder a consciência, mas ela agarrou-se à consciência com as duas
mãos e lutou contra ela.
Zeerid estava gritando, mas Aryn não conseguia entender.
O estômago dela subiu pela sua garganta enquanto despencaram,
girando descontroladamente em direção ao planeta abaixo. A sua
perspectiva alternava loucamente de pedaços em chamas da Fatman, para
Coruscant abaixo, para o céu acima e a silhueta distante do cruzador
Imperial, para a Fatman novamente. O movimento estava puxando o
sangue da sua cabeça. Faíscas piscaram diante de seus olhos. Ela tinha que
parar de girar ou desmaiaria.
Ela fez a sua empunhadura como uma morsa em torno de Zeerid e usou
a Força primeiro para diminuir a velocidade, depois para parar o giro. Eles
acabaram de mãos dadas, passando pelas nuvens, caindo em velocidade
terminal em direção à superfície de Coruscant.

MALGUS OBSERVOU o cargueiro se desintegrar em destroços flamejantes


sobre Coruscant. Esperava que o leve toque da assinatura da Força da Jedi
se desintegrasse com ele, mas ainda a sentia.
— Amplie, — ele disse, inclinando-se para a frente na cadeira de
comando. A imagem na tela aumentou.
Pedaços de aço irregular e uma grande parte da seção dianteira da nave
queimavam no seu caminho em direção à superfície.
— Será que uma cápsula de fuga foi lançada antes da nave explodir?
— Não, meu Lorde, — Jard respondeu. — Não houve sobreviventes.
Mas havia. A Jedi, pelo menos, havia sobrevivido. Ainda podia sentir a
presença dela, embora estivesse desaparecendo com a distância, uma lasca
na pele da sua percepção.
Considerou enviar caças, um grupo de busca, mas optou por não o fazer.
Ele ainda não tinha certeza do que faria com a Jedi, mas o que quer que
fosse, ele mesmo faria.
— Muito bom, Comandante Jard. Muito bem, Tenente Makk. — Ele se
virou para Vrath. — Com você termina aqui, Vrath Xizor.
Vrath ficou inquieto mudou de posição, engoliu em seco e pigarreou.
— Você mencionou a possibilidade de pagamento, meu Lorde?
Malgus atribuiu-lhe bravura, senão outra coisa. Malgus se levantou e se
aproximou. Era vinte centímetros mais alto que Vrath, mas o homem menor
se manteve firme e manteve a maior parte do medo longe das fendas dos
seus olhos.
— Não é suficiente que tenha matado um rival e destruído a
Engespeciaria que o seu empregador desejava impedir de chegar à
superfície?
— Eu não...
Malgus ergueu uma mão enluvada.
— As disputas mesquinhas de criminosos têm pouco interesse para mim.
Vrath lambeu os lábios, endireitou-se.
— Eu trouxe uma Jedi para você, meu Lorde. Era ela no holograma.
— Então você a trouxe.
— Serei... pago, então?
Malgus o considerou friamente, e o homenzinho pareceu se retirar para
dentro de si. O medo em seus olhos se expandiu, o conhecimento de que ele
era uma presa solitária cercada por predadores.
— Eu sou um homem de palavra, — disse Malgus. — Você será pago.
Vrath soltou um longo suspiro.
— Obrigado, meu Lorde.
— Você pode levar a sua nave para o planeta. As coordenadas serão
fornecidas a você e eu irei providenciar o pagamento lá.
— E então eu posso partir?
Malgus sorriu sob o seu respirador.
— Essa é uma questão diferente.
Vrath deu meio passo pra trás. Ele parecia ter levado um tapa.
— O que isso significa? Eu... não terei permissão para partir?
— Nenhuma nave não autorizada pode deixar Coruscant neste momento.
Você permanecerá no planeta até que as coisas mudem.
— Mas, meu Lorde...
— Ou eu posso explodir a sua nave do espaço no momento em que
deixar a minha baia de pouso, — disse Malgus.
Vrath engoliu em seco.
— Obrigado, meu Lorde.
Malgus acenou para ele se afastar. A segurança o escoltou para fora da
ponte.

DEPOIS DO CAOS NA CABINE, o silêncio do outono parecia estranhamente


incongruente. Aryn ouviu apenas o sopro do vento, a batida firme do seu
coração em seus ouvidos. O medo de Zeerid era uma coisa tangível pra ela,
e isso caiu com eles.
Sentiu-se livre, eufórica e a sensação a surpreendeu. Para o leste, a
superfície de Coruscant se curvou para longe deles e o sol da manhã
rastejou sobre a linha do horizonte, banhando o planeta em ouro. A visão a
deixou sem fôlego. Sacudiu o braço de Zeerid e acenou com a cabeça para o
sol nascente. Ele não respondeu. Os olhos dele olhavam diretamente para
baixo, como ferro no ímã da superfície do planeta. Aryn se permitiu
apreciar a vista por alguns segundos antes de tentar salvar as suas vidas.
A resistência aumentou à medida que o ar rarefeito da atmosfera
superior deu lugar ao ar mais espesso e respirável da inferior. Abaixo deles,
Coruscant se transformou de uma bola marrom e preta, cruzada com
espirais de luz aparentemente aleatórias, em uma geometria distinta de
cidades bem iluminadas, estradas, vias aéreas, quadrantes e quarteirões.
Podia distinguir minúsculas formas pretas movendo-se contra a paisagem
urbana, as formigas de carros aéreos, speeders e swoops, mas muito menos
que o normal. Plumas de fumaça traçaram linhas pretas retorcidas no ar.
Grandes áreas da Cidade Galáctica estavam em ruínas, lesões escuras na
pele do planeta.
O Império deve ter matado dezenas de milhares. Mais, talvez.
O vento mudou de tom, assobiou passando pelos ouvidos dela. Ela
imaginou ter ouvido sussurros nele, a alma do planeta compartilhando a sua
dor. A sua roupa balançou audivelmente atrás dela.
Abaixo, podia distinguir mais e mais detalhes dos níveis superiores de
Coruscant: as linhas dos arranha-céus, a geometria das praças e parques, as
linhas retas e ordenadas das estradas.
Ela se deixou sentir a descida e usou a sensação para entrar na Força.
Aninhada em seu poder, reuniu a sua força. Puxou Zeerid em sua direção.
Sem resistir, ele se sentiu mole como um boneco de pano nas mãos dela.
Ela o puxou para si, colocou os braços e as pernas em volta dele.
— Prepare-se, — ela gritou no ouvido dele. — Acene se você entendeu.
A cabeça dele balançou uma vez, tensa e rápida.
Os prédios abaixo ficaram maiores, mais definidos. Eles desceram em
direção a uma grande praça, um trapézio plano de duracreto com suas
espátulas estratosféricas ancorando cada um de seus cantos.
— Vou diminuir a nossa velocidade, — ela gritou. — Mas ainda vamos
bater com alguma força. Eu vou liberar você antes de batermos. Tente rolar
com o impacto.
Ele assentiu com a cabeça novamente.
Ela abaixou a cabeça, inclinou o corpo e tentou usar a resistência do
vento para criar algum movimento leve para a frente, em vez de totalmente
para baixo. O chão correu para encontrá-los.
Passaram pelo anel de arranha-céus, despencando pelos telhados,
janelas, varandas. Dada a hora, duvidava que alguém tivesse visto a descida
deles.
Ela se conectou a Força, canalizou o poder em uma ampla coluna abaixo
deles. Conceptualizou o poder como algo semelhante ao que usaria ao
aumentar um salto, exceto que, em vez de uma onda repentina de poder
para impulsioná-la para cima, usou o poder de uma forma mais gentil e
passiva. Ela o imaginou como um balão, macio e flexível no início, mas
oferecendo uma resistência cada vez maior à medida que caíam mais fundo
nele.
Eles diminuíram e Zeerid mudou de abraço nela. Possivelmente ainda
não acreditava nisso.
A pressão cresceu atrás dos olhos de Aryn, uma dor se formou em sua
cabeça.
O balão do seu poder os desacelerou ainda mais. Podia ver os bancos na
praça, uma fonte. Podia distinguir janelas individuais nos arranha-céus ao
redor deles. Estavam a quinhentos metros de altura e ainda caindo rápido.
A pressão em seu cérebro se intensificou. A sua visão ficou turva. A dor
em sua cabeça se tornou uma punhalada de dor. Ela gritou, mas aguentou
firme.
Quatrocentos metros. Trezentos.
Eles diminuíram ainda mais a velocidade e Aryn temeu não aguentar
mais.
Duzentos.
Um segundo se estendeu por uma eternidade de dor e pressão. Ela
pensou que deveria explodir.
— Aguente aí, Aryn! — disse Zeerid, com a sua voz abafada pela
máscara. Ele estava rígido nos braços dela.
Cinquenta metros.
Eles ainda estavam indo rápido demais.
Vinte, dez.
Ela cavou fundo, retirou todo o poder que pôde e o gastou em um tiro
final, uma expulsão de poder que interrompeu inteiramente a queda deles
por um momento. Eles pairaram no ar por uma fração de segundo,
suspensos apenas pelo poder invisível da Força e pela capacidade de Aryn
de usá-lo.
E então estavam caindo livres.
Ela soltou Zeerid e os dois atingiram o duracreto primeiro com os pés, o
choque do impacto enviando choques de dor até os tornozelos e panturrilhas
de Aryn. Ela conduziu o impulso da queda em um giro que tirou o seu ar e
arrancou um pedaço de pele do seu couro cabeludo.
Mas estava viva.
Ela ficou de quatro, todos os músculos gritando, as pernas tremendo, o
sangue escorrendo do seu couro cabeludo. Ela arrancou a máscara.
— Zeerid!
— Estou bem, — ele respondeu, com a sua voz tão crua quanto couro
velho. — Eu não acredito nisso, mas estou bem.
Ela caiu de volta no duracreto, rolou de costas e olhou para a luz do
amanhecer se espalhando pelo céu. As nuvens compridas e finas, pintadas
com a luz do amanhecer, pareciam veios de ouro. Ela simplesmente ficou
lá, exausta.
Zeerid se arrastou até ela, xingando de dor o tempo todo. Ele tirou a
máscara e se deitou de costas ao lado dela. Eles olharam para o céu juntos.
— Alguma coisa quebrada? — Perguntou a ele.
Ele se virou pra olhar pra ela, balançou a cabeça e olhou para o céu.
— Se sairmos disso, vou me tornar um fazendeiro em Dantooine. Eu
juro.
Ela sorriu.
— Eu não estou brincando.
Ela segurou o seu sorriso; ele começou a rir, mais alto, e a risada se
transformou em uma gargalhada.
Ela não pôde evitar. Um largo sorriso dividiu o seu rosto, seguido por
uma risada, e então se juntou a ele por completo, os dois rindo
histericamente no céu do amanhecer de um novo dia.

AS MÃOS DE VRATH SUAVAM no manche da Navalha. Apesar de Malgus


pretender ser um homem de palavra, Vrath tinha certeza de que o cruzador
Imperial atiraria nele no espaço depois que saísse da baia de pouso. Por um
momento, considerou desviar-se mais profundamente do sistema,
acelerando totalmente para sair do poço de gravidade de Coruscant, e então
pular para o hiperespaço, mas não achou que conseguiria.
O mais importante, temia que, mesmo que conseguisse, Malgus iria
caçá-lo por princípio. Vrath sabia que Malgus faria isso porque Vrath teria
feito o mesmo. Ele olhou nos olhos do Lorde Sith e viu a mesma
implacabilidade que tentou cultivar em si mesmo. Ele não iria contrariar
Malgus.
Ele deixou o piloto automático da nave navegar nas coordenadas
fornecidas a ele pela Bravura na atmosfera de Coruscant. Isso o colocaria
em um dos portos espaciais menores da Cidade Galáctica, provavelmente
um comandado por soldados Imperiais.
Logo, o espaçoporto o chamou e enviou as instruções de pouso. Ele as
confirmou e recostou-se na cadeira.
Resolveu que não deixaria a Navalha assim que pousasse em Coruscant.
Não queria mais interação com os conquistadores Imperiais. Queria apenas
esperar até que as negociações de paz em Alderaan fossem concluídas, por
mais tempo que isso pudesse levar, e então sairia de Coruscant.

MALGUS SABIA QUE ARYN LENEER havia de alguma forma sobrevivido à


destruição da sua nave e suspeitava que havia sobrevivido à descida para a
superfície de Coruscant. Não queria que Angral soubesse da fuga dela. Esse
conhecimento seria... prematuro.
Ele precisaria rastreá-la. Para fazer isso, ele precisava determinar por
que ela havia retornado a Coruscant em primeiro lugar.
— Eu estarei nos meus aposentos, — ele disse ao comandante Jard.
— Se alguma coisa exigir a sua atenção, eu o alertarei imediatamente.
Quando chegou aos seus aposentos, encontrou Eleena dormindo. Os
blasters dela, enfiados em seus coldres, estavam na cama ao lado dela. Ela
dormia com uma das mãos sobre eles. Ele observou a constante ascensão e
queda do peito dela, o meio sorriso que usava mesmo enquanto dormia.
Havia tirado a tipoia do braço.
Olhando-a, reconheceu para si mesmo que se importava com ela.
Profundamente.
E isso, ele sabia, era a sua fraqueza.
Ele a olhou e pensou na serva Twi'lek que assassinou na juventude...
Percebeu que os seus punhos estavam cerrados.
Balançando a cabeça, fechou a porta do quarto em que Eleena dormia e
ligou o computador portátil na sua mesa de trabalho. Queria saber mais
sobre Aryn Leneer, então conectou a vários bancos de dados Imperiais e
inseriu o nome dela.
A foto dela apareceu primeiro. Ele estudou a imagem dela, os seus
olhos. Ela o lembrava de Eleena. Mas parecia diferente da mulher que tinha
visto na tela de vídeo na ponte da Bravura. A mudança estava nos seus
olhos. Ficaram mais duros. Algo aconteceu com ela nesse ínterim.
Ele percorreu o arquivo.
Ela era uma empática na Força, ele viu. Uma órfã de Balmorra, levada
para a academia Jedi enquanto criança. Foi mais fundo no arquivo e lá
encontrou a motivação dela.
Uma foto do Mestre Ven Zallow projetava-se pra fora da tela, pra
Malgus, um fantasma de um dia de idade.
Aryn Leneer tinha sido a Padawan do Mestre Zallow. Zallow a criou
desde a infância.
Ele rolou de volta para a imagem de Aryn. Naquela época, os seus olhos
verdes não tinham astúcia, nem poder. Ele percebeu, olhando pra ela, que
ela estava muito aberta à dor. A sua empatia com a Força teria apenas
aumentado a sua sensibilidade.
Ele se recostou na cadeira.
Ela sentiu o seu Mestre morrer, sentiu Malgus enfiar a sua lâmina nele.
Isso foi o que a mudou, mudou tanto que abandonou a sua Ordem e
correu através do espaço para Coruscant.
Por quê?
Ele viu o leve reflexo do seu próprio rosto na tela do computador,
sobreposto ao dela. Com os seus olhos, escuros e profundos nas cavidades
pretas de suas órbitas. Os olhos, verdes, suaves e gentis dela.
Mas não mais.
Eles eram iguais, percebeu. Ambos haviam amado e o amor deles lhes
trouxe dor. Em um lampejo de compreensão, soube por que ela tinha vindo
para Coruscant.
— Ela está procurando por mim, — ele disse.
Ela não saberia que estava procurando por ele porque não tinha como
saber quem matou o Mestre dela. Mas tinha ido a Coruscant para descobrir,
para vingar Zallow.
Onde ela iria primeiro?
Achava que ela sabia.
Inspirou profundamente e bateu com o dedo na borda da mesa.
Ela o estava caçando. Ele a admirava por isso. Parecia muito... diferente
de um Jedi.
Claro, Malgus não ficaria ocioso enquanto ela o procurava.
Ele iria caçá-la.
Um esquadrão de seis caças Imperiais, interceptors de asa dobrada,
zuniu no alto, o zumbido dos seus motores abafando e estrangulando as
risadas de Zeerid e Aryn. Os painéis curvados das asas dos caças formavam
parênteses em torno da fuselagem central.
— Isso não parece certo. — disse Zeerid. — Naves Imperiais sobre
Coruscant.
— Não. — disse Aryn. — Não parece.
Zeerid olhou mais alto no céu, tentando localizar qualquer sinal da sua
nave destruída. Ele não viu nada. A Fatman o serviu bem e quase os afastou
do cruzador.
Ele sorriu, pensando que os viciados em Engespeciaria de toda
Coruscant logo sofreriam abstinência. Mas depois de alguns dias de tortura,
teriam liberdade, se quisessem.
Zeerid também sentiu uma sensação peculiar de liberdade. Ele não
entregou a especiaria. Isso o agradou. De certa forma, o Império o libertou
de sua esteira, destruiu-a em uma saraivada de fogo de plasma.
Claro, A Permuta tentaria matá-lo. Ele teria que enfrentar isso.
— O que você está pensando? — Aryn perguntou.
— Estou pensando em Arra. — ele respondeu, enquanto o peso da sua
situação sobrecarregava o alívio que sentia por sobreviver a uma queda de
cinquenta quilômetros.
O homem que estava ao lado do Lorde Sith na ponte do cruzador era o
mesmo homem que Zeerid vira no Parque Karson em Vulta, o mesmo
homem que liderou a emboscada contra ele e Aryn no espaçoporto.
Vrath Xizor, Oren o havia nomeado.
Vrath sabia sobre Arra e Nat.
E se Vrath decidisse por algum motivo compartilhar essas informações
com A Permuta, Oren ordenaria mais do que apenas a morte de Zeerid. Eles
fariam dele e da sua família um exemplo.
Ele se sentou com um grunhido.
— Eu tenho que voltar pra Vulta. Agora.
Aryn se sentou ao lado dele. Ela deve ter sentido o medo nele.
— Por causa do homem no cruzador?
Zeerid assentiu com a cabeça.
— Ele sabe sobre Arra.
— Eu não entendo o porque...
— Ninguém no meu... trabalho sabe que tenho uma filha, Aryn. Eles a
usariam contra mim se soubessem dela. A machucariam. Mas agora ele
sabe. Ele me viu no parque com ela. Falei com ele. — Ele colocou o rosto
nas mãos.
Aryn colocou a mão nas costas dele.
— Zeerid…
Ele sacudiu a cabeça e se levantou.
— Eu tenho que voltar.
— Como?
Ele balançou a cabeça.
— Eu não sei, mas eu estou indo. Eu devo a você por me salvar. Eu não
vou esquecer disso, mas...
Ela ergueu a mão.
— Espere. Apenas espere. Pense bem, Zeerid. Eles não vão deixá-lo
sair, este homem que sabe sobre a sua filha. Ninguém saiu de Coruscant
desde o ataque. E ninguém o fará até que as negociações de paz sejam
concluídas e a disposição do planeta decidida. Eles vão mantê-lo no
cruzador ou pousá-lo no planeta. Ele não vai a lugar nenhum.
Zeerid considerou as palavras. Elas faziam sentido. O seu coração
continuou a bater, mas mais lento.
— Você acha que ele está aqui.
— Possivelmente. Talvez até provável. Mas não está voltando para
Vulta, pelo menos não ainda.
Zeerid sabia que Vrath já poderia ter contado a outra pessoa sobre Arra,
mas achou improvável. Ninguém dava vantagem. Era como dar créditos.
Não, Vrath manteve isso para ele mesmo. Talvez para vender para A
Permuta, talvez para usar mais tarde. Mas ele não tinha usado ainda. Ele
teve que chegar a Coruscant partindo de Vulta muito rápido. Ele deve ter
partido imediatamente após a emboscada.
— Por que ele não usou Arra contra você em Vulta? — Aryn perguntou.
— Poderia ter te forçado a entregar a carga.
Zeerid não sabia.
— Talvez ele tivesse. Talvez fosse na escada do complexo de
apartamentos ontem. Talvez o tenhamos assustado. Ou talvez ele não
tivesse tempo. Ele teve que me seguir para garantir que pudesse localizar a
especiaria. Se tivesse agarrado Arra, poderia ter me perdido, ou eu poderia
ter voado com a especiaria sem nunca saber que ele a tinha.
Aryn não disse nada enquanto Zeerid deixava os seus pensamentos
vagarem pelo espinheiro do submundo do crime.
— Talvez simplesmente não machucasse uma criança. — disse Aryn.
— Talvez. — disse Zeerid, mas não acreditou. Ele não conheceu muitos
criminosos que operavam com qualquer tipo de código de ética.
— Escute — disse Aryn. — Vou ajudá-lo a sair do planeta ou encontrá-
lo aqui. Mas primeiro preciso chegar ao Templo.
— Você veio aqui para matar alguém, Aryn. Eu não posso perder tanto
tempo.
O rosto dela corou, e ele viu uma batalha interna acontecendo atrás dos
olhos dela.
— Eu posso apenas identificá-lo. — Ela disse isso como se estivesse
tentando se convencer. — Posso encontrá-lo outra hora. Mas devo saber o
nome dele. Esta pode ser a minha única chance. — Ela soltou um suspiro
profundo. — Eu gostaria de receber a sua ajuda.
— Fui realmente muito útil até agora. — ele disse.
— Você me trouxe aqui.
— Eu nos explodi do espaço.
— E ainda assim aqui estamos.
— E aqui estamos.
— Deixe-me pegar um nome e então vou ajudá-lo a sair do planeta. De
acordo?
Ele se decidiu e assentiu.
— Tudo bem, estou com você, mas temos que fazer isso rápido.

MALGUS ESPEROU ELEENA ACORDAR, com a sua mente movendo-se através


das possibilidades, ainda tentando formar um círculo. Estava começando a
pensar que isso não poderia ser feito.
Eleena saiu do quarto de dormir dos aposentos dele, mal coberta por
uma camisa leve e as suas roupas íntimas. Como sempre, a beleza dela o
impressionou, a graça dos seus movimentos. Ela sorriu.
— Quanto tempo eu dormi?
— Não muito. — ele respondeu.
Ela serviu chá para os dois e sentou-se no chão perto dos pés dele.
— Eu tenho uma coisa que preciso que você faça. — ele disse.
— Diga.
— Você levará vários transportes espaciais a Coruscant. Dez membros
da minha equipe de segurança, soldados Imperiais, irão acompanhá-la.
Na cabeça dele, já havia escolhido os homens, o esquadrão de Kerse ,
homens em cuja discrição sabia que podia confiar. Ele continuou:
— Vou te dar uma lista.
Ela tomou um gole de chá e encostou a cabeça na panturrilha dele.
— O que estará nesta lista?
— Nomes e locais, principalmente. Alguma tecnologia e a sua
localização.
Ele tinha puxado tudo do banco de dados Imperial enquanto dormia.
— O que você quer que eu faça?
— Encontre tudo e todos que puder nessa lista e traga para esta nave.
Ela se endireitou no assento e olhou para ele. A pergunta estava nas
piscinas dos olhos dela.
— As pessoas serão feitas prisioneiras. — ele disse. — A tecnologia
confiscada como espólios de guerra.
A pergunta não saiu dos seus olhos. Ela deu voz a isso.
— Por que eu, amado? Por que não um de seus Sith?
Ele passou a mão sobre o lekku esquerdo dela, e ela fechou os olhos de
prazer.
— Porque eu sei que posso confiar em você. — ele respondeu. — Mas
ainda não tenho certeza em quem mais posso confiar. Não até que as coisas
progridam um pouco mais.
Ela abriu os olhos e se afastou dele. A preocupação vincou a sua testa.
— Progredir mais? Você está em perigo?
— Nada com que eu não possa lidar. Mas preciso que você faça isso.
Ela se recostou nele, o braço dela envolto nas pernas dele.
— Então eu farei isso.
O cheiro dela nublou os pensamentos dele e lutou por clareza.
— Não conte a mais ninguém sobre isso. Relate isso apenas como uma
transferência de carga de rotina.
— Eu vou. Mas... por que você está fazendo tudo isso?
— Estou simplesmente tomando precauções. Vá, Eleena.
— Agora?
— Agora.
Ela se levantou, se curvou e beijou primeiro a bochecha esquerda dele,
depois a direita.
— Eu vou te ver em breve. O que vai fazer enquanto eu estiver fora?
Ele iria desobedecer às ordens de Angral mais uma vez e voltar para
Coruscant.
— Eu vou caçar.

O CHEIRO DE FUMAÇA e plastóide derretido pairava espesso no ar. Aryn e


Zeerid seguiram a pé pelas ruas e passeios automáticos de Coruscant. Aryn
estava ciente do fato de que nível após nível da paisagem urbana se estendia
até as profundezas abaixo dela. Ela percebeu que nunca havia pisado em
terra firme em Coruscant. Não de verdade. Em vez disso, ela, como tantos
outros seres, simplesmente percorria a rede de passarelas e ruas de
duracreto no nível da superfície, sem se dar conta da maior parte do que
acontecia nos níveis inferiores. Viveu no planeta por décadas, mas não o
conhecia bem.
O sol puxou-se para o céu, lentamente, como se não quisesse revelar a
ruína. Os olhos dela pousaram em um skyrise distante e isolado que se
inclinava precipitadamente para um lado, o ataque tendo o danificado a sua
base. Isso, como toda Coruscant, como toda a República, havia sido tirado
dos eixos.
À distância, os pontos pretos de alguns carros aéreos e speeders
povoaram o céu da manhã. Sirenes soaram de algum lugar, equipes de
resgate ainda vasculhando os destroços, retirando vivos e mortos das ruínas.
Coruscant estava voltando à vida para outro dia, um dia depois de tudo
ter mudado.
Enquanto viajavam, encontraram pilhas de entulho, ruas inundadas por
tubulações de água rompidas, válvulas quebradas cuspindo gás ou
combustível. Era como ver vísceras sangrando, as entranhas do planeta.
Uns poucos rostos os olhavam por trás das janelas ou de varandas bem
acima, a incerteza e o medo nos olhos deles, o efeito colateral esperado de
uma guerra inesperada, mas eles viram muito menos pessoas do que Aryn
poderia ter imaginado. Ela se perguntou se muitos haviam fugido para os
níveis inferiores. Talvez o dano tenha sido menos severo lá. Nesse caso, os
subníveis deviam estar lotados.
Conforme a manhã avançava, um número crescente de veículos enchia o
céu. Naves médicas e de resgate passaram gritando. Swoops e speeders,
levando um ou dois condutores para sabe-se lá onde passavam por cima
deles.
Devido ao seu senso empático, Aryn sentiu o pavor no ar como algo
tangível, uma mortalha que pairava sobre todo o planeta. Isso a afetava,
pesava sobre ela. As torres de duracreto e transparaço pareciam prestes a
cair sobre ela. Sentia-se curvada, tensa em antecipação a um golpe. O pavor
era onipresente, um planeta inteiro com bilhões de pessoas projetando
emoção crua no ar.
Não podia bloqueá-los. Não queria bloqueá-los. Os Jedi haviam falhado
com eles. Merecia sentir o que eles sentiam.
— Aryn, você me ouviu? Aryn?
Ela voltou a si para ver Zeerid parado ao lado de uma speeder Armin
com a capota aberta. Ele estava apenas estacionado lá no meio da rua. O
rosto dele se contorceu de preocupação quando viu a expressão dela. A
barba desgrenhada e olhos grandes o faziam parecer um fanático religioso.
— Você está bem? — ele perguntou. — O que há de errado?
— Nada, estou bem. É só... o medo está em toda parte. O ar está cheio
dele.
Zeerid assentiu com a cabeça, os seus lábios pressionados juntos e
formando uma linha suave de simpatia.
— Lamento que você tenha que sentir isso, Aryn. Todos em Coruscant
sabem o que o Império fez com alguns mundos conquistados. Mas se
fossem fazer isso aqui, acho que já teriam feito.
— Faz apenas um dia. — disse Aryn, mas ainda esperava que estivesse
certo.
Um esquadrão de caças Imperiais voou alto, o zumbido inconfundível
dos seus motores cortando o silêncio da manhã.
Zeerid subiu no speeder, esvaziou o compartimento de mantimentos
dele; quatro barras de proteína, um par de macrobinóculos e duas garrafas
de água. Ele jogou uma barra e uma garrafa para Aryn.
— Coma. Beba. — ele disse, e se abaixou sob o painel de controle.
— O que você está fazendo? — Aryn perguntou a ele. Ela engoliu a
água para tirar a poeira da sua garganta, então tirou a embalagem da barra e
comeu.
O motor da speeder ganhou vida e Zeerid saiu de baixo do painel de
instrumentação.
— Vou pegar este speeder. Não podemos andar todo o caminho até o
Templo Jedi. Suba. — Ele deve ter lido a expressão no rosto dela. — Não é
roubo, Aryn. Está abandonado. Vamos.
Ela subiu e prendeu-se no assento. Zeerid lançou o Armin para o céu.
Eles fizeram um progresso rápido. Havia pouco tráfego. Zeerid voou a
uma altitude de cerca de meio quilometro. Por um tempo, Aryn olhou pra
fora e pra baixo em Coruscant, mas os edifícios em ruínas, as fogueiras sem
chama e os buracos negros na paisagem urbana a desgastaram até que tudo
começou a parecer o mesmo. Quando percebeu que tinha se acostumado
com a visão da destruição, recostou-se na cadeira e olhou pelo para-brisa
para o céu cheio de fumaça.
— O Templo está à frente. — disse Zeerid, dando a volta. — Lá.
Quando viu, o seu coração afundou. Um buraco se abriu em seu
estômago e sentiu como se estivesse caindo. Estendeu a mão para a barra de
segurança e segurou-a com força, para não cair.
— Sinto muito, Aryn. — disse Zeerid.
Aryn não tinha palavras. O Templo, o santuário Jedi que durou milênios,
foi reduzido a uma montanha de pedra fumegante e aço. A destruição
causada pelos Sith em Coruscant geralmente a deixava com dor. A
destruição do Templo a deixou destruída. Ela tinha que se lembrar de
respirar. Não conseguia tirar os olhos dele.
Zeerid a alcançou através da speeder e segurou a mão dela. Ela fechou
os dedos em torno dos dele e se segurou como se estivesse afundando e ele
fosse um anel de vida.
— Não acho que devemos descer, Aryn. Nenhum cartão de dados
sobreviveu a isso.
— Voe mais perto, Zeerid.
— Você tem certeza?
Ela assentiu com a cabeça e ele levou a speeder para ver melhor. Fumaça
vazava por entre as pedras enegrecidas. Os restos das torres estavam
espalhados em pedaços pelas ruínas do templo principal, como se tivessem
se dobrado sobre ele.
Colunas quebradas se projetavam das ruínas como ossos quebrados.
Aryn se preparou para corpos, mas felizmente não viu nenhum. Em vez
disso, ela viu pedaços quebrados de estátuas aqui e ali, os restos irregulares
dos cadáveres de pedra dos antigos Mestres Jedi.
Milhares de anos de história honrosa reduzidos em um dia a pó, cinzas e
ruínas por bombas Imperiais. As fogueiras durariam dias, nas profundezas
da pilha. A perda a inundou, mas ela estava seca demais para chorar.
Quão maravilhosa e terrível, ela pensou, era a capacidade da mente de
absorver a dor.
Zeerid não soltou a mão dela, nem ela a dele.
— Se o seu Mestre estava aqui quando as bombas atingiram, então ele...
ele morreu na explosão. E foi apenas algum piloto Imperial anônimo, Aryn.
Não há ninguém para você encontrar, ninguém para você caçar.
Ela estava balançando a cabeça antes que ele terminasse de falar.
— Ele não morreu em uma explosão.
— Aryn...
Ela soltou a mão dele, e um pouco da dor e da raiva que sentiu aguçou o
seu tom.
— Eu senti isso, Zeerid! Eu o senti morrer! E não foi uma explosão de
bomba. Foi um sabre de luz. Bem aqui.
Ela tocou o seu abdômen, e a memória da dor que sentiu quando Mestre
Zallow morreu a fez estremecer.
O braço e a mão de Zeerid ainda esticados através do assento em direção
a Aryn, mas ele não a tocou.
— Eu acredito em você. De verdade.
Ele circulou as ruínas em silêncio.
— E agora?
— Eu preciso descer.
— Isso não é uma boa ideia, Aryn.
Ele provavelmente estava certo, mas queria tocá-lo, ficar entre os
escombros. Ela lutou contra o impulso e tentou reprimir as suas emoções
com o pensamento, a razão.
— Não, não desça. Existe outra maneira de entrar.
— Não há nada de pé.
— O Templo se estende pelo subsolo. Uma das salas onde o backup da
vigilância é armazenado é bastante profunda. Pode ter sobrevivido à
explosão.
Zeerid parecia querer protestar, mas não o fez. Aryn estava grata a ele
por isso.
— Onde fica a outra entrada?
— Através de As Fábricas — respondeu Aryn.

O TRANSPORTE ESPACIAL PRIVADO DE MALGUS o levou até a superfície de


Coruscant. Eleena e a sua equipe haviam deixado o Bravura em um
comboio de três naves uma hora antes. Já estariam fazendo a missão deles.
Estava sentado sozinho, o ruído constante do seu respirador era o único
som no compartimento. Olhando para o seu reflexo na janela de transparaço
da nave, tentou organizar os seus pensamentos.
Ideias loucas ricocheteavam em seu cérebro, pensamentos que não
ousava se agarrar por medo de onde eles o levariam.
Sabia apenas uma coisa com certeza, Angral estava errado. O Conselho
Sombrio estava errado. Talvez até mesmo o Imperador estivesse errado. A
paz era um erro. A paz faria com que o Império caísse em decadência,
assim como a República. A paz faria com que os Sith se tornassem fracos
na sua compreensão da Força, assim como os Jedi. O saque de Coruscant
foi a prova dessa decadência, dessa fraqueza.
Não, a paz era atrofia. Somente por meio do conflito o potencial pode
ser atingido.
Malgus entendeu que o papel da República e dos Jedi era meramente
servir como a pedra de amolar contra a qual o Império e os Sith se afiariam,
tornando-se mais letais.
A paz, se viesse, iria entorpecê-los.
Mas, embora Malgus soubesse que o Império precisava da guerra, ainda
não tinha decidido como fazê-la acontecer.
— Entrando na atmosfera, meu lorde. — disse o seu piloto.
Ele observou o fogo da entrada atmosférica envolver a nave e ponderou
sobre algo que lembrou do seu tempo na Academia Sith em Dromund Kaas.
Foi dito que os antigos Sith de Korriban purgaram os seus corpos com
fogo, aprenderam a ter força através da dor, encorajaram o crescimento
através da destruição.
Havia sabedoria nisso, Malgus pensou. Às vezes, algo não pode ser
consertado. Em vez disso, isto tem que ser destruído e refeito.
— Refeito. — ele disse, com a sua voz áspera através do respirador. —
Destruído e refeito.
— Darth Malgus. — disse o piloto pelo comunicador. — Para onde devo
voar com você? Eu não tenho um plano de voo.
O fogo da reentrada havia se apagado. A fumaça em Malgus estava
crescendo e transformando em chamas. A presença inesperada de Aryn
Leneer o levou a um caminho que deveria ter trilhado há muito tempo.
Estava grato a ela por isso.
Abaixo, a paisagem urbana de Coruscant, marcada e fumegante aqui e
ali por causa das bombas Imperiais, apareceu.
— O Templo Jedi. — ele respondeu. — Circule a cem metros.
No mínimo, logo teria a sua própria guerra pessoal. Aryn Leneer fora a
Coruscant procurando por ele. Ele voltou à procura dela.
Eles se encontrariam na sepultura dos escombros da Ordem Jedi.

ARYN APONTOU pelo para-brisa para um enorme prédio de duracreto e aço


que poderia abrigar dez estádios de atletismo. O pico da cúpula tinha várias
centenas de metros de altura, e as inúmeras torres de ventilação e chaminés
que se projetavam da sua superfície pareciam um matagal de lanças. Nem
uma única janela maculou a fachada de metal e duracreto.
— As Fábricas. — disse Aryn. — Ou pelo menos um dos aglomerados.
Pouse lá.
Enquanto Zeerid descia a speeder, Aryn olhou para trás, sobre a
paisagem urbana, orientando-se para a posição relativa do Templo Jedi. Ela
não podia ver as ruínas reais da sua localização, o terreno intermediário as
bloqueava, mas ela podia ver as colunas de fumaça.
A imagem do templo em ruínas ainda assombrava a sua memória.
Zeerid colocou o speeder no topo de uma estrutura de estacionamento
próxima. Alguns outros veículos compartilhavam a estrutura. Um único
speeder e dois swoops, ambos tombados para os lados, foi tudo o que Aryn
viu.
— Onde está todo mundo? — Zeerid perguntou.
— Escondendo-se nos níveis mais baixos, talvez. Permanecendo em
casa.
Embora parecesse uma vida inteira, o ataque acontecera apenas um dia
antes. A população ainda estava em choque, talvez se escondendo, juntando
os pedaços que podiam.
Eles pegaram um elevador e seguiram por uma esteira automática até o
aglomerado das Fábricas. Um grande portão e uma estação de segurança
permitiam a entrada através das paredes de duracreto de dez metros.
Enquanto o portão permanecia fechado, a estação de segurança estava
vazia. Normalmente, teria sido bem guardado. Aryn e Zeerid subiram e
passaram sem serem contestados.
A gigantesca estrutura do aglomerado, maior até do que um cruzador da
República, surgiu diante deles.
Zeerid sacou um blaster do seu coldre de quadril, depois puxou outro de
um coldre escondido na parte inferior das costas e o ofereceu a Aryn. Ela
recusou.
— Pensei em perguntar. — disse Zeerid. — Esse sabre de luz não faz
muito por você em vinte metros.
— Você ficaria surpreso. — ela respondeu.
As portas duplas em arco que davam entrada pareciam algo de um
antigo castelo Alderaaneano construído por titãs. Elas eram enormes. O
caça estelar Raven de Aryn poderia ter voado através delas.
— A energia ainda está ligada e os controles ainda estão ativos. — disse
Zeerid, examinando o console nas portas.
Aryn digitou um código no console que aprendera anos antes.
Em algum lugar engrenagens invisíveis giraram, os gemidos de gigantes
e as portas começaram a subir.
As portas se abriram e eles entraram, caminhando por corredores vazios
que cheiravam a graxa e levemente a queimado. O piso de metal vibrou sob
os pés deles, os roncos de alguma fera mecânica enorme e invisível. O
tremor aumentou à medida que eles se aprofundaram no complexo. Em
algum lugar, metal moendo contra metal.
Eles seguiram pelo largo corredor principal através do qual entraram e se
moveram por uma rede de corredores e escritórios dimensionados não para
veículos, mas para sencientes.
— Eu nunca tinha visto o interior de um aglomerado. — disse Zeerid. —
Não há muito para ver. Onde estão todos os mecanismos?
Aryn o conduziu por uma série de postos de segurança desertos até
chegarem a um conjunto de portas à prova de som que se abriam para a
câmara central sob a cúpula.
PROTETORES DE OUVIDO E CAPACETES SÃO NECESSÁRIOS ALÉM DESTE PONTO
PARA TODOS OS NÃO DROIDES estava em uma placa na porta.
Ela abriu as portas e o som saiu rapidamente: o clangor rítmico de metal
raspando, o chiado de ar e gás ventilados, o zumbido discordante de
centenas de motores e bombas enormes, os bipes e assobios de droides de
manutenção.
Os braços de Zeerid caíram frouxos ao seu lado. A sua boca ficou
aberta.
As Fábricas eram difíceis de compreender todas de uma vez. A própria
câmara central tinha vários quilômetros de diâmetro e centenas de metros
de altura. O piso em camadas e uma rede de escadas e elevadores de gaiola
faziam com que tudo parecesse a versão de um artista industrial louco sobre
uma colmeia de insetos. Aryn sempre se sentia miniaturizada quando a via.
Parecia feito para uma raça alienígena dez vezes maior que os humanos:
engrenagens tão grandes quanto caças estelares, canos largos o suficiente
para voar com uma speeder, mecanismos individuais que iam do chão ao
teto, correntes e cintos de centenas de metros de comprimento. Centenas de
droides corriam, rolavam e caminhavam entre os mecanismos, verificando
medidores, leituras, fazendo manutenção de equipamentos, engraxando
mecanismos. O som era opressor, uma cacofonia industrial ensurdecedora.
Comparado com a tecnologia avançada aparente em outras partes de
Coruscant, com as suas linhas elegantes, designs compactos e elegância
absoluta, As Fábricas pareciam primitivas, extravagantes em sua
enormidade, como uma volta aos tempos antigos quando a indústria era
movida a vapor e combustão. Mas Aryn sabia que era uma ilusão.
As Fábricas se estendiam sob a crosta de Coruscant de polo a polo,
geralmente acessível apenas através dos aglomerados. Os seus tubos, linhas,
mangueiras e condutos formavam o sistema circulatório do planeta, através
do qual fluíam água, calor, eletricidade e uma série de outras necessidades.
Representava o auge da tecnologia da Republica.
— Me siga! — ela gritou acima do barulho, e Zeerid assentiu.
Seguindo os sinais e invocando a sua memória, Aryn conduziu Zeerid
pelo labirinto de pisos elevados, elevadores e escadas rolantes. Os droides
passavam por eles, alheios, e ocorreu a Aryn que os droides nas Fábricas
provavelmente teriam continuado a fazer o seu trabalho mesmo se todos em
Coruscant estivessem mortos. O pensamento lhe pareceu grotesco.
Zeerid girava em círculos enquanto caminhavam, tentando absorver
tudo.
— Isso é inacreditável. — ele disse a ela. — Eu gostaria de ter um
hologravador.
Ela assentiu e se apressou.
Eles logo deixaram para trás o tumulto mecânico do aglomerado
propriamente dito. Conforme o som desaparecia atrás deles, os corredores
se estreitavam e escureciam, e as luzes nas paredes se tornavam menos
frequentes. Canos e conduítes serpenteavam pelo teto, pelo chão, pelas
entranhas da conveniência de toda a planta. Zeerid puxou uma barra de luz
química de um dos bolsos de suas calças de voo, partiu-a ao meio e
segurou-a no alto enquanto avançavam. Os dois suavam no ar parado dos
túneis.
— Há droides de segurança nesses túneis. — ela disse. — Não temos
um passe adequado. Eles vão tentar nos impedir.
— Ótimo. — disse Zeerid, e depois. — Você tem certeza de que sabe
para onde está indo?
Ela assentiu, embora estivesse começando a se sentir perdida.
À frente, ela ouviu o zumbido de servos, o ranger de metal. Um droide.
Ela segurou Zeerid para parar e ativou o seu sabre de luz, temendo um
droide de segurança. A poeira dançou na luz verde do seu brilho. Zeerid
puxou o seu blaster e ergueu a lanterna química.
— O que foi isso? — ele sussurrou.
Uma forma se moveu nas sombras, pequena, cilíndrica, um droide. Não
era um droide de segurança, mas um astromecânico. Ele emergiu na luz e
ela viu a cabeça plana e circular e a coloração parda de um T7. Arranhões
marcavam a superfície do droide e fios soltos pendiam de uma das suas
articulações do ombro. Mas conhecia a sua cor e sentia como se estivesse
vendo um fantasma, um espectro do seu passado assombrando os túneis
escuros das Fábricas. Desativando a sua lâmina, ela disse.
— Tessete?
A voz dela falhou com as palavras.
Quando apitou uma saudação em linguagem de droide, soube que era
ele, a sua voz mecânica cheirando a alegrias, triunfos e dor muito humanas,
a trilha sonora do tempo dela no Templo, da sua vida com Mestre Zallow.
Lágrimas se acumularam nos olhos dela quando T7 girou em sua direção.
— Você conhece este astromecânico? — Zeerid perguntou.
— Era o droide do Mestre Zallow. — ela respondeu.
Ela se ajoelhou diante de T7, limpando a sujeira em sua cabeça como
faria com uma criança pequena. Ele assobiou de prazer.
— Como você chegou aqui? — ela perguntou. — Como você...
sobreviveu ao ataque?
Lutou para seguir a linguagem de droide dele, tão rapido quanto soltava
os seus bipes, assobios e chilreios. No final, determinou que uma força Sith
havia atacado o Templo, que o Mestre Zallow havia mandado T7 embora
durante a luta, e que T7 havia esgueirado de volta ao campo de batalha
depois que tudo ficou quieto. Mais tarde, os Sith retornaram,
presumivelmente para colocar explosivos, e o T7 fugiu para os níveis
inferiores.
— Eu sei sobre o Mestre Zallow, Tessete. — ela disse.
Ele gemeu, um assobio baixo de desespero.
— Você viu o... você o viu quando aconteceu?
O droide assobiou uma negativa.
— Por que você voltou depois da batalha? — Zeerid perguntou ao
droide.
Um longo apito, então um compartimento no corpo do T7 se abriu e ele
estendeu um braço de metal fino de dentro.
O braço segurava o sabre de luz do Mestre Zallow.
Aryn recuou, olhou-o por um longo momento, as memórias
aglomerando-se ao seu redor, caindo como chuva.
— Você voltou para pegar isso? Só para conseguir isso?
Outro apito negativo. Outro longo monólogo difícil de seguir em
linguagem de droide.
T7 tinha voltado para ver se alguém havia sobrevivido, mas havia
encontrado apenas o sabre de luz.
Mais uma vez, Aryn estampou o determinismo no rosto. A Força a
trouxe para Zeerid no exato momento em que Zeerid estava correndo para
Coruscant. E agora a Força fez com que T7 encontrasse o sabre de luz do
Mestre Zallow para que o droide pudesse dá-lo a ela.
Aryn decidiu que não poderia ser coincidência. Era a Força mostrando-a
que o curso que seguia estava certo, pelo menos pra ela.
Pegou o metal frio do punho do sabre em sua mão e testou o peso dele.
O cabo era maior que o dela, ligeiramente mais pesado, mas parecia
familiar em sua mão. Ela se lembrou das muitas vezes que o vira nas mãos
do Mestre Zallow enquanto a treinava no combate com sabre de luz. Ela o
ativou e a lâmina verde ganhou vida. Ela o olhou, pensando em seu mestre,
então o desligou.
Ela o prendeu no cinto, ao lado do seu, e deu um tapinha na cabeça de
T7.
— Obrigado, Tessete. Isso significa mais pra mim do que você imagina.
Você foi muito corajoso em voltar para lá.
O droide bipou de prazer e simpatia.
— Você viu algum outro sobrevivente? — Perguntou Zeerid, e Aryn
sentiu-se envergonhada por não ter feito a pergunta ela mesma.
T7 assobiou uma negativa sombria.
Zeerid guardou o seu blaster.
— E quanto aos droides de segurança?
Outra negativa.
— Eu preciso ir na estação de vigilância de backup. — explicou Aryn.
— Ainda está de pé? Você pode mostrar o caminho?
T7 piou com entusiasmo, girou a cabeça e saiu pelo corredor, os fios
ainda pendurados na articulação do ombro. Aryn e Zeerid seguiram atrás
dele. Aryn sentiu o peso do sabre de luz extra no seu cinto, pesado com as
memórias que trazia.
T7 os conduziu pelas passagens labirínticas das Fábricas, evitando
corredores destruídos ou bloqueados, seguindo para trás quando necessário,
descendo cada vez mais fundo na colmeia de tubos, engrenagens e
maquinários. Aryn logo se perdeu. Se eles não tivessem encontrado o T7,
eles poderiam ter vagado por dias antes de encontrar o caminho.
Com o tempo, eles alcançaram uma área familiar para Aryn.
— Estamos perto agora. — ela disse a Zeerid.
Adiante, viu o turboelevador que os levaria aos níveis mais baixos do
Templo. T7 se conectou ao painel de controle e o mecanismo do elevador
começou a zumbir. Quando as portas se abriram, Aryn se preparou para ver
algo horrível, mas não havia nada atrás delas, exceto a caixa vazia do
compartimento de passageiros.
Os três entraram, as portas se fecharam e o elevador começou a subir.
Aryn podia sentir a preocupação de Zeerid por ela. Ele a olhava de lado,
pensando que não percebia. Mas percebeu, e preocupação dele a tocou.
— Estou feliz que você esteja comigo. — ela disse a ele.
Ele enrubesceu de vergonha.
— Sim, bem... Eu também.
As portas se abriram para revelar um longo corredor. As luzes de
emergência acima piscavam e zumbiam. T7 foi na frente, e Aryn e Zeerid o
seguiu.
Aryn já havia percorrido o corredor antes, há muito tempo, mas pra ela
tudo parecia diferente. Não parecia mais o Templo Jedi. Em vez disso,
parecia um túmulo. O ataque Sith destruiu mais do que apenas a estrutura
do Templo. Outra coisa morreu quando a estrutura caiu. Era um símbolo de
justiça por milhares de anos. E agora se foi.
Havia simbolismo nisso, Aryn supôs.
Ela queria sair o mais rápido possível, mas primeiro precisava ver se
havia algum registro do ataque.
Os servomecanismos de T7 e os passos de Aryn e Zeerid soaram alto no
silêncio. Os quartos do corredor principal pareciam inteiramente comuns.
Cadeiras, mesas, computadores, tudo em ordem. O ataque destruiu a
estrutura da superfície, mas deixou o núcleo intacto.
Talvez houvesse simbolismo nisso também, Aryn pensou, e se permitiu
ter esperanças.
Quando eles chegaram à sala de vigilância secundária, também a
encontraram inteiramente intacta. Cada uma das cinco estações de
monitoramento tinha uma cadeira, uma mesa e um computador, com uma
grande tela de vídeo suspensa na parede acima. Todas as telas estavam
escuras.
— Você pode conseguir um pouco de energia aqui, Tessete? —
Perguntou Aryn.
O droide bipou afirmativamente, rolou até uma tomada na parede e se
conectou. Em instantes, a sala ganhou vida. As luzes do teto aumentaram.
Computadores e monitores zumbiram ao serem ativados.
— Quero ver o que temos do ataque. Você pode encontrar isso?
Mais uma vez, o droide bipou afirmativamente.
Zeerid empurrou uma cadeira para Aryn. Ela se sentou, com o coração
disparado, a respiração acelerada. Zeerid colocou a mão no ombro dela,
apenas por um momento, depois puxou outra cadeira e sentou-se ao lado
dela. Eles olhavam para o monitor de segurança escuro, esperando que T7
mostrasse a eles o horror.
O droide soltou uma série de assobios animados. Ele localizou a
filmagem. Aryn agarrou os braços da cadeira.
— Reproduza. — ela disse.
Uma única linha brilhante se formou no monitor e se expandiu de cima e
pra baixo até preencher a tela. As imagens se formando nela. A câmera de
segurança principal tinha uma visão oposta às portas principais do Templo,
para que pudesse registrar quem estava entrando ou saindo.
A boca de Aryn estava seca. Estava com medo de piscar por medo de
perder alguma coisa, embora isso fosse ridículo, já que o T7 poderia
congelar, reproduzir e até mesmo ampliar qualquer imagem na tela.
Eles observaram quando uma figura encapuzada e uma mulher Twi'lek
armada com armas de fogo entravam pelas enormes portas do Templo.
— O Templo mantém guardas? — Zeerid perguntou.
Aryn assentiu.
Nenhum deles precisou dizer o que deve ter acontecido com os guardas.
Enquanto a dupla caminhava descaradamente pelo corredor de entrada, a
câmera mostrava pessoas se reunindo nas sacadas acima, olhando para
baixo.
— Eles não sabiam o que fazer com ele. — disse Zeerid.
Aryn assentiu.
— Ele é grande. — disse Zeerid.
— Congele no rosto dele e amplie. — disse Aryn para T7.
A imagem congelou, centrou-se no rosto encapuzado do homem e foi
ampliada. Ela não conseguia distinguir nada nas profundezas sombreadas
do capuz dele, exceto o que parecia ser a parte inferior de uma máscara de
algum tipo.
— Isso é uma máscara? — Zeerid perguntou.
— Eu não sei. A Twi’lek, Tessete. — ela disse, e T7 puxou a imagem de
volta, recentrou na Twi’lek, e fez o mesmo.
O rosto da Twi'lek preencheu a tela.
— A cor da pele é incomum. — disse Zeerid. Ele se inclinou para frente
em sua cadeira, olhando atentamente.
Ela era linda, Aryn admitiu.
E era uma assassina. Ou pelo menos associada a um.
— Veja a cicatriz. — disse Zeerid. Ele se levantou e apontou um dedo
para a tela, para a garganta da Twi'lek. Lá, uma cicatriz irregular cortou um
caminho irregular no pescoço dela. — Com isso e a pele dela, talvez
possamos identificá-la?
— Talvez — respondeu Aryn, tentando engolir. Estava menos
interessada na Twi'lek do que na figura encapuzada. — Continue, Tessete.
Eles observaram enquanto os dois caminhavam no meio do corredor.
Aryn prendeu a respiração quando viu o Mestre Zallow emergir de fora da
câmera para enfrentar o Sith e a Twi'lek. Seis outros Cavaleiros Jedi o
acompanharam.
— Congele, Tessete.
O quadro parou e Aryn estudou o rosto do Mestre Zallow. Ele parecia
como sempre, severo, focado. Vê-lo de alguma forma a libertou para sofrer
com algo diferente de lágrimas. Lembrou-se de algumas das suas sessões de
treinamento, como ele a princípio insistiu que lutasse no estilo dele, mas
depois cedeu e permitiu a ela que encontrasse o seu próprio caminho. A
memória a fez sorrir e chorar.
— Você está bem? — Zeerid perguntou.
Ela assentiu com a cabeça e enxugou as lágrimas com a manga do seu
manto.
— Tessete, deixe-me ver os rostos dos outros Jedi.
T7 folheou uma variedade de filmagens de gravadores em ângulos
diferentes até que finalmente capturou os rostos dos outros Jedi. Aryn
reconheceu cada um deles, embora não os conhecesse bem. Ainda assim,
ela recitou os seus nomes. Ela percebeu que devia pelo menos isso a eles.
— Bynin, Ceras, Okean, Draerd, Kursil, Kalla.
— São seus amigos? — Zeerid perguntou, a sua voz suave.
— Não. — respondeu Aryn. — Mas eram Jedi.
— Não é possível que este Sith e a Twi'lek tenham derrubado todos
esses Jedi e o Templo sozinhos. — disse Zeerid, embora parecesse difícil.
— É só isso?
Aryn não sabia.
— Continue, Tessete.
A filmagem começou novamente. Mestre Zallow ficou cara a cara com o
Sith. Os outros Jedi acenderam as suas lâminas. Aryn olhou para Mestre
Zallow e o guerreiro Sith, vendo se trocavam palavras, gestos, qualquer
coisa. Não o fizeram, pelo menos tanto quanto podia ver.
— Pare. — Zeerid soltou.
— O que? — Aryn perguntou. — Congele isso, Tessete. O que é isso?
A imagem congelou. Ela não viu nada incomum acontecendo entre
Mestre Zallow e o Sith.
— Lá. — disse Zeerid. Ele saltou da sua cadeira novamente e apontou
para algo além da entrada alta do Templo, algo no céu. Aryn não viu.
— O que é isso?
— Uma nave. — respondeu Zeerid. — Aqui. Viu?
Aryn se levantou e olhou para a tela. Ela viu, embora fosse difícil
distinguir contra o céu pela fenda das portas abertas do chão ao teto do
Templo.
— Observe a silhueta. — disse Zeerid. — Essa é uma NR-dois gully
jumper, uma nave da República. Como o tipo que eu costumava voar. Viu?
Aryn sabia, mas não entendia seu significado.
— Amplie, Tessete. — disse Zeerid, e o droide obedeceu. A nave ficou
bem visível.
— Sem marcações. — disse Zeerid. — Mas olhe o seu nariz, a sua
trajetória. Está descendo, direto bem no Templo.
— Tem certeza?
— Não parece danificada. — respondeu Zeerid pensativo. — Volte para
a ampliação normal e continue, Tessete.
Eles assistiram em um silêncio reverente enquanto a gully jumper se
chocava contra a entrada do Templo, rasgava pelo salão, colapsando
colunas enquanto passava, uma massa rolante de metal e chamas, até que
parou bem atrás do Sith enfrentando ao Mestre Zallow.
Nem o Sith nem o Mestre Zallow se moveram.
— A seção intermediária ainda está intacta. — observou Zeerid. — deve
ter sido reforçada. — Ele olhou para Aryn. — Há algo nisso. Uma bomba,
talvez.
— Não é uma bomba — disse Aryn, começando a entender.
Eles observaram enquanto uma grande escotilha no compartimento
central do NR2 explodiu e dezenas de guerreiros Sith saíram, com as
lâminas vermelhas brilhantes nas mãos.
Zeerid recostou-se na cadeira.
— Pior do que uma bomba.
Mestre Zallow acendeu a sua lâmina, e muitos outros Jedi correram de
fora da imagem da câmera para ajudá-lo. Aryn assistia a tudo, com os olhos
fixos no Sith. Quando a batalha começou, ele descartou a sua capa,
mostrando o seu rosto finalmente.
— Congele. — ela disse, e T7 o fez. A sua voz estava fria. — Amplie o
rosto dele.
A imagem centralizou e cresceu para mostrar o Sith. Uma careca com
veias azuis, o rosto cheio de cicatrizes, os olhos intensos, e não uma
máscara, mas um respirador.
— Esse é o mesmo homem do cruzador! — Zeerid disse.
— Darth Malgus — disse Aryn, com uma tensão repentina se formando
na base do seu crânio. — Darth Malgus liderou o ataque. — Ela olhou nos
olhos escuros de Malgus por um tempo, endurecendo-se para o que ela
sabia que viria. — Continue, Tessete.
Ela assistiu o desenrolar da batalha, tentando manter as suas paixões sob
controle. Ela imaginou que podia sentir as emoções dos combatentes
derramando através do vídeo. O seu corpo inteiro estava tenso, encolhido,
enquanto observava.
O fluxo da batalha separou Mestre Zallow e Malgus desde o início.
Ambos abriram caminho através dos inimigos, obviamente procurando o
outro.
— Aquela é uma Mandaloriana. — disse Zeerid.
Aryn assentiu. Uma Mandaloriana em armadura de batalha completa
apareceu no meio da batalha, com um lança-chamas cuspindo fogo.
— Isso é mais agitado do que algumas zonas de guerra em que estive. —
disse Zeerid.
Era mesmo. Chamas queimavam por toda parte, pilhas de escombros
espalhavam-se pelo salão, tiros de blaster cruzavam o campo de batalha e
em todos os lugares os Jedi lutavam com os Sith. Tornou-se difícil rastrear
quaisquer ações individuais. Tudo se transformou no caos anônimo da
batalha. Ela manteve os olhos fixos em Mestre Zallow enquanto se movia
em direção a Malgus, e enquanto Malgus se movia em direção a ele.
Enquanto se aproximavam, viu Malgus salvar a mulher Twi'lek de um
ataque de um Padawan, viu-o responder com uma raiva ainda maior quando
ela foi atingida por uma rajada de tiros.
— Eu não sabia que os Sith se importavam com alguma coisa. — disse
Zeerid.
Também achou a resposta de Malgus surpreendente, mas teve pouco
tempo para considerá-la porque Malgus e Mestre Zallow finalmente se
encontraram na batalha.
Levantou-se da cadeira quando o duelo começou a se desenrolar,
aproximando-se do monitor. Ela os observou trocar golpes, cada um
testando a habilidade do outro. Observou o Malgus jogar o seu sabre de luz,
viu o Mestre Zallow saltar sobre ele, viu o Malgus derrubá-lo no ar no meio
do salto dele e a seguir em frente com uma carga de salto que Mestre
Zallow evitou no último minuto.
O seu coração batia forte. Esperava que algo interviesse, para mudar o
resultado que sabia que não poderia ser mudado. Exceto isso, esperava ver
um erro do Mestre Zallow, ou alguma traição de Malgus, que explicaria o
que esperava acontecer em alguns momentos, a queda do Mestre Zallow
perante Malgus.
Eles se enfrentaram do outro lado do salão, Mestre Zallow soltando uma
torrente de golpes. Malgus caiu para trás sob o ataque, mas Aryn viu que
estava atraindo Mestre Zallow.
E então isso aconteceu.
Mestre Zallow bateu com o cabo do seu sabre de luz na lateral do rosto
de Malgus, fazendo-o recuar um passo. Ele se moveu para acompanhar, mas
Malgus antecipou, girou e conduziu o seu sabre de luz pelo abdômen do
Mestre Zallow.
— Já chega, Tessete. — disse Zeerid. – Já vimos o suficiente.
— Nós não. — disse Aryn. — Passe de novo, Tessete.
O droide assim o fez.
— Novamente.
— Novamente. Ele diz algo no final. Foque na boca dele. — T7 fez o
que ela pediu.
O golpe do Mestre Zallow no rosto de Malgus derrubou o respirador
dele e Aryn pôde ver os lábios deformados e com cicatrizes do Sith. Ele
murmurou palavras ao Mestre Zallow enquanto o Mestre Zallow morria.
Aryn leu os lábios dele, sussurrou as palavras.
— Tudo vai queimar.
Descobriu que estava segurando no seu lado enquanto observava, como
se fosse que tivesse sido empalada em uma lâmina Sith. Reviveu a dor que
tinha sentido em Alderaan quando sentiu Mestre Zallow morrer. E
sobrepondo a tudo isso: a raiva.
E agora ela tinha um foco para essa raiva, Darth Malgus.
— De novo, Tessete.
— Aryn. — disse Zeerid.
— Novamente.
— De novo não, Tessete. — Zeerid se virou para que ficassem um de
frente para o outro. — O que você está fazendo? O que mais você precisa
ver?
— Eu não estou vendo isso. Estou sentindo isso. Me deixa em paz,
Zeerid.
Ele deve ter entendido, pois a soltou e ela voltou pro monitor.
— Amplie o rosto do Mestre Zallow e passe novamente, Tessete.
Observou a expressão dele enquanto ele morria repetidamente. Os olhos
dele a assombravam, mas não conseguia desviar o olhar. Cada vez, antes
que a luz se apagasse deles, ela via nos olhos dele o que estava pensando no
momento em que morreu:
Eu falhei.
E então as palavras de Malgus.
— Tudo vai queimar.
Quaisquer que fossem as paredes que construiu em torno da sua dor
ruíram tão completamente quanto o Templo. Os seus olhos se encheram de
lágrimas e as lágrimas correram livremente por seu rosto. Ainda assim, ela
assistiu. Queria se lembrar da dor do seu Mestre, guardá-la e mantê-la
dentro dela, uma semente sombria para produzir frutos sombria quando ela
finalmente enfrentasse Malgus.
Antes de matar Malgus, ela queria desesperadamente que ele sentisse o
mesmo tipo de dor que o Mestre Zallow havia sentido.
Um toque suave em seu ombro, Zeerid, a trouxe de volta. A tela do
monitor estava em branco. Há quanto tempo ela estava sentada ali, olhando
para uma tela em branco, imaginando morte, vingança e dor?
— É hora de ir, Aryn — disse Zeerid, e ajudou a conduzi-la para fora da
sala.
T7 assobiava em simpatia.
— Você está bem? — Zeerid perguntou.
Sabia como ela deveria parecer. Usando a manga da túnica, enxugou as
lágrimas do rosto.
— Estou bem. — ela disse.
Ele parecia querer abraçá-la, mas sabia que ele não tomaria a liberdade
sem que lhe desse um sinal de que estava tudo bem.
Ela não deu esse sinal. Não queria alívio para a sua tristeza, a sua dor.
Ela simplesmente a queria passar para Malgus de alguma forma.
— Guarde uma cópia dessa filmagem, Tessete. — ela disse. — Leve
com você.
O droide bipou afirmativamente.
Eles voltaram pelas Fábricas e voltaram à superfície em silêncio.
Quando voltaram a speeder, Aryn reconstruiu as paredes ao redor das suas
emoções. Ela administrou a dor, suportou a dor, mas colocou-a ao seu
alcance, para que pudesse recorrer a isso quando precisasse.
Ela e Zeerid colocaram o T7 no suporte para droide na parte traseira da
speeder.
— Preciso chegar até aquele cruzador. — ela disse.
Zeerid ativou a braçadeira magnética para segurar o T7 no lugar.
— Você não pode atacar um cruzador, Aryn.
— Eu não quero atacá-lo. Eu só quero embarcar.
— E enfrentá-lo. Darth Malgus.
— E enfrentá-lo. — ela confirmou com um aceno de cabeça.
— E como você acha que isso vai acontecer, se você entrar a bordo?
Você vai apenas passar por todas aquelas tropas Imperiais? Acha que ele
apenas te deixará passar e a encontrará em um combate honroso?
Ela não gostou do tom de Zeerid.
— Vou derrubar o cruzador. Com ele dentro.
— E você nele.
Ela ergueu o queixo.
— Se for necessário.
Ele bateu a mão em frustração no corpo de T7. O droide bipou de
irritação.
— Aryn, você tem assistido muito a HoloNet. Isso não funciona assim.
Você será capturada, torturada, morta. Ele é um Sith. Eles voaram com uma
nave para dentro do Templo, mataram dezenas de Jedi, bombardearam
Coruscant. Qual é. Pense!
— Tenho pensado. E eu tenho que fazer isso.
Ele deve ter visto a determinação em seus olhos. Engoliu em seco, olhou
além dela, como se reunisse os pensamentos dele, e então se voltou pra ela.
— Você disse que me ajudaria a sair do planeta.
— Eu sei. — ela disse.
— Não posso te seguir até o cruzador. Eu tenho uma filha, Aryn. Só
quero sair do planeta e voltar pra ela antes que A Permuta ou qualquer outra
pessoa chegue até ela.
A agitação saiu dela rapidamente.
— Você fez mais do que o suficiente, Zeerid. Não deixaria você vir,
mesmo que se oferecesse.
Os dois se encararam por um longo tempo, algo não dito pairando no ar
entre eles. A cabeça de T7 girou de Zeerid para Aryn e de volta para Zeerid.
— Você não precisa enfrentá-lo. — disse a ela.
A sujeira das Fábrica manchava o casaco e as calças de Zeerid. A falta
de sono pintou círculos sob os seus olhos castanhos. Não se barbeava há
dias e uma barba negra revestia as suas bochechas. A sua aparência mais
uma vez atingiu Aryn como a de um profeta louco, embora parecesse que
ela é que estava agindo como uma louca.
— Sim, eu preciso. — ela disse.
Ela estendeu a mão e limpou um pouco de sujeira na bochecha dele. A
princípio, pareceu assustado com o toque dela, depois pareceu querer dizer
algo, mas não disse.
— Nós seguimos os nossos caminhos separados aqui, Z-man. — ela
disse. Sentiu o alarme dele com o pensamento. — Fique com a speeder e o
T7. Vou descobrir outra coisa. Adeus, Zeerid.
T7 deu um assobio triste enquanto ela se afastava. As palavras de Zeerid
a puxaram de volta, assim como as dela o puxaram de volta no início do
dia.
— Deixe-me ajudá-la, Aryn. Não vou naquele cruzador, mas posso
ajudá-la a embarcar.
— Como?
— Eu não sei. Talvez se esconda em um transporte Imperial indo para
lá. — Ele apontou para uma forma negra distante movendo-se no céu da
tarde. — Eles vêm e vão regularmente e sempre para o mesmo espaçoporto.
E conheço aquele espaçoporto. Eu mesmo estacionei o Fatman lá algumas
vezes. Vou descobrir uma maneira de colocá-la a bordo de um transporte
enquanto encontro uma nave pra me tirar do planeta. Portanto, ainda não há
despedidas. Ainda preciso da sua ajuda e você ainda precisa da minha. Está
bom o bastante?
Aryn não precisou pensar muito. Ela poderia usar a ajuda de Zeerid, e
queria manter a companhia dele pelo maior tempo possível.
— Bom o suficiente. — respondeu ela.
— E quem sabe? — disse enquanto ela subia na speeder. — Talvez você
recupere o juízo enquanto isso.
Zeerid voou baixo com a speeder armin se misturando na paisagem
urbana, até chegar a um prédio bombardeado. Não havia nada de
particularmente notável nisso. Parecia apenas um lugar decente para se
esconder.
A fachada havia caído dos níveis superiores do edifício, expondo os
apartamentos e os quartos internos. Parecia que o Império havia arrancado a
casca do prédio para expor as suas entranhas. Zeerid supôs que o Império
fizera exatamente isso em toda Coruscant: eles dissecaram a República.
O entulho da fachada do edifício era uma pilha de vidro e pedra na base
do edifício, uma pilha da ruína misturada com móveis, telas de vídeo
estilhaçadas e outros indícios de habitação.
O interior permaneceu praticamente intacto, embora a poeira da pedra
pulverizada cobrisse tudo. Fragmentos de vidro quebrado como presas
pendiam das janelas. Alguns fios energizados cuspiam faíscas. Água vazava
de algum lugar, formando uma pequena cascata escorrendo de um dos
andares superiores. Nem uma única luz brilhava em todo o edifício. Parecia
abandonado.
— Isso deve servir, — ele disse para Aryn e T7. Pilotou a speeder ao
redor e através dos escombros até que estava perto de um dos apartamentos
inferiores expostos.
— Servir para quê? — Aryn perguntou, e T7 ecoou a pergunta dela com
um bipe.
— Vou explorar o espaçoporto. Vocês dois vão ficar aqui.
Aryn balançou a cabeça.
— Não, eu deveria ir.
— Eu trabalho melhor sozinho, Aryn. Pelo menos quando se trata de
vigilância. Tire algum tempo...
— Não preciso de tempo. Preciso chegar ao cruzador.
— E esta é a melhor maneira de fazer isso. Portanto, reserve um tempo
para comer e... se recompor. — Ele estremeceu ao dizer isso, pensando que
ficaria ofendida, mas mal pareceu registrar. — Voltarei assim que puder.
Jogou pra ela outra das barras de proteína que havia tirado do
compartimento do console da speeder.
— Zeerid..., — ela disse.
— Por favor, Aryn. Vou apenas observar. Não farei nada sem você.
Ela cedeu com um suspiro e saiu da speeder. Soltou o T7 e o abaixou no
chão.
— Voltarei assim que puder, — disse Zeerid. — Fique de olho nela,
Tessete.
O droide bateu uma concordância e Zeerid saiu em disparada.

EVITANDO AS EQUIPES DE BUSCA E RESGATE ao seguir pelas ruínas ainda


fumegantes, Zeerid fez o seu caminho em direção ao porto do quadrante, o
espaçoporto Liston. Ele podia vê-lo à distância, emoldurado contra o céu
noturno, os apêndices curvos de suas grandes plataformas de aterrissagem
de embarcações erguidas para o céu como os braços esperançosos de um
penitente. Parecia não estar danificado pelo ataque, pelo menos à distância.
Enquanto observava, as portas do telhado de uma das muitas baias de
pouso de pequenas embarcações se abriram no corpo principal do porto,
uma boca cuspindo luz no ar escuro. Ele desligou os propulsores da speeder
e puxou para o lado.
No céu acima do porto, as luzes de funcionamento de três naves
Imperiais surgiram à vista enquanto desciam para o porto. A boca das
portas as engoliu, fechou e apagou a luz mais uma vez.
Pelo menos sabia que haviam naves lá.
Zeerid ficou onde estava e observou por um tempo para ver se havia
mais tráfego. Ele não viu nenhum. Em tempos normais, mesmo um
pequeno espaçoporto como o de Liston estaria zumbindo com atividade.
Ele ligou a speeder de novo e seguiu, querendo dar uma olhada mais de
perto. A área ao redor do porto, a uma distância de vários quilômetros, foi
duramente atingida por bombas Imperiais. Prédios incendiados se
inclinavam como bêbados em suas fundações. Buracos recortados e
carbonizados marcavam o solo. Esteiras automáticas penduradas tortas,
formando uma teia louca de trilhas para caminhada que não levava a lugar
nenhum. Fios elétricos cuspiam faíscas raivosas. Pedaços de duracreto
jaziam aqui e ali, espalhados ao acaso pela força das bombas.
Dirigia devagar, sem faróis, evitando os perigos. Não viu ninguém na
área, nenhum movimento. Parecia uma cidade fantasma. O fedor de
carbonização pairava no ar. Da mesma forma, o fedor fraco e adocicado de
decomposição orgânica. As ruínas eram os túmulos de milhares de pessoas.
Ele tentou tirar isso da cabeça, esperando que muitos tivessem conseguido
fugir para os níveis mais baixos antes que o bombardeio começasse a sério.
Viu uma estrutura de estacionamento de vários andares sem vigilância.
Metade dela estava em ruínas. A outra metade parecia bastante estável e
ficava a apenas alguns quarteirões do porto. Dirigiu a speeder para o nível
inferior e estacionou lá. Ele cobriria o resto do caminho a pé. Queria dar
uma olhada no porto sem ser visto e poderia fazer isso melhor sem um
veículo.
A escola de voo da República o ensinou sobre a evasão terrestre, para
prepará-lo caso a sua nave caísse em território controlado pelo inimigo, e
ele colocou as suas habilidades em prática. Tão discretamente quanto uma
sombra, moveu-se entre os destroços de pedra e vigas de aço e veículos
abandonados, mantendo-se o mais disfarçado possível para evitar ser visto
do ar. Sabia que o Império às vezes usava droides de vigilância
aerotransportados.
Adiante, um hotel de dez andares, O Nebula, destacava-se da paisagem
urbana de entulho e fumaça. Ao contrário de quase tudo ao seu redor,
parecia quase intacto, exceto por algumas janelas quebradas nos andares
inferiores. Zeerid não viu nenhuma luz em nenhuma das salas, então
presumiu que não havia luz e estava desocupado. Ele disparou pela rua até
o hotel, abriu as portas e entrou no saguão. Nenhum droide acolhedor,
ninguém no balcão da recepção, escuridão profunda.
— Olá! — ele gritou, — Tem alguém aqui?
Sem resposta.
Sem energia, ele ignorou os elevadores e se dirigiu para as escadas.
Estava levemente sem fôlego quando alcançou a porta de acesso ao telhado.
Ele a chutou para abrir, com o blaster na mão. Nada. Abaixou-se e dirigiu-
se para a beira do telhado. Dali, teve uma boa visão do espaçoporto. Puxou
o macrobinóculos que havia tirado da speeder Armin e observou o porto.
A torre de controle era uma ponta escura de transparaço, obviamente
desocupada. Todas as entradas pareciam bloqueadas, exceto uma, e uma
dúzia de soldados Imperiais em armaduras de batalha cinza completas a
protegiam. Zeerid imaginou que haviam mais tropas Imperiais dentro do
próprio complexo. Parecia que o Império havia fechado todo o porto, exceto
algumas das plataformas de pouso de pequenas embarcações,
provavelmente para dar às tropas já empenhadas menos terreno para
proteger.
Grandes janelas transparaço na parede se abriam nas plataformas
próximas. Através delas, viu as três naves Imperiais que acabaram de
pousar. Todos tinham uma designação numérica escrita acima da palavra
Bravura, o nome do cruzador de Darth Malgus.
— Parece que você vai realizar o seu desejo, Aryn, — ele murmurou.
Viu outra nave lá, também, uma nave de assalto Imperial modificada, de
classe Libélula. Ele girou um botão no macrobinóculos para ampliar a
imagem.
Sem marcações imperiais e a rampa de pouso estava elevada como se
estivesse pronta para o lançamento.
Duas dúzias de trabalhadores de macacão cuidavam da operação do
porto, assim como meia dúzia ou mais de droides circulando entre as naves,
linhas de combustível, guindastes de carga e terminais de compensação.
Um flash de lilás encheu o campo de visão do binóculo e desistiu da
ampliação elevada.
Uma fêmea Twi'lek havia caminhado na frente da janela e encheu
temporariamente as lentes com a sua pele lilás.
Pele lilás.
Ele observou enquanto a Twi’lek e um esquadrão de soldados Imperiais
uniformizados com meia armadura colocavam seis sencientes encapuzados
e algemados em uma das naves. Zeerid tentou manter os binóculos na
Twi'lek, que parecia estar dando ordens às tropas, mas era necessário pular
de janela em janela com o binóculo enquanto ela se movia, e às vezes a
perdia.
Como a Twi'lek no vídeo do Templo Jedi, ela usava blasters gêmeos nos
quadris. Ela também usava calças justas e botas de cano alto.
— Tem que ser ela, — ele disse. Mas queria confirmar, então esperou e
observou, e por fim ela virou o rosto para a janela e viu a cicatriz irregular
na garganta dela.
— Te peguei, — ele disse.
A Twi'lek falou em seu comunicador, e a nave com os civis começou a
levantar. À medida que subia com os seus propulsores, as portas do telhado
da plataforma se abriram, mais uma vez derramando luz no céu noturno.
Quando o transporte espacial passou da linha do telhado, acionou os seus
motores e decolou, provavelmente voltando para Bravura. As portas se
fecharam atrás dela.
A Twi'lek e cerca de uma dúzia de soldados permaneceram no bloco.
Trabalhadores e droides também. Zeerid observou uma equipe de
trabalhadores e a caixa com pneus de um droide de manutenção começar a
reabastecer uma das naves com uma mangueira grossa conectada a um
tanque subterrâneo.
Vendo isso, Zeerid traçou um plano. Guardou o binóculo no bolso e
correu de volta pra fora do hotel, para a speeder e de volta para Aryn.

O TRANSPORTE VOAVA em uma vigília silenciosa sobre as ruínas do Templo


Jedi. A voz do piloto de Malgus foi transmitida pelo comunicador da nave.
O tédio tingia o tom dele.
— Devo permanecer aqui, meu Lorde?
— Você vai ficar até que eu diga ao contrário, — respondeu Malgus. —
As luzes internas e externas devem permanecer apagadas.
— Como desejar, meu Lorde.
A nave de Malgus pairou sobre as ruínas do Templo Jedi a cerca de
trezentos metros. Daquela altura, o Templo era um pouco mais do que um
amontoado de pedras à luz das estrelas. Ele havia se demorado nas ruínas
por horas, enquanto o dia se transformava em noite e Aryn Leneer ainda
não havia aparecido.
Mas ela viria. Sabia que ela iria.

ARYN DESEMBRULHOU e comeu a barra de proteína que Zeerid lhe dera. Ela e
T7 se abrigaram em um dos apartamentos. Ela se sentou em um sofá
empoeirado, com o fedor de um planeta em chamas nas suas narinas.
Repassou em sua mente a morte do Mestre Zallow, o olhar em seu rosto.
Viu mais uma vez as ruínas do Templo e soube que o corpo dele jazia sob a
montanha de escombros.
Lutando contra a crescente onda de luto, adotou uma postura meditativa,
fechou os olhos e tentou se conectar a Força.
— Acalme o coração, acalme a mente, — ela entoou, mas ambos se
mostraram impossíveis.
Eventualmente, sentou-se no sofá e olhou pro céu. A fumaça onipresente
parecia nuvens negras contra as estrelas. De vez em quando, via as luzes de
uma nave à distância e presumia que pertenciam a uma nave de patrulha
Imperial.
Com o tempo, a sua exaustão emocional e física a venceu e ela
adormeceu.
Sonhou com o Mestre Zallow. Ele parou diante dela nas ruínas do
Templo Jedi, com as vestes dele ondulando com a brisa. O rosto de pedra
rachada de Odan-Urr os observava. A boca do Mestre Zallow se moveu,
mas nenhum som emergiu. Parecia estar tentando dizer algo a ela.
— Não consigo ouvir você, Mestre, — ela disse. — O que você está
dizendo?
Ela tentou se aproximar dele, abrindo caminho através dos escombros,
mas quanto mais perto tentava chegar perto, mais ele se afastava.
Finalmente, a frustração dela levou a melhor e gritou:
— Eu não sei o que você quer que eu faça!
Acordou com o coração batendo forte e encontrou T7 parado diante
dela. Ele assobiou uma pergunta.
— Não, estou bem, — ela disse, mas não estava.
Levantou-se e puxou a sua capa com força.
Checou seu cronometro. Zeerid havia partido há mais de uma hora.
Provavelmente demoraria mais uma hora, pelo menos.
O sonho a deixou abalada. Pegou o cabo do sabre de luz do Mestre
Zallow em suas mãos, virou-o e estudou a sua confecção. O seu design
espelhava a personalidade dele: sólido, sem floreios, mas maravilhoso em
sua simplicidade.
Ela queria voltar ao Templo, à cena onde o assassinato ocorrera. Deveria
ter feito Zeerid abaixar a speeder quando terminaram lá antes. Ela queria
caminhar entre as ruínas e comungar com os mortos. Ela prendeu a arma do
Mestre Zallow no seu cinto.
— Eu tenho que ir a um lugar, Tessete. Volto em breve.
Ele assobiou outra pergunta, alarme nos bipes.
— Diga a ele que voltarei. Não há nada com que se preocupar.
Deixou o prédio em ruínas e seguiu para o Templo Jedi.
Havia algo lá para ela. Tinha que haver.

QUANDO ZEERID VOLTOU para o esconderijo deles no prédio em ruínas,


descobriu que Aryn havia partido. A ausência dela deu um nó na garganta
dele. T7 assobiou para ele de um dos apartamentos.
— Onde ela está, Tessete? — perguntou.
O pequeno droide chilreou, assobiou e bipou tão rápido que Zeerid mal
conseguiu segui-lo. No final, concluiu que Aryn havia deixado o
apartamento após um breve descanso e que ela não disse a T7 para onde
estava indo.
Mas Zeerid sabia para onde iria. Ela iria para onde o Mestre Zallow
morreu.
— Vamos lá, Tessete, — ele disse, e carregou o droide na speeder.

AS EMOÇÕES DE ARYN A PERTURBAVAM, com o seu humor tão sombrio quanto


a noite. Normalmente, as luzes artificiais de centenas de milhares de
empresas e anúncios iluminavam o céu noturno de Coruscant. Mas o ataque
havia derrubado a energia em grandes áreas do planeta, e o silêncio sombrio
fez a cidade parecer um mausoléu.
Aryn escolheu o seu caminho através da escuridão negra e se aproximou
do Templo ao longo da ampla via processional pavimentada com pedras que
antes levava à grande entrada principal do Templo. Malgus deve ter usado a
mesma abordagem, ela percebeu, e ficou horrorizada que a última pessoa a
caminhar na processional antes da queda do Templo tinha sido um Sith. Ela
achou isso obsceno.
Imaginou que estava refazendo os passos deles, com as suas botas
apagando a falsidade da passagem dele.
Diminuiu a velocidade, preparando-se, enquanto a estrutura de entulho
se materializava na escuridão diante dela. O ataque transformou as linhas
curvas do Templo e as suas elegantes torres em um monte informe de
ruínas, um cemitério de um monte de pedras para a Ordem Jedi.
A visão arrancou a crosta da ferida da sua dor. Quando ela se
aproximou, os fantasmas do seu passado emergiram das ruínas, seu tempo
no Templo como uma jovem, como uma Padawan, a cerimônia em que foi
promovida a Cavaleira Jedi. O Templo havia sido seu lar por décadas, e o
seu pai fora assassinado nele.
Em sua mente,viu o golpe final que matou o seu mestre, tão claro como
se estivesse mais uma vez assistindo ao vídeo na sala de vigilância do
Templo. Viu Malgus girar, inverter a sua empunhadura e conduzir o seu
sabre de luz através do Mestre Zallow. E mais uma vez viu o olhar no rosto
do Mestre Zallow quando a luz se apagou dos seus olhos, o desespero ali.
Ele falhou e sabia disso. Talvez ele também soubesse, como Aryn agora
sabia, que a Ordem Jedi também havia falho.
O pensamento do seu mestre morrendo com desespero em seu coração
dirigiu uma onda quente de raiva através da ferida da sua perda.
E ainda... não conseguia afastar o olhar que vira nos olhos dele no seu
sonho. Parecia preocupação, talvez um aviso. Queria dizer algo a ela...
Balançou a cabeça. Tinha sido apenas um sonho, não uma visão, apenas
uma projeção do seu próprio subconsciente. Ela o rejeitou.
Encontraria Malgus e o mataria.
Chegou à beira das ruínas, escalou os pedaços irregulares de pedra.
Ainda pareciam quentes, ainda irradiavam o calor da sua própria destruição.
Caminhou entre eles, os túmulos de dezenas de Jedi, e chorou através da
sua raiva.
Um sentimento agarrou-a enquanto as cordas da sua sensibilidade na
Força vibravam com uma nota discordante. O sentimento tomou-a pelos
ombros, abanou-a, e esvaziou-a de desgosto, deixando apenas a raiva.
Conhecia a origem do sentimento.
Ativou o seu sabre de luz e tentou identificar a localização de Malgus.

MALGUS SENTIU A ASSINATURA de outro usuário da Força, a pressão


desconfortável do lado luminoso, e isso o puxou para cima. A pressão o
lembrou de como ele se sentiu na presença do Mestre Zallow, e ele sabia
que Aryn Leneer havia chegado finalmente.
— Desça a nave até cinquenta metros, — ele disse, a adrenalina já
correndo por seu corpo. — E quando eu sair, você pode partir.
— Quando você sair, meu Lorde?
Malgus não respondeu. Em vez disso, cancelou os dispositivos de
segurança em vôo e apertou o botão para abrir a escotilha lateral. Quando a
porta se abriu, enquanto o ar da noite entrava, cheirando com o fedor de um
templo em ruínas e um planeta queimado, deixou a raiva enchê-lo.
A nave desceu a cinquenta metros. Abaixo, o Templo em ruínas estava
escuro, coberto pelo veludo da noite. Mas percebeu a presença de Aryn
Leneer tão claramente quanto teria sob o sol do meio-dia.
Ele caminhou até a porta, recorreu a Força, ativou o seu sabre de luz e
saltou para a escuridão.

UM RUGIDO, pesado de ódio e raiva, puxou os olhos de Aryn para o céu.


Malgus desceu como um meteoro. A sua capa voava atrás e sobre ele, uma
vírgula de escuridão, e segurou o seu sabre de luz com as duas mãos. O
poder passou diante dele em uma onda de distorção visível. A nave da qual
havia saltado voou para o céu noturno.
Aryn caiu totalmente na Força, levantou as suas defesas, assumiu uma
posição de combate e defendeu o golpe de mão aberta de Malgus. Ainda
assim, pousou num casulo de poder, atingindo o solo em uma explosão de
poder que quebrou as pedras ao redor deles e as transformou em uma chuva
de estilhaços. Inabalável, Aryn as desviou com a Força enquanto aparava
outro golpe de Malgus. A força do golpe do Sith fez os seus braços
tremerem, mas não cedeu.
As lâminas travaram, faiscando, os seus olhos se encontraram.
Os olhos sombrios de Malgus queimaram com uma raiva que a
atravessou. A raiva que irradiava era tangível para Aryn, fazia o ar ficar
oleoso, poluído. Mas sentiu algo mais nisso, algo inesperado, uma
ambivalência estranha.
— Eu sei por que você veio, — disse, com a sua voz um assobio por trás
do seu respirador.
Ela forçou as palavras entre os dentes cerrados.
— Você matou o Mestre Zallow.
— E agora eu vou matar você também, — ele disse. — No mesmo lugar
em que eu o matei. — Apoiou-se em sua lâmina, empurrou-a um passo para
trás e desferiu um chute com força aumentada nas costelas dela.
Mas ela foi mais rápida, e um salto a enviou por cima da cabeça dele e a
cinquenta metros de distância, mais fundo na montanha de ruínas onde o
seu Mestre havia morrido. Pousou agachada no topo de uma das colunas
quebradas saindo dos escombros.
— Vai achar isso difícil, — ela falou, e respondeu à raiva dele com uma
onda própria. — Eu lhe asseguro disso.
Malgus gesticulou com a mão esquerda e a coluna em que estava
começou a tremer. Saltou para outra próxima, depois outra, depois outra,
saltando através das ruínas, de volta até Malgus.
Quando pousou em cima de um grande pedaço de pedra a dez metros do
Sith, fez um gesto cortante com a mão livre e dois pedaços de estátuas se
ergueram dos escombros e correram em sua direção, um de cada lado.
Saltou no ar e eles se chocaram embaixo dela, espalhando cacos de rocha.
Pousou sobre os restos, sabre de luz pronto.
Malgus rosnou, saltou pelo ar da sua posição em direção a ela. A qual
deslizou para o lado do golpe dele, e para baixo e a lâmina dele rasgou a
pedra aos pés dela. Ela desferiu um corte transversal que o teria decapitado
se ele não tivesse se abaixado.
Ela virou para cima e por cima dele e pousou em outro pedaço de
entulho, a quinze metros de distância. Usando telecinesia em uma grande
pedra perto de Malgus, ela a atirou nele. Ele nem se moveu, simplesmente
se manteve firme e dividiu a pedra em duas com o seu sabre de luz.
Fagulhas vermelhas e pedaços de pedra choveram
Aryn não conseguia encontrar a sua calma. Ela estava lutando com
raiva, mas não se importou. Rosnando, pensando em seu Mestre, ela saltou
pela colina de escombros, saltando de um pedaço de rocha para outro,
diminuindo a distância com Malgus. Ele respondeu ao ataque dela com um
dos seus, os dois saltando sobre as lápides da Ordem Jedi até que se
aproximassem à distância de um golpe.
Aryn cortou por baixo e Malgus deu um tapa na lâmina dela, reverteu o
seu movimento e desferiu um golpe com as costas da mão no abdômen
dela. Ela saltou sobre ele, puxando as pernas com força, e desferiu um
golpe com as duas mãos acima da cabeça enquanto ela descia. Malgus
defendeu-se transversalmente com a sua lâmina e deu um passo para um
chute lateral com a Força aumentada, mirando as costelas dela. Ela pegou o
chute com a mão livre, fechou o braço sobre a perna dele, girou e
arremessou Malgus a vinte metros dela. Ele girou no ar e pousou no topo da
face rachada da estátua de Odan-Urr que outrora esteve alinhada ao
caminho processional para o Templo.
Ela pegou o cabo do sabre de luz do Mestre Zallow em sua mão, se
agachou e saltou na direção dele. Que a observou vir e no ápice do arco do
salto, empurrou a mão esquerda para ela, rugindo, e veias de relâmpagos da
Força se contorceram na direção dela.
Pronta pra isso, ativou o sabre de luz do Mestre Zallow, usou-o para
formar um X com o seu próprio e interceptou os raios nas duas lâminas.
O poder dele encontrou a vontade dela. O relâmpago girou em torno das
lâminas brilhantes. A força disso parou a descida dela e a manteve no ar por
um momento, suspensa em uma coluna construída no lado sombrio.
E então superou isso. O relâmpago se dissipou até o nada e ela, passou
ilesa por ele, caiu direto no chão, caindo de pé em cima de uma pilha de
destroços e desativando a lâmina do Mestre Zallow.
No momento em que ela pousou, Malgus estava sobre ela, a lâmina dele
cortando, apunhalando, girando. Ele tentou usar a sua força superior para
forçá-la a cair da pedra, sem equilíbrio, mas ela respondeu a força dele com
velocidade, evitando os golpes dele, saltando sobre eles, aparando,
liberando as suas próprias rajadas. O zumbido das armas deles no ar, o chiar
das lâminas cruzadas, fundidos em uma única canção de velocidade e poder.

ZEERID VOOU COM a speeder a todo vapor a mais de cem metros de altitude.
Observou uma nave Imperial acelerar no céu das vizinhanças do Templo
Jedi. Pensando em Aryn, sentiu o seu estômago revirar. Voou ainda mais
alto, na esperança de ter um vislumbre dela perto do Templo.
E teve.
Ela e Darth Malgus saltavam pelas ruínas do Templo, com as suas
lâminas piscando, travando, a velocidade do duelo deles tão rápida que
Zeerid mal conseguia acompanhar o movimento deles. Apesar de si mesmo,
achou o combate lindo.
Ele diminuiu a velocidade da speeder e T7 bipou uma pergunta.
Aryn tinha feito o que tinha vindo fazer em Coruscant, estava
enfrentando Malgus.
E Zeerid vira o que Malgus fizera no Templo. O Sith merecia a morte.
Mas se preocupou com os motivos de Aryn. A linha entre buscar justiça
e buscar vingança era tênue, de fato, mas Zeerid podia ver que Aryn havia
superado isso. Queria Malgus morto porque queria vingança. E não haveria
como desfazer isso uma vez que estivesse feito.
Sabia disso melhor do que ninguém.
Tomou uma decisão e pisou no acelerador ao máximo.

ARYN E MALGUS BLOQUEARAM COM AS LÂMINAS.


— Eu sou melhor do que você, Sith, — ela disse com as faíscas dos seus
sabres de luz unidos.
— O seu mestre não era, — observou Malgus, grunhindo, e a empurrou
com uma explosão telecinesia de tal força que ela voou para trás e bateu na
rocha e nos escombros. Ela usou a Força para amortecer o impacto, mas
ainda assim caiu de costas e o impacto tirou o fôlego dos seus pulmões.
Malgus saltou alto no ar, gritando de raiva, com a sua lâmina erguida
para um golpe mortal. Ela rolou para o lado quando desceu e a lâmina dele
afundou até o cabo nos escombros do Templo. Levantou-se e desferiu um
golpe cruzado com as costas da mão na garganta dele. Conseguiu liberar a
lâmina dele e desferiu um corte vertical para desviá-la, mas ao mesmo
tempo ela apontou a ponta da lâmina do sabre de luz do Mestre Zallow para
Malgus e o ativou.
Ele deve ter percebido o perigo no último momento, pois deslizou
parcialmente para o lado. Ainda assim, a linha verde da lâmina de Mestre
Zallow perfurou a armadura e o lado dele e provocou um grunhido de dor e
raiva. Antes que Aryn pudesse prosseguir, Malgus dirigiu uma mão aberta
na lateral do rosto dela.
Ela não estava preparada para o golpe. O impacto da Força aumentada
explodiu uma chuva de faíscas no cérebro dela e a enviou para longe de
Malgus; ela bateu em uma rocha e caiu de lado a dez metros de distância. A
adrenalina a colocou de pé, embora cambaleasse instavelmente. Ela cuspiu
o sangue que encheu a boca e segurou os dois sabres de luz.
Malgus se elevou nas ruínas, com a sua lâmina chiando, olhando para o
buraco fumegante em sua armadura, o sulco em sua carne.
Vendo uma oportunidade, ela não hesitou.
Usando a Força para guiá-lo, ela arremessou o sabre de luz do Mestre
Zallow em Malgus. A lâmina cortou um arco verde brilhante através do ar
enquanto girava em direção à cabeça de Malgus.
Apesar do seu ferimento, o Sith deu um tapa para o lado na
empunhadura de Aryn na lâmina com a Força e a pegou no ar, tão rápido
quanto uma víbora de areia. Ele desativou a lâmina, segurou o cabo na mão,
estudou-o. Ele olhou pra cima e pra além de Aryn, com os seus olhos
ardendo. Ela o imaginou sorrindo sob o respirador.
— Esta arma não o ajudou e nem irá servir a você.
O som de um motor puxou a cabeça de Aryn para o lado. Girou, sua
lâmina pronta, e viu a speeder Armin rugindo do céu como um cometa,
Zeerid no banco do motorista. T7 estava sentado na parte traseira. Ele
chegou com muita força e os propulsores não conseguiram impedir
completamente a speeder de bater nas ruínas. Metal rangeu. A poeira subiu.
— Aryn! — Zeerid chamou. — Entre!
Zeerid olhou além dela para Malgus, pareceu considerar descarregar um
tiro de blaster, mas pensou melhor.
— Vamos, Aryn! — Zeerid gritou e T7 o apoiou com um assobio
urgente. — Por favor. Você disse que me ajudaria.
Ela hesitou.
Malgus olhou pra ela, brandindo o punho do sabre de Mestre Zallow,
uma provocação para mantê-la ali.
Ela tomou a sua decisão.
Ela queria apagar a presunção que ouviu no tom dele, ao ver nos olhos
dele o que tinha visto nos de Mestre Zallow. Matá-lo não era o suficiente.
Ela queria vê-lo sofrendo. Só tinha que descobrir como fazer isso.
Ela saltou no ar e pousou ao lado de Zeerid na speeder.
— A morte é muito fácil, Sith, — ela gritou para Malgus, o veneno em
seu tom foi surpreendente até pra ela. — Eu vou ferir você primeiro.
As palavras deixaram um gosto ruim em sua boca. Sentiu os olhos de
Zeerid nela e não ousou olhá-lo no rosto.
Malgus também parecia quase confuso, a julgar por sua testa franzida e
a inclinação da sua cabeça.
— Vai, — ela disse.
Zeerid acelerou e começou a virar a speeder.
A raiva veio de Malgus. Reativou a lâmina do Mestre Zallow e atirou-a
atrás deles. Zeerid tentou girar para fora do caminho, mas a lâmina virou e
continuou vindo para eles. T7 bipou em alarme.
Aryn observou a arma girar, sentiu-a e, antes que atingisse a speeder,
estendeu a mão com a Força e arrancou-a da empunhadura mental de
Malgus. A arma girou para cima sobre a speeder e desceu com a
empunhadura na direção da sua mão, enquanto Zeerid se erguia no céu
noturno e fugia. Ela o desativou.
Olhou para trás uma última vez para ver Malgus parado no topo do
templo em ruínas, com a sua lâmina na mão, com a sua capa tremulando ao
vento. Ele parecia um conquistador vitorioso.
E ela o odiava.

ZEERID VOOU BAIXO e rápido pelas ruas de Coruscant, girando em torno dos
edifícios, correndo por becos, descendo para os níveis mais baixos à medida
que avançava. Logo, o céu se perdeu para a densidade de estruturas acima
deles. Estavam em um submundo industrial, uma série de túneis de metal e
duracreto que cobriam todo o planeta.
— Alguém está nos seguindo? — ele perguntou.
Aryn não respondeu. Ela sentou no banco do passageiro e olhou para o
cabo do sabre de luz do seu Mestre como se nunca o tivesse visto antes.
— Aryn! Alguém está nos seguindo?
— Não, — ela respondeu, mas não olhou pra trás.
Zeerid lançou um olhar para trás deles, acima deles, e não viu ninguém.
Ele se deixou respirar mais aliviado.
— Droga, Aryn, o que você estava fazendo?
Ela respondeu em um tom tão mecânico quanto um droide de protocolo.
— O que vim fazer aqui, Zeerid. Enfrentando Malgus. O que você
estava fazendo?
— Ajudando você.
— Eu não precisava de ajuda.
— Não? — Ele olhou para ela do outro lado do compartimento da
speeder.
— Não.
Zeerid pensava de outra forma.
— Por que você entrou na speeder, Aryn?
— Eu não queria que você se machucasse. E eu disse que ajudaria você
a sair do planeta.
— Uma mentira, — disse Zeerid. — Por que não ficar lá e terminar?
Ela desviou o olhar dele enquanto respondia.
— Porque…
— Por que?
— Porque matá-lo não é o suficiente, — ela deixou escapar. — Eu quero
machucá-lo.
Ela enganchou o cabo do sabre de luz do Mestre em seu cinto e olhou
para Zeerid.
— Quero machucá-lo como ele me machucou, como machucou Mestre
Zallow antes de morrer.
— Aryn, não preciso ter empatia para sentir a sua ambivalência.
Vingança...
Ela ergueu a mão para interrompê-lo.
— Eu não quero ouvir isso, Zeerid.
Disse mesmo assim. Devia isso a ela.
— Isso não parece muito com você.
— Não nos vemos há anos, — ela retrucou. — O que você sabe sobre
mim?
O tom afiado o cortou.
— Não tanto quanto pensava, ao que parece.
Por um tempo, o silêncio pairou entre eles como uma parede.
— Eu entrei para A Permuta por um bom motivo, eu achava. Para
proporcionar uma boa vida para a minha filha.
— Zeerid...
— Apenas ouça, Aryn! — Ele respirou fundo para se acalmar. — E
aquela decisão, que parecia tão certa, me levou a contrabandear armas, e
então especiaria. Uma decisão, Aryn. Um ato.
Ela balançou a cabeça.
— Isso não é como isto, Zeerid. Eu sei o que estou fazendo.
Não tinha tanta certeza, mas decidiu não pressionar mais. Mudou de
assunto.
— Eu acho que posso nos levar para o espaçoporto. Há naves lá, da
Bravura e tropas Imperiais, mas eu tenho um plano.
Sem olhar pra ele, alcançou o assento e tocou a mão dele, apenas por um
momento.
— Sinto muito pela maneira como falei, Zeerid. Não estou…
Ele balançou a cabeça.
— Sem desculpas, Aryn. Eu sei que você está sofrendo. Eu só... não
quero que torne as coisas piores para você. Sei como isso pode acontecer.
Você está... vendo claramente?
Ele se sentiu ridículo tentando fornecer uma empatia, de todas as
pessoas, justo uma com percepção de estado emocional.
— Eu estou, — ela respondeu, mas ouviu a incerteza no tom dela.
— No final, você tem que viver com você mesma.
Ele sabia bem o quão difícil isso poderia ser.
— Eu sei, — ela disse. — Eu sei. Agora, qual é o seu plano?
Ele contou a ela.
Ela ouviu com atenção e assentiu com a cabeça quando ele terminou.
— Isso deve funcionar.
— Tessete pode fazer isso?
Aryn acenou com a cabeça e T7 bipou em concordância.
— Vou ajudá-lo a entrar e conseguir uma nave, — disse Aryn. — Mas...
não vou deixar Coruscant.
— Achei que você diria isso, — disse, mas em sua própria mente ainda
não havia admitido a questão. Lutou para saber se deveria contar a ela sobre
a Twi'lek.
— Você está escondendo algo, — ela disse.
Ele esfregou a nuca, dividido.
No final, ele decidiu que lhe devia honestidade e sabia que não poderia
tomar decisões por ela.
— A Twi’lek que vimos no vídeo do Templo...
Ele vacilou. Aryn agarrou o antebraço dele e apertou.
— Diga-me, Zeerid.
Ele engoliu em seco, sentindo-se cúmplice de um crime. Não era tanto o
dano para a Twi'lek que o preocupava, mas sim para Aryn.
— Eu a vi no espaçoporto Liston. Ela estava lá.
As unhas de Aryn afundaram na pele dele, mas pareceu não notar. Ele
deu boas-vindas à dor. Ela olhou pelo para-brisa. Imaginou que podia vê-la
pesando nas opções na escala da mente dela. Tinha esperança de que ela
escolhesse o caminho certo.
— Quero vê-la, — ela disse. — Vamos.
Essa não era a resposta que Zeerid esperava ouvir.

MALGUS SENTOU-SE ENTRE AS RUÍNAS, as estátuas caídas de seus antigos


inimigos, e ponderou. A brisa noturna soprou fria em seu rosto. Analisou o
seu confronto com Aryn Leneer. O poder dela o surpreendeu. O mesmo
ocorre com a raiva que está por trás disso.
A raiva ele entendeu, até mesmo respeitou, mas não entendeu como ela
conseguiu isso. Ela sabia que ele matou Mestre Zallow quando lutaram nas
ruínas. Mas não sabia quando eles se viram pela primeira vez no holo nave
a nave sobre Coruscant, quando a Bravura derrubou o cargueiro. Ele tinha
certeza disso. Ele teria sentido a ponta da faca da raiva dela se ela soubesse
então.
Então ela deve ter descoberto nesse ínterim que tinha matado o Mestre
Zallow.
Ou ela viu de alguma forma, uma gravação de vigilância retirada dos
escombros, talvez, ou ela interrogou uma testemunha, um sobrevivente que
havia escapado ou talvez um droide que rastejou para fora da destruição.
De qualquer forma, ela agora conhecia os detalhes do ataque.
Agradou a ele que ela soubesse. A destruição do Templo Jedi foi a maior
conquista da sua vida. Queria que os Jedi e Aryn Leneer, soubessem que foi
ele quem fez isso, que deixou os corpos de tantos Jedi enterrados na tumba
de escombros do antigo Templo deles.
Mas algo preocupava no limite da sua mente. Ela não fugiu na speeder
por medo. Teria sentido isso também.
Vou ferir você, ela disse.
Como ela poderia machucá-lo?
E de repente soube. Ela conhecia os detalhes do seu ataque ao Templo,
então sabia que Eleena o acompanhara. Pode até ter visto no
comportamento de Malgus o que Lorde Adraas tinha visto, os seus
sentimentos por Eleena. Ela iria machucá-lo da mesma forma que Adraas e
Angral tentariam manipulá-lo.
A compreensão enviou uma onda de emoção por ele, uma onda que
levou um momento para reconhecer como medo. Ativou o seu comunicador
e tentou abordar a sua amante na frequência normal.
Sem resposta.
Uma vibração se formou em seu estômago. Ele chamou Jard.
— Jard, a Eleena voltou para a Bravura?
— Ela não voltou, meu Lorde, — respondeu Jard. — Uma das naves
dela voltou, mas ela não estava a bordo.
Um anzol de medo se alojou no estômago de Malgus e o puxou pra
cima.
— Quando foi a última vez que ela fez contato? — ele perguntou.
— Ela não fez contato, meu Lorde. Existe motivo para preocupação?
Devo enviar uma equipe para recuperá-la?
— Não, — disse Malgus. — Eu mesmo a encontrarei.
Poderia haver uma série de razões para Eleena estar fora de contato.
Poderia simplesmente ter desligado o seu comunicador.
Mas Malgus não conseguia se livrar da inquietação que sentia. Chamou
o seu piloto pessoal e convocou a nave de volta ao Templo. Sabia onde
Eleena e a equipe dela haviam pousado, no espaçoporto de Liston. E ele iria
procurá-la lá primeiro.
O céu iluminou-se para o leste. Zeerid verificou o seu cronometro. Quase
alvorada. A noite havia desaparecido pra ele. Estava muito nervoso para
sentir fadiga. Criou coragem para fazer a sua pergunta a Aryn.
— O que você vai fazer? — ele perguntou.
Ela não o olhou, e interpretou isso como um mau sinal.
— Vou te levar para o espaçoporto e vai voar de volta para a sua filha.
Supondo que ele pudesse evitar os cruzadores Imperiais na saída, o que
não seria uma façanha fácil.
— Não é isso que quero dizer, Aryn, e sabe disso. O que vai fazer com
ela?
Aryn não respondeu, mas a rigidez da sua mandíbula disse a Zeerid tudo
o que precisava saber. Arrependeu-se de ter mencionado a Twi'lek para
Aryn. A sua honestidade custaria a Aryn a própria alma. Caçar o Sith que
assassinou o Mestre dela era uma coisa. Matar a Twi'lek simplesmente para
machucar Malgus era outra coisa. Enquanto dirigia, esperava que a Twi'lek
tivesse deixado o espaçoporto.
Adiante, o porto apareceu. Ele esquadrinhou o céu, não viu nada. A torre
de controle ainda estava escura. O Império tinha feito um péssimo trabalho
ao proteger o porto, tinham muito poucos homens guardando um local com
muitos pontos de entrada em potencial, mas Zeerid supôs que tinham tropas
limitadas e um planeta inteiro para policiar. Estava feliz com isso. Caso
contrário, o seu plano não teria chance de sucesso.
— Vou dar uma volta completa e vamos subir no topo. A chave pra isso
é a velocidade.
— Eles não vão nos detectar nos escâneres?
— A torre está as escuras e não vejo nenhum equipamento por perto. Se
eles têm vigilância em órbita sobre o porto, bem...
Ele encolheu os ombros. Se o Império tivesse vigilância em órbita ou
droides de vigilância de alta altitude vigiando o espaçoporto, ele e Aryn
teriam problemas.
— A velocidade ainda é a chave, — ele disse. — Mesmo que nos vejam,
se pudermos entrar e sair rápido o suficiente, ainda podemos conseguir.
Aryn afastou o cabelo do rosto.
— Onde você a viu? A Twi’lek?
— Lá, — ele disse, apontando para as grandes janelas de transparaço
que se abriam para a plataforma de pouso de pequenas embarcações, onde
tinha visto as naves, a nave de desembarque e a Twi'lek. Sem usar os seus
macrobinóculos, tudo o que conseguia ver pelas janelas eram formas
cinzentas indiscriminadas, provavelmente as naves. Aryn olhou para as
janelas por um momento, depois assentiu para si mesma.
— Vamos, — ela disse.
Desligou as luzes da speeder e subiu até quinhentos metros, logo acima
do topo da estrutura central principal do espaçoporto. Acelerando os
propulsores o mais forte que podia, ele acelerou nesta direção.
O seu coração disparou, não por medo de serem pegos, mas por
preocupação de que Aryn encontrasse a Twi'lek.
Desviou de um dos braços de aterrissagem para grandes naves que se
estendia por cima deles. Curvou-se atrás dos controles, antecipando os
disparos a qualquer momento. Mas nenhum tiro veio.
Abaixo deles, talvez uma centena de metros, podia ver as portas do
telhado de várias plataformas de pouso de pequenas embarcações. Aryn se
desprendeu, se virou e destravou o T7. O droide bipou.
Zeerid diminuiu a velocidade do acelerador, mas não parou. Se alguém
os tivesse visto se aproximando, queria que pensassem que a speeder
simplesmente seguiu em frente.
— Pronto? — ele perguntou, e configurou o piloto automático pouco
sofisticado da speeder para voar em mais dez quilômetros antes de pousar.
— Pronto.
Soltou o manche e ele e Aryn deslocaram rapidamente para a parte de
trás da speeder perto do T7. O vento os puxou. Teve problemas para se
equilibrar, mas Aryn o pegou pelo braço e o firmou. Eles imprensaram o
droide entre eles, trocaram um olhar.
— Vai, ele disse.
Ela assentiu com a cabeça e eles desceram pela parte traseira da speeder.
T7 gritou enquanto caíam. O volume do droide não os permitiu controlar
a descida; estavam virando cambalhotas rapidamente. O campo de visão de
Zeerid mudava rapidamente, descontroladamente, entre o céu estrelado e o
topo do espaçoporto abaixo. Seu estômago subiu pela garganta e cerrou os
dentes para segurar a barra de proteína que havia comido.
Virando cambalhotas, com T7 assobiando alarmado, até que Aryn os
agarrou com o seu poder, encerrou o giro e desacelerou a descida deles. O
metal e o duracreto do telhado do espaçoporto chegou para encontrá-los.
Tinham apenas um segundo ou dois. Aryn grunhiu e diminuiu a velocidade
deles mais, mais um pouco, até que pousaram suavemente no telhado.
— Muito melhor do que da última vez, — disse Zeerid, sorrindo, com o
coração acelerado. — Poderia passar minha vida inteira sem outra queda e
sentir que não perdi nada.
Aryn nem mesmo sorriu.
Zeerid se recompôs, pegou um blaster em cada mão e examinou o
telhado. Viu um painel de acesso ao conduíte.
— Lá.
Correram até lá e ele disparou contra a tampa de metal com o seu
blaster, expondo os fios como num covil de víboras. Normalmente, uma
cobertura violada teria disparado um alarme na torre de controle, mas a
torre de controle estava escura, ou desocupada.
— Faça a sua parte, Tessete.
Um painel no abdômen do droide se abriu e vários braços finos e
mecânicos se estenderam. Tudo terminou em um tipo de ferramenta ou
outra. T7 enfiou os braços nos fios e começou a trabalhar. Zeerid, ainda
preocupado que eles pudessem ter sido vistos, esquadrinhou o céu. Ele não
viu nada.
T7 cantarolava enquanto trabalhava.
— Vamos, vamos, — disse Zeerid ao droide. Para Aryn, ele disse:
— Você está bem?
Ela parecia estranhamente calma ou preocupada.
— Estou bem, — ela respondeu.
O droide deu uma série de assobios e gritos animados.
— Ele entrou no sistema de segurança e supressão de incêndio, — disse
Aryn.
— Acione-o com um atraso de dez segundos, — disse Zeerid ao droide.
O droide bipou em aceitação.

MALGUS LIMITOU-SE A ENTRAR NO TRANSPORTE quando ele pousou perto do


Templo.
— Para o espaçoporto Liston, — ele disse ao piloto. — Rápido.
— Sim, meu Lorde.
Tentou novamente chamar Eleena pelo comunicador, mas não obteve
resposta. A cada momento que passava, a sua preocupação aumentava.
Reconheceu que as suas emoções o estavam impulsionando, controlando-o,
sabia também a fraqueza que isso evidenciava, mas não podia deixá-la se
machucar, não por uma Jedi.
A advertência de Angral ressoou em seu cérebro: As paixões podem
levar a erros.
A voz do piloto no comunicador interrompeu a sua linha de pensamento.
— Você ouviu as notícias de Alderaan, meu Lorde?
— Que notícias? — Malgus perguntou. Os seus músculos se contraíram,
como se antecipando um golpe ou um combate.
O golpe veio e o atingiu com força.
— Há rumores de que um acordo foi alcançado e que um tratado de paz
será assinado ainda hoje. Em troca da entrega de certos sistemas remotos ao
controle Imperial, Coruscant será devolvido à República.
As palavras do piloto empurraram as palavras de Angral para fora do
cérebro de Malgus e ricochetearam em sua cabeça como tiros de blaster.
Sistemas remotos.
Coruscant voltou para a República.
Paz.
As palavras aplicaram calor às emoções já borbulhantes de Malgus. Ele
pensou em Angral e Adraas sentados em algum lugar juntos, bebendo vinho
e pensando que haviam realizado algo ao forçar a República a render alguns
sistemas insignificantes, quando na verdade envenenaram o corpo do
Império com o veneno da paz.
— Paz!
Caminhou pelo compartimento, com os punhos cerrados, um animal
selvagem se cansando da sua jaula. Os seus pensamentos oscilavam entre
Eleena, de um lado, e Angral e Adraas, do outro.
— Paz!
Ele bateu com o punho na antepara, dando boas-vindas à dor.
Eles pensaram que poderiam domesticá-lo, Angral e Adraas, pensaram
que poderiam usar Eleena para domesticá-lo. E não era isso que ela queria
também? Ela, que buscava ser a sua consciência. Ela, que lhe pediu para
colocar o amor antes do seu dever para com o Império.
A raiva crescente de Malgus transformou-se em fúria. Ele bateu com os
punhos na mesa de trabalho, amassando-a. Ele pegou uma cadeira e a jogou
contra a antepara, cravando o punho na pequena tela embutida na parede.
— Está tudo bem, Darth Malgus? — o piloto chamou pelo comunicador.
— Está tudo bem, — respondeu Malgus, embora nada estivesse.
— Chegando agora no espaçoporto, meu Lorde, — informou o piloto.
ZEERID ASSISTIU O T7 TRABALHAR, ansioso. O seu relógio interno estava
avisando. Precisavam continuar se movendo.
Tendo invadido o sistema de segurança e supressão de incêndio do
espaçoporto, o T7 deveria enviar um sinal falso para a rede, enganando os
sensores para detectar um vazamento de gás combustível no compartimento
de pouso onde as naves Imperiais pousaram. Um alarme indicando o
vazamento de gás combustível altamente explosivo deve acionar
procedimentos de evacuação e ventilação.
Ou assim esperava Zeerid.
Os braços de metal do droide fizeram a sua mágica. T7 cortou um fio
aqui, soldou ali, reconectou vários cabos aqui e depois conectou na
interface que reconectou. Os seus assobios e chilreios baixos disseram a
Zeerid que estava se comunicando com a rede do espaçoporto. Depois de
um curto período de tempo, o droide retraiu os seus braços de metal no
cilindro do seu corpo.
— Feito? — Zeerid perguntou.
T7 emitiu um bipe afirmativo.
Zeerid deu um tapa na cabeça dele e o droide protestou com um bipe
baixo.
— Então vamos, — disse Zeerid.
Ele e Aryn correram pelo telhado em direção às portas de lançamento,
com o T7 rodando atrás deles. Zeerid fez uma contagem regressiva de dez
na sua cabeça. Exatamente quando alcançaram as portas de lançamento,
assim que terminou a sua contagem regressiva, as sirenes começaram a
soar, audíveis até mesmo do telhado. Uma voz mecânica falou nos alto-
falantes da instalação.
— Um derramamento de substância perigosa ocorreu no compartimento
de pouso dezesseis-B. Existe um perigo significativo. Por favor, movam-se
rapidamente em direção à saída mais próxima. Um derramamento de
substância perigosa ocorreu no compartimento de pouso dezesseis-B...
— Se Tessete fez o seu trabalho, — disse Zeerid, e o droide bipou
indignado, — o sistema detectará o vazamento de gás combustível na
plataforma logo abaixo de nós. Quando isso acontecer, deve abrir as portas
de lançamento automaticamente para liberar o gás...
O teto vibrou quando as portas de lançamento se destravaram e
começaram a se abrir lentamente.
— Excelente trabalho, — Zeerid disse ao droide.

À FRENTE, Malgus viu o pequeno espaçoporto que o Império havia


confiscado. Parecia um pouco com uma aranha de cabeça para baixo com
um número excessivo de pernas, com braços de aterrissagem de grandes
naves saindo do corpo inchado e erguidos em direção ao céu. Portas de
lançamento sobre as várias plataformas de pouso de pequenas embarcações
pontilhavam o corpo da aranha. Todos foram fechados, exceto um. A luz se
espalhou para o céu pelas portas abertas.
— Há uma multidão perto da entrada do porto, — o piloto disse.
Malgus desviou o olhar das portas de lançamento abertas para ver
dezenas de pessoas saindo de uma das entradas do espaçoporto e
circulando. A maioria eram trabalhadores portuários de macacão, cidadãos
de Coruscant que o Império havia pressionado para trabalhar no porto, mas
ele contou talvez uns vinte soldados Imperiais, uma dúzia de marinheiros da
marinha Imperial e um punhado de outros soldados com meia armadura.
Pressionou o rosto contra a janela para olhar mais de perto os soldados.
Viu o capitão Kerse, um dos que escolhera para acompanhar Eleena.
Mas não viu Eleena.
— Pouse perto das portas, — ele disse. – Rápido.
A nave pousou com um baque pesado e Malgus saiu correndo. Ao vê-lo,
os soldados Imperiais posicionaram-se em atenção e ofereceram uma
saudação. Os trabalhadores recuaram, com medo nos olhos. Talvez tenham
ouvido falar do que ele tinha feito no hospital.
Malgus caminhou até o capitão Kerse, um homem de constituição
poderosa cuja cabeça calva parecia uma pedra sobre seu pescoço grosso.
Malgus elevou-se sobre ele.
— Darth Malgus, há um vazamento de gás combustível na área de pouso
de pequenas embarcações. Nós evacuamos enquanto o sistema de
segurança...
— Onde está Eleena? — Malgus perguntou.
— Ela está... — Kerse olhou ao redor na multidão. Sua pele ficou
manchada. Para um de seus homens, ele perguntou... — Onde está a
Twi’lek?
— Eu a vi perto da outra nave, senhor, — respondeu outro dos soldados.
— Presumi que ela me seguia.
Malgus agarrou Kerse por sua couraça de plastiaço e colocou-o face a
face.
— Ela estava com você antes do vazamento de gás?
A cabeça de Kerse balançou em seu pescoço.
— Sim. Ela...
— Leve-me.
— O gás combustível, meu Lorde.
— Não há gás combustível! É um estratagema para chegar a Eleena.
Para chegar até ele.
— O que? — Kerse disse.
Malgus jogou Kerse no chão e passou por ele em direção às portas do
porto. Atrás dele, ele ouviu Kerse gritar para os outros soldados o seguirem.
Quando as portas se abriram diante de Malgus, tinham seis soldados de elite
com rifles blaster posicionando-se ao seu redor.
— Por aqui, meu Lorde, — disse Kerse, posicionando-se ao lado dele.

— VELOCIDADE E PRECISÃO — disse Zeerid, um lembrete tanto para si mesmo


quanto para Aryn. — Velocidade e precisão.
Eles viram as portas de lançamento recuarem para liberar o gás
combustível inexistente. As portas abertas revelaram a plataforma de pouso
abaixo. Zeerid viu as duas naves Imperiais, a nave de assalto de classe
Libélula. As sirenes continuavam a gritar. A voz automatizada nos alto-
falantes continuou zumbindo.
Zeerid iria sequestrar a nave de assalto. Teria que se esquivar dos caças e
cruzadores Imperiais ao sair do espaço de Coruscant. Os Transportes
deveriam voar em uma formação quadrada de onde estavam, e seria abatido
assim que saísse da atmosfera. A nave de assalto, pelo menos, daria a ele
uma chance decente de se livrar.
Ele pegou Aryn pelo bíceps.
— Você ainda pode vir comigo, Aryn.
Ela o olhou no rosto e ele viu mais uma vez, pela primeira vez desde que
a vira de novo, a compreensão profunda que vivia nos olhos dela.
— Eu não posso, — ela disse.
— Você pode, — ele insistiu. — Você honrou a memória do seu Mestre.
— Hora de partir, — ela disse. — Velocidade e precisão, você disse.
Engoliu a resposta e mais uma vez, enquanto envolveram o T7 com um
abraço e pularam no vazio. Mais uma vez, o poder de Aryn desacelerou a
descida e amorteceu o pouso deles.
Atingiram o chão de metal e duracreto da plataforma, assaltados por
todos os lados pelo barulho das sirenes e pela voz implacável nos alto-
falantes. Zeerid avaliou rapidamente a situação.
Não viu ninguém na área de pouso e a única saída, um par de portas
duplas que conduziam a um longo corredor além, estava aberta. Todos
devem ter evacuado.
Ambos os transportes Imperiais tiveram as suas rampas de pouso
abaixadas. A nave de assalto não, e a cobertura da sua cabine estava
escurecida, tão opaca quanto água suja.
— Tessete, preciso que você abra aquela Libélula. Agora mesmo.
O droide bipou concordando e girou em direção à porta traseira da nave.
Zeerid olhou para Aryn e tentou novamente.
— Reconsidere, Aryn. — Ele ficou parado diante dela, forçando-a a vê-
lo, a ouvi-lo. — Venha comigo. Por favor. — Ele sorriu, tentando iluminá-
la. — Vamos começar uma fazenda em Dantooine, como eu disse.
Ela sorriu, aparentemente se divertindo com a ideia, e ele ficou satisfeito
ao ver isso.
— Eu não posso, Zeerid. Você será um bom agricultor, no entanto. Vou
encontrar a Twi’lek e...
Ela parou no meio da frase, os olhos fixos em algo por cima do ombro
de Zeerid.
Ele se virou para ver a Twi'lek descendo pela rampa de pouso do
transporte espacial próximo, com uma mochila jogada por cima do ombro.
Com dois soldados Imperiais com couraças peitorais de plastiaço a
flanqueavam de cada lado. Cada um tinha um rifle blaster pendurado no
ombro. Todos os três usavam máscaras de respiração. Não haviam deixado
a nave deles quando o alarme soou, em vez disso, apenas colocaram
máscaras. Talvez houvesse algo na nave que eles não queriam deixar
desprotegido. Todos congelaram e por um momento ninguém se moveu.
Então, de repente, todos se moveram.
A Twi'lek largou a mochila, com os olhos arregalados por trás das lentes
da máscara, e partiu para pegar os seus blasters. Os soldados praguejaram
em tons abafados, tiraram os rifles do braço e tentaram fazer com que
agissem.
Aryn acendeu o seu sabre de luz.
Zeerid, com um de seus blasters ainda na mão, atirou no soldado à
direita. Dois tiros atingiram o peito do soldado. A armadura foi mutilada em
uma nuvem de fumaça e a força do impacto derrubou o homem da rampa,
virando a máscara de lado no rosto. Ele atingiu o convés e ficou lá, lutando
para se proteger. Zeerid disparou novamente, e um tiro na secção intermédia
do homem o fez ficar quieto.
A Twi’lek conseguiu alcançar os seus blasters e disparou dois, quatro,
seis tiros em Zeerid. Aryn deslizou diante dele e a sua lâmina desviou todos
os tiros, dois deles contra o outro soldado, os quais abriram pequenos
buracos na máscara do soldado. Ele caiu para a frente da rampa, morto.
— Saia daqui Zeerid. — disse Aryn por cima do ombro. Ela começou a
caminhar em direção ao transporte espacial, em direção à Twi'lek.
— Aryn. — Zeerid a chamou, mas ela não o ouviu. Imaginou que ela
ouvia apenas a voz do seu Mestre morto agora.
Zeerid percebeu que não era mais uma luta dele. Coldreou o seu blaster
e observou. Não havia mais nada que pudesse fazer.
Aryn caminhou em direção ao transporte espacial enquanto a Twi'lek
recuava na rampa de pouso, mirando. Antes que a Twi'lek pudesse disparar,
Aryn gesticulou com a mão esquerda, e ambos os blasters voaram das mãos
da Twi'lek e pousaram aos pés de Aryn. A Twi'lek murmurou algo perdido
no abafamento da sua máscara. Aryn deu um passo à frente e passou pelos
blasters.
A Twi'lek, de olhos arregalados, se virou para fugir para dentro do
compartimento da nave. Mais uma vez, Aryn gesticulou e uma explosão de
poder saiu dela, atingiu as costas da Twi'lek e a lançou com força contra a
antepara. Ela desabou dentro do compartimento do transporte espacial,
apenas os pés dela saindo o suficiente para que Zeerid pudesse ver.
Aryn desativou a sua lâmina. Parou por um momento e abaixou a
cabeça, pensando.
Zeerid se permitiu ter esperanças, quase chamou o nome dela
novamente.
Mas então ela levantou a cabeça e caminhou para a rampa de pouso,
passando por cima do cadáver do soldado.
Zeerid baixou a cabeça por um momento, entristecido. Era a decisão
dela, era a luta dela. Ele se recompôs, se virou e gritou para T7.
— Abra aquela Libélula, Tessete. É hora de partir.

VRATH ACORDOU COM O SOM de uma rajada de blaster, o zumbido agudo das
sirenes e a voz no sistema de alto-falantes do porto dizendo algo sobre um
vazamento de combustível. Ele tinha tomado um comprimido para dormir
para apagá-lo e demorou alguns instantes para a sua cabeça clarear. Ele
tinha adormecido na cabine. Ele checou o seu cronometro. Quase
amanhecendo, ou logo depois. Esteve apagado a maior parte da noite.
Algo bateu no casco da Navalha, um tiro de blaster.
— O que no...
Ele diminui o bloqueio de luz da canopi de transparaço da cabine e
olhou para a plataforma de pouso. O ângulo da Navalha ofereceu-lhe um
campo de visão muito pequeno de forma que viu pouco, apenas parte de
uma das naves Imperiais ancoradas perto dele. Estranhamente, não viu
trabalhadores, soldados Imperiais, nem droides.
Ouviu mais alguns tiros de blaster atrás da nave. Não tinha ideia do que
estava acontecendo e não tinha vontade de descobrir. Ainda não tinha
permissão para deixar Coruscant, mas não deixaria a sua nave na doca no
meio de um tiroteio ou o que quer que estivesse acontecendo lá. Ele
imaginou que poderia simplesmente levar a Navalha para o ar e permanecer
na atmosfera. Sintonizou no tom monótono de informes automático do
espaçoporto no seu comunicador de bordo.
— Um derramamento de substância perigosa ocorreu na baia de pouso
dezesseis-B. Existe um perigo significativo. Por favor, mova-se
rapidamente em direção à saída mais próxima. Derramamento de substância
perigosa...
Na parede perto dele, escritas em grandes letras pretas, estavam as
palavras: BAIA DE POUSO 16-B.
Verificou duas vezes para garantir que a Navalha ainda estava bem
selada. Mas não estava. A porta traseira estava aberta. Ele praguejou. Jurou
que a tinha fechado. Apertou o botão para fechá-la, mas ainda piscava como
não lacrada e aberta. Algo a mantinha aberta ou havia um defeito no
circuito.
Ele teria que fechá-la com o interruptor traseiro ou a carga cairia
enquanto voava. Começou a sequência de lançamento automático da
Navalha, levantou-se e se dirigiu para a parte traseira da nave. No meio do
caminho, percebeu que havia deixado o seu blaster e as suas adagas na
cabine. Ele os tinha tirado quando deu uma cochilada.
Não importa. Não iria precisar deles.

ARYN SENTIU-SE COM A CABEÇA LEVE enquanto subia a rampa de pouso do


transporte espacial. Segurou o cabo do seu sabre de luz em sua mão, e
manteve a raiva em seu coração.
Diminuiu a velocidade enquanto a Twi'lek se mexia, gemia e se virava
para observá-la se aproximar.
Aryn ergueu a mão livre e quase disse: Não vou machucar você, mas
bloqueou as palavras antes que escapassem da sua boca.
Ela não queria mentir.
A mulher se arrastou pra trás como um caranguejo, com os olhos sem
mostrar medo, observando Aryn, até que bateu na antepara. Deslizou pela
parede para ficar de pé. Aryn parou a dois passos dela. Elas se olharam
através do abismo ilimitado dos seus respectivos entendimentos.
Lá fora, as sirenes uivaram. Aryn não conseguia mais ver Zeerid. O mais
importante, ele não conseguia mais vê-la.
Os olhos da Twi'lek pousaram no cabo do sabre de luz de Aryn. Aryn
não sentiu nenhum medo irradiando da mulher, apenas uma tristeza suave e
profunda.
— Você veio para me matar.
Aryn não negou. A sua boca estava seca. Prendeu o seu próprio sabre de
luz e pegou o de Mestre Zallow.
— Eu vejo a sua raiva, — disse a Twi’lek.
Aryn pensou em Mestre Zallow e endureceu a sua determinação.
— Você não me conhece, mulher. Não finja que você me conhece.
Ela ativou o sabre de luz do Mestre Zallow. Os olhos da Twi'lek se
arregalaram e um lampejo de medo quebrou a fachada calma dela.
— Eu te não conheço, — reconheceu a Twi’lek. — Mas reconheço a
raiva quando a vejo. Conheço isso muito bem.
Um sorriso triste iluminou o rosto dela, superando o medo em sua
expressão. Estava pensando em algo ou alguém diferente de Aryn e a
tristeza que irradiava aumentou, aguçou.
— A raiva é apenas dor renomeada, — ela disse. — Disso eu sei bem,
também. E às vezes... a dor é muito profunda. A dor guia você, certo?
Aryn esperava uma resistência, uma luta, um protesto, algo. Em vez
disso, a Twi'lek parecia... resignada.
— Você vai me matar, Jedi? Por causa de Darth Malgus? Algo que ele
fez?
Ouvir o nome de Malgus ser pronunciado alimentou o calor da raiva de
Aryn.
— Ele machucou alguém que eu amava.
A Twi’lek assentiu com a cabeça, deu uma única e curta explosão que
pode ter sido uma risada dolorida.
— Ele machuca até mesmo aqueles que ama. — Ela sorriu, e a sua voz
suave parecia chuva caindo. — Esses homens e as suas guerras. O nome
dele é Veradun, Jedi. E ele me mataria se soubesse que eu disse a você. Mas
os nomes são importantes.
Aryn teve que trabalhar para controlar a sua raiva. A Twi'lek parecia
tão... frágil, tão machucada.
— Eu não me importo qual é o nome dele. Você estava lá com ele. No
ataque ao Templo. Eu a vi.
— O Templo. Ah. — Ela assentiu. — Sim, estava com ele. Eu o amo.
Eu luto ao lado dele. Você faria o mesmo.
Aryn não podia negar. Teria feito o mesmo; ela tinha feito o mesmo.
A raiva que carregava desde a sensação da morte do Mestre Zallow
começou a diminuir, a se esvair dela em face da dor e da tristeza da Twi'lek,
ao perceber que a sua própria dor não era o centro moral do universo. A
perda da sua raiva a assustou. Desde a morte dele, ela não era nada além de
raiva. Sem isso, se sentia vazia.
A dor tem outro nome, a Twi'lek havia dito. De fato.
— Por favor, seja rápida, — disse a Twi’lek. — Uma morte limpa,
certo?
As palavras soaram não tanto como um desafio, mas como um pedido.
— Qual é o seu nome? — Aryn perguntou.
— Eleena, — respondeu a Twi’lek.
Aryn deu um passo na direção dela. Os olhos de Eleena foram para a
lâmina de Aryn, mas não se encolheu com a abordagem de Aryn. Ela olhou
nos olhos de Aryn e Aryn nos dela, cada uma medindo a dor da outra, a
perda da outra.
— Os nomes são importantes, — disse Aryn. Ela mudou a empunhadura
do sabre de luz do seu Mestre morto, desativou a lâmina e bateu com o
pomo da têmpora de Eleena. A Twi'lek desabou sem fazer barulho.
— E eu não vou te matar, Eleena.
De muitas maneiras, Eleena já estava morta. Aryn tinha pena dela.
Ainda se sentia compelida a vingar o Mestre Zallow, mas não podia
matar Eleena para fazer Malgus sofrer. Mestre Zallow nunca teria
concordado com isso. Aryn não poderia vingá-lo traindo o que ele defendia.
Talvez ele tenha falho. Talvez a Ordem tenha falho. Mas ambos falharam
nobremente. Havia algo nisso.
Lembrou-se do sonho que teve com o Mestre Zallow, com ele de pé nas
ruínas do Templo, murmurando palavras silenciosamente para ela que não
conseguia entender.
Ela as entendeu agora.
— Seja verdadeira consigo mesma, — ele tinha dito.
Zeerid não tinha tentado dizer a ela a mesma coisa o tempo todo?

— SINTO MUITO, MEU LORDE, — disse Kerse enquanto corriam pelo


espaçoporto. — Presumi que haviam evacuado e nós ainda não tivemos a
chance de fazer uma contagem de cabeças ...
— Guarde as suas desculpas, Kerse, — interrompeu Malgus e resistiu ao
desejo de cortar o homem em dois.
O longo corredor principal dentro do porto parecia ter quilômetros de
extensão. Balcões se enfileiravam, empresas, até carrinhos de vendedores,
todos abandonados. Telas de vídeo escuras nas paredes de salas e clubes.
Corredores menores se ramificavam do principal, levando a plataformas
de passageiros comerciais, elevadores que levavam às grandes áreas de
parada de embarcações e às plataformas de pequenas embarcações.
— Movam-se, — disse Malgus a eles, e eles o fizeram. Para Kerse, ele
disse: — Mostre-me onde você a viu pela última vez.
Kerse apontou para um corredor lateral bem à frente, perto do final do
corredor principal.
— Foi ali, meu Lorde. Plataforma 16-B. À esquerda.
Malgus achou que a 16-B estivesse perto das portas de lançamento que
vira abertas ao chegar ao espaçoporto. Ele aumentou a sua velocidade com
a Força e disparou ao longo do corredor, deixando os soldados para trás. As
paredes, as placas e o chão eram um borrão para ele enquanto acelerava em
direção à plataforma de pouso, em direção à Eleena.

T7 TINHA ABERTO A ESCOTILHA TRASEIRA da Libélula e ainda estava conectado


ao painel de controle. Zeerid passou alguns longos momentos virando a sua
cabeça da Libélula para a nave Imperial onde Aryn havia desaparecido com
a Twi'lek, e então de volta. Ele finalmente começou a se dirigir à Libélula,
mas a voz de Aryn o puxou de volta.
— Zeerid!
Virou-se para ver Aryn emergir da nave, carregando o corpo imóvel da
Twi'lek nos braços. Zeerid não sabia se a Twi'lek estava viva ou morta. Ele
caminhou em direção a Aryn lentamente, seus olhos não na Twi'lek, mas
em Aryn.
— Será que quero saber?
Ele temia a resposta.
— Eu não a matei, Zeerid. Era importante pra mim que soubesse disso.
Zeerid se deixou respirar.
— Estou feliz, Aryn. Então você vem comigo, agora? — Ele apontou o
polegar por cima do ombro. — Tessete abriu a Libélula.
— Eu não posso, Zeerid, mas estou... bem agora. Você entende?
— Eu não entendo.
Aryn abriu a boca pra falar, parou e inclinou a cabeça, como se ela
tivesse ouvido algo de longe.
— Ele está vindo, — ela disse.
Os cabelos da nuca de Zeerid se arrepiaram.
— Quem está vindo? Malgus?
Aryn se ajoelhou e colocou a Twi'lek tão suavemente quanto faria com
um filho recém-nascido.
As sirenes pararam de soar repentinamente, o som foi cortado como que
por uma navalha. O silêncio inesperado foi ameaçador. Zeerid olhou para as
portas duplas abertas da plataforma de pouso. Um corredor escuro se
estendia além delas.
Aryn se levantou, fechou os olhos e inalou.
— Vai, Zeerid, — ela disse.
— Não vou embora, — disse Zeerid, e sacou o seu outro blaster. Ele
passou a língua pelos lábios secos.
Ela abriu os olhos e o agarrou com o olhar.
— Você está indo embora e agora, Z-man. Pense em sua filha. Vá agora
mesmo. Vá... seja um fazendeiro.
Ela sorriu e o empurrou. Ele olhou pro rosto dela, sabendo que estava
certa.
Não poderia tornar Arra órfã, nem mesmo por Aryn. Ainda assim, não
estava disposto a deixá-la. Aproximou-se dela e a expressão dela se
suavizou. Ela estendeu a mão e tocou o rosto dele.
— Vai.
Movido por nada mais do que um impulso, ele a agarrou pelos ombros e
a beijou na boca. Ela não resistiu, até mesmo retribuiu. Ele a segurou longe
dele com o braço esticado.
— Você é uma tola, Aryn Leneer, — ele disse.
— Talvez.
Ele se virou e se dirigiu para a Libélula. O gosto dos lábios dela
permaneceu nos dele, um fantasma de suavidade que esperava que o
assombrasse para sempre. Ele só gostaria de tê-la beijado por mais tempo.
Imaginou os olhos dela nele e não ousou olhar para trás com medo de
perder a vontade de partir. Pensou no holo de Arra que costumava manter
na Fatman, no sorriso dela, na risada dela, pensou na promessa dele a Nat
de que não iria correr riscos desnecessários.
Por mais difícil que fosse, ele ficou de costas para Aryn Leneer.
— Suba a bordo, Tessete, — ele disse enquanto subia a rampa de pouso.
T7 bipou uma negativa triste.
— Você não vem?
Mais uma vez, uma triste negativa.
Zeerid deu um tapinha na cabeça do droide.
— Você é corajoso. Obrigado pela ajuda. Cuide de Aryn.
T7 assobiou uma afirmativa, seguido com uma despedida sombria e se
afastou da Libélula.
Os motores da nave já estavam funcionando. T7 deve ter iniciado a
sequência de lançamento.

VRATH SEGUIU O SEU CAMINHO pelos estreitos corredores da Navalha até


chegar ao compartimento traseiro, que converteu de transporte de tropas em
compartimento de carga. Caixas empilhadas seladas magneticamente no
convés pontilhavam o porão, formando um labirinto de ratos. Ele correu
para a porta traseira. O tiroteio lá fora parecia ter diminuído, então se
permitiu relaxar.

ZEERID OBSERVOU AO T7 SE AFASTAR. Ele bateu no painel de controle para


fechar a porta traseira, que começou a subir. Esperou até que as travas se
fechassem. Ainda pensando em Aryn, colocou a mão no metal frio da porta.
A Libélula cambaleou enquanto subia em seus propulsores. Precisava
chegar à cabine. Não poderia ter o piloto automático pilotando a nave
quando os Imperiais começassem a atirar.
Correu pelo compartimento de carga convertido, transformado em um
labirinto pelas muitas caixas de armazenamento que o pontilhavam.
Virando uma esquina, ele quase trombou com outro homem.
Demorou um pouco para o reconhecimento surgir, o corpo pequeno, o
cabelo escuro bem repartido, as órbitas profundas com os seus olhos
mortos, a boca fina.
Era o homem do Parque Karson.
Era o homem que tinha entregue Zeerid e Aryn para os Sith.
Era o homem que sabia sobre a Arra e a Nat.
— Você! — Vrath Xizor disse.
— Eu, — afirmou Zeerid.

ARYN ASSISTIU A LIBÉLULA SE LEVANTAR, já sentindo a falta de Zeerid. Tentou


convocar a raiva que a trouxe a Coruscant para enfrentar Malgus, mas não
sentia mais o mesmo calor. Enfiou a mão no bolso, encontrou a conta da
pulseira Nautolana e a segurou entre o indicador e o polegar.
Enfrentaria Malgus. Tinha que fazer isso. Mas ela o enfrentaria como o
seu Mestre teria desejado, com serenidade em seu coração.
Parou sobre o corpo de Eleena e esperou. A presença de Malgus
pressionou contra ela conforme se aproximava. A raiva dele chegou antes
dele como uma tempestade.

MALGUS CORREU PELAS grandes portas duplas e entrou no compartimento de


pouso. A nave de Vrath Xizor, a Navalha, subiu com os seus propulsores
em direção às portas abertas do telhado. Duas naves Imperiais desocupadas
paradas na plataforma de pouso.
— Eleena! — ele gritou, odiando a si mesmo por sua vulnerabilidade,
mas incapaz de conter o grito.
Ele se conectou a Força enquanto a Navalha continuava a sua ascensão,
tentando agarrá-la mentalmente. A ascensão dela diminuiu. Estendeu os
dois braços, com as mãos fez garras e gritou de frustração enquanto tentava
conter a potência dos propulsores da nave.
Sentiu um aperto em sua mente, a corda do seu poder se esticando,
esticando, esticando. Não iria liberar a nave. Os propulsores dela
começaram a zumbir. Ele a segurou, os dentes cerrados, o suor encharcando
o seu corpo, com a sua respiração um chocalho seco através do seu
respirador.
E então a corda estalou e a nave voou livre, saindo livre pelas portas do
telhado.
Rugiu de raiva enquanto os motores da nave dispararam e se dirigiu para
os céus. Em ebulição, ativou o seu cronômetro de pulso.
— Jard, a nave de assalto do transportador de especiaria acaba de deixar
o espaçoporto Liston. Eleena pode estar a bordo. Prenda-a com um raio
trator e detenha todos a bordo...
O zumbido de um sabre de luz se ativando interrompeu as suas palavras.
Depois outro se seguiu. Olhou através da plataforma de pouso e viu Aryn
Leneer, com um sabre de luz em cada mão, de pé sobre o corpo de Eleena.
O ódio puro e a raiva crua emanando de Malgus atingiram Aryn como um
golpe físico. Ela se preparou contra isso como se fosse uma tempestade de
granizo. Percebeu o quão forte era o sentimento dele pela Twi'lek, como
sublimava todas as emoções dele por ela em ódio e raiva.
Ele acendeu o seu sabre de luz, com os seus olhos e as placas da sua
armadura refletiam o brilho vermelho dele. Estendeu a mão pra trás, fez um
gesto cortante e afiado e as portas do hangar se fecharam. Outro gesto e as
travas de emergência se encaixaram.
— Somos só nós, — ele disse, com a sua voz áspera como uma grossa.
Não tirou os olhos de Eleena.
Aryn indicou a Twi’lek.
— Ela está viva, Sith. E eu sei o que você sente por ela.
— Você não sabe de nada, — disse Malgus, e deu um passo lento em
direção dela.
— Deixe a nave de assalto ir. Dê a ordem ou eu a matarei.
— Você mente.
Aryn colocou a lâmina do Mestre Zallow no pescoço de Eleena.
Emoção crua surgiu de Malgus, como uma rajada de raiva.
— Prometo que farei isso. — disse Aryn.
A mão livre de Malgus cerrou-se em um punho.
— Se a machucou permanentemente, vou fazer você sofrer. Eu te
prometo isso.
Aryn entendia cada vez menos cada palavra que Malgus falava. Ainda
assim, manteve o seu blefe.
— Dê a ordem, Malgus!
Malgus olhou para ela, rosnou, falou em seu comunicador.
— Jard, cancele a minha ordem anterior. A nave de assalto tem
permissão para deixar o sistema.
— Meu Lorde?
— Faça isso, Jard!
— Sim, meu Lorde.
Malgus caminhou em direção a Aryn, os movimentos lentos de um
caçador que fareja uma presa.
— E agora, Jedi? Você não pode sair daqui.
— Eu não quero sair, Malgus.
Os olhos dele sorriram.
— Não. Quer me matar. Precisa, certo? Por causa do seu mestre?
Os sentimentos que as palavras extraíram das partes sombrias da alma
dela pareciam desconfortavelmente próximas da raiva fluindo de Malgus.
Um dia antes e os sentimentos dela poderiam ter refletido os dele. O que
não eram, devia isso a Eleena.
E ao Zeerid.
E ao Mestre Zallow.
— Queria machucar você, Sith. Machucar você ao machucá-la. Mas não
vou aumentar a dor dela. Ela já sofre o suficiente.
Malgus parou de avançar. Os seus olhos foram para a Twi'lek e, para a
sua surpresa, Aryn sentiu algo semelhante à pena irradiar dele, apenas um
lampejo, rapidamente levado para longe pelo ódio.
— Basta de palavras. — ele disse, voltando o olhar para Aryn. — Faça a
sua tentativa, Aryn Leneer. Estou bem aqui.
Descartou a sua capa, endireitou-se e a saudou com o seu sabre de luz.
Ela ergueu o seu sabre de luz, e o sabre de luz do Mestre Zallow, sentiu
o peso de ambas as suas mãos. Entrou nas linhas da Força, em paz, calma.
Ainda coração. Ainda mente.
Havia treinado combate com sabre de luz duplo quando era uma
Padawan, mas raramente lutava com duas lâminas em uma situação de
combate genuína. Ela iria agora, ali, hoje. Achou apropriado fazer isso.
Não esperou por Malgus. Saltou pelo hangar, com a sua velocidade
aumentada pela Força, as linhas de suas lâminas deixando um borrão de luz
em seu rastro. Malgus se manteve firme, com a lâmina pronta.
Apunhalou baixo com a sua lâmina primária, e alto com a sua
secundária. Malgus saltou sobre as duas, rolou, pousou atrás dela e cortou
buscando o pescoço dela.
Ela se abaixou enquanto girava em uma varredura reversa com a perna
que pegou os pés dele e o fez tropeçar. Quando ele atingiu o chão, ela se
levantou, virou-se, ergueu as duas lâminas e as desceu em um golpe
paralelo. Malgus deu uma cambalhota para trás e as lâminas de Aryn
abriram cortes no chão do hangar. Faíscas voaram.
Malgus saltou depois da cambalhota e disparou uma rajada telecinesia
que levantou Aryn do chão e a jogou para o outro lado do hangar. Ela bateu
em uma das anteparas do transporte espacial, mas usou a Força para
amortecer o golpe para que não lhe causasse danos. Saltando no metal frio,
atacou Malgus. Enquanto corria, lançou primeiro o seu próprio sabre de luz
em Malgus, depois o do Mestre Zallow, usando a Força para a guiar ambos.
O ataque pegou Malgus despreparado e a lâmina de Aryn atingiu a
armadura dele. Faíscas voaram e Malgus estremeceu, rosnou de dor. Ele se
abaixou sob a lâmina do Mestre Zallow, e Aryn recolheu as duas com as
mãos enquanto corria. No momento em que as pegou, lançou as duas contra
Malgus novamente.
Mas desta vez ele estava pronto. Aumentando a sua velocidade com a
Força, girou alto no ar e fora do caminho de ambas. No entanto, ela
antecipou o movimento dele, saltou para frente para interrompê-lo e acertou
um chute voador no peito dele. O qual usou a Força para diminuir o
impacto do golpe, mas isto o fez recuar um passo e ouviu a respiração
difícil dele pelo som do seu respirador.
Ele se recuperou, rugiu, ergueu a lâmina bem alto para cortá-la em duas
e desceu-a. Mas ela já havia convocado a sua própria lâmina de volta para a
sua mão e a interpôs em um aparo.
A força de Malgus a fez cair de joelhos. Estendeu a outra mão e puxou a
lâmina de Mestre Zallow para a sua mão, para apunhalar o estômago dele.
Malgus deu um passo para o lado evitando a estocada, embora ela
esfolasse a sua armadura e despejasse faíscas. Empurrou a lâmina dela para
o lado com a sua e a chutou no rosto. A força por trás do golpe explodiu
através das defesas dela, fazendo-a ver estrelas, afrouxar os dentes, e enviou
a cabeça rodando para trás. Ela caiu de joelhos, atordoada, vendo em dobro.
Levantou-se, balançando nos seus pés, vendo quatro lâminas em suas
mãos em vez de duas. Algo estava em sua boca e ela cuspiu, um dente, a
raiz bifurcada e ensanguentada.
— Você é uma criança em odiar, — disse Malgus, com seu tom
incongruentemente suave enquanto caminhava em direção a ela, — A sua
raiva mal arde. Você é uma fração do que poderia ser.
Precisava de tempo para recuperar os seus sentidos, e colocar alguma
distância de Malgus. Deu um salto mortal para trás e pousou no topo da
nave Imperial. A sua mente estava começando a clarear.
— O seu Mestre também estava equivocado. Ele pensou em me derrotar
com a calma, mas falhou. Você pensou em me derrotar com raiva, mas
carrega muito pouco dela, apesar da sua perda.
A visão de Aryn começou a clarear. Ela se sentia mais ela mesma.
— Seja grata por isso, Jedi. A raiva cobra o seu próprio preço.
Mais uma vez, sentiu a estranha sensação de simpatia ou pena
adulterando o ódio puro que fluía de Malgus. Os olhos dele foram pra
Eleena, o corpo dela contorcido no chão da plataforma de pouso.
Enquanto Aryn se preparava para saltar sobre Malgus, ele estendeu a
mão, quase casualmente, e um raio chiou através do espaço entre eles. Aryn
interpôs os seus sabres de luz, mas o poder do relâmpago excedeu qualquer
coisa na qual sentiu de Malgus antes. Explodiu em suas defesas e ambos os
sabres de luz voaram das suas mãos. O relâmpago a agarrou, ergueu-a e
atirou-a de cima da nave.
Enquanto voava em direção ao convés, ela sentiu o cheiro de carne
queimada, ouviu gritos, percebeu que era a sua carne, os seus gritos. Ela
bateu no chão com força e a sua cabeça ricocheteou no chão. Faíscas
explodiram em seu cérebro, dor e tudo ficou escuro.
O TREINAMENTO MILITAR DE ZEERID respondeu mais rápido do que os seus
pensamentos. Fez uma faca com a mão direita e a cravou na garganta do
homem menor. Mas Vrath também devia ter sido treinado. Um bloqueio
lateral amplo com a mão esquerda abriu o braço de Zeerid, então Vrath
agarrou o braço dele pelo pulso, mudou os seus pés para aproximá-lo de
Zeerid e o girou em um arremesso de quadril. Zeerid viu o que estava
chegando, cavalgou com o arremesso, bateu no chão em um rolamento e
levantou com o seu E-9 em mãos e mirado.
Um chute de Vrath fez o blaster voar e ele disparou contra a antepara.
Vrath seguiu o chute lateral com um chute giratório de trás, mas Zeerid o
antecipou, levou o golpe no lado para capturar a perna, levantou-se e deu
um soco no nariz do homem.
O osso foi esmagado e o sangue explodiu para fora.
Vrath se agitou violentamente com a mão esquerda, enfiando os dedos
esticados na garganta de Zeerid, um golpe que o teria matado se o homem
tivesse sido capaz de aplicar um pouco mais nele. Como foi, o golpe fez
Zeerid soltar a perna de Vrath e recuar.
Zeerid estendeu a mão atrás das costas para pegar seu segundo blaster e
começou a soltá-lo. Mas Vrath o atacou antes que Zeerid pudesse traze-lo à
vista, empurrando Zeerid contra uma das caixas de carga. A ponta afiada do
canto da caixa pressionou as costas de Zeerid e ele grunhiu de dor. A mão
de Vrath serpenteou ao redor da mão de Zeerid, pegou-o pelo pulso,
alavancou-o e bateu-o contra a caixa. O segundo blaster caiu no chão e o
homem o chutou para longe.
Zeerid grunhiu com esforço e empurrou Vrath para longe dele.
Eles se olharam a três passos, ambos ofegantes. Os olhos de Vrath
lacrimejavam. O sangue escorria do seu nariz. Zeerid tinha dificuldade de
respirar pela traqueia danificada.
— Acho que tinha que chegar a esse ponto, — disse o homem, com a
sua voz anasalada por causa do nariz quebrado. — Não é, Zeerid Korr?
Ele cobriu primeiro uma narina, depois a outra, assoando sangue e ranho
de cada vez.
— Eu sou Vrath, a propósito. Vrath Xizor.
Zeerid mal o ouviu. Ele usou o tempo que Vrath havia usado para limpar
o nariz para recuperar o fôlego e olhar o chão em busca de um dos blaster.
Ambas as armas desapareceram sob as caixas durante a disputa.
Vrath sentiu o dano em seu nariz com uma pinça de dois dedos. — O
que você é? Harriers? Comandos?
A respiração de Zeerid clareou e os dois homens começaram a circular.
— Esquadrão Havoc. — respondeu Zeerid, medindo o homem menor.
— O primeiro a entrar. — disse Vrath, recitando um dos lemas do
esquadrão.
— Você? — Zeerid perguntou.
— Corpo de atiradores Imperiais.
— Um skulker, — disse Zeerid.
Vrath perdeu o sorriso com o insulto.
— Matei mais de cinquenta homens com o uniforme da República, Korr.
Você será apenas mais um número pra mim.
— Veremos, — disse Zeerid, tão calmo quanto os momentos de silêncio
antes de uma tempestade.
Vrath fintou, obtendo uma resposta de Zeerid. Vrath sorriu, os dentes
ensanguentados com o escorrimento do nariz.
— Assustadinho, né?
Zeerid esperou por uma abertura enquanto circulavam. Quando viu uma,
fintou alto e avançou por baixo, pensando em derrubar Vrath onde o
tamanho de Zeerid lhe daria vantagem. Vrath se curvou para evitar a queda,
mas Zeerid usou o seu peso para empurrá-lo contra a antepara. Vrath jogou
uma cotovelada curta, roçando a cabeça de Zeerid, outra, acertando-o na
bochecha.
Grunhindo, Zeerid se afastou um pouco do homem menor para
conseguir algum espaço para trabalhar. Quando conseguiu isso, ainda
segurando os braços de Vrath, deu uma joelhada no abdômen dele, outra,
depois outra. Vrath grunhido, virou o seu corpo para colocar o seu quadril
no caminho.
Os dedos de Vrath deslizaram do ombro de Zeerid até o rosto dele, em
direção aos olhos. Zeerid balançou a cabeça, mas os dedos de Vrath
encontraram as cavidades oculares e começaram a aprofundar.
Zeerid o empurrou e recuou, piscando, cobrindo a sua retirada com um
chute frontal.
Vrath se lançou sobre ele, agarrou-o pelas coxas, ergueu-o do chão e
jogou-o de costas no chão. A cabeça de Zeerid atingiu o convés com força e
viu estrelas. Vrath se jogou em cima dele, rápido, evasivo, com os seus
braços e pernas em todos os lugares, envolvendo Zeerid. Logo tinha o seu
corpo em cima de Zeerid. Cotovelos e punhos desceram, um após o outro.
Zeerid levou um golpe na bochecha, na têmpora, outro na bochecha, no
topo da cabeça. A última a abriu e o sangue correu quente e escorrendo por
sua cabeça, manchando o seu rosto, e escurecendo o cotovelo de Vrath.
Desesperado, agarrou os braços de Vrath, mas o homem era muito
rápido e o sangue deixou a pele dele lisa, mais difícil de segurar. Zeerid
passou os braços em volta das costas de Vrath, puxando-o para perto para
não lhe permitir o espaço de que precisava para dobrar os cotovelos.
E então Vrath cometeu um erro. Tentando se levantar para dar mais
cotoveladas, colocou o rosto acima do de Zeerid com apenas alguns
centímetros entre eles. Zeerid jogou a cabeça pra cima e bateu com a testa
no nariz já quebrado de Vrath.
Vrath gritou de dor, recuou instintivamente. Aproveitando a
oportunidade, Zeerid agarrou um dos pulsos de Vrath, girando-o, jogou as
suas pernas em cada lado do ombro de Vrath, estendeu o braço de Vrath e,
em seguida, estendeu o seu próprio corpo para alavancar o braço no
cotovelo.
Vrath gritou quando a hiperextensão se transformou em uma quebra
audível. O braço se soltou nas mãos de Zeerid, a junta despedaçou.
Ele soltou o cotovelo de Vrath, rolou e ficou de pé. Vrath, com o rosto
contorcido de dor, rastejou até o local onde o E-9 havia desaparecido sob
uma caixa. Zeerid o interrompeu, levantou-o do chão e empurrou-o com
força na direção da antepara. Vrath chocou contra a parede de metal,
desequilibrado. Ele tentou se segurar com o braço quebrado, mas ele apenas
pendurou mole na articulação e ele bateu o lado da sua cabeça rente. Seus
olhos rolaram e ele caiu no chão.
Zeerid saltou em cima dele, acertou-o bem no olho, pensando que estava
apenas atordoado, mas o homem permaneceu mole embaixo dele. O sangue
escorria da cabeça de Zeerid para o rosto de Vrath.
Ofegante, Zeerid verificou o pulso de Vrath. Continuava vivo.
De repente, a adrenalina que o alimentou durante o combate foi drenada
pra fora dele. O seu corpo inteiro doía. A sua respiração era irregular e não
tinha forças. Pontadas de dor em seu rosto e cabeça ecoaram a cada batida
do seu coração. A luta inteira durou cerca de quarenta segundos. Ele se
sentia como se tivesse apanhado por horas.
Olhou para Vrath, imaginando o que fazer com ele. Procurou nas calças,
jaqueta, casaco do homem. Ele encontrou várias Identidades e outros itens
pessoais. Também encontrou algemas flexíveis. Ele virou Vrath e puxou os
braços dele para trás.
Ele sentiu os ossos do braço quebrado rangerem e Vrath gemeu.
— Desculpe, — disse Zeerid. Não havia nada que pudesse fazer com o
braço.
Assim que prendeu os braços do homem, ele o jogou sobre os ombros e
o carregou com as pernas trêmulas pela nave até a cabine. Uma Libélula
não tinha cela e não havia como Zeerid deixar Vrath fora da sua vista.
No momento em que alcançou a cabine, a nave havia passado pelo
espaçoporto e feito um ângulo para cima para a atmosfera. Zeerid estudou a
instrumentação. O seu rosto estava inchando e o seu olho estava danificado
pelos dedos de Vrath, então teve que apertar os olhos. Ele tirou a camisa e a
usou para aplicar pressão no ferimento na cabeça. Ele não queria sangrar
nos controles.
Um cinto de armas com um blaster GH-22 e várias facas estavam no
assento do piloto. Provavelmente as armas de Vrath. Zeerid colocou o cinto
e sentou-se.
Vunca voou em uma nave da classe Libélula antes, mas poderia voar
qualquer coisa que vagasse pelas estrelas. Precisava passar pelo bloqueio
Imperial e entrar em uma via do hiperespaço.
— É hora de dançar entre as gotas de chuva, — ele disse, e desligou o
piloto automático.
Ele olhou para fora da canopi, para o espaçoporto bem abaixo,
imaginando o que teria acontecido com Aryn. Teria pago muitos créditos
para tê-la ao lado dele naquele momento.

ARYN ABRIU OS OLHOS. Malgus estava de pé sobre ela, com os seus olhos
injetados de sangue fixos no rosto dela. Segurava a Twi'lek, ainda
inconsciente, em seus braços. Também segurava os dois sabres de luz de
Aryn. O seu próprio punho de sabre de luz pendurado no seu cinto.
Ele não a matou. Não tinha ideia do porquê.
Ele a olhou e ela sentiu a ambivalência dele. Estava lutando com algo.
— Pegue-os e vá, — ele disse, e largou os dois sabres de luz dela. Eles
caíram no chão com estrépito. — Pegue a nave. Vou garantir que você tenha
uma passagem segura para longe de Coruscant.
Ela não se mexeu. Os sabres de luz estavam a centímetros da sua mão.
Os olhos dele se estreitaram.
— A menos que a sua necessidade de vingar o seu Mestre exija que você
morra, você deve fazer o que eu mando, Jedi.
Ela se levantou com uma das mãos e pegou os dois sabres de luz com a
outra. O metal estava frio em sua palma.
— Por quê?
— Porque você a poupou, — ele disse, a sua voz suave atrás do
respirador. — Se a nossa situação fosse inversa, eu não teria feito isso.
Porque a sua presença me fez perceber algo que deveria saber há muito
tempo.
Aryn se levantou, ainda cautelosa, e prendeu os sabres de luz em seu
cinto.
— Estaremos deixando Coruscant, você sabe, — ele disse, quase com
tristeza. — O Império, quero dizer. Resta assinar o tratado. Então teremos
paz. Isso te agrada?
— Se me agrada? — Ela ainda não entendia. Fez um inventário dos seus
ferimentos. Muitos hematomas e lacerações. Nada quebrado. Fez um
inventário da sua alma. Nada quebrado ali também.
Ela olhou para o rosto de Malgus. Ela não sabia o que dizer.
— Talvez nos encontremos novamente, em outras circunstâncias.
— Se nos encontrarmos novamente, Aryn Leneer, — apontou Malgus.
— Vou te matar como fiz com o seu Mestre. Não confunda as minhas ações
com misericórdia. Estou pagando uma dívida. Quando você sair daqui,
estará pago.
Aryn molhou os lábios, olhou-o no rosto e assentiu.
— Você sabe que a sua própria Ordem a traiu, Jedi? — ele perguntou. —
Eles nos informaram que você poderia estar vindo para cá.
Aryn não ficou surpresa, mas a traição ainda doía.
— Eu não pertenço mais a uma Ordem, — ela disse, com a garganta
apertada.
Ele riu, o som de uma tosse seca.
— Então, temos mais em comum do que a raiva, — ele disse. — Agora
vá.
Ela não entendia e se resignou a nunca entender. Virou-se, ainda sem
acreditar, e se dirigiu para a nave. T7 emergiu de um esconderijo perto da
nave e bipou uma pergunta a qual não tinha resposta. Juntos, embarcaram
no transporte espacial. Quando alcançou a cabine e se sentou, percebeu que
estava tremendo.
— Acalme o coração, acalme a mente, — ela disse, e se sentiu mais
calma.
Exalando, acionou os propulsores. Ela não tinha ideia para onde iria.

QUANDO O AZUL DO CÉU DE CORUSCANT deu lugar ao preto do espaço, Zeerid


começou a suar. Olhou nos sensores as naves Imperiais. Eles já o teriam
detectado. Um cruzador apareceu em sua tela, talvez a Bravura, talvez
outro. Empurrou a nave para longe dele e acelerou para a hipervia mais
próxima. Só queria pular para algum lugar, qualquer lugar.
Um bip do painel chamou a atenção dele. Isto tomou dele um momento
para perceber que era uma saudação. Levou mais um momento para ele
descobrir como operá-lo. Ele bateu no botão, abrindo o canal. Se nada mais,
ele amaldiçoaria os Imperiais antes que eles o derrubassem.
— Nave de assalto Navalha, você está autorizada a partir.
Zeerid presumiu que fosse um ardil, uma piada de mau gosto. Mas não
viu nada no escâner, e o cruzador não se moveu para interditar.
Voou para a hipervia. Deixou o computador de navegação calcular um
curso e tentou acreditar na sua sorte. A voz de Vrath o assustou.
— Nada mal, Comando. Estou impressionado.
— Impressionar você não é minha preocupação, skulker.
Vrath deu uma risadinha, mas se transformou em tosse e
estremecimento.
— Há analgésicos no compartimento médico. Você se importa?
— Mais tarde, — respondeu Zeerid.
— Dói muito, fuzileiro.
— Bom.
— São apenas negócios, Korr.
Zeerid pensou em Arra, Nat, Aryn.
— Certo. Negócios.
Tinha tudo o que podia ter dos negócios.
— No que me diz respeito, nós terminamos, — disse Vrath. — Fui
contratado para impedir que aquele Engespeciaria chegasse a Coruscant. Eu
fiz isso. O que significa que nós terminamos. Eu relato isso e nunca mais
nos vemos. Gostaria de ter a minha nave de volta, no entanto.
Zeerid resistiu ao impulso de socar um homem preso. Estava se
comportando como se tivessem acabado de ter uma partida amistosa, e que
iriam sair para beber mais tarde.
— A Permuta provavelmente não será tão indulgente, não é? — Vrath
disse. — Ouvi dizer que não toleram remessas perdidas. Você e a sua
família terão uma briga dura lá.
As palavras de Vrath fizeram a respiração de Zeerid travar. Ouvi-las
mudou tudo. Os nós dos dedos dele ficaram brancos no manche enquanto as
opções se desenrolavam em sua mente. A adrenalina encheu os seus olhos.
Ele olhou diretamente para fora da janela da cabine.
— Eles não sabem que eu tenho família.
— Ainda não, — disse Vrath. — Mas vão. Eles sempre sabem...
Tarde demais, Vrath pareceu perceber que pisou em uma mina. Tentou
rir, mas Zeerid ouviu o medo por trás da risada.
— Ou talvez não. Estou só falando aqui.
— Você fala demais. — disse Zeerid enquanto endurecia a sua
expressão, endurecia a sua mente. A alquimia da necessidade reduziu a sua
lista de opções a uma.
Ele se colocou no piloto automático e se levantou.
— De pé, Vrath.
Quando o homem não se levantou imediatamente, Zeerid puxou-o
bruscamente para ficar de pé. Vrath gemeu de dor.
— Calma aí, fuzileiro. Remédios para dor agora, certo?
Ele parecia em dúvida.
— Ande, — disse Zeerid.
— Para onde?
Zeerid enfiou o GH-22 nas costas dele...
— Ande.
Relutantemente, Vrath deixou Zeerid empurrá-lo pelos corredores da
nave. O homem se moveu lentamente, como se conhecesse as intenções de
Zeerid, e Zeerid teve que empurrá-lo. Algumas voltas, alguns corredores, e
Zeerid viu uma porta com eclusa de ar. Ele conduziu Vrath até lá e parou
diante.
— Vire-se
Vrath fez. O rosto dele estava manchado, mas Zeerid não sabia se era
por causa da surra ou do medo.
— Isso é sobre a sua filha, certo? Bem, eu já disse ao meu pessoal, Korr.
Eles já sabem.
Zeerid ouviu o tom agudo de uma mentira no tom de Vrath.
— Uma mentira. Você já me disse que não. Você disse: ‘Ainda não’.
Ele tirou Vrath do caminho com o blaster e ativou as portas internas da
eclusa de ar. Elas se abriram e se abriram com um silvo. Uma luz vermelha
no teto se acendeu e começou a girar.
Zeerid mostrou a ele o blaster.
— Você quer isso? — Ele acenou com a cabeça para a eclusa de ar. —
Ou aquilo?
Vrath olhou pra a arma, pra a eclusa de ar, engoliu em seco.
— Não precisa ser assim, Korr. Não vou contar a ninguém sobre você ou
a sua família. Você pode até ficar com a nave.
— Eu não posso correr esse risco.
Vrath tentou sorrir, mas parecia uma careta de morte.
— Vamos, Korr. Se eu disse que não vou falar, não vou falar. Não sou
nada se não um homem de palavra.
Zeerid pensou na promessa que havia feito a Nat, de que não correria
riscos desnecessários.
— Sim. Eu também.
O desespero invadiu a voz de Vrath. Ele se mexeu.
— Você vai ter que suportar isso, Korr. Isso vai fazer de você um
assassino. Matar um homem com a arma dele. Você quer esse peso?
Zeerid sabia o que estava fazendo. Ou pelo menos pensava assim.
— Eu posso suportar isso. E não preciso de uma palestra sobre o
assassinato de um skulker.
O medo fez os olhos de Vrath lacrimejarem.
— Aquilo era uma guerra, Korr. Pense nisso. Pense bem.
— Eu tenho pensado. Escolha, ou escolho pra você. Apenas mais um
número, certo?
Vrath olhou fixamente para o rosto de Zeerid. Talvez ele tenha visto o
vazio, a resolução.
— Vai se lixar, Korr. Vai se lixar.
Zeerid o empurrou para dentro da câmara de ar.
— Eu poderia a tê-las matado, Korr. A ambas. Na volta do parque em
Vulta. Você sabe que eu poderia. Mas eu não fiz.
— Não, — disse Zeerid. — Você não o fez.
Ele ativou o selo e a porta começou a fechar.
— Gostaria de tê-las matado agora! Eu gostaria disso!
Zeerid parou a porta, um súbito lampejo de raiva reacendeu a sua força.
Ele alcançou a eclusa de ar e agarrou Vrath pela camisa, sacudindo-o.
— Se você a tivesse machucado, eu estaria vindo atrás de você com uma
lâmina afiada e um toque lento. Está me ouvindo, skulker? Você me ouviu?
Ele chutou Vrath no estômago, dobrando o homem com o golpe.
Enquanto Vrath ofegava, Zeerid reativou a porta e a fechou. Vrath o
encarou através da minúscula janela de transparaço, com os olhos ferozes,
rosnados e dentes.
Zeerid apertou o botão para evacuar a eclusa de ar. O alarme de
advertência soou.
Ele deu mais uma olhada em Vrath, viu o medo ali, então se virou e
voltou para a cabine.
Assassino.
Isso é o que ele era.
A sirene parou e ele sentiu um estrondo suave quando a porta da eclusa
de ar externa se abriu.
Um buraco se abriu em seu estômago.
A emoção, sem nome e crua, fez os seus olhos lacrimejarem. Ele os
limpou.
Ele era um assassino e já se sentia pesado.
Mas iria carregá-lo, por Nat, por Arra. Esperava que o carregasse pelo
resto da sua vida e o peso nunca diminuiria. Já havia matado homens antes,
mas não assim, não como tinha matado ao Vrath.
Pela primeira vez, entendeu, realmente entendeu, por que Aryn havia
retornado a Coruscant.
Ele orou aos deuses nos quais não acreditava para que ela reconsiderasse
o que viera fazer. Ela sentia as coisas muito intensamente para sentir o que
ele sentia. Ela nunca poderia carregar isso. Isso a destruiria. Seria melhor
ela morrer.
De repente, ele só queria dormir.
Ele cancelou o curso aleatório do computador de navegação e conectou
as coordenadas para Vulta. As suas mãos tremiam o tempo todo.
Em instantes, a Navalha saltou para o hiperespaço.
Ele sempre voou sozinho, mas nunca se sentiu sozinho na cabine, não
até aquele momento.
Recostando-se na cadeira, tentou dormir.
E tentou não sonhar.

MALGUS ASSISTIU A NAVE pilotada por Aryn Leneer subir com os seus
propulsores. Ele chamou Jard no comunicador.
— Uma nave está decolando de Liston, — ele disse. — Também está
liberada para deixar o espaço de Coruscant.
— Sim, meu Lorde. — respondeu Jard.
Malgus poderia ter quebrado a sua palavra com a Jedi, poderia ter
atirado em Aryn Leneer no céu. Mas não quis. Ele cumpria as suas
promessas.
Mas percebeu, mais do que nunca, que os Jedi eram muito perigosos pra
ele permitir que existissem. Eles eram para os Sith o que Eleena era pra ele,
um exemplo de paz, de conforto e, portanto, uma tentação de fraqueza.
Angral não via isso. O Imperador não via isso. Mas Malgus via. E sabia o
que deveria fazer. Ele devia destruir os Jedi completamente.
Ajoelhou-se ao lado de Eleena, aninhando a cabeça dela em seu braço
esquerdo. Estudou o rosto dela, a sua simetria, a linha da sua mandíbula, os
olhos fundos, o nariz perfeitamente formado. Lembrou-se da primeira vez
que a viu, uma escrava intimidada e espancada que mal saíra da
adolescência. Ele matou o dono dela pela brutalidade dele, levou-a para a
sua casa, a treinou em combate. Ela tinha sido a sua companheira, sua
amante, sua consciência desde então.
Os olhos dela se abriram, focalizados. Ela sorriu.
— Veradun, você é o meu salvador.
— Sim, — ele disse.
— Onde está a mulher? — Eleena perguntou, — a Jedi?
— Ela se foi. Ela nunca mais vai te machucar novamente.
Ela inclinou a cabeça para trás no braço dele, fechou os olhos e suspirou
contente.
— Eu sabia que você me amava.
— Eu amo, — ele reconheceu, e o sorriso dela se alargou. Ele sentiu as
lágrimas se formando em seus olhos, a sua fraqueza se manifestou.
Ela abriu os olhos, viu as lágrimas, estendeu o braço para colocar a mão
na bochecha dele.
— O que há de errado, meu amor?
— Que eu te amo é o que está errado, Eleena.
— Veradun...
Ele se preparou, levantou-se, acendeu o seu sabre de luz e enfiou-o no
coração dela.
Os olhos dela se arregalaram, e não deixaram o rosto dele, o perfuraram.
A sua boca se abriu em um suspiro de surpresa. Ela parecia querer dizer
algo, mas nenhum som saiu da sua boca.
E então tudo acabou e ela se foi.
Desativou a sua lâmina.
Não podia mais se dar ao luxo de ter uma consciência ou fraqueza, não
se fosse pra fazer o que deveria ser feito. Poderia servir apenas a um mestre.
Ficou sobre o corpo dela até que as suas lágrimas secassem.
Decidiu que nunca mais derramaria outra. Teve que destruir o que
amava. E sabia que teria que fazer isso de novo. Primeiro os Jedi, então...
Atrás dele, Kerse e os seus soldados estavam preocupados nas portas do
compartimento de desembarque, tentando abrir caminho para entrar.
Malgus se ajoelhou e pegou o corpo dela inerte. Ela parecia leve como
gaze em seus braços. Ele lhe daria um funeral com honra, e então
começaria.
A sua visão em Korriban havia mostrado uma galáxia em chamas. Mas
não era apenas a República que exigia a limpeza pelo fogo.
A noite e a raiva controlada envolveram Malgus. A sua raiva ardia sempre
agora, e os seus pensamentos refletiam o ar caliginoso. Ele pegou uma nave
em segredo nas Regiões Desconhecidas, onde estava estacionada no
momento, e fez o seu caminho para o planeta. Ninguém sabia que tinha
vindo.
Ele se concentrou em manter a sua assinatura na Força suprimida. Não
queria que ninguém soubesse da sua presença prematuramente.
Um raio da lua cortou uma fenda estreita no céu escuro, pintando tudo
em tons de cinza e preto.
A parede de pedra do complexo, com oito metros de altura, ergueu-se
diante dele, a sua superfície áspera e cheia de buracos como o semblante de
Malgus. Recorrendo à Força, deu um salto que o carregou para cima e por
cima da parede. Ele pousou em um jardim bem cuidado. Árvores anãs
esculpidas e arbustos lançavam sombras estranhas e malformadas ao luar. O
som suave de uma fonte misturado com o zumbido noturno dos insetos.
Malgus se moveu pelo jardim, uma escuridão mais profunda entre as
sombras, com as suas botas macias na grama.
Algumas luzes iluminaram as janelas da mansão retangular que ficava
no centro do terreno. A mansão, o jardim, a fonte, tudo isso, parecia
semelhante a algum mundo brando na República, algum santuário Jedi
decadente onde os chamados estudiosos da Força ponderavam a paz e
buscavam tranquilidade.
Malgus sabia que era loucura. Os impérios e os homens que governavam
impérios não podiam ficar aguçados quando rodeados de conforto, de paz.
Por amor.
Vozes baixas soaram à frente, quase inaudíveis na tranquilidade. Malgus
não diminuiu a velocidade e não fez nenhuma tentativa de esconder a sua
aproximação enquanto emergia da escuridão do jardim.
Eles o viram imediatamente, dois soldados Imperiais com meia
armadura. Eles nivelaram os seus rifles blaster.
— Quem no...
Ele recorreu a Força, gesticulou como se estivesse espantando insetos, e
mandou os dois soldados voando contra a parede da mansão com força
suficiente para quebrar os ossos. Ambos caíram no chão, imóveis. Os olhos
negros de seus capacetes olhavam para Malgus.
Caminhou entre os corpos deles e através das portas deslizantes da
mansão, lembrando-se do seu ataque ao Templo Jedi em Coruscant.
Exceto que Eleena o tinha acompanhado. Parecia uma vida atrás.
Pensar em Eleena soprou oxigênio nas brasas da sua raiva. Em vida,
Eleena foi o seu ponto fraco, uma ferramenta a ser explorada pelos rivais.
Na morte, ela se tornou a sua força, sua memória a lente da sua raiva.
Residia no olho calmo de uma tempestade de ódio. O poder se agitou ao
redor dele, dentro dele. Não se sentia como se estivesse recorrendo à Força,
usando-a. Sentia como se se tivesse se fundido a Força.
Tinha evoluído. Nada mais dividia a sua lealdade. Servia à Força e
apenas à Força, e a sua compreensão disso aumentava diariamente.
O poder crescente girando em torno dele, vazando pela tampa do seu
controle, tornava a supressão da sua assinatura na Força impossível. De
repente, ele baixou todas as barreiras mentais, deixando que toda a força do
seu poder o envolvesse.
— Adraas! — ele gritou, colocando força suficiente em sua voz para
fazer o teto e as paredes vibrarem. — Adraas!
Caminhou pelas salas e corredores do retiro de Adraas, derrubando ou
destruindo tudo ao seu alcance, mesas antigas, as estatuas bizarras e eróticas
favorecida por Adraas, tudo. Ele deixou a ruína em seu rastro, enquanto
gritava para Adraas se mostrar. Sua voz ecoou pelas paredes.
Dobrou uma esquina para ver um esquadrão de seis soldados Imperiais
em armadura completa, rifles blaster prontos, os três da frente em um joelho
antes dos outros três.
Estavam esperando por ele.
Os seus reflexos intensificados pela Força moviam-se mais rápido do
que os dedos deles no gatilho. Sem diminuir o ritmo, puxou o seu sabre de
luz em sua mão e o ativou quando os blasters dispararam. A linha vermelha
da sua arma girou tão rápido em sua mão que se expandiu em um escudo.
Dois dos tiros dos blasters ricochetearam em sua arma e atingiram o
teto. Desviou os outros quatro de volta para os soldados, colocando buracos
negros em dois peitorais e duas máscaras faciais. Outras duas passadas e
uma investida o trouxeram sobre os dois soldados sobreviventes antes que
pudessem atirar novamente. Ele cortou, girou e cortou novamente, matando
os dois.
Desativou o seu sabre de luz e continuou pela mansão até chegar a um
grande salão central, talvez de quinze metros de largura e vinte e cinco de
comprimento. Colunas decorativas de madeira que sustentavam as varandas
superiores alinhavam-se em seu comprimento em intervalos regulares. Um
par de portas duplas ficava do outro lado do corredor, oposto ao que Malgus
havia entrado.
Lorde Adraas estava parado na porta aberta. Ele usava uma capa preta
sobre a sua elaborada armadura.
— Malgus, — disse Adraas, com a sua voz mostrando surpresa, mas o
seu tom transformando o nome de Malgus em um insulto. — Você estava
nas Regiões Desconhecidas.
— Estou nas Regiões Desconhecidas.
Adraas entendeu a implicação.
— Eu sabia que você viria um dia.
— Então você sabe que estou aqui por você.
Adraas acendeu o seu sabre de luz, tirou a sua capa.
— Sim, por mim. — Ele deu uma risadinha. — Entendo você, Malgus.
Entendo muito bem você.
— Você não entende nada,— Malgus disse, e entrou na sala.
Malgus sentiu o ódio emanando de Adraas, o poder, mas empalidecia em
comparação com a raiva e o ódio turvando em Malgus. Em sua mente, viu o
rosto de Eleena enquanto morria. Isto jogou combustível nas chamas da sua
raiva.
Adraas também entrou na sala.
— Você acha que a sua presença aqui é uma surpresa? Que eu não tenho
previsto isso há muito tempo?
Malgus riu, o som alto vindo do teto alto.
— Você previu isso, mas você não pode detê-lo. Você é uma criança,
Adraas. E esta noite você vai pagar. Angral não está aqui para protegê-lo.
Ninguém está.
Adraas zombou.
— Escondi o meu verdadeiro poder de você, Malgus. É você quem não
vai sair daqui.
— Então me mostre o seu poder, — disse Malgus, zombando.
Adraas rosnou e estendeu a mão esquerda. Raios fortes estalaram dos
seus dedos, enchendo o espaço entre eles.
Malgus interpôs o seu sabre de luz, atraiu o raio pra ele e começou a
caminhar em direção a Adraas. O poder girou em torno da lâmina vermelha,
chiando, estalando, empurrando Malgus, mas ele passou por isso. A pele
das suas mãos empolou, mas Malgus suportou a dor, pagou como o preço
pela sua causa.
Enquanto caminhava, girou a sua lâmina em um arco acima da sua
cabeça, reunindo o raio e, em seguida, atirou-o de volta em Adraas. O qual
bateu no peito dele, levantou-o do chão e o jogou com força contra o poço
distante.
— Esse é o seu poder? — Malgus perguntou, ainda avançando, envolto
em raiva. — Isso é o que você queria me mostrar?
Adraas ficou de pé, com a sua armadura carbonizada e fumegante. Um
rosnado dividiu o seu rosto.
Malgus acelerou o passo e transformou a caminhada em um ataque.
Com as suas botas batendo no chão de madeira do corredor. Não se
preocupou com sutileza. Desabafou a sua raiva em um rugido contínuo
enquanto desferia uma série de golpes furiosos: um golpe direto que Adraas
defendeu; uma estocada baixa que Adraas mal contornou; um chute lateral
que atingiu o lado de Adraas, quebrou costelas e arremessou Adraas
completamente pelo do eixo estreito do corredor. Ele colidiu com uma
coluna e o impacto a partiu como um raio em uma árvore.
Adraas rosnou enquanto se levantava. O poder se reuniu ao redor dele,
uma tempestade sombria de energia, e saltou em Malgus, com a sua lâmina
erguida.
Malgus zombou, gesticulou, agarrou Adraas em seu poder e puxou-o do
ar no ápice do salto dele.
Adraas caiu no chão, com a sua respiração ofegante. Ficou de quatro, em
seguida, de pé, favorecendo seu lado, a sua lâmina segurada frouxamente
diante dele.
— Você não escondeu nada de mim, — disse Malgus, e o poder em sua
voz fez Adraas estremecer. — Você é um tolo, Adraas. A sua habilidade
está na política, em obter o favor dos seus superiores. A sua compreensão
da Força não é nada comparada à minha.
Adraas rosnou e começou a atacar Malgus, em uma última tentativa de
salvar a sua dignidade, se não a sua vida.
Malgus estendeu a mão e a raiva dentro dele se manifestou em veios
azuis de relâmpago que dispararam de seus dedos e se chocaram contra
Adraas. O poder parou a carga fria de Adraas, soprou o sabre de luz da mão
dele e o prendeu em uma gaiola de relâmpagos ardentes. Ele gritou,
contorcendo-se de frustração e dor.
— Acabe com isso, Malgus! Acabe com isso!
Malgus abriu os dedos e liberou o raio. Adraas caiu no chão, sua carne
fumegando, a pele do seu rosto outrora belo empolado e descascando.
Novamente ele ficou de quatro e olhou para Malgus.
— Angral vai me vingar.
— Angral vai suspeitar do que aconteceu aqui, — disse Malgus, e
caminhou na direção dele. — Mas ele nunca saberá, não com certeza, não
até que seja tarde demais.
— Tarde demais pra quê? — Adraas perguntou.
Malgus não respondeu.
— Você está louco, — disse Adraas, e saltou sobre os pés dele e atacou.
Puxou o seu sabre de luz para o punho e o ativou. O ataque pegou Malgus
momentaneamente de surpresa.
Adraas deu uma rajada de golpes, a sua lâmina um zumbido, um borrão
vermelho enquanto girava, esfaqueava, partia e cortava. Malgus recuou um
único passo, outro, então se manteve firme, a sua própria lâmina uma
resposta a todos os ataques de Adraas. Adraas gritou enquanto atacava, o
som de desespero, cheio de conhecimento de que ele não era páreo para
Malgus.
Finalmente Malgus respondeu com um ataque próprio, forçando Adraas
a recuar com a força e a velocidade dos seus golpes. Quando tinha Adraas
encostado na parede, cortou na altura da cabeça dele. Adraas se abaixou e
Malgus cortou uma coluna em duas. Enquanto a enorme parte superior da
coluna caia no chão e a varanda balançou acima deles, Adraas caiu de
joelhos e esfaqueou o peito de Malgus. Malgus girou para fora do caminho
e girou em um golpe que cortou o braço de Adraas no cotovelo. Adraas
gritou e agarrou o braço no bíceps enquanto o seu antebraço caía no chão
junto com a coluna.
Malgus ensinou a lição que veio ensinar.
Desativou o seu sabre de luz, ergueu a mão esquerda e fez uma pinça
com os dedos.
Adraas tentou usar o seu próprio poder para se defender, mas Malgus o
empurrou e tomou o controle de telecinesia segurando a garganta de
Adraas.
Adraas engasgou, os capilares em seus olhos arregalados começando a
estourar. O poder de Malgus levantou Adraas do chão, com as suas pernas
chutando, ofegando.
Malgus estava diretamente diante de Adraas, com o seu ódio se
fechando na traqueia de Adraas.
— Você e Angral causaram isso, Adraas. E o Imperador. Não pode haver
paz com os Jedi, não há trégua. — Ele cerrou o punho. — Não pode haver
paz de forma alguma. Nunca.
A única resposta de Adraas foi continuar engasgando.
Ao vê-lo ali, enforcado, quase morto, Malgus pensou em Eleena, na
descrição que Adraas fez dela. Ele libertou ao Adraas das garras do seu
estrangulamento na Força.
Adraas caiu de costas no chão, ofegante. Malgus colocou um joelho no
peito e as duas mãos na garganta dele antes que Adraas pudesse se
recuperar. Ele mataria Adraas com as próprias mãos.
— Olhe nos meus olhos, — ele disse, e fez Adraas olhar pra ele. — Nos
olhos!
Os olhos de Adraas mostraram hemorragia petequial, mas Malgus sabia
que estava coerente.
— Você a chamou de vira-lata, — disse Malgus. Ele tirou as suas
manoplas, pegou Adraas pelo pescoço e começou a apertar. — Na minha
cara, você a chamou assim. Ela.
Adraas piscou, com os seus olhos lacrimejando. Sua boca abriu e
fechou, mas nenhum som emergiu.
— Você é o vira-lata, Adraas. — Malgus se abaixou, nariz com nariz. —
O vira-lata de Angral e você e os outros como você mestiçaram a pureza do
Império com a sua poluição, trocando força por uma paz miserável.
A traqueia de Adraas entrou em colapso nas mãos de Malgus. Não
houve tosse ou engasgo final. Adraas morreu em silêncio.
Malgus se levantou e parou sobre o corpo de Adraas. Ele calçou as
luvas, ajustou a armadura, a capa e saiu da mansão.

O SOL NASCENTE ESPIOU sobre as montanhas em Dantooine, e as nuvens finas


na linha do horizonte pareciam que tinham pegado fogo. As sombras se
estendiam sobre o vale, recuando gradualmente conforme o sol se erguia.
As árvores sussurravam em uma brisa que trazia o cheiro de argila, frutas
em decomposição e a chuva recente.
Zeerid parou no meio da terra úmida e da grama alta, sob o céu aberto, e
encarou o fato de que não tinha a menor ideia do que deveria estar fazendo.
Provavelmente semeando sementes, ele supôs, ou enxertando vinhas, ou
testando o solo ou algo assim. Mas era tudo um palpite. Olhou ao redor
como se pudesse haver alguém por perto a quem pudesse pedir ajuda, mas a
fazenda mais próxima ficava a vinte quilômetros a oeste.
Estava sozinho.
— O mesmo de sempre, — disse pra si mesmo com um sorriso.
Depois de se livrar de Coruscant, voou para Vulta, pegou Nat e Arra e
fugiu pra mais fundo da Orla Exterior. Lá, vendeu a Navalha e a carga dela
no mercado negro e, com os créditos que ganhou, comprou pra Nat uma
casa própria e pra ele e Arra comprou um antigo vinhedo, há muito não
usado para cultivo, de um casal de idosos.
Tornou-se uma espécie de fazendeiro. Ou pelo menos um dono de
fazenda. Assim como disse a Aryn que faria.
Pensar em Aryn, especialmente nos olhos dela, o fez sorrir, mas o
sorriso se curvou sob o peso de lembranças ruins.
Nunca mais a viu depois de deixar Coruscant. Por um tempo, tentou
descobrir o que havia acontecido com ela, mas uma pesquisa no HoloNet
não resultou em nada. Sabia, no entanto, que Darth Malgus estava vivo.
Presumiu que isso significava que Aryn não estava, e não foi capaz de dizer
a Arra por que o Papai às vezes chorava.
E ainda esperava secretamente que a presunção estivesse errada, que ela
tivesse escapado de alguma forma, e lembrado de quem era.
Pensava nela todos os dias, em seu sorriso, em seu cabelo, mas
principalmente em seus olhos. A compreensão que via neles sempre o
atraíra pra ela. Ainda o atraia, embora fosse atraído apenas pela memória
dela agora.
Esperava que ela tivesse encontrado tudo o que estava procurando antes
do fim.
Olhou ao redor da sua nova propriedade, para a grande casa que ele e
Arra bisbilhotaram tudo, para as várias dependências que continham
equipamentos que não sabia operar, para as fileiras de treliças que ladeavam
os campos de vinha em pousio, e sentiu-se… livre.
Não devia nada a ninguém e A Permuta nunca o encontraria, mesmo se
de alguma forma percebessem que ainda estava vivo. Era dono de um
terreno, de uma casa e tinha créditos suficientes para contratar uma equipe
que poderia ajudá-lo a transformar o terreno numa vinícola decente em um
ou dois anos. Ou talvez convertesse a fazenda e cultivasse tabac. Meses
antes, ele não poderia ter imaginado uma vida assim para si mesmo.
Sorrindo como um tolo, sentou-se no centro do seu terreno cultivado e
observou o nascer do sol.
Um ponto preto acima do horizonte atraiu a sua atenção.
Uma nave.
Ele observou, despreocupado até que começou a ficar maior. Ainda não
conseguia distinguir as suas linhas, mas podia ver o seu curso.
Estava indo na sua direção.
Um flash de pânico se apoderou dele, mas lutou contra isso. Os seus
olhos foram para a casa onde Arra dormia. Voltou o seu olhar para a nave.
Não gostava de naves não identificadas descendo do céu na sua direção.
Elas sempre o lembravam do mergulho vertiginoso que assistiu bater no
Templo Jedi. Elas sempre o lembravam de Aryn.
— Eles não poderiam ter nos encontrado, — ele disse. — Não é nada.
A nave ficou ainda maior à medida que diminuía a distância. Estava se
movendo rapidamente
A partir do design de três asas, o identificou com um BT7 Thunderstrike
: uma nave multiúso comum até mesmo na Orla. Ficou parado enquanto se
aproximava. Podia ouvir o zumbido grave dos seus motores.
— Papai!
A voz de Arra virou a sua cabeça. Ela havia saído de casa e se sentou na
cadeira de balanço de madeira na varanda coberta da casa. Ela sorriu e
acenou.
— A chuva acabou! — ela disse.
— Entre em casa, Arra! — ele gritou, apontando pra a porta.
— Mas papai...
— Entre agora.
Não se preocupou em ver se ela o obedecia. A nave provavelmente
ainda não o tinha visto. As treliças e os seus veios de videiras douradas o
teriam escondido de um observador no ar. Abaixou-se e disparou na direção
do limite do campo, protegendo-se o melhor que pôde atrás de uma das
treliças. Puxou algumas vinhas mortas para poder olhar pra a área aberta no
limite do campo onde a nave provavelmente iria pousar.
Se ela fosse para a sua fazenda.
Olhou pra trás e viu que Arra havia voltado pra dentro. Estendeu a mão
para o coldre do tornozelo e tirou o E-3 que mantinha lá, em seguida,
alcançou a parte inferior das costas para pegar o E-9 que mantinha lá.
Repreendeu-se por não o usar seu coldre de quadril costumeiro com os seus
gêmeos BlasTech 4s. Arra não gostava de ver as armas, então começou a
usar apenas aquelas que podia carregar em coldres ocultos. Mas pequenos
revólveres da série E teriam dificuldade em fazer muito a alguém com
armadura ablativa.
Novamente, se a nave estivesse indo para a sua fazenda.
A nave apareceu, e notou a falta de marcas. Não é um bom sinal. Ela
diminuiu a velocidade, circulou a fazenda e ele tentou se ocultar. Os
motores desaceleraram e os seus propulsores ativados. Estava pousando.
Ele amaldiçoou, amaldiçoou e amaldiçoou.
A tensão crescia dentro dele, mas ele ainda sentia a calma habitual que
sempre o serviu bem no combate. Ele se lembrou de não atirar até que
soubesse o que estava enfrentando. Era possível que quem quer que
estivesse na Thunderstrike não pretendesse fazer mal a ele. Outro morador
local, talvez. Ou um oficial em uma nave sem identificação.
Mas ele duvidou disso.
Se fossem agentes dA Permuta, queria pegar pelo menos um com vida,
para descobrir como o rastrearam.
A nave pousou, seus trilho afundando no solo úmido. Os motores
diminuíram, mas não desligaram. Podia ver o piloto através da canopi de
transparaço, um humano de jaqueta, capacete e óculos que parecia ser o
uniforme de piloto de fora da Orla. Estava falando com alguém ou alguém
no compartimento traseiro, mas Zeerid não conseguia ver quem.
Ouviu as portas do outro lado da nave abrindo e se fechando. Ainda não
conseguia ver ninguém. Os motores da nave aumentaram ligeiramente, os
propulsores acionados e começou a decolar. Deu alguns segundos pra se
levantar no ar e ligar os seus motores totalmente, em seguida, saiu de trás
da treliça.
Uma única figura caminhava em direção à sua casa, uma mulher humana
com cabelo curto, vestida com calças largas e um casaco curto. Ele nivelou
os dois blasters nas costas dela.
— Não dê mais um passo.
Ela parou e estendeu as mãos para os lados.
Ele começou a circular para que pudesse ver o rosto dela.
— Você vai atirar em mim toda vez que nos encontrarmos?
O som da voz dela o parou, fez o seu coração disparar, roubou o seu
fôlego.
— Aryn?
Ela se virou e era ela. Ele não poderia acreditar nisso.
As primeiras palavras que saíram de sua boca foram ridículas.
— O seu cabelo!
Ela passou a mão pelo cabelo raspado.
— Sim, eu precisava de uma mudança.
Ele ouviu a seriedade no tom dela e respondeu gentilmente enquanto
caminhava na direção dela. As suas pernas pareciam instáveis embaixo
dele.
— Eu sei o que você quer dizer.
Ela sorriu suavemente, e era o mesmo de sempre, tão quente quanto o
sol nascente.
— Procurei por você em todos os lugares, — ela disse. — Queria ter
certeza de que estava bem.
— Também procurei por você, — ele disse. — Mas não havia nada.
Assisti a cada história de holograma sobre os Jedi. Dizia que estavam
saindo de Coruscant...
A expressão dela caiu.
— Eu renunciei a Ordem, Zeerid.
Ele parou em seu caminho.
— Você o que?
— Eu a renunciei. Como eu disse, precisava de uma mudança.
— Achei que você quisesse dizer o seu cabelo.
Ela sorriu pra isso também, então indicou os blaster com os olhos.
— Você vai guardar isso?
Sentiu-se corar.
— Claro. Quero dizer, sim. Certo.
Ele coldreou ambas as armas, com as mãos tremendo.
— Como me achou?
— Você disse que se tornaria um fazendeiro em Dantooine. — Ela
estendeu os braços para o lado, indicando a paisagem. — E aqui está você.
— E aqui eu estou.
— Não se preocupe, — ela disse, antecipando a preocupação dele. —
Ninguém mais poderia te encontrar. Só eu.
— Só você. Só você.
Estava sorrindo estupidamente, ecoando as palavras dela, e
provavelmente parecia um idiota. Ele não se importou. Ela também sorria e
ele não aguentou mais.
— Droga, Aryn! — ele disse. Ele correu na direção dela e a pegou em
seus braços.
Ela retribuiu o abraço e ele a apertou com mais força, sentiu o corpo
dela contra o dele, inalou o cheiro dos cabelos dela. Gostou do momento,
em seguida, segurou-a com o braço esticado.
— Espere, como você... saiu de Coruscant? Malgus...
Ela assentiu.
— Chegamos a uma espécie de entendimento.
Queria perguntar sobre a Twi'lek, mas estava com medo da resposta.
Talvez tenha sentido a sua turbulência emocional, ou talvez o conhecesse
bem o suficiente para antecipar a pergunta.
— Mesmo depois que você partiu, não a machuquei. A Eleena, quero
dizer. Eu a deixei com Malgus. Não sei se fiz algum favor a ela.
Abraçou-a de novo, mais aliviado do que esperava.
— Estou feliz, Aryn. Estou feliz que fez isso. E estou feliz que você
esteja aqui.
Lágrimas escorreram dos olhos dele. Ele não tinha certeza do porquê.
Ela o empurrou pra trás e estudou o rosto dele.
— O que é isso? Você está chateado.
As palavras subiram por sua garganta, mas as manteve por trás dos
dentes. Lembrou-se da eclusa de ar na Navalha, mas balançou a cabeça.
Vrath era o seu peso para carregar.
— Não é nada. Estou muito feliz em ver você. Um acordo com Malgus?
O que isso significa?
— Que ele me deixou ir.
— Ele o quê?
Aryn assentiu.
— Ele me deixou ir. Ainda não entendo o porquê. Não totalmente.
— Você... ainda o está caçando?
Uma sombra passou pela expressão de Aryn, mas o sorriso suave dela
iluminou o seu rosto e afugentou isso. Ela colocou os dedos em um colar
que usava. Uma pedra pendurada em uma corrente de prata. Zeerid pensou
que fosse algum tipo de joia Nautolana.
— Não, não estou o caçando. Quando o enfrentei, senti seu o ódio, a seu
raiva. — Ela estremeceu e passou os braços ao redor de seu corpo esguio.
— Era diferente de tudo que havia encontrado em um Sith antes. Ele vive
em um lugar sombrio. E... não queria segui-lo até lá.
Zeerid entendeu melhor do que ela imaginava. Ele morava em seu
próprio lugar sombrio.
— Você não quer carregar isso, — disse a ela, e pra si mesmo.
— Não, — ela disse. — Não quero carregar isso.
Sacudiu a escuridão e forçou um sorriso.
— Você vai ficar por um tempo?
Antes que Aryn pudesse responder, a voz de Arra saiu de casa.
— Papai! Posso sair agora?
Ele acenou pra que saísse e ela abriu a porta, saltou pela varanda, desceu
as escadas e atravessou o caminho.
Aryn o agarrou pelo braço.
— Ela está correndo, Zeerid.
— Próteses. — ele disse, e seus olhos se encheram de lágrimas ao vê-la
correndo em sua direção com Aryn ao seu lado.
Quando Arra os alcançou, parou diante deles, sem fôlego, com os
cabelos cacheados despenteados, os olhos curiosos e o sorriso largo. Ela
estendeu a mão pequena, toda séria.
— Olá. Meu nome é Arra.
Aryn se ajoelhou para olhá-la nos olhos. Pegando a mão dela e disse:
— Olá, Arra. Eu sou Aryn. Prazer em conhecê-la.
— Você tem olhos lindos, — disse Arra.
— Obrigada.
Zeerid expressou as suas esperanças em voz alta.
— Eu acho que Aryn vai ficar conosco por um tempo. Não seria bom?
Arra assentiu com a cabeça.
— Não vai, Aryn? Vai ficar um pouco?
Aryn se levantou e as esperanças de Zeerid aumentaram com ela, frágil,
pronto pra ser frustrado. Quando ela o olhou e assentiu com a cabeça, ele
sorriu como um tolo.
— Você gosta de jogar bola gravitacional? — Arra perguntou pra ela.
— Você pode me ensinar, — disse Aryn.
— Que tal comer um pouco? — Zeerid disse.
— Aposto que ganho de você! — Disse Arra, e correu para a casa.
Zeerid e Aryn correram atrás dela, todos os três rindo, livres.
STAR WARS / A VELHA REPÚBLICA - ENGANADOS
TÍTULO ORIGINAL: Star Wars / The Old Republic - Decieved
COPIDESQUE: TRADUTORES DOS WHILLS
REVISÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
DIAGRAMAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
ARTE E ADAPTAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS / JOSEPH MEEHAN
ILUSTRAÇÃO: TRADUTORES DOS WHILLS
GERENTE EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS
DIREÇÃO EDITORIAL: TRADUTORES DOS WHILLS
ASSISTENTES EDITORIAIS: TRADUTORES DOS WHILLS

COPYRIGHT © & TM 2011 LUCASFILM LTD.


COPYRIGHT © TRADUTORES DOS WHILLS, 2021
(EDIÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA O BRASIL)
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
PROIBIDA A REPRODUÇÃO, NO TODO OU EM PARTE, ATRAVÉS DE QUAISQUER MEIOS.

VELHA REÚBLICA - ENGANADOS É UM LIVRO DE FICÇÃO. TODOS OS PERSONAGENS, LUGARES E


ACONTECIMENTOS SÃO FICCIONAIS.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
TDW CRB-1/000
F93r Kemp, Paul S.
STAR WARS - VELHA REÚBLICA - ENGANADOS [recurso eletrônico] / Paul S. Kemp;
traduzido por RED SKULL MYTHOSAUR.
400 p. : 4.0 MB.
Tradução de: The Old Republc - Decieved
ISBN: 978-0-345-52988-6 (Ebook)
1. Literatura norte-americana. 2. Ficção científica. I. MYTHOSAUR, RED SKULL CF. II. Título.
2017.352

ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:

Literatura : Ficção Norte-Americana 813.0876


Literatura norte-americana : Ficção 821.111(73)-3

tradutoresdoswhills.wordpress.com
Agradecimentos

Meus agradecimentos a Shelly, Sue, Leland e David, por toda a ajuda e


incentivo.
Sobre o Autor

PAUL S. KEMP é o autor mais vendido do New York Times


com o romance Star Wars: Contra-corrente, bem como de
nove romances de fantasia Forgotten Realms e muitos
contos. Quando não está escrevendo, ele pratica o direito
corporativo em Michigan, o que o inspirou a escrever
alguns dos vilões realmente críveis. Ele gosta de charutos,
uísque, cervejas e tenta cantarolar a música tema da série
Shaft pelo menos uma vez por dia. Paul Kemp vive e
trabalha em Grosse Pointe, Michigan, com sua esposa,
filhos gêmeos e um casal de gatos.

paulskemp.net
Twitter: @paulskemp
Instagram: @paulsvantekemp
Outros Materiais do Autor
Star Wars: Contra-corrente

The Erevis Cale Triloey


Twilight Falling
Dawn of Night
Midnight’s Mask

The Twilight War


Shadowbred
Shadowstorm
Shadowrealm
STAR WARS – GUARDIÕES DOS WHILLS
Greg Rucka
240 páginas
Baixe agora e leia
No mundo do deserto de Jedha, na Cidade Santa, os amigos Baze e Chirrut
costumavam ser Guardiões das colinas, que cuidavam do Templo de Kyber
e dos devotos peregrinos que adoravam lá. Então o Império veio e assumiu
o planeta. O templo foi destruído e as pessoas espalhadas. Agora, Baze e
Chirrut fazem o que podem para resistir ao Império e proteger as pessoas de
Jedha, mas nunca parece ser suficiente. Então um homem chamado Saw
Gerrera chega, com uma milícia de seus próprios e grandes planos para
derrubar o Império. Parece ser a maneira perfeita para Baze e Chirrut fazer
uma diferença real e ajudar as pessoas de Jedha a viver melhores vidas. Mas
isso vai custar caro?
Baixe agora e leia
Episódio VIII – Os Últimos Jedi – Movie Storybook
Elizabeth Schaefer
128 páginas
Baixe agora e leia
Um livro de imagens ilustrado que reconta o filme Star Wars: Os Últimos
Jedi.
Baixe agora e leia
Chewie e a Garota Corajosa
Lucasfilm Press
24 páginas
Baixe agora e leia
Um Wookiee é o melhor amigo de uma menina! Quando Chewbacca
conhece a jovem Zarro na Orla Exterior, ele não tem escolha a não ser
deixar de lado sua própria missão para ajudá-la a resgatar seu pai de uma
mina perigosa. Essa incrível Aventura foi baseada na HQ do Chewbacca…
(FAIXA ETÁRIA: 6 a 8 anos)
Baixe agora e leia
Star Wars Ahsoka
E.K. Johnston
371 páginas
Baixe agora e leia
Esse é o Terceiro Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura
emocionante sobre uma heroína corajosa das Séries de TV Clone Wars e
Rebels: Ahsoka Tano! Os fãs há muito tempo se perguntam o que aconteceu
com Ahsoka depois que ela deixou a Ordem Jedi perto do fim das Guerras
Clônicas, e antes dela reaparecer como a misteriosa operadora rebelde
Fulcro em Rebels. Finalmente, sua história começará a ser contada.
Seguindo suas experiências com os Jedi e a devastação da Ordem 66,
Ahsoka não tem certeza de que possa fazer parte de um todo maior de novo.
Mas seu desejo de combater os males do Império e proteger aqueles que
precisam disso e levará a Bail Organa e a Aliança Rebelde….
Baixe agora e leia
Star Wars Kenobi Exílio
Tradutores dos Whills
79 páginas
Baixe agora e leia
A República foi destruída, e agora a galáxia é governada pelos terríveis
Sith. Obi-Wan Kenobi, o grande cavaleiro Jedi, perdeu tudo… menos a
esperança. Após os terríveis acontecimentos que deram fim à República,
coube ao grande mestre Jedi Obi-Wan Kenobi manter a sanidade na missão
de proteger aquele que pode ser a última esperança da resistência ao
Império. Vivendo entre fazendeiros no remoto e desértico planeta Tatooine,
nos confins da galáxia, o que Obi-Wan mais deseja é manter-se no completo
anonimato e, para isso, evita o contato com os moradores locais. No
entanto, todos esses esforços podem ser em vão quando o “Velho Ben”,
como o cavaleiro passa a ser conhecido, se vê envolvido na luta pela
sobrevivência dos habitantes por uma Grande Seca e por causa de um chefe
do crime e do povo da areia. Se com o Novo Cânone pudéssemos encontrar
todos os materiais disponíveis aos anos de Exílio de Obi-Wan Kenobi em
um só Lugar? Após o Livro Kenobi se tornar Legend, os fãs ficaram sem
saber o que aconteceu com o Velho Ben nesse tempo de reclusão. Então os
Tradutores dos Whills também se fizeram essa pergunta e resolveram fazer
esse trabalho de compilação dos Contos, Ebooks, Séries Animadas e HQs,
em um só Ebook Especial e Canônico para todos os Fãs!!
Baixe agora e leia
Star Wars -Dookan: O Jedi Perdido
Cavan Scott
469 páginas
Baixe agora e leia
Esse é o Quarto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura
emocionante sobre um Vilão dos Filmes e da Série de TV Clone Wars:
Conde Dookan! Mergulhe na história do sinistro Conde Dookan no
roteiro original da emocionante produção de áudio de Star
Wars! Darth Tyranus. Conde de Serenno. Líder dos Separatistas.
Um sabre vermelho, desembainhado no escuro. Mas quem era ele
antes de se tornar a mão direita dos Sith? Quando Dookan corteja
uma nova aprendiz, a verdade oculta do passado do Lorde Sith
começa a aparecer. A vida de Dookan começou como um
privilégio, nascido dentro das muralhas pedregosas da propriedade
de sua família. Mas logo, suas habilidades Jedi são reconhecidas, e
ele é levado de sua casa para ser treinado nos caminhos da Força
pelo lendário Mestre Yoda. Enquanto ele afia seu poder, Dookan
sobe na hierarquia, fazendo amizade com Jedi Sifo-Dyas e levando
um Padawan, o promissor Qui-Gon Jinn, e tenta esquecer a vida
que ele levou uma vez. Mas ele se vê atraído por um estranho
fascínio pela mestra Jedi Lene Kostana, e pela missão que ela
empreende para a Ordem: encontrar e estudar relíquias antigas dos
Sith, em preparação para o eventual retorno dos inimigos mais
mortais que os Jedi já enfrentaram. Preso entre o mundo dos Jedi,
as responsabilidades antigas de sua casa perdida e o poder sedutor
das relíquias, Dookan luta para permanecer na luz, mesmo
quando começa a cair na escuridão.
Baixe agora e leia
Star Wars – Discípulo Sombrio
Tradutores dos Whills
319 páginas
Baixe agora e leia
Esse é o Quinto Ebook dos Tradutores dos Whills com uma aventura
emocionante sobre um Vilões e Heróis dos Filmes e da Série de TV Clone
Wars! Baseado em episódios não produzidos de Star Wars: The Clone Wars,
este novo romance apresenta Asajj Ventress, a ex-aprendiz Sith que se
tornou um caçadora de recompensas e uma das maiores anti-heróis da
galáxia de Star Wars. Na guerra pelo controle da galáxia entre os exércitos
do lado negro e da República, o ex-Mestre Jedi se tornou cruel. O Lorde
Sith Conde Dookan se tornou cada vez mais brutal em suas táticas. Apesar
dos poderes dos Jedi e das proezas militares de seu exército de clones, o
grande número de mortes está cobrando um preço terrível. E quando
Dookan ordena o massacre de uma flotilha de refugiados indefesos, o
Conselho Jedi sente que não tem escolha a não ser tomar medidas drásticas:
atacar o homem responsável por tantas atrocidades de guerra, o próprio
Conde Dookan. Mas o Dookan sempre evasivo é uma presa perigosa para o
caçador mais hábil. Portanto, o Conselho toma a decisão ousada de trazer
tanto os lados do poder da Força de suportar – juntar o ousado Cavaleiro
Quinlan Vos com a infame acólita Sith Asajj Ventress. Embora a
desconfiança dos Jedi pela astuta assassina que uma vez serviu ao lado de
Dookan ainda seja profunda, o ódio de Ventress por seu antigo mestre é
mais profundo. Ela está mais do que disposta a emprestar seus copiosos
talentos como caçadora de recompensas, e assassina, na busca de
Vos.Juntos, Ventress e Vos são as melhores esperanças para eliminar a
Dookan – desde que os sentimentos emergentes entre eles não
comprometam a sua missão. Mas Ventress está determinada a ter sua
vingança e, finalmente, deixar de lado seu passado sombrio de Sith.
Equilibrando as emoções complicadas que sente por Vos com a fúria de seu
espírito guerreiro, ela resolve reivindicar a vitória em todas as frentes, uma
promessa que será impiedosamente testada por seu inimigo mortal… e sua
própria dúvida.
Baixe agora e leia
Os Segredos dos Jedi
Tradutores dos Whills
50 páginas
Baixe agora e leia
Descubra o mundo dos Jedi de Star Wars através desta experiência de
leitura divertida e totalmente interativa. Star Wars: Jediografia é o melhor
guia do universo Jedi para o universo dos Jedi, transportando jovens leitores
para uma galáxia muito distante, através de recursos interativos, fatos
fascinantes e ideias cativantes. Com ilustrações originais emocionantes e
incríveis recursos especiais, como elevar as abas, texturas e muito mais,
Star Wars: Jediografia garante a emoção das legiões de jovens fãs da saga.
Baixe agora e leia
Star Wars – Thrawn – Alianças
Timothy Zahn

Baixe agora e leia

Palavras sinistras em qualquer circunstância, mas ainda mais


quando proferidas pelo Imperador Palpatine. Em Batuu, nos limites
das Regiões Desconhecidas, uma ameaça ao Império está se
enraizando. Com a sua existência pouco mais que um vislumbre, as
suas consequências ainda desconhecidas. Mas é preocupante o
suficiente para o líder imperial justificar a investigação de seus
agentes mais poderosos: o impiedoso agente Lorde Darth Vader e o
brilhante estrategista grão-almirante Thrawn. Rivais ferozes a favor
do Imperador e adversários francos nos assuntos imperiais,
incluindo o projeto Estrela da Morte, o par formidável parece
parceiros improváveis para uma missão tão crucial. Mas o
Imperador sabe que não é a primeira vez que Vader e Thrawn
juntam forças. E há mais por trás de seu comando real do que
qualquer um dos suspeitos. No que parece uma vida atrás, o
general Anakin Skywalker da República Galáctica e o comandante
Mitth’raw’nuruodo, oficial da Ascensão do Chiss, cruzaram o
caminho pela primeira vez. Um em uma busca pessoal
desesperada, o outro com motivos desconhecidos... e não
divulgados. Mas, diante de uma série de perigos em um mundo
longínquo, eles forjaram uma aliança desconfortável – nem
remotamente cientes do que seus futuros reservavam. Agora,
reunidos mais uma vez, eles se veem novamente ligados ao planeta
onde lutaram lado a lado. Lá eles serão duplamente desafiados –
por uma prova de sua lealdade ao Império... e um inimigo que
ameaça até seu poder combinado.

Baixe agora e leia


Star Wars – Legado da Força – Traição
Tradutores dos Whills
496 páginas
Baixe agora e leia
Esta é a era do legado de Luke Skywalker: o Mestre Jedi unificou a Ordem
em um grupo coeso de poderosos Cavaleiros Jedi. Mas enquanto a nova era
começa, os interesses planetários ameaçam atrapalhar esse momento de
relativa paz, e Luke é atormentado com visões de uma escuridão que se
aproxima. O mal está ressurgindo “das melhores intenções” e parece que o
legado dos Skywalkers pode dar um ciclo completo.A honra e o dever
colidirão com a amizade e os laços de sangue, à medida que os Skywalker e
o clã Solo se encontrarem em lados opostos de um conflito explosivo com
repercussões potencialmente devastadoras para ambas as famílias, para a
ordem Jedi e para toda a galáxia.Quando uma missão para descobrir uma
fábrica ilegal de mísseis no planeta Aduman termina em uma emboscada
violenta, da qual a Cavaleira Jedi Jacen Solo e o seu protegido e primo, Ben
Skywalker, escapam por pouco com as suas vidas; é a evidência mais
alarmante ainda que desencadeia uma discussão política. A agitação está
ameaçando inflamar-se em total Rebelião. Os governos de vários mundos
estão se irritando com os rígidos regulamentos da Aliança Galáctica, e os
esforços diplomáticos para garantir o cumprimento estão falhando.
Temendo o pior, a Aliança prepara uma demonstração preventiva de poder
militar, numa tentativa de trazer os mundos renegados para a frente antes
que uma revolta entre em erupção. O alvo modeloado para esse exercício: o
planeta Corellia, conhecido pela independência impetuosa e pelo espírito
renegado que fizeram de seu filho favorito, Han Solo, uma lenda.Algo
como um trapaceiro, Jacen é, no entanto, obrigado como Jedi a ficar com
seu tio, o Mestre Jedi Luke Skywalkers, ao lado da Aliança Galáctica. Mas
quando os corellianos de guerra lançam um contra-ataque, a demonstração
de força da Aliança, e uma missão secreta para desativar a crucial Estação
Central de Corellia; dão lugar a uma escaramuça armada. Quando a fumaça
baixa, as linhas de batalha são traçadas. Agora, o espectro da guerra em
grande escala aparece entre um grupo crescente de planetas desafiadores e a
Aliança Galáctica, que alguns temem estar se tornando um novo Império.E,
enquanto os dois lados lutam para encontrar uma solução diplomática, atos
misteriosos de traição e sabotagem ameaçam condenar os esforços de paz a
todo momento. Determinado a erradicar os que estão por trás do caos, Jacen
segue uma trilha de pistas enigmáticas para um encontro sombrio com as
mais chocantes revelações… enquanto Luke se depara com algo ainda mais
preocupante: visões de sonho de uma figura sombria cujo poder da Força e
crueldade lembram a ele de Darth Vader, um inimigo letal que ataca como
um espírito sombrio em uma missão de destruição. Um agente do mal que,
se as visões de Luke acontecerem, trará uma dor incalculável ao Mestre Jedi
e a toda a galáxia.
Baixe agora e leia
Star Wars – Battlefront II: Esquadrão Inferno
Christie Golden
Baixe agora e leia
Após o humilhante roubo dos planos da Estrela da Morte e a destruição da
estação de batalha, o Império está na defensiva. Mas não por muito. Em
retaliação, os soldados imperiais de elite do Esquadrão Inferno foram
chamados para a missão crucial de se infiltrar e eliminar os guerrilheiros – a
facção rebelde que já foi liderada pelo famoso lutador pela liberdade da
República, Saw Gerrera.
Após a morte de seu líder, os guerrilheiros continuaram seu legado
extremista, determinados a frustrar o Império – não importa o custo. Agora
o Esquadrão Inferno deve provar seu status como o melhor dos melhores e
derrubar os Partisans de dentro. Mas a crescente ameaça de serem
descobertos no meio de seu inimigo transforma uma operação já perigosa
em um teste ácido de fazer ou morrer que eles não ousam falhar. Para
proteger e preservar o Império, até onde irá o Esquadrão Inferno. . . e quão
longe deles?
Baixe agora e leia
Star Wars – Star Wars – Catalisador – Um Romance de Rogue One
Baixe agora e leia
A guerra está destruindo a galáxia. Durante anos, a República e os
Separatistas lutaram entre as estrelas, cada um construindo uma tecnologia
cada vez mais mortal na tentativa de vencer a guerra. Como membro do
projeto secreto da Estrela da Morte do Chanceler Palpatine, Orson Krennic
está determinado a desenvolver uma super arma antes que os inimigos da
República possam. E um velho amigo de Krennic, o brilhante cientista
Galen Erso, poderia ser a chave. tativa de vencer a guerra. Como membro
do projeto secreto da Estrela da Morte do Chanceler Palpatine, Orson
Krennic está determinado a desenvolver uma super arma antes que os
inimigos da República possam. E um velho amigo de Krennic, o brilhante
cientista Galen Erso, poderia ser a chave. A pesquisa focada na energia de
Galen chamou a atenção de Krennic e de seus inimigos, tornando o cientista
um peão crucial no conflito galáctico. Mas depois que Krennic resgata
Galen, sua esposa, Lyra, e sua filha Jyn, de sequestradores separatistas, a
família Erso está profundamente em dívida com Krennic. Krennic então
oferece a Galen uma oportunidade extraordinária: continuar seus estudos
científicos com todos os recursos totalmente à sua disposição. Enquanto
Galen e Lyra acreditam que sua pesquisa energética será usada puramente
de maneiras altruístas, Krennic tem outros planos que finalmente tornarão a
Estrela da Morte uma realidade. Presos no aperto cada vez maior de seus
benfeitores, os Ersos precisam desembaraçar a teia de decepção de Krennic
para salvar a si mesmos e à própria galáxia.
Baixe agora e leia
Star Wars – Ascenção Rebelde
Baixe agora e leia
Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu pai foi
tirado dela para servir ao Império. Mas, apesar da perda de seus pais, ela
não está completamente sozinha – Saw Gerrera, um homem disposto a ir a
todos os extremos necessários para resistir à tirania imperial, acolhe-a como
sua e dá a ela não apenas um lar, mas todas as habilidades e os recursos de
que ela precisa para se tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao
homem. Mas lutar ao lado de Saw e seu povo traz consigo o perigo e a
questão de quão longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw.
Quando ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn
terá que se recompor e descobrir no que ela realmente acredita… e em
quem ela pode realmente confiar.
Baixe agora e leia
Star Wars – A Alta República – O Grande Resgate Jedi
Baixe agora e leia
Conheça os nobres e sábios Jedi da Alta República! Quando um desastre
acontece no hiperespaço, colocando o povo de Hetzal Prime em grave
perigo, apenas os Jedi da Alta República podem salvar o dia! Esse ebook é
a forma mais incrível de introduzir as crianças nessa nova Era da Alta
República, pois reconta a história do Ebook Luz dos Jedi de forma simples
e didática para as crianças. (FAIXA ETÁRIA: 5 a 8 anos)
Baixe agora e leia
Star Wars – A Alta República – Na Escuridão
Baixe agora e leia
Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da
Ameaça Fantasma . . . Os Jedi iluminaram o caminho para a galáxia na Alta
República. Padawan Reath Silas está sendo enviado da cosmopolita capital
galáctica de Coruscant para a fronteira subdesenvolvida, e ele não poderia
estar menos feliz com isso. Ele prefere ficar no Templo Jedi, estudando os
arquivos. Mas quando a nave em que ele está viajando é arrancada do
hiperespaço em um desastre que abrange toda a galáxia, Reath se encontra
no centro da ação. Os Jedi e seus companheiros de viagem encontram
refúgio no que parece ser uma estação espacial abandonada. Mas então
coisas estranhas começaram a acontecer, levando os Jedi a investigar a
verdade por trás da estação misteriosa, uma verdade que pode terminar em
tragédia …
Baixe agora e leia
Star Wars – A Alta República – Corrida para Torre Crashpoint
Baixe agora e leia
Muito antes da Primeira Ordem, antes do Império ou antes mesmo da
Ameaça Fantasma . . . Os Jedi iluminaram o caminho para a galáxia na Alta
República.
Padawan Ram Jomaram quer cuidar das suas atividades em paz, mas o
droide V-18 vem trazer notícias sobre a queda das comunicações. Contudo
os outros Jedi estão resolvendo outros problemas e ele é o único disponível
para resolver a situação. …
Baixe agora e leia

Você também pode gostar